Caracterização de rearranjos cromossômicos aparentemente ... · IV.4 Translocação...
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ANA CAROLINA DOS SANTOS FONSECA
Caracterizao de rearranjos cromossmicos
aparentemente equilibrados associados a
quadros clnicos
Dissertao apresentada ao Instituto de
Biocincias da Universidade de So
Paulo, para a obteno de Ttulo de
Mestre em Cincias, na rea de
Biologia/Gentica
So Paulo
2011
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ANA CAROLINA DOS SANTOS FONSECA
Caracterizao de rearranjos cromossmicos
aparentemente equilibrados associados a
quadros clnicos
Dissertao apresentada ao Instituto de
Biocincias da Universidade de So
Paulo, para a obteno de Ttulo de
Mestre em Cincias, na rea de
Biologia/Gentica
So Paulo
2011
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Orientadora: Dra. Angela M. Vianna Morgante
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FONSECA, ANA CAROLINA DOS SANTOS
Caracterizao de rearranjos cromossmicos aparentemente equilibrados
associados a quadros clnicos
Dissertao (Mestrado) - Instituto de Biocincias da Universidade de So
Paulo, Departamento de Gentica e Biologia Evolutiva
1. Rearranjos cromossmicos equilibrados 2. Alteraes cromossmicas
submicroscpicas 3. Hibridao in situ fluorescente 4. Hibridao
genmica em microarray
Universidade de So Paulo. Instituto de Biocincias. Departamento de
Gentica de Biologia Evolutiva
Comisso Julgadora
________________________________ ________________________________
Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).
_________________________
Orientadora
-
Este trabalho foi realizado com auxlios financeiros da Fundao de Amparo Pesquisa
do Estado de So Paulo concedidos orientadora (FAPESP CEPID 1998/14254-2) e
aluna (FAPESP 2009/03480-8).
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Deus
Aos meus amigos
Aos meus familiares
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Agradecimentos
Agradeo:
Ao Departamento de Gentica e Biologia Evolutiva do Instituto de Biocincias da
Universidade de So Paulo, pela possibilidade de realizao deste trabalho.
Dra. Angela M. Vianna Morgante, pela orientao neste projeto, por todos os
ensinamentos, pela amizade e confiana depositada em mim.
Dra. Juliana F. Mazzeu, pelos primeiros ensinamentos, pela amizade e por toda ajuda
que me ofereceu durante esses anos.
s Dras. Ana Cristina Krepischi e Carla Rosenberg, pelos ensinamentos sobre a-CGH,
pelos auxlios e colaborao neste estudo.
Dra. Regina Clia Mingroni Netto, pelos auxlios e ajuda ao longo desses anos.
Ao Prof. Paulo Otto, pelos auxlios e ensinamentos clnicos.
s Dras. Simone Aparecida Siqueira da Fonseca e Sylvie Antonini, pela permisso da
continuidade de seus trabalhos.
Maraisa, por todo apoio, amizade e ajuda durante esses anos e pelo auxlio na edio
deste trabalho.
Aos tcnicos Ftima, Mara, Paulo e Lgia, pela ajuda e amizade.
Aos colegas do Laboratrio de Gentica Humana, Silvia, Sarita, Rafaella, Adriano,
Jos, Larissa, Jacar, Lilian, Teresa, Ana Carla, Rezinha, Karina, Daniela, Vitor e
Daniel pela ajuda, amizade e momentos de descontrao.
famlia dos pacientes, pela colaborao.
minha famlia, pelo apoio ao longo dos anos.
Aos meus amigos queridos pela compreenso, ateno e incentivo dado a todo o
momento.
Deus por ter me dado fora em todos os momentos da minha vida.
-
ndice
I. INTRODUO ........................................................................................................................ 2
I.1 Tcnicas de estudo cromossmico ........................................................................................... 2
I.2 Mecanismos de formao de rearranjos cromossmicos ......................................................... 5
I.3 Rearranjos cromossmicos equilibrados associados a sinais e sintomas clnicos ................... 9
Interrupo de genes pelas quebras cromossmicas .............................................................. 11
Formao de gene hbrido ...................................................................................................... 14
Efeito de posio ..................................................................................................................... 16
Dissomia uniparental .............................................................................................................. 18
Perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos .................................................................. 19
II. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 24
III. PACIENTES E MTODOS ................................................................................................ 26
III.1 Pacientes ................................................................................................................................ 26
III.2 Mtodos ................................................................................................................................. 26
III.2.1 Estudo cromossmico ................................................................................................. 26
Preparaes cromossmicas....................................................................................... 26
Identificao dos rearranjos cromossmicos ............................................................. 27
Mapeamento dos pontos de quebra ............................................................................ 27
III.2.2 Busca de microdelees e duplicaes ...................................................................... 28
III.2.3 Padro de inativao do cromossomo X .................................................................... 30
Metilao do gene AR ............................................................................................... 30
Incorporao de 5-BrdU .......................................................................................... 31
IV. RESULTADOS E DISCUSSO .......................................................................................... 33
IV.1 Translocaes cromossmicas que provavelmente afetam a expresso do gene SOX9 ....... 33
IV.1.1 Translocao t(7;17)(p13;q24) .................................................................................. 33
Aspectos Clnicos ...................................................................................................... 33
Mapeamento dos pontos de quebra da t(7;17) por FISH .......................................... 34
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH ...... 34
Genes mapeados no segmento dos pontos de quebra ................................................ 34
IV.1.2 Translocao t(17;20)(q24.3;q11.2) .......................................................................... 38
Aspectos Clnicos ...................................................................................................... 38
Mapeamento dos pontos de quebra da t(17;20) por FISH ........................................ 39
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH ...... 39
Genes mapeados no segmento dos pontos de quebra ................................................ 39
IV.1.3 As translocaes t(17;20)(q24.3;q11.2) e t(7;17)(p13;q24.3) e o gene SOX9 .......... 43
O gene SOX9 no desenvolvimento ............................................................................. 43
O gene SOX9 e rearranjos cromossmicos ............................................................... 44
Identificao de elementos reguladores do gene SOX9 ............................................ 47
O espectro fenotpico PRS-ACD-CD e sua relao com a regio reguladora do
gene SOX9 .................................................................................................................
48
Busca de elementos conservados no codificadores nas unidades de regulao
de PRS, ACD e de enhancers para o desenvolvimento testicular .............................
54
Influncia, na expresso do SOX9, de sequncias de outros cromossomos
participantes de translocaes com o cromossomo 17 .............................................
58
IV.2 Translocao cromossmica associada a microdelees em cis a ponto de quebra:
t(10;21)(p13;q22) ..................................................................................................................
60
Aspectos Clnicos .................................................................................................................. 60
Mapeamento dos pontos de quebra translocao por FISH ................................................ 61
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH ................ 63
Genes mapeados no segmento dos pontos de quebra ......................................................... 69
Genes mapeados nos segmentos das delees do cromossomo 10 ..................................... 70
Genes candidatos ................................................................................................................. 71
Mecanismo de formao da t(10;21) ................................................................................... 77
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IV.3 Translocao t(X;22)(q22;q13) associada a duplicao do gene PLP1 e doena de
Pelizaeus-Merzbacher em menina ........................................................................................
80
Aspectos Clnicos .................................................................................................................. 80
Mapeamento dos pontos de quebra translocao por FISH ................................................ 81
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH .................. 84
Genes mapeados nos segmentos da duplicao ................................................................... 87
Padro de inativao do cromossomo X .............................................................................. 87
Genes candidatos ................................................................................................................... 90
O gene PLP1 .......................................................................................................................... 91
a)O gene PLP1 e a doena de Pelizaeus-Merzbacher .......................................................... 91
b)Mulheres sintomticas portadoras de duplicaes que incluem o PLP1 .......................... 93
Mecanismo de formao da t(X;22) ...................................................................................... 95
IV.4 Translocao cromossmica familial associada a duplicao e delees
submicroscpicas ...................................................................................................................
99
Aspectos Clnicos .................................................................................................................. 99
Mapeamento dos pontos de quebra da translocao por FISH ........................................... 101
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH e
validao por FISH ..............................................................................................................
101
Mecanismo de formao da t(2;5;22) .................................................................................. 105
A importncia da combinao de a-CGH e de FISH na caracterizao do rearranjo
cromossmico .......................................................................................................................
105
O efeito clnico do rearranjo cromossmico ......................................................................... 118
a ) A duplicao do brao longo do cromossomo 5 ........................................................ 118
b) A interrupo do gene SLC1A4 e a deleo em 2p14 ................................................. 121
c) A deleo em 5p15.1 .................................................................................................... 123
Aconselhamento Gentico ..................................................................................................... 124
IV.5 Translocao cromossmica que provavelmente afeta a expresso do gene IHH:
t(2;16)(q35;q24.1) .................................................................................................................
125
Aspectos Clnicos 125
Mapeamento dos pontos de quebra da translocao por FISH ............................................ 126
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH ................... 126
Genes mapeados no segmento dos pontos de quebra ............................................................ 126
Genes candidatos ................................................................................................................... 128
O gene IHH ............................................................................................................................ 130
a) O gene IHH e rearranjos cromossmicos .................................................................... 130
b) Busca de elementos conservados no codificadores candidatos a serem regula-
dores do gene IHH na regio prxima ao ponto de quebra do cromossomo 2 ...........
133
V. SUMRIO E CONCLUSES ............................................................................................... 136
VI. SUMMARY AND CONCLUSIONS ................................................................................... 141
VII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 145
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I. INTRODUO
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I. INTRODUO
As anomalias cromossmicas ocorrem em cerca de seis a cada mil recm-
nascidos. As mais comuns so as aneuploidias, porm as alteraes cromossmicas
estruturais representam cerca de 40% das alteraes cromossmicas em recm-nascidos
(Jacobs e Hassold, 1986).
As alteraes cromossmicas, em sua maioria, constituem eventos espordicos
e, devido aos desequilbrios de dose, o efeito fenotpico impede sua transmisso para a
gerao seguinte. Os rearranjos estruturais, entretanto, so predominantemente
equilibrados e seus portadores geralmente no apresentam sinais ou sintomas clnicos.
Esses rearranjos equilibrados podem, assim, ser transmitidos por seus portadores que,
no entanto, possuem riscos reprodutivos aumentados; a segregao meitica dos
cromossomos participantes dos rearranjos e de seus homlogos normais pode levar
produo de gametas com o rearranjo estrutural em estado no equilibrado, resultando
em abortos espontneos ou prognie com quadros clnicos. Estudos em casais com
histrico de abortamento de repetio mostram que, em 3 a 6% daqueles que tiveram
dois ou mais abortos consecutivos, um dos membros era portador de rearranjo
equilibrado (Franssen et al., 2006).
I.1 Tcnicas de estudo cromossmico
Em 1956, Tjio e Levan mostraram que o nmero de cromossomos da espcie
humana 46. A partir desse momento foi possvel associar anomalias cromossmicas
especficas a doenas. Nos anos 70, foram desenvolvidos protocolos de colorao que
produziam um padro de bandas claras e escuras ao longo dos cromossomos
(Caspersson et al., 1970; Drets e Shaw, 1971; Dutrillaux e Lejeune, 1971), totalmente
reprodutvel, permitindo a identificao de todos os pares de cromossomos, que eram
anteriormente classificados apenas de acordo com o tamanho e a posio dos
centrmeros. Alteraes estruturais, como translocaes, inverses, delees e
duplicaes, passaram a ser identificadas com maior preciso.
Apesar dos avanos trazidos para a identificao dos cromossomos, as tcnicas
de bandamento aplicada a cromossomo metafsicos/prometafsicos permitem a
deteco de alteraes cromossmicas que afetem no mnimo 5 a 10 Mb. Mas o nvel de
resoluo pode ser menor, dependendo do padro de bandas do segmento afetado. O
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desenvolvimento de tcnicas moleculares aplicadas citogentica trouxe maior preciso
na caracterizao dos rearranjos cromossmicos do que a que permite o bandamento.
Essas tcnicas permitem a anlise do genoma de forma global (genome-wide) ou
alvo-dirigida, com diferentes graus de resoluo (reviso em Speicher e Carter 2005;
reviso em Feuk et al., 2006; Miller et al., 2010).
A tcnica de hibridao in situ fluorescente (FISH), baseada na deteco de
sondas de DNA hibridadas a sequncias complementares em cromossomos, foi um
avano importante para os estudos citogenticos. Nesse mtodo, a sonda e o DNA alvo
na lmina so desnaturados, seguindo-se a hibridao das sequncias complementares.
Para visualizao em microscpio de fluorescncia, as sondas so ligadas diretamente a
um fluorocromo ou so marcadas com um heptano (biotina ou digoxigenina), j
conjugado a um fluorocromo ou reconhecido por um anti-heptano ligado a um
fluorocromo. As sondas de DNA podem ser clonadas a partir de um cromossomo
inteiro, no caso das bibliotecas cromossmicas ou a partir de um segmento especfico,
podendo ser sondas para sequncias nicas ou repetitivas, como as centromricas. No
estudo de rearranjos cromossmicos equilibrados, a hibridao in situ fluorescente
permite refinar a localizao de pontos de quebra e identificar microdelees ou
duplicaes nos cromossomos rearranjados.
Nas tcnicas de spectral karyotyping (SKY) e multicolor FISH (m-FISH), a
marcao especfica de cada cromossomo feita utilizando combinaes de
fluorocromos. Em um nico experimento pode-se analisar todos os cromossomos
humanos, o que particularmente vantajoso na identificao de material cromossmico
de origem desconhecida, como no caso de cromossomos marcadores supranumerrios e
rearranjos cromossmicos complexos, como aqueles que ocorrem nos cnceres.
O nvel mais alto de resoluo para anlise cromossmica baseada na tcnica de
FISH atingido quando so usadas fibras de cromatina, como alvos para a hibridao.
Nesse mtodo (fibre-FISH), as protenas e histonas so removidas da cromatina que,
assim, fica altamente distendida (Speicher e Carter, 2005). Constitui ferramenta
especialmente til para mapear sequncias em regies especficas do genoma, j que
permite medir os espaos e sobreposies entre as sondas. Assim a resoluo da tcnica
de FISH vai daquela na sua aplicao em preparaes metafsicas/prometafsicas
(resoluo de 100 kb - 5 Mb), passando pela utilizao em ncleos interfsicos (50 kb -
2 Mb) at o nvel de fibras de cromatina (1 kb - 500 kb) (Speicher e Carter 2005).
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Nos ltimos anos, a hibridao genmica em microarrays tornou-se uma
ferramenta efetiva para a deteco de perdas e ganhos de segmentos cromossmicos
submicroscpicos (Miller et al., 2010). A resoluo do microarray determinada pelo
tamanho e pela distncia entre as sondas, em sua cobertura parcial ou total do genoma.
Na tcnica de hibridao genmica comparativa baseada em microarray de DNA (a-
CGH), o DNA controle e o DNA teste, marcados com fluorocromos diferentes,
competem pela hibridao a sondas fixadas e organizadas na superfcie de uma lmina;
perdas e ganhos de segmentos so indicadas pela diferena na intensidade da
fluorescncia dos fluorocromos. Os primeiros arrays utilizavam sondas clonadas em
BACs (cromossomos artificiais de bactrias), porm plataformas mais recentes tm
oligonucleotdeos como alvos de hibridao. Esses oligoarrays permitem maior
flexibilidade na confeco de sondas, maior cobertura genmica e resoluo superior
aos arrays de BAC.
Outro tipo de microarray tem sondas de SNP, que permitem no somente a
avaliao de desequilbrios cromossmicos, mas a genotipagem. Nessa abordagem, a
amostra de um nico paciente hibridizada ao array e alteraes no nmero de cpias
so detectadas pela comparao com hibridaes de controles realizados separadamente
(Speicher e Carter, 2005). Alm de perdas e ganhos de segmentos, os arrays de SNP
tm a vantagem de detectar perdas de heterozigose e permitir a determinao da origem
parental de rearranjos espordicos (Miller et al., 2010).
A hibridao em microarrays aumentou o poder de resoluo da anlise
cromossmica global do nvel de megabase para kilobase; consequentemente
desequilbrios cromossmicos no detectveis pelas tcnicas de bandamento passaram a
ser descritos. Por exemplo, a aplicao de a-CGH no estudo de pacientes com
deficincia mental ou malformaes congnitas mostra que desequilbrios
submicroscpicos esto presentes em 15 a 20% dos casos (Rosenberg et al., 2006;
Miller et al., 2010). Recentemente, com base em uma extensa reviso na literatura, o
International Standard Cytogenomic Array (ISCA) Consortium recomendou a aplicao
inicial do microarray no estudo de pacientes com malformaes congnitas mltiplas,
autismo, atraso de desenvolvimento ou deficincia mental de causas genticas
desconhecidas (Miller et al., 2010). O custo da tcnica seria compensado pela elevada
taxa de deteco de desequilbrios submicroscpicos (entre 15 a 20% em comparao
aos 3% detectados com o bandamento G). O estudo preconizou que o uso do
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bandamento G deve limitar-se ao estudo de pacientes com sndromes cromossmicas
conhecidas, histrico de rearranjos cromossmico na famlia ou de abortos de repetio.
Na anlise de rearranjos cromossmicos equilibrados, a aplicao de a-CGH tem
permitido no somente detectar alteraes submicroscpicas nos pontos de quebra, mas
tambm alteraes distantes a ele inclusive em cromossomos que no participam
diretamente do rearranjo (Gribble et al., 2005; Sismani et al., 2008), essa uma vantagem
em relao tcnica alvo-especfica de FISH. Entretanto, deve-se considerar que a
hibridao genmica em array no revela, na maioria das vezes, o tipo do rearranjo
cromossmico que deu origem perda ou ao ganho de segmentos.
Uma modificao no protocolo de a-CGH permite estudar especificamente os
pontos de quebra dos rearranjos cromossmicos (Fiegler et al., 2003). A tcnica de
array painting utiliza flow sorting para isolar os cromossomos derivativos e
posteriormente esse material hibridado ao array. No caso de translocaes
equilibradas, ao marcar os cromossomos derivativos com fluorocromos diferentes,
sequncias proximais e distais ao ponto de quebra de cada cromossomo sero marcadas
com cores diferentes. Essa estratgia permite identificar os segmentos que contm os
pontos de quebra, com base na razo entre as intensidades dos sinais dos fluorocromos.
Recentemente, o sequenciamento de prxima gerao foi aplicado ao estudo de
rearranjos equilibrados (Kloosterman et al., 2011; Talkowski et al., 2011). O uso das
novas tecnologias permite identificar e sequenciar mltiplos pontos de quebra
simultaneamente. As anlises revelaram grande complexidade com a identificao de
novos pontos de quebra e de perdas e ganhos de segmentos. Talkowski et al. (2011)
admitem que, futuramente, com uma melhor relao custo-benefcio, os rearranjos
cromossmicos e as variaes estruturais sero mapeados e sequenciados, em larga
escala, no nvel de resoluo de pares de base.
I.2 Mecanismos de formao de rearranjos cromossmicos
A recombinao homloga no allica (Non Allelic Homologous Recombination
- NAHR) e a juno de extremidades no homlogas (Non-Homologous End Joining -
NHEJ) so os mecanismos classicamente considerados na formao de rearranjos
cromossmicos. Nos ltimos anos, o uso de novas ferramentas para a caracterizao
molecular dos pontos de quebra e juno dos rearranjos cromossmicos vem revelando
sua complexidade e vrios mecanismos tm sido propostos para explicar a formao
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desses rearranjos, baseados em erros na duplicao do DNA, como o Fork Stalling and
Template Switching - FoSTeS (Lee et al., 2007) .
Ocorrendo mais de uma quebra de dupla fita de DNA em uma clula, o reparo
por NHEJ pode unir extremidades que no estavam contguas, originando rearranjos
estruturais. Inicialmente as extremidades quebradas emparelham com base na
homologia de alguns poucos pares bases e sua juno ocorre aps adio ou perda de
alguns pares de base, tornando as fitas compatveis (Figura 1; reviso em Gu et al.,
2008).
FIGURA 1. Formao de rearranjos cromossmicos por juno de extremidades no
homlogas (NHEJ): Aps deteco da quebra pelo mecanismo de reparo (1), as extremidades quebradas
das duplas fitas de DNA emparelham por homologia de alguns poucos pares de base (2). A adio ou
perda de poucos pares de base (3) tornam as fitas compatveis, ocorrendo a juno (4), que deixa
"cicatriz" indicativa de NHEJ como o mecanismo gerador do rearranjo. (Adaptada de Gu et al., 2008.)
Os rearranjos estruturais podem ainda se originar por recombinao homloga,
quando so utilizadas sequncias homlogas no allicas, como substrato para a
recombinao (NAHR; Figura 2). Esse o mecanismo que origina a maioria dos
rearranjos cromossmicos estruturais recorrentes, como a duplicao do cromossomo
17, que causa a doena de Charcot-Marie-Tooth do tipo 1A (CMT1A; MIM 601097), e
a deleo do cromossomo 7, que resulta na sndrome Williams-Beuren (WBS; MIM
194050). Em geral, a recombinao ocorre entre repeties de poucas cpias (Low Copy
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Repeats - LCR), que tm entre 10 e 500 kb de extenso e compartilham mais de 95% de
identidade; representam de 5% a 10% do genoma humano. Apesar de mais raramente,
elementos repetitivos (Short Interspersed Nuclear Elements, SINE; Long Interspersed
Nuclear Elements, LINE) tambm podem ser substratos para a recombinao homloga
no allica (reviso em Shaw e Lupski, 2004).
FIGURA 2. Formao de rearranjos cromossmicos por recombinao homloga no
allica (NAHR): Emparelhamento seguido de recombinao entre Low Copy Repeats (LCR; setas
laranjas e roxas), que esto orientadas na mesma direo e compartilham alta homologia, resultando em
cromossomos com duplicao e deleo. As linhas escuras representam a dupla fita do DNA. (Adaptada
de Bailey e Eichler et al., 2006).
O estudo dos pontos de quebra de rearranjos cromossmicos pode fornecer
informaes sobre o mecanismo de reparo que contribuiu para sua formao. Como a
maioria dos trabalhos focaram rearranjos cromossmicos recorrentes, grande parte do
conhecimento nessa rea baseia-se no estudo dos mecanismos associados a esse tipo de
rearranjo.
No caso das translocaes Robertsonianas, o emparelhamento de sequncias
repetitivas pericentromricas, que teriam homologia em cromossomos acrocntricos,
facilitariam a transferncia de braos cromossmicos pela troca entre sequncias
emparelhadas em disposio invertida ou por recombinao em U. Os braos curtos dos
cromossomos acrocntricos contm mltiplas cpias de DNA satlite e genes de RNA
ribossmico 18S e 28S, sendo algumas sequncias nicas para cada cromossomo e
outras, compartilhadas entre acrocntricos. O clustering de pontos de quebra das
translocaes Robertsonianas recorrentes rob(13q14q) e rob(14q21q) sugere um
mecanismo especfico de formao desse tipo rearranjo. Em 97% dessas translocaes o
ponto de quebra no cromossomo 14 ocorre nas mesmas sequncias satlites. Nos
cromossomos 13 e 21, o ponto de quebra ocorre em sequncias satlites e em genes de
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RNA ribossmico. Sequncias compartilhadas pelos cromossomos 13, 14 e 21, estando
no cromossomo 14 em orientao oposta s sequncias nos cromossomo 13 e 21,
facilitariam a ocorrncia de translocaes rob(13q14q) e rob(14q21q) em relao
rob(13q21q) (reviso em Shaffer e Lupski, 2000).
O mecanismo de recombinao homloga no allica tambm foi proposto para
a formao da translocao recproca recorrente t(4;8)(p16;p23). Ambos os pontos
quebra ocorrem em clusters de genes receptores olfativos, sugerindo que a
recombinao entre esses lcus em 4p16 e 8p23 seja responsvel pela formao do
rearranjo (Giglio et al., 2001). Assim como as translocaes Robertsonianas recorrentes,
a t(4;8)(p16;p23) forma-se preferencialmente na gametognese materna (Page et al.,
1997; Giglio et al., 2002).
J a translocao recproca recorrente mais frequente, a t(11;22)(q23;q11), um
exemplo de rearranjo associado formao de estruturas secundarias do DNA que criariam
instabilidade genmica em loco especfico (reviso em Kurahashi et al., 2010). Os pontos de
quebra em 11q23 e 22q11 localizam-se em regies ricas em AT, que formam estruturas
palindrmicas denominadas, respectivamente, de PATRR11 e PATRR22 (Palindromic AT-rich
Repeats, PATRR) (Kurahashi et al., 2000; Kurahashi et al., 2001a; Kurahashi et al., 2007). O
estudo dos fragmentos de juno em t(11;22) localizou os pontos de quebras em ambos os
cromossomos no centro das PATRR (Kurahashi et al., 2000). Pequenas regies palindrmicas
de DNA, como as PATRR, podem formar estruturas cruciformes de fita dupla que induziriam a
instabilidade genmica, levando quebra na dupla fita e formao das translocaes (Kurahashi
et al., 2004). A ausncia de homologia e a presena de pequenas delees nos pontos de quebra
da t(11;22) sugerem que, aps a quebra na dupla fita do DNA, o reparo realizado via NHEJ
(reviso em Shaffer e Lupski, 2000). A frequncia relativamente alta da t(11;22) em
espermatozides de homens normais (Kurahashi et al., 2001b) e a origem paterna de t(11;22)
espordicas (Ohye et al., 2010) indicam que esse rearranjo se origina na espermatognese.
Em geral, so desconhecidos os mecanismos de formao e as sequncias participantes
da maior parte dos rearranjos cromossmicos equilibrados no recorrentes. O aprimoramento
das tcnicas citogenticas, em associao com a anlise do DNA e o crescente conhecimento da
sequncia e da arquitetura do genoma humano tornaram factvel a elucidao dos mecanismos
de formao desses rearranjos cromossmicos.
Com o objetivo de caracterizar os rearranjos cromossmicos equilibrados assim
como seus mecanismos geradores, Higgins et al. (2008) clonaram e sequenciaram 18
pontos de quebra de rearranjos cromossmicos aparentemente equilibrados, presentes
em indivduos com malformaes congnitas graves. Em apenas um caso foram
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encontradas, em ambos os pontos de quebra, sequncias que, pela similaridade
compartilhada, poderiam ter mediado a formao do rearranjo por NAHR. Nos pontos
de quebra da maioria dos rearranjos foram detectadas duplicaes, inseres e delees
de poucos pares de base, uma indicao de NHEJ como mecanismo gerador do
rearranjo. O mecanismo de NHEJ tambm foi proposto no caso de translocaes entre o
cromossomo X e um autossomo, em que no havia homologia extensa entre os
segmentos envolvidos e se detectaram pequenas delees, duplicaes e inseres nos
pontos de quebra e juno (van Bakel et al., 1995; Vianna-Morgante et al., 2004).
Recentemente um novo mecanismo foi proposto para a formao de rearranjos
cromossmicos. Lee et al. (2007) aplicaram oligoarrays e sequenciamento dos pontos
de quebra para analisar duplicaes no recorrentes, que incluam o gene PLP1
(proteolipid protein 1), associadas doena de Pelizaeus-Merzbacher, (PMD; MIM
312080). Apesar de terem identificado duplicaes em tandem em 65% dos casos, os
rearranjos eram mais complexos com segmentos duplicados interrompidos por
segmentos intactos, triplicados ou deletados. O mecanismo de Fork Stalling and
Template Switching (FoSTeS) foi proposto para explicar a complexidade desses
rearranjos. Baseia-se na correo da duplicao do DNA, interrompida por leses ou
formao de estruturas secundrias; diante da interrupo da forquilha de duplicao, a
fita lagging invade outras forquilhas prximas, at completar a duplicao da fita
lagging na forquilha original. A mudana de forquilha exige a presena de micro-
homologias com os stios invadidos para o priming da extremidade 3' reiniciar a
replicao (Figura 3). FoSTeS aparece como explicao para outros rearranjos
complexos, como delees no cromossomo 17 associadas sndrome de Smith-Magenis
(MIM, 182290) (Gu et al., 2008) e duplicaes que incluem o gene MECP2 (Carvalho
et al., 2009), podendo ser um mecanismo frequente na origem de rearranjos estruturais.
I.3 Rearranjos cromossmicos equilibrados associados a sinais e sintomas clnicos
Apesar de a maioria dos portadores de rearranjos cromossmicos aparentemente
equilibrados serem clinicamente normais, cerca de 7% dos rearranjos equilibrados
espordicos esto associados a alteraes fenotpicas (Warburton, 1991). Estudos de
indivduos com deficincia mental e malformaes congnitas evidenciaram que as
translocaes aparentemente equilibradas so mais freqentes nesse grupo do que na
populao geral (Tharapel et al.,1977; Fryns e van den Berghe,1979).
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10
FIGURA 3. Formao de rearranjo cromossmico por Fork Stalling and Template
Switching (FoSTeS): (1) Aps o incio da duplicao do DNA (linhas azul escuro e vermelho), leses ou
estruturas secundrias podem levar parada da duplicao; a fita lagging (linha vermelha pontilhada)
invade uma segunda forquilha de duplicao prxima (linhas slidas, roxa e verde) via micro-homologia,
(2) reiniciando-se a sntese de DNA (linha pontilhada verde). (3) Uma terceira forquilha (linhas slidas,
cinza e preta) pode ser invadida por essa fita lagging, continuando a duplicao (linha preta pontilhada).
Uma srie de eventos FoSTeS pode ocorrer at (4) a fita lagging original completar a duplicao.
(Adaptada de Lee et al., 2007).
Diferentes mecanismos tm sido identificados ou sugeridos para explicar a
associao entre rearranjos cromossmicos aparentemente equilibrados e quadros
clnicos. Uma das explicaes mais bvias a interrupo de genes pelas quebras
cromossmicas (Zatz et al., 1981; Bonaglia et al., 2001). Elementos reguladores
tambm podem ser danificados pelas quebras (Leipoldt et al., 2007). A expresso de
genes situados prximos aos pontos de quebra pode ser alterada devido a efeito de
posio; nesse caso, o rearranjo no altera diretamente o gene ou sua regio promotora,
mas a mudana de posio pode separar o gene de um elemento regulador ou pode
aproxim-lo da regio reguladora de outro gene (Kleinjan e Heyningen, 1998).
Recentemente a aplicao de microarrays de DNA ao estudo de rearranjos
aparentemente equilibrados tem revelado a complexidade de muitos deles, que incluem
microdelees e duplicaes prximas aos pontos de quebra ou neles prprios e que
podem explicar os fentipos alterados (Gribble et al., 2005; De Gregori et al., 2007;
Sismani et al., 2008).
Assim, a caracterizao dos pontos de quebra de rearranjos cromossmicos
equilibrados pode levar identificao de genes candidatos a serem responsveis pelos
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11
quadros clnicos a eles associados. No entanto, importante ressaltar que a associao
entre fentipo alterado e rearranjos equilibrados pode ser ao acaso e indivduos
clinicamente normais portadores de rearranjos aparentemente equilibrados podem ter
genes interrompidos pelos pontos de quebra (Baptista et al., 2008).
Interrupo de genes pelas quebras cromossmicas
As quebras cromossmicas podem interromper a estrutura de genes. A
identificao do gene da distrofina foi um dos primeiros casos de mapeamento de um
gene a partir de uma translocao. No incio da dcada de 80 foram publicados vrios
trabalhos que descreveram mulheres afetadas por distrofia muscular do tipo Duchenne
(DMD), que eram portadoras de translocaes recprocas entre o cromossomo X e um
autossomo (Zatz et al., 1981, Boyd et al.,1986). Em todos esses casos, o ponto de
quebra no cromossomo X ocorreu na banda Xp21, o que sugeria que o gene mutado na
DMD estava localizado nesse segmento e que tinha sido interrompido pelas quebras que
originaram as translocaes. Esses resultados juntamente com a deteco de delees
em afetados permitiram a clonagem do gene da distrofina (Koenig et al., 1987). A
manifestao da DMD, que tem herana recessiva, nas mulheres foi resultado da
inativao do cromossomo X normal. Em geral, esse padro de inativao observado
em portadoras de translocaes X- autossomo; o desvio da inativao casual decorre da
seleo contrria s clulas que inativam o cromossomo X translocado, que no so
equilibradas do ponto de vista funcional, pois apresentam dissomia parcial do
cromossomo X e monossomia parcial do autossomo. O estudo de translocaes X-
autossomo levou identificao de muitos outros genes no cromossomo X,
relacionados a doenas.
O estudo de rearranjos equilibrados tem sido importante na identificao de
genes candidatos a quadros de deficincia mental com herana ligada ao X,
especialmente nos casos no sindrmicos, em que os estudos de ligao so dificultados
(reviso em Vandeweyer et al., 2009). Zemni et al. (2000), por exemplo, verificaram
que o gene TM4SF2 (Transmembrane 4 Superfamily, Member 2), mapeado em Xp11.4,
tinha sido interrompido pela translocao t(X;2)(p11.4;p21.3) em uma paciente com
deficincia mental no sindrmica. A expresso do fentipo foi resultado da inativao
do cromossomo X normal. O gene TM4SF2 altamente expresso no sistema nervoso
central, incluindo o crtex cerebral e o hipocampo, sendo indicado candidato ao quadro
clnico. Isso foi confirmado com a deteco de mutaes no gene TM4SF2 em trs
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famlias em que a deficincia mental no sindrmica tinha sido mapeada no segmento
Xp11.4. Posteriormente mutaes nesse gene foram descritas em outros homens
afetados (Abidi et al., 2002; Maranduba et al., 2004). Alm do gene TM4SF2, 13 genes
candidatos a deficincia mental sindrmica e no sindrmica foram identificados no
cromossomo X em estudos de translocaes equilibradas. A associao causal est
confirmada para 10 deles, pela identificao de mutaes em outros pacientes com
deficincia mental (reviso em Vandeweyer et al., 2009).
Genes localizados em cromossomos autossmicos tambm foram identificados
em estudos de rearranjos equilibrados associados a quadros clnicos. Esses genes so
sensveis a dosagem e os quadros clnicos esto associados a haploinsuficincia dos
genes interrompidos pelas quebras cromossmicas.
Um dos exemplos mais conhecidos o do gene da neurofibromatose tipo 1
(NF1; MIM 162200). O estudo de duas translocaes com pontos de quebra em 17q11.2
levou identificao do gene da doena nesse segmento. Schmidt et al. (1987)
descreveram uma famlia com afetados por NF1 associada a uma translocao
t(1;17)(p34;q11.2) e Ledbetter et al. (1989) descreveram uma translocao
t(17;22)(q11.2;q11.2) em uma afetada por NF1. Wallace et al. (1990) verificaram que o
gene NF1 (neurofibromin 1) tinha sido interrompido pelas quebras dessas translocaes
no cromossomo 17 e descreveram uma mutao no gene NF1 em outro afetado pela
doena.
Um exemplo mais recente a sndrome de Cornelia de Lange (CDLS1; MIM
122470). Tonkin et al. (2004) descreveram uma criana com CDLS1, portadora de
translocao equilibrada t(5;13)(p13.1;q12.1). A caracterizao do ponto de quebra no
cromossomo 5 mostrou que o gene NIPBL (Nipped-B-like) tinha sido interrompido. A
funo desse gene em clulas de mamferos no era conhecida, mas o padro de
expresso era compatvel com o fentipo da sndrome. Considerando o gene como
candidato, os autores estudaram outros afetados pela sndrome e identificaram nove
mutaes de ponto no gene NIPBL.
O estudo de rearranjos equilibrados tem sido importante tambm na
identificao de genes candidatos a deficincia mental no ligada ao X. Vandeweyer et
al. (2009), em sua reviso sobre rearranjos equilibrados entre autossomos, associados a
deficincia mental, realacionam 15 genes candidatos, mas apenas GLI3 (GLI family zinc
finger 3) foi validado, pela presena de mutaes em outros indivduos com deficincia
mental (Johnston et al., 2005). Cacciagli et al. (2010) descreveram uma paciente com
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deficincia mental moderada a grave e hipotonia, portadora de translocao t(10;13)
(p12.1;q12.13). A caracterizao do rearranjo mostrou que o gene ATP8A2 (ATPase,
aminophospholipid transporter, class I, type 8A, member 2), mapeado em 13q12.13, foi
interrompido pelo ponto de quebra. Esse foi o nico gene alterado pelo rearranjo e a
anlise por a-CGH no identificou desequilbrios submicroscpicos. O gene ATP8A2,
que codifica uma ATPase, altamente expresso no crebro humano e de camundongo.
Os autores no detectaram mutaes nesse gene em uma amostra pequena de 38
pacientes com quadros similares ao da portadora da translocao, isso significando que
mutaes no gene ATP8A2 no causa frequente de deficincia mental, o que tambm
acontece com a maioria dos genes j relacionados a deficincia mental.
A sndrome da deleo terminal 22q13.3 caracterizada por grave atraso de
linguagem, deficincia mental moderada, hipotonia e dismorfismos faciais (MIM
606232). Bonaglia et al. (2001) identificaram uma criana com quadro tpico da
sndrome, portadora de translocao equilibrada t(12;22)(q24.1;q13.3). O ponto de
quebra no cromossomo 22 interrompia o gene SHANK3 (SH3 and multiple ankyrin
repeat domains 3), que altamente expresso no crtex cerebral e cerebelo. Os autores
sugeriram que a haploinsuficincia desse gene seria responsvel pela sndrome da
deleo terminal em 22q13.3. Posteriormente, Wilson et al. (2003) identificaram uma
regio crtica de 130 kb comum a 46 pacientes, que inclua o gene SHANK3.
Alm da identificao de genes candidatos para doenas monognicas, o estudo
de rearranjos equilibrados tambm pode contribuir para elucidar os mecanismos
genticos responsveis por doenas complexas. Bache et al. (2006) avaliaram o
potencial da associao entre translocaes equilibradas e essas doenas. Para isso,
investigaram a presena de vrias doenas complexas em portadores de translocaes
equilibradas sem histrico de doena de manifestao precoce. Foram considerados
como potencialmente associados a doenas complexas, as translocaes que
cossegregavam com o quadro clnico com um lod score significativo ou aquelas
translocaes cujos pontos de quebra estavam localizados em regies que j haviam
sido associadas s doenas. Os autores identificaram 42 pontos de quebra
potencialmente associados a doenas complexas. A associao mais consistente ocorreu
entre um ponto de quebra em 1p36 em uma translocao t(1;18)(p36.1;q21) familial que
segregava com dislexia. O loco DYX8, tambm mapeado em 1p36, j havido sido
associado dislexia em estudo de ligao (Tzenova et al., 2004). Outra associao
muito provvel ocorreu entre uma translocao t(9;17)(q33;q25.3) e distrbio bipolar
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famlial. A associao entre o segmento 17q25.3 e o distrbio bipolar foi apoiada pela
identificao, no mesmo trabalho, de dois pacientes com depresso e pontos de quebra
de translocao nesse segmento.
Formao de gene hbrido
Os rearranjos cromossmicos podem formar genes hbridos, cujos produtos
esto associados geralmente ao desenvolvimento de tumores. Para que ocorra a
formao de transcrito hibrido, ambos os genes precisam estar orientados na mesma
direo e o quadro de leitura deve ser preservado. O exemplo mais conhecido o da
leucemia mielide crnica (MIM 608232), caracterizada pela presena da translocao
t(9;22)(q34;q11) na linhagem tumoral. No ponto de quebra do cromossomo 9, o gene
ABL (Abelson tyrosine kinase) est interrompido. O gene codifica uma tirosina quinase
que atua na regulao do ciclo celular. O gene BCR (Breakpoint Cluster Region), cuja
funo no conhecida, interrompido pelo ponto de quebra no cromossomo 22. No
cromossomo 22 derivativo, o cromossomo Filadlfia, ocorre a justaposio dos genes
ABL e BCR, formando um gene hbrido que codifica um polipeptdio similar ao produto
do ABL. No entanto, a substituio da poro N-terminal de ABL pela poro N-
terminal de BCR faz com que o produto hbrido tenha atividade desregulada e
constitutiva de tirosina quinase. Essa protena estimula a proliferao de clulas
precursoras hematopoiticas e impede que sofram apoptose.
Apesar de raros, existem relatos de formao de transcritos hbridos associados a
translocaes em afetados por deficincia mental e malformaes congnitas
(Nothwang et al., 2001, Ramocki et al., 2003, Backx et al., 2011). Nothwang et al.
(2001) descreveram o primeiro caso de formao de gene quimrico no associado a
cncer. Uma translocao (1;19)(q21.3;q13.2) de novo foi detectada em uma criana
com deficincia mental, ataxia e atrofia do crebro. O rearranjo interrompeu nos
cromossomos 1 e 19, respectivamente, os genes CLK2 (cdc-like kinase 2) e PAFAH1B3
(platelet-activating factor acetylhydrolase 1b, catalytic subunit 3). No cromossomo
derivativo 1 formou-se um gene hbrido composto pelos exons 2 a 13 do CLK2 e pelos
exons 1 a 4 do PAFAH1B3, que codifica uma protena formada pelos 136 aminocidos
iniciais de PAFAH1B3 e pelo polipeptdio completo e no modificado codificado pelo
CLK2, j que o exon 1 desse gene no transcrito. Os autores avaliaram se as funes
dos polipeptdios ficaram conservadas no hbrido. O CLK2 codifica uma quinase que
atua na regulao da atividade de fatores de splicing ricos em serina e arginina, funo
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que ficou conservada no polipeptdeo hbrido. J o PAFAH1B3 codifica um polipeptdio
que se liga a LIS1, formando um complexo com atividade de protena G
heterotrimrica. No polipeptdeo hbrido houve perda de capacidade de ligao a LIS1 e
perda da atividade hidroltica de PAFAH1B3. Os autores sugerem que o fentipo do
paciente est relacionado a haploinsuficincia de PAFAH1B3.
Em uma paciente com manifestaes neurolgicas, incluindo agenesia do corpo
caloso, foi identificada uma translocao t(2;9)(p24;q32) (Ramocki et al., 2003). O
estudo por FISH e a anlise por PCR revelou que dois genes Zn-finger (KIAA1803 e
ASXL2), expressos em todos os tecidos, tinham sido interrompidos. Consequentemente,
o rearranjo originou um transcrito hbrido em cada cromossomo derivativo. Apesar de
os genes KIAA1803 e ASXL2 serem candidatos a atuarem no desenvolvimento do
sistema nervoso, o mecanismo associado ao fentipo pode ser a haploinsuficincia de
um ou ambos os genes ou de ganho de funo dos polipeptdeos hbridos.
Recentemente, Backx et al. (2011) estudaram um paciente com deficincia
mental e agenesia do corpo caloso, portador de uma translocao recproca espordica
t(6;14)(q25.3;q13.2). A caracterizao molecular do rearranjo revelou um gentipo
complexo com a interrupo dos genes ARID1B (AT rich interactive domain 1B (SWI1-
like)) e MRPP3 (mitochondrial RNase P protein 3) e consequente formao de genes
hbridos nos cromossomos derivativos. A presena dos transcritos hbridos foi detectada
por RT-PCR e confirmada por sequenciamento. O mecanismo patognico mais provvel
seria a haploinsuficincia de um ou de ambos os genes alterados. O gene ARIRID1B,
que atua na remodelagem da cromatina, constitu um bom candidato devido a seu
padro de expresso; alm disso, mutaes em outro gene da mesma famlia, KDM5C
(lysine (K)-specific demethylase 5C), causa deficincia mental sindrmica e no
sindrmica (Jensen et al., 2005). Adicionalmente, um paciente includo no DECIPHER
(registro 4662), portador de uma microdeleo que inclui apenas o ARIRID1B. O
paciente tem atraso de fala, retardo mental e comportamento autstico. No entanto, o
ganho de funo ou efeito dominante negativo dos transcritos hbridos no pode ser
descartado.
Assim, nessas translocaes constitutivas, mesmo diante da formao de
produtos hbridos, a haploinsuficincia de genes interrompidos pelas quebras
cromossmicas parece ser a causa dos quadros clnicos.
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Efeito de posio
O efeito de posio definido como uma alterao da expresso gnica devida a
mudana de posio do gene do seu ambiente cromossmico, no estando associado a
mutao ou deleo intragnica, mantendo-se portanto, a unidade transcricional e o
promotor intactos (Kleinjan e Heyningen, 1998). O efeito de posio pode estar
associado a alteraes fenotpicas por dois mecanismos principais: heterocromatizao
ou alterao da relao espacial do gene com elementos reguladores em cis. No ltimo
caso, o rearranjo pode afastar um gene de elementos reguladores prprios ou de um
elemento de fronteira ou ainda pode aproxim-lo de elementos reguladores de outro
gene. Com raras excees, os genes j associados ao efeito de posio codificam fatores
de transcrio que atuam no desenvolvimento, refletindo a importncia do controle
temporal e espacial da expresso desses genes. O estudo de rearranjos com pontos de
quebra 3 ou 5 a esses genes tem contribudo para elucidar a complexidade das regies
reguladoras de genes que atuam no desenvolvimento em mamferos (reviso em
Kleinjan e Lettice, 2008).
Recentemente, Kleinjan e Coutinho (2009) propuseram que doenas causadas
por interrupo da arquitetura em cis da regio reguladora de um loco gnico sejam
chamadas de cis-ruption disorders. Um exemplo a displasia campomlica (CD,
MIM 114290), doena rara e frequentemente letal, caracterizada por alteraes
esquelticas, entre as quais se destacam o encurvamento e a diminuio do
comprimento dos ossos longos. A maioria dos afetados so portadores de mutaes na
regio codificadora do gene SOX9 (Sry-related hmg-box gene 9), mapeado no brao
longo do cromossomo 17. Todavia existem relatos de afetados que no possuem essas
mutaes, mas so portadores de rearranjos equilibrados cujos pontos de quebra se
localizam upstream ao SOX9. Leipoldt et al. (2007) classificou os pontos de quebra
desses rearranjos em clusters proximais e distais, localizados, respectivamente, a 50-375
kb e 789-932 kb upstream ao gene SOX9. A curvatura anormal dos ossos longos,
caracterstica principal da CD, est ausente nos portadores de rearranjos cujos pontos de
quebra se localizam no cluster distal. Nesses casos, a doena chamada de displasia
campomlica acampomlica (ACD). Mais recentemente, Benko et al. (2009),
descreveram pontos de quebra localizados a mais de 1Mb upstream ao SOX9 em
afetados pela sequncia de Pierre Robin (PRS; MIM 261800), caracterizada por fissura
de palato, micrognatia e glossoptose. A sequncia de PRS est frequentemente presente
em algumas sndromes mendelianas, incluindo a CD e a ACD. Diante desse cenrio,
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Gordon et al. (2009) propem que a regio reguladora do SOX9 se estenda alm de 1,23
Mb upstream ao gene. Os rearranjos cromossmicos removeriam um ou mais elementos
reguladores em cis, levando a alterao da expresso do SOX9 e aos quadros clnicos.
Outro gene para o qual o efeito de posio j foi proposto o PAX6 (paired box
6), mapeado em 11p13, cuja haploinsuficincia est associada a aniridia (NA, MIM
106210). J foram descritos indivduos afetados que eram portadores de rearranjos
cromossmicos com pontos de quebra downstream ao gene, o mais distal localizando-se
a 125 kb do ltimo exon do PAX6 (Fantes et al., 1995; Lauderdale et al., 2000; Crolla e
van Heyningen, 2002). Todos os pontos de quebra se localizam no ltimo intron do
gene ELP4 [elongation protein 4 homolog (S. cerevisiae)], que expresso em todos os
tecidos. Estudos em camundongos indicam que a interrupo do ELP4 no contribui
para o fentipo.
O rearranjo pode tambm aproximar o gene de elementos reguladores de outro
gene. Um exemplo clssico o linfoma de Burkitt (BL; MIM 113970), caracterizado
pela proliferao monoclonal de linfcitos-B5; em 80% dos casos a translocao
t(8:14)(q24:q32) est presente na linhagem tumoral. No cromossomo derivativo 14 o
gene c-myc [v-myc myelocytomatosis viral oncogene homolog (avian)], translocado do
cromossomo 8, est justaposto aos de imunoglobulina e passa a estar sob o controle de
seus reguladores, tendo sua expresso exacerbada. O gene c-myc atua em vrios
aspectos da biologia celular incluindo proliferao, diferenciao, metabolismo e
apoptose. A superexpresso do gene c-myc no cromossomo derivativo (14) altera essas
funes e, consequentemente, desenvolve-se o tumor.
Alm da alterao de elementos reguladores em cis, o rearranjo cromossmico
pode influenciar a expresso de gene(s) prximo(s) ao ponto de quebra devido a
alterao da estrutura da cromatina. A heterocromatizao pode ocorrer quando o
rearranjo aproxima uma regio de eucromatina a uma regio de heterocromatina; o
estado mais condensado do DNA da heterocromatina pode avanar para a regio
eucromtica justaposta, silenciando genes, de forma aleatria, mas estvel. Rees et al.,
(1994) descreveram uma translocao em mosaico, associada a -talassemia, na qual o
gene da cadeia da hemoglobina foi translocado intacto do cromossomo 11 para o
cromossomo 22, junto ao centrmero. Os autores sugerem que o gene estaria silenciado
devido proximidade com a regio pericentromrica, de cromatina constitutiva.
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Dissomia uniparental (UPD)
A dissomia uniparental (UPD) definida pela presena no caritipo de um par
de cromossomos homlogos ou de segmentos cromossmicos homlogos com mesma
origem parental. classificada como isodissomia uniparental quando o mesmo
cromossomo ou segmento cromossmico est presente em duplicata. Quando so
herdados dois cromossomos homlogos diferentes ou parte deles de um mesmo genitor,
tem-se uma heterodissomia uniparental.
Cerca de 30% dos casos de UPD esto associados a caritipos anormais, sendo
8% rearranjos equilibrados (Liehr, 2010). No caso de um portador de translocao
equilibrada, uma no disjuno meitica pode originar um gameta dissmico, com os
dois cromossomos derivativos e um dos normais que, ao se juntar a um gameta normal,
formar um zigoto trissmico. A trissomia poder ser corrigida pela perda do
cromossomo homlogo normal do outro genitor, e nesse caso, o embrio ter uma
heterodissomia uniparental. Outra possibilidade de heterodissomia ocorrer a
fertilizao entre o gameta dissmico do portador da translocao e o do outro genitor,
com a nulissomia correspondente. Caso o gameta do portador da translocao seja
nulissmico, com apenas um dos cromossomos normais da translocao, a unio com
um gameta normal originar um embrio monossmico. O resgate da monossomia pode
ocorrer por duplicao do cromossomo homlogo do genitor no portador da
translocao. Essa pode ser tambm a origem de UPD em associao com rearranjos
equilibrados espordicos, que se originem na formao dos gametas (Robinson, 2000).
A relao entre dissomia uniparental e fentipo alterado pode decorrer da
homozigose quanto a alelos recessivos detrimentais ou de imprinting genmico, ou seja,
da expresso gnica dependente da origem parental (Wilkins et al., 2003).
Entre as doenas relacionadas ao mecanismo de imprinting genmico j foram
descritos vrios casos de UPD associada a rearranjos equilibrados. Dupont et al. (2002),
por exemplo, descreveram uma menina afetada pela sndrome de Silver-Russell (SRS;
MIM 180860), que herdou uma translocao equilibrada t(7;16)(q21;q24) de sua me
fenotipicamente normal; na criana foi detectada uma UPD materna do cromossomo 7,
como causa da sndrome. Explica-se a UPD como decorrncia de no disjuno, o
gameta materno que originou o zigoto possuindo os cromossomos 7 normal e derivativo
e determinando uma trissomia do cromossomo 7; o resgate dessa trissomia no embrio,
com perda do cromossomo 7 paterno, levou UPD7 materna e SRS.
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Entre as ocorrncias espordicas, existem vrios exemplos de isocromossomos
de brao longo ou translocaes entre homlogos dos acrocntricos 14 e 15, associados
a sndromes bem caracterizadas de imprinting paterno e materno do cromossomo 14 e
do cromossomo 15 (sndromes de Prader-Willi e de Angelman) (Robinson, 2000).
Perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos
Os rearranjos cromossmicos equilibrados so detectados por tcnicas de
citogentica clssica, dessa forma so considerados equilibrados aqueles rearranjos nos
quais no so identificadas alteraes maiores que 5 Mb, que podem ser visualizadas ao
microscpico ptico. A partir de 2005, foram publicados vrios trabalhos que aplicam
array-CGH no estudo de rearranjos equilibrados associados a quadros clnicos (Gribble
et al., 2005, De Gregori et al., 2007, Baptista et al., 2008; Fantes et al., 2008; Higgins et
al., 2008; Sismani et al., 2008; Schluth-Bolard et al., 2009). Esses estudos tm mostrado
que microdelees e microduplicaes de segmentos genmicos podem ser
responsveis por parte significativa dos fentipos alterados associados a esses rearranjos
(Tabela 1). Estima-se que 33,5% dos pacientes estudados eram portadores de
desequilbrios submicroscpicos.
Apesar de a maioria dos desequilbrios submicroscpicos estarem localizados
nos pontos de quebra que originam os rearranjos (15,5%), 9% estavam fora deles, mas
localizados nos cromossomos rearranjados. As alteraes nos pontos de quebras podem
ter ocorrido durante a formao dos rearranjos, enquanto que aquelas distantes aos
pontos de quebra podem no estar associadas aos rearranjos ou refletir um mecanismo
mais complexo em sua formao (Higgins et al., 2008). Surpreendentemente, em 9%
dos rearranjos equilibrados estudados foram detectadas alteraes submicroscpicas em
cromossomos que no participavam dos rearranjos (Tabela 1).
Como mostra a Tabela 1, houve diferenas nas frequncias de alteraes
submicroscpicas entre os vrios estudos que, pelo menos em parte, so atribuveis s
diferentes metodologias utilizadas. As menores frequncias de alteraes foram
observadas nos trabalhos que utilizaram arrays de 1 Mb (Fantes et al., 2008; Sismani et
al., 2008). Interessantemente, apenas um estudo (Fantes et al., 2008) detectou ganho de
segmentos, todos os outros desequilbrios sendo delees. Isso pode ser resultado do
mecanismo de formao dos rearranjos, levando preferencialmente perda de material.
Por outro lado, esse resultado pode refletir a menor patogenicidade das duplicaes, que
assim no estariam presentes nos indivduos selecionados para os estudos (Schluth-
Bolard et al., 2009).
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O grande desafio, no entanto, consiste em determinar quais desequilbrios, de
fato, esto associados aos quadros clnicos, j que variaes no nmero de cpias
(CNV) tambm so encontradas em indivduos da populao geral (Redon et al., 2006).
Tabela 1. Perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos em portadores de rearranjos
cromossmicos equilibrados.
Estudo a-CGH
(plataforma)
Portadores de
desequilbrios
submicroscpicos
Desequilbrio no
ponto de quebra
Desequilbrio em
cis ao ponto de
quebra
Desequilbrio
no associados
ao rearranjo
1 BAC PAC 3500
clones/array
painting
5/10 1/10 1/10
3/10
2 Oligo 44B/244K
(Agilent)
11/27
7/27
1/27
3/27
3
Sanger 30K
Whole Genome
TilePath
4/14
3/14
1/14 (*)
1/14
4 1Mb CytoChip
BlueGnome
6/46 3/46
3/46
0/46
5 2600 BAC
arrays/244K
(Agilent)
6/11 2/11
3/11
1/11
6 Cytochip 1-Mb
BlueGnome
3/12
1/12
1/12
1/12
7 Oligo
44K/244K
(Agilent)
16/33
7/16
4/33
5/33
Estudo: (1) Gribble et al. (2005); (2) De Gregori et al. (2007); (3) Baptista et al. (2008); (4) Fantes et al.
(2008); (5) Higgins et al. (2008); (6) Sismani et al.(2008); (7) Schluth-Bolard et al. (2009)
(*)Paciente portador de desequilbrios no ponto de quebra e em cis ao rearranjo
A caracterizao de rearranjos aparentemente equilibrados no associados a
quadros clnicos, evidenciando no que diferem daqueles associados com quadros
clnicos, pode contribuir para a compreenso dessas associaes. Baptista et al. (2008) e
Fantes et al. (2008) analisaram translocaes cromossmicas equilibradas presentes
tanto em indivduos normais quanto em portadores de sinais e sintomas clnicos.
Mostraram que indivduos fenotipicamente normais podem ter genes interrompidos
pelos rearranjos, que no seriam sensveis a dosagem ou que se localizam em regies de
variaes no nmero de cpias (CNV). Entretanto, somente em rearranjos equilibrados
associados a anormalidades clnicas foram detectados desequilbrios submicroscpicos
-
21
nos pontos de quebra ou em cis a eles nos cromossomos rearranjados. Dessa forma os
desequilbrios submicroscpicos em cis podem ser responsveis por grande parte dos
fentipos clnicos observados em pacientes com rearranjos equilibrados. Estabelecer a
relao causal dessas perdas e ganhos de segmentos cromossmicos com os fentipos
dos portadores e entender sua relao com os rearranjos equilibrados associados a eles
so desafios atuais.
Cox et al. (2003) estudaram uma criana com deficincia mental no sindrmica
portadora de translocao t(X;8)(q28;q12). No ponto de quebra do cromossomo X foi
detectada uma duplicao de 650 kb. Nessa regio esto mapeados 11 genes, sendo
nove expressos no crebro. Os autores atribuem o quadro clnico a dosagem alterada de
gene(s) mapeado(s) na regio duplicada do cromossomo X.
Mademont-Soler et al. (2010) estudaram uma paciente com alteraes faciais,
malformaes de Dandy-Walker, perda auditiva e hiperlaxia de pele, que tambm era
portadora da translocao t(6;13)(q23;q32). O a-CGH revelou uma deleo de 2,5 Mb
no ponto de quebra do cromossomo 13. O quadro clnico da paciente sobrepe-se
queles j descritos em portadores de delees em 13q32, indicando que a perda desse
segmento contribui para o fentipo. Os autores sugerem que os genes ZIC2 (Zic family
member 2) e ZIC5 (Zic family member), mapeados nesse segmento, so os principais
candidatos ao quadro clinico.
Assim como em rearranjos cromossmicos de novo, a anlise por a-CGH mostra
que rearranjos cromossmicos herdados tambm podem estar associados a
desequilbrios submicroscpicos nos cromossomos derivativos distantes aos pontos de
quebra. Lybaek et al. (2008) utilizaram array-CGH e FISH para investigar uma inverso
no brao longo do cromossomo 14 associada, em uma famlia, ao quadro de
esferocitose, dificuldades de aprendizagem/deficincia mental. Foi identificada, em um
dos afetados, uma deleo de 2,1 Mb mapeada a 1,6 Mb do ponto de quebra telomrico
da inverso. A me e o tio materno tambm eram portadores da deleo. Nessa regio
esto mapeados 16 genes, dentre os quais, o gene SPTB (beta-spectrin), em que
mutaes de perda de funo j foram identificadas em pacientes com esferocitose. Os
autores atribuem a dificuldades de aprendizagem/deficincia mental observada na
famlia haploinsuficincia de outro(s) gene(s) mapeado(s) na regio da deleo no
cromossomo 14, sendo os genes PLEKHG3 [pleckstrin homology domain containing,
family G (with RhoGef domain) member] e MAX (MYC associated factor X) os
principais candidatos, devido alta expresso no sistema nervoso. Como a av do
-
22
probando e outros provveis portadores da inverso haviam falecido, os autores no
puderam determinar se a deleo e a inverso originaram-se ou no independentemente.
Papadopoulou et al. (2010) investigaram um paciente com deficincia mental e
malformaes congnitas mltiplas, que era portador de translocao equilibrada
t(9;15)(q31;q26). Aplicando a-CGH, foi identificada uma duplicao de 5-6 Mb, em
9q34 e trs delees de 8,1 a 12,2 Mb, no cromossomo 15. A validao desse resultado
por FISH mostrou que o segmento duplicado do cromossomo 9 estava inserido no
cromossomo derivativo 15 e que as delees estavam no cromossomo 15 derivativo,
portanto em cis ao ponto de quebra da translocao. Tanto a duplicao de gene(s)
mapeado(s) no segmento duplicado do cromossomo 9, quanto a haploinsuficincia de
gene(s) localizados(s) nos segmentos deletados do cromossomo 15 podem contribuir
para o fentipo.
Como a anlise por microarrays permite a investigao global do genoma, pode
detectar, em portadores de rearranjos equilibrados, alteraes em cromossomos que no
participam desses rearranjos. Em determinados casos, os rearranjos cromossmicos e as
alteraes detectadas em outros cromossomos podem contribuir para o fentipo.
Hayashi et al. (2007) descreveram uma translocao equilibrada t(5;13)(p13.1;q12.1)
em uma criana portadora de sndrome de Cornelia de Lange, associada a outros sinais.
O gene NIPBL, cuja haploinsuficincia causa a sndrome, foi interrompido pela
translocao. Aplicando a-CGH, os autores identificaram uma deleo de 1 Mb no
brao longo do cromossomo 1, incluindo seis genes (FIBL-6, PRG4, TPR, OCLM, PDC
e PTGS2) e atriburam as caractersticas no tpicas de CDLS haploinsuficincia de
gene(s) mapeado(s) nesse segmento.
Entretanto, o rearranjo pode estar de fato equilibrado e o fentipo ser causado
por perda ou ganho de segmentos de cromossomos que no participam dele. Morales et
al. (2009) descreveram uma paciente com atraso de desenvolvimento neuropsicomotor,
retardo de crescimento, dismorfismos faciais, clinodactilia e miopia. A criana era
portadora de inverso de novo no brao longo do cromossomo 7, inv(7)(q21.12q34).
Genes prximos aos pontos de quebra no puderam ser associados aos sinais clnicos.
Por meio de a-CGH foi identificada uma deleo no brao curto do cromossomo 3 -
del(3)(p12.3p13). As manifestaes clnicas da paciente sobrepunham-se s de outros
portadores de delees nesse segmento cromossmico, apontando para a
haploinsuficincia de gene(s) mapeado(s) no segmento deletado do cromossomo 3
como causa do quadro clnico.
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23
II. OBJETIVOS
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II. OBJETIVOS
Com este estudo, nosso objetivo foi identificar mecanismos pelos quais
rearranjos cromossmicos aparentemente equilibrados possam estar associados de
maneira causal a determinados quadros clnicos. Para isso estudamos rearranjos
cromossmicos aparentemente equilibrados detectados em pacientes com malformaes
congnitas, atraso de desenvolvimento neuropsicotomor ou comprometimento
intelectual. Os pontos de quebra foram mapeados por FISH de segmentos mapeados nos
pontos de quebra identificados por bandamento G. Microdelees e microduplicaes
foram investigadas por array-CGH. As informaes obtidas foram relacionadas aos
mapas fsicos do genoma humano e s caractersticas clnicas dos pacientes na busca de
genes candidatos.
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25
III. PACIENTES E MTODOS
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III. PACIENTES E MTODOS
III.1 Pacientes
Os indivduos selecionados para este estudo foram identificados como
portadores de rearranjos aparentemente equilibrados no Servio de Aconselhamento
Gentico do Laboratrio de Gentica Humana do Instituto de Biocincias da
Universidade de So Paulo (LGH-IB-USP), para onde foram encaminhados por
diferentes servios mdicos, para diagnstico e aconselhamento gentico. Para incluso
no estudo, os pacientes ou seus responsveis legais, foram informados sobre a pesquisa
e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto foi aprovado pelo
Comit de tica em Pesquisa em Seres Humanos do Instituto de Biocincias da
Universidade de So Paulo (Protocolo no 096/2009).
A amostra foi constituda de seis translocaes equilibradas, cinco delas no
herdadas e uma, segregando na famlia com o quadro clnico.
III.2 Mtodos
III.2.1 Estudo cromossmico
Preparaes cromossmicas
Para o estudo cromossmico, as preparaes foram obtidas a partir de culturas
temporrias de linfcitos de sangue perifrico, seguindo as tcnicas de rotina do
laboratrio. Os linfcitos contidos em 0,5 mL de plasma sanguneo foram cultivados
por 72 h, a 37oC em 4,5 mL de meio de cultura TC 199 (Invitrogen, Carlsbad, EUA),
complementado com soro fetal bovino 15% (Invitrogen), L-glutamina 1% (Sigma, Saint
Louis, EUA) e fitohemaglutinina 1% (Invitrogen). O tratamento com colchicina
(Sigma) na concentrao final de 0,0016% foi realizado nos 40 min finais do cultivo.
Para a hipotonizao, utilizou-se uma soluo de KCl (0,075 M) por 12 min a 37oC e
para a fixao, metanol:cido actico, 3:1. Parte do material foi conservada a 20C no
fixador e parte foi utilizada na preparao de lminas, que foram mantidas em estufa a
37oC, por sete a quinze dias e, ento, utilizadas para a aplicao da tcnica de
bandamento cromossmico GTG ou congeladas a 20C, para utilizao posterior em
experimentos de hibridao in situ.
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27
Identificao dos rearranjos cromossmicos
Para a identificao dos rearranjos cromossmicos foi utilizada a tcnica de
bandamento GTG descrita por Seabright (1971), com modificaes. As lminas foram
tratadas com 2xSSC (cloreto de sdio 0,03 M e citrato trissdico 0,03 M, pH 7,0) por 15
minutos, a 60C. Em seguida foram lavadas em gua destilada e tratadas com soluo
de tripsina (1:250; Invitrogen) 0,025% em tampo fosfato Srensen (fosfato dissdico
0,03 M e fosfato monopotssico 0,03 M), pH 6,8, a 37C por tempo varivel de 10 s a
60 s, dependendo da idade da lmina. A seguir as lminas foram lavadas em gua
destilada e coradas por 3 a 6 min com soluo a 2% do corante de Giemsa (Merck), em
tampo fosfato, pH 6,8. As lminas foram lavadas em gua destilada e secas ao ar.
Mapeamento dos pontos de quebra
Para refinar o mapeamento dos pontos de quebra dos rearranjos cromossmicos
foi empregada a tcnica de hibridao in situ fluorescente (FISH). Foram utilizados
como sondas segmentos cromossmicos clonados em cromossomos artificiais de
bactrias (BAC). O laboratrio possui um conjunto de sondas de todos os cromossomos
humanos. Uma parte foi obtida do CHORI (BACPAC Resourses, CHORI - Childrens
Hospital Oakland Research Institute). Outras sondas clonadas em BAC fazem parte do
conjunto utilizado para a confeco de um 1Mb-array produzido pela Dra. Carla
Rosenberg, no Leiden University Medical Centre; esses clones foram cedidos pelo
Wellcome Trust Sanger Institute, UK; informaes sobre esse conjunto de clones esto
disponveis no Ensembl. Algumas sondas clonadas em BAC foram obtidas da
Invitrogen. De acordo com os pontos de quebra mapeados por bandamento G, as sondas
foram selecionadas para os experimentos de FISH com base nos mapas obtidos nos
bancos de dados Ensembl, National Center for Biotechnology Information (NCBI) e
University of California, Santa Cruz - Genome Browser (UCSC).
As bactrias com os clones de interesse foram cultivadas em meio LB (1%
bactotriptona; 0,5% extrato de levedura; 1% NaCl; pH 7,5), contendo o antibitico para
seleo de bactrias resistentes com os segmentos de interesse. Para a extrao dos
clones, utilizou-se o kit IllustraTM
PlasmidPrep Mini Spin (GE Healthcare, New Jersey,
EUA). As sondas foram marcadas por nick translation com biotina ou digoxigenina por
meio, respectivamente, da incorporao dos nucleotdeos Bio-16-dUTP ou Dig-11-
dUTP, utilizando os kits de marcao Biotin-Nick Translation Mix ou Dig-Nick
Translation (ambos da Roche Applied Science, Manheim, Alemanha), conforme
-
28
instrues do fabricante. As sondas foram desnaturadas a 95oC em meio de hibridao
(50% formamida, e 10% dextran sulfato, em 2xSSC). A supresso de sequncias
repetitivas foi feita com DNA humano Cot-1 (Invitrogen). O DNA dos cromossomos foi
desnaturado em 70% formamida/2xSSC a 72C. A hibridao foi realizada em cmara
mida por 48 a 72 horas a 37oC. Para a deteco das sondas marcadas com biotina,
utilizamos avidina conjugada a FITC e para a deteco de sondas marcadas com
digoxigenina, utilizamos anti-digoxigenina conjugada a rodamina. As lminas foram
montadas em Vectashield Mouting Medium (Vector Laboratories, Califrnia, EUA)
contendo o corante DAPI (0,8 g/mL) (Sigma, Saint Louis, EUA). A anlise foi
realizada em microscpio de fluorescncia Axiophot 2 (Carl Zeiss, Alemanha). Para a
documentao, as imagens foram capturadas por cmara de CCD e processadas,
utilizando-se o software ISIS (MetaSystem, Alemanha).
III.2.2 Busca de microdelees e duplicaes
A presena de desequilbrios genmicos submicroscpicos foi investigada pela
tcnica de array-CGH. Utilizamos nesse estudo a plataforma Human Genome CGH
Microarray Kit 2x105A (Agilent Technologies, Califrnia, EUA). No estudo de dois
pacientes foi utilizado o SurePrint G3 Human CGH 8x60K (Agilent Technologies,
Califrnia, EUA). O primeiro desses oligoarrays contm duas reas com
aproximadamente 105.000 oligonucleotdeos de 60 pb e o segundo contm oito reas
com aproximadamente 60.000 oligonucleotdeos de 60 pb. Os procedimentos de
purificao das amostras, hibridao e lavagem foram realizados conforme descrito pelo
fabricante (Agilent Technologies), com modificaes. Na etapa de digesto do DNA
genmico, para a plataforma de 105A, foram utilizados 800 ng de DNA, em volume
final de 22 L de reao contendo 5 U de cada uma das enzimas Alu I e Rsa I, 1,7 g de
BSA (albumina de sangue bovino) e Buffer C 10X (10% do volume final). Para a
plataforma 60K, foram utilizados 500 ng de DNA genmico, em volume final de 13 L
de reao, contendo 5 U de cada uma das enzimas Alu I e Rsa I, 1,0 g de BSA e Buffer
C 10X (10% do volume final). As amostras foram digeridas por duas horas a 37C em
estufa, seguida da inativao das enzimas por 20 min a 65C. Para a marcao das
amostras foram utilizados os kits Fluorescent Labelling System (BlueGnome,
Cambridge, UK), para a plataforma de 105A e Agilent Labelling mix (Agilent
Technologies), para a plataforma 60K. Os procedimentos e quantidades de cada
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29
reagente seguiram as instrues dos fabricantes dos kits. Em resumo, foram adicionados
random primers reao da digesto, seguindo-se desnaturao do DNA por cinco
minutos a 95C e incubao em gelo por cinco minutos. Para a marcao, foi adicionada
uma mistura contendo tampo, dNTP, Cy3-dCTP (para a amostra teste) ou Cy5-dCTP
(para a amostra referncia) e enzima Klenow. As amostras foram mantidas por duas
horas a 37C em estufa, procedendo-se em seguida inativao da enzima por 10 min a
65C. As amostras marcadas foram purificadas, utilizando-se o kit IllustraTM
ProbeQuantTM
G-50 Micro Columns (GE Healthcare), de acordo com o protocolo do
fabricante. Nas amostras analisadas na plataforma 60K, foram adicionados 25 L de
TE, antes da etapa de purificao. A quantificao do DNA genmico marcado e a
atividade especfica dos fluorocromos Cy3-dCTP e Cy5-dCTP foi determinada no
espectrofotmetro NanoDrop ND-1000 (NanoDrop Technologies). Para a etapa de
precipitao 50 L do DNA teste (marcado com Cy3) e 50 L do DNA referncia
(marcado com Cy5) foram adicionados a 5 g (plataforma de 60K) ou 25 g
(plataforma 105A) de Human Cot-1 DNA (Invitrogen), para o volume final de 105 L
(plataforma 60K) ou 125 L (plataforma 105A). Em seguida, foram adicionados NaAc
(3 M, pH 5,0; 10% do volume final) e etanol 100% gelado (2,5X o volume final). As
amostras foram precipitadas por 15 min a -80C ou por duas horas a -20C. Aps
centrifugao a 13.200 rpm, por 15 min a 4C, adicionou-se etanol 70% gelado s
amostras e procedeu-se a centrifugao por mais cinco minutos a 13.200 rpm,
descartando-se o sobrenadante. Seguiu-se nova centrifugao por um minuto,
descartando-se o sobrenadante. O DNA marcado foi ento ressuspendido em TE
previamente aquecido a 72C e mantido por cinco minutos a 72C, seguindo-se nova
ressuspenso em vrtex. Foram adicionadas as solues blocking solution 10X e
hybridization buffer 2X e procedeu-se desnaturao por trs minutos a 95C e 30 min
a 37C, em banho-maria. Adicionou-se todo o volume das amostras s lamelas da
lmina de suporte do microarray e colocou-se a lmina de microarray sobre ela. As
amostras foram ento hibridadas a 65C por 16-48 h. A lmina de microarray foi
mergulhada em Buffer 1 por cinco minutos, depois em Buffer 2 (previamente aquecido a
37C) por um minuto, seguindo 10 s em acetonitrila (Sigma-Aldrich, Missouri, USA) e
30 s em Stabilization Drying Solution. As imagens do array obtidas com o Agilent
High-Resolution Microarray scanner, foram processadas e analisadas, utilizando o
pacote de programas Feature Extraction e Agilent Genomic Workbench (ambos da
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30
Agilent Technologies), usando o algoritmo estatstico ADM-2 e limiar de sensibilidade
6,7. Apenas as alteraes abrangendo no mnimo trs oligonucleotdeos consecutivos
com razo log2 alterada foram consideradas pelo programa como possvel alterao no
nmero de cpias de determinado segmento genmico. Usando esses critrios, os
tamanhos mnimos das CNV detectadas pelas plataformas 60K e 105A so de,
respectivamente, 100-160 Kb e 60-90 Kb.
As alteraes de nmero de cpias identificadas nos pacientes foram
comparadas s variaes documentadas no banco de dados Database of Genomic
Variants (DGV), que compila as CNV presentes em amostras de indivduos normais.
Foram comparadas tambm s informaes do Database of Chromosomal Imbalances
and Phenotype in Humans using Ensembl Resources (DECIPHER), que documenta
desequilbrios genmicos identificados em indivduos afetados por diferentes
patologias. No caso de deteco de variantes consideradas nicas ou raras, a validao
do resultado foi feita por FISH. Uma vez confirmada, a alterao foi investigada em
outros membros da famlia, normais ou afetados.
III.2.3 Padro de inativao do cromossomo X
Determinamos o padro de inativao do cromossomo X em linfcitos de sangue
perifrico da paciente portadora de translocao t(X;22), com base na metilao do gene
AR e tambm citologicamente em metfases, aps incorporao de 5-BrdU.
Metilao do gene AR
O estudo do padro de inativao foi realizado, analisando-se a metilao da
repetio polimrfica CAG do gene AR (Androgen Receptor Gene; Xq11-12), conforme
descrito por Allen et al. (1992), com modificaes. Prximo repetio CAG existe um
stio de restrio da enzima Hpall, que se encontra metilado apenas no X inativo. A
anlise do padro de inativao do cromossomo X realizada amplificando-se a
repetio CAG a partir de DNA genmico submetido ou no a digesto com a enzima
HpaII. Como a enzima HpaII apenas corta os stios de restrio desmetilados, ou seja
dos alelos do gene AR localizados no cromossomo X ativo, esses alelos no so
amplificados. Duas amostras de 1.000 ng de DNA foram tratadas simultaneamente: uma
amostra foi submetida digesto com 20 U da enzima Hpall (Invitrogen), em volume
final de 20 l de reao, por 16 h a 37C; aps a digesto, a enzima foi inativada,
incubando-se as amostras a 95C for cinco minutos; a outra amostra foi incubada, na
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31
ausncia da enzima Hpall. A amplificao foi realizada em um volume de 30 l de
reao de PCR com quatro l do produto digerido ou no digerido, 1,5 U de Taq
polymerase, Buffer 1X, 250 M de cada deoxiribonucleotdeo, 2,5 mM MgCl2, 10%
DMSO e 15 pmoles de cada primer (forward-FAM: 5 gct gtg aag gtt gct gtt cct cat 3 e
reverse: 5 tcc aga atc tgt tcc aga gcg tgc 3). As condies de ciclagem foram um ciclo
de 95C (cinco min), 28 ciclos de 95C (45 s), 60C (30 s), 72C (30 s), extenso final a
72C (10 min). Os produtos da amplificao foram submetidos eletroforese no
aparelho ABI 310 DNA Analyzer e analisados com o software GeneMapper (Applied
Biosystems,Califrnia, EUA). A razo de inativao foi determinada utilizando-se os
valores dos picos de amplificao dos alelos digeridos e no digeridos:
(phd1/phu1)/(phd1/phu1)+(phd2/phu2), em que phd1 = alelo menor aps digesto,
phu1 = alelo menor no digerido, phd2 = alelo maior aps digesto e phu2 = maior alelo
no digerido (Bittel et al., 2008).
Incorporao de 5-BrdU
O padro de inativao do cromossomo X foi analisado em metfases de
linfcitos de sangue perifrico, aps incorporao de 5-bromodesoxiuridina (5-BrdU,
Sigma), seguida de colorao com acridina laranja. O tratamento com 5-BrdU, na
concentrao final de 200 g/mL, foi realizado nas sete horas finais de cultivo dos
linfcitos. Aps serem mantidas em estufa a 37C, por sete a quinze dias, as lminas
com o material foram submetidas a banhos de etanol (90%, 70% e 50%), lavadas com
gua destilada e secas ao ar. Em seguida foram cobertas por um filme de acridina
laranja (0,5 mg/mL em tampo fosfato) por 20 min. Aps serem lavadas com gua
destilada e secas ao ar, as lminas foram montadas em tampo fosfato, pH 6,8. A anlise
foi realizada em microscpio de fluorescncia Axiophot 2 (Carl Zeiss). Os
cromossomos X normal e translocado foram identificados com base em sua morfologia
e padro de bandas R. Para a documentao, as imagens foram capturadas por cmera
CCD e processadas utilizando-se o software ISIS (MetaSystem, Alemanha).
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32
IV. RESULTADOS E DISCUSSO
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33
IV. RESULTADOS E DISCUSSO
IV.1 Translocaes cromossmicas que provavelmente afetam a expresso do gene
SOX9
IV.1.1 Translocao t(7;17)(p13;q24)
Aspectos Clnicos
A paciente foi encaminhada ao Servio de Aconselhamento Gentico do LGH-
IB-USP, aos 12 anos de idade, por apresentar baixa estatura (136,5 cm; 3o percentil),
atraso na idade ssea e anormalidades esquelticas que incluam escoliose
toracolombar, 11 pares de vrtebras torcicas, deformidades do trax e da cintura
escapular consequentes a hipoplasia dos arcos costais superiores (principalmente dos
primeiros quatro pares). O desenvolvimento intelectual era normal para a idade. Seus
pais eram clinicamente normais. Nasceu a termo, aps cesariana, devido a apresentao
plvica. Nos primeiros seis anos de vida, teve bronquites recorrentes.
A anlise cromossmica, aps bandamento G, revelou uma translocao
recproca aparentemente equilibrada entre o brao curto do cromossomo 7 e o brao
longo do cromossomo 17 - t(7;17)(p13;q24) (Figura 4). O exame cromossmico de seus
pais revelou caritipos normais.
FIGURA 4. t(7;17)(p13;q24): Ideograma (ISCN 2009; caritipo com 550 bandas G) dos
cromossomos 7, 17 e dos derivativos der(7) e der(17). As setas indicam os pontos de quebra mapeados
aps bandamento G.
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34
Mapeamento dos pontos de quebra da t(7;17) por FISH
Realizamos a hibridao in situ fluorescente de clones de BAC mapeados nas
regies dos pontos de quebra determinados pela anlise aps bandamento G (Tabelas 2
e 3). O ponto de quebra do cromossomo 7 foi mapeado entre os clones RP11-256F18
(chr7:42,933,463-43,097,151, Human GRCh36 Assembly, hg18) e RP5-1032B10
(chr7:43,150,215-43,272,694), um segmento de 53 kb (chr7:43,097,151-43,150,215)
(Figura 5). No cromossomo 17 o ponto de quebra foi localizado no clone RP11-261A13
(chr17:66,711,133-66,856,750), com sinais de hibridao nos cromossomos der(17) e
der(7), neste ligeiramente maior (Figura 6A). O clone RP11-1087C16
(chr17:66,654,574-66,827,652), que se sobrepe quase totalmente ao RP11-261A13,
tambm contm o ponto de quebra (Figura 6A). O clone RP11-433D1
(chr17:66,773,681-66,947,354), que se sobrepe mais distalmente ao clone RP11-
1087C16, mostrou sinal de hibridao apenas no cromossomo der(7) (Figura 6A). Esses
resultados permitiram delimitar o ponto de quebra no cromossomo 17 em um segmento
de 62 kb (chr17: 66,711,133-66,773,681, hg18) (Figura 6B).
Investigao de perdas e ganhos de segmentos submicroscpicos por a-CGH
A anlise por a-CGH, usando a plataforma 105A (Agilent), no detectou
desequilbrios submicroscpicos associados ou no aos pontos de quebra.
Genes mapeados nos segmentos dos pontos de quebra
No cromossomo 7, o gene HECW1 (HECT, C2 and WW domain containing E3
ubiquitin protein ligase 1) est no segmento delimitado para a quebra e pode ter sido
interrompido. O gene codifica uma ligase de ubiquitina E3 que detectada principalmente em
tecidos neurais. Miyazaki et al. (2004) mostraram que a protena HECW1 liga-se protena
mutante SOD1, que responsvel pela morte de neurnios motores caracterstica da esclerose
lateral amiotrfica (ALS; MIM 105400). Os autores sugerem que a protena atue no controle d