Carlos Drummond e o modernismo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE LETRAS _ TEORIA DA LITERATURA II Professor Luiz Penido Aluna Eanuelle do Nas!ien"o dos San"os 1. Introdução O se#uin"e "ra$al%o "ra"ar& a se#uir de analisar a '"ri!a( ri" !on!ei"uados )or Pi#na"ari e Golds"ein( dos )oeas* O)er&rio do ar I"a$irano e Menino !%orando na Noi"e+ Eles es",o !on"idos na O$ra da au"oria de Carlos Druond de Andrade( )ara -erifi!ar se a lin#u os"ra( ou n,o( a inser.,o do au"or no oderniso na )oesia+ Ser& se!!ionado da se#uin"e fora* a se.,o / dis!orre so$re o !on"e e2)li!a"i-o do oderniso( a )o'"i!a )essoal de Carlos Druond3 a e-iden!ia os !on!ei"os de Pi#na"ari e Golds"ein so$re Lin#ua#e )o' analisa os )oeas an"erioren"e !i"ados e $us!a de ind5!ios de ar se.,o 6 "e!e al#uas !onsidera.7es finais so$re os resul"ados da an 2. Carlos Drummond e o Modernismo No in5!io da ru)"ura !o o ra!ionaliso( %ou-e ua fase )r'8o "e1ri!os a in"i"ula !oo fase das 9&#uas es"a#nadas:( as ou"ros d )er5odo ;ue delii"ou a "ransi.,o de fases na li"era"ura+ E se#ui ;ue se )7e !oo o ar!o do ro)ien"o !o o "radi!ionaliso+ Por"an li$er"a.,o es"'"i!a e os "eas <& a$ran#ia ou"ras &reas( !oo* )ro inde)end=n!ia !ul"ural do )a5s e"!+ No >rasil %ou-era "r=s fases no )er5odo odernis"a( ;ue fora* A !onsolida.,o e a Fase do P1s8oderniso+ 2.1 Carlos Drummond na fase de consolidação

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Este artigo analisa 3 poemas do autor mineiro em busca de indícios de traços do modernismo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS / FACULDADE DE LETRAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISFACULDADE DE LETRAS _ TEORIA DA LITERATURA II

Professor Luiz Penido

Aluna Emanuelle do Nascimento dos Santos

1. Introduo O seguinte trabalho tratar a seguir de analisar a mtrica, ritmo e linguagem potica, conceituados por Pignatari e Goldstein, dos poemas: Operrio do mar, Confidencias de um Itabirano e Menino chorando na Noite. Eles esto contidos na Obra Sentimento do Mundo, da autoria de Carlos Drummond de Andrade, para verificar se a linguagem potica utilizada mostra, ou no, a insero do autor no modernismo na poesia.Ser seccionado da seguinte forma: a seo 2 discorre sobre o contedo histrico e explicativo do modernismo, a potica pessoal de Carlos Drummond; a seo 3 coloca em evidencia os conceitos de Pignatari e Goldstein sobre Linguagem potica, ritmo e mtrica, e analisa os poemas anteriormente citados em busca de indcios de marcas do modernismo; a seo 4 tece algumas consideraes finais sobre os resultados da anlise.2. Carlos Drummond e o ModernismoNo incio da ruptura com o racionalismo, houve uma fase pr-moderna onde alguns tericos a intitulam como fase das guas estagnadas, mas outros defendem que foi um perodo que delimitou a transio de fases na literatura. Em seguida, surge o modernismo que se pe como o marco do rompimento com o tradicionalismo. Portanto, houve uma libertao esttica e os temas j abrangiam outras reas, como: problemas sociais, a independncia cultural do pas etc.

No Brasil houveram trs fases no perodo modernista, que foram: A fase heroica, a fase de consolidao e a Fase do Ps-modernismo.2.1 Carlos Drummond na fase de consolidao

Carlos Drummond, um dos poetas da segunda fase do perodo modernista, foi conhecido por sua irreverncia e versatilidade. Horas ele produzia um poema em padres tradicionais e em outros momentos era to moderno quanto seus contemporneos. A poesia de Drummond era diversificada em temas e, por vezes, mostravam um vocabulrio do lxico oral. Suas inovaes na poesia eram notveis e arrojadas, seus livros com versos e poesias nem sempre seguiam um tema especfico, as vezes eram formados apenas com suas criaes intituladas as mais originais, pois o autor se preocupava em no entrar na onda de modismos nacionalistas da poca.2.2 Potica Pessoal de DrummondO poeta mineiro exibia um estilo muito inovador e arrebatava um grande nmero de seguidores. Tais quais, Mrio Faustino os intitulou, ironicamente, de drummonzinhos. Mas toda essa projeo foi resultado de trabalhos que abrangiam um pblico geral, uma poesia que era compreendida pelo leitor comum e o intelectual. Segundo Francisco Achcar A maior prova de glria de um poeta ter pelo menos um de seus versos conhecidos at por quem nunca leu poesia. A poesia feita por Carlos Drummond era desenvolvida por situaes cotidianas que chamavam a ateno do leitor como ser humano comum. A potica do autor era tocante, pois simplificava e era acessvel a todos. bem visvel essa simplicidade de Drummond no poema Quadrilha, do seu primeiro livro Alguma poesia (1930).Joo amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que no amava ningum.

Joo foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que no tinha entrado na histria.Pignatari afirma que Drummond foi o primeiro homem no Brasil que escreveu no estilo de Mallarm, Haroldo Campos diz que No meio do caminho uma concreo 30 anos antes do movimento concretista. Portanto, a potica pessoal do autor era simplesple inovadora.3. Linguagem Potica, ritmo e mtricaPignatari diz que o poeta um ser linguagem. , porque a linguagem que poeta usa vasta e pode criar modelos de sensibilidade. Segundo Pignatari, um poema pode conter palavras comuns, mas com sentidos diferente, conferindo ao prprio poema um dicionrio prprio. Mas a linguagem potica no se constri somente criando figuras com palavras, ela tambm pode ser produzida com sons. As figuras sonoras, a melodia encontrada em alguns poemas tambm so aspectos da linguagem potica.Pignatari afirma que o ritmo um dos recursos usados para a construo da Linguagem potica, ele um elemento verbovocovisual (verbal, vocal e visual) e Goldstein diz que o ritmo comum ao poema e completa dizendo que mtrica, verso e ritmo esto estreitamente ligadas. Portanto, segundo o tradicionalismo potico ocidental existiam mtodos para a criao da poesia, um padro esttico. Quando no modernismo existe uma liberdade que permite a falta de ritmo e a assimetria.3.1 Analise de corpusNo livro o sentimento do mundo, Drummond tem uma perspectiva muita mais social, uma viso geral da sociedade. Pode-se ver marcas modernistas em todo o conjunto da obra. No poema Operrio do mar, que se encontra abaixo, ntida a marca modernista, exatamente por ser um poema escrito em prosa.

Operrio do mar

Na rua passa um operrio. Como vai firme! No tem blusa. No conto, no drama, no discurso poltico, a dor do operrio est na blusa azul, de pano grosso, nas mos grossas, nos ps enormes, nos desconfortos enormes. Esse um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significao estranha no corpo, que carrega desgnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim to firme? No sei. A fbrica ficou l atrs. Adiante s o campo, com algumas rvores, o grande anncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operrio no lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rssia, do Araguaia, dos Estados Unidos. No ouve, na Cmara dos Deputados, o lder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre gua, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operrio? Teria vergonha de cham-lo meu irmo. Ele sabe que no , nunca foi meu irmo, que no nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu prprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encar-lo: uma fascinao quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora est caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilgio de alguns santos e de navios. Mas no h nenhuma santidade no operrio, e no vejo rodas nem hlices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde esto nossos exrcitos que no impediram o milagre? Mas agora vejo que o operrio est cansado e que se molhou, no muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso mido. A palidez e confuso do seu rosto so a prpria tarde que se decompe. Daqui a um minuto ser noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstncias atmosfricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. nico e precrio agente de ligao entre ns, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas lquidas, choca-se contra as formaes salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperana de compreenso. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?( Sentimento do mundo Carlos Drummond) No poema seguinte, Drummond mostra , levemente, um formato comum a poesia, mas o padro mtrico, rtmico e de versificao no so atendidos. Veja a seguir.Confidncias de um Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira (9 sil.)

1Principalmente nasci em Itabira. (12 sil.)

2

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

3Noventa por cento de ferro nas caladas.

4Oitenta por cento de ferro nas almas.

5E esse alheamento1 do que na vida porosidade e

6comunicao.

7A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

8vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.9E o hbito de sofrer, que tanto me diverte,

10 doce herana itabirana.

11De Itabira trouxe prendas2 que ora te ofereo:

12este So Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

13este couro de anta, estendido no sof da sala de visitas;

14este orgulho, esta cabea baixa...

15Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

16Hoje sou funcionrio pblico.

17Itabira apenas uma fotografia na parede.

18Mas como di!

19Segundo as regras de mtrica, versos de 9 silabas devem ser acentuados na 3, 6 e 9 slabas. No ritmo, seve ser seguido um padro binrio ascendente ou descendente e o padro ternrio ascendente ou descendente. Nos versos esto marcadas as slabas longas e breves e elas no seguem nenhum dos esquemas rtmicos. Em caso de versificao, o poema tem 19 versos consecutivos, sendo que pelas regras o mximo de versos em uma estrofe de 12.E por fim, o poema a seguir, Menino chorando na noite, que tem esttica de um soneto. Atende as regras padro de mtrica, ritmo e versificao.MENINO CHORANDO NA NOITE

Na noite lenta e morna, morta noite sem rudo, um menino chora.

O choro atrs da parede, a luz atrs da vidraa

perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.

E no entanto se ouve at o rumor da gota de remdio caindo na colher.

Um menino chora na noite, atrs da parede, atrs da rua,

longe um menino chora, em outra cidade talvez,

talvez em outro mundo.

E vejo a mo que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabea

e vejo o fio oleoso que escorre do queixo do menino,

escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).

E no h ningum mais no mundo a no ser esse menino chorando.(Sentimento do Mundo Carlos Drummond)4. Consideraes finais

A partir da anlise dos poemas, pode se inferir que existem sim aspectos da linguagem potica que mostrem a insero do autor Carlos Drummond de Andrade no modernismo, mas isso tambm no o restringe a produo de poemas com traos tradicionais. A demais, a diversificao do autor exposta no incio do trabalho mostra que ele no se inseriu em um grupo hermtico de poetas, apesar de ser conhecido como modernista.

Contudo, a analise respondeu pergunta, mas diante da resposta obtida faz-se outra: Pode se verificar aspectos tradicionais poticos em outros poemas na obra O sentimento do mundo?5. BibliografiaPIGNATARI, Dcio. O que comunicao potica.DRUMMOND, Carlos Sentimento de Mundo.

GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos.OLIVEIRA, Diogo de Castro. As Gradaes do moderno na Literatura Brasileira (1822 -1922). Tese de doutorado em Histria Cultural, Publicao 127/2010, Departamento de Histria, Universidade de Braslia, Braslia, DF, 2010,227p.

SAID, Roberto Alexandre do Carmo, Quase biografia: poesia e pensamento em Drummond. Tese de Doutorado em Literatura Comparada, Departamento de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2007.

PIROLLA, Patricia Rocha. O humor em poesias um estudo do humor em Carlos Drummond de Andrade. Tese de doutorado em estudos literrios, Faculdade de cincias e letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, SP, 2010.