Características 2anos

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Page 1: Características 2anos

Características gerais das crianças de 2 anos1

Devem de ser capazes de lavar e secar as mãos

Devem de ser capazes de deitar os papéis no caixote do lixo

Não apanhar coisas do chão

Ir ao bacio sozinha

Tempo de sono num total de 13 horas (11h a noite e 2h na sesta)

Não ligam duas palavras seguidas

Não imitam acções ou palavras

Não compreendem instruções ou ordens simples

Não sabem arrastar ou empurrar um brinquedo com rodas

Postura: bípede

Apresenta autonomia de marcha /marcha correcta

Corre com dificuldades de equilíbrio

Motricidade sincrética e simétrica

Preensão fina

Aponta com o indicador

Pode nomear uma imagem

Chama-se pelo próprio nome

Reconhece a sua imagem no espelho e em fotografia

No desenho faz garatujas

Reconhece objectos, quando a partir do momento em que age sobre eles

(corporalmente).

Tem carácter “mandão” e “exibicionista”

1 SALÓ, Iolanda - Enciclopédia dos pais de Hoje. “Como ser melhores pais”. Circulo de Leitores.COSQUINHA, Paula Dt Enciclopédia dos pais “Qualidade de vida”. Circulo de Leitores.

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Carácter emocional da criança de 2 anos

Aos dois anos a criança tenta impor-se. Ela diz (ou grita): “Eu faço.”, “Eu visto.”, “Eu

tiro.”, “Eu lavo.” ….

Realmente a afectividade da criança, está mais virada para o prazer de fazer sozinha, de

atingir um determinado objectivo, do que para o prazer, por exemplo o de se acarinhar.

A criança excede-se, obstina-se, colocando cada vez mais uma maior carga emocional

no desejo de alcançar e de conseguir o seu triunfo (“viste o que eu fiz?”). Sabe que se

algo tem um grau de dificuldade e o consegue exercer (chutar a bola bem longe, saltar

em cima da cama, ou dar uma cambalhota), não só ela, mas como os adultos que a

rodeiam sentem alegria, orgulho e triunfo. 2

A mãe é o seu ídolo (visto ser com esta que desde a nascença com que interage mais),

portanto tenta impressiona-la a todo o custo.

É na descoberta do mundo que ela reconhece que é um ser distinto e que tem as suas

próprias vontades, mas também é nesta fase que começa a surgir o “Não”, o “Não faças

isso”. Aqui, ela sentirá amor e ódio ao mesmo tempo, mas este ódio, esta negação serão

o sinal da sua autonomia, poder e individualidade.

Portanto, a mãe, mais do que progenitora biológica, é também a responsável pela

estruturação das relações afectivas da criança durante as primeiras fases da vida social.

Quando esta relação (mãe - criança) é muito forte e bem interiorizada, uma separação

pode ser bastante dolorosa e difícil de ultrapassar pela criança, tendo por vezes traumas

posteriores. 3

Ao longo destes anos, as emoções podem mudar drasticamente, à medida que as

crianças descobrem a sua individualidade. A fase dos dois aos três anos poderá ser

especialmente difícil para os pais, pois a criança tenta revoltar-se, exige atenção

constante, mostra-se ciumenta e possessiva e tem birras. Nem todas as crianças

apresentam todas estas características e algumas revelam-se mais vigorosamente que

outras. Contudo, estes problemas são bem conhecidos da maioria dos pais, e poucas

famílias deixam de os experimentar por completo.4

2 Wallon e Wilde, 1981 Crianças, famílias e creches – uma abordagem ecológica da adaptação à creche. 3 Bowbly, 1973 Crianças, famílias e creches – uma abordagem ecológica da adaptação à creche.4 Enciclopédia do conhecimento ciência e tecnologia “O Homem” – p.60-61.

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Compreender a criança de 2 anos5

Por volta dos dois anos a criança, é mais competente, mais independente e, por isso,

precisa de afirmar a sua própria e crescente identidade.

Contudo, os pais devem ser flexíveis e sugerir mais do que mandar. Nesta idade a

criança quer tudo ao mesmo tempo e não suporta abdicar de alguma coisa. Assim,

nestes momentos, é melhor que sejam os pais a decidir o que mais convêm.

Nesta etapa, ela ainda não sabe partilhar as coisas e isso também lhe causa

aborrecimento.

É também nesta idade que a criança consegue agarrar um lápis e exercer pressão

suficiente sobre o papel para fazer o traço. Para a criança esta descoberta é muito

divertida. É importante que os pais partilhem com o filho o prazer de fazer rabiscos e,

enquanto se divertem, lhe ensinem onde é possível pintar e onde não o é.

Aos dois anos a criança começa a entreter-se sozinha e aprende com tudo o que vê e

toca. Assinala os objectos que lhe chamam a atenção e que ainda não sabe dizer. Os pais

devem estimular o interesse pelas coisas e falar-lhe com naturalidade, usando

expressões simples para que vá desenvolvendo a linguagem.

5 CASQUINHA, Paula Dt. - Enciclopédia dos pais “Qualidade de vida”. Circulo de Leitores.

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Efeitos da creche

Os principais objectivos da creche ou jardim-de-infância são acolher, proteger e cuidar

das crianças. Mas para muitas crianças, quando se deparam pela primeira vez com o seu

ambiente, temem e tomam-na como um rival ou uma punição.

Este primeiro impacto provoca acentuadas alterações no comportamento emocional da

criança, podendo prejudicar o processo de socialização.6

Porém, não é possível dizer com exactidão se os comportamentos agressivos de certas

crianças que frequentam a creche são da natureza do espaço ou do relacionamento com

um grupo mais vasto do que aquele ao qual a criança estava habituada, embora existam

grandes indícios que apontam para tais factores.

Enumeros, foram os estudos entre crianças que frequentavam a creche e as que estavam

a ser criadas em casa.

E de facto os resultados foram muito diferenciados, quer a nível emocional, quer a nível

intelectual.

Desenvolvimento sócio – afectivo6 PORTUGAL, Gabriela - Crianças, famílias e creches – uma abordagem ecológica da adaptação à creche. Colecção Cidine – edição 7: Porto Editora.

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Historicamente, a ligação mãe – criança, tem sido o principal foco de atenção dos

autores interessados nas experiências precoces e suas influências que estas tinham sobre

o desenvolvimento da criança.

Já foi estudado, e comprovado que qualquer situação que prive a criança do acesso

contínuo à sua mãe, afecta o seu desenvolvimento social, o seu relacionamento com os

outros e a sua segurança emocional.

As relações sociais da criança, que frequenta a creche, conduzem a diferentes

conclusões. Também aqui, enquanto que alguns demonstram efeitos sociais positivos,

outros verificam que a permanência precoce e prolongada na creche, conduz a uma

maior agressividade e comportamentos negativos. Para uns, isto é considerado

inadaptação social, para outros, é o firmamento da sua autonomia e maturidade.

Em geral, as crianças da creche, parecem ser mais barulhentas, menos tolerantes à

frustração, mais competitivas e agressivas com os seus companheiros.

Nas crianças, habituadas a estar com adultos diariamente, demonstram medo das outras

crianças e aproximam-se mais do educador. 7

Enfim, a creche, poderá fazer com que a criança seja socialmente mais interactiva, mas

as consequências dependem da qualidade e consciências dos cuidados substitutos

fornecidos às crianças.

Embora características situacionais pareçam ser determinantes no modo como as

crianças se relacionam umas com as outras, o efeito do temperamento nas relações

sociais da criança, também parece ser significativo na adaptação da criança á creche

pois a permanência na creche representa para as crianças uma variedade de novas

solicitações por parte dos adultos e companheiros de sala.

Alguns estudos (cf. Revisão de Portugal, 1995) indicam que as crianças de

temperamento difícil parecem exibir brincadeiras mais agressivas e violentas que as

fáceis.

Crianças mais activas, envolvem-se em mais situações conflituosas do que as inactivas,

mas também parecem ser mais sociáveis, situações constatadas pela frequente troca de

brinquedos, estando mais tempo activos e menos tempo a olhar ou a observar os outros.

As crianças mais inibidas, afastam-se mais das outras crianças, observando-as mais,

falam-lhes menos e pegam menos vezes em brinquedos.

7 BRONFENBRENNER, Belsky e Steinber (1977), num relatório preparado para o Department of Health and Welfare, apresentam um resumo das constatações de mais de 40 estudos sobre creches

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A criança com baixo limiar de respostas, tende a reagir batendo nas outras crianças e

envolve-se menos em trocas sociais (dar e receber).

A ligação da criança ao educador é um factor que influência a adaptação sócio -

emocional da criança.8

Sentimentos ligados ao processo de separação materna e adaptação á

creche

8 PORTUGAL, Gabriela - Crianças, famílias e creches – uma abordagem ecológica da adaptação à creche. Colecção Cidine - edição 7: Porto Editora.

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A partir do momento que a criança se separa da mãe, perde os seus pontos de referência

e daí resulta uma certa desorganização emocional, flúi a inquietude, a angustia e o

sofrimento. Estes sentimentos, podem ser traduzidos pelos sintomas de agitação ou

hiper – controlo, recusas, modificações dos ritmos, perturbações do sono, problemas

alimentares e diferentes manifestações somáticas (Truchis, 1998).9

Durante os primeiros dias na creche, as crianças manifestam uma fase de protesto,

chorando e agarrando-se aos pais. Durante o dia ficam, mais rabugentos (isto durará

mais ou menos 2 meses – Rodriguez e Hignett, 1991).

A criança oscila então entre emoções positivas e negativas, projectando-as ou sobre a

educadora ou sobre a mãe.

A ansiedade será o sentimento que mais se notará ao longo dos 4 a 18 dias de escola.

Haverá uma rejeição a educadora, projectada através do choro e da birra.

Pramling e Lindahl (1992) observaram em crianças de 2 anos, uma crise inicial de

adaptação à creche, que de certo modo afecta e bloqueia a actividade da criança.

Mesmo com 2 anos, a criança tem uma perspectiva própria, algo que deseje e algo que

lhe interessa terá que ter.

O educador deve de estar atento a essas necessidades, e favorecer o desenvolvimento da

criança.

Tipos de Adaptação

A criança chora logo no primeiro dia

A todo momento pergunta onde está sua mãe e se ela volta logo. 9 PORTUGAL, Gabriela - Crianças, famílias e creches – uma abordagem ecológica da adaptação à creche. Colecção Cidine – edição 7. Porto Editora.

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Com relação a este tipo de comportamento a educadora deverá passar segurança para a

criança dizendo que a sua mãe vem logo, que foi, por exemplo, ao supermercado

comprar coisas boas, ou que foi trabalhar e assim que sair do trabalho virá buscá-la. É

muito importante fundamentar a ausência da mãe que deixou ali. Como a criança nesta

faixa etária não tem noção de tempo, ela irá perguntar a todo momento a mesma coisa, e

a educadora deverá responder sempre da mesma forma e com o mesmo argumento.

Quando a mãe chegar, a criança será avisada: “eu não te disse que ela logo viria lhe

buscar!”. Este comportamento gerará uma relação de confiança.

A criança entra sem chorar e nunca chora

Demonstra um comportamento de total intimidade com o novo ambiente. Este tipo de

adaptação deve gerar, ao contrário do que muitos pensam, um cuidado extremoso e

muita atenção por parte do educador em torno da criança, pois o fato de ela não chorar

não quer dizer que não está estranhando o ambiente, os professores e os amiguinhos.

Ela deve receber a mesma atenção que qualquer criança em fase de adaptação receberia.

Caso isso não aconteça, ela poderá vir a reagir de modo a não querer mais permanecer

no ambiente escolar tornando a adaptação muito mais difícil.

A criança entra sem chorar mas, depois de uma semana não quer mais vir

Esta é uma adaptação muito complicada, não levando em consideração a criança mas

em relação aos pais, pois este tipo de comportamento da criança gera junto aos pais uma

desconfiança em relação ao ambiente escolar. “O quê será que aconteceu na escola para

ela não querer ir mais?” “O quê será que fizeram com a minha filha, afinal ela estava tão

bem?” Este comportamento pode estar relacionado à perda de interesse pela novidade

que já não existe mais, ou pode ter outras causas mais graves, que a família deverá

“investigar”.

Em qualquer dos casos é muito importante que, na primeira semana, a criança não fique

o período todo. Que a mãe a vá buscar mais cedo e que vá aumentando o tempo

gradualmente para não stressar a criança.

Problemas de adaptação da criança10

Ansiedade da separação

Os sintomas de ansiedade são relativamente comuns em crianças e adolescentes, e a

ansiedade patológica, crónica, incluindo a ansiedade de separação, é um problema

10 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa

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clínico cada vez mais frequente. Por estas razões, todos os profissionais que lidam com

crianças devem estar informados sobre as possíveis manifestações de ansiedade nesta

faixa etária, que são:

A criança apresenta sintomas que excedem o que seria esperado no

desenvolvimento;

A ansiedade cria comprometimento significativo em alguma área das funções da

criança;

Os sintomas de ansiedade persistem por um tempo inadequado.

Esses quadros ansiosos podem ser debilitantes para as crianças e angustiantes para as

famílias, pois podem comprometer significativamente o desenvolvimento e o equilíbrio

emocional da criança. Por isso, quanto mais cedo e acertadamente diagnosticado, mais

assertivo é o tratamento, com excelentes resultados.

Para o diagnóstico de ansiedade de separação há necessidade de que a ansiedade diante

da separação ou perspectiva de separação da figura de mais contacto afectivo seja

exagerada, que a criança apresente algum sofrimento significativo ou algum prejuízo

social, escolar ou de outra área importante de sua vida. Portanto, para o diagnóstico é

importante que as crianças com ansiedade de separação tenham dificuldades em realizar

as suas actividades quotidianas normais, frequentar a escola, ficar na casa de amigos, ir

a excursões e até, manter hábitos de sono normais.

As crianças com este transtorno experimentam um sofrimento excessivo quando

separados de casa ou da pessoa de vinculação afectiva importante, bem como podem

sofrer antecipadamente diante da simples possibilidade de futura separação. Quando

separados de casa ou dessas pessoas de vinculação afectiva, precisam insistentemente

saber do seu paradeiro e sentem necessidade de permanecer em contacto constante, por

exemplo, com telefonemas repetidos. 11

São frequentes aqui os pesadelos sobre separação. As crianças sentem uma saudade

extrema e chegam a sentir-se doentes (febre, diarreia, vómitos) devido ao desconforto

por estarem longe de casa, ou quando a pessoa de grande vínculo afectivo está ausente

(mãe, pai, avós,..). Outros sintomas incluem uma preocupação excessiva com algo de

mal que possa acontecer a si mesma ou aos pais, recusa em ir à escola, relutância em

dormir sozinha ou longe dos pais.

11 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa

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Page 10: Características 2anos

As exigências excessivas da criança em relação à atenção, carinho e amor

frequentemente transformam-se numa fonte de frustração para os pais, provocando

ressentimento e conflito na família. Às vezes as crianças com tamanha ansiedade são

descritas como excessivamente meticulosas, obedientes e ávidas para agradar,

preocupando-se excessivamente com assuntos que seriam mais apropriados aos adultos.

No plano afectivo

A entrada da criança e da família na creche – (re) construção de relações

O processo de interacção social funciona como um espaço de construção de relações e

conhecimentos sobre si e o mundo ao seu redor. Assim sendo, a criança pode frequentar

variados contextos, sem risco de prejuízo ao seu desenvolvimento afectivo-social e não

há restrição para a convivência continuada com múltiplas figuras. Todas podem ser

promotoras de desenvolvimento. A creche é tida como um entre outros possíveis

contextos de desenvolvimento, onde o cuidado e a educação da criança são

compartilhados com outros adultos e onde ela tem oportunidade de interagir com vários

parceiros da mesma idade e de ambos os sexos.

A entrada para uma creche implica um contacto com um novo contexto de

desenvolvimento para a criança, além da sua família. Ao começarem a frequentar uma

creche, as crianças entram em contacto com um ambiente diferente e com outras

pessoas que ainda não conhecem, o que conduz à reorganização de sua rede de

significações e lhes exige a construção de novas relações afectivas, além da

reorganização daquelas já existentes. Assim sendo, o ingresso de uma criança numa

creche desencadeia, num nível amplo, um processo de construção de relações na família

e na creche12. Processo que envolve uma troca contínua de acções, um fluxo dinâmico

de significados (significações), tanto por parte dos familiares quanto dos educadores.

A criança de dois anos acaba de sair de um processo recente de adaptação às condições

extra-uterinas, defronta-se também com a aquisição de novas competências, além da

ampliação da rede de interacções e da adaptação a novos espaços e rotinas.

A interacção mãe/criança sofre transformações ao passar do espaço domiciliar, onde

havia uma maior intimidade e exclusividade, para um espaço colectivo, com o

estabelecimento de novas relações e o fim da exclusividade de cuidados realizados por

um familiar. Nesse contexto, há a introdução de novos parceiros, de um novo ambiente

12 LEZINE, Irene, Psicopedagogia da Primeira Infância, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1982, p. 51-54

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Page 11: Características 2anos

com novas rotinas. A educadora, que passa a realizar os cuidados da criança, também

deve conhecê-la, já que há um conjunto de características pessoais dessa criança e

família que são específicas e devem ser respeitadas, valorizadas e eventualmente

modificadas.

Todo esse processo provoca inicialmente e com frequência, situações de grande tensão

entre pais e educadoras, relacionadas aos conceitos de obrigações da maternidade e de

educação dos filhos, geradoras de dúvida, angústia e culpa, apesar de representarem

também um motivo de alegria, conquista ou alívio por se conseguir uma vaga na creche.

De qualquer forma, os conceitos que trouxerem de sua experiência de vida, certamente

estarão expressos em sua relação com a creche, na forma como vão introduzi-la às

crianças e no significado que lhe será dado. Nesse momento desafiador para todos, o

apoio aos esforços de adaptação certamente influenciará e será influenciado pelas

relações da criança.

O desafio torna-se mais significativo quando se considera as características da criança

nos seus primeiros anos de vida. O bebé humano, por ser incapaz de sobreviver e

interagir no mundo sem a ajuda e mediação de outros indivíduos mais experientes de

sua espécie, apresenta um prolongado período de aprendizagem, provocando uma

intensa união e desenvolvendo um forte vínculo afectivo em relação àqueles que com

ele interagem e cuidam.

Necessidade de afecto13

As experiências afectivas nos primeiros anos de vida são determinantes para que a

pessoa estabeleça padrões de conduta e formas de lidar com as próprias emoções. Logo

a qualidade dos laços afectivos são muito importantes para o desenvolvimento físico e

cognitivo da criança.

O bebé, nos primeiros meses de vida, já começa a construir as expressões faciais, o

choro, o sorriso e os movimentos para se comunicar. As situações quotidianas são

momentos privilegiados de afecto, socialização e de aprendizagem.

Necessidade de segurança

Todas as crianças passam por períodos de medo. Estes são normais e ajudam-nas

a resolverem problemas de desenvolvimento. Também servem para chamar a atenção

13 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa, 1995, p. 317-321

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Page 12: Características 2anos

dos pais para esses problemas, geram apoio da sua parte numa altura em que as crianças

dele precisam.

Os medos surgem inevitavelmente em períodos de aprendizagem rápida. A nova

independência e as novas capacidades da criança trazem-lhe um desequilíbrio. Os

medos desencadeiam a energia necessária à readaptação. À medida que a criança

domina os seus receios, aprende a controlar-se a si própria e ao novo surto de

aprendizagem. Depois, pode até sentir que fez um grande progresso no seu

desenvolvimento. 14

No segundo e terceiro anos, as crianças têm de aprender a controlar-se em

grupos de outras crianças da mesma idade. É evidente que se sentem receosas quando se

inserem num grupo de crianças ruidosas. Aos pais com filhos de dois ou três anos

sugere-se o seguinte: primeiro, contar com o facto de ele se agarrar à saia da mãe (ou às

calças do pai) quando chega junto dos outros. É necessário prepará-lo antecipadamente

para aquilo e aqueles que vai conhecer e dizer-lhe que pode ficar agarrado a vós durante

um bocado, mas que depois se tem de habituar à nova situação.

Ao levá-lo para brincar com outras crianças da sua idade, devem deixar que ele se

agarre à mãe ou ao pai até conseguir começar a identificar-se com uma delas. Depois

disso, ele dirigir-se-lhe-á lentamente, se ela parecer aceitável. Pode-se ainda tentar pô-lo

a brincar com pelo menos uma criança antes de se afastarem.

No plano fisiológico

Alimentação

Aos dois aninhos, a criança ainda não come muito, mas é extremamente observadora.

Oferecer alimentos nutritivos e comer bem na presença de adultos são as duas melhores

maneiras de ensiná-lo a alimentar-se adequadamente.

Aos dois anos, o seu ritmo de crescimento é menor do que era. Por isso não precisa de

tanta comida quanto imaginamos. Além disso, gosta de escolher o que vai comer, onde,

14 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa, 1995, p. 317-321

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Page 13: Características 2anos

quando e em que prato. É frequente optar por grandes quantidades de um único

alimento e depois, sem mais nem menos, rejeitá-lo.

A criança deve sentar-se à mesa para as refeições. As pessoas que comem sempre na

mesma hora, no mesmo lugar, em geral são mais nutridas e têm melhor forma física.

Desde cedo, deve-se criar esse bom hábito. Uma criança não deve comer no carro, na

cama nem na frente da televisão.

Caprichos, birrinhas, recusas de determinados alimentos e muitos outros desvios na

alimentação são fases inteiramente normais no desenvolvimento de uma criança. Ela

precisa de afirmar a sua independência neste domínio. Precisa de descobrir a sua

identidade na família, de fazer as suas próprias opções e de testar os limites da

tolerância dos pais/educadores. 15

As refeições poderão ser muito mais agradáveis se estes reconhecerem e respeitarem

isso. Se o não conseguirem, e se (como muitos de nós) são daqueles pais que ficam

muito preocupados porque o filho come muito pouco, então podem contar com

refeições agitadas. Com os vossos argumentos inteligentes, as vossas alternativas

apetitosas, os subornos e as diversões podem conseguir que a criança coma durante

algum tempo. O problema é que isso não resulta a longo prazo e arranjarão problemas

alimentares desnecessários.

Comer por si só é uma actividade preciosa e excitante para uma criança, e tem de

constituir uma área que favoreça a sua autonomia. Caso contrário, a alimentação tornar-

se-á um caso difícil, e a criança vencerá – de um modo ou de outro.

Descanso

A criança de dois anos tem ainda uma grande necessidade de descanso. Poderá ainda

tentar quebrar as regras e briga constantemente na hora de dormir. O que fazer?

Procurar criar rituais e rotinas para a hora de dormir. É a melhor maneira de incentivar

bons hábitos de sono.

Crianças diferentes precisam de diferentes horas de sono. Mas em geral, as crianças de

dois anos necessitam de 13 horas de sono por dia. Elas dormem de 11 a 12 horas à noite

e talvez uma a duas horas à tarde.16

15 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa, 1995, p.334, 335.16 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa, 1995, p.465-470

13

Page 14: Características 2anos

Conselho: Deixar um livro ou qualquer outro brinquedo silencioso na cama/colchão da

criança, assim ela poderá sentir-se mais segura e também divertir-se um pouco quando

acordar.

Controlar as necessidades fisiológicas/ Higiene

Aprender a usar a sanita é um processo relativamente simples. Composto de diversas

etapas, a criança pode levar alguns dias ou alguns meses para aprender.

Para que a criança aprenda a usar a sanita, é preciso ser ensinada. É importante dizer-lhe

e mostrar-lhe quais são as etapas: avisar que precisa ir à casa de banho, despir-se,

limpar-se, puxar o autoclismo e lavar as mãos. Cada uma dessas etapas leva algum

tempo. Por isso, é bom reforçar o sucesso da criança com elogios ao final de cada etapa.

A atitude da criança e o domínio da etapa anterior dirão quando ela estará pronta para

aprender a próxima etapa. A meta final é importante, mas as pequenas conquistas

também são. O sucesso inicial depende da criança entender o uso da sanita, não de

aprender tudo de uma só vez. 17

No plano cognitivo e motor

A criança de dois anos já anda, corre, por vezes com um certo desequilíbrio, já pode

subir escadas embora tenha mais dificuldades em descê-las, ainda não alterna os pés (só

o fará por volta dos 3-4 anos).

Não sabe dar um impulso para saltar e começa a ter uma boa noção do seu corpo.

A precisão e a rapidez dos seus movimentos aumentam, nomeadamente no agarrar.

Estas aquisições reflectem-se nos gestos do quotidiano: comer sozinho, vestir-se, jogar

com uma bola, andar de triciclo, …

Já sabe ordenar, enfileirar, inserir um objecto dentro de outro e no lugar correcto.

Gosta de dançar movimentando o corpo conforme o ritmo da música; subir e descer de

uma cadeira ou banco; correr e andar.

A partir dos dois anos, a criança torna-se cada vez mais autónoma.

Movimenta-se bastante. Anda para frente, para os lados e para trás. Consegue correr.

Consegue empurrar um brinquedo ou puxá-lo por uma corda.

Consegue usar os pezinhos para andar em um triciclo ou brinquedo semelhante.

Combina o movimento do pulso com o de soltar.

17 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa, 1995, p.334, 335.

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Page 15: Características 2anos

Consegue colocar qualquer forma em seu encaixe e atirar uma bola.

Consegue colocar um bloco em cima de outro.

Tenta e pratica constantemente.

Consegue seguir orientações simples.

O Pensamento

No desenvolvimento do cérebro das crianças existem fases e etapas muito bem

definidas. Segundo o modelo proposto por Jean Piaget, existem dois processos sobre os

quais o ser humano vai organizar suas experiências e adaptá-las ao que foi

experimentado, constituindo assim o perfil de sua consciência. Estes processos seriam a

Adaptação e a Organização.

A Adaptação é um processo de ajustamento ao ambiente existencial em torno do ser. No

ser humano, ao contrário dos animais, essa adaptação não deve se reduzir

exclusivamente às reacções de agressão do meio e as respostas necessárias à

sobrevivência do indivíduo e da espécie. No ser humano, a adaptação ao meio significa,

sobretudo, a adaptação emocional ao meio.18

A Organização da experiência inclui processos de combinação das informações

provenientes dos órgãos dos sentidos e o desenvolvimento de uma sábia tendência a

classificar ou agrupar esses estímulos em conjuntos ou sistemas. Trata-se do

processamento mental das informações oferecidas pela existência e captadas pelo

indivíduo através de seus sentidos. Conhecer a evolução do desenvolvimento do

pensamento infantil é importante para o entendimento do paralelo desenvolvimento da

consciência.

Desenvolvimento infantil e imaginação19

A criança desenvolve-se por um processo que abrange o seu corpo, a genética da

espécie humana e os contextos nos quais ela viverá. Esse processo inicia-se com a

família, com a cultura de seu país, com os espaços que irá frequentar desde seu

nascimento. Por isso, dizemos que a natureza do desenvolvimento humano é sempre

biológica e cultural.

18 BRAZELTON Berry, O Grande Livro da Criança, Editorial Presença, Lisboa,19[http://www.moderna.com.br/moderna/didaticos/ei/]

15

Page 16: Características 2anos

O desenvolvimento biológico tem duas dimensões: a externa e a interna. Assim, a

espécie humana tem determinadas características em seu desenvolvimento físico que

incluem não só o que percebemos no exterior – por exemplo, a fala, o aumento do peso,

a estatura, a mudança de feições, das características sexuais e da voz – mas, também, o

que é interno e não podemos observar directamente, como é o caso do cérebro.

O cérebro coordena a vida da pessoa. Ele recebe e processa as informações colhidas do

meio ambiente pelos sentidos. É nele que estão contidas a nossa memória, as nossas

experiências e aprendizagens. É também o órgão que controla várias funções físicas,

além de ter como componente o sistema límbico, no qual se originam as emoções.

Nos últimos anos, aprendemos muito sobre o desenvolvimento do cérebro da criança.

Esses conhecimentos nos levam a considerar que o cuidado e a educação são aspectos

de um processo global na formação da criança pequena, no qual a cultura tem um papel

fundamental. Esse período de desenvolvimento é muito importante porque é quando o

cérebro possui o que chamamos de grande plasticidade. Plasticidade é uma facilidade

maior de estabelecer conexões entre as células nervosas em comparação com a idade

adulta.

A criança pequena pode fazer várias coisas e apreender muitos conhecimentos, como:

da natureza, de si própria, do seu corpo, das brincadeiras, das formas de expressar

sentimentos e emoções, das outras pessoas, dos hábitos de sua família, das cores, dos

cheiros, das texturas, da luz, do movimento, etc.

A cultura, a natureza e os outros seres humanos constituem, em princípio, a mola

propulsora do desenvolvimento da criança. Em outras palavras, o desenvolvimento do

cérebro não é autónomo e independente do meio: o que a criança realizar na sua vida

quotidiana, desde o nascimento, contribuirá para o desenvolvimento das funções

cerebrais. A quantidade e a qualidade dos conteúdos aprendidos são, dessa forma,

função do meio.

Inquérito

1- Como reagiram as crianças, quando foram deixadas pelos pais no jardim-de-

infância?

2- Em caso de má adaptação. Qual foi a sua atitude?

16

Page 17: Características 2anos

3- A criança adaptou-se bem a educadora e colegas?

4- É uma criança que começou logo a brincar com as outras ou que se isolou?

5- Esquece-se depressa de algum drama momentâneo para se entreter com algum

objecto ou pessoa?

Bibliografia

COSQUINHA, Paula Dt. – Enciclopédia dos pais “Qualidade de vida”: Circulo de

Leitores.

FURTADO, Elsa – Enciclopédia dos pais “Como resolver problemas na infância”:

Círculo de Leitores.

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Page 18: Características 2anos

PORTUGAL, Gabriela – Crianças, famílias e creches – uma

abordagem ecológica da adaptação à creche: colecção Cidine – edição 7: Porto

Editora.

SALÓ, Iolanda – Enciclopédia dos pais de hoje “Como ser melhores pais”: Circulo

de Leitores.

TAVARES, Joaquim Farinha dos Santos – Enciclopédia do conhecimento ciência e

tecnologia “O Homem”+: Resomnia Editores

BAIRRÃO, J., Barbosa, M., Borges I., Cruz, O. e Macedo-Pinto, I.

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