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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS E COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA DE VARIEDADES DE CANA-DE- AÇÚCAR PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES RAFAEL HENRIQUE PEREIRA DOS REIS C U I A B Á MT 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA

TROPICAL

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS E COMPOSIÇÃO

BROMATOLÓGICA DE VARIEDADES DE CANA-DE-

AÇÚCAR PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

RAFAEL HENRIQUE PEREIRA DOS REIS

C U I A B Á – MT

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA

TROPICAL

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS E COMPOSIÇÃO

BROMATOLÓGICA DE VARIEDADES DE CANA-DE-

AÇÚCAR PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

RAFAEL HENRIQUE PEREIRA DOS REIS

Engenheiro Agrônomo

Orientador: Prof. Dr. JOADIL GONÇALVES DE ABREU

Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Agricultura Tropical.

C U I A B Á – MT

2010

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Como afago, caem grãos... Desvendando misterioso chão

Migalhas em solo fecundo Trilham campos

Brotam pão.

Fazer-se engenho Afagar o chão

Espalhar ciência Cantar o sonho Plantar o fruto

Recolher o grão Colher a flor.

Lucimar Pereira de Oliveira

(mãe)

Desejo necessidade

Transformam simples homens Em homens-ícaros

Depois... É só alçar voo

Para frente e para o alto

Maria Célia da Silva (tia)

4

À minha família,

incentivadores para que esta conquista tenha se tornado possível,

OFEREÇO.

Ao grande amigo Fabiano Lopes da Silva,

sempre presente em nossa memória,

DEDICO.

5

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de Mato Grosso, ao Programa de Pós-

Graduação em Agricultura Tropical e a CAPES pela oportunidade da

realização do mestrado e pela concessão da bolsa de estudos.

À RIDESA, a Destilaria de Álcool Libra e ao professor Marcos Antônio

Iaia por cederem as instalações e apoiarem durante a realização deste

trabalho.

Ao meu orientador Joadil Gonçalves de Abreu, por toda atenção,

apoio, ensinamentos, e pela grande amizade construída.

Aos professores Luciano Cabral, Joanis Tilemahos Zervoudakis,

Walcylene Scaramuzza e Roberto Giolo de Almeida pela participação na

banca avaliadora e sugestões para enriquecer o trabalho.

À professora Rosemary Lais Galati e Cláudio Toledo pela ajuda nas

análises laboratoriais e na redação deste trabalho.

Aos colegas do grupo de Forragicultura Fabiano Lopes da Silva

(in memorian), Cleverton Marcelino, Rodolfo Barbosa, Giovani Calzolari,

Emanuelle Beatriz e Roseane Guimarães pela ajuda durante a realização

deste trabalho.

Ao colega de profissão e de estudos Alício Nunes, pela amizade,

ensinamentos e pelas oportunidades que me concedeu para maiores

aprendizados.

Por fim agradeço a toda minha família por sempre me apoiarem, à

minha namorada Cássia, pelo amor e companheirismo, aos amigos Fabio,

Carol, Daniel, Everton, Liliane, Pengo pelos momentos de descontração e

alegria que passamos juntos neste período.

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................ 7 GENERAL .............................................................................................................. 9 1. INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................... 11 1.1 Referências Bibliográficas .............................................................................. 14 2. SELEÇÃO DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CICLO PRECOCE

PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES EM MATO GROSSO .................... 16 Resumo ................................................................................................................ 16 Abstract ................................................................................................................ 17 2.1 Introdução ...................................................................................................... 17 2.2 Material e Métodos ......................................................................................... 20 2.3 Resultados e Discussão ................................................................................. 26 2.4 Conclusões ..................................................................................................... 38 2.5 Referências Bibliográficas .............................................................................. 39 3. SELEÇÃO DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CICLO MÉDIO-

TARDIO PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES EM MATO GROSSO .... 44 Resumo ................................................................................................................ 44 Abstract ................................................................................................................ 45 3.1 Introdução ...................................................................................................... 46 3.2 Material e Métodos ......................................................................................... 48 3.3 Resultados e Discussão ................................................................................. 53 3.4 Conclusões ..................................................................................................... 66 3.5 Referências Bibliográficas .............................................................................. 67 4. CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................. 71

7

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS E COMPOSIÇÃO

BROMATOLÓGICA DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA

ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

RESUMO - Devido à sazonalidade de produção das gramíneas forrageiras

tropicais, o período seco do ano consiste numa época de escassez de

forragens, acarretando em baixos índices zootécnicos. A cana-de-açúcar é

uma alternativa devido ao elevado potencial produtivo e a maturação

coincidir com este período. Desta forma, objetivou-se avaliar variedades de

cana-de-açúcar de ciclo precoce e de ciclo médio-tardio para fins de seleção

para alimentação animal, baseado nas características agronômicase na

composição bromatológica, avaliadas sob condições edafoclimáticas de

Mato Grosso. Foram realizados dois experimentos em área da Destilaria de

Álcool Libra, integrante da Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do

Setor Sucroalcoleiro – RIDESA, em São José do Rio Claro-MT, em conjunto

com a Universidade Federal de Mato Grosso. O primeiro experimento foi

conduzido entre julho de 2008 e junho de 2009, e o segundo entre setembro

de 2008 a agosto de 2009. Foram colhidas plantas com 12 meses de idade,

provenientes do terceiro ano de cultivo do canavial. Utilizou-se o

delineamento em blocos cazualizados, com três repetições, sendo sete e

treze tratamentos (variedades), respectivamente, para variedades de ciclo

precoce e médio-tardio. As variedades de ciclo precoce avaliadas foram:

RB835436, RB925211, RB925345, RB937570, RB945961, RB955970 e

SP91-1049; e as variedades de ciclo médio-tardio foram: RB867515,

RB92579, RB928064, RB935744, RB936099, RB945962, RB946022,

RB956911, RB965586, SP71-1406, SP79-1011, SP81-3250 e SP83-2847.

Foram avaliadas as características agronômicas: porcentagem de matéria

seca, produtividade de matéria verde (PMV) e seca (PMS), porcentagem de

colmos, toneladas de colmo por hectare (TCH), altura de plantas, diâmetro

de colmo à 30 cm do solo, número de colmos por metro linear, massa por

colmo, porcentagem de folhas verdes, teor de sólidos solúveis (Brix), teor de

sacarose (POL), toneladas de POL por hectare; as características

8

bomatológicas: teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro

(FDN) e em detergente ácido (FDA), relação FDN/Brix, digestibilidade in vitro

da matéria orgânica (DIVMO), toneladas de matéria orgânica digestível

(TMODIG); foram estimados os valores de nutrientes digestíveis totais

(NDT), energia digestível (ED), energia metabolizável (EM), energia líquida

(EL), a cinética de degradação dos carboidratos fibrosos e não-fibrosos

através da técnica in vitro de produção de gases. Para as variedades

precoces não houve diferença entre as variedades quanto a produtividade

de matéria verde e seca, toneladas de colmo por hectare, toneladas de

sacarose por hectare, relação FDN/Brix, fibra insolúvel em detergente ácido,

toneladas de matéria orgânica verde e seca digestíveis. As variedades

RB835436 e RB937570 destacaram-se sobre as demais por apresentarem

porcentagem de colmos de 93,28 e 94,43%, digestibilidade in vitro da

matéria orgânica de 57,56 e 55,00%, NDT de 57,60 e 54,99%, relação

FDN/Brix de 2,68 e 2,48; FDN de 43,78 e 44,86%, taxa de degradação da

FDN de 0,0226 e 0,0224h-1, respectivamente, sendo selecionadas para

alimentação animal entre os meses de maio a junho. Entre as variedades de

ciclo médio-tardio houve diferença quanto à produtividade de matéria verde,

porcentagem de colmos, toneladas de colmo por hectare, fibra insolúvel em

detergente neutro e em detergente ácido, digestibilidade in vitro da matéria

orgânica (DIVMO), nutrientes digestíveis totais, energia digestível, energia

metabolizável, energia líquida, toneladas de matéria orgânica digestível

(TMODIG). As variedades RB92579, RB936099 e SP79-1011 apresentaram

TMODIG de 50,08; 50,04 e 43,43 t/ha, relação FDN/Brix de 2,24; 2,26 e

2,14; respectivamente. Ainda obtiveram maiores valores de taxa de

degradação da FDN: 0,0234; 0,0241 e 0,0239h-1, respectivamente. Estas

três variedades são indicadas para alimentação animal entre julho e

setembro, em preferência às demais.

Palavras-chave: alimentação animal, brix, digestibilidade, FDN, produção

de gás, Saccharum

9

AGRONOMIC CHARACTERISTICS AND CHEMICAL COMPOSITION OF

VARIETIES OF SUGAR CANE FOR RUMINANTS FEEDING

ABSTRACT - Due to the seasonality of production of tropical grasses, dry

season of the year is a time of shortage of forage, leading to low production

indexes. The sugar cane is an alternative to forage production due to its high

productive potential and their maturing coincide with this period. The

objective was to select varieties of sugar cane of early cycle and intermediate

cycle for animal feeding, based on agronomic characteristics and chemical

composition under the edaphoclimatics conditions of Mato Grosso. For this,

two experiments were conducted in the area of Libra Alcohol Distillery, a

member of the Inter-University Network for Development of Sucroalcoleiro

Sector – RIDESA, in São José do Rio Claro-MT, together with the Federal

University of Mato Grosso. The first experiment was evaluated between july

2008 and june 2009 and the second from september 2008 to august 2009.

Plants with 12 months of age, being the third year the canavial harvest were

harvested. The treatments (varieties) were arranged in randomized block

design, with three replications, seven and thirteen treatments, respectively,

for varieties of early and intermediade cycle. The varieties of earty cycle

evaluate was: RB835436, RB925211, RB925345, RB937570, RB945961,

RB955970 and SP91-1049; and the intermediate cycle was: RB867515,

RB92579, RB928064, RB935744, RB936099, RB945962, RB946022,

RB956911, RB965586, SP71-1406, SP79-1011, SP81-3250 and SP83-2847.

The characteristics evaluated were: percentage of dry matter, yield of green

matter and dry matter, percentage of stems, tons of stems per hectare, plant

height, stem diameter of 30 cm of soil, number of stems per meter, mass by

stem, green leaves percentage, soluble solids content (Brix), sucrose

content, tons of sucrose per hectare; chemical composition: crude protein

(CP), neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent fiber (ADF), NDF/Brix,

in vitro organic matter digestibility (IVOMD), total digestible nutrients (TDN),

digestible energy, metabolizable energy, net energy, tons of organic matter

digestible; and the kinetics of degradation of the fiber and non fiber using the

10

technique of gas production. For the varieties of early cycle there was no

effect of treatments on the yield of green matter and dry matter, tons of stems

per hectare, NDF/Brix, ADF, tons of green organic matter and dry organic

matter digestible (P>0.05). The varieties RB835436 and RB937570 stood

other by present percentage of colmos of 93.28 and 94.43%, in vitro organic

matter digestibility of 57.55 and 55.00%, TDN of 57.60 and 54.99%, NDF/Brix

of 2.68 and 2.48, NDF of 43.78 and 44.86%, rate of degradation of NDF

0,0226 e 0,0224 h-1, respectively, being selected for feed of ruminants

between the months from May to June. Between the varities of intermediate

cycle there was effect of varieties on the yield of green matter, percentage of

stems, tons of stems per hectare, NDF, ADF, in vitro digestible organic

matter, total digestible nutrients, digestible energy, metabolizable energy ,

net energy, tons of in vitro digestible organic matter (TIVDOM). Varieties

RB92579, RB936099 and SP79-1011 presented TMODIG of 50.08, 50.04

and 43.43 t / ha, compared NDF / Brix of 2.24, 2.26 and 2.14, respectively.

Even had the highest values of degradation rate of NDF: 0.0234, 0.0241 and

0.0239 h-1, respectively. These three varieties are suitable for feed between

July and September, in preference to others.

Keywords: animal feed, digestibility, gás production, NDF, Saccharum,

soluble solids

11

1. INTRODUÇÃO GERAL

O Estado de Mato Grosso possui o maior efetivo bovino do país

(12,7%) e ainda seis entre os 20 municípios com maior rebanho de bovinos

do país (IBGE, 2007). A base da alimentação animal neste sistema

extensivo de produção são os pastos, e estes apresentam sazonalidade na

produção, com cerca de 80% da produção de forragem ocorrendo durante o

período quente e chuvoso do ano (Fernandes et al., 2003). Desta forma, a

produção animal é prejudicada no período seco do ano pela escassez e

queda na qualidade das forragens, resultando em baixos índices zootécnicos

e afetando os sistemas de produção à pasto (Amaral Neto et al., 2000).

Neste cenário desfavorável, faz-se necessário o uso de alimentos

para suplementar ou mesmo substituir o pasto neste período, sob um baixo

custo de produção, visto que os pastos são a forma mais prática e de menor

custo para este fim (Costa et al., 2006). A cana-de-açúcar é uma alternativa

alimentar para este período, pois apresenta características desejáveis que

são de interesse dos pecuaristas, como coincidência da maturação com o

período de escassez de forragem, alta produção de matéria seca e energia

por unidade de área, baixo custo em comparação com outros volumosos

suplementares, facilidade de implantação e manejo, conservando-se

naturalmente a campo com baixa perda na qualidade (Freitas et al., 2006).

Entretanto, a cana-de-açúcar apresenta alguns fatores que limitam o

seu uso na alimentação animal, como os baixos teores de minerais e de

12

proteína bruta e o alto teor de fibra de baixa digestibilidade, o que diminui o

consumo pelos animais, causando redução no crescimento microbiano no

rúmen (Leng, 1990). A cana-de-açúcar desperta grande interesse como

alimento volumoso, mais pelo seu potencial produtivo do que pelo seu valor

nutritivo (Andrade et al., 2003), com produção de cerca de 20 t/ha de

nutrientes digestíveis totais (NDT) (Preston e Willis, 1974).

A qualidade da cana-de-açúcar como alimento para ruminantes

depende basicamente da idade ou época de colheita e do genótipo. A

escolha de variedades é um aspecto de grande importância, visto que cada

material genético apresenta características particulares, não só na

composição bromatológica, mas também quanto à adaptação às condições

edafoclimáticas, resistência às pragas e doenças.

O melhoramento genético da cana-de-açúcar é dinâmico e novas

variedades são lançadas a cada ano, havendo necessidade de estudos que

envolvam a interação variedade e época de corte para uma condição

edafoclimática específica. Fatores climáticos como pluviosidade e

luminosidade, além da altitude influenciam na produtividade da cana-de-

açúcar, por esta se tratar de uma planta de metabolismo C4, altamente

responsiva a elevadas temperaturas, umidade e luminosidade, condições

encontradas em regiões tropicais (Rodrigues, 1995).

Azevedo et al. (2003), avaliando a divergência nutricional entre

variedades de cana-de-açúcar, evidenciaram o efeito das variedades sobre

características bromatológicas, e concluíram que além da variedade, a idade

da planta afeta esses caracteres. O valor nutritivo e o potencial produtivo

estão intimamente ligados às características genéticas de variedades, e por

meio da seleção de variedades com baixo teor de FDN, elevada

digestibilidade da FDN, elevada produção de matéria seca e energia por

área, é possível obter melhor rendimento sem custos adicionais

(Oliveira , 1999).

As diferenças quantitativas e qualitativas de variedades de cana-de-

açúcar para alimentação animal, bem como sua adaptação aos diferentes

ambientes de produção, vêm sendo objeto de estudo, e fica evidente a

13

variação nos teores de FDN e carboidratos, produtividade de matéria seca e

porcentagem de colmos, características de grande importância na seleção

de variedades para alimentação animal (Rodrigues et al., 1997; Azevedo et

al., 2003; Andrade et al., 2004; Oliveira et al., 2005; Freitas et al., 2006).

Outros fatores que podem ser adicionados à esses critérios de

seleção são a relação FDN/Brix e a digestibilidade. A relação FDN/Brix

proposta por Rodrigues et al. (1997), leva em conta o teor de fibra em

relação ao teor de sólidos solúveis na cana-de-açúcar, e quanto mais baixa

for esta relação, melhor seu valor como alimento para bovinos. A

digestibilidade é uma característica que se torna importante, pois tem alta

correlação com o consumo de matéria seca, e para cana-de-açúcar, quanto

maior for o consumo, maior será a ingestão de energia, que é o objetivo

principal no uso deste alimento volumoso.

Diante do exposto, fica evidente que a escolha de variedades de

cana-de-açúcar é uma maneira eficaz de se oferecer um alimento alternativo

ao período de escassez de forragem. Através da avaliação nas condições

edafoclimáticas locais em diferentes épocas de colheita, é possível

recomendar aos pecuaristas regionais, variedades para serem utilizadas no

decorrer da época seca (maio a setembro), que apresentem alta produção

de matéria seca com elevado teor de sacarose.

Nesse sentido, objetivou-se selecionar variedades de cana-de-açúcar

de ciclo precoce e de ciclo médio-tardio para alimentação animal, baseado

nas características agronômicas, na composição bromatológica e na taxa de

degradação dos carboidratos fibrosos e não-fibrosos, sob condições

edafoclimáticas de Mato Grosso.

14

1.1 Referências Bibliográficas

AMARAL NETO, J.; OLIVEIRA, M. D. S.; LANÇANOVA, J. A. C. et al. Composição químico-bromatológica da silagem de cana-de-açúcar sob diferentes tratamentos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37, 2000, Viçosa. Anais... Viçosa: Sociedade Brasileira de Zootecnia/Gnosis, CD-ROM. ANDRADE, J. B.; FERRARI JR., E.;POSSENTI, R.A. et al. Composição química de genótipos de cana-de-açúcar em duas idades, para fins de nutrição animal. Bragantia, v. 63, n.3, p. 341-349, 2004. ANDRADE, J. B.; FERRARI JR., E.;POSSENTI, R.A. et al. Produção e composição de genótipos de cana-de-açúcar. Boletim da Indústria Animal, v.60, n.1, p. 11-22, 2003. AZEVEDO, J. A. G.; PEREIRA, J.C.; CARNEIRO, P.C.S. et al. Avaliação da divergência nutricional de variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p. 1431-1442, 2003. COSTA, N. L.; TOWSEND, C.R.; MAGALHÃES, J.A. et al. Formação e manejo de pastagens na Amazônia do Brasil. Revista Eletrónica de Veterinária, v. 7, n.1, p. 9-30, 2006. FERNANDES, A. M.; QUEIROZ, A.C.; PEREIRA, J.C. et al. Composição químico-bromatológica de variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp. L.) com diferentes ciclos de produção (precoce e intermediária) em três idades de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n. 4, p. 977-985, 2003. FREITAS, A. W. P.; PEREIRA, J.C.; ROCHA, F.C. et al. Avaliação da divergência nutricional de genótipos de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n. 1, p. 229-236, 2006. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Censo agropecuário. 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 20/10/2009. LENG, R. A. Factors affecting the utilization of „poorquality‟ forages by ruminants particularly under tropical conditions. Nutrition Research Reviews, v.3, p.277-303, 1990. OLIVEIRA, M.D.S. Cana-de-açúcar na alimentação de bovinos. Jaboticabal: UNESP, 1999. 128p. OLIVEIRA, R.A.; DAROS, E.; ZAMBON, J.L.C. et al. Crescimento e desenvolvimento de três cultivares de cana-de-açúcar, em cana planta, no Estado do Paraná: taxa de crescimento. Scientia Agrária, v.6, n.1-2, p. 85-89, 2005.

15

PRESTON, T.R., WILLIS, M.B. Intensive Beef Production. 2.ed. Oxford: Pergamon. 1974. 567p. RODRIGUES, A.A.; PRIMAVESI, O.; ESTEVES, S.N. Efeito da qualidade de variedades de cana-de-açúcar sobre seu valor como alimento para bovinos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 32, n. 12, p. 1333-1338, 1997. RODRIGUES, J. D. Fisiologia da cana-de-açúcar. Botucatu: Universidade Estadual Paulista. 1995. 99p.

16

2. SELEÇÃO DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CICLO

PRECOCE PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES EM MATO GROSSO

RESUMO - Objetivou-se avaliar variedades de cana-de-açúcar de ciclo

precoce para fins de seleção para alimentação animal, baseado nas

características agronômicas, na composição bromatológica e na cinética de

degradação in vitro dos carboidratos fibrosos e não fibrosos, sob condições

edafoclimáticas de Mato Grosso. Foram colhidas plantas de terceiro corte,

com 12 meses de idade. Utilizou-se o delineamento em blocos cazualizados,

com sete tratamentos (variedades) e três repetições. As variedades

avaliadas foram: RB835436, RB925211, RB925345, RB937570, RB945961,

RB955970 e SP91-1049. Não houve efeito das variedades sobre a

produtividade de matéria verde e seca, toneladas de colmo por hectare,

toneladas de sacarose por hectare, relação FDN/Brix, fibra insolúvel em

detergente ácido, toneladas de matéria orgânica verde e seca digestíveis. As

variedades RB835436 e RB937570 destacaram-se sobre as demais por

apresentarem porcentagem de colmos de 93,28 e 94,43%, digestibilidade in

vitro da matéria orgânica de 57,56 e 55,00%, NDT de 57,60 e 54,99%,

relação FDN/Brix de 2,68 e 2,48; FDN de 43,78 e 44,86%, taxa de

degradação da FDN de 0,0226 e 0,0224 h-1, respectivamente, sendo

selecionadas para alimentação animal entre os meses de maio a junho.

17

Palavras-chave: alimentação animal, FDN/Brix, produção de gás,

Saccharum, valor nutritivo

SELECTION OF VARIETIES OF SUGAR CANE OF EARLY CYCLE TO

RUMINANTS FEEDING IN MATO GROSSO, BRAZIL

ABSTRACT - The objective was to select varieties of cane sugar of early

cycle for animal feeding, based on agronomic characteristics, chemical

composition and kinetic variables of degradation of the fibrous and no-fiber

carbohydrates under the edaphoclimatics conditions of Mato Grosso, Brazil.

Plants were harvested at the third year with 12 months of age. Using the

randomized block design with seven treatments (varieties) and three

replications. The varieties were: RB835436, RB925211, RB925345,

RB937570, RB945961, RB955970 e SP91-1049. There was no effect of

treatments on the yield of green matter and dry matter, tons of stems per

hectare, NDF/Brix, ADF, tons of green organic matter and dry organic matter

digestible (P>0.05). The varieties RB835436 and RB937570 stood other by

present percentage of colmos of 93.28 and 94.43%, in vitro organic matter

digestibility of 57.55 and 55.00%, TDN of 57.60 and 54.99%, NDF/Brix of

2.68 and 2.48, NDF of 43.78 and 44.86%, rate of degradation of NDF 0,0226

e 0,0224 h-1, respectively, being selected for feed of ruminants between the

months from May to June.

Keywords: animal feed, gas production, NDF/Brix, nutritive value,

Saccharum

2.1 Introdução

Além da extensa utilização pela indústria sucroalcooleira, a cana-de-

açúcar tem sido amplamente fornecida como volumoso para bovinos por

apresentar maturação coincidente com o período da seca, cultivo simples,

elevada capacidade de produção de matéria seca e energia por unidade de

área. Apresenta ainda comportamento distinto das demais gramíneas

18

forrageiras, pois seu valor nutritivo se eleva com o avanço da idade,

tornando-se um alimento de grande interesse pelos produtores

(Silveira et al., 2009).

A cana-de-açúcar é utilizada como recurso forrageiro visando

suplementar a falta de volumoso no período da seca, quando a nutrição dos

ruminantes fica prejudicada pela baixa quantidade e qualidade dos

volumosos disponíveis em sistemas de criação em pastejo. Além da

sacarose, altamente degradável no rúmen, os carboidratos estruturais da

cana-de-açúcar são fonte de energia de baixo custo para animais neste

sistema (Oliveira, 1999).

Apesar de ser um alimento rico em açúcar de elevada

degradabilidade no rúmen, a cana-de-açúcar apresenta como principais

limitações os baixos teores de proteína e minerais, além de alto teor de fibra

de baixa degradação ruminal (Moraes et al., 2008). Este elevado teor de

fibra promove redução de digestibilidade, e conseqüentemente, baixo

consumo de matéria seca pelo animal.

O valor alimentício de uma planta forrageira deve ser considerado não

como fator isolado, mas como um complexo formado por composição

química, digestibilidade e constituintes secundários que em conjunto, podem

interferir na ingestão e utilização da forragem consumida pelos ruminantes

(Bonomo et al., 2009). O consumo é um aspecto fundamental na produção

animal, pois condiciona a ingestão de nutrientes e determina a resposta

animal (Freitas et al., 2008). Quanto maior o teor de fibra insolúvel em

detergente neutro (FDN), menor será o consumo deste volumoso, pois o

acúmulo de fibra não degradada no rúmen limita o consumo.

Neste sentido, a relação FDN/Brix, proposta por

Rodrigues et al. (1997), juntamente com a digestibilidade, são características

fundamentais na seleção de variedades de cana-de-açúcar para alimentação

de ruminantes, por considerar o teor de fibra em relação ao açúcar da

planta. Aliando isto à digestibilidade, é possível escolher variedades que

possam proporcionar maior consumo de matéria seca pelos animais.

19

A FDN dos alimentos apresenta um período de latência, em que não

se verifica a degradação do substrato no rúmen, somente hidratação das

partículas do alimento, remoção de substâncias inibidoras, eventos ligados à

adesão e efetiva colonização das partículas do alimento pelos

microrganismos ruminais. O menor período de latência favorece a menor

limitação da taxa de passagem do alimento no rúmen, interferindo o menos

possível sobre o consumo de MS e energia.

A determinação da extensão e da taxa de degradação dos nutrientes

é importante, pois determina, dentre outros, o suprimento de energia para os

microrganismos do rúmen. A avaliação da cinética de degradação dos

carboidratos fibrosos (CF) e dos carboidratos não fibrosos (CNF) das

variedades de cana-de-açúcar permite separar as frações completamente

indigestíveis ou aquelas que reduzem a disponibilidade de energia para os

microrganismos e estão negativamente correlacionadas com a ingestão de

matéria seca.

Numa espécie forrageira, o valor nutritivo está em função da idade e

parte da planta, fertilidade do solo, entre outros (Van Soest, 1994). Para a

cana-de-açúcar os fatores que basicamente determinam a sua qualidade

como alimento para ruminantes são a idade da planta e o genótipo, sendo

que a idade afeta o valor nutritivo das plantas por mudanças na arquitetura,

relação entre folhas e colmos, e composição química dessas porções

(acúmulo de sacarose) (Rodrigues e Esteves, 1992).

A colheita realizada no momento em que as variedades apresentem

baixo teor de fibra em relação a açúcares, pode levar ao sucesso no uso

deste alimento sem custo adicional (Rodrigues et al., 1997). Desta forma, em

diferentes épocas do ano devem-se colher diferentes variedades de cana,

sendo as variedades classificadas, de acordo com o ciclo, em precoce e

médio-tardia (alto teor de açúcares no início e no meio do período seco,

respectivamente).

As variedades sofrem influência das condições climáticas ao longo do

ano (Anjos et al., 2007), precisando encontrar condições de temperatura e

umidade adequadas que permitam um desenvolvimento suficiente durante a

20

fase vegetativa, seguida de um período com restrição hídrica e/ou térmica

para forçar o repouso vegetativo e o acúmulo de sacarose na época do

corte (Alfonsi et al., 1987). Neste sentido, objetivou-se avaliar variedades de

ciclo precoce para seleção e uso na alimentação de ruminantes, em

condições edafoclimáticas do Estado de Mato Grosso.

2.2 Material e Métodos

O experimento foi realizado na Destilaria de Álcool Libra, integrante

da Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcoleiro –

RIDESA, em São José do Rio Claro-MT, em conjunto com a Universidade

Federal de Mato Grosso. A área experimental está localizada sob latitude

13º 45‟ 33” S, longitude 56º 36‟ 41” W, 350 m de altitude. Segundo a

classificação de Koppen, o clima é do Tipo Aw, tropical chuvoso, com a

presença de estação seca bem definida entre maio e setembro. O solo foi

classificado como Neossolo Quarzarênico (EMBRAPA, 2006).

A precipitação durante o período experimental (julho de 2008 a julho

de 2009) foi de 1.101 mm, com intensidade máxima de chuvas nos meses

de setembro e outubro de 2008, sendo que nos meses de julho e agosto do

mesmo ano, a precipitação foi igual a zero. Durante o período experimental a

temperatura média anual foi de 31,2°C para as máximas e de 19,3°C para

as mínimas, sendo a máxima de 37,5ºC e a mínima de 10,3 ºC observadas

no mês de julho de 2008 (Agritempo, 2009).

Para o experimento foi utilizada uma área experimental que havia sido

instalada no ano de 2006, sendo avaliada a terceira colheita do canavial no

ano de 2009. O plantio da área foi realizado após correção do solo com

3 t/ha de calcário dolomítico, adubação de plantio nas doses de 150 kg/ha

de P2O5 e 110 kg/ha de K2O, no fundo do sulco de plantio, de acordo com a

análise de solo (Tabela 1). Foi realizada adubação em cobertura nas doses

de 64 kg/ha de N e 120 kg/ha de K2O.

No plantio utilizou-se uma densidade de 15 gemas/m linear em

sistema de plantio “pé-com-ponta”. Para prevenção do aparecimento de

cupins e formigas, após a alocação dos toletes no sulco, estes foram

21

pulverizados com cupinicida à base de Fipronil (200g/ha do p.a.). Durante o

primeiro ano da cultura foi realizado o controle químico de plantas daninhas.

Para o controle da broca da cana (Diatraea saccharalis) foram utilizados

inseticida fisiológico e controle biológico com a “vespinha”

(Cotesia flavipes: 6.000 vespas/ha).

TABELA 1. Atributos químicos e físicos do solo da área experimental, referente à safra 2008/09.

Profun-

didade

(cm)

pH

P K

Ca Mg Al H Ca +

Mg

(CaCl2) (mg/dm3) cmolc/dm3

0 – 20 5,1 38,0 15,0 1,9 0,9 0,0 2,3 2,8

20 – 40 4,4 4,9 12,0 0,3 0,2 0,4 1,4 0,5

Profun-

didade

(cm)

Mat.

Org.

Areia Silte Argila

Soma

de

Bases

CTC

Sat.

por

bases

Sat.

por

Al

g/dm3 g/kg cmolc/dm3 % %

0 – 20 16,6 890 33 77 2,8 5,2 55,0 0,0

20 – 40 4,4 886 33 81 0,5 2,3 23,2 43,0

Foram realizadas duas colheitas desde o plantio até o período

experimental, sendo a primeira em maio de 2007 e a segunda em maio de

2008, ambas utilizadas para acompanhamento da produção, feitas pela

empresa, sendo que neste período não foram realizadas adubações de

manutenção, controle de plantas daninhas e de pragas.

O período experimental iniciou em julho de 2008, após a colheita da

área experimental e decorreu até junho de 2009. Utilizou-se o delineamento

em blocos casualizados com sete tratamentos (variedades) e três

repetições. Cada parcela foi constituída de cinco linhas de 8,0 m de

comprimento espaçadas em 1,3 m, totalizando 52 m2, considerando-se

22

como área útil as três fileiras centrais, descontando-se 0,5 m nas

extremidades, totalizando 27,3 m2. As variedades avaliadas foram:

RB835486, RB925211, RB925345, RB937570, RB945961, RB955970 e

SP91-1049.

Para avaliar as características agronômicas foram utilizados três

perfilhos na área útil, onde foram determinadas a altura de planta (ALT), do

solo até a inserção da folha bandeira, dada em metros; o diâmetro do colmo

à 30 cm do solo (DIAM), por meio de paquímetro, dado em centímetros; a

porcentagem de folhas verdes (FV), por meio da qual pode-se estimar a

perda natural de folhas senescentes (despalha natural), obtida pela

contagem do número de folhas verdes em relação às folhas secas.

Posteriormente, estes perfilhos foram cortados rente ao solo com

auxílio de facão, e para determinação da massa por colmo (MPC), os

perfilhos foram fracionados em folhas verdes e colmo e pesados

separadamente, a partir da média da massa dos colmos dos três perfilhos,

calculou-se a massa por colmo, dada em kg; porcentagem de colmos

(COLMO), referente à massa de colmo em relação à massa total (folhas

verdes + colmo) dos perfilhos coletados na área útil.

Para avaliar o perfilhamento na rebrotação do canavial foi mensurado

o número de colmos por metro linear (NCM), obtido pela média da contagem

de perfilhos em um metro linear nas três linhas que compunham a área útil,

dado em perfilhos/m linear.

A produtividade de matéria verde (PMV) foi estimada por meio da

multiplicação entre a massa verde total do perfilho (folhas verdes + colmo),

número de colmos/m linear e a quantidade de metros lineares existentes em

1,0 hectare (7.692,3 metros lineares/ha), isto porque não foi possível fazer a

coleta de toda área útil da parcela pois a mesma foi utilizada pela empresa

para avaliações. A produtividade de matéria seca (PMS) foi obtida pela

multiplicação entre a produtividade de matéria verde e a porcentagem de

matéria seca, dada em t/ha; o valor de toneladas de colmos por hectare

(TCH) foi obtido pela multiplicação da produtividade de matéria verde e

porcentagem de colmos, dado em t/ha.

23

Os valores de oBrix (BRIX) e POL, que representam o teor de sólidos

solúveis e sacarose, respectivamente, na matéria verde, foram obtidos por

metodologia proposta pela COOPERSUCAR (1980), em análises realizadas

em laboratórios da empresa. Após estas determinações foram calculadas a

relação FDN/Brix e toneladas de POL por hectare (TPH), esta última sendo

produto da multiplicação do teor de POL pela produtividade de matéria

verde.

Para determinação da porcentagem de matéria seca (MS) foram

coletados três perfilhos por parcela com auxílio de facão, rente ao solo, os

quais foram triturados em picador estacionário em partículas de até 2 cm.

Para evitar a contaminação entre as variedades, no momento da picagem

foram passados os três perfilhos no picador, coletando-se apenas o material

do terceiro perfilho. Após a picagem o material foi pesado, acondicionado em

sacos plásticos e em caixas térmicas refrigeradas para o transporte até o

Laboratório de Nutrição Animal/UFMT, onde foi submetido à secagem em

estufas de ventilação forçada, a 65ºC por 72 horas, obtendo-se o percentual

de matéria seca.

Em seguida este material foi moído em peneiras com malha de 2mm

em moinhos tipo Willey para ser utilizado na determinação da composição

bromatológica. Foram determinados os teores de proteína bruta (PB),

matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) (AOAC, 1975), sendo estes dois

últimos utilizados no cálculo da estimativa do teor de nutrientes digestíveis

totais (NDT). Para as análises de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN)

e fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) foram utilizadas soluções

descritas por Van Soest et al. (1991), extração em autoclave de acordo com

Pell e Schofield (1993), sendo esta realizada com sacos de TNT (tecido não-

tecido).

Para a obtenção da digestibilidade in vitro da matéria orgânica

(DIVMO), dos nutrientes digestíveis totais (NDT) e das energias, utilizou-se a

técnica de produção de gás in vitro semi automática pesando-se em frascos

âmbar, com capacidade para 100 mL, 250 mg de substrato. A solução

tampão foi a de McDougall (McDougall, 1949), mantida em banho-maria a

24

39° C, sob fluxo continuo de CO2, tendo adicionada solução redutora

(Fukushima et al., 2003). Como doadores de líquido ruminal, utilizou-se

bovinos adultos, canulados no rúmen, devidamente tratados contra endo e

ectoparasitas, mineralizados e alimentados exclusivamente com capim-

marandu.

O líquido ruminal foi colhido no período da manhã de vários lugares

do rúmen, filtrado em peneira, acondicionado em garrafa térmica, e

transportado para o Laboratório de Nutrição Animal, onde foi filtrado em

tecido de algodão e misturado ao meio na proporção de 1:4 (v/v), vindo a

compor o inóculo. Cada frasco recebeu 30 mL do inóculo e imediatamente

foram lacrados com tampa de borracha e anilhas de alumínio. Os frascos

incubados foram mantidos em banho-maria a 39°C e mantidos sob

constante agitação orbital (48 rpm).

Mediu-se as pressões no interior dos frascos nos tempos 2; 4; 6; 8;

10; 12; 24; 48; 72 e 96 horas, registrando-se as pressões lidas em psi

(pressão por polegada quadrada) por meio do pressostato Datalogger

Pressure PressDATA 800. As leituras realizadas em psi foram convertidas

para mL, conforme curva padrão (Y = -0,7466 + 6,387x, R2 = 0,9981)

desenvolvida durante os dias das leituras, procedendo-se com a leitura das

pressões a partir de volume de gás introduzido no interior dos frascos. A

partir destes dados (n = 40), obteve-se o coeficiente “b” da equação, que

possibilitou a correção e transformação dos dados lidos, em volume de gás

produzido em função da pressão barométrica do dia. Para descontar o

volume de gás oriundo da fermentação do inóculo, frascos foram incubados

sem amostra (branco); dessa forma, para cada tempo de leitura, procedeu-

se com esta correção de volume e depois, os dados foram expressos em

mL/200 mg de MS incubada.

A partir da produção de gás acumulada dos gases, estimaram-se as

digestibilidades in vitro da matéria orgânica (DIVMO) e as energias, segundo

as equações de Menke e Steingass (1988) para forragens:

DIVMO (%) = 14,88+(0,889*Pgas)+(0,45*%PB)+(0,0651*%MM)

EM (Mj/kg MS) = 2,2+(0,136*Pgas)+(0,057*%PB)+(0,000286*%EE2)

25

em que, Pgas corresponde à produção acumulada de gás em 24 horas

(mL/200 mg MS); e PB, MM e EE os teores de proteína bruta, matéria

mineral e extrato etéreo, respectivamente, na base seca. Com base nos

valores de DIVMO foI determinada a variável toneladas de matéria orgânica

digestível (TMODIG), produto da multiplicação da PMV pela DIVMO. Para tal

foi descontado da PMV a porcentagem de MM, haja visto que a

digestibilidade obtida foi com base na matéria orgânica.

A energia metabolizável foi transformada considerando que um Mj

corresponde a 4,184 Mcal (AFRC, 1993). A energia digestível (ED) foi

estimada a partir da EM considerando que esta corresponde a

82% da ED (NRC, 1989). Por fim, estimou-se o NDT a partir da ED

considerando que 1 kg de NDT corresponde a 4,409 Mcal de ED. A energia

líquida (El) foi estimada por:

El (Mcal/lb) = (2,2 + (0,272*Gas) + (0,057*PB) + (0,149*EE)) /14,64

em que Gas corresponde à produção acumulada de gás, em 24 horas,

expressa em mL/g de MS. Converteu-se libras (lb) para quilograma

utilizando a constante 2,205.

A cinética da produção cumulativa dos gases foi analisada

empregando o modelo logístico bicompartimental V(t) = Vf1/(1+e(2-4*c1*(T-L))) +

Vf2/(1+e(2-4*c2*(T-L))) (Schofield et al., 1994), em que V(t) é o volume

acumulado no tempo t; Vf1, o volume de gás oriundo da fração de rápida

digestão (CNF); c1 (h-1), a taxa de digestão da fração de rápida digestão

(CNF); L, a latência; e T, o tempo (h); Vf2, o volume de gás da fração de

lenta digestão (CF); c2 (h-1), a taxa de digestão da fração CF.

Os resultados foram submetidos à análise de variância e teste de

agrupamento de médias de Scott e Knott, ao nível de 5% de probabilidade.

Através das médias das características estudadas para cada variedade

foram realizadas análises de correlação de Pearson aos níveis de 5 e 1%,

utilizando o software SAEG (2000).

26

2.3 Resultados e Discussão

Não foi observada diferença entre as variedades com relação à PMV,

MS, PMS, COLMO e TCH, os valores médios obtidos foram de

91,67 t/ha, 32,50%, 29,89 t/ha, 91,49% e 84,14 t/ha, respectivamente

(P>0,05) (Tabela 2). A PMV de cana-de-açúcar é uma característica

importante na seleção de variedades para alimentação animal por expressar

a quantidade de alimento disponível em um período de escassez de

forragem. Entretanto, a PMV deve ser avaliada em conjunto com a

porcentagem de colmos e produção de colmos por hectare, porção da planta

em que está concentrado o açúcar e que reflete o potencial energético das

variedades.

TABELA 2. Porcentagem de matéria seca (MS), produtividade de massa verde (PMV), produtividade de massa seca (PMS), proporção de colmo (COLMO) e toneladas de colmo por hectare (TCH) de variedades precoces de cana-de-açúcar. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade MS

(%)

PMV

(t MV/ha)

PMS

(t MS/ha)

COLMO

(%)

TCH

(t/ha)

RB835486 30,05 95,46 29,05 93,28 89,14

RB925211 34,35 88,25 30,29 93,36 82,48

RB925345 33,80 91,93 30,98 95,12 87,25

RB937570 34,42 107,76 37,26 94,43 101,91

RB945961 31,28 101,03 31,64 90,80 91,54

RB955970 30,67 82,84 25,51 84,18 69,92

SP91-1049 33,10 80,65 21,80 89,82 72,98

Média 32,50 91,67 29,89 91,49 84,14

CV1 5,58 15,15 16,87 3,65 16,31

1Coeficiente de variação (%).

Os valores de PMV foram inferiores aos trabalhos de

Silva et al. (2004) e Bonomo et al. (2009), que observaram 122,12 e

146,15 t/ha, respectivamente. No entanto, estes autores trabalharam em

27

condições de clima, solo e densidade de plantas diferentes, em cultivos de

primeiro ano, proporcionando maiores produtividades. Os menores valores

observados no presente trabalho podem estar em função de se tratar de

canavial de terceiro corte e sob espaçamento entre linhas elevado (1,3 m),

que reduz o número de plantas por hectare. Além disso, a cultura foi

implantada em solo com baixa CTC, alto teor de areia e não foi realizada

correção da fertilidade do solo na área desde o plantio até a colheita deste

experimento.

Os valores médios de PMS de variedades precoces obtidos por

Abreu et al. (2007), de 10,14 t/ha, trabalhando com as variedades IAC86-

2210, IAC86-2480, IAC93-6006, SP81-3250, IAC87-3396 e RB72-454 foram

inferiores aos encontrados no presente trabalho, mas, utilizando um

Latossolo Vermelho-Amarelo e colheita realizada aos 15 meses após o

plantio. Esta resposta pode ter se dado em função da baixa porcentagem de

MS (média de 22,15%) em função da maior capacidade de retenção de água

do solo.

Os resultados do presente trabalho sugerem que todas as variedades

estudadas são adaptadas às condições locais, mesmo sob condições

edáficas desfavoráveis, e no período de estiagem obtiveram

desenvolvimento vegetativo satisfatório e uma maior porcentagem de MS, o

que acarretou em maiores valores de PMS.

A porcentagem de matéria seca apresentou-se elevada para o início da

estação seca do ano, isto pode ser observado ao comparar os valores

médios obtidos por Freitas et al. (2006), de 24,40%, para variedades

colhidas em maio, no município de Oratório-MG. Os maiores valores de MS

do presente trabalho (média de 32,5%) podem ser explicados pelo solo da

área experimental ser arenoso, o que acarretou em baixa retenção de água,

e conseqüentemente, perda de água pela cultura logo no início do período

seco.

Ao contrário do que ocorre com a grande maioria das gramíneas

forrageiras tropicais, na cana-de-açúcar os teores de FDN são menores no

colmo do que nas folhas (Rodrigues et al., 1997), fato que pode ser

28

observado neste trabalho na correlação negativa entre COLMO e FDN

(r = -0,69). No colmo estão as reservas energéticas da planta, que serão a

fonte de carboidratos de rápida degradação ruminal após o consumo. Neste

sentido, quanto maior for a proporção de colmos em relação à folhas, melhor

será a variedade de cana-de-açúcar (Van Soest, 1994).

Rodrigues et al. (1997) recomendaram uma proporção de colmos

acima de 80% para variedades com fins forrageiros, tendo em vista o não

comprometimento do consumo pela elevada ingestão de fibra de baixa

degradação ruminal. Mesmo não sendo encontrada diferença significativa

entre as variedades neste trabalho, observou-se que todas as variedades

atenderam a esta premissa. Foi observada correlação positiva de COLMO

com ALT (r = 0,94), BRIX (r = 0,80) e POL (r = 0,72), e correlação negativa

com PB (r = - 0,95). Destacando-se a correlação positiva de COLMO com os

teores de BRIX e POL, desejáveis do ponto de vista de alimentação animal,

e a correlação negativa com FDN, confirmando a relação desta variável com

o valor nutritivo das variedades.

O valor médio obtido no presente trabalho para TCH em canavial de

terceiro corte (84,14 t/ha) foi maior que o observado por Melo et al. (2006),

de 57,81 t/ha para o terceiro corte do canavial. Para estes autores a TCH é

altamente sensível ao ambiente e aos ciclos de colheita, pois observaram

efeito destas sobre 16 variedades de cana-de-açúcar durante quatro cortes,

sendo a TCH média no terceiro corte de 57,81 t/ha, enquanto que no

primeiro corte foi de 91,23 t/ha.

As variedades diferiram quanto a ALT e FV (P<0,05), mas não foram

diferentes quanto a DIAM, NCM e MPC (Tabela 3). A altura de plantas é

uma característica associada à velocidade de crescimento, tendo elevada

importância para os genótipos cultivados num ciclo de 12 meses (Silva et al.,

1999). A ALT apresentou correlação positiva com TCH (r = 0,80) e PMS

(r = 0,78), que caracteriza grande importância sobre os aspectos produtivos

das variedades. A correlação positiva com COLMO refletiu,

conseqüentemente, em correlação positiva com BRIX (r = 0,86) e POL (r =

0,81), afetando também o valor nutritivo destas variedades. Entretanto, as

29

maiores ALT observadas para as variedades RB925345 e RB937570 não

refletiram em incrementos na PMS, TCH, BRIX e POL.

TABELA 3. Altura (ALT), diâmetro do colmo (DIAM), número de colmo/m linear (NCM), massa por colmo (MPC) e proporção de folhas verdes (FV) de variedades precoces de cana-de-açúcar. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade ALT

(m)

DIAM

(cm)

NCM

(perfilho/

m linear)

MPC

(kg)

FV

(%)

RB835486 2,95 B 2,27 11,44 1,00 31,37 B

RB925211 3,12 B 2,08 12,88 0,84 36,99 B

RB925345 3,62 A 2,27 12,33 0,92 31,63 B

RB937570 3,49 A 2,55 11,55 1,15 29,20 B

RB945961 2,90 B 2,37 10,88 1,09 46,49 A

RB955970 2,05 C 2,57 9,44 0,94 46,05 A

SP91-1049 2,44 C 2,02 10,11 0,92 44,42 A

Média 2,96 2,30 11,18 0,97 38,15

CV1 9,50 9,04 17,36 12,94 11,31

1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

A cana-de-açúcar pode apresentar resposta semelhante à outras

gramíneas forrageiras tropicais, nas quais se observa a compensação entre

tamanho e número de perfilhos (Sbrissia e Silva, 2008). Os valores médios

obtidos para DIAM estão de acordo com Silva et al. (2004) e

Silva et al. (2008), que avaliando variedades de primeiro corte, sob

espaçamento de 1,5 m entre linhas, obtiveram diâmetro de 2,56 e 2,47 cm

como média das variedades avaliadas, respectivamente.

O NCM indica maior potencial de crescimento e fechamento das entre

linhas (Silva et al., 1999), reduzindo o número de capinas, o que é

interessante para o sistema de produção, a fim de minimizar os custos. Com

exceção das variedades RB925211 e RB925345, todas apresentaram NCM

30

menor que 12 a 13 colmos/m linear, valor preconizado por

Landell et al. (2002), como necessário para um bom estabelecimento e

perenidade de um canavial com fins forrageiros.

Os valores obtidos foram menores que os observados por

Andrade et al. (2003), de 12,64 colmos/m linear, sob espaçamento entre

linhas de 1,0 m. Tal resposta está em função do menor espaçamento

aumentar a competição entre plantas, o que estimula o perfilhamento,

elevando o NCM e reduzindo a MPC.

A MPC depende da densidade de plantas por hectare e do potencial

de perfilhamento da variedade, sendo que a planta sempre manterá o

equilíbrio entre número e tamanho de cada perfilho. Não houve diferença

entre as variedades quanto a MPC, com valores variando de 0,92 a 1,15 kg.

A MPC correlacionou-se positivamente com a PMV (r = 0,84) e o NCM com

COLMO (r = 0,86).

A porcentagem de folhas verdes permite estimar a despalha natural

das plantas, sendo que quanto maior for a proporção de folhas verdes em

relação às folhas secas aderidas à planta, maior a sua capacidade em

eliminar as folhas secas naturalmente. Este fator é favorável para variedades

com fins forrageiros, pois na alimentação animal são fornecidas somente as

folhas verdes juntamente com o colmo. A presença de folhas secas dificulta

a colheita, quando esta é feita manualmente. As variedades RB945961,

RB955970 e SP91-1049 apresentaram maior FV, conseqüentemente, maior

capacidade de despalha natural.

Não houve diferença entre as variedades quanto ao BRIX, POL e

TPH (P>0,05) (Tabela 4), sendo observada correlação negativa de BRIX e

POL com PB, em resposta à correlação negativa entre COLMO e PB

(r = - 0,95).

Mais de 90% da matéria seca da cana-de-açúcar é composta por

carboidratos totais, incluindo os solúveis (majoritariamente a sacarose), ou

estruturais (FDN). O BRIX tem sido muito utilizado como indicador de teor de

açúcares na cana (Rodrigues et al., 1997), mas contempla ainda outros

sólidos solúveis não açúcares como aminoácidos, gorduras, ceras,

31

matérias corantes, ácidos orgânicos e sólidos inorgânicos, além da

sacarose. Valores de BRIX maiores que 13% são considerados aceitáveis

para utilização de uma variedade de cana-de-açúcar para indústria

(Abreu et al., 2007). Todas as variedades estudadas apresentaram valores

de BRIX superiores a 13%, mesmo não havendo diferença significativa entre

elas.

TABELA 4. Teores de sólidos solúveis (BRIX), sacarose (POL) e toneladas de sacarose/ha (TPH) de variedades precoces de cana-de-açúcar. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade BRIX

(g/100 g de caldo)

POL

(g/100 g de caldo)

TPH

(t sacarose/ha)

RB835486 16,68 14,29 16,38

RB925211 17,42 15,49 13,15

RB925345 17,11 14,98 15,18

RB937570 18,24 16,51 19,28

RB945961 16,69 14,61 16,60

RB955970 15,76 13,62 12,00

SP91-1049 16,13 13,88 12,50

Média 16,86 14,77 14,89

CV1 5,83 6,83 16,38

1Coeficiente de variação (%).

Apesar da avaliação do BRIX ainda ser útil, o POL é uma variável

mais eficiente para indicar o teor de sacarose no caldo, por isso tem sido

mais utilizada pela indústria açucareira como indicativo de maturação. Logo,

do ponto de vista de nutrição animal, o POL é uma medida mais adequada

para a quantificação de carboidratos não fibrosos, representando os

carboidratos de alta degradabilidade no rúmen.

Tanto o BRIX como o POL são estimulados por condições ambientais

estressantes (baixas temperaturas e ausência de chuvas), portanto, a cana-

32

de-açúcar tem seu valor nutritivo incrementado com o avanço da idade,

diferente do que ocorre com a maioria das gramíneas forrageiras tropicais.

Para Andrade (2006), uma variedade de cana-de-açúcar é considerada

madura quando o POL for superior a 14,4%.

Silva et al. (2008) avaliando a influência de épocas de corte sobre

variedades de segundo cultivo, encontraram variação em POL e TPH de

13,07% e 10,66 t/ha; para 17,77% e 16,06 t/ha em variedades precoces e

tardias, respectivamente. Os valores obtidos por estes autores para

variedades precoces estão abaixo da média das variedades do presente

trabalho (14,77%), tal resposta pode ser explicada pela maior condição

estressante, que provavelmente ocorreu nas condições locais.

Melo et al. (2006), avaliando ciclos de colheita observaram que

valores de POL e BRIX mantém-se estáveis durante os anos de produção,

apresentando teores semelhantes independente do ciclo de colheita.

Diferente do que ocorre para TPH, pois esta característica depende da

produtividade de matéria verde da planta, que é altamente influenciada pelos

ciclos de colheita.

As variedades não diferiram quanto à PB, FDA e relação FDN/BRIX

(P>0,05), no entanto, houve diferença com relação à FDN (Tabela 5). Por

muito tempo a escolha de variedades para alimentação animal foi baseada

na elevada proporção de folhas na massa verde total (Boin et al., 1987), pois

o teor de PB na folha é superior ao do colmo. Como o colmo é a porção de

maior interesse para alimentação animal, o teor de PB na cana-de-açúcar

não é um critério de seleção.

O baixo teor de PB da cana-de-açúcar é intrínseco à forrageira, e

também não é objetivo dos programas de melhoramento genético elevar o

teor deste nutriente. Além disso, o baixo teor de PB pode ser corrigido na

dieta a um baixo custo, como é o exemplo da adição de uréia e sulfato de

amônio à cana picada (Fernandes et al., 2003).

O baixo teor de PB encontrado para as variedades estudadas (média

de 1,39%) está em função dos elevados valores de COLMO encontrados,

com média de 91,49%, explicado pela correlação negativa entre essas duas

33

variáveis (r = - 0,95). Com a elevação da MS e perda de folhas por

senescência, o teor de PB decresceu à medida que as variedades foram

atingindo a maturação, isto contribuiu para a elevação nos valores de

COLMO em detrimento das folhas verdes e teor de PB.

TABELA 5. Teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e em detergente ácido (FDA), relação FDN/BRIX de variedades precoces de cana-de-açúcar. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade PB

(%)

FDN

(%)

FDA

(%) FDN/BRIX

RB835486 1,23 43,78 B 32,26 2,68

RB925211 1,15 46,60 B 32,76 2,75

RB925345 1,26 47,91 B 34,66 2,80

RB937570 0,96 44,86 B 30,60 2,48

RB945961 1,48 45,82 B 31,05 2,64

RB955970 2,10 51,25 A 32,45 3,13

SP91-1049 1,61 51,60 A 33,86 3,24

Média 1,39 47,19 32,45 2,82

CV1 21,83 5,78 6,67 9,51

1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

O fato de não ter sido realizada a correção de fertilidade do solo

durante o período experimental pode ter acarretado em deficiência de

nitrogênio no sistema, refletindo em menor síntese de proteína pela planta.

Além disto, as plantas foram colhidas no mês de junho, ou seja, neste

período já enfrentavam déficit hídrico, passando do estádio de

desenvolvimento vegetativo para o reprodutivo, acarretando em menores

teores de PB. Mello et al. (2006), avaliando variedades com 15 meses de

idade, colhidas no mês de março, obtiveram teores de PB variando de 1,89 a

3,34%, maiores que 0,96 a 2,10% do presente trabalho, comportamento que

34

explica que sob crescimento vegetativo o teor de PB deve ser maior do que

plantas que já entraram em estádio de maturação.

O espessamento da parede celular em detrimento do conteúdo

celular, causa elevação no teor de FDN, trazendo prejuízos de ordem

qualitativa, além de dificultar o ataque microbiano no rúmen pela diminuição

da área superficial. A menor taxa de degradação e de passagem de

alimentos fibrosos no rúmen, acarreta em diminuição no consumo de MS e

de energia (Van Soest, 1994). No presente trabalho a FDN apresentou

correlação negativa com TMODIG (r = - 0,88), atuando sobre a

digestibilidade.

As variedades RB955970 e SP91-1049 apresentaram teores de FDN

maiores que as demais variedades, de 51,25 e 51,60%, respectivamente.

Estes resultados corroboram com os encontrados por Rodrigues et al.

(1997); Andrade et al. (2003); Fernandes et al. (2003); Mello et al. (2006);

Abreu et al. (2007) e Bonomo et al. (2009), que observaram médias de FDN

menores que 52%. A variedade RB835486 apresentou resposta semelhante

no trabalho realizado por Andrade et al. (2004), que avaliaram 60 genótipos

em duas idades de corte (precoce e intermediário), e encontraram valores de

FDN de 45,07%, para a idade de corte precoce, contra FDN de 43,78% no

presente trabalho.

Como ocorre com a FDN, o teor de FDA decresce com o avanço da

idade da cana-de-açúcar, em decorrência do acúmulo de carboidratos na

planta, sendo comum que variedades precoces apresentem maior teor de

FDA que variedades intermediárias. A FDA correlaciona-se negativamente

com a digestibilidade do alimento, portanto, para uso na alimentação animal

devem-se privilegiar variedades com baixo teor de FDA (Pate et al., 2001).

Resposta confirmada por Fernandes et al. (2003), onde variedades precoces

apresentaram valor estatisticamente superior às variedades intermediárias,

de 28,7 e 27,4%, respectivamente.

A relação FDN/açúcares solúveis leva em conta a quantidade de

energia consumida em relação ao teor de fibra de baixa degradação ruminal

(Gooding, 1982), sendo utilizada como parâmetro para evitar que os

35

elevados teores de FDN limitem o consumo de MS e energia pelo animal. Os

valores para esta variável devem ser menores que 2,7 para que a variedade

possa ser indicada para alimentação animal (Rodrigues et al., 1997), e para

que estes valores sejam observados deve-se selecionar variedades com

elevados valores de COLMO, pois este apresentou correlação negativa com

FDN/BRIX (r = - 0,69).

As variedades RB835486, RB937570 e RB945961 apresentaram

FDN/Brix menor que 2,7 (Rodrigues et al., 1997), e destas somente a

RB835486 obteve maior DIVMO e NDT (Tabela 6).

TABELA 6. Nutrientes digestíveis totais (NDT), energia digestível (ED), energia metabolizável (EM), energia líquida (EL), digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), toneladas de matéria orgânica digestível (TMODIG) de variedades precoces de cana-de-açúcar. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade NDT

(%)

ED2 EM2 EL2 DIVMO

(%)

TMODIG

(t/ha) Mcal/kg MS

RB835486 57,60 A 2,53 A 2,08 A 1,59 A 57,56 A 54,70

RB925211 55,46 B 2,44 B 2,00 B 1,50 B 55,47 B 48,95

RB925345 52,11 C 2,29 C 1,88 C 1,46 C 52,13 C 47,93

RB937570 54,99 B 2,42 B 1,98 B 1,52 B 55,00 B 59,27

RB945961 50,83 C 2,24 C 1,83 C 1,39 C 50,89 C 51,42

RB955970 55,68 B 2,45 B 2,01 B 1,62 A 55,78 B 46,21

SP91-1049 58,23 A 2,56 A 2,10 A 1,52 B 58,24 A 46,98

Média 54,99 2,42 1,98 1,51 55,01 50,10

CV1 2,96 2,96 2,96 3,92 2,92 15,25

1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

As variedades não influenciaram a TMODIG (P>0,05), variável que

alia quantidade e qualidade. As variedades diferiram quanto a DIVMO, NDT,

ED, EM e EL (Tabela 6). A digestibilidade indica o grau de utilização da

forragem e a sua capacidade em ser digerida pelo animal. De maneira geral,

a digestibilidade da cana-de-açúcar é baixa, e como o consumo está

36

diretamente relacionado com o teor de FDN, um animal alimentado

exclusivamente com cana-de-açúcar pode ingerir uma quantidade limitada

de matéria seca e energia.

A idade influencia a digestibilidade da cana-de-açúcar, pois ocorre

acúmulo de sacarose no decorrer do período seco. O uso da DIVMO como

critério de seleção é explicado pelo fato desta variável apresentar correlação

positiva com o teor de NDT (r = 0,99), indicando entre estas variedades, as

que podem ser melhor utilizadas pelos animais.

Isto foi observado pelos valores de NDT das variedades RB835486 e

SP91-1049, de 57,56 e 58,24%, respectivamente, sendo estes valores

maiores que demais, e estão de acordo com os observados por

Azevêdo et al. (2003), de 55,8% para a variedade precoce SP80-1842,

colhida com 426 dias de idade. Os maiores valores de NDT refletiram em

maiores valores de ED e EM, com maiores médias para as variedades

RB835486 e SP91-1049, entretanto, entre elas somente a primeira

variedade apresentou maior EL.

No entanto, o valor médio de NDT (54,99%) foi menor que os

observados por Fernandes et al. (2003), de 62,47% como média para as

variedade precoces RB765418, RB855453, RB855336, SP80-1842 e

SP81-1763, de primeiro corte, cultivadas em Minas Gerais. Os maiores

valores de NDT podem ser decorrentes do menor valor médio de FDA

observado por esses autores (28,78%) em comparação com os do presente

trabalho (média de 32,45%).

O valor nutritivo da cana-de-açúcar é limitado pela baixa taxa de

digestão da parede celular, que contribui com pouca energia metabolizável

para o animal e também reduz a eficiência de utilização dos açúcares

solúveis por meio do efeito negativo sobre o ecossistema ruminal, devido à

baixa taxa de passagem no rúmen (Preston, 1984).

Todas variáveis relacionadas às taxas de digestão dos carboidratos

fibrosos e não fibrosos foram diferentes entre as variedades (Tabela 7). As

variedades RB835486 e SP91-1049 apresentaram maiores valores de

DIVMO e NDT, sendo que a primeira pode acarretar em menor limitação do

37

consumo de MS e energia pelos animais, pois apresenta um tempo de

latência de 2,86 h, quando comparado a 3,74 h da segunda variedade.

Tabela 7. Estimativa das variáveis volume máximo de gás da fração de CNF1 (Vf1), taxa de digestão para a fração de CNF (C1), tempo de latência (L), volume máximo de gás da fração de CF2 (Vf2), taxa de digestão para a fração de CF (C2), para determinação da cinética de degradação in vitro dos carboidratos pela técnica da produção de gases de variedades precoces de cana-de-açúcar. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade Vf1

(mL)

C1

(h-1)

L

(h)

Vf2

(mL)

C2

(h-1) r2

RB835486 19,82 B 0,35 C 2,86 B 62,47 B 0,0226 A 0,99

RB925211 16,72 C 0,39 C 3,00 B 58,16 C 0,0229 A 0,99

RB925345 14,60 D 0,48 B 2,98 B 56,22 C 0,0234 A 0,99

RB937570 18,36 B 0,68 A 3,42 A 58,15 C 0,0224 A 0,99

RB945961 16,27 C 0,40 C 2,88 B 52,81 D 0,0218 B 0,99

RB955970 13,67 D 0,30 C 2,69 B 68,08 A 0,0224 A 0,99

SP91-1049 21,89 A 0,53 B 3,74 A 59,30 C 0,0212 B 0,99

Média 17,33 0,45 3,08 59,31 0,0224 0,99

CV3 6,92 23,89 11,85 5,21 2,86 0,35

1Carboidratos não-fibrosos;

2Carboidratos fibsosos;

3Coeficiente de variação (%). Médias

seguidas de letras diferentes na vertical diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

O tempo necessário para inoculação e fixação bacteriana ao substrato

é chamado de tempo de latência, durante esse período, podem ocorrer

hidratação das partículas do alimento, remoção de substâncias inibidoras,

eventos ligados à adesão e efetiva colonização das partículas do alimento

pelos microrganismos ruminais. Esta variável apresenta correlação negativa

com a taxa de passagem do alimento no rúmen.

A determinação da extensão e da taxa de degradação dos nutrientes

é importante por determinar o suprimento de energia para os

microrganismos do rúmen. Mesmo não havendo diferença entre as

variedades quanto ao teor de POL, a variedade RB937570 apresentou maior

38

taxa de digestão para os carboidratos não fibrosos (C1) (0,68 h-1). No

entanto, esta variedade apresentou o maior período de latência (3,42 h),

juntamente com a variedade SP91-1049.

As variedades RB835486, RB925211, RB925345, RB937570 e

RB955970 formaram um grupo com maiores valores de taxa de degradação

dos carboidratos fibrosos (C2). Entre estas variedades, a RB835486

destacou-se sobre as demais, pois apresentou elevado valor de C2

(0,0226 h-1) aliado à DIVMO de 57,56%, relação FDN/BRIX de 2,68 e

proporção de colmos de 93,28%. A variedade RB925211 apresentou

elevado C2, mas se enquadra no segundo grupo quanto à DIVMO e

apresentou FDN/Brix de 2,75. A variedade RB925345 apresentou elevada

C2, mas pertenceu ao terceiro grupo quanto à DIVMO e obteve FDN/Brix de

2,80. A variedade RB937570 também apresentou maior valor de C2

(0,0224 h-1), além de se enquadrar no segundo grupo quanto à DIVMO, FDN

de 44,86% e FDN/Brix de 2,48; podendo ser indicada juntamente com a

variedade RB835486 em preferência às demais, para alimentação de

ruminantes.

Isto porque no presente trabalho as variedades não diferiram com

relação às características de produção, assumindo a DIVMO, por apresentar

correlação positiva com o NDT, e a taxa de degradação da FDN, papel

determinante na seleção das variedades. No entanto, com os valores de

FDNi seria possível indicar com maior certeza as variedades que

apresentariam maior porção digestiva da FDN, e aliado à DIVMO e NDT,

seriam os critérios de seleção que mais estariam relacionados ao valor

nutritivo, já que não se fez a avaliação de consumo voluntário com animais.

2.4 Conclusões

As variedades não diferem quanto à produção de matéria orgânica

digestível.

As variedades apresentam diferença quanto à FDN, DIVMO, NDT,

taxas de degradação dos carboidratos fibrosos e não-fibrosos e período de

latência.

39

As variedades RB835486 e RB937570 são indicadas para

alimentação de ruminantes entre maio e julho, em preferência às demais.

Estudos complementares envolvendo ensaios com animais e

mensuração de consumo e desempenho animal são necessários para

indicar com maior segurança esta variedade.

2.5 Referências Bibliográficas

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44

3. SELEÇÃO DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CICLO

MÉDIO-TARDIO PARA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES EM MATO

GROSSO

RESUMO - Objetivou-se avaliar variedades de cana-de-açúcar de ciclo

médio-tardio para fins seleção para alimentação animal, baseado nas

características agronômicas, composição bromatológica e cinética de

degradação in vitro dos carboidratos fibrosos e não fibrosos, sob condições

edafoclimáticas de Mato Grosso. Foram colhidas plantas de terceiro corte,

com 12 meses de idade. Utilizou-se o delineamento em blocos cazualizados

com treze tratamentos (variedades) e três repetições. As variedades

avaliadas foram: RB867515, RB92579, RB928064, RB935744, RB936099,

RB945962, RB946022, RB956911, RB965586, SP71-1406, SP79-1011,

SP81-3250 e SP83-2847. Houve diferença entre as variedades quanto à

produtividade de matéria verde, porcentagem de colmos, toneladas de colmo

por hectare, fibra insolúvel em detergente neutro e em detergente ácido,

digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), nutrientes digestíveis

totais, energia digestível, energia metabolizável, energia líquida, toneladas

de matéria orgânica digestível (TMODIG). As variedades RB92579,

RB936099 e SP79-1011 apresentaram TMODIG de 50,08; 50,04 e

43,43 t/ha, relação FDN/Brix de 2,24; 2,26 e 2,14; respectivamente. Ainda

obtiveram maiores valores de taxa de degradação da FDN: 0,0234; 0,0241 e

45

0,0239h-1, respectivamente. Estas três variedades são indicadas para

alimentação animal entre julho e setembro, em preferência às demais.

Palavras-chave: alimentação animal, brix, FDN, produção de gás,

Saccharum, valor nutritivo

SELECTION OF VARIETIES OF SUGAR CANE OF INTERMEDIATE

CYCLE TO RUMINANTS FEEDING IN MATO GROSSO, BRAZIL

ABSTRACT - The objective was to select varieties of cane sugar of early

cycle for animal feeding, based on agronomic characteristics, chemical

composition and kinetic variables of degradation of the fibrous and no-fiber

carbohydrates under the edaphoclimatics conditions of Mato Grosso, Brazil.

Plants were harvested at the third year with 12 months of age. Using the

randomized block design with thirteen treatments (varieties) and three

replications. The varieties were: RB867515, RB92579, RB928064,

RB935744, RB936099, RB945962, RB946022, RB956911, RB965586,

SP71-1406, SP79-1011, SP81-3250 e SP83-2847. There was effect of

varieties on the yield of green matter, percentage of stems, tons of stems per

hectare, NDF, ADF, in vitro digestible organic matter, total digestible

nutrients, digestible energy, metabolizable energy , net energy, tons of in

vitro digestible organic matter (TIVDOM). Varieties RB92579, RB936099 and

SP79-1011 presented TMODIG of 50.08, 50.04 and 43.43 t / ha, compared

NDF / Brix of 2.24, 2.26 and 2.14, respectively. Even had the highest values

of degradation rate of NDF: 0.0234, 0.0241 and 0.0239 h-1, respectively.

These three varieties are suitable for feed between July and September, in

preference to others.

Keywords: animal feed, gas production, NDF, nutritive value, Saccharum,

soluble solids

46

3.1 Introdução

A qualidade de uma forrageira depende de seus constituintes, os

quais variam dentro de uma mesma espécie de acordo com a idade e parte

da planta, fertilidade do solo, dentre outros (Van Soest,1994). A idade e o

genótipo afetam diretamente a qualidade da cana-de-açúcar como alimento

para bovinos. O efeito da idade da planta está bem estabelecido

(Banda e Valdez, 1976; Rodrigues e Esteves, 1992), ocorrendo acúmulo de

sacarose com o decorrer do tempo, o que melhora o valor nutritivo com o

avanço da idade da planta, diferente do que ocorre com a maioria das

gramíneas forrageiras. No entanto, as diferenças decorrentes dos genótipos

destinados à alimentação animal precisam ser mais estudadas.

Entre os fatores que afetam a qualidade da cana-de-açúcar como

alimento para bovinos, os principais são a interação edafoclimática-genótipo

e o manejo de colheita da cultura (Cesar et al., 1987). As variedades de

cana-de-açúcar são agrupadas de acordo com o ciclo de maturação em:

precoces e médio-tardias (maturação no início e meio da estação seca,

respectivamente). Desta forma, analisar suas características de produção e

composição bromatológica em diferentes épocas dentro da estação seca,

aliado ao estudo no seu ambiente pode gerar muitas informações para

adequar o melhor manejo para as diferentes variedades.

As características agronômicas como produtividade de matéria verde

e seca são imprescindíveis na escolha de variedades para alimentação

animal, pois a cana-de-açúcar é utilizada no período de escassez de

forragem. A porcentagem de colmos também deve ser um critério de

seleção, pois este constitui o reservatório de sacarose.

Unindo-se a estes fatores, Rodrigues et al. (1997) recomendaram a

relação FDN/Brix como critério de seleção de variedades com vistas à

alimentação animal. Esta relação expressa o potencial energético de uma

variedade em relação ao teor de fibra de baixa degradabilidade ruminal. O

teor de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) e a sua taxa de

degradação ruminal são responsáveis pela limitação ou não do consumo de

matéria seca e energia pelos animais. Isto ocorre porque os carboidratos

47

fibrosos apresentam lenta taxa de digestão e disponibilidade nutricional

variável e incompleta, sendo a responsável por afetar a digestibilidade das

forrageiras (Van Soest, 1994).

A cana-de-açúcar apresenta comportamento distinto às demais

gramíneas forrageiras, pois com o acúmulo de sacarose no colmo com o

avanço da idade fisiológica da planta em detrimento aos carboidratos

fibrosos, apresenta maiores coeficientes de digestibilidade dos carboidratos

fibrosos com o avanço da idade. Ou seja, variedades colhidas no final do

período seco do ano apresentarão maiores coeficientes de digestibilidade

em decorrência dos maiores teores de açúcar (conteúdo celular), mesmo

que nesta fase ocorra a diminuição de compostos nitrogenados e da

digestibilidade da fibra.

Ao adotar critérios para indicar uma variedade de cana-de-açúcar

como forrageira deve-se levar em conta não somente os aspectos de

produção, mas também o valor nutritivo da variedade e a época de corte

(Fernandes et al., 2003). Análises bromatológicas, bem como fracionamento

e cinética de degradação dos carboidratos devem ser utilizados para

avaliação nutricional da cana-de-açúcar, pois as limitações de consumo

provocadas pelas características de sua fração fibrosa, e devido o

melhoramento genético ser direcionado para melhoria das características

que visam atender aos interesses da agroindústria, torna-se importante

conhecer além do teor de FDN, as variáveis da sua cinética de degradação,

com objetivo de detectar as variedades que possuam fibra de mais

utilizáveis pelos animais (Azevêdo et al., 2003).

Adicionando-se à estes fatores a digestibilidade, é possível verificar o

efeito da época de corte dentro da estação seca do ano e do ambiente (solo

e clima) sobre os genótipos de cana-de-açúcar com vistas à alimentação de

ruminantes. Neste sentido, objetivou-se selecionar variedades de cana-de-

açúcar de ciclo médio-tardio para alimentação de ruminantes, em condições

edafoclimáticas do Estado de Mato Grosso.

48

3.2 Material e Métodos

O experimento foi realizado na Destilaria de Álcool Libra, integrante

da Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcoleiro –

RIDESA, em São José do Rio Claro-MT, em conjunto com a Universidade

Federal de Mato Grosso. A área experimental está localizada sob latitude

13º 45‟ 33” S, longitude 56º 36‟ 41” W, 350 m de altitude. Segundo a

classificação de Koppen, o clima é do Tipo Aw, tropical chuvoso, com a

presença de estação seca bem definida entre maio e setembro. O solo foi

classificado como Neossolo Quarzarênico (EMBRAPA, 2006).

A precipitação durante o período experimental foi de 1.133,4 mm

(setembro de 2008 a agosto de 2009), com intensidade máxima de chuvas

nos meses de setembro e outubro de 2008, sendo que nos meses de julho e

agosto do mesmo ano, a precipitação foi igual a zero. A temperatura média

anual foi de 31,3°C para as máximas e de 19,6°C para as mínimas, sendo a

máxima de 36,5ºC e a mínima de 10,3 ºC obtidas nos mês de novembro de

2008 e julho de 2009, respectivamente (Agritempo, 2009).

Para o experimento foi utilizada uma área experimental que havia sido

instalada no ano de 2006, sendo avaliada a terceira colheita do canavial no

ano de 2009. O plantio da área foi realizado após correção do solo com 3

t/ha de calcário dolomítico; adubação de plantio nas doses de 150 kg/ha de

P2O5 e 110 kg/ha de K2O, no fundo do sulco de plantio, de acordo com a

análise de solo (Tabela 1). Foi realizada adubação em cobertura nas doses

de 64 kg/ha de N e 120 kg/ha de K2O.

No plantio utilizou-se uma densidade de 15 gemas/m linear em

sistema de plantio “pé-com-ponta”. Para prevenção do aparecimento de

cupins e formigas, após a alocação dos toletes no sulco, estes foram

pulverizados com cupinicida à base de Fipronil (200g/ha do p.a.). Durante o

primeiro ano da cultura foi realizado o controle químico de plantas daninhas.

Para o controle da broca da cana (Diatraea saccharalis) foram utilizados

inseticida fisiológico e controle biológico com a “vespinha”

(Cotesia flavipes: 6.000 vespas/ha).

49

TABELA 1. Atributos químicos e físicos do solo da área experimental, referente à safra 2008/09.

Profun-

didade

(cm)

pH

P K

Ca Mg Al H Ca +

Mg

(CaCl2) (mg/dm3) cmolc/dm3

0 – 20 5,1 38,0 15,0 1,9 0,9 0,0 2,3 2,8

20 – 40 4,4 4,9 12,0 0,3 0,2 0,4 1,4 0,5

Profun-

didade

(cm)

Mat.

Org.

Areia Silte Argila

Soma

de

Bases

CTC

Sat.

por

bases

Sat.

por

Al

g/dm3 g/kg cmolc/dm3 % %

0 – 20 16,6 890 33 77 2,8 5,2 55,0 0,0

20 – 40 4,4 886 33 81 0,5 2,3 23,2 43,0

Foram realizadas duas colheitas desde o plantio até o período

experimental, sendo a primeira em agosto de 2007 e a segunda em agosto

de 2008, ambas utilizadas para acompanhamento da produção feito pela

empresa. Neste período não foram realizadas adubações de manutenção,

controle de plantas daninhas e de pragas.

O período experimental iniciou-se em setembro de 2008 após a

colheita da área experimental, e decorreu até agosto de 2009. Utilizou-se o

delineamento em blocos casualizados com treze tratamentos (variedades) e

três repetições. Cada parcela foi constituída de cinco linhas de 8,0 m de

comprimento espaçadas em 1,3 m, totalizando 52 m2, considerando-se

como área útil as três fileiras centrais, descontando-se 0,5 m nas

extremidades, totalizando 27,3 m2. As variedades avaliadas foram:

RB867515, RB92579, RB928064, RB935744, RB936099, RB945962,

RB946022, RB956911, RB965586, SP71-1406, SP79-1011, SP81-3250 e

SP83-2847.

Para avaliar as características agronômicas foram utilizados três

perfilhos na área útil, onde foram determinadas a altura de planta (ALT), do

50

solo até a inserção da folha bandeira, dada em metros; o diâmetro do colmo

à 30 cm do solo (DIAM), por meio de paquímetro, dado em centímetros; e a

porcentagem de folhas verdes (FV), através da qual pode-se estimar a perda

natural de folhas senescentes (despalha natural), obtida pela contagem do

número de folhas verdes em relação à folhas secas. Posteriormente estes

perfilhos foram cortados rente ao solo com auxilio de facão, e para

determinação da massa por colmo (MPC), os perfilhos foram fracionados em

folhas verdes e colmo e pesados separadamente, a partir da média da

massa dos colmos dos três perfilhos, calculou-se a massa por colmo, dada

em kg; porcentagem de colmos (COLMO), referente à massa de colmo em

relação à massa total (folhas verdes + colmo) dos perfilhos coletados na

área útil.

Para avaliar o perfilhamento na rebrotação do canavial, foi mensurado

o número de colmos por metro linear (NCM), obtido pela média da contagem

de perfilhos em um metro linear nas três linhas que compunham a área útil,

dado em perfilhos/m linear.

A produtividade de matéria verde (PMV) foi estimada por meio da

multiplicação entre a massa verde total do perfilho (folhas verdes + colmo),

número de colmos/m linear e a quantidade de metros lineares existentes em

1,0 hectare (7.692,3 metros lineares/ha), isto porque não foi possível fazer a

coleta de toda área útil da parcela pois a mesma foi utilizada pela empresa

para avaliações. A produtividade de matéria seca (PMS) foi obtida pela

multiplicação entre a produtividade de matéria verde e a porcentagem de

matéria seca, dada em t/ha; o valor de toneladas de colmos por hectare

(TCH), foi obtido pela multiplicação da produtividade de matéria verde e

porcentagem de colmos, dado em t/ha.

Os valores de oBrix (BRIX) e POL, que representam o teor de sólidos

solúveis e sacarose, respectivamente, na matéria verde, foram obtidos por

metodologia proposta pela COOPERSUCAR (1980), em análises realizadas

em laboratórios da empresa. Após estas determinações, foram calculadas a

relação FDN/Brix e toneladas de POL por hectare (TPH), esta última sendo

51

produto da multiplicação do teor de POL pela produtividade de matéria

verde.

Para determinação da porcentagem de matéria seca (MS) foram

coletados três perfilhos por parcela com auxílio de facão, rente ao solo, os

quais foram triturados em picador estacionário em partículas de até 2 cm.

Para evitar a contaminação entre as variedades, no momento da picagem

foram passados os três perfilhos no picador, coletando-se apenas o material

do terceiro perfilho. Após a picagem o material foi pesado, acondicionado em

sacos plásticos e em caixas térmicas refrigeradas para o transporte até o

Laboratório de Nutrição Animal/UFMT, onde foi submetido à secagem em

estufas de ventilação forçada, a 65ºC por 72 horas, obtendo-se o percentual

de matéria seca.

Em seguida este material foi moído em peneiras com malha de 2mm

em moinhos tipo Willey para ser utilizado na determinação da composição

bromatológica. Foram determinados os teores de proteína bruta (PB),

matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) (AOAC, 1975), sendo estes dois

últimos utilizados no cálculo da estimativa do teor de nutrientes digestíveis

totais (NDT). Para as análises de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN)

e fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) foram utilizadas soluções

descritas por Van Soest et al. (1991), extração em autoclave de acordo com

Pell e Schofield (1993), sendo esta realizada com sacos de TNT (tecido não-

tecido).

Para a obtenção da digestibilidade in vitro da matéria orgânica

(DIVMO), dos nutrientes digestíveis totais (NDT) e das energias, utilizou-se a

técnica de produção de gás in vitro semi automática pesando-se em frascos

âmbar, com capacidade para 100 mL, 250 mg de substrato. A solução

tampão foi a de McDougall (McDougall, 1949), mantida em banho-maria a

39° C, sob fluxo continuo de CO2, tendo adicionada solução redutora

(Fukushima et al., 2003). Como doadores de líquido ruminal, utilizou-se

bovinos adultos, canulados no rúmen, devidamente tratados contra endo e

ectoparasitas, mineralizados e alimentados exclusivamente com capim-

marandu.

52

O líquido ruminal foi colhido no período da manhã de vários lugares

do rúmen, filtrado em peneira, acondicionado em garrafa térmica, e

transportado para o Laboratório de Nutrição Animal, onde foi filtrado em

tecido de algodão e misturado ao meio na proporção de 1:4 (v/v), vindo a

compor o inóculo. Cada frasco recebeu 30 mL do inóculo e imediatamente

foram lacrados com tampa de borracha e anilhas de alumínio. Os frascos

incubados foram mantidos em banho-maria a 39°C e mantidos sob

constante agitação orbital (48 rpm).

Mediu-se as pressões no interior dos frascos nos tempos 2; 4; 6; 8;

10; 12; 24; 48; 72 e 96 horas, registrando-se as pressões lidas em psi

(pressão por polegada quadrada) por meio do pressostato Datalogger

Pressure PressDATA 800. As leituras realizadas em psi foram convertidas

para mL, conforme curva padrão (Y = -0,7466 + 6,387x, R2 = 0,9981)

desenvolvida durante os dias das leituras, procedendo-se com a leitura das

pressões a partir de volume de gás introduzido no interior dos frascos. A

partir destes dados (n = 40), obteve-se o coeficiente “b” da equação, que

possibilitou a correção e transformação dos dados lidos, em volume de gás

produzido em função da pressão barométrica do dia. Para descontar o

volume de gás oriundo da fermentação do inóculo, frascos foram incubados

sem amostra (branco); dessa forma, para cada tempo de leitura, procedeu-

se com esta correção de volume e depois, os dados foram expressos em

mL/200 mg de MS incubada.

A partir da produção de gás acumulada dos gases, estimaram-se as

digestibilidades in vitro da matéria orgânica (DIVMO) e as energias, segundo

as equações de Menke e Steingass (1988) para forragens:

DIVMO (%) = 14,88+(0,889*Pgas)+(0,45*%PB)+(0,0651*%MM)

EM (Mj/kg MS) = 2,2+(0,136*Pgas)+(0,057*%PB)+(0,000286*%EE2)

em que, Pgas corresponde à produção acumulada de gás em 24 horas

(mL/200 mg MS); e PB, MM e EE os teores de proteína bruta, matéria

mineral e extrato etéreo, respectivamente, na base seca. Com base nos

53

valores de DIVMO foram determinada a variável toneladas de matéria

orgânica digestível (TMODIG), produto da multiplicação da PMV pela

DIVMO. Para tal foi descontado da PMV a porcentagem de MM, haja visto

que a digestibilidade obtida foi com base na matéria orgânica.

A energia metabolizável foi transformada considerando que um Mj

corresponde a 4,184 Mcal (AFRC, 1993). A energia digestível (ED) foi

estimada a partir da EM considerando que esta corresponde a 82% da ED

(NRC, 1989). Por fim, estimou-se o NDT a partir da ED considerando que 1

kg de NDT corresponde a 4,409 Mcal de ED. A energia líquida (El) foi

estimada por El (Mcal/lb) = (2,2 + (0,272*Gas) + (0,057*PB) + (0,149*EE))

/14,64, em que Gas corresponde à produção acumulada de gás, em 24

horas, expressa em mL/g de MS. Converteu-se libras (lb) para quilograma

utilizando a constante 2,205.

A cinética da produção cumulativa dos gases foi analisada

empregando o modelo logístico bicompartimental V(t) = Vf1/(1+e(2-4*c1*(T-L))) +

Vf2/(1+e(2-4*c2*(T-L))) (Schofield et al., 1994), em que V(t) é o volume

acumulado no tempo t; Vf1, o volume de gás oriundo da fração de rápida

digestão (CNF); C1 (h-1), a taxa de digestão da fração de rápida digestão

(CNF); L, a latência; e T, o tempo (h); Vf2, o volume de gás da fração de

lenta digestão (CF); C2 (h-1), a taxa de digestão da fração CF.

Os resultados foram submetidos à análise de variância e teste de

agrupamento de médias de Scott e Knott, ao nível de 5% de probabilidade.

Através das médias das características estudadas para cada variedade

foram realizadas análises de correlação de Pearson aos níveis de 5 e 1%,

utilizando o software SAEG (2000).

3.3 Resultados e Discussão

As variedades não diferiram quanto à MS e PMS (P>0,05), entretanto,

foram diferentes quanto a PMV, COLMO e TCH (Tabela 2), evidenciando

que pela escolha da variedade torna-se possível obter elevadas

produtividades sem custo adicional. A PMV é extremamente importante na

seleção de variedades para fins forrageiros, pois representa a quantidade de

54

volumoso disponível aos animais, e aliada à TCH, auxilia na escolha de

variedades, pois o colmo é o órgão de reserva de açúcares da planta, que

apresentou correlação negativa com a FDN (r = -0,69). Portanto, variedades

que apresentem maior proporção de colmos são preferidas para fins

forrageiros.

TABELA 2. Porcentagem de matéria seca (MS), produtividade de massa verde (PMV), produtividade de massa seca (PMS), proporção de colmo (COLMO) e toneladas de colmo por hectare (TCH) de variedades de cana-de-açúcar de ciclo médio-tardio. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade MS

(%)

PMV

(t MV/ha)

PMS

(t MS/ha)

COLMO

(%)

TCH

(t/ha)

RB867515 29,21 70,22 B 20,59 95,91 A 67,33 B

RB92579 29,29 86,33 A 25,37 95,95 A 82,89 A

RB928064 30,30 85,67 A 26,15 94,13 B 80,63 A

RB935744 30,11 89,76 A 27,10 94,67 B 85,05 A

RB936099 31,43 79,88 A 25,57 94,94 B 75,83 A

RB945962 30,95 66,63 B 20,41 88,64 D 59,19 B

RB946022 31,20 65,57 B 20,39 91,65 C 60,11 B

RB956911 31,38 76,83 A 24,11 91,70 C 70,48 B

RB965586 28,93 86,53 A 25,02 91,45 C 79,16 A

SP71-1406 30,04 61,58 B 18,48 93,77 B 57,76 B

SP79-1011 31,93 74,84 A 23,93 92,84 C 69,56 B

SP81-3250 31,79 65,69 B 20,90 91,10 C 59,87 B

SP83-2847 33,48 60,43 B 20,19 91,41 C 55,22 B

Média 30,77 74,61 22,94 92,93 69,47

CV1 7,25 16,78 19,13 0,97 17,00

1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott & Knott (P≤0,05).

As variedades RB92579, RB928064, RB935744, RB936099,

RB956911, RB965586 e SP79-1011 apresentaram maior PMV, no entanto, a

maior PMV refletiu em maior TCH somente para as variedades RB92579,

55

RB928064, RB935744, RB936099 e RB965586, em decorrência dos

maiores valores de COLMO para estes genótipos. A variedade RB867515

apresentou maior COLMO que as demais, exceto RB92579, mas obteve

PMV inferior às variedades relacionadas anteriormente, o que não refletiu

em maior TCH.

A TCH correlacionou-se positivamente com TMODIG (r = 0,94), que

evidencia a importância da porção colmo como reservatório de açúcares,

contribuindo para uma maior digestibilidade. Os valores médios de PMV e

TCH encontrados foram menores que os obtidos por Silva et al. (2004) e

Abreu et al. (2007), ambos em Latossolo Vermelho Amarelo, em São Paulo

e Minas Gerais, respectivamente. Estes autores trabalharam com cana de

primeiro corte, colhidas com 11 e 15 meses após o plantio, respectivamente.

O tipo de solo e a colheita de cana de primeiro corte explicam os maiores

valores obtidos por estes autores.

Esta resposta confirma a ação do ambiente, principalmente no que diz

respeito ao tipo de solo, e dos ciclos de colheita sobre a produtividade das

variedades, sugerindo-se que a baixa PMV, PMS e TCH para o presente

experimento, seja em função não somente das condições edafoclimáticas,

mas também pelo fato de se trabalhar com cana de terceiro corte.

A porcentagem de MS das variedades (média de 30,77%) está de

acordo com a época de colheita, que ocorreu no mês de agosto.

Fernandes et al. (2003) observaram que o teor de MS se eleva em função do

prolongamento dos dias de colheita. Abreu et al. (2007) encontraram

valores de MS inferiores para variedades de ciclo intermediário de cana de

primeiro corte colhidas em agosto, com a média de 23,11%, fato que pode

ser atribuído ao tipo de solo (Latossolo Vermelho-Amarelo) e ao reduzido

espaçamento de 0,8 m entre linhas, que favorecem o microclima pelo

sombreamento, dificultando a perda de água do solo. Enquanto que o

presente trabalho foi realizado em solo arenoso, que acarretou em baixa

retenção de água no solo e, conseqüentemente, elevação da MS da planta

ao longo do período da seca.

56

No colmo encontram-se as reservas energéticas da planta, que serão

fonte de carboidratos de rápida degradação no rúmen e favorecerão a

formação e crescimento da flora ruminal. Neste sentido, quanto maior for a

proporção de colmos em relação às folhas, melhor será a variedade de

cana-de-açúcar para alimentação animal (Van Soest, 1994). A correlação

positiva observada entre TCH e TMODIG (r = 0,94) corrobora com essas

considerações.

Foram observados valores de COLMO maiores que 80% para todas

variedades avaliadas, portanto, atendem ao critério proposto por

Rodrigues et al. (1997). Os mesmos autores encontraram COLMO de 83,37

e 79,05% para as variedades SP79-1011 e SP71-1406, respectivamente,

para cana de primeiro corte colhidas com 15 meses de idade em Latossolo

Vermelho Escuro eutrófico. No presente trabalho verificaram-se valores

superiores aos obtidos por estes autores, obtendo-se 93,77 e 92,84%, para

as variedades SP71-1406 e SP79-1011, respectivamente.

Os maiores valores podem ser atribuídos à intensa perda de folhas

pelas variedades em estudo devido à baixa retenção de água no solo da

área experimental, elevando a proporção de colmos em relação à folhas.

Sob estas condições ocorreu correlação entre COLMO e ALT (r = 0,84).

As variedades diferiram quanto à ALT, MPC e FV (P<0,05),

entretanto, DIAM e NCM não foram diferentes entre elas (Tabela 3). A altura

correlacionou-se positivamente com TCH (r = 0,61), característica desejável

para alimentação animal.

A MPC depende da densidade de plantas por hectare e do potencial

de perfilhamento da variedade, sendo que a planta sempre manterá o

equilíbrio entre número e tamanho de cada perfilho. Portanto, nem todas

variedades superiores para ALT foram também superiores para MPC, em

função do DIAM não variar entre elas. As correlações positivas observadas

entre MPC e PMV (r = 0,76), e entre DIAM e TCH (r = 0,62), evidenciam a

influência da MPC e do DIAM sobre o estudo de variedades para fins

forrageiros, pois correlacionam-se positivamente com características que

determinam o potencial produtivo e a qualidade das variedades.

57

TABELA 3. Altura (ALT), diâmetro do colmo (DIAM), número de colmo/m linear (NCM), massa por colmo (MPC) e proporção de folhas verdes (FV) de variedades de cana-de-açúcar de ciclo médio-tardio. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade ALT

(m)

DIAM

(cm)

NCM

(perfilho/m

linear)

MPC

(kg)

FV

(%)

RB867515 2,55 A 2,36 7,77 1,13 A 31,24 C

RB92579 2,41 A 2,30 10,11 1,05 A 30,40 C

RB928064 2,48 A 2,33 8,88 1,17 A 41,30 A

RB935744 2,54 A 2,43 9,88 1,14 A 36,38 B

RB936099 2,42 A 2,34 11,22 0,87 B 38,21 B

RB945962 1,94 B 2,41 10,44 0,73 B 41,96 A

RB946022 2,01 B 2,17 10,22 0,76 B 33,32 C

RB956911 2,11 B 2,57 10,11 0,89 B 46,66 A

RB965586 2,15 B 2,58 10,33 0,99 A 39,94 A

SP71-1406 2,15 B 2,14 9,00 0,84 B 38,50 B

SP79-1011 2,13 B 2,33 9,88 0,91 B 45,45 A

SP81-3250 2,01 B 2,14 10,22 0,75 B 35,08 B

SP83-2847 2,32 A 2,03 9,44 0,76 B 36,92 B

Média 2,25 2,32 9,81 0,92 38,10

CV1 5,73 9,62 12,57 10,03 9,04

1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

O perfilhamento (NCM) indica o potencial de crescimento e

fechamento das entre linhas (Silva et al., 1999), favorecendo um menor

número de capinas, o que é interessante para o sistema de produção, a fim

de minimizar os custos. Todas variedades apresentaram NCM menor que

12 a 13 colmos/m linear, valor preconizado por Landell et al. (2002), como

necessário para um bom estabelecimento e perenidade do canavial para fins

forrageiros.

58

A presença de folhas secas na cana-de-açúcar diminui a qualidade do

alimento, pois contém baixo teor de sacarose e elevado teor de FDN em

comparação ao colmo, além de dificultar a colheita quando esta é feita

manualmente. A porcentagem de folhas verdes permite estimar a despalha

natural das variedades, sendo que quanto maior a proporção de folhas

verdes em relação às folhas secas aderidas à planta, maior a sua

capacidade em eliminar as folhas secas naturalmente. Esta característica é

favorável para variedades com fins forrageiros, pois na alimentação animal

são fornecidas somente as folhas verdes juntamente com o colmo.

As variedades RB928064, RB945962, RB956911, RB965586 e

SP79-1011 apresentaram maior FV, conseqüentemente, maior capacidade

de despalha natural. Um grupo formado pelas variedades RB867515,

RB92579 e RB946022 apresentou baixa FV e, portanto, baixa despalha

natural, o que pode diminuir a sua aceitação por pequenos produtores que

realizam colheita manual por dificultar este trabalho. Abreu et al. (2007),

avaliaram a despalha de seis variedades de cana-de-açúcar, e entre elas a

SP81-3250, que foi classificada como intermediária para esta característica,

concordando com a resposta desta variedade no presente trabalho.

Não foi observada diferença entre as variedades com relação a BRIX,

POL e TPH (P>0,05) (Tabela 4). A classificação de variedades de cana-de-

açúcar de acordo com o ciclo, em precoces e intermediárias, é feita de

acordo com sua maturação, e esta ocorre quando a planta atinge valores de

BRIX superiores a 13% (Abreu et al., 2007) ou de POL superiores à 14,4%

(Andrade, 2006).

A cana-de-açúcar destaca-se como uma planta com elevado potencial

para transformar energia solar em energia química, representada

principalmente pela sacarose. O elevado teor deste nutriente na planta

madura, justamente numa época do ano em que os pastos são escassos e

deficientes em energia, faz da cana-de-açúcar um importante volumoso para

bovinos durante o período seco.

59

TABELA 4. Teores de sólidos solúveis (BRIX), sacarose (POL) e toneladas de sacarose/ha (TPH) de variedades de cana-de-açúcar de ciclo médio-tardio. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade BRIX

(g/100 g de caldo)

POL

(g/100 g de caldo)

TPH

(t sacarose/ha)

RB867515 18,64 15,81 10,90

RB92579 19,72 17,24 13,95

RB928064 18,01 15,79 13,47

RB935744 16,05 12,89 11,09

RB936099 19,03 16,86 12,34

RB945962 17,00 14,43 8,12

RB946022 19,19 16,74 11,58

RB956911 18,49 16,45 14,45

RB965586 19,20 15,74 13,42

SP71-1406 17,98 15,69 9,43

SP79-1011 18,77 16,16 11,53

SP81-3250 18,56 15,68 10,99

SP83-2847 16,86 14,35 9,30

Média 18,27 15,68 11,58

CV1 6,16 8,54 17,85

1Coeficiente de variação (%).

Teor médio de BRIX semelhante ao deste trabalho (18,27%) foi

encontrados por Santos et al. (2006), de 18,20% para variedade RB72454,

de segundo corte, colhida no mês de setembro com 11 meses de rebrotação

em Lavras-MG. O BRIX é incrementado de acordo como avanço da idade da

planta, explicado pelo fato de maiores concentrações de sólidos solúveis

estarem correlacionadas inversamente com a atividade vegetativa, sendo

que em períodos de estresse ocorre acúmulo de conteúdo celular (Bonomo

et al., 2009).

A TPH depende diretamente da PMV, portanto é influenciada não só

pelo POL, mas também do ciclo de colheita. Valores superiores de TPH

60

foram encontrados para variedades de segunda colheita (Silva et al., 2008),

com média de 16,06 t/ha para variedades colhidas no mês de setembro,

maiores que os 11,58 t/ha das variedades de ciclo médio-tardio (Tabela 4).

Estes autores trabalharam com as variedades RB72454 e IAC86-2480

colhidas em julho, com 12 meses de idade em Latossolo Vermelho

eutroférrico em São Paulo, sob espaçamento de 1,4 m entre linhas. Sendo a

época de corte, idade e espaçamento semelhantes ao presente trabalho,

diferindo somente quanto ao ciclo de colheita (cana de segundo corte) e tipo

de solo.

As variedades diferiram quanto a FDN e FDA (P<0,05), mas estas

não influenciaram o teor de PB e a relação FDN/Brix (Tabela 5). Atualmente,

o teor de PB não é um critério de seleção, pois independe das condições

ambientais e de manejo, e é pouco influenciado do genótipo, sendo uma

característica intrínseca da espécie forrageira. A falta de efeito das

variedades sobre esta característica confirma tal comportamento,

evidenciando o baixo teor de PB das variedades de cana-de-açúcar,

insuficiente para a mantença do animal.

Os valores de PB foram de 1,03 a 2,22% para as variedades

RB936099 e RB965586, respectivamente. Valores menores que os

observados por Azevêdo et al. (2003), que obtiveram média de 2,4% para as

variedades RB845257 e SP79-1011, colhidas em ciclo intermediário, em

Argissolo em Minas Gerais, com adubação nitrogenada de cobertura sendo

realizada. Além dos fatores edafoclimáticos, outro fator que pode ter

ocasionado o baixo teor de proteína no presente trabalho, foi a porcentagem

de colmos, haja visto que o teor de PB nas folhas é maior que no colmo.

Portanto, a maior proporção de colmos pode ter acarretado em menor teor

de PB.

O teor de FDN correlacionou-se negativamente com a DIVMO

(r = -0,62) e com a taxa de degradação dos carboidratos fibrosos (C2)

(r = -0,62). Isto pode ocasionar uma menor taxa de passagem no rúmen,

acarretando na diminuição no consumo de MS e energia, prejudicando o

desempenho animal (Van Soest, 1994). Mesma resposta ocorreu para a

61

FDA, que correlacionou-se negativamente com DIVMO (r = -0,63), portanto,

para uso na alimentação animal devem-se privilegiar variedades com baixos

teores de FDA (Pate et al., 2001).

TABELA 5. Teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e relação FDN/Brix de variedades de cana-de-açúcar de ciclo médio-tardio. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade PB

(%)

FDN

(%)

FDA

(%) FDN/BRIX

RB867515 1,62 48,28 A 31,95 A 2,51

RB92579 1,78 44,66 B 30,07 A 2,24

RB928064 1,67 45,36 B 31,36 A 2,69

RB935744 1,62 48,65 A 32,54 A 3,12

RB936099 1,03 42,02 B 26,62 B 2,26

RB945962 1,90 50,64 A 34,31 A 2,93

RB946022 1,38 46,10 A 31,03 A 2,42

RB956911 1,56 42,88 B 28,46 B 2,29

RB965586 2,22 48,59 A 29,99 A 2,52

SP71-1406 1,57 43,26 B 29,40 A 2,36

SP79-1011 1,33 40,81 B 25,07 B 2,14

SP81-3250 1,44 47,30 A 29,39 A 2,61

SP83-2847 1,25 49,72 A 30,54 A 2,85

Média 1,57 46,02 30,06 2,53

CV1 20,79 6,83 6,79 10,20 1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

Todas as variedades avaliadas apresentaram FDN inferior a 52%,

sendo que as variedades RB92579, RB928064, RB936099, RB956911,

SP71-1406 e SP79-1011 apresentaram menores valores de FDN. Apenas as

variedades RB936099, RB956911 e SP79-1011 também obtiveram valores

inferiores para FDA.

A variedade SP79-1011, quando avaliada por Andrade et al. (2004),

colhida em setembro, sob espaçamento de 1,0 m entre linhas, no Estado de

São Paulo, apresentou valores semelhantes ao presente trabalho, de 44,68

62

e 26,27% para FDN e FDA, respectivamente. Entretanto, quando colhida no

final do período chuvoso, apresentou FDN de 50,0%

(Rodrigues et al., 1997), resposta que pode ser explicada por ser uma

variedade de ciclo intermediário colhida como precoce. A variedade SP81-

3250 colhida no mês de julho, apresentou comportamento semelhante ao

observado por Bonomo et al. (2009), onde obtiveram teores de FDN

(47,31%) e FDA (29,89%) próximos aos obtidos no presente trabalho.

Para melhor definição do uso de variedades deve-se levar em conta

não somente os valores da fração fibrosa isoladamente, mas, sua relação

com o teor de açúcares. Para tal, Gooding (1982) propôs a relação

FDN/açúcares solúveis como critério para garantir que a ingestão de fibra de

baixa degradabilidade ruminal não afetasse o consumo de MS e energia

pelos animais. A relação FDN/Brix vem sendo objeto de estudo e também

utilizada como critério de seleção para variedades com fins forrageiros,

desde que foi proposta por Rodrigues et al. (1997).

A relação FDN/Brix não foi diferente para as variedades avaliadas,

entretanto, com exceção das variedades RB935744, RB945962 e SP83-

2847, todas apresentaram valores de FDN/Brix menores que 2,7; atendendo

o critério proposto por Rodrigues et al. (1997). Os mesmos autores

observaram valor médio de FDN/Brix de 2,81 para variedades colhidas no

início do período seco. Este resultado ressalta o fato de que a cana-de-

açúcar eleva ou pelo menos mantém o seu valor nutritivo com o avanço da

idade, pois no presente trabalho o valor médio de FDN/Brix foi de 2,53;

inferior ao encontrado para variedades colhidas em época precoce.

As variedades deferiram quanto à DIVMO, NDT, ED, EM, EL e

TMODIG (Tabela 6), sendo que a variedade RB936099 destacou-se das

demais quanto à DIVMO e NDT, já que estas variáveis apresentaram

correlação positiva (r = 0,99). A digestibilidade e o consumo são os

principais fatores que determinam a qualidade da forragem, e de todos os

nutrientes necessários para mantença, crescimento e/ou produção dos

bovinos, a energia, sob a forma, principalmente, de celulose e hemicelulose,

63

constitui a principal contribuição das forragens (Gomide, 1974). Mas, para

cana-de-açúcar a maior contribuição é pelo fornecimento de sacarose.

TABELA 6. Nutrientes digestíveis totais (NDT), energia digestível (ED), energia metabolizável (EM), energia líquida (EL), digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), toneladas de matéria orgânica digestíveis (TMODIG) de variedades de cana-de-açúcar de ciclo médio-tardio. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade NDT

(%)

ED EM EL DIVMO

(%)

TMVDIG

(t/ha) Mcal/kg MS

RB867515 52,92 D 2,33 D 1,91 D 1,51 C 53,05 D 37,06 B

RB92579 58,11 B 2,56 B 2,10 B 1,68 B 58,12 B 50,08 A

RB928064 55,60 C 2,45 C 2,01 C 1,59 C 55,67 C 47,53 A

RB935744 55,78 C 2,45 C 2,01 C 1,55 C 55,85 C 49,93 A

RB936099 62,91 A 2,77 A 2,27 A 1,66 B 63,83 A 50,04 A

RB945962 51,73 D 2,28 D 1,87 D 1,37 D 51,84 D 34,43 B

RB946022 56,78 B 2,50 B 2,05 B 1,59 C 56,81 B 37,12 B

RB956911 59,00 B 2,60 B 2,13 B 1,59 C 59,02 B 45,18 A

RB965586 55,53 C 2,44 C 2,00 C 1,60 C 55,63 C 47,99 A

SP71-1406 57,78 B 2,54 B 2,08 B 1,63 C 57,78 B 35,51 B

SP79-1011 58,22 B 2,56 B 2,10 B 1,55 C 58,21 B 43,43 A

SP81-3250 51,18 D 2,25 D 1,85 D 1,35 D 51,29 D 33,54 B

SP83-2847 59,47 B 2,62 B 2,15 B 1,80 A 59,44 B 35,81 B

Média 56,54 2,49 2,04 1,57 56,58 42,13

CV1 3,27 3,27 3,27 3,68 3,23 17,83 1Coeficiente de variação (%). Médias seguidas de letras diferentes na vertical diferem

estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

O NDT médio observado foi maior que os encontrados por

Azevedo et al. (2003) para as variedades de ciclo intermediário RB845257 e

SP79-1011 cultivadas em Argissolo em Minas Gerais, de 52,5 e 51,5;

respectivamente. Esta última variedade no presente trabalho apresentou

NDT de 58,22%, que demonstra sua adaptação às condições locais, e

evidencia as condições estressantes às quais foram impostas.

64

Com relação à DIVMO formaram-se quatro grupos entre as

variedades estudadas: o primeiro grupo foi composto somente pela

variedade RB936099, com 63,83%; no segundo grupo os valores variaram

de 56,81 a 59,44%, e foi composto pelas variedades RB92579, RB946022,

RB956911, SP71-1406, SP79-1011 e SP83-2847; no terceiro grupo os

valores de DIVMO ficaram entre 55,63 e 55,85%, para as variedades

RB928064, RB935744 e RB965586; e no quarto grupo observou-se valores

entre 51,29 e 53,05% de DIVMO, para as variedades RB867515, RB945962

e SP81-3250. Com base nos valores médios encontrados por Pate e

Coleman (1975), de 56,6% de DIVMO, podemos observar que as variedades

do primeiro e segundo grupo apresentaram valores de DIVMO e NDT

adequados.

Para auxiliar na caracterização das variedades quanto ao seu valor

nutritivo, foi adicionada a característica TMODIG, que une qualidade e

quantidade de matéria verde produzida pelos materiais. As variedades com

maior TMODIG em relação às demais foram: RB92579, RB928064,

RB935744, RB936099, RB956911, RB965586 e SP79-1011. Entre as sete

variedades que apresentaram maior TMODIG, somente a RB935744 não se

enquadra no critério de FDN/Brix menor que 2,7.

Estas variáveis apresentaram correlação positiva com TCH e TPH,

que demonstra a influência dos teores de açúcar sobre a digestibilidade.

Neste sentido, estas características são fundamentais para escolha de

variedades para fins forrageiros, pois para este fim o objetivo é que as

variedades apresentem não só um elevado valor nutricional, mas também

uma elevada produtividade, pelo fato de que no período de fornecimento

deste alimento ocorre escassez de forragem.

Na tabela 7 encontram-se os valores da cinética de degradação dos

carboidratos fibrosos e não-fribrosos, todas características avaliadas

diferiram entre as variedades (P<0,05).

A taxa de degradação dos carboidratos não-fibrosos (C1) foi diferente

entre as variedades, mesmo os valores de POL terem sido semelhantes, que

é a fração rapidamente degradada no rúmen. As variedades RB92579,

65

RB965586, SP71-1406, SP81-3250 e SP83-2847 formaram o grupo com

maiores valores para esta característica, com maior fornecimento de energia

para o desenvolvimento e manutenção dos microorganismos no rúmen, em

relação às demais, desde que o fornecimento de PB na dieta esteja

adequado.

Tabela 7. Estimativa das variáveis volume máximo de gás da fração de CNF1 (Vf1), taxa de digestão para a fração de CNF (C1), tempo de latência (L), volume máximo de gás da fração de CF2 (Vf2), taxa de digestão para a fração de CF (C2), para determinação da cinética de degradação in vitro dos carboidratos pela técnica da produção de gás de variedades de cana-de-açúcar de ciclo médio-tardio. São José do Rio Claro-MT, 2009.

Variedade Vf1

(mL)

C1

(h-1)

L

(h)

Vf2

(mL)

C2

(h-1) r2

RB867515 13,64 D 0,33 C 2,83 C 63,44 C 0,0220 B 0,99

RB92579 17,79 C 0,57 A 3,81 A 66,12 B 0,0234 A 0,99

RB928064 17,31 C 0,44 B 3,32 B 61,90 C 0,0227 B 0,99

RB935744 18,29 C 0,46 B 3,20 B 59,35 D 0,0224 B 0,99

RB936099 22,98 A 0,38 C 2,92 C 58,88 D 0,0241 A 0,99

RB945962 16,85 C 0,32 C 2,48 D 49,52 E 0,0225 B 0,99

RB946022 18,22 C 0,43 B 2,84 C 59,04 D 0,0234 A 0,99

RB956911 20,68 B 0,23 D 1,99 E 58,20 D 0,0219 B 0,99

RB965586 15,11 D 0,58 A 3,54 B 66,71 B 0,0224 B 0,99

SP71-1406 17,46 C 0,51 A 3,32 B 60,86 C 0,0245 A 0,99

SP79-1011 18,91 C 0,36 C 2,87 C 56,31 D 0,0239 A 0,99

SP81-3250 13,63 D 0,52 A 3,92 A 62,57 C 0,0207 C 0,99

SP83-2847 20,77 B 0,50 A 3,94 A 73,80 A 0,0217 B 0,99

Média 17,82 0,43 3,15 61,28 0,0227 0,99

CV1 9,94 14,95 11,16 4,83 2,97 0,40

1Carboidratos não-fibrosos;

2Carboidratos fibsosos;

3Coeficiente de variação (%). Médias

seguidas de letras diferentes na vertical diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott e Knott (P≤0,05).

66

No entanto, destas variedades somente RB92579 e SP71-1406

apresentaram também maior taxa de degradação dos carboidratos fibrosos

(C2), formando o grupo juntamente com as variedades RB936099,

RB946022 e SP79-1011. Este grupo enquadra as variedades com maiores

valores de C2, e mais rápida digestão da FDN, interessante do ponto de

vista de consumo animal. No entanto, somente com a análise de da FDN

indigestível, seria possível determinar as variedades com maior

aproveitamento pelo animal com menor limitação do consumo.

Quando o alimento chega ao rúmen ocorre um período de latência,

em que não se verifica a degradação do substrato no rúmen. Durante esse

período, ocorre hidratação das partículas do alimento, remoção de

substâncias inibidoras, eventos ligados à adesão e efetiva colonização das

partículas do alimento pelos microrganismos ruminais. O menor período de

latência favorece a menor limitação da taxa de passagem do alimento no

rúmen, interferindo menos possível sobre o consumo de MS e energia.

A variedade RB956911 destacou-se das demais quanto ao período de

latência (1,99 h), inferior às outras variedades. A variedade RB92579

apresentou maior período de latência (3,81 h), podendo limitar fisicamente o

consumo animal que as demais, pelo seu maior período de latência. Mas,

esta inferência teria mais segurança somente com a análise da FDN

indigestível, consumo e desempenho animal. Mas, observou-se que esta

variedade se enquadrou no grupo com maiores valores de taxa de

degradação da FDN.

Entre as sete variedades selecionadas por apresentarem maiores

valores de TMODIG, as variedades RB92579, RB936099 e SP79-1011

apresentaram relação FDN/Brix de 2,24; 2,26 e 2,14; respectivamente, além

de maiores valores de C2: 0,0234; 0,0241 e 0,0239 h-1, respectivamente.

Neste sentido, estas variedades devem ser indicadas para alimentação de

ruminantes em relação às demais, por fornecerem maiores quantidades de

massa digestível, maiores quantidades de sólidos solúveis em relação à

FDN, e melhor qualidade da FDN pela sua mais rápida degradação ruminal.

67

3.4 Conclusões

As variedades apresentam diferenças quanto às características de

produção e a matéria orgânica digestível.

As variedades RB92579, RB928064, RB 935744, RB936099,

RB956911, RB965586 e SP79-1011 proporcionam maiores valores de

TMODIG.

As variedades RB92579, RB936099 e SP79-1011 além de

apresentarem maior TMODIG, proporcionam maiores valores de taxa de

degradação da FDN, sendo indicadas para alimentação de ruminantes entre

os meses de agosto a outubro, em preferência às demais variedades.

São necessários estudos complementares avaliando o consumo e

desempenho animal, além da fração indigestível dos carboidratos fibrosos,

para determinar com maior segurança qual variedade seria superior.

3.5 Referências Bibliográficas

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71

4. CONCLUSÕES GERAIS

As variedades precoces de cana-de-açúcar não diferem quanto à

produção de matéria verde e seca, toneladas de colmo e POL por hectare, e

quanto à toneladas de matéria orgânica digestível. Há diferença entre as

variedades quanto à FDN, DIVMO, NDT, taxas de degradação dos

carboidratos não-fibrosos e da FDN e período de latência.

Por não ocorrer diferença entre as variedades precoces com relação

às características de produção, a DIVMO (correlação positiva com o NDT) e

a taxa de degradação da FDN, são determinantes na seleção das

variedades. As variedades RB835486 e RB937570 são indicadas para

alimentação de ruminantes entre maio e julho, em preferência às demais.

As variedades de ciclo médio tardio são diferentes quanto à produção

de matéria verde, de colmos e matéria orgânica digestível por hectare. A

característica TMODIG alia quantidade com qualidade, servindo de base na

indicação das variedades, sendo que as RB92579, RB928064, RB 935744,

RB936099, RB956911, RB965586 e SP79-1011 proporcionam maiores

valores de TMODIG. Entre estas, as variedades RB92579, RB936099 e

72

SP79-1011 apresentam maiores valores de taxa de degradação da FDN,

sendo indicadas para alimentação de ruminantes em preferência às demais

variedades, no período de agosto a outubro.

São necessários estudos complementares avaliando o consumo e

desempenho animal, além da fração indigestível da FDN, para indicar com

maior segurança as melhores variedades.

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