Caracterização anatômica e testes histoquímicos em ... · Caracterização anatômica e testes...

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1 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Biologia, [email protected] 2 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais. Caracterização anatômica e testes histoquímicos em folhas submetidas a diferentes níveis de sombreamento de Garcinia gardneriana (Planchon et Triana Zappi (Clusiaceae)) Elma dos Santos Souza 1 ; Izabel de Souza Chaves 1 ; Jessé Marques da Silva Júnior 1 ; Sara Dousseau 1 ; Selma Lopes Goulart 2 ; Amauri Alves de Alvarenga 1 & Evaristo Mauro de Castro 1 Palavras-chave: anatomia foliar, testes histoquímicos, sombreamento, bacupari A espécie Garcinia gardneriana (Clusiaceae), popularmente conhecida como bacupari ou bacuri é uma planta arbórea com altura de 5 a 7 metros e folhas simples e coriáceas. Caracteriza-se por ser polígamo- dióica, com flores de pétalas brancas, pequenas e não perfumadas. Ocorre com freqüência na Planície de Inundação do Alto Rio Paraná e tem importância na alimentação das populações ribeirinhas, sendo consumida in natura e os seus frutos são comestíveis e muito saborosos sendo usado na forma de sucos e doces. Esta espécie se destaca, principalmente, pelo seu emprego em plantios mistos destinados à recuperação de áreas degradadas, com grande potencial para o Cerrado e na medicina, alguns de seus compostos apresentam atividades biológicas como antiinflamatória, antifúngica e antioxidante. As plantas utilizam a luz como uma fonte de energia, que estimula ou limita o processo fotossintético e como um sinal do ambiente que regula processos vitais durante o desenvolvimento do vegetal, como a fotomorfogênese (Taiz & Zeiger, 2004). De acordo com o ambiente luminoso a que são submetidos os processos biológicos dos vegetais, são influenciados pela luz, na faixa do espectro denominado luz visível, entre 400 e 700 nm. Os fotorreceptores responsáveis pela morfogênese vegetal são: os fitocromos, que absorvem luz vermelho (650 a 680 nm) e vermelho extremo (710 a 740 nm), semelhante ao que ocorre com germinação de sementes e os criptocromos que absorvem luz azul, na faixa de 320 a 400 nm (Taiz & Zeiger, 2004). A resposta à intensidade de luz depende da espécie em estudo, sendo que para as espécies da família Clusiaceae, são escassos os trabalhos sobre a influência desse fator no seu desenvolvimento. O presente trabalho teve como objetivo analisar caracteres anatômicos e testes histoquímicos em diferentes níveis de sombreamento. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no Laboratório de Anatomia Vegetal do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras MG. Folhas totalmente expandidas com um ano de idade foram coletadas e testes histoquímicos foram realizados em material fresco e cortados a mão livre. Os reagentes utilizados foram Sudam III (Jensen, 1962), para evidenciação de compostos de natureza lipídica, paredes suberificadas e cutinizadas; Cloreto Férrico, (Johansen, 1940) para evidenciação de substâncias fenólicas e lugol (Langeron, 1949) para identificação de grãos de amido. Os tratamentos foram os seguintes: folha a pleno sol, 30%, 50% e 70% de sombreamento. Foram avaliadas seis folhas com quatro cortes, um total de 24 observações. RESULTADOS E DISCUSSÃO Descrições anatômicas foliares Secções transversais da lâmina foliar revelaram uma epiderme uniestratificada, com células de tamanho variado tanto na face adaxial quanto na abaxial. Suas paredes periclinais externas acham-se revestida por uma cutícula fina. Secções transversais da lâmina foliar revelam um mesofilo com organização dorsiventral. O parênquima paliçádico é constituído por um a dois estratos de células largas e longas. O parênquima lacunoso apresenta-se compacto devido ao pouco desenvolvimento

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1 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Biologia, [email protected] Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais.

Caracterização anatômica e testes histoquímicos em folhas submetidas a diferentes níveis desombreamento de Garcinia gardneriana (Planchon et Triana Zappi (Clusiaceae))

Elma dos Santos Souza1; Izabel de Souza Chaves1; Jessé Marques da Silva Júnior1; Sara Dousseau1;Selma Lopes Goulart2; Amauri Alves de Alvarenga1 & Evaristo Mauro de Castro1

Palavras-chave: anatomia foliar, testes histoquímicos, sombreamento, bacupari

A espécie Garcinia gardneriana(Clusiaceae), popularmente conhecida comobacupari ou bacuri é uma planta arbórea comaltura de 5 a 7 metros e folhas simples ecoriáceas. Caracteriza-se por ser polígamo-dióica, com flores de pétalas brancas,pequenas e não perfumadas. Ocorre comfreqüência na Planície de Inundação do AltoRio Paraná e tem importância na alimentaçãodas populações ribeirinhas, sendo consumidain natura e os seus frutos são comestíveis emuito saborosos sendo usado na forma desucos e doces. Esta espécie se destaca,principalmente, pelo seu emprego em plantiosmistos destinados à recuperação de áreasdegradadas, com grande potencial para oCerrado e na medicina, alguns de seuscompostos apresentam atividades biológicascomo antiinflamatória, antifúngica eantioxidante.

As plantas utilizam a luz como umafonte de energia, que estimula ou limita oprocesso fotossintético e como um sinal doambiente que regula processos vitais duranteo desenvolvimento do vegetal, como afotomorfogênese (Taiz & Zeiger, 2004). Deacordo com o ambiente luminoso a que sãosubmetidos os processos biológicos dosvegetais, são influenciados pela luz, na faixado espectro denominado luz visível, entre 400e 700 nm.

Os fotorreceptores responsáveis pelamorfogênese vegetal são: os fitocromos, queabsorvem luz vermelho (650 a 680 nm) evermelho extremo (710 a 740 nm),semelhante ao que ocorre com germinação desementes e os criptocromos que absorvem luzazul, na faixa de 320 a 400 nm (Taiz &Zeiger, 2004).

A resposta à intensidade de luz dependeda espécie em estudo, sendo que para asespécies da família Clusiaceae, são escassosos trabalhos sobre a influência desse fator noseu desenvolvimento.

O presente trabalho teve como objetivoanalisar caracteres anatômicos e testeshistoquímicos em diferentes níveis desombreamento.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Laboratóriode Anatomia Vegetal do Departamento deBiologia da Universidade Federal de Lavras –MG.

Folhas totalmente expandidas com umano de idade foram coletadas e testeshistoquímicos foram realizados em materialfresco e cortados a mão livre. Os reagentesutilizados foram Sudam III (Jensen, 1962),para evidenciação de compostos de naturezalipídica, paredes suberificadas e cutinizadas;Cloreto Férrico, (Johansen, 1940) paraevidenciação de substâncias fenólicas e lugol(Langeron, 1949) para identificação de grãosde amido.

Os tratamentos foram os seguintes: folhaa pleno sol, 30%, 50% e 70% desombreamento. Foram avaliadas seis folhascom quatro cortes, um total de 24observações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Descrições anatômicas foliaresSecções transversais da lâmina foliar

revelaram uma epiderme uniestratificada, comcélulas de tamanho variado tanto na faceadaxial quanto na abaxial. Suas paredespericlinais externas acham-se revestida poruma cutícula fina.

Secções transversais da lâmina foliarrevelam um mesofilo com organizaçãodorsiventral. O parênquima paliçádico éconstituído por um a dois estratos de célulaslargas e longas.

O parênquima lacunoso apresenta-secompacto devido ao pouco desenvolvimento

[ D i g i t e t e x t o ]

das lacunas, suas células apresentam-sevariáveis e pouco ramificadas. Nota-se ainda,que o mesofilo em alguns trechos quando nasproximidades da nervura mediana, seapresenta pouco diferenciado, não havendo adistinção em paliçádico e lacunoso. Emrelação ao sistema vascular nota-se a presençade um feixe do tipo bicolateral. Envolvendotodo o feixe vascular, observa-se uma extensacamada de fibras pericíclicas de paredescelulósicas, além da presença de umaendoderme conspícua.

Os testes histoquímicos evidenciaramcompostos fenólicos gerais em diferentestecidos da folha, podendo ser vistos tambémno mesofilo. Tais substâncias são citadas porEsau (1985) e Fahn (1979) como um grupoheterogêneo de substâncias presentes emquase todos os tecidos dos vegetais,dissolvidos no vacúolo em forma de gotas nocitoplasma ou impregnando a parede celular.Os autores mencionados referem que taissubstâncias estão relacionadas com proteçãocontra o dessecamento e ataque de animais,embora ainda haja dúvidas quanto atotalidades de suas funções.

Os fenóis pertencem a uma classe decompostos que possuem pelo menos um anelaromático, no qual, ao menos um hidrogênio ésubstituído por uma hidroxila, sendoamplamente distribuído no reino vegetal(Simões et al., 1999). Segundo estes autores,os compostos fenólicos abrangem metabólitossecundários como taninos, ligninas, alcalóidese terpenóides, além de fazerem parte demoléculas estruturais como proteínas.

As reações de identificação decompostos fenólicos foram positivas em todosos tratamentos (30, 50, 70% e pleno sol), noentanto a pleno sol, pelo excesso decompostos fenólicos, a diferenciação deestruturas vegetais fica dificultada, pois estãodispersos nas células da epiderme adaxial doparênquima paliçádico, nervura mediana efeixes vasculares, principalmente nas paredescelulares dos vasos lenhosos (xilema efloema) e ductos secretores.

Com a utilização do Sudan IIIobservou-se a deposição de compostos graxosna cutícula de todos os tratamentos e tambémà presença de gotículas de óleos na nervuracentral. Visto que os lipídios distribuem-se

por todas as células epidérmicas (adaxial eabaxial), nas papilas e em gotículas dispersasnas células epidérmicas e parenquimatosas.

Observou-se para o teste de lugol apresença de amido em todos os tratamentosnas células do parênquima, em toda a nervuracentral e inclusive no parênquima do xilema.Nos mesofilos foi encontrado tanto noparênquima paliçádico quanto no lacunoso.

CONCLUSÃOAs alterações histoquímicas

relacionadas ao ambiente, como aquelasocasionadas pela variação da intensidadeluminosa sobre as folhas, como demonstrado,podem modificar a quantidade e o local desíntese dessas substâncias.

AGRADECIMENTOSÀ Universidade Federal de Lavras e ao

CNPq pela concessão de bolsa.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICASESAU, K. 1985. Anatomia vegetal.

Barcelona, Omega, 779p.FAHN, A. 1990. Plant Anatomy, Oxford,

Pergamon Press, 558p.JENSEN, W. A. 1962. Botanical

histochemistry: principles and practice.San Francisco: W. H. Freeman & Co.408p.

JOHANSEN, D. A. 1940. Plantmicrotechinique. New York, McGraw-Hill, Book Company, 523p.

LANGERON M.; 1949. Précis demicroscopie. Masson et Cie, Libraires deL´Academie de Medicine, Saint-Germain,Paris,

SIMÕES C. M. O.; SHENKEL, E. P.;GOSMANN, G. MELLO, J. C. P.;MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. 1999.Farmacognosia: da planta aomedicamento, Santa Catarina, 821 p.

TAIZ, L., ZEIGER, E. 2006. FisiologiaVegetal, Porto Alegre, Artmad, 719p.

[ D i g i t e t e x t o ]

Figura 1. Fotomicrografia das secções transversais do limbo foliar de Garcinia gardneriana, coradas comcloreto férrico (A e B); lugol (C e D) e sudam III (E e F). Fig. A, B,C,D,E e F , 50 μ m .