Caracterização de Polimeros Inteligentes Para Aplicações Biomedicas

98
5/21/2018 CaracterizaodePolimerosInteligentesParaAplicaesBiomedicas-slidepd... http://slidepdf.com/reader/full/caracterizacao-de-polimeros-inteligentes-para-aplicacoes-bi Maria Carolina Morando Costa MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Caracterização de Polímeros Inteligentes para Aplicações Biomédicas Dissertação apresentada à Universidade de Coimbra para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Biomédica, realizada sob a orientação do Professor Doutor Filipe Antunes. Setembro 2012

Transcript of Caracterização de Polimeros Inteligentes Para Aplicações Biomedicas

  • Maria Carolina Morando Costa

    MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMDICA

    FACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA

    UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    Caracterizao de Polmeros Inteligentes para

    Aplicaes Biomdicas

    Dissertao apresentada Universidade de Coimbra para

    cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de

    Mestre em Engenharia Biomdica, realizada sob a orientao do

    Professor Doutor Filipe Antunes.

    Setembro 2012

  • Esta cpia da tese fornecida na condio de que quem a

    consulta reconhece que os direitos de autor so pertena do

    autor da tese e que nenhuma citao ou informao obtida a

    partir dela pode ser publicada sem a referncia apropriada.

    This copy of the thesis has been supplied on condition that

    anyone who consults it is understood to recognize that its

    copyright rests with its author and that no quotation from the

    thesis and no information derived from it may be published

    without proper acknowledgement.

  • Agradecimentos

    No final de mais uma etapa crucial na minha vida, depois de um

    percurso com bastantes altos e baixos, esta a prova de mais

    uma histria com um final feliz, citando as palavras do

    Professor Miguel Morgado, a quem desde j agradeo por todos

    os esforos dedicados ao curso de Engenharia Biomdica em

    Coimbra e o interesse pelos seus alunos; para alm de professor

    revela-se tambm um amigo.

    Um Muito Obrigado, ao Professor Doutor Filipe Antunes,

    orientador do meu Projeto de Mestrado, pelo crdito e confiana

    depositados em mim, pelos sbios conselhos e por me ter dado a

    oportunidade de aprender e de trabalhar no seio de um grupo de

    excelncia.

    Ao Fafe, importante ser e colega no Departamento de Qumica,

    agradeo todo o apoio e pacincia que me ajudaram a dar

    facilmente os primeiros passos num mundo que j pensava

    quase desconhecido.

    Agradeo tambm ao Professor Jorge Coelho e Rose Cordeiro, do

    Departamento de Engenharia Qumica, pelo seu precioso tempo

    e disponibilizao dos polmeros necessrios realizao do

    projeto; ao Professor Antnio Ribeiro pela autorizao de uso do

  • equipamento de DLS existente na Faculdade de Farmcia, e

    Ana Cludia, pela disponibilidade e ajuda prestadas na

    introduo tcnica.

    Reservo agora um espacinho para todos aqueles que foram

    importantes ao longo destes anos de faculdade, e os quais no

    poderiam passar em branco:

    Aos P&T, um grupo de amigos fantstico que nasceu em

    Coimbra e sem os quais o meu percurso acadmico no teria tido

    metade do interesse. Um grupo cheio de personalidades que em

    nada se assemelham e que em conjunto o tornam to especial.

    Um obrigado a todos pela amizade, pelo apoio nos momentos

    difceis e sobretudo pela presena nos momentos importantes da

    minha vida.

    Ao Duarte, meu namorado e grande amigo, a quem tive o prazer

    de conhecer nesta cidade de encantos, um obrigado pelos

    sorrisos partilhados em todas as vitrias e pela mo estendida

    nos momentos mais difceis, sem a qual se tornaria difcil por

    vezes manter-me de p.

    Por fim, agradeo com todo o meu corao minha famlia, cuja

    dedicao e apoio foram sempre incondicionais, e sem os quais

    no me teria sido permitido chegar at aqui, com toda uma

  • bagagem de boas experincias que me ajudaram a crescer e a

    definir objetivos, fazendo de mim o que sou hoje!

    OBRIGADO a todos!

  • Nas grandes batalhas da vida,

    o primeiro passo para a vitria

    o desejo de vencer.

    Mohandas Ghandi

  • Resumo

    Este trabalho baseado no estudo de polmeros termossensveis

    para o seu uso como sensores de temperatura na superfcie da

    pele do beb.

    De acordo com alguns pediatras, a temperatura da pele do beb

    pode variar entre os 35C e os 37,8C. Normalmente, eles

    apresentam uma temperatura superior de um adulto, uma vez

    que ainda no so capazes de regular bem a temperatura

    corporal. importante a monitorizao constante da sua

    temperatura e, principalmente, verificar se esta se encontra

    acima dos 37,8C. Para este estudo foram escolhidos dois

    polmeros que, quando em soluo, respondem dramaticamente

    a mudanas de temperatura e, como tal, podem servir como

    sensores de temperatura.

    Os polmeros exibem uma temperatura crtica denominada LCST

    (low critical solution temperature); um aumento de temperatura do

    sistema diminui a solubilidade do polmero em gua devido

    alterao da polaridade e consequente predominncia das

    interaes hidrofbicas. A LCST definida como a temperatura

    acima da qual o polmero sofre uma transio de fase de um

    estado de completa dissoluo em gua (cadeia linear estendida)

    para um estado insolvel em gua (cadeia compactada em forma

    de glbulo). Quando a soluo do polmero atinge a LCST

  • observada uma alterao na turbidez da soluo, devido

    agregao polimrica.

    Os polmeros tm uma LCST perto dos limites de temperatura

    normais do corpo humano. O principal objetivo deslocar essa

    temperatura para valores prximos de 38C, por forma a

    poderem ser usados como sensores de febre.

    Os polmeros usados foram o PNIPAM e o PDMAEMA e o seu

    comportamento em soluo aquosa foi caracterizado atravs de

    estudos reolgicos, espectroscpicos e de disperso dinmica de

    luz (DLS).

    Existe uma forte relao entre o tamanho dos agregados,

    turbidez e viscosidade das solues. Aumentando a

    temperatura, aumenta o tamanho das partculas, devido

    formao de agregados, assim como a viscosidade, devido

    formao de uma rede tridimensional essencialmente alicerada

    por associaes hidrofbicas, e a soluo torna-se turva como

    resultado da luz dispersa pelos largos agregados.

    O ajuste da LCST dos polmeros em soluo , neste trabalho,

    efetuada atravs da adio de co-solventes, sais e surfatantes,

    bem como atravs de alteraes de concentrao e peso

    molecular.

  • Abstract

    This work is based on the study of thermoresponsive polymers

    for their use as thermosensors on baby's skin.

    According to some pediatricians the baby skins temperature

    could vary from 35C to 37.8C. They are a little warmer than

    adults, because they do not regulate their temperature so well. It

    is important to constantly monitor their temperature and

    particularly to check if the temperature is above 37.8C.

    For this study, we chose two polymers that respond

    tremendously to temperature changes and that can be used as

    thermosensors. They exhibit a LCST (low critical solution

    temperature); an increase in temperature decreases the solubility

    of the polymer in water due to changes in polarity and

    consequently predominating hydrophobic associations. LCST is

    defined as the temperature at which the polymer solution

    undergoes a phase transition from a completely soluble state in

    water (a random coil form) to an insoluble state (collapsed form

    of the polymeric chain). When the polymer solution is reaching

    the LCST a change in the turbidity of the solution can be

    observed, due to polymeric aggregation.

    The polymers have their LCST near the limits of a normal

    human body temperature and the main aim is to shift these

    critical temperatures to around 38C for using them as fever

    sensors.

  • The polymers used in this work were PNIPAM and PDMAEMA,

    and their behavior in aqueous solution was mainly driven by

    rheological, spectroscopy and dynamic light scattering (DLS)

    studies.

    There is a strong relationship between particle size, turbidity and

    shear viscosity. By heating the systems, the particle size

    increases, because of cluster formation, as well as the viscosity

    due to the formation of 3D network mainly sustained by

    hydrophobic associations, and the solution becomes cloudy as a

    result of the scattered light induced by the large aggregates.

    In this work, the adjustment of the LCST of the polymers in

    solution is made by the addition of co-solvents, salts and

    surfactants, as well as changes in concentration and molecular

    weight.

  • Lista de Abreviaturas

    CTAB Brometo de Cetiltrimetilamnio

    cac Concentrao de agregao crtica

    cmc Concentrao micelar crtica

    HCl cido clordrico

    LCST Temperatura de soluo crtica mnima

    LGTT Temperatura de gel crtica mnima

    KSCN Tiocianato de potssio

    NaOH Hidrxido de sdio

    NaCl Cloreto de sdio

    PEO Polioxietileno

    PNIPAA Poli-N-isopropilacrilamida

    PDMAEMA Poli-2-dimetilaminoetil metacrilato

    SDS Dodecil Sulfato de Sdio

    UCST Temperatura de soluo crtica mxima

    UGTT Temperatura de gel crtica mxima

  • ndice

    ndice de Figuras ................................................................................ i

    ndice de Tabelas .............................................................................. iii

    ndice de Grficos ............................................................................ iv

    1. Introduo ...................................................................................... 1

    1.1. Polmeros Inteligentes ............................................................3

    1.2. Polmeros Termossensveis ....................................................8

    1.2.1. Polmeros com comportamento do tipo LCST ............ 10

    1.2.2. Poli-N-isopropilacrilamida ........................................... 13

    1.2.3. Poli-2-dimetilaminoetil metacrilato ............................. 15

    1.2.4. Mecanismos propostos para explicar a transio de

    fase ............................................................................................ 17

    1.3. Co-solutos que alteram as propriedades dos polmeros ... 21

    1.3.1. Sais .................................................................................. 21

    1.3.2. Surfatantes ...................................................................... 23

    2. Experimental................................................................................ 25

    2.1. Materiais ................................................................................ 25

    2.2. Tcnicas ................................................................................. 26

    2.2.1. Mtodo de preparao das amostras ........................... 27

    2.2.2. Espectrofotometria UV-Visvel ..................................... 28

    2.2.3. Reologia .......................................................................... 29

  • 2.2.4. Disperso Dinmica da Luz (DLS) ............................... 34

    3. Resultados e Discusso ............................................................... 38

    3.1. Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura ................................................................................. 38

    3.1.1. Influncia do peso molecular e concentrao em

    soluo ...................................................................................... 43

    3.1.2. Influncia do pH do meio ............................................. 48

    3.1.3. Influncia da adio de aditivos e co-solventes na

    temperatura crtica .................................................................. 50

    3.2. Turbidez das solues em funo da temperatura ............ 60

    3.3. Dimenso das partculas em funo da temperatura ........ 62

    3.4. Propriedades viscoelsticas ................................................. 65

    3.5. Reprodutibilidade do sistema PNIPAM-gua ................... 69

    4. Concluso ..................................................................................... 70

    Referncias ....................................................................................... 73

  • i

    ndice de Figuras

    Figura 1. Diagramas de fase de solues polimricas no plano temperatura-

    concentrao. a) diagrama do tipo UCST; b) diagrama do tipo LCST.14 ............ 9

    Figura 2. Estrutura de polmeros que apresentam LCST. (a) Poli(N-

    isopropilacrilamida (PNIPAM); (b) Poli(N,N-dietilacrilamida) (PDEAAm); (c)

    Poli(dimetilaminoetil metacrilato) (PDMAEMA); (d) Poli(N-(L)-(1-hidroximetil)

    propilmetacrilamida) (PHMPMAA).3 ............................................................. 10

    Figura 3. Comportamento termossensvel em soluo aquosa; "Coil-to-gloube

    transition". ................................................................................................... 11

    Figura 4. Estrutura qumica do poli(N-isopropilacrilamida).3 .................................. 13

    Figura 5. Grupos oxietileno a baixas temperaturas (A) e a altas temperaturas (B).1120

    Figura 6. Srie de Hofmeister. ................................................................................ 21

    Figura 7. Trs interaes bsicas envolvidas no efeito de Hofmeister. (a)

    polarizao das molculas de gua que hidratam os grupos amida; (b) a

    tenso de superfcie tem efeitos na hidratao hidrofbica das

    macromolculas e pode ser modelada pela adio de sais; (c) interao direta

    do anio com os grupos amida.41 .................................................................. 22

    Figura 8- Estrutura de um surfatante aninico. ...................................................... 23

    Figura 9. Estrutura do modelo pearl-necklace para os complexos polmero-

    surfatante.47 ................................................................................................. 24

    Figura 10. Esquema ilustrativo da incidncia de luz sobre a amostra. .................... 28

    Figura 11. Fluido Newtoniano. Tenso de deformao () em funo da taxa de

    deformao (D).11 ......................................................................................... 30

    Figura 12. Modelo de duas placas usado por Newton. F- fora (deformao)

    aplicada; A-rea das placas; h espao entre as placas e U viscosidade com

    que a placa superior se move.51 .................................................................... 30

    Figura 13. Limite do comportamento de fludos Newtonianos.51

    ........................... 31

    Figura 14. Sistema de cone e prato; o ngulo entre o cone e o prato e r o raio

    de ambos.49 .................................................................................................. 32

  • ii

    Figura 15. Dimetro hidrodinmico.54

    .................................................................... 34

    Figura 16. Flutuaes de intensidade ao longo do tempo como resultado da

    disperso de luz por parte das partculas contidas na amostra.59

    .................. 35

    Figura 17. Soluo de 5wt% de PDMAEMA(11k) a pH=9,1. Dependncia da

    viscosidade Newtoniana do em funo da temperatura. Turbidez da soluo

    aquosa de PDMAEMA abaixo (A) e acima (B) da LCST. .................................. 39

    Figura 18. Soluo de 5wt% de PNIPAM(39k). Dependncia da viscosidade

    Newtoniana em funo da temperatura. Turbidez da soluo aquosa de

    PNIPAM abaixo (A) e acima (B) da LCST. ....................................................... 40

    Figura 19. Ilustrao do comportamento de fase do tipo LCST. .............................. 41

    Figura 20. Efeito da qualidade do solvente na configurao do polmero.51 ........... 50

    Figura 21. Efeito de vrios lcoois na LCST do PNIPAM.62 ....................................... 53

    Figura 22. Ciclos de subida e descida da temperatura usando a mesma soluo de

    PNIPAM(20k) de 5wt%. a) e c) representam as subidas e b) e d) representam

    as descidas. Os grficos foram obtidos pela ordem alfabtica representada,

    com velocidades de aquecimento e arrefecimento iguais (1C/3min). ......... 69

  • iii

    ndice de Tabelas

    Tabela 1. Classificao da forma fsica das cadeias polmricas e os diferentes tipos

    de resposta.3,11

    ................................................................................................ 6

    Tabela 2. Pesos moleculares mdios (Mn) das amostras e respetivos ndices de

    polidispersividade(Mw/Mn). .......................................................................... 25

  • iv

    ndice de Grficos

    Grfico 1. Efeito da variao do peso molecular do PNIPAM (solues de 5wt%).

    Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida

    da temperatura). .......................................................................................... 43

    Grfico 2. Efeito da variao do peso molecular do PDMAEMA (solues de 5wt%).

    Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida

    da temperatura). .......................................................................................... 43

    Grfico 3. Efeito da variao da concentrao de PNIPAM(39k). Dependncia da

    viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da temperatura).46

    Grfico 4. Efeito da variao da concentrao do PDMAEMA(11k). Dependncia da

    viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da temperatura).47

    Grfico 5. Efeito da variao do pH da soluo de PDMAEMA(11k) (solues de

    5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura

    (subida da temperatura). .............................................................................. 48

    Grfico 6. Efeito da variao do pH da soluo de PNIPAM(39k) (solues de

    5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura.

    (subida da temperatura). .............................................................................. 49

    Grfico 7. Efeito da adio de diferentes concentraes de etanol soluo de

    PNIPAM(39k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida da temperatura). ......................................................... 51

    Grfico 8. Efeito da adio de diferentes concentraes de etanol soluo de

    PDMAEMA(19k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo

    da temperatura (subida da temperatura). .................................................... 51

    Grfico 9. Efeito da adio de 2 sais diferentes soluo de PNIPAM(20k) (5wt%).

    Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida

    da temperatura). .......................................................................................... 54

    Grfico 10. Efeito da adio de 2 sais diferentes soluo de PDMAEMA(19k).

    Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida

    da temperatura). .......................................................................................... 55

  • v

    Grfico 11. Efeito da adio de diferentes concentraes de SDS soluo de

    PNIPAM(39k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida de temperatura). ......................................................... 57

    Grfico 12. Efeito da adio de diferentes concentraes de CTAB soluo de

    PNIPAM(39k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida de temperatura). ......................................................... 58

    Grfico 13. Transmitncia das amostras PNIPAM(20k) e PDMAEMA(11k).

    Comprimento de onda selecionado: = 450 nm. .......................................... 60

    Grfico 14. Variao do dimetro hidrodinmico das partculas (Dh) com o

    aumento da temperatura. ............................................................................ 62

    Grfico 15. Perfil de viscosidade Newtoniana, dimetro hidrodinmico das

    partculas e transmitncia de luz da amostra com o aumento da temperatura

    das solues. Solues de 5wt% PNIPAM(20k) para as medidas da

    viscosidade Newtoniana e transmitncia de luz e de 1wt% para a obteno

    do dimetro hidrodinmico das partculas.................................................... 63

    Grfico 16. Perfil de viscosidade Newtoniana, dimetro hidrodinmico das

    partculas e transmitncia de luz da amostra com o aumento da temperatura

    das solues. Solues de 5wt% PDMAEMA(11k) para as medidas da

    viscosidade Newtoniana e transmitncia de luz e de 1wt% para a obteno

    do dimetro hidrodinmico das partculas.................................................... 64

    Grfico 17. Mdulo elstico (G) e viscoso (G) em funo da frequncia para a

    soluo de PNIPAM(20k) a: a) 30C(LCST). A imagem

    mostra uma soluo lquida acima da LCST. .................................................. 65

    Grfico 18. Mdulo elstico (G) e viscoso (G) em funo da frequncia para a

    soluo de PNIPAM(39k) a: a) 30C(LCST). A imagem

    mostra um gel acima da LCST........................................................................ 66

    Grfico 19. Mdulo elstico (G) e viscoso (G) em funo da frequncia para: a)

    34C(LCST). A imagem mostra uma soluo lquida acima

    da LCST. ........................................................................................................ 67

  • vi

  • 1

    Captulo 1

    1. Introduo

    O presente trabalho tem como objetivo o estudo e a

    caracterizao de polmeros termossensveis, uma subclasse dos

    polmeros inteligentes ou ambientalmente sensveis, para a

    sua aplicao como possveis sensores de temperatura corporal

    na pele do beb. O sistema pensado faz uso de um simples

    mecanismo (mudana de cor), para atender a uma das grandes

    preocupaes dos pais, indicando a ultrapassagem do valor

    limite de temperatura considerado normal numa criana.

    A ideia seria chegar a um produto final capaz de manter a

    temperatura corporal da criana sob monitorizao contnua ao

    longo do dia, incorporando um acessrio prtico, cmodo e com

    algum nvel esttico ajustvel ao pulso. Poder ainda ter uma

    segunda funcionalidade, servindo como pulseira de

    identificao.

    De acordo com alguns pediatras, a temperatura na pele de um

    beb pode variar entre os 35C e os 37,8C. importante estar

    atento s variaes de temperatura que ocorrem frequentemente

    no corpo do beb, uma vez que o mecanismo de regulao

  • 2

    trmica, estando ainda em fase de maturao, no atua

    corretamente. Um sintoma de febre detetado tardiamente e

    atingindo um valor de 38,5C pode dar origem a sintomas como

    vmitos e convulses febris.

    O foco ser mantido numa possvel temperatura crtica (38C)

    superfcie da pele do beb e a partir do qual indicado que este

    apresenta sintomas de febre. A temperatura crtica estimada para

    a pele do beb corresponder a uma temperatura crtica dos

    polmeros em estudo, acima da qual sofrero uma transio de

    fase reversvel, visvel a nvel macroscpico. Para alm disso,

    importante perceber a relao estrutura-propriedades desta

    classe de polmeros em soluo, de modo a ser possvel alterar a

    temperatura crtica de forma desejada e obter um sistema

    reprodutvel durante uma infinidade de vezes.

    Tendo em conta a aplicao final deste trabalho, estaremos

    interessados apenas em sistemas com um comportamento do

    tipo LCST, temperatura acima da qual a soluo tomar um

    aspeto branco opaco.

    Atravs de uma cuidadosa seleo de solventes e aditivos ser

    estudada a melhor forma de ajustar a temperatura para o valor

    desejado.

  • 3

    1.1. Polmeros Inteligentes

    Podemos afirmar que a vida polimrica na sua essncia se nos

    lembrarmos que macromolculas como as protenas, os

    polissacardeos e os cidos nuclecos constituem os principais

    componentes de uma clula viva.1,2 Estes biopolmeros tm a

    propriedade de adotar conformaes especficas consoante o

    ambiente envolvente e formam a base em torno da qual a maior

    parte dos processos biolgicos so controlados.3,4,5 O que torna

    alguns biopolmeros particularmente interessantes a sua

    sensibilidade na presena ou ausncia de estmulos externos.

    Pequenas mudanas ambientais podem provocar uma resposta

    dramtica do polmero.3,5 As suas respostas no lineares so

    causadas por interaes altamente cooperativas.6 A compreenso

    do mecanismo dessas interaes nos biopolmeros abriu

    caminho para a possibilidade de tentar imitar o seu

    comportamento em sistemas sintetizados em laboratrio.1,2,3

    Polmeros sintticos foram desenvolvidos com vrias formas

    funcionais para atender a aplicaes industriais e cientficas.1

    Estes polmeros so geralmente solveis em gua, ou solues

    aquosas (ex.: fludos biolgicos), e so geralmente conhecidos

    como polmeros "inteligentes" dada a sua habilidade de

    adaptao sob condies facilmente controladas, semelhana

    dos biopolmeros, da a sua crescente atratividade nas reas da

    biotecnologia e da medicina.1,7,6 A sua singularidade reside no

    s nas mudanas rpidas que ocorrem a nvel macroscpico na

  • 4

    sua estrutura, mas tambm no carcter reversvel dessas mesmas

    transies.2,3,6 A sua classificao feita de acordo com o

    estmulo ambiental que induz a resposta (ex.: Termossensveis,

    pH-sensveis), e por isso podem tambm ser chamados de

    polmeros de "estmulo-resposta" ou polmeros "ambientalmente

    sensveis".1,5 Os estmulos de maior importncia, sob o ponto de

    vista biomdico, so o pH e a temperatura.2,3 O exemplo mais

    comum de estmulo trmico a elevao da temperatura

    corporal sob condies febris provocadas por pirogneos.8

    Variaes de pH esto presentes no corpo humano, em

    diferentes rgos, tecidos e compartimentos celulares, ou at

    mesmo reas tumorais. Estas variaes tornam-se bvias no trato

    gastrointestinal, onde o pH passa de cido (pH=2), no estmago,

    a bsico (pH=5-8), no intestino.2,3 Sistemas que transitam de fase

    sob condies fisiolgicas so propostos como potnciais

    aplicaes em sistemas injetveis minimamente invasivos.

    Outros estmulos comuns so ainda, a fora inica, os campos

    eltrico e magntico, a luz na regio UV-visvel, as biomolculas

    e a concentrao de eletrlitos ou glicose, entre outros.1,2,3,4,5,6,9,10

    Muitas vezes, dois ou mais estmulos podem ainda ser

    combinados.5,9 Dada a ampla gama de estmulos possveis, existe

    tambm uma vasta gama de aplicaes para este tipo de

    polmeros, incluindo sistemas de (bio)sensores ou atuadores

    biomimticos, sistemas de libertao controlada de agentes

    teraputicos (frmacos ou genes), engenharia de tecidos

    (scaffolds), superfcies termossensveis, dispositivos de

  • 5

    bioseparao, bioconjugados, novos biocatalisadores

    imobilizados e suportes para cultura de clulas.1,2,3,5,6,10

    A estrutura qumica das cadeias polimricas importante para

    conhecer o tipo de resposta macroscpica, e a sua configurao

    em soluo depende da relao entre as interaes polmero-

    polmero e polmero-solvente (tabela 1).1,5,11

    Polmeros ambientalmente sensveis podem apresentar um

    comportamento de gel reversvel, transio sol-gel, quando o seu

    peso molecular e concentrao em soluo so suficientes para

    que seja formada uma rede tridimensional. Hidrogel o nome

    frequentemente atribudo a gis polimricos cujo solvente a

    gua. 7

    Hidrogis fsicos tm uma importncia diferente dos hidrogis

    qumicos. Enquanto os primeiros formam redes transientes que

    podero ser extinguidas por adio de aditivos, sendo assim

    teis para aplicaes onde se pretende essa reversibilidade, os

    hidrogis qumicos mantm a sua integridade por perodos

    normalmente maiores, no so reversveis e necessitam de um

    iniciador para a reao. Os hidrogis fsicos so facilmente

    injetveis e tm uma frmula farmacutica mais simples, por

    dissoluo, revelando-se vantajosos em relao aos hidrogis

    qumicos.12

    Hidrogis fsicos formados por polmeros inteligentes sofrem

    rpidas mudanas reversveis na sua microestrutura. Para tal,

    requerido um apropriado balano hidroflico/hidrofbico na

    estrutura molecular do polmero para que a transio de fase

  • 6

    ocorra.6 Cadeias lineares em soluo passaro de um sistema

    monofsico a um sistema bifsico, devido ao colapso do

    polmero aps a aplicao de um estmulo externo.1,3 Algumas

    solues polimricas sofrem uma transio sol-gel que

    acompanha a separao de fase.5,12

    Tabela 1. Classificao da forma fsica das cadeias polmricas e os diferentes tipos de resposta.3,11

    A presente dissertao foca a classe de polmeros com

    capacidade para responder a variaes de temperatura, um

    estmulo simples de aplicar. Dentro desta classe foram estudados

    dois polmeros pertencentes famlia dos polmeros de

    acrilamida N-substituda, o Poli-N-isopropilacrilamida

    (PNIPAM) e o Poli-2-dimetilaminoetil metacrilato (PDMAEMA).

  • 7

    Ambos so homopolmeros lineares, sendo que o PDMAEMA

    tem uma resposta temperatura dependente do pH do meio.

  • 8

    1.2. Polmeros Termossensveis

    Polmeros termicamente sensveis sofrem uma transio de fase,

    a uma determinada temperatura de soluo crtica, o que reflete

    rpidas alteraes no estado de solubilidade. 2,3

    As solues aquosas destes polmeros podem exibir uma fase

    (estado isotrpico) abaixo da temperatura de soluo crtica, e

    duas fases acima desta (estado anisotrpico), sendo geralmente

    conhecida como temperatura de soluo crtica mnima (LCST,

    na sigla inglesa). Por outro lado, solues polimricas que se

    apresentam monofsicas acima da temperatura de soluo crtica

    e bifsicas abaixo desta, exibem uma temperatura de soluo

    crtica mxima (UCST, na sigla inglesa).2,3,10,13,14

    Os dois tipos de comportamento referidos podem ser explicados

    atravs da termodinmica, considerando a equao da energia

    livre de Gibbs ( ).3,10,11 Em causa, est o balano

    entre os efeitos hidrofbicos e o estado de ordem das molculas

    de gua nas proximidades do polmero.2 A transio de fase ocorre

    quando variaes de entalpia e entropia da mistura resultam em valores

    negativos de .15 O termo entlpico ( ) est relacionado com as

    interaes entre o polmero e o solvente, favorecendo a dissoluo do

    polmero, enquanto o termo entrpico ( ) se relaciona com as

    interaes hidrofbicas, levando precipitao do mesmo. 2,3,10,12

    Assim sendo, de notar que um comportamento LCST um processo

    entrpico, j um comportamento UCST um processo entlpico. 10

  • 9

    Figura 1. Diagramas de fase de solues polimricas no plano temperatura-concentrao. a) diagrama do tipo UCST; b) diagrama do tipo LCST.14

    Os hidrogis correspondentes possuem transies semelhantes,

    sendo as temperaturas de gel crticas mnima e mxima as LGTT

    e UGTT, nas respetivas siglas inglesas. 2

    Sistemas do tipo LCST e UCST no se restringem a solues

    aquosas, contudo as aplicaes de interesse biomdico so

    direcionadas para o uso destes polmeros em ambientes

    fisiolgicos, sendo por isso os mais estudados.2

  • 10

    1.2.1. Polmeros com comportamento do tipo LCST

    A famlia dos polmeros de acrilamida N-substituda o grupo

    mais representativo de polmeros que apresentam LCST (Figura

    2), entre os quais o PNIPAM o polmero mais estudado, por

    apresentar uma temperatura crtica entre a temperatura

    ambiente e a temperatura corporal humana.3,10

    Figura 2. Estrutura de polmeros que apresentam LCST. (a) Poli(N-isopropilacrilamida (PNIPAM); (b) Poli(N,N-dietilacrilamida) (PDEAAm); (c)

    Poli(dimetilaminoetil metacrilato) (PDMAEMA); (d) Poli(N-(L)-(1-hidroximetil) propilmetacrilamida) (PHMPMAA).3

    Os polmeros representados apresentam LCSTs de: (a) 33C, (b)

    26-35C, (c) 32C-53C e (d) 30C.2,3,10,16,17 Os monmeros que os

    constituem que lhes conferem as caractersticas LCST em meio

    aquoso. Alterando a composio do polmero atravs da

    incorporao de monmeros mais hidroflicos ou mais

    hidrofbicos, consegue-se uma deslocao da LCST das solues

    para temperaturas mais ou menos elevadas. 15

    As solues aquosas deste tipo de polmeros so caracterizadas

    por um comportamento de dissoluo inverso e

  • 11

    termorreversvel, acompanhado pelo aumento da turbidez da

    soluo, quando aquecidas acima de uma determinada

    temperatura. 10,11,18,19 Aparentemente, a baixas temperaturas, as

    solues so homogneas e transparentes, tornando-se opacas

    quando a temperatura excede a LCST.1,2

    Abaixo da LCST as cadeias apresentam-se em conformaes

    estendidas, rodeadas pelo solvente, predominando as interaes

    hidroflicas entre o polmero e o solvente. Acima da LCST a

    transio acompanhada pela desidratao das cadeias que

    passam a estar completamente empacotadas em forma de

    glbulos, devido ao crescente pronunciamento das interaes

    hidrofbicas.20 Por esta razo, geralmente denominada de coil-

    to-globule transition (Figura 3).12

    Figura 3. Comportamento termossensvel em soluo aquosa; "Coil-to-globule transition".

    O efeito hidrofbico promove que haja agregao de vrios

    glbulos com reduzida polaridade, quando em soluo aquosa.

    Este efeito resulta na formao de agregados cujo tamanho

    suficiente para dispersar a luz, causando a aparncia trbida.

  • 12

    A rapidez com que o mecanismo de resposta termorreversvel

    estabelecido foi atribuda a duas etapas consecutivas. Em

    primeiro lugar ao colapso das cadeias durante a transio coil-to-

    globule, e em segundo lugar, agregao dos glbulos

    resultantes.15,21 medida que as interaes hidrofbicas se

    tornam predominantes o polmero precipita formando uma fase

    inteiramente diferente, como um todo de agregados

    polimricos.1,2 A formao de precipitado no ocorre sempre,

    podendo ser substituda pela formao de um hidrogel caso a

    concentrao e/ou Mw do polmero sejam suficientemente

    elevados.

  • 13

    1.2.2. Poli-N-isopropilacrilamida

    Figura 4. Estrutura qumica do poli(N-isopropilacrilamida).3

    Os polmeros termossensveis mais estudados so as

    poliacrilamidas, em especial o polinipam, ou simplesmente

    PNIPAM.22,23,21 Existem outros polmeros solveis em gua que

    exibem comportamento do tipo LCST, mas o PNIPAM continua

    a ser o polmero com maior potencial em aplicaes biomdicas,

    por exibir uma temperatura crtica (LCST) prxima da

    temperatura corporal humana, entre 30-35C, embora seja muitas

    vezes considerada na literatura como 33C.24,25,26

    um homopolmero no inico que contm domnios

    hidroflicos e hidrofbicos abaixo e acima da LCST. 22 Aps a

    ocorrncia de precipitao, muitos dos grupos carbonil (83%)

    ainda formam pontes de hidrognio com a gua.12 A separao

    de fase acima da LCST reversvel e depende do balano

    hidroflico-hidrofbico, passando instantaneamente de uma

    soluo clara a uma soluo trbida.23,24

    A solubilidade do PNIPAM temperatura ambiente devida s

    pontes de hidrognio formadas entre os grupos amida

  • 14

    (RCONR2) e a gua. O aumento da temperatura para valores

    prximos da LCST provoca o crescente rompimento dessas

    ligaes, levando ao colapso gradual das cadeias. O carcter

    hidrofbico do polmero torna-se cada vez mais pronunciado

    com a contnua elevao da temperatura acima da temperatura

    crtica, induzindo a associao das cadeias em agregados de

    grandes dimenses. 21,24

  • 15

    1.2.3. Poli-2-dimetilaminoetil metacrilato

    Figura 5. Estrutura qumica do poli(2-dimetilaminoatil metacrilato).3

    O PDMAEMA um polmero cuja termossensibilidade

    dependente do pH.27 Possui aminas tercirias ao longo da sua

    cadeia que so protonadas em meio cido. 18,28 Ao contrrio do

    PNIPAM, o PDMAEMA exibe separao de fase (do tipo LCST)

    somente para uma determinada gama de pH.29 O seu pKa de

    aproximadamente 7, o que indica que a pH=4 as aminas esto

    praticamente todas ionizadas e o polmero completamente

    solvel em gua, isto porque a repulso eletrosttica entre as

    cargas geradas provoca uma rpida extenso da cadeia

    polimrica.1,3,18 Para alm disso, a existncia de contraies

    promove a solubilidade (efeito da entropia dos contraies) e um

    aumento de presso osmtica que favorece o swelling do

    polmero. Em solues neutras e bsicas o polmero passa a

    exibir um comportamento termossensvel, apresentando uma

    LCST entre 32C e 53C, dependendo do peso molecular do

  • 16

    polmero, pH do meio e concentrao de sal.18,27,30 O PDMAEMA

    possui grupos oxietileno (-O(CH2CH2)), possivelmente

    responsveis pela termossensibilidade do polmero, por

    inverterem a sua polaridade com a variao de temperatura.11,31

    Tal como acontece com o PNIPAM, o colapso das cadeias

    polimricas seguido da agregao intermolecular dos glbulos

    formados.

    O PDMAEMA e os copolmeros de PDMAEMA esto entre os

    polmeros anfiflicos mais importantes a nvel acadmico e

    industrial. Podem interagir com frmacos polianinicos, enzimas

    e DNA atravs de interaes eletrostticas, j que formam um

    policatio em condies cidas ou neutras.27, 29 Para alm disso,

    apresentam uma boa resposta pH/temperatura em soluo

    aquosa, bastante til no design de sistemas de libertao

    controlada de frmacos e genes.32

  • 17

    1.2.4. Mecanismos propostos para explicar a transio de fase

    Tm sido feitos esforos para compreender melhor o

    comportamento de transio de fase, e os parmetros que afetam

    a LCST.33 Certos autores atribuem o colapso das cadeias

    diminuio da polaridade de alguns segmentos polimricos com

    a temperatura, enquanto outros defendem a existncia de uma

    estrutura local nas molculas de solvente que rodeiam os grupos

    hidrofbicos do polmero, induzindo alteraes no efeito

    hidrofbico.15

    Ainda existem muitas incertezas acerca da

    solubilidade/insolubilidade do PNIPAM e dos demais

    polmeros com comportamentos semelhantes. Contudo, existem

    teorias que tentam explicar a natureza dessa separao de fase.

    Kojima et al. introduziram recentemente o conceito de

    hidratao cooperativa para tentar explicar a alta sensibilidade

    do PNIPAM.34,35,36

  • 18

    Figura 6."pearl-necklace conformation"; Ligaes entre grupos isopropil formam glbulos colapsados; sequncias de pontes H so formadas devido

    cooperatividade entre as molculas de gua mais prximas.37

    A cooperatividade na hidratao das cadeias polimricas

    causada pelo "sucesso" da ligao da primeira molcula de gua

    com um grupo amida do polmero, facilitando a ligao da

    molcula de gua seguinte e assim sucessivamente, causando o

    deslocamento dos grupos isopropil (hidrofbicos) e criando

    melhor acesso para a molcula seguinte. Esta ocorrncia

    consecutiva leva a uma conformao da cadeia parecida com um

    colar de prolas, conhecida como "pearl-necklace conformation"

    como mostra a figura 4.34 Quando a soluo aquecida, cada

    sequncia desidratada em grupo, resultando a rpida transio

    de fase, caracterstica do PNIPAM.35

  • 19

    J outros autores, Sarkar e Hussain, defendem que as molculas

    de gua formam uma estrutura rgida e local em redor dos

    grupos metilo (-CH3) impedindo a interao entre os grupos

    isopropil de cada monmero, o que leva total dissoluo do

    polmero temperatura ambiente. Quando a temperatura

    elevada acima da LCST, esta estrutura rgida das molculas de

    gua quebra, os grupos hidrofbicos associam-se, levando a uma

    consequente agregao intermolecular e a precipitao ou

    gelificao (gel fsico reversvel).38,39

    No caso de polmeros que possuam grupos oxietileno, como o

    polietileno (PEO), uma alterao na polaridade da cadeia leva

    separao de fase a elevadas temperaturas.11 Os grupos

    oxietileno podem adoptar 25 configuraes rotacionais com

    diferentes energias, das quais duas so polares e as outras 23 so

    apolares.31 As configuraes de menor energia (polares) so

    preferidas a baixas temperaturas e possuem um grande

    momento dipolar. Com o aumento da temperatura outras

    configuraes vo sendo favorecidas, com dipolos menores ou

    mesmo ausentes. A interao com a gua menos favorecida,

    reduzindo a hidratao do polmero e induzindo a associao

    hidrofbica. 11,31

  • 20

    Figura 5. Grupos oxietileno a baixas temperaturas (A) e a altas temperaturas (B).11

    Tal como o PEO e como j foi referido, o PDMAEMA possu

    grupos oxietileno na sua estrutura, o que poder estar na origem

    da sua termossensibilidade.

  • 21

    1.3. Co-solutos que alteram as propriedades dos polmeros

    1.3.1. Sais

    Hofmeister estudou o efeito da adio de sais a solues aquosas

    de protenas.40 Estudo que levou a concluir que os anies,

    presentes nos solutos inicos, em geral, tm um efeito bastante

    mais pronunciado do que os caties.41

    Figura 6. Srie de Hofmeister.

    Os anies mais esquerda so conhecidos como cosmtropos ou

    positivamente hidratados, enquanto aqueles que se encontram

    mais direita so conhecidos como catropos ou negativamente

    hidratados.41,42

    Yanjie Zhang et al., atravs dos seus estudos com um dispositivo

    microfluidico de gradientes de temperatura juntamente com

    microscopia de campo-escuro, determinaram o mecanismo de

    precipitao e agregao do PNIPAM, como resultado de

  • 22

    interaes com vrios anies. Esto 3 interaes envolvidas,

    dependendo de condies como, efeitos da tenso superficial,

    interao direta do anio com a macromolcula e a polarizao

    das molculas de gua que hidratam os grupos amida.41,43

    Figura 7. Trs interaes bsicas envolvidas no efeito de Hofmeister. (a) polarizao das molculas de gua que hidratam os grupos amida; (b) a tenso de superfcie tem efeitos na hidratao hidrofbica das macromolculas e pode ser

    modelada pela adio de sais; (c) interao direta do anio com os grupos amida.41

    As duas primeiras interaes esto envolvidas na precipitao

    do polmero (a e b), efeito caracterstico dos ies cosmtropos

    (ex: Cl-), enquanto a segunda est envolvida na solubilizao do

    polmero (c), efeito caracterstico dos ies catropos (ex: SCN-

    ).41,43,44

    Para este trabalho os dois sais usados foram o NaCl e o KSCN.

  • 23

    1.3.2. Surfatantes

    Os surfatantes, tambm designados de tensioativos, so

    compostos por duas partes, uma hidroflica (grupo polar) e uma

    hidrofbica (apolar), e a sua classificao feita segundo os

    grupos polares que os constituem.45

    Figura 8- Estrutura de um surfatante aninico.

    Assim podem ser classificados como: no-inicos, o grupo polar

    no possui carga; catinicos, o grupo polar tem carga positiva;

    aninicos, o grupo polar tem carga negativa e os zwiterionicos,

    com propriedades combinadas de tensioativos inicos e no-

    inicos.

    Para muitos sistemas polmero-surfatante, as molculas de

    surfatante so adsorbidas na cadeia do polmero formando

    agregados micelares. Os complexos formados entre o polmero e

    o surfatante so descritos pelo pearl necklace model como se

    pode ver na figura 21.46,47 Este modelo consiste em

    macromolculas decoradas com agregados micelares de SDS.

  • 24

    Figura 9. Estrutura do modelo pearl-necklace para os complexos polmero-surfatante.

    47

    A concentrao micelar crtica (cmc), a concentrao a partir da

    qual se formam as micelas de surfatante livre em soluo. Na

    presena de polmero essa mesma concentrao encontra-se um

    pouco abaixo da cmc e recebe o desgnio de concentrao de

    agregao crtica (cac).45 O SDS interage com o PNIPAM acima

    do cac (0,69mM a 25C), para formar complexos carregados. 46

    Em gua, a interao com os polmeros no-inicos geralmente

    mais forte com os surfatantes aninicos do que com os

    catinicos. Tal como para os sais, as explicaes sugeridas para

    esta diferena baseiam-se no tamanho dos grupos polares e na

    interao de cada io com a primeira camada de hidratao do

    polmero, que favorecida com os anies.45

    Neste trabalho foram usados o SDS, surfatante aninico, e o

    CTAB, catinico.

  • 25

    Captulo 2

    2. Experimental

    2.1. Materiais

    Foram sintetizadas e disponibilizadas, pelo Departamento de

    Engenharia Qumica, quatro amostras de polmeros sensveis a

    variaes de temperatura, duas de PNIPAM e outras duas de

    PDMAEMA. Os pesos moleculares (Mn) e os ndices de

    polidispersividade (Mw/Mn), obtidos atravs da cromatografia

    de permeao em gel (GPC), esto indicados na tabela seguinte.

    Tabela 2. Pesos moleculares mdios (Mn) das amostras e respetivos ndices de polidispersividade(Mw/Mn).

    Amostras (Mn) (Mw/Mn)

    PNIPAM (20k) 20,262 Da 3,40

    PNIPAM(39k) 39,384 Da 1,56

    PDMAEMA(11k) 11.651 Da 1,31

    PDMAEMA(19k) 19.603 Da 1,41

    Para efeitos de variao do pH da soluo de PDMAEMA, foram

    usados HCl diludo (cido) e NaOH (base). Para fazer variar o

    pH das solues, o ajuste foi feito atravs da adio de pequenos

  • 26

    volumes de NaOH/HCl e medindo seguidamente at se obter o

    valor pretendido.

    A fim de estudar efeitos na estabilidade dos dois polmeros em

    soluo, em relao separao de fase, foram usados como

    aditivos dois sais diferentes, um hidroflico (NaCl) e um

    hidrofbico (KSCN), e como co-solvente o etanol (C2H5OH). No

    caso dos sistemas com PNIPAM foram ainda usados dois tipos

    de surfatantes, um catinico, CTAB (98,0% pureza, Sigma

    Aldrich) e um aninico, o SDS (99% pureza, Sigma Aldrich).

    2.2. Tcnicas

    Neste trabalho as tcnicas usadas para o estudo do

    comportamento de fase dos polmeros foram: a espectroscopia

    UV-vis, importante para verificar que a transmitncia de luz de

    cada amostra decresce quando se faz aumentar a temperatura do

    sistema, devido disperso de luz causada pelos agregados

    polimricos que se formam acima da LCST; a reologia, para

    perceber o comportamento reolgico dos polmeros em soluo

    aquosa, a pH diferente e na presena de aditivos; o DLS para

    confirmar a presena de agregados hidrofbicos, sugerida pelo

    aumento do dimetro hidrodinmico das partculas a

    temperaturas acima da LCST.

    De seguida ser explicado o modo como as amostras foram

    preparadas, assim como os princpios de funcionamento de cada

    tcnica evidenciada.

  • 27

    2.2.1. Mtodo de preparao das amostras

    Nos testes de espectroscopia as solues dos dois polmeros

    encontram-se a uma concentrao de 5wt% em gua destilada.

    Primeiro pesada a massa de polmero necessria e em seguida

    colocada gua destilada at perfazer o volume total

    estabelecido. Para todas as tcnicas, as amostras so sempre

    agitadas at dissoluo total do polmero.

    Nos testes reolgicos o procedimento o mesmo para os

    sistemas contendo apenas o polmero e gua destilada. Quando

    se adicionam concentraes pequenssimas de aditivos, como no

    caso dos sais e surfatantes em que as concentraes esto abaixo

    de 1wt%, por uma questo de facilidade na pesagem, primeiro

    so pesadas as massas do sal/surfatante e s depois

    adicionado o polmero e a gua, na ordem j referida. No caso

    dos lcoois, pesada a massa de polmero, em seguida usada

    uma pipeta adequada para a quantidade de lcool calculada e o

    volume restante preenchido com gua destilada.

    Para os testes de DLS, o procedimento o mesmo que o

    explicado inicialmente, apenas usada uma concentrao mais

    baixa de 1wt%.

  • 28

    2.2.2. Espectrofotometria UV-Visvel

    A espectrofotometria um mtodo analtico que se baseia na

    interao da matria com a radiao eletromagntica (luz).

    Figura 10. Esquema ilustrativo da incidncia de luz sobre a amostra.

    A cor das amostras (luz transmitida) deve-se absoro e/ou

    disperso, de certos comprimentos de onda constituintes da luz

    branca e/ou UV.

    A transmitncia de luz de cada amostra, a diferentes

    temperaturas, foi medida usando o Shimadzu UV-VIS

    Spectrophotometer, UV-2450. Para a realizao dos grficos foi

    escolhido um comprimento de onda no intervalo do espectro de

    luz visvel, por forma a acompanhar a linha de transmitncia do

    mesmo comprimento de onda, antes, durante e aps a separao

    de fase de cada amostra.

  • 29

    2.2.3. Reologia

    A reologia a cincia que estuda o modo como a matria flui ou

    se deforma sob determinadas condies de teste, e assenta sobre

    as leis da viscosidade e da elasticidade propostas por Newton e

    Hooke, respectivamente.48,49,50 Slidos e fludos (lquidos ou

    gases), respondem de diferentes formas deformao, os

    primeiros so caracterizados por uma resposta elstica, enquanto

    os segundos seguem um fluxo viscoso. Os polmeros esto

    includos numa ampla classe de fludos complexos e so

    caracterizados pelas suas propriedades viscoelsticas.11 A

    contribuio de cada componente, viscosa ou elstica, varia

    consoante as condies de tenso, deformao e temperatura,

    assim como da concentrao e distribuio de pesos

    moleculares.48,51,52

    Viscosidade de Fludos Newtonianos

    A viscosidade uma propriedade quantificvel da deformao

    de um lquido e definida como uma medida de resistncia ao

    fluxo da matria.51

    O comportamento mais simples, e o que ser abordado, o de

    um Fludo Newtoniano. O modelo de Newton obedece a uma

    relao linear entre a tenso e a taxa de deformao, em que a

    constante de proporcionalidade a viscosidade, e esta depende

    apenas de fatores como a temperatura e a presso.51

  • 30

    Figura 11. Fluido Newtoniano. Tenso de deformao () em funo da taxa de deformao (D).11

    Este modelo segue o fluxo laminar simples. Se tivermos duas

    placas, uma delas mvel (placa superior), com uma separao

    constante entre elas, e esse espao for preenchido por um fluido,

    existe uma variao linear da taxa de fluxo na direo de y, e

    ento D igual em todas as direes.11,53

    Figura 12. Modelo de duas placas usado por Newton. F- fora (deformao) aplicada; A-rea das placas; h espao entre as placas e U viscosidade com que a

    placa superior se move.51

    De acordo com a figura, podemos definir alguns parmetros

    como:

    Tenso de deformao, (Pa)

    Deformao,

  • 31

    Taxa de deformao,

    (s-1)

    Todos os fludos se tornam no-Newtonianos, se a taxa de

    deformao for suficientemente elevada (Figura 7). A gua um

    solvente Newtoniano com uma viscosidade de 10-3 Pas.48 Para

    que se observasse um comportamento do tipo no-Newtoniano

    na gua, seriam necessrias velocidades na ordem de 1012 s-1.51

    Figura 13. Limite do comportamento de fludos Newtonianos.51

    Viscoelasticidade

    A viscoelasticidade pode ser estudada atravs de testes

    oscilatrios, medindo G (mdulo elstico) e G(mlulo viscoso).

    Os dois limites de comportamento observados para sistemas

    quase puros, so um lquido, quando G > G e a viscosidade

    dinmica independente da frequncia, ou um gel elstico,

    quando G > G, e a viscosidade dinmica decresce com a

    frequncia.11

  • 32

    A dependncia da viscosidade Newtoniana, foi estudada em

    funo da temperatura, usando o Thermo Scientific HAAKE

    MARS III, com um sistema de medida de cone e prato (dimetro:

    35 mm; ngulo: 1) (Figura 11) e configurao automtica do zero

    (zero gap, espao entre a placa e o cone). Possui um reservatrio

    de gua para controle de testes de temperatura, com largo

    intervalo de seleo de temperaturas (-150C a 600C). O

    HAAKE MARS III permite medir as propriedades viscoelsticas

    das solues polimricas em funo da deformao,

    alongamento, tempo, frequncia, tenso e temperatura. No

    presente trabalho, as propriedades viscoelsticas dos dois

    polmeros foram estudadas em funo da frequncia, para duas

    temperaturas distintas, abaixo e acima da LCST de cada

    polmero.

    Figura 14. Sistema de cone e prato; o ngulo entre o cone e o prato e r o raio de ambos.49

  • 33

    Testes Rotacionais

    Nos testes rotacionais de viscosidade vs. temperatura, a rampa

    de temperaturas escolhida foi de 20-50C com uma velocidade de

    aquecimento de 1C/3min.

    A tenso aplicada s amostras de PDMAEMA e PNIPAM(20k)

    foi de 1Pa. Para o PNIPAM(39k) a tenso usada foi de 10Pa. A

    tenso aplicada s amostras escolhida tendo em conta a fluidez

    observada das solues. Tenses mais baixas do que o necessrio

    chegariam a um ponto em que o cone deixaria de conseguir

    rodar sobre a amostra, surgindo valores negativos de

    viscosidade e indicando que a tenso no a mais apropriada.

  • 34

    2.2.4. Disperso Dinmica da Luz (DLS)

    A Disperso dinmica da luz (DLS), tambm conhecida como

    Espectroscopia de Correlao Fotnica (PCS), uma tcnica

    usada para medir o tamanho e a distribuio de tamanhos das

    molculas ou partculas, na regio do submicron.54,55,56 Esta

    tcnica aplicada a molculas dispersas ou dissolvidas num

    lquido, entre as quais podero ser protenas, polmeros, micelas,

    nanopartculas e colides, entre outras.54, 57

    O princpio usado bastante simples e assenta em dois

    pressupostos: todas as partculas em soluo seguem o

    movimento Browniano, um movimento aleatrio causado pelo

    choque com as molculas de solvente; o dimetro obtido o de

    uma esfera que tem o mesmo coeficiente de difuso translacional

    que a partcula a ser medida (figura 7).54,55

    Figura 15. Dimetro hidrodinmico.54

  • 35

    A esfera definida pela rotao da molcula em todas as

    direes com uma adicional camada de hidratao, modificada

    pela facilidade que o solvente tem em atravessar tal volume.58 O

    dimetro medido chamado de dimetro hidrodinmico e

    refere-se facilidade que as partculas tm em difundir num

    determinado fluido.54,55,58

    A amostra contida na clula iluminada por um feixe laser e as

    flutuaes da luz dispersa so detetadas a um determinado

    ngulo conhecido, por um fotodetetor de alta sensibilidade.56,57

    A intensidade da luz que detetada flutua a uma taxa que

    depende do tamanho das partculas. Naturalmente partculas

    mais pequenas movem-se mais rapidamente aquando do choque

    com as molculas de solvente.54, 57

    Figura 16. Flutuaes de intensidade ao longo do tempo como resultado da disperso de luz por parte das partculas contidas na amostra.

    59

    Quanto mais rapidamente as molculas difundirem, mais

    rpidas sero as variaes de intensidade. A velocidade dessas

  • 36

    mudanas est diretamente relacionada com o movimento das

    partculas. O coeficiente de difuso translacional dado pela

    intensidade de luz dispersa em funo do tempo. Fatores como a

    temperatura, a viscosidade do solvente, o tamanho da partcula e

    a estrutura da sua superfcie, concentrao e tipo de ies no

    meio, afetam o movimento das partculas. 55,56,58

    Correlacionando as flutuaes de intensidade determina-se o

    coeficiente de difuso translacional do movimento Browniano, e

    obtm-se a distribuio de tamanhos da populao existente na

    amostra atravs da relao de Stokes-Einstein:

    Onde Dh o dimetro hidrodinmico da partcula, k a

    constante de Boltzmann's, T a temperatura absoluta em graus

    Kelvin, a viscosidade do solvente e D0 o coeficiente de

    difuso translacional.54,55,58

    No presente trabalho foi usado o DelsaTM Nano C Submicron da

    Beckman Coulter, capaz de analisar amostras com concentraes

    de 0.001% a 40% e de medir tamanhos inferiores a 1nm (0.6 nm

    7 m). No necessita de grandes quantidades de amostra, sendo

    o mnimo necessrio de 60 l.56 O sistema possui 3 ngulos de

    deteo a 15, 30 e 165, o que permite determinar a distribuio

    de tamanhos total das partculas, enquanto que, se consistisse

    apenas de um ngulo fixo seria apenas possvel obter uma mdia

  • 37

    das distribuies num intervalo limitado de tamanhos.56,57 A

    temperatura a que as amostras podem ser submetidas varia

    entre os 15C 0.3C e os 90C 0.3C.56

  • 38

    Captulo 3

    3. Resultados e Discusso

    Na introduo foi dito que a resposta ao aumento da

    temperatura, acima da temperatura crtica (LCST), atribuda ao

    colapso individual das cadeias polimricas, seguido da

    agregao dos glbulos resultantes. Esta proposio suportada,

    no presente trabalho, por estudos reolgicos, espectroscpicos e

    de disperso dinmica de Luz (DLS).

    3.1. Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura

    Foram preparadas, inicialmente, solues de 2, 5 e 10% de cada

    amostra de polmero para um volume total de 2 ml de soluo,

    usando sempre a gua como solvente. Cada amostra foi

    mergulhada num banho de gua quente, fazendo variar a

    temperatura entre 20C a 50C, a fim de abranger um largo

    intervalo que compreende os valores limite da temperatura

    corporal humana. Para o PDMAEMA(11k), a transio de fase

    foi verificada entre os 38C e os 39C, com um aumento da

    turbidez da soluo, passando de um amarelo translcido a

  • 39

    opaco. Para o PDMAEMA(19k) a transio de fase revelou-se um

    pouco mais baixa, entre os 37C e os 38C, dado que o aumento

    do tamanho das cadeias polimricas em soluo reduz o espao

    entre polmeros acentuando as interaes hidrofbicas . Para as

    solues de PNIPAM, a transio foi verificada entre os 33C e os

    34C, com um aumento de turbidez bastante mais acentuado,

    passando de uma soluo completamente transparente a um

    branco totalmente opaco. Em simultneo, foram obtidas as

    curvas de dependncia da viscosidade Newtoniana com a

    temperatura. Os resultados iniciais so mostrados nas figuras

    seguintes.

    Figura 17. Soluo de 5wt% de PDMAEMA(11k) a pH=9,1. Dependncia da viscosidade Newtoniana do em funo da temperatura. Turbidez da soluo

    aquosa de PDMAEMA abaixo (A) e acima (B) da LCST.

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    PDMAEMA(11k)

    A

    B

  • 40

    Figura 18. Soluo de 5wt% de PNIPAM(39k). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura. Turbidez da soluo aquosa de PNIPAM

    abaixo (A) e acima (B) da LCST.

    Para temperaturas abaixo da LCST, as cadeias permanecem

    estendidas e hidratadas pelas molculas do solvente, o que

    indicado pela baixa viscosidade da soluo. Neste intervalo de

    temperaturas a soluo permanece transparente e homognea. O

    colapso das cadeias ocorre quando se atinge a temperatura

    critica. Neste ponto, o espao ocupado pelas cadeias menor, o

    que se traduz na diminuio da viscosidade e a soluo mantm-

    se transparente.

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ew

    ton

    ian

    a (P

    a.s)

    T (C)

    PNIPAM(39k)

    A

    B

  • 41

    Figura 19. Ilustrao do comportamento de fase do tipo LCST.

    A associao hidrofbica intermolecular das cadeias inicia

    quando a temperatura ultrapassa a LCST, levando ao aumento

    da viscosidade das solues, com a formao de largos

    agregados. Nas curvas de PNIPAM, o fenmeno que ocorre

    quando se atinge a LCST perfeitamente delineado. No caso do

    PDMAEMA, o ponto exato onde ocorre a transio de fase no

    to facilmente percetvel. Existe uma notria diferena de

    comportamentos entre os dois polmeros em soluo. Enquanto

    o PNIPAM revela uma resposta abrupta, imediatamente a seguir

    LCST, no caso do PDMAEMA essa resposta dada de uma

    maneira mais gradual, sugerindo mecanismos de transio de

    fase diferentes. Na seco 1.2.4. foram abordados alguns

    mecanismos propostos por alguns autores para a ocorrncia de

    separao de fase. No caso do PNIPAM, a resposta pode ser

    provocada pela quebra de uma estrutura rgida formada pelas

    molculas de gua e em redor dos grupos metilo (-CH3),

  • 42

    permitindo associaes hidrofbicas abruptas entre os grupos

    isopropil. As associaes hidrofbicas do PDMAEMA so mais

    moderadas, sugerindo que o mecanismo possa ser devido

    rotao gradual dos grupos oxietileno.

  • 43

    3.1.1. Influncia do peso molecular e concentrao em soluo

    Grfico 1. Efeito da variao do peso molecular do PNIPAM (solues de 5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da

    temperatura).

    Grfico 2. Efeito da variao do peso molecular do PDMAEMA (solues de 5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da

    temperatura).

    No caso das solues de PNIPAM, o peso molecular tem uma

    notvel influncia na viscosidade do polmero, diferindo quase

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    PNIPAM(39k)

    PNIPAM(20k)

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    PDMAEMA(11k), pH=9,1

    PDMAEMA(19k), pH=8,2

  • 44

    por um fator de 100. Quanto maior o peso molecular, mais

    elevada ser a viscosidade da soluo e maior ser a

    probabilidade de ocorrncia de uma transio sol-gel. Com o

    aumento do peso molecular do polmero o espao entre as

    cadeias reduz-se, possibilitando um maior nmero de

    associaes hidrofbicas entre elas e conduzindo formao de

    um gel fsico (rede tridimensional reticulada). No que toca

    LCST do polmero, esta mantm-se muito prxima, no sendo

    notvel alguma dependncia com o peso molecular. De acordo

    com a literatura, alguns autores afirmam que a LCST das

    solues de PNIPAM independente do peso molecular,

    enquanto outros afirmam ser diretamente dependente ou ainda

    inversamente dependente do peso molecular.26 As diferenas

    revelam-se particularmente notveis quando se comparam

    resultados de amostras com pesos moleculares elevados com

    amostras de pesos moleculares relativamente baixos (Mw

  • 45

    deslocada para um valor mais baixo, que neste caso varia de -

    1C. J a viscosidade da soluo mantem-se dentro dos mesmos

    valores. Estes dados podero significar que o 5wt% de PNIPAM

    39kDa superior concentrao crtica, ou seja, concentrao

    onde se inicia o regime semi-diludo e as cadeias se comeam a

    entrelaar. Ao reduzir a Mw do polmero para 20kDa h uma

    diminuio clara da viscosidade, possivelmente atribuda a uma

    passagem para o sistema diludo. Nos sistemas com

    PDMAEMA, a invarincia da viscosidade com o aumento da

    Mw indicativo de que os sistemas esto ambos no regime

    diludo.

    No que diz respeito variao da concentrao das amostras em

    soluo, para concentraes muito baixas de PNIPAM, os

    glbulos resultantes da transio coil-to-globule formam tambm

    agregados, s que estes so to pequenos que no conseguem

    formar pontes entre eles, no se formando por isso uma

    estrutura tridimensional. Para concentraes mais elevadas os

    valores crescentes de viscosidade no apresentam variaes

    significativas, e por isso foram sempre usadas solues com

    concentraes de 5wt%, nos estudos decorrentes. A LCST

    aparenta ser a mesma para qualquer das concentraes. Para o

    PDMAEMA, a LCST diminui com o aumento da concentrao

    em soluo. Havendo maior quantidade de polmero em

    soluo, o nmero de associaes hidrofbicas cresce, ou seja, a

    associao intermolecular aumenta, e o polmero transita de fase

  • 46

    a uma temperatura mais baixa. Posto isto, a viscosidade tambm

    ser menor para concentraes mais baixas. Acima da LCST a

    viscosidade aumenta com o aumento da concentrao de

    polmero em soluo. A 2wt%, possivelmente no se formar

    uma estrutura tridimensional na ntegra, existindo em soluo

    apenas aglomerados de glbulos.

    Grfico 3. Efeito da variao da concentrao de PNIPAM(39k). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da temperatura).

    0,0001

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    1000000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    2wt%

    5wt%

    10wt%

  • 47

    Grfico 4. Efeito da variao da concentrao do PDMAEMA(11k). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da temperatura).

    0,0001

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    2wt%, pH=9,2

    5wt%, pH=9,1

    10wt%, pH=9,1

  • 48

    3.1.2. Influncia do pH do meio

    Grfico 5. Efeito da variao do pH da soluo de PDMAEMA(11k) (solues de 5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura

    (subida da temperatura).

    O PDMAEMA um polmero que possui grupos ionizveis, em

    meio cido, ao longo da estrutura da sua cadeia (aminas

    tercirias). Dessa forma, o polmero solvel no intervalo de

    temperaturas selecionado, a pH baixo. Esta boa relao do

    polmero com a gua traduz-se numa impossibilidade de haver

    gelificao, como se pode ver pela curva cuja soluo apresenta

    um pH de 2,7: no verificada qualquer transio de fase.

    medida que o pH aumenta acima de 7, um pequeno aumento na

    viscosidade comea a ser evidenciado, tornando-se cada vez

    mais pronunciado medida que o pH aumenta para valores

    cada vez mais elevados de basicidade (pH=9,1). Dada esta

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    pH=9,1

    pH=2,1

  • 49

    dependncia da resposta temperatura com o pH do meio,

    evidente que medida que o pH aumenta e as aminas so

    desprotonadas (polmero neutro), o aumento da hidrofobicidade

    do polmero leva diminuio da LCST.

    Grfico 6. Efeito da variao do pH da soluo de PNIPAM(39k) (solues de 5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura.

    (subida da temperatura).

    Relativamente ao grfico do PNIPAM, sendo um polmero

    neutro, a LCST no varia com o pH. Existe apenas uma ligeira

    diminuio da viscosidade da soluo a pH=1,4, que pode ser

    explicada pela presena de uma quantidade mais elevada de ies

    H+ e Cl-. Embora residualmente, estes ies competem pela gua,

    levando desidratao parcial do polmero e consequente

    diminuio de tamanho e de viscosidade.

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    pH=8,7

    pH=1,4

  • 50

    3.1.3. Influncia da adio de aditivos e co-solventes na

    temperatura crtica

    A qualidade do solvente um importante parmetro, cujos

    efeitos na viscosidade devem ser considerados.11, 51

    Figura 20. Efeito da qualidade do solvente na configurao do polmero.51

    Uma vez que o comportamento termossensvel depende das

    interaes entre o solvente e o polmero e do balano

    hidroflico/hidrofbico na estrutura do polmero, pretendemos

    saber se determinados aditivos iro influenciar a localizao da

    temperatura crtica. Sais, surfatantes e co-solventes presentes nas

    solues aquosas de polmeros, causam alteraes nas interaes

    polmero-solvente ou no balano hidroflico/hidrofbico do

    polmero. Os surfatantes, por exemplo, so adsorvidos na

    estrutura do polmero, gerando complexos polmero-surfatante

    com propriedades distintas.2

  • 51

    3.1.3.1. Efeito da adio de co-solventes

    Grfico 7. Efeito da adio de diferentes concentraes de etanol soluo de PNIPAM(39k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida da temperatura).

    Grfico 8. Efeito da adio de diferentes concentraes de etanol soluo de PDMAEMA(19k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida da temperatura).

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ew

    ton

    ian

    a (P

    a.s)

    T (C)

    0wt% etanol

    10wt% etanol

    100wt% etanol

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    0wt% etanol

    5wt% etanol

    10wt% etanol

  • 52

    Os resultados mostram que a presena de etanol faz aumentar a

    viscosidade das solues de PDMAEMA a baixas temperaturas.

    Este facto deve-se provvel grande compatibilidade entre o

    etanol e o polmero, que promove um aumento do tamanho do

    polmero na soluo e consequente aumento da viscosidade. A

    temperaturas mais elevadas, a presena de etanol faz aumentar a

    LCST, uma vez que o etanol torna o PDMAEMA mais estvel em

    soluo. Para alm disso, a adio de etanol, um solvente menos

    polar do que a gua, ir promover que as associaes

    hidrofbicas no ocorram de um modo to forte como se o

    solvente fosse gua, uma vez que a driving-force para a

    associao hidrofbica ser menor quando o solvente tem menor

    polaridade. Assim, a presena de etanol promove um aumento

    da LCST por ser necessria uma temperatura mais alta e maior

    hidrofobicidade nas molculas para se iniciar a construo das

    pontes hidrofbicas inter-agregados. O valor mximo de

    viscosidade obtido em solues com lcool sempre inferior ao

    das solues sem lcool, pelo enfraquecimento que o lcool

    promove nas interaces hidrofbicas. Um sistema com 10% de

    etanol no apresenta qualquer LCST na gama de temperaturas

    estudadas.

    Com o PNIPAM, o efeito oposto. O PNIPAM mais solvel em

    gua do que em etanol, facto sugerido pela diminuio da

    viscosidade na presena de etanol, a baixas temperaturas. Ao

    induzir a compactao do PNIPAM, o etanol est a desviar a

    LCST para valores mais baixos. A adio de 10% de etanol, faz

  • 53

    deslocar a LCST da soluo pelo menos -9C. Na literatura, so

    reportados casos semelhantes, mas com o uso de metanol como

    co-solvente.35,61 A este fenmeno atribudo o nome de co-no-

    solvncia, ou seja, dois solventes que so bons para o polmero

    separadamente, tornam-se maus quando misturados.24 A

    mistura voltar a tornar-se num bom solvente quando for

    maioritariamente composta por etanol/metanol. Tanaka et al.

    atribuem este peculiar comportamento competio pelas

    interaes hidroflicas, entre a gua e o metanol, com o polmero.

    35

    Em geral, a adio de lcoois a solues de PNIPAM, diminui a

    LCST.62 Quanto maior for a cadeia do lcool, mais rpido ser

    esse decrscimo (Figura 15).

    Figura 21. Efeito de vrios lcoois na LCST do PNIPAM.62

  • 54

    3.1.3.2. Efeito da adio de sais

    Os eletrlitos so conhecidos por elevarem ou diminurem a

    LCST dos polmeros, devido aos seus ies individuais e

    habilidade que eles tm em alterar a estrutura das molculas de

    gua nas proximidades do polmero.24, 41,44,62

    A mesma concentrao de dois sais diferentes, cloreto de sdio

    (NaCl) e tiocianato de potssio (KSCN), foi adicionada a

    solues contendo PNIPAM(20k) e PDMAEMA(19k). Os dois

    sais foram escolhidos por terem propriedades distintas, descritas

    anteriormente. O SCN- mais hidrofbico do que o NaCl e tem

    maior preferncia pela adsoro ao longo da cadeia polimrica.

    Grfico 9. Efeito da adio de 2 sais diferentes soluo de PNIPAM(20k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da

    temperatura).

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    0wt% sal

    0,5wt% NaCl

    0,5wt% KSCN

  • 55

    Grfico 10. Efeito da adio de 2 sais diferentes soluo de PDMAEMA(19k). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da temperatura (subida da

    temperatura).

    A LCST de ambos os polmeros decresce na presena de NaCl,

    enquanto que na presena de KSCN aumenta, com um efeito

    muito mais pronunciado na soluo de PDMAEMA.

    O SCN- menos estvel em gua do que o Cl- e adsorve ao longo

    da cadeia polimrica. O polmero assim convertido num

    polieletrlito que, embora muito fraco, possui cargas que o

    mantm solvel em gua mesmo acima da LCST original. S

    quando a cadeia polimrica est fortemente hidrofobizada que

    o polmero compacta e colabora na construo da rede

    tridimensional com base nas pontes hidrofbicas entre os

    agregados. Dessa forma, a presena de um sal hidrofbico

    desloca a LCST para valores superiores.

    O NaCl um sal hidroflico e tem um papel oposto ao do KSCN.

    O NaCl quando em soluo comete com o polmero pela gua,

    causando uma desidratao parcial. Este efeito foi apresentado

    0,0001

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    0wt% sal

    0,5wt% NaCl

    0,5wt% KSCN

  • 56

    na literatura para explicar a diminuio do Cloud Point de

    surfatantes no inicos.11 O NaCl conduz assim compactao

    polimrica e consequente diminuio da LCST.

  • 57

    3.1.3.3. Efeito da adio de surfatantes inicos, no caso do PNIPAM

    sabido, da literatura, que surfatantes aninicos como o SDS,

    so capazes de solubilizar molculas polimricas em gua.25

    Uma vez que a temperatura crtica da soluo de PNIPAM se

    encontra abaixo da temperatura para a aplicao pretendida,

    foram adicionadas diferentes quantidades de SDS com o objetivo

    de deslocar a LCST para valores mais elevados.

    Grfico 11. Efeito da adio de diferentes concentraes de SDS soluo de PNIPAM(39k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida de temperatura).

    A cac do SDS na presena de PNIPAM de 0,69 mM.46 As

    concentraes de SDS no grfico esto acima desse valor (17-

    24mM).

    O surfatante atua como se fizesse parte do polmero, rodeando

    os grupos hidrofbicos e tornando-o num polieletrlito, com

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ewto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    0wt% SDS

    0,5wt% SDS

    0,6wt% SDS

    0,7wt% SDS

  • 58

    uma conformao mais estendida. Da os valores de viscosidade

    mais baixos. A LCST desloca-se para valores elevados com a

    adio de SDS. Isso devido ao aumento do carcter hidroflico

    do polmero.

    Foram tambm usadas diferentes concentraes de um

    surfatante catinico, o CTAB. A cac deste surfatante na presena

    de PNIPAM de 7,6 mM a 25C.46

    Grfico 12. Efeito da adio de diferentes concentraes de CTAB soluo de PNIPAM(39k) (5wt%). Dependncia da viscosidade Newtoniana em funo da

    temperatura (subida de temperatura).

    O efeito da deslocao da LCST para valores mais elevados

    maior em sistemas com SDS, o que mostra que o PNIPAM

    interage mais fortemente com o SDS do que com o CTAB.

    Mesmo a baixas concentraes de SDS, o efeito verificado,

    enquanto que em sistemas com CTAB so requeridas

    concentraes mais elevadas. Como j foi referido na introduo,

    as explicaes sugeridas baseiam-se no tamanho dos grupos

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    1000000

    10000000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ew

    ton

    ian

    a (P

    a.s)

    T (C)

    0wt% CTAB

    0,5wt% CTAB

    1wt% CTAB

    5wt% CTAB

  • 59

    polares que os constituem e na interao de cada io com a

    primeira camada de hidratao do polmero, que favorece a

    interao com os surfatantes aninicos.

  • 60

    3.2. Turbidez das solues em funo da temperatura

    O aumento da turbidez da soluo resultado da disperso da

    luz por parte dos agregados formados acima da temperatura

    crtica (LCST). Atravs da anlise espectroscpica de

    transmitncia a diferentes temperaturas, dentro da regio de

    comprimentos de onda do visvel, podemos facilmente observar

    uma diminuio, na luz que atravessa a amostra, acima da LCST

    de cada polmero.

    Grfico 13. Transmitncia das amostras PNIPAM(20k) e PDMAEMA(11k). Comprimento de onda selecionado: = 450 nm.

    Para a amostra de PNIPAM, a diminuio na transmitncia, a

    uma temperatura imediatamente acima da LCST (35C), mais

    evidente quando comparada com a amostra de PDMAEMA, que

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    110

    20 25 30 35 40 45 50 55

    T(%

    )

    T(C)

    PNIPAM(5wt%)

    PDMAEMA(5wt%) (pH=9,1)

  • 61

    quase impercetvel a 40C. S para valores mais elevados da

    temperatura que a diminuio na transmitncia se torna bem

    evidenciada, podendo indicar um aumento da intensidade das

    interaes hidrofbicas que levar formao de agregados cada

    vez maiores.

  • 62

    3.3. Dimenso das partculas em funo da temperatura

    Grfico 14. Variao do dimetro hidrodinmico das partculas (Dh) com o aumento da temperatura.

    Ambas as curvas resultantes mostram que o tamanho das

    partculas aumenta para valores acima da LCST. Pode perceber-

    se ainda que existe uma diferena no comportamento de cada

    um deles, que vai de acordo com os resultados evidenciados

    anteriormente pela transmitncia de cada amostra. As partculas

    de PNIPAM aumentam dez vezes o seu tamanho para valores

    imediatamente acima da LCST, enquanto as partculas de

    PDMAEMA aumentam cerca de seis vezes. A 45C, o tamanho

    das partculas mximo, o que se mostra em concordncia com a

    anlise feita anteriormente para as curvas de transmitncia.

    A temperaturas mais elevadas, o tamanho das partculas de

    ambos os polmeros comea a decrescer, devido ao carcter mais

    hidrofbico dos polmeros que vai promover maior compactao

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1000

    20 25 30 35 40 45 50 55

    Dh

    (nm

    )

    T(C)

    PNIPAM(1wt%)

    PDMAEMA(1wt%) (pH=9,2)

  • 63

    da rede formada. A temperaturas ainda mais elevadas ocorre

    destruio do hidrogel, devido quebra de ligaes que unem os

    agregados, devido compactao e aumento da distncia entre

    eles.

    Podemos ento afirmar, que existe uma forte relao entre o

    tamanho das partculas, a turbidez das solues e o aumento da

    viscosidade (grficos 15 e 16). Elevando a temperatura acima da

    LCST, aumenta o tamanho das partculas devido formao dos

    agregados polimricos, assim como a viscosidade, devido

    formao de uma rede tridimensional, e a soluo torna-se turva

    como resultado da luz dispersa pelos largos agregados.

    Grfico 15. Perfil de viscosidade Newtoniana, dimetro hidrodinmico das partculas e transmitncia de luz da amostra com o aumento da temperatura das

    solues. Solues de 5wt% PNIPAM(20k) para as medidas da viscosidade Newtoniana e transmitncia de luz e de 1wt% para a obteno do dimetro

    hidrodinmico das partculas.

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    0.001

    0.01

    0.1

    1

    10

    100

    1000

    10000

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Di

    me

    tro

    hid

    rod

    inm

    ico

    (n

    m)

    Vis

    cosi

    dad

    e N

    ew

    ton

    ian

    a (P

    a.s)

    T (C)

    Viscosidade Newtoniana

    Dimetro

    hidrodinmico

    Transmitncia

    100

    75

    50

    25

    0

    Tran

    smit

    nci

    a (%

    )

  • 64

    Grfico 16. Perfil de viscosidade Newtoniana, dimetro hidrodinmico das partculas e transmitncia de luz da amostra com o aumento da temperatura das

    solues. Solues de 5wt% PDMAEMA(11k) para as medidas da viscosidade Newtoniana e transmitncia de luz e de 1wt% para a obteno do dimetro

    hidrodinmico das partculas.

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    0.001

    0.01

    0.1

    1

    10

    100

    15 20 25 30 35 40 45 50 55

    Di

    me

    tro

    hid

    rod

    inm

    ico

    (n

    m)

    Vis

    cosi

    dae

    Ne

    wto

    nia

    na

    (Pa.

    s)

    T (C)

    Viscosidade Newtoniana

    Dimetro

    hidrodinmico

    Transmitncia

    100

    75

    50

    25

    0

    Tran

    smit

    nci

    a (%

    )

  • 65

    3.4. Propriedades viscoelsticas

    Para ambos os polmeros, foram estudadas as mudanas

    estruturais da soluo durante a separao de fase, atravs de

    testes oscilatrios (mdulos dinmicos: G e G), para duas

    temperaturas, uma abaixo e outra acima da LCST.

    Grfico 17. Mdulo elstico (G) e viscoso (G) em funo da frequncia para a soluo de PNIPAM(20k) a: a) 30C(LCST). A imagem mostra

    uma soluo lquida acima da LCST.

    0,000001

    0,00001

    0,0001

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    0,01 0,1 1

    G',G

    '' (P

    a); |

    *|

    (Pa.

    s)

    f (Hz)

    a)

    G'

    G''

    |*|

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    0,01 0,1 1

    G',G

    '' (P

    a); |

    *|

    (P

    a.s)

    f (Hz)

    b)

    G'

    G''

    |*|

  • 66

    Grfico 18. Mdulo elstico (G) e viscoso (G) em funo da frequncia para a soluo de PNIPAM(39k) a: a) 30C(LCST). A imagem mostra um

    gel acima da LCST.

    A soluo de PNIPAM(20k) um lquido Newtoniano para

    ambas as temperaturas (G > G), enquanto a soluo B mostra

    um comportamento Newtoniano abaixo da LCST e propriedades

    0,00001

    0,0001

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    10

    0,01 0,1 1

    G',G

    '' (P

    a); |

    *|

    (Pa.

    s)

    f (Hz)

    a)

    G'

    G''

    |*|

    1

    10

    100

    1000

    10000

    0,01 0,1 1

    G',G

    '' (P

    a); |

    *|

    (Pa.

    s)

    f (Hz)

    b)

    G'

    G''

    |*|

  • 67

    elsticas acima da LCST (G > G). Na figura B pode observar-se

    o aspeto de gel que a soluo apresenta acima da LCST. Massas

    moleculares, ou concentraes, mais elevados so requeridos

    para que haja formao de um gel fsico.

    Grfico 19. Mdulo elstico (G) e viscoso (G) em funo da frequncia para: a) 34C(LCST). A imagem mostra uma soluo lquida acima da

    LCST.

    0,000001

    0,00001

    0,0001

    0,001

    0,01

    0,1

    1

    0,01 0,1 1

    G',G

    '' (P

    a); |

    *|

    (Pa.

    s)

    f (Hz)

    a)

    G'

    G''

    |*|

    0,1

    1

    10

    100

    0,01 0,1 1

    G',G

    '' (P

    a); |

    *|

    (Pa.

    s)

    f (Hz)

    b)

    G'

    G''

    |*|

  • 68

    Para as amostras de PDMAEMA o G sempre maior que o G,

    o que significa que a soluo tem um carcter lquido.

  • 69

    3.5. Reprodutibilidade do sistema PNIPAM-gua

    Figura 22. Ciclos de subida e descida da temperatura usando a mesma soluo de PNIPAM(20k) de 5wt%. a) e c) representam as subidas e b) e d) representam as descidas. Os grficos foram obtidos pela ordem alfabtica representada, com

    velocidades de aquecimento e arrefecimento iguais (1C/3min).

    Os ciclos de temperatura seguidos mostram que as solues de

    PNIPAM mantm a sua integridade fsica depois de vrias

    subidas e descidas de temperatura. portanto, um sistema

    perfeitamente reprodutvel para ser usado como sensor de

    temperatura, mantendo a credibilidade nas respostas.

    As LCST nas curvas de descida indicam que a reversibilidade do

    sistema quando em arrefecimento um pouco mais lento, com -

    2C de diferena. Isto porque, presumivelmente, so formadas

    pontes de hidrognio intramoleculares a elevadas temperaturas

    (estado de glbulos), o que torna mais difcil a dissoluo do

    polmero quando se torna a arrefecer o sistema.

  • 70

    Captulo 4

    4. Concluso

    O estudo desenvolvido demonstra como a estabilizao das

    solues dos dois polmeros podem ser afetadas por fatores

    como a concentrao de polmero, o pH (no caso do

    PDMAEMA) e a adio de sais, solventes, e surfatantes inicos.

    Provou-se como estes fatores podem fazer deslocar a LCST para

    valores desejados, consoante a exigncia de cada aplicao.

    Para amostras de PNIPAM acima de 20kDa, o peso molecular

    no influencia a LCST da soluo. No caso do PDMAEMA, a

    LCST diminui com o aumento do peso molecular. Cadeias

    maiores reduzem o espao ent