CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE ANODIZAÇÃO EM...

6
CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE ANODIZAÇÃO EM TITÂNIO PARA APLICAÇÕES EM IMPLANTODONTIA R. Ciuccio 1 , V. Pastoukhov 2 1 UNITAU Universidade de Taubaté, 2 Prof. Dr. Eng. Mecânica, UNITAU. Resumo: Neste trabalho é apresentado o estudo do processo de anodização em titânio para aplicações em implantodontia, com o propósito de avaliar a durabilidade e resistência do filme formado na superfície do titânio. O titânio é hoje um dos materiais aloplásticos mais utilizados atualmente devido à osseointegração, sendo também de extrema leveza, alto grau de resistência à ruptura e à corrosão, baixa condutividade térmica. Um dos métodos que controla a formação e crescimento de filmes de óxido nas superfícies metálicas é o eletroquímico, conhecido como anodização. Este método tem a vantagem de apresentar flexibilidade e baixo custo. O objetivo principal deste trabalho é estudar o processo de formação de óxidos coloridos sobre o titânio aplicado a implantodontia através de processos de anodização. Com aplicação de diferentes voltagens e tempos é possível obter diferentes cores, atribuídas ao aumento de espessura do filme formado. Os resultados obtidos mostram que é possível obter cores diferentes do titânio anodizado empregando-se um adequado controle de tempo e do meio eletrolítico. Palavras-chaves: Titânio, anodização, implantodontia, óxidos de titânio. 1. INTRODUÇÃO Quando nos referimos à implantodontia, lembramos do titânio e suas ligas. Quase a totalidade de implantes metálicos odontológicos é produzida a partir de Titânio comercialmente puro. Determinadas características, por exemplo, biocompatibilidade, resistência à corrosão e resistência mecânica são necessárias para o sucesso em longo prazo do implante. As ligas biocompatíveis têm sido intensamente estudadas em relação à caracterização dos óxidos superficiais formados por diferentes métodos [1,2,3], modificações de suas superfícies de modo a melhorar a biocompatibilidade [4,5], estudos de novas ligas biocompatíveis [6], entre outros. Dominar a técnica de formação de um filme colorido de óxido sobre o titânio ou alguma de suas ligas biocompatíveis, controlando suas características físico-químicas, é de fundamental importância para a comercialização de implantes. Estes conhecimentos podem assegurar uma melhor qualidade aos implantes de titânio comercialmente puro (Ti-cp) ou de suas ligas quando submetidos à anodização. O processo de Ionização, ou mais comumente conhecido como Anodização em Titânio, é um processo físico de remoção de elétrons atômicos por fornecimento de uma quantidade de energia suficiente para libertá-los da atração exercida pelo núcleo, através de uma solução aquosa. E que dependendo da intensidade da tensão e o tempo de exposição e essa corrente, produzira dentro de uma senoidal uma escala de cores. Na anodização a superfície de um metal é transformada numa camada de óxido, através da passagem de corrente elétrica. Além de proteger o metal, a camada de óxido formada anodicamente se deixa tingir em muitas tonalidades diferentes. A oxidação anódica é empregada não apenas para fins decorativos, mas também para finalidades técnicas. As características iniciais da superfície são conservadas através da ação protetora da camada de óxido. Além de proteger o metal, a camada de óxido formada anodicamente pode ser obtida em muitas tonalidades diferentes. Assim, um dos objetivos deste trabalho é estudar o processo de formação de óxidos coloridos sobre o titânio aplicado a implantodontia através de processos de anodização, buscando criar métodos padrões, bem como um estudo analítico das possibilidades de cores alcançadas por este processo. Além disso, tem como meta o estabelecimento de um processo de controle dos resultados, dentro de um ciclo repetido. Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficie III INTERFINISH Latino Americano 144

Transcript of CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE ANODIZAÇÃO EM...

CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE ANODIZAÇÃO EM TITÂNIO

PARA APLICAÇÕES EM IMPLANTODONTIA

R. Ciuccio1, V. Pastoukhov2

1 UNITAU – Universidade de Taubaté, 2 Prof. Dr. Eng. Mecânica, UNITAU.

Resumo: Neste trabalho é apresentado o estudo do processo de anodização em titânio para aplicações em

implantodontia, com o propósito de avaliar a durabilidade e resistência do filme formado na superfície do

titânio. O titânio é hoje um dos materiais aloplásticos mais utilizados atualmente devido à

osseointegração, sendo também de extrema leveza, alto grau de resistência à ruptura e à corrosão, baixa

condutividade térmica. Um dos métodos que controla a formação e crescimento de filmes de óxido nas

superfícies metálicas é o eletroquímico, conhecido como anodização. Este método tem a vantagem de

apresentar flexibilidade e baixo custo. O objetivo principal deste trabalho é estudar o processo de

formação de óxidos coloridos sobre o titânio aplicado a implantodontia através de processos de

anodização. Com aplicação de diferentes voltagens e tempos é possível obter diferentes cores, atribuídas

ao aumento de espessura do filme formado. Os resultados obtidos mostram que é possível obter cores

diferentes do titânio anodizado empregando-se um adequado controle de tempo e do meio eletrolítico.

Palavras-chaves: Titânio, anodização, implantodontia, óxidos de titânio.

1. INTRODUÇÃO

Quando nos referimos à implantodontia, lembramos do titânio e suas ligas. Quase a totalidade de

implantes metálicos odontológicos é produzida a partir de Titânio comercialmente puro. Determinadas

características, por exemplo, biocompatibilidade, resistência à corrosão e resistência mecânica são

necessárias para o sucesso em longo prazo do implante.

As ligas biocompatíveis têm sido intensamente estudadas em relação à caracterização dos óxidos

superficiais formados por diferentes métodos [1,2,3], modificações de suas superfícies de modo a

melhorar a biocompatibilidade [4,5], estudos de novas ligas biocompatíveis [6], entre outros.

Dominar a técnica de formação de um filme colorido de óxido sobre o titânio ou alguma de suas

ligas biocompatíveis, controlando suas características físico-químicas, é de fundamental importância para

a comercialização de implantes. Estes conhecimentos podem assegurar uma melhor qualidade aos

implantes de titânio comercialmente puro (Ti-cp) ou de suas ligas quando submetidos à anodização.

O processo de Ionização, ou mais comumente conhecido como Anodização em Titânio, é um

processo físico de remoção de elétrons atômicos por fornecimento de uma quantidade de energia

suficiente para libertá-los da atração exercida pelo núcleo, através de uma solução aquosa. E que

dependendo da intensidade da tensão e o tempo de exposição e essa corrente, produzira dentro de uma

senoidal uma escala de cores.

Na anodização a superfície de um metal é transformada numa camada de óxido, através da passagem

de corrente elétrica. Além de proteger o metal, a camada de óxido formada anodicamente se deixa tingir

em muitas tonalidades diferentes.

A oxidação anódica é empregada não apenas para fins decorativos, mas também para finalidades

técnicas. As características iniciais da superfície são conservadas através da ação protetora da camada de

óxido. Além de proteger o metal, a camada de óxido formada anodicamente pode ser obtida em muitas

tonalidades diferentes. Assim, um dos objetivos deste trabalho é estudar o processo de formação de

óxidos coloridos sobre o titânio aplicado a implantodontia através de processos de anodização, buscando

criar métodos padrões, bem como um estudo analítico das possibilidades de cores alcançadas por este

processo. Além disso, tem como meta o estabelecimento de um processo de controle dos resultados,

dentro de um ciclo repetido.

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficieIII INTERFINISH Latino Americano

144

2. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia empregada nesta pesquisa (abordagem quantitativa) é de caráter exploratório, foi

desenvolvida, a partir de referências bibliográficas e testes experimentais.

Dispositivos e Objetos Utilizados neste processo:

a. Colméia com as peças;

b. Copo;

c. Peneira;

d. Placa Petri;

e. Kit para Ionização (Fonte retificadora (220 v), Pirex de vidro contendo solução de bicarbonato

de sódio, arco de inox e pinça devidamente montada com a fonte, agitador magnético e barra

magnética).

Descrição da Etapa de Ionização:

1. Selecionar a Tensão e o Tempo de acordo com a peça e o estipulado. Iniciar a ionização pegando

a peça com a pinça. Ao mergulhar a mesma na solução apertar o pedal para disparar o Tempo.

2. Depois de ionizada colocar as peças em um copo com água, para evitar que o bicarbonato

impregne na peça.

3. Colocar as peças na peneira e lavar com água Pressurizada.

4. Colocar na placa Petri e secar em estufa 60°C;

As amostras metalograficas foram preparadas de forma usual, passando-se pelas etapas de

corte, embutimento, lixamento e ataque com reagente apropriado. Foram analisados os corpos de prova; as microestruturas foram observadas em um microscópio ótico Leitz Laborlux 12ME S – Leica.

3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Na figura 1, são observadas as amostras anodizadas com solução de bicarbonato. Com aplicação de

diferentes voltagens e tempos é possível obter diferentes cores, atribuídas ao aumento de espessura do

filme formado.

Figura 1 – Amostras anodizadas com solução de bicarbonato.

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficieIII INTERFINISH Latino Americano

145

Na figura 2, são observadas as amostras anodizadas com solução de bicarbonato e ácido fluorídrico.

Com aplicação de diferentes voltagens e tempos é possível obter diferentes cores, atribuídas ao aumento

de espessura do filme formado.

Figura 2 – Amostras anodizadas com solução de bicarbonato e ácido fluorídrico.

O disco cromático não é um instrumento científico de classificação de cores, mas é muito útil no

entendimento da teoria das cores e geralmente usado para estudar as cores-pigmento. Independentemente

dos atributos físicos das tintas, é necessário conhecer as propriedades das cores de forma a podermos

resolver e fazer a melhor à escolha e mistura das cores à hora de pintar, conforme figura 3.

Figura 3 – Circulo cromático utilizado para definição das cores.

A figura 4 mostra imagens obtidas da microestrutura dos corpos de prova, que não apresentaram

variação significativa entre si. O tamanho de grão médio, classificado segundo a norma ASTM E112, é

ASTM 6,5 (diâmetro médio de 37,8 µm).

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficieIII INTERFINISH Latino Americano

146

Figura 4 – Imagens de microscopia óptica, mostrando a microestrutura dos corpos de prova, grãos de

equiaxiais e maclas.

4. DISCUSSÃO

A coloração do óxido produzido através da anodização pode ser um indicativo de sua espessura [7].

Esta relação entre cor e espessura do óxido é fortemente ligada às condições de anodização e natureza do

eletrólito. Qualquer mudança num parâmetro pode modificar a coloração da superfície do óxido.

Diferentes cores são freqüentemente obtidas para mesmas espessuras, por exemplo, em eletrólitos

distintos.

A coloração é predominantemente uniforme na superfície do óxido, mas pode ocorrer que alguns

grãos mostrem coloração ligeiramente diferente (ainda que com tonalidade próxima) do que a esperada

para um dado potencial [8].

A mudança na cor da película de óxido é resultante da mudança do potencial de anodização e é

atribuível às diferentes espessuras da camada de óxido. Esta primeira observação confirma que o

potencial de anodização tem um grande papel na mudança das propriedades do óxido e este aspecto físico

da cor geralmente permanece após as medidas eletroquímicas realizadas [9].

O titânio é recoberto espontaneamente por um filme fino de TiO2 devido à sua alta afinidade com o

oxigênio, sendo a anodização um processo eletroquímico utilizado para aumentar a espessura do filme de

óxido. A formação da camada interna do filme de TiO2 em elevados potenciais anódicos ocorre pela

migração de íons O2-/OH- em direção à interface metal/filme. Por outro lado, os íons Ti4+ originários do

substrato de Ti migram para a interface filme/eletrólito formando a camada mais interna do filme

anódico. Em geral, os óxidos cristalinos têm maior resistividade iônica, e por esta razão necessitam de

campos elétricos mais altos do que óxidos amorfos. Então, a probabilidade de excitação de elétrons na

banda de valência, originada pela sobreposição de orbitais O 2p no filme de TiO2 cristalino, conduz à

oxidação de íons O2- para formar moléculas de O2 e posterior desenvolvimento de bolhas [10].

Devido à alta afinidade com o oxigênio, o Ti forma espontaneamente uma camada densa de diversos

óxidos sobre sua superfície. Esta camada de óxido possui espessura entre 1,5 nm e 17 nm, se formada em

temperatura ambiente (KASEMO & LAUSMAA, 1983). Os óxidos formados apresentam variadas

modificações cristalinas e podem ser estequiométricos ou não, por exemplo, TiO, TiO2 e Ti3O5. Em

atmosfera normal o óxido termodinamicamente estável é TiO2, que existe em três modificações

alotrópicas: rutilo, broquita e anatásio (VELTEN et al., 2002). Este óxido natural também apresenta

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficieIII INTERFINISH Latino Americano

147

propriedades semicondutoras com banda de energia dependente da estrutura entre 3,0 e 3,7 eV

(SCHARNWEBER et al., 2002).

5. CONCLUSÃO Dentro da metodologia empregada neste estudo e com base na análise dos dados é possível concluir

que os novos parâmetros estabelecidos foram adotados como padrão para o processo produtivo de

componentes, gerando assim uma tabela de tolerância a ser seguida pelo controle. Além disso, podemos

concluir que o potencial, ou o tempo, de anodização é diretamente ligado as cores que obtemos.

Esta relação entre cor e espessura do óxido é fortemente ligada às condições de anodização e

natureza do eletrólito. Qualquer mudança num parâmetro pode modificar a coloração da superfície do

óxido. Diferentes cores são freqüentemente obtidas para mesmas espessuras, por exemplo, em eletrólitos

distintos.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CCDM – Centro de Caracterizações e Desenvolvimento de Materiais pelos

ensaios realizados, ao INEPO – Instituto Nacional de Experimentos e Pesquisas Odontológicos e a S.I.N.

– Sistema de Implante por terem fornecido as amostras, as instalações e equipamentos necessários à

realização deste trabalho.

7. REFERÊNCIAS

[1] Güleryüz, H.; Cimenoglu, H. (2004), “Effect of thermal oxidation on corrosion and corrosion–wear

behaviour of a Ti–6Al–4V alloy” Biomater., 25, 3325-3333.

[2] Lavos-Valereto I. C., Wolynec S., Ramires I., Guastaldi A. C. & Costa I. (2004), “Electrochemical

impedance spectroscopy characterization of passive film formed on implant Ti–6Al–7Nb alloy in Hank's

solution” J. Mater. Sci.: Mater. Med., 15, 55-59.

[3] Morant, C.; Lopez, M. F.; Gutiérrez, A.; Jiménez, J. A. (2003), “AFM and SEM characterization of

non-toxic vanadium-free Ti alloys used as biomaterials”Appl. Surf. Sci., 220, 79-87.

[4] MacDonald, D. E.; Rapuano, B. E.; Deo, N.; Stranick, M.; Somasundaran, P.; Boskey, A. L. (2004),

“Thermal and chemical modification of titanium–aluminum–vanadium implant materials: effects on

surface properties, glycoprotein adsorption, and MG63 cell attachment” Biomater., 25, 3135-3146.

[5] Götz, H. E.; Müller, M.; Emmel, A.; Holzwarth, U.; Erben, R. G.; Stangl, R. (2004), “Effect of

surface finish on the osseointegration of laser-treated titanium alloy implants” Biomater., 25, 4057-4064.

[6] Guillemot, F.; Prima, F.; Bareille, R.; Gordin, D.; Gloriant, T.; Porte-Durrieu, M. C.; Ansel, D.;

Baquey, Ch. (2004), “Design of new titanium alloys for orthopedic applications” Med. biol. eng. comput.,

42, 137-141.

[7] SUL, Y.T., 2003, “The significance of the surface properties of oxidized titanium to the bone

response: special emphasis on potential biochemical bonding of oxidized titanium implant”, Biomaterials,

v. 24, pp. 3893-3907.

[8] Hrapovic, S.; Luan, B. L.; D’Amours, M.; Vatankhah, G.; Jerkiewicz, G. (2001), “Morphology,

chemical composition, and electrochemical characteristics of colored titanium passive layers” Langmuir,

17, 3051-3060. Kobayashi, E.; Matsumoto, S.; Doi, H.; Yoneyama, T.; Hamanaka, H. (1995),

Mechanical properties of the binary titanium-zirconium alloys and their potential for biomedical aterials”

J. Biomed. Mater. Res., 29, 943-950.

[9] Fadl-Allah, S.A.; Mohsen , Q. (2010), “Characterization of native and anodic oxide films formed on

commercial pure titanium by using electrochemical and morphology techniques”, Appl. Surf. Sci.,

doi:10.1016/j.apsusc.2010.03.058.

[10] HABAZAKI, H., UOZUMI, M., KONNO, H. et al., 2003, “Crystallization of anodic titania on

titanium and its alloys”, Corrosion Science, v. 45, pp 2063-2073.

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficieIII INTERFINISH Latino Americano

148

8. DETALHES DO AUTOR

R. Ciuccio é o coordenador de engenharia de processo da S.I.N. – Sistema de

Implante Nacional, Professor da Faculdade Politécnica de Jundiaí e Mestrando

em Engenharia Mecânica pela Universidade de Taubaté.

V. Paustokhouv é professor assistente doutor da Universidade de Taubaté,

consultor e tradutor técnico. Atua na área de Engenharia Mecânica, com ênfase

em análise de tensões pelo método de elementos finitos, fadiga e vida útil de

componentes mecânicos, cinética de trincas e tolerância ao dano. Membro da

ABCM - Associação Brasileira de Ciências Mecânicas desde 1995.

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficieIII INTERFINISH Latino Americano

149