Caraterização de Patologias e Metodologias de Reparação em ... · EABILITAÇÃO DA PINTURA DE...

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Caraterização de Patologias e Metodologias de Reparação em Estruturas Hidráulicas de Betão Armado do Tipo Torre de Tomada de Água Celso Ricardo Lopes Silvério Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador: Professor Doutor Rui Vaz Rodrigues Júri Presidente: Professor Doutor Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa Orientador: Professor Doutor Rui Vaz Rodrigues Vogal: Professor Doutor Augusto Martins Gomes Outubro de 2017

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Caraterização de Patologias e Metodologias de Reparação

em Estruturas Hidráulicas de Betão Armado do Tipo Torre

de Tomada de Água

Celso Ricardo Lopes Silvério

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador: Professor Doutor Rui Vaz Rodrigues

Júri

Presidente: Professor Doutor Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa

Orientador: Professor Doutor Rui Vaz Rodrigues

Vogal: Professor Doutor Augusto Martins Gomes

Outubro de 2017

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AGRADECIMENTOS

O autor deste documento deseja endereçar algumas notas de agradecimento a quem de forma direta

ou indireta contribuiu para a sua realização.

Ao Professor Rui Vaz Rodrigues, orientador desta dissertação, pelo interesse, disponibilidade e auxílio

que sempre demonstrou, e também pela disponibilização de uma vasta gama de documentos e

fotografias relacionadas com o tema.

Aos docentes do Mestrado Integrado em Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico pela

transmissão de conhecimentos sobre as matérias curriculares.

À minha família e aos meus amigos que sempre demonstraram disponibilidade para ajudar.

iv

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RESUMO

No presente documento apresentam-se as principais patologias e possíveis metodologias de reparação

de estruturas hidráulicas de betão armado do tipo torre de tomada de água. As torres de tomada de

água podem ser classificadas de acordo com a presença de água no seu interior (em condições normais

de funcionamento) em torres do tipo seca ou torres do tipo húmida.

As patologias habituais identificadas em torres de tomada de água podem estar associadas a

elementos estruturais (e.g., erosão pelo efeito da água e dos sedimentos, erosão por cavitação,

infiltração de água através de fendas e/ou juntas de betonagem, corrosão das armaduras), ou em

elementos secundários (e.g., corrosão em elementos metálicos, tais como passadiços de acesso,

grelhas de proteção, etc.). As patologias em elementos estruturais são as mais graves, pois podem pôr

em causa a segurança e a funcionalidade da estrutura. As causas prováveis destas patologias podem

ser resultado de ações mecânicas, químicas, erros de projeto, erros de execução, e/ou devido ao

processo de envelhecimento natural.

A elaboração de metodologias de reparação pretende criar uma sequência lógica dos trabalhos de

reparação, facilitando a sua execução em obra. São úteis como base de comparação e/ou elementos

auxiliares ao processo de reparação de estruturas hidráulicas com as mesmas patologias, servindo

assim como uma base de comparação que poderá ser útil no futuro.

Palavras-chave: Torres de tomada de água, Patologias, Metodologias de reparação, Erosão,

Cavitação, Corrosão, Estanquidade.

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ABSTRACT

The present document consists of the elaboration of repair methodologies related to usual pathologies

in hydraulic structures of reinforced concrete of the water intake towers. The water intake towers can be

classified according to the presence of water inside (in normal conditions of operation) in “dry” type tower

or “wet” type tower.

The usual pathologies identified in water intake towers may be related to structural elements (e.g.,

erosion, cavitation, water infiltration through cracks and/or joints, corrosion of reinforcement), or

secondary elements (e.g. corrosion of metallic elements such as access walkways, protective grids,

etc.). Structural pathologies are the most important, as they may compromise the safety and functionality

of the structure. The probable causes of those pathologies may be the result of mechanical, chemical,

design errors, errors of execution, and/or due to the natural aging process.

The elaboration of repair methodologies intends to create a logical sequence of the repair works,

providing guidelines to their execution, being useful compare and/or provide elements to the process of

repair of hydraulic structures with the same pathologies.

Key-words: Water intake towers, Pathologies, Repair methodologies, Erosion, Cavitation, Corrosion,

Watertightness.

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ABREVIATURAS E SIGLAS

Fórmulas químicas

Cl- – Ião cloreto

Fe2+

– Ião ferro (II)

OH- – Ião hidróxido

CaCO3 – Carbonato de cálcio

CO2 – Dióxido de carbono

SO2 – Dióxido de enxofre

H2O – Água

O2 – Oxigénio

e- – Eletrão

Ca(OH)2 – Hidróxido de cálcio

Fe(OH)2 – Hidróxido de ferro (II)

Fe(OH)3 – Hidróxido de ferro (III)

FeO – Óxido de ferro (II)

Fe2O3 – Óxido de ferro (III)

Fe3O4 – Óxido de ferro (II, III)

Fe2O3.H2O – Óxido de ferro hidratado (III)

Siglas

m/s – Metro por segundo

cm – Centímetro

mm – Milímetro

µm – Micrómetro

wk – Abertura de fenda

º – Grau

ºC – Grau Celsius

% – Percentagem

MPa – Mega Pascal

pH – Potencial de Hidrogénio

NP – Norma Portuguesa

LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil

EN – European Norm

ISO – International Organization for Standardization

ASTM – American Society for Testing and Materials

CFD – Computational Fluid Dynamic

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................1

1.1 ENQUADRAMENTO ..................................................................................................................1

1.2 OBJETIVOS............................................................................................................................2

1.3 ORGANIZAÇÃO .......................................................................................................................2

2 TORRES DE TOMADAS DE ÁGUA .........................................................................................3

2.1 ASPETOS GERAIS ...................................................................................................................3

2.2 CLASSIFICAÇÃO .....................................................................................................................4

2.2.1 TORRES DO TIPO SECA ........................................................................................................5

2.2.2 TORRES DO TIPO HÚMIDA .....................................................................................................6

2.3 CRITÉRIOS DE ESCOLHA DO LOCAL ............................................................................................7

2.4 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO ............................................................................................7

2.5 GRELHAS DE PROTEÇÃO..........................................................................................................9

2.5.1 CRITÉRIOS DE LIMPEZA ...................................................................................................... 10

2.5.2 CRITÉRIOS DE VELOCIDADE ................................................................................................ 10

3 PATOLOGIAS EM TORRES DE TOMADA DE ÁGUA ............................................................ 11

3.1 ASPETOS GERAIS ................................................................................................................. 11

3.2 EROSÃO ............................................................................................................................. 12

3.3 CAVITAÇÃO ......................................................................................................................... 13

3.4 INFILTRAÇÃO DE ÁGUA .......................................................................................................... 14

3.4.1 ATRAVÉS DE JUNTAS DE BETONAGEM ................................................................................... 14

3.4.2 ATRAVÉS DE FENDAS ......................................................................................................... 15

3.5 CORROSÃO DAS ARMADURAS ................................................................................................. 16

3.5.1 PROCESSO DE CORROSÃO ................................................................................................. 16

3.5.2 PROTEÇÃO DAS ARMADURAS .............................................................................................. 18

3.5.3 DESPASSIVAÇÃO DAS ARMADURAS ...................................................................................... 18

3.5.4 CORROSÃO INDUZIDA POR CARBONATAÇÃO........................................................................... 19

3.5.5 CORROSÃO INDUZIDA POR CLORETOS .................................................................................. 21

3.5.6 EFEITOS DA CORROSÃO DAS ARMADURAS ............................................................................. 24

3.6 CORROSÃO EM ELEMENTOS METÁLICOS ................................................................................... 25

4 PROPOSTAS DE METODOLOGIAS DE REPARAÇÃO.......................................................... 27

4.1 ASPETOS GERAIS ................................................................................................................. 27

4.2 INTRODUÇÃO À NP EN 1504 ................................................................................................. 27

xii

4.3 INTRODUÇÃO A NP EN ISO 12944......................................................................................... 30

4.4 REPARAÇÃO DE FENDAS ........................................................................................................ 32

4.4.1 INJEÇÃO .......................................................................................................................... 33

4.4.1.1 SISTEMAS DE INJEÇÃO .................................................................................................... 34

4.4.1.2 PRODUTOS DE INJEÇÃO .................................................................................................. 34

4.4.1.3 MÉTODOS DE INJEÇÃO.................................................................................................... 36

4.4.1.4 EQUIPAMENTOS DE INJEÇÃO ............................................................................................ 36

4.4.1.5 PROCEDIMENTO DE INJEÇÃO SOB PRESSÃO (FENDAS COM WK ≥ 0,40 MM) ............................... 39

4.4.1.6 CONTROLO DA QUALIDADE .............................................................................................. 41

4.4.2 IMPERMEABILIZAÇÃO POR CRISTALIZAÇÃO ............................................................................. 42

4.4.2.1 PRODUTOS DE IMPERMEABILIZAÇÃO.................................................................................. 43

4.4.2.2 EQUIPAMENTOS DE APLICAÇÃO ........................................................................................ 43

4.4.2.3 EXEMPLOS DE IMPERMEABILIZAÇÃO POR CRISTALIZAÇÃO...................................................... 44

4.4.2.4 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO (JUNTAS E FENDAS COM WK < 0,40 MM) ................................ 45

4.4.2.5 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO (FENDAS COM WK ≥ 0,40 MM).............................................. 47

4.4.2.6 CONTROLO DA QUALIDADE .............................................................................................. 51

4.4.3 REVESTIMENTO SUPERFICIAL .............................................................................................. 52

4.4.4 SELAGEM ........................................................................................................................ 52

4.5 REPARAÇÃO DO BETÃO E ARMADURAS ..................................................................................... 53

4.5.1 PRODUTOS DE REPARAÇÃO ................................................................................................ 54

4.5.2 MÉTODOS DE APLICAÇÃO DO BETÃO OU ARGAMASSA .............................................................. 57

4.5.3 EQUIPAMENTOS DE PROJEÇÃO DO BETÃO OU ARGAMASSA ....................................................... 58

4.5.4 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO DO BETÃO (BETÃO POUCO DEGRADADO)................................... 59

4.5.5 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO DO BETÃO (BETÃO MUITO DEGRADADO) .................................... 61

4.5.6 CONTROLO DA QUALIDADE ................................................................................................. 64

4.6 REABILITAÇÃO DA PINTURA DE ELEMENTOS METÁLICOS .............................................................. 65

4.6.1 PRODUTOS DE REVESTIMENTOS ANTICORROSIVOS ................................................................. 65

4.6.2 EQUIPAMENTOS DE PINTURA ............................................................................................... 66

4.6.3 PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DO REVESTIMENTO ANTICORROSIVO (CATEGORIA DE CORROSIVIDADE

C5-M) ....................................................................................................................... 67

4.6.4 PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DO REVESTIMENTO ANTICORROSIVO (CATEGORIA DE CORROSIVIDADE

IM 2) ......................................................................................................................... 68

4.6.5 CONTROLO DA QUALIDADE ................................................................................................. 69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 71

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 73

xiii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2-1 – Torre de tomada de água do Castelo de Bode (Marques, 2010). ....................................3

Figura 2-2 – Representação esquemática de uma torre de tomada de água do tipo seca. ..................5

Figura 2-3 – Representação esquemática de uma torre de tomada de água do tipo húmida................6

Figura 2-4 – Grelha de proteção de uma tomada de água em albufeira (Pinheiro, 2006). ....................9

Figura 2-5 – Equipamento de limpeza de grelhas de proteção (Wild Metal GmbH, 2017). ................. 10

Figura 3-1 – Causas comuns de deterioração do betão armado (NP EN 1504-9 Princípios gerais para

a utilização de produtos e sistemas, 2006). ............................................................... 11

Figura 3-2 – Danos no betão devidos à erosão (Fay, 2015). ........................................................... 12

Figura 3-3 – Danos no betão devidos à cavitação (Fay, 2015)......................................................... 13

Figura 3-4 – Eflorescência no interior de estrutura de betão armado do tipo torre de tomada de água

(Fotografia fornecida pelo Professor Rui Vaz Rodrigues, 2017). ................................. 14

Figura 3-5 – Fissurómetro usado para monitorizar o movimento da fenda (Fay, 2015). ..................... 15

Figura 3-6 – Corrosão das armaduras e delaminação do betão de recobrimento (Costa, 2010). ........ 16

Figura 3-7 – Esquema simplificado do processo de corrosão das armaduras, adaptado de (Costa,

2010). ..................................................................................................................... 16

Figura 3-8 – Esquema simplificado da proteção das armaduras no betão, adaptado de (Costa, 2010).

.............................................................................................................................. 18

Figura 3-9 – Esquema simplificado da despassivação das armaduras, adaptado de (Costa, 2010).... 18

Figura 3-10 – Esquema simplificado do mecanismo de carbonatação, adaptado de (Costa, 2010). ... 19

Figura 3-11 – Velocidade de penetração do dióxido de carbono em função da humidade relativa do

betão, adaptado de (Lusomapei Sociedade Anónima, 2014). ..................................... 20

Figura 3-12 – Ensaio colorímetro com fenolftaleína (Lusomapei Sociedade Anónima, 2014). ............ 20

Figura 3-13 – Esquema simplificado do mecanismo do transporte de cloretos do exterior, adaptado de

(Costa, 2010). ......................................................................................................... 21

Figura 3-14 – Ensaio colorimétrico com nitrato de prata (Revista ALCONPAT, 2015). ...................... 22

Figura 3-15 – Esquema simplificado do teste acústico com um martelo. .......................................... 23

Figura 3-16 – Delaminação provocada pela corrosão das armaduras (Costa, 2010). ........................ 24

xiv

Figura 3-17 – Passadiço de acesso a torre de tomada de água (Fotografia fornecida pelo Professor

Rui Vaz Rodrigues, 2017). ....................................................................................... 25

Figura 4-1 – Principais razões para a reparação de fendas, adaptado de (Araújo, 2016)................... 32

Figura 4-2 – Injeção de resinas de poliuretano em túnel hidráulico de adução de central hidroelétrica

(Fotografia fornecida pelo Professor Rui Vaz Rodrigues, 2017). ................................. 33

Figura 4-3 – Bomba elétrica com um reservatório (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika®

Injection Systems, 2017). ......................................................................................... 36

Figura 4-4 – Bomba elétrica com dois reservatórios (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika®

Injection Systems, 2017). ......................................................................................... 37

Figura 4-5 – Colocação de injetores mecânicos utilizados na reparação de juntas de construção numa

parede de betão estrutural (Fotografia fornecida pelo Professor Rui Vaz Rodrigues,

2017). ..................................................................................................................... 37

Figura 4-6 – Injetor de superfície (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika® Injection

Systems, 2017). ...................................................................................................... 38

Figura 4-7 – Injetores mecânicos (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika® Injection

Systems, 2017). ...................................................................................................... 38

Figura 4-8 – Esquema simplificado do processo de furação na superfície do betão. ......................... 39

Figura 4-9 – Carotes (Correia, et al., 2015). ................................................................................... 41

Figura 4-10 – Formação de cristais nos poros e capilaridades do betão (Xypex® Chemical

Corporation, 2017). ................................................................................................. 42

Figura 4-11 – Equipamento de spray (Xypex® Chemical Corporation, 2017). ................................... 43

Figura 4-12 – Impermeabilização de num canal de uma estação de tratamento de água (Xypex®

Chemical Corporation, 2017).................................................................................... 44

Figura 4-13 – Impermeabilização de num canal de uma estação de tratamento de água (Xypex®

Chemical Corporation, 2017).................................................................................... 44

Figura 4-14 – Esquema simplificado do revestimento impermeabilizante. ........................................ 45

Figura 4-15 – Esquema simplificado de reparação de fendas sem fluxo de água. ............................. 47

Figura 4-16 – Esquema simplificado de reparação de fendas com fluxo de água. ............................. 49

Figura 4-17 – Esquema simplificado do ensaio de aderência pelo método pull-off (oz-diagnostico,

2017). ..................................................................................................................... 51

xv

Figura 4-18 – Esquema simplificado do revestimento superficial. .................................................... 52

Figura 4-19 – Esquema simplificado da selagem de fendas. ........................................................... 52

Figura 4-20 – Esquema simplificado de reparação do betão, adaptado de (Costa, 2010). ................. 53

Figura 4-21 – Resultados do ensaio de cavitação, adaptado de (James Edmond McDonald , 2000). . 55

Figura 4-22 – Projeção de betão (Correia, et al., 2015). .................................................................. 57

Figura 4-23 – Máquina de projeção (Catalogo Sika®. Tecnologia Sika® para betão projetado, 2010).

.............................................................................................................................. 58

Figura 4-24 – Bomba de projeção (Catalogo Sika®. Tecnologia Sika® para betão projetado, 2010). . 58

Figura 4-25 – Esquema simplificado de projeção de argamassa...................................................... 60

Figura 4-26 – Esquema simplificado de reparação do betão muito degradado.................................. 61

Figura 4-27 – Esquema simplificado da amarração e empalmo mecânico de armaduras de reforço,

adaptado de (Costa, 2010)....................................................................................... 62

Figura 4-28 – Esquema simplificado de projeção de argamassa...................................................... 63

Figura 4-29 – Ensaio de aderência pelo método pull-off (Costa, 2010)............................................. 64

Figura 4-30 – Revestimento anticorrosivo por pintura (Pereira, 2006). ............................................. 65

Figura 4-31 – Esquema simplificado do esquema de pintura. .......................................................... 65

Figura 4-32 – Equipamento de spray (Jaguar Surface Coating, 2017).............................................. 66

Figura 4-33 – Ensaio de aderência pelo método pull-off (Rodrigues, 2010). ..................................... 69

Figura 4-34– Equipamento de medição de espessuras de revestimentos (Rodrigues, 2010). ............ 69

xvi

xvii

LISTA DE TABELAS

Tabela 4-1 – Princípios e métodos relacionados com defeitos no betão, adaptado da (NP EN 1504-9

Princípios gerais para a utilização de produtos e sistemas, 2006). .............................. 28

Tabela 4-2 – Princípios e métodos relacionados com a corrosão das armaduras, adaptado da

(NP EN 1504-9 Princípios gerais para a utilização de produtos e sistemas, 2006). ...... 29

Tabela 4-3 – Exemplos de patologias e princípios aplicáveis, adaptado de (Costa, 2010). ................ 29

Tabela 4-4 – Categorias de corrosividade atmosférica e exemplos de ambientes típicos, adaptado da

(NP EN ISO 12944-2 Classificação de ambientes, 1999). .......................................... 31

Tabela 4-5 – Categorias para imersão em água e solo, adaptado da (NP EN ISO 12944-2

Classificação de ambientes, 1999). .......................................................................... 31

Tabela 4-6 – Caraterísticas dos produtos de injeção, adaptado de (Araújo, 2016). ........................... 34

Tabela 4-7– Requisitos de desempenho de produtos de reparação, adaptado da (NP EN 1504-3

Reparação estrutural e não estrutural, 2006). ............................................................ 54

Tabela 4-8 Vantagens dos métodos de projeção via seca e via húmida (Correia, et al., 2015). .......... 57

Tabela 5-1 – Comparação dos métodos de reparação de fendas. ................................................... 72

xviii

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 ENQUADRAMENTO

A água é um elemento imprescindível à vida do ser humano. Desde o início dos tempos as primeiras

civilizações aglomeravam-se junto das principais linhas de água, onde os terrenos eram mais férteis

para a prática da agricultura. Desta forma surgiu a necessidade de serem construídas as primeiras

barragens para armazenar água tendo em vista diversas utilizações (e.g., abastecimento às

populações, rega, pecuária, produção de força motriz). A primeira barragem conhecida pelo homem

remonta há cerca de 5000 anos, conforme registos da barragem de Jawa na Jordânia (Quintela, et al.,

2009).

Inicialmente o critério de escolha do local de extração de água era apenas a quantidade de água

extraível. Com a evolução da civilização, a qualidade da água foi sendo reconhecida como fator

relevante, sendo possível relacionar a mesma com a incidência de doenças, tendo especial importância

para a saúde pública. Atualmente os requisitos relativos à quantidade e qualidade da água aumentaram

significativamente, o que obriga a um bom sistema de abastecimento (Rao, 2005).

Os aproveitamentos que se baseiam na utilização de água denominam-se de aproveitamentos

hidráulicos, podendo ser:

• aproveitamentos para abastecimento de água;

• aproveitamentos hidroelétricos;

• aproveitamentos hidroagrícolas;

• aproveitamentos de fins múltiplos.

Os aproveitamentos de fins múltiplos podem ter diversas finalidades (e.g., abastecimento de água,

produção de energia elétrica, rega, atividades recreativas), podendo considerar todos ou só alguns fins.

2

1.2 OBJETIVOS

Os objetivos do presente documento é a elaboração de metodologias de reparação sob a forma de

procedimentos, e indicação das principais caraterísticas dos materiais a considerar, relativas a

patologias de estruturas hidráulicas de betão armado, do tipo torre de tomada de água. Procede-se

ainda à descrição dos fenómenos e causas que estão na sua origem. A elaboração de procedimentos

de reparação para cada patologia, pretende criar uma sequência lógica dos trabalhos de reparação,

facilitando a sua execução em obra. Os procedimentos de reparação elaborados para cada patologia

identificada poderão ser úteis como base de comparação e/ou elementos auxiliares ao processo de

reparação de estruturas hidráulicas onde ocorram as mesmas patologias.

1.3 ORGANIZAÇÃO

O presente documento encontra-se dividido em seis capítulos, sendo os seguintes:

• Capítulo 1: introdução acerca da importância da água para o ser humano, e os objetivos do

presente documento;

• Capítulo 2: descrição dos aspetos gerais das torres de tomada de água, classificação

segundo a presença de água no seu interior, principais diferenças a nível de funcionamento

hidráulico, critérios de dimensionamento, critérios de escolha do local da tomada e descrição

dos respetivos órgãos de proteção do circuito hidráulico;

• Capítulo 3: identificação de patologias habituais em torres de tomada de água, e descrição

dos fenómenos e causas que estão na sua origem;

• Capítulo 4: elaboração de metodologias de reparação (sob a forma de procedimentos) para

cada patologia identificada, tendo em conta os recursos e as técnicas disponíveis;

• Capítulo 5: considerações finais;

• Capítulo 6: referências bibliográficas.

3

2 TORRES DE TOMADAS DE ÁGUA

2.1 ASPETOS GERAIS

As torres de tomada de água são estruturas integrantes de aproveitamentos hidráulicos, com a

finalidade de abastecimento de água potável, cuja finalidade pode ser extrair água de uma determinada

fonte (e.g., rio, lago, canal, reservatório ou albufeira), para o interior de uma conduta, que faz o seu

transporte até uma estação de tratamento através da força gravitacional ou bombagem, dependendo

das condições topográficas do terreno. São utilizadas em grandes sistemas de abastecimento (Figura

2-1). Em qualquer projeto de abastecimento de água, o primeiro passo é a escolha do local em onde

vai ser feita a extração da água, sendo que os dispositivos e equipamentos instalados com a finalidade

de extrair água constituem a tomada da água. As tomadas de água devem ser projetadas de forma a

minimizar as perdas de carga e o impacto no meio envolvente, sendo que a água extraída pode ser

utilizada para diversas finalidades como já referido. Um aspeto importante relacionado com este tipo

de estruturas, é lidar com os sedimentos, detritos, e materiais flutuantes transportados pelo fluxo de

água, que possam danificar o circuito hidráulico, sendo instaladas grelhas de proteção para impedir a

sua entrada, e comportas ou válvulas para controlar o fluxo de água (European Small Hydropower

Association, 2004).

Figura 2-1 – Torre de tomada de água do Castelo de Bode (Marques, 2010).

Este tipo de estruturas poderá não ser aconselhado em zonas com elevada atividade sísmica, pois são

estruturas altas e delgadas que não apresentam um bom comportamento perante a atividade sísmica.

A sua utilização deve ser precedida por um estudo técnico-económico que considere outras alternativas

tecnicamente viáveis, tais como tomadas de água flutuantes ou tomadas submersas (Nigam, 1985).

4

As estruturas de tomada de água podem ser necessárias para órgãos de segurança e exploração de

barragens, tais como descarregadores de cheia em orifícios ou descargas de fundo. O seu

dimensionamento deve ter em conta os caudais necessários para o uso a jusante e o dimensionamento

dos órgãos de segurança e exploração onde se integram. É necessário ter em atenção as variações

de nível a montante, a eventual presença de material sólido em suspensão e a possibilidade de existir

transporte sólido por arrastamento. A tomada de água deve apresentar uma adequada submersão de

forma a evitar a formação de vórtices. Os vórtices provocam o arraste de materiais flutuantes para o

orifício da tomada contribuindo para a obstrução da grelha de proteção, e introduzem no circuito

hidráulico detritos de dimensão menor que o afastamento entre barras da grelha (Pinheiro, 2006).

2.2 CLASSIFICAÇÃO

As torres de tomada de água podem ser classificadas de acordo com a presença de água no seu interior

em (Rao, 2005):

• torres do tipo seca;

• torres do tipo húmida.

5

2.2.1 TORRES DO TIPO SECA

As torres de tomada de água do tipo seca, em condições normais de funcionamento têm o seu interior

seco, sendo normalmente usado para operações e manutenção dos equipamentos. A água é extraída

através de tomadas de água localizadas a diferentes profundidades, que ligam a uma conduta vertical,

que por sua vez liga a conduta sob pressão. As tomadas de água estão equipadas com grelhas de

proteção para evitar a entrada de detritos e materiais flutuantes para o circuito hidráulico, e válvulas

para controlar o fluxo de água, sendo que o comando desses equipamentos poderá ser feito a partir do

topo da torre (Figura 2-2).

Figura 2-2 – Representação esquemática de uma torre de tomada de água do tipo seca.

Nível máximo do reservatório

Nível mínimo do reservatório

Comando de

válvulas

Passadiço de acesso

Conduta sob pressão

Galeria

Grelhas/comportas

6

2.2.2 TORRES DO TIPO HÚMIDA

As torres de tomada de água do tipo húmida, em condições normais de funcionamento têm o seu

interior cheio de água (ao nível do reservatório), no entanto podem ser esvaziadas para operações de

manutenção e/ou reparação. Este tipo de estrutura é geralmente mais leve face às torres do tipo seca,

podendo ficar sujeita a forças de flutuação quando esvaziada, pelo que deve ser verificada a segurança

da estrutura nesta situação.

A água entra para a torre através de aberturas que poderão estar a diferentes profundidades, sendo

encaminhada através de um túnel hidráulico (Figura 2-3). As aberturas estão equipadas com grelhas

de proteção para evitar a entrada de detritos e materiais flutuantes para o circuito hidráulico, e

comportas para controlar o fluxo de água. O comando desses equipamentos é feito no topo da torre,

ou a partir de um edifício anexo designado por edifício comando.

Figura 2-3 – Representação esquemática de uma torre de tomada de água do tipo húmida.

Comando de

comportas

Nível máximo do reservatório

Nível mínimo do reservatório

Túnel hidráulico

Passadiço de acesso

Comportas

7

2.3 CRITÉRIOS DE ESCOLHA DO LOCAL

A escolha do local da tomada de água depende de vários fatores tais como: a submersão, as condições

geotécnicas e ambientais (especialmente relacionadas com a vida aquática), a exclusão de

sedimentos, e a formação de gelo (quando aplicável). Por estas razões, a localização deverá ser muito

bem planeada, pois vai influenciar a qualidade da água assim como os custos e as operações de

manutenção durante a vida do empreendimento (European Small Hydropower Association, 2004). A

qualidade da água exigida depende do uso requerido, sendo que se for para a rega deve estar livre de

sais prejudiciais ou outros resíduos industriais que possam danificar as colheitas, no entanto, se for

para a produção de energia elétrica, deve estar livre de detritos e materiais flutuantes que possam

danificar os equipamentos, nomeadamente a turbina (Nigam, 1985).

O local da tomada deve obedecer aos seguintes critérios (Rao, 2005):

• localizar-se perto da estação de tratamento (quando aplicável), de forma a minimizar os

custos de transporte;

• localizar-se numa zona com água relativamente pura, longe de zonas de descarga de esgotos

e zonas de navegação, minimizando a carga na estação de tratamento;

• localizar-se onde haja boas condições de fundação;

• funcionar ininterruptamente em qualquer época do ano, mesmo durante o período mais seco;

• permanecer acessível mesmo que ocorram episódios de cheias excecionais;

• permitir, caso seja necessário num futuro próximo, aumentar o volume de água extraído;

• em rios sinuosos, devem-se evitar curvas acentuadas e zonas de correntes rápidas, de forma

a evitar a acumulação de detritos e materiais flutuantes;

• minimizar o impacto ambiental.

2.4 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

O projeto de uma tomada de água é elaborado com base em considerações geotécnicas, hidráulicas,

estruturais, e económicas, requerendo especial atenção de forma a evitar manutenções

desnecessárias, e problemas operacionais que não possam ser resolvidos facilmente durante a vida

do empreendimento. O projeto deve obedecer aos seguintes critérios (European Small Hydropower

Association, 2004):

• Estabilidade estrutural: a estrutura deve ter capacidade para resistir às ações da água

(pressões e subpressões hidrostáticas, e pressão hidrodinâmica) e sedimentos, do vento,

ação sísmica, das sobrecargas aplicadas à estrutura (incluindo as sobrecargas decorrentes

dos equipamentos), do peso próprio e das variações de temperatura;

8

• Eficiência hidráulica: as aberturas para entrada de tomadas de água devem ser dotadas de

superfícies curvas, de forma a minimizar as perdas de carga, fenómenos de cavitação, e a

velocidade da água através das grelhas de proteção deve estar dentro dos limites de

segurança e económicos. Devem-se evitar velocidades que provoquem perdas de carga,

acumulação de detritos e materiais flutuantes nas grelhas de proteção, devendo-se ainda ter

em conta eventuais fenómenos de vibração das barras constituintes das grelhas;

• Eficiência operacional: minimizar a entrada de sedimentos, detritos e materiais flutuantes

para o circuito hidráulico, de forma a garantir uma boa eficiência hidráulica.

Uma tomada de água bem concebida deve minimizar as perdas de carga e a formação de vórtices,

pois estes interferem com o bom funcionamento dos equipamentos, podendo provocar os seguintes

fenómenos (European Small Hydropower Association, 2004):

• conduzir a um escoamento não uniforme;

• introduzir ar no circuito hidráulico com resultados negativos para os equipamentos (turbinas),

nomeadamente vibrações, cargas desequilibradas, etc.;

• aumentar as perdas de carga, e diminuir a eficiência hidráulica do sistema;

• arrastar detritos e materiais flutuantes para o circuito hidráulico.

O critério para evitar a formação de vórtices não está bem definido, e nem existe uma fórmula que leva

em consideração todas as suas causas, no entanto uma submersão insuficiente e uma abordagem

assimétrica, parecem ser as causas mais prováveis para a sua formação (uma abordagem assimétrica

é mais propensa à formação de vórtices do que uma abordagem simétrica). Se as aberturas para

entrada de água estiverem totalmente submersas e o fluxo de água não estiver perturbado, a formação

de vórtices é pouco provável (European Small Hydropower Association, 2004).

Há interesse em verificar as condições de funcionamento hidráulico, por intermedio da construção de

modelos hidráulicos reduzidos, complementando-se os resultados destes com analises em modelos

CFD. As causas que levam a velocidades não uniformes são as seguintes (Committee on Hydropower

Intakes, 1995), (European Small Hydropower Association, 2004):

• condições de aproximação assimétricas;

• submersão inadequada;

• separação do escoamento e formação de turbilhões;

• velocidades de aproximação superiores a 0,65 m/s;

• mudanças bruscas da direção do escoamento.

9

2.5 GRELHAS DE PROTEÇÃO

As grelhas de proteção são elementos instalados à entrada da tomada de água, de forma a evitar a

introdução de sedimentos, detritos e materiais flutuantes para o circuito hidráulico, que possam danificar

os equipamentos (e.g., válvulas, comportas, turbinas, bombas, filtros), e/ou que sejam indesejáveis do

ponto de vista da manutenção (impedir a entrada de plantas aquáticas), podendo ser fixas ou móveis

(Figura 2-4). São constituídas por barras de aço e podem ter um ou mais painéis retangulares,

fabricados a partir de uma série de barras espaçadas uniformemente, com uma secção transversal

soldada ao quadro principal por barras que permitem diminuir o vão e a sua secção transversal

(European Small Hydropower Association, 2004), (Pinheiro, 2006).

Figura 2-4 – Grelha de proteção de uma tomada de água em albufeira (Pinheiro, 2006).

Habitualmente a secção das barras é retangular, no entanto algumas podem ter a forma trapezoidal. A

maior secção deve estar orientada para montante de forma a evitar que detritos e materiais flutuantes

fiquem presos nas barras. Estas devem ter dimensões específicas de forma a resistirem à pressão da

água sem que ocorram deformações excessivas caso ocorra a colmatação da grelha. (European Small

Hydropower Association, 2004), (Pinheiro, 2006). Os parâmetros caraterizadores das grelhas são a

relação entre a área total e a área útil do escoamento, assim como o afastamento mínimo entre barras

e a sua secção transversal. Em aproveitamentos hidroelétricos o espaçamento mínimo entre as barras

é geralmente especificado pelo fabricante do equipamento. (Pinheiro, 2006).

10

2.5.1 CRITÉRIOS DE LIMPEZA

A limpeza das grelhas de proteção é um dos aspetos mais importantes em termos de manutenção da

tomada de água, uma vez que os detritos e materiais flutuantes acumulados nas grelhas provocam

perdas de carga significativas, levando a um aumento da velocidade da água nas zonas não

colmatadas fazendo com que se acumule ainda mais detritos. Os detritos e materiais flutuantes devem

ser removidos com a ajuda de um limpa-grelhas que varia em função do nível de automação, podendo

ser manual, automático ou semi-automático (Figura 2-5). É importante monitorizar através das grelhas

as perdas de carga provocadas pela acumulação dos detritos e/ou materiais flutuantes, e fazer um

planeamento das operações de limpeza. (Pinheiro, 2006). Podem ainda ser instaladas a montante da

grelha principal uma grelha secundária com um espaçamento superior de forma a reduzir as operações

de limpeza na grelha principal e/ou uma grelha de proteção mais fina no circuito hidráulico, para

proteger os equipamentos nomeadamente a turbina (European Small Hydropower Association, 2004).

Figura 2-5 – Equipamento de limpeza de grelhas de proteção (Wild Metal GmbH, 2017).

2.5.2 CRITÉRIOS DE VELOCIDADE

As grelhas de proteção devem ter uma área útil (área total menos a área frontal da grelha) de forma a

que a velocidade da água não exceda 0,75 m/s em pequenas tomadas e 1,50 m/s em grandes tomadas,

de maneira a não atrair materiais flutuantes, sendo geralmente dimensionadas para velocidades de

aproximação entre 0,60 a 0,70 m/s (European Small Hydropower Association, 2004). Se ocorrerem

velocidades elevadas, a definição da forma da estrutura da tomada deve atender em especial à

necessidade de variações locais de pressão. É importante não provocar pressões próximas da zona

de tensão de vapor da água, de modo a evitar o fenómeno de cavitação e a consequente danificação

das superfícies expostas ao escoamento (Pinheiro, 2006).

11

3 PATOLOGIAS EM TORRES DE TOMADA DE ÁGUA

3.1 ASPETOS GERAIS

O betão armado é um material que pode sofrer degradação ao longo do tempo, sendo expectável que

as construções de betão armado sofram um envelhecimento natural, provocado pelo meio envolvente

(e.g., chuva, sol, vento, poluição) e pela utilização normal. As principais causas das patologias em

estruturas de betão armado diferenciam-se bastante no tempo de ocorrência, podendo ocorrer antes

da construção (erros de projeto), durante a construção (erros de construção), e durante a sua

exploração (meio envolvente) (Correia, et al., 2015). A Figura 3-1 apresenta um esquema das causas

e mecanismos de deterioração do betão armado, conforme exposto na parte 9 da NP EN 1504.

Figura 3-1 – Causas comuns de deterioração do betão armado (NP EN 1504-9 Princípios gerais para

a utilização de produtos e sistemas, 2006).

Causas comuns da deterioração

Betão Corrosão das armaduras

Mecânicas

Químicas

Físicas

Fogo

Abrasão

Fadiga

Impacto

Sobrecarga

Movimento (e.g., assentamento)

Explosão

Vibração

Reação álcalis-agregado

Agentes agressivos (e.g.,

sulfatos, sais, água doce)

Ação biológica

Gelo-degelo

Efeitos térmicos

Cristalização de sais

Retração

Erosão

Desgaste

Carbonatação

Contaminantes

corrosivos

Correntes

parasitas

Dosagem e tipo de

cimento

Razão água/cimento

Cura

Chuva

Temperatura/humidade

Na amassadura:

• sais de cloretos

Do ambiente externo:

• água do mar

• sais descongelastes

• outros contaminantes

12

3.2 EROSÃO

A erosão é um fenómeno que ocorre geralmente em estruturas hidráulicas de betão que transportam

água a elevada velocidade contendo detritos (e.g., argila, areia, cascalho, rocha), causada pela

moagem desses mesmos detritos na superfície de escoamento (Fay, 2015). Quando a camada

superficial do betão é desgastada, este processo torna-se mais rápido, uma vez que este fenómeno

tende a desgastar a matriz cimentícia do betão, contornando o agregado grosso. A velocidade em que

ocorre este fenómeno depende da velocidade de escoamento, da qualidade do betão (classe de

resistência à compressão), e dos detritos transportados pela água, nomeadamente a forma, dimensão,

qualidade e dureza. Em estruturas sujeitas a este fenómeno deve ser escolhido um betão e um

agregado com uma classe de resistência à compressão elevada (resistência à compressão igual ou

superior a 40 MPa), de forma a minimizar este fenómeno (United States. Army. Corps of Engineers,

1995). Os danos provocados pela erosão dependem de diversos fatores, entre eles, a quantidade de

detritos transportados pela água, a forma da superfície do escoamento e a velocidade e direção do

fluxo de água (Fay, 2015).

Figura 3-2 – Danos no betão devidos à erosão (Fay, 2015).

O principal sintoma visível da erosão em superfícies de betão é uma aparência polida devido à ação

das partículas finas dos sedimentos na matriz cimentícia do betão, que por vezes expõe os agregados

grossos (Figura 3-2). No entanto, quando se trata de detritos de maior dimensão, podem ocorrer danos

mais extensos (Fay, 2015).

13

3.3 CAVITAÇÃO

A cavitação é um fenómeno que ocorre geralmente em estruturas hidráulicas, que transportam água a

elevadas velocidades perto de comportas ou válvulas. Estes dispositivos ao serem manobrados

provocam variações bruscas de velocidade nas suas imediações (Fay, 2015). A cavitação ocorre para

velocidades de cerca de 12 m/s, associado a uma superfície de escoamento irregular, que provoca um

escoamento turbulento, criando zonas de baixa pressão. Quando num dado local do escoamento a

pressão local é inferior à pressão de vapor da água, formam-se bolhas de vapor que,

consequentemente, à medida que vão sendo transportadas pela água atingem zonas de alta pressão

e implodem (em que a pressão local é superior a pressão de vapor), provocando uma redução

instantânea do seu volume. Essas implosões repetitivas das bolhas de vapor criam ondas de choque,

que ao atingirem as superfícies da estrutura introduzem altas tensões sobre uma pequena área,

provocando danos localizados (European Small Hydropower Association, 2004), (United States. Army.

Corps of Engineers, 1995). Quando a cavitação é provocada por irregularidades na superfície do

escoamento, pode ser introduzido ar no fluxo de água, através de dispositivos de arejamento

denominados aeradores. A introdução de ar no escoamento torna o meio ar-água compressível e

elástico, capaz de absorver os impactos das ondas de choque que se formam em consequência do

colapso das bolhas de vapor, eliminando ou reduzindo de forma significativa este fenómeno.

Figura 3-3 – Danos no betão devidos à cavitação (Fay, 2015).

O principal sintoma visível da cavitação em superfícies de betão é uma aparência rugosa com pequenas

cavidades (Figura 3-3). Em casos de deterioração mais avançados, podem ser removidas grandes

quantidades de betão, pondo em causa a segurança da estrutura (United States. Army. Corps of

Engineers, 1995).

14

3.4 INFILTRAÇÃO DE ÁGUA

A infiltração de água em estruturas hidráulicas de betão armado, pode ocorrer através de fendas e/ou

juntas de betonagem defeituosas, podendo contribuir negativamente para a durabilidade, uma vez que

ficam mais suscetíveis à entrada de agentes agressivos, resultando na corrosão das armaduras e

possivelmente perda da resistência estrutural.

Os sintomas visíveis das infiltrações de água em estruturas de betão armado podem ser: manchas

castanhas de óxido de ferro, resultado da corrosão das armaduras, e/ou manchas brancas

(eflorescências) à superfície que correspondem a depósitos de sais cristalizados decorrentes da

circulação de água através do betão (Figura 3-4).

3.4.1 ATRAVÉS DE JUNTAS DE BETONAGEM

As juntas de betonagem são superfícies que fazem a separação entre duas camadas de betão

colocadas em diferentes instantes temporais. O uso de juntas de betonagem é indispensável do ponto

de vista construtivo, pois permitem que o processo de betonagem seja feito de forma controlada.

Sempre que a atividade de betonagem é interrompida, deverá proceder-se ao tratamento da junta,

expondo os agregados da superfície do betão já endurecido, de forma a promover a ligação entre o

betão novo e o betão que já iniciou o processo de endurecimento, sem que ocorra uma perda

significativa da sua resistência estrutural.

Figura 3-4 – Eflorescência no interior de estrutura de betão armado do tipo torre de tomada de água

(Fotografia fornecida pelo Professor Rui Vaz Rodrigues, 2017).

As juntas de betonagem defeituosas podem ser o resultado dos procedimentos de tratamento de juntas,

e/ou um deficiente controlo da qualidade de execução, ficando uma separação visível entre camadas.

15

3.4.2 ATRAVÉS DE FENDAS

As fendas podem ser o resultado do excesso de carga, ações exteriores indiretas (e.g., assentamento

de fundações, variações de temperatura), e/ou o resultado da corrosão das armaduras, podem ser

classificadas de acordo com a sua atividade, em fendas inativas (se não apresentem movimentos

significativos ao longo do tempo) ou fendas ativas (se apresentam movimentos cíclicos ou uniformes

ao longo do tempo). Também podem ser classificadas de acordo com a sua profundidade, em fendas

profundas ou fendas superficiais. As fendas profundas são as mais graves, pois causam efeitos

negativos na durabilidade, resistência estrutural e estanquidade da estrutura, enquanto que as fendas

superficiais afetam essencialmente a durabilidade.

Figura 3-5 – Fissurómetro usado para monitorizar o movimento da fenda (Fay, 2015).

As fendas importantes devem ser monitorizadas de forma a determinar se são ativas ou inativas, com

fissurómetros digitais ou manuais (Figura 3-5). Existem ainda outros métodos de monitorização mais

recentes que permitem capturar com precisão o seu movimento, utilizando câmaras e aplicações

informáticas para tratamento fotogramétrico. O movimento da fenda deve ser monitorizado por longos

períodos de tempo para determinar se está simplesmente a abrir e fechar, como resultado de mudanças

de temperatura sazonais ou diárias, ou se há um movimento progressivo ao longo do tempo, resultado

de cargas excessivas ou condições de fundação inadequadas (Fay, 2015).

16

3.5 CORROSÃO DAS ARMADURAS

A corrosão das armaduras é um fenómeno que ocorre geralmente em estruturas de betão armado,

provocando a sua destruição (Figura 3-6). As principais causas da corrosão das armaduras são a

carbonatação da camada do betão de recobrimento e/ou a presença de cloretos (adicionados durante

o processo de amassadura e/ou provenientes do meio ambiente exterior).

Figura 3-6 – Corrosão das armaduras e delaminação do betão de recobrimento (Costa, 2010).

3.5.1 PROCESSO DE CORROSÃO

A corrosão é um processo eletroquímico, i.e., envolve reações químicas e correntes elétricas, sendo

que, para que este processo ocorra é necessária a presença de um ânodo (zona da armadura

despassivada), um cátodo (zona da armadura com acesso a água e oxigénio), um eletrólito (água

presente nos poros do betão) e um condutor elétrico (armadura) (Figura 3-7).

Figura 3-7 – Esquema simplificado do processo de corrosão das armaduras, adaptado de (Costa,

2010).

Cl- CO2

Condutor elétrico Ânodo Cátodo

Eletrólito

2e-

Fe2+

OH-

H2O O2

O2 H2O Fe2+

17

A formação de iões de ferro ocorre quando há uma diferença de potencial entre duas zonas da

armadura, forma-se assim uma célula eletroquímica com uma zona anódica (positiva) e outra catódica

(negativa), ligada pelo eletrólito (mundoeducacao, 2017) (Figura 3-7).

Os iões de ferro no ânodo passam para a solução:

Fe(s) → Fe2+

+2e- (3.1)

Os eletrões livres deslocam-se através da armadura para o cátodo, onde são combinados com a água

e o oxigénio, formando iões hidróxidos:

1

2O2+H

2O+2e

- → 2OH

- (3.2)

Os iões hidróxidos deslocam-se pelo eletrólito e combinam-se com os iões ferro no ânodo, formando o

hidróxido de ferro (II):

Fe2+

+2OH- → Fe(OH)

2 (3.3)

Num ambiente com pouco oxigénio, o hidróxido de ferro (II) transforma-se em óxido de ferro (II, III):

3Fe(OH)2 → Fe3O4+2H2O+H2 O (3.4)

Num ambiente com alto teor em oxigénio, o hidróxido de ferro (II) é oxidado a hidróxido de ferro (III):

2Fe(OH)2+H2O+

1

2O2 → 2Fe(OH)3 (3.5)

O hidróxido de ferro (III) perde água e transforma-se em óxido de ferro hidratado (III):

2Fe(OH)3 → Fe2O3.H2O+2H2O (3.6)

O produto final da corrosão é a ferrugem, que consiste nos compostos (Fe3O4) de coloração preta, e

(Fe2O3.H2O) de coloração castanho-avermelhada.

18

3.5.2 PROTEÇÃO DAS ARMADURAS

O betão funciona como uma barreira de proteção contra a corrosão das armaduras. O betão não

contaminado apresenta um pH entre 12,5 a 13,5, e nestas condições devido à elevada alcalinidade do

meio, as armaduras encontram-se protegidas contra a corrosão, formando-se à superfície das

armaduras uma pelicula passiva de óxido de ferro, que limita a passagem de oxigénio e humidade

(Figura 3-8) (Correia, et al., 2015).

Figura 3-8 – Esquema simplificado da proteção das armaduras no betão, adaptado de (Costa, 2010).

3.5.3 DESPASSIVAÇÃO DAS ARMADURAS

O processo de carbonatação e o ataque de cloretos são os principais responsáveis pela despassivação

das armaduras. Quando o pH do betão desce para valores inferiores a 10 - 11, e/ou o teor de cloretos

ultrapassa o valor crítico (0,4 % da massa de cimento, de acordo com a pratica comum), ocorre a

dissolução da película passiva de óxido de ferro, deixando as armaduras expostas ao oxigénio e à

humidade, iniciando assim o processo de corrosão (Figura 3-9).

Figura 3-9 – Esquema simplificado da despassivação das armaduras, adaptado de (Costa, 2010).

pH ≥ 12,5

Película passiva de óxido

de ferro

A corrosão não é possível

Armadura

Carbonatação

pH < 9,0

Cloretos

Cl- > valor crítico

Dissolução da película passiva

A corrosão é possível

19

3.5.4 CORROSÃO INDUZIDA POR CARBONATAÇÃO

O dióxido de carbono penetra na superfície do betão a partir do seu exterior, e depende do ambiente

em que a estrutura se insere (Figura 3-10). A carbonatação é um processo que resulta da reação do

dióxido de carbono com o hidróxido de cálcio, resultante da hidratação do cimento, formando carbonato

de cálcio e água:

Ca(OH)2+CO2 → CaCO3+H2O (3.7)

A carbonatação por si só não provoca a degradação no betão, no entanto possui efeitos significativos

tais como a redução do pH de 12,5 - 13,5 para 9,0 - 9,5, resultando assim num ambiente pouco alcalino

para as armaduras.

Figura 3-10 – Esquema simplificado do mecanismo de carbonatação, adaptado de (Costa, 2010).

A velocidade de carbonatação depende dos seguintes fatores (Costa, 2010):

• Ambiente de exposição: este parâmetro determina o teor de humidade relativa do betão, e

o dióxido de carbono do meio envolvente, estes parâmetros influenciam significativamente a

velocidade de carbonatação;

• Qualidade da camada do betão de recobrimento: este parâmetro determina a resistência

do betão à penetração do dióxido de carbono, sendo função da sua composição (i.e., razão

água/cimento, quantidade de cimento, adições), do processo de compactação e da cura.

CO2

CO2

20

O gráfico da Figura 3-11 relaciona a velocidade de carbonatação (esquemático) com a humidade

relativa do betão, e tal como podemos observar, os valores de humidade mais desfavoráveis situam-

se entre 50 a 80 %, demonstra que em ambientes muitos secos ou saturados raramente ocorrem de

carbonatação. É importante referir que para que o processo de carbonatação ocorra, a presença de

humidade é absolutamente necessária.

Figura 3-11 – Velocidade de penetração do dióxido de carbono em função da humidade relativa do

betão, adaptado de (Lusomapei Sociedade Anónima, 2014).

A determinação da profundidade de carbonatação pode ser efetuada in-situ através de um ensaio

colorimétrico, com uma solução de 1 % de fenolftaleína em álcool etílico, um indicador ácido-base que

se mantem incolor para soluções ácidas, mudando de cor para lilás para soluções básicas. Este ensaio

consiste em retirar uma amostra na superfície do betão para analisar e aplicar um spray com a solução

de fenolftaleína, calibrada para um pH de 9,5. A zona carbonatada permanece incolor, enquanto que a

zona não carbonatada apresenta uma cor lilás (Figura 3-12). Desta forma é possível medir a

profundidade de carbonatação na transição entre uma zona e outra, devendo ser medida também a

espessura da camada do betão de recobrimento, de forma a aferir se as armaduras se encontram

despassivadas.

Figura 3-12 – Ensaio colorímetro com fenolftaleína (Lusomapei Sociedade Anónima, 2014).

Humidade relativa (%)

Velo

cid

ade r

ela

tiva

de c

arb

onata

ção

21

3.5.5 CORROSÃO INDUZIDA POR CLORETOS

O ataque de cloretos no betão é um processo que pode ter origem interna se forem utilizadas matérias -

primas contaminadas tais como a água de amassadura, agregados e adjuvantes que contenham

cloretos, ou pode ter origem externa (mais agressivos em termos de risco de corrosão) se a estrutura

estiver num ambiente onde a sua presença é elevada (Figura 3-13). Os cloretos aumentam a

condutividade do betão e atuam como catalisador das reações nas zonas anódicas:

2Fe+6Cl-→ 2FeCl

-+4e

- (3.8)

Seguida por:

FeCl-+2OH

-→ 2Fe(OH)

2+3Cl

- (3.9)

Como as áreas catódicas são muito superiores às áreas anódicas desenvolvem-se no ânodo

densidades de corrente muito elevadas, uma vez que as correntes anódicas e catódicas têm de ser

iguais. Isto origina uma dissolução muito acentuada do aço (Costa, 2010).

A concentração de cloretos necessária para promover a corrosão das armaduras é diretamente

proporcional ao pH do betão, quão mais alcalino for o betão, maior é a concentração de cloretos

necessária para ocorrer a corrosão das armaduras. É possível relacionar o mecanismo de degradação

por carbonatação, com o mecanismo por ataque dos cloretos. A carbonação baixa o pH do betão

tornando-o mais vulnerável ao ataque dos cloretos. Os cloretos aceleram a corrosão das armaduras,

independentemente da sua origem, desta forma os valores acima de 0,2 a 0,4 % por massa de cimento

neutralizam a película passiva de óxido de ferro (NP EN 206-1 Especificação, desempenho, produção

e conformidade, 2007).

Figura 3-13 – Esquema simplificado do mecanismo do transporte de cloretos do exterior, adaptado de

(Costa, 2010).

Cl-

Cl-

22

A velocidade de penetração de cloretos depende dos seguintes fatores (Costa, 2010):

• Ambiente de exposição: este parâmetro determina o teor de humidade relativa do betão, e

os cloretos do meio envolvente, bem como os respetivos mecanismos de transporte que vão

atuar no betão. Estes parâmetros influenciam significativamente a velocidade de penetração

de cloretos;

• Qualidade da camada de betão de recobrimento: este parâmetro determina a resistência

do betão à penetração de cloretos sendo função da sua composição (i.e., razão água/cimento,

quantidade e composição do cimento, adições), do processo de compactação e da cura.

O ataque de cloretos apenas é possível se existir humidade na superfície do betão, e os cloretos em

contacto com o betão só causam corrosão se existir humidade e oxigénio. As zonas da estrutura mais

condicionantes são as zonas sujeitas a ciclos de molhagem e secagem, pois ficam acessíveis ao

oxigénio e à humidade. A corrosão devido ao ataque de cloretos em estruturas hidráulicas do tipo torre

de tomada de água apenas se aplica a casos muito específicos, em albufeiras onde a concentração de

cloretos pode ser significativa (e.g., lagos salinos, zonas desérticas secas).

A medição do teor de cloretos no betão pode ser determinada in-situ através de um ensaio colorimétrico

com nitrato de prata, ou com análises químicas de laboratório. O ensaio colorimétrico com nitrato de

prata consiste em retirar uma amostra da superfície do betão para analisar aplicando um spray com a

solução de nitrato de prata, no entanto, não existe um consenso sobre o teor de cloretos que causam

a mudança de cor na solução de nitrato de prata. A zona contaminada pelos cloretos em contacto com

esta solução colorir-se-á de rosa claro, enquanto que a zona não contaminada tornar-se-á escura

(Figura 3-14). Desta forma é possível medir a profundidade penetrada pelos cloretos na transição entre

uma zona e outra, devendo ser medida também a espessura da camada do betão de recobrimento, de

forma a aferir se as armaduras se encontram despassivadas.

Figura 3-14 – Ensaio colorimétrico com nitrato de prata (Revista ALCONPAT, 2015).

23

Poderá ser usado um teste acústico complementar aos ensaios de carbonatação e/ou de cloretos, com

recurso a um martelo (ou outro equipamento de impacto ligeiro), de forma a detetar zonas da estrutura

degradadas (apresentam um som oco), que não estejam visíveis (Figura 3-15).

Figura 3-15 – Esquema simplificado do teste acústico com um martelo.

24

3.5.6 EFEITOS DA CORROSÃO DAS ARMADURAS

A corrosão das armaduras provoca um aumento do seu volume por expansão do óxido de ferro, o que

por sua vez provoca tensões de tração no interior do betão, que causam a fendilhação e eventual

delaminação da camada do betão de recobrimento. À medida que o betão se vai degradando, as

armaduras vão ficando cada vez mais expostas ao oxigénio e à humidade, tornando este processo

mais rápido, sendo que a velocidade de corrosão depende do acesso a esses elementos.

Figura 3-16 – Delaminação provocada pela corrosão das armaduras (Costa, 2010).

Os sintomas visíveis da corrosão das armaduras são manchas de coloração castanho-avermelhada de

óxido de ferro (mais visíveis no caso do ataque de cloretos) localizadas à superfície do betão, e uma

eventual fendilhação segundo linhas paralelas com intervalos constantes alinhadas com as armaduras.

Em casos de deterioração mais avançada é possível observar uma delaminação do betão de

recobrimento, e uma eventual exposição das armaduras (Figura 3-16).

25

3.6 CORROSÃO EM ELEMENTOS METÁLICOS

A corrosão em elementos metálicos é um processo eletroquímico similar ao que acontece com as

armaduras, muito presente no nosso quotidiano, esta patologia causa grandes prejuízos económicos.

A corrosão provoca a degradação dos componentes metálicos e consequentemente perda de material

e alteração das propriedades mecânicas. Este fenómeno pode ocorrer quando há heterogeneidade na

microestrutura do metal, ou quando este está em contacto com meios de diferentes caraterísticas (e.g.,

humidade, temperatura, teor de oxigénio, etc.). Desta forma, os fatores que influenciam a corrosão dos

elementos metálicos são o (i) meio envolvente e a sua (ii) utilização (Fontinha, 2007).

i) Meio envolvente: a presença de cloretos (zonas marítimas) provoca corrosão localizada

(por picadas), e o dióxido de enxofre presentes em atmosferas urbanas e industriais,

acidificam a pelicula de água na superfície do metal, acelerando a corrosão.

ii) Utilização: devem-se evitar erros de montagem/instalação, tais como a utilização de

materiais menos nobres para fixação (e.g., parafusos de aço galvanizados em chapa de

aço inoxidável), e deve-se manter os elementos metálicos em bom estado de conservação

(e.g., reparação de danos nos revestimentos anticorrosivos, substituição de peças, etc.).

Figura 3-17 – Passadiço de acesso a torre de tomada de água (Fotografia fornecida pelo Professor

Rui Vaz Rodrigues, 2017).

Os sintomas visíveis da corrosão em estruturas metálicas são compostos (Fe2O3.H2O) de coloração

castanho-avermelhada localizados na superfície dos elementos metálicos, mais conhecidos como

ferrugem (Figura 3-17).

26

27

4 PROPOSTAS DE METODOLOGIAS DE REPARAÇÃO

4.1 ASPETOS GERAIS

A definição de uma metodologia de reparação adequada requer a avaliação do estado da estrutura, de

forma a definir o tipo, a causa, e o nível de deterioração. Nesta fase é também necessário avaliar o

nível de segurança da estrutura, e prever a evolução da deterioração. A determinação das causas das

patologias passa pela recolha de informações de projeto, execução, manutenção, e também com

recurso a inspeções (visuais e/ou detalhadas) e ensaios (in-situ e/ou em laboratório).

A definição da metodologia de reparação ocorre na sequência da fase de avaliação do estado da

estrutura, de forma a definir uma metodologia em função do tipo e nível de deterioração, bem como a

utilização da estrutura, operações de manutenção e custos da reparação. Existe uma grande variedade

de metodologias de reparação com diferentes níveis de intervenção, desde o preenchimento de

pequenos vazios até à reconstrução parcial de algumas peças. O sucesso de uma reparação consiste

na determinação das causas das patologias e na atuação das mesmas.

4.2 INTRODUÇÃO À NP EN 1504

As metodologias gerais de reparação em estruturas de betão armado são apresentadas na NP EN 1504

(Produtos e sistemas para a proteção e reparação de estruturas de betão. Definições, requisitos,

controlo e avaliação da conformidade). Esta norma é composta por 10 partes, sendo que cada uma

delas aborda um tema diferente:

• NP EN 1504-1: 2006 – Definições;

• NP EN 1504-2: 2006 – Sistemas de proteção superficial do betão;

• NP EN 1504-3: 2006 – Reparação estrutural e não estrutural;

• NP EN 1504-4: 2006 – Colagem estrutural;

• NP EN 1504-5: 2006 – Injeção no betão;

• NP EN 1504-6: 2008 – Ancoragens de armaduras de aço;

• NP EN 1504-7: 2008 – Proteção contra a corrosão das armaduras;

• NP EN 1504-8: 2006 – Controlo da qualidade e avaliação da conformidade;

• NP EN 1504-9: 2009 – Princípios gerais para a utilização de produtos e sistemas;

• NP EN 1504-10: 2008 – Aplicação de produtos e sistemas e controlo da qualidade da obra.

28

A parte 9 da NP EN 1504 define onze princípios e quarenta e três métodos de proteção e reparação de

estruturas de betão armado. Na Tabela 4-1 estão enunciados os princípios e métodos relacionados

com defeitos no betão.

Tabela 4-1 – Princípios e métodos relacionados com defeitos no betão, adaptado da (NP EN 1504-9

Princípios gerais para a utilização de produtos e sistemas, 2006).

Princípio Definição Método Breve descrição

1 Proteção contra o

ingresso

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

1.6

1.7

1.8

Impregnação hidrofóbica

Impregnação

Revestimento

Ligação superficial de fendas

Enchimento de fendas

Transformação de fendas em juntas

Ereção de painéis externos

Aplicação de membranas

2 Controlo da

humidade

2.1

2.2

2.3

2.4

2.5

Impregnação hidrofóbica

Impregnação

Revestimento

Ereção de painéis externos

Tratamento eletroquímico

3 Restauração do

betão

3.1

3.2

3.3

3.4

Argamassa aplicada à mão

Novo betão ou argamassa cofrado

Betão ou argamassa projetado

Substituição de elementos

4 Reforço estrutural

4.1

4.2

4.3

4.4

4.5

4.6

4.7

Adição ou substituição de armaduras externas ou embebidas

Adição de armaduras ancoradas em furos abertos ou a abrir

Reforço com placas coladas

Adição de argamassa ou betão

Injeção de fendas, vazios ou interstícios

Enchimento de fendas, vazios ou interstícios

Pré-esforço – (pós-tensionamento)

5 Aumento da

resistência física

5.1

5.2

5.3

Revestimento

Impregnação

Adição de argamassa ou betão

6 Resistência química

6.1

6.2

6.3

Revestimento

Impregnação

Adição de argamassa ou betão

29

Na Tabela 4-2 estão enunciados os princípios e métodos relacionados com a corrosão das armaduras.

Tabela 4-2 – Princípios e métodos relacionados com a corrosão das armaduras, adaptado da

(NP EN 1504-9 Princípios gerais para a utilização de produtos e sistemas, 2006).

Princípio Definição Método Breve descrição

7 Preservação ou restauração da

passividade

7.1

7.2

7.3

7.4

7.5

Aumento do recobrimento com novo betão ou argamassa

Substituição do betão contaminado ou carbonatado

Realcalinização eletroquímica do betão carbonatado

Realcalinização do betão carbonatado por difusão

Extração eletroquímica de cloretos

8 Aumento da resistividade

8.1

8.2

8.3

Impregnação hidrofóbica

Impregnação

Revestimento

9 Controlo catódico 9.1 Limitação do teor de oxigénio (no cátodo) por saturação ou revestimento

10 Proteção catódica 10.1 Aplicação de potencial elétrico

11 Controlo das áreas

anódicas

11.1

11.2

11.3

Revestimento ativo da armadura

Revestimento barreira da armadura

Aplicação de inibidores de corrosão no ou ao betão

As metodologias de reparação adotadas devem seguir os princípios enunciados na parte 9 da

NP EN 1504. Na Tabela 4-3 estão enunciados alguns exemplos de princípios de proteção e reparação

de estruturas de betão armado, para algumas patologias identificadas.

Tabela 4-3 – Exemplos de patologias e princípios aplicáveis, adaptado de (Costa, 2010).

Patologias

Princípio

Deterioração do betão Corrosão de armaduras

Penetração de substâncias agressivas (e.g., dióxido de carbono, cloretos, químicos, etc.) 1, 3, 6 7, 8, 10

Fendas devidas a cargas, retração, temperatura, etc. 1, 4

Carbonatação 1, 2 7, 8, 10

Reações alcalis-agregados 2, 3

Erosão, cavitação 3

Corrosão das armaduras 3, 4 7, 8, 9, 10, 11

Recobrimento reduzido 7

Betão contaminado (e.g., cloretos, carbonatação) 7

30

4.3 INTRODUÇÃO A NP EN ISO 12944

A proteção anticorrosiva de estruturas de aço por esquemas de pintura, é o objeto da NP EN ISO 12944

(Tintas e vernizes. Proteção anticorrosiva de estruturas de aço por esquemas de pintura). Esta norma

é composta por 8 partes, sendo que cada uma delas aborda um tema diferente:

• NP EN ISO 12944-1: 1999 – Introdução geral;

• NP EN ISO 12944-2: 1999 – Classificação de ambientes;

• NP EN ISO 12944-3: 1999 – Conceção e disposições construtivas;

• NP EN ISO 12944-4: 1999 – Tipos de superfície e de preparação de superfície;

• NP EN ISO 12944-5: 2011 – Esquemas de pintura;

• NP EN ISO 12944-6: 1999 – Ensaios de desempenho em laboratório;

• NP EN ISO 12944-7: 2000 – Execução e supervisão dos trabalhos de pintura;

• NP EN ISO 12944-8: 2001 – Desenvolvimento de especificações para obras novas e

manutenção.

As partes mais importantes para a elaboração de esquemas de pintura definidos na NP EN ISO 12944

são as partes relativas à classificação do tipo de ambiente em que a estrutura vai estar exposta

(NP EN ISO 12944-2), a parte relativa à durabilidade do esquema de pintura (NP EN ISO 12944-1) e,

por último, a seleção dos esquemas de pintura em função do ambiente de exposição e da durabilidade

pretendida. Estes últimos variam em função da categoria de corrosividade ambiental, da durabilidade

do esquema e do grau de preparação da superfície (definido na EN ISO 8501).

A parte 1 da NP EN ISO 12944 define a durabilidade dos esquemas de pintura em:

• Baixa: 2 a 5 anos;

• Média: 5 a 15 anos;

• Elevada: mais de 15 anos.

31

A parte 2 da NP EN ISO 12944 define seis categorias de corrosividade atmosférica (C1, C2, C3, C4,

C5-I, C5-M) e três categorias para imersão em água e solo (Im 1, Im 2, Im 3). Na Tabela 4-4 estão

enunciadas as categorias de corrosividade atmosférica e alguns exemplos de ambientes típicos em

climas temperados.

Tabela 4-4 – Categorias de corrosividade atmosférica e exemplos de ambientes típicos, adaptado da

(NP EN ISO 12944-2 Classificação de ambientes, 1999).

Categoria de corrosividade

Exemplos de ambientes típicos em climas temperados (apenas informativo)

Exterior Interior

C1 Muito baixa Edifícios com aquecimento, com atmosferas limpas (escritórios, lojas, escolas, hotéis)

C2 Baixa Atmosferas com baixos níveis de poluição

Principalmente áreas rurais

Edifícios sem aquecimento onde a condensação pode ocorrer (depósitos, pavilhões desportivos)

C3 Média

Atmosferas urbanas e industriais, com poluição moderada de SO2

Áreas costeiras com baixa salinidade

Salas de produção com alta humidade e alguma poluição (instalações de processamento de

alimentos, lavandarias, fabricas de cervejas e lacticínios)

C4 Alta Áreas industriais e áreas costeiras com

moderada salinidade Industrias químicas, piscinas, estaleiros navais

C5-I Muito alta (industrial)

Áreas industriais com elevada humidade e atmosfera agressiva

Edifícios e áreas com condensações quase permanente e com alta poluição

C5-M Muito alta (marítima) Áreas costeiras e “offshore” com alta salinidade

Edifícios e áreas com condensações quase permanente e com alta poluição

Na Tabela 4-5 estão enunciadas as categorias de corrosividade do solo e da água e exemplos de

ambientes em estruturas.

Tabela 4-5 – Categorias para imersão em água e solo, adaptado da (NP EN ISO 12944-2

Classificação de ambientes, 1999).

Categoria Ambiente Exemplos de ambientes em estruturas

Im 1 Água doce Instalações de rio, centrais hidroelétricas

Im 2 Água do mar ou salobra Áreas portuárias com estruturas tais como

portas de comportas, diques, quebra-mares, estruturas de plataformas

Im 3 Solo Tanques enterrados, condutas de aço e vigas de aço

32

4.4 REPARAÇÃO DE FENDAS

A reparação de fendas em estruturas de betão armado pode ter como objetivo restabelecer as

caraterísticas de monolitismo, impermeabilidade e estanquidade (selar a estrutura à entrada de água e

agentes agressivos) da estrutura e melhorar o aspeto estético, aumentando assim os seus padrões de

funcionalidade e durabilidade (Figura 4-1).

Figura 4-1 – Principais razões para a reparação de fendas, adaptado de (Araújo, 2016).

Em estruturas hidráulicas de betão armado do tipo torre de tomada de água do tipo seco, as fendas

podem estar associadas a juntas de betonagem defeituosas e devem ser reparadas de forma a

restabelecer as caraterísticas de impermeabilidade e estanquidade da estrutura, i.e., impedir a entrada

de líquidos e agentes agressivos para o seu interior. Esta patologia tem especial importância, uma vez

que em condições normais de funcionamento não tem água no seu interior (a presença de água no seu

interior é indesejada). Por outro lado, em torres do tipo húmida esta patologia tem menor importância,

uma vez que em condições normais de funcionamento tem água no seu interior. No entanto, se

existirem elevados fluxos de água através da fenda, poderá ser necessário proceder a sua reparação.

O processo de reparação deve ser realizado a partir do seu interior, de preferência quando o nível de

água da fonte estiver na cota mais baixa, de forma a evitar fluxos de água do exterior para o interior.

Durabilidade

Para evitar a penetração dos agentes agressivos que podem provocar

corrosão das armaduras

Estanquidade

Para obter impermeabilidade e por consequência estanquidade à água

Resistência

Para reforçar a estrutura, reforçando o betão

33

Os métodos de reparação de fendas em estruturas de betão armado podem ser:

• injeção;

• impermeabilização por cristalização;

• revestimento superficial;

• selagem.

4.4.1 INJEÇÃO

A injeção é método mais eficaz para a reparação de fendas e juntas de betonagem defeituosas em

estruturas de betão armado por ser um processo rápido, expedito e económico, o que garante o melhor

preenchimento dos vazios formados pela fenda ou junta e a perfeita ligação entre os mesmos (Figura

4-2). Desta forma, a injeção de fendas e juntas será foco nas próximas secções.

Figura 4-2 – Injeção de resinas de poliuretano em túnel hidráulico de adução de central hidroelétrica

(Fotografia fornecida pelo Professor Rui Vaz Rodrigues, 2017).

A injeção de fendas está preconizada no princípio 1 (proteção contra o ingresso) da parte 9 da

NP EN 1504, e corresponde ao método 1.5 (enchimento de fendas). A parte 5 da NP EN 1504 define

cinco classes de abertura de fendas em função da sua injetabilidade. No entanto, não existe uma regra

de abertura mínima de fenda para injeção. O processo de injeção pode ser realizado em fendas com

abertura a partir de 0,10 mm, mas na prática a injeção é feita em fendas com aberturas iguais ou

superiores a 0,40 mm. Em fendas com 0,10 ou 0,20 mm é necessária uma pressão de injeção bastante

elevada, correndo o risco de abrir fendas de maiores dimensões durante o processo de injeção (Araújo,

2016).

34

4.4.1.1 SISTEMAS DE INJEÇÃO

Os sistemas de injeção podem ser classificados em (i) sistemas rígidos ou (ii) sistemas flexíveis,

consoante o carater estrutural ou não da reparação, da presença de água, da abertura e atividade da

fenda.

i) Os sistemas rígidos são usados em reparações estruturais de fendas inativas. Os produtos

de injeção mais adequados são as resinas epoxídicas e os grouts cimentícios pois garantem

(depois de endurecidos) uma boa transferência de esforços (monolitismo da estrutura).

ii) Os sistemas flexíveis são usados em reparações não estruturais de fendas ativas ou

inativas, com ou sem presença de água. Os produtos de injeção mais adequados são as

resinas acrílicas e de poliuretano que permitem (depois de endurecidos) acomodar os

movimentos da fenda.

Os sistemas de injeção mais adequados, para reparações não estruturais de fendas e juntas de

betonagem com fluxos de água, são os sistemas flexíveis.

4.4.1.2 PRODUTOS DE INJEÇÃO

A parte 5 da NP EN 1504 classifica os produtos de injeção em três categorias:

• produtos de injeção para enchimento transmissor de forças nas fendas, vazios e interstícios

no betão;

• produtos de injeção para enchimento dúctil nas fendas, vazios e interstícios no betão;

• produtos de injeção para enchimento expansivo nas fendas, vazios e interstícios no betão.

Na Tabela 4-6 estão enunciadas as caraterísticas dos produtos de injeção, em função da presença de

água, sistemas de injeção e abertura de fenda.

Tabela 4-6 – Caraterísticas dos produtos de injeção, adaptado de (Araújo, 2016).

Caraterísticas

da fenda

Produtos

Presença de água Sistemas de injeção Abertura de fenda

Sem pressões hidrostáticas

Com pressões hidrostáticas

Sistemas rígidos

Sistemas flexíveis

Mínima

Grouts cimentícios x x wk > 0,50 mm

Resinas epoxídicas x wk > 0,10 mm

Resina de espuma de poliuretano x x x wk ≥ 0,20 mm

Resina de gel de poliuretano x x wk ≥ 0,20 mm

Resina acrílicas x x wk < 0,05 mm

35

Os grouts cimentícios formam sólidos rígidos (depois de endurecerem) muito pouco flexíveis (não

permitem acomodação de movimentos) usados em reparações estruturais de fendas inativas com

grande abertura. São compatíveis com o suporte e têm um custo relativamente baixo (face as resinas).

As resinas epoxídicas são produtos de baixa viscosidade (permitem uma boa penetração no betão),

usadas em reparações estruturais de fendas inativas sem presença de água. Depois de endurecerem

formam um sólido com elevada resistência e módulo de elasticidade, permitindo uma boa transferência

de esforços. O elevado módulo de elasticidade faz com que este tipo de resinas não seja adequado

para a injeção em fendas ativas (a não ser que a amplitude de movimentos seja muito baixa).

As resinas de poliuretano formam sólidos flexíveis e elásticos (depois de endurecerem), cujo objetivo

são reparações não estruturais de fendas com ou sem presença de água. Dentro das resinas de

poliuretano distinguem-se as (i) resinas de espuma de poliuretano e as

(ii) resinas de gel de poliuretano.

i) As resinas de espuma de poliuretano são produtos que em contacto com a água

expandem rapidamente (até 40 vezes), formando uma espuma elástica e flexível que

bloqueia temporariamente a passagem de água. Para obter uma impermeabilização

permanente é necessária uma nova injeção com uma resina de gel de poliuretano.

ii) As resinas de gel de poliuretano são produtos de baixa viscosidade (permitem uma boa

penetração no betão), hidrofóbicas e flexíveis utilizadas em injeções de fendas com ou sem

presença de água (sem pressões hidrostáticas). Em fendas com elevados fluxos de água é

necessária uma pré-injeção com uma resina de espuma de poliuretano.

As resinas acrílicas são produtos de baixa viscosidade (permitem preencher os vazios do betão),

hidrofóbicas, muito flexíveis e elásticas, usadas em reparações não estruturais de fendas com ou sem

presença de água.

Os produtos de injeção mais adequados para reparações não estruturais de fendas e juntas de

betonagem com fluxos de água são as resinas de poliuretano. Estas requerem água para iniciar o seu

processo de endurecimento e permitem acomodar os movimentos da fenda. Se ocorrerem variações

significativas da abertura da fenda, a injeção deve ser feita quando esta for máxima devido ao facto de

os produtos de injeção terem uma expansão limitada.

36

4.4.1.3 MÉTODOS DE INJEÇÃO

Os métodos de injeção em estruturas de betão armado podem ser (i) injeção sob pressão ou

(ii) injeção sob vácuo.

i) A injeção sob pressão é o método mais comum para reparações de fendas sendo executada

através da injeção direta na fenda com injetores de superfície ou através de injetores

mecânicos instalados após furação da estrutura. Os produtos de injeção são aplicados sob

pressão (baixa ou elevada) através dos injetores.

ii) A injeção sob vácuo é um procedimento muito raro (não é usado em torres de tomada de

água) por consequência da dificuldade em conseguir-se um vácuo em toda a estrutura (devido

às fendas no betão). Os produtos de injeção são aplicados sob pressão posteriormente à

aplicação do vácuo na estrutura.

O método de injeção mais adequado para aplicação de resinas de poliuretano em estruturas de betão

armado é a injeção sob pressão com injetores mecânicos, que dispensa normalmente o alargamento e

a selagem da fenda.

4.4.1.4 EQUIPAMENTOS DE INJEÇÃO

Os equipamentos de injeção variam em função do empreiteiro e do volume dos trabalhos. No entanto,

a utilização de bombas e injetores é comum em todos os trabalhos de injeção. As bombas de injeção

são os equipamentos que permitem a aplicação de uma vasta gama de produtos (e.g., grouts

cimentícios, resinas epoxídicas, resinas de poliuretano, resinas acrílicas), podendo ser

(i) bombas com um reservatório ou (ii) bombas com dois reservatórios. A escolha entre estas

depende do produto a injetar, da pressão de injeção e da qualidade do betão na envolvente da fenda

ou junta.

i) As bombas com um reservatório são as mais utilizadas devido ao seu reduzido custo (face

as bombas com dois reservatórios), sendo geralmente usadas em injeções de resinas de

poliuretano (Figura 4-3). Este equipamento tem apenas um reservatório, onde é preenchido

com os componentes do produto de injeção já misturados, tornando-se necessário injetar a

mistura dentro do seu pot life (o pot life da mistura inicia-se assim que os componentes são

misturados).

Figura 4-3 – Bomba elétrica com um reservatório (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika®

Injection Systems, 2017).

37

ii) As bombas com dois reservatórios são utilizadas quando é necessário injetar resinas de

cura rápida (algumas resinas acrílicas) e/ou quando é necessário injetar grandes volumes

(Figura 4-4). Este equipamento tem dois reservatórios que são preenchidos com os

componentes do produto de injeção nos quais a mistura dos componentes é feita apenas no

momento da injeção.

Figura 4-4 – Bomba elétrica com dois reservatórios (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika®

Injection Systems, 2017).

Os injetores são elementos que funcionam como válvulas de enchimento e peças de ligação entre a

estrutura e o equipamento de injeção podendo ser (i) injetores de superfície ou

(ii) injetores mecânicos (Figura 4-5). A escolha do tipo de injetor depende do produto a utilizar, da

pressão de injeção e da qualidade do betão na envolvente da fenda ou junta.

Figura 4-5 – Colocação de injetores mecânicos utilizados na reparação de juntas de construção numa

parede de betão estrutural (Fotografia fornecida pelo Professor Rui Vaz Rodrigues, 2017).

38

i) Os injetores de superfície são válvulas de enchimento (plásticas ou metálicas) instaladas à

superfície da fenda e adequados para quando não é possível ou aconselhável perfurar o

betão, sendo geralmente usadas em injeções de resinas epoxídicas (Figura 4-6).

Figura 4-6 – Injetor de superfície (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika® Injection

Systems, 2017).

ii) Os injetores mecânicos são válvulas de enchimento metálicas instaladas após perfuração

na superfície do betão, adequados para injeções sob pressão (baixa ou elevada), geralmente

utilizados em injeções de resinas de poliuretano (Figura 4-7).

Figura 4-7 – Injetores mecânicos (Waterproofing Leak Sealing Solutions With Sika® Injection

Systems, 2017).

Os equipamentos de injeção mais adequados para injeção de resinas de poliuretano são as bombas

com um reservatório e os injetores mecânicos.

39

4.4.1.5 PROCEDIMENTO DE INJEÇÃO SOB PRESSÃO (FENDAS COM WK ≥ 0,40 MM)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN 1504, pode estabelecer-se o seguinte procedimento.

Sequência de trabalhos:

1. Limpar a superfície do betão com um jato de água de baixa pressão (180 bar) para eliminar

qualquer material não estrutural (e.g., detritos, poeiras, óleos, tintas, revestimentos, depósitos de

sais, etc.).

2. Perfurar o betão com um berbequim em ambos os lados da fenda ou junta até a intersetar,

fazendo uma inclinação de 45º em relação à superfície (Figura 4-8). O diâmetro do furo deve ser

2,0 mm superior ao diâmetro do injetor.

Figura 4-8 – Esquema simplificado do processo de furação na superfície do betão.

2ª injeção

1ª injeção

3ª injeção

7ª injeção

9ª injeção

4ª injeção

8ª injeção

6ª injeção

5ª injeção

10ª injeção

d

d/2 d/2

45º d

40

3. Limpar os furos previamente executados com água limpa para remover detritos e poeiras

resultantes do processo de furação.

4. Instalar e apertar os injetores mecânicos para que possam suportar a injeção a elevada pressão.

A borracha ao ser apertada sela qualquer falha que possa existir devido a uma má perfuração,

minimizando assim o risco de fuga do produto de injeção.

Nota: o comprimento dos injetores adotados deve garantir que a válvula anti-retorno possa ser

facilmente instalada ou retirada do injetor.

5. Verificar se existem eventuais obstruções nos injetores através da injeção de ar comprimido

(deve garantir-se que o ar está limpo para não contaminar o suporte com óleo).

6. Limpar e saturar a fenda ou junta através da injeção de água limpa pelos injetores.

Nota: a limpeza da fenda ou junta elimina quaisquer detritos ou poeiras do seu interior que possam

impedir a aderência da resina ao suporte.

7. Processo de injeção

O processo de injeção em fendas ou juntas de betonagem com fluxos de água e pressões hidrostáticas

associadas é realizado em duas fases. Numa primeira fase é feita uma injeção com resina de espuma

de poliuretano para bloquear temporariamente a passagem de água. Numa fase posterior é executada

uma nova injeção com resina de gel de poliuretano para se obter uma impermeabilização permanente.

7.1. Instalar uma válvula anti-retorno no primeiro injetor e iniciar o processo de injeção;

7.2. Quando o produto de injeção escoar pelo segundo injetor, instalar rapidamente uma

válvula anti-retorno e continuar o processo de injeção pelo segundo injetor;

7.3. Repetir este processo para os restantes injetores;

7.4. Depois da injeção da resina de espuma de poliuretano concluída, repetir este processo

utilizando uma resina de gel de poliuretano (para garantir uma impermeabilização

permanente).

Nota: em fendas verticais, a injeção tem início no injetor a cota mais baixa, passando para o injetor de

cota superior quando a resina escoar por este (funciona como purgador de ar). Em fendas horizontais

a injeção tem início no injetor central, passando para os injetores contíguos de forma alternada.

8. Remover os injetores depois da resina endurecer.

9. Selar os furos com o próprio produto de injeção e limpar a superfície do betão com um jato de

água de baixa pressão (180 bar) ou por raspagem, para eliminar o excedente de resina.

41

4.4.1.6 CONTROLO DA QUALIDADE

O grau de enchimento da fenda ou junta de betonagem pode ser determinada através da extração de

carotes em secções consideradas representativas (Figura 4-9). O ensaio de ultra-sons permite avaliar

também o seu estado de enchimento. A parte 10 da NP EN 1504 considera aceitável uma penetração

em 80 % da profundidade da fenda ou junta. Para garantir a qualidade do processo de injeção, devem

ser seguidas as fichas técnicas dos produtos e equipamentos de injeção, bem como as fichas de dados

de segurança dos produtos.

Figura 4-9 – Carotes (Correia, et al., 2015).

42

4.4.2 IMPERMEABILIZAÇÃO POR CRISTALIZAÇÃO

A impermeabilização por cristalização dos poros e capilaridades do betão consiste num tratamento

químico através da formação de cristais não solúveis nos poros e capilaridades do betão, bem como

em fendas e juntas de betonagem defeituosas. Este tratamento confere ao betão boas caraterísticas

de resistência química, protegendo-o dos agentes agressivos (e.g., dióxido de carbono, cloretos, etc.).

Este método torna o betão impermeável à penetração de água (e outros líquidos, em qualquer direção),

mesmo sob elevadas pressões hidrostáticas, não comprometendo a qualidade da água (Figura 4-10).

Figura 4-10 – Formação de cristais nos poros e capilaridades do betão (Xypex® Chemical

Corporation, 2017).

A aplicação de um revestimento impermeabilizante em superfícies de betão (tanto na vertical como na

horizontal), enquadra-se no princípio 1 (proteção contra o ingresso) da parte 9 da NP EN 1504,

correspondente ao método 1.3 (revestimento). Este método permite eliminar porosidades, reparar

fendas inativas de largura inferior a 0,40 mm (sem fluxos de água) e juntas de betonagem defeituosas.

Em fendas de largura igual ou superior a 0,40 mm (com ou sem fluxos de água) é necessário um

tratamento prévio do suporte. Desta forma, foram elaborados dois procedimentos de reparação para

juntas e/ou fendas de largura inferior a 0,40 mm e para fendas de largura igual ou superior a 0,40 mm.

No entanto, os dois procedimentos podem ser utilizados em conjunto, sendo que a aplicação de um

revestimento impermeabilizante na superfície do betão (para juntas e/ou fendas de largura inferior a

0,40 mm) pode ser usado de forma complementar a reparação de fendas de largura igual ou superior

a 0,40 mm. A aplicação de um revestimento impermeabilizante (para juntas e/ou fendas de largura

inferior a 0,40 mm) também pode ser realizado de forma complementar à injeção de fendas ou juntas

de betonagem.

43

4.4.2.1 PRODUTOS DE IMPERMEABILIZAÇÃO

Os produtos necessários para impermeabilização por cristalização dos poros e capilaridades do betão

são uma (i) argamassa impermeabilizante e uma (ii) argamassa hidráulica.

i) A argamassa impermeabilizante é composta por cimento Portland, sílica, e substâncias

químicas com propriedades ativas, para impermeabilização, proteção e reparação de

estruturas de betão. É especialmente concebida para ser aplicada como uma pintura em

estruturas já existentes (podendo ser também aplicada em estruturas novas). Quando

aplicada como se tratasse de uma pintura, as substâncias químicas ativas penetram

profundamente no betão e reagem com a água e os constituintes do betão endurecido, dando

origem a uma reação catalítica. Esta reação gera a formação de cristais não solúveis nos

poros e capilaridades do betão assim como nas fendas e/ou juntas de betonagem defeituosas,

tornando o betão impermeável à penetração de água (e outros líquidos, em qualquer direção),

mesmo sob elevadas pressões hidrostáticas. Pode ser aplicada como camada única ou como

a primeira camada nas aplicações múltiplas e sob a forma de dry pack (mistura seca, com

baixa relação água/cimento) para reparações de fendas, juntas de betonagem defeituosas e

outros defeitos no betão.

ii) A argamassa hidráulica é composta por ligantes minerais hidráulicos que em contacto com

a água endurecem e são usadas para juntas de betonagem defeituosas e para reparar

defeitos no betão.

4.4.2.2 EQUIPAMENTOS DE APLICAÇÃO

A argamassa impermeabilizante pode ser aplicada como se tratasse de uma pintura com a utilização

de uma escova ou um equipamento de spray (Figura 4-11).

Figura 4-11 – Equipamento de spray (Xypex® Chemical Corporation, 2017).

44

4.4.2.3 EXEMPLOS DE IMPERMEABILIZAÇÃO POR CRISTALIZAÇÃO

Figura 4-12 – Impermeabilização de num canal de uma estação de tratamento de água (Xypex®

Chemical Corporation, 2017)

Figura 4-13 – Impermeabilização de num canal de uma estação de tratamento de água (Xypex®

Chemical Corporation, 2017)

45

4.4.2.4 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO (JUNTAS E FENDAS COM WK < 0,40 MM)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN 1504, pode estabelecer-se o seguinte procedimento. Refere-se ainda que as

espessuras e os tempos de cura são apenas indicativos, podendo variar com o produto aplicado

(Catalog Xypex®. Method Statements and Schematics, 2013).

Sequência de trabalhos:

Preparação da superfície

1. Limpar a superfície do betão com um jato de água de baixa pressão (180 bar) para eliminar

qualquer material não estrutural (e.g., detritos, poeiras, óleos, tintas, revestimentos, depósitos de

sais, etc.) que possa impedir a aderência do revestimento ao suporte (Figura 4-14).

2. Saturar a superfície do betão com água limpa para garantir a completa penetração dos agentes

químicos ativos no betão e remover o excesso de água superficial com ar comprimido. Se a

superfície do betão secar antes da aplicação da argamassa, deve ser saturada de novo.

Nota: a superfície do betão deve possuir um sistema de capilaridades aberto para se obter a porosidade

e sução para o tratamento por cristalização. Se a superfície for muito lisa é necessário criar rugosidades

para melhorar a aderência do revestimento ao suporte.

Aplicação da primeira camada

Figura 4-14 – Esquema simplificado do revestimento impermeabilizante.

Argamassa impermeabilizante (2ª camada)

espessura ≈ 1,25 mm

Argamassa impermeabilizante (1ª camada)

espessura ≈ 1,25 mm

Exterior

Cp

Interior

wK < 0,40 mm

Cp

46

3. Misturar a argamassa impermeabilizante com água limpa até atingir uma pasta homogénea sem

grumos, e aplicar uniformemente com um equipamento de spray ou uma escova, uma espessura

de 1,25 mm (uma espessura superior pode dificultar o processo de cura).

4. O processo de cura pode ser feito com água limpa ou com um agente de cura.

4.1. Pulverizar a superfície com água limpa três vezes por dia durante dois ou três dias. Em

climas quentes pode ser necessário humedecer a superfície mais vezes.

4.2. Misturar o agente de cura com água limpa e aplicar sobre a superfície.

Nota: o processo de cura entre camadas deve ser feito com água limpa.

Aplicação da segunda camada (quando necessária)

5. Misturar a argamassa impermeabilizante com água limpa até atingir uma pasta homogénea sem

grumos e aplicar a segunda camada depois da primeira iniciar o processo de endurecimento (no

máximo nas 48 horas seguintes à sua aplicação) com um equipamento de spray ou uma escova,

com uma espessura de 1,25 mm (uma espessura superior pode dificultar o processo de cura).

6. O processo de cura pode ser feito com água limpa ou com um agente de cura.

6.1. Pulverizar a superfície com água limpa três vezes por dia durante dois ou três dias. Em

climas quentes pode ser necessário humedecer a superfície mais vezes.

6.2. Misturar o agente de cura com água limpa e aplicar sobre a superfície.

Nota: durante o processo de cura o revestimento deve estar protegido do sol, chuva, geada, vento e

temperaturas inferiores a 2ºC, num período não inferior a 48 horas após a sua aplicação. Para uma

cura adequada, o revestimento necessita o contacto com o ar. Em estruturas que contenham líquidos

o processo de cura deverá ser de três dias e deve ser aguardar-se 12 dias antes de se proceder ao

enchimento do seu interior (este ponto tem especial importância para as torres de tomada de água do

tipo húmida).

47

4.4.2.5 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO (FENDAS COM WK ≥ 0,40 MM)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN 1504, pode estabelecer-se o seguinte procedimento. Refere-se ainda que as

espessuras e os tempos de cura são apenas indicativos, podendo variar com o produto aplicado

(Catalog Xypex®. Method Statements and Schematics, 2013).

Sequência de trabalhos:

Preparação da superfície

1. Abrir uma cavidade ao longo da fenda ou junta em forma de “U” com 25 mm de largura e

25 a 40 mm de profundidade com uma rebarbadora: quanto maior for o fluxo de água através da

fenda ou junta, maior deve ser a profundidade da cavidade (Figura 4-15).

2. Limpar a superfície da cavidade com um jato de água de baixa pressão (180 bar) para eliminar

detritos e poeiras que possam impedir a aderência da argamassa ao suporte.

3. Saturar a superfície do betão com água limpa para garantir a completa penetração dos agentes

químicos ativos no betão e remover o excesso de água superficial com ar comprimido. Se a

superfície do betão secar antes da aplicação da argamassa deve ser saturada de novo.

Superfícies sem fluxo de água

Figura 4-15 – Esquema simplificado de reparação de fendas sem fluxo de água.

25 –

40 m

m

Argamassa hidráulica

Argamassa impermeabilizante

espessura ≈ 15 mm

25 mm Argamassa impermeabilizante

espessura ≈ 1,25 mm

Argamassa impermeabilizante

espessura ≈ 1,25 mm

Exterior

Interior

wK ≥ 0,40 mm

Cp

48

4. Misturar a argamassa impermeabilizante com água limpa até atingir uma pasta homogénea sem

grumos e aplicar sobre a base da cavidade com uma escova. A camada deve ser aplicada

uniformemente com uma espessura de 1,25 mm (uma espessura superior pode dificultar o

processo de cura).

5. Depois da argamassa impermeabilizante iniciar o processo de endurecimento, misturar a

argamassa impermeabilizante na forma dry pack (mistura seca) com recurso a uma espátula

metálica e aplicar sobre a cavidade, compactando com um martelo e um bloco de madeira ou

com um martelo pneumático, até aproximadamente 15 mm de profundidade. Nesta mistura a

presença de grumos é normal.

6. Remover qualquer excedente do produto nas extremidades da cavidade.

7. Pulverizar a superfície da argamassa impermeabilizante na forma dry pack com água limpa.

8. Misturar a argamassa hidráulica com água limpa até formar uma pasta rígida e aplicar sobre a

cavidade até a preencher. Aguardar, no mínimo, 1 hora para que a argamassa endureça.

9. Misturar a argamassa impermeabilizante com água limpa até atingir uma pasta homogénea sem

grumos e aplicar com uma escova sobre a superfície reparada. A camada deve ser aplicada

uniformemente com uma espessura de 1,25 mm (uma espessura superior pode dificultar o

processo de cura).

10. O processo de cura pode ser feito com água limpa ou com um agente de cura.

10.1. Pulverizar a superfície com água limpa três vezes por dia durante dois ou três dias. Em

climas quentes pode ser necessário humedecer a superfície mais vezes.

10.2. Misturar o agente de cura com água limpa e aplicar sobre a superfície do revestimento.

Nota: durante o processo de cura o revestimento deve estar protegido do sol, chuva, geada, vento e

temperaturas inferiores a 2ºC, num período não inferior a 48 horas após a sua aplicação. Para uma

cura adequada, o revestimento necessita o contacto com o ar. Em estruturas que contenham líquidos

o processo de cura deverá ser de três dias e deve ser aguardar-se 12 dias antes de se proceder ao

enchimento do seu interior (este ponto tem especial importância para as torres de tomada de água do

tipo húmida).

49

Superfícies com fluxo de água (baixo caudal, baixa pressão hidrostática)

Figura 4-16 – Esquema simplificado de reparação de fendas com fluxo de água.

11. Misturar a argamassa hidráulica com água limpa até formar uma pasta rígida e aplicar

aproximadamente até metade da profundidade da cavidade (ao longo da fenda e/ou junta) em

todo o seu comprimento, segurando com a mão a argamassa até que endureça e o caudal de

água estanque (Figura 4-16).

12. Execute os passos 4 a 10 acima mencionados.

Superfícies com fluxo água (elevado caudal)

13. Misturar a argamassa hidráulica com água limpa até formar uma pasta rígida, e com as mãos

formar “tampões” do tamanho da cavidade (em forma cilíndrica).

14. Esperar no mínimo 30 minutos para que os “tampões” endureçam e aplicar sobre a base da

cavidade, compactando com um martelo e um bloco de madeira, até que o caudal de água

estanque (começar pela cota mais baixa). Este passo pode requerer mais do que uma tentativa.

15. Assim que o caudal de água é estancado, execute os passos 4 a 10 acima mencionados.

25 –

40 m

m

Argamassa

impermeabilizante

Argamassa hidráulica

25 mm

Argamassa impermeabilizante

espessura ≈ 1,25 mm

Argamassa impermeabilizante

Espessura ≈ 1,25 mm

Exterior

Interior

wK ≥ 0,40 mm

Cp

Argamassa hidráulica

50

Superfícies com fluxo de água (elevado caudal, elevada pressão hidrostática)

16. Identificar as zonas com elevado caudal através da fenda ou junta. Nessas zonas aprofundar a

cavidade (25 mm) com um martelo pneumático, e instalar um tubo drenante adequado ao caudal

de água a escoar. Fixar o tubo drenante na cavidade com argamassa hidráulica, e segurar o tubo

com a mão até que a argamassa endureça. Assegurar que grande parte do caudal de água é

escoado pelo tubo drenante.

Nota: pode ser necessário mais do que uma aplicação para fixar o tubo drenante. Este procedimento

alivia a pressão para que a superfície possa ser reparada.

17. Continuar no passo 11, e se for necessário os passos 13 e 14 acima mencionados.

18. Assim que o caudal é estancado, esperar no mínimo 1 hora para remover o tubo drenante, e

proceder aos passos 13 e 14 para selar o furo resultante.

Nota: o tubo drenante deve ser suficientemente comprido para escoar a água do local de trabalho.

Deve ter uma superfície lisa e ser suficientemente rígido (e.g., mangueira de rega de jardim).

19. Proceder para os passos 4 a 10 acima mencionados.

51

4.4.2.6 CONTROLO DA QUALIDADE

A resistência à tração do revestimento impermeabilizante pode ser medida através do ensaio de

aderência pelo método pull-off, segundo a EN 1542 (Figura 4-17). A parte 10 da NP EN 1504

estabelece um mínimo de resistência à tração em reparações não estruturais de 0,70 MPa. Para

garantir a qualidade do revestimento devem ser seguidas as fichas técnicas dos produtos e

equipamentos, bem como as fichas de dados de segurança dos produtos.

Figura 4-17 – Esquema simplificado do ensaio de aderência pelo método pull-off (oz-diagnostico,

2017).

52

4.4.3 REVESTIMENTO SUPERFICIAL

A aplicação de um revestimento superficial consiste na colmatação da fenda à superfície, sem

tratamento prévio do suporte (Figura 4-18). Este método é utilizado para reparar fendas de pequena

dimensão (fendas superficiais), garantindo um bom aspeto estético. Sendo um método que não

preenche a totalidade da fenda, não pode ser usado para impermeabilizações nem para reparações

estruturais, pois não garante o monolitismo da estrutura.

Figura 4-18 – Esquema simplificado do revestimento superficial.

A aplicação de um revestimento superficial no betão está preconizada no princípio 1 (proteção contra

o ingresso) da parte 9 da NP EN 1504, e corresponde ao método 1.2 (impregnação).

4.4.4 SELAGEM

A selagem consiste em vedar as bordas da fenda através da aplicação de um material flexível com

boas caraterísticas mecânicas (capaz de absorver o movimento da fenda) e químicas. Este método

requer o tratamento prévio da fenda, através da abertura de uma cavidade em forma de “V” em todo o

seu comprimento (Figura 4-19). Sendo um método que não preenche a totalidade da fenda, não pode

ser usado para impermeabilizações nem para reparações estruturais, pois não garante o monolitismo

da estrutura.

Figura 4-19 – Esquema simplificado da selagem de fendas.

A selagem de fendas no betão está preconizada no princípio 1 (proteção contra o ingresso) da parte 9

da NP EN 1504, e corresponde ao método 1.4 (ligação superficial de fendas).

53

4.5 REPARAÇÃO DO BETÃO E ARMADURAS

A reparação do betão em estruturas hidráulicas do tipo torre de tomada de água pode ser estrutural ou

não estrutural (Figura 4-20). A deterioração do betão pode ser apenas superficial ou com alguma

profundidade, expondo até as armaduras. Se as armaduras não estiverem corroídas (passivadas), a

melhor solução é restaurar as zonas do betão degradado. A reparação do betão degradado está

preconizada no princípio 3 (restauração do betão) da parte 9 da NP EN 1504, e corresponde ao método

3.3 (betão ou argamassa projetada). No entanto, se as armaduras estiverem corroídas (despassivadas)

devido à carbonatação e/ou ao ataque de cloretos, a melhor solução é substituir o betão carbonatado

ou contaminado. A corrosão pode ser tão extensa que a secção das armaduras fica tão reduzida que

impossibilita o processo de reparação. Nestes casos é necessário encarar a possibilidade de demolir a

peça ou a estrutura afetada. A reparação do betão contaminado está preconizada no princípio 7

(preservação ou restauração da passividade) da parte 9 da NP EN 1504, e corresponde ao método 7.2

(substituição do betão contaminado ou carbonatado).

Figura 4-20 – Esquema simplificado de reparação do betão, adaptado de (Costa, 2010).

As causas da deterioração do betão em estruturas hidráulicas do tipo torre de tomada de água podem

ser erosão, cavitação, corrosão induzida por carbonatação e corrosão induzida por cloretos. Em torres

do tipo seca geralmente não ocorrem em geral problemas de erosão e cavitação uma vez que o

escoamento é feito em tubagens de aço (pode ocorrer cavitação nas tubagens, sendo necessário

proceder a sua substituição). No entanto, podem ocorrer problemas de carbonatação e ataque de

cloretos no exterior da estrutura, nas zonas expostas a ciclos de molhagem e secagem. Por outro lado,

em torres do tipo húmida pode ocorrer problemas de erosão e cavitação no interior da estrutura (uma

vez que o escoamento é feito no seu interior) e problemas de carbonatação e ataque de cloretos nas

zonas expostas a ciclos de molhagem e secagem. Embora não seja abordado neste documento, pode

ser aplicado uma blindagem com chapas de aço nas zonas expostas a ação da água, sendo que a

ligação entre as chapas e a superfície de betão deve ser bem executada, pois é uma zona critica neste

tipo de soluções.

54

4.5.1 PRODUTOS DE REPARAÇÃO

A parte 3 da NP EN 1504 define quatro classes para os produtos de reparação estrutural e não

estrutural, em função das caraterísticas de desempenho. Na Tabela 4-7 estão enunciadas duas

caraterísticas de desempenho importantes na escolha dos produtos de reparação.

Tabela 4-7– Requisitos de desempenho de produtos de reparação, adaptado da (NP EN 1504-3

Reparação estrutural e não estrutural, 2006).

Caraterísticas de desempenho

Requisito

Estrutural Não estrutural

Classe R4 Classe R3 Classe R2 Classe R1

Resistência à compressão ≥ 45 MPa ≥ 25 MPa ≥ 15 MPa ≥ 10 MPa

Aderência ≥ 2,0 MPa ≥ 1,50 MPa ≥ 0,80 MPa

As caraterísticas dos produtos de reparação adotados dependem das causas das patologias, podendo

ser (i) erosão, (ii) cavitação, (iii) carbonatação e (iv) ataque de cloretos.

i) erosão

As zonas do betão deterioradas pela erosão devem ser reparadas com materiais com elevadas

resistências ao desgaste superficial, sendo recomendado o uso de betões ou argamassas de alto

desempenho, com boas resistências mecânicas e químicas. O acabamento superficial e o processo de

cura têm especial importância, uma vez que afeta muito mais a resistência à erosão do que a resistência

à compressão. A ligação entre a pasta de cimento e os agregados é fundamental para se obter uma

boa resistência do betão devido ao facto de esta ser a parte mais fraca do betão. A resistência à erosão

do betão depende também da dureza do agregado, sendo que a utilização de agregados de alta dureza

resulta em betões com boa resistência a erosão. No entanto, em betões com resistências à compressão

superiores a 42 MPa, a influência dos agregados é baixa (Almeida, 2000).

55

ii) cavitação

As zonas do betão deterioradas pela cavitação devem ser reparadas com materiais com elevadas

resistências à tração, ao impacto, à compressão e ao corte, podendo ser usados betões ou argamassas

com fibras, polímeros ou microsílica (Quintela, et al., 1980). A resistência à cavitação do betão pode

ser aumentada com a adição de microsílica e pela redução da relação água/cimento, resultando numa

maior compacidade e resistência à compressão. A adição de polímeros látex também aumenta a

resistência à cavitação do betão, com redução de 40 % de perda de massa, devido ao aumento da

aderência da pasta de cimento aos agregados (James Edmond McDonald , 2000).

O gráfico da Figura 4-21 relaciona a perda de volume (devido a cavitação) com a resistência à

compressão do betão, e tal como podemos observar, um aumento da resistência do betão entre

35 a 70 MPa resulta num aumento da resistência a cavitação, no entanto para resistências superiores

a 70 MPa, a resistência a cavitação pouco aumenta (James Edmond McDonald , 2000).

Figura 4-21 – Resultados do ensaio de cavitação, adaptado de (James Edmond McDonald , 2000).

iii) carbonatação

As zonas do betão deterioradas pela carbonatação podem ser reparadas usando betões ou

argamassas com polímeros (resinas epoxídicas ou látex). Os polímeros aumentam a elasticidade e

diminuem a permeabilidade ao dióxido de carbono, melhorando a resistência química do betão. O

polímero látex em particular permite uma menor relação água/cimento o que leva a uma menor

fendilhação, porosidade e diminuição da permeabilidade à água e ao dióxido de carbono, o que é ideal

para o combate à carbonatação (Saraiva, 2007).

A especificação do LNEC E 464 (Metodologia prescritiva para uma vida útil de projeto de

50 e de 100 anos face às ações ambientais) recomenda o CEM I como cimento de referência para as

classes de exposição para o risco de corrosão induzida por carbonatação (XC).

Perd

a d

e v

olu

me (

50 h

ora

s),

cm

3

Resistência à compressão, MPa

Cp

Produtos cimentícios

Cp

56

iv) ataque de cloretos

As zonas do betão deterioradas pelo ataque de cloretos podem ser reparadas com betões ou

argamassas com polímeros ou microsílica. Embora o seu custo seja superior ao cimento de Portland,

pode ser usada como adição de forma a produzir betões de elevado desempenho, tanto em termos de

resistência como durabilidade. A adição de microsílica aumenta a resistência à compressão, sem

redução da resistência nas primeiras idades, reduz a porosidade e a permeabilidade do betão,

aumentando a sua durabilidade. No entanto a microsílica aumenta a necessidade de água de

amassadura, mas este aumento pode ser anulado com a utilização de adjuvantes plastificantes

(Gomes, et al., 2013).

A especificação LNEC E 464 (Metodologia prescritiva para uma vida útil de projeto de 50 e de 100 anos

face às ações ambientais) recomenda o CEM IV/A como cimento de referência para as classes de

exposição para o risco de corrosão induzida por cloretos provenientes e não provenientes da água do

mar (XS e XD, respetivamente).

Os produtos de reparação podem ser argamassas cimentícias modificadas com polímeros ou

argamassas com adição de microsílica. A adição de (i) polímeros ou (ii) microsílica permite melhorar

a resistência química e mecânica do betão, aumentando a durabilidade da reparação e diminuindo a

necessidade de intervenções prematuras.

i) Os polímeros aumentam a resistência à flexão e a tração devido à melhor ligação entre a

pasta de cimento e os agregados, aumentam a resistência ao impacto, resultado da redução

do módulo de elasticidade. No entanto, a resistência à compressão é pouco alterada. Por um

lado, os polímeros permitem uma menor relação água/cimento. Mas por outro lado,

introduzem ar na mistura fazendo com que um efeito seja compensado pelo outro e que a

resistência à compressão seja pouco afetada. Os polímeros geralmente têm uma boa

aderência ao suporte e diminuem a retração por secagem, reduzindo a fendilhação,

porosidade, permeabilidade à água e ao dióxido de carbono e aumentando a resistência à

penetração dos cloretos e consequentemente durabilidade da reparação.

ii) A microsílica aumenta a resistência à compressão, sem redução da resistência nas primeiras

idades, aumenta a coesão e a compacidade da mistura. No entanto, aumenta a necessidade

de água de amassadura. Este efeito pode ser contrariado com a utilização de adjuvantes

plastificantes. A microsílica diminui a porosidade, permeabilidade, segregação e os vazios

existentes devido à sua elevada finura pois preenche a curva granulométrica do cimento e

melhora a resistência aos agentes agressivos (e.g., dióxido de carbono, cloretos) devido à

melhoria da camada de recobrimento.

57

4.5.2 MÉTODOS DE APLICAÇÃO DO BETÃO OU ARGAMASSA

A mistura do betão ou argamassa pode ser aplicada utilizando vários métodos (e.g., betão moldado,

agregados pré-colocados, betão ou argamassa injetada, etc.). No entanto, o método abordado neste

documento é a aplicação por projeção (Figura 4-22). A projeção pode ser realizada por (i) via seca ou

(ii) via húmida, as quais diferem basicamente no estágio em que é adicionada água à mistura.

i) Na projeção por via seca, a mistura não hidratada é colocada no equipamento de projeção e

o processo de transporte é feito por meio de ar comprimido até a boca de injeção, onde é

adicionada água pelo operador do equipamento.

ii) Na projeção por via húmida, a mistura hidratada é colocada no equipamento de projeção, e

o processo de transporte é feito por bombagem, até a boca de injeção.

Figura 4-22 – Projeção de betão (Correia, et al., 2015).

Comparando os dois métodos não podemos afirmar que um deles é melhor que outro, pois diferem a

nível de custos de equipamentos, manutenção e caraterísticas de operacionalidade. Na Tabela 4-8

estão enunciadas as vantagens de ambos os métodos de projeção.

Tabela 4-8 Vantagens dos métodos de projeção via seca e via húmida (Correia, et al., 2015).

Vantagens

Via seca Via húmida

Controlo da quantidade de água e consistência à saída da mangueira (possível proceder a ajustes)

Melhor controlo da quantidade de água (medida com exatidão na misturadora)

Menor retração e maior aderência Maior garantia de hidratação completa da mistura

Melhor comportamento para misturas com agregados leves e porosos

Menos perdas de agregados por ricochete

Permite maior comprimento da mangueira de aplicação Menos pó durante a operação

58

4.5.3 EQUIPAMENTOS DE PROJEÇÃO DO BETÃO OU ARGAMASSA

Os equipamentos de projeção do betão ou argamassa são geralmente (i) máquinas de projeção ou

(ii) bombas de projeção.

i) As máquinas de projeção permitem a aplicação de betão ou argamassa por via seca, e são

utilizadas na área da reabilitação, onde as limitações espaciais têm especial importância (são

substancialmente mais pequenas do que as bombas de projeção). A mistura é transportada

pneumaticamente por meio de ar comprimido pela mangueira de aplicação até a boca de

injeção onde é adicionada água (Figura 4-23).

Figura 4-23 – Máquina de projeção (Catalogo Sika®. Tecnologia Sika® para betão projetado, 2010).

ii) As bombas de projeção permitem a aplicação de betão ou argamassa por via húmida, e são

usadas quando é necessário um grande volume de trabalhos. A mistura é bombada pela

mangueira de aplicação até a boca de injeção, onde é projetado por meio de ar comprimido

(Figura 4-24).

Figura 4-24 – Bomba de projeção (Catalogo Sika®. Tecnologia Sika® para betão projetado, 2010).

Mistura seca

Mistura húmida

Água

Ar comprimido

Boca de injeção

Boca de injeção

Mangueira

Mangueira

Ar comprimido

59

4.5.4 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO DO BETÃO (BETÃO POUCO DEGRADADO)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN 1504, pode estabelecer-se o seguinte procedimento. Refere-se ainda que as

espessuras e os tempos de cura são apenas indicativos, podendo variar com o produto aplicado.

Sequência de trabalhos:

Preparação da superfície

1. Limpar a superfície do betão com um jato de água de baixa pressão (180 bar) para eliminar

qualquer material não estrutural (e.g., detritos, poeiras, óleos, tintas, revestimentos, depósitos de

sais, etc.).

2. Identificar e marcar as zonas do betão degradado.

Remover o betão

3. Remover o betão degradado com um jato de água de muito alta pressão (1100 bar) ou com um

martelo de percussão.

Nota: a superfície deve ser rugosa para favorecer a ligação da argamassa de reparação, e deve estar

livre de partículas soltas ou em desagregação.

4. Saturar a superfície do betão com água limpa antes da aplicação da argamassa ou do primário

de aderência e remover o excesso de água superficial com ar comprimido (deve-se garantir que

está limpo e não contamina a superfície com óleo). Se a superfície do betão secar antes da

aplicação argamassa ou do primário de aderência, deve ser saturada de novo.

Aplicação do primário de aderência (quando necessário)

5. Aplicar o primário com um equipamento de spray ou uma escova até preencher totalmente a

superfície.

Nota: a aplicação subsequente da argamassa de reparação deve ser "fresca em fresco" quando o

primário ainda não endureceu.

60

Aplicação da argamassa de reparação

Pode ser necessário mais do que uma camada de argamassa de reparação. A espessura pode variar

entre 6 a 50 mm. O processo de cura entre camadas deve ser feito com água limpa.

6. Projetar a argamassa de reparação por via húmida a uma distancia entre 500 a 1000 mm da

superfície, fazendo aproximadamente um ângulo de 90º (Figura 4-25).

Figura 4-25 – Esquema simplificado de projeção de argamassa.

Nota: pode ser incorporada uma armadura para evitar a fendilhação por retração e melhorar a ligação

mecânica.

Aplicação da argamassa de regularização

Pode ser necessário mais do que uma camada de argamassa de regularização. A espessura pode

variar entre 1 a 5 mm. O processo de cura entre camadas deve ser feito com água limpa.

7. Projetar argamassa de regularização por via húmida a uma distancia entre 500 a 1000 mm da

superfície, fazendo aproximadamente um angulo de 90º (Figura 4-25).

8. Alisar a superfície logo que argamassa endureça o suficiente.

Processo de cura

9. Humedecer a superfície várias vezes por dia, durante o tempo que for considerado necessário.

500 a 1000 mm

90º Boca de injeção

Mangueira

61

4.5.5 PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO DO BETÃO (BETÃO MUITO DEGRADADO)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN 1504, pode estabelecer-se o seguinte procedimento. Refere-se ainda que as

espessuras e os tempos de cura são apenas indicativos, podendo variar com o produto aplicado.

Sequência de trabalhos:

1. Preparação da superfície

2. Limpar a superfície do betão com um jato de água de baixa pressão (180 bar) para eliminar

qualquer material não estrutural (e.g., detritos, poeiras, óleos, tintas, revestimentos, depósitos de

sais, etc.).

3. Identificar e marcar as zonas do betão degradado.

Remoção do betão

4. Remover o betão degradado com um jato de água de muito alta pressão (1100 bar) ou um

martelo de percussão, pelo menos 15 mm por detrás das armaduras (ou 20 mm, se o betão

estiver contaminado com cloretos), como exemplificado na Figura 4-26.

Figura 4-26 – Esquema simplificado de reparação do betão muito degradado.

Nota: a superfície deve ser rugosa com ângulos de corte entre 90 a 135º, de forma a evitar o

destacamento da argamassa de reparação, e deve estar livre de partículas soltas ou em desagregação

(Figura 4-26).

Limpeza das armaduras

5. Limpar as armaduras com um jato abrasivo com o grau Sa 2 ½ ou com escovas de aço com o

grau St 3 (de acordo com a EN ISO 8501), pelo menos 50 mm para além das zonas corroídas,

sem danificar ou contaminar o betão.

≥ 15 mm

62

Reforçar as armaduras (quando necessário)

Em geral se a secção da armadura se encontrar reduzida em mais de 25 % da sua secção transversal

(ou 20 %, se duas ou mais armaduras adjacentes estiverem afetadas) é necessário reforçar.

6. Colocar uma armadura de reforço paralelamente sobre todo o comprimento da zona afetada

(mais o comprimento de emenda) e amarrar, ou retirar a zona da armadura afetada e empalmar

mecanicamente uma nova armadura, com acopladores mecânicos de parafusos (Figura 4-27).

Figura 4-27 – Esquema simplificado da amarração e empalmo mecânico de armaduras de reforço,

adaptado de (Costa, 2010).

Nota: o comprimento da emenda deve ser determinado segundo o Eurocódigo 2.

7. Saturar a superfície do betão com água limpa antes da aplicação da argamassa ou do primário

de aderência/proteção anticorrosiva e remover o excesso de água superficial com ar comprimido

(deve-se garantir que está limpo e não contamina a superfície com óleo). Se a superfície do

betão secar antes da aplicação da argamassa ou do primário de aderência/proteção anticorrosiva

deve ser saturada de novo.

Aplicação do primário de aderência/proteção anticorrosiva (quando necessário)

8. Aplicar o primário de aderência/proteção anticorrosiva com um equipamento de spray ou uma

escova até preencher totalmente a superfície do aço, com aproximadamente 1,0 mm.

9. Depois da primeira camada endurecer (4 a 5 horas), aplicar uma segunda camada em toda a

superfície do betão e do aço. A espessura aplicada no aço deve ser com aproximadamente

1,0 mm (total 2,0 mm).

10. Verificar se o primário de aderência/proteção anticorrosiva esta aplicado na totalidade das

armaduras, e se existirem partes da armadura que não estejam totalmente preenchidas, repetir

o passo 8.

Nota: a aplicação subsequente da argamassa de reparação deve ser "fresca em fresco", quando o

primário de aderência/proteção anticorrosiva ainda não endureceu.

Armadura original

Comprimento da emenda Comprimento da emenda

Armadura de reforço

Comprimento da zona afetada

Armadura original Armadura de reforço Armadura original

63

Aplicação da argamassa de reparação

Pode ser necessário mais do que uma camada de argamassa de reparação. A espessura pode variar

entre 6 a 50 mm. O processo de cura entre camadas deve ser feito com água limpa.

11. Projetar a argamassa de reparação por via húmida a uma distancia entre 500 a 1000 mm da

superfície, fazendo aproximadamente um ângulo de 90º (Figura 4-28).

Figura 4-28 – Esquema simplificado de projeção de argamassa.

Nota: pode ser incorporada uma armadura para evitar a fendilhação por retração e melhorar a ligação.

Aplicação da argamassa de regularização

Pode ser necessário mais do que uma camada de argamassa de regularização. A espessura pode

variar entre 1 a 6 mm. O processo de cura entre camadas deve ser feito com água limpa.

12. Projetar a argamassa de regularização por via húmida a uma distancia entre 500 a 1000 mm da

superfície, fazendo aproximadamente um ângulo de 90º (Figura 4-28).

13. Alisar a superfície logo que argamassa endureça o suficiente.

Processo de cura

14. Humedecer a superfície várias vezes por dia, durante o tempo que for considerado necessário.

500 a 1000 mm

90º Boca de injeção

Mangueira

64

4.5.6 CONTROLO DA QUALIDADE

A resistência à tração da argamassa pode ser medida com o ensaio de aderência pelo método pull-off

(Figura 4-29), segundo a EN 1542. Este ensaio permite também medir a resistência à tração entre

camadas (se for aplicada mais do que uma camada) e determinar a natureza da falha entre a superfície

do betão e o revestimento aplicado. A parte 10 da NP EN 1504 estabelece um mínimo de resistência à

tração em reparações não estruturais de 0,70 MPa e para reparações estruturais são aceitáveis valores

entre 1,20 a 1,50 MPa. Para garantir a qualidade do processo de reparação do betão e armaduras,

devem ser seguidas as fichas técnicas dos produtos e equipamentos, bem como as fichas de dados de

segurança dos produtos.

Figura 4-29 – Ensaio de aderência pelo método pull-off (Costa, 2010).

65

4.6 REABILITAÇÃO DA PINTURA DE ELEMENTOS METÁLICOS

A aplicação de um revestimento anticorrosivo por pintura em elementos metálicos, tem como objetivo

proteger o aço contra a corrosão e melhorar o aspeto estético. Em torres de tomada de água pode

ocorrer este fenómeno em elementos metálicos não estruturais (e.g., passadiços de acesso, grelhas

de proteção, etc.), sendo necessário reparar de forma a prolongar a sua vida útil. Em elementos

metálicos corroídos a solução é retirar todo o revestimento degradado e os produtos resultantes do

processo de corrosão, e aplicar um novo revestimento (Figura 4-30).

Figura 4-30 – Revestimento anticorrosivo por pintura (Pereira, 2006).

4.6.1 PRODUTOS DE REVESTIMENTOS ANTICORROSIVOS

O esquema de pintura de um revestimento anticorrosivo pode ser constituído por um

(i) revestimento primário, um (ii) revestimento intermedio e um (iii) revestimento de acabamento

(Figura 4-31).

Figura 4-31 – Esquema simplificado do esquema de pintura.

Revestimento de acabamento

Revestimento primário

O2 H2O

Revestimento intermedio

Barreira de proteção

Proteção catódica

Superfície metálica

66

i) O revestimento primário é aplicado diretamente sobre a superfície metálica previamente

tratada e tem como objetivo promover a aderência entre os revestimentos subsequentes e

conferir inibição da corrosão. O revestimento primário pode ser constituído por pigmentos

anódicos (pó de zinco) ou por pigmentos inibidores da corrosão (fosfato de zinco).

ii) O revestimento intermedio é aplicado sobre o revestimento primário e tem como objetivo

conferir resistência mecânica e impermeabilizar (e.g., água, oxigénio) a estrutura metálica. O

revestimento intermédio pode ser constituído por pigmentos laminares (óxido de ferro

micáceo).

iii) O revestimento de acabamento é aplicado sobre o revestimento intermedio e tem como

objetivo promover a aparência do acabamento (e.g., cor, brilho, etc.) e conferir resistência

superficial (e.g., impacto, abrasão, radiação, ações químicas, etc.).

4.6.2 EQUIPAMENTOS DE PINTURA

O revestimento anticorrosivo por pintura em superfícies metálicas pode ser aplicado com uma escova

ou com um equipamento de spray (Figura 4-32).

Figura 4-32 – Equipamento de spray (Jaguar Surface Coating, 2017).

67

4.6.3 PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DO REVESTIMENTO ANTICORROSIVO (CATEGORIA

DE CORROSIVIDADE C5-M)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN ISO 12944, pode estabelecer-se o seguinte procedimento. Refere-se ainda que

as espessuras são apenas indicativas, podendo variar com o produto aplicado.

Sequência de trabalhos:

Preparação da superfície

1. Limpar a superfície do aço com um jato de água de alta pressão (600 bar) ou com escovas de

aço, para eliminar vestígios de óleos, gorduras, sais e outros contaminantes (e.g., salpicos de

soldadura, argamassas, etc.).

2. Decapar a superfície do aço com um jato abrasivo com o grau Sa 2 ½ (para peças grandes), de

acordo com a EN ISO 8501.

3. Limpar a superfície do aço com ar comprimido ou aspiração potente, para deixar a superfície

livre de pó para receber o revestimento.

Nota: poderá considerar-se que a superfície esta completamente limpa quando, ao aplicar uma fita

adesiva sobre a superfície não fica pó retido na mesma.

Aplicação do revestimento anticorrosivo por pintura

O esquema de pintura (espessuras, número de demãos, etc.) deve ser escolhido de acordo com a parte

5 da NP EN ISO 12944. Neste procedimento foi considerado a categoria de corrosividade C5-M,

segundo a respetiva norma, e durabilidade superior a 15 anos.

4. Aplicar o revestimento primário (resina epoxídica poliamida com fosfato de zinco) com um

equipamento de spray, com uma espessura seca de 100 µm.

5. Depois do primário endurecer, aplicar o revestimento intermedio (resina epoxídica com óxido de

ferro micáceo) com um equipamento de spray, com uma espessura seca de 140 µm.

6. Depois do revestimento intermedio endurecer, aplicar o revestimento de acabamento (esmalte

de poliuretano alifático) com um equipamento de spray, com uma espessura seca de 40 µm.

7. Depois do revestimento de acabamento endurecer, aplicar um segundo revestimento de

acabamento (esmalte de poliuretano alifático) com um equipamento de spray, com uma

espessura seca de 40 µm (total 320 µm).

Nota: o grau de preparação da superfície não deve ser alterado entre a decapagem e a aplicação do

revestimento. Se ocorrer oxidação da superfície metálica antes da aplicação do revestimento, a

superfície deve ser decapada de novo, até obter se o grau de preparação da superfície pretendido.

68

4.6.4 PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DO REVESTIMENTO ANTICORROSIVO (CATEGORIA

DE CORROSIVIDADE IM 2)

Tendo por base os procedimentos recomendados pelos principais fabricantes, concordantes com as

especificações da EN ISO 12944, pode estabelecer-se o seguinte procedimento. Refere-se ainda que

as espessuras são apenas indicativas, podendo variar com o produto aplicado.

Sequência de trabalhos:

Preparação da superfície

1. Limpar a superfície do aço com um jato de água de alta pressão (600 bar) ou com escovas de

aço, para eliminar vestígios de óleos, gorduras, sais e outros contaminantes (e.g., salpicos de

soldadura, argamassas, etc.).

2. Decapar a superfície do aço com um jato abrasivo com o grau Sa 2 ½ (para peças grandes), de

acordo com a EN ISO 8501.

3. Limpar a superfície do aço com ar comprimido ou aspiração potente, para deixar a superfície

livre de pó para receber o revestimento.

Nota: poderá considerar-se que a superfície esta completamente limpa quando, ao aplicar uma fita

adesiva sobre a superfície não fica pó retido na mesma.

Aplicação do revestimento anticorrosivo por pintura

O esquema de pintura (espessuras, número de demãos, etc.) deve ser escolhido de acordo com a parte

5 da NP EN ISO 12944. Neste procedimento foi considerado a categoria de corrosividade Im 2,

segundo a respetiva norma, e durabilidade superior a 15 anos.

4. Aplicar o revestimento primário (resina epoxídica rica em zinco) com um equipamento de spray,

com uma espessura seca de 60 µm.

5. Depois do primário endurecer, aplicar um revestimento de alta espessura (resina epoxídica) com

um equipamento de spray, com uma espessura seca de 200 µm.

6. Depois do revestimento endurecer, aplicar um segundo revestimento de alta espessura (resina

epoxídica) com um equipamento de spray, com uma espessura seca de 200 µm (total 460 µm).

Nota: o grau de preparação da superfície não deve ser alterado entre a decapagem e a aplicação do

revestimento. Se ocorrer oxidação da superfície metálica antes da aplicação do revestimento, a

superfície deve ser decapada de novo, até obter se o grau de preparação da superfície pretendido.

69

4.6.5 CONTROLO DA QUALIDADE

A resistência à tração do revestimento anticorrosivo por pintura pode ser medida com o ensaio de

aderência pelo método pull-off (Figura 4-33), segundo as normas ASTM D4541 ou ISO 4624. Este

ensaio permite também determinar a natureza da falha entre a superfície do aço e o revestimento

aplicado. Para garantir a qualidade do revestimento devem ser seguidas as fichas técnicas dos

produtos e equipamentos, bem como as fichas de dados de segurança dos produtos.

Figura 4-33 – Ensaio de aderência pelo método pull-off (Rodrigues, 2010).

As espessuras das camadas do revestimento anticorrosivo devem ser medidas com um equipamento

adequado (Figura 4-34), segundo a EN ISO 2808 ou a ASTM D6132.

Figura 4-34– Equipamento de medição de espessuras de revestimentos (Rodrigues, 2010).

70

71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As patologias em estruturas hidráulicas de betão armado do tipo torre de tomada de água, podem

provocar grandes prejuízos e comprometer a segurança da estrutura. A determinação das causas das

patologias e a escolha de uma metodologia de reparação adequada são fatores fundamentais para

garantir uma correta reparação da estrutura. É importante um bom planeamento das operações de

manutenção das estruturas, de forma a prolongar a sua vida útil, atendendo ao facto de os custos de

manutenção serem inferiores aos custos de reparação.

As metodologias de reparações em estruturas de betão armado devem seguir, sempre que possível,

os princípios preconizados na parte 9 da NP EN 1504. Esta norma está harmonizada a nível europeu

e possui informação de base para o processo de reparação de estruturas de betão armado. As

patologias habituais em torres de tomada de água abordadas neste documento são a erosão, a

cavitação, infiltração de água através de fendas e/ou juntas de betonagem, corrosão induzida por

carbonatação, corrosão induzida por cloretos e corrosão em elementos metálicos. Foram elaboradas

metodologias de reparação sob a forma de procedimentos, e propostos produtos de reparação

adequados às caraterísticas das patologias identificadas.

A reparação de fendas e/ou juntas defeituosas em estruturas hidráulicas de betão armado, tem como

objetivo restabelecer as caraterísticas de impermeabilização e estanquidade da estrutura, tendo sido

elaborados dois procedimentos de reparação possíveis, a (i) injeção e a

(ii) impermeabilização por cristalização.

i) A injeção é o método mais eficaz para reparar juntas de betonagem defeituosas e fendas

(ativas ou inativas) de largura igual ou superior a 0,40 mm (com ou sem fluxos de água) em

estruturas de betão armado, por ser um método rápido, expedito e económico, que garante o

melhor preenchimento dos vazios formados pela fenda ou junta, e a perfeita ligação entre os

mesmos.

ii) A impermeabilização por cristalização é um método eficaz para reparar juntas de

betonagem defeituosas e fendas (inativas) de largura inferior a 0,40 mm (sem fluxos de água)

em estruturas de betão armado. No entanto, em fendas de largura igual ou superior a 0,40 mm

(com ou sem fluxos de água), este método não é o mais adequado, pois não garante um bom

preenchimento dos vazios formados pela fenda ou junta (no entanto pode ser usado,

requerendo um tratamento prévio do suporte).

Embora não tenha sido abordado neste documento, também pode ser aplicado um revestimento

impermeabilizante pelo exterior, no entanto, este método necessita do esvaziamento da albufeira, tendo

custos elevados, face a reparação pelo interior. Em construções novas, devem ser previstos

revestimentos impermeabilizantes pelo exterior, de forma a evitar a entrada de água.

72

Na Tabela 5-1 estão enunciadas as metodologias de reparação em função das caraterísticas das

fendas.

Tabela 5-1 – Comparação dos métodos de reparação de fendas.

Caraterísticas

da fenda

Metodologias

de reparação

Presença de água Sistemas de injeção

Sem pressões hidrostáticas

Com pressões hidrostáticas Sistemas rígidos Sistemas flexíveis

Injeção de resinas de poliuretano (wk ≥ 0,40 mm)

x x x

Impermeabilização por cristalização (wk < 0,40 mm)

x x

Impermeabilização por cristalização (wk ≥ 0,40 mm)

x x x

A reparação do betão degradado em estruturas hidráulicas do tipo torre de tomada de água, tem como

objetivo restabelecer e/ou melhorar as caraterísticas iniciais da estrutura. A degradação pode ser

apenas superficial ou com alguma profundidade, tendo sido elaborados dois procedimentos de

reparação, um para (i) reparação do betão pouco degradado (sem corrosão das armaduras) e outro

para (ii) reparação do betão muito degradado (com possível corrosão das armaduras).

i) A reparação do betão pouco degradado ocorre geralmente para fenómenos de erosão e

cavitação. A solução de reparação passa por retirar todo o betão degradado, e aplicar uma

nova camada de argamassa de reparação com melhores caraterísticas.

ii) A reparação do betão muito degradado ocorre geralmente para fenómenos de corrosão

induzida por carbonatação e corrosão induzida por cloretos. A solução de reparação passa

por remover todo o betão carbonatado e/ou contaminado, e aplicar uma nova camada de

argamassa de reparação (pode ser necessário reforçar as armaduras). Nos casos onde a

degradação é muito importante, pode ser necessário construir uma nova estrutura de betão

armado (com armaduras de ligação entre a estrutura existente e a nova).

A aplicação de um revestimento anticorrosivo por pintura é o método mais eficaz para proteger os

elementos metálicos da corrosão, sendo necessário remover todo o revestimento degradado antes da

aplicação do novo revestimento. O grau de preparação da superfície deve estar de acordo com a

EN ISO 8501, sendo usual o grau Sa 2 ½ para decapagem com jato abrasivo.

A aplicação de revestimentos anticorrosivos por pintura está preconizada na NP EN ISO 12944. Esta

norma é muito utilizada a nível mundial, devido à facilidade em escolher um esquema de proteção

anticorrosiva em função do ambiente em que a estrutura vai estar exposta, e da durabilidade

pretendida. O esquema de pintura adotado (número de demãos, espessuras, produtos de reparação)

deve estar de acordo com a parte 5 da NP EN ISO 12944, sendo em função da categoria de exposição

ambiental, da duração pretendida e do grau de preparação da superfície.

73

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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