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Caravelas - Julho/Agosto de 2009 - Edição nº 05 Caravelas ganha Reserva Extrativista 13 | Filme é premiado no Rio de Janeiro 6 | Costa das Baleias: a um passo da união 14| Barcelona: viagem ao distrito rural 12 |Caravelas é ponto de cultura da Bahia 5| O São João da Comunidade 10 | Entrevista com o prefeito Luiz Antônio Alvim Foto: Acervo ECOMAR

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1 JULHO / AGOSTO DE 2009

Caravelas - Julho/Agosto de 2009 - Edição nº 05

Caravelas ganha Reserva Extrativista

13 | Filme é premiado no Rio de Janeiro

6 | Costa das Baleias: a um passo da união

14| Barcelona: viagem ao distrito rural

12 |Caravelas é ponto de

cultura da Bahia

5| O São João da Comunidade

10 | Entrevista com o prefeito

Luiz Antônio Alvim

Foto: Acervo ECOMAR

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JULHO / AGOSTO DE 20092

a Educação Caravelense. Isto é, dire-cioná-la na busca da escola autôno-ma e nos caminhos corretos das leis educacionais. Para que assim se pos-sa resgatar a dignidade do aluno, do professor e de todos os envolvidos no

processo educativo. Todavia, para que isso aconteça,

é imprescindível que cada um de nós levante a bandeira da Educação para além das nossas convicções políti-cas. Uma vez que o verdadeiro valor da Educação transcende a qualquer ideologia de ordem partidária ou elei-toreira. E vale acrescentar também, que cada um de nós deve ser cidadão. Lembrando sempre que: cidadão “é aquele que participa do governo e só pode participar do governo quem

CARTA DO CARAVELENSEEducação em vista de um pensamento livre

Por meio de uma maneira pe-culiar de ver, sentir e reagir. É que podemos compreender o quanto a nossa Educação precisa se ater ao fenômeno da autonomia. Hoje, em pleno apogeu da democracia e tendo a luta como instrumento de cidadania, será que ainda continu-aremos alienados!? Alienados aos mesmos problemas educacionais de sempre, sobretudo, àqueles que se restringem à realidade eqüidistante entre a escola e orçamento públi-co?

Vergonhosamente, os acrôni-mos Fundef e Fundeb jamais foram compreendidos por nenhum prefei-to e por nenhum vereador ao longo desses anos, seja do ponto de vista jurídico, orçamentário ou moral. De lá para cá, a verba da educação nada mais foi do que uma moeda de tro-ca para pagar favores políticos; do que um álibi para legitimar o lado obscuro da lei; do que um estigma falacioso na narrativa educacional de Caravelas...

Por isso, é necessário que se desenvolva hoje, um conjunto de propostas, que possa impulsionar

tiver poder, liberdade e autonomia” (GADOTTI,1999).

A partir de agora, creio que temos a obrigação moral de salvar uma ge-ração de caravelenses. De construir as bases administrativas e, sobretudo, educacionais para as gerações vin-douras da nossa amada cidade. No entanto, é preciso acreditar, também, que um homem não é somente um homem. Ele é sempre a soma de to-dos os homens, homens de ontem e de hoje, e também de amanhã! Enfim, nesse sentido, deve-se saber que o progresso da nossa Educação impli-cará de maneira decisiva para declínio do fatídico continuísmo político mu-nicipal. Isso porque, “todas as gran-des épocas de cultura são épocas de decadência política” (NIETZSCHE).

Para finalizar, não queremos lutar por uma Educação empreendida pelo poder público como proposta de um saber fossilizado, mas por uma Edu-cação transformadora. Que tão logo, transformará as aspirações de cada um de nós, em realidade.

Sandro Lyrio Monteiro (ex-professor da rede pública de ensino)

“ “

Temos a obrigação moral de salvar uma

geração de caravelenses

COM A MÃO NO TIMÃO

Território e desenvolvimento

Desde o início dos anos 70 e apesar de todos os esforços da eco-eficiência, a demanda euro-

péia de recursos naturais aumentou em 70%. Cada europeu necessita de cerca de 5 hectares de terra produtiva para man-ter seu estilo de vida. Já o estilo de vida norte-americano exige 9,5 hectares. A média mundial é de 2,2 hectares. A inca-pacidade de Europa e EUA proverem-se dos recursos naturais e do espaço físico necessário a satisfação de seu estilo de vida determina a expansão de seus negó-cios para todos os territórios do mundo, e a busca constante por recursos naturais a preço de custo.

A luta territorial que apenas come-ça se faz notar em inúmeros espaços da América Latina e do Brasil. A aquisição de enormes áreas de terra por empresas multinacionais, é um tema inexplorado pelos jornais, mas está se dando de for-ma contínua: expulsão de trabalhadores rurais, exportação massiva de produtos naturais sem valor agregado, venda dos espaços turísticos cenográficos já des-providos das pessoas que antes neles habitavam, estas são as características de um apregoado desenvolvimento que não melhora jamais as condições de vida da população.

Em um mundo em que o capital abo-canha enormes territórios, destituindo as pessoas de sua forma de vida tradicional sem compensá-las de nenhuma outra forma, ter garantido um pedaço de ter-ra talvez não seja tão má idéia. De fato, os inúmeros movimentos sociais que se consolidam nas últimas duas décadas no Brasil estão em sua maioria voltados para a luta territorial e étnica. Novas formas de pensar o desenvolvimento partem de uma visão local, de como organizar-se desde dentro e a partir da própria co-munidade inserindo-se estrategicamente nos mercados regionais, nacionais e in-ternacionais para alcançar a melhoria da qualidade de vida de populações histori-camente marginalizadas.

O caso da criação da Reserva do Cassurubá abriu em Caravelas um amplo debate: discutiu-se pela primeira vez, tal-vez em séculos, um projeto de desenvol-vimento para a cidade, e dois pólos com visões distintas de mundo chocaram-se. Um deles, baseava-se na exploração em larga escala de camarão para a expor-tação, que resultaria na acumulação de capital pelo pequeno grupo detentor do negócio, no emprego assalariado de uma centena de pessoas e em graves danos ao meio ambiente, prejudicando todo um coletivo de pescadores e extrativistas que necessitam da qualidade do meio natural para sobreviver. No outro pólo, a busca da preservação da natureza como voca-ção de desenvolvimento, enfocada em alternativas locais baseadas no extrativis-mo, no turismo ecológico e histórico, nas enormes potencialidades culturais.

No dia 05 de junho uma área pública foi criada pelo governo federal para man-ter o meio ambiente preservado e permitir à população viver da natureza à sua volta. Não se trata de uma terra do governo fe-deral ou do antigo IBAMA, hoje Institu-to Chico Mendes de Biodiversidade. É a comunidade de Caravelas que é chamada a usufruir de um patrimônio ambiental e social, para o qual serão necessárias po-líticas públicas de desenvolvimento lo-cal, sob pena de manter a região com os mesmos problemas de educação, saúde, transporte, infra-estrutura de comerciali-zação, entre tantos outros que desanimam e paralisam os sonhos dos moradores de Caravelas.

Um verdadeiro projeto de desenvolvi-mento local implica primeiramente a ne-cessidade de olhar para as potencialidades da terra e das pessoas que nela vivem, ao invés de almejar salvações externas que não geram sinergias locais e desconfigu-ram a vocação territorial. A prepotência de ações levadas a cabo de forma unilateral e arbitrária deve ceder espaço à negociação, à colaboração e a uma conduta inteligente de gestão por parte dos órgãos que tem a responsabilidade de proteger o direito público e o espaço legítimo de cidadania, dando lugar inclusive, às críticas, que não são outra coisa que a demonstração da existência de uma democracia. Chefiar deve ser necessariamente uma ação de responsabilidade para com os membros do grupo, e não uma oportunidade de exercer o poder indiscriminadamente.

Enquanto humanidade, a alternativa que temos diante de nós se dá de modo excludente: ou adaptamos a tecno-esfera ao meio natural ou adaptamos o organis-mo humano, os organismos vivos em ge-ral e todo o meio natural à tecno-esfera, à tecno-ciência sintética. A opção não pode-ria ser mais radical. Hoje, não só se estão extinguindo espécies vegetais e animais, mas também necessidades humanas, prio-ridades humanas que são diariamente e sistematicamente aniquiladas por agentes que matam qualquer idéia de história e de justiça. Especialmente atacadas pela visão tecnocrática do mundo são as prioridades que procedem da necessidade humana de compartilhar, consolar, compreender e ter esperança.

Vale a pena destacar: prioridades que procedem de necessidades. Porque uma das maiores dificuldades de fazer frente à crise ecológica e social reside em que não conseguimos nos fazer car-go coletivamente da gravidade da mes-ma. Sua excepcional idade e gravidade não são simples quimeras, nem delírios alarmistas de quatro irresponsáveis. Re-conhecer o que somos e o que devemos ser, como afirmou Camus, basta para encher nossas vidas e ocupar nossos esforços.

É um magnífico plano de trabalho para superar todo o niilismo paralisador.

Reportagem: Almay Souza, Lourival Matos, Marilene Figueredo, Francisco de Almei-da Oliveira, Vanessa Norberto da Silva, Fernanda Norberto da Silva, Joyce Trindade, Leidiane Assunção, Bárbara Dehmmer, Professor Benito, Danilo Ferreira

Fotos: Anerivan Reinalda da Silva, Almay de Souza, Mônica Linhares, Arquivo IBJ, Arquivo Arte Manha, Arquivo Ecomar, André Esteves

Secretaria de Redação: Anerivan Reinalda

Ilustrações: Almay Souza, Dó Galdino

Colunas: Sandro Lyrio Monteiro, Carlos Benedito de Souza, Lierte SiquaraPoesias: Cecy Dantas Nascimento, Alessandra LírioMotorista reportagem Barcelona: Fisher de Souza Santana

O jornal comunitário de Caravelas

Departamento Comercial: Marilene Figueredo

Conselho Editorial Edição 5: Dó Galdino, Jaco Galdino, Anerivan Reinalda da Silva, Almay de Souza, Kleber Passos Saúde, Marilene Figueredo, Paulo Roberto Júnior, Joaquim Rocha dos Santos Neto, Marcello Lourenço

Diagramação: Samuel Miranda 73 9964-9950 Impressão: Gráfica Original 73 3291-8832 [email protected]

Coordenação Geral: (Direção de Reportagens, Reportagem, Redação, Edição e Projeto Gráfico): Mônica Linhares

Eles também lêem o

Timoneiro

Agnaldo Timóteo

Endereço: Rua Dr. José André Cruz, 487 - Bairro Nova Coréia Telefone: (73) 3297-2177 | E-mail [email protected]

Encontro dos pescadores de Caravelas com representantes

da Bahia Pesca

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3 JULHO / AGOSTO DE 2009

PERFIL Fotos: Anerivan R

einaldo da Silva

Dona Sinhá: mestre popular do Brasil

“Viver lutando graças a Deus, porque quem não trabalha não pode ter nada”

Nesta edição O Timoneiro traz no perfil a história de Dona Ubelina Lopes dos

Santos, conhecida como Dona Sinhá, uma das mais antigas integrantes do Bloco Folclórico Nagôs, tradicional bloco afro que valoriza a matriz afri-cana do Iorubá. Agora com 86 anos esbanjando alegria e lucidez conta pra gente a história de sua vida.

Nascida em Araçuaí, estado de Minas Gerais, ainda menina veio com sua família para Caravelas. “Foram

um mês e 13 dias de caminhada” lembra Dona Sinhá. Os pais trazendo seus irmãos menores em um carrinho de mão, os mantimentos no lombo do jumento, dormindo debaixo de ár-vores ou em alguma casa na estrada, até chegar a Caravelas.

“A estrada de ferro começava de lá... minha mãe era mineira, filha de Araçuaí e meu pai baiano de Ca-ravelas. Eles trabalhavam carregando malas nas estações de trem da Bahia/Minas”.

CIDADÃO TIMONEIRO

João Luis Benetti, o conhecido João da Padaria, veio para Pon-

ta de Areia em 1972 para trabalhar como pedreiro. Foi só em 1993, após muitos anos de trabalho, que conse-guiu montar a própria padaria, em Ponta de Areia, batizada de “Nossa Senhora de Lourdes” em homena-gem à santa de devoção.

O Timoneiro perguntou-lhe como surgiu sua preocupação com a história e a cultura de Ponta de Areia. Seu João disse que os turistas que pas-savam pelo seu estabelecimento para bater papo traziam sempre à tona a

O traço lapidar de sua vida pode ser visto nesta frase: “Viver lutando graças a Deus, porque quem não tra-balha não pode ter nada”. Dona Sinhá se orgulha de ter trabalhado desde a infância para ajudar a criar os irmãos: foi lavadeira, engomadeira, cozinheira e servente durante 10 anos no Colégio Polivalente. Ela se orgulha também da criação dada aos filhos e netos. Per-guntada sobre o quê gostava de fazer na infância, ela cantou o trecho de uma música: “Vem moreninha, vem tentação, voando assim tão sozinha uma andorinha não faz verão”.

Dona Sinhá mostra-se preocupa-da com a perda dos valores morais das novas gerações, “muitas moças perdi-das e ninguém sabe quem é quem… os pais não chamam mais pra acertar e casar… muitas adolescentes grá-vidas e os avós acabam assumindo a responsabilidade de criar”. Para dona

Sinhá a molecagem acabou com Cara-velas. E também outro grave proble-ma: as drogas. “O rapaz lá em casa foi tomar a benção e quando ajoelhou, na mão tinha dois pacotes de crack! Quem não conhece pensa até que é uma bala”.

Ela fala com pesar do descaso das autoridades com a Rua do Porto, uma das primeiras ruas da cidade. “Está uma bagunça, uma mata, ninguém liga, se eu pudesse alguma coisa na minha vida eu ia falar com o prefeito a quem eu vi nascer, engatinhar e assisti ao casamento dos pais dele, para dar assistência àquela rua, aonde chega-vam os navios, tinha lojas, muitos co-merciantes… Hoje está tudo acabado. E a Cacimba de Santo Antonio caindo aos pedaços… o prefeito não liga, e nem pra Rua do Porto, aquilo ali está uma devassidão, eu já cansei de falar”, desabafa. “Se eu pudesse falar com o

governo eu falaria, ele teve aí (referin-do-se ao Presidente Lula), mas eu não pude ir até ele”.

Uma vida nas NagôsDona Sinhá recebeu recentemen-

te o Título de Mestre Popular pelo Ministério da Cultura como reconhe-cimento por sua vida junto às Nagôs. “Fiz até um churrasco, com cerveja. Assim mesmo na cadeira” diz, refe-rindo-se à amputação dos pés.

O maior significado das nagôs para Dona Sinhá está nos laços de amizade e respeito que ela construiu ao longo de todos esses anos. “ Tenho muito respeito por aquelas meninas que cui-dam de tudo lá... e por Piaba, eu o vi nascer e gosto muito da família dele”. Ao encerrar a entrevista ela canta uma música das Nagôs. “Todo mundo já di-zia que a Nagô não saia, a Nagô está na rua com prazer e alegria, é a Nagô eu vim brincar, olha a Nagô”.

mesma questão: qual era a história da estação ferroviária Bahia Minas? Foi assim que lhe surgiu a idéia de expor no jardim da atual estação ro-doviária, o troler, uma das peças da máquina que fazia o transporte dos ferroviários. Seu objetivo era levan-tar um símbolo da história que havia se perdido com a demolição do anti-go prédio da estação ferroviária. De-pois, achou que os pescadores tam-bém deveriam ser homenageadas e teve a idéia de colocar um pequeno barco no canteiro que dá acesso à Barra de Caravelas.

Com o tempo foi levantando pequenos objetos que criavam im-

portantes lembranças. A idéia dos gi-rassóis veio da sua preocupação com os problemas ambientais, com a falta de um projeto paisagístico para o dis-trito.

Pretende agora fazer um traba-lho que venha a relembrar a vida das pessoas que já não estão entre nós, e que marcaram a história de Ponta de Areia. Seu João afirma ter muitos pla-nos para o povoado, e espera contar com o apoio do poder público muni-cipal em suas pequenas grandes ações. Diz que escolheu viver em Ponta de Areia porque a ama de paixão.

Seu João é um exemplo de que não se precisa de muito dinheiro para realizar algo, o que se precisa é de for-ça de vontade.

Por Lourival Matos

Seu João da PadariaHá mais ou menos dois meses quem pegava o caminho para Ponta de

Areia podia ver umas plaquinhas enterradas no chão à beira da estrada onde se destacavam umas frases pedindo a atenção do passante: “Psiu, cuidado, que-ro crescer”. Era um alerta para que ninguém pisasse naquele terreno prenhe de frágeis sementes. O tempo passou e ali brotaram uma dúzia de bonitos giras-sóis. O responsável pelo trabalho, seu João da Padaria, é uma figura conhecida em Caravelas por criar símbolos que nos ajudam a lembrar de nossa história e cultura. Nesta edição ele foi eleito Cidadão Timoneiro, pela importante ini-ciativa de embelezar a entrada de Ponta de Areia com o amarelo vibrante dos girassóis. A repórter Marilene Figueredo foi entrevistá-lo para conhecer um pouquinho de sua história.

Por Marilene Figueredo

Saudades do RibeirãoDesde quando eu nasci eu viVocê correndo à minha frentePor isto eu luto e não consigoTirar você da minha mente.

Por muito mais que eu queiraDe você me esquecerEu não consigo pensar que um dia, Meu amigo, eu fosse te perder.

Me lembro de horas alegresDias de pleno verãoOlhava para vocêCom tanta satisfaçãoBanhando toda aquela genteMeu querido Ribeirão.

Ribeirão que águas docesQue nas águas do mar caíaRecebia barrenses, cariocas e mineirosA qualquer hora do dia.

Aceitava tudo o que vinhaAté mesmo a traiçãoPois não respeitaram seus direitosMeu querido Ribeirão.

Ribeirão de águas correntesQue embaixo de uma ponte corriaLembro-me de você a qualquer horaDia, noite, noite e dia.

Gente que daqui não eraPor isso não te respeitouSem saber que você, Ribeirão, Os filhos da Barra criou.

Adeus, Ribeirão amado, De águas frias, inocente.Que lavava pratos e roupasE as maldades dessa gente.

Senhores, desculpem meus erros, Não sei ler, nem escreverEu queria saber mais, RibeirãoPara poder te defender.

Voltar a minha alegriaVoltar suas águas correrSó esqueço de ti, Ribeirão, No dia que eu morrer.

Cecy Dantas Nascimento(literatura de cordel)

POESIAFoto: Almay Souza

Foto: Arquivo Arte Manha

Dona Sinhá cercarda de amigos no churrasco que ofereceu para comemorar o título de mestre popular outorgado pelo Ministério de Cultura

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JULHO / AGOSTO DE 20094

FESTAS POPULARES

Santo Antônio de Pádua, rogai por nós!

A alvorada continua, com o re-picar dos sinos e os fogos de tiro em profusão. Às dez ho-

ras, missa solene com a igreja lotada de fiéis envergando sua roupa nova. Chega o momento do abraço e todos se cumprimentam, rola a emoção que se estende até a comunhão, quan-do com lágrimas na voz, entoamos Cristo Amigo. Após a missa, a praça transforma-se no palco da confrater-nização: fogos pipocam no ar, os si-nos tocam, a filarmônica nos brinda os dobrados tradicionais, e os carave-lenses se reencontram neste segundo

Caravelas foi elevada a con-dição de cidade no dia 23 de abril de 1855. Apenas três dias depois, Dom Pedro II assinava a autoriza-ção para que a Irmandade de Santo Antônio fosse legalizada. Seus ob-jetivos eram os mesmos de hoje: trabalhar para que Santo Antônio seja festejado todos os anos, para o bem espiritual dos irmãos e pelo engrandecimentos da religião Cató-lica Apostólica Romana.

Desde 1581 Caravelas tomou Santo Antônio como o seu padroeiro. Duas capelas foram erguidas em sua homena-gem, mas depois destruídas. A primeira, em 1581, por um Frade Capuchinho de origem francesa, atacada pelos indígenas da região; e a segunda, erigida no mes-mo local, atacada pelos holandeses em 1636. Uma terceira construção foi então realizada com pedra, cal e óleo de baleia pelo Padre Jesuíta Antônio do Espíri-to Santo, no sítio fundado por Manoel Fernandes Chaves e Roque Jorge, local da atual cidade, inaugurada em 1750.

Qual a importância desta festa religiosa para a comunidade de Caravelas?

Eu acho que a maior importância está na integração. Vêm pessoas de fora, a comunidade de Ponta de Areia, da Bar-ra, Juerana, Taquari participa também. Há uma confraternização entre as comu-nidades do nosso setor e as comunidades vizinhas que vêm de Prado e Alcobaça.

A senhora acha que tem algum ponto da festa que poderia ser mudado?

Falta uma parte cultural na praça, acabava a trezena e não tinha nada, não é só forró não. Um ano atrás a gente

Natal... As lágrimas silenciosamente, molham os nossos rostos desejosos de novo encontro ano que vem.

A Festa se fará todos os anos im-preterivelmente de 31 de maio a 13 de junho – dia da morte de Santo An-tônio em Pádua, na Itália, em 1231. Consta das Trezenas, que acontecem de 31 de maio a 12 de junho. No dia 13, uma missa solene é celebrada em latim, seguida pela Procissão de San-to Antônio que percorre as principais ruas da cidade.

Cada trezena começa com a Al-vorada às cinco da manhã, com repi-car de sinos, fogos de tiro e banda de música (optativa). Ao meio dia tudo se repete. Às 19h ocorre a celebração

da Santa Missa. Após o culto, o povo aguarda na praça onde todas as noites as barraquinhas oferecem comidas típicas baianas e juninas, salgadinhos, doces e bolos. Há queima de fogos de artifício e, logo em seguida, a filarmô-nica, sob a batuta do maestros Wat-son Lopes e José dos Anjos (Popô), apresenta um recital com músicas po-pulares famosas.

Todo este aparato festivo foi im-portado de Lisboa (Portugal), onde nasceu Santo Antônio em 1195. Os Irmãos vestindo Opas e carregando tocheiros durante toda a celebração, também as partituras musicais e a li-turgia das trezenas com o Veni – in-vocação ao Divino Espírito Santo; as jaculatórias – invocação a Santo An-tônio; a ladainha de Nossa Senhora; o Salutaris de Gounod – para expo-sição do SS. Sacramento; o Responso de Santo Antônio, o Tantum Ergo, a benção com o SS. Sacramento e as ja-culatórias Finais, cantados pelo Coral de Santo Antônio sob a regência da professora Rosélia Andrade de Souza.

Às dezesseis horas sai a Procissão com Santo Antônio vestido de frade em andor, artisticamente ornamenta-do por Sinval e Nonato, para percor-rer e abençoar as ruas que o consagra-ram Padroeiro há 428 anos.

Quando termina a procissão de Santo Antônio, vem a bênção com o SS. Sacramento. Logo é feito o sorteio dos irmãos festeiros do ano vindouro e as palmas enchem o velho templo.

No dia 13 de junho acordamos ao som da filarmônica tocando entusiasticamente às 5 horas da manhã. A natureza desperta e nos traz um sentimento de nostalgia, alertando para a realidade: é o último dia das trezenas, agora só no ano que vem...

Por Francisco de Almeida Oliveira

Irmandade de Santo Antônio: uma longa trajetória

A Irmandade é composta de católicos praticantes que aceitem os dogmas da religião. No tempo do Império, os irmãos tinham o privilégio dos principais lugares na igreja. Eram sepultados nos car-neiros, catacumbas feitas dentro do próprio templo. Quando se criaram os cemitérios, por lei, em 1858, os irmãos passaram a ser sepultados nas catacumbas da Irmandade na necrópole local.

Por ser um templo majestoso, a 18 de janeiro de 1755 passou a ser a Matriz da Freguesia Eclesiástica.

Em sua opinião, qual a importância que a festa de Santo Antônio tem para a comunidade de Caravelas?

A importância para a comunidade é gigantesca, o povo vê essa festa como a própria vida. Então realmente é a vida do povo.

Como foi para o senhor realizar pela pri-meira vez a Festa de Santo Antônio aqui em Caravelas?

A festa de Santo Antônio é famosa,

“ A festa de Santo Antônio é a vida do povo”

convidou um coral de música, eu convi-dei o bate barriga de Helvécia, convidei o coral Vozes que educam de Alcobaça, eu acho que está faltando isso na festa de Santo Antônio.

A senhora acha que essa iniciativa deveria vir de quem?

Eu acho que tem que ter aí uma interação da igreja com a Secretaria de Turismo, a Secretaria de Cultura. Eu já consegui com o prefeito de Alcobaça um ônibus, consegui com o prefeito de Nova Viçosa que o bate barriga de Hel-vécia viesse, mas tem que correr atrás, entendeu? Só que isso dá trabalho, então seria bom se houvesse uma interação.Isso não tem tanto gasto não, é só ter boa vontade de fazer.

é milenar, mas aqui em Caravelas tem uma tradição específica, eu diria especial, foi re-almente uma experiência agradabilíssima.

De quem foi a iniciativa de aumentar o nú-mero de famílias neste ano de 2009?

Esta é uma experiência minha já há 13 anos. Na paróquia anterior eu traba-lhava com umas 200 famílias, sempre me ajudavam, então eu quis fazer essa expe-riência também aqui, e valeu a pena.

Então o Senhor pretende aumentar o nú-mero de famílias nos próximos anos?

Sem dúvida, pretendo até colocar 300 famílias por noite, quem sabe!

Padre Wanderley Oliveira (Pároco da Cidade de Caravelas)

“O importante é a integração”Marilene Gouvêa

(Moradora de Caravelas e trezenária)

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5 JULHO / AGOSTO DE 2009

Noite de São JoãoQuadrilhas e sanfonasFazem aquela animaçãoEntre damas e cavalheirosNesta noite de São João. Fogueiras aquecem a fria noiteBandeirolas enfeitam as ruasTem forró, arrasta péTem comida pra quem quiser. O céu está todo estreladoCrianças não param de brincarO povo está todo encantadoCom a bela noite de luar. Saia rodada, chapéu de palhaNo meio do salãoVai deixando saudadesEm cada coração. Balões e foguetesSoltos no arFestejam esta noiteQue está prestes a findar.

(Alessandra Lírio)

O São Jo

Este ano uma boa parte da comunidade de Caravelas se mobilizou para festejar o seu

São João. Uma semana foi suficiente para o pessoal da rua do Eucalipto arrecadar 1.300 reais entre os mora-dores, contratar duas bandas, montar os palcos e inaugurar a festa no dia 23 de junho com os grupos de Daniel Show e sensação do Forró. No dia 24 foi a vez da quadrilha Maria Bonita, organizada por Telma Siquara, que saiu do Clube dos 40 desfilando pe-las ruas do centro com uma anima-ção que dava orgulho de ver. “Chupa que é de uva”, a quadrilha organizada pelo grupo de jovens da Zaguizara - na que homem se veste de mulher e mulher se veste de homem - também fez um enorme sucesso. No dia 28 a comunidade de Alcobaça apresentou sua quadrilha de São João na Praça da Olaria. A prefeitura ajudou na anima-ção com a programação do Forró de Rua, contratando vários grupos para tocar em diferentes pontos da cidade, entre os dias 23 e 28 de junho. E mui-ta gente montou o seu arraial na fren-te de casa. Foram seis dias de muita dança e animação. As ruas enfeitadas com bandeirolas, as fogueiras e fogos de artifício deram brilho a esta festa tão

Por Vanessa Noberto da Silva e Fernanda Norberto da Silva

tradicional e tão esperada por todos.Agora, o quê a comunidade achou

deste São João e o quê propõe para o ano que vem? As repórteres Vanessa Norberto da Silva e Fernanda Nor-berto da Silva saíram pelas ruas entre-vistando os compadres e as comadres para saber a opinião do povo carave-lense. Confira as entrevistas e man-de a sua opinião para O Timoneiro ([email protected]). Que a festa de 2010 seja ainda melhor!

Como surgiu a iniciativa e por quê você re-solveu fazer esse São João comunitário?

Em primeiro lugar, foi porque fi-camos sabendo através de pessoas que trabalham na Prefeitura que não iria ter o São João. Eu conversei com os mora-dores e com Daniel Show que é o dono da banda, perguntei quanto ele cobraria para fazer essa festa, aí conversei com os moradores da rua do Eucalipto, se eles poderiam colaborar com a quantia de dez reais.

Essa arrecadação foi na Rua do Eucalipto ou na cidade toda?

Teve a contribuição das ruas vizinhas e de alguns moradores da Barra. No to-tal arrecadamos o valor de mil e trezentos reais em uma semana. Mas estamos co-meçando e não queremos parar devido a comunidade estar elogiando bastante, vamos continuar e daqui pra frente torcer para fazer um trabalho melhor.

Ericson Bruno da Silva Avelar Morador da rua do eucalipto

e organizador da festa comunitária

De quem foi essa iniciativa de fazer essa Quadrilha da Maria Bonita?

Foi do grupo, porque a gente já faz outras coisas juntos, e como é São João, é natural que agente engate alguma coisa para alegrar um pouco mais a cidade. É importante que todo mundo se una, por-que isso é o bem comum, é uma diversão, então eu acho que cada um fazendo um pouquinho faz uma coisa grande, e isso é muito bom. Hoje nós poderíamos ter muito mais gente aqui, mas como resol-vemos em cima da hora há menos pes-soas, mas no ano que vem podem nos procurar porque vai ser bacana.

Telma Siquara Moradora de Caravelas e organizadora

da Quadrilha Maria Bonita

Você acha que o São João comunitário deve continuar nos próximos anos?

Eu acho que tem que ter as duas partes, esse ano rolou por uma questão econômica, a prefeitura não teve dinhei-ro para fazer um forró centralizado, mas acredito que ano que vem com o plane-jamento, com a secretaria de cultura, a secretaria de turismo e o próprio poder executivo fazendo o planejamento antes, vai dar pra fazer o forró centralizado e também dá pra ajudar a comunidade dos bairros a fazer o forró de rua.

Paulo Roberto Barbosa dos Santos

Morador de Caravelas e vereador

O que a senhora está achando do São João?

Eu gostei, eu não gostava muito da festa da gestão anterior, era animada, re-alizada naquele espaço próximo à igreji-nha, mas tinha tirando essa coisa gostosa tradicional da festa nas ruas de Caravelas. Essa idéia de colocar palcos em vários lugares é legal, porque faz com que mo-vimente mais a cidade. Uma coisa que eu achava sempre que devia fazer é concurso de rua, porque se fizesse concurso de rua ia animar mais ainda, a turma ia participar e promoveria mais a cidade, mas é uma idéia que pode vir ainda a acontecer.

Ceres Scofield Moradora de Caravelas e professora do

município

A comunidade teve uma boa aceitação do São João?

Na realidade a nossa comunidade ain-da tem um grande bloqueio com cultura, como a festa de São João, hoje as pessoas querem bandas famosas e acabam com a cultura, com a crise que a gente passa não dá pra sustentar esse luxo. Acho que a comunidade tem que ir desarmada para todas as festas, pois em Caravelas o índi-ce de violência está aumentando cada dia que passa, tirando o espírito e o prazer junino que é o que esperamos.

Wagner Antonio Petersen da Silva Morador de Caravelas e enfermeiro

De quem foi a iniciativa de organizar a quadrilha ”Chupa que é de Uva”?

Os componentes da turma “Zangui-zarra”, um grupo de jovens que se forma-ram juntos e que até hoje se reúnem para organizar confraternizações para unir a turma.

Qual o objetivo dos homens vestirem-se de mulher e as mulheres de homens?

Pra ficar diferente, mais extrovertido, levando mais alegria para a comunidade.

Qualquer pessoa pode participar da quadri-lha “Chupa que é de Uva”?

Sim, quem quiser participar é só en-trar em contato com uma das organiza-doras Daiana, Jovana ou Aline.

Há quantos anos vocês formaram essa qua-drilha?

Faz três anos que existe a quadrilha e eu participei em todos os anos.

Vocês pretendem continuar alegrando a co-munidade com a “Quadrilha Chupa que é de Uva” nos próximos anos?

Pretendemos, pois queremos que ela vire tradição em nossa cidade e que os jovens participem mais desta festa que é tradicional da região.

Emerson Santana Rodrigues Morador de Caravelas e participante da

Quadrilha “Chupa que é de Uva”

Você está acompanhando o São João aqui de Caravelas? O que você está achando?

Eu acho maravilhoso essa forma das pessoas não esperarem só que a prefeitura faça, como o pessoal da rua do eucalipto, como Curinha lá na avenida, como outras ruas que as famílias se juntaram e organi-zaram a sua festa. Eu acho que ano no que vem e outros anos que virão vale a pena estar nessa forma de encontro, de integra-ção, de movimento, tem muito mais amor na história por que você está fazendo jun-to, está construindo junto.

Itamar dos Anjos Morador de Caravelas e artista

plástico

ão da Comunidade

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JULHO / AGOSTO DE 20096

Costa das Baleias: a um passo da união

A Costa das Baleias é composta pelos municípios de Caravelas, Alcobaça, Prado, Nova Viçosa,

Mucuri, Teixeira de Freitas e Itamarajú. Junto a Costa do Descobrimento, con-forma o que o governo federal intitulou de Pólo do Descobrimento. A região apresenta uma série de potencialidades derivadas do turismo ecológico, históri-co e cultural. Mas sofre com problemas de infra-estrutura em suas estradas, com a precariedade das instalações hotelei-ras, a falta de bons serviços e produtos formatados para a compra. O início da solução pode estar na ação concertada dos Conselhos Municipais de Turismo com a Câmara de Turismo da Costa das Baleias para a criação de políticas públicas para a região.

No dia 29 de maio foi realizado no Hotel Residencial do Mirante em Prado, Balneário Praia de Guaratiba, o I Encontro de Fortalecimento das Instancias de Governanças Locais, que teve o objetivo de fortalecer os conse-lhos municipais de turismo da Costa das Baleias. O evento reuniu prefeitos e representantes dos municípios da re-

gião, o Secretário de Turismo da Bahia, Domingues Leonelli e autoridades do município de Bonito (MS), um dos me-lhores destinos de ecoturismo do Brasil.

Leonelli disse que o Governo do Estado reconhece a importância de todo o Extremo Sul e que tem um compromisso estratégico com a Costa das Baleias. Informou que o Estado está investindo cerca de 12 milhões em qualidade profissional entre 2008 e 2009. “Isso é fundamental, pois 80% dos turistas no mundo decidem as via-gens a partir de informações de outras pessoas que estiveram no destino pre-tendido”, destacou.

Mas foi a bem sucedida experiência de turismo ecológico em Bonito a que chamou a atenção de todos. Augusto Barbosa Mariano - Secretário Munici-pal de Indústria, Comércio e Turismo e Cícero Ramos Peralta - Presidente do COMTUR, ambos de Bonito-MS apre-sentaram o bem sucedido caso de seu município, que gera em media 2.600 empregos diretos ao setor. O segredo, segundo eles, está na união do poder público, setor privado e comunidade,

A promessa de Reativação do AeroportoDurante o I Encontro de Forta-

lecimento das Instancias de Gover-nanças Locais, o prefeito de Cara-velas Luiz Antonio Alvim Delgado, solicitou mais atenção do governo do Estado para o extremo sul e pe-diu a recuperação do aeroporto de Caravelas. Repetiu a reivindicação no dia 5 de junho, para o presidente

Lula e o governador da Bahia, Jaques Wagner, reunidos no ato de criação da Reserva Extrativista do Cassurubá. O presidente comprometeu-se diante do público presente e ao vivo em rede na-cional, que iria reativar o aeroporto. O prefeito se reúne com o governador da Bahia, Jaques Wagner em meados de agosto para discutir o assunto.

Bonito é exemplo de ecoturismo no Brasil

Não se pode negar o progresso dos últimos anos em função do turismo. Atualmente mais

de 56% da mão-de-obra de Bonito está voltada diretamente para esta atividade econômica. A proximidade com o Pan-tanal, as cachoeiras e rios oferecem um atrativo natural que empresários e poder público do município souberam apro-veitar, criando atividades de ecoturismo que encantam o visitante.

São vários destinos turísticos e em-presas que procuram o Município ao longo do ano, em busca do Modelo de Gestão Sustentável, como forma de ins-piração para adaptar na sua realidade.

Atualmente existem 67 empresas oferecendo serviços de hospedagem, en-tre hotéis e pousadas de pequeno a gran-de porte. Existem 32 agências operando no mercado; aproximadamente 80 guias de turismo credenciados pelo Ministério

ENTREVISTA

que trabalham juntos pelos mesmos objetivos.

No dia 14 de julho os representan-tes dos Conselhos de Turismo de Ca-ravelas, Alcobaça e Prado se encontra-ram no Centro de Visitantes do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos para o II Encontro para o Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Turismo da região da Costa das Baleias. Organi-zado pelo Ministério de Turismo e pelo Sebrae, o evento serviu para trocar ex-periências e começar a sedimentar um projeto comum de turismo para toda a Costa das Baleias.

“A região da Costa das Baleias ain-da é nova turisticamente, é necessário que os Conselhos tenham um projeto comum do tipo de turismo que dese-jam ter, que pensem a região como um todo”, aconselhou Ricardo Cer-queira, consultor do Sebrae e funcio-nário do programa de regionalização do Ministério do Turismo.

O próximo encontro de fortale-cimento do Conselhos de Turismo Municipais será realizado no dia 17 de agosto em Alcobaça.

O Ministério do Turismo e Sebrae apóiam o fortalecimento dos Conselhos Municipais de Turismo em busca de uma estratégia de trabalho conjunta para a região

do Turismo; mais de 25 sítios turísti-cos, vários serviços de locação de auto-móveis, vans, motos e bicicletas; entre bares, restaurantes e lanchonetes exis-tem mais de 40 opções. Além disso, o Município conta com um moderno centro de convenções e um aeroporto. Todos esses serviços provenientes do Turismo fazem com que a comunidade também desfrute de uma melhor quali-dade de vida.

O Comtur de Caravelas foi criado em maio de 2006, mas nunca chegou a funcio-

nar como deveria. As reuniões eram improdutivas e muitos membros do conselho não participavam dos en-contros, o que dificultava o avanço na geração de políticas públicas para o setor em Caravelas. “O desafio princi-pal é ter resultados”, ressalta Simone da Silva, presidente do Comtur, eleita no último dia 25 de maio. Com foco em ações imediatas, ela criou uma comissão para a discussão de uma es-tratégia de arrecadação para o Fundo Municipal de Turismo (Fumtur), ou-tra para discutir a gestão do cais - 214 mil reais para reestruturação do cais foram perdidos por falta de organiza-ção na gestão anterior - e outra para o inventário turístico de Caravelas, que deve ser apresentado à Bahiatursa (órgão oficial de turismo do governo do Estado) no próximo ano. Está dis-cutindo também a formulação de uma parceria com o SENAC para oferecer cursos de formação à comunidade ca-ravelense na área de turismo.

O Timoneiro entrevistou a nova presidente do Conselho Municipal de Turismo de Caravelas, Simone da Sil-va, gerente do hotel Marina, integran-te da Associação de Turismo de Cara-velas e profissional respeitada pela sua capacitação e seriedade.

Timoneiro - Como se pode promover o desenvolvimento local de Caravelas a partir do turismo?

Através da inserção da comunidade na atividade turística. Em Caravelas há necessidade de agregar algo mais para a gente oferecer aos nossos clientes, criar produtos. Nós temos uma série de atra-ções não aproveitadas. E o contato com a comunidade é importante. O turista aceita bem isto, valoriza este contato.

Timoneiro – Como pequenos projetos de

desenvolvimento local podem ser apoiados a partir do turismo? Por exemplo, as frutas que estragam na estação de verão, poderiam servir para fabricar produtos típicos da terra?

Essa é uma idéia antiga na Associa-ção de Turismo de Caravelas, de fazer uma cooperativa de doces. Em novem-bro vai encher de manga, de caju, e a gente vê aquilo sendo desperdiçado. Então, a cooperativa de doceiros da região é algo muito importante, pois pode ajudar a comunidade. A vontade de fazer isto é muito grande, e existe

uma tendência do Ministério do Tu-rismo a apoiar este tipo de projetos também, de apoiar o associativismo da comunidade.

Timoneiro - Há uma senhora na Bar-ra que faz um maravilhoso licor de jenipapo, inclusive trabalha a garrafa artesanalmente, fica muito bonita, mas diz que não tem para quem vender...

O licor de jenipapo da região aqui é famoso e está escondido, a própria mo-queca de Camarão… eu estou há dez anos aqui e há muita coisa que eu não conheço. Há coisas que a gente precisa resgatar que fazem parte do próprio patrimônio cultu-ral de Caravelas. A gente no Comtur quer apoiar estas propostas, mas estamos no começo, estruturando a idéia.

O Timoneiro - Quais são os principais problemas na área turística de Caravelas?

Falta de infra-estrutura e de pro-dutos turísticos. O centro histórico está bem depreciado, Abrolhos é o único produto que temos formatado. Precisamos de empresas que criem atrativos diferenciados, coisas feitas com qualidade.

O Timoneiro - Caravelas possui uma produção cultural que poderia apoiar a gera-ção destes atrativos?

A parte cultural de Caravelas é mui-to forte. Uma vez no Hotel Marina re-cebemos um grupo de estudantes de São Paulo, agendamos para que eles as-sistissem a uma apresentação do grupo de dança do Arte manha, e eles adora-ram! Mas há um problema porque não

há uma regularidade nas apresentações, quer dizer, ainda não podemos vender estas apresentações como um produto turístico.

O Timoneiro - O turismo de Caravelas é um turismo de grandes hotéis, ou um turismo comunitário?

O turismo de Caravelas é um turis-mo de meios de hospedagem de médio e pequeno porte. Isso a princípio pode parecer que é pouco, mas não é. Por quê? Nós estamos dimensionados a de-manda atual. A gente é auto-sustentável o ano todo. O Hotel Marina se susten-ta o ano todo, e também as empresas de turismo que são bem administradas. Agora você vê as cidades de Prado e Alcobaça com um grande número de leitos que estão desocupados. Acho que Caravelas tem a medida certa, e tem que crescer na medida em que a demanda cresce. E crescer de qualquer jeito tam-bém não adianta, tem que crescer com qualidade.

O Timoneiro - O Turismo comunitário na casa das pessoas também pode ser importante?

A ATC apóia o projeto da Ecomar, o turismo de base comunitária no Cas-surubá, que é justamente isto, levar o turismo para a casa das pessoas. Havia um projeto de grande hotel para esta re-gião, mas com a criação da Reserva do Cassurubá não é mais viável. Acho que se tem que respeitar o modo de vida das pessoas, então não é assim, chegar e fazer. Tem que perguntar primeiro se pode fazer.

“Abrolhos é o único produto que temos formatado. Precisamos de empresas que criem atrativosdiferenciados, coisas feitas com qualidade”

Por Joyce Trindade

Foto: Joyce Trindade

TURISMO

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7 JULHO / AGOSTO DE 2009

Novas perspectivas para a pesca em CaravelasA pesca extrativista marinha,

apesar da crise de sustentabi-lidade que vive, esta longe de

ser uma atividade decadente e condena-da ao fracasso. Caravelas produz men-salmente centenas de toneladas de pes-cado, enviado em sua maior parte aos mercados de Salvador e Espírito Santo através dos 20 atravessadores locais, que trabalham com a comercialização e o armazenamento do produto.

Apenas um atravessador chega a manejar o envio de 5 ou 6 toneladas de arraia por semana. Acredita-se que o quilo comprado a R$ 1,50 no mer-cado local seja revendido por cerca de R$ 5,00 nos mercados de destino. Por falta de estrutura de armazenamento e comercialização o pescador acaba impedido de estabelecer o preço final de seu produto. A inexistência de um frigorífico coletivo é outro problema. O gelo que chega em Alcobaça, cidade vizinha, a R$ 2,00 é vendido ao pesca-

A Associação dos Pescadores de Rede de Arrasto, Boeira, Fundo e Arraiei-

ra (APESCA) foi criada há três anos, com objetivo de desenvolver projetos para a me-lhoria da qualidade de vida do pescador e seus familiares na região de Caravelas. Pre-tende trabalhar para aprimorar a qualidade do produto e do trabalho dos associados, promovendo a capacitação profissional do pescador e desenvolvendo projetos de ge-ração de renda alternativa, aliados com pro-gramas de educação ambiental e extensão agroecológica. Possui hoje 42 associados e está aberta a novas afiliações.

A APESCA vem trabalhando em par-ceria com a Colônia Z-25 desde a mudança de sua diretoria e da posse no início deste ano de Gilson Guedes Caetano, o “Du”, para o cargo de presidente, que se revelou preocupado em defender os interesses dos pescadores em nosso município.

Também desenvolve hoje um projeto junto à Aracruz Celulose para a captação de recursos junto ao BNDES, com o ob-jetivo de instalar uma unidade de proces-samento, armazenamento e comercializa-ção de pescado e frutos do mar. Trata-se de uma doação da Aracruz à Associação com o fim de beneficiar o setor pesquei-ro, buscando a melhoria da qualidade de vida dos pescadores, sua família e, con-

sequentemente, a comunidade caravelense em geral.

Com o financiamento que a Aracruz está buscando junto ao BNDES será pos-sível instalar novo maquinário para a pro-dução e o beneficiamento do pescado. Nesse projeto a APESCA está articulando a aquisição de uma máquina de gelo de 20 toneladas diária (como a antiga), um poço artesiano de 120 metros de profundidade, uma máquina de descascar camarão, aces-sórios necessários para manuseio e guarda do produto e a reforma de toda a parte de produção e beneficiamento das instalações físicas da antiga COPESBA, que se encon-tra em total abandono, com ferrugem e cupim destruindo tudo.

A Associação também vem trabalhando para a implantação da Reserva Extrativista do Cassurubá, e tem o objetivo de apoiar projetos de desenvolvimento sustentável em nossa comunidade, gerando crescimen-to e renda à comunidade envolvida.

A APESCA não é para meia dúzia. O objetivo da Associação é atender a todos os pescadores de Caravelas, Barra, Ponta de Areia e Zona Ribeirinha. Aqueles que tenham interesse de afiliar-se à APESCA podem procurar sua secretaria, localizada na Rua Dom Felipe, sem número, na sede da antiga Cooperativa.

dor em Caravelas por RS 2,30 e para a comunidade acaba custando R$ 5,00.

Cooperativa - Muitas das dificul-dades seriam resolvidas com o trabalho conjunto em uma cooperativa correta-mente administrada. De fato, a antiga COPESBA (Cooperativa do Pescado-res do Extremo Sul da Bahia) funcio-nou bem durante as décadas de 70 e 80, dando suporte ao pescador, através da compra de toda a produção de seus associados. A Cooperativa disponibili-zava ainda aos pescadores uma oficina náutica que dava auxílio à manutenção das embarcações e um mercadinho que oferecia os produtos a preço de custo, diminuindo os gastos dos pescadores com o material de pesca.

A falência em 1999, atribuída a graves problemas administrativos e de transparência em sua gestão, deixou muitos pescadores em uma situação penosa. “A diretoria desapareceu e tudo ficou abandonado”, afirma Lierte

Siquara, presidente da APESCA, atu-almente instalada no mesmo espaço físico da antiga Cooperativa. A dívida astronômica com o Banco do Nordes-te não foi jamais sanada e ficaram sem resolução uma série de pendências tra-balhistas com os antigos funcionários, que hoje lutam na justiça para reaver seus direitos (veja a opinião de Carlos Benedito, antigo funcionário da coo-perativa).

Hoje a APESCA busca revitalizar o setor pesqueiro através da aquisição de novas máquinas para a produção e o beneficiamento do pescado. (Veja comunicado abaixo) “Somos uma associação sem fins lucrativos, o que estamos recebendo é uma doação”, ressalta Lierte Siquara. Ele lembra também à comunidade que estará pas-sando um livro de ouro para saldar compromissos de rotina - telefone, in-ternet, aluguel, entre outros - que hoje giram em torno a 2 mil reais.

OPINIÃO

COMUNICADO AO PESCADOR

Por Lierte Siquara Presidente da APESCA

A APESCA não é para meia dúzia

COOPERATIVA DE PESCAPor Carlos Benedito de Souza

Funcionário de 1980-2000

Um retrato aos olhos de quem vivenciou

“ “Foi um sonho que se

perdeu na realidade

O município de Caravelas durante 19 anos ficou caracterizado junto aos

governos, como pólo significativo das ati-vidades pesqueiras, fruto de uma equipe de trabalho séria da Cooperativa Mista dos Pescadores do Extremo Sul da Bahia Res-ponsabilidade Limitada - COPESBA, e de uma administração voltada para os interes-ses da classe que lhe sustentava. Em 1986, chegou a absorver 648 toneladas de pro-dutos de origem da pesca, representando um percentual de 76% do produto anual capturado em nosso município, benefician-do mais de cerca de 200 associados e con-tando com uma frota de 40 embarcações, oferecendo diversos tipos de serviços e gerando mais 150 empregos diretos.

Após atuar durante estes anos e de-pois da busca incansável por recursos para diversificar a sua produtividade, fi-cou obrigada a desativar as suas ações ad-ministrativas cooperativistas, tornando-se inoperante, alcançando em 1999, um in-significante percentual de participação na produtividade de pescados do município de 10%, vindo assim a contribuir para a sua desativação e inviabilizando o com-promisso da dívida contraída junto ao Banco do Nordeste em 1994, cujo mon-tante chega a mais de R$ 305 mil reais.

No dia 14 de setembro de 1999, em Assembléia Geral Extraordinária, foi apro-vado o pedido de demissão conjunta dos seus Diretores. Pode-se dizer que durante estes 14 anos (1982-1996), alguns diretores procuraram dentro de suas capacidades al-guma forma para minimizar a situação crí-tica em que se encontrava a empresa.

Em 1996, o Assessor Administrativo

Sr. Carlos após apresentar o relatório de situação financeiro-econômica consta-tando para os Diretores um “passivo a descoberto” (prejuízo), procurou imedia-tamente o apoio do Dep. Federal Jaime Fernandes para ajuda, o que fez através do Estado/BAHIA PESCA, a liberação de 89 mil reais (o que supriu por 2 meses) e viabilizou com o Presidente da empresa Sr. Manoel, uma viagem para Brasília para uma audiência com o Ministro de Agricul-tura Dr. Arlindo Porto na tentativa de se

buscar soluções para a então crise, que apa-rentemente era de gestão administrativa.

Neste ínterim, foi-nos sugerido par-ticiparmos do RECOOP – Programa de Revitalização das Cooperativas (projeto este feito por mim, Sra. Walquíria e Sr. Ivo Lima) na época, eram aproximadamente 471 Cooperativas no país com situações semelhantes. Para a sustentabilidade dos custos operacionais da empresa eram ne-cessários 15/ton de produtos/mês. Che-gamos no final com uma produção anual de 9 ton/ano (contribuiu em grande parte o desvio de produtos por alguns associa-dos) o que inviabilizou consideravelmente o funcionamento.

Era preciso se ter uma solução ousa-da, inteligente e a curto prazo. O tal proje-to suscitado falava em capacitação de sua diretoria (causa do maior entrave), quadro funcional e associados. Com o fechamento advindo de várias situações desconfortáveis a empresa criada há duas décadas pela CE-PLAC foi entregue (na ilegalidade) para que os seus 19 funcionários dessem um rumo a esta situação desastrosa. Ao não aceitarmos (por não haver amparo legal), foi constituí-do (pela justiça) um depositário fiel (pessoa responsável por todos os bens recebidos para cuidar e zelar) até que quando solucio-nado o caso o mesmo deverá desocupar o imóvel sem ônus para as partes, entregando tudo o que foi repassado conforme docu-mento firmado.

A pobre situação vivida pelo ex-fun-cionário Arnaldo Francisco de Jesus (diga-se passando até mesmo fome) e que tempos depois veio a falecer foi um dos fatores deste caos. Até hoje, muitos estão desempregados. A situação social em muito piorou, pois dali alimentava-se centenas de pessoas e circula-va diariamente 15 mil reais na cidade. Foi um sonho que se perdeu na realidade.

A verdade é que os seus funcionários, foram lançados ao mar, como uma nau sem rumo, onde somente há 4 anos, as portas da justiça trabalhista foram abertas para a solução final e que só depende ago-ra dos funcionários.. Espera-se um pouco de respeito e dignidade para àqueles que tiveram o seu suor derramado durante anos e sequer foram ouvidos no novo processo de gestão. Somos parte de uma adição e queremos partilhar desta soma, até mesmo com uma simples palavra.

José Soares Medeiros foi pescador da Barra de Caravelas durante toda sua vida e hoje trabalha na comercialização.

Foto: Mônica Linhares

Foto: Anerivan Reinalda

Festa de São Pedro celebra o dia dos PescadoresDas tradições populares do Brasil não

há outra que melhor represente o povo no trabalho da navegação e da pesca que a festa que se celebra no dia de São Pedro, santo protetor dos pescadores, das embarcações e das pescarias. Ao poder do santo muitas vezes acreditou-se dever a vida disputada contra as tempestades e à sua graça se reconheceram as miríades de peixes trazidos às praias e dispostos sobre as areias, nas épocas de fartura do mar.

Em Caravelas a festa em homenagem ao Santo aconteceu entre os dias 28 e 29 de junho na comunidade da Barra, atrain-do pescadores, marisqueiras e moradores de toda a região. “Antigamente a tradição

era realizar apenas missa na praia com pro-cissão marítima. Mas nos últimos três anos, a participação da comunidade permitiu que muita coisa mudasse, para melhor. Agora oferecemos festa a noite com variadas bebi-das e comidas tradicionais, forró, quadrilhas e sorteio com vários prêmios tanto para a comunidade, quanto para a embarcação melhor organizada, com prêmios para 1º, 2º e 3º lugares” explica Normélia Medeiros Mota, conhecida como Nona, uma das prin-cipais organizadoras da celebração.

A procissão marítima foi finalizada com a prometida premiação para os barcos mais chamativos, atraentes e organizados. O primeiro lugar ficou com Roberto, para

o barco Problema Meu, o segundo com seu Arlindo, para o barco Regiane, e o terceiro lugar foi concedido a Pedro, pelo barco Tramps.

Para arrecadar fundos Nona buscou patrocínio junto aos comerciantes da Bar-ra, Ponta de Areia e Caravelas. Contou também com o apoio do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. “O Parque nos deu uma força muito grande.Mas para que aconteça uma festa assim maravilho-sa, gastamos muito e por isso queremos agradecer também a toda a comunidade, porque sem ela não teríamos condição nenhuma de realizar esta comemoração”, completa Nona.

Foto: Anerivan Reinalda

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JULHO / AGOSTO DE 20098

A pesca na Reserva do Cassurubá

O presidente da Colônia de Pes-cadores de Nova Viçosa, Valdeck Rosentino Neves, considera que a criação da Reserva foi uma grande vitória do movimento de pescado-res. “Apoiamos a RESEX porque vai proteger o banco camaroneiro. Ela vai ser bem vinda aos pescadores, aos ribeirinhos e aos pegadores de caranguejo, já que hoje os carangue-jos acabaram, do mesmo jeito que vão acabando os peixes. Além de ter impedido a instalação do projeto de

Em Caravelas cerca de 1.200 famílias dependem da pescaria e da mariscagem para viver. Muitas ainda não sabem que a Reserva Extrativista do Cassurubá, que foi criada por decreto do presidente Lula em Ponta de Areia, no dia 05 de junho de 2009, poderá ajudar a melhorar a pesca na região, resguardando o espaço marinho para o uso exclusivo dos pescadores da comunidade e criando formas de manter ou até aumentar a quantidade de peixes, camarões e caranguejos da área.

O Timoneiro apresenta nesta edição uma reportagem sobre as vantagens que a recém-criada Reserva Extrativista do Cassurubá trará para esta classe profissional. As repórteres Bárbara Demmer, Joyce Trindade e Marilene Figueiredo entrevistaram vários pescadores e marisqueiras para mostrar os problemas que vivem e saber o quê pensam sobre a nova Reserva Extrativista.

Por Bárbara Dehmmer, Joyce Trindade e Marilene Figueredo

“Às 03 horas da manhã eu acordo, faço o café, a farofa, pego minha linha, o anzol, o samburá e vou

a caminho do porto, onde fica minha batera. Às vezes vou sozinho, tem dias que vou com um dos meus filhos. Che-gando ao porto empurro minha batera às margens do rio para minha pescaria que é dentro do rio mesmo. Tem dias que faço uma boa pescaria, mas às ve-zes não pego nem pra comer”.

O dia-a-dia de Raul Rocha é pa-recido ao dos muitos pescadores de Caravelas que trabalham de sol a sol dentro da área da Reserva Extrativista do Cassurubá. Mora com a mulher e um dos dez filhos em uma pequena casa localizada na Rua do Ceará, em Ponta de Areia, e vive da pesca “des-de que se entende por gente”. Com o passar do tempo, diz, a quantidade de peixes foi diminuindo. Permaneceram os problemas de distribuição, comer-cialização e armazenamento. Com menos peixes no mar e uma grande dificuldade em negociar o seu pro-duto, seu Raul dificilmente consegue mais do que 450 reais por mês para o sustento da sua família.

O problema está presente no de-poimento de muitos outros pescado-

res da cidade, como Antônio Teixeira, conhecido por Tonico, também mora-dor de Ponta de Areia: “A situação está mais difícil. Os peixes estão mais lon-ge, o preço do quilo está diminuindo e o material encarecendo. O camarão também está diminuindo e há muitas embarcações no mar”, lamenta. Não é o único que pensa assim. Para Roberto da Silva, pescador e morador da Barra de Caravelas, a quantidade de barcos vindos de outras áreas já está passan-do dos limites. “Só as embarcações de Caravelas já são o bastante, e ain-

da vem os barcos de fora... a maioria coloca rede de dia e à noite”, adverte. Em Caravelas aproximadamente 200 embarcações trabalham diariamen-te com a pesca. Este número triplica quando somados os municípios de Nova Viçosa e Alcobaça.

O presidente da Associação APES-CA, Lierte Abreu Siquara, considera que de meados dos anos 70 para cá Caravelas perdeu algo como 80% do seu pescado. Esta situação, segundo ele, foi gerada em boa medida pela ati-tude do próprio pescador. “Hoje não se tem mais o cuidado que se tinha antes, antigamente toda área era consi-derada uma reserva. Agora o peixe vai se afastando. Para ir matar uma arraia você tem gastar umas seis horas, antes você saía numa beirada de praia e ma-tava o peixe”, diz.

Espera-se que a implantação da Reserva Extrativista do Cassurubá (RESEX) apóie modos mais susten-táveis de pesca, ajude a demarcar os locais para a reprodução das espécies, a proteger o estuário e o mangue, e o que não é menos importante, resguar-de o espaço marinho e do manguezal para o uso dos pescadores e catadores de caranguejo da comunidade.

“A RESEX vai proteger o banco camaroneiro”carcinicultura aqui, que seria muito impactante para a natureza. Agora podemos sonhar com um futuro em que nossos filhos tenham condições de viver da pesca”, destacou.

Para Lierte Siquara, da Associação APESCA, a criação da RESEX foi bem aceita exatamente por resolver o problema da preservação das espécies. “Todos os peixes nascem dentro do es-tuário do manguezal. Com a Reserva a gente espera que os peixes venham a se multiplicar”.

Garantia - Foi exatamente para preservar os estoques locais de ca-ranguejos da coleta por extrativistas de outras regiões que a Associação de Marisqueiros de Ponta de Areia e Caravelas (AMPAC) realizou o pri-meiro pedido de criação da RESEX, no dia 12 de janeiro de 2005. Naque-la época, vinha muita gente de outras regiões para extrair o caranguejo de Caravelas, usando métodos pouco sustentáveis como os da “redinha”, causando a morte desnecessária de centenas e centenas de animais.

Foi em 2005 também que veio a público a notícia da possível implan-tação de um mega empreendimento de carcinicultura em Caravelas, o que desencadeou na cidade um acirrado debate sobre o tipo de desenvolvi-mento que ela deveria seguir. A pro-posta era a de instalar na cidade do projeto da Cooperativa de Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia – Coopex, que traria graves preju-ízos ambientais, e diminuiria ainda mais a quantidade de peixes da área por contaminar o ecossistema man-guezal com esgotos sem tratamento e com altas taxas de metabisulfito. (Um veneno que diminui drastica-

mente o oxigênio da água, acabando com a vida).

Todas estas ameaças foram afas-tadas no dia 05 de junho, Dia Mun-dial do Meio Ambiente, quando o presidente Lula assinou o decreto de Criação da Reserva do Cassurubá. A importante batalha de centenas de pescadores e marisqueiras havia che-gado ao fim. E o espaço de trabalho e de renda de milhares de pessoas que vivem da pesca e da mariscagem em Caravelas havia sido finalmente ga-rantido.

Foto: André Esteves

Foto: Acervo EC

OM

AR

Foto: Acervo EC

OM

AR

Foto: André Esteves

Seu Raul Rocha, pecador de Ponta de Areia

Foto: Mônica Linhares

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9 JULHO / AGOSTO DE 2009

A pesca na Reserva do CassurubáNo palco erguido na cidade

dos Pescadores, em Ponta de Areia, observado por

milhares de caravelenses, o presidente Lula declarou: “A gente está aqui para dizer ao povo de Caravelas que nós não estamos fazendo nenhuma coisa que vá prejudicar a cidade. Até por-que, se nós tivermos de um lado al-gum ambientalista radical e tivermos do outro lado um prefeito, ou um fa-zendeiro radical, o governo não estará de nenhum dos dois lados”.

Fez um importante discurso, que explicou muita coisa para quem ainda não tinha entendido a importância da RESEX. Leia você mesmo o quê dis-se o presidente:

- “Nós, que habitamos o planeta terra, estamos contribuindo, a cada dia que passa, para que ele seja des-truído mais rápido. E quando ele for destruído, nós estaremos destruídos enquanto espécie animal, enquanto ser humano. Não vai acontecer agora, mas pode acontecer daqui a 1 milhão de anos, daqui a cem anos... mas se a gente não cuidar agora, os nossos filhos irão viver em um mundo cada vez pior do que aquele em que a gente vivia quando nasceu, porque a tenta-ção do homem é destruir e não cons-truir.

Nós temos três tipos de gente. Nós temos um tipo de gente que às vezes não concorda com uma RESEX porque não está bem informado. En-tão, dizem para ele: “Olha, vai proi-bir de fazer qualquer coisa na cidade.

Não vai mais poder construir nada na cidade. Está tudo proibido”. Ele está desinformado. Então, é preciso a gen-te informar adequadamente.

Tem outros que acham “olha, eu sou contra porque eu sou contra. Eu não acredito nessa história de meio ambiente. É tudo mentira. Chove muito porque Deus quer, faz seca porque Deus quer. Então, não tem essa de meio ambiente, não. Pode derrubar tudo, quebrar tudo, porque não vai ter jeito”. Esse é um igno-rante. Nós temos que tratar dele com cuidado porque também ele precisa de informação, ele precisa de infor-mação. Ele não é uma pessoa ruim, é uma pessoa desinformada.

Agora, têm outros que utilizam um discurso fácil. Aquele discurso de que: “Olha, fazendo isso, está impe-dindo o desenvolvimento”. E assim vão falando.

Acontece que quanto mais a gente preservar, mais chance a gente tem de desenvolvimento. Porque hoje, quan-do um turista quer viajar para uma cidade, ele quer saber se ele tem coisa para ver, coisa nossa.

E o que tem acontecido nas cida-des médias brasileiras? Primeiro, é o mangue. O pobre vai sendo expulso da cidade e ele vai para a beira do man-gue. Daqui a pouco, ele começa a fazer aterro no mangue e vai fazendo seu barraquinho. Daqui a pouco faz uma palafita. Quando está tudo errado e o pessoal morando em favela, aí chega um rico, compra aquele mangue e faz

um grande empreendimento naquele mangue e os pobres sendo escorraça-dos, para onde? Para beira de um mor-ro ou para a beira de um córrego.

Ora, o que nós estamos dando com essa RESEX é um direito da ci-dade de Caravelas e de Nova Viçosa poderem dizer, que nessas cidades a natureza será preservada para que os nossos filhos e os nossos netos pos-sam continuar, se quiserem, a profis-são dos seus pais e das suas mães e tirar o seu caranguejo lá no mangue. Porque vocês sabem o que é enfiar a mão em uma toca para pegar o caran-guejo até o cotovelo. E eu até os dez anos de idade, não só pegava caran-guejo como pegava... Até esse dedo aqui foi um caranguejo que comeu (brinca).

Então, o que nós estamos garan-tindo aqui é o seguinte: o que tem de mangue, mangue é uma coisa muito importante para a natureza. Mangue é uma coisa importantíssima. Se a gente acabar com o manguezal, a gente muda o tipo de coisa que tem no rio ou no mar, perto do manguezal. Então, nós precisamos preservar. Não é apenas para garantir aos pescadores pescar o seu marisco, pegar o seu caranguejo ou pescar o seu peixe. Não é só para isso, é também para isso. Mas a gente quer que quando um cidadão de classe média de São Paulo ou do Rio de Ja-neiro ou um professor da USP, ou da Unicamp, ou de Salvador quiser visitar o local virgem, onde está preservado, onde o pedaço de mar está preserva-

A RESEX foi criada. E agora?A Reserva do Cassurubá abrange uma

área de 100.687 hectares de estuários, res-tingas, mangues e ambientes marinhos entre as cidades de Caravelas, Nova Vi-çosa e Alcobaça. Contribuirá para a prote-ção dos principais ambientes costeiros do Banco dos Abrolhos, onde estão 95% dos manguezais da região, considerados ber-çários de várias espécies de importância ecológica e econômica.

A Reserva é uma área do governo federal, concedida para o uso das po-pulações extrativistas: os pegadores de caranguejo, os pequenos agricultores e os pescadores. Após a regularização fun-diária, os moradores tradicionais devem receber um documento que lhes garanta permanecer e utilizar a área da Reserva - o termo de concessão de direito de uso.

A RESEX é gerida por um Conselho Deliberativo, constituído por represen-

do, onde não vai ter poluição e aí eu vou entrar na questão do esgoto, ele vem aqui em Caravelas e fala: Eu fui lá, comi um peixe de qualidade, não poluído, um caranguejo de qua-lidade, um marisco de qualidade, e aí até vão vender ou em Vitória do Espírito Santo ou o Jacques Wagner vai comprar tudo para levar para a merenda escolar lá em Salvador e daí por diante.

Então, é para isso que a gente está aqui. Para a gente dizer ao povo de Caravelas que nós não estamos fazendo nenhuma coisa que vá pre-judicar a cidade. Até porque, se nós tivermos do um lado algum ambien-talista radical e tivermos do outro lado um prefeito, ou um fazendeiro radical, o governo não estará de ne-nhum dos dois lados.”

tantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade e das populações tradicionais residentes na área, que devem ser maioria. É o Conselho que elabora o Plano de Ma-nejo, ou o plano de utilização da Reserva. No plano de manejo se define o quê pode e o quê não pode ser feito dentro da Re-serva, quais áreas vão ser utilizadas para o extrativismo e quais vão ser utilizadas para a conservação.

Na Reserva não será permitido realizar atividades de grande impacto para a natu-reza, tudo terá que ser pensado em termos da relação do ser humano com o meio am-biente. Há algumas regras a seguir: não é permitida a pecuária em grande escala nem a plantação em grandes extensões de terra. O corte de árvores também tem que ser sustentável, para proteger a mata nativa.

Mas podem e devem ser criados pro-jetos que ajudem a população a melhorar a qualidade de vida e a obter renda, como os de turismo comunitário, artesanato, apoio à pequena agricultura, a apicultura, e a própria comercialização e beneficia-mento dos peixes e caranguejos, apenas para citar alguns exemplos. O grande pro-blema da maior parte das RESEX - em 2007 eram 80 as Reservas Sustentáveis no Brasil - é exatamente a falta de projetos de desenvolvimento local para a população. Caravelas neste ponto começou bem. No final de julho a ONG Ecomar aprovou no Ministério de Turismo um projeto para promover o turismo comunitário na zona ribeirinha do Cassurubá. Se pro-jetos como este forem multiplicados e a prefeitura ajudar com políticas públicas, a qualidade de vida da população poderá melhorar consideravelmente.

“Não estamos fazendo nenhuma coisa que vá prejudicar a cidade”

Foto: Ricardo Stuckert

Foto: Ricardo Stuckert

Foto: Ricardo Stuckert

Foto: Ricardo Stuckert

Demarcação da área da Reserva Extrativista do Cassurubá

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JULHO / AGOSTO DE 200910

“Só o fato de preservar já é um benefício”

“Na área da RESEX tem muita coisa bonita que você pode explorar, mas é preciso ter uma casa digna para estar recebendo visitantes, para fazer o turismo. Pode-se explorar o turismo ecológico, fazer trilhas, as próprias casinhas podem oferecer alimentação. Acho que é por aí que a gente começa a valorizar e aproveitar essa riqueza que temos”.

Timoneiro - Como o Senhor avalia a criação da RESEX para a cidade?

Eu e a comunidade estamos cheios de dúvidas. Quando o presidente Lula veio, eu até comentei com ele que muitas pessoas não sabem o que é uma RESEX, porque faltaram infor-mações. A gente que tem um pouco mais de esclarecimento tem noção de alguma coisa, mas não sabemos a fun-do como ela funciona. Eu espero que seja uma coisa boa para a comunidade, pois temos que preservar a natureza, mas acho que só vai somar se o go-verno federal der condições para que seja feito um bom trabalho, pois não adianta criar uma RESEX e não dar o apoio devido. Vemos muitos órgãos

Até os anos sessenta a ativi-dade pesqueira no Brasil era artesanal e sua produ-

ção estava voltada basicamente para atender as necessidades do país. O quadro começou a se modificar a partir de 1967, quando a política de incentivo à pesca passou a priorizar o desenvolvimento industrial: gran-des barcos, alta tecnologia e enfo-que na exportação. Esta mudança fez com que a produção pesqueira passasse de 280 mil toneladas em 1960 para quase um milhão de tone-ladas em 1985, num grande salto em apenas 25 anos (dados do Anuário Estatístico do Brasil). Não demorou muito para que a natureza começas-se a perder suas forcas e desgastasse sua capacidade de produção. A pro-va disso veio no ano 2000, quando a produção do pescado no país dimi-nuiu para 650 mil toneladas.

No mundo inteiro a quantida-de de peixes e crustáceos está di-minuindo. Parte deste problema está relacionado à destruição dos manguezais, berçário de 2/3 das espécies de peixes mais exploradas economicamente. Outra causa é a pesca excessiva.

ENTREVISTA

estaduais e federais criando algumas coisas, mas não dão o apoio necessá-rio. Espero que realmente cuidem, que dêem condições a essas famílias que fazem parte da RESEX, para que pos-sam desempenhar um bom trabalho. Não adianta criar e não fiscalizar, o IBAMA diz que não tem condições de fiscalizar, porque são poucos funcio-nários para abranger uma área grande, não adianta criar no papel e não fun-cionar. Essa é a nossa preocupação.

Timoneiro - Que benefícios o Senhor acha que a RESEX vai trazer para a co-munidade?

Só o fato de preservar já é um be-nefício! Agora está tudo muito difícil,

quando eu era pequeno, ia pescar na ponte e pescava mais de vinte quilos de peixe, agora não se consegue pegar mais. Com a criação da RESEX, al-gumas medidas vão ser tomadas para beneficiar somente a comunidade, porque pessoas de outros lugares terão que obedecer critérios. E esses critérios com certeza vão beneficiar a comuni-dade, que com isso vai ganhar muito.

Timoneiro - E quanto às políticas pú-blicas, a prefeitura pretende dar algum tipo de suporte aos pescadores?

Uma das coisas que eu sonho e que poderá se tornar realidade será comprar o produto desse pessoal para inserir na merenda escolar. Infelizmen-te ainda não foi possível fazer isso. Existe uma grande burocracia quando se mexe com recursos federais e esta-duais, temos que obedecer a todo um processo licitatório, com a população local se organizando ficará mais fácil

de conseguir comprar esses produ-tos para a merenda escolar. Outra coisa diz respeito aos moradores da Zona Ribeirinha. Em viagem a Salvador conversei com alguns de-putados, pois só vemos reformas nas casas da Zona Urbana, na zona rural a gente vê cada casebre sendo escorado na cumeeira para não cair. O nosso plano também é ir na zona ribeirinha para recuperar essas casas. Na área da RESEX tem muita coisa bonita que você pode explorar, mas é preciso ter uma casa digna pra es-tar recebendo visitantes, para fazer o turismo. Pode-se explorar o turismo ecológico, fazer trilhas, e quem sabe as próprias casinhas podem oferecer alimentação. Acho que é por aí que a gente começa a valorizar e aproveitar essa riqueza que temos. Também é uma maneira da gente ajudar a co-munidade.

Timoneiro - Prefeito, qual é a posição da Associação de Prefeitos do Extremo Sul (APES) quanto a RESEX?

Eu conversei com o presidente Lula, comentei que eu, prefeito de Caravelas, não sabia qual era o limite da RESEX, assim como os outros prefeitos da Costa das Baleias que fazem parte da APES. Acho que isso

é um desrespeito muito grande. Toda essa resistência é por falta de infor-mação, falei para o presidente Lula que isso poderia ter sido evitado. Pensávamos que a Área da Zona de Amortecimento de Abrolhos seria a área da RESEX. Era uma área mui-to extensa. Depois conversando, que eu fui ver que era bem menor. Todos os prefeitos querem ver o município crescer, querem geração de empre-go e renda, e o que o pessoal ouve dizer é que com a RESEX não po-derá criar mais gado, não poderá ter indústria de grande porte e redes de hotéis, então ficou todo mundo pre-ocupado com a situação dos municí-pios. A grande resistência foi essa.

Timoneiro - Agora, com mais informa-ções, qual o grau de aceitação da APES?

Os prefeitos começaram a olhar de forma diferente, mas ainda falta um pouco de informação. De diálo-go. Falei para os prefeitos que não era hora de fazer manifesto, o pre-sidente assinaria de qualquer forma, aqui, ou em Brasília. Deveríamos aproveitar o momento para cobrar algumas coisas. Tiveram alguns que não concordaram. Eu aproveitei o momento e cobrei o que meu muni-cípio precisa.

“ “Toda essa resistência

é por falta de informação

Luiz Antônio Alvim Delgado Prefeito de Caravelas

Cassurubá: “Terra de grandes árvores para construir canoas”O primeiro núcleo de coloniza-

ção portuguesa de Caravelas insta-lou-se na Ilha do Cassurubá, local que nos idos 1500 era conhecido pela sua terra fértil e árvores majes-tosas. Os portugueses só saíram de lá por causa da quantidade de piratas e corsários que trafegavam na região com o objetivo de tomar a enorme carga de pau-brasil que nela existia.

Sofrendo constantes ataques, os portugueses buscaram um lugar mais protegido. Em 1571 constru-

A Pesca no Brasil a partir dos anos 70: sistema industrial e foco na exportação

O quê fazer para reverter esta si-tuação? O presidente da APESCA, Lierte Siquara, acredita que existam algumas soluções para Caravelas. Ele diz que, em primeiro lugar, é preciso acabar com o sistema de arrasto de balão, que funciona como espécie de “trator do mar”, limpando o fun-do e apanhando peixes de todos os tamanhos, além de conchas, cama-rões, caramujos e outros pequenos animais. “É capaz de pegar uma ja-manta (arraia gigante) que fica lá no fundo do mar. Esse modo de pescar está acabando com os peixes da nos-sa região. O que é melhor? Voltar ao que era ou continuar assim e acabar com tudo?”, pergunta.

Outras possibilidades seriam: limitar a quantidade de barcos, fre-ando a fabricação de novos e reali-zando as reformas necessárias nos já existentes, criar normas para li-mitar a caça subaquática, promover medidas de preservação para que as gerações futuras possam usufruir desses recursos naturais, utilizando as áreas de pesca em sistema de mosaico, ou seja, aproveitando al-gumas áreas e deixando outras des-cansado para depois fazer a troca.

Mas há quem cite outras razões para o problema. Para a pescado-ra e marisqueira Elizete dos San-tos Figueiredo, moradora da Barra de Caravelas, foi a implantação da dragagem que afetou a prática da pescaria. “A dragagem afetou mui-to, trouxe muitos prejuízos para o pescador, pois ela é feita no canal dos peixes e o estrondo dos eucalip-tos e a hélice das barcaças assustam os peixes”.

íram a capela de Santo Antônio na atual praça matriz, dando origem a vila de Caravelas. Fica a lembrança que na língua tupi a palavra Cassuru-bá significa “Terra de grandes árvo-res para construir canoas”

Sendo: Ca: árvore Assu: grandeUba: canoa.Informações do coronel José,

que há anos vem estudando a histó-ria da região.

Foto: Arquivo EC

OM

AR

Foto: André Esteves

Foto: Joyce Trindade

Foto: Joyce Trindade

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11 JULHO / AGOSTO DE 2009

Zona ribeirinha terá projeto de turismo comunitárioO projeto apresentado pela ONG local Ecomar para desenvolver atividades de turismo comunitário no Complexo do Cassurubá foi aprovado pelo Ministério do Turismo no final de julho. Seu objetivo é implantar a gestão participativa das atividades ecoturísticas na zona ribeirinha, visando a melhoria socioambiental, a geração e distribuição de renda e a criação de novos produtos turísticos para Caravelas

A zona ribeirinha possui uma in-finidade de atrações que ainda hoje não são aproveitadas para

o turismo em Caravelas. Com um rico meio ambiente, situado num dos mais importantes manguezais do Nordeste brasileiro e uma população residente receptiva e dona de inúmeras tradições, a região oferece ao ecoturista a possibi-lidade de vivenciar atividades em meio à natureza e de entrar em contato com uma cultura muito particular.O projeto aprovado pela ONG Eco-

mar junto ao Ministério do Turismo visa promover a qualificação dos ri-beirinhos para a gestão e prestação de serviços ecoturísticos, o planejamento e implantação de trilhas interpretativas, além de apoiar a criação de infra-estrutu-ras, hoje precárias ou inexistentes. Para alcançar os objetivos a Ecomar pretende estimular a organização comunitária dos ribeirinhos beneficiados, partindo dos princípios da economia solidária. “Que-remos que a comunidade se torne for-te e independente para gradativamente

criar e gerenciar suas próprias atividades sustentáveis no Complexo Estuarino do Cassurubá, considerando o que já existe lá dentro, considerando a cultura e mo-dos de vida do ribeirinho”, diz Paulo Beckenkamp, diretor presidente da Ecomar e coordenador do projeto.

Histórico - Entre os anos de 2002 a 2004 o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nor-deste (CEPENE), através do Projeto Manguezal, elaborou o levantamento das potencialidades para o desenvolvi-mento do ecoturismo de base comuni-tária na região ribeirinha de Caravelas e Nova Viçosa.

O estudo oferece uma descrição detalhada das atividades que os eco-turistas poderiam desfrutar na zona ribeirinha: participar de atividades culturais, como a festa de São Cosme e Damião; da visita às casas de farinha e a patrimônios arquitetônicos como as casas de pau-a-pique, realizar tri-lhas em áreas de restinga conservada, passeios de canoas nos rios, cavalga-da, camping em áreas naturais, con-templar a paisagem, observar as aves, etc. O ecoturista poderia também de-gustar a culinária local, compartilhar o conhecimento tradicional dos ecossis-temas, observar o uso de técnicas tra-dicionais de pesca e mariscagem, par-ticipar em oficinas de aprendizagem

Uma região de muitos atrativos naturaisA área do Complexo Estuarino do

Cassurubá apresenta inúmeros atrativos naturais. Os manguezais ocupam uma área de 11 mil hectares, com a vegeta-ção em estado conservado e incidência dos três tipos de mangues (Vermelho, Manso e Siriba). Nesse ecossistema habi-tam crustáceos, bivalves e peixes, usados também na culinária local. A Restinga, também em bom estado de conservação, está situada no entorno dos manguezais e apresenta uma grande biodiversidade de fauna e flora. Nos manguezais e na res-tinga, é possível desenvolver atividades de observação de fauna e flora, principal-mente das aves, canoagem e navegação nos rios que formam o complexo, cami-nhadas em trilhas, ecociclismo, acampa-mento no ambiente natural e cavalgada.

Parque Nacional Marinho dos Abrolhos retoma Programa Professores no Parque

O Programa Professores no Parque está de volta para for-mar mais 50 professores da

rede pública dos municípios de Alco-baça, Prado, Nova Viçosa e Caravelas em temáticas ambientais. Seu objetivo é apoiar o desenvolvimento de projetos em sala de aula sobre a biodiversidade regional, o mar, o Parque Nacional Ma-rinho dos Abrolhos e o mangue, envol-vendo os professores em atividades teórico-práticas de capacitação e sensi-

Personalidades de Caravelas são homenageadas

Foto: Acervo ECOMAR

Foto: Acervo ECOMAR

bilização, que incluem a visita ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e ao Manguezal.

O Programa Professores no Parque busca a conscientização e da aquisição de valores, comportamentos e práticas mais éticas e responsáveis em relação ao meio ambiente. “A idéia é que as pessoas efetivamente se preocupem e se responsabilizem por suas ações, de-senvolvendo o sentido de cuidado e de conservação. Para isto é fundamental

que se construam relações mais interati-vas, críticas e participativas”, destaca Éri-ka Almeida, coordenadora do Programa.

Na primeira etapa, que acontece nos próximos dias 24 e 25 de agosto os professores participam de pales-tras, atividades lúdicas e da visita mo-nitorada ao Centro de Visitantes. Nos dias 26 e 27 de agosto partem para a visita ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e ao Manguezal, na que terão a oportunidade de aprender so-bre as espécies e o rico ecossistema que conforma a região de Caravelas. A etapa seguinte prevê o desenvolvimen-to de projetos ambientais dos profes-sores junto aos estudantes das escolas participantes. No final do ano, todos os trabalhos elaborados pelos alunos e professores serão apresentados em uma grande confraternização realizada no Centro de Visitantes.

O Programa beneficiará a 50 professores das escolas municipais da região com informaçõessócio-ambientais de Abrolhos e do Manguezal

Foto: André Esteves

Líderes comunitários, mestres da cultura popular, pescadores, marisqueiras, educadores e instituições culturais que contribuíram ao desenvolvimento de Caravelas receberam no final de abril uma grande homenagem pelos serviços prestados de forma voluntária por tantos anos à comunidade.

O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos realizou no final de

abril junto a Fundação Benedito Rali-le e a Prefeitura Municipal a cerimônia de entrega de diplomas e medalhas a 26 líderes comunitários e instituições que se dedicam a manter viva a cultu-ra popular e a educação em Caravelas. O ato teve o objetivo de valorizar as pessoas que têm lutado pelo desen-volvimento social e educativo, pelas expressões folclóricas e pelo resgate da cultura e tradições no município. A comemoração foi realizada em uma grande festa no Centro de Visi-tantes do Parque, localizado na Praia do Quitongo, como parte das ações

de comemoração de seu 26º aniver-sário. Na ocasião, o chefe substituto do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, Joaquim Neto, recebeu da Fundação Benedito Ralile uma placa de homenagem pelo aniversário da Instituição.

da história e das técnicas da produ-ção artesanal de apetrechos de pesca, apreciar e comprar artesanatos.... ou simplesmente curtir a vida no meio da natureza.

Em parceira com as instituições locais, a Ecomar pretende aproveitar todo este potencial para ajudar uma parte das 300 famílias que atualmente vivem na área, com um projeto que bem poderia se transformar em mo-delo de desenvolvimento sustentável.

“É um nicho de mercado que pode ser considerável na economia do ri-beirinho”, considera Paulo.

Vários foram os parceiros que apoiaram o projeto desde a sua for-mulação, como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, os empresá-rios do setor de turismo e o Conselho Municipal de Turismo.

A Zona Ribeirinha está atualmen-te situada na área da Reserva Extrati-vista do Cassurubá.

Várias farinheiras artesanais ainda estão em funcionamento na zona Ribeirinha.

Foto: Almay Souza

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JULHO / AGOSTO DE 200912

CULTURA

Caravelas é Ponto de Cultura da Bahia com Projeto PererêNo último 23 de maio o movimento cultural Arte Manhalançou oficialmente o Projeto Pererê, selecionado econtemplado em primeiro lugar no território Extremo Sul como um dos Pontos de Cultura da Bahia. O lançamento foi feito junto às comemorações dos 21 anos de história do grupo, que agora ensaia novos vôos, intensificando as atividades destinadas a jovens e crianças em Caravelas

Filmes, teatro, poesia, shows de bandas, grupos folclóricos e até uma roda de viola caipira

animaram a grande festa cultural que inaugurou, no dia 23 de maio, a nova fase de atuação do mais combativo e intrigante grupo cultural de Caravelas: o Arte Manha. Ninguém diria há 21 anos que daquelas reuniões de jovens sonhadores da Avenida brotaria uma iniciativa de poder revolucionário para uma cidade que havia sido cul-turalmente abandonada pelo poder público.

Apoiado pelo Governo do Estado até 2011, o Arte Manha oferece uma série de oficinas para crianças e jovens de Caravelas. Atividades nas áreas de

Oficinas para aprender a fazer televisão abrem em setembro

Mobilizar jovens para produzir programas de televisão e pequenos documentários com enfoque prin-cipal em temáticas relacionadas à cultura popular tradicional, o patri-mônio histórico e cultural e o tu-rismo. Este é o objetivo do núcleo audiovisual do Projeto Pererê, que será instalado dentro do Colégio Polivalente de Caravelas.

As oficinas do projeto abrem em setembro, dando início às ativi-dades da TV Pererê. Seus repórte-res percorrerão as ruas de Carave-

Mostra Fotográfica “Retratos de Caravelas” reabre na Fundação Benedito Ralile

Quem ainda não assistiu à Expo-sição Fotográfica “Retratos de Cara-velas: Memória e Identidade de uma Cidade Histórica”, tem agora outra oportunidade para apreciar as 200 fo-tos e documentos antigos recolhidos entre diversas famílias da cidade que resgatam parte da história caravelense desde os princípios do século XIX. A mostra fotográfica, de caráter itine-rante, reabre a partir de 20 de agosto, na Fundação Benedito Ralile.

A exposição revela uma Caravelas de grandes casarões e de antigas fes-tas populares, marcada pelo vai e vem dos navios e aviões que circulavam diariamente pelo porto da cidade. De imagem a imagem, pode-se apreciar as antigas Alvoradas, trezenas , as passeatas nos dias da independência do Brasil, as apresentações das Pas-torinhas, entre muitas outras mani-

artes plásticas, dança afro-indígena, capoeira angola, serigrafia, percus-são, audiovisual, costura de figurinos e adereços, teatro, literatura, contos e cantigas da cultura popular, que acon-tecem em sua maioria dentro da sede do Arte Manha e no Espaço de Cul-tura e Lazer Dandara Zumbi.

Inscrições - O projeto tem como prioridade oficinas com crianças e adolescentes entre 07 a 17 anos, filhos de famílias de baixa renda e estudan-tes da rede pública de ensino. Quem tiver interesse em se inscrever em al-guma delas deve ir juntamente com os pais ao Arte Manha para verificar a existência de vagas (levar documento de identidade dos pais e/ou da crian-

ça). As atividades são em sua maioria gratuitas, abertas à comunidade intei-ra, sem qualquer distinção de classes sociais, exceto, os eventos pagos, cuja função é arrecadar recursos para ma-nutenção da instituição.

O projeto Pererê tem como ob-jetivo principal o resgate e fortaleci-mento da identidade cultural afro e indígena no município de Caravelas. Procura promover e potencializar a capacidade de criação e o desenvol-vimento artístico de crianças e jo-vens em situação de vulnerabilidade social, estimular e possibilitar a ge-ração de trabalho e renda às famílias envolvidas e promover o fortaleci-mento cultural.

las em busca de notícias, histórias, personagens e entrevistas, que informem e divulguem questões de interesse da comunidade. Os programas serão exibidos no ci-nema localizado no auditório do Colégio Polivalente e em mostras itinerantes realizadas em diversas localidades de Caravelas. As fichas de inscrição podem ser retiradas na Secretaria do Colégio. Nesta pri-meira fase do projeto, as oficinas serão dirigidas somente aos alunos do Colégio Polivalente.

“Incomparável” é grande vencedora do Festival da Canção Estudantil

Um público de cerca de 200 pes-soas compareceu ao Colégio Poliva-lente no dia 30 de maio para assistir a segunda edição do Mini Festival Anual da Canção Estudantil (FACE). As oito canções inscritas foram anali-sadas de acordo aos quesitos de letra, melodia e interpretação. O primei-ro lugar foi para Ana Carla Santos Silva, pela canção “Incomparável”, o segundo lugar para Gilberto Lima Firmino, pela canção “Vuco-vuco” e o terceiro lugar concedido a Gilmar Flora dos Santos, pela canção “Rea-lidade”. Os candidatos Caio Magno e Paulo Jr., infelizmente, foram elimina-dos por problemas na matrícula e na freqüência escolar, respectivamente.

Agora a grande vencedora, Ana Carla Santos Silva, irá representar a cidade na etapa regional do Festi-val realizada no final de agosto em Teixeira de Freitas. Caso seja selecio-

nada poderá participar das finais do Festival Anual da Canção Estudantil em Salvador. O Colégio Polivalen-te já providenciou a reprodução da canção em CD e o restante da docu-mentação que habilitará a jovem Ana Carla a representar a cidade na etapa regional. “Acreditamos que esforços, como este, contribuem para fortale-cer nossa cultura e propõem novos horizontes para nossos alunos”, des-taca o diretor do colégio, Luiz Leo-nardo Soares Ferreira.

Por Danilo Ferreira

festações culturais que percorreram o fio do tempo e que hoje conformam a rica memória caravelense. Aconte-cimentos como o funeral de Teófilo Otoni e o descarrilamento do trem na antiga ferrovia Bahia – Minas, a devo-lução da imagem do santo padroeiro da cidade à igreja, entre muitos ou-tros, que nos abrem a capa do tempo

e criam pontes para a memória. A Mostra, de caráter itinerante,

foi aberta pela primeira vez ao públi-co no Centro de Visitantes do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos entre os dias 22 e 30 de abril. É patrocina-da pelo Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e pela Fundação Cultural Professor Benedito Ralile.

Foto: Arquivo Arte Manha

Foto: Arquivo Arte Manha

Ana Carla Santos Silva em sua apresentação no Mini Festival Anual da Canção Estudantil

O jurado foi composto pelo Secretário de Cultura Jorge Galdino, o músico local Alexandre dos Anjos, a pro-fessora Ceres Nicolau, a professora Luciana Fuzetti, sob a coordenação do professor Agenário Cabral.

Foto: Arquivo A

rte Manha

Foto: Arquivo Fundação C

ultural Professor Benedito Ralile.

Foto: Arquivo Fundação Cultural Professor Benedito Ralile.

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13 JULHO / AGOSTO DE 2009

Não Mangue de Mim é premiado no Rio de Janeiro

Foi com um largo sorriso que o diretor Jaco Galdino subiu ao palco do III Festival Audiovi-

sual Visões Periféricas para receber a Menção Honrosa para o filme Não Mangue de Mim, uma produção cara-velense dirigida por ele e realizada na “raça e na coragem” por mais de trinta integrantes e apoiadores do Cine Clube entre os anos de 2007 e 2008. “Quero agradecer todo o grupo que vem tra-balhando em Caravelas para o fortale-cimento do Cine Clube. Dizer também

Instituto Baleia Jubarte realiza projeto audiovisual

na comunidade de CaravelasInformação e entretenimento. São

esses os principais objetivos do Pro-jeto Áudio e Vídeo na Comunidade, realizado pelo Instituto Baleia Jubarte em Caravelas. O projeto oferece uma solução de acesso cultural a um públi-co diversificado, que nem sempre tem acesso a este tipo de diversão e lazer.

Os filmes são exibidos gratuita-mente na última sexta-feira e último domingo de cada mês, respectiva-mente na quadra coberta e em alguma praça dos distritos de Caravelas, como Ferraznópolis, Nova Tribuna, Taquari, Rancho Alegre, Barcelona e Juerana.

O Projeto visa também divulgar ações desenvolvidas pelos parceiros e

CINEMA

que esta é uma homenagem a todos os povos que estão no litoral - quilom-bolas, indígenas, ribeirinhos - lutando para manter os seus territórios. É um prêmio também destinado a todos os que vem dando visibilidade aos confli-tos em torno da terra, que acontecem tanto na área urbana e rural, e que di-ficilmente são conhecidos porque nor-malmente não saem na Rede Globo”, discursou.

Não Mangue de mim narra a his-tória de um morador da área de man-

gue em Caravelas que resolve manter suas terras ante a tentadora proposta de um comerciante de fora, prezando sua cultura e forma de vida. O filme foi gravado no Sítio de Seu Silvano lo-calizado no Rio do Macaco, no sitio do Massapê, na comunidade do Marobá, na Praia do Tororão e no Quitongo, lugares bem conhecidos pela comuni-dade de Caravelas. “Foi uma baita pro-dução. Por isso ficou legal, tem a mão de várias pessoas”, diz o diretor.

Competição Oficial - Não Man-gue de Mim foi selecionado na sessão principal, a Visorama, pelo jurado da ABDeC(Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas do Rio de Janeiro), entre outros 20 curtas e medias metragens que participaram da competição oficial. Em 2007 o Cine Clube Caravelas já havia recebido o prêmio pelo curta-metragem “Lia”, vencedor do jurado paralelo Cachaça Cine Clube. Desta vez, o reconhecimento veio do jurado oficial, celebrando a breve mas bem sucedida trajetória do coletivo criado em janeiro de 2007 para produzir do-cumentários e filmes de ficção sobre a

veicular mensagens de cunho ambien-tal, cultural e social antes do início de cada sessão. São parceiros do projeto a Prefeitura Municipal de Caravelas (Secretarias de Educação, Meio Am-biente e Turismo), a Patrulha Ecoló-gica - Escola da Vida, o Cine Clube Caravelas, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e o Movimento Cultural Arte Manha.

Confira a nossa agenda. Agora é só trazer a pipoca!!!

Cinema na quadra: 28 de agosto; 25 de setembro; 30 de outubro.

Cinema nos distritos: 30 de agos-to (Rancho Alegre); 27 de setembro (Juerana); 25 de outubro (Taquari)

Caravelas tem cinema a partir de setembro

Imagine que o domingo avança sonolento sem pista de distração ou atividade cultural para salvar

a mesmice. De repente você lembra: Caravelas tem cinema! Pois isto logo deixará de ser ficção para transfor-mar-se na realidade de todos os finais de semana. A partir de setembro o auditório do Colégio Polivalente será transformado no quartel general da sétima arte. Todos os finais de tarde serão exibidos curtas e longas-metra-gens, e durante a manhã, filmes infan-tis e educativos.

“Queremos criar o rito de ir ao ci-nema, das pessoas saírem de casa para encontrar gente e participar de ativi-dades culturais. E exibir filmes que possam trazer reflexões, produções que você não vai ver na globo, nem na locadora, para que as pessoas possam entrar em contato com outras formas de realidades, outras formas de resolver problemas”, diz Jaco Galdino, coorde-nador geral do Movimento Arte Manha e integrante do Cine Clube Caravelas.

Ao final das sessões devem ser realizados debates sobre as temáticas dos filmes, para os quais serão con-vidadas diferentes personalidades da cidade. A iniciativa de promoção do cinema inclui a criação de um grupo de estudos cinematográficos, a reali-

As sessões vão ser promovidas pelo cine Clube Caravelas, que ganhou do Ministério da Cultura uma série de equipamentos para exibição: um telão 3x3 metros, um projetor, uma mesa de som de 12 canais, uma filmadora e 150 filmes da programadora Brasil, além da capacitação dos videastas Almay de Souza e Anerivam Reinaldo, que partiram no final de julho para Salvador para aprender a usar os equipamentos e compartilhar com outros 50 integrantes do movi-mento de cine clubes da Bahia.

zação de oficinas de audiovisual em parceria com o projeto Pererê e de um festival de filmes do Extremo Sul da Bahia, em parceria com o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

A nova sala de cinema é uma con-quista do Cine Clube Caravelas, que inaugura na cidade o ponto do Cine Mais Cultura, como parte do progra-ma de incentivo aos Cine-clubes do Ministério da Cultura. Os equipamen-

realidade do sul da Bahia.O III Festival Audiovisual Visões

Periféricas aconteceu entre os dias 21 e 26 de julho no Rio de Janeiro, reu-nindo produtores, videastas, artistas e integrantes de cineclubes de todo o país. O Festival foi criado com ob-jetivo de contemplar as produções realizadas nas periferias brasileiras, através de associações, ONGs, cole-tivos, grupos informais organizados e produtores independentes. O concei-to que o diferencia de outros festivais audiovisuais que privilegiam os vídeos realizados em comunidades carentes permanece o mesmo: oferecer visi-

O diretor Jaco Galdino aprovei-tou a viagem ao Rio de Janeiro para divulgar as ações de comunicação do Cine Clube Caravelas e do Jornal O Timoneiro em dois eventos que esta-vam sendo realizados na cidade. No dia 23 de julho participou da Jornada de Educomunicação do VI Fórum Nacional de Educação Ambiental, que reuniu organizações de todo pais para discutir temas de comunicação e meio ambiente. Lá foram exibidos o filme

bilidade aos projetos educacionais que se utilizam do recurso audiovisual, ou seja, fundir educação e tecnologia.

O Cine Clube Caravelas é um movi-mento cinematográfico local composto pelas seguintes instituições: Pastoral da Juventude, Movimento Cultural Arte Manha, Portal Caravelas e Parque Na-cional Marinho dos Abrolhos. É apoiado por inúmeras pessoas, e instituições lo-cais, regionais, nacionais e internacionais.

Andanças de um cineasta caravelenseNão Mangue de Mim e distribuídos exemplares do jornal “O Timoneiro”. No dia 24 de julho, Jaco ofereceu uma palestra sobre a experiência audiovi-sual em Caravelas, na sessão “Desedu-cando o olhar, uma apropriação livre do audiovisual pelos coletivos”, que era parte da Programação do Festival Visões Periféricas. Um artigo de sua autoria foi publicado no site do FEPA (Fórum de Experiências Populares em Audiovisual - www.fepabrasil.org.br).

tos chegam ao final do mês, graças a parceria do Cine Clube com o FEPA (Fórum de Experiências Populares em Audiovisual), criado em junho de 2007 junto ao I Festival Audiovisual Visões Periféricas, que vem traba-lhando para dar visibilidade à diver-sidade de olhares no Brasil. O acordo feito com o Ministério da Cultura é de realizar em Caravelas uma exibição semanal pelo período dois anos.

Os integrantes do Cine Clube Caravelas, Anerivan Reinalda e Almay Souza junto a Guido Araújo, um dos pioneiros do movimento de cineclubes da Bahia, durante o Encontro promovido peloMinistério da Cultura, em Salvador.

O diretor do filme, Jamilton Galdino, na entrega dos prêmios do 3º Festival Audiovisual Visões Periféricas

Foto: Arquivo Arte Manha

Integrantes do Cine Clube Caravelas

Apresentação de filmes para a comunidade Ferraznópolis

Foto: Arquivo Arte Manha

Foto: Equipe EA C

aravelas / IBJ

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JULHO / AGOSTO DE 200914

BARCELONA

O distrito rural de CaravelasDesde criança ouvimos nas escolas, na roda de amigos o chavão “re-cordar é viver”. Foi com esta vontade que retornei a Barcelona, distrito que fica a quase três horas em carro da sede de Caravelas, logo depois de Teixeira de Freitas. Antes de chegar fiquei imaginando como estaria aquela terra de grandes plantações, de criadores de gado e cortadores de cana, a terra de Santo Antônio de Barcelona, como o povo simples hospitaleiro gosta de chamar. Lembrei da Igreja Santo Antônio, antiga e bem conservada, uma das primeiras construções do distrito, e das suas ruas estreitas e enladeiradas....

Por Professor Benito

Barcelona é um dos distritos mais prósperos de Caravelas e também o mais rural. Os qua-

se oito mil moradores orgulham-se da fartura da região e do fato de que lá não falte emprego para ninguém. O trabalho no corte de cana, nas lavou-ras de mamão, maracujá, melancia, abóbora, café; na criação de gado e na construção civil, absorve a maior parte da população economicamente ativa. Barcelona possui também uma gran-de usina de álcool, a Santa Maria, que atraiu nos últimos anos cerca de 1.500 novos moradores, vindos de inúmeras cidades do Nordeste brasileiro.

Apesar da fartura e da fertilidade das terras, este importante distrito ne-cessita urgentemente de políticas pú-blicas. Hoje a maior parte das terras são propriedade de grandes fazendei-ros que começam a optar pela mono-cultura de cana e eucalipto, levando ao declínio na variedade de culturas da região. O pequeno distrito se ex-pande velozmente sem infra-estutura de saneamento básico e com graves deficiências na qualidade da educação.

A única rua que possui esgoto o envia diretamente para o Córrego de Barce-lona, utilizado também para lavar rou-pas e como local de banho por muitos moradores. No bairro Novo, centenas de novas casas são construídas em pequenos lotes de terra, rompendo a tradicional economia rural de subsis-tência que caracterizou a região por décadas. Por falta de mandioca está sendo fechada a última farinheira arte-sanal do distrito.

Barcelona começou devagar, fun-dada em 1948, quando um grande fa-zendeiro da região, Antônio Salviani, doou parte de suas terras à comunida-de para que os trabalhadores se ins-talassem e começassem a estabelecer ali um pequeno povoado. As terras podiam ser tomadas por qualquer pes-soa que se interessasse em empreender naquele pedaço de chão ainda cercado de mata, um pequeno comércio. Foi o próprio Salviani quem batizou o po-voado em formação como Santo An-tônio de Barcelona, em homenagem ao santo padroeiro, Santo Antônio. A luz elétrica só chegaria em 1958. Com

ela, os fazendeiros, que vinham de Mi-nas Gerais e de Ilhéus para comprar grandes propriedades, e que foram se instalando pouco a pouco.

Para contar a história da origem de Barcelona há que bater à porta da casa de um dos mais antigos moradores, seu Milton Ferreira Braga, conhecido como seu Sinuca. Tem 82 anos, dez fi-lhos, “todos eles nascidos dentro desta casa”, a primeira do distrito, comprada em 1950 do próprio Antônio Salvia-ni, por cinco contos de réis ou 5 mil cruzeiros. Era na época uma pequena construção de taipa de 4 cômodos, que seu Sinuca pagou em três prestações.

Ele chegou a Barcelona em 1938, com 11 anos de idade, quando o lugar ainda estava tomado pela Mata Atlân-tica. “O pessoal abria um pedaço de mata, abria uma meia quarta, colocava uma casinha, e caçava. Tinha queixa-da, anta, porco do mato, onça pintada, canguçu mão torta e sussuarana. Esse é o lugar que teve mais caça nesta re-gião. Chegamos a matar três onças”, lembra. Também havia uma grande quantidade de ervas. “A gente vendia

muita puaia. Eu mesmo arranquei muita, se fazia um chá e se limpava todas as tripas. E mandava vender em presidente Bueno, em Nanuk. Hoje você não encontra uma por aqui”.

A esposa de seu Sinuca, Adaídes Rocha Braga, também traz bem viva a lembrança da antiga Barcelona. “Eu tinha um medo danado de onça. Esse córrego aí era cheio e para cruzar muita gente passava por dentro da água, que

vinha até o pescoço. Agora o rio secou, porque cortaram toda a mata e era ela que conservava”. Aquela era uma épo-ca em que as vias de transporte pratica-mente não existiam. Seu Sinuca conta que de Barcelona a Medeiros Neto era necessário um dia de viagem a cavalo. Para ir a Caravelas era preciso primeiro ir até a Serra dos Anaús para pegar o trem. “ Se gastavam dois dias para ir e dois dias para voltar”, lembra.

Cópia do documento de venda da casa, uma pequena construção de taipa de 4 cômodos, comprada em 1951 por 5 contos de réis do fazendeiro Antônio Saviano. “Foi ele que deu as terras do distrito, para o padroeiro Santo Antônio. E fez essa casa, a primeira de Bar-celona”.

Um dos primeiros moradores de Bar-celona, seu Sinuca casou-se em agosto de 1958, abriu comércio e se estabeleceu. “Co-locava umas garrafinhas na prateleira, ma-tava um porquinho e ia levando.” A partir de 1960 passou a assumir cargos públicos. Foi vereador, juiz de paz e até subdelga-do, função que carregou como “uma cruz nas costas”, segundo suas palavras. De sua casa, situada no centro do antigo povoado, viu o tempo passar trazendo transforma-ções para todos.

Quando o Timoneiro perguntou-lhe sobre como começaram as grandes fazen-das, seu Sinuca pensou, matutou e disse que não há explicação para como isto aconteceu. Simplesmente foi acontecendo, as pessoas de fora chegando e comprando as terras. “O caso é que vinha gente a cava-lo, colocava uma roça, colocava gente para

trabalhar... Em 1948 que começaram a me-dir as terras. Foram comprando a mata, os poderosos foram chegando e comprando, tinham dinheiro, então colocavam o cama-rada para trabalhar e se beneficiavam”.

Para ele as mudanças ocorridas nos últimos 50 anos troxeram coisas boas e ruins.

- “Eu acho que agora está bem porque a pecuária evoluiu mais. Está tudo bene-ficiado. Mas o pessoal pequeno não tem espaço. É só os grandes. Antes era melhor em uma parte porque a gente tinha muita fartura e hoje não tem. Tinha mandioca, ti-nha milho, todo mundo tinha roça. Criava porco, galinha. Agora a maior parte aqui é operário, trabalhador. Hoje a pecuária re-duziu, e com esse eucalipto todo não tem onde botar a roça, o pessoal que tinha roça por aí vendeu tudo”.

Não há como ir a Barcelona e dei-xar de visitar Isaura Francisca da

Silva, personagem popular conhecida carinhosamente no distrito como dona Dadá, que fez questão de ceder ao Ti-moneiro o seu tempo para um dedo de prosa. Vai completar 70 anos de ida-de e chegou a Barcelona quando tiha apenas dois. Pouco restou das terras do pai, que as vendeu quando ela ainda era adolescente. Dona Dadá casou-se com um comerciante local e criou os cinco filhos, dois homens e três mulheres com muito trabalho e dedicação.

Ela lembra do tempo em que todo

mundo tinha terra, dois ou três alquei-res, época em que se plantava muito feijão, milho, abóbora e mandioca. Seu próprio pai era um fazendeiro próspe-ro, com terras que alcançavam os 50 alqueires. “Meu pai colhia 50 sacos de feijão, que serviam aos 20 agregados da fazenda, mas ainda lhe sobravam 20 sacos. E não havia como comercia-lizar, por falta de transporte. Ele ven-deu a fazenda para um senhor de Minas quando eu tinha 15 anos. Depois ainda muita gente vendeu as terras, venderam e foram para Teixeira de Freitas... e quebraram a cara. São umas 50 famí-

lias que estão fora. Muitas famílias que foram para lá não puderam voltar mais. Mas os que ficaram aqui estão melhor que os que estão lá”.

Dona Dada orgulha-se de seu mu-nicípio por causa da fartura e variedade de produtos e acredita que os morado-res ainda têm sorte por poder pescar nas represas das fazendas. Mas lhe pre-ocupa o crescimento das plantações de cana e eucalipto, que começam a to-mar o espaço de muitas outras cultu-ras. “No ano passado tinha 30 ônibus aqui que levavam gente para a Medasa (atual Santa Maria, fábrica de álcool) porque aquilo é uma coisa enorme. Os fazendeiros hoje estão pegando as ter-ras, plantando cana e vendendo para a usina. A maioria, que criava gado, está já querendo passar para a cana. Eu acho que a cana está bem, mas leva o dinheiro é para o álcool, não dá comi-da na nossa mesa. Está diminuindo a plantação de milho e mandioca, quase não tem mais”.

Carismática líder popular, Dona Dada foi candi-data a vereadora duas vezes. “Eu tive 197 votos e estava na frente. Mas na hora de fechar o mapa colocaram que o outro candidato tinha três votos na frente. Se fosse hoje, nem Lula passava a perna em mim”, diz.

“O pessoal pequeno não tem espaço”

“Antigamente todo mundo tinha terra”

Fotos: Mônica Linhares

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15 JULHO / AGOSTO DE 2009

PATRIMÔNIO HISTÓRICO

José de Almeida Oliveira, conhecido como “coronel José”, é um dos mais

importantes restauradores privados do patrimônio histórico de Caravelas. Por suas ações em favor da cultura e seus amplos conhecimentos, poderia ser, ele mesmo, considerado um patrimônio cultural da cidade. Voltou definitiva-mente a Caravelas, para sorte do muni-cípio, entre 1986 e 1987, após uma vida agitada e repleta de andanças pelo Nor-deste, Rio Grande do Sul e Amazônia, em sua longa trajetória de trabalho para Armas de Engenharia.

Atualmente está reformando seu sexto casarão na cidade. Três deles de-vem ser destinados ao uso cultural da comunidade de Caravelas: o Casarão da Cultura, imóvel que o avô adquiriu em 1901 e que será destinado ao Museu do

O exemplo do Coronel José

Município; a casa situada em frente à praça Santo Antônio, construída com óleo de baleia e cal no início do sécu-lo XIX, onde funcionará a biblioteca; e a casa anteriormente cedida à Escola de Samba Coroa Imperial, e que será agora destinada à Secretaria de Cultura para a realização de eventos.

Todas passaram por um processo cuidadoso de reforma em suas facha-das e no interior. “Tenho um capital que preciso empregar e faço esta aplica-ção a fundo perdido”, brinca o coronel. Mas por quê investir todo o dinheiro conseguido em uma vida de trabalho na restauração do patrimônio histórico e no incentivo à cultura? pergunta-lhe O Timoneiro. O exemplo vem na res-posta: “São as raízes, o apego à terra”, responde.

O comunicado do tombamen-to do centro histórico de Caravelas pelo município

foi recebido e assinado pelas 176 fa-mílias que moram na área em novem-bro do ano 2005. Os documentos guardados na secretaria de Turismo comprovam que toda a comunidade foi devidamente informada sobre a decisão, aprovada em 27 de agosto de 2002 pelo Conselho Municipal de De-fesa do Patrimônio Histórico, Artísti-co e Cultural de Caravelas - COM-DEPHAC, em um ato que tratava de pôr fim à série de descaracterizações que as fachadas vinham sofrendo.

Pese a que a comunidade tenha sido informada do tombamento, a destruição do patrimônio histórico

Tombamento do centro histórico vem sendo desconsiderado

da cidade continuou. “As pessoas estão degradando um bem que é de todos, a maioria não apresenta pro-jeto no COMDEPAC para a reforma da fachada das casas, não pede um alvará de construção ou reforma na Prefeitura. Muitas casas foram des-truídas não por falta de dinheiro, mas por desinformação ou má vontade”, ressalta Moema Chimento, secretária de turismo do Município. Ela pede às pessoas que queiram reformar suas casas que venham pedir informação na Secretaria de Turismo.

“A cidade ganha com o cuidado do patrimônio histórico, em Ouro Preto e Mariana isto é um exemplo, as pessoas devem entender que o cui-dado com o patrimônio é muito im-

portante para o turismo”, ressalta. Para o Secretário Municipal de

Cultura, Dó Galdino, é necessário sensibilizar não só a comunidade, mas todas as instâncias do poder pú-blico para a importância do patrimô-nio histórico da cidade.

- “O que acontece é que a comu-nidade não está sensível a questão da preservação do patrimônio. Quem tem dinheiro se acha no direito de desobedecer as regras da lei de tom-bamento. Precisamos de um trabalho de educação patrimonial e esse tra-balho deve ser feito por um técnico. Estamos vendo junto ao Instituto de Patrimônio Artístico Cultural da Bahia, o IPAC, se conseguimos tra-zer um técnico para cá para fazer um trabalho de conscientização junto a vereadores, prefeito e comunidade. É um trabalho lento de sensibilização. Caravelas vem de hábitos diversos que são difíceis de mudar de uma hora para outra. Mas nestes cinco meses conseguimos sensibilizar pes-soas que estavam reformando suas casas a adotar um modelo semelhan-te ao originário no período colonial. É algo inédito porque a comunidade antes não se sensibilizava. A cultura de transformar para o moderno é evi-dente em vários municípios no Brasil, o Brasil tem a cultura de sempre que-rer mudar, e não a cultura de restau-rar e preservar”.

A responsabilidade sobre o patri-mônio passará para a pasta da Secre-taria de Cultura, logo que for feita a nomeação de um funcionário para o cargo de chefe de patrimônio históri-co, até o momento vago.

Seu Almerindo Pereira de Oliveira é dono da última farinheira em funcio-namento de Barcelona. Outras cinco fecharam nos últimos anos e ele parece ser obrigado a seguir o mesmo cami-nho. O problema, diz, é que já não en-contra mandioca para fazer farinha. “O pessoal agora planta mais cana, a plan-tação de mandioca acabou”, lamenta.

Há 20 anos, conta, ele produzia dia-ramente 30 sacos de farinha, que eram vendidos para para Teixeira de Freitas, Medeiros Neto e até São Paulo. A tris-teza enche os olhos de seu Almerindo,

que perdeu a esposa Eurides Pereira Nunes, merendeira da escola do distri-to, em junho deste ano. E agora, sob a preemência de ter que fechar a fari-nheira que tanto orgulho lhe trouxe, seu mundo ameaça perder o sentido. Para se despedir da equipe de reportagem ele faz questão de presentear um saco de farinha ainda quentinha, produzida aquela tarde mesmo, com o pouco de mandioca que conseguiu das terras de um parente. Feliz de poder dar o fruto de seu trabalho, que não é só farinha, mas também dignidade.

Uma vida de trabalho para adquirir a própria casa

Hoje poucas casas em Barcelona possuem quintais com hortas e criação de animais. Assim, foi

uma surpresa quando a equipe de repor-tagem se deparou com a prosperidade da horta de seu Antônio Silva, que ele cuidadosamente regava no fim da tarde. No terreno do fundo de sua casa, seu An-tônio e sua esposa Elza Galdino da Silva plantam mandioca, couve, alface, ceboli-nha, cuentro, mandioca mansa, entre ou-tras hortaliças e criam umas 30 galinhas. A pequena produção é orgulho do casal. “Nós pagamos um empréstimo de 1.500 reais do Banco do Nordeste só com a nossa horta. Outro dia veio um pessoal de Teixeira e levou 100 reais só de gali-nhas”, diz seu Antônio. “Mas o comér-cio aqui não é forte, não dá para plantar muito porque senão não vende e depois estraga”, adverte

Foi com o trabalho de uma vida que o casal comprou a terra em que hoje vive. “O pobre tem que trabalhar com os braços. Eu trabalhei muito em fazenda dos outros, muito tempo, para construir

o nosso cantinho. O dinheirinho que eu ganhei em Belho Horizonte eu comprei aqui. Nós trabalhávamos mexendo com o gado, tirando leite para os outros”, diz seu Antônio. Dona Elza lembra que sequer re-cebiam salário. O patrão dava o leite, que o casal comercializava. “Ficávamos agrade-cidos, pois com o dinheiro do leite a gente comprava uns bezerros... Ele deixava a gente usar a terra para criar os animais”.

Foi gerindo esta micro-economia que eles construíram uma bela casa e uma exemplar horta familiar. “Gente de Teixeira vem aqui agora na nossa terra e tem gosto de ver, isso não tem praga não tem nada, é tudo orgânico”, orgulha-se seu Antônio.

Dona Idê Ribeiro Queiroz é sobrinha de Antônio Salviani, o grande fazendeiro que doou as terras para a construção do distri-to há cerca de 50 anos. “Meu pai tinha uns 12 alqueirões de terra, vendeu a metade e o resto repartiu com os seis filhos. Hoje só dois irmãos meus têm terras, um alqueire cada um. Agora o meu tio tinha muito mais terras, ele doou para a comunidade para fazer o povoado, que ele mesmo batizou de Santo Antônio de Barcelona”

“Uns 800 alqueirões de terra foram ven-didos para a Suzano há uns 8 anos Esta área era toda de terras de fazendas, agora está com eucalipto. A empresa tentou fechar o córrego do povo, o pessoal se revoltou e colocou fogo no eucalipto. O assunto foi parar na Câmara e a comunidade garantiu o acesso à represa”, infor-ma Anilson Francisco de Souza, filho de dona Dadá e ex-morador de Barcelona.

A primeira situação, logo à entrada do povoado de Barcelona, revela à equipe de reportagem a imagem ao lado. Não haveria problema se a água do Córrego de Barce-lona não estivesse totalmente poluída. “O rio antes era limpo e nós podíamos usar a água para beber, mas hoje é depósito dos dejetos dos açougues... isso traz muito urubu, desses urubus que são mais limpos

que os administradores”, ironiza Nelson Magalhães, motorista escola, casado, natu-ral de Medeiros Neto, residente em São Antônio de Barcelona há muito tempo.

“O problema é que não há rede de esgo-to. Há uns 20 anos eles calçaram tudo aqui, mas fizeram o calçamento sem rede de es-goto. Só tem esgoto na rua principal, que vai todo para o Córrego”, diz Dona Dadá.

A última farinheira do distrito

O problema do córrego de Barcelona

Foto: Mônica Linhares

Foto: Mônica Linhares

Foto: Mônica Linhares

Foto: Mônica Linhares

Foto: Mônica Linhares

Foto: Mônica Linhares

Foto: Mônica Linhares

Foto: Alm

ay Souza

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JULHO / AGOSTO DE 200916

Casarões antigos são obras de arte da arquitetura colonial

Boa parte da história de Caravelas foi e continua sendo destruída. Transformações desenfreadas e irreparáveis nas fachadas dos casa-rões vão acabando com o testemunho da longa história da cidade. Conheça a história dos casarões de Caravelas e entenda por quê este patrimônio deve ser preservado.

Além de obras arquitetônicas de beleza e bom gosto, os casarões de Caravelas são testemunhas

dos longos anos de influência da coloni-zação portuguesa. Os primeiros casarões da cidade foram construídos a partir de modelos europeus trazidos pelos jesuítas de Portugal em meados de 1600, basea-dos no estilo arquitetônico que ficou co-nhecido como barroco português.

A igreja Santo Antônio é um exem-plo deste tipo de construção, pequeno ícone do amplo movimento artístico que se espalhou por toda Europa e América Latina em contraposição à arte renas-centista (veja reportagem abaixo). Sua construção, de estilo colonial barroco simples, teve inicio em 1698, quando chegou à cidade o Padre jesuíta Antônio do Espírito Santo, vindo a ser concluída somente em 1750.

Pouco restou daquela época. Dos sobrados do século XVIII, o último que estava de pé era o da Prefeitura, incen-diada em 1959 em condições ainda pou-co esclarecidas. Depois dos sobrados vieram os casarões do início e de mea-dos do século XIX (anos 1800) hoje a maioria na cidade, construídos quando Caravelas atingia a fase áurea de sua eco-nomia em conseqüência do plantio de café e da intensa atividade do Porto de Caravelas que movimentava o Extremo Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais,

ligados também por ferrovia. Hoje cada uma destas construções guarda um his-tórico infindável das funções que assu-miu. O Casarão de Cultura, por exem-plo, já foi estamparia, depósito, cadeia, escritório Bahia Minas, pensão e órgão de prefeitura. O casarão “Céu azul”, um dos antigos prostíbulos da cidade, virou pensão e depois orfanato!

Requinte - Até o final século XIX as moradias eram feitas com requintes e detalhes que as caracterizavam como verdadeiras obras de arte. “Quanto mais beirais tinha uma casa, mais ricos eram os seus donos” lembra o historiador ca-ravelense Francisco de Almeida, o Chi-quinho. A riqueza de detalhes nas facha-das das edificações era considerada um signo de distinção.

Ainda hoje as ruas do centro his-tórico de Caravelas possuem trabalhos arquitetônicos surpreendentes. É o caso da mansão dos Soares, cuja construção data de 1805. O casarão foi todo reves-tido em azulejos Portugueses, originários de Macau (antiga possessão portuguesa) utilizados para dar graça e requinte à fa-chada. Sua frente tem 5 janelas em gui-lhotinas encaixilhadas com bandeira em estilo rabo de pavão, típicos da arquitetu-ra colonial portuguesa.

Casas como as das famílias Almeida Costa, a família PhiladePho Monteiro, o

Fone: (73) 3647-1060

Um problema que dificulta a pre-servação do patrimônio histórico é o do custo das reformas para a população com menos recursos financeiros. So-mente a restauração de uma frente de casa (duas janelas e uma porta) sai em média R$ 3 mil reais. Veja o depoimen-to de Alex Gonçalves, que trabalha na restauração de janelas e portas de estilo barroco na única marcenaria da cidade especializada: a LuciaAlex

“Eu acho um pouco triste toda esta mudança na fachada dos casarões. Uma coisa bonita que aconteceu aqui foi tombar a cidade, mas isso é para ter sido feito desde 1995, 1990. Eu tenho pou-ca lembrança, mas na rua do Porto, na rua Sete, havia muitos casarões antigos que foram destruídos. Aí vem o proble-ma também da sociedade que é pobre, desmanchar e fazer no estilo moderno é

O projeto de revitalização do centro histórico de Caravelas foi enviado ao Ministério de Turismo em 2006, quan-do foi aprovada a primeira etapa, para a pavimentação da Rua do Porto. Na época, a Prefeitura não tinha certidão negativa de débitos e os cerca de R$ 200 mil que já haviam sido destinados pelo governo federal ao município não puderam ser utilizados para realizar esta obra tão esperada pela comunidade. A segunda etapa previa a recaracterização das fachadas, mas não se passou sequer da primeira. O valor total previsto no projeto entregue em 2006 para a revita-lização do centro histórico era da ordem de R$ 3 milhões de reais. Uma cópia do mesmo foi entregue ao presidente Lula em sua vinda a Caravelas, no dia 05 de junho de 2009.

A arte barroca nasceu na Itália, no século XVII, e acabou se espalhando pela Europa e então colônias americanas. Era uma arte de formas opulentas e rebus-cadas, que encontrou na Igreja Católica um espaço importante de manifestação, numa época em que se via ameaçada pe-las igrejas protestantes. Contrariamente à arte do Renascimento, que pregava o predomínio da razão, no Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas. Na arquitetura, elementos cur-vos, impetuosos, tomaram o lugar de ele-mentos retangulares e harmônicos, com amplas volutas e profusão de detalhes..

No Brasil, o barroco floresceu ao longo da maior parte de sua curta história “oficial” de 500 anos, num período em que os residentes lutavam por estabele-cer uma economia auto-sustentável, até onde permitisse sua condição de colônia

Por Almay Souza e Leidiane Assunção

casarão da Cultura, a biblioteca, a casa da professora Célia, e as do herdeiro do Seu Almiro Fonseca, em frente a Casa da Pro-fessora Marilene Gouvêa… a casa de Val-dir e do Coronel José, a atual Secretaria de Turismo, a Secretaria de Educação, a casa da Abrolhos Turismo, os sobrados da Fa-mília Carvalhal, o casarão de Fernando e Sandra (filha de finado Doninho), o pré-dio do Sindicato dos Estivadores, a casa do Professor Francisco onde atualmente funciona o IBJ (Instituto Baleia Jubarte) são algumas que preservam a tradição e a história de construções consideradas pa-trimônio histórico Caravelense. Revelam um passado não tão distante, que ficou empobrecido pelo descaso e pela busca insensata de modernidade.

Destruição e Reconstrução - As mudanças nos casarões antigos come-çaram na década de 40, quando a então Prefeitura Municipal de Caravelas ofe-receu dez anos de isenção de imposto

(IPTU), para os moradores que refor-massem suas casas de fachadas coloniais transformando-as em casas modernas, com o objetivo de acompanhar o dito “progresso”. “O que queriam era mo-dernizar uma cidade que consideravam velha. Nessa época ninguém falava em turismo, nem em preservação de pré-dio antigo”, afirma Francisco. Com essa oferta, vários proprietários de casarões optaram por reformar seus lares para dar lugar a modernidade, e é claro, ficar 10 anos sem pagar IPTU.

Ao contrário do que as pessoas ima-ginavam, Caravelas não ficou mais bonita: as mudanças levaram à descaracterização de toda a beleza histórica singular dos ca-sarões. “É uma pena que Caravelas nunca tenha um prefeito voltado para a cultura, que tivesse a visão da cultura como um processo de desenvolvimento”, lamenta o Coronel José, um dos mais atuantes re-construtores do patrimônio histórico da cidade. Para o Secretário de Cultura, Dó

Galdino, ainda falta atenção à questão cultural, que é estratégica para Carave-las. “Para manter os valores da comuni-dade é fundamental que esta preserve a sua história. Caravelas tem uma vocação para o turismo histórico, mas para isso necessitamos revitalizar o centro históri-co e preservar as fachadas”, destaca.

Com o foco na preservação, o proje-to da Secretaria de Cultura para o centro histórico está em sintonia com o que vem acontecendo (de forma bem sucedida) há décadas nas históricas cidades euro-péias. Dó Galdino fala em transformar o centro histórico em um espaço cultural, onde existam restaurantes com comidas típicas, pousadas, salas de visitas, museus e centros de apresentações culturais. “Isto traria um diferencial enorme na região, pois nem mesmo Porto Seguro possui estes espaços. O turismo históri-co é um grande agregado para o turismo de Abrolhos”, ressalta.

mais barato. Há pessoas que acham bo-nito, mas têm que desmanchar porque não têm dinheiro para colocar como deveria ser. Se a prefeitura tivesse um projeto para ajudar as pessoas, tenho certeza de que Caravelas voltaria a ser o que era antes.

“Se a prefeitura tivesse um projeto para ajudar as pessoas, tenho certeza de que Caravelas voltaria a ser o que era antes”

Projeto de revitalização do centro histórico

pesadamente explorada pela metrópole. Ergueu-se num terreno em luta, nos lon-gos séculos de construção de um novo e imenso país. O resultado de seus entre-cruzamentos e mesclas é o acervo origi-nal e riquíssimo que hoje se vê espalhado em praticamente todo o litoral brasileiro. Essa arquitetura encontrou maior expres-são em Minas Gerais – onde a tendência era equilibrar as formas – e no Nordeste (sobretudo Bahia e Pernambuco), onde a tendência era rebuscar o estilo.

Barroco: Um movimento para expressar as emoções

MEMÓRIA

Janelas peculiares de Caravelas

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lmay Souza

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ônica Linhares