Capítulo de Livro: Percursos da Internação Compulsória de Adolescentes Usuários de Drogas

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  Percurs os da internação compulsória de adolescentes usuários de drogas Pathways of compulsory hospitalization for the adolescent drug users Daniel Dall’Igna Ecker Psicólogo, Mestrando no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vinculado ao Núcleo e-politcs    Estudos em Políticas e Tecnologias Contemporâneas de Subjetivação do PPGPSI/UF RGS. Neuza Maria de Fátima Guareschi Psicóloga, Professora/Pesquisadora no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do  Núcleo e-politcs    Estudos em Políticas e T ecnologias Contemporâneas de Subjetivação do PPGPSI/UFRGS. Carolina dos Reis Psicóloga, Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vinculada ao Núcleo e-politcs    Estudos em Políticas e Tecnologias Contemporâneas de Subjetivação do PPGPSI /UFRGS. Resumo: Este artigo tem como objetivo colocar em análise os modos como operam e se legitimam os percursos na internação compulsória de adolescentes, justificada por transtorno mental devido ao uso de drogas, em uma Unidade Psiquiátrica de um Hospital de Porto Alegre/RS, Brasil. Através de uma perspectiva foucaultiana, descrevemos e discutimos o  processo de internação compulsória t endo como foco principal de análise os documentos que compõe os prontuários dos jovens internados no serviço. Para isso, utilizamos como eixo de  pensamento a proposta do cuidado humanizado instituída na Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). Por fim, através dos resultados, apontamos questões que sugerem a preocupação em práticas de cuidado focadas na singularidade dos sujeitos, que levem em questão seu contexto social e as limitações apresentadas atualmente  pelas políticas e serviços públicos direcionados aos usuários d e drogas. Palavras-chave:  Adolescência; internação compulsória; uso de droga; saúde mental. Abstract: This article aims to analyze how compulsory hospitalization of adolescents,  justified by mental disorder produced by drug abuse, was conducted and legitimized in a mental health service in the city of Porto Alegre/RS, Brazil. Through a foucaultian  perspective, we described and discussed the process of compulsory hospitalization with the analysis primary focus on the documents that comprised the medical records of youths internal in the service. For t his, we used as a guide of thinking the proposal of humanized care instituted by the National Humanization Policy of the Brazilian Public Health System (SUS). Lastly, through the results, we point issues that suggest the concern in care practices that focus on the uniqueness of the subjects, considering the social context and the limitations  presented no wadays by the policies and pub lic services targe ted to the drug users . Key-words:  Adolescents; compulsory hospitalization; drug use; mental health.

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E-book Encontro dos Pesquisadores e Pesquisadoras de Políticas de Juventude 2014 (Participatório da Juventude - SNJ)

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  • Percursos da internao compulsria de adolescentes usurios de drogas

    Pathways of compulsory hospitalization for the adolescent drug users

    Daniel DallIgna Ecker Psiclogo, Mestrando no Programa de Ps-graduao em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI)

    da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vinculado ao Ncleo e-politcs Estudos em Polticas e Tecnologias Contemporneas de Subjetivao do PPGPSI/UFRGS.

    Neuza Maria de Ftima Guareschi Psicloga, Professora/Pesquisadora no Programa de Ps-graduao em Psicologia Social e

    Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do

    Ncleo e-politcs Estudos em Polticas e Tecnologias Contemporneas de Subjetivao do PPGPSI/UFRGS.

    Carolina dos Reis Psicloga, Doutoranda no Programa de Ps-graduao em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI)

    da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vinculada ao Ncleo e-politcs Estudos em Polticas e Tecnologias Contemporneas de Subjetivao do PPGPSI/UFRGS.

    Resumo: Este artigo tem como objetivo colocar em anlise os modos como operam e se

    legitimam os percursos na internao compulsria de adolescentes, justificada por transtorno

    mental devido ao uso de drogas, em uma Unidade Psiquitrica de um Hospital de Porto

    Alegre/RS, Brasil. Atravs de uma perspectiva foucaultiana, descrevemos e discutimos o

    processo de internao compulsria tendo como foco principal de anlise os documentos que

    compe os pronturios dos jovens internados no servio. Para isso, utilizamos como eixo de

    pensamento a proposta do cuidado humanizado instituda na Poltica Nacional de

    Humanizao do Sistema nico de Sade (SUS). Por fim, atravs dos resultados, apontamos

    questes que sugerem a preocupao em prticas de cuidado focadas na singularidade dos

    sujeitos, que levem em questo seu contexto social e as limitaes apresentadas atualmente

    pelas polticas e servios pblicos direcionados aos usurios de drogas.

    Palavras-chave: Adolescncia; internao compulsria; uso de droga; sade mental.

    Abstract: This article aims to analyze how compulsory hospitalization of adolescents,

    justified by mental disorder produced by drug abuse, was conducted and legitimized in a

    mental health service in the city of Porto Alegre/RS, Brazil. Through a foucaultian

    perspective, we described and discussed the process of compulsory hospitalization with the

    analysis primary focus on the documents that comprised the medical records of youths

    internal in the service. For this, we used as a guide of thinking the proposal of humanized care

    instituted by the National Humanization Policy of the Brazilian Public Health System (SUS).

    Lastly, through the results, we point issues that suggest the concern in care practices that

    focus on the uniqueness of the subjects, considering the social context and the limitations

    presented nowadays by the policies and public services targeted to the drug users.

    Key-words: Adolescents; compulsory hospitalization; drug use; mental health.

  • 1. Contextualizando o estudo

    O presente artigo tem por objetivo colocar em anlise os modos como operam e se

    legitimam os percursos da internao compulsria de adolescentes, justificadas por transtorno

    mental devido ao uso de drogas, em uma Unidade Psiquitrica de um Hospital no Rio Grande

    do Sul. Neste texto, procuramos problematizar a relao entre os campos da sade mental1 e

    do sistema de justia2 como efeito do significativo aumento no nmero de internaes

    psiquitricas via ordem judicial.

    Nas ltimas dcadas, diversos estudos vm sendo realizados tendo como foco de

    investigao as prticas psicolgicas na rea da sade mental e sua insero na relao com a

    justia (LARA, 2011; REIS, 2012; SCISLESKI et al., 2013; GUARESCHI et al., 2014). As

    produes cientficas que articulam sade e justia vo adquirir maior visibilidade,

    principalmente, a partir de demandas como o afirmado aumento no nmero de usurios de

    drogas, a exposio da populao s prticas de violncia, a situaes de risco e s

    vulnerabilidades sociais, situaes nas quais a interferncia do aparelho judicial, a servio das

    instituies sanitrias, vem se tornando cada vez mais frequentes (BENTES, 1999;

    CARVALHO, 2007; WACQUANT, 2009; SCISLESKI, 2010; SCISLESKI & GUARESCHI,

    2011).

    A intenso em estudar, especificadamente, a internao compulsria de adolescentes

    usurios de drogas, no contexto do Rio Grande do Sul, surge a partir da massiva campanha

    miditica intitulada Crack, nem pensar (ZERO HORA, 2009). O contedo discursivo da

    campanha que propagava uma esttica da droga como destruio do humano vem a alarmar

    para um suposto aumento no nmero de usurios-problema no campo do uso de substncias

    qumicas, dando especial nfase ao Crack. A partir de nossa aproximao com profissionais

    dos servios de sade nota-se, atravs de seus relatos, que a demanda de atendimentos

    encaminhados aos servios justificados pela problemtica do uso de drogas, aumenta

    consideravelmente naquele perodo. Nesse encontro entre usurios e profissionais da sade,

    visualizamos que a ateno bsica e os servios de mdia e alta complexidade do Sistema

    nico de Sade (SUS) no sustentavam a grande demanda de atendimentos, especialmente

    para tratamento de crianas e adolescentes usurias de drogas. Em Porto Alegre, por exemplo,

    1

    Entendida aqui no somente como o conjunto de servios especializados no cuidado em sade mental, mas

    tambm como uma srie de produes tericas e tcnicas desse campo.

    2 Da mesma forma, entendido aqui para alm do conjunto dos rgos que compem o Poder Judicirio e o

    Ministrio Pblico, mas ainda as produes do campo do Direito sobre o tema em questo.

  • existem somente dois Centros de Ateno Psicossocial3 em modalidade especfica para o

    atendimento em Sade Mental de Crianas e Adolescentes, os CAPSi.

    As poucas vagas disponveis nesses servios so ocupadas por crianas com os mais

    diversos tipos de diagnsticos psiquitricos, no sendo os servios direcionados unicamente

    para o atendimento drogadio. Alm desses servios, existem alguns poucos espaos de

    apoio para atendimento em Sade Mental que prestam retaguarda rede bsica de sade,

    como equipes de matriciamento e ambulatrios, mas, em geral, atendem casos com menor

    nvel de comprometimento psquico do que aqueles acolhidos nos CAPSi. Para ter acesso s

    poucas vagas que a rede especializada oferece, preciso que os pacientes4 recebam

    encaminhamentos atravs das unidades bsicas de sade, pois geralmente os CAPSi no

    recebem pessoas que buscam atendimento espontaneamente. Alm disso, o paciente precisa

    preencher determinados critrios definidos pelas equipes como perfil para dar incio ao

    acompanhamento; muitas vezes, essa definio feita de forma arbitrria, sendo excludas de

    diversos servios, por exemplo, pessoas que apresentem comorbidades, como o uso de drogas

    e a esquizofrenia.

    No processo do estudo percebemos que a rede bsica de sade, que deveria dar

    continncia e servir de referncia para os problemas mais recorrentes na populao,

    enfrentava um despreparo para atender pacientes usurios de drogas, tendo no

    encaminhamento para os servios especializados uma resposta frequente para essas situaes.

    A falta de servios especializados, a dificuldade de construo dos fluxos de encaminhamento

    na rede pblica e o despreparo da ateno bsica para dar continncia a essas situaes,

    somados ainda ao aumento concreto da demanda por atendimento drogadio, no foi

    acompanhada pelo crescimento na oferta de servios5. Por fim, em funo da grande lista de

    espera, quando as crianas e adolescentes conseguem ter acesso ao tratamento, a falta de

    comprometimento, a assiduidade do paciente e as diversas exigncias impostas pelos servios,

    se no cumpridas, acarretam-lhe a perda da vaga e seu desligamento do servio (REIS, 2012).

    3 CAPSi - Casa Harmonia e CAPSi do Hospital de Clnicas de Porto Alegre (PREFEITURA DE PORTO

    ALEGRE, 2014). 4 Optamos por utilizar o termo paciente em substituio ao termo usurio, mais largamente utilizado em

    produes cientficas e por profissionais da sade coletiva para referirem-se pessoa que recebe atendimento na

    rede pblica. A despeito das discusses sobre essas diferentes terminologias, a escolha do termo paciente deu-se

    para no causar confuses entre a referncia ao usurio como sujeito que faz uso dos servios da rede pblica e a

    referncia ao usurio como sujeito que faz uso de drogas. 5 As dificuldades no acesso e na manuteno do tratamento para drogadio de crianas e adolescentes so muito

    mais complexas e no podem ser reduzidas a uma listagem de fatores. Aqueles que optamos por ressaltar aqui

    servem mais para ilustrar o problema e no tm a pretenso de esgot-lo.

  • Esses so exemplos de alguns dos limites encontrados na poltica de sade para os

    usurios de drogas que tm levado a populao a buscar a materializao de alguns de seus

    direitos constitucionais atravs de estratgias do campo jurdico. Hoje h famlias, usurios e

    at mesmo outros servios da rede pblica que no conseguem vagas para seus pacientes, que

    buscam no sistema de justia uma forma de garantir o acesso aos servios de sade. Outras

    tantas crianas e adolescentes vo conseguir o tratamento para a drogadio quando chegam

    ao judicirio por outras vias, j mais agravadas como, por exemplo, no caso de jovens que se

    envolvem em atos infracionais, explorao sexual, explorao do trabalho infantil, abandono

    ou mendicncia. Nessas situaes, o direito sade acaba por ser somente um dos muitos

    direitos que j foram violados na vida deles.

    Segundo noticiado pelo Conselho Nacional de Justia no dia 11/11/20106, existiam em

    torno de 112.324 processos em trnsito no Judicirio relacionados garantia do direito

    sade; j no ms de abril de 2011, ltima atualizao divulgada, esse nmero chegava a

    240.980. No se pode negar o impacto que as decises judiciais podem ter em relao

    conduo das polticas de sade, uma vez que oferecem respaldo a algumas determinaes

    sobre a forma como a gesto pblica deve ofertar servios populao e acabam, com isso,

    direcionando parte dos investimentos da pasta da sade para assegurar as demandas

    endossadas em suas decises.

    Alm disso, se nos atentarmos para aquilo que dito sobre a adolescncia drogadita,

    facilmente observamos que esse assunto tem estado massivamente presente em produes

    acadmicas, audincias pblicas, debates polticos, publicaes miditicas, campanhas

    beneficentes, promessas eleitorais, reunies de professores, sermes religiosos, assembleias

    de moradores, conversas de famlia, dilogos de taxistas, etc. Como pauta constante no

    cotidiano da sociedade, o uso de drogas por adolescentes tem sido utilizado, por exemplo,

    como quadro emblemtico por atores contrrios Reforma Psiquitrica para evidenciar a

    ineficcia dos servios substitutivos frente s potenciais solues oferecidas, segundo eles,

    pela internao psiquitrica em hospitais e clnicas especializados. O efeito disso tem sido o

    significativo aumento da busca por servios de internao como nica possibilidade de

    resoluo de um quadro de drogadio (REIS, 2012).

    No Brasil, as mudanas ocorridas a partir da Reforma Psiquitrica, em termos de

    legislao no campo do cuidado em sade mental, reorientaram as formas de tratamento dos

    6 Agncia CNJ de Notcias (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA, 2011).

  • sujeitos, comprometendo a sociedade na construo de estratgias de cuidado e de promoo

    de vida, fora de uma lgica de institucionalizao. Dentre os diversos documentos que

    regulamentam esse novo modelo de cuidado em sade destacamos o Caminhos para uma

    Poltica de Sade Mental Infanto-Juvenil (BRASIL, 2005). Neste documento, o Ministrio da

    Sade oficializa discusses tcnicas fundamentais para que se efetivem aes estratgicas de

    reconhecimento das crianas e adolescentes como sujeitos de direitos, dentre os quais esto o

    direito de acesso sade e ao cuidado via SUS. Nos diversos aspectos levantados no

    documento, destacamos que toda e qualquer ao voltada para a sade mental de crianas e

    jovens precisa estabelecer parceria com outras polticas pblicas como ao social, educao,

    cultura, esportes, direitos humanos e justia (BRASIL, 2005, p. 6).

    Diante desse contexto, buscamos desenvolver essa pesquisa dando continuidade a

    outros estudos que discutem a interseco entre sade mental e os sistemas de justia. Para

    isso, utilizamos como eixo de pensamento para a anlise dos documentos estudados, descritos

    a seguir, a proposta do cuidado humanizado instituda na Poltica Nacional de Humanizao

    do SUS (BRASIL, 2004). O objetivo deste estudo, derivado do projeto de pesquisa A relao

    entre justia e sade mental no contexto de adolescentes usurios de drogas7, problematizar

    as formas como tm operado e se legitimado os percursos da internao compulsria de

    adolescentes internados por transtorno mental associado ao uso de drogas.

    2. Processo de pesquisa

    A pesquisa foi desenvolvida tendo como base os documentos de pacientes de uma

    unidade de internao para crianas e adolescentes de um Hospital Psiquitrico do Rio Grande

    do Sul, os quais foram obtidos em duas etapas. A primeira etapa consistiu no mapeamento dos

    registros ocorridos entre o perodo de julho de 2008 a junho de 2011 no livro de baixas, onde

    se cadastram todas as internaes do Hospital Psiquitrico. Alm disso, foi realizado o

    levantamento de todos os documentos presentes no processo de internao de usurios da

    unidade de internao, desde a entrada do jovem na instituio at o momento de obteno da

    alta no servio. A segunda etapa consistiu na leitura de todos os pronturios de adolescentes

    internados compulsoriamente durante o ano de 2010 que foram diagnosticados de acordo com

    a Classificao Internacional de Doenas CID-10 (ORGANIZAO MUNDIAL DA

    7 Pesquisa financiada pelo Edital Universal MCTI/CNPq n 14/2012 coordenada pela Prof Dr Neuza Maria de

    Ftima Guareschi.

  • SADE, 2003), especificadamente, as que associam transtornos mentais ao uso de drogas.

    Totalizamos a leitura e anlise de 33 pronturios.

    Na articulao e anlise dos dados, buscamos problematizar os discursos que

    sustentavam as racionalidades em torno da compreenso, direcionamento e operacionalizao

    do tratamento dos adolescentes usurios de drogas internados por medida judicial. Assim, no

    processo de discusso, objetiva-se colocar em evidncia e questionamento os saberes

    naturalizados sobre o uso de drogas, a adolescncia e os modos de interveno nas prticas de

    cuidado dessa populao. Essa ao visa entender como os discursos forjam e produzem os

    sujeitos de quem falam e, consequentemente, afetam o modo como s polticas pblicas

    passam a ser pensadas e a forma como os servios de sade propem aes e reconhecem os

    sujeitos para quem disponibilizam seus servios (FOUCAULT, 1984).

    3. Resultados e discusses

    3.1 As internaes

    Quando os adolescentes usurios de droga so encaminhados internao psiquitrica

    por seus familiares ou profissionais da sade, vinculados s instncias jurdicas, entende-se

    que as outras possibilidades de atendimento na rede de sade j foram esgotadas ou eram

    inexistentes. Ao chegarem ao servio de internao aqui analisado, os jovens so recebidos na

    triagem, onde se centraliza o primeiro acolhimento. A triagem funciona 24 horas por dia, e

    nela feita a avaliao dos sujeitos por um psiquiatra, que verifica a necessidade ou no de

    internao. Se indicada a internao, o psiquiatra estabelece um diagnstico de pr-internao

    (passvel de modificao aps ingresso no servio) ou orienta-se pelos diagnsticos

    estabelecidos nos encaminhamentos trazidos pelos adolescentes, que, de forma geral, se

    baseiam nos critrios da CID-10 (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 2003).

    A psiquiatria oferece servio 24h horas, e os outros profissionais, como assistente

    social e mdico geral, participam das avaliaes apenas durante o turno diurno e em

    determinados dias da semana. importante destacar que nesse servio no h internao de

    jovens com problemas de sade fsica evidentes, devido falta de estrutura do hospital. Para

    que os adolescentes tenham acesso a esse servio do SUS, obrigatrio que os profissionais

    lhes atestem um diagnstico, visto que, sem este, os jovens no podem acessar o servio. O

    que justifica a internao a existncia de uma doena, e o diagnstico serviria para afirm-la

    como existente.

  • Na sua composio atual, a unidade oferece 10 leitos para internao. Caso no haja

    vagas, os jovens aguardam em uma fila de espera. H prioridade aos adolescentes internados

    via ordem judicial, mas, mesmo nas internaes compulsrias, a espera pela abertura de uma

    vaga necessria; nesses casos, h uma lista de espera especfica. J para sujeitos maiores de

    18 anos, quando no h vagas, realizado o encaminhamento para a lista de espera da Central

    de Regulao Hospitalar de Porto Alegre, rgo responsvel por organizar e distribuir os

    leitos em hospitais disponveis. No caso dos adolescentes ou crianas, eles devem aguardar a

    abertura de vagas na unidade, visto que ela o nico servio pblico do Estado do RS que

    oferece internao. Do contrrio, os municpios precisam pagar por leitos em instituies

    privadas.

    Aps a indicao de internao, feito um registro no livro de baixa. Neste material,

    h uma tabela com diversas colunas que solicitam informaes sobre o sujeito que se

    cadastra: data de ingresso no hospital, data da baixa na unidade, nmero do leito em que o

    jovem residir temporariamente, nome do paciente, nmero do CID-10, sexo, idade,

    municpio, nome do acompanhante, se primeiro ingresso na unidade ou se regresso,

    nmero do pronturio, se internao por ordem judicial ou no, se foi medicado na unidade

    ou no, nome da unidade em que ser internado, nome do psiquiatra, do mdico geral, da

    assistente social e do funcionrio administrativo que atendeu o jovem.

    A partir do livro de baixas, possvel termos um panorama simplificado do nmero

    de internaes no hospital. Nele, fizemos um levantamento quantitativo das internaes

    realizadas de julho de 2008 a junho de 2011. Apresentamos abaixo esses dados:

    Tabela 1 Nmero de egressos no Hospital Psiquitrico durante o perodo de trs anos.

    No Hospital

    Psiquitrico (7 Unidades)

    Na

    Unidade

    (total)

    Na Unidade (por

    medida judicial,

    crianas e

    adolescentes)

    Na Unidade (por medida judicial,

    adolescentes com diagnstico de uso

    de drogas associado a transtorno

    mental)

    2008.2 809 134 49 38

    2009 1386 280 57 33

    2010 1422 272 41 26

    2011.1 712 148 23 10

    Total (3 anos)

    4329

    834

    170

    107

  • Na primeira coluna, percebe-se que, no total das suas sete unidades, o hospital efetuou

    4.329 internaes entre o segundo semestre do ano de 2008 e o segundo semestre do ano de

    2011. Nesses trs anos, a unidade de internao de crianas e adolescentes obteve 834

    internaes. Dessas 834 internaes, 170 foram devido a medidas judiciais (internao

    compulsria). Do total das 170 internaes por medida compulsria (terceira coluna), 107

    eram de adolescentes internados devido a transtorno mental associado ao uso de drogas

    (quarta coluna).

    Aps o levantamento das internaes, efetuamos a busca por todos os documentos

    padro da unidade presentes no processo de internao. Depois de ser encaminhado pelos

    profissionais da triagem, para iniciar o processo de internao, o adolescente registrado no

    livro de baixas. Em seguida, recebe uma pasta, na qual ficaro centralizados todos os

    materiais referentes a ele (documentos jurdicos, exames de sade, receitas de medicao,

    encaminhamentos dos servios de sade, etc.). Esses documentos, em sua maioria, so

    trazidos pelo responsvel pelo adolescente nos atendimentos.

    Alm deles, o jovem recebe em sua pasta o chamado kit de internao. Esse kit

    composto por seis materiais: 1) Ficha organizadora; 2) Cadastro individual; 3) Lista de

    problemas; 4) Plano de tratamento individual; 5) Evoluo; 6) Guia de encaminhamento de

    egresso/nota de alta. Essa composio de documentos visa a servir como ponto de registro da

    vida do adolescente atendido e de seu processo de internao e de sada da unidade.

    importante destacarmos aqui o processo de naturalizao de um determinado sujeito, a que o

    adolescente passa a ser submetido a partir do momento em que se produzem discursos sobre

    ele. Tomamos a composio desses documentos no como algo esttico e natural, mas como

    ferramentas que passam a configurar os caminhos de vida nos quais o jovem vai habitar no

    momento em que elas produzem discursos sobre ele (FOUCAULT, 1984).

    Todos os seis documentos nomeados acima fazem parte da composio inicial dos

    pronturios. No processo de internao, o pronturio responsvel por centralizar todos os

    materiais que se referem ao jovem atendido. A centralizao dos documentos nessa pasta tem

    como objetivo disponibilizar aos profissionais do servio uma via de acesso nico descrio

    documental da vida do sujeito. Em seguida, apresentamos o objetivo e a estrutura de cada um

    destes seis documentos.

    3.2 Ficha organizadora

  • Apresenta o registro dos jovens (nmero do pronturio), a data de ingresso e o nome

    da unidade a qual eles foram encaminhados. A cada baixa no hospital, busca-se o pronturio

    do adolescente atravs do nmero que o identifica e que permanece cadastrado nessa ficha

    organizadora. A ficha organizadora possibilita acessar os discursos que vo sendo produzidos

    sobre os adolescentes atravs dos documentos e argumentos profissionais que compe o

    pronturio. Destaca-se a forma como a interpretao dos jovens vai sendo constituda atravs

    da lente de sujeitos externos ao seu cotidiano, que passam a decifrar e direcionar as vidas dos

    adolescentes de acordo com seus prprios entendimentos. Nessa lgica, cria-se toda uma

    historicidade de internaes, descolada do jovem, que compe a vida do adolescente como se

    cada internao fosse uma sequncia da outra, invizibilizando os acontecimentos ocorridos

    fora da instituio. Acontecimentos esses que so essenciais para compreendermos os

    contextos em que eles esto inseridos e sobre as possibilidades de vida que se apresentam

    alm da internao.

    3.3 Cadastro individual

    Oferece espao para a descrio de dados especficos do adolescente. No incio do

    documento pergunta-se o nome do adolescente, nome do municpio, ano de nascimento,

    nmero de internaes anteriores, se o atendimento por convnio de sade ou pelo

    INAMPS8, qual a unidade que ele foi encaminhado, nome do mdico que o atendeu, qual o

    diagnstico da CID que ele recebeu e como foi o processo de alta. Na alta, apresentam-se as

    opes de: curado, melhorado, inalterado, a pedido, administrativa, fuga, para complementar

    tratamento em ambulatrio, por transferncia para outro hospital, bito (-48h) ou bito

    (+48h). O final desse documento destina-se a descrever os possveis destinos da alta. As

    opes possveis de serem marcadas so: inexistncia de dados, residncia no necessitando

    prosseguimento, hospital dia, PAM (Plano de Assistncia Mdica), Mdico credenciado ou

    Unidade Sanitria da SES, hospital geral para tratamento no psiquitrico, Centro

    Comunitrio de Sade Mental ou Ambulatrio de Sade Mental, penso protegida ou no

    recebeu alta.

    8 Embora com a criao do Sistema nico de Sade e substituio do INAMPS, essa diferenciao no seja mais

    adequada, uma vez que, todos os pacientes que internam no hospital so atendidos pelo SUS, no recebendo

    mais atendimentos via convnios, ainda existem formulrios muito antigos no hospital que mantm essas

    categorias.

  • Fica evidente como os processos de compreenso do sujeito atendido, neste

    documento, esto descontextualizados da nova poltica de humanizao regida em nosso pas

    (BRASIL, 2004). H um cadastro realizado em documentos que no mais operam no campo

    da sade, fazendo com que o entendimento do processo de alta se limite a servios com

    carter tutelar e no ampliam esse processo de sada do servio dentro de uma ideia de rede

    intersetorial, onde estariam integrados servios de educao, sade, moradia, transporte,

    assistncia social, entre outros.

    3.4 Lista de Problemas

    O terceiro documento, preenchido aps o ingresso do jovem no servio, o da lista de

    problemas. Este arquivo apresenta um espao superior no qual se descreve: nome do paciente,

    nmero do pronturio e nome da unidade. Abaixo, encontra-se uma tabela em branco. Esta

    tabela possui cinco colunas. A primeira coluna numera os problemas (1,2,3,etc.), a segunda

    solicita que se descreva os problemas atuais e os passados, na terceira deve-se descrever a

    data de inicio e, ao lado, a data de fim de cada problema. Na ultima coluna est um espao em

    branco para observaes. Neste documento, h uma priorizao dos problemas como se estes

    devessem ser o foco do tratamento. Colocamos aqui a noo de integralidade, prevista nas

    polticas de sade (BRASIL, 2004), para propormos que sejam pensadas as condies de vida

    dos jovens, e suas possibilidades de novas formas de existncia, fora de uma lgica do

    problema. A integralidade sugere que o jovem seja compreendido a partir da integrao dos

    diversos setores que envolvem sua vida, sem ser reduzido a categorias ou problemas.

    Entendemos que visualizar algo como problema tambm depende do ponto de vista no qual se

    interpretam as situaes analisadas.

    3.5 Plano de tratamento individual

    O quarto documento tem o nome de plano de tratamento individual. Nele, diferentes

    profissionais realizam a avaliao do adolescente e desenvolvem um parecer sobre ele. A

    primeira avaliao realizada pelo psiquiatra, em seguida pelo mdico-clinico, o psiclogo, a

    enfermagem, a avaliao social e do terapeuta ocupacional. Ao final do documento abre-se

    espao para a descrio de outras avaliaes e tratamentos indicados e, abaixo, um espao

    para o resumo do atendimento proposto ao paciente. Um ponto importante nesse arquivo

  • que, aps cada avaliao dos profissionais, h um espao chamado de conduta, no qual se

    deve descrever o comportamento do jovem segundo a percepo de cada profissional.

    Na abordagem deste documento h um foco de atendimento dentro de uma lgica dos

    problemas de conduta. Nisto, colocamos em questo a forma como a internao ainda

    permanece dentro de uma perspectiva da produo de corpos dceis, numa lgica de controle

    atravs da conduta (FOUCAULT, 2005). Assim, apontamos a noo de singularidade,

    presente nas discusses sobre a Poltica de Humanizao (BRASIL, 2004), como algo que

    deveria orientar os planos de tratamento, visto que cada adolescente tem um processo de vida

    diferenciado, no qual sua conduta deve ser sempre inserida na complexidade dos contextos e

    ser apenas mais um dos elementos a ser levado em considerao para uma avaliao

    integralizada.

    3.6 Evoluo

    O penltimo documento o da evoluo. Este documento utilizado para descrever o

    cotidiano do jovem dentro da instituio. Nele, apresentam-se duas colunas. Na primeira,

    solicita-se a data em que se est escrevendo e, na segunda coluna, h um espao em branco

    para o relato do profissional que preenche. Este arquivo pode ser preenchido por qualquer

    profissional envolvido no tratamento. Tem-se por frequncia neste documento a descrio do

    cotidiano do adolescente, sua interao com os outros jovens da unidade, sua insero e forma

    de participao nas atividades da instituio, seu comportamento e reao s medicaes

    utilizadas. No h participao do jovem na descrio de seu processo.

    Ao analisarmos os documentos de evoluo dos 33 pronturios percebemos que o

    diagnstico ser a primeira referncia do profissional para se relacionar com aquele jovem

    que acessa a internao. Dessa forma, o que notamos nos relatos deste documento que o

    adolescente passa a ser compreendido atravs da comparao de seu comportamento atual

    com o descrito anteriormente na avaliao de triagem como, por exemplo, est menos

    agressivo [sic] ou j respeita mais as regras [sic]. Nesse sentido, evidenciamos que a

    internao compulsria passa a construir o jovem doente a partir do modo como os

    documentos vo sendo formulados, tendo como principal base os argumentos dos

    profissionais que se colocam a escrev-los. Foucault descreve esse processo, a partir de sua

    discusso sobre a construo das disciplinas do conhecimento, como uma ao dos efeitos

    discursivos (FOUCAULT, 1984).

  • Outro ponto importante encontrado nos escritos do documento de evoluo que

    muitos colocam em evidncia que o uso de drogas nem sempre problemtico na vida dos

    jovens internados. Encontramos relatos de profissionais que descreviam ter conversado com o

    adolescente e ele exps que experimentou crack apenas uma vez [sic] ou fumou um

    cigarro de maconha quando tinha 14 anos [sic]. Ao conversarmos informalmente com uma

    das profissionais do servio ela relata exatamente sobre essa questo informando que,

    semelhante ao descrito anteriormente, em muitos casos o uso de drogas no problemtico na

    vida dos adolescentes, mas, como eles advm de contextos de misria e de violao de

    direitos, a internao acaba por funcionar como estratgia para permitir que, durante o perodo

    na instituio, eles tenham acesso comida, higiene, moradia fixa e proteo tutelada, por

    exemplo.

    3.7 Guia de encaminhamento de egresso e Nota de alta

    O ultimo arquivo o guia de encaminhamento de egresso/nota de alta. Na parte

    superior desse arquivo solicitado descrio do sujeito: nome, idade, sexo, endereo, data da

    baixa, da alta e nmero de internaes anteriores no hospital. Em seguida, encontram-se dois

    tpicos: aspectos psicossociais e aspectos mdicos. Nos aspectos psicossociais, apresentam-se

    quatro pontos para serem preenchidos: 1) Sntese da dinmica das relaes familiares e/ou

    colaterais atuais (situao na famlia com quem mora, estado civil, relacionamentos, vnculos,

    quem compareceu durante a internao e nvel de participao); 2) Atividades laborativas

    (trabalhou, inativo, capacitao. Prognstico em relao ao trabalho); 3) Situao jurdica

    previdenciria (tem ou no previdncia, tem documentos, recebe benefcio, aposentadoria); 4)

    Recomendaes. Outros aspectos relevantes para um entendimento integral do jovem como,

    por exemplo, sua insero na escola, em atividades culturais, de lazer, assim como os

    possveis ou j existentes projetos de vida, no so levados em considerao nesse

    documento.

    No segundo tpico, intitulado de aspectos mdicos, h seis pontos que relatam sobre o

    percurso do jovem: 1) Motivos da internao; 2) Evoluo na internao: registrar (medicao

    usada, medicao efetiva, doses, reaes adversas tempo de resposta ao tratamento, grau de

    remisso da sintomatologia, socioterapia, participao em atividades socioterpicas, etc); 3)

    Fatores de risco: (famlia, aderncia ao tratamento, situao scio-econmica, acesso ao

    tratamento ambulatorial, hospitalismo, benefcio da hospitalizao, etc.); 4) Intercorrncias

  • clnicas (a ser preenchido pelo Mdico Clnico da Unidade); 5) Condies da alta; 6)

    Recomendaes Plano teraputico. Ao final deste arquivo, existe um espao em branco para

    a assinatura do psiquiatra da instituio. Neste documento, evidencia-se que a medicao,

    suas reaes e conseqncias no comportamento do adolescente so foco de ateno.

    Nessa parte do pronturio que, a princpio, define aspectos importantes na ateno

    sade desse jovem em longo prazo, as propostas de cuidado que mais se repetem so: uso de

    medicao [sic] e encaminhamento para servio de sade mental [sic]. Dos 33 pronturios

    analisados, trinta e dois dos adolescentes obtiveram alta com indicao de medicao (97%),

    dezenove foram encaminhados para outros servios de sade mental CAPS, CAPS-AD,

    psiquiatras ou psiclogos (62%), oito foram encaminhados para fazendas ou comunidades

    teraputicas (26%), quatro indicavam a possibilidade dos adolescentes voltarem a estudar

    (12%) e dois sugeriram a busca por cursos profissionalizantes (6%). Em relao ao nmero de

    internaes percebe-se que, dos 33 jovens, vinte e trs (23) estavam entre a primeira e a

    segunda internao (74%) e oito se encontravam entre a terceira e sexta (26%).

    3.8 Os pronturios

    Dos 33 pronturios analisados, destacamos trs pontos que esto presentes em todos

    os materiais e so importantes para nossa discusso: 1) a ordem judicial; 2) a avaliao

    psiquitrica; e 3) as nosografias (nmero do CID atribudo ao adolescente).

    Os documentos da ordem judicial funcionam como um mandado do juiz para que seja

    feita a avaliao mdica do adolescente na triagem do Hospital Psiquitrico. Assim, o juiz

    elabora esse documento visando conduo do jovem para o servio de sade devido a uma

    suposta, mas no ainda confirmada, necessidade de internao hospitalar ou tratamento

    ambulatorial. As justificativas que embasam o documento apoiam-se na descrio obtida pelo

    juiz por meio de relato dos profissionais ou de familiares que estavam em contato com o

    adolescente antes do encaminhamento ao hospital.

    De forma geral, as ordens judiciais utilizam-se da descrio e da exaltao do

    comportamento e da conduta dos adolescentes para embasar suas justificativas de

    encaminhamento, como, por exemplo: eles criam situaes de conflito, no obedecem s

    regras, no obedecem s determinaes mdicas e utilizam drogas. Mesmo sendo um pedido

    de avaliao, a ordem judicial tem uma caracterstica de medida de segurana. Essa medida

    surge como forma de segregao de quem expe a perigo a integridade de seus familiares e

  • compromete a segurana da sociedade (sic). Para sua efetivao, se solicita fora policial

    para fiel cumprimento da medida (sic), assim como permisso para o Oficial de

    Justia/Proteo proceder arrombamento de obstculos ou requisitar fora pblica (sic). As

    ordens judiciais garantem o encaminhamento do jovem para o servio.

    A internao, em todas as suas modalidades, uma medida prevista na Lei 10.2016

    que deveria ser indicada apenas quando se mostrassem insuficientes os recursos extra-

    hospitalares (BRASIL, 2001). O que se percebe, na prtica, que ela tem servido para dar

    conta da falta de servios de ateno primria ou de promoo de sade no campo do uso de

    drogas, como uma estratgia para afastar o problema temporariamente ou pela prpria

    dificuldade de o Estado dar conta de outros modos de vida, como, por exemplo, o dos

    moradores de rua, que possuem outras formas de habitar a cidade (REIS, 2012).

    Assim, muitos dos casos chegam ao servio por via judicial para agilizar o processo de

    internao e possibilitar uma ao mais eficaz do sistema sobre esses grupos citados acima.

    No contexto do servio aqui em questo, antes de terem acesso a unidade de internao, os

    jovens passam por uma triagem com um psiquiatra. Nessa avaliao psiquitrica, o

    profissional elabora um documento que descreve sua percepo de cada adolescente. Na

    anlise desse material, evidencia-se que o relato do entendimento muito sucinto.

    Geralmente, o foco da descrio realizada pelo psiquiatra est nas aes e

    comportamentos do adolescente: uso de drogas, agressividade, agitao, realizao de furtos e

    assaltos, descrio de situaes de risco, suposto transtorno de conduta, risco de agresso,

    exposio moral, delinquncia, heteroagresso e riscos para si e terceiros. Alm dessas

    descries, a avaliao psiquitrica sempre descreve a necessidade de reviso dos

    medicamentos e se utiliza das categorias diagnsticas da CID para classificar a suposta

    doena do adolescente. Na anlise dessas classificaes, nota-se que as nosografias

    estabelecidas para os adolescentes em questo se situam entre a CID F10 e a F19, que

    classificam todos os transtornos mentais associados ao uso de drogas (ORGANIZAO

    MUNDIAL DA SADE, 2003).

    No processo de anlise dos materiais, verificamos que a avaliao psiquitrica algo

    mutvel. O jovem inserido no servio sob a justificativa de, por exemplo, Transtorno

    Bipolar associado ao uso de drogas e obtm alta do servio sendo classificado com Transtorno

    de Conduta associado ao uso de drogas. Nesse sentido, pelo fato de ser realizado em um

    tempo muito reduzido e embasar-se em uma avaliao superficial, sugere-se que esse

  • diagnstico inicial efetuado pelo profissional apenas para que o jovem possa ter acesso ao

    servio, sem real implicao desse profissional com a existncia ou no daquela nosografia,

    mas sim por sua preocupao de acolher o adolescente.

    Independentemente do objetivo da atribuio do diagnstico, Aragaki (2006), em seus

    estudos, discutiu a forma como os diagnsticos psiquitricos passam a cristalizar os sujeitos,

    restringindo sua circulao e reduzindo possibilidades de pertena a diferentes espaos sociais

    no momento em que definem, a priori, a existncia de determinadas essncias vinculadas a

    esteretipos comportamentais. O autor desenvolveu o estudo buscando entender quais seriam

    os impactos e consequncias da pertena categoria diagnstica na vida de pessoas

    classificadas como portadoras de transtornos mentais e constatou que ela reduz as

    possibilidades de interaes sociais e designa ao sujeito determinados lugares de pertena,

    muitos vinculados a espaos onde ele considerado excludo ou deve ser submisso a regras

    especficas.

    Na instituio analisada, visibilizamos que ao receber o diagnstico que os

    adolescentes se inserem no servio para iniciarem o tratamento. interessante evidenciar, a

    partir da anlise dos pronturios, que, apesar de essas nosografias (nmeros do CID), serem

    mutveis, passveis de transformar-se ao longo do processo de internao, elas passam

    realmente a afetar o modo como os processos de cuidado sero construdos no servio. Assim,

    no momento em que os outros profissionais da equipe entram em contato com o adolescente,

    como descrito anteriormente, eles se utilizam dos documentos que compem o pronturio

    para compreender o jovem. Dentre os diversos documentos, est a avaliao psiquitrica, que

    prev descries sobre quem seria esse jovem e quais seriam seus comportamentos usuais.

    No momento em que esses comportamentos se associam ao uso de substncia e a uma

    categoria diagnstica, passam a marcar no real algo que a priori no existia: uma doena. S

    foi possvel consolidar essa doena quando o profissional escreveu no documento da triagem

    que ela existia. Percebe-se aqui toda uma produo discursiva que passa a constituir o sujeito

    adolescente e a interferir no modo como ele entendido pelos profissionais de sade e na

    maneira como eles passam a relacionar-se com o jovem (FOUCAULT, 1984).

    Em relao ao nmero de internaes, percebe-se que, dos 33 jovens, 23 (74%)

    estavam entre a primeira e a segunda internao e oito (26%) se encontravam entre a terceira

    e sexta. Esses ndices de reinternaes fazem-nos colocar em suspenso o processo de

    internao compulsria e sua efetividade no que se prope a realizar, j que evidencia a

  • falncia do processo de cuidado dentro do atual modelo. A compreenso a partir de um vis

    patologizante desses usurios que advm de contextos de misria produz um acolhimento

    daqueles que no tm acesso a muitos dos direitos garantidos em constituio federal, ao

    mesmo tempo em que os insere em todo um circuito de sade mental.

    O processo de internao compulsrio, junto categoria diagnstica que o legitima e

    atribuda ao adolescente, passa a administrar o cotidiano desses jovens no momento em que os

    declara como sujeitos que necessitam de um acompanhamento profissional para que possam

    circular livremente. Aragaki (2006) discute que, apesar de o diagnstico de transtorno mental

    limitar espaos de circulao social dos sujeitos categorizados, h uma exceo. Esta

    visualizada pela incluso desses sujeitos em matrizes de especialidades da rea de sade

    mental, ou seja, por meio da obteno do diagnstico, o sujeito passa a participar de toda uma

    gama de servios que esto ali colocados para atender o portador de transtornos mentais.

    Assim, ao aproximarmo-nos do contexto de adolescentes internados por medida

    compulsria, percebemos que a internao tem efeito significativo para tornar produtiva a

    existncia desses jovens. Produtiva porque faz operar toda uma rede de servios, profissionais

    e insumos, por meio de mecanismos de investimento na vida desses jovens que os inserem na

    rede de sade mental e de assistncia social. Esses mecanismos passam a produzir

    determinados modos neoliberais de circulao social que vinculam o jovem a processos de

    movimentao econmica.

    4. Questes finais

    Os estudos sobre o processo e as configuraes da internao compulsria de

    adolescentes usurios de droga j haviam apontado discusses sobre a forma como as prticas

    de cuidado e de direito a sade tornam-se controversas e funcionam atravs de diversas

    ambiguidades. Scisleski e Maraschin (2008) discutem sob a perspectiva de pensar a ordem

    judicial como uma forma, tanto de fazer com que o sujeito tenha acesso aos servios de sade,

    como uma estratgia de punio desses adolescentes. Essa punio, viria articulada de toda

    uma tecnologia de saberes mdicos e jurdicos a servio de legitimar e constituir intervenes

    que, de certa forma, mantm o jovem na sua condio de marginalidade social.

    Atravs dessa pesquisa, nota-se que o processo de internao dos adolescentes est

    constitudo por todo um engendramento de discursos, no apenas mdicos e jurdicos, mas de

    todos os profissionais e sujeitos que compe os contextos e servios pelos quais o jovem

  • obteve contato. A famlia, os saberes da psicologia, da psiquiatria, do servio social, dos

    abrigos e da escola unem-se na produo desse adolescente. Todos participam da constituio

    dos discursos sobre esse adolescente. Um trabalho especializado realizado em equipe na qual

    o prprio jovem em questo no tem participao. No momento em que esse jovem no

    participa da construo do seu prprio entendimento e das etapas do seu processo de cuidado

    percebe-se uma invisibilizao de toda a complexidade social na qual ele est inserido.

    Ao olharmos para as condies em que emergem esses adolescentes percebe-se que h

    toda uma negligncia de direitos humanos bsicos estabelecidos pelo Estatuto da Criana e do

    Adolescente e enfatizados no documento Caminhos para uma Poltica de Sade Mental

    Infanto-Juvenil (BRASIL, 2005), os quais deveriam amparar e proteger esses jovens.

    Negligncia de cuidados e de acesso aos servios de sade que continuam atuando no

    momento em que esse adolescente se insere na internao, vindo de toda essa complexidade

    social, e tem sua situao diagnosticada e reduzida a uma categoria de transtorno mental.

    No documento do Ministrio da Sade de 2005 j se discutia sobre como adolescentes

    e crianas ao longo dos processos histricos no Brasil tiveram suas vidas silenciadas no

    momento em que foram diagnosticados como portadores de transtornos mentais. Ao

    receberem esse rtulo foram colocados sob a rubrica de deficientes e, portanto, em situao de

    indiferena das polticas de cuidado, das estratgias de governo frente omisso do Estado.

    Ao analisarmos o processo de insero dos adolescentes no servio de sade mental aqui

    estudado, evidenciamos que a estratgia de patologizao da juventude pobre continua

    funcionando como uma poltica de apagar incndios, que se utiliza de patologias

    individualizantes para justificar a condio de vulnerabilidade em que eles se encontram

    (SCISLESKI E MARASCHIN, 2008).

    Atravs da anlise da avaliao psiquitrica se percebe que, no caso dos adolescentes

    usurios de droga, os saberes psi operam como ferramentas argumentativas que auxiliam na

    construo do sujeito doente. Alm disso, no processo de legitimao da internao

    compulsria o saber do especialista funciona como ferramenta para se produzir

    previsibilidades artificiais:

    Narrou a psicloga que o adolescente portador de psicopatia e

    relatou o uso de maconha e cocana, um conjunto de elementos que o

    tornam um perigo para si e para a sociedade, merecendo uma ao

    imediata no sentido de proporcionar-lhe tratamento. O relatrio indica

    como medida adequada o encaminhamento para a FASE. Porm, a

  • FASE no uma entidade de tratamento, destinando-se ao

    acolhimento de menores infratores; ainda que tenham sido relatados

    pela mdica a participao do adolescente em atos infracionais, no se

    tem notcia de expediente dessa natureza contra o adolescente (SIC,

    grifos dos autores).

    A partir do fragmento acima, retirado de uma das ordens judiciais, percebe-se uma

    racionalidade construda em torno do elo droga, segurana e pobreza. O jovem ainda no

    cometeu atos infracionais legtimos, mas o discurso da psicologia afirma, a partir do

    conjunto de elementos (sic) que ela estabelece como importante, que esse jovem apresenta

    um perigo para si e para a sociedade (sic). Dentro da sua anlise da situao ela parte do

    princpio que, pelos elementos (sic) - uso de drogas, falta de recursos e supostas infraes - o

    jovem deveria sofrer intervenes imediatas (sic) como forma de proteger a sociedade.

    Assim, o saber da psicologia, e o prprio processo de internao compulsria, se oferecem

    como ferramentas para serem utilizadas nas estratgias de segurana. Essa ideia fica visvel

    neste fragmento de outra ordem judicial: Foi declinada pelo autor a desnecessidade de

    percia psiquitrica em razo da robusta concluso do laudo psicolgico. A Juza disse

    cumpra-se a determinao para fins de efetivao da internao (sic).

    Em relao ao uso de drogas, importante situarmos que as atuais politicas no Brasil

    nessa esfera atuam em uma perspectiva antidrogas. Em 2005, o Conselho Nacional

    Antidrogas realinhou as diretrizes at ento vigentes (BRASIL, 2005a). Em seu primeiro

    pressuposto, a poltica visa buscar, incessantemente, atingir o ideal de construo de uma

    sociedade protegida do uso de drogas ilcitas e do uso indevido de drogas lcitas. Assim, o

    uso de drogas, especialmente as ilcitas, permanece como alvo de medidas punitivas,

    repressoras e de controle, que buscam como ideal social a perspectiva da abstinncia.

    Nesse sentido, aos produzirmos prticas de cuidado de crianas e adolescentes

    usurias de drogas, em um pas que criminaliza o uso, fica entendvel o elo drogas, segurana

    e pobreza. Pobreza aqui pensada como uma categoria que, devido aos seus poucos recursos,

    tem o uso de drogas como um campo sedutor que muitas vezes promete, especialmente pelo

    trfico, o acesso a coisas que por outra via o adolescente no obter (SCISLESKI E

    MARASCHIN, 2008). Segundo Brito, Ayres e Amen (2006) produzem-se categorias

    discrepantes que se atravessam como rudos e interferem nas aes em sade. Quando se fala

    em pobreza a categoria juventude em perigo confunde-se com a categoria de juventude

    perigosa produzindo nos profissionais sentimentos contraditrios e, assim, abrindo

  • possibilidades para intervenes produtoras de discriminao, punio e de manuteno das

    vulnerabilidades sociais.

    Perguntamos-nos se a interveno no campo das drogas funciona de forma homognea

    para todos os grupos sociais? Os usurios de drogas que trabalham e esto inseridos em uma

    lgica da produtividade e do consumo teriam o mesmo mtodo de interveno do que aqueles

    adolescentes que so usurios de drogas e vivem em situao de rua, desemprego e misria?

    Outras pesquisas deveriam ser realizadas para discutir essas questes, mas, no que se refere

    aos adolescentes desse estudo, percebe-se um distanciamento do cuidado proposto pelo

    Estatuto da Criana e do Adolescente, que prope a proteo dos sujeitos de forma integral, as

    prticas possibilitas aos profissionais atravs das ferramentas que o Estado disponibiliza em

    termos de servios e modos de operar esses servios (BRASIL, 1990).

    O adolescente chega unidade do servio advindo de um contexto de misria. Aps o

    tratamento9 eles saem do servio na mesma condio de misria, tendo apenas a medicao,

    os servios de sade mental e as comunidades teraputicas como seus prximos percursos e

    projetos de vida. O processo de internao compulsria, junto categoria diagnstica que o

    legitima e atribuda ao adolescente, passa a administrar o cotidiano desses jovens no

    momento em que os declara como sujeitos que necessitariam de um acompanhamento

    profissional para que possam circular livremente, devido a uma suposta doena que estaria

    presente em seus corpos.

    Assim, ao usarmos a Poltica de Humanizao (BRASIL, 2004) nessa pesquisa como

    condutora do nosso pensamento, partimos do principio de que a sade direito de todos e

    dever do estado (p.7). Esse conceito de sade no se refere ausncia de doena, mas sim,

    ao acesso a uma vida de qualidade. Dentro dessa perspectiva, acreditamos que toda ao em

    sade, especialmente no que se refere a crianas e adolescentes, deve vir pautada pelo acesso

    as politicas pblicas de educao, cultura, esporte, alimentao, transporte, moradia e todas as

    outras aes sociais previstas pela noo de direitos humanos que embasa nossa constituio

    (BRASIL, 1988).

    A utilizao da medida judicial como forma de acessar aos servios evidencia, no

    apenas uma escassa rede de cuidados em sade mental dirigida aos jovens usurios de drogas,

    mas tambm a fragilidade da rede pblica de forma geral que deveria dar conta do acesso a

    outras formas de obteno de sade. Todas essas questes evidenciam as profundas

    9 Mantemos a palavra tratamento entre aspas para enfatizarmos nossas indagaes sobre: Tratamento do que?

    Para quem? Com qual objetivo? Sob qual ponto de vista?

  • desigualdades socioeconmicas que ainda caracterizam o contexto social brasileiro (BRASIL,

    2004). Alm desses apontamentos, constatamos que a burocratizao do atendimento em

    sade de adolescentes usurios de droga fica evidente atravs dos mais de seis documentos

    presentes no kit de internao que, em sua maioria, so encontrados nos pronturios

    incompletos, rasurados, com informaes superficiais e ilegveis. importante destacar que o

    atendimento na instituio analisada permanece funcionando atravs de documentos

    impressos, no h programas de computador que funcionem em rede integrada a outros

    servios de sade. Muitos dos documentos ainda so escritos em mquinas de datilografar ou

    preenchidos a caneta. H uma negligncia e omisso do Estado frente condio precria do

    servio, o que sobrecarrega os profissionais e se reflete no atendimento aos usurios.

    Durante os trs anos de internao analisados constatamos que, dos 4329 sujeitos

    internados, 20% correspondiam a crianas e adolescentes. Esse ndice significativo evidncia

    a importncia dos estudos que problematizem essa temtica. Alm disso, a relao entre

    justia e sade se torna um campo farto para pensarmos as produes em sade e como essa

    relao acaba por evidenciar aspectos ainda presentes no contexto brasileiro e nas prticas de

    cuidado no mbito do SUS. Por fim, propomos que as polticas em torno dos usurios de

    drogas pensem nesse sujeito contextualizado sua vida e situao social (BRASIL, 2004).

    Alm disso, artifcios como, por exemplo, dentro de uma lgica da Reduo de Danos, j

    oficializada como uma prtica nacional possvel (BRASIL, 2003), devem ser pensados como

    propostas de cuidado alm do absentesmo. Se o consumo de substncias qumicas se torna

    para o sujeito algo inadministrvel preciso que ele reconhea os servios de sade como

    possveis aliados na produo do seu cuidado.

    Referncias

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