Caracterização por Ressonância Magnética das Massas fileFig. 1– Cistadenoma seromucinoso do...

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ARP 151 Acta Radiológica Portuguesa, Vol.XVIII, nº 69, pág. 151-155, Jan.-Mar., 2006 A Ressonância Magnética (RM) é excelente na detecção e caracterização das massas anexiais, nomeadamente na diferenciação entre lesão neoplásica ou não neoplásica, benigna ou maligna, mostrando acuidade de 60% a 99%. A administração de gadolínio possibilita a detecção e caracterização de massas anexiais complexas, particularmente a presença de vegetações numa lesão quística. Aspectos em Ressonância Magnética Massas benignas dos ovários Quistos funcionais - têm uma fina parede e líquido homogéneo, mas podem ter pequena quantidade de hemorragia. A intensidade de sinal (IS) dos quistos hemorrágicos é variável, consoante a idade da hemorragia. Quistos de inclusão peritoneal - mostram uma morfologia peculiar, adaptando-se à forma da pelvis e podem ter septos. A história de prévia cirurgia ou doença inflamatória pélvica permitem o diagnóstico diferencial com as neoplasias. Endometrioma -são quistos de retenção especiais, preenchidos com sangue não recente e por isso exibem hipersinal em T1 sem e com saturação de gordura e hipossinal heterogéneo em T2. Pode não ser possível a diferenciação com os quistos hemorrágicos, embora a multiplicidade seja um sinal muito sugestivo, bem como a presença de paredes espessas, com aderências às estruturas adjacentes. Os tumores do ovário são classificados de acordo com a célula de origem e estâo descritos múltiplos tipos e subtipos, dos quais se salienta os seguintes, que podem mostrar aspectos por vezes sugestivos: 1-Tumores epiteliais de superfície: Cistadenoma seroso – uniloculado, com líquido homogéneo. Cistadenoma mucinoso – multiloculado, com locas de sinal variável, ou quistos filhos. O conteúdo espesso, mucinoso, pode por vezes exibir hipossinal em T2 e hipersinal em T1 (Fig.1). Tumor de Brenner – é a rara excepção à regra de que a presença de tecido sólido numa massa quística, indica malignidade. Apresenta-se como um nódulo sólido com uma outra massa quística (tipicamente cistadenoma mucinoso). O nódulo mostra hipossinal em T2. Caracterização por Ressonância Magnética das Massas Ováricas M. Cristina Marques Serviço de Imagiologia, Hospitais da Universidade de Coimbra Fig. 1– Cistadenoma seromucinoso do ovário direito e fibrotecoma do ovário esquerdo. a-b) T1 axial – formação do ovário direito com hipersinal em T1 e do ovário esquerdo com acentuado hipossinal. c) T2 axial – hipersinal acentuado na lesão do ovário direito, com algumas projecções paplilares; evidente hipossinal na lesão do ovário esquerdo. a b c

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ARP 151

Acta Radiológica Portuguesa, Vol.XVIII, nº 69, pág. 151-155, Jan.-Mar., 2006

A Ressonância Magnética (RM) é excelente na detecção ecaracterização das massas anexiais, nomeadamente nadiferenciação entre lesão neoplásica ou não neoplásica,benigna ou maligna, mostrando acuidade de 60% a 99%.A administração de gadolínio possibilita a detecção ecaracterização de massas anexiais complexas,particularmente a presença de vegetações numa lesãoquística.

Aspectos em Ressonância Magnética

Massas benignas dos ováriosQuistos funcionais - têm uma fina parede e líquidohomogéneo, mas podem ter pequena quantidade dehemorragia. A intensidade de sinal (IS) dos quistoshemorrágicos é variável, consoante a idade da hemorragia.Quistos de inclusão peritoneal - mostram uma morfologiapeculiar, adaptando-se à forma da pelvis e podem terseptos. A história de prévia cirurgia ou doença inflamatóriapélvica permitem o diagnóstico diferencial com asneoplasias.Endometrioma -são quistos de retenção especiais,preenchidos com sangue não recente e por isso exibemhipersinal em T1 sem e com saturação de gordura ehipossinal heterogéneo em T2. Pode não ser possível adiferenciação com os quistos hemorrágicos, embora amultiplicidade seja um sinal muito sugestivo, bem como apresença de paredes espessas, com aderências às estruturasadjacentes.Os tumores do ovário são classificados de acordo com acélula de origem e estâo descritos múltiplos tipos esubtipos, dos quais se salienta os seguintes, que podemmostrar aspectos por vezes sugestivos:1-Tumores epiteliais de superfície:Cistadenoma seroso – uniloculado, com líquidohomogéneo.Cistadenoma mucinoso – multiloculado, com locas de sinalvariável, ou quistos filhos. O conteúdo espesso, mucinoso,pode por vezes exibir hipossinal em T2 e hipersinal emT1 (Fig.1).Tumor de Brenner – é a rara excepção à regra de que apresença de tecido sólido numa massa quística, indicamalignidade. Apresenta-se como um nódulo sólido comuma outra massa quística (tipicamente cistadenomamucinoso). O nódulo mostra hipossinal em T2.

Caracterização por Ressonância Magnética das MassasOváricas

M. Cristina Marques

Serviço de Imagiologia, Hospitais da Universidade de Coimbra

Fig. 1– Cistadenoma seromucinoso do ovário direito e fibrotecoma doovário esquerdo. a-b) T1 axial – formação do ovário direito comhipersinal em T1 e do ovário esquerdo com acentuado hipossinal. c) T2axial – hipersinal acentuado na lesão do ovário direito, com algumasprojecções paplilares; evidente hipossinal na lesão do ovário esquerdo.

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Fig. 2 – Teratoma quístico maduro do ovário esquerdo. a) T1 axial-formação com hipersinal, com septações e áreas sólidas em localizaçãoposterior b-c) Turbo T2 axial e sagital – a lesão mantém o hipersinal eas áreas sólidas mostram hipossinal.

Fig. 1 - d) T1 axial com saturação de gordura - a lesão do ovário direitomantém o hipersinal. e) T1 axial com saturação de gordura apósgadolínio – ligeiro realce das vegetações do ovário direito. Discreto realcena lesão do ovário esquerdo.

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2-Tumores dos cordões sexuaisFibromas e tecomas - são tumores sólidos, com hipossinalem T2 o que reflecte a presença de colagénio abundante(Fig.1).3-Tumores de células germinativas - mais de 95% sãoquistos dermoides. São preenchidos por líquido sebáceoque mostra hipersinal acentuado em T1 e T2 e com reduçãodo sinal do componente adiposo nas sequências comsaturação de gordura, o que permite a sua diferenciaçãocom o endometrioma (Fig.2). As protuberâncias deRokitansky são frequentes e podem assemelhar-se aprotusões sólidas, mas ao contrário daquelas, não mostramcaptação de contraste.

Os tumores benignos podem contudo apresentarcomponentes sólidos e quísticos simulando tumoresmalignos. A maioria dos componentes sólidos são deorigem fibrosa (Fig.3).

Tumores malignos dos ováriosA maioria mostra aspectos semelhantes, com hipo ouisossinal em T1 e hipersinal em T2, com elementos sólidosque realçam após gadolínio.1-Tumores epiteliais de superficie – correspondem a 95%dos tumores malignos do ovárioCistadenocarcinomas serosos e mucinosos – exibemcomponentes quísticos e sólidos, projecções papilares,focos hemorrágicos ou necróticos. O líquido seroso oumucinoso não se diferencia com segurança em RessonânciaMagnética (Fig.3).Tumores endometrioides – a maioria são unilaterais eoriginam-se de focos de endometriose pré-existente.

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Fig. 3 – Tumor seroso de malignidade “borderline”, com áreas deadenofibroma, do ovário direito. Presença simultânea de adenocarcinomado endométrio. a) T1 axial –massa com hipersinal, com nível líquido/líquido.

Fig. 3 - b) Turbo T2 axial – toda a lesão mostra hipersinal, identificando-se septação fina na interface. c) Turbo T2 sagital – lesão hiperintensado ovário, com discreta irregularidade parietal e associadamentecarcinoma do endométrio. d) T1 axial com gadolínio- discreto realceem localização anterior

Fig. 2 - d) Turbo T2 sagital com saturação de gordura – o componenteadiposo em localização posterior e inferior diminui de IS.

Podem ser sólidos ou heterogéneos, com porções líquidase sólidas (Fig.4).2-Tumores de células germinativasDisgerminoma - é o tipo mais frequente deste grupo eocorre em adolescentes e mulheres jovens. A maioria sãosólidos e 80% são unilaterais.Teratoma imaturo – massas quísticas gigantes, com líquidosimples e pouco componente adiposo.3-Tumores dos cordões sexuaisTumores da célula da granulosa –são raros, sem sinaisespecífico. Podem ser hemorrágicos, sólidos e quísticos

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Fig. 4 – Carcinoma endometrioide do ovário direito. a-b) T1 e T2 axial -massa heterogénea, com locas com hipersinal em T1 e T2,correspondendo a hemorragia e áreas sólidas com hipossinal em T1 e sinal intermédio em T2

Fig. 5 – Metástases bilaterais, de neoplasia gástrica. a-b) Turbo T2 axial

Fig. 5 - c-d) Turbo T2 sagital - massas bilaterais, predominantemente hipointensas, tendo alguns componentes quísticos,com maior volume à esquerda.

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Fig. 5 - e) Haste coronal – as duas massas com hipossinal predominante,mostrando a esquerda extenso componente quístico. Volumoso derrameperitoneal.

4- Tumores secundários – apresentam-se como umalargamento sólido de ambos os ovários, com preservaçãoda sua forma oval, frequentemente bilaterais. Podemmostrar hipossinal em T2, sendo bastante sugestivo (Fig.5).Em conclusão, a RM na avaliação das massas do ovárionem sempre permite o diagnóstico histológico, sendoutilizada na diferenciação entre lesões benignas e malignasou “borderline”. Estão descritos vários critérios, quepermitem caracterizar 95% das lesões malignas.

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