Capítulo VI I Geomorfologia Costeira Introdução 5. · Google Earth. (b). Vista panorâmica da...
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Capítulo VI I – Geomorfologia Costeira
1. Introdução
2. Tipos de Costas
3. Erosão, Transporte, Deposição Marinha
4. Linhas de Praia de Emergência
5. 5. Planície Costeira do Rio Grande do Sul
Geomorfologia Costeira
Introdução
A Geomorfologia Costeira descreve , interpreta as feições litorais e analisa os
processos formadores das costas.
Mais da metade da população mundial habita as regiões costeiras, sem contar a
grande quantidade de turistas que ali chegam todos os anos.
Toda a costa apresenta-se zonada com todos ou parte dos elementos que são
ilustrados idealmente na figura 6.1
Fig 6. 1 – Elementos de uma costa, modificado de (Bird 2007)
A costa é a zona entre a linha d’ água na maré baixa e o limite superior da efetiva ação
das ondas. Ela inclui a praia submersa , exposta na maré baixa e submersa na maré
alta, bem como a pós praia, estendendo-se em direção à terra, do limite da maré alta,
mas inundada em marés altas excepcionais, ou por grandes ondas, durante
tempestades. A linha de costa é a linha d’água migrante entre as marés alta e baixa.
A zona da costa proximal, compreendendo a zona de ressaca (com a rebentação de
ondas) e a zona de marulho (balanço) que também migram durante as marés. A zona
de rebentação
(onde as ondas quebram) se limita mar adentro pela zona de alto mar que se estende
por um limite arbitrário em águas profundas.
Na zona de praia ocorre , principalmente sedimento arenoso, confinado à linha de
costa estendendo-se para a praia submersa.
A costa é uma zona de largura variável entre a zona de praia e a zona de praia
proximal, além da linha de rebentação, estendendo se para terra até ao limite de
influência marinha, pode terminar em uma escarpa, a borda de um estuário, um
cinturão de dunas ou uma faixa de lagoas - pântanos alinhados. Na costa, ocorre a
interação da terra com o mar e o ar (litosfera, hidrosfera e atmosfera) .
Tipos de Costas
Quase todas as linhas de costa, se iniciaram por movimentos relativos entre a terra e
o mar. Uma subida do nível do mar ou uma subsidência da terra causa a submergência
de uma paisagem, antes modelada por processos sub aéreos. O desenho da linha de
costa em uma região de morros e vales resulta em uma linha recortada de baias,
golfos, estuários, separados por pontas, penínsulas e ilhas, como é o caso da linha de
costa no estado de Santa Catarina, figura 6.2.
Fig. 6. 2 – Linha de costa recortada, com baias e ilhas entremeadas por pontas,
promontórios e penínsulas, Florianópolis, Santa Catarina. Imagem Google Earth. Á
direita foto panorâmica, autor Phil Calwin, foto Google Eart
Este tipo de costa é denominado costa de submergência .
Por outro lado, uma queda no nível do mar ou uma elevação da terra e da plataforma
continental adjacente, causa uma retração do oceano e a exposição de parte da
plataforma continental. Como a plataforma continental é uma área de sedimentação,
a sua superfície é suave e o resultado é uma costa de emergência, como é o caso da
costa do Rio Grande do Sul, figura 6. 3.
Fig. 6. 3 – Costa de emergência, Pinhal, Rio Grande do Sul, imagem Google Earth. À
direita foto panorâmica, autor Kebro, fotos Google Earth.
Outros tipos de linhas de costa podem ser associadas à atividades vulcânicas,
falhamento, glaciação, crescimento de recifes de corais ou compostas de mais de um
dos tipos de costa descritos.
Erosão, transporte, deposição marinha
Os aspectos gerais de uma costa recem formada podem ser modificados pela erosão
marinha e deposição, com o desenvolvimento de várias feições costeiras. Pela
incessante formação de ondas, rochas são destruídas, escarpas retrocedem como se
fossem atacadas por uma serra cortando na horizontal. Os fragmentos liberados são
desgastados e arredondados pelos impactos e atritos constantes que ocorrem nos
movimentos incessantes principalmente na zona de rebentação das ondas e nos
movimentos produzidos pelas marés. O material assim solto é movimentado por
correntes marinhas, que junto com os sedimentos carreados pelos rios, ventos e
glaciais são redepositados. Boa parte destes sedimentos são carreados para águas
mais profundas, onde se depositam no piso oceânico. Alguns sedimentos são
deslocados paralelo à linha de costa pelas ondas e correntes formando praias,
barreiras, esporões, quando dim inui o poder de transporte da água. Zonas de costa
mais abrigadas propiciam a deposição de areia, formando-se grandes bancos de areia
que assoreiama costa. Deste modo, e também com a contribuição dos deltas dos rios
as terras crescem às custas do mar, compensando a grande destruição causada pelas
ondas.
As águas dos mares e oceanos respondem sensivelmente com movimentos á ação dos
ventos na sua superfície, bem como a variações de temperatura – salinidade e atração
da Lua-Sol (fenômeno das marés), combinadas com a rotação da Terra. O trabalho de
erosão, transporte e deposição nos oceanos e mares depende da inter atuação das
correntes, ondas e marés que resultam destes movimentos.
Os lagos e lagoas têm muito em comum com os oceanos e mares. Grande parte dos
processos que atuam nos lagos e lagoas são semelhantes aos que ocorrem nos mares e
oceanos. As feições de praia das lagoas se parecem com as feições de praia dos mares,
mas em uma escala bem menor, figura 6. 4.
Fig. 6.4 – Praia lagunar, Lagoa dos Patos, Tapes RS. Notar as pequenas dimensões se
comparada com a praia oceânica. Imagem Google Earth, foto panorâmica acervo
Google Earth
Os mares e oceanos operam como agentes de erosão, de quatro maneiras:
(a) Pela ação hidráulica da própria água não envolvendo os materiais postos em
suspensão pelas correntes e ondas, quando do embate destas com as rochas
das costas e ilhas . A energia hídrica funciona como gigantesco martelo de
água,no embate contra os paredões de rocha, figura 6. 5.
FIG. 6.5 - Em (a), vista aérea do Morro das Furnas, Torres, RS, imagem Google
Earth.Em (b), vista panorâmica, foto A. M. Scarpellini, foto Google Earth. Em (c) e (d),
detalhe mostra o efeito erosivo resultante do contínuo e milenar embate das ondas
na falésia do morro residual das Furnas. Fotos M. Conrado e M. Maximiano, galeria
Google Earth. Em (e), modelo conceitual de evolução de costa rochosa.
(b) Por corrasão, quando as ondas carregadas de fragmentos,arremessa-os contra
as falésias rochosas e junto com as correntes arrasta-os de um lado para outro
através das rochas.
(c) Por atrito quando os fragmentos carreados pelas ondas e correntes se chocam
e se desgastam mutuamente.
(d) Por dissolução em menor escala do que os outros três processosexceto se na
costa aflorarem rochas calcáreas.
As falésias retrocedem por solapamento sob a ação das ondas na base dos penhascos,
figura 6.5.
Linhas de praia de emergência
As costas emergentes se caracterizam por apresentar amplas planícies costeiras
entremeadas por inúmeras lagoas de diversos tamanhos tal como a Planície Costeira
do Rio Grande do Sul, figura 6.6.
Fig. 6.6 – (a) Trecho da Planície Costeira do Rio Grande do Sul caracterizada pelo relevo
plano , pela ocorrência de lagoas cordiformes e campos de dunas associados, Imagem
Google Earth. (b). Vista panorâmica da Lagoa da Porteira, foto A. Issi, acervo Google
Earth.
A tendência deste perfil de praia é se desenvolver para o perfil c - d. Estas superfícies
iniciais quase planas propiciam o afogamento da planície costeira inicial. Nesta
situação, a erosão do mar para a terra desenvolve ilhas-barreira ou barras no limite da
costa proximal com o mar alto, formadas pela erosão de sedimentos do piso do
oceano e direcionadas no sentido da linha de costa.
Planície costeira do Rio Grande do Sul
Estes eventos erosivo – deposicionais são característicos de uma costa emergente tal
como a zona litorânea do Rio Grande do Sul, se considerada a longo prazo, a partir de
400 Ka (1 Ka=1000anos) (Vilwock e Tomazeli 1995), figura 6.7 (a) . Neste processo de
emergência gradativa ocorreram sucessivos episódios transgressivo – regressivos
reponsáveis pelos quatro sistemas deposicionais Laguna – Barreira que ocorrem ao
longo da zona costeira do Rio Grande do Sul.
Figura 6.7. – Em (a), situação da costa do Rio Grande do Sul em relação às zonas
climáticas, Suguyo (....). Em 9b) regressão da costa gaúcha entre 17500 – 6500 AP.
A curto prazo, entre 17500 AP e 6500 A. P a costa sul riograndense desenvolveu-se
como retrogradante, figura 6.7(b), Correa (1996).
A evolução emergente da costa sul riograndense foi estudada por (Tomazeli e
Willwock 2000), figura 6.8. Em (a) esboço geológico da Planície Costeira do Rio
Grande do Sul, em (b) corte esquemático ideal, em (c) curva dos isótopos de oxigênio
no quaternário (Williams et al 1988).
Figura 6.8 – Sistemas deposicionais da Planície Costeira do Rio Grande do Sul:
Distribuição geográfica e perfil transversal esquemático, (Tomazeli e Willwock 2000)
Sistemas Deposicionais
Na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, se individualizam dois sistemas
deposicionais, Sistema de Leques Coluvio – Aluviais e Sistema Laguna – Barreira.
Leques coluvio - aluviais
Os leques coluvio - aluviais são registros de processos de intemperismo, erosão,
transporte e deposição que atuaram nas encostas das terras altas sustentadas por
rochas granitóides e metamórficas do Escudo sul riograndense e rochas vulcano
sedimentares da Bacia do Paraná, figura 6. 9.
Figura 6.9 – Sistema deposicional Leques Colúvio – Aluviais, Planície Costeira do Rio
Grande do Sul, imagem Google Earth e foto panorâmica, acervo Google Earth, crédito
Jones Carvalho.
Os depósitos de encosta associados ao Escudo são de dois tipos: a) Proximais,
representadas por elúvios e colúvios resultantes do intemperismo e movimentos de
massa ao pé das encostas rochosas sustentadas principalente por rochas granitóides,
compostos por matriz argilo arenosa que sustentam um arcabouço de grânulos seixos
,h matacões de quarto, rochas granitóides e quartzo leitoso de falha.
b) Distais, apresentam estratificação, são registros de fluxos aquosos em canais ou
espalhados que originam arenitos e conglomerados com geometria lenticular.
Os depósitos de encosta associados às rochas vulcano – sedimentares da Bacia do
Paraná são resultantes principalmente de movimentos de massa onde predominam
clastos de vulcanitos basálticosda Formação Serra Geral ou de arenitos da Formação
Botucatu, provenientes do intemperismo, erosão transporte principalmente
gravitacional em curtas distâncias e depositados sob a forma de leques de tálus e
coluviais, margeando as escarpas do Planalto Meridional.
Sistemas deposicionais Laguna – Barreira
Os quatro sistemas deposicionais Laguna – Barreira figura 6.9 (a) e (b) são o registro
de picos de transgressões seguidos de regressões do Oceano Atlântico na Costa sul
riograndense .
A idade relativa dos quatro sistemas laguna – barreira podem ser determinadas pelas
suas posições relativas à costa atual. O sistema Laguna – Barreira I é o mais antigo e
interiorizado e as idades decrescem em direção à costa atual, sendo o mais recente o
sistema Laguna – Barreira IV, junto à linha do Atlântico atual.
A idade absoluta, considerando que os quatro eventos tenham sido condicionados
pelas variações glacio eustáticas do nível dos oceanos no quaternário, podem ser
determinadas pela aplicação da curva isotópica do oxigênio (Willian et al 1988), figura
6.9 ( c ), que baliza o início dos eventos transgressivo – regessivos a partir de 400 ka (1
ka = 1000 anos) . A materialização dos quatro picos transgressivos correspondem aos
quatro picos da curva da figura 6. 9 (c ).
Sistema Laguna – Barreira I
De acordo com a curva isotópica o pico correspondente ao evento transgressivo
associado ao sistema Laguna Barreira I, corresponde ao estágio 11 referido à idade
absoluta 400 ka, Pleitocênica (Tomazeli e Willwock 2000).
A principal área de ocorrência deste antigo sistema Laguna Barreira situa-se no
município de Viamão, distrito de Águas Claras, figura 6. 10.
Figura 6. 10 – Sistema deposicional Laguna Barreira I, imagem Google Earth e foto
panorâmica, acervo Google Earth, crédito....
A fácies Barreira consiste de sedimentos e rochas sedimentares friáveis a cimentadas
de origem principalmente eólica que se ancoraram em altos do Escudo Sul
riograndense.
Trata-se de areias avermelhadas quartzo feldspáticas de granulação fina a média,
grãos com bom arredondamento, com teor elevado de matriz siltico argilosa,).São
comuns ferrificações, principalmente no extremo nordeste da Barreira I. O aspecto em
afloramento é maciço, as estruturas primárias foram totalmente distruídas pelo
elevado estágio de pedogenisação dos sedimentos, figura 6.11 (b).
A fácies Laguna I ocorre nas terras baixas situadas entre a Barreira I e os depósitos
colúvio aluviais do sistema de leques. A região abrange boa parte das bacias dos rios
Gravataí e Guaíba.
A natureza dos sedimentos que ocorrem nesta planície deposiciosicional é
heterogênea, envolve depósitos fluviais, lagunares e paludais. A sucessão dos
depósitos, em muitos lugares termina por espessos pacotes de turfa.
Sistema Laguna Barreira II
O Sistema Laguna – Barreira II se desenvolveu pelo episódio transgressivo – regressivo,
no Pleistoceno , onde o pico transgressivo se deu no estágio isotópico de oxigênio 9, à
325 ka.
A Barreira II foi responsável pelo início do isolamento das lagoas dos Patos e Mirim. As
fácies praiais e eólicas da Barreira II foram especialmente preservadas na parte
meridional do Estado, à Leste da Lagoa Mirim, figura 6. 11 (a). O sedimento é de cor
amarelada a castanho, arenoso quartzo – feldspático, grãos bem arredondados, com
matriz siltico argilosa de proveniência diagenética. O aspecto em afloramento é
maciço, as estruturas primárias foram mascaradas por processos pedogenéticos.
Fig. 6.11 Os sistemas Laguna Barreira II, III, IV ilustrados em imagem Google Earth. Ao
lado fotos panorâmicas, créditos, Paulo Angonese, Benhur Costa.
O Sistema Lagunar II, apresenta feição erosiva característica, resultante da ação
marinha que modelou terraços de abrasão que ocorrem na margem Oeste da Planície
Costeira, situado entre 18-24m de altitude.
Predominam sedimentos finos areno-siltico-argilosos pobremente selecionados de cor
creme a amarelo, com laminação plano-paralela,com concreções ferruginosas.
Sistema Laguna Barreira III
O Sistema Laguna Barreira III se desenvolveu pelo evento transgressivo – regressivo,
no Pleistoceno, onde o pico transgressivo se deu no estágio isotópico de oxigênio 5ª a
120 ka. Corresponde à chamada penúltima transgressão reconhecida nas costas dos
diversos continentes.
Este sistema complementou o isolamento do Sistema Patos Mirim, bem como o
isolamento da Lagoa mangueira, figura 6. 11 (b).
Os depósitos da Barreira III ocorrem continuamente desde Torres à norte até o Chuí a
sul.
No Norte os depósitos se apoiam na base da escarpa da Serra Geral interdigitados
com os depósitos do Sistema de leques aluviais. Este contexto indica que nesta
penultima transgressão as vagas do Atlântico martelavm estas encostas, fato atestado
per cavernas de erosão marinha nos arenitos da Formação Botucatu, na Lagoa da
Itapeva.
Os sedimentos são de origem eólica e praial, areias de cor clara, quartzosas finas, bem
selecionadas com estratificações visíveis, cruzada, planar e acanalada.
O Sistema Lagunar III apresenta depósitos de areia fina siltico argilosas pobremente
selecionadas de cor creme com concreções ferruginosas e carbonáticas. Nestes
sedimentos ocorrem fósseis dos grandes mamíferos pleistocênicos.
Sistema Laguna – Barreira IV
Corresponde ao último evento transgressivo – regressivo ocorrido no Holoceno,
resultante da transgressão pós glacial, estágio isotópico do oxigênio 1 à 5 ka com
elevação de 5m em relação ao nível do mar atual., figura 6.11 (c)
Características deste estágios sã as antigas cristas de praia (“beach ridges”) que
atestam a fase regressiva deste Sistema erosivo deposicional, figura 6.12.
Figura 6.12 – Cristas de praia “Beach ridges”, atestam o evento regressivo do Sistema
laguna-Barreira IV. Na altura da cidade de Rio Grande. Imagem Google Earth.
As areias que registram a Barreira IV são finas, quartzosas de granulação fina a muito
fina, onde pode ocorrer a concentração de minerais pesados, (jazida ilmenítica do
Bojuru). A largura do campo de dunas varia de 2 a 8 km e ocorre ao longo de toda a
linha de costa, onde predomina a forma barcana que se movimentam para SW sob o
influxo do vento NE predominante no litoral sul riograndense. Este movimento
constante da areia assoreia os corpos lagunares existentes neste sistema deposicional.
O sistema lagunar é composto por centenas de corpos lagunares onde se destacam a
Lagoa da Mangueira, a Lagoa do Peixe e centenas de corpos lagunares menores onde
predomina a forma de coração.
Além dos corpos lagunares ocorrem rios meandrantes e canais de ligação intra lagunar
de origem recente.
Figura 6. 12 – Sistemas deposicionais Laguna Barreira I, II, III, imagem Google Earth e
fotos panorâmicas, acervo Google Earth, créditos Benhur C0sta, Paulo Angonese.....