Caridad piñeiro [nocturne 02] o chamado do destino (harlequin dueto 02 2)

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O Chamado do Destino Fate Calls Caridad Pineiro A maioria das mulheres sonha em ser arrebatada por um homem, e não seqüestrada por um vampiro arrasadoramente lindo. Mas, para Connie Morales, os tentadores beijos de Hadrian a levam a desejar dar a vida a alguém que sequer acredita ter uma alma... Digitalização: Barbara K Revisão: Cris Bailey Apoio: Livros Corações

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Transcript of Caridad piñeiro [nocturne 02] o chamado do destino (harlequin dueto 02 2)

O Chamado do Destino Fate Calls

Caridad Pineiro

A maioria das mulheres sonha em ser arrebatada por um homem, e não seqüestrada por um vampiro arrasadoramente

lindo. Mas, para Connie Morales, os tentadores beijos de Hadrian a levam a desejar dar a vida a alguém que sequer acredita ter uma

alma...

Digitalização: Barbara KRevisão: Cris Bailey

Apoio: Livros Corações

Querida leitora, Em O chamado do destino, de Caridad Pineiro, Connie Morales é abordada por

um homem estranho, mas muito sedutor, que lhe implora que pare de tocar seu sino de Natal. Para garantir isso, Hadrian, um antigo vampiro de mais de 1800

anos, esta disposto até mesmo a sequestrá-la... e se expor a seus doces encantos...

Publicado Sob Acordo Com Harlequin Enterprises II Título original: FATE CALLS

Copyright © 2007 by Caridad Pineiro Scordato Originalmente publicado em 2008 por Silhouette Noctume

ABREU’S SYSTEM Impressão:

RR DONNELLEY Fernando Chinaglia Distribuidora S/A

Tradução: Maurício Araripe

Capitulo UmMORTE E destruição eram os únicos presentes de Natal que o

destino já havia dado a Hadrian Aurelius. Agora, o destino o presenteara com mais uma calamidade natalina — um grupo de bons samaritanos com sinos que haviam acampado do outro lado da rua de sua casa, perturbando o seu sono diurno e boa parte de suas noites.

O clamor do sino começava no meio da manhã, perfurando-lhe o cérebro enquanto ele dormia após uma longa noite rondando as ruas de Manhattan. Baixo e esporádico, ele era capaz de bloquear o barulho de sua cabeça pela maior parte do tempo, até a chegada do crepúsculo, e, com ela, o tinido se tornava mais alto e insistente. Exigente. Seguido de perto por uma alegre saudação, doce o suficiente para estragar a refeição que seu guardião lhe trazia quando acordava.

Por várias semanas, Hadrian procurou se convencer de que poderia aguentar até que fossem embora. Afinal, era um dos mais velhos vampiros e havia sobrevivido a quase dois mil anos de desafios muito maiores.

Mas havia algo naquele maldito sino que o tirava do sério. Hadrian jogou longe as cobertas, caminhou até a janela e olhou o seu atormentador vestido de Papai Noel postado diante da biblioteca pública. Não havia muito a se dizer a respeito do “bom velhinho” que estava parado ao lado do pote de contribuições, balançando alegremente o braço para cima e para baixo, pedindo aos transeuntes que fizessem uma pequena doação para aqueles que não tinham lar.

Escutou uma ligeira batida à porta, seu guardião, George, trazendo um lanche para ajudar a espantar a letargia de seu descanso diurno.

— Entre — ordenou, mas quando George entrou trazendo o carrinho sobre o qual repousava o cálice dourado cheio de sangue fresco, Hadrian o dispensou. — Obrigado, George, mas pode levar embora.

Ele sorriu, e olhou novamente para o Papai Noel lá embaixo. — Acho que vou jantar fora hoje à noite.

A INCOMODA BARBA de poliéster lhe irritava a pele. O tecido grosso da fantasia, um pano de natureza indeterminada, roçava o seu corpo em diversos locais, provocando desconforto em tais pontos. Ela sequer queria pensar no cheiro de azedo do qual não conseguira se livrar apesar de tê-lo lavado cuidadosamente.

Connie Morales se remexeu, novamente, na fantasia em meio à qual o seu corpo pequeno estava nadando, em desafio às alegações do fabricante de que “um tamanho servia para todo mundo”. Dando de ombros, ela moveu os ombros assimétricos da fantasia, em uma tentativa de fazer com que se assentassem melhor. Ignorando o odor insistente, balançou a sineta, forçando um tom de alegria na voz ao se dirigir à bem vestida mulher de negócios que vinha em sua direção. Connie exibiu o seu mais belo sorriso, sem saber se este seria visível sob a barba volumosa. Sentiu-se tomada de satisfação quando a moça retribuiu o sorriso e despejou alguns trocados no pote de contribuições.

— Obrigada por ajudar os desabrigados — disse Connie com uma alegria pouco sincera, suas palavras acompanhando o ritmo do erguer e abaixar de seu braço e os tons vibrantes das badaladas ecoando no ar frio do inverno.

Cada tinir das moedas no pote de contribuições trazia satisfação a Connie. O cair silencioso de uma nota no pote era ainda mais recompensador. Cada doação significava mais para o abrigo no centro, que seu prestigioso escritório de advocacia na zona nobre da cidade havia adotado para a temporada das festas.

Como uma associada empreendedora, havia diversas motivações por trás de sua decisão de participar do projeto natalino de estimação do sócio majoritário. O principal era interesse próprio, visto que o tempo passado no abrigo e uma boa quantia no pote de contribuições lhe renderiam um bocado de pontos com o chefão. Pontos que poderiam levá-la à sociedade que vinha trabalhando tanto para conseguir nos últimos quatro anos. Mas tinha de admitir que, em meio ao interesse próprio, havia algo mais que havia sido despertado nela, forçando-a a considerar que o que vinha fazendo era importante para um bocado de gente que possuía muito menos do que ela.

Quem sabe não era o espírito natalino. Connie dedicou um fervor renovado ao sorriso e ao balançar do braço. Sua atual situação despertava lembranças de seus próprios Natais passados. Os presentes simples sob a árvore, tomados especiais devido ao amor com que eram dados. Jantares ao redor de uma mesa cheia de comida e abençoada com uma variedade de irmãos, seus filhos e os pais dela.

Há muito tempo que não permitia a entrada daquele espírito natalino em suas festas de fim de ano. Apenas mais um dia e suas férias de fim de ano começariam. Ela faria o possível para aproveitar este final de ano. Logo de manhã cedo daria início às suas compras e se prepararia para visitar a família.

— Um feliz Natal para você também — disse, balançando a cabeça e sorrindo para um homem que acabara de deixar cair uma nota de cinco dólares no pote. Ao acompanhar com os olhos a passagem do indivíduo caridoso, notou um homem bem vestido deixando a casa do outro lado da rua.

Teria sido impossível não notá-lo. Alto. Esbelto. Um rosto esculpido que poderia até ser tido como bonito, caso houvesse qualquer vestígio de vida nele. Mas, não havia nada. As linhas cinzeladas de suas feições eram duras. Inflexíveis. O cabelo castanho escuro elegantemente cortado à altura dos ombros emoldurava o rosto austero. Seus lábios eram dois riscos finos. Ela não pôde deixar de imaginar de que, se ele sorrisse...

Só que ele não o fez. Em vez disso, lhe lançou um olhar que fez com que um arrepio percorresse a espinha dela. Ele voltou os olhos escuros, quase desalmados, para ela.

Era o tipo de homem que ninguém queria contrariar. Seu olhar se voltou para o sino na mão dela, e Connie se deu conta de que ela devia irritá-lo. De algum modo, caíra no desagrado dele. Contudo, tal escrutínio e desdém não a incomodavam. Afinal de contas, era advogada.

Estampando um sorriso de determinação no rosto, ela ergueu a mão ainda mais do que o normal e trouxe o sino para baixo com bastante força. Este ressoou sonoramente pela noite de inverno, deixando o desconhecido charmoso saber que não a dissuadiria de sua missão.

HADRIAN FECHOU as mãos ao lado do corpo, resistindo à vontade de estrangular o teimoso Papai Noel que desafiadoramente balançava o sino como se Hadrian não houvesse acabado de lhe lançar um olhar irritado.

Com o poder que sua avançada idade de vampiro lhe fornecia, não teria dificuldades em cuidar do Papai Noel. Na verdade, poderia fazê-lo dali mesmo, e ninguém desconfiaria de nada. Mas, à medida que o Papai Noel balançava o braço com um fervor cada vez maior, Hadrian foi se dando conta de que tal satisfação exigia uma abordagem mais pessoal.

Mais tarde, pensou, desviando o olhar da figura insignificante do Papai Noel. Era a primeira noite do saturnal e pretendia aproveitá-lo do mesmo modo que o fizera quando era mais jovem. Quando ainda era vivo. Uma noite de folia e outros prazeres carnais que seriam perfeitos para dissipar a irritação provocada pelo Papai Noel badalador. Talvez, caso se divertisse bastante durante a festança, poderia até reconsiderar, desistir de rasgar a garganta de seu atormentador de vermelho. E, caso não se divertisse? Um lanchinho à meia-noite sempre contribuía para melhorar o humor.

Capitulo Dois HADRIAN BEBEU da taça de vinho, observando as jovens

núbeis desfilando pelo Puck Building, cortesia de seu velho amigo, Maximillian.

Como um dos modistas mais requisitados da cidade, Maximillian sempre contava com a presença de homens e mulheres, belos e jovens, assim como a dos vampiros mais poderosos da cidade em todas as suas festas.

Esta noite não era diferente. Mulheres altas e magras se desviavam da mesa cheia de comida e seguiam para o bar, onde homens igualmente altos e magros se juntavam a elas, ansiosos por uma oportunidade com uma das mulheres ou com um deles. Hadrian costumava evitar esses tipos. Seu sangue era fraco

devido aos jejuns constantes e ele não tirava satisfação de encontros sexuais com um saco de ossos.

Não que recentemente costumasse tirar satisfação de qualquer encontro sexual, pensou, examinando a multidão e os aproveitadores das pessoas lindas. Os estilistas. Pessoas no ramo de relações públicas e outros que se aproximavam mais do seu gosto e eram fáceis de seduzir.

Avistou uma jovem atraente perto da mesa do bufê, enchendo o seu prato com iguarias. Era de altura média, com olhos castanhos e tristes e o cabelo curto, cor-de-chocolate, lhe adornava o rosto atraente.

Seu corpo também era atraente, Hadrian pensou. Seios fartos e, pelo visto, verdadeiros, com uma cintura mediana e quadris pueris. Apesar de gostar de suas mulheres mais curvilíneas, havia algo de agradável na aparência geral da jovem. “Agradável” sendo a maior emoção que uma mulher podia despertar nele após sua longa existência recheada de inúmeras parceiras anônimas.

Após quase dois mil anos, não havia mais nada capaz de lhe trazer satisfação. E, naqueles instantes, quando levava as presas ao pescoço de uma mulher e se alimentava, era tomado de uma fúria que liderava todas as outras emoções, estragando a reação de todas as suas outras necessidades. Fúria dirigida ao vampiro que o transformara. Fúria dirigida aos humanos que haviam destruído a vida que construíra para si mesmo após ter sido transformado.

Hadrian inspirou profundamente, controlando a fúria que corria por suas veias, ao ver humanos e vampiros inadvertidamente se misturando na multidão. Os humanos não tinham conhecimento dos imortais que circulavam entre eles, enquanto os demônios estavam avaliando os mortais, do mesmo modo que alguém se preparando para jantar escolhe uma lagosta em um tanque.

Ele não saberia dizer ao certo quem ele odiava mais. A maior parte da multidão estava reunida no grande salão do Puck Building, onde Maximillian havia decidido oferecer a sua “pequena” reunião para comemorar a temporada de festas e o recente lançamento de uma linha especialmente desenvolvida para uma das maiores lojas de departamentos do país. Cerca de 500 pessoas circulavam no interior do salão de festas e da galeria adjacente. Uma longa fila se estendia lá fora, no frio, de pessoas ansiosas para se juntar às festividades da noite.

— Pare de ficar com essa cara amarrada — disse Maximillian ao se aproximar e passar o braço ao redor do ombro de Hadrian.

Ele olhou de esguelha para o amigo extravagante. Ignorando a regra de não usar branco após o Dia do Trabalho, Maximillian estava com uma larga túnica branca bordada de dourado nas mangas, na bainha e na gola. Calças também largas desciam por sob a túnica. A vestimenta lembrou Hadrian das togas que os dois haviam usado na juventude, antes que um breve encontro amoroso com uma nova paixão durante o saturnal houvesse dado fim à vida de ambos.

Hadrian apontou para as decorações. — Escolheu tudo isso como brincadeira? — Não acha festivo? — retrucou Maximillian, gesticulando

irreverentemente com a mão e com um tremor de moça na voz. Ramos de folhagem e guirlandas adornavam as várias

paredes e arcos. Estrelas e sóis dourados decoravam os ramos de pinho e azevinho. Espalhados pelo recinto estavam pequenos pinheiros, também cobertos de ornamentos dourados e enfeitados com vibrantes fitas roxas. O aroma de sempre-vivas trouxe à sua mente lembranças de seus feriados em Roma. Tal recordação veio acompanhada de intensa dor.

— Acho torturante. Maximillian inclinou-se pata bem pertinho dele, como um

amante poderia ter feito, e sussurrou-lhe no ouvido: — Talvez porque seja incapaz de perdoar e curtir, mio amico. Antes que Hadrian pudesse retrucar, Maximillian seguiu para

o bar, onde um casal de jovens parecia estar aguardando-o. Quando Maximillian colocou um braço ao redor da cintura de cada um deles, ele olhou para Hadrian, piscou e sorriu, como se estivesse lhe fazendo um convite.

Talvez Maximillian pudesse encontrar alegria nos braços deles, ou não, pensou Hadrian, recusando o convite com uma ligeira sacudidela da cabeça.

Um garçom se deteve diante dele e Hadrian pegou uma taça de vinho tinto da bandeja. Outro garçom aproximou-se, oferecendo uma variedade de aperitivos, alguns enfeitados de dourado, como era o costume romano. Hadrian aguardou que o homem fosse embora e procurou no meio da multidão a mulher que havia avistado antes, pretendendo se apresentar e seduzi-la a acompanhá-lo até um canto reservado, onde poderia saciar sua fome.

Ele caminhou lentamente através da multidão, lutando contra os cheiros e ruídos que irritavam seus afiados sentidos vampirescos. Uma orquestra tocava bem alto em um dos cantos,

forçando um aumento de volume naqueles que tentavam ter uma conversa.

Ao atravessar a multidão, mais de uma mulher tentou lhe atrair a atenção com um sorriso cordial, mas ele era imune a tais súplicas. Só se contentaria com outra no caso de falhar com o seu alvo escolhido. Em retrospectiva, a perseguição havia se tornado a única parte divertida do jogo para ele, visto que o final da caçada normalmente lhe trazia tão pouca satisfação.

Ele insistiu e, por fim, a encontrou, parecendo um pouco infeliz e ligeiramente deslocada em um canto do aposento adjacente. Segurava uma taça de vinho na mão, cheia até a metade. Quando ele se aproximou e sorriu, a mão segurando a taça titubeou. Não estava tão barulhento assim no canto escolhido pela moça, mas, ainda assim, Hadrian sentou-se ao lado dela na borda da janela e inclinou-se na direção dela.

— É bom achar um cantinho tranquilo, não concorda? — Deveria me encontrar com algumas pessoas, mas este é

meu primeiro evento. É um pouco intimidante. Ela sorriu para ele e levou a taça à boca para um gole

trêmulo. — Maximillian é famoso por exagerar. — Ele bebeu do próprio

copo antes de dizer: — Mil perdões. Meu nome é Hadrian, e o seu é...?

— Patricia. Conhece Maximillian pessoalmente? Sua pergunta foi feita com um tom de admiração. — Somos amigos de longa data, mas estas festas podem ser...

cansativas. Quer ir a algum lugar mais tranquilo? Talvez comer alguma coisa?

Sua mão tremeu novamente, antes que ela se virasse para ele e o examinasse cuidadosamente, a princípio para determinar se ele estava falando sério, e depois para saber se ele era de confiança. Assim como as dele tantos anos no passado, as prioridades dela estavam invertidas.

Talvez, se ele tivesse tido as prioridades no devido lugar, sua vida houvesse sido diferente. Devia ter sido aprovado, tendo em vista que ela perguntou:

— Aonde gostaria de ir? Humanos eram fáceis demais, Hadrian pensou, ao passar o

braço pelo dela e deixar o prédio em sua companhia.

O BRAÇO DE Connie doía de tanto sacudir o sino. Ao olhar discretamente para o relógio, ela se deu conta de que já estava tarde, de que era hora de voltar para casa, ainda mais considerando que a rua residencial já estava quase deserta.

Haviam escolhido este ponto diante da biblioteca em uma elegante vizinhança do East Side tanto pela segurança quanto pela perspectiva de um bom lucro. Apesar da relativa segurança da região, ela sabia que ficar até tarde em qualquer lugar podia ser arriscado. Além do mais, a biblioteca havia fechado há quase uma hora, e não havia mais quase pedestres da rua, minimizando a possibilidade de doações.

Ela pegou o pote de doações, pretendendo deixa-lo no pequeno escritório ao qual a biblioteca tivera a generosidade de lhes oferecer acesso. Ao fazê-lo, avistou um homem do outro lado da rua. Ele estava escondido nas sombras da escadaria de acesso à casa de tijolos. Por um instante, ela se perguntou se não seria o mesmo homem atraente que ela havia visto antes, mas ele permaneceu nas sombras, o que a deixou intranquila. Com a chave que a bibliotecária lhe fornecera, ela abriu a porta, entrou e a trancou atrás de si. Movendo-se rapidamente, ela guardou as doações da noite e o pote em um local seguro. Pegando a bolsa na gaveta da escrivaninha, caminhou de volta até as portas de vidro da entrada principal da biblioteca.

Ainda ligeiramente enervada pelo homem nas sombras, ela vasculhou os arredores em busca de qualquer sinal dele. Não viu nada. Quando um carro de polícia se deteve perto da porta da biblioteca, ela foi embora, seguindo na direção de Lexington Avenue e da linha de metrô que a levaria para casa, em seu pequeno estúdio em Chelsea.

Ao caminhar, ocasionalmente olhava por sobre o ombro, atenta, mas tudo parecia em ordem e ela resolveu considerar o homem nas sombras como um produto de sua imaginação. Talvez fosse apenas vontade de dar outra espiada no bonitão que saíra da luxuosa casa de tijolos, um pouco mais cedo, naquela mesma noite.

Controle-se, Connie. Qualquer um com uma aparência daquelas e que more nesta região cara é areia demais para o seu caminhão. Estava mais acostumada a cerveja e salgadinhos, não champanha e caviar. Tal pensamento fez com que seu estômago roncasse, lembrando-a que ela não comera nada desde antes do início de seu turno como Papai Noel. Sua boca salivou ao passar por um restaurante Chipotle. Embora fosse cubana, poderia comer comida mexicana todos os dias da semana, mas, com o frio do inverno, a vasilha de seu burrito favorito já estaria congelada quando chegasse em casa. Sem falar que estava tentando perder alguns quilos, para compensar os que certamente ganharia graças a todas as festas e refeições natalinas que ainda estavam por vir.

Seus quadris já estavam arredondados demais para aguentar o peso extra. Para mim, só uma refeição pré-congelada de baixa caloria, pensou ao passar pela borboleta da estação do metrô e seguir às pressas para a plataforma. Havia alguns outros passageiros aguardando lá. Pelo jeito, alunos de Hunter College, que ficava ali perto.

Com uma enorme lufada de ar que se aproximava lentamente pelo túnel e o tremor sob seus pés, o trem subterrâneo anunciou a sua chegada iminente. O apito estridente e o silvo dos freios incomodaram seus ouvidos antes que o trem se detivesse na estação. Ela subiu a bordo, e logo estava a caminho de Union Square. A área havia se tornado nobre há vários anos, embora o estúdio de Connie ficasse a alguns quarteirões dali, na Fourteenth Street, em uma parte da cidade que não era tão nobre assim. Ainda. O enobrecimento da região estava rapidamente chegando nela.

O pequeno estúdio era perfeito para ela. Era um bom investimento até obter sociedade e talvez encontrar alguém e se estabelecer em uma casa com filhos nos bairros elegantes mais afastados do centro. Uma vida previsível, mas, por outro lado, a previsibilidade se adequava à natureza dela.

Sempre havia sido a garota perfeita. Aquela em quem todo mundo confiava para ser estável e responsável. Talvez outras pessoas achassem isso maçante, ela considerava tranquilizador.

Mal levou 15 minutos para alcançar sua parada e outros dez até estar colocando a chave na porta de seu apartamento estúdio. Ao abrir a porta, foi recebida por um miado familiar. Sua gata preta, Osiris, a aguardava ansiosamente lá dentro. Quando ela entrou, a gata miou mais uma vez e lhe deu as boas-vindas enroscando-se sinuosamente em suas pernas. Connie curvou-se, pegou a gata no colo e a abraçou bem apertado, o que lhe rendeu um rosnado de protesto. Ela soltou o animal, que a seguiu até a cozinha.

A vasilha de cerâmica alegremente enfeitada de Osiris estava vazia. Devido à falta de água, o chafariz automático cuspia furiosamente. Sem dúvida eram estes os motivos para as boas-vindas tão entusiásticas. Connie encheu as duas vasilhas antes de colocar o jantar congelado no microondas e vestir um moletom quente e confortável.

Depois, abriu o sofá-cama na sala de estar e ligou a TV no noticiário do final da noite que estava passando, mas ela mudou de canal até encontrar uma reprise de um de seus dramas policias favoritos.

Algo a respeito da eterna luta entre o bem e o mal sempre a intrigara. Fora por isso que havia se tornado advogada. Embora um ano no escritório do promotor público houvesse lhe mostrado que se enganara ao tomar tal decisão. Depois de entrar em acordo em mais casos do que gostava de se lembrar, havia optado por continuar sua carreira em uma firma de advocacia onde, pelo menos, sabia o tipo de pessoas que estava representando.

O microondas apitou, despertando-a de seus pensamentos. Como fazia todas as noites em que não estava trabalhando até tarde, ou saindo com um colega para beber alguma coisa, Connie pegou o seu jantar e se acomodou sob as cobertas de sua cama. Ao comer, metade de sua atenção estava dirigida ao programa de TV e metade se voltava para o homem que havia visto antes.

Enchendo o garfo com um pouco de macarrão com queijo de baixo teor calórico — tradução: pouco saboroso —, ela procurou entender por que ele ficara tanto tempo em sua cabeça. Não costumava deixar se levar por um rostinho bonitinho. Era sensível demais para isso. Talvez houvesse sido a fúria na escuridão, o olhar fulminante que ele lhe lançara. Cheio de raiva e até dor.

Quanto melodrama! Connie zombou de si mesma. Apesar de sua natureza normalmente sensível, sempre havia sido um pouco sonhadora, devorando inúmeros romances literários e assistindo a dezenas de filmes de amor. Sem dúvida nenhuma, a advogada durona que ela apresentava para o restante do mundo, tinha o seu lado mole. A advogada durona que passava horas demais no escritório, o que não lhe deixava muito tempo para uma vida social.

Se Connie fosse ser sincera consigo mesma, estava aí o verdadeiro motivo de seu fascínio pelo desconhecido. Há muito tempo que não tinha ninguém além da gata para lhe aquecer os lençóis.

A gata pulou para a cama e se acomodou nos pés de Connie, afofando o local com as patas e circulando a área até ter certeza de que achara um ponto confortável para se deitar. Um ronronar de contentamento logo vibrou pelas pernas de Connie, e ela sentiu algo quente sobre seus pés. Um substituto triste e inadequado para o calor rijo do corpo de um homem.

Connie terminou sua refeição e se afundou nos travesseiros, tomando cuidado para não desalojar a gata e verificando mais uma vez se o alarme estava ligado. Caso visse o homem atraente amanhã, talvez fizesse algo para mudar a sua atual situação.

Capitulo Tres O CALOR DELA o envolvia, macio e acolhedor, enquanto

Hadrian arremetia para dentro dela, alimentando a sua paixão. Ela gemia e se agarrava aos seus ombros. Afundava as unhas profundamente e erguia os quadris para enterrá-lo mais profundamente dentro de si. Seus gritos baixinhos o incentivavam, mas ele sabia que, quando ela chegasse ao clímax, haveria apenas uma coisa que ele iria querer. Apenas uma coisa que lhe traria um pouco de satisfação.

Ele a observou com interesse. Um ligeiro rubor se espalhara por seus seios amplos, que sacudiam gentilmente devido à força das arremetidas dele. Seus mamilos cor-de-caramelo claro pareciam dois botões intumescidos, devido às caricias que ele lhe fizera com a boca. Ainda podia ver a marca úmida de seu beijo. Inclinando a cabeça, ele lhe tomou o mamilo na boca novamente e ela choramingou de prazer diante da intensa sucção. Ela agarrou os cabelos de Hadrian, encorajando-o a continuar. Ele começou a sentir a luxúria do demônio se intensificando no seu íntimo. Há muito que não sabia o que era a luxúria humana. O homem no seu íntimo havia morrido há muito tempo.

Ao redor de sua ereção, o latejar e apertar do corpo dela lhe dizia que a mulher estava quase chegando lá, quase pronta para ele tomar o seu prazer final. Hadrian intensificou a movimentação de seus quadris, arrancando dela gemidos, em parte de prazer e em parte de dor. Não gostava da dor, mas a vida lhe ensinara que os dois estavam irrevogavelmente entrelaçados.

Ele arremeteu mais uma vez e ela chegou lá. Pôde perceber, pelo modo como o coração dela pulou uma batida e o sangue lhe percorreu o corpo, levando-a ao clímax. Ela gritou de prazer, a cabeça jogada para trás contra os travesseiros, os calcanhares fincados no colchão para maximizar a penetração dele. Era chegada a hora. Enquanto dava continuidade aos movimentos dos quadris, prolongando o clímax da mulher, beijou o pescoço que ela deixara exposto para ele. Podia sentir o perfume almiscarado da excitação dela. Sob seus lábios sentiu o sangue correndo pelas suas veias. Expondo as presas, ele as roçou pela pele frágil do pescoço da mulher, e esta estremeceu, percebendo que algo não estava certo. Seria a última coisa de que se lembraria amanhã de manhã, ele pensou, afundando os caninos no pescoço dela e se

alimentando do sangue carregado de paixão que lhe percorria o corpo.

Ela gritou de dor, mas à medida que o beijo do vampiro ia tomando conta dela, seu grito foi se transformando em um gemido de prazer. A humana respondeu ao chamado do demônio e ela segurou a cabeça dele no pescoço, implorando mais. Foi só então, com o sangue dela iniciando uma corrida selvagem através do corpo dele, energizando-o com a vida dela, que Hadrian foi capaz de experimentar prazer.

Repetidamente o vampiro arremeteu para dentro dela enquanto se alimentava. Logo, teve de parar. Se bebesse mais uma única gota, ela não sobreviveria. Arrancando-se do pescoço dela, ele arremeteu uma última vez e soltou sua semente. Uma semente morta, a não ser que a transformasse. Só então, com o beijo do seu progenitor correndo pelas suas veias, a semente poderia dar origem à vida. Só então, e só se ela estivesse no ápice de sua fertilidade. Contudo, esta noite, ela era apenas outro recipiente vazio, dando prazer ao demônio com o seu sangue, enquanto o homem aprisionado no interior dele permanecia morto.

Sua vida era assim agora. Fria. Vazia. Estéril. Ao deixar o corpo da mulher, agora gemendo sem energia sob ele, devido à perda de sangue, Hadrian sentiu-se tomado de fúria. Por algum motivo inexplicável, a fúria trouxe consigo a lembrança do Papai Noel, alegremente recebendo as festas com badaladas. Ele imaginou como poderia silenciar aquele Papai Noel e sorriu, embusteiro.

A TEMPERATURA HAVIA caído vertiginosamente, chegando por volta dos cinco graus negativos, e, com o vento, a sensação térmica devia estar abaixo dos dez graus negativos. Havia a ameaça de que, com o cair da noite, a temperatura baixasse dos 18 graus negativos. Mas o mau tempo não impedira Connie de aceitar sua vez à frente do pote de contribuições. Ela havia se preparado naquela manhã, com uma visita à loja de esportes da vizinhança, onde, além de comprar algumas camisetas dos Mets para o cunhado e sobrinhos, havia arrumado roupas de baixo de tecnologia de ponta, que, de acordo com a propaganda, eram capazes de manter uma pessoa aquecida mesmo sob temperaturas abaixo de zero.

O fato de ter posicionado o pote de contribuições sob o sol também ajudou bastante. Os raios fracos do sol de inverno haviam proporcionado um calor agradável quando ele assumiu seu posto. Da mesma forma, o enorme prédio na esquina

bloqueava o pior do vento. Contudo, o que mais ajudava, era se manter em constante movimento. Ela marchava para frente e para trás sobre, a calçada, e mantinha o braço em constante movimento, tocando o sino, convocando os pedestres que desafiavam o frio e ocasionalmente ofereciam uma doação.

Quando um dos braços ficava cansado, ela trocava o sino de mão. Os transeuntes pareciam entender a força de sua determinação em um dia de inverno tão perverso. A maior parte das contribuições havia sido em notas, dando-lhe incentivo para continuar com sua tarefa, apesar da crescente dormência nos dedos e a ferroada do vento nas faces.

A noite caiu mais depressa naquele dia. Ou talvez apenas parecesse assim, visto que, assim que os últimos raios de sol desapareceram, o frio cortou através do traje de Papai Noel e de sua roupa de baixo térmica. Ela apressou o passo ao longo da calçada, na esperança de que a velocidade maior ajudasse a aquecê-la. O sino tocava de acordo com o compasso das passadas. Uma passada, duas passadas, toque o sino. Ela tentou manter o ritmo e aquecer suas cada vez mais frias extremidades.

Um passo, dois passos... — Pare com isso. Connie estava tão concentrada que não registrou a

aproximação do homem. A primeira coisa que notou foram os caríssimos sapatos pretos

lhe bloqueando a passagem. Ela ergueu o olhar, subindo pela elegante calça cinza-carvão e um sobretudo de caxemira bege-claro.

Um cachecol com uma estampa inesperadamente exótica, as cores e o desenho patenteado de Maximillian, levava a um queixo forte e lábios cheios retorcidos em uma careta de desagrado.

O homem atraente do dia anterior. Ele havia invadido os sonhos dela mais de uma vez na noite passada. Sonhos eróticos cheios de imagens impróprias do que os dois poderiam fazer entre as quatro paredes de sua luxuosa casa de tijolos. Sem dúvida nenhuma, muito mais sexy do que o sofá-cama de seu estúdio.

Erguendo o olhar mais alguns centímetros, vislumbrou as feições sombrias e intimidantes das quais se lembrava. A irritação ainda estava estampada no rosto másculo.

— Como disse? — ela perguntou, ligeiramente aborrecida com a ordem e o modo como ele havia se colocado em seu caminho, invadindo o seu espaço pessoal. Ele estava postado a centímetros dela, sua presença notavelmente dominadora.

— Será que pode, por favor, parar com essas badaladas infernais?

Ao lado do corpo dele, as mãos abriam-se e fechavam-se. — Faz parte do trabalho, as badaladas. Ela apontou para o pote de contribuições, a poucos metros de

distância. — Acho que o traje de Papai Noel e o pote já dão uma boa

ideia do que quer. Não há necessidade do sino. — Temos permissão para... — Não me importa o que você tem. Quanto quer para parar

com as malditas badaladas? — Hadrian perguntou, sua voz escalonando de raiva com cada palavra.

Decerto o Papai Noel diante dele tinha um preço para o seu silêncio. Afinal de contas, todo mundo tinha o seu preço. O Papai Noel o olhou de alto a baixo, como se estivesse avaliando-o. Depois, enfrentou o seu olhar com olhos determinados azul-acinzentados, emoldurados por cílios excepcionalmente grossos.

— Não seria certo... Quando o Papai Noel falou, uma rajada de vento tirou a barba

do lugar e abafou o final de sua resposta. Irritado, Hadrian disse: — Será que pode tirar essa fantasia horrorosa, para que

possamos conversar como indivíduos civilizados? Quando o Papai Noel tirou o gorro e a barba, Hadrian se deu

conta do terrível engano que cometera. Sob a fantasia estava uma mulher. E uma bela mulher. Atordoado, ele ficou momentaneamente em silêncio. Deveria ter percebido que havia uma mulher sob a fantasia devido à sua estatura delicada e o tom mais agudo de sua voz. Ela ergueu o rosto para fitá-lo. Era vários centímetros mais baixa do que ele, que tinha mais de um metro e oitenta.

O olhar azul-acinzentado se fixou no rosto dele, as faces pálidas devido ao frio. Lábios sensualmente fartos umedecidos com algum tipo de brilho labial se cerraram em sinal de desaprovação. Com cuidadosa precisão, como se estivesse falando com uma criança, ela repetiu a afirmativa anterior:

— Não seria certo aceitar uma doação para parar de tocar o sino. Não seria certo porque... Contribuições devem ser feitas de livre e espontânea vontade, do fundo do coração. Não porque quer algo em troca — ela disse, erguendo o queixo com determinação.

— Porque a solidariedade é a essência do espírito natalino — ele retrucou, apesar do tom de voz contradizer suas palavras.

A jovem diante dele não reagiu ao sarcasmo. Ela estreitou os olhos, franzindo profundamente a testa entre as sobrancelhas depiladas com perfeição.

— Você é um misantropo?

Um misantropo. Já fora chamado de coisas piores em sua longa existência, e por pessoas muito mais poderosas do que a rapariga diante dele. Se incentivos monetários não ajudariam a silenciar o sino, havia outros artificios. Artificios vampirescos. Afinal de conta, ele era um dos vampiros mais antigos.

— Não tocará novamente o sino esta noite. Ergueu a mão, como se para impedir que a dela se levantasse

e reunindo uma pequena parcela de seu poder imortal para controlá-la. Para a sua surpresa, a jovem lutou com ele, lentamente erguendo a mão, mesmo após ele aumentar a potência de seu poder hipnótico.

— O que está fazendo? — ela indagou, cada músculo de seu corpo esforçando-se para desafiá-lo.

— Não tocará o sino — ele repetiu, mas, mesmo ao fazê-lo, podia sentir a determinação da vontade dela, resistindo a ele. Surpreendendo-o. Havia poucos vampiros capazes de resistir ao domínio de um dos mais antigos, e aqui estava ela... Uma mulher jovem, cheia de vida e desejável lhe mostrando mais espírito do que via há muito tempo. Talvez, do que jamais vira.

Erguendo ambas as mãos, trouxe adiante mais poder do fundo de seu ser. Focalizou-o nela e no sino em sua mão, e enviou o seu comando telepático. Abaixe o sino e venha comigo. A surpresa impactou-se com o corpo dele quanto ela mentalmente retrucou: Não quero.

Redobrando seus esforços, ele repetiu o comando. Desta vez, ela lentamente dobrou os joelhos e colocou o sino no chão. Quando ele atravessou a rua, ela o seguiu, mas, no seu cérebro, ele a escutou reclamar:

— Não pode me controlar para sempre. Com uma gargalhada, ao subirem os degraus que levavam à

casa de tijolos, ele disse: — Veremos.

Capitulo Quatro ASSIM QUE entraram, ele bateu a porta atrás deles e virou-se

para ela. Sem o forte vento de inverno, um aroma ligeiramente azedo tomava conta do ar ao redor dela. Ele franziu o nariz e apontou para o traje de Papai Noel.

— Tire isso.

As mãos dela se cerraram ao lado do corpo e, mais uma vez, ele sentiu o cabo de guerra do poder entre os dois, quando ela o desafiou. Interessante.

Ele deu um passo adiante e levou a mão ao pescoço do traje de Papai Noel, onde encontrou a aba do zíper. Quando as costas de sua mão alisaram a camisa preta sob o traje, o corpo dela tremeu.

— Não me diga que é virgem — ele disse, lentamente puxando para baixo o zíper da fantasia, revelando as curvas fartas dos seios sob o tecido apertado.

Ele subitamente sentiu uma vontade irresistível de tocar aqueles seios, mas se conteve. Antes do prazer viria a punição pelo modo como ela o havia desafiado.

Para a sua contínua surpresa, ela inclinou a cabeça e com apenas um ligeiro nó na voz para dar algum indicio de seu desconforto, disse:

— Só porque não sou virgem não significa que não seja casta. Não gosto de ser apalpada por tipos como você.

Hadrian riu ao abrir por inteiro o fecho da parte de cima da fantasia de Papai Noel.

— Tipos como eu? — Não vai se sair bem disso. Ele riu novamente, divertindo-se com a coragem dela. — E quem vai me impedir? Ele ergueu a mão, e mais uma vez teve de lutar contra a

vontade de lhe tocar os seios. O desejo humano o deixava perplexo. Já fazia muito tempo desde a última vez em que o sentira. Em vez de se entregar a ele, levou a mão à face dela e inclinou-se para perto, até que seu nariz estivesse quase encostando no dela.

— Quem irá me impedir? Você? — É, eu. A voz da mulher explodiu de encontro aos lábios dele, sua

respiração quente e tentadora. Uma gargalhada áspera escapou dele desta vez, ao enfrentar

o olhar dela. — E, como irá... — Existem leis... — E suponho que conheça tais leis — ele disse, descendo a

mão, mas não para os seios dela. Em vez disso, enfiou-a sob o tecido que cobria o ombro da mulher. Com um empurrão brusco, jogou no assoalho de tacos o ofensivo traje de Papai Noel.

— Sou advogada — ela disse, tentando lhe segurar a mão quando ele a moveu na direção do cordel em sua cintura.

A RISADA DELE, desta vez, foi mordaz e incontida. — Uma advogada. Dizem que não há muita diferença entre

nós dois. Suas sobrancelhas se curvaram mais uma vez antes de ela

indagar pensativamente. — E por que diz isso? Ele libertou o demônio, transformando-se em vampiro. Ao

falar, sua voz tinha traços do rosnar baixinho da besta que desatrelara.

— Porque somos os dois sanguessugas, não somos? O sangue fugiu das faces de Connie, provocando um arrepio

de medo ao examinar o demônio que se encontrava diante dela. O castanho escuro de suas pupilas havia desaparecido, substituído por um sinistro brilho de néon azul-esverdeado. Caninos longos e de aparência letal saíam de trás dos lábios cheios, estendendo-se além do lábio inferior, até chegar ao meio do queixo. Ela havia pousado a mão sobre as dele, quando ele as posicionou sobre o nó do cordel do traje. Agora, sabia que o frio de sua pele não se devia ao clima lá fora. E, depois, tentou se convencer de que estava sonhando ou tendo alucinações. Vampiros não existiam. Fechando os olhos, ela esforçou-se para despertar, mas, ao abrir os olhos novamente, tudo continuava como antes. Era tudo real demais. Contendo o seu medo e reunindo até os últimos vestígios de sua coragem, disse:

— Neste caso, acho que me deve um pouco de cortesia profissional.

As mãos repousando sob as dela se sobressaltaram. Ele deu um passo atrás para lhe examinar o rosto. Erguendo uma das fartas sobrancelhas escuras, indagou:

— Cortesia profissional? — De um sanguessuga para outro. A gargalhada que irrompeu dele foi tão espontânea e copiosa

que ele jogou a cabeça para trás. Seu corpo estremeceu com ela. Humor humano, ela pensou, notando que a risada não possuía o mesmo rosnar animal que ela havia escutado antes. Quando ele a olhou novamente, Connie teve suas suspeitas confirmadas. Todo e qualquer traço do vampiro havia desaparecido e o que restava eram as belas feições que haviam lhe chamado a atenção no dia anterior.

— Você é... intrigante.

— Solte-me — ela pediu novamente, sentindo a força do mesmo poder que a compelira a largar o sino e a segui-lo, independente do quanto havia tentado resistir.

— Eu acho que não. Sob as mãos dela, dedos ágeis desfizeram o nó do cordel, e

afrouxaram a cintura até que as calças caíssem aos pés de Connie, deixando-a postada diante dele usando a roupa de baixo apertada e muito reveladora.

O interesse brilhou no olhar do vampiro ao lhe examinar o corpo. Para a surpresa dela, sentiu-se responder ao escrutínio dele. Ele podia ser um demônio, mas era um demônio muito atraente e a estava olhando como se quisesse devorá-la. Mas, por outro lado, talvez fosse isso que ele realmente quisesse fazer, pensou Connie. Mas, não antes de um pouco de prazer seu cérebro concluiu, chocando-a com a noção de que o homem diante dela podia lhe controlar todos os pensamentos.

Como antes, o medo voltou a tomar conta dela. Seu corpo tremeu quando ele levou a mão ao seu pescoço, mas tudo que ele fez foi arrancar o cordão com a chave da biblioteca de seu pescoço. Ele a estendeu para o lado e disse:

— George. Um homem emergiu das sombras atrás dele. Connie não o

havia notado antes. — Sim, Hadrian? — disse com um curvar obsequioso da

cabeça. Hadrian. Pelo menos, agora, o demônio tinha um nome. E um

nome bem interessante. Hadrian sacudiu o cordão com a chave. — Por favor, pegue esta chave e guarde as coisas da

senhorita... Ele se deteve, aguardando uma resposta. — Connie Morales. Srta. Morales. Um sorriso lhe cruzou os lábios, antes de ele dizer: — Por favor, guarde as coisas da srta. Morales. E faça algo a

respeito deste traje de Papai Noel. Ele está fedendo um bocado, não está?

George pegou rapidamente a chave, mas teve de aguardar que ela saísse de dentro das calças caídas aos seus pés antes de se apressar em obedecer Hadrian.

— Sempre consegue o que quer? — ela perguntou, intrigada, apesar do perigo inerente à situação.

Em uma fração de segundos, o humano desapareceu e o vampiro emergiu, seus movimentos tão rápidos que não

passavam de um borrão. E, ela sentiu as pontas afiadas de suas presas no pescoço dela.

— Sempre — ele respondeu, e a dor tomou conta dela quando o vampiro afundou os caninos na sua carne.

A NOITE PLENA caía sobre a cidade, chamando Hadrian para sair para brincar. Para saborear as delícias encontradas na escuridão, só que... Hadrian desviou o olhar da janela e o focalizou sobre a mulher que havia amarrado às colunas de sua cama. Os braços estavam abertos e estendidos e o corpo descansava sobre alguns travesseiros e a madeira entalhada de sua cabeceira. Suas nádegas, fartas e deliciosamente macias sob suas mãos quando ele a trouxera até o quarto, repousavam sobre o colchão.

Talvez a houvesse deixado confortável demais, pensou. Talvez um pouco mais de punição lhe refrearia a língua afiada que o havia surpreendido na noite anterior. Ou, talvez, fosse um pouco de cortesia profissional, pensou com um sorriso, recordando-se de suas palavras.

Não podia lhe ver o rosto, visto que a posição inclinada da cabeça havia jogado os cabelos castanhos sobre ele, ocultando-lhe a maior parte das feições. Um pedacinho do nariz aristocrático aparecia entre as madeixas, assim como era possível lhe vislumbrar um pouquinho dos lábios fartos, ainda brilhando com o que quer que as mulheres passem nos lábios nos dias de hoje. Mas, o que ele não conseguia enxergar ainda estava claro na sua lembrança. Olhos azul-acinzentados revelavam inteligência aguçada. Faces rosadas e cheias de vida. Sua boca novamente, cheia e ágil ao ousar desafiá-lo. Ele imaginou silenciar aquela boca com seus lábios e a necessidade o atingiu com força, despertando o desejo. Provocando uma excitação humana que há muito tempo não sentia.

Inspirando profundamente, cerrou as mãos ao lado do corpo e se indagou o que ela havia despertado dentro dele. Tentou imaginar como faria para satisfazer aquela necessidade sem perder um pouco de si. Apesar de tudo que já fizera nos muitos anos de sua existência, ainda se considerava um homem de fibra moral.

Então, porque a sequestrou?, perguntou a sua voz interior.A verdade era que não sabia o que responder. Nos milênios de sua vida de morto-vivo, jamais havia tomado

uma mulher à força, sexualmente falando, ou não. Alimentar-se após o ato. Ele considerava isso um pagamento pelo prazer que dava às suas conquistas.

Possuir alguém movido pela raiva, ou controlar pessoas, normalmente não era do seu feitio. Neste caso, o que planeja fazer com ela agora? sua voz interior — sua consciência enferrujada, ele se deu conta — perguntou com maior insistência.

Mas, antes que tivesse a chance de considerar mais a fundo a questão, notou um ligeiro movimento da cabeça da moça. Ela caiu para frente antes de se jogar violentamente para trás, o movimento súbito afastando-lhe os cabelos do rosto. Ela gemeu e sacudiu a cabeça, tentando se livrar do torpor que tomara conta do corpo dela quando ele se alimentara. Hadrian caminhou até a beirada da cama e ansiosamente aguardou o instante em que a consciência lhe retomaria por completo. Preparando-se para quando ela o visse novamente, para a reação dela.

Como seria poder ver o prazer tomar conta daquele olhar? A cabeça dela inclinou-se para o lado antes de pressenti-lo e olhar na direção dele. Seus olhos azul-acinzentados — azul-ardósia, ele decidiu — estavam desfocados a principio, mas logo se fixaram nele. Depois, o olhar se desviou para cada um dos pulsos.

Ela os puxou, mas ele havia feito um bom trabalho ao prendê-la com as amarras macias que confeccionara de um de seus robes de seda.

— É isso que planeja fazer? Manter-me aqui como o seu bufê pessoal?

Como fizera na noite anterior, ela colocou um sorriso nos lábios dele com sua ousadia. Naquele instante, Hadrian decidiu que o que queria mais do que qualquer outra coisa era ver até onde iria a ousadia dela. Caminhando até a cama, sentou-se na beirada e levou a mão à face da moça.

— Um bufê? Não pensei que fosse tão prosaica. Connie passou os olhos pelo enorme quarto, luxuosamente

mobiliado e decorado. Não havia nada de prosaico naquele lugar. Ele havia sido claramente projetado para prazeres decadentes, o que a fez dizer:

— Bem, se não sou o jantar... Um sorriso apareceu nos lábios dele, e, como ela havia

pensado no dia anterior, o sorriso dele era devastador. É claro que pensar deste jeito a fazia se perguntar se não estaria louca, ou sob algum tipo de feitiço vampiresco, considerando que ele a havia amarrado à cama e já havia feito dela uma refeição.

— Sou sobremesa? É isso que faz com as suas visitas? O sorriso se evaporou mais rápido do que o orvalho na

manhã, e Hadrian afastou a mão. — Não tenho muitas visitas.

Connie lembrou-se de algo que aprendera em uma aula que tivera, anos atrás estabeleça uma conexão com o seu captor. Faça com que ele a veja como uma pessoa, e não um objeto.

— Neste caso, suponho que peça muita comida para viagem — ela disse, torcendo para que o humor alcançasse qualquer vestígio de humanidade que ele pudesse ter dentro de si.

Um dos cantos da boca inclinou-se para cima. — Parecemos estar usando um bocado de eufemismos para

falar de minhas necessidades. — Suas necessidades? Está falando de sugar o sangue, não

está? Ele lhe acariciou a face novamente e perguntou: — Acha que isso é tudo de que preciso? — É um vampiro, não é? — perguntou Connie, embora ainda

estivesse tentando aceitar o fato de que vampiros de fato existiam.

Em resposta, ele lhe desenhou o contorno dos lábios com o polegar e, ao fazê-lo, o ardor espalhou-se a partir daquele ponto, despertando-lhe o corpo. À medida que o calor começou a dominá-la, seus mamilos foram se enrijecendo de expectativa e o desejo explodiu no seu íntimo, arrancando um gemido áspero de sua garganta. Os lábios de sua intimidade se intumesceram de excitação. Dentro de si, um vazio se formou, implorando para ser preenchido.

Ela inspirou profundamente quando ele disse: — Um homem não vive apenas de pão. Seu desejo era tão intenso que chegava a ser doloroso. Ela

cerrou com força as coxas, lutando contra o desejo. Resistindo a ele, se deu conta, ao lhe observar o olhar sombrio.

— É isso que oferece a todas as suas conquistas? — Eu lhes ofereço contentamento. O tom da voz dele era baixo, despertando para a vida os

centros de prazer do corpo dela. Eles estavam vibrando de prazer quando ele disse:

— Posso lhe dar satisfação. A respiração de Connie ficou ofegante de desejo. Estava

encharcada entre as pernas, todas as partes íntimas intumescidas e ansiando para serem tocadas. Uma carícia para aliviar a dolorosa tensão.

Apenas me peça para tocá-la. — Não. Ela puxou as amarras e se contorceu sobre a cama, mas isso

de nada adiantou. Faça-o perceber que não é um objeto, lembrou-se.

— Por que está fazendo isso, Hadrian? Não fiz nada para você. Ele abruptamente levantou-se do lado dela, caminhou

zangadamente de um lado para o outro por alguns instantes, antes de voltar para a beirada da cama.

— Por quê? Precisa haver um por quê? Mesmo ao batalhar contra a paixão que lhe contorcia o corpo,

Connie se deu conta de que esta era uma pergunta que ele havia se feito inúmeras vezes. Se ia se tomar o vale-refeição de Hadrian, queria escutar a resposta à tal pergunta.

— Tem de haver um motivo para ser como é, Hadrian.

Capitulo Cinco Dezembro, 307 dc. Roma

HADRIAN EXAMINOU com orgulho as centenas de ânforas cheias de esplêndidos vinhos e óleos. Havia terminado de contabilizá-lo apenas alguns minutos atrás e em breve a barcaça carregada desceria o Tiber até Ostia para aguardar o transporte até Cartago.

A vida era boa, pensou, entregando a documentação do carregamento para o seu escravo, que acompanharia a carga rio abaixo e, depois, retomaria quando este já estivesse seguramente a bordo de uma galé seguindo para Cartago. Hadrian já combinara com um negociante para vender seus produtos e enviar a galé de volta cheia de algodão e papiro do Egito. Seu escravo saltou para a barcaça. Ela se afastou de Aventine Hill e de Forum Vinarium com o cair do crepúsculo espalhando brilhantes rajadas de carmesim e índigo pelo céu.

Hadrian sorriu, satisfeito com tudo que realizara naquele dia. Os negócios estavam crescendo, firmando sua posição entre a classe equestrian. Olhando para o anel de ouro que identificava o seu status para todos aqueles que encontrava, encheu-se mais uma vez de orgulho.

Orgulho e expectativa. Agora que se estabelecera, podia enfim se dirigir ao pai de Alexandra para lhe pedir a mão em casamento. Mas antes de fazê-lo...

Era a primeira noite do saturnal. Pretendia saborear os frutos do sucesso antes de assumir compromisso com sua amada. Seu amigo de infância, Maximillian, estava aguardando-o diante do Templo de Saturno, para que pudessem se juntar às

comemorações que marcavam o início da celebração do Solstício de Inverno. Maximillian havia supostamente providenciado uma diversão esplêndida para mais tarde naquela noite e, quando Hadrian se afastou de Aventine Hill na direção do templo, torceu para que o amigo houvesse contido sua inclinação para o incomum.

Ele caminhou rapidamente na direção do templo, contagiado pela empolgação dos inúmeros romanos que lotavam as ruas, também a caminho para o início das festividades. As casas ao longo do caminho haviam sido decoradas para a temporada, com ramos alegres e verdes guirlandas adornando as portas e os arcos. Ornamentos dourados, no formato de sol e das estrelas, enfeitavam muitos pequenos bustos e árvores, acompanhados de alegres fitas as e roxas.

Pequenas crianças puxavam as mãos dos pais ao caminhar, sabendo que, de acordo com o feriado, junto com o Senhor da Desordem e seus servis estariam no comando durante a comemoração. Sons de júbilo preenchiam o ar, visto que algumas famílias já haviam começado a trocar pequenas velas e brinquedos de cerâmica como presentes. Com um sorriso, Hadrian lembrou-se da própria infância e de como os pais haviam agradado a ele e aos irmãos, dando-lhes presentes e animadamente lhes seguindo as ordens e aquelas dos empregados da casa. Até mesmo os escravos eram livres para governar por aqueles poucos dias, permitindo uma sensação relaxamento para todo mundo, durante o feriado.

Suas lembranças o fizeram apressar o passo, mas, quanto mais se aproximava da extremidade oeste do Fórum mas densa tornava-se a multidão. Foi forçado a se espremer e a forçar a passagem até não conseguir avançar mais. As pessoas estavam coladas ombro a ombro, para assistir às cerimônias que davam início as festividades do saturnal. Muitas vestiam trajes mais simples do que a toga que ele ainda estava usando.

Enquanto ele não usava nada na cabeça, capuzes de feltro e papel adornavam as cabeças de muitos e, quando seu olhar se cruzou com o de um outro farrista, este lhe entregou um capuz para usar. Hadrian agradeceu e deu uma moeda para o homem pelo capuz. Ele vasculhou a multidão, atrás de qualquer sinal de Maximillian, que deveria estar aguardando diante do Templo de Vespasian. Na metade da escadaria que levava ao prédio estava o amigo, usando um capuz de feltro alegremente adornado com fitas roxas e vermelhas. Ao lado dele, estavam duas mulheres atraentes. Uma dela encostava-se em Maximillian e lhe enrolava o pescoço com mais fitas.

Hadrian esforçou-se para chegar até o amigo, enquanto, nos degraus do Templo de Saturno, um agrupamento de senadores aguardava. Para além dos seis pilares ao longo do pórtico repousava a estátua de Saturno, cujos pés estavam presos com tiras de linho. Em breve elas seriam cortadas para dar início às festividades. Mal havia alcançado Maximillian, quando um grito veio dos degraus do templo:

— Io Saturnalia! O grito foi repetido pela multidão abaixo, e as pessoas

avançaram para participar do banquete que estava à disposição no interior do templo.

O avançar da multidão abriu caminho para ele. Em poucos instantes estava ao lado de Maximillian, mas, agora, se deu conta de que a mulher que vinha habilmente ajudando seu amigo a decorar com fitas, na verdade, era um homem. Um jovem magro e feminino que estava se aproveitando da liberdade do feriado para se vestir de mulher, uma prática comum.

— Maximillian, vejo que está pronto para a temporada — brincou Hadrian, sabendo bem da fascinação do amigo por rapazes.

Ele olhou na direção da outra pessoa com Maximillian e seu amigo. Foi tomado de alívio ao perceber que era uma mulher. E uma mulher bem atraente. Sua pele alabastrina parecia quase translúcida. O cabelo negro estava preso para trás, com um lindo prendedor de prata enfeitado com pérolas. Seu olhar severo lhe realçava as feições clássicas. Uma linha escura dava aos seus olhos arredondados um traço egípcio.

Ela sorriu e inclinou a cabeça, receptivamente. — Sou Stacia... e você? — Hadrian. Maximillian passou um braço ao redor de cada um deles. Com

uma saudação ruidosa, disse: — Que bom que já se apresentaram. Vai nos poupar de tantas

delicadezas desnecessárias. O que significava que Maximillian queria dispensar o banquete

no templo e encontrar um lugar onde poderiam dar início ao feriado do saturnal com um pouco de prazeres carnais.

Ele observou os olhos de Stacia e, em vez de aborrecimento, viu neles interesse. Uma cortesã paga? Hadrian se perguntou, mas não se deteve para indagar mais a fundo quando Stacia afastou-se rapidamente do lado de Maximillian e passou o braço pelo de Hadrian. Juntos, caminharam para longe do templo, com as cabeças inclinadas uma na direção da outra, enquanto Hadrain tentava descobrir mais a respeito de sua linda acompanhante.

— Como conheceu Maximillian? — indagou, inalando profundamente o perfume provocante da mulher.

Ela cheirava a laranjas, fragrante e estimulante. Um tímido dar de ombros tirou do lugar o robe branco e simples que ela estava usando, expondo o volume sedutor de seus seios fartos.

— Não o conheço direito, mas Gaius conhece. Ele espiou por sobre o ombro, para onde Maximillian e o

homem que ele presumia ser Gaius vinham caminhando atrás deles, já beijando e acariciando um ao outro. Pigarreando, ele recebeu um som de descontentamento do amigo.

— Busque o seu próprio prazer, Hadrian. Seu próprio prazer, ele pensou, examinando novamente sua

acompanhante, do topo de sua altura superior. Inclinando a cabeça na direção dela, sussurrou-lhe no ouvido:

— E qual é o seu prazer, Stacia? Será que devemos jantar antes?

Ela o surpreendeu ao virar-se para ele, e enfiar a mão por sob a bainha da toga de Hadrian. Ela agarrou-lhe o músculo peitoral e roçou o polegar na ponta de seu mamilo. Este ficou rijo na mesma hora e, entre suas pernas, seu membro lentamente foi ganhando vida. Observando-o através de olhos semicerrados, Stacia disse:

— Conheço um lugar onde podemos jantar e... nos conhecer melhor.

Uma leve torção de seu mamilo terminou de lhe enrijecer por completo a ereção, e, na sua mente, Hadrian pôde imaginá-los jantando juntos. Dando de comer um ao outro enquanto também satisfaziam outras necessidades.

— Mostre o caminho — ele disse.

A CONSTRUÇÃO à qual Stacia os levou era uma habitação elegante e ricamente decorada. Ao chegar à porta, uma serviçal saiu lá de dentro e se curvou para Stacia.

— Minha ama — disse a jovem. — Traga comida para os banhos — retrucou Stacia,

adentrando a casa e puxando-o atrás de si pela mão.A residência era sensualmente decorada e, sem dúvida

nenhuma pertencia a alguém da classe aristocrata. Ela deve ter lhe notado os olhares de surpresa, pois disse por sobre o ombro:

— Meu pai era um senador. — Era? — ele disse, ao adentrarem o recinto dos banhos. Azulejos coloridos adornavam as paredes, os pisos e as

diversas piscinas. Ligeiras colunas de vapor emergiam das águas e o cheiro de laranjas era forte — o aroma provocante que se impregnara na pele de Stacia. Vasos com laranjeiras bem

cuidadas, algumas delas cheia de frutos, estavam posicionados a intervalos regulares ao longo das paredes.

Ela lhe soltou a mão, e Hadrian chegou a pensar que ela pudesse ter mudado de ideia, até que ela, com um dar de ombros, despiu a túnica simples que estava usando, expondo o as costas delicadas. Quando Stacia se virou para ele, ardor e desejo espalharam-se pelo seu corpo, tornando a sua ereção quase dolorosa. Stacia podia ser pequena, mas seu corpo era repleto de deliciosas curvas femininas. Seus seios fartos ornavam para cima, mamilos caramelo-escuros, e começando a se enrijecer quando o olhar dele se fixou neles. Hadrian lançou um olhar constrangido na direção de Maximillian e Gaius, mas os dois já estavam se dirigindo para uma piscina na outra do recinto, deixando-o sozinho com Stacia.

Diferente de Maxillian, Hadrian não gostava de praticar seus atos seis em público, se viu tomado de alívio. Contudo, os dois homens estavam longe o bastante para ele se divertir com a obviamente desinibida Stacia, que estava mergulhando o dedo do pé na água da piscina mais próxima. Ao se dar conta de que tinha a atenção dele, ela sorriu, e lentamente alisou o próprio corpo com uma das mãos, até o próprio seio.

Entre suas pernas, a ereção estremeceu e aumentou. Quando ela tocou o mamilo intumescido, indagou:

— Quer tocar? Por trás dele veio o som de uma série de passadas macias,

alertando-o da chegada da serviçal de Stacia. A jovem moveu-se rapidamente na direção da borda piscina, onde depositou uma bandeja com pratos cheios de frutas frescas, queijos e doces com coberturas douradas, banhados em mel. Tão rápido quanto chegara, ela deixou o aposento. Naquele instante, Stacia aproveitou a oportunidade para se aproximar dele, com os quadris oscilando sedutoramente.

Ela se deteve a poucos centímetros de distância, com uma das mãos ainda alisando o seio. Ela enfiou a outra mão dentro da toga do homem e, com precisão, o encontrou. Com um toque experiente, acariciou sua cabeça, e depois deslizou a mão pelo resto do membro. Ele ficou ali parado, as mãos resistindo à tentação de se estenderem na direção dela, enquanto Stacia, com caricias confiantes, deixava o seu corpo dominado pelo desejo.

CONNIE DEIXOU escapar uma risada áspera, ainda lutando contra o desejo incomum que ele despertara no corpo dela.

— Então, espera que eu acredite que apenas ficou ali parado, enquanto ela...

— Sou um homem. Não fiquei apenas parado ali, mas senti... uma estranha sensação me dominando. Despertando uma necessidade tão grande...

— Como fez comigo — ela disse, enfim olhando o próprio corpo e a evidência de sua excitação.

Sob o colante tecido preto, seus mamilos estavam intumescidos, formando dois montinhos rijos, e estava tão úmida entre as pernas, que teve de se perguntar se ele podia sentir o cheiro de sua excitação.

— Eu posso — ele disse. O vampiro pousou a mão sobre sua coxa, e lentamente a arrastou até a curva dos quadris, onde circulou a cintura da mulher e se aproximou mais dela sobre a cama. — Posso sentir o odor de almíscar em você. É sedutor.

— Não é real — ela zombou. — É apenas produto do que quer que tenha feito comigo.

— E acha que isso não é real? Ela pressentiu o desafio nas palavras dele. Tentou rechaçá-lo,

temerosa de como ele pretendia provar que ela estava errada. — O que ela fez com você foi real? Por acaso lhe deu prazer? Ele moveu a mão sobre a cintura da mulher até logo abaixo

dos seios, e o coração de Connie quase parou. Sabia que ele havia escutado, havia pressentido o modo como o corpo dela reagia de expectativa, como o feitiço do vampiro lhe controlava o desejo. Como, a despeito de sua vontade, seu corpo exigia satisfação.

Com um sorriso áspero, ele a fitou nos olhos e perguntou: — Acha que me deu prazer?

Capitulo Seis Roma 307d.C.

O DESEJO PERCORRIA cada uma de suas terminações nervosas, tão violentamente, que suas pernas chegaram a ficar bambas, quando Stacia continuou a lhe dar prazer com a mão.

— O que é isso? — ele perguntou, meio tonto, devido às sensações que dominavam o seu corpo.

— Venha, meu amor. Coma alguma coisa. Vai precisar antes do final da noite — disse Stacia.

Com uma última caricia na ereção, ela virou-se e caminhou na direção dos degraus da piscina, onde o aguardou. Hadrian a

seguiu, apesar do bom senso estar lhe dizendo que havia algo errado. Não lhe restava nenhuma vontade para seguir o bom conselho. Sua mente estava dominada pelo desejo de se enterrar entre as aveludadas coxas de Stacia. De sentir suas curvas abundantes aceitando-lhe o corpo, e o gosto do doce caramelo das pontas de seus seios.

Ele gemeu e se agarrou, tentando domar o ardor de seu membro com algumas carícias lentas ao caminhar em sua direção. Ela sorriu ao vê-lo acariciando-se. Seu sorriso se alargou quando ele despiu a toga e se postou diante dela, toda ansiedade, rigidez e masculinidade. Ela por fim parou de brincar com o seio, e pousou ambas as mãos no peito dele, acariciando os músculos peitorais. As mãos de Stacia estavam ligeiramente geladas ao trilhar o corpo dele, alisando as elevações rígidas do seu abdômen até chegar aos músculos fortes das coxas, desviando-se do único lugar onde ele mais queria as suas mãos. Puxando-o para perto de si, as pontas duras dos seios roçaram no peito dele e Hadrian gemeu, ansiando pelo gosto que imaginara antes.

— Eu também quero lhe sentir o gosto. Ela inclinou-se para frente e colocou os lábios sobre o mamilo

dele, sugando-o com força, antes de mordiscá-lo com os dentes. Ele arquejou, e segurou o quadril dela com uma das mãos, enquanto, com a outra, apertava ainda mais a própria ereção, resistindo ao clímax.

Ela pousou a mão sobre a dele, e, sentindo os sinais iniciais de seu apogeu, sorriu, e disse:

— Também quero sentir o gosto disso. Antes que ele pudesse impedi-la, ela ficou de joelhos e o

tomou na boca, sugando e puxando. Emasculando-o, ao agarrá-lo e apertá-lo gentilmente. Seu climax chegou e, imediatamente após a ereção voltou, mais rápida e dura do que antes. Seu coração batia de encontro às paredes da cavidade torácica. Ele cambaleou sobre os pés, até que ela se levantou e se colou nele, seu corpo sinuoso e sustentador ao mesmo tempo.

— O que é isso? — perguntou Hadrian, sua mente girando devido ao ataque incessante aos seus sentidos.

Ele parecia ser capaz de sentir cada centímetro de sua pele. O encrespar dos músculos sob aquela perfeição alabastrina. O calor intenso da água quando ela o guiou pelos degraus abaixo até o calor dos banhos.

Instantes mais tarde, ele estava sentado sobre a pequena borda sob a água e Stacia estava montada nele, suas coxas lhe envolvendo a cintura, seus seios roçando no peito dele quando ela

estendeu o braço para o prato de comida que a serviçal havia trazido antes, atrás dele. Ela pegou um dos doces dourados e o trouxe até a boca de Hadrian, lhe oferecendo o petisco embebido em mel.

Quando ele mordeu, a doçura da sobremesa lhe encheu a boca, mas, então, seu olhar desceu até os seios da mulher. Sua boca encheu-se de água diante da visão deles, e, rindo, Stacia se ergueu e se ofereceu para ele.

— Pode provar, meu amor. Diga-me se sou igualmente doce.

UMA ONDA de ardor tomou conta de seu corpo quando o olhar de Hadrian se focalizou nos seus seios. Connie não pensara ser possível, mas seus mamilos ficaram ainda mais rijos e latejaram com, ainda, maior expectativa. Entre suas pernas, sentia uma pulsação acelerada. Quando ela puxou as amarras que a prendiam às colunas da cama, ele disse:

— Não resista tanto. O ribombar de sua voz fez com que ela olhasse novamente

para o rosto dele. O relato de seu encontro com a vampira também o havia deixado excitado. Seus olhos haviam começado a assumir aquela penetrante cor-de-néon e um pequeno vestígio dos caninos aparecia sob os lábios superiores. Ao olhar para baixo, ela pôde ver, através do caríssimo tecido das calças, os sinais de uma excepcional ereção.

Ele inspirou profundamente, claramente batalhando com a própria excitação. Ela o desafiou.

— Tomei a liberdade de presumir que possa sentir fome. — Também resistiu, Hadrian, ou recebeu de bom grado a

escuridão dela? Uma palavra foi bruscamente pronunciada — algum tipo de

palavrão, ela supôs — antes que ele contivesse o vampiro e sua forma humana recuperasse o controle.

— Quando vi o seu rosto verdadeiro, lutei com ela, tanto quanto espero que vá lutar comigo.

— Pode apostar — ela disse, enfaticamente. — Mas ela me transformou, do mesmo modo que vou

transformá-la quando chegar o momento certo. O medo tomou o lugar do desejo, espantando o ardor anterior

de sua excitação despertada pelo feitiço. — Não me entregarei facilmente — ela avisou, e ficou

surpresa de ver um sorriso se esboçar nas feições dele. O tipo de sorriso que não havia esperado ver em resposta a um desafio.

O vampiro devia ter percebido que, contra a sua vontade, Connie estava se sentindo atraída.

— Você é corajosa, não é? Uma batida à porta a poupou de ter que responder. — Entre, George — ele disse, e o homem de antes entrou,

empurrando um carrinho de comida. Sobre o carrinho, repousavam dois cálices dourados, uma garrafa de vinho, algumas fatias de pão e um prato com uma variedade de queijos e frios.

Connie presumiu que ela era como um peru de Natal e que Hadrian estava mais interessado em engordá-la do que no seu conforto.

— E se eu não quiser comer? Ela detestou parecer tão infantil aos próprios ouvidos, e que

sua resposta houvesse trazido outro sorriso divertido aos lábios dele.

— Como quiser. Pode ir, George. Tenha uma boa noite. George, que parecia ser um homem de, no máximo, 50 anos

de idade e em boa forma, olhou dela para o patrão e para o prato de comida. Apertando uma das mãos na outra, disse:

— Talvez possa descansar melhor com algo na barriga, moça. Ela percebeu que George tinha um sotaque. Não era bem

britânico, mas também não era americano. Sacudindo a cabeça, ela retrucou:

— Não facilitarei as coisas para ele, George. — Talvez seja melhor facilitar as coisas para si mesma —

disse Hadrian. Com um gesto brusco de mão, dispensou o serviçal. — Por que diz isso? — Vai querer estar de posse de todas as suas forças para me

resistir, não vai? Ela pôde perceber que ele estava tentando manipulá-la, mas

também era inteligente o suficiente para saber que não estava no ápice de suas forças. Além da excitação que lhe sugava toda a energia do corpo, ele se alimentara dela antes, enfraquecendo-lhe o organismo. Teria de se alimentar para poder se sustentar até...

— Você se alimentou de mim antes, mas não sou uma vampira.

— Posso dar muitos tipos de beijos. Enquanto falava, ele pegou uma fatia de pão, mergulhou-o em

uma pequena vasilha e o ofereceu a ela. Os aromas ricos do pão fermentado e do azeite lhe

embriagaram os sentidos e sua barriga roncou em resposta. — Mangia — disse. — Seria mais fácil se me soltasse.

Ela comeu o pão de sua mão, saboreando os sabores fortes que explodiam em sua boca.

— Já faz muito tempo desde a última vez em que me entreguei a tais luxos.

Ele pegou um pedaço de queijo e o jogou na própria boca, antes de pegar uma pequena fatia para ela e levá-la aos lábios de Connie.

— Desde seu encontro amoroso com a vampira? — ela perguntou, antes de aceitar a oferta.

A mão dele estremeceu sobre uma fatia de presunto que estava colocando sobre uma fatia de pão. Ao fitar os olhos, ela notou a tristeza neles. Suas palavras, quando vieram, foram inesperadas e carregadas.

— Não, desde o dia em que minha mulher e meu filho foram assassinados.

Capitulo Sete UMA ONDA de choque percorreu o corpo da mulher. — Assassinados? Hadrian assentiu, e lhe preparou outro petisco, mas, quando

tentou dá-lo para ela, Connie cerrou os lábios e virou a cabeça. Seu olhar era severo e crítico. Quantas vezes se olhara no espelho, e imaginara a mesma expressão no próprio rosto?

Ignorando-a, serviu um pouco de vinho e tomou um gole. Ofereceu-lhe um pouco também, antes de deixar cair outro pedaço de pão e queijo na própria boca e mastigar lentamente, pensando em como poderia começar. Como explicar como havia perdido tudo que lhe era mais precioso, e por que detestava os humanos que o cercavam. Em vez disso, disse:

— É tarde demais para contar tal história. A alvorada surgirá em pouco mais de uma hora.

Ela olhou na direção da janela, onde ainda estava noite fechada lá fora, e, quando virou o olhar inquisitivo na direção dele, o vampiro explicou:

— Posso senti-la chegando, assim como posso sentir a aproximação da noite.

— E é isso tudo que pode sentir, Hadrian? Não liga para a sua família assassinada?

— Basta! — Sabia que o desafio dela era uma tentativa de alterar a dinâmica da situação. Ela ainda tinha esperanças de que ele pudesse mudar de ideia quanto a transformá-la. Hadrian se

recusava a lhe conceder a vantagem. Erguendo-se, andou de um lado para o outro diante da cama antes de perguntar:

— E, quanto a você, Connie? Sua família lamentará morte? — É claro. — Ela puxou as amarras que a prendiam a cama. —

Por que está fazendo isso? — Por quê? Ele marchou de volta para a cama, agarrou-lhe o queixo e a

forçou a levantar o rosto. Inclinando-se até estarem quase colados nariz com nariz, ele transformou-se mais uma vez. Sob a mão dele, Connie tremia, mas seu olhar permaneceu fixo no rosto dele, sem demonstrar um vestígio sequer de seu medo.

— Um vampiro mudou a minha vida, mas foram os humanos que roubaram tudo que me era importante.

— Então isto é o troco por algo com que nada tive a ver? Por algo sobre o qual não tive controle algum?

Uma gargalhada forçada escapou de sua boca. Hadrian trilhou as bordas das presas ao longo do queixo delicado da mulher, e o tremor do corpo dela aumentou sob a mão do vampiro. Quando ele lhe alcançou a curva da orelha, disse:

— Não me mataria se tivesse a chance? Sua ausência de resposta já dizia tudo. Ela o mataria apenas

por ser vampiro. Apenas por ser diferente. Não havia nenhuma diferença entre ela e os humanos que haviam lhe assassinado a família e milhares de outros vampiros, séculos atrás. Empurrando-a para longe, ele levantou-se novamente, e disse:

— Em breve nos deitaremos para descansar durante o dia. Está na hora de nos prepararmos para isso.

CONNIE NÃO sabia o que Hadrian pretendia fazer para se preparar para o seu descanso diurno. Os preparativos acabaram sendo bem menos onerosos do que ela imaginara. Ele a deixara comer e beber um pouco mais, e depois a desamarrara das colunas da cama, usando seus poderes vampirescos para controlá-la, enquanto lhe dava a liberdade necessária para realizar algumas das abluções noturnas no banheiro. Ele também arrumara para ela uma túnica de seda para substituir a roupa de baixo térmica que ela vinha usando.

A carícia da seda contra a pele dela chegou a ser dolorosa para partes de seu corpo ainda afetadas pelo estado de excitação em que Hadrian a havia colocado antes. Quando a seda macia cobriu-lhe o corpo, foi como a carícia de um amante, e trouxe à tona novos desejos. Quando ela saíra do banheiro, Hadrian claramente havia lhe sentido a excitação. Ele também havia se trocado e vestido uma

roupa parecida, e, ao examina-la, o volume de sua ereção sob o tecido fino ficara evidente.

Mas, para a confusão dela, ele não havia feito nada a respeito.

Em vez disso, a amarrara novamente à cama, de tal modo a lhe permitir um pouco de conforto, mas não a capacidade de se desamarrar. A esperança de Connie havia sido tentar escapar enquanto ele dormia, mas pressentiu que, mesmo que houvesse feito isso, o esforço teria sido desperdiçado. De modo que se deitou ao lado dele, seu corpo, assim como o dele, vibrando de desejo não satisfeito. Sob as cobertas de seda decadentemente macias, seu corpo começou a se aquecer. Ao seu lado, Hadrian também estava quente, mas, à medida que o sol ia nascendo, espalhando seus delicados raios luminosos pela extremidade oposta do aposento, todo o calor ia lhe abandonando o corpo.

Com apenas alguns vestígios de luz atravessando as janelas, ela aproveitou para examinar o aposento. Era definitivamente masculino, ela pensou, examinando as várias peças de mobília. Grandes, escuras e feitas de mogno. Velho Mundo, pensou, quando seus olhos conseguiram enxergar as estampas dos tecidos finos das cortinas e do estofamento da mobília. Grossos tapetes orientais estavam espalhados sobre o piso de tacos. As superficies das várias peças da mobília estavam totalmente livres de poeira e, ao inalar, pôde sentir o aroma de limão nas narinas. Os tampos reluzentes de eventuais mesinhas e da cômoda exibiam diversos tipos de recordações, todas evidências de sua aparente riqueza e de viagens. Sofisticados candelabros de prata. Um ovo de Fabergé. Na parede oposta, o que parecia ser um tríptico, em madeira entalhada, de vários países.

Sobre a cômoda mais próxima da cama estavam vários porta-retratos de prata, adornados com o que parecia ser ônix e madrepérola. Ela desejou ter mais luz para poder enxergar as fotografias que estavam nos porta-retratos e saber mais a respeito do demônio que dormia ao seu lado.

Tendo completado o seu exame do recinto, ela voltou sua atenção para ele, pensando em tudo que ele lhe revelara ao longo da noite.

Hadrian odiava humanos. Deixara isso bem claro. Ela se perguntou se restaria algum vestígio de humanidade nele, ou se o demônio havia se apossado do demônio que, de acordo com suas suspeitas, também odiava. Não sabia por que achava, mas a impressão que ele lhe dera com toda aquela conversa sobre o tipo de vida que sua amada vampira lhe oferecera foi que estava zangado com ela. Zangado e possivelmente cheio de

arrependimentos. Sera que ela sentiria o mesmo quando ele a transformasse? Ou será que ele pretendia apenas beber até a última gota de seu sangue? Recordou-se das últimas palavras dele, acerca de se a família dela lamentaria seu falecimento. Será que a família dele chorara por ele?

Ela virou-se na cama para observá-lo. Ele possuía nariz romano. Comprido e reto. Aquilino, alguns diriam. Sua pele tinha um tom de oliva, que, na noite da, havia demonstrado um ligeiro rubor, mas com a chegada do dia, havia perdido qualquer traço de vida.

Tal pensamento lhe chamou a atenção, e ela olhou para as cobertas sobre ele, buscando qualquer sinal de respiração. Um subir e abaixar muito lento, muito mais lento do que o de qualquer humano. Quase como se estivesse em hibernação profunda.

Voltando ao exame de seu rosto, o olhar de Connie se demorou sobre os lábios cheios dele, relaxados durante o sono. Será que ousava dizer que havia um esboço de sorriso neles? Será que vampiros sonhavam? Sob a boca que lhe tentava o toque, havia um queixo com uma ligeira covinha. Tão bonito, pensou novamente, e sacudiu a cabeça. Ela, claramente, estava há tempo demais desprovida de companhia masculina para estar, de fato, atraída por este psicopata sanguessuga.

Seus colegas de trabalho brincariam com ela dizendo que isso é o que ela ganhava por passar tempo demais trabalhando e não se dar a chance de relaxar. Até mesmo a semana que reservara para as férias de fim de ano havia sido escolhida especialmente porque ela sabia que esse era um período de pouca atividade no escritório. Foi então que se deu conta de que, como era para ela estar de férias, ninguém notaria o seu sumiço durante vários dias. Quando alguém notasse, já seria tarde demais para a polícia encontrá-la e deter Hadrian.

Ao pensar nisso, puxou com força as amarras, mas conseguiu apenas apertar o tecido ao redor dos pulsos. Frustração trouxe lágrimas aos seus olhos, mas Connie lutou contra elas. Não era a hora para chorar e nem para indecisões. Usando as amarras para se puxar para cima, ela examinou os nós que ele havia dado e se deu conta de que a única forma de se libertar seria mordendo os nós. Subitamente, pôde escutar as palavras de Hadrian. Posso senti-la chegando, assim como posso sentir a aproximação da noite. Neste caso, é melhor eu começar a morder — pensou Connie.

Capitulo Oito O CALOR DELA, macio e feminino, se esgueirou para dentro

de sua consciência junto com o chamado da noite. Hadrian abriu os olhos para encontrar as pernas deles entrelaçadas e o seu braço sobre a cintura da mulher. Connie estava dormindo ao lado dele, com as mãos ainda amarradas, mas ele podia ver alguns fios para fora do nó em ângulos esquisitos. Ela havia tentado roer suas amarras. Não pôde deixar de lhe admirar a coragem. Ao afastar as cobertas, também não pôde deixar de lhe admirar as curvas fartas do corpo, ainda em maior evidência devido ao modo como a seda se apegava a ela. O tecido fino cor-de-creme também deixava à mostra as aureolas escuras dos mamilos dela.

Ele sentiu vontade de tocar. De provar. Nos seus sonhos já havia feito ambos, e muito mais. Um sorriso veio aos seus lábios ao se recordar dos sonhos em questão.

— Você não é tão assustador assim quando sorri — ela disse, a voz rouca de sono.

Ele esforçou-se para eliminar o sorriso do rosto, embora as palavras dela apenas o fizessem querer sorrir ainda mais.

— Assustador é bom — ele disse e, para provar o seu ponto de vista, convocou o demônio.

Ela não reagiu visivelmente, embora ele houvesse lhe escutado o coração bater um pouquinho mais rápido. Onde as pernas estavam entrelaçadas, ele pôde lhe sentir a pele se arrepiar, antes que Connie se desse conta da intimidade da posição e tirasse as pernas de sob as dele.

Ele, na mesma hora, sentiu falta de sua presença e voltou à forma humana, querendo retornar à sensação de conforto de antes. Há muito tempo que não sentia algo parecido.

— Conte-me um pouco de si mesma — ele disse, percebendo que, além do fato de ela ser advogada, não sabia quase nada a seu respeito.

— Não há muito o que dizer Sou uma pessoa comum... — Com uma vida comum? — Maçante, comparado ao que já deve ter visto em sua longa

existência. — Conte assim mesmo. Estava ansioso para escutar sobre as coisas de uma vida

comum. — Sente falta de ser humano, não sente? — ela perguntou,

mexendo-se na cama.

Ao fazê-lo, ela fez uma careta e gemeu. Uma emoção indesejada e muito pouco sentida despertou no íntimo dele: culpa.

—Você está...? — Bem? Estou amarrada a uma cama e, em algum momento

do dia de hoje, vou me tomar a sua refeição. Como posso estar bem? — ela disse, aumentando o volume de sua voz com cada palavra que proferia.

Ela puxou violentamente as amarras, mordendo o lábio inferior para conter as pontadas de dor.

Hadrian observou seus esforços, e disse: — Se eu lhe soltar as mãos... — O que eu lhe darei em troca? O que eu tenho que você não

poderia tomar sem pedir? Ela tinha razão ao dizer que ele poderia tomar tudo que

queria, mas, o que mais desejava, não queria tomar. — Quero beijá-la. Connie quase se retraiu. Não só pelo pedido, mas pelo traço

de necessidade que detectou na voz dele. — Um beijo? Ela o observou, tentando ler o rosto do homem em busca de

confirmação das emoções que havia escutado. Diferente da expressão dura e desapaixonada que havia visto naquela primeira noite, hoje o rosto dele estava vivo com sentimentos. A escuridão de seu olhar brilhava, e um ligeiro sorriso esboçava-se em um dos cantos dos lábios. O sorriso se alargou quando ele se deu conta de que detinha toda a atenção dela.

— Um beijo? Onde? — perguntou Connie. — Onde eu quiser. Seu olhar se fixou em seus lábios, antes de descer para os

seios, onde permaneceu. O ardor tomou conta do corpo da mulher, e seus mamilos se enrijeceram em resposta. Ela se mexeu, tentando aliviar o desconforto, mas o roçar gentil do tecido apenas aumentou a sua aflição.

— E então? Posso? Ele se mexeu mais para perto dela na cama, até que as

pernas mais uma vez se tocassem e o volume de sua ereção roçasse na maciez de sua barriga.

— Pode o quê? — ela indagou quando Hadrian levou a mão à face dela.

— Beijá-la. Um simples beijo. — As palavras vieram como um simples sussurro, baixinho e urgente, despertando com suas vibrações uma necessidade entre as pernas de Connie. Depois, ele passou o polegar sobre seus lábios e disse: — Aqui.

Os sentidos dela estavam sobrecarregados. Ela gostaria de poder dizer que era devido a algum feitiço vampiresco, mas suspeitava não ser esse o caso.

— Vai me libertar... — Eu a desamarrarei... por algum tempinho. Ele levantou o dedão até a face dela, uma carícia delicada, e

fixou o olhar nos seus lábios. Ficar livre, mesmo que apenas por um instante, seria o paraíso. E seria apenas um beijinho, ela tentou se convencer ao assentir. Ele diminuiu a distância entre os dois. Estavam colados corpo a corpo. O dele rijo e másculo, porém, ainda gelado pela noite. Ela ignorou essa característica da imortalidade quando ele curvou a cabeça em sua direção. Hadrian hesitou, e a fitou nos olhos. Buscando o quê? Aceitação? Consentimento? Mas, depois, ele fechou os olhos e, hesitantemente, avançou com os lábios em sua direção. Ela fez o mesmo, dividida entre ignorar e aproveitar o beijo. Mas, quando ele encostou os lábios gelados nos dela, foi impossível para Connie ignorá-lo.

Ela se entregou ao singelo beijo, roçando repetidamente os lábios nos dele até que eles estivessem quentes. Úmidos, quando ela entreabriu a boca e lhe aceitou o deslizar da língua por eles, antes que esta mergulhasse em sua boca. Ele gemeu, um som muito humano que reverberou pelo corpo da moça. A mão do vampiro voltou a se plantar em sua cintura. Ao continuar beijando, ele aplicou um pouco de pressão para aproximar os corpos, até que os seios dela estivessem colados no peito dele, e Connie não tivesse como lhe ignorar a ereção.

Ela arquejou ao lutar consigo mesma. Não deveria responder a toda aquela evidente e perfeita masculinidade que se colava nela. A boca e língua hábeis que estavam transformando o inicial beijo singelo no tipo compartilhado por amantes de longa data. Só que os dois não eram amantes e, quando algo afiado e ameaçador roçou no lábio inferior dela, ela se viu lembrada do motivo de isso ser uma impossibilidade.

Ele praguejou baixinho e afastou-se. Quando o fez, Connie notou o vestígio de uma das presas e o vermelho vivo de seu sangue onde ele a havia acidentalmente cortado. Ao fitá-lo nos olhos, o arrependimento neles despertou uma emoção que ela não queria admitir.

— Odeia isso quase tanto quanto odeia a parte de si mesmo que ainda deseja uma humana — ela disse, tentando estabelecer um distanciamento necessário entre os dois. Tanto porque o beijo havia sido tentador demais quanto porque ela queria entender a criatura complexa que ele era.

A reação de Hadrian foi rápida. Desfez os nós das amarras ao redor dos pulsos dela. Quando suas mãos estavam livres, ele as fitou, notando as partes onde elas estavam em carne viva, onde a seda havia cortado sua pele durante seus esforços para se libertar. Hadrian passou gentilmente os dedos por elas, antes de erguer o olhar para encontrar a expressão confusa de Connie.

— Fiz uma promessa que pretendo cumprir. Não confunda isso com gentileza, porque seria um erro grave.

A mão dela passou sobre a dele, seu toque consolador. Talvez doesse menos se ela lhe enfiasse uma estaca no coração. Ele retraiu abruptamente as mãos, mas isso não pareceu dissuadi-la. Ela levou a mão à sua face, passando o polegar pelos seus lábios, ainda úmidos e quentes devido ao beijo deles. Para a surpresa de Hadrian, Connie tocou de leve a presa que a havia arranhado, aparentemente sem se intimidar com sua presença. Quando o seu olhar se fixou no dele, ela disse:

— Conte-me por que odeia tanto, Hadrian. Para a própria surpresa, ele o fez.

Roma 311 d.C. Já fazia quatro anos desde que aquele fatídico encontro

amoroso no saturnal havia acabado com uma existência e lhe presenteado com outra. A princípio, odiara Stacia, confuso como estava com o que ela havia feito dele e com tudo que lhe parecia proibido após sua transformação.

Não era mais humano, e todas as coisas humanas pareciam estar além de seu alcance. Mesmo algo simples como uma caminhada matinal não era mais possível, embora houvesse descoberto que, no final da tarde, podia sair. Para compensar a nova existência, havia se perdido em intermináveis horas de trabalho durante o dia e em inexpressivos encontros amorosos noturnos que visavam satisfazer os novos desejos que despertavam em seu íntimo, às vezes, além de seu próprio controle.

Quando, em uma ocasião, quase havia drenado uma mulher até a morte, ele jurou jamais se alimentar novamente de humanos e passou a subsistir apenas de carne e sangue de porco. Apesar disso, a vontade de afundar os dentes em carne humana provou ser uma tentação, de modo que passou a se isolar dos outros, até mesmo de sua família. Graças a Maximilian, que também havia sido transformado naquela noite fatídica, Hadrian achou um guardião que cuidava de sua alimentação e de suas outras necessidades.

Com o tempo, aprendeu autocontrole, e o autocontrole trouxe consigo uma dádiva inesperada, uma esposa. Anastasia havia sido apenas uma adolescente quando a conhecera pela primeira vez, filha de um dos amigos de seu pai. Ela havia se tornado uma jovem linda diante dos seus olhos e, nas ocasiões em que se envolvera com a família, havia lhe chamado a atenção. Descobriu depois que também chamara a dela.

Mas, o que o intrigara mais do que sua beleza foram sua inteligência e independência. A esperança de que tais qualidades, de algum modo, a tomassem mais compreensiva quanto à sua condição acabou se mostrando verdadeira e, após um breve noivado, Hadrian casou-se com ela. Menos de seis meses mais tarde, e perdidamente apaixonado, ele a havia transformado após descobrir que Anastasia estava morrendo de tuberculose. A transformação que ele sempre odiara agora lhe proporcionaria uma vida eterna ao lado da amada esposa, mas também trouxe consigo um presente inesperado. Um filho.

Anastasia havia estado no seu período de fertilidade quando ele a possuíra e a transformara. As extensas mudanças fisicas causadas pela transformação em vampira haviam permitido a concepção de uma criança, uma criança humana. Eles o batizaram de Justas e a família viveu feliz em uma das vizinhanças de Roma que havia se transformado em uma Meca para outros como eles, vampiros vivendo vidas relativamente normais.

Mas, foi então que os rumores começaram. Apenas um ou outro, a princípio, mas começaram a se espalhar com velocidade alarmante. Uma pequena, porém extremista, facção dentre os adoradores do sol do Imperador Constantino havia decidido erradicar os elementos da escuridão que eles viam como uma ameaça. Vampiros foram arrastados para as ruas. Famílias arrancadas de suas casas e levadas à força em carroças que eram abandonadas em campo aberto para que os vampiros assassem sob os raios do sol.

A princípio, Hadrian ignorou os rumores, achando que não passassem de conversa fiada, embora pudesse pressentir algo no ar no local de trabalho e em outros lugares. As pessoas estavam sendo mais cuidadosas a respeito de com quem se relacionavam. Constantino estava empolgado com a nova religião e pretendia defendê-la com rigor sempre que pudesse.

Os extremistas à sua volta pretendiam ir mais longe, punindo todo e qualquer descrente. Hadrian chegara a presenciar um dos ataques com seus próprios olhos, perto de sua loja no Fortim Vinarium. Um dos outros mercadores de vinho, um pagão

praticante, havia sido surrado quase até a morte por um grupo de jovens adoradores do sol. Ele havia ajudado o velho a voltar para a própria loja, e se dado conta de que estava na hora de pensar em mudar a família para a enorme residência no campo de seu pai. Mandou avisar que preparassem tudo na casa de campo para a sua chegada e ordenou ao guardião que se certificasse de que ela estava adequada às necessidades deles. Infelizmente, demorara demais para tomar sua decisão.

Capitulo Nove — ENCONTREI MINHA mulher e meu filho enforcados no portal

de nossa casa, a qual haviam ateado fogo. As mãos de Hadrian estavam cerradas sobre seu colo, e

Connie colocou uma mão em cima das dele. — Justas era apenas um menino. — Mas maculado por ter uma mãe vampira. Para a surpresa dela, ele virou a palma de uma das mãos para

cima e agarrou a dela antes de prosseguir com sua história. — Eu quis tirá-los de lá, enterrá-los. Só que os assassinos de

Constantino haviam retomado, ansiosos por derramar mais sangue. De modo que fugi para a casa de meu pai, achando que estaria a salvo lá.

Ele apertou a mão dela. Seu olhar brilhava devido às lágrimas contidas. Sua voz, quando ele continuou, estava rouca com as emoções que tentava reprimir. Emoções que delineavam as íris castanho-escuras de seus olhos com o apavorante brilho do demônio.

— Estavam todos mortos. Minha mãe e meu pai. Meu irmão caçula e minha irmã, que mal haviam entrado na adolescência. Massacrados por minha causa.

Connie levou a mão à face dele. — Não por sua causa. Foi porque aqueles assassinos tinham

medo de algo que fosse diferente deles. — E todos os humanos não temem a mesma coisa? Você não

enfiaria uma estaca no meu peito se tivesse a oportunidade? — Não sou assim. Eu... — Poderia aceitar o que eu sou? — ele desafiou arqueando

sardonicamente a sobrancelha, todo e qualquer traço de sua vulnerabilidade anterior emparedado atrás das feições duras de seu rosto.

Será que poderia? Connie se perguntou, passando o polegar pelos lábios dele. Lábios humanos, agora, mas na sua cabeça estava a lembrança das presas letais. Do arranhão no seu lábio e da dentada dolorosa da noite anterior.

Lentamente, ela retraiu a mão. Ele tinha mais razão do que estava disposta a admitir, sempre havendo se considerado muito liberal e sem preconceitos. Seu encontro com Hadrian estava mostrando que ela estava errada de diversas maneiras.

Os lábios dele se curvaram em um sorriso zombeteiro, mas, antes que ele pudesse censurá-la, uma batida veio da porta. A pedido de Hadrian, George adentrou o aposento, empurrando o carrinho já quase familiar. Se ele achou estranho ela estar livre e compartilhando a cama com Hadrian, nada disse. Apenas empurrou o carrinho até a mesinha que ela havia notado antes, na outra extremidade do quarto. Ele rapidamente transferiu o conteúdo do carrinho para a mesa e deixou o quarto.

— Está com fome? — perguntou Hadrian, ao descer da cama e se dirigir para a mesinha, a túnica esticando-se até pouco acima dos joelhos, deixando a mostra a musculatura definida de suas pernas. Ela também desceu da cama e se juntou a ele, a seda roçando sensualmente em sua pele. Ele a observou aproximando-se com o desejo nos olhos. Desejo humano.

Dentro dela, algo despertou com aquele olhar, contradizendo seus pensamentos anteriores de que não poderia aceitar o que ele era. Quando ele tinha esta aparência, e a admirava deste jeito, era fácil esquecer que ele era um demônio que havia lhe sugado o sangue. Que pretendia drená-la por completo a não ser que...

Ela o convencesse de que era diferente. Será que isso seria o bastante? Connie se perguntou, mas ao se lembrar do desgosto dele pelo sino e pelo traje de Papai Noel, suspeitou que talvez não fosse. Tinha de descobrir o que seria o bastante, pois a resposta poderia significar a própria salvação.

À mesa, ele se comportava tão bem quanto qualquer outro cavaleiro educado. Puxou a cadeira para ela, mas, em vez de se sentar do outro lado da mesa, sentou-se ao lado dela. Como um amante. Ele lhe serviu queijos, presunto, azeitonas e alguns legumes da pequena bandeja de antepasto. Os aromas eram acentuados e ordinários, em contraste com o aroma levedado do pão. Ele lhe passou uma fatia antes de se servir da mesma comida. Ela lembrou-se de tê-lo visto comendo na noite anterior, e não pôde deixar de perguntar em voz alta:

— Vampiros comem?

Com um dar de ombros, Hadrian espetou com o garfo um pedaço de grana e o colocou na boca. Ao mastigar, disse:

— Não nos traz nenhuma sustância, mas ainda podemos saborear o gosto.

— Neste caso, costuma ingerir comida com frequência, ou só quando tem convidados?

Ele estava mergulhando um pedaço de pão no óleo de oliva dos legumes. Deteve-se em meio ao movimento.

— Não tenho convidados... — Tem refeições? Hadrian riu e retomou o que estava fazendo. — Se por refeições quer dizer humanos, a resposta é “não”. — Então recebe convidados... — Não recebo convidados. Nunca. Agora, coma — disse,

reforçando a ordem ao colocar uma azeitona na boca de Connie. Esta se recordou das palavras dele na noite anterior, sobre

manter suas forças. Queria que ela comesse e ficasse forte para que ele ficasse satisfeito quando se alimentasse. Embora ainda estivesse com fome, empurrou o prato para longe.

— Perdi o apetite. — Covarde. De algum modo, esperava mais de você, sendo

uma colega sanguessuga e tudo mais. Ele continuou a comer, aparentemente inalterado. — Não estou no auge de minha forma esta semana. Devido ao

fato de estar de férias. E que férias elas estão sendo. Hadrian a examinou, sentada ao seu lado, com as mãos sobre

o colo e a cabeça baixa. — Férias de final de ano, suponho. Ela assentiu, e uma espessa mecha de cabelos balançou para

frente e para trás com o movimento, tapando-lhe a visão. Ele estendeu a mão e a prendeu atrás da orelha dela, precisando ver-lhe o rosto expressivo.

— Conte-me o que havia planejado fazer. Um dar de ombros fez com que a manga da túnica saísse do

lugar, revelando a pele alva da parte superior de seu braço. Ele passou o dedo ao longo do contorno de seu ombro, e ela estremeceu com o toque dele.

— Eu sou tão revoltante assim? Com um olhar rápido na direção dele, Connie disse: — Depende. Ele não tinha dúvidas do que isso dependia. — Se eu prometer permanecer humano, vai comer? Ela franziu a testa ao considerar a proposta; confusão e algo

mais passaram pelo seu olhar.

— Tornaria muito mais fácil para você, não tornaria? — ele disse. Sua confusão aumentou, e ela franziu ainda mais a testa.

— Mais fácil? Como? Ele lhe acariciou a saliência da clavícula com o polegar, antes

de descê-lo até pouco acima do volume dos seios. Outro tremor percorreu o corpo da moça, porém, desta vez, de modo diferente.

— Tornaria mais fácil para você lidar com este... desejo. Com sua atração por mim.

Ele ousou descer a mão mais um pouco e passou o polegar pelo mamilo rijo. O tremor que lhe percorreu o corpo desta vez foi mais violento. O suspiro que escapou de seus lábios não deixava dúvida quanto ao efeito que ele tinha sobre ela.

— Não quer se deliciar com minha escuridão. — Não — explodiu de seus lábios quando Hadrian apertou o

mamilo entre o polegar e o indicador e o torceu gentilmente. Verdade seja dita, ele também não queria desejá-la. Ela era

bondade e luz e, pior ainda, humana. Desejá-la poderia lhe trazer nada além de mais dor durante outra lúgubre temporada natalina. Ele teve de arrastar a mão para longe dela. Forçar-se a não remover a túnica de seda do corpo de Connie. Queria explorar o resto de seu corpo. Saborear o calor e a vida pulsando sob a sua pele. Mergulhar nas profundezas úmidas de sua feminilidade e ouvi-la gritando o nome dele quando a penetrasse.

— Vejo que não sou a única que não quer isso — ela disse, seu olhar descendo abaixo da cintura dele, por um instante, antes de se fixar no dele.

— Não, não quero. — Neste caso, o que isso faz de nós, Hadrian? — ela

perguntou, e ouvir seu nome dos lábios dela fez com que sua ereção já dolorosa ficasse ainda maior.

— Loucos — ele admitiu, arrancando uma risadinha dela. Ele, mais uma vez, desviou seu olhar para a mesa, de onde

retirou a louça suja e ajeitou tudo para o próximo prato da refeição. Estendendo a mão na direção de outra das bandejas trazidas por George, ele usou a colher para servir nos seus pratos os delicados fios de cappellini imersos em um molho de amêndoas. Ao terminar, apontou para a massa e disse:

— Coma. Ela obedeceu. A princípio hesitantemente, mas, após alguns

goles de vinho, atacou a refeição com gosto, até que o prato diante de si estivesse vazio.

— Estava muito bom — ela disse, e ele assentiu em sinal de concordância.

— A mulher de George é uma cozinheira e tanto. — George tem família? — ela indagou, pegando outro pedaço

de pão da cesta. — Ele mora nos três andares de baixo, em troca de cuidar de

mim. Connie estava prestes a dizer que era um negócio e tanto

morar em uma luxuosa casa em East Side em troca de bancar o zelador, até que pensou no que mais o zelador teria de fazer, como livrar-se das sobras de Hadrian. Só que ele havia dito que jamais recebia ninguém ali.

— Sou a única... janta que já trouxe para casa? Ele riu. — E essa é a vivacidade que me intrigou. Quando ele tirou a mesa mais uma vez, ela insistiu na

pergunta. — Sou, ou tirar o seu lixo faz parte das responsabilidades de

George? Ele se deteve ao pousar o prato diante dela. — Você é a única humana que já trouxe para dentro de minha

casa. O prato fez um barulho alto ao ser pousado sobre a mesa, e,

com movimentos rápidos, ele serviu outra comida, fatias de vitela banhadas em um molho marrom.

— Ainda não me contou nada sobre você mesma — ele disse. Dando de ombros, ela o lembrou: — Como já disse, sou uma pessoa comum. Ele fixou o olhar nela, sombrio e insistente. Ao falar, seu tom

de voz era baixo, como o de um amante no meio da noite. — Você é tudo, menos comum, Connie. Mas, desconfio que já

saiba como é bonita. Na verdade, ela não sabia. Nunca fora do tipo de colocar

muita fé na sua aparência, preferindo contar com a inteligência e outras habilidades para obter sucesso. Naquele instante, ela se deu conta de que, se ele a achava bonita, talvez a sedução pudesse ser bem-sucedida onde a inteligência falhara.

— Talvez não seja algo que os homens de minha vida tenham feito questão de mencionar — ela disse, o que não deixava de ser verdade. Bem, talvez fosse forçar um pouco a barra, considerando que podia contar nos dedos de uma mão os homens com quem já havia estado. Tudo bem, talvez nem todos os dedos de uma mão, apenas três, pensou.

Um sorriso malicioso desenhou-se nos cantos dos lábios dele. — Você não mente muito bem.

— Por que diz isso? Ela comeu um pedaço da vitela e a achou saborosa. O molho

continha pedaços de champignon, o que intensificava o gosto de comida.

— Desconfio que não tenha tido muitos homens durante a sua vida. Mas, não vou me incomodar se quiser tentar provar que estou enganado.

Ela deixou o garfo cair no prato, onde ele fez barulho ao se chocar com a porcelana cara e espirrar um pouco de molho sobre a toalha de mesa branca.

— Como disse? Provar que está enganado? Ele abaixou o próprio garfo com cuidado e virou-se na cadeira

para fitá-la de frente. — Isso mesmo, provar que estou enganado. Seduza-me.

Capitulo Dez SEDUZI-LO.Com Hadrian mantendo sua forma humana não seria a mais

insuportável das tarefas. Ele era mais do que atraente. Era lindo de morrer. Contudo, levando-se em conta que ele era um vampiro, tais palavras adquiriam um significado completamente diferente. Sem falar que sua experiência com homens era limitada. Jamais havia feito o papel de sedutora. Nunca havia se imaginado desse jeito, mas se era isso que precisava fazer para conseguir a liberdade...

Connie afastou da cabeça a preocupação quanto ao que faria se, ao longo do caminho, viesse a sentir algo por ele. Primeiro passo, toque nele, ordenou-se. Ele tinha uma mecha de cabelos rebeldes que às vezes lhe caía sobre a testa. Ela estendeu a mão e a colocou de volta no devido lugar, dizendo ao fazê-lo:

— Você quer que eu o seduza. Ele pousou a mão na parte superior de seu braço, e

lentamente lhe acariciou a pele. — Já faz um bocado de tempo desde a última vez que uma

mulher tão intrigante quanto você me tentou. Seu olhar se fixou no dele, e Connie não pressentiu nenhuma

falsidade em seus sentimentos. Ele a desejava, mas antes de prosseguir com este joguinho, queria deixar algo bem claro.

— Nada de encantos hipnóticos e nem de outros truques vampirescos. Eu o quero cem por cento humano.

Ele fez um beicinho, e ela abaixou a mão, passando o polegar sobre eles.

— Digo isso porque... Preciso que isso seja verdadeiro para mim. Quero sentir como se fosse real.

Hadrian pensou nas inúmeras mulheres que havia conquistado com seus feromônios de vampiro ao longo de quase dois mil anos. Ele as controlara por apenas um único motivo, para se alimentar. Não se deixara afetar por qualquer paixão fisica que pudesse ter vindo como parte do pacote.

Mas Connie era capaz de afetá-lo. Queria experimentar mais com ela, de modo que assentiu, e moveu a mão para o contorno de sua clavícula.

— Cem por cento humano. Sob a mão dele, a tensão desapareceu do corpo da mulher. Ela abaixou a mão do rosto de Hadrian para o ombro, onde

afastou a túnica que ele estava usando para acariciar a pele embaixo dela. Ele sabia que esta seria fria ao toque, e normalmente convocava um pouco o vampiro, pois a transformação gerava calor. Mas havia feito uma promessa, e pretendia mantê-la. Connie acariciou hesitantemente os músculos do ombro, antes de apontar para a borda da túnica.

— Costuma sempre usar isso para dormir? Ele olhou para a vestimenta antes de lhe fitar novamente os

olhos e sorrir. — Normalmente, não. —Ah, — Quer um pouco de sobremesa? — ele perguntou, na mesma

hora em que ela disse: — Quer ficar mais à vontade? — À vontade? — ele repetiu, e ela apontou para a túnica. —

Ah — disse Hadrian, decidindo que era melhor aproveitar a oportunidade antes que ela mudasse de ideia.

Ele arrancou a túnica e a descartou, expondo-se. Connie inspirou tropegamente ao fitá-lo. Esbelto e forte, com músculos bem definidos, porém sem ser exagerados. Ele tinha pouco pelo no peito, apenas um tufo de maciez escura pouco acima do coração, com uma leve trilha se desenhando pelo centro do seu corpo, passando pelo abdômen trabalhado até...

Um pênis incircunciso que havia ficado notavelmente ereto diante do seu olhar examinador. O prepúcio escondia tudo, com exceção da ponta do pênis. Quando o olhar dela se fixou ali, ele também olhou para baixo e dando de ombros, disse:

— Era a regra quando nasci.

— Certo. — Ela voltou sua atenção para a mesa e para a pergunta anterior de Hadrian. — Adoraria um pouco de sobremesa.

Com as mãos trêmulas, ele esvaziou a mesa, e colocou a sobremesa diante deles, uma pilha de bolinhos de massa frita, brilhando com alguma cobertura doce e salpicado com um pó colorido. Ele selecionou alguns dos bolinhos e os ofereceu a ela.

— Isso precisa ser comido com os dedos. Ele as levou aos lábios de Connie, e ela abriu a boca,

comendo-as. As bolas de massa eram crocantes e a cobertura era algum tipo de mel.

— Bom — ela disse, observando quando ele lambeu o mel dos dedos. O ato despertou algo em seu ínfimo, e quando ele estendeu a mão para pegar mais, ela o deteve. Em vez disso, pegou vários bolinhos e os levou à boca de Hadrian. Ele os fitou, e depois olhou para ela com alguma hesitação, mas, em seguida, agarrou-lhe o pulso, segurou firme sua mão, abriu a boca e comeu o doce. Engoliu os bolinhos rapidamente, depois, com uma gentil pressão, lhe trouxe a mão à sua boca.

Abrindo-a, lambeu o indicador para remover o que restava da cobertura. Depois, seguiu para os outros dedos, lambendo e sugando cada um deles. Quando ele lhe soltou a mão, ela a retraiu rapidamente, e a esfregou na túnica, mas era impossível apagar a sensação de sua boca e língua. Era impossível evitar imaginar como deveria ser a sensação delas em outras partes de seu corpo e tal imaginação provocou uma reação muito óbvia, da qual ele rapidamente se aproveitou.

— Posso lhe satisfazer a curiosidade, cara mia. Nervosamente ela esfregou a mão na túnica, sentindo a seda

roçar na pele. Imaginando, no seu lugar, o deslizar de seus lábios e sua boca. Ela assentiu, incapaz de pôr em palavras o seu pedido, mas ele a surpreendeu ao se ajoelhar diante dela.

— Hadrian — ela disse, pousando a mão sobre o ombro dele. Os músculos do homem se retesaram sob sua mão antes de

ele pedir: — Repita o meu nome, cara mia. Um simples pedido. Dizer o nome dele. Poderia vê-lo como um humano apenas lhe dizendo o nome. — Hadrian. Os músculos de seu ombro se contraíram por um instante, e,

em seguida, o alívio tomou conta dele. Mas, alívio foi a última coisa que ela sentiu quando ele gentilmente passou a mão ao redor de sua panturrilha e ergueu a perna dela, trazendo-lhe o pé

à boca. Como havia feito com os dedos da mão, lambeu cada um dos dedos do pé. Cada vez que ele sugava, Connie sentia um puxão entre as pernas.

Hadrian seguiu para cima, para o interior do tornozelo dela, onde deu um beijo e uma lambida. Ela estremeceu, antecipando para onde ele estava seguindo, quando o próximo beijo pousou sobre o joelho e ele roçou a face contra a parte interna da pele no local.

— Não era para eu seduzi-lo? — ela disse, quando ele ergueu a túnica, expondo-lhe as coxas.

Ele posicionou o corpo entre as pernas dela, segurando-lhe as coxas com as mãos, esfregando-se para frente e para trás, como uma gentil carícia. Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto e ele perguntou:

— Quer que eu pare? Ela estava latejando, úmida entre as pernas. A última coisa

que queria era que ele parasse, de modo que sacudiu a cabeça. O sorriso dele se alargou, mas ele não foi mais adiante. Em

vez disso, com o dedo, desenhou formas indistintas nas coxas dela.

— Não consegui escutá-la. Preciso escutá-la dizendo. Diga meu nome, cara mia.

— Não cara mia, Hadrian. Connie. Meu nome é Connie. Uma risada áspera escapou de seus lábios. — Connie. Quer que eu pare, Connie? — Não, Hadrian. Não quero que pare. Com mãos gentis, ele lhe agarrou as coxas e a puxou para a

beirada da cadeira. Vagarosamente deu uma série de beijos na parte interna de uma das coxas e pulou o local onde ela mais o queria, antes de descer beijando a parte interna de sua outra coxa. Ela lhe agarrou o corpo com as coxas e se mexeu irrequietamente na beirada da cadeira, ansiosa pelo toque dele. Precisando lhe sentir as mãos e a boca nela. Sua boca e mãos humanas deixando bem clara a realidade de que o demônio não emergira. Que, como ele havia prometido, tudo que ela estava sentindo era real.

O que quase a fez parar. A realidade apenas tornaria mais difícil... Todos os pensamentos desapareceram de sua cabeça, quando ele, enfim, levou a boca ao centro dela, habilmente encontrando seu botãozinho e beijando-o, lambendo-o e, depois, mordiscando o botão, criando uma incontestável onda de desejo que lhe atravessou o corpo. Ele não se deteve ali, seguindo para beijar e gentilmente lhe morder os lábios até atingir o âmago de Connie. Lentamente, mergulhou a língua dentro dela.

Ela suspirou e latejou ao redor dele. Quase chegou ao clímax ali mesmo, mas baixinho, ele sussurrou:

— Ainda não, Connie. Ainda há muito a saborear. Ele curvou a cabeça em direção de seu centro e, mais uma

vez, provocou o botãozinho intumescido, primeiro com a língua, depois com os dentes. Sua boca arrancou-lhe um gemido, e o corpo de Connie tremeu quando ele mergulhou um dedo dentro dela, e depois outro. Os quadris dela se ergueram da cadeira e Hadrian ergueu a cabeça, procurando qualquer sinal contraditório em seu rosto. Não encontrando nenhum, ele retirou os dedos de seu interior e se levantou, arrancando a túnica de seda do corpo dela ao fazê-lo. Estendeu a mão para Connie, convidando-a a se levantar, mas, com uma risada rouca, ela disse:

— Não tenho certeza se minhas pernas vão ser capazes de aguentar o peso de meu corpo. Além do mais, pensei que era para eu seduzi-lo.

Ela estendeu a mão e a pousou em seu membro ereto, gentilmente acariciando-o, demonstrando óbvio interesse pelo prepúcio. Gentilmente trilhou os dedos ao redor dele, e depois seguiu para a ponta, onde a cabeça do membro despontava. Quando passou os dedos pela ponta sensível, ele gemeu de prazer. Um sorriso apareceu em seu rosto. Um sorriso de sereia, demonstrando deleite diante do controle que ele havia acabado de lhe dar. Ele lhe concedeu mais, pousando a mão sobre a dela, gentilmente guiando as carícias até que estas o tivessem deixado tremendo.

Ela o surpreendeu ao se inclinar para frente e plantar um beijo na ponta do membro, lambendo-o e depois aplicando um pouquinho mais de pressão para puxar para trás a pele, expondo por completo a cabeça. Ela o umedeceu com a boca e depois o acariciou com a mão, arrancando um grito rouco da garganta dele.

— Connie. — Toque-me, Hadrian. Quero suas mãos em mim. Ela o largou apenas tempo o suficiente para levar as mãos

dele aos seus seios. Seus mamilos eram duas pontas rijas contra as palmas das mãos, quando ele as esfregou ali. Quando ela o tomou novamente na boca, ele inspirou profundamente e fechou os olhos, entregando-se às sensações. Pele quente de encontro às palmas de suas mão. Pequeninos picos rijos que girava com os dedos. Os suspiros de Connie espalhavam a sua respiração quente pela ereção úmida com seus beijos.

Ele queria mais. Relutantemente afastou-se dela, mas apenas para tomá-la nos braços e levá-la de volta para a cama. Jogou-se

nela com a mulher quente e macia sob si. Recebendo-o de bom grado ao erguer as pernas e lhe agarrar o quadril. Abriu a boca para ele quando ele a beijou, repetidamente, até não ter opção senão possuí-la. Encontrou suas partes úmidas e, vagarosamente, deslizou para dentro, depois, ficou imóvel, o prazer sendo quase mais do que podia suportar.

Ele a olhou. Os olhos dela, um tom impressionante de ardósia, estavam escuros. Suas pupilas haviam se alargado e seu olhar percorria o rosto de Hadrian. A respiração que escapava de seus lábios macios era entrecortada, quando ela estendeu a mão na direção da face dele.

— Hadrian — disse, ao lhe acariciar o rosto. Ele sentiu algo se apertar no seu ínfimo ao escutar o próprio

nome vindo dos lábios de Connie. Foi necessário todo o seu autocontrole para não chegar ao clímax. Ele não queria fazer isso sem primeiro cuidar do prazer dela. Sem experimentar a maravilha que Connie era, tão diferente de tudo que se permitira conhecer durante tanto tempo. Ele curvou a cabeça e a beijou novamente, lentamente explorando o contorno de seus lábios. O calor de sua boca e o doce deslizar de sua língua contra a dele. Seu gosto era puro e ainda doce do mel da sobremesa.

Mas, ele sabia de algo cujo gosto era ainda melhor, e lhe abandonou a boca, trilhando beijos até chegar aos seios. Gentilmente, tomou uma das pontas na boca e sugou. Era tão doce quanto pensara que seria. Connie gemeu quando ele envolveu o mamilo com os lábios e sugou carinhosamente. Ela lhe segurou a cabeça com uma das mãos, enquanto descia a outra até a parte inferior das costas, abraçando-o bem apertado. Ele a estava preenchendo por completo com o membro grosso e ereto, mas ela queria mais. Com um girar dos quadris ela o moveu, e Hadrian gemeu de encontro aos seios dela.

— Connie. Dias mios, ela devia estar louca para querê-lo tanto. Hadrian

era um demônio sanguessuga que ia lhe drenar a vida, ela tentou se lembrar, mas era difícil recordar-se disso diante dos beijos que ele lhe plantava nos seios e o modo como se continha quando finalmente começou a se mexer. Sabia que ele estava se controlando. Querendo satisfazê-la ao mexer os quadris e lhe acariciar os seios, e beijá-la de vez em quando.

O corpo de Connie estava trêmulo e úmido de suor, ardendo com o desejo que ele despertava nela. Ele lentamente começou a aumentar o ritmo de suas arremetidas até que ela estava fincando os calcanhares no colchão, agarrando-lhe os ombros com força para aprofundar a penetração.

A respiração acelerada de Hadrian acompanhava a dela, quando o clímax começou a brotar dentro de Connie, aumentando cada vez mais sua intensidade até que, com uma última arremetida, ela chegou ao apogeu, gritando-lhe o nome. Ela se agarrou a ele enquanto o corpo tremia de alívio.

Hadrian deteve seus movimentos para saborear o clímax da mulher. Ela se apertou ao redor dele, quase provocando a sua ruína, mas ele se segurou, querendo que a sensação jamais acabasse. Quando o clímax de Connie começou a perder intensidade, ele usou sua força para girar de costas para a cama e colocá-la montada dobre ele. A posição o enterrou fundo, e ela gemeu de prazer.

— Hadrian? — ela indagou, pousando as mãos no peito dele para apoiar-se.

— Faça amor comigo, Connie — ele disse, correndo as mãos pelos braços dela até lhe alcançar os seios e, mais uma vez, acariciá-los amorosamente.

Ela sobressaltou-se com o toque, e arquejou, mas, depois, se moveu. Mexendo os quadris para frente e para trás, fazendo com que ele entrasse e saísse dela. O movimento provocou uma deliciosa fricção onde estavam unidos.

— Isso mesmo, cara mia — ele incentivou, descendo as mãos até os quadris dela, guiando-a até ela chegar novamente ao climax, gritando o nome dele.

Hadrian chegou ao seu limite, e seu corpo saltou com a força do prazer que tomou conta dele. Quando ela se largou sobre o corpo do homem, ele estava totalmente envolvido na experiência que era ela. No seu ardor e na ligeira umidade de sua pele. Nos aromas almiscarados de sua excitação e nos seus sabores. Doces, terrenos.

Ao abraçá-la, o coração de Connie batia em um ritmo frenético contra o peito dele, devido à paixão que acabara de experimentar. A batida frenética despertou a besta no seu ínfimo. A que ele havia prometido manter acorrentada. Ela a pressentiu, pois estremeceu sobre ele e tentou se afastar.

O olhar magoado da moça o perfurou com condenação, mas o demônio no seu íntimo se recusava a ser contido. Ao saltar para cima dela, invertendo as posições e prendendo-a de encontro ao colchão, ele implorou:

— Perdoe-me. Depois, Hadrian afundou as presas nela e se alimentou.

Capitulo Onze QUANDO CONNIE acordou, estava novamente amarrada às

colunas da cama. Seu corpo estava dolorido, mas não por estar amarrado. A dor era resultado do sexo que havia feito antes. A mortificação se abateu sobre ela ao lembrar do que havia feito. Do que havia deixado que ele fizesse. Devia saber que não poderia confiar em um demônio. A última coisa de que se lembrava eram as palavras de desculpas dele e uma promessa sussurrada que Hadrian fizera ao mordê-la...

— Jamais a deixarei partir. Sabia que ainda estava viva. Perguntou-se se o fato de estar

amarrada às colunas da cama significava que ele não a havia transformado, que a estava mantendo viva para outra refeição. E, depois, outra, e mais outra... Porque ele não tinha nenhuma intenção de soltá-la. Connie não podia permitir que isso acontecesse.

Ele não estava na cama com ela, embora Connie pudesse dizer que estava de dia pela forte claridade que dava para se ver ao redor das bordas das cortinas. Desta vez, estavam fechadas, e, quando seus olhos se acostumaram à penumbra, ela, por fim, o avistou, largado em um pequeno sofá na outra extremidade do quarto. Provavelmente o motivo das cortinas estarem fechadas. Caso contrário, os raios do sol lhe estariam banhando o corpo durante o sono de Hadrian.

Por um instante, ela se perguntou por que ele não estava na cama ao seu lado. Culpa, talvez? Ela não pensou mais no assunto, preferindo se concentrar em como desatar suas amarras ou... As faixas estavam tão bem amarradas no seu pulso quanto na noite anterior, mas as outras extremidades estavam presas mais acima nas colunas da cama. Alto o suficiente para que ela pudesse arrancá-las. Connie virou-se de tal modo que seus pés ficaram encostados na cabeceira de madeira, forçando-a a se encolher toda, até ficar parecendo uma bola. Melhor assim, pensou ao empurrar com força, com ambos os braços e as pernas, os entalhes da madeira ornamentada se fincando nas plantas de seus pés. A coluna e a cabeceira balançaram um pouco, mas aguentaram firmes.

Pressão intensa era do que ela precisava. Arriscando um olhar para ver se o havia incomodado, Connie viu que Hadrian continuava a dormir, aparentemente sem se dar conta de sua tentativa de escapar.

Juntando as coxas, mais uma vez, firmou a posição dos pés de encontro à cabeceira, e inspirou profundamente. Reunindo todas as suas energias, empurrou o mais forte que podia.

O ruído da madeira se partindo foi doce, mas a cabeceira não cedeu por completo. Olhou novamente para Hadrian. Nenhum sinal de ele houvesse escutado alguma coisa. Seus braços e suas pernas doíam devido ao esforço de empurrar, mas o gemido da madeira a encorajou a prosseguir. Com um último puxão, a coluna se partiu e aterrissou no seu colo. Com a afiada ponta desigual da coluna, ela serrou a parte mais fina de suas amarras. Sequer pensou nos nós dos pulsos. Estavam apertados demais e ela corria o risco de cortar os próprios pulsos caso tentasse cortar ao redor deles. Tudo que precisava era ter as mãos livres. Um segundo mais tarde, teve o seu desejo realizado. Durante todo esse tempo, Hadrian sequer se mexeu.

Silenciosamente, ela se esgueirou na direção da porta, a pontiaguda coluna da cama na mão para se defender. Mas, ao se aproximar da porta, se deu conta de que estava nua em pelo. Não podia sair daquele jeito. Havia duas portas diante de Connie, e George havia entrado e saído por uma delas. Ela torcia para que a outra fosse um armário. Delicadamente, girou a maçaneta e espiou lá dentro. Era mesmo um espaçoso armário de roupas. Ela entrou e fechou a porta atrás de si, acendendo a luz interna ao fazê-lo. O recinto estava cheio dos mais diversos tipos de peças de vestuário. Desde jeans até ternos, todos da melhor qualidade.

Ele era alto, e ela roliça. Os jeans de Hadrian mal passaram pelos seus quadris, mas ela teve de dobrar várias vezes a bainha para não tropeçar nas pernas da calça. Pegando um suéter preto de uma das prateleiras, o vestiu por sobre a cabeça. A roupa cheirava a Hadrian. Um perfume silvestre e indefinidamente másculo. O corpo de Connie despertou dolorosamente, o que a preocupou. Será que jamais se veria livre da presença dele, após este encontro acidental?

Jamais a deixarei partir. As palavras dele ecoaram pela sua cabeça e ela o imaginou perseguindo-a. Sempre presente. O medo com o qual teria de conviver para sempre, a não ser que encontrasse um modo de... Livrar-se dele?

Ela se esgueirou para fora do armário e olhou na direção do sofá, mas ele não estava lá. Um segundo depois, alguém a agarrou por detrás, e Connie reagiu, agarrando-lhe o braço e girando o corpo. Hadrian voou por sobre o ombro dela e aterrissou ruidosamente no chão. Antes que ele pudesse se mover ela se jogou sobre ele, a ponta afiada da estaca diretamente sobre o seu

coração. Um forte arranhão vermelho marcava a pele dele no local onde ela havia roçado a coluna da cama.

Ela precisaria apenas colocar o seu peso sobre a estaca para perfurar o coração dele. Apenas um pouquinho mais de pressão e...

— Posso sentir o cheiro do seu medo. Você quer fazer isso. Pois, faça.

Connie não podia ignorar a dor na voz dele. — Prometa que me deixará em paz... — Vá em frente, Connie. Sou um monstro, lembra-se? Será

que isso não torna tudo mais fácil? Ela o fitou nos olhos e pôde enxergar neles arrependimento.

Seria por causa do que havia feito ontem à noite? Porque havia quebrado a promessa que fizera? Neste caso, de que adiantaria ele prometer alguma coisa agora? E, no entanto, pediu novamente:

— Prometa me deixar em paz, Hadrian. Para enfatizar o seu ponto, ela pressionou um pouquinho mais

a estaca, e a pele sob ela ficou branca, devido à pressão. Hadrian pensou na possibilidade de jamais vê-la novamente. Sobre o entusiasmo e a empolgação que ela havia trazido à vida dele em apenas dois breves dias. Talvez fosse melhor que ela lhe enfiasse a estaca no peito a voltar àquela existência banal e vazia.

Ele colocou a mão sobre a dela na estaca e a pressionou para baixo, sentindo o primeiro beliscão de dor quando a madeira lhe perfurou a pele.

— Vá em frente, prove para mim que não é diferente de todos os outros. Os que mataram minha família e juraram destruir a minha espécie.

A mão dela tremia sob a dele, e, subitamente, ela se pôs em movimento, fugindo do aposento. Seus pés descalços batiam no chão de madeira dos degraus das escadas ao correr para a sua liberdade. A batida da porta da frente deixou Hadrian saber que ela havia conseguido escapar. Ele ainda estava segurando a estaca na mão, e, por um instante, pensou em afundá-la no peito. Foi então que a esperança despertou, mais forte do que nunca.

Ele soltou a estaca e sentou-se no chão, olhando a porta aberta de seu quarto de dormir. Ela havia pedido que ele fizesse uma promessa. Uma que jamais poderia cumprir. Mas, desconfiava que, caso houvesse pedido que ela fizesse a mesma promessa, ela não teria sido capaz. Connie voltaria.

QUANDO CONNIE chegou em casa, estava gelada. Correr por aí descalça e sem casaco havia sido sua única opção, mas a friagem do dia havia penetrado até os seus ossos, acompanhada de outro tipo de arrepio, o de medo. Ela tomou um banho quente para se livrar do frio, mas também para ajudar a arrancar de seu corpo o cheiro dele. Tentou imaginar de quanto tempo precisaria para arrancar Hadrian da cabeça.

O banho quente a fez se sentir letárgica. Ou talvez fossem os eventos dos últimos dois dias. A tensão fisica e mental. O desgaste a que Hadrian lhe submetera o organismo ao se alimentar dela. Ele havia quebrado sua promessa. Jamais poderia confiar na sua palavra de novo, pensou, mas, subitamente, se deu conta de que não teria de se preocupar com isso. Jamais pretendia voltar a vê-lo.

Para se livrar do cansaço em sua mente e membros, enfiou-se debaixo das cobertas para um longo cochilo. Tinha apenas algumas horas antes de ter que decidir se ia ou não voltar para o trabalho de Papai Noel diante da biblioteca. Para decidir se ousava confrontá-lo mais uma vez.

O sono veio rapidamente sob a proteção das cobertas pesadas e do calor que a envolvia no seu pequeno casulo. Mas, não foi um sono tranquilo. Repetidamente escutava as palavras de Hadrian lhe contando a sua vida. Ela experimentou toda a tristeza e dor do vampiro, recriando no seu íntimo o poço de compaixão que sentira por ele antes de Hadrian tomá-la o seu jantar.

Ela afastou a compaixão, querendo manter a sua fúria. Precisava lidar com as emoções conflitantes que continuavam a guerrear dentro dela, à medida que as imagens iam lentamente invadindo o seu consciente. De algum modo, sabia que não eram imagens de seus sonhos. Eram as lembranças de Hadrian passando como um filme no cérebro dela. Mostrando-lhe o último tormento natalino dele.

Capitulo Doze Roma, 312d.C. 21 de dezembro, pelo calendário Juliano 25 de dezembro, pelo calendário gregoriano Solstício de Inverno

Sol Invictus Dia de Natal

POR SEMANAS após o assassinato da família, Hadrian se escondeu onde podia durante o dia, abandonando o esconderijo durante a noite apenas tempo o suficiente para encontrar algo ou alguém para se alimentar. Ele se mudava constantemente para evitar os seguidores extremistas de Constantino que ainda estavam aterrorizando vampiros em tudo quanto era lugar. E, então, um dia, buscou refúgio em um túnel subterrâneo usado para enterrar humanos mortos. Nas catacumbas nos arredores de Roma, acidentalmente se deparou com uma reunião de um grupo da resistência vampira. Seus membros estavam cansados de ver suas famílias assassinadas e de se esconder como animais. Os vampiros haviam começado a se organizar. Estavam planejando um modo de se livrar de Constantino e dos assassinos que matavam em seu nome.

Hadrian não tinha dúvidas de que se juntaria a eles. Estava cansado de se esconder como um cachorro escorraçado e há muito que queria vingança contra aqueles que haviam assassinado sua família. Após meses treinando e aguardando, o dia deles enfim chegou. Hadrian marchou ao lado de centenas de outros vampiros através das catacumbas, até chegar às cavernas naturais, que emergiam nos limites da cidade.

As Red Rocks ficavam apenas a poucos quilômetros de Roma, cercada por várias colinas e o Tiber. Maxentius já estava acampado ali, pronto para enfrentar Constantino pelo controle das porções ocidentais do Império Romano. Os vampiros haviam decidido apoiar Maxentius, na esperança de que ele lhes oferecesse uma existência pacífica no seu domínio. Por causa da participação deles, Maxentius e os líderes vampiros haviam escolhido o dia do solstício de inverno para o ataque. A noite mais longa do ano daria aos guerreiros vampiros mais tempo para lutar, e, com sorte, garantir a vitória para o desafiante de Constantino.

A batalha já havia começado quando os vampiros emergiram do solo ao cair da noite. Hadrian avançou com a espada e o escudo nas mãos. Abrindo caminho através das legiões dos soldados de Constantino com estocadas e golpes, ele rapidamente se deu conta de que estavam em número muito inferior. Seriam necessários todos eles, e mais alguns, para ganhar o dia antes que o sol nascesse e tivessem que recuar.

O solo sob seus pés estava úmido de todo o sangue derramado durante a batalha. Seu braço estava ficando cansado, mas ele prosseguiu lutando, mesmo após ser atingido por inúmeros golpes. Uma violenta estocada com a espada quase o empalou, fazendo com que caísse de joelhos. A dor excruciante percorreu-lhe o corpo, quando o soldado de Constantino retirou a espada, pretendendo completar a missão decapitando Hadrian, uma das maneiras mais certas de garantir que Hadrian não se levantaria novamente para retomar a batalha.

De algum modo conseguiu bloquear o golpe do soldado e contra-atacar, enterrando profundamente a lâmina de sua própria espada na barriga do adversário. Quando o homem caiu no chão diante dele, Hadrian arrastou-se para descansar apoiado em uma rocha próxima, aguardando que seu sangue-vampiro o curasse para que pudesse voltar ao combate.

Aqueles poucos minutos lhe deram oportunidade de ver o panorama completo diante de si. As turbas de homens e vampiros, lutando uma contra a outra. Sangue jorrando dos ferimentos, quando pedaços de corpos saíam voando e homens caíam ao chão, já mortos ou morrendo.

Muitos dos homens de Maximus já haviam tombado ali, ao lado dos camaradas vampiros, mortos pelas centenas de soldados sob o comando de Constantino. Haviam tantos, Hadrian pensou, inspirando dolorosamente e se dando conta de que, além do ferimento no abdômen, outro profundo golpe de espada havia lhe perfurado a lateral. Era por isso que estava demorando tanto para sarar. Mas, não podia se dar ao luxo de tardar. Se não fossem pelos vampiros, a batalha já teria sido perdida há muito tempo.

Lentamente ele se colocou de pé, e avançou para rechaçar outro ataque dos homens de Constantino. Seus escudos exibiam as letras gregas chi e rho — a abreviação para Cristo, o novo deus de Constantino. As duas letras estavam sobrepostas, recriando o deus martirizado na sua cruz.

Embora cada movimento seu fosse repleto de dor e cansaço, Hadrian lutou ao lado dos outros membros da resistência vampira. Sabiam que está poderia ser a última batalha deles, mas, se iam viver em liberdade, precisavam correr este risco.

O combate se estendeu noite adentro e os vampiros conseguiram manter sua posição, talvez até avançar. Se Maxentius pudesse concentrar suas tropas humanas atrás deles, a vitória estada garantida. Mas, mesmo ao batalhar por sua vida durante a longa noite do solstício, Hadrian sabia que, assim que o sol começasse a nascer, ele e seus compatriotas teriam de bater em retirada.

Procurou se convencer de que ainda tinham algum tempo, mesmo quando os tênues primeiros sinais da alvorada começaram a aparecer no céu, mas, foi então que um daqueles primeiros raios se refletiu no escudo brilhante de um dos homens de Constantino. Ele viu o vampiro diante do homem cambalear para trás, o sinal da cruz queimado na sua pele, quando os raios do sol foram amplificados pelos escudos semelhantes a espelhos. Um rugido baixinho espalhou-se, dando forças aos adoradores do sol de Constantino, que viram na marcação pelo fogo do vampiro um sinal. Como um só eles viraram os escudos para os raios nascentes da alvorada, e, diante dos olhos de Hadrian, vampiro após vampiro se encolheu de dor, ou fugiu em busca do refugio da escuridão, apenas para ser golpeado ao bater em retirada.

Hadrian abriu caminho a golpes de espada, derrubando um soldado e erguendo o escudo para se proteger dos raios refletidos que outro oponente estava lhe dirigindo. Um golpe o acertou por trás, forçando-o a cair de joelhos, mas ele conseguiu rolar desviando-se da estocada fatal, levantar-se e matar seu adversário. Mas Hadrian estava enfraquecendo, devido a combinação da perda de sangue com os raios do sol nascente.

Ao ver vampiro após vampiro tombar morto aos pés dos adoradores do sol, percebeu que não teria a sua vingança. Dúzias de outros fugiam do sol e do símbolo da cruz, voltando para as cavernas de onde haviam emergido, com os homens de Constantino no seu encalço.

A pele dele começou a formigar devido aos raios do sol nascente, mas estava longe demais da entrada das cavernas e, mesmo que conseguisse chegar lá, apenas a morte o aguardava. Os homens de Constantino não deixariam nenhum deles vivo.

Ele olhou ao redor nervosamente, buscando abrigo, mas estava cercado apenas por morte e destruição. Centenas de humanos, seu sangue emitindo vapor sob o frio da manhã. Metade do mesmo número de vampiros, seus corpos assando lentamente sob os raios do sol. Sua própria pele estava começando a ficar vermelha e a arder à medida que o sol se levantava no céu.

A poucos metros de distância, uma pequena fenda cortava profundamente a lateral da colina. Ele correu em sua direção, golpeando e matando os poucos soldados que haviam permanecido para trás no campo de batalha. Hadrian mergulhou na fenda pequena e estreita, e puxou os corpos dos mortos para cima dele, para protegê-lo do sol. Seriam necessários dias para limpar o campo de batalha. Tudo de que precisava eram algumas horas até que o sol estivesse fraco o suficiente para ele tentar

escapar. Mas, primeiro, precisava se alimentar para poder curar seus ferimentos. Pegou o corpo que estava mais próximo. Este ainda tinha o calor da vida. Hadrian fincou as presas no pescoço do humano morto e se alimentou.

CONNIE SE levantou bruscamente na cama, respirando de modo tão ofegante como se houvesse acabado de travar a batalha de sua vida.

Na sua cabeça apareceram as imagens de morte que Hadrian havia testemunhado ao longo de um milênio de festas natalinas. Não era à toa que odiava a data. Ela já lhe custara tanto. Tanto, e, contudo...

Ela se lembrou da ternura do toque dele e tentou reconciliá-la com sua sede de sangue. De algum modo, isso não era tão dificil de fazer como havia imaginado. O que a fez reconsiderar se deveria vestir o traje de Papai Noel naquela noite e lembrá-lo de seu tormento.

A campainha soando alta do interfone a sobressaltou. Ela desceu da cama e caminhou até a porta do apartamento, onde atendeu o porteiro.

— Srta. Morales, tem um mensageiro aqui para vê-la. Ele disse que seu nome é George.

George. Ela imaginou se ele não estaria ali para buscá-la para o seu amo, mas Connie se recusava a se esconder de medo.

— Pode mandá-lo subir, por favor. Ela vestiu um robe, e quando escutou a batida à porta, abriu-

a. George estava postado ali, com um embrulho em mãos. — Suas coisas, madame. Hadrian achou que as poderia

querer. Com mãos trêmulas, ela retirou o embrulho das mãos de

George. Murmurou um obrigado, e ele acenou com a cabeça, e começou a se afastar. Mas, antes que ela pudesse fechar a porta, ele virou-se para ela mais uma vez.

— Ele não é mau, sabe? Cuida muito bem de mim e de minha família. — Colocando a mão no bolso, retirou de lá de dentro um cartão, que entregou a Connie. — Para o caso de mudar de ideia.

Goerge foi embora, e ela fechou a porta, olhando o cartão que continha apenas um número de telefone. O número de Hadrian?

Depositando o cartão no bolso do robe, caminhou até o sofá e colocou o embrulho sobe a mesinha-de-centro. O pacote estava embrulhado com papel pardo comum e amarrado com barbante. Um simples puxão desfez o nó, diferente das amarras que a haviam prendido. Dentro do embrulho estavam seus sapatos, a

bolsa e a roupa de baixo que estava usando quando Hadrian a havia capturado. Sob tudo estava um outro embrulho.

Ela o abriu para encontrar o traje de Papai Noel e a barba, recém-lavados e cheirando muito melhor do que quando ela os usara pela última vez. Uma mensagem da parte dele? Ou, um pedido de desculpas? Só havia um modo de descobrir.

Capitulo Treze HADRIAN ACORDOU ao som do badalar do sino e do

cumprimento gentilmente sussurrado para um transeunte. Um sorriso brotou em seus lábios, antes que o arrependimento tomasse conta dele. Ele se espreguiçou ao se levantar e esfregou a mão sobre o centro do peito. A região ainda estava dolorida, mas não havia nenhuma cicatriz. O forte arranhão feito pela estava da coluna da cama já havia há muito desaparecido.

Vampiros saravam bem rápido, quando saudáveis e bem alimentados. Ele certamente podia ser incluído no segundo grupo, pensou, olhando para a coluna da cama que ela havia partido durante a sua fuga.

George já havia dado início aos reparos. O topo da coluna estava no seu devido lugar, e uma borda mais clara de tinta identificava onde o guardião havia usado algum tipo de enxerto de madeira para ocultar o estrago.

Uma batida veio da porta, e, obedecendo ao comando de Hadrian, George entrou, empurrando o carrinho de comida.

Hadrian sentou-se na beirada da cama, e apontou para a madeira remendada.

— Começou a consertar a coluna da cama. Ficou bem. George assentiu, mas o sorriso que deu foi recheado de

tristeza. — Algumas coisas são mais fáceis de consertar do que outras. Hadrian levantou-se e caminhou até o carrinho, pegando um

cálice de ouro. Bebeu um gole do sangue aquecido à perfeição e caminhou na direção da janela. Afastando a cortina, olhou para baixo. Connie estava lá, balançando o sino. Solicitando doações daqueles que passavam.

Ela ergueu os olhos para a janela. Será que havia pressentido a sua presença? Ele moveu-se para o lado, incapaz de encará-la, mas lidar com o olhar condenatório de George não era nada mais fácil. Empertigando os ombros, colocou uma das mãos no quadril e disse:

— E o que quer que eu faça? Corra atrás dela quando existem centenas de refeições grátis espalhadas pelas ruas desta cidade, à minha espera?

George agarrou a barra de empurrar do carrinho e apertou as mãos ao redor dela.

— Isso é tudo que ela foi, patrão? Um lanche para viagem? Quando o guardião o disse com tanto desdém, Hadrian sentiu-

se tomado de fúria, mas não dirigida a George. — Saia, agora. Hadrian já estava caminhando de volta para a janela quando

escutou a porta bater ruidosamente atrás de si. Seu guardião estava aborrecido com ele, o que era direito dele. Ele próprio estava zangado consigo mesmo por muitas razões, e a maioria delas tinha a ver com o Papai Noel balançando o sino lá embaixo.

Quando chegou à janela, espiou lá para baixo mais uma vez, lembrando-se que, assim que a temporada de Natal houvesse passado, Connie também teria ido embora. Melhor assim. O destino mais uma vez lhe trouxera outra temporada natalina cheia de dor, só que, desta vez, a dor havia sido causada por ele mesmo. Quem podia saber que quebrar uma promessa poderia trazer tanta infelicidade?

DE VALISE na mão, o homem passou por ela, mas, em seguida deu meia-volta e retornou. Ele a olhou confuso, como se não soubesse direito por que estava ali e o que estava fazendo, mas, depois, abaixou a valise, enfiou a mão no bolso do paletó e sacou da carteira. Ele folheou rapidamente as notas, antes de retirar todas da carteira e as jogar dentro do pote de contribuições. Perplexa, Connie disse:

— Obrigada, eu suponho. Com uma expressão similarmente perplexa, ele devolveu a

carteira ao bolso do paletó, pegou a valise, e foi embora. Pensativa, ela olhou para cima, observando a janela. Depois, começou a balançar o sino de novo, a princípio, lentamente, depois, com maior fervor. Querendo irritá-lo. Querendo lembrar-lhe de que ela estava...

O quê? Ainda ali? Ainda dentro do raio de ação do poder dele, caso Hadrian quisesse usar seu poder?

Uma jovem gótica aproximou-se, vestida de preto dos pés à cabeça. As correntes de metal dependuradas de seu jeans pareciam pequenos sinos tocando na noite ao se balançarem. O ritmo de seus passos era acelerado e decidido quando ela se aproximou, claramente a caminho de algo importante. Contudo, à medida que ia se aproximando, o ritmo de suas passadas foi

desacelerando, até que a jovem gótica se deteve diante do pote, enfiou a mão no bolso do casaco e tirou de lá de dentro um punhado de trocados. Ela jogou tudo dentro do pote, as moedas alegremente ecoando de encontro à borda antes de se assentarem sobre as notas do executivo. Depois, a gótica foi embora, suas passadas tão determinadas quanto antes de chegar a Connie.

Hadrian estava por detrás disso. Ela atravessou apressadamente a rua, mas deteve-se diante

dos degraus que levavam à casa de tijolos. Inspirando profundamente, reuniu suas forças, subiu a escadaria e bateu com força à porta. George atendeu, no rosto enrugado uma expressão de surpresa.

— Diga-lhe para parar. Encher o pote de contribuições não vai me fazer ir embora.

Um sorriso triste apareceu no rosto do guardião. — E o que a faz pensar que ele quer que vá embora? Ela ergueu a cabeça, olhando para o último andar. Viu a

cortina se mover. Pensou em todos os Natais infelizes pelos quais ele havia passado. No vazio de sua vida, e, possivelmente, na vida de Connie. Hadrian havia sentido uma conexão com ela, e Connie com ele, só que...

— Ele quebrou uma promessa que me fez, George. O guardião balançou a cabeça. — Ele sabe disso, senhorita. Ela considerou a afirmativa de George e as ações de Hadrian.

A promessa de que jamais a deixaria em paz e, no entanto... — Não vou trabalhar como Papai Noel amanhã. Gostaria de

lhe pedir um favor. Desta vez, o balançar da cabeça de George veio

acompanhado de um sorriso. — Às ordens, senhorita.

CONNIE REMEXEU uma última vez nos talheres, antes de sentar-se para aguardar o crepúsculo e o despertar de Hadrian. Ela pedira a George para preparar a refeição favorita de Hadrian, e vestira uma de suas roupas especiais para as festas, um vestido de veludo cor-de-vinho. Já haviam lhe dito que a cor combinava bem com o seu tom de pele azeitonado e o seu cabelo castanho. Além do mais, o decote lhe realçava os melhores atributos, enquanto lhe afinava os quadris amplos.

Queria agradá-lo, embora houvesse passado o dia todo considerando suas razões para isso. Toda e qualquer lógica lhe

dizia que deveria odiá-lo. Ele a havia feito prisioneira. Violara-lhe o corpo ao se alimentar dela. Destroçara-lhe a confiança ao quebrar a promessa que havia feito.

No entanto, ela ainda estava ali, ansiosamente aguardando que ele despertasse. Possivelmente, em mais de uma maneira. Estava certa de que muitos diriam que era síndrome de Estocolmo, e que ela havia desenvolvido algum vínculo doentio com o seu carcereiro. Ela havia, sem dúvida nenhuma, considerado um bocado tal possibilidade ao longo da última noite e do último dia... Mas, a verdade era que tinha um bom coração e este bom coração havia visto tristeza no dele. Ela havia percebido que havia amor e compaixão sufocados pelas perdas que Hadrian havia sofrido durante a vida.

O barulho das cobertas desviou sua atenção de suas considerações, e a fixou em Hadrian, que estava se espreguiçando e se sentando na cama, o cabelo em pé devido ao fato de ter dormido. Seu corpo era tão magnífico quanto ela se lembrava, sem sequer vestígio de qualquer marca da estaca que ela encostara no seu peito dois dias antes.

Ele ficou imóvel ao vê-la sentada ali, depois, passou a mão trêmula pelos compridos cabelos desgrenhados.

— Não estava esperando o seu retorno. — Eu também não. — Neste caso, por que está aqui? Ele estendeu a mão na direção de algo no pé da cama, um

robe azul-marinho que rapidamente vestiu, escondendo o corpo dos olhos dela. Hadrian levantou-se e caminhou na direção dela, amarrando com força o robe ao fazê-lo. Ela ficou de pé e apontou para a refeição.

— Amanhã é meu último dia como Papai Noel. Depois disso, vou embora, e pensei...

O que ela havia pensado? Connie se perguntou. Mesmo agora, ainda estava em conflito no tocante a seus motivos para estar ali. Incapaz de completar a frase, apontou constrangida para o pequeno presente sobre o prato de jantar de Hadrian.

— Queria apenas lhe trazer algo. Para tornar o Natal menos... — Lesivo? Ele arqueou a sobrancelha e pegou a pequena e alegre caixa

de cima do prato. — O destino nos uniu por um motivo, Hadrian. Ele riu, asperamente, e brincou com a fita que envolvia o

presente.

— O destino já encontrou muito prazer em destruir mais de um final de ano para mim, sendo assim, o que será que vai me trazer este ano?

— Esperança — ela disse, enfim se dando conta do motivo pelo qual voltara. — Esperança de que este Natal e o próximo trarão algo diferente.

Ele riu novamente, mas havia um tom peculiar nesta risada. Algo mais leve, como se, de fato, estivesse pondo fé em suas palavras.

— É uma mulher interessante, Connie. Ela apontou para o presente nas mãos dele. — Abra. Ele, mais uma vez, o jogou de uma mão para a outra, antes de

rapidamente rasgar a fita e o papel. Hesitou antes de abrir a tampa da caixa, olhando interrogativamente para Connie, antes de finalmente a retirar.

Um sorriso sincero apareceu no seu rosto. Hadrian sacudiu a cabeça, riu com um pouco mais de força e alegria ao retirar de dentro da caixa a enorme bola de cristal cheia de água com o enorme Papai Noel no centro da cena natalina.

— Ela toca “Os Doze Dias de Natal” — ela avisou, ao estender a mão na direção da bola de cristal, pegando-a para dar corda. A música preencheu o ar, pequenos sininhos tocando a melodia.

— Obrigado. Vai sempre me lembrar de você. Connie sabia que a intenção das palavras dele era libertá-la

de sua ameaça anterior de que jamais a deixaria em paz. Precisava oferecer algo em troca. Entrelaçando os dedos com os dele, disse:

— Ainda não começamos a comemorar os 12 dias de Natal. Hadrian pensou em suas palavras e no presente. Sem querer

presumir que podiam significar mais do davam a entender, ele disse:

— Advogados são sempre tão teimosos? — Somos treinados para isso. — Suponho que isso queira dizer que voltarei a vê-la. Ela sorriu e balançou alegremente as duas mãos dadas. — Ainda tem mais um dia para fazer uma doação. Com a mão livre, ele puxou uma cadeira para ela se sentar à

mesa. — Não conta o fato de eu ter convencido todas aquelas

pessoas ontem... — Definitivamente não. Na verdade, chego a me sentir

culpada por ter aceitado o dinheiro deles — ela disse, ao se sentar

e soltar a mão da dele, para que pudesse servi-lo das travessas sobre a mesa.

— Cara mia, não pode ser honesta a este ponto. Afinal de contas, é advogada.

Ela riu, e usou a concha para servir um pouco de sopa no prato dele.

— A segunda regra vai ser “chega de piadas de advogado”. Depois de se servir de um pouco de sopa, ele a fitou nos olhos

e perguntou: — E qual é a primeira regra? — Nada de morder... a não ser que eu peça, é claro. — Presumo que as mesmas regras se apliquem a mim? Ele ergueu a sobrancelha, quando ela o fitou com toda a

intensidade de seu olhar, o desejo acesso. — Quer que eu o morda? O tremor na voz dela e em suas mãos ao abaixar a colher até

o prato dizia a Hadrian que a possibilidade não deixava de afetá-la. Determinado a descobrir se isso era bom ou mim, ele disse:

— Quer me morder agora? A mão segurando a colher chacoalhou na borda do prato,

mas, logo em seguida, um sorriso malicioso apareceu nos lábios dela.

— Não prefere guardar a sobremesa para depois? Sua ereção criou vida, quando Hadrian imaginou-se sendo a

sobremesa para variar. — Uma maravilhosa sugestão, cara mia. Ele não saberia dizer se foi a pressa para chegar aos doces,

ou a refeição e a companhia absolutamente maravilhosas que fizeram a noite passar voando. O jantar havia sido composto de muitos de seus pratos favoritos, desde a sopa até a vitela ao molho de vinho com nhoque em molho cremoso de champignon. Haviam compartilhado a refeição como dois amantes, sentados lado a lado, ocasionalmente um dando comida na boca do outro. Inclinando-se um para perto do outro, de modo que as pernas, ou um braço roçasse no outro quando se mexiam.

Agora, estava na hora do doce, e George havia optado pela simplicidade. Suculentos morangos inteiros repousavam em um prato, ao lado de uma vasilha pequena contendo uma mistura com azeite balsâmico.

Connie olhou um pouco receosa a sobremesa, mas Hadrian pegou uma fruta, a banhou na mistura e a levou aos lábios da mulher. Ela a aceitou, e, depois, arregalando os olhos, cobriu a boca com a mão e disse:

— Bom Deus, mas isso é maravilhoso.

Ele mergulhou outra fruta e a deixou cair na própria boca. Os sabores explodiam nela. Os morangos eram doces, enquanto a mistura balsâmica era amarga e ligeiramente picante. Hadrian fez menção de pegar outra fruta, quando ela lhe segurou a mão e pegou um morango. Connie o mergulhou na mistura e se aproximou dele, posicionando uma das pernas entre as coxas dele e a outra do lado de fora.

Ela mordeu a fruta, e o suco desta lhe manchou os lábios. Estava se preparando para lambê-los, quando ele disse:

— Não. Com o olhar fixo na boca de Connie, Hadrian aproximou-se,

cruzando os últimos centímetros que os separavam. Segurando-lhe a nuca, ele lentamente lhe lambeu o suco da boca e, depois, mergulhou a língua lá dentro. As frutas podiam ter sido doces, mas a boca de Connie era ainda mais saborosa, e a carícia de sua língua contra a dele, gentil e curiosa, o excitava como nada mais era capaz de fazer. Ele respondeu â carícia aprofundando o beijo, os lábios de Hadrian saboreando cada contorno de sua boca, e aceitando as arremetidas da língua dela.

Quando, enfim se separaram, ambos estavam trêmulos e ofegantes. Ao olhar para ele, Connie se deu conta de que ainda estava segurando o morango. O suco da fruta e da mistura balsâmica havia deixado uma mancha marrom-avermelhada no meio do peito dele.

— Acho que precisamos dar um jeito nisso — ela disse, jogando o morango no prato e pegando um guardanapo.

Ele lhe segurou a mão quando ela já estava quase chegando no peito dele. Connie olhou rapidamente para ele e notou o brilho nos olhos escuros.

— Quem sabe uma lambida antes de morder? Um arrepio de desejo percorreu todas as terminações

nervosas dela, mas, em seguida, ela inclinou-se para frente e abriu um pouco mais as bordas do robe, expondo um pouco mais do peito dele. Sua pele tinha um tom azeitonado, mas com uma palidez que ela supunha ser característica de sua condição de vampiro. A cor mais escura de sua pele combinava com a cor caramelo-escuro de seus mamilos. Hesitantemente, ela correu as costas da mão pelos pelos de seu peito, antes de seguir com ela para um dos mamilos, onde a passou de um lado para o outro, em um movimento lento, ao se inclinar para lambê-lo. Com algumas passadas lentas da língua, ela retirou o suco da pele macia e fria, mas não se deteve ali.

Movendo a cabeça, ela cobriu com a boca a ponta intumescida do mamilo. Beijou o botãozinho rijo, antes de passar

a língua ao redor dele. Quando se recostou, viu que o corpo dele estava tenso, sua ereção dura como pedra e arremetendo para cima por sob o tecido do robe de veludo.

Ela estendeu a mão e a fechou ao redor da ereção, acariciando-a através do veludo macio. Ao fazê-lo, olhou para cima e observou as emoções que brincavam no rosto do homem.

O desejo era bem óbvio, mas, por trás dele, escondiam-se outras emoções. Gratidão. Felicidade. Talvez até admiração. Ela se perguntou sobre a última emoção, até ele dizer:

— Você é mais forte do que muitos vampiros que conheço. Connie sorriu, depois, soltou uma risadinha. — Sou cubana. Podemos ser teimosos. Ela o estava acariciando e o corpo dele se sobressaltou um

pouco, quando ela o apertou com mais força. — Cara mia, assim vai me emascular. Uma estranha escolha de palavras no caso dele, quando ela

se recordou de como a paixão havia trazido à tona o demônio que ansiava por sangue, e não amor.

— Quero que o homem fique comigo, Hadrian. Quero compartilhar meu corpo com o homem.

Hadrian lembrou-se da paixão de duas noites atrás, dada de espontânea vontade e sem restrições. Ele quase chegou ao climax só de se lembrar dela desejosa e ansiosa sob o corpo dele, mas, inspirou profundamente para conter o desejo. Quando chegasse ao climax, queria que fosse enterrado fundo nela, compartilhando a paixão mutua.

— Quero ser um homem para você, cara mia. — Ele ergueu a mão e a pousou na fenda exposta pelo decote de seu vestido. A cor-de-vinho escuro fazia a pele de Connie brilhar com vida. Ele acariciou as bordas da fenda com o dedo, e ela disse:

— Quero que me toque. Ele não o fez, mantendo as mãos longes de onde ela mais as

queria. — Com uma condição. — Uma? — ela sussurrou, e roçou os lábios de encontro ao

dele com um suspiro ofegante. — Conte-me um pouco sobre você. Connie riu de encontro aos lábios dele. — Você é determinado, não é? Hadrian sorriu, e lentamente desceu a mão sob o tecido do

vestido, até lhe espalmar o seio. O desejo explodiu no corpo dela, e com um gemido baixinho, ela disse:

— Tudo bem, você venceu. Sou a filha do meio.

— Isso explica a sua independência — ele disse, beijando-a, enquanto acariciava-lhe o mamilo rijo com o polegar.

— Minha irmã mais velha acha que sou teimosa — Connie conseguiu dizer, de algum modo, quando o toque de Hadrian lhe arrancou outro gemido dos lábios.

Ela olhou para baixo, observando o movimento da mão dele sob o veludo. Em seguida, ela mexeu a própria mão sobre o tecido que lhe cobria a ereção, arrancando um gemido dele.

— Você é tão quente — ele disse, ao libertar o seio do vestido, sem jamais parar de tocá-la.

Ela fez o mesmo, expondo-o. Com a mão acariciando a extensão rígida dele, para cima e para baixo.

— Conte-me mais — ele disse, e inclinou a cabeça, lambendo a ponta do seio.

Ela lhe segurou a cabeça de encontro ao corpo. — Eu trabalho demais. — Por quê? — perguntou Hadrian, antes de sugar o mamilo

rijo. — Porque, antes de conhecê-lo, não havia nada de

interessante na minha vida. Ele ergueu bruscamente a cabeça e levou a mão gentilmente

à face dela. — Cara mia, seu fascínio é... — Inapropriado? Porque eu estou... — Viva, e tudo que tenho a oferecer é a morte — ele disse,

com tristeza, afastando-se dela. — Sabe que não é verdade. Você me ofereceu paixão... — Truques de vampiro, amore. Nada mais. Ele estava mentindo. O que haviam compartilhado na outra

noite e agora havia sido real. Não o produto de um feitiço vampiro, mas Connie podia entender porque ele estava querendo afastá-la, ainda estava tão incerto quanto ela a respeito da atração mútua que sentiam.

Ajeitando o decote do vestido, ela se levantou, e disse: — Sabe onde estarei amanhã. — Atormentando-me novamente. Por favor, vá embora — ele

disse arrumando o robe e apertando com força a faixa na cintura, escondendo-se sob a proteção do tecido.

Recompondo-se, Connie foi embora, ao fazê-lo dando-se conta de que esta poderia ser a última vez que o veria. Sentiu uma explosão de dor no peito, mas esforçou-se para ignorá-la. Ele havia lhe dado o seu presente de Natal: liberdade. Ela seria uma tola de não aceitar.

Capitulo Quatorze — Si, MAMI, definitivamente estarei lá — ela disse,

confirmando mais uma vez para a mãe que poderia comparecer à reunião familiar na véspera do Natal.

Ela havia feito o impensável e deixado de ir às duas últimas, preferindo ficar para ajudar os colegas de trabalho em alguns casos que haviam exigido que ficassem trabalhando durante a época das festas. Poderia ter feito o mesmo este ano, só que não havia tido nenhum assunto requerendo atenção imediata. Na verdade, prometia ser uma semana tão parada, que ela havia folgado.

Não é que não gostasse da família... gostava. E adorava a oportunidade de ver todos os seus pequenos sobrinhos e sobrinhas, só que, às vezes, eles eram lembretes dolorosos de que apenas o trabalho não era o suficiente para fazê-la se sentir realizada. Suas irmãs haviam achado maneiras de ter tanto carreiras quanto famílias. Ela procurava se convencer de que não era nada demais, aos 30 anos de idade, não ter encontrado alguém com quem compartilhar a vida, mas aquele enorme relógio biológico dentro dela, com frequência cada vez maior, a lembrava impacientemente de que sua hora estava chegando.

Como dissera para Hadrian na noite anterior, jamais havia conhecido alguém tão interessante quanto ele, mas também entendia que ele tinha razão no tocante ao que ele tinha a oferecer.

Ao terminar as compras de Natal, preparando-se para visitar a família em alguns dias, ela o afastou de seus pensamentos e procurou se convencer de que era melhor que ele não aparecesse esta noite, quando ela estivesse recolhendo donativos. Um rompimento brusco a ajudaria a esquecê-lo, esquecer a paixão que a havia dolorosamente feito enxergar tudo que estava faltando em sua vida. Mas, ao tirar o traje de Papai Noel do armário e começar a vesti-lo, não havia como negar que parte dela queria vê-lo.

O GLOBO DE cristal repousava sobre a mesa, ao lado do cálice de sangue vazio. Hadrian pegou o globo, sacudiu-o, devolveu-o à mesa e ficou assistindo aos flocos de neve falsos girando ao redor do Papai Noel.

De lá de fora vieram as batidas irregulares do sino, chamando-o, mas ele passara a maior parte da noite ignorando-o, procurando se convencer de que atender ao seu chamado só faria trazer nada além de dor para ambos.

Hadrian sabia que ela não ficaria ali muito mais tempo. Já eram quase 2lh e a biblioteca logo fecharia. O fluxo de pedestres cairia drasticamente após isso, deixando-a sem motivos para permanecer ali. Mas a hora chegou e passou, assim como 22h, e o sino continuava a badalar até que ele não conseguiu mais evitar o seu chamado.

Vestiu-se rapidamente e estava descendo as escadas quando o badalar cessou. Ele também se deteve, achando ter perdido a sua chance, até que o sino começou a tocar a esmo, sem nenhum ritmo, até que o silêncio tomou conta da noite. Havia algo errado.

Ele desceu apressadamente as escadas e atravessou correndo a rua até chegar ao local onde Connie estava caída no chão, o pote de contribuições virado ao seu lado, moedas espalhadas pelo chão. O sino em silêncio na sua mão. Ao se curvar para tomá-la nos braços, Hadrian pôde sentir o cheiro de sangue. Podia ver o vapor se erguendo do centro do corpo dela e se espalhando pela noite. Ele rasgou a parte da frente do casaco de Papai Noel e o sangue de Connie aqueceu a palma de sua mão.

Ela havia sido esfaqueada. O fluxo constante de sangue escapando do corpo da mulher lhe dizia que o atacante dela havia atingido uma artéria. Hadrian apertou a ferida com a mão e olhou desesperadamente ao redor, buscando ajuda, mas, devido à hora avançada, a região estava vazia. Ele chamou George silenciosamente e se concentrou no que poderia fazer por Connie.

O rosto dela já estava ficando pálido, À medida que o sangue que lhe dava vida vazava por entre os dedos dele, Hadrian sussurrou o nome dela, e quando ela não respondeu, repetiu-o um pouco mais alto. Ela se sobressaltou, as pálpebras tremendo enquanto Connie esforçava-se para recobrar a consciência. Ela sussurrou algo, só que, mesmo com a sua audição de vampiro, ele mal conseguiu escutá-la. Ele a apertou de encontro ao corpo e sussurrou:

— Não me deixe. Desta vez conseguiu escutar as palavras sussurradas. — Acredita no destino, Hadrian? Ele lhe fitou o rosto e depois abaixou o olhar na direção do

sangue que lhe escapava do corpo a uma velocidade alarmante. George chegou, mas deteve-se abruptamente, seu olhar fixando-se na calçada ao lado deles.

Hadrian acompanhou o olhar do guardião e notou a crescente poça de sangue. Ele fitou os olhos de George e reconheceu a tristeza que encontrou ali. Ao olhar novamente para Connie, permitiu que o vampiro emergisse e escutou a batida irregular do coração dela, esforçando-se para manter a vida. Desacelerando-se à medida que a vida ia se esvaindo.

As palavras dela não saíam de sua cabeça. Acredita no destino, Hadrian? Destino. Que jamais lhe trouxera nada além de morte, e aqui estava ele novamente, pensou ao apertá-la nos braços e lhe sentir a vida desaparecendo.

— Hadrian — disse George pousando uma mão gentil sobre o ombro do patrão.

Este olhou para o guardião, que fez um gesto com a cabeça na direção de Connie, e disse:

— Não precisa terminar desta maneira. Acredita no destino, Hadrian? Ele não ousava ter esperanças.

Não ousava acreditar que, desta vez, o destino tivesse um plano diferente em mente. Mas, mesmo ao se esforçar para acreditar, se deu conta de que não poderia hesitar por muito mais tempo. O coração dela fraquejava, e o espaço de tempo entre cada batida estava ficando mais longo. Cada batida estava ficando mais fraca.

Acredita no destino? Hadrian perguntou-se, mas ao fazê-lo, voltou para o seu quarto de dormir em uma explosão de velocidade vampira e gentilmente deitou Connie na cama. Ele libertou o vampiro, e curvou a cabeça na direção do pescoço dela, sentindo os últimos vestígios de vida em seu corpo, teimosamente, recusando-se a desistir.

Fincando as presas no pescoço da mulher, ele se alimentou dela e lhe concedeu o beijo derradeiro. Sob suas presas, vieram os primeiros sinais de algo diferente no corpo dela, e ele a tomou nos braços novamente.

As pálpebras dela se abriram hesitantemente e ele rasgou o próprio pulso com os caninos, e levou o pulso à boca de Connie, mas, ao fazê-lo, disse:

— Se não se alimentar agora, a transformação se interromperá.

E você morrerá, pensou, mas nada disse. Sabia que ela entendia, mas não houve nenhuma hesitação quando ela fechou a boca sobre o pulso dele e se alimentou. O seu corpo respondeu ao contato dos lábios de Connie na sua pele. Ao cheiro do sangue de ambos. Ao olhar para o lugar onde ela havia sido esfaqueada, viu que o sangue havia parado de jorrar. Os poderes de cura do sangue vampiro correndo agora por suas veias já estavam em atividade.

Mas o mesmo podia ser dito da paixão do beijo vampiro. O corpo dele já estava, dolorosamente, duro como pedra. Ao terminar de se alimentar, ela inspirou ofegantemente e perguntou:

— O que é isto? — A paixão derradeira — ele respondeu, curvando a cabeça

para lamber os restos do sangue dos lábios dela. Ao fazê-lo, sentiu o calor de seu corpo, ultrapassando a capacidade humana, à medida que a transformação prosseguia.

Connie se agarrou aos ombros dele, enquanto tudo ao seu redor e dentro dela mudava com velocidade alarmante. O desejo crescia dentro dela, tanto para possuir quanto para ser possuída, quase doloroso em sua intensidade e sabia que ele sentia o mesmo. Sob as mãos de Connie, o corpo de Hadrian também tremia enquanto ele buscava se conter.

— Do que tem medo? — ela perguntou. — Se consumarmos esta paixão agora... poderá haver

consequências. A força das emoções, intensas, sombrias e esperançosas, lhe

preenchia a voz. Ela envolveu seu rosto com as mãos, um rosto que havia se tomado querido para ela em poucos, breves dias, e disse:

— Neste caso, permita que o destino o presenteie com vida neste Natal.

Ele murmurou um palavrão, antes de tomá-la nos braços e levá-la até o banheiro, onde gentilmente a despiu, descartando a fantasia de Papai Noel e as roupas de baixo térmicas sujas de sangue. Quando ela se postou diante dele, nua, o corpo ardendo de desejo e manchado de sangue, ele a tomou nos braços e sussurrou:

— Jamais se arrependerá desta escolha. Ele estendeu a mão para além dela, para as portas de vidro

do enorme chuveiro, e as abriu. Entrou com ela no boxe e ligou a água, que jorrou sobre eles vinda de todos os lados, lavando toda e qualquer evidência da violência anterior. Tudo que restava do ferimento a faca era uma linha rosada sobre o abdômen.

Devido à temperatura elevada da água, o vapor logo encheu o boxe do chuveiro, mas, devido às mudanças que ocorriam dentro dela, Connie estava toda arrepiada. Quando ele a abraçou, seu corpo era ainda mais frio, e ela estremeceu. Ele encostou a testa na dela.

— Isso é o ardor do vampiro. Quando a transformação estiver completa, você o sentirá apenas quando deixar o demônio assumir o controle.

Ela entendeu que, quando o humano estivesse no comando, o frio da morte marcaria sua pele, pois ela estaria... Morta. Caso ele não a tivesse transformado como ela havia pedido, sua vida estaria acabada. Mas não estava, e nos braços dele havia a promessa de ainda mais.

— Faça amor comigo, Hadrian — ela disse, pousando a mão sobre o coração dele, que batia fortemente sob seus dedos.

Sempre mostrando consideração, ele começou a dizer: — Você tem... — Certeza? Mais do que imagina. A tensão deixou o corpo dele sob a mão dela, do mesmo

modo que a hesitação foi embora com a água que lhes descia pelos corpos. Ele curvou-se e a beijou, abraçando-a com força de encontro ao corpo ao lhe devorar a boca com a sua, murmurando suaves palavras de amor em uma língua que não exigia tradução.

Ambos estavam respirando ofegantemente quando ele se abaixou para lhe sugar os seios e intensificar o desejo que já explodia dentro dela. Ela implorou que ele a preenchesse ali mesmo, não vendo a necessidade de mais preliminares, e Hadrian obedeceu, colocando uma das coxas entre as dela e encontrando o centro de Connie. Lentamente, ele se colocou dentro dela, alargando-o e incendiando-a ainda mais ao penetrá-la.

Ela lhe agarrou os ombros e lhe envolveu a cintura com as pernas, aprofundando a posse. Ele gemeu e espalmou uma das mãos na parte inferior das costas dela, enquanto apoiava a outra na parede do boxe do chuveiro. Fitou-a nos olhos ao mexer os quadris, e fez força para cima, arrancando um suspiro de surpresa de Connie devido a potência de sua arremetida.

— Eu a machuquei, cara mia? — ele perguntou, mas não esperou uma resposta antes de inclinar a cabeça e lhe tomar na boca o mamilo intumescido.

Ela lhe segurou a cabeça com uma das mãos, usando a outra para se equilibrar, ao mover os quadris e montá-lo, a temperatura elevada da água em nada se comparando à que tomava conta de seus corpos. O clímax que veio foi rápido e castigador, deixando-os agarrados um ao outro, como se a separação pudesse causar dor. E talvez pudesse, ela pensou, abraçando-o com força ainda maior, mesmo após ele já ter lhe deixado o corpo.

Hadrian, também, se recusava a perder esta ligação, visto que, de algum modo, conseguiu agarrar uma toalha, para envolver com ela os corpos úmidos fundidos um no outro. Ele voltou à vida, mais rápido do que ela pensara ser possível.

Quando a penetrou novamente, ela ainda estava úmida e sensível devido a cópula anterior.

A fricção de Hadrian se movendo dentro dela logo levou Connie ao apogeu, mas ele permaneceu duro como pedra ao caminhar com ela de volta para a cama e pousá-la em sua beirada, de modo a poder tocá-la enquanto continuava suas carícias lentas e atormentadoras.

Quando ele lhe acariciou novamente os mamilos, torcendo-os com os dedos, ela chegou novamente ao apogeu, seu corpo arqueando para fora da cama, implorando mais, e ele lhe fez a vontade, descendo uma das mãos para fazer pressão sobre seu clitóris. Esfregando-o, e intensificou o prazer que se espalhava pelo seu corpo até que ele deu uma última arremetida para dentro dela e também chegou novamente ao climax. O corpo dele estremeceu devido à intensidade de seu prazer.

Ao largar-se sobre ela, Hadrian estava estremecendo, e Connie pôde sentir o calor de seu corpo. Ao se erguer com uma das mãos, ele estava usando o seu rosto de demônio, e algo no íntimo dela respondeu. O ardor explodiu no seu âmago, quase lhe incendiando o corpo, tamanha a sua intensidade. Ela sabia o que ele queria, o que era necessário para encerrar a cópula, mas mesmo assim, ele pediu.

— Morda-me, cara mia. Tome-me seu — ele disse, e ela ergueu a cabeça e fincou as presas no pescoço dele.

— TEM CERTEZA de que quer fazer isso? — ele perguntou, pousando a mão possessiva sobre a barriga dela.

Connie descansou a mão sobre a dele, sabendo, assim como Hadrian, que uma nova vida crescia dentro dela. Fazia apenas dois dias desde que ele a havia transformado, mas, neste ínterim, ela rapidamente se dera conta do quanto um vampiro estava ciente, não só do mundo à sua volta, mas das condições e de todas as necessidades do próprio corpo. Foi como soube que o destino havia lhe concedido um presente maravilhoso naquele Natal.

Instantes mais tarde, a porta se abriu, e sua mãe os recebeu com um sorriso alegre no rosto.

— Mi’ja. Não me disse que ia trazer alguém. Connie sorriu, e entrelaçou os dedos aos dele. — Mami, quero que conheça Hadrian.

Fim

Agradecimentos: Barbara K, Cris Bailey, Livros Corações e Leitoras

Sobre a autora: Caridad Pineiro Scordato nasceu em Havana, Cuba, e hoje vive em Nova York. Ela se formou com mérito

em direito com uma bolsa de estudos, fez doutorado e se tomou a primeira mulher a ter sociedade no escritório

de propriedade intelectual em que trabalhava, no centro de Manhattan.

Caridad é uma autora prolífica, cujo amor pela palavra escrita nasceu com um trabalho de escola: escrever

um livro para fazer parte de uma biblioteca da turma. Desde então, ela é louca por escrever.

Quando não está escrevendo, Caridad também é mãe e esposa e dá oficinas e palestras sobre escrita, além de presidir um clube de autores de

uma livraria local.