Capoeira e Educacao

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1 CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO Os saberes que conformam as tradições da capoeira têm sido transmitidos por séculos na sociedade brasileira, através de meios próprios e eficazes, alternativos e diferentes dos recursos da educação formal - oficial do Estado. Nesse sentido, a incorporação da capoeira na educação formal é recente no país. E tem se desenvolvido de maneira diversificada e, muitas vezes, controvertida. A partir da década de 30, o processo de transmissão da capoeira passou por transformações que favoreceram sua aproximação com o poder público e com a sociedade civil. Aos poucos, a capoeira foi-se incorporando aos mecanismos formais de educação. Na década de 70, ampliou-se o número de docentes e instituições de ensino de capoeira. Em 2003, com a criação da lei 10.639, que inclui os temas da história e da cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental e médio, aumentaram as possibilidades de inserção da prática e dos processos de ensino-aprendizagem da capoeira no contexto escolar. Essas mudanças contribuíram para a ampliação e para o reconhecimento da capoeira como instrumento cultural e pedagógico no processo educativo, dentro e fora da escola. A capoeira na educação pode ser tratada sob as seguintes perspectivas: da pesquisa; da produção e disseminação do conhecimento; e da valorização do saber popular. Já existem experiências da capoeira no ensino fundamental e médio, oferecidas como: componente curricular obrigatório; componente curricular optativo, para o aluno; componente curricular multidisciplinar, dadas as interfaces e interseções da capoeira com a educação física, educação artística, geografia, história, literatura e música; ensino da história e da cultura afro-brasileira; atividade complementar optativa oferecida em centro de treinamento, aberto ao atendimento de alunos dos ensinos fundamental e médio, congregando determinado número de estabelecimentos de ensino. No ensino superior, a capoeira, em alguns casos, é oferecida como disciplina obrigatória no curso de educação física e optativa para outros cursos; como curso de pós-graduação, de extensão e também como curso seqüencial. A inclusão da capoeira no ensino formal como componente curricular é objeto de ampla discussão entre educadores, capoeiristas e legisladores, pois, parte da fundamentação e lógica da capoeira está calcada em: ofício de mestria não formal; manifestação como forma de expressão corporal específica; e um imaginário de símbolos, atributos e crenças. Esses fatores apontados aqui, com certeza, vão além do conceito de educação formal. Constata-se ainda a expectativa de atribuir aos mestres e aos velhos mestres de capoeira, o reconhecimento formal de seus trabalhos e de seus notórios saberes para que possam atuar como docentes dessa arte-luta nas instituições públicas e privadas. Consideram-se ainda os diferentes tempos e espaços em que se realizam as transmissões dos saberes tradicionais nos ambientes formais e informais, estimulando assim, a aproximação dos conhecimentos tradicionais e acadêmicos. O serviço público de ensino poderá atuar na formação e qualificação continuada dos profissionais que desenvolvam essa atividade na educação escolar. O ensino da capoeira, através do

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CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO

Os saberes que conformam as tradições da capoeira têm sido transmitidos por séculos na

sociedade brasileira, através de meios próprios e eficazes, alternativos e diferentes dos recursos da

educação formal - oficial do Estado. Nesse sentido, a incorporação da capoeira na educação formal é

recente no país. E tem se desenvolvido de maneira diversificada e, muitas vezes, controvertida.

A partir da década de 30, o processo de transmissão da capoeira passou por

transformações que favoreceram sua aproximação com o poder público e com a sociedade civil. Aos

poucos, a capoeira foi-se incorporando aos mecanismos formais de educação. Na década de 70,

ampliou-se o número de docentes e instituições de ensino de capoeira. Em 2003, com a criação da lei

10.639, que inclui os temas da história e da cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental e

médio, aumentaram as possibilidades de inserção da prática e dos processos de ensino-aprendizagem da

capoeira no contexto escolar. Essas mudanças contribuíram para a ampliação e para o reconhecimento

da capoeira como instrumento cultural e pedagógico no processo educativo, dentro e fora da escola.

A capoeira na educação pode ser tratada sob as seguintes perspectivas: da pesquisa; da produção

e disseminação do conhecimento; e da valorização do saber popular. Já existem experiências da

capoeira no ensino fundamental e médio, oferecidas como: componente curricular obrigatório;

componente curricular optativo, para o aluno; componente curricular multidisciplinar, dadas as

interfaces e interseções da capoeira com a educação física, educação artística, geografia, história,

literatura e música; ensino da história e da cultura afro-brasileira; atividade complementar optativa

oferecida em centro de treinamento, aberto ao atendimento de alunos dos ensinos fundamental e médio,

congregando determinado número de estabelecimentos de ensino.

No ensino superior, a capoeira, em alguns casos, é oferecida como disciplina obrigatória no

curso de educação física e optativa para outros cursos; como curso de pós-graduação, de extensão e

também como curso seqüencial.

A inclusão da capoeira no ensino formal como componente curricular é objeto de ampla

discussão entre educadores, capoeiristas e legisladores, pois, parte da fundamentação e lógica da

capoeira está calcada em: ofício de mestria não formal; manifestação como forma de expressão

corporal específica; e um imaginário de símbolos, atributos e crenças. Esses fatores apontados aqui,

com certeza, vão além do conceito de educação formal.

Constata-se ainda a expectativa de atribuir aos mestres e aos velhos mestres de capoeira, o

reconhecimento formal de seus trabalhos e de seus notórios saberes para que possam atuar como

docentes dessa arte-luta nas instituições públicas e privadas. Consideram-se ainda os diferentes tempos

e espaços em que se realizam as transmissões dos saberes tradicionais nos ambientes formais e

informais, estimulando assim, a aproximação dos conhecimentos tradicionais e acadêmicos.

O serviço público de ensino poderá atuar na formação e qualificação continuada dos

profissionais que desenvolvam essa atividade na educação escolar. O ensino da capoeira, através do

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poder público, conta com a possibilidade de fazer parte da proposta político-pedagógica da escola,

atendendo às demandas da comunidade escolar.

O poder público tem a possibilidade de formular e implementar políticas públicas assegurando a

todos o acesso à capoeira e também a outras manifestações da nossa cultura popular, nas esferas

federal, estaduais, distrital e municipais em cumprimento ao dispositivo constitucional que determina a

promoção do acesso à cultura, à educação, ao esporte e à ciência.

Questões para debate:

1- Como respeitar e valorizar as diferentes formas tradicionais de transmissão de saber na educação

formal?

2 - Sob que perspectivas multidisciplinares a capoeira pode ser tratada na educação escolar e no ensino

superior?

3 – Quais tipos de reconhecimento formal devem ser atribuídos aos mestres?

4 - O que é preciso para que o capoeira seja reconhecido como professor ou mestre no ambiente

educacional?

5 - Como o serviço público de ensino poderá formar e qualificar os docentes de capoeira que

desenvolvam essa atividade no âmbito escolar?

6 - Como deve ser a participação do docente de capoeira na formulação e implementação de políticas

educacionais?

7 - Como a Lei 10.639/03 que institui o ensino da história e da cultura afro-brasileira poderá influenciar

o ensino e a prática da capoeira?