CAROLINA DE CAMPOS - USJT
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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
CAROLINA DE CAMPOS
Eficácia percebida por atletas e treinador de judô paralímpico
São Paulo
2017
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
CAROLINA DE CAMPOS
Eficácia percebida por atletas e treinador de judô paralímpico
São Paulo
2017
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação Física da
Universidade São Judas Tadeu (SP) como
requisito parcial para obtenção de Título de
Mestre em Educação Física na linha de
pesquisa Fenômeno Esportivo sob orientação
da Profª Drª Maria Regina Ferreira Brandão.
Campos, Carolina de
C198e Eficácia percebida por atletas e treinador de judô paralímpico /
Carolina de Campos. - São Paulo, 2017.
148 f. : il. ; 30 cm.
Orientadora: Maria Regina Ferreira Brandão.
Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,
2017.
1. Percepção. 2. Deficiência visual. 3. Judô. I. Brandão, Maria Regina
Ferreira. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Educação Física. III. Título
CDD 22 – 796.4077
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecária: Cláudia Silva Salviano Moreira - CRB 8/9237
Dedico esta dissertação aos meus pais,
Varnei e Regina, e à minha irmã, Mariana,
com todo o amor e gratidão por me
ensinarem todos os dias a ser uma pessoa
melhor, através de valores que me
transmitem.
AGRADECIMENTOS
Não há possibilidade de iniciar este texto sem agradecer a Deus e aos guias
espirituais que sempre se manifestaram de maneira simples e acolhedora como
verdadeiros amigos, acalmando meu coração em cada oração e em cada palavra.
Agradeço também à professora Dra. Maria Regina Ferreira Brandão por me
orientar nesta trajetória acadêmica e plantar em mim a semente de amor por esta
área de trabalho linda e apaixonante que é a psicologia esportiva.
Um agradecimento especial à Seleção Brasileira Paralímpica de Judô que me
acolheu desde o início e contribuiu, muito prontamente, para que esta dissertação
acontecesse.
Agradeço também aos professores Dra. Maria Luiza Miranda, Dra. Claudia Borim
da Silva, Dr. Marcelo Zanetti e Dr. Ciro Winckler pelas contribuições, orientações
e reflexões para que este trabalho fosse finalizado da melhor forma possível.
Igualmente agradeço aos professores Dr. Marcelo de Almeida Buriti e Ms. Lívia
Aureliano por me instigarem a caminhar pela estrada da pesquisa científica desde a
graduação.
Não poderia deixar de agradecer aos amigos e psicólogos do esporte, Lidiane,
Fernanda, Danilo, Fátima, Cris e André que sempre estiveram dispostos a
enriquecer o conhecimento desta área, através de conversas e muita parceria de
estudos. Em especial, agradeço à Gisele Silva, minha ‘anjinho da guarda’ nesta
caminhada profissional, que desde o início me acolheu, incentivou e orientou, de
maneira singular, para que eu pudesse me tornar uma profissional em busca da
constante evolução.
Agradeço aos parceiros e amigos que o mestrado me proporcionou, Val, Felipe,
Mauro, Flávia e Bá. Cada um à sua maneira, além de me ensinarem sobre o
maravilhoso universo da educação física, tornaram companheiros de estudos e
risadas. Também gostaria de mencionar a equipe Br Diego Muay Thay Gym que,
nesta reta final, esteve comigo me apoiando entre jabs e diretos.
Devo dizer também muito obrigada aos amigos Angélica, Marina, Eneida,
Geninha, Roberto e Nilza que sempre perguntavam sobre a elaboração deste
trabalho e ajudavam com palavras amigas e de carinho, renovando minhas energias
para continuar. Vocês são parte de uma família que a vida me presenteou!
E, finalmente, agradeço de maneira muito especial e carinhosa aos meus pais,
Varnei e Regina, e minha irmã, Mariana por serem meu porto seguro, por serem os
responsáveis em instituir meus valores de vida, por me ensinarem o que é o amor e
por estarem ao meu lado em todos os momentos: incentivando a continuar nas
horas mais difíceis e comemorando minhas pequenas e grandes vitórias diárias.
Com certeza há um pouco deles em cada linha escrita deste trabalho.
Filosofia do Sucesso
Se você pensa que é um derrotado, você será um derrotado.
Se não pensar “quero a qualquer custo!” não conseguirá nada.
Mesmo que você queira vencer, mas pensa que não vai conseguir,
a vitória não sorrirá para você.
Se você fizer as coisas pela metade você será um fracassado.
Nós descobrimos neste mundo que o sucesso começa pela intenção da gente
e tudo se determina pelo nosso espírito.
Se você pensa que é um malogrado, você se torna como um tal.
Se almeja atingir uma posição mais elevada, deve, antes de obter a vitória,
dotar-se da convicção de que conseguirá infalivelmente.
A luta pela vida nem sempre é vantajosa Aos fortes nem aos espertos.
Mais cedo ou mais tarde, quem cativa a vitória é aquele que crê plenamente.
Eu conseguirei!
Napoleon Hill
CAMPOS, C. Eficácia percebida por atletas e treinador de judô paralímpico. 2017. 148 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2017
RESUMO
A presente dissertação tem como objetivo avaliar a percepção de autoeficácia competitiva de atletas paralímpicos de judô e a percepção do treinador sobre a eficácia competitiva de seus atletas. Participaram da pesquisa 16 atletas com deficiência visual, integrantes da principal Seleção Brasileira Paralímpica de Judô, convocados no primeiro semestre do ano de 2016, de ambos os gêneros (nove homens e sete mulheres), com idades entre 19 e 45 anos (29,52 ± 7,67). Também foi sujeito da pesquisa o treinador da equipe. Todos os participantes responderam a quatro questionários que avaliaram a percepção de eficácia sobre as habilidades psicológicas, físicas, técnicas e táticas dos judocas em dois momentos distintos (janeiro e maio/2016). Os atletas se autoavaliaram, enquanto o treinador, sem saber das respostas dos judocas, respondeu aos instrumentos informando sua percepção sobre cada atleta em cada variável avaliada. Para verificar o grau de concordância entre as avaliações de treinador e atletas foi realizado o cálculo da correlação de Spearman entre os dois momentos de coleta de dados e, para avaliar se houve diferença de percepção de judocas e treinador entre os dois momentos, utilizou-se o teste de Wilcoxon e o cálculo do delta percentual. O nível de significância adotado para todos os cálculos foi de p<0,05. Os resultados mostraram que, no primeiro momento, houve concordância significativa entre a percepção de treinador e atletas em apenas uma variável (técnicas de luta de solo) investigada através do questionário de habilidades técnicas. Já no segundo momento da coleta de dados as correlações foram ligeiramente mais altas que no primeiro momento, apesar de haver concordância significativa da percepção de treinador e atletas em apenas três variáveis (concentração, potência de golpes e técnicas de pé ou perna). Os cálculos do delta percentual e do teste de Wilcoxon demonstraram que os atletas perceberam melhoras em todas as habilidades investigadas, enquanto o treinador notou melhora somente das habilidades físicas e técnicas. A partir dessas constatações, pode-se considerar que o tempo de treinamento e, por consequente, de relacionamento entre o treinador e os atletas tenha colaborado para uma maior concordância da percepção de ambos sobre a eficácia dos atletas. Entretanto, mesmo com o aumento de concordância, muitas variáveis avaliadas apresentaram diferenças de percepção de eficácia, demonstrando que, apesar do tempo de convivência auxiliar o estreitamento das percepções, ainda se observou divergências entre as percepções de ambos. Palavras-chave: autoeficácia, percepção, deficiência visual, relação treinador-atleta, paralímpico
CAMPOS, C. Efficiency perceived by paralympic judo athletes and coach. 2017. 148 f. Dissertation (Master's Degree in Physical Education) - São Judas Tadeu University, São Paulo, 2017.
ABSTRACT
This dissertation aims to evaluate the perception of competitive self-efficacy of Paralympic judo athletes and the trainer's perception of the competitive efficacy of their athletes. Took part in this survey 16 visually impaired athletes from the main Brazilian Paralympic Judo Team called in the first half of 2016, of both genders (nine men and seven women), aged between 19 and 45 years (29.52 ± 7.67). The coach of the team was also subject of the research. All participants responded to four questionnaires that assessed the perceived efficacy of judoka's psychological, physical, technical and tactical skills at two different times (January and May 2016). The athletes self-assessed, while the coach, unaware of the judokas' answers, responded to the instruments by informing his perception of each athlete in each evaluated variable. In order to verify the degree of agreement between the evaluations of coach and athletes, the Spearman correlation was calculated between the two moments of data collection and to evaluate if there were differences of perception of judokas and the coach between the two moments was used the test of Wilcoxon and the calculation of the Percentage Delta. The significance level adopted for all calculations was p <0.05. The results showed that, in the first moment, there was a significant agreement between the perception of the coach and the athletes in only one variable (Wrestling Techniques) investigated through the technical skills questionnaire. At the second moment of data collection, the correlations were slightly higher than in the first moment, although there was a significant agreement of the perception of the coach and the athletes in only three variables (concentration, judo undertaking power and foot or leg techniques). Percentage Delta and Wilcoxon test calculations demonstrated that athletes noticed improvements in all abilities investigated, while coach noticed improvement of physical and technical skills only.From these findings, it can be considered that the training time and, consequently, the relationship between the coach and the athletes has contributed to a greater agreement of the perception of both on the effectiveness of the athletes. However, even with the increase in agreement, many variables evaluated showed differences in perception of efficacy, showing that, despite the time of coexistence or the narrowing of perceptions, there were still divergences between perceptions of both. Keywords: self-efficacy, perception, visual impairment, coach-athlete relationship, paralympics.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Evolução da definição do constructo Autoeficácia na Teoria Social
Cognitiva ........................................................................................................ 34
Quadro 2 - Trabalhos utilizados na revisão sistemática sobre autoeficácia ............. 39
Quadro 3 - Componentes da eficácia tripartida, suas fontes e possíveis
influências ...................................................................................................... 59
Quadro 4 - Inclusão das modalidades nos Jogos Paralímpicos ............................... 66
LISTA DE FLUXOGRAMAS
Fluxograma 1 - Fluxograma da revisão sistemática de “autoeficácia” ..................... 37
Fluxograma 2 - Características dos participantes de acordo com a etiologia da
deficiência visual ............................................................................................ 77
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantidade de publicações por ano ....................................................... 41
Gráfico 2 - Quantidade de trabalhos publicados de acordo com a nacionalidade dos
autores ........................................................................................................... 43
Gráfico 3 - Características dos instrumentos utilizados para avaliar autoeficácia ... 45
Gráfico 4 - Distribuição das modalidades esportivas investigadas de acordo com a
quantidade de artigos .................................................................................... 46
Gráfico 5 - Distribuição de participantes em porcentagem de acordo com o
sexo .......................................................................................................... ..... 47
Gráfico 6 - Distribuição dos perfis de participantes pesquisados pelos artigos ....... 48
Gráfico 7 - Objetivos apresentados nos artigos ....................................................... 51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Número de trabalhos encontrados por base de dados de acordo com a
combinação de palavras-chave ..................................................................... 42
Tabela 2 - Constructos pesquisados relacionados à autoeficácia ........................... 50
Tabela 3 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades psicológicas durante a primeira coleta ....................................... 85
Tabela 4 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades psicológicas durante a segunda coleta ...................................... 86
Tabela 5 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as
habilidades psicológicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual ...................................................................................................... 87
Tabela 6 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as
habilidades psicológicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual ...................................................................................................... 88
Tabela 7 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades físicas durante a primeira coleta ................................................. 89
Tabela 8 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades físicas durante a segunda coleta ................................................ 90
Tabela 9 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as
habilidades físicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual ...................................................................................................... 91
Tabela 10 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as
habilidades físicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual ...................................................................................................... 92
Tabela 11 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades técnicas durante a primeira coleta .............................................. 93
Tabela 12 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades técnicas durante a segunda coleta ............................................. 94
Tabela 13 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as
habilidades técnicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual ...................................................................................................... 96
Tabela 14 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as
habilidades técnica durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual ...................................................................................................... 97
Tabela 15 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades táticas durante a primeira coleta ................................................ 99
Tabela 16 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as
habilidades táticas durante a segunda coleta ................................................ 99
Tabela 17 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as
habilidades táticas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta
percentual .................................................................................................... 100
Tabela 18 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as habilidades táticas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual ........................................................................................ ............ 100
SUMÁRIO
Capítulo 1: INTRODUÇÃO ..................................................................................... 16
1.1 Definição do problema ....................................................................................... 17
1.2 Objetivos ............................................................................................................ 20
Objetivo geral ................................................................................................ 20
Objetivos específicos .................................................................................... 20
1.3 Hipóteses .......................................................................................................... 20
1.4 Justificativa ........................................................................................................ 21
1.5 Delimitação do estudo ....................................................................................... 22
Capítulo 2: REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... 23
2.1. Percepção ......................................................................................................... 24
2.1.2 A percepção da pessoa com deficiência visual ................................... 26
2.2. Autoeficácia: definição do constructo ................................................................ 32
2.2.1. Autoeficácia no esporte: revisão sistemática da literatura .................. 36
2.2.2 Autoeficácia e a pessoa com deficiência visual .................................. 53
2.2.3 Eficácia percebida pelo treinador ......................................................... 57
Capítulo 3: ASPECTOS DA MODALIDADE ESTUDADA ...................................... 63
3.1 O esporte paralímpico ........................................................................................ 64
3.1.1 A história do movimento paralímpico ................................................... 64
3.1.1.1 A história do movimento paralímpico no Brasil ....................... 68
3.2 Judô Paralímpico ................................................................................................ 69
3.2.1 História e fundamentos do judô ............................................................ 69
3.2.2 O judô nos Jogos Paralímpicos ............................................................ 70
3.2.3 O judô e a pessoa com deficiência visual ............................................ 71
Capitulo 4: MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA ........................................... 75
4.1. Participantes ..................................................................................................... 76
4.2. Critérios de inclusão e exclusão ....................................................................... 78
4.4. Instrumentos ..................................................................................................... 78
4.3.1 Dados Demográficos ............................................................................ 78
4.3.2 Percepção de eficácia .......................................................................... 79
Elaboração dos instrumentos .............................................................. 79
Descrição dos instrumentos ................................................................ 81
4.5. Procedimentos ................................................................................................. 82
4.5.1 Análise dos dados ................................................................................ 83
Capítulo 5: RESULTADOS .................................................................................... 84
5.1 Habilidades Psicológicas ................................................................................... 85
5.1.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades psicológicas ........................................................................................ 85
5.1.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades psicológicas ........................................................................................ 87
5.2 Habilidades Físicas ........................................................................................... 89
5.2.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades físicas ................................................................................................. 89
5.2.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades físicas ................................................................................................. 91
5.3 Habilidades Técnicas ........................................................................................ 93
5.3.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades técnicas .............................................................................................. 93
5.3.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades técnicas .............................................................................................. 96
5.4 Habilidades Táticas ........................................................................................... 98
5.4.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades táticas ................................................................................................. 99
5.4.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades táticas ............................................................................................... 100
Capítulo 6: DISCUSSÃO ...................................................................................... 102
Capítulo 7: CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 111
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 114
ANEXO ................................................................................................................. 128
APÊNDICES .......................................................................................................... 130
17
O objetivo do primeiro capítulo da dissertação é apresentar os assuntos abordados
nesta pesquisa. Para isso serão definidos: o problema de pesquisa, os objetivos, as
hipóteses de resultado, justificativa para a realização da investigação aqui realizada
e as suas delimitações.
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Em minha trajetória como psicóloga esportiva, tive a oportunidade de trabalhar com
modalidades individuais atuando em duas vertentes: atendendo atletas em
consultório (tenistas, por exemplo) e trabalhando com a equipe paralímpica de judô.
Ser psicóloga de uma equipe significa pertencer àquele grupo e não se restringir ao
contato apenas com os atletas, mas também com toda a equipe técnica, composta
por treinadores, médicos, coordenadores, preparadores físicos, fisioterapeutas,
nutricionistas, dentre outros.
Este contato direto com os profissionais que compõe a equipe esportiva é
extremamente rico, pois permite que o psicólogo tenha acesso a informações e
opiniões além das que o atleta traz, proporcionando a ampliação do conhecimento
do contexto a ser analisado. E foi desta experiência que surgiu a inquietação para
realizar esta pesquisa. Ao conversar com o treinador da equipe sobre o desempenho
dos atletas em uma determinada competição, foi possível notar que sua avaliação
diferia da avaliação que os próprios atletas faziam sobre sua performance
competitiva.
É esperado que as avaliações de atletas e treinador não sejam exatamente
idênticas, pois a percepção de um fenômeno é um processo psicofisiológico ativo,
no qual estímulos e informações do ambiente são detectados e interpretados
cognitivamente de acordo com as experiências prévias do sujeito. Dessa forma, a
percepção do momento competitivo é individual, baseada nas experiências de vida
de cada um (PALMI, 2007; GRECO, 2009). No entanto, percepções diferentes do
mesmo fenômeno podem levar a problemas no relacionamento entre o treinador e
seus atletas, tais como dificuldade de comunicação, falta de coesão, desconfiança e
18
quedas no desempenho atlético (JOWETT; CHAUNDY, 2004; JOWETT, 2009;
HAMPSON; JOWETT, 2012; SAGAR; JOWETT, 2012).
Sabe-se também que a autopercepção do atleta, quanto ao seu desempenho
esportivo, pode ser influenciada pela opinião dos profissionais da comissão técnica.
O autoconceito (a compreensão que o sujeito tem dele próprio), além de ser formado
pelas experiências prévias do indivíduo, também é construído através das
avaliações que as outras pessoas fazem dele, em nosso caso, do treinador
(SÁNCHES; ESCRIBANO, 1999; SERRA, 1988; JOWETT; POCZWARDOWSKI,
2007).
Movida pelo interesse em estudar essas diferenças de percepção entre os atletas e
treinador sobre o mesmo momento competitivo, deparei-me com pesquisas que
estudavam a percepção de competência esportiva, através do constructo da
autoeficácia (GOUVEIA, 2003; FERREIRA, 2008; PESCA; CRUZ; ÁVILA FILHO,
2011). O conceito de percepção de autoeficácia foi definido por Albert Bandura como
sendo a crença que um indivíduo tem sobre sua “capacidade pessoal para organizar
e executar cursos de ação, requisitados para produzir dadas realizações”
(BANDURA, 1997, p. 3).
Entender o quanto um atleta se percebe capaz de fazer algo, pareceu-me um
caminho fascinante. Porém, notei que investigar apenas a autoeficácia dos atletas
não me permitiria estudar a percepção que treinador tem sobre eles, sendo
necessário, então, investigar também a eficácia dos atletas percebida pelo treinador.
Por esse motivo, continuei buscando na literatura pesquisas que falassem de
percepção de treinadores e atletas, mas observei certa escassez de estudos que
ajudassem a solucionar esse dilema. Encontrei investigações sobre a autopercepção
apenas por parte do atleta quanto ao seu desempenho (MANN et al., 2007; COSTA
et al., 2010) ou a percepção do treinador sobre seu próprio trabalho (COSTA;
SAMULSKI; COSTA, 2009; RAMOS; BRASIL; GODA, 2012; VIEIRA et al., 2014).
Encontrei, também, pesquisas que estudavam as percepções do atleta acerca do
trabalho do treinador (LOBO; MORAES; NASCIMENTO, 2005; ALBA; TOIGO;
BARCELOS, 2010). Os estudos que mais se assemelhavam ao que eu estava
buscando entender foram os realizados por Moraes et al. (2010) e Dell’Antonio e
19
Barroso (2014) que avaliaram as percepções de atletas e treinador a respeito do
trabalho do treinador com a equipe; e os trabalhos de Marcos et al. (2010a) e
Marcos et al. (2010b), que analisaram a percepção de autoeficácia dos atletas e a
percepção do treinador sobre os atletas para estudarem a coesão de grupo. Apesar
de pesquisarem percepções de atletas e treinadores, estas pesquisas ainda não me
permitiam responder sobre as relações de percepções de eficácia atlética de
treinador e atletas.
Além disso, outra lacuna com que me deparei na literatura tem relação quanto aos
participantes da minha pesquisa. A presente pesquisa foi realizada com a Equipe
Brasileira Paralímpica de Judô, na qual todos os atletas têm deficiência visual.
Porém, os trabalhos encontrados sobre autoeficácia de atletas do paradesporto
foram feitos com atletas que tinham outros tipos de deficiência, como motoras
(LOPES, 2010; FERREIRA et al., 2011; TEJERO-GONZÁLEZ et al., 2016) e
intelectuais (GRAVITO, 2007). Esse cenário mostra as limitações de pesquisas
sobre a percepção de autoeficácia de atletas com deficiência visual.
Diante a escassez de pesquisas sobre autoeficácia em atletas com deficiência visual
e a lacuna na literatura sobre o problema deparado durante minha atuação
profissional (diferenças de percepção de treinador e atletas deficientes visuais sobre
a eficácia atlética em competição), as perguntas que essa pesquisa pretende
responder são: será que existe concordância entre as percepções dos atletas com
deficiência visual e do treinador sobre a eficácia desses atletas em competição?
Além disso, se a autopercepção de atletas pode ser influenciada através da
avaliação de terceiros, será que o tempo de relacionamento entre treinador e atletas
intervém na autoeficácia dos judocas e na percepção do treinador sobre a eficácia
dos atletas em competição?
Em função do exposto acima, serão enfatizados os objetivos da presente
dissertação.
20
1.2 OBJETIVOS
Objetivo Geral
Avaliar a percepção de autoeficácia competitiva de atletas paralímpicos de judô e a
percepção do treinador sobre a eficácia competitiva de seus atletas.
Objetivos Específicos
1. Avaliar a percepção de autoeficácia competitiva dos atletas em quatro níveis
de habilidades (físicas, técnicas, táticas e psicológicas), em dois momentos
distintos;
2. Avaliar a percepção do treinador sobre a eficácia competitiva de seus atletas
em quatro níveis de habilidades (físicas, técnicas, táticas e psicológicas), em
dois momentos distintos;
3. Verificar o grau de concordância entre a autoavaliação dos atletas e a
avaliação do treinador em todas as habilidades investigadas durante os dois
momentos;
4. Verificar se há mudanças entre as percepções de autoeficácia dos atletas e
percepção do treinador sobre a eficácia atlética competitiva entre os dois
momentos.
1.3 HIPÓTESES
A primeira hipótese que se tem sobre os resultados dessa dissertação é que há
concordância entre as percepções de atletas e treinador sobre a eficácia competitiva
dos judocas em todas as habilidades estudadas. Além disso, a segunda hipótese é
que essa concordância aumente ao longo dos meses de treino, sendo maior no
segundo momento de coleta. A terceira hipótese do estudo é que, entre o primeiro e
o segundo momento de coleta, há melhora das habilidades estudadas percebidas
tanto pelo atleta quanto pelo treinador.
21
1.4 JUSTIFICATIVA
A percepção de autoeficácia do atleta está diretamente vinculada com seu
desempenho esportivo. Atletas que acreditam serem capazes de organizar e
executar atividades inerentes à modalidade que realiza – como, por exemplo, o
judoca que se percebe sendo capaz de fazer golpes de projeção -, tendem a ter
maior interesse pela prática da modalidade, além de estabelecerem objetivos mais
difíceis para si e conseguirem recuperar a autoconfiança de maneira mais rápida
após um fracasso (PAJARES; OLAZ, 2008). Assim, a percepção de autoeficácia
positiva age diretamente na motivação e persistência do atleta em permanecer em
sua carreira esportiva (BANDURA, 1997).
Essa percepção de autoeficácia também é formada, dentre outras fontes, através da
‘persuasão social’ que consiste na avaliação de terceiros sobre as capacidades do
sujeito (PAJARES; OLAZ, 2008). Entretanto, a persuasão social só influenciará na
autoavaliação do sujeito sobre sua autoeficácia se forem realistas e vindas de
pessoas que “possuem competência diagnóstica adquirida ao longo de anos de
experiência (...) em um determinado campo” (BANDURA, 1997, p. 104). No contexto
esportivo, pode-se inferir que o treinador é alguém com essa competência
diagnóstica para auxiliar o atleta a desenvolver as capacidades necessárias para a
modalidade.
Além dessa competência técnica que o treinador tem para influenciar a percepção
de autoeficácia do atleta, a relação treinador-atleta, segundo Yang e Jowett (2013),
corresponde a um vínculo interdependente no qual emoções, comportamentos e
pensamentos de uma das partes influencia diretamente a outra. Essa
interdependência é exemplificada por Nobuyuki Sato, judoca campão mundial em
1967 e treinador de Yasuhiro Yamashita (judoca campeão olímpico em 1984),
quando este afirma que atleta e treinador buscam atingir sempre o mesmo objetivo:
de serem campeões (SATO, 1999). Devido à importância desta relação e da
influência recíproca de ambos para a formação da percepção do outro é que um dos
objetivos desse trabalho foi investigar a concordância das percepções de atleta e
treinador sobre a eficácia atlética competitiva.
22
No entanto, dado a interdependência da relação treinador-atleta e o dinamismo
típico de todo relacionamento humano, espera-se que a relação treinador-atleta
mude conforme o tempo, uma vez que seus pensamentos, emoções e
comportamentos são moldados pela própria relação (JOWETT; POCZWARDOWSKI,
2007). Então, a presente pesquisa também teve por objetivo verificar possíveis
mudanças na percepção de treinador e atleta sobre a eficácia competitiva através de
duas coletas de dados realizadas com um intervalo de quatro meses entre elas.
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
A presente pesquisa se limita a compreender a percepção de autoeficácia
competitiva dos atletas da Seleção Brasileira Paralímpica de Judô convocada no ano
de 2016 e verificar a percepção do treinador dessa equipe sobre a eficácia de seus
atletas. Ressalta-se que 75% dos atletas que participaram da pesquisa
representaram o Brasil na disputa dos Jogos Paralímpicos de 2016.
CAPÍTULO 2
REVISÃO DE LITERATURA
Percepção
A percepção da pessoa com deficiência visual
Autoeficácia: definição do constructo
Autoeficácia no esporte: revisão sistemática da literatura
Autoeficácia e a pessoa com deficiência visual
Eficácia percebida pelo treinador
24
O presente capítulo tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura sobre os
constructos abordados na pesquisa. Primeiramente, serão apresentadas definições
sobre percepção e como acontece a percepção em pessoas com deficiência visual.
No segundo momento, será exposto o conceito de autoeficácia, sua definição e as
principais características do constructo. Além disso, ainda no tópico sobre a
autoeficácia, será apresentada uma revisão sistemática sobre o estudo da
autoeficácia no contexto esportivo utilizando no modelo Prisma. Finalizando o
capítulo, haverá uma discussão sobre a autoeficácia e pessoas com deficiência
visual e como se constitui a eficácia percebida pelo treinador.
2.1 PERCEPÇÃO
A percepção do ser humano sobre si mesmo e o mundo é algo que desperta
atenção de diferentes vertentes da psicologia. Esse interesse advém pelo fato que a
compreensão sobre a percepção de um sujeito fornece subsídios para o psicólogo
compreender as relações sociais e os comportamentos de seu cliente (CARVALHO;
STEIL, 2013).
Diversas são as teorias psicológicas que definem o que é percepção através de seus
fundamentos. Dentre as principais está a teoria psicanalítica freudiana. Esta
abordagem defende que a percepção de um sujeito é regida por seu dinamismo
psíquico, isto é, a realidade percebida pelo sujeito é influenciada por seus desejos
inconscientes e traumas vividos por ele, sendo impossível, desta forma, existir uma
fidelidade entre a realidade percebida e a realidade externa (JUNIOR, 1999). Em
contrapartida, o behaviorismo, opondo-se a esta explicação, afirma que o
comportamento perceptivo não requer nenhuma mediação mental, pois está
submetido apenas às condições ambientais que o mantém, uma vez que o sujeito
perceberá os estímulos do ambiente relacionados às contingências que lhe são
reforçadoras1. Assim, o perceber está relacionado ao controle de estímulos através
da história de vida de cada pessoa e não a conteúdos psíquicos do sujeito (LOPES;
ABIB, 2002; STRAPASSON; DITTRICH, 2008).
1 Classe de estímulos que tem a função de fortalecer uma classe de comportamento (PESSÔA;
VELASCO, 2012). O sujeito apenas percebe coisas do ambiente (classe de comportamento) que são reforçadoras para ele (estímulos que fortalecem o comportamento de perceber).
25
A fenomenologia se opõe às duas teorias apresentadas até agora, pois compreende
a percepção como sendo uma atitude corpórea e não apenas a apreensão de um
objeto ou evento do ambiente. O ato de perceber rompe as noções de relação entre
corpo-objeto como definido pela psicanálise e pelo behaviorismo, pois perceber é
“um acontecimento da existência” do indivíduo, como se pessoa e ambiente fossem
um único fenômeno existente (NÓBREGA, 2008, p. 142).
Já a teoria construtivista enfatiza que o indivíduo é um ser ativo e consegue
perceber através da construção de uma representação mental do estímulo, fazendo
uso de informações sensoriais e pensamentos de ordem superior para decodificar
tais informações (ARAÚJO et al., 2014; STERNBERG, 2008). O conhecimento que
o sujeito tem sobre si e sobre o mundo é construído através da interação deste
sujeito com o meio físico e social (BECKER, 1992; PIAGET, 1972).
As apresentações destas distintas definições sobre o que é percepção no âmbito da
psicologia, elucidam a complexidade sobre este constructo. Por isso, é importante
definir que, na presente pesquisa, a perspectiva teórica utilizada para estudar
percepção foi a teoria cognitiva. Tal abordagem compreende a percepção como
sendo a decodificação dos estímulos ambientais através de esquemas cognitivos do
indivíduo (BECK, 1997).
Estes esquemas, denominados de crenças, são formados por estruturas cognitivas
internas elaboradas através do armazenamento de experiências prévias do sujeito,
vivenciadas desde sua infância. Assim, a pessoa recebe estímulos do ambiente
através de seus órgãos sensoriais e seus esquemas cognitivos determinam como
estas informações serão estruturadas, contextualizadas e sentidas, influenciando
diretamente no comportamento de quem percebe o estímulo (BECK, 1997; KNAPP;
BECK, 2008). Dessa forma, a percepção de um fenômeno é individual e dependerá
da história de vida do sujeito e suas crenças (GRECO, 2009; KNAPP; BECK, A.
2008).
Os estímulos ambientais a serem interpretados pelos esquemas cognitivos são
decodificados através dos órgãos sensoriais que os transformam em sinais elétricos
posteriormente processados pelo sistema nervoso central, sendo esta etapa
importante para o processo de percepção sujeito (RODRIGUES, 2010). Dentre os
órgãos sensoriais do ser humano, os olhos, canal sensitivo responsável pela visão, é
26
um dos mais utilizados (MORAES, 2006; REINER; DE VOLDER, 2005;
RODRIGUES, 2010). No entanto, quando este órgão sofre algum tipo de
acometimento, como acontece a percepção?
2.1.2 A percepção da pessoa com deficiência visual
Antes mesmo de descrever sobre a percepção da pessoa com deficiência visual é
necessário definir o que é considerado deficiência visual. Os autores Oliveira Filho e
Almeida (2008, p. 54), baseados na definição da Organização Mundial da Saúde
(OMS), a definem como
“o não-funcionamento ou funcionamento parcial do sistema fisiológico, estrutural e psicológico do sistema visual, e, levando a uma incapacidade deste sistema, o entendimento de limitações que se dá a relação ao meio e às necessidades a que a pessoa é submetida”
Já Silva, Vital e Mello (2012, p.51) caracterizaram a deficiência visual como a
“perda visual que não pode ser corrigida com lentes por prescrição regular. Compreende tanto a cegueira total, ou seja, a perda total da visão nos dois olhos, quanto a baixa visão, que é irreversível e com acentuada diminuição da acuidade visual, a qual não se consegue corrigir pelos recursos ópticos comuns”.
Apesar de ser muito parecida com as explicações apresentadas até agora, acredita-
se, porém, que a definição fornecida por Munster e Almeida (2008, p. 29) possa ser
de mais fácil compreensão: a deficiência visual é a “perda parcial ou total da
capacidade visual, em ambos os olhos, levando o indivíduo a uma limitação em seu
desempenho habitual”. Estes autores, afirmam ainda que pessoas sem a visão de
apenas um dos olhos ou até mesmo que sofreram evisceração (retirada do globo
ocular com a preservação do conteúdo orbital) ou remoção cirúrgica do globo ocular,
mas que mantém a normalidade da visão no outro olho, não são consideradas
pessoas com deficiência visual. Isso porque, para ser classificada como deficiência
visual é necessário que o déficit acometa os dois olhos.
27
A Organização Mundial de Saúde (2016), de acordo com a classificação
Internacional de Doenças, divide a deficiência visual em três categorias diferentes:
acometimento moderado da visão, acometimento severo da visão e cegueira. As
duas primeiras categorias são agrupadas sob o termo ‘baixa visão’; já a
denominação ‘cego’ é fornecida para as pessoas que se enquadram na última
categoria. A pessoa com deficiência visual é considerada baixa visão quando possui
acuidade visual de até 6/60 metros2; e considerada cega, quando não consegue
definir formas, podendo ter ou não percepção luminosa (OLIVEIRA FILHO, 2003).
No presente estudo serão utilizados os termos ‘cego’ e ‘baixa visão’ utilizando como
referencial teórico as definições aqui apresentadas. Também serão usados os
termos ‘pessoa com deficiência visual’ e ‘deficiente visual’ para se referir aos dois
grupos.
Com o sentido da visão acometido, as pessoas com deficiência visual percebem a si
mesmos e ao mundo através dos outros canais sensoriais. A audição é o canal
sensorial que permite ao cego perceber a distância e profundidade do ambiente em
que está (LORA, 2003). Além dos sons do próprio ambiente possibilitar a orientação
espacial do deficiente visual, este é o sentido mais utilizado para que as pessoas
videntes3 possam descrever o ambiente para o cego mais rapidamente (ALMEIDA;
DA SILVA, 2009; NUNES; LOMÔNACO, 2008).
Lora (2003) lista uma série de sub-habilidades auditivas essenciais para o cego.
Dentre estas sub-habilidades estão a ecolocalização – “habilidade de transmitir um
som e perceber as qualidades do eco refletido” (p. 59); a localização do som –
“determinar com precisão a localização da fonte sonora, comparando-se o momento
de chegada e a intensidade do som de cada ouvido” (p. 59); e o escutar
seletivamente – “capacidade de selecionar um som entre um grupo de muitos outros
simultâneos” (p. 60). Todas estas habilidades auditivas permitem mais autonomia de
locomoção à pessoa com deficiência visual.
Outro canal sensorial muito utilizado por deficientes visuais é o tato. Esta forma de
percepção sensorial é subdividida em tato passivo (informação recebida de maneira
2 Relativamente seria o que uma pessoa sem deficiência visual enxerga a 60 metros, a pessoa com
deficiência visual enxerga equivalente a seis metros (SILVA; VITAL; MELLO, 2012). 3 Nomenclatura aqui utilizada para definir a pessoa sem deficiência visual.
28
não intencional) e tato ativo (informação buscada de maneira intencional pelo
indivíduo que tateia um objeto), sendo o tato ativo o mais utilizado pelos cegos para
o reconhecimento do ambiente (ALMEIDA; DA SILVA, 2009; LORA, 2003). A
percepção tátil, apesar de ter um caráter sequencial e ser considerada mais lenta
que a percepção auditiva, possibilita ao cego o contato direto com o objeto para seu
reconhecimento (LORA, 2003; NUNES; LOMÔNACO, 2008).
Além disso, o canal tátil também possibilita a orientação espacial do cego. A
utilização da bengala permite ao cego prolongar sua percepção tátil e lhe fornece
maior autonomia na marcha (RENIER; VOLDER; 2005). Sensações táteis passivas,
como calor e frio, também auxiliam o cego a identificar sombras causadas por
aproximações de objetos como construções e árvores (LORA, 2003). Apesar da
utilização da bengala e da percepção tátil passiva de calor e frio colaborarem para
autonomia e orientação espacial do cego, a audição ainda é o canal sensorial mais
utilizado para a locomoção do cego no ambiente urbano. Isso porque a arquitetura
das cidades não apresenta dicas táteis suficientes para esta população,
apresentando perigos eminentes em sua locomoção (DE ALMEIDA; LOCH, 2005).
O autor Oliveira Filho (2003) afirma que a audição e o tato são os canais sensoriais
mais utilizados pelos cegos para captarem informações do ambiente. No entanto,
outros sentidos também são utilizados para compor a percepção do cego. A
cinestesia (ou propriocepção) é definida como a percepção que o indivíduo tem de
seu próprio corpo, como consciência corporal, imagem corporal e relação de seu
corpo com os outros objetos (ALMEIDA; DA SILVA, 2009). Esse sentido permite que
a pessoa com deficiência visual torne consciente sua posição corporal e seus
movimentos, além de possibilitar que ele consiga detectar alterações nas superfícies
que caminha, como desníveis nas calçadas, por exemplo (LORA, 2003).
Outro canal sensorial importante é o olfato, pois auxilia o cego a identificar o
ambiente em que está, além de ter um fator protetor nos cuidados pessoais,
possibilitando, por exemplo, o cego a diferenciar itens alimentícios impróprios para o
consumo (LORA, 2003). Esta autora define ainda o sentido vestibular ou
labiríntico como canal sensorial importante para os cegos, pois os permite perceber
posições verticais “do corpo e componentes rotatórios e lineares dos movimentos
sobre o eixo de uma volta em graus” (p. 63).
29
Ressalta-se que todos os canais sensoriais aqui citados são utilizados tanto por
cegos como pessoas com baixa visão. A diferença é que a pessoa com baixa visão,
além de utilizar estes sentidos, também pode se valer de alguma percepção visual
para estabelecer pontos de referências que lhe ajudem em sua autonomia, como
iluminações e cores de objetos (LORA, 2003).
Erroneamente, pessoas videntes acreditam que todos esses canais sensoriais aqui
apresentados são automaticamente mais aflorados em pessoas com deficiência
visual, sendo capazes de substituir a visão no processo de percepção (MENESCAL,
1994). Porém, os deficientes visuais somente adaptam sua maneira de perceber o
mundo através do desenvolvimento destes canais sensoriais. Tal aperfeiçoamento é
alcançado através de treinamentos que estimulam a utilização dos outros sentidos
(NUNES; LOMÔNACO, 2008; ORMELEZI, 2000).
Estas estimulações dos outros canais sensoriais mudam de acordo com a causa da
deficiência visual, se é congênita ou adquirida. Crianças que nasceram com a
deficiência visual ou que perderam a visão até cinco ou sete anos de idade são
classificadas como tendo causa congênita; já a perda da total ou parcial da visão
após esta idade classifica a deficiência com causa adquirida (NUNES; LOMÔNACO,
2008; ORMELEZI, 2000).
Amiralian (1997) verificou que, apesar de existir esta classificação padrão para
definir deficientes visuais congênitos e adquiridos, as próprias pessoas com
deficiência visual modificam esta nomenclatura de acordo com a autopercepção
sobre si e a deficiência. Nesse estudo, a autora averiguou que cegos que perderam
a visão por doenças adquiridas tardiamente (como catarata e glaucoma) se
consideravam cegos congênitos. Já pessoas que haviam perdido a visão até os dois
anos de idade de maneira acidental, se declaravam cegos adquiridos. Segundo a
pesquisadora, pessoas que concebiam a cegueira como inerentes a si mesmas se
intitulavam como ‘cegos congênitos’, enquanto que os cegos que diziam ter
adquirido a doença ainda no início da infância, afirmavam possuírem deficiência
visual adquirida, pois nasceram sadios, mas foram acometidos pela cegueira de
maneira acidental.
Apesar deste estudo, a nomenclatura para definir o deficiente visual congênito e
adquirido utiliza como critério a idade em que a deficiência foi manifestada, conforme
30
apresentado anteriormente. Isso porque as pessoas com deficiência visual adquirida
tem uma experiência anterior como videntes e utilizam de conceitos formados
durante este período para se adaptarem à vida sem a visão. Já o deficiente visual
congênito, mesmo não nascendo com a deficiência e conseguindo formar nuances
cognitivas através da visão durante a primeira infância (como imitação de
comportamentos de terceiros), não retém imagens, formas e cores de suas
experiências visuais, precisando perceber o mundo através dos outros sentidos
(CAMPANI; KRUMEL; SCHNEIDER, 2010; FREITAS, 2000). Oliveira Filho (2003)
enfatiza ainda a importância e a dificuldade em diagnosticar pessoas com baixa
visão congênita, uma vez que estas crianças, assim como os cegos, precisam de
estimulações diferentes do ambiente para o aperfeiçoamento dos demais canais
sensitivos e, consequentemente, manter saudável seu desenvolvimento cognitivo e
motor. Porém, a criança com baixa visão é mais difícil de ser notada por familiares e
professores como deficiente visual. Esta falta de diagnóstico pode gerar empecilhos
para o desenvolvimento desta criança, uma vez que pais e professores não
fornecerão os estímulos necessários para o aprimoramento dos demais sentidos.
A visão possui papel fundamental no desenvolvimento motor, uma vez que permite o
acesso do sujeito com o mundo. A criança com deficiência visual congênita precisa
ter contato com o ambiente externo através da mobilidade neste ambiente para
poder explorá-lo e conseguir desenvolver outros canais sensoriais (SOARES et al.,
2012). Familiares de deficientes visuais que possuem comportamentos de
superproteção e não estimulam seus filhos a desbravarem o ambiente através do
tato e da audição, não contribuem para a autonomia desta criança (GONZALES;
BENITO; VEIGA, 2003).
Os autores Craft e Liberman (2004) afirmam que a falta da visão por si só não
acarreta defasagens psicomotora, mas crianças com deficiência visual que não são
estimuladas a conhecerem o ambiente através dos outros sentidos possuem atrasos
em algumas áreas do desenvolvimento. Algumas dessas áreas que podem sofrer
defasagem em pessoas com deficiência visual congênita são: psicomotricidade -
marcha, equilíbrio, postura, esquema corporal e cinestésico, expressões corporais e
faciais, dificuldade de relaxamento, lateralidade, maneirismos e coordenação
motora; cognição - formação e utilização de conceitos, linguagem, generalização e
utilização de símbolos; e sociais e afetivas - isolamento, medo, insegurança, baixa
31
motivação e falta de iniciativa (CRAFT; LIBERMAN, 2004; GONZALES; BENITO;
VEIGA, 2003; LIMA; ALMEIDA, 2008; MENESCAL, 1994; ORMELEZI, 2000).
A prática esportiva dirigida pode auxiliar no desenvolvimento desses aspectos
defasados quando não há estimulação correta por parte da família (OLIVEIRA
FILHO, 2003). Lima e Almeida (2008), por exemplo, verificaram aquisição de novos
comportamentos motores de pessoas com deficiência visual através da natação. Já
Silva, Ribeiro e Rabelo (2008) notaram melhora no equilíbrio estático e dinâmico de
deficientes visuais por meio da dança. Almeida e Da Silva (2009) e Campani, Krumel
e Schneider (2010) afirmam que a prática do judô (modalidade estudada nesta
pesquisa) auxilia as pessoas com deficiência visual a aprimorarem equilíbrio,
consciência corporal, organização de esquema corporal, orientações temporal e
espacial e coordenação motora. Além do auxílio na melhora de aspectos
psicomotores conforme apresentados por estes autores, uma das principais
contribuições da prática esportiva para a pessoa com deficiência visual é sua
integração social. Essa integração é importante principalmente em casos da
deficiência visual adquirida, uma vez que a pessoa precisa aprender a perceber o
ambiente e conviver em sociedade sem a visão (BRAZUNA; CASTRO, 2001;
GORLA; DE ALMEIDA, 2007).
A realização da prática esportiva por pessoas com deficiência visual demonstra,
tanto para a sociedade quanto para o próprio esportista com deficiência visual, o
potencial de autonomia que estas pessoas tem. Através da prática de uma
modalidade esportiva, as pessoas com deficiência visual estimulam outros canais
sensoriais e, consequentemente, aumentam sua sensibilidade corporal e também
sua percepção espacial (GORLA; DE ALMEIDA, 2007; CAMPANI; KRUMEL;
SCHNEIDER, 2010).
32
2.2 AUTOEFICÁCIA: DEFINIÇÃO DO CONSTRUCTO
Autoeficácia é um constructo encontrado na Teoria Social Cognitiva desenvolvida
por Albert Bandura. Nesta teoria, o autor defende que os processos cognitivos são a
base para a compreensão do comportamento humano. Em contraponto ao
pensamento behaviorista metodológico, que estuda o homem considerando apenas
a observação objetiva de seus comportamentos relacionando-os com a história
prévia deste indivíduo com o ambiente, a teoria proposta por Bandura considera o
ser humano como um ser integrado, proativo e autorreflexivo. Assim, os
comportamentos humanos não são apenas regidos pelo ambiente, mas sim
formados por um determinismo recíproco no qual fatores ambientais,
comportamentais e pessoais (como pensamentos, sentimentos e funcionamento
biológico) atuam igualmente como formadores deste sujeito. A esta relação
igualitária entre esses fatores, deu-se o nome de reciprocidade triádica (BANDURA,
1997; PAJARES; OLAZ, 2008; SKINNER, 2006).
O ser humano formado por esta tríade pode ser chamado de um ser “agente”, pois é
capaz de modificar tanto seus comportamentos quanto o ambiente. Tais alterações
só são possíveis uma vez que o ser humano possui capacidades que lhe são
peculiares. De acordo com a Teoria Social Cognitiva são cinco as capacidades
humanas (CARMO, 2006; PAJARES; OLAZ, 2008):
Capacidade Simbolizadora – refere-se à capacidade de utilizar símbolos.
Permite ao indivíduo, através dos símbolos, construir roteiros de ações e
soluções de problemas, dar continuidade às experiências vividas e antecipar
acontecimentos. É uma capacidade importante para orientar a conduta e
possibilitar a modelagem de comportamentos observados no ambiente em
que vive.
Capacidade de Antecipação (ou Preditiva) – capacidade de antecipar
acontecimentos futuros, permitindo que o indivíduo modifique suas ações
para obter consequências favoráveis.
Capacidade Vicária – faz referência à capacidade de aprendizado através da
observação. É importante para a sobrevivência do indivíduo, uma vez que o
permite adquirir novos comportamentos sem precisar passar pelo processo de
tentativa e erro.
33
Capacidade de Autorreflexão – capacidade que o sujeito tem de analisar suas
próprias atitudes, experiências e processos mentais. Permite que o ser
humano regule suas ações para obter consequências satisfatórias e evite
comportamentos que terão como consequências situações que lhe são
desagradáveis.
Capacidade Autorreguladora – refere-se à capacidade do ser humano de
determinar sua própria conduta. Esta capacidade abrange a auto-observação,
o processo de autojulgamento e autorreação (que envolve a autoavaliação e
autoincentivo, os quais possuem função motivacional na vida do ser humano).
De todas as capacidades aqui apresentadas, pode-se dizer que a autorreguladora é
a mais relacionada com a crença de autoeficácia. O constructo de autoeficácia
começou a ser mencionado por Bandura em 1977; desde então, sofreu várias
alterações de definição como pode ser visto no Quadro 1 (AZZI; POLYDORO, 2006).
A mais recente definição feita por Bandura, em 1997, encontra-se em seu livro “Self-
efficacy: the exercise of control” e pode ser traduzida como “a percepção de
autoeficácia refere-se às crenças sobre a capacidade pessoal para organizar e
executar cursos de ação, requisitados para produzir dadas realizações” (p. 3). A
autoeficácia estaria então intimamente relacionada com a motivação e a persistência
de esforço do indivíduo para realizar determinada atividade.
Ainda nessa obra, o autor define que as crenças de autoeficácia teriam origem em
quatro principais fontes:
Experiências diretas de domínio – quando as próprias experiências da pessoa
permitem que ela acredite ser capaz de fazer novamente algo parecido com o
que já conseguiu realizar.
Experiências vicárias – quando o sujeito observa alguém, que julgue ter
características parecidas com as suas, realizar determinada ação e, devido à
semelhança entre os dois, passa a acreditar que é possível fazê-lo.
Persuasão social – quando o sujeito é persuadido por outras pessoas a seu
redor de que ele tem o que é necessário para realizar determinada tarefa.
34
Datas Definições Aspecto 1
'Nomenclatura'
Aspecto 2 'Dimensão da subjetividade'
Aspecto 3 'Avaliação da capacidade
pessoal'
Aspecto 4 'Ação
envolvida'
Aspecto 5 'Foco da
ação'
1977 An efficacy expectation is conviction that one can successfully to produce
the outcomes (p.193)
Expectativa de eficácia é a
convicção de alguém para
realizar com sucesso a
execução do comportamento requerido para
produzir resultados
1982
Perceived self-efficacy is concerned with judments of how well one can
execute courses of action required to deal with prospective situations (p. 122)
Autoeficácia percebida diz respeito aos
julgamentos das pessoas
sobre
quão bem podem
executar cursos de ação
requeridos para
lidar com situações em prospectiva
1984
Perceived self-efficacy is concerned with people's judgments of their
capabilities to execute given levels of performance (p.232)
Autoeficácia percebida diz respeito aos
julgamentos das pessoas sobre suas
capacidades em
Executar determinados
níveis de desempenho
1986
Perceived self-efficacy is defined as people's judments of their capabilities to organize and execute courses of action required to attain designated
types of performance (p. 391)
Autoeficácia percebida é
definida pelos
julgamentos das pessoas sobre suas
capacidades em
organizar e executar
cursos de ação requeridos
para
obter determinados
tipos de desempenho
1995
Perceived self-efficacy refers to beliefs in one's capabilities to organize and
execute the courses of action required to manage prospective situations (p.2)
Autoeficácia percebida refere-se à
crenças de alguém em
sua
capacidades em
organizar e executar
cursos de ação requeridos
para
lidar com situações em prospectiva
1997
Perceived self-efficacy refers to beliefs in one's capabilities to organize and
execute the courses of action required to produce given attainments (p.3)
Autoeficácia percebida
refere-se às
crenças de alguém em
sua
capacidades em
organizar e executar
cursos de ação requeridos
para
produzir certas
realizações
Quadro 1 - Evolução da definição do constructo Autoeficácia na Teoria Social Cognitiva (retirado de AZZI; POLYDORO, 2006,
p.12)
35
Estados físicos e emocionais – o indivíduo precisa estar em um estado de
ativação equilibrado para exercer aquela tarefa. Por exemplo, um estudante
sabe todo o conteúdo da matéria de história, mas não consegue respondê-lo
em situação de prova devido à ansiedade que sente naquele momento.
A percepção de autoeficácia, assim como qualquer outro tipo de percepção, é um
constructo cíclico que envolve “as habilidades cognitivas, sociais e comportamentais
(...) organizadas em cursos integrados de ação” para que o sujeito se perceba como
um ser capaz de realizar uma ação específica em determinado momento
(BANDURA, 1982, p. 122). Neste sentido, a percepção de autoeficácia é mutável e
moldada através das experiências da pessoa, podendo sofrer alterações de acordo
com a situação vivenciada e a tarefa a ser realizada (CRUZ; VIANA, 1996). Assim, a
autoeficácia é considerada um estado e não um traço psíquico (SERRA, 1988).
Além de ser considerado um estado psíquico, a autoeficácia é um constructo que
deve ser avaliado através de instrumentos de multidomínio. Isso porque as pessoas
percebem de maneiras diferentes suas capacidades para exercer tarefas diversas de
um mesmo domínio. Um judoca, por exemplo, pode ter alto senso de autoeficácia
para realizar um golpe de projeção, porém baixa percepção de eficácia para lutar no
solo; por isso, para estudar a percepção de autoeficácia deste atleta sobre sua
prática esportiva é necessário investigar a maioria das tarefas que compõe esta
modalidade (BANDURA, 2006).
Por ser elaborada através das experiências de vida e esquemas cognitivos do
sujeito, a percepção de autoeficácia nem sempre corresponde às reais habilidades
do indivíduo (BANDURA, 1997; KNAPP; BECK, 2008). No entanto, a percepção de
autoeficácia positiva, na qual o indivíduo acredita que pode realizar determinada
tarefa, tem relação diretamente proporcional com a motivação deste sujeito,
aumentando assim sua persistência em continuar a executar tal tarefa (BANDURA,
1997); “julgamentos de autoeficácia também determinam quanto esforço a pessoa
vai gastar e quanto tempo eles vão persistir diante de obstáculos ou de experiências
aversivas” (BANDURA, 1982, p. 123). Neste sentido, a autoeficácia assume então
um papel mediador entre o sujeito e sua ação e passa a ser interessante nas
ciências do esporte para compreender como acontece este constructo em seu
contexto (AZZI; POLYDORO, 2006).
36
2.2.1 Autoeficácia no esporte: revisão sistemática da literatura
Os estudos sobre a autoeficácia no contexto esportivo começaram na década de
1980 (LÁZARO; VILLAMARÍN, 2007). Em 1997, Bandura explanou a importância de
se estudar a autoeficácia no contexto esportivo afirmando que as “crenças de
eficácia atlética determinam quem opta por seguir nestas atividades e o quanto
esses atletas ganharão no programa de treino” (p. 369).
No ano de 2012, Barros e Iaochite chegaram até mesmo criar uma definição de
autoeficácia específica para a prática de atividade física: “capacidade de se manter
praticando exercícios mesmo diante de impedimentos que possam surgir” (p. 32).
Nota-se que essa definição está baseada na relação direta da percepção positiva de
autoeficácia com a motivação conforme afirmado por Bandura (1997).
Com objetivo de compreender como a autoeficácia esportiva vem sendo estudada
no esporte de alto rendimento nos últimos anos, optou-se por realizar uma revisão
sistemática sobre o tema seguindo o modelo PRISMA - Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews And Meta-Analyses (LIBERATI et al., 2009).
Nos meses de fevereiro e março de 2016 realizou-se o levantamento de trabalhos
publicados nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online),
PubMed, Periódicos CAPES e PsycINFO (American Psychological Association) para
identificar pesquisas que estudassem autoeficácia no esporte. Os descritores
utilizados para a busca, escritos em português, inglês e espanhol, foram:
‘autoeficácia’ / ‘self-efficacy’ / ‘autoeficacia’; ‘atleta’ / ‘athlete’ / ‘atleta’; ‘esporte’ /
‘sport’ / ‘deporte’; ‘judô’ / ‘judo’ / ‘judo’; ‘deficiência’ / ‘deficiency’ / ‘deficiencia’;
‘paralímpico’ / ‘paralympic’ / ‘paralimpico’. Foi empregada a combinação de todos os
descritores nos três idiomas separadamente com o operador booleano AND entre
eles, e, posteriormente, a palavra ‘autoeficácia’ combinada com todos os demais
descritores utilizando o mesmo operador.
Após a exclusão dos trabalhos repetidos, foram aplicados os seguintes critérios de
seleção: pesquisas publicadas entre os anos de 2010 e março de 2016; trabalhos do
tipo artigo, dissertação ou tese; e pesquisas acessadas livremente na íntegra. Para
os trabalhos que atendiam a estes critérios de inclusão, foram aplicados os
37
seguintes critérios de exclusão: pesquisas que não tinham a palavra “autoeficácia”
pelo menos no título, resumo ou palavras-chave; pesquisas teóricas ou de revisão; e
pesquisas que não tinham atletas de alto rendimento como participantes. O
Fluxograma 1 apresenta a ordem de aplicação desses critérios, bem como a
quantidade de pesquisas encontradas em cada etapa.
Fluxograma 1 - Fluxograma da revisão sistemática de “autoeficácia”
38
Com a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 24 pesquisas. Após
a leitura exaustiva destes estudos, foram excluídos três trabalhos por não
apresentarem objetivos de estudar a autoeficácia. O estudo de Diteweg et al. (2013),
apesar de ter atletas de alto rendimento compondo a amostra, apresentou como
objetivo estudar a relação da autoeficácia destes atletas com a possibilidade de
realizar exames para detectar o vírus da Aids, não mencionando a autoeficácia
esportiva. Já o trabalho de Noce et al. (2011) foi retirado da presente revisão por
investigar overtraining, sendo que a autoeficácia apenas compunha uma das
dimensões do instrumento utilizado para investigar o constructo pesquisado. A
pesquisa de White e Bennie (2015), também não contemplou esta revisão
sistemática por ser um estudo qualitativo sobre percepção de resiliência, sendo que
a autoeficácia apareceu somente como uma das categorias de respostas às
entrevistas.
Dessa forma, a presente revisão sistemática contemplou 21 trabalhos. Informações
sobre título, autoria, ano e revista de publicação estão apresentadas no Quadro 2.
39
Título Completo (original) Ano de
publicação Revista Autores
Interacción de la cohesión en la eficacia percibida, las
expectativas de éxito y el rendimiento en equipos de
baloncesto
2010 Revista de Psicologia del
Deporte
Francisco Miguel Leo Marcos; Tomás García Calvo; Isabel
Parejo González; Pedro Antonio Sánchez Miguel; David
Sánchez Oliva
Interactive effects of team cohesion on perceived efficacy in
semi-professional sport 2010
Journal of Sports Science
and Medicine
Francisco Miguel Leo Marcos; Pedro Antonio Sánchez
Miguel; David Sánchez Oliva; Tomás García Calvo
Relational efficacy beliefs and relationship quality within
coach-athlete dyads 2010
Journal of Social and
Personal Relationships Ben Jackson; J. Robert Grove; Mark R. Beauchamp
Autoeficácia e nível de ansiedade em atletas jovens do
atletismo paranaense 2011
Revista Brasileira de
Cineantropometria &
Desempenho Humano
Lenamar Fiorese Vieira; Cesar Luis Teixeira; José Luis
Lopes Vieira; Albertino Oliveira Filho
Auto-eficacia, competencia fisica e auto-estima em praticantes
de basquetebol com e sem deficiencia física 2011 Motricidade
José Pedro Ferreira; Pedro Miguel Gaspar;
Maria João Campos; Cristina Maria Senra
Multivariate Relationships among Efficacy, Cohesion, Self-Talk
and Motivational Climate in Elite Sport 2011
Pamukkale Journal of Sport
Sciences
Gregory Damato; Paul Heard; J. Robert Grove; Robert C.
Eklund
Self-efficacy and its relationship to selected sport
psychological constructs in the prediction of performance in
ironman triathlon
2011 Journal of Human Sport &
Exercise Ian Heazlewood; Stephen Burke
Los estados emocionales y su relación con las atribuciones y
las expectativas de autoeficacia en el deporte 2012
Revista de Psicologia del
Deporte Enrique Cantón Chirivella; Irene Checa Esquiva
O fluxo no voleibol: relação com a motivação, autoeficácia,
habilidade percebida e orientação às metas 2012
Revista da Educação Física
/ UEM
Simone Salvador Gomes; Renato Miranda; Maurício Gattás
Bara Filho; Maria Regina Ferreira Brandão
The Impact of Imagery on Self-efficacy and Volleyball Spike
Performance: Mediating Role of Positive Self-talk 2013
Annals of Applied Sport
Science
Soheila Majlesi Ardehjani; Pouneh Mokhtari; Faranak
Tayyari
Quadro 2 - Trabalhos utilizados na revisão sistemática sobre autoeficácia
40
Título Completo (original) Ano de
publicação Revista Autores
The relationships between pre-competition anxiety, self-
efficacy, and fear of injury in elite TeamGym athletes 2013 Kinesiology
Roberta De Pero; Carlo Minganti; Caterina Pesce; Laura
Capranica; Maria Francesca Piacentini
The Sources and Maintenance of Professional Golfers' Self-
Efficacy Beliefs 2013 Sport Psychologist Gio Valiante; David B. Morris
Autoeficacia y lesiones deportivas: ¿factor protector o de
riesgo? 2014
Revista de Psicologia del
Deporte
Víctor J. Rubio; Constanza Pujals; Ricardo de la Veja;
David Aguado; José Manuel Hernández
Determinación de las variables psicológicas y deportivas
relevantes a las lesiones deportivas: Un análisis bayesiano 2014
Revista de Psicología del
Deporte
Alexandre Garcia-Mas; Constanza Pujals; Pilar Fuster-
Parra; Antonio Núñez; Víctor J. Rubio
Observation Interventions as a Means to Manipulate Collective
Efficacy in Groups 2014
Journal of Sport & Exercise
Psychology, Adam M. Bruton; Stephen D. Mellalieu; David A. Shearer
Physical self-efficacy in women's artistic gymnastic between
recreational and competitive level 2014
Journal of Human Sport and
Exercise Filippo Gomez Paloma; Laura Rio; Cristiana D’Anna
Self efficacy and performance of the roundhouse kick in
taekwondo 2014
Revista de Artes Marciales
Asiáticas Isaac Estevan; Octavio Álvarez; Coral Falcó; Isabel Castillo
Changes in Task Self-Efficacy and Emotion Across
Competitive Performances in Golf 2015
Journal of Sport & Exercise
Psychology Ian D. Boardley; Ben Jackson; Alexander Simmons
Intrinsic Motivation Predicting Performance Satisfaction in
Athletes: Further Psychometric Evaluations of the Sport
Motivation Scale-6
2015 Polish Psychological
Bulletin
Jan Blecharz; Karolina Horodyska; Karolina Zarychta;
Aleksandra Adamiec; Aleksandra Luszczynska
Satisfacción con la vida y autoeficacia en jugadores de
baloncesto en silla de ruedas 2016
Revista de psicología del
deporte
Carlos Mª Tejero-González; Ricardo de la Vega-Marcos;
Miguel Vaquero-Maestre; Roberto Ruiz-Barquín
Quadro 2 - Trabalhos utilizados na revisão sistemática sobre autoeficácia (continuação)
41
Apesar do Quadro 2 apresentar as informações de ano de publicação do artigo,
optou-se por apresentar esses dados também em formato de gráfico (Gráfico 1) para
facilitar a leitura sobre o número de publicações anuais de trabalhos que
investigassem a autoeficácia.
Gráfico 1 - Quantidade de publicações por ano
O Gráfico 1 demonstra que o ano de maior número de publicações entre 2010 e
2015 foi o ano de 2014, com cinco trabalhos publicados; enquanto que o ano de
2012 foi o de menor número de publicação (duas). Nota-se que em todos os anos o
tema de autoeficácia esportiva foi investigado, apresentando interesse por parte dos
pesquisadores das ciências do esporte sobre este constructo. Outro aspecto
interessante apresentado pelo Gráfico 1 foi que, apesar deste levantamento ter
contemplado apenas as publicações realizadas durante os três primeiros meses de
2016, já havia sido publicado neste ano o trabalho de Tejero-González et al. (2016),
sobre autoeficácia de jogadores de basquete em cadeira de rodas, demonstrando
possível continuidade de atenção a este constructo fornecido por pesquisadores das
ciências do esporte.
42
Além do ano de publicação dos trabalhos, verificou-se também o número de artigos
encontrados em cada base de dados de acordo com a combinação de palavras-
chave, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 - Número de trabalhos encontrados por base de dados de acordo com a combinação de palavras-chave
Palavras-chave SciELO CAPES PubMed PsycINFO TOTAL
"autoeficácia" AND "esporte" 1 0 0 0 1
"autoeficacia" AND "deporte" 0 5 0 0 5
"self-efficacy" AND "sport" 3 9 1 0 13
"self-efficacy" AND "athlete" 0 2 0 0 2
"self-efficacy" AND "athlete" AND "sport" 0 2 0 0 2 "autoeficácia" AND "judô" / "autoeficacia" AND "judo"
0 1 0 0 1
TOTAL 4 19 1 0 24
Embora a presente revisão contemple 21 pesquisas, a soma dos trabalhos
apresentados na Tabela 1 é de 24 estudos, porque três das 21 pesquisas foram
encontradas através de mais de uma combinação de palavras-chave. O trabalho de
Ferreira et al. (2011) foi localizado na base de dados ‘SciELO’ através da
combinação das palavras ‘self-efficacy AND sport’ e também nos ‘Periódicos
CAPES’ com a combinação ‘autoeficácia AND judô’. Já a pesquisa de Gomes et al.
(2012) foi encontrada na ‘SciELO’ através das combinações ‘autoeficácia AND
esporte’ e ‘self-efficacy AND sport’; e o estudo de Jackson, Grove e Beauchamp
(2010), foi identificado no ‘Periódicos CAPES’ por meio das combinações ‘self-
efficacy AND athlete’ e ‘self-efficacy AND athlete AND sport’.
A base de dados ‘Periódicos CAPES’ era a que continha maior número de trabalhos
sobre autoeficácia no esporte, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão (19
trabalhos), seguida pela ‘SciELO’ (quatro trabalhos) e ‘PubMed’ (um trabalho).
Apesar de terem sido encontrados trabalhos na base de dados ‘PsycINFO’ no início
do levantamento, através das combinações de palavras-chave utilizadas, nenhum
deles atendeu aos critérios de inclusão e exclusão desta revisão, não existindo
nenhuma das 21 pesquisas publicadas nesta base.
43
A Tabela 1 apresenta apenas as combinações de palavras-chave utilizadas para
encontrar os 21 trabalhos aqui estudados. Dentre essas combinações, a junção das
palavras ‘autoeficácia’ e ‘esporte’ nos três idiomas pesquisados foi a que mais
localizou artigos que atendessem aos critérios dessa revisão (19 artigos), sendo que
13 deles foram obtidos através da combinação dessas palavras no idioma inglês,
cinco deles no idioma espanhol e um em português. A quantidade de artigos
encontrados com a combinação das palavras-chave no idioma espanhol pode ser
explicada através do número de autores espanhóis que pesquisam este tema,
conforme pode ser verificado no Gráfico 2.
Gráfico 2 - Quantidade de trabalhos publicados de acordo com a nacionalidade dos autores
Os autores espanhóis foram os que mais produziram pesquisas sobre autoeficácia
no esporte (sete trabalhos), seguidos por australianos (quatro) e americanos (três).
Autores do Brasil, Portugal e Reino Unido tiveram o mesmo número de publicações
(duas) sobre autoeficácia esportiva entre os anos de 2010 e 2016, enquanto que
autores do Canadá, Eslováquia, Irã, Itália, Polônia e Turquia publicaram apenas um
artigo cada um sobre o assunto neste período.
44
A soma de quantidade de trabalhos apresentados no Gráfico 2 é de 26 trabalhos,
pois cinco das 21 pesquisas tiveram autores de duas nacionalidades diferentes:
Reino Unido e Austrália (BOARDLEY; JACKSON; SIMMONS, 2015), Austrália e
Canadá (JACKSON; GROVE; BEAUCHAMP, 2010), Austrália e Estados Unidos
(DAMATO et al., 2011), Estados Unidos e Polônia (BLECHARZ et al., 2015) e
Espanha e Portugal (TEJERO-GONZÁLEZ et al., 2016). Nota-se que dos quatro
trabalhos realizados por pesquisadores australianos, três foram feitos em parceria
com autores de outras nacionalidades; e dois dos três trabalhos realizados por
americanos também foram escritos através de parcerias com pesquisadores de
outros países. Os artigos brasileiros foram escritos por Vieira et al. (2011) da
Universidade Estadual de Maringá, que pesquisaram autoeficácia em atletas jovens
de atletismo; e por Gomes et al. (2012) das Universidades Nove de Julho, Federal
de Juiz de Fora e São Judas Tadeu, que pesquisaram a relação do fluxo com
autoeficácia em atletas do voleibol.
Ressalta-se que, apesar de os critérios de inclusão contemplar pesquisas em
formato de artigos, dissertações e teses, todos os trabalhos que atenderam aos
critérios dessa revisão sistemática são em formatos de artigos. Além disso, apenas
no artigo de Valiante e Morris (2013) foi realizada uma pesquisa do tipo qualitativa, o
que demonstra a preferência dos autores por pesquisas quantitativas para investigar
esse constructo. Mesmo a maioria das pesquisas sendo do tipo quantitativa, notou-
se o uso de instrumentos não validados para estudar a autoeficácia esportiva, como
pode ser observado no Gráfico 3.
Enquanto 12 artigos utilizaram instrumentos validados para investigar autoeficácia
no esporte, sete artigos fizeram uso de instrumentos não validados e elaborados por
seus próprios autores. Os dois artigos restantes apresentavam processos de
validação de dois instrumentos distintos para analisar autoeficácia.
45
Gráfico 3 - Características dos instrumentos utilizados para avaliar autoeficácia
Talvez a utilização de instrumentos não validados aconteça devido à autoeficácia
não ser um traço global. Como explicado anteriormente, a autoeficácia deve ser
investigada através de competências específicas necessárias para produzir a ação a
ser realizada, no caso, a prática esportiva (BANDURA, 2006). Por esse motivo, não
há um instrumento único capaz de investigar a autoeficácia esportiva, uma vez que
cada modalidade tem suas especificidades e exigem habilidades distintas para
serem realizadas. A necessidade de se ter vários instrumentos para atender às
diversidades de habilidades esportivas específicas de cada modalidade, fez com que
quatro dos nove autores utilizassem as orientações de Bandura (2006) para
desenvolverem instrumentos que atendessem aos seus objetivos de pesquisa. Estes
autores são: Marcos et al. (2010a); Marcos et al. (2010b); Damato et al. (2011) e
Heazlewood e Burke (2011). Além desses autores, Valiante e Morris (2013) também
se basearam nas orientações de Bandura (2006) para elaborarem o protocolo de
entrevistas em sua pesquisa qualitativa sobre autoeficácia em atletas de golf.
Dentre os dois artigos que validaram instrumentos para investigar autoeficácia, um
deles elaborou uma escala para estudar a modalidade de golf (BOARDLEY;
JACKSON; SIMMONS, 2015) e outro a modalidade de taekwondo (ESTEVAN et al.,
46
2014). Além disso, foi possível observar que dentre os artigos que utilizaram
instrumentos validados para investigar autoeficácia, cada pesquisador optou por um
instrumento diferente, não havendo repetições de mesma escala/questionário em
nenhum dos 12 artigos. Estes dados confirmam a necessidade de existir
instrumentos específicos que possibilitem a investigação de autoeficácia percebida
nas diversas competências que cada modalidade exige.
Quando verificadas as modalidades esportivas investigadas pelos artigos, notou-se
predominância de modalidades coletivas com bola, como pode ser observado no
Gráfico 4.
Gráfico 4 - Distribuição das modalidades esportivas investigadas de acordo com a quantidade de artigos
Dentre os nove artigos da categoria modalidades ‘coletivas com bola’, a modalidade
mais investigada foi basquete (quatro), sendo que dois deles (FERREIRA et al.,
2011; TEJERO-GONZÁLEZ et al., 2016), estudaram basquete em cadeira de rodas.
Além do basquete, outros três artigos que compuseram esta categoria pesquisaram
futebol e dois outros estudaram voleibol. Já a categoria de modalidades ‘individuais’
foi formada por dois artigos que investigaram ginástica, um que estudou atletismo e
47
outro que pesquisou Iroman/Triatlon. Dos três artigos inseridos na categoria
‘individuais com bola’, dois estudaram golf e um investigou autoeficácia no tênis. As
modalidades pesquisadas pelos artigos que compuseram categoria ‘combate’ foram
karatê, kickboxing e taekwondo. A categoria ‘diversos’ foi formada por quatro artigos
que investigaram três modalidades ou mais.
Enfatiza-se que a soma de todas as modalidades apresentadas no Gráfico 4
equivalem à 23 artigos. Isto porque Chirivella e Esquiva (2012) investigaram atletas
de futebol e karatê e por isso somam aos artigos das categorias ‘coletivas com bola’
e ‘combate’. Além deste artigo, o trabalho de Marcos et al. (2010b) foi adicionado
duas vezes à categoria ‘coletivas com bola’ por pesquisar atletas de basquete e
futebol.
Além das modalidades, também foi verificado os perfis dos participantes dos artigos
encontrados. O Gráfico 5 apresenta a descrição dos participantes de acordo com
seus sexos.
Gráfico 5 - Distribuição de participantes em porcentagem de acordo com o sexo
Algumas pesquisas informaram o número de seus participantes, mas não indicavam
seus sexos. Por este motivo, 17,57% dos participantes foram classificados como
48
sexo ‘não identificado’. Dentre as pesquisa que apresentaram os gêneros de seus
participantes notou-se predominância do gênero masculino (48,03% do total de
participantes) sobre o gênero feminino (34,40% do total de participantes). Os perfis
destes participantes eram variados, conforme mostra o Gráfico 6.
Gráfico 6 - Distribuição dos perfis de participantes pesquisados pelos artigos
A maioria dos artigos (16) pesquisou autoeficácia em atletas de idades variadas. A
pesquisa de Heazlewood e Burke (2011), presente nesta categoria, foi a única que
não identificou a idade dos atletas investigados. Dos artigos que compuseram esta
categoria e informaram a idade dos participantes, o artigo de Gomez-Paloma, Rio e
D’Anna (2014) foi o único que pesquisou atletas da ginástica artística com menos de
10 anos, sendo que o restante das pesquisas investigou atletas adultos de 20 à 40
anos.
Três artigos investigaram tanto atletas como treinadores. Em dois deles, semelhante
ao realizado na presente dissertação, os atletas avaliaram sua percepção de
autoeficácia e o treinador avaliou a eficácia dos atletas da equipe, sendo que um
avaliou atletas adolescentes (MARCOS et al., 2010a) e ou outro atletas jovens
adultos (MARCOS et al., 2010b). O terceiro artigo presente nesta categoria
49
investigou crenças de eficácia de atletas e treinador sobre a díade de
relacionamento entre eles em equipe de tênis composta por adolescentes
(JACKSON; GROVE; BEAUCHAMP, 2010).
Dos dois artigos que pesquisaram atletas estudantes, um deles realizou pesquisa
com atletas estudantes universitários (BRUTON; MELLALIEU; SHEARER, 2014);
enquanto outro investigou estudantes adolescentes e jovens adultas do sexo
feminino pertencentes a diferentes times de voleibol (ARDEHJANI; MOKHTARI;
TAYYARI, 2013). Já a categoria ‘atletas paradesportivos’ foi composta pelos dois
trabalhos que investigaram jogadores de basquete em cadeira de rodas, com idades
entre 30 e 40 anos (FERREIRA et al., 2011; TEJERO-GONZÁLEZ et al., 2016). No
entanto, Ferreira et al. (2011) além de jogadores de basquete em cadeira de rodas,
também investigaram jogadores de basquete convencional, o que fez com que este
artigo fosse contabilizado duas vezes no Gráfico 6, uma na categoria ‘atleta’ e outra
na categoria ‘atletas paradesportivos’.
Através das informações sobre modalidades e perfis de participantes investigados
nos artigos que compõe esta revisão sistemática, ressalta-se que nenhum dos três
artigos que investigaram modalidades de combate pesquisou autoeficácia no judô,
modalidade investigada na presente pesquisa. Além disso, os dois artigos que
investigaram atletas paradesportivos pesquisaram atletas com deficiência física, não
havendo nenhum trabalho com atletas com deficiência visual.
Somente três dos 21 trabalhos investigaram apenas o constructo da autoeficácia
(VALIANTE; MORRIS, 2013; GOMEZ-PALOMA; RIO; D’ANNA, 2014; ESTEVAN et
al., 2014). Os demais artigos investigaram, na mesma pesquisa, mais de um
constructo além da autoeficácia, como pode ser observado na Tabela 2.
A percepção de eficácia de terceiros foi o constructo mais estudado junto à
autoeficácia (quatro). O artigo de Marcos et al. (2010a) foi contabilizado duas vezes
nesta categoria porque, além de investigar a percepção que o treinador tinha sobre a
eficácia de seus atletas, também avaliou como a eficácia destes atletas era
percebida pelos companheiros de equipe. Além deste trabalho, também compôs
esta categoria a investigação de Marcos et al. (2010b) que pesquisaram a
percepção do treinador sobre a eficácia dos atletas, e o artigo de Boardley, Jackson
50
e Simmons (2015) que investigou a percepção dos atletas sobre a eficácia da
motivação do treinador.
Tabela 2 - Constructos pesquisados relacionados à autoeficácia
Aspectos estudados Frequência
Percepção de eficácia de terceiros 4
Lesões Esportivas 3
Motivação 3
Autoestima 2
Autofala 2
Autopercepção de competência 2
Coesão 2
Eficácia coletiva 2
Mentalização 2
Satisfação 2
Afeto 1
Aspectos fisiológicos 1
Autoconfiança 1
Desempenho esportivo 1
Emoções em competição 1
Expectativa de resultado 1
Fluxo 1
Intervenções psicológicas 1
Orientação à tarefa 1
Percepção do clima motivacional 1
Qualidade de relacionamento treinador-atleta 1
Infere-se que grande variedade de constructos pesquisados junto à autoeficácia se
deve aos objetivos dos artigos, que podem ser verificados no Gráfico 7.
Quatro artigos tinham dois objetivos distintos e por isso foram contabilizados duas
vezes no Gráfico 7, totalizando 25 objetivos. O objetivo que mais apareceu entre
estes foi o de correlacionar a autoeficácia com outros constructos (15), seguidos por
comparação da autoeficácia com outros constructos (quatro), validação de
instrumento (três), intervenção dos pesquisadores sobre os participantes (dois) e
descrever autoeficácia (um).
51
Gráfico 7 - Objetivos apresentados nos artigos
Dentre os artigos que tiveram como objetivo correlacionar a autoeficácia com outros
constructos destacam-se os três trabalhos que estudaram lesões esportivas. O
trabalho de Rubio et al. (2014) verificou que a autoeficácia está relacionada com a
probabilidade de se ter ou não lesões esportivas dependendo da influência deste
constructo sobre as estratégias de enfrentamento do atleta. Porém, a autoeficácia
pode tanto impulsionar o atleta a ter condutas de riscos para ter lesões, quanto ao
contrário, não sendo possível afirmar se percepções positivas de autoeficácia
correlacionam positiva ou negativamente com a probabilidade de aparecimento de
lesões. Já Garcia-Mas et al. (2014) afirmaram que níveis moderados de autoeficácia
podem proporcionar possíveis histórias de lesões. De Pero et al. (2013), ao
estudarem a relação de níveis de autoeficácia com medo de ter lesões no esporte,
concluiu que medo de lesões está negativamente correlacionado com autoeficácia.
Ainda dentre os trabalhos que buscaram correlacionar autoeficácia com outros
constructos, verificou-se correlações positivas entre autoeficácia e motivação (SARI,
2015), autoeficácia e fluxo (GOMES et al., 2012), autoeficácia e técnicas de autofala
(DAMATO et al., 2011), autoeficácia e coesão (MARCOS et al., 2010a), autoeficácia
e emoções positivas (CHIRIVELLA; ESQUIVA, 2012) e melhora na relação
treinador-atleta através de percepções positivas de autoeficácia de ambos e
52
percepções de eficácia que um tem do outro (JACKSON; GROVE; BEAUCHAMP,
2010).
Os artigos classificados na categoria ‘comparar’ tinham objetivo de comparar níveis
de autoeficácia em grupos diferentes. Estevan et al. (2014) afirmaram que
encontraram níveis mais altos de autoeficácia em homens quando comparados a
mulheres em alguns itens do instrumento que estavam validando para avaliar
autoeficácia na modalidade taekwondo; porém, outros itens não apresentaram
diferenças entre sexos. Os pesquisadores Tejero-González et al. (2016)
compararam autoeficácia de jogadores de basquete em cadeiras de rodas de
variados níveis esportivos de competição, não encontrando diferenças entre eles.
Gomez-Paloma, Rio e D’Anna (2014) encontraram diferenças significativas entre os
níveis de autoeficácia de ginastas, sendo que ginastas de alto rendimento
apresentaram níveis mais elevados quando comparados a ginastas que praticam a
modalidade por recreação. Ferreira et al. (2011) observaram níveis mais elevados de
autoeficácia em mulheres jogadoras de basquete quando comparado com os
homens; além disso, os autores também verificaram que jogadores com deficiência
física tem níveis de autoeficácia mais baixos que os jogadores sem deficiência.
Dos três artigos que formaram a categoria ‘validar instrumento’, apenas dois
validaram instrumentos novos: Boardley, Jackson e Simmons (2015) validaram um
instrumento para o golf, enquanto que Estevan et al. (2014) validaram um
instrumento para o taekwondo. Já Blecharz et al. (2015) verificaram o processo de
validação do instrumento SMS-6 em atletas de diversas modalidades.
Os dois trabalhos inclusos na categoria ‘intervenção’ fizeram uma pesquisa quase-
experimental ao praticarem intervenções sobre grupos de participantes e verificarem
os resultados desta intervenção posteriormente. Bruton, Mellalieu e Shearer (2014)
verificaram que intervenções psicológicas auxiliaram no aumento de níveis de
autoeficácia; Ardehjani, Mokhtari e Tayyari (2013) afirmaram que a combinação de
estratégias de mentalização e autofala com a prática física ajuda na melhora da
autoeficácia dos atletas. Já o trabalho de Valiante e Morris (2013), que compõe a
categoria ‘descrever autoeficácia’, pretendeu explorar como eram formadas as
crenças de autoeficácia de golfistas através do método qualitativo.
53
Em suma, pode-se concluir, através desta revisão sistemática, que o método mais
utilizado atualmente para investigar autoeficácia é o quantitativo, apesar da carência
de instrumentos validados para investigar este constructo. Além disso, nota-se que a
autoeficácia geralmente é estudada junto a outros constructos com intenção de
verificar as relações entre esses. Dentre as pesquisas que contaram com a
participação de atletas e treinador, duas delas realizaram avaliações da eficácia
percebida pelo treinador, método utilizado também nessa dissertação. Entretanto,
observou-se que os dois trabalhos encontrados sobre autoeficácia de atletas
paradesportivos foram feitos com atletas cadeirantes, jogadores de basquete; não
havendo trabalhos com atletas com deficiência visual. Também não foram
encontrados trabalhos de autoeficácia com judocas, modalidade pesquisada no
presente estudo.
2.2.2 Autoeficácia e a pessoa com deficiência visual
A autoeficácia é considerada um dos constructos componentes da saúde mental do
ser humano (GARCIA, 2014). Isto porque o sujeito que acredita ser capaz de em
exercer determinada função tende a enfrentar situações difíceis como momentos
desafiadores ao invés de ameaçadores (BANDURA, 1982; RIBEIRO, 2001). Esta
influência no comportamento humano faz com que altos índices de autoeficácia
estejam relacionados com baixos níveis de estresse e depressão (MACIEJEWSKI;
PRIGERSON; MAZURE, 2000; AZEVEDO, 2010).
Conforme dito anteriormente, o homem é composto pela reciprocidade triádica entre
fatores pessoais, comportamentais e ambientais (PAJARES; OLAZ, 2008). Desta
forma, para compreender a autoeficácia é necessário considerar todos estes fatores.
Dentre as características pessoais da pessoa com deficiência visual estão as
características da própria deficiência, como idade em que foi acometido pela
deficiência (congênita ou adquirida), grau da deficiência (cegueira ou baixa visão) e
se a perda da visão foi repentina ou progressiva. Já dentre os fatores ambientais, é
importante verificar os recursos físicos e financeiros deste sujeito na sociedade, bem
como sua aceitação e inclusão social. Como fatores comportamentais, é
interessante avaliar variáveis como ações de capacidade de resolução de
54
problemas, estratégias de manejo social e conscientização de suas possibilidades e
limitações devido à deficiência (ARRUDA, 2016; GARCIA, 2014).
A conscientização das pessoas com deficiência visual sobre suas limitações e
possibilidades influenciará diretamente sua autopercepção e, consequentemente, na
percepção de suas competências (GARCIA, 2014). Quando o deficiente visual
conhece suas limitações, consegue aproveitar de maneira mais eficaz as
orientações/percepções do ambiente, gerando consequências compatíveis com suas
expectativas de resultados e aumentando sua percepção de autoeficácia através de
experiências diretas de domínio (BANDURA, 1997; ARRUDA, 2006). Baptista
(2013), em sua pesquisa sobre a trajetória de carreira de estudantes portugueses
cegos, explicita ainda que os cegos que não se percebem capazes de construir uma
carreira, acabam por possuir expectativas de resultados muito baixas e desistem de
suas ocupações antes mesmo de iniciá-las.
A percepção de autoeficácia dependerá também do tipo da deficiência visual. Arruda
(2006) afirma que pessoas com deficiência visual adquirida na idade adulta, logo
após a manifestação da deficiência, tem a tendência de não acreditar mais em suas
competências e, consequentemente, possuem autopercepção negativa. A autora
explica que estes sujeitos ficam inseguros em situações nas quais a visão era
importante enquanto videntes, além de terem as percepções dos resultados de suas
ações diminuídos pela falta da visão. Já sobre a deficiência visual congênita, os
autores Stuart, Lieberman e Hand (2006) explicam que a percepção dos pais sobre
as habilidades dos filhos com deficiência visual influencia na autopercepção de
competências destes. Quando os pais não compreendem as habilidades de seus
filhos e apresentam comportamentos de superproteção, os filhos deficientes visuais
tendem a ter baixa autoeficácia.
Além do tipo de deficiência (congênita / adquirida), outras situações vivenciadas
pelas pessoas com deficiência visual podem contribuir para uma baixa autoeficácia.
A discrepância entre os objetivos de ações e o comportamento realizado pode levar
a uma baixa autoavaliação de desempenho, gerando sentimentos de
autoinsatisfação e autofrustração, o que diminui a percepção de autoeficácia
(ARRUDA, 2006; AZEVEDO, 2010). A discriminação da população que compreende
este sujeito como incapaz junto à autodiscriminação do deficiente visual, que
55
acredita realmente não possuir autonomia para realizar tarefas diárias básicas
também influencia na baixa percepção de autoeficácia (BONATTI et al., 2007;
BAPTISTA, 2013). Outros aspectos que diminuem a percepção de autoeficácia em
pessoas com deficiência visual estão relacionados à falta de autonomia, como o
sedentarismo, uma vez que deficientes visuais possuem poucas oportunidades de
participar de atividades físicas regulares, e as expectativas de resultados negativas,
quando o ambiente não permite que este indivíduo realize tarefas diárias básicas
(LIEBERMAN; HOUSTON-WILSON, 1999; AZEVEDO, 2010).
Apesar de a literatura ressaltar aspectos que contribuem para a baixa autoeficácia
em pessoas com deficiência visual, não foram encontradas distinções entre as
fontes de autoeficácia desta população e de pessoas sem deficiência. Constatou-se,
porém, diferentes maneiras de como o deficiente visual recebe as informações
advindas destas fontes, conforme apresentado a seguir.
Assim como em pessoas sem deficiência, a principal fonte de autoeficácia que
influencia a percepção de pessoas com deficiência visual são as experiências diretas
de domínio. Experiências de realização de tarefas e desempenho pessoal faz com
que sentimentos de autoeficácia originem-se nos deficientes visuais. Entretanto,
enfatiza-se que para estas experiências formarem percepções de autoeficácia
positivas e efetivas, o sujeito deve vivenciar situações que lhe propiciem superações,
pois sucessos fáceis de serem alcançados fazem com que a pessoa espere
resultados rápidos e facilmente se sinta desencorajada em casos de falhas (GOULD
et al., 1989; BANDURA, 1997; AZEVEDO, 2010).
Os estados emocionais nas pessoas com deficiência visual (fonte de ‘estados físicos
e emocionais’) também influenciam diretamente na percepção de autoeficácia.
Alterações de humor e sentimentos como ansiedade e estresses no momento da
realização da tarefa geram baixa autoeficácia, o que podem causar padrões de
comportamentos de desistência da tarefa. (BANDURA, 1997; ARRUDA, 2006;
AZEVEDO, 2010).
Através da persuasão verbal, a pessoa com deficiência visual pode se sentir apta a
realizar tarefas que antes acreditava não ser capaz. Porém, para que esta seja
realmente uma fonte efetiva de autoeficácia positiva, é necessário que a fala de
56
terceiros seja realista com as capacidades do deficiente visual e consiga incentivá-lo
a vivenciar experiências condizentes com suas habilidades para, dessa forma,
serem bem sucedidas. Por isso, as afirmações de pessoas que realmente conhecem
as habilidades do deficiente visual e que são de sua confiança, como pais,
professores e até mesmo treinadores no caso do esporte, tendem a persuadi-lo de
maneira mais eficiente, além de conseguirem incentivar a pessoa com deficiência
visual a exercitar capacidades até então não conhecidas por ele mesmo (BANDURA,
1997; STUART; LIEBERMAN; HAND, 2006; AZEVEDO, 2010).
Para que a fonte de persuasão verbal seja efetiva é de suma importância que a
pessoa que convencerá o deficiente visual sobre suas habilidades realmente
acredite nas capacidades dele, não o encarando como coitado e/ou aceitando
execuções de habilidades abaixo de seu potencial como sendo satisfatórias
(O'CONNELL; LIEBERMAN; PETERSE, 2006). Por este motivo, enfatiza-se a
importância de formação específica para pessoas que trabalham com deficientes
visuais; assim estas pessoas conseguirão facilitar a inserção social do deficiente e,
desta forma, influenciarão de maneira positiva na formação da autoeficácia deste
(BAPTISTA, 2013).
Em seu estudo sobre instruções a crianças cegas praticantes de atividade física, os
pesquisadores O'Connell, Lieberman e Peterse (2006) afirmaram que a junção de
instruções verbais e táteis aumentaram a autoeficácia dos cegos. Esse dado permite
uma reflexão de que a persuasão de terceiros, em caso de pessoas com deficiência
visual , não acontece apenas de maneira verbal, mas também através do tato, outro
canal sensitivo muito utilizado por deficientes visuais conforme explicitado
anteriormente.
Talvez, a fonte de experiências vicárias seja a que mais sofre alterações na maneira
como a pessoa com deficiência visual a recebe. Os deficientes visuais,
principalmente os cegos, não conseguem modelar seus comportamentos através da
observação de outras pessoas. No entanto, essa modelação acontece, muitas
vezes, através do canal auditivo, quando o deficiente visual escuta de outra pessoa
com a mesma deficiência que conseguiu realizar determinado comportamento. Esta
fala de alguém semelhante a ele faz com que o deficiente visual acredite que
também é capaz de produzir este comportamento (AZEVEDO, 2010).
57
Quando a pessoa com deficiência visual consegue usufruir destas fontes de
autoeficácia e se percebe como sendo capaz de realizar ações que lhe trazem
autonomia, passa a diminuir sentimentos de ansiedade e depressão, sentindo-se
mais motivado a alcançar o sucesso em seus comportamentos (ARRUDA, 2006;
AZEVEDO, 2010). Um ambiente que pode propiciar o acesso a estas fontes de
autoeficácia, fazendo com que a pessoa com deficiência visual acredite em suas
competências, é a prática esportiva (MARTIN, 1999; SURAKKA; VENOJARVI;
PITKANEN, 2016).
2.2.3 Eficácia percebida pelo treinador
As pesquisas sobre autoeficácia enfatizam que sua elaboração é composta
essencialmente por ações dos próprios indivíduos, como suas experiências diretas
de domínio, experiências vicárias e estados fisiológicos e emocionais. Muitas vezes
o contexto ambiental que estas experiências são vivenciadas, como a cultura em
que este indivíduo está inserido e suas relações pessoais são desconsideradas,
porém também fazem parte da formação da percepção de autoeficácia (BANDURA,
2001; DUNLOP; BEATTY; BEAUCHAMP, 2011; LENT; LOPEZ, 2002).
Desta forma, os autores Lent e Lopez (2002) propõem compreender a autoeficácia
de um indivíduo através de suas relações interpessoais. Esta proposta consiste em
estudar a “eficácia relacional” definida como a “rede de crenças de eficácia
interpessoal ou interativa (...) sobre o eu e o outro no contexto de uma relação
particular” (p. 257). Fundamentalmente, os autores partem do princípio de que as
relações sociais entre duas ou mais pessoas são interdependentes, ou seja, as
percepções, os comportamentos e os sentimentos de ambos são inter-relacionados
de maneira mútua e causal (LENT; LOPEZ, 2002; JOWETT; POCZWARDOWSKI,
2007). Esta interdependência causa expectativas interpessoais, pois é através
destes relacionamentos que a pessoa cria percepções sobre a própria eficácia e
também sobre as habilidades de seu parceiro, gerando expectativas de
comportamentos mútuos (SNYDER; STUKAS, 1999).
58
Portanto, as relações sociais são parte importante para a autoavaliação de uma
pessoa e, consequentemente, para a percepção que esta tem sobre sua
autoeficácia. Através das reações avaliativas de terceiros sobre suas habilidades, o
indivíduo constrói sua própria avaliação. Por exemplo, uma criança que recebe
avaliações positivas sobre seu desempenho escolar, provavelmente terá maior
percepção de autoeficácia para realizar as tarefas pertinentes ao contexto escolar.
Assim, as relações sociais desenvolvem a percepção de terceiros sobre as
habilidades de um indivíduo e esta percepção poderá influenciar a autopercepção da
pessoa avaliada de maneira positiva ou negativa (LENT; LOPEZ, 2002).
Por esse motivo, estes autores sugerem que o estudo da autoeficácia deve ser feito
através de uma avaliação de “eficácia tripartida”. Esta avaliação não só investiga a
percepção de autoeficácia de uma pessoa, mas também a percepção de terceiros
sobre as habilidades desta pessoa (crenças de eficácia de terceiros) e as crenças
sobre como uma pessoa acredita que suas habilidades são avaliadas por terceiros
(Crenças de Autoeficácia Inferidas na Relação / Relation–Inferred Self–Efficacy
Beliefs – RISE). As definições de cada um dos componentes da eficácia tripartida, os
aspectos que influenciam sua formação e também o que estes componentes podem
causar são apresentados no Quadro 3.
Conforme pode ser observado no Quadro 3 (logo abaixo), as relações sociais, de
maneira recíproca, influenciam e também são influenciadas pela percepção de
autoeficácia, pois atuam diretamente na escolha do parceiro para exercer
determinada tarefa, no nível de satisfação sobre o relacionamento e a quantidade de
esforço gasto em ações conjuntas (LENT; LOPEZ, 2002; JACKSON; BEAUCHAMP,
2010a). Já as percepções de eficácia de terceiros são formadas tanto por
observações do desempenho do outro quanto por estereótipos sociais e
comparação com outras pessoas semelhantes. Estas percepções, assim como a
percepção de autoeficácia, influenciam na escolha de parceiros em atividades
conjuntas, tipo e quantidade de esforços em atividades conjuntas e satisfação com o
relacionamento. As crenças de autoeficácia inferidas na relação (RISE) são
formadas diretamente por feedbacks recebidos de parceiros e percepções da própria
autoeficácia; de maneira recíproca, a formação da autoeficácia também é
influenciada por estas crenças. Através destas crenças o indivíduo avalia tanto o
59
Constructo Definição Influenciado por Potencial Influência sobre
Autoeficácia A opinião de cada
parceiro sobre a sua própria eficácia
• Crenças RISE • Crenças RISE (influência recíproca) • Fontes extra-relacionais de informação de autoeficácia
• Escolha de parceiros de relacionamento e atividades conjuntas
• Tipo e quantidade de esforço gasto em atividades conjuntas (por exemplo, ajuda / busca)
• Satisfação de relacionamento e intenções de persistência
Eficácia de terceiros
A visão de cada parceiro sobre a eficácia do outro
• Percepções dos desempenhos do outro
• Escolha de parceiros de relacionamento e atividades conjuntas
• Crenças sobre a eficácia de outros semelhantes
• Tipo e quantidade de esforço gasto em atividades conjuntas (por exemplo, ajuda / busca)
• Os estereótipos sociais e culturais • Confiança no feedback de outros • Opiniões de terceiros sobre as capacidades do outro
• Satisfação de relacionamento e intenções de persistência
• 'Profecias autorrealizáveis'
Crenças de Autoeficácia Inferidas na
Relação (RISE)
As crenças de cada parceiro sobre como sua eficácia é vista
pelo outro (por exemplo, as crenças do parceiro A sobre
como o parceiro B vê a eficácia de A)
• Avaliação do feedback de desempenho do parceiro (por exemplo, feedback direto, tipo ou quantidade de suporte oferecido, sugestões não-verbais, definição de metas conjuntas)
• Autoeficácia (influência recíproca) • Mediação do efeito de outras crenças de eficácia sobre a autoeficácia (efeito do filtro cognitivo)
• Esforços de afrontamento
• Desenvolvimento e implantação de habilidades
• Autoeficácia • Avaliação do apoio social
• Satisfação de relacionamento e intenções de persistência
Quadro 3 - Componentes da eficácia tripartida, suas fontes e possíveis influências (retirado de LENT; LOPEZ, 2002, p. 262).
60
apoio recebido pelas relações sociais como também a satisfação com cada
relacionamento (LENT; LOPEZ, 2002).
Os autores Jackson e Beauchamp (2010b) fazem uma crítica a este modelo
afirmando que através dele não é possível investigar as opiniões de uma pessoa
sobre as expectativas da outra. Avaliar o nível de confiança e expectativas que uma
pessoa acredita que o outro tem em si mesmo permitiria estudar mais
profundamente a formação da percepção de eficácia de terceiros. Por este motivo,
estes autores propõe a implementação de um quarto elemento na avaliação: a
verificação das “estimativas de autoeficácia da outra pessoa (EOSE)”. O
conhecimento deste componente facilitaria a adaptação do indivíduo e o
funcionamento do relacionamento. No entanto, apesar desta proposta, ter sido
realizada em 2010, os trabalhos encontrados sobre estudos da eficácia relacional
após esta data, não consideraram este componente (DUNLOP; BEATTY;
BEAUCHAMP, 2011; MARCOS et al., 2010a; MARCOS et al., 2010b; MARCOS et
al., 2012).
Mesmo com a apresentação dos três componentes para a avaliação da eficácia
relacional e a proposta de Jackson e Beauchamp (2010b) sobre um quarto
componente, o presente estudo se limitou a investigar a percepção de autoeficácia e
a percepção de eficácia de terceiros. Esta percepção de eficácia de terceiros
somente será significativa e influenciará, conforme o modelo exposto acima, a
autoeficácia de um sujeito em relacionamentos de maior proximidade e confiança
(SNYDER; STUKAS, 1999; LENT; LOPEZ, 2002). Além disso, Bandura (1997)
afirma que a autoeficácia geralmente é mais influenciada através das considerações
de pessoas que são vistas como conhecedoras das habilidades a serem avaliadas e
eficazes em suas execuções do que por amigos bem intencionados, porém com
menor conhecimento.
No contexto esportivo, as relações de maior proximidade e confiança geralmente
acontecem entre os próprios atletas e na díade atleta-treinador. Isto porque, atletas
e treinadores, além de permanecerem muitas horas no mesmo ambiente entre
treinamentos e competições, também mantém uma relação baseada em um mesmo
objetivo: o sucesso do desempenho atlético (JACKSON; KNAPP; BEAUCHAMP,
2008; MARCOS et al., 2010b, SATO, 1999). Os autores Jowett e Poczwardowski
61
(2007) afirmam ainda que a relação atleta-treinador possui altos níveis de
interdependência podendo possuir consequências positivas ou negativas de acordo
com a qualidade deste relacionamento.
Analisando através do modelo de avaliação da eficácia relacional apresentado por
Lent e Lopez (2002) a eficácia percebida pelo treinador pode ser entendida como a
avaliação que ele possui sobre as habilidades e capacidades do atleta durante o
desenvolvimento de um treino ou de uma competição (MARCOS et al., 2010a;
MARCOS et al., 2012). Assim, a percepção de eficácia do treinador reflete também a
confiança deste sobre as habilidades de cada atleta para realizar determinadas
tarefas (LEO et al., 2013). Quando os atletas percebem a confiança de seus
treinadores sobre suas atitudes são influenciados positivamente em suas
percepções de autoeficácia, podendo, por exemplo, enfraquecer impactos negativos
de fracassos em competição (LENT; LOPEZ, 2002).
Ainda sobre a influência da eficácia percebida pelo treinador, os autores Feltz e
Lirgg (2001) asseguram que treinadores com percepções de eficácia mais elevadas
de seus atletas notam maior controle sobre os resultados de suas equipes. Esta
influência da percepção de eficácia do treinador advém dos comportamentos que
este tem diante a equipe (MARCOS et al., 2011). Já no ano de 1989, Gould et al.
asseguraram a eficiência de fontes de autoeficácia de atletas através de
comportamentos do treinador. Estes autores declararam que o uso de diferentes
estratégias psicológicas advindas dos treinadores poderia influenciar a autoeficácia
da equipe. Dentre as estratégias propostas pelos autores estão: boas instruções,
estabelecimento de metas específicas, feedbacks enfatizando melhorias na técnica
ou processo sobre o resultado, uso liberal de declarações de recompensa,
persuasão verbal, incentivo a autofala positiva, redução de sentimentos de
ansiedade através do treinamento de relaxamento e modelação de confiança
através de mentalizações. Apesar de reconhecerem que as intervenções
psicológicas realizadas por treinadores são eficientes quanto ao impacto positivo de
seus atletas, Gould et al. (1989) não avaliaram na prática a efetividade destas
intervenções, não sendo possível afirmar os impactos reais que elas teriam sobre a
autoeficácia dos atletas.
62
Atualmente, sabe-se que comportamentos do treinador como apoio social aos
atletas, feedbacks realistas e positivos quanto ao desempenho e estabelecimento de
metas coletivas e individuais para a temporada, influenciam positivamente a
percepção de autoeficácia dos atletas (MARCOS et al., 2009; MARCOS et al., 2011;
MARCOS et al., 2012). Os pesquisadores Feltz e Lirgg (2001) ressaltam ainda que a
declaração das expectativas de eficácia positiva do treinador para seus atletas
possui um efeito cíclico na equipe. O treinador que forma expectativas positivas em
sua equipe e atua de maneira coerente com as possibilidades de eficácia criadas,
elicia comportamentos dos atletas que reforçam as expectativas originais, fazendo
com que o treinador perceba seus atletas ainda mais eficazes.
Ressalta-se, porém, que em uma relação intimamente interdependente como a
díade atleta-treinador, as percepções que um tem sobre o outro influencia
igualmente as percepções de autoeficácia de cada uma das partes (LENT; LOPEZ,
2002; JOWETT; POCZWARDOWSKI, 2007). Dessa forma, não só o treinador
influencia a autoeficácia do atleta como o atleta também interfere na percepção de
autoeficácia do treinador. Entretanto, a presente pesquisa se limita a estudar apenas
a percepção de autoeficácia do atleta e a eficácia percebida pelo treinador sobre as
habilidades de seus atletas.
CAPÍTULO 3
ASPECTOS DA MODALIDADE ESTUDADA
O esporte paralímpico
A história do movimento paralímpico
A história do movimento paralímpico no Brasil
Judô Paralímpico
História e fundamentos do judô
O judô nos Jogos Paralímpicos
O judô e a pessoa com deficiência visual
64
O terceiro capítulo desta dissertação tem o objetivo de apresentar a modalidade aqui
estudada. Primeiramente será retratada a história do movimento paralímpico
mundial e, em seguida, seu desenvolvimento no Brasil. Em um segundo momento,
apresentará a história e fundamentos do judô e sua inserção nos Jogos
Paralímpicos. Para finalizar, haverá a descrição as especificidades da prática do
judô realizada por pessoas com deficiência visual.
3.1 O ESPORTE PARALÍMPICO
3.1.1 A história do movimento paralímpico
O início da prática esportiva de pessoas com deficiência é datada do fim do século
XIX e começo do XX. A primeira organização esportiva para pessoas com
deficiência, denominada Clube Esportivo para Surdos, foi fundada em 1888 na
cidade de Berlim (Alemanha). Em 1924, com o surgimento de federações
desportivas para surdos em diversos países, como Bélgica, Checoslováquia, França,
Grã-Bretanha, Holanda e Polônia, aconteceu em Paris (França) a primeira edição
dos Jogos Internacionais do Silêncio, com a participação de 140 atletas com
deficiência auditiva. Esta competição, mais tarde passou a ser chamada de Jogos
Mundiais para Surdos, realizados de quatro em quatro anos e, posteriormente,
reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como as Olimpíadas de
Surdos (GOLD.; GOLD, 2007).
Em 1939, o neurocirurgião judeu Ludwing Guttman, refugiado da Alemanha, chegou
à Grã-Bretanha. Ao iniciar seu trabalho na Unidade de Lesões Medulares do hospital
Stoke Mandeville, no distrito de Aylesbury, em 1944, Guttman notou o sofrimento
dos muitos soldados combatentes na Segunda Guerra Mundial que retornavam das
batalhas com lesões graves como a paraplegia. O médico encontrou no esporte, um
método de reabilitação terapêutica que trazia como resultados bem estar físico e
psíquico para esses pacientes. Além de ajudar no sistema neuromuscular, a prática
esportiva trazia confiança e certo grau de independência às pessoas com
deficiência, auxiliando em suas reinserções na sociedade (LAGAR, 2003; GOLD;
GOLD, 2007; PARSONS; WINCKLER, 2012).
65
Os pacientes passaram, então, a praticar modalidades como tiro com arco, polo e
netball em cadeiras de rodas (uma espécie de basquete sem a tabela) (PARSONS;
WINCKLER, 2012). Em 28 de julho de 1948 (mesma data da abertura das
Olimpíadas de Londres) foi realizada a abertura do I Jogos de Stoke Mandeville. A
primeira edição aconteceu nas dependências do hospital e contou com a
participação de 16 pessoas. Elas compunham duas equipes e disputavam a
modalidade de tiro com arco. No ano seguinte, houve a segunda edição da
competição, na qual participaram 60 esportistas de cinco hospitais diferentes. Nesta
edição, Guttman expressou seu desejo de tornar o evento internacional, alcançando
a fama dos Jogos Olímpicos (GOLD; GOLD, 2007).
Parte do sonho do neurocirurgião tornou-se real no ano de 1952, ano em que a
competição passou para nível internacional com a participação de soldados
holandeses. No ano seguinte, os Jogos já contavam com a presença de mais quatro
países: Finlândia, França, Israel e Canadá. Em 1959 foi criado o Comitê
Internacional de Jogos de Stoke Mandeville (GOLD; GOLD, 2007; PARSONS;
WINCKLER, 2012).
A nona edição dos Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, em Roma, na Itália
(1960), foi considerada a primeira edição dos Jogos Olímpicos para Deficientes
(data considerada na história como o início das Paralimpíadas). Nessa edição foram
incluídas modalidades como sinuca, esgrima, atletismo, basquete em cadeira de
rodas, dardo, natação e tênis de mesa (o Quadro 4 apresenta as datas das
inserções das modalidades paralímpicas). Foi a primeira vez que o evento
aconteceu na mesma cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos. A partir de então, tentou-
se fazer com que as cidades Olímpicas acolhessem também a competição para
pessoas com deficiência. No entanto, apenas a cidade de Tóquio (sede dos Jogos
Olímpicos em 1964) aceitou realizar os Jogos Olímpicos para Deficientes. Durante
essa edição, o evento foi denominado pela imprensa como ‘Paralimpíadas’, apesar
desse nome ainda não ser reconhecido oficialmente. (CARVALHO, 2006; GOLD;
GOLD, 2007; PARSONS; WINCKLER, 2012).
Muitas cidades sedes dos Jogos Olímpicos, como Munique e Cidade do México,
recusaram-se a realizar o evento para pessoas com deficiência. Os motivos eram
diversos, como, por exemplo, não terem infraestrutura para receber os cadeirantes.
66
Em consequência desse fato, em 1969 foi inaugurado um estádio para pessoas com
mobilidade reduzida em Stoke Mandeville e, em 1981, criou-se a Vila Olímpica para
deficientes no mesmo local, mostrando que o esporte praticado por deficientes
deixava de ter características de reabilitação e passava a se preocupar com o
desempenho atlético (GOLD; GOLD, 2007).
MODALIDADE PERÍODO DE INCLUSÃO
Atletismo 1960 – atualidade
Basquete DI 1996 – 2000
Basquete em cadeira de rodas 1960 – atualidade
Lawn Bowls 1968 - 1988, 1996
Bocha 1984 – atualidade
Ciclismo 1988 – atualidade
Dardo 1960 – 1980
Esgrima em cadeira de rodas 1960 – atualidade
Futebol – 5 2005 – atualidade
Futebol – 7 1984 – atualidade
Goalball 1960 – atualidade
Halterofilismo 1964 – atualidade
Hipismo 1996 – atualidade
Judô 1988 – atualidade
Levantamento de peso 1964 – 1992
Luta greco-romana 1980 – 1984
Natação 1960 – atualidade
Remo 2008 – atualidade
Rugby em cadeira de rodas 2000 – atualidade
Sinuca 1960 - 1976, 1984- 1988
Tênis de mesa 1960 – atualidade
Tênis em cadeira de rodas 1992 – atualidade
Tiro com arco 1960 – atualidade
Tiro esportivo 1976 – atualidade
Vela 2000 – atualidade
Quadro 4 - Inclusão das modalidades nos Jogos Paralímpicos (retirado de PARSONS; WINCKLER, 2012, p. 11).
O ano de 1976 foi marcado pela inclusão de outras deficiências que não fossem
medulares, como a deficiência visual e a amputação. Além disso, nesse ano também
67
aconteceram os primeiro Jogos de Inverno para pessoas com deficiência em
Örnsköldsvik na Suécia (GOLD; GOLD, 2007; PARSONS; WINCKLER, 2012).
Apenas em 1985, o Comitê Coordenador Internacional (ICC – sigla em inglês)
aceitou utilizar a nomenclatura “Paralímpico”, sendo o prefixo ‘para’ de origem grega
que significa ‘acerca de’, expressando uma ideia de aproximação ou paralelismo aos
Jogos Olímpicos. A primeira edição dos Jogos em que se usou oficialmente o nome
“Jogos Paralímpicos” foi em 1988 na competição realizada na cidade de Seul
(Coréia do Sul). Além do nome, nessa edição foram estabelecidos símbolo, hino e
bandeira do movimento, além de também contar com a determinação de que os
Jogos Paralímpicos seguiriam a mesma periodicidade das Olimpíadas, ocorrendo de
quatro em quatro anos. No ano seguinte, em 22 de setembro de 1989 foi criado o
Comitê Paralímpico Internacional (IPC – sigla em inglês) na cidade de Dusseldorf na
Alemanha, tendo como primeiro presidente o Dr. Robert Steadward. Até a
atualidade, este é o órgão responsável pelo movimento paralímpico mundial
(CARVALHO, 2006; IPC, 2016a; PARSONS; WINCKLER, 2012).
Em Barcelona, no ano de 1992, os atletas paralímpicos utilizaram pela primeira vez
a mesma Vila Olímpica construída para os Jogos Olímpicos. Estes Jogos são
marcados pela diminuição do número de provas e classes, pois se instalou um
modelo de classificação baseado na funcionalidade do atleta (suas limitações e
capacidades) e não mais apenas no tipo de deficiência. Em 2000, houve a
diminuição do número de medalhas para facilitar a compreensão do público sobre a
organização dos Jogos e também chamar a atenção de patrocinadores
(CARVALHO, 2006; PARSONS; WINCKLER, 2012).
Entre os anos de 2000 e 2006, aconteceram acordos entre o Comitê Paralímpico
Internacional (IPC) e o Comitê Olímpico Internacional (COI), registrando maior
aproximação entre eles. Devido a estes acordos, a partir de 2004 (Jogos de Atenas)
os atletas não precisaram mais pagar taxas de inscrição para competirem. Em 2007,
os Jogos Parapanamericanos no Rio de Janeiro foi o primeiro evento Regional
Paralímpico que teve organização e instalação conjuntas com um evento Regional
Olímpico e, a partir de 2008 (Jogos de Pequim), as cidades sedes passaram a ser
as mesmas para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos (CARVALHO, 2006; GOLD.;
GOLD, 2007; PARSONS; WINCKLER, 2012).
68
A mais recente edição dos Jogos aconteceu entre os dias sete e 18 de setembro de
2016 na cidade do Rio do Janeiro, no Brasil. Com a participação de 4.316 atletas
vindos de 159 países, essa edição contou com a quebra de 220 recordes mundiais
de desempenho atlético e com 432 recordes de performances realizadas em edições
anteriores dos Jogos Paralímpicos. Com a paracanoagem e o triátlon estreando nos
Jogos Paralímpicos, essa edição possuiu disputas de 22 modalidades. A China
liderou o quadro de medalhas, seguida pela Grã-Bretanha e Ucrânia; o Brasil ficou
em oitava posição, com 14 medalhas de ouro, 29 de prata e 29 de bronze (IPC,
2017).
3.1.1.1 A história do movimento paralímpico no Brasil
O início do movimento paralímpico brasileiro data de 1958, quando Robson Sampaio
de Almeida e Sérgio Seraphin Del Grande retornam dos Estados Unidos, após
tratamento de suas lesões medulares. Ambos criaram instituições para a prática
esportiva de pessoas com deficiência: no mês de abril, Robson inaugura o Clube do
Otimismo no Rio de Janeiro; três meses depois, em São Paulo, Sérgio funda o
Clube dos Paraplégicos de São Paulo. As disputas de basquete em cadeira de rodas
entre esses dois clubes são consideradas as primeiras competições brasileiras de
deficientes (PARSONS; WINCKLER, 2012).
Apenas quatorze anos após a criação dessas instituições, em 1972, o Brasil
participou, pela primeira vez, de uma edição dos Jogos Paralímpcos. Com uma
delegação composta por dez atletas, a equipe conquistou o quarto lugar na
modalidade de basquete em cadeira de rodas nos Jogos de Heidelberg. Além dessa
modalidade, os atletas também disputaram tiro com arco, atletismo e natação
(PARSONS; WINCKLER, 2012).
No ano de 1976, na cidade de Toronto, o Brasil conquistou a primeira medalha
paralímpica: prata obtida pela dupla Robson Sampaio de Almeida e Luís Carlos de
Costa na modalidade de lawn bowls em dupla. Essa mesma edição dos Jogos,
marcou também a primeira participação feminina do Brasil. Os primeiros ouros do
Brasil nas Paralímpiadas são conquistados pelo atletismo no ano de 1984. Nesse
69
mesmo ano, a delegação brasileira é composta, pela primeira vez, por atletas com
outras deficiências, como visual, amputação e paralisia cerebral (PARSONS;
WINCKLER, 2012).
Em nove de fevereiro de 1995, na cidade de Niterói, foi fundado o Comitê
Paralímpico Brasileiro (CPB), órgão responsável, até a atualidade, pela
administração do movimento paralímpico no país. Desde então, o investimento no
desporto paralímpico no Brasil é crescente, sendo possível perceber aumento da
participação brasileira em diversas modalidades e crescimento no número de
atletas. Na década de 2000, o movimento conseguiu investimentos financeiros
governamentais, melhorando também a infraestrutura dos atletas brasileiros
(PARSONS; WINCKLER, 2012; CPB, 2016).
3.2 JUDÔ PARALÍMPICO
3.2.1 História e fundamentos do judô
O judô é um tipo de arte marcial criado no Japão por Jigoro Kano. Nascido em 1860
na província de Hyôgo (Japão), Kano começou a praticar o jiu jitsu aos quatorze
anos de idade (SUZUKI, 1986). Durante suas atividades, teve oportunidade de
conhecer mestres renomados e aprender as diferentes técnicas utilizadas por cada
um. Assim, conseguiu unir, em uma única prática, todas as técnicas que gostaria,
conforme ele mesmo explica:
"Na minha juventude eu estudei jiu jitsu com muitos mestres eminentes. Seus vastos conhecimentos (...) foram de grande valor para mim. Naquele tempo, cada um apresentou sua coleção de artes de técnicas. (...) Quando me deparei com diferenças no ensino das técnicas, muitas vezes encontrei-me perdido sem saber o que era correto. Isso me levou a procurar no princípio subjacente ao jiu jitsu (...). Após um estudo aprofundado do assunto, separei tudo o que permeava o princípio: fazer o uso mais eficiente da energia física e mental. Com esse princípio em mente, eu novamente revisei todos os métodos de ataque e defesa que tinha aprendido, retendo apenas aqueles que estavam em acordo com o princípio. Aquelas (técnicas) que estavam em desacordo com ele, eu rejeitava e, em seu lugar, eu substituía técnicas em que o princípio era corretamente aplicado. O corpo resultante das
70
técnicas, que eu nomeei judô para distingui-lo de seu antecessor, é o que é ensinado na Kodokan" (KANO, 1996, p.16).
Tanto a palavra jiu jitsu quanto a palavra judô são escritas com dois caracteres
chineses. Enquanto a primeira significa "arte suave", o significado de judô é "o
caminho da suavidade". O judô, baseado na educação física, moral e intelectual,
seria então o caminho de equilíbrio entre as forças física e espiritual, buscando a
elevação do homem (SUZUKI, 1986; KANO, 1996).
O grande objetivo do judô é “tornar o corpo forte, útil e saudável, enquanto constrói o
caráter por meio da disciplina mental e moral." (KANO, 1996, p. 20). Assim o judô,
além de uma arte de ataque e defesa, é visto por seus praticantes como um modo
de vida. Pode ser considerado como o caminho mais natural seguido pelo homem,
no qual a força física e a brutalidade são vencidas pela delicadeza (SUZUKI, 1986).
Jigoro Kano, em 1882, inaugura a primeira academia de judô: a Kodokan Judo (KO
= fraternidade / DO = caminho / KAN = instituto). Por ela passaram vários aprendizes
e também grandes mestres do jiu jitsu que buscavam aprender essa arte. Dessa
maneira, o judô foi difundido por todo o Japão e posteriormente para a Europa
(SUZUKI, 1986; KANO, 1996). No Brasil, o judô chegou com a imigração de
japoneses. Com intuito de preservar sua cultura, professores japoneses de judô
ensinaram aos seus descendentes as técnicas e os princípios desta modalidade que
hoje é praticada em todo país (MONTEIRO, 1998).
3.2.2 O judô nos Jogos Paralímpicos
O judô foi a primeira modalidade asiática integrada na competição. Desde quando
foi incluso nos Jogos Paralímpicos, em 1988 - Seul (mesmo ano em que o nome
Paralimpíada foi utilizado pela primeira vez), esta modalidade é disputada por
pessoas com deficiência visual. Nesta primeira edição houve apenas disputas
masculinas; sendo que as categorias femininas se integraram aos Jogos apenas no
ano de 2004, em Atenas (CPB, 2016; IPC, 2016b).
71
O judô paralímpico é administrado pela Federação Internacional de Desporto para
Cegos (IBSA). No Brasil, toda a organização desta modalidade é realizada pela
Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) (CPB, 2016;
IPC, 2016b). As regras são as mesmas da Federação Internacional de Judô (FIJ)
com algumas modificações. A principal alteração é que não há disputa pela pegada,
uma vez que os judocas já iniciam a luta em contato com o quimono do oponente e
a luta é interrompida toda vez que esse contato é perdido. Além disso, não há
punições para o lutador que sai da área de combate. Outra característica importante
de ser ressaltada é que as categorias de lutas são baseadas no peso e sexo e não
por tipo de deficiência visual. Dessa forma, um cego pode lutar com um baixa (CPB,
2017).
Desde que o judô foi incluso nos Jogos Paralímpicos, o Brasil esteve presente em
todas as edições e só não conseguiu medalha em Barcelona (1992). No ano de
estreia da modalidade, a delegação brasileira foi composta por cinco atletas, tendo
como resultado três medalhas de bronze, sendo uma da categoria até 60 kg (com
Jaime de Oliveira), outra da categoria até 65 kg (com Júlio Silva) e a terceira da
categoria acima de 95 kg (com Leonel Cunha) (CPB, 2016).
A primeira medalha de ouro foi conquistada pelo judoca Antônio Tenório (categoria
até 86 kg) no ano de 1996 em Atlanta. Em 2004, a estreia do feminino foi marcada
por duas medalhas: uma de prata na categoria até 48 kg, conquistada pela atleta
Karla Cardoso, e uma de bronze, conseguida pela Daniele Silva na categoria até 57
kg (CPB, 2016). Até a edição dos Jogos Paralímpicos 2016, o judô brasileiro
conquistou 22 medalhas paralímpicas, sendo quatro medalhas de ouro (todas
alcançadas por Antônio Tenório), nove de prata e nove de bronze (CPB, 2017).
3.2.3 O judô e a pessoa com deficiência visual
O judô paralímpico é praticado exclusivamente por deficientes visuais. Antes mesmo
de a modalidade ser inclusa nos Jogos Paralímpicos, pessoas com deficiência visual
já lutavam judô na década de 1970 (CPB, 2016). No ano de 1988, essa modalidade
foi adicionada à disputa dos Jogos Paralímpicos e, em 1992, os judocas, assim
72
como os atletas de outras modalidades, passaram a ser avaliados e classificados de
acordo com a funcionalidade de suas deficiências (CARVALHO, 2006; PARSONS;
WINCKLER, 2012).
O sistema de classificação funcional dos atletas paralímpicos é administrado pelo
Comitê Paralímpico Internacional (IPC). Este sistema determina quem é elegível
para competir no paradesporto, além de agrupar os atletas elegíveis de acordo com
a suas limitações, minimizando as diferenças de vantagens que um atleta com
determinada deficiência possa ter sobre outro com outro tipo de acometimento (IPC,
2015).
Como cada modalidade tem suas especificidades, o IPC é assistido pelas
Federações Internacionais responsáveis por cada esporte para devolver um sistema
de classificação que atenda às deficiências inclusas na modalidade em questão
(IPC, 2015). No caso do judô, a Federação Internacional de Desporto para Cegos
(IBSA) é responsável pelas avaliações dos atletas com deficiência visual.
Para serem avaliados, os judocas precisam apresentar um relatório médico com o
diagnóstico da deficiência visual previamente realizado (IBSA, 2017). Depois disso,
o atleta é avaliado por classificadores reconhecidos pela IBSA, que verificam as
capacidades funcionais dos olhos deste judoca, sendo estas capacidades: acuidade
visual (capacidade de identificar os detalhes), campo visual (visão periférica),
binocularidade (fusão da imagem captada por ambos os olhos) e sensibilidade à luz
(adaptação à luminosidade) (MUNSTER; ALMEIDA, 2008).
Através dessa avaliação, o atleta pode ser classificado em um dos três grupos a
seguir (CPB, 2017; IBSA, 2017):
B1 (cegueira) - nenhuma percepção em ambos os olhos até a percepção de
luz com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer
distância ou direção.
B2 (baixa visão) - lutadores que têm a percepção de vultos, com acuidade
visual variando de LogMAR4 1,5 a 2,6 e/ou campo visual inferior a 10 graus.
4 Logaritmo do ângulo mínimo de resolução (MESSIAS; JORGE; CRUZ, 2010).
73
B3 (baixa visão) - lutadores que conseguem definir imagens, com acuidade
visual variando de LogMAR 1,4 a 1,0 e/ou campo visual inferior a 40 graus.
Todas as classes iniciam com a letra B fazendo referência à palavra blind, que em
inglês, significa cego. A classificação visual do atleta é sempre baseada no olho com
melhor campo visual e/ou melhor acuidade visual, utilizando correções ópticas,
como óculos ou lente de contato (IBSA, 2017). Como as deficiências dos atletas
podem sofrer alterações conforme o tempo, essas avaliações são feitas
periodicamente (IBSA, 2016).
Apesar das diferentes classificações, as categorias do judô paradesportivo, assim
como o judô convencional, são divididas apenas de acordo com peso corporal e
sexo, podendo assim um atleta classificado como B3 lutar com um atleta classificado
como B1 (CERQUEIRA; GOMES; ALMEIDA, 2012). A única distinção entre atletas
dos diferentes grupos durante a luta é a necessidade de atletas classificados como
B1 serem identificados com um círculo vermelho pregado em uma das mangas do
quimono na altura do ombro. Caso o atleta também tenha deficiência auditiva, deve-
se conter outro círculo, porém de cor amarela, pregado em uma das mangas do
quimono na altura dos ombros. Cada delegação fica responsável por esses detalhes
(IBSA, 2016).
Os autores Hussain e Pendse (s.d.) afirmam que a prática do judô, realizada pela
pessoa com deficiência visual, pode auxiliá-lo em sua independência para
locomoção fora do tatame. Além disso, eles explicam que o judô é uma modalidade
de luta em que o praticante normalmente não olha nos olhos do oponente para
manter a concentração; assim, de acordo com esses autores, os deficientes visuais
conseguem combater sem maiores problemas.
No entanto, como demonstrado anteriormente, é necessário que se façam pequenas
adaptações nas regras para que seja possível a prática da modalidade por pessoas
com deficiência visual. Rodrigues (2006) define essa adaptação da atividade motora
como sendo “um processo de identificação e intervenção sobre variáveis da
atividade (...) para ajustarem ao nível do desempenho e desenvolvimento do
aprendiz aos objetivos desejados” (p. 41).
74
Seguindo este pensamento, Netto e Hoffmann (1996) defendem que para ajustar o
judô às pessoas com deficiência visual é importante seguir orientação pedagógica
voltada para esse público. As orientações sobre técnicas e táticas, por exemplo,
além de serem descritas de formas claras e precisas, também precisam ser
explicadas utilizando demonstrações táteis. Além disso, é importante apresentar
todo o ambiente de treino e/ou competição em que o atleta está inserido para que
ele reconheça e se sinta seguro para se locomover. Outra dica de adaptação é que
a comissão técnica crie o hábito de chamar todos os atletas pelo nome (inclusive
nos momentos de competição), além de sempre falarem ao deficiente visual quem
está presente no mesmo ambiente que ele. Seguindo essas orientações, será mais
fácil o envolvimento do atleta com a modalidade e o grupo no qual está inserido.
CAPÍTULO 4
MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
Participantes
Critérios de inclusão e exclusão
Instrumentos
Dados Demográficos
Percepção de eficácia
Elaboração dos instrumentos
Descrição dos instrumentos
Procedimentos
Análise de dados
76
O presente estudo é classificado como sendo uma pesquisa de campo, descritiva,
do tipo quantitativa e de delineamento correlacional, uma vez que busca verificar o
grau de concordância entre as percepções de treinador e atletas através da
aplicação de questionários (GIL, 1999; TURATO, 2005).
4.1 PARTICIPANTES
Participaram da pesquisa 11 atletas integrantes da Seleção Brasileira Paralímpica
de Judô convocados no primeiro semestre do ano de 2016, de ambos os sexos (seis
homens e cinco mulheres), com idades entre 20 e 45 anos (30,18 ± 7,61). Sete
atletas tinham ensino médio completo e quatro deles iniciaram o ensino superior.
Em relação às deficiências dos participantes, cinco atletas adquiriram a deficiência
ao longo da vida (quatro homens e uma mulher) enquanto que seis atletas tinham
deficiência visual congênita e progressiva (dois homens e quatro mulheres), com
diminuição da visão ao longo do tempo5. Além do mais, quatro atletas foram
classificados como B1 (todos homens), quatro atletas como B2 (três mulheres e um
homem) e três como B3 (duas mulheres e um homem). Os motivos da deficiência
visual de cada atleta bem como sua classificação funcional encontram-se no
Fluxograma 2 a seguir.
5 Por isso, mesmo a deficiência visual sendo congênita, ela pode ter sido manifestada durante
qualquer idade e, assim, atletas deficientes congênitos podem ter iniciado a prática do judô antes desta manifestação.
77
Fluxograma 2 - Características dos participantes de acordo com a etiologia da
deficiência visual
Sete participantes praticavam judô antes da manifestação da deficiência. Em média,
os atletas possuíam 13,27 (± 8,27) anos de prática da modalidade e 7,91 (± 6,22)
anos como atletas da Seleção Brasileira Paralímpica de Judô. Ressalta-se que os
atletas participantes do estudo representavam a elite do judô paradesportivo
brasileiro, sendo que 10 deles representaram o Brasil nos Jogos Paralímpicos 2016.
Destaca-se ainda que seis desses atletas conquistaram medalhas em pelo menos
uma Paralimpíada.
78
Além dos atletas, o treinador da equipe também participou da pesquisa. Com 44
anos de idade e ensino superior completo, o treinador foi atleta olímpico da
modalidade e atuava como treinador da Seleção Paralímpica de Judô desde
janeiro/2009. Suas principais conquistas como treinador foram medalhas de prata e
bronze nas Paralimpíadas de 2012 e 2016 e ouro por equipes no Campeonato
Mundial de 2014.
4.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Atletas profissionais, maiores de idade, com pelo menos um ano de experiência na
modalidade, convocados pela Seleção Brasileira Paralímpica de Judô no primeiro
semestre de 2016 e que tinham disputado Jogos Paralimpicos e/ou campeonatos
mundiais da modalidade. Foram excluídos da amostra os atletas afastados, por
qualquer motivo, dos treinamentos e competições e que não participaram dos dois
momentos de avaliação.
4.3 INSTRUMENTOS
4.3.1 Dados Demográficos
Tanto os atletas quanto o treinador foram avaliados através de um ‘questionário de
avaliação demográfica’. Para os atletas foram feitas perguntas relativas à: gênero;
idade; data de nascimento; escolaridade; tipo de deficiência; motivo da deficiência;
grau da deficiência; há quanto tempo é deficiente; tempo de experiência no judô
(idade que começou); se possuía experiência no judô antes da deficiência; tempo de
experiência na Seleção Brasileira Paralímpica de Judô; se houve intervalos na
participação na Seleção Brasileira Paralímpica de Judô e motivo para tal; categoria
em que luta; nível de competições já disputadas; principais conquistas como atletas.
Já para o treinador, o questionário demográfico foi composto de perguntas
referentes à: idade; data de nascimento; escolaridade; tempo como treinador da
seleção brasileira; se possui outras funções na equipe, além de treinador (se sim,
quais e em qual período); se já foi atleta da modalidade (se sim, qual o nível de
79
competição disputado como atleta); quais suas principais conquistas como atleta e
treinador. Os dados desses questionários foram apresentados na descrição dos
participantes da pesquisa.
4.3.2 Percepção de eficácia
Elaboração dos instrumentos:
Para estudar a percepção de autoeficácia dos atletas e a percepção do treinador
sobre a eficácia de seus judocas, foram elaborados quatro questionários: o primeiro
para avaliar a percepção das habilidades psicológicas, o segundo para avaliar a
percepção das habilidades físicas, o terceiro para avaliar a percepção das
habilidades técnicas e, o último, para avaliar a percepção das habilidades táticas.
Todos esses instrumentos foram produzidos seguindo o modelo de elaboração de
escalas para avaliação de autoeficácia proposto por Bandura em seu “Guide for
constructing self-eficacy scales” (BANDURA, 2006). Dentre as orientações descritas
por Bandura ressaltam-se as referentes às instruções sobre o preenchimento do
questionário, a escala a ser utilizada e a elaboração dos itens do instrumento. A
seguir, são apresentados os detalhes relevantes sobre estas orientações:
Instrução sobre preenchimento: No momento da elaboração da instrução
sobre como o questionário precisa ser preenchido, deve-se cuidar para
que o respondente avalie realmente sua percepção de autoeficácia e não
constructos semelhantes a este, como autoestima, expectativas de
resultado e lócus de controle (p.309).
Escala: Os itens do instrumento demandam diferentes níveis de atividades
dos indivíduos que respondem à escala. Por isso, a escala precisa permitir
que o respondente registre sua ‘força de autoeficácia’ para cada item
investigado. Assim, escalas com poucos pontos devem ser evitadas por
serem menos sensíveis (p.312).
Elaboração de itens: É necessário realizar um pré-teste com os itens para
verificar a compreensão dos respondentes sobre cada um deles; caso
haja dificuldade e/ou ambiguidade de compreensão, é preciso reescrevê-
los ou retirá-los da escala (BANDURA, 2006, p.315).
80
De acordo com essas orientações, para a elaboração dos instrumentos utilizados
nesta dissertação, foram realizados os seguintes métodos:
Instrução sobre preenchimento: Para que o respondente estivesse ciente
de que deveria responder o quanto ele se percebia capaz em executar a
variável investigada, a instrução dos instrumentos elaborados para os
atletas foi: “Abaixo se encontra uma lista de variáveis
(psicológicas/técnicas/táticas/físicas) vivenciadas durante as competições.
Por favor, avalie sua habilidade atual em cada uma delas obedecendo à
seguinte escala:”. Já a instrução dos instrumentos respondidos pelo
treinador foi: “Abaixo se encontra uma lista de variáveis
(psicológicas/técnicas/táticas/físicas) vivenciadas durante as competições.
Por favor, avalie a habilidade atual do atleta (nome do atleta) em cada
uma delas obedecendo à seguinte escala:”.
Escala: Todos os instrumentos seguiram uma escala de um a 10 pontos;
sendo que a nota um correspondia com a avaliação “quase não posso
fazer”, a nota cinco assemelhava-se a avaliação de “posso fazer
moderadamente” e a nota 10 era proporcional à percepção de que “posso
fazer sempre”.
Elaboração de itens: Para a construção dos itens foram realizadas
observações dos atletas durante treinamentos e competições, além de
pesquisas na literatura sobre aspectos que compõem cada habilidade
estudada – psicológica / física / técnica / tática (KANO, 1996; GRECO,
2006; WEINBERG; GOLD, 2008; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2011).
Além disso, para os instrumentos que avaliaram as habilidades físicas,
técnicas e táticas, contou-se também com o auxílio do coordenador
técnico da equipe. Para o instrumento que avaliou as habilidades
psicológicas, foi realizado um pré-teste com os atletas no ano de 2015.
Este instrumento continha, inicialmente, 10 itens e, após o pré-teste, cinco
itens foram retirados, quatro itens foram mantidos, um item foi alterado e
dois itens adicionados. Não foi possível realizar um pré-teste com os
demais instrumentos para verificação dos itens, porém, foi utilizada uma
lista de descrição de cada item que lhes permitiam explicar de maneira
mais detalhada em caso de dúvidas do respondente (Apêndice 5).
81
Descrição dos instrumentos
A seguir, são apresentados os objetivos de cada instrumento, bem como os itens
que os compõem. A descrição de cada item, conforme explicitado acima, encontra-
se no Apêndice 5. Já os questionários na íntegra podem ser acessados nos
Apêndices 3 e 4.
Questionário de percepção das habilidades psicológicas: objetivou investigar
a percepção sobre as habilidades psicológicas necessárias ao judoca de alto
rendimento para enfrentar as situações competitivas (WEINBERG; GOLD,
2008). Os sete itens considerados neste aspecto foram: concentração,
resistência de concentração, recomposição psicológica após a luta, controle
emocional, preparação psicológica para a luta, tomada de decisão e
gerenciamento de adversidades.
Questionário de percepção das habilidades físicas: buscou avaliar a
percepção sobre o nível das potencialidades neuromotoras e de desempenho
dos atletas (DANTAS, 1985-1986). Os cinco itens que compuseram este
questionário foram: resistência durante a luta (anaeróbia), força em relação
aos adversários, potência dos golpes, velocidade e recuperação após as
lutas.
Questionário de percepção das habilidades técnicas: investigou a percepção
sobre a habilidade em executar os movimentos fundamentais para a prática
da modalidade (DAOLIO, 2002). Esse questionário contou com 10 itens,
sendo eles: pegada, postura, movimentação na luta, técnicas de pé ou perna
(ASHI WAZA), técnicas de braço (TE WAZA), técnicas de quadril (KOSHI
WAZA), técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA), técnicas de luta de solo
(KATAME WAZA), transição da luta em pé para a luta de solo e defesa na luta
de solo.
Questionário de percepção das habilidades táticas: investigou a percepção
sobre a habilidade de combinar mecanismos necessários para solucionar
problemas e se comportar em situações enfrentadas durante a luta (ANDO;
MIARKA; PINTO, 2016). Esse instrumento contou com três itens: atitude
ofensiva para jogar e vencer o adversário, postura ofensiva para reverter uma
82
luta que está perdendo (jogar o adversário ou força-lo a ser punido) e postura
defensiva quando está em vantagem na luta (sem sofrer punições).
4.5 PROCEDIMENTOS
Após a aprovação da coordenação da equipe para que o estudo fosse realizado
(Anexo 1), o projeto de pesquisa foi enviado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu em 03/06/2015 sob o CAAE:
45073215.0000.0089. Os participantes foram contatados e receberam explicações
sobre os objetivos do estudo e os procedimentos da pesquisa.
Atletas e treinador assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TLCE)
ao concordarem em participar como voluntários (Apêndices 1 e 2). No caso dos
atletas que apresentavam deficiência visual total (B1), o TCLE foi lido pela
pesquisadora e assinado pelo próprio atleta. Em casos de atletas com baixa visão
(B2 e B3), o TCLE foi apresentado de duas formas: com letras ampliadas ou com
letras em tamanho normal; sendo que cada atleta optou por uma das duas formas.
O treinador, ao assinar o TCLE, comprometeu-se em não usar, em nenhum
momento, os dados da pesquisa para convocações em fases de treinamentos e/ou
competições nacionais e internacionais.
Para atender ao quarto objetivo específico dessa pesquisa (verificar se há mudanças
entre as percepções de autoeficácia dos atletas e percepção do treinador sobre a
eficácia atlética competitiva entre os dois momentos), a coleta de dados foi realizada
em dois momentos, a saber: a primeira coleta foi realizada no final do mês de
janeiro/2016, durante a primeira fase de treinamento da equipe do ano (os atletas
estavam retornando das férias e começavam a preparar metas de treinamentos para
os Jogos Paralímpicos de 2016) e a segunda coleta foi realizada no final do mês de
maio, durante a quinta fase de treinamento da equipe (os atletas se preparavam
para disputar a última competição internacional antes dos Jogos Paralímpicos; tal
competição ocorreu na primeira quinzena de junho). Ambas as coletas foram
realizadas no final da fase de treinamento durante o período da manhã (antes dos
83
treinos diários). Entre as duas coletas, a equipe vivenciou três fases de treinamento,
sendo que a mais curta durou 10 dias e a mais longa 16 dias.
Os procedimentos descritos anteriormente para o preenchimento do TCLE foram os
mesmos utilizados para as duas coletas. Foi solicitado que cada atleta avaliasse sua
autoeficácia sobre as diferentes habilidades no momento da avaliação.
Posteriormente, a pesquisadora realizou o mesmo procedimento com o treinador.
Ele, sem ter conhecimento prévio das respostas dos judocas, avaliou a eficácia de
cada um dos atletas naquele momento.
4.5.1 Análise dos Dados
Os dados foram tabulados e, posteriormente, analisados através do software
estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science) – versão 21 em português.
Devido ao pequeno número de participantes da amostra, optou-se por utilizar testes
estatísticos não paramétricos durante a avaliação. Por este esse motivo, a
verificação do grau de concordância entre as percepções de treinador e atletas nos
dois momentos de coleta foi feita através do teste de Correlação de Spearman. Os
critérios utilizados para a avaliação destas correlações foram os propostos por
Dancey e Reidy (2006).
Para verificar a magnitude de diferenças das avaliações entre o primeiro e o
segundo momentos, tanto do treinador quanto do atleta, foi utilizado delta percentual
(Δ%). Já, para avaliar se as diferenças entre as percepções de judocas e treinador
durante os dois momentos foram significativas, utilizou-se o teste de Wilcoxon. Tanto
para a Correlação de Spearman quanto para o teste de Wilcoxon, o nível de
significância adotado foi de p<0,05.
CAPÍTULO 5
RESULTADOS
Habilidades Psicológicas
Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades psicológicas
Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades psicológicas
Habilidades Físicas
Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades físicas
Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades físicas
Habilidades Técnicas
Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades técnicas
Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades técnicas
Habilidades Táticas
Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades táticas
Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades táticas
85
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos nas avaliações de atletas e
treinador sobre a eficácia de cada judoca em todas as habilidades investigadas
(psicológica, física, técnica e tática). Para melhor visualização, a apresentação
destes resultados está dividida de acordo com cada habilidade. Assim, o primeiro
tópico apresenta os cálculos da correlação de Spearman, do Delta Percentual e do
Teste de Wilcoxon sobre as habilidades psicológicas; o segundo tópico exibe os
resultados para as habilidades físicas; o terceiro tópico apresenta os resultados das
habilidades técnicas e o quarto tópico exibe os cálculos sobre as habilidades táticas.
5.1 HABILIDADES PSICOLÓGICAS
Primeiramente serão apresentados os resultados sobre o grau de concordância
entre as avaliações de atletas e treinador no primeiro (Tabela 3) e segundo (Tabela
4) momentos de coletas. Posteriormente, serão apresentados os resultados da
comparação entre as avaliações dos atletas (Tabela 5) e do treinador (Tabela 6)
entre os dois momentos de coletas.
5.1.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades
psicológicas
Tabela 3 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades psicológicas durante a primeira coleta.
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Concentração Atleta 8,27 2,24 11
0,408 0,212 Treinador 7,64 0,51 11
Resistência de Concentração Atleta 8,09 2,12 11
0,239 0,479 Treinador 7,55 0,52 11
Recomposição Psicológica após a luta Atleta 7,18 2,32 11
0,390 0,236 Treinador 6,82 0,60 11
Controle Emocional Atleta 7,36 3,04 11
0,306 0,360 Treinador 6,91 0,30 11
Preparação Psicológica para luta Atleta 7,82 2,60 11
0,315 0,345 Treinador 6,09 0,30 11
Tomada de decisão Atleta 7,64 1,86 11
0,581 0,061 Treinador 6,64 0,51 11
Gerenciamento de adversidades Atleta 7,82 1,66 11
-0,664 0,026 Treinador 6,73 0,47 11
* p≤0,05
86
De acordo com os resultados da Tabela 3, o item ‘gerenciamento de adversidades’
apresentou correlação negativa, de força moderada e significativa, demonstrando
tendência de avaliações opostas de treinador e atletas neste quesito. Todas as
demais correlações foram positivas de forças fracas e/ou moderadas e não
significativas, atestando baixa concordância entre a percepção de treinador e
judocas sobre as habilidades psicológicas em competição durante o primeiro
momento de coleta.
Tabela 4 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades psicológicas durante a segunda coleta.
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Concentração Atleta 8,14 2,17 11
0,544 0,830 Treinador 6,64 0,67 11
Resistência de Concentração Atleta 7,73 2,05 11
0,385 0,242 Treinador 6,64 0,67 11
Recomposição Psicológica após a luta Atleta 8,27 1,49 11
0,255 0,449 Treinador 6,55 0,82 11
Controle Emocional Atleta 8,05 1,98 11
0,479 0,136 Treinador 6,36 0,92 11
Preparação Psicológica para luta Atleta 8,27 1,95 11
0,508 0,110 Treinador 6,64 0,81 11
Tomada de decisão Atleta 7,91 2,21 11
0,447 0,169 Treinador 6,45 0,93 11
Gerenciamento de adversidades Atleta 8,09 1,76 11
0,313 0,349 Treinador 6,09 0,94 11
* p≤0,05
Observando os dados da Tabela 4 é possível constatar que no segundo momento
de coleta todas as correlações foram positivas, mas nenhuma foi estatisticamente
significativa. Quanto à força das correlações, todas foram fracas e/ou moderadas,
demonstrando haver grau de concordância apenas moderado entre as avaliações de
treinador e atleta nesse momento de coleta.
Entretanto, quando comparados os resultados das Tabelas 3 e 4, é possível notar
aumento das correlações na maioria das variáveis estudadas (exceção dos itens
‘recomposição psicológica após a luta’ e ‘tomada de decisão’); além disso, o item
‘gerenciamento de adversidade’ deixou de ter correlação negativa e significativa,
passando a ter uma correlação positiva, de força fraca e não significativa. Apesar de
87
não haver correlações significativas no segundo momento de avaliação, o aumento
das correlações entre o primeiro e segundo momento demonstra tendência de
aproximação das avaliações de atletas e treinador para as habilidades psicológicas
ao longo do tempo.
5.1.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades
psicológicas
Tabela 5 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as habilidades psicológicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% Z p*
Concentração 1 8,27 2,24 11
-1,57 0,212 0,832 2 8,14 2,17 11
Resistência de Concentração 1 8,09 2,12 11
-4,49 0,816 0,414 2 7,73 2,05 11
Recomposição Psicológica após a luta
1 7,18 2,32 11 15,19 1,736 0,083
2 8,27 1,49 11
Controle Emocional 1 7,36 3,04 11
9,26 0,874 0,382 2 8,05 1,98 11
Preparação Psicológica para luta 1 7,82 2,60 11
5,81 0,738 0,461 2 8,27 1,95 11
Tomada de decisão 1 7,64 1,86 11
3,57 0,340 0,734 2 7,91 2,21 11
Gerenciamento de adversidades 1 7,82 1,66 11
3,49 0,480 0,631 2 8,09 1,76 11
* p≤0,05
Os dados da Tabela 5 apontam que, apesar das variáveis apresentarem médias de
notas superiores na segunda coleta (com exceção dos itens ‘concentração’ e
‘resistência de concentração’, que apresentaram diminuição de 1,57% e 4,47%
respectivamente), não houve diferença estatística significativa para as
autoavaliações dos atletas sobre suas habilidades psicológicas quando comparadas
a primeira e a segunda coleta. Esses dados mostram que os judocas perceberam
melhora sobre sua autoeficácia psicológica, mas esta melhora não foi
estatisticamente significativa.
88
Tabela 6 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as habilidades psicológicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% z p*
Concentração 1 7,64 0,50 11
-13,10 2,810 0,005 2 6,64 0,67 11
Resistência de Concentração 1 7,55 0,52 11
-12,05 2,887 0,004 2 6,64 0,67 11
Recomposição Psicológica após a luta 1 6,82 0,60 11
-4,00 1,732 0,083 2 6,55 0,82 11
Controle Emocional 1 6,91 0,30 11
-7,89 1,613 0,107 2 6,36 0,92 11
Preparação Psicológica para luta 1 6,09 0,30 11
8,96 2,121 0,034 2 6,64 0,81 11
Tomada de decisão 1 6,64 0,50 11
-2,74 0,707 0,480 2 6,45 0,93 11
Gerenciamento de adversidades 1 6,73 0,47 11
-9,46 2,111 0,035 2 6,09 0,94 11
* p≤0,05 Observando a Tabela 6, nota-se que ‘preparação psicológica para a luta’ foi a única
variável psicológica que o treinador percebeu melhora ao longo do tempo (8,96%),
sendo que todas as demais tiveram as médias das notas diminuídas entre 2,74% e
13,10%. De acordo com o teste de Wilcoxon, a percepção do treinador sobre a
eficácia psicológica de seus judocas apresentou diferenças significativas em quatro
variáveis: aumento significativo da média de notas para os itens de ‘preparação
psicológica para a luta’ e diminuição significativa das médias de notas para as
variáveis ‘concentração’, ‘resistência de concentração’ e ‘gerenciamento de
adversidades’.
Comparando os dados das Tabelas 5 e 6, é possível avaliar que tanto atletas como
treinador perceberam piora nos itens ‘concentração (atletas = -1,57% / treinador = -
13,10%) e ‘resistência de concentração’ (atletas = -4,49% / treinador = -12,05%) e
melhora no item ‘preparação psicológica para a luta’ (atletas = 5,81% / treinador =
8,96%). Ressalta-se que nas variáveis em que atletas e treinador concordaram com
a piora da eficácia atlética em competição, as magnitudes das diferenças entre as
avaliações do treinador eram maiores que as dos atletas; já na variável ‘preparação
psicológica para luta’ o treinador apresentou uma magnitude maior em relação aos
atletas.
89
Para as demais variáveis, os atletas perceberam melhora, enquanto o treinador
notou piora dos itens. Essa divergência também apareceu nas correlações
apresentadas nas Tabelas 3 e 4, uma vez que não houve concordâncias positivas e
significativas entre as avaliações de treinador e atletas em nenhum dos momentos
de coleta de dados, apesar de as correlações aumentarem no segundo momento em
comparação com o primeiro. Esses dados permitem afirmar que atletas e treinador
passaram a perceber as habilidades psicológicas de maneira mais parecida ao longo
do tempo, mesmo os atletas notando melhora na maioria das variáveis e o treinador
avaliando os atletas com notas mais baixas no segundo momento.
5.2 HABILIDADES FÍSICAS
O grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador sobre as
habilidades físicas são apresentados nas Tabelas 7 (primeiro momento) e 8
(segundo momento). Já a comparação entre as avaliações entre primeiro e segundo
momento é apresentada nas Tabelas 9 (atletas) e 10 (treinador).
5.2.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades físicas
Tabela 7 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades físicas durante a primeira coleta
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Resistência durante a luta (anaeróbia) Atleta 8,36 1,57 11
0,144 0,672 Treinador 6,91 1,20 11
Força em relação aos meus adversários Atleta 7,73 1,49 11
-0,067 0,844 Treinador 6,91 0,54 11
Velocidade Atleta 7,18 1,47 11
0,000 1,000 Treinador 6,09 0,30 11
Potência dos Golpes Atleta 7,27 1,79 11
0,698 0,017 Treinador 6,64 0,51 11
Recuperação após as lutas Atleta 7,82 1,88 11
- - Treinador 7,00 0,00 11
* p≤0,05
90
Os resultados apresentados na Tabela 7 demonstram que o único item que
apresentou concordância entre a percepção de treinador e atletas foi ‘potência de
golpes’. Para as demais variáveis, as correlações foram muito fracas e não
significativas, evidenciando pouca concordância de percepção sobre as habilidades
físicas de atletas e treinador.
A variável ‘força em relação aos meus adversários’ apresentou correlação fraca,
negativa e não significativa entre as percepções, constatando que houve tendência
de treinador e atletas perceberem de maneira oposta a eficácia desse quesito em
competição. Já, a variável ‘velocidade’ apresentou ausência de correlação,
demonstrando também certa divergência da percepção de atletas e treinador para
esse quesito. Ressalta-se que não foi possível calcular a correlação de Spearman
no item ‘recuperação após as lutas’ porque o treinador forneceu a mesma nota para
todos os atletas.
Tabela 8 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades físicas durante a segunda coleta
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Resistência durante a luta (anaeróbia) Atleta 8,68 1,19 11
0,494 0,123 Treinador 7,09 0,63 11
Força em relação aos meus adversários Atleta 8.09 1,15 11
0,422 0,196 Treinador 7,23 0,61 11
Velocidade Atleta 8,32 1,35 11
0,438 0,177 Treinador 6,59 0,49 11
Potência dos Golpes Atleta 7,64 1,63 11
0,699 0,017 Treinador 6,64 0,55 11
Recuperação após as lutas Atleta 8,18 1,54 11
0,314 0,347 Treinador 7,09 0,54 11
* p≤0,05 As avaliações de treinador e atletas para as habilidades físicas durante a segunda
coleta de dados apresentou correlações positivas e moderadas (com exceção da
variável ‘recuperação após a luta’, que apesar de positiva, é considerada de força
fraca). Entretanto, o único item que apresentou uma correlação positiva e
significativa foi ‘potência de golpes’.
91
Confrontando os resultados apresentados nas Tabelas 7 e 8, é possível verificar que
todas as variáveis investigadas no instrumento de habilidades físicas tiveram
correlações relativamente mais altas na segunda coleta. Ademais, a variável ‘força
em relação aos meus adversários’ passou a ter correlação positiva no segundo
momento de coleta, demonstrando percepções mais compatíveis sobre esse
fenômeno, apesar de a única correlação significativa em ambas as coletas ter sido
no quesito ‘potência de golpes’ (correlação esta que se manteve com a mesma força
nos dois momentos de coleta de dados).
5.2.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades
físicas
Tabela 9 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as habilidades físicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% z p*
Resistência durante a luta (anaeróbia) 1 8,36 1,57 11
3,80 1,07 0,285 2 8,68 1,19 11
Força em relação aos meus adversários 1 7,73 1,49 11
4,71 1,41 0,157 2 8,09 1,45 11
Velocidade 1 7,18 1,47 11
15,82 2,57 0,010 2 8,32 1,35 11
Potência dos Golpes 1 7,27 1,79 11
5,00 0,597 0,551 2 7,64 1,63 11
Recuperação após as lutas 1 7,82 1,89 11
4,65 0,86 0,391 2 8,18 1,54 11
* p≤0,05
Os resultados da Tabela 9 demonstram que os atletas perceberam melhora em
todas as variáveis componentes das habilidades físicas (aumentos de 3,80% a
15,82% entre as médias de notas fornecidas). Entretanto, somente a variável
‘velocidade’ apresentou melhora estatisticamente significativa na percepção de
autoeficácia dos atletas.
92
Tabela 10 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as habilidades físicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% z p*
Resistência durante a luta (anaeróbia) 1 6,91 1,20 11
2,63 0,318 0,751 2 7,09 0,63 11
Força em relação aos meus adversários 1 6,91 0,54 11
4,61 1,725 0,084 2 7,23 0,61 11
Velocidade 1 6,09 0,30 11
8,21 2,333 0,020 2 6,59 0,49 11
Potência dos Golpes 1 6,64 0,50 11
0,00 0,000 1,000 2 6,64 0,55 11
Recuperação após as lutas 1 7,00 0,00 11
1,30 0,577 0,564 2 7,09 0,54 11
* p≤0,05
De acordo com a Tabela 10, o treinador apresentou percepção de melhora de seus
atletas na maioria das variáveis físicas. A exceção foi o item ‘potência de golpes’,
pois o treinador não notou diferença de eficácia dos atletas para esse quesito entre
as duas coletas. Entretanto, a única variável física que retratou melhora
estatisticamente significativa de acordo com o treinador foi ‘velocidade’.
Confrontando os dados das Tabelas 9 e 10, é possível verificar que tanto atletas
quanto treinador perceberam melhoras nas variáveis físicas investigadas. Apesar
disso, o delta percentual mostrou magnitudes de diferenças maiores entre a primeira
e segunda coleta para os atletas (de 3,80% a 15,82%) quando comparados com o
do treinador (de 1,30% a 8,21%).
A variável ‘velocidade’ foi a única que apresentou melhora significativa tanto na
percepção do treinador quanto dos atletas. A análise dessa variável mostrou
ausência de correlação no primeiro momento, demonstrando tendência de
avaliações diferentes sobre esse quesito. Entretanto, no segundo momento de
avaliação, a concordância entre treinador e atletas sobre esse quesito aumentou;
apesar de não significativa, deixou de ter ausência de correlação para uma
correlação de força moderada. Assim, é possível afirmar que treinador e atletas,
além de notarem melhoras significativas nessa variável ao longo do tempo, também
passaram a ter avaliá-lo de maneira mais próxima.
93
O aumento das correlações na segunda coleta e a melhora percebida demonstram
que atletas e treinador passaram a perceber de maneira mais similar as habilidades
físicas após quatro meses de convivência. Ressalta-se que, em todos os meses
durante esse período, os atletas realizaram avaliações físicas. Elas podem ter
funcionado como uma variável que influenciou no estreitamento das percepções de
treinador e atletas sobre essas habilidades.
5.3 HABILIDADES TÉCNICAS
As Tabelas 11 e 12 apresentam o grau de concordância entre as avaliações de
atletas e treinador sobre as habilidades técnicas na primeira e na segunda coleta
respectivamente. Já as Tabelas 13 e 14 exibem, respectivamente, a comparação
das avaliações de atletas e treinador entre primeiro e segundo momento.
5.3.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades técnicas
Tabela 11 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades técnicas durante a primeira coleta
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Pegada Atleta 7,82 2,14 11
0,427 0,190 Treinador 6,64 0,51 11
Postura Atleta 7,64 1,86 11
- - Treinador 7,00 0,00 11
Movimentação na luta Atleta 7,55 1,57 11
-0,155 0,650 Treinador 6,91 0,30 11
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA) Atleta 7,45 1,70 11
0,356 0,283 Treinador 6,09 0,30 11
Técnicas de braço (TE WAZA) Atleta 6,91 1,92 11
0,313 0,378 Treinador 5,80 1,03 11
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA) Atleta 7,09 2,21 11
0,131 0,701 Treinador 6,27 0,47 11
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA) Atleta 5,64 2,94 11
0,255 0,542 Treinador 6,00 0,93 11
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA) Atleta 6,82 2,40 11
0,906 0,000 Treinador 5,55 1,04 11
Transição da luta em pé para a luta de solo Atleta 6,64 2,69 11
0,414 0,205 Treinador 5,18 0,60 11
Defesa na luta de solo Atleta 7,27 2,20 11
0,805 0,003 Treinador 5,91 0,83 11
* p≤0,05
94
Observando os resultados apresentados na Tabela 11, é possível verificar que as
variáveis ‘técnicas de luta de solo’ e ‘defesa na luta de solo’ foram as únicas que
apresentaram correlação forte e significativa, demonstrando concordância entre as
percepções de atletas e treinador para esses quesitos. No entanto, as demais
variáveis estudadas apresentaram correlações de forças fracas e/ou moderadas e
não significativas, evidenciando baixa concordância entre as percepções de judocas
e treinador para esses itens.
Evidencia-se que a variável ‘movimentação na luta’ apresentou correlação negativa,
demonstrando tendência de atleta e treinador perceberem esse fenômeno de
maneiras opostas. Salienta-se ainda que não foi possível calcular a correlação para
a variável ‘postura’, pois o treinador avaliou todos os judocas com a mesma nota
durante a primeira coleta de dados.
Tabela 12 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades técnicas durante a segunda coleta
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Pegada Atleta 7,86 1,49 11
0,183 0,590 Treinador 6,95 0,57 11
Postura Atleta 8,05 1,49 11
0,392 0,233 Treinador 6,86 0,51 11
Movimentação na luta Atleta 7,91 1,22 11
-0,132 0,698 Treinador 7,05 0,27 11
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA) Atleta 8,55 1,37 11
0,494 0,123 Treinador 6,95 0,52 11
Técnicas de braço (TE WAZA) Atleta 7,45 2,25 11
0,444 0,198 Treinador 6,30 0,92 11
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA) Atleta 7,82 2,04 11
0,281 0,402 Treinador 6,55 0,76 11
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA) Atleta 6,64 2,58 11
0,060 0,898 Treinador 6,50 0,65 11
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA) Atleta 7,23 1,75 11
0,508 0,111 Treinador 6,55 0,72 11
Transição da luta em pé para a luta de solo Atleta 6,64 2,66 11
0,135 0,692 Treinador 6,41 0,44 11
Defesa na luta de solo Atleta 7,73 2,10 11
0,379 0,251 Treinador 6,64 0,64 11
* p≤0,05
95
A Tabela 12 mostra que as variáveis apresentaram correlações fracas (sete das dez
variáveis restantes) e/ou moderadas (‘técnicas de pé ou perna’ / ‘técnicas de braço’ /
técnicas de luta de solo) e não significativas. O item ‘movimentação na luta’ revelou
correlação negativa, fraca e não significativa, demonstrando tendência de treinador e
atletas avaliarem de maneira oposta essa variável.
Nota-se que a correlação diminuiu em seis dos dez itens no segundo momento de
coleta (Tabela 12), quando comparada ao primeiro (Tabela 12), sendo que os dois
itens que apresentaram correlação significativa, na primeira coleta de dados,
sofreram diminuição da correlação e deixaram de ter concordância significativa entre
atletas e treinador. Além do mais, a variável ‘movimentação na luta’ manteve
correlações negativas nas duas coletas, comprovando que, apesar do tempo de
convivência, treinador e judocas continuaram a perceber esse quesito de maneira
oposta. Esses dados demonstram piora na concordância entre as avaliações de
atletas e treinador sobre as habilidades técnicas entre o primeiro e segundo
momento de coleta.
96
5.3.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades
técnicas
Tabela 13 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as habilidades técnicas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% z p*
Pegada 1 7,82 2,14 11
0,58 0,085 0,932 2 7,86 1,48 11
Postura 1 7,64 1,86 11
5,36 1,185 0,236 2 8,05 1,49 11
Movimentação na luta 1 7,55 1,57 11
4,82 0,921 0,357 2 7,91 1,22 11
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA) 1 7,45 1,69 11
14,63 2,360 0,018 2 8,55 1,37 11
Técnicas de braço (TE WAZA) 1 6,91 1,92 11
7,89 0,849 0,396 2 7,45 2,25 11
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA) 1 7,09 2,21 11
10,26 1,807 0,071 2 7,82 2,04 11
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA) 1 5,64 2,94 11
17,74 1,930 0,054 2 6,64 2,58 11
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA) 1 6,82 2,40 11
6,00 0,516 0,606 2 7,23 1,75 11
Transição da luta em pé para a luta de solo 1 6,64 2,69 11
0,00 0,182 0,856 2 6,64 2,66 11
Defesa na luta de solo 1 7,27 2,20 11
6,25 0,866 0,386 2 7,73 2,10 11
* p≤0,05
Os resultados apresentados na Tabela 13 mostram que a única variável que
apresentou melhora significativa da percepção de autoeficácia dos atletas foi
‘técnicas de pé ou perna’. Apesar disso, os atletas notaram melhora ao longo do
tempo para nove das 10 variáveis investigadas, sendo que o item ‘transição da luta
em pé para a luta de solo’ foi o único avaliado pelos atletas com médias de notas
iguais nos dois momentos.
97
Tabela 14 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as habilidades técnica durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média Dp n Δ% Z p*
Pegada 1 6,64 0,50 11
4,79 1,588 0,112 2 6,95 0,57 11
Postura 1 7,00 0,00 11
-1,95 0,966 0,334 2 6,86 0,50 11
Movimentação na luta 1 6,91 0,30 11
1,97 0,816 0,414 2 7,05 0,27 11
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA) 1 6,09 0,30 11
14,18 2,913 0,004 2 6,95 0,52 11
Técnicas de braço (TE WAZA) 1 5,80 1,03 11
8,62 1,913 0,056 2 6,30 0,92 11
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA) 1 6,27 0,47 11
4,35 0,997 0,319 2 6,55 0,76 11
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA) 1 6,00 0,93 11
8,33 1,633 0,102 2 6,50 0,65 11
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA) 1 5,55 1,04 11
18,03 2,555 0,011 2 6,55 0,72 11
Transição da luta em pé para a luta de solo 1 5,18 0,60 11
23,68 2,850 0,004 2 6,41 0,44 11
Defesa na luta de solo 1 5,91 0,83 11
12,31 2,392 0,017 2 6,64 0,64 11
* p≤0,05
De acordo com a Tabela 14, a variável técnica ‘postura’ foi a única avaliada pelo
treinador com notas mais baixas no segundo momento de coleta (diminuição de
1,95%). Para as demais variáveis, o treinador percebeu melhora ao longo do tempo
(de 1,97% a 23,68%). Apesar disso, somente quatro variáveis apresentaram
melhoras estatisticamente significativas de acordo com o treinador: ‘técnicas de pé
ou perna’, ‘técnicas de luta de solo’, ‘transição da luta em pé para a luta de solo’ e
‘defesa na luta de solo’.
Comparando os resultados das Tabelas 13 e 14 é possível notar que tanto treinador
quanto atletas perceberam melhora significativa na eficácia em ‘técnicas de pé ou
perna’. Ademais, o treinador também notou melhora estatisticamente significativa em
todas as variáveis que investigaram habilidades técnicas em lutas de solo;
entretanto, os atletas não perceberam mudanças na autoeficácia do item ‘transição
da luta em pé para a luta de solo’. Um ponto de oposição entre as percepções de
treinador e atletas foi o item ‘postura’ durante as lutas em competição; enquanto o
98
treinador avaliou os atletas com notas menores para essa variável durante o
segundo momento de coleta (diminuição de 1,95% na média das notas), os atletas
perceberam melhora neste quesito (aumento de 5,36%). Já sobre as demais
variáveis, atletas e treinador perceberam melhoras.
Apesar de judocas e treinador observarem, de maneira geral, melhoras nas variáveis
técnicas investigadas, a análise da correlação das habilidades técnicas, mostrou que
atletas e treinador concordavam mais no primeiro momento de coleta de dados que
no segundo. Essa discrepância entre a piora da concordância e a magnitude das
diferenças pode ter acontecido devido às divergências entre as respostas de
treinador e atleta: itens em que o treinador avaliou uma melhora significativa
(porcentagens maiores de diferença), os atletas notaram avanços com magnitudes
menores e vice e versa (com exceção do item técnicas de pé ou perna).
5.4 HABILIDADES TÁTICAS
O grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador sobre as
habilidades técnicas na primeira e na segunda coleta são apresentados nas Tabelas
15 e 16 respectivamente. Já os cálculos da comparação entre as avaliações de
atletas e treinador entre primeiro e segundo momento são exibidos,
respectivamente, nas Tabelas 17 e 18.
99
5.4.1 Grau de concordância entre treinador e atletas sobre habilidades táticas
Tabela 15 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades táticas durante a primeira coleta
Variável Sujeito Média dp n rs* p*
Atitude ofensiva Atleta 7,45 2,02 11
- - Treinador 7,00 0,00 11
Postura ofensiva para reverter uma luta Atleta 7,82 2,32 11
- - Treinador 7,00 0,00 11
Postura defensiva durante vantagem Atleta 8,00 1,41 11
- - Treinador 7,00 0,00 11
* p≤0,05
Não foi possível calcular as correlações das habilidades táticas durante o primeiro
momento de coleta de dados, porque o treinador avaliou todos os atletas com a
mesma nota (sete) em todos os itens.
Tabela 16 - Grau de concordância entre as avaliações de atletas e treinador para as habilidades táticas durante a segunda coleta
Variável Sujeito Média dp N rs* p*
Atitude ofensiva Atleta 8,00 1,48 11
0,557 0,075 Treinador 7,09 0,58 11
Postura ofensiva para reverter uma luta Atleta 8,50 1,20 11
0,485 0,131 Treinador 7,05 0,57 11
Postura defensiva durante vantagem Atleta 8,77 1,25 11
0,184 0,588 Treinador 7,09 0,58 11
* p≤0,05
As correlações dos três itens investigados foram positivas, mas de força fraca
(‘postura defensiva durante vantagem’) e/ou moderadas e não significativas,
demonstrando baixo grau de concordância de percepções do treinador e atletas para
essas variáveis.
100
5.4.2 Comparação entre a primeira e a segunda coleta sobre as habilidades
táticas
Tabela 17 - Comparação das médias das notas fornecidas pelos atletas para as habilidades táticas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% z p*
Atitude ofensiva 1 7,45 2,02 11
7,32 1,67 0,096 2 8,00 1,48 11
Postura ofensiva para reverter uma luta 1 7,82 2,32 11
8,72 1,19 0,233 2 8,50 1,20 11
Postura defensiva durante vantagem 1 8,00 1,41 11
9,66 2,46 0,014 2 8,77 1,25 11
* p≤0,05 De acordo com os dados da Tabela 17, os atletas perceberam melhora em todas as
variáveis investigadas sobre as habilidades táticas. Porém, a única variável que
apresentou aumento estatisticamente significativo das notas fornecidas pelos atletas
foi ‘postura defensiva durante vantagem’.
Tabela 18 - Comparação das médias das notas fornecidas pelo treinador para as habilidades táticas durante a primeira e segunda coleta de dados e delta percentual
Variável Coleta Média dp n Δ% z p*
Atitude ofensiva 1 7,00 0,00 11
1,30 0,513 0,608 2 7,09 0,58 11
Postura ofensiva para reverter uma luta 1 7,00 0,00 11
0,65 0,277 0,782 2 7,05 0,57 11
Postura defensiva durante vantagem 1 7,00 0,00 11
1,30 0,513 0,608 2 7,09 0,58 11
* p≤0,05 Os resultados da Tabela 18 demonstram que, apesar do treinador observar melhora
em todas as variáveis táticas, essas melhoras apresentaram diferenças muito
pequenas (melhoras de 0,65% e 1,30%), não sendo nenhuma delas estatisticamente
significativas. Confrontando os dados das Tabelas 17 e 18, verifica-se que tanto
atletas quanto treinador notaram melhora das habilidades táticas dos judocas.
Porém, a magnitude da diferença foi diferente: enquanto treinador notou melhoras
de 0,65% e 1,30%, os atletas perceberam melhoras de 7,32% a 9,66%. Assim,
embora não tenham sido observadas mudanças significativas entre as avaliações do
101
treinador, os atletas notaram melhora significativa da variável ‘postura defensiva
durante vantagem’.
103
A presente dissertação avaliou a percepção de autoeficácia competitiva de atletas
da Seleção Brasileira Paralímpica de Judô e a percepção do treinador sobre a
eficácia competitiva de seus atletas. Tal avaliação consistiu na comparação da
percepção de treinador e atletas sobre habilidades físicas, técnicas, táticas e
psicológicas necessárias para a prática da modalidade. Além da comparação entre
as avaliações de treinador e atleta, verificou-se também se houve mudanças na
autoeficácia dos atletas e na percepção do treinador sobre a eficácia atlética
competitiva em um período de quatro meses bem como a magnitude das mudanças.
Essa verificação foi realizada através da comparação entre as avaliações feitas em
dois momentos de coleta de dados distintos e do delta percentual.
A primeira hipótese dessa dissertação era de que existiria um alto grau de
concordância entre a percepção de treinador e atletas sobre a eficácia competitiva
dos atletas. Entretanto, os resultados encontrados permitiram verificar que, durante
a primeira avaliação, só houve concordância significativa da percepção de atletas e
treinador em três variáveis estudadas: uma variável física (‘potência de golpes’) e
duas técnicas (‘técnicas de luta de solo’ e ‘defesa na luta de solo’). Esses resultados
corroboram com os resultados encontrados por Marcos et al. (2010a), que também
não constataram correlações significativas entre a autoeficácia de atletas de
basquete e a percepção de eficácia que os treinadores tinham de seus atletas. Por
outro lado, outros estudos realizados por Marcos et al. (2010b) e Marcos et al.
(2011) mostram resultados opostos aos encontrados na presente pesquisa pois,
além de encontrarem correlações significativas entre as percepções de treinador e
atletas, Marcos et al. (2010b) também verificaram que a percepção de eficácia do
treinador era um preditor significativo da percepção de autoeficácia dos atletas,
explicando 11% da variância desta percepção.
Conforme explicitado anteriormente, a autoeficácia é formada em um contexto
socioestrutural, ou seja, é influenciada pelas relações sociais que o indivíduo tem.
As reações avaliativas de outras pessoas sobre o desempenho de um sujeito
auxiliarão na formação de como este percebe suas próprias habilidades e
competências. Dessa forma, caso este sujeito receba avaliações positivas sobre seu
desempenho em determinada esfera da vida, há a tendência de se perceber como
capaz de realizar ações pertinentes a essas esferas; caso contrário, o sujeito tende
a ter uma percepção de autoeficácia negativa sobre esse contexto. Ressalta-se,
104
porém, que para as avaliações de terceiros influenciarem de maneira efetiva a
autoeficácia de uma pessoa, é necessário que haja proximidade de relacionamento
(BANDURA, 1997, 2000, 2001; LENT; LOPEZ, 2002).
No contexto esportivo, um desses relacionamentos de proximidade que influenciam
a percepção de autoeficácia do atleta é a relação que este tem com seu treinador
(LENT; LOPEZ, 2002; JOWETT; NTOUMANIS, 2004; JOWETT;
POCZWARDOWSKI, 2007). Muitas vezes atletas e treinadores convivem mais entre
si durante os treinamentos e competições do que com suas próprias famílias,
criando uma relação central para a profissão de ambos e formando laços
semelhantes aos encontrados nas relações conjugais e de amigos íntimos
(JOWETT; TIMSON-KATCHIS, 2005).
Quando tal fato acontece e os atletas percebem os treinadores como profissionais
competentes e capazes de auxiliá-los a melhorar sua performance, o treinador
passa a ser alguém que influencia diretamente a autoeficácia desse atleta. Isso
acontece através de comportamentos do próprio treinador como feedbacks reais e
positivos sobre o desempenho dos atletas, instruções e treinamentos que auxiliam o
aprimoramento de habilidades esportivas necessárias e suporte social ou
comportamentos que afetam positivamente as habilidades e estados psicológicos
dos atletas (BANDURA, 1997; HEUZÉ et al., 2006; JOWETT; CHAUNDY, 2004;
MARCOS et al., 2009).
Quando a relação entre treinador e atleta é saudável, há a possibilidade de se
encontrar as quatro fontes de autoeficácia na própria relação. Se o relacionamento
entre eles é próximo e pautado no compromisso, pode ser considerado como fonte
direta de domínio, uma vez que ambos provavelmente investirão esforços para
garantir que os atletas aprimorem suas capacidades esportivas. Caso o atleta confie
no treinador e o reconheça como um profissional capaz de exercer as capacidades
necessárias de seu cargo na modalidade praticada, haverá fonte de experiências
vicárias, pois o treinador passará a ser modelo para o atleta. Além do mais, nessa
situação, o treinador terá bastante influência como fonte de persuasão verbal, uma
vez que o atleta acredita em suas orientações e feedbacks. Já os estados afetivos
negativos do atleta, como medo, estresse e ansiedade devem se manter em níveis
baixos quando há uma relação de qualidade e confiança entre ele e seu treinador,
105
uma vez que esses estados são mais propensos de aparecer em relações
conflituosas (BANDURA, 1997; JOWETT, 2007).
Essas influências do treinador sobre a percepção de autoeficácia do atleta tendem a
ser ainda maiores em esportes individuais quando comparados com modalidades
coletivas. De acordo com Lorimer e Jowett (2009) e Jowett (2007), em esportes
individuais, o treinador está atento às necessidades de desenvolvimento das
habilidades específicas de cada atleta, enquanto que em esportes coletivos, além
desse aspecto, o treinador também necessita atentar-se para questões do grupo,
como coesão entre os atletas e eficácia de resultado da equipe.
Por outro lado, apesar de a literatura afirmar que a avaliação do treinador sobre seus
atletas influencia a percepção de autoeficácia destes, é importante lembrar que os
atletas participantes da presente dissertação são judocas com deficiência visual e
não há pesquisas que investiguem esse fenômeno em uma relação de treinador-
atleta nesta população. Sabe-se que a formação de conceitos em pessoas com
deficiência visual (principalmente nos cegos congênitos) acontece de maneira
singular, uma vez que há a falta e/ou deficiência da percepção sensorial visual
(MASINI, 1995; NUNES; LOMÔNACO, 2008).
Os cegos congênitos precisam conciliar a percepção de mundo que conhecem
através dos outros esquemas sensoriais com a percepção que os videntes lhe
descrevem para criar conceitos (AMIRALIAN, 1997). No caso dos atletas aqui
investigados pode-se considerar que os conceitos pertinentes à modalidade, como
execução de golpes e tipos de treinamentos táticos, por exemplo, foram formados
através das experiências desses atletas e instruções fornecidas pelo treinador. Este
treinador, por sua vez, necessitou adequar os treinamentos para favorecer a
compreensão e desempenho desses atletas respeitando as suas limitações
(McMASTER; CULVER; WERTHNER, 2012; TURNNIDGE et al., 2014).
Independentemente de não haver concordância entre a percepção de treinador e
atletas no primeiro momento de avaliação, sabe-se que a autoeficácia é dinâmica e
sofre alterações ao longo do tempo (BANDURA, 1997; JACKSON; BEAUCHAMP,
2010a; JOWETT; POCZWARDOWSKI, 2007). Assim, quando verificada a correlação
entre as avaliações de atletas e treinador no segundo momento, encontraram-se
correlações mais altas (porém não significativas) nas habilidades físicas e
106
psicológicas. Já sobre as habilidades técnicas foi constatada diminuição da maioria
das correlações; e sobre as habilidades táticas não foi possível fazer esta
comparação, pois não pode realizar os cálculos de correlações na primeira coleta.
Esses dados confirmam parcialmente a segunda hipótese dessa dissertação
(aumento da concordância na segunda coleta) uma vez que a maioria das variáveis
referentes às habilidades físicas e psicológicas sofreu aumento; além disso, quatro
variáveis técnicas também aumentarem a concordância entre a percepção de
treinador e atletas na segunda coleta de dados.
Não é possível afirmar o motivo da diminuição das concordâncias entre a percepção
de treinador e atletas sobre a maioria das variáveis técnicas no segundo momento
de coleta. Porém, infere-se que as experiências prévias do treinador (como ex-atleta
olímpico) tenham influenciado seus critérios de avaliação sobre a eficácia de seus
atletas (experiências prévias de domínio), tornando esses critérios mais rigorosos do
que os utilizados pelos judocas que têm menor experiência neste tipo de competição
do que o treinador (BANDURA, 1997).
Já o aumento do grau de concordância entre as avaliações do atleta e do treinador
nas variáveis psicológicas e físicas pode ser explicado pela proximidade do
relacionamento treinador-atleta que foi formada ao longo do tempo de interação
entre eles, durante os treinos e/ou competições e até mesmo em reuniões
estabelecidas com as profissionais responsáveis pela preparação psicológica da
equipe que visavam conversar sobre o desempenho atual dos judocas e
estabelecimento de metas para os próximos treinamentos (LORIMER; JOWETT,
2009). Diversos autores (LENT; LOPEZ, 2002; JOWETT, 2007; JOWETT;
POCZWARDOWSKI, 2007; SNYDER; STUKAS, 1999; YANG; JOWETT, 2013) têm
afirmado que o tempo de relacionamento voltado para a melhora da performance do
atleta torna a relação treinador-atleta cada vez mais interdependente; em outras
palavras, os comportamentos, pensamentos, sentimentos e até as percepções de
treinador e atletas se inter-relacionam e difundem-se entre si.
A qualidade da relação treinador-atleta dependerá de como essa relação foi
formada, bem como dos resultados intrapessoais (satisfação com seus próprios
resultados) e interpessoais (satisfação com a própria relação) (JOWETT;
POCZWARDOWSKI, 2007; YANG, JOWETT; CHAN, 2015). A percepção que
107
atletas e treinadores tem sobre a qualidade de relacionamento entre eles influencia e
é influenciada pela percepção de autoeficácia de ambos (JOWETT, 2007; JOWETT;
POCZWARDOWSKI, 2007).
Essa qualidade da relação pode ser estudada através da investigação de quatro
fatores, propostos no modelo de 3Cs+1 (JOWETT, 2007; YANG, JOWETT; CHAN,
2015): proximidade afetiva de treinador e atleta, compromisso com o
relacionamento, complementaridade de comportamentos e coorientação. Desses, a
coorientação é o fator que mais se aproxima com o fenômeno aqui estudado
(percepção de eficácia), pois investiga as interpercepções de treinadores e atletas
sobre a relação e suas similaridades ou divergências (LORIMER; JOWETT, 2009;
JOWETT, 2007). A investigação sobre a coorientação identifica a perspectiva direta
de cada uma das partes (o quanto uma pessoa se percebe confiante na outra) e a
meta-perspectiva (o quanto uma pessoa acredita que a outra confia nela). Quanto
mais próximas essas percepções, melhor a relação entre treinador e atletas
(LORIMER; JOWETT, 2009; JOWETT, 2009; JOWETT; CHAUNDY, 2004; JOWETT;
NTOUMANIS, 2004).
Outro fator importante que influencia a qualidade da relação treinador-atleta e
também a concordância da percepção de ambos é a comunicação. Através do
processo comunicativo é possível aumentar ou diminuir a distância entre eles. Uma
comunicação efetiva entre treinador e atletas faz com que exista uma compreensão
mútua entre eles aumentando a qualidade do relacionamento. Por isso, é de suma
importância que o treinador consiga se comunicar com seus atletas durante
treinamentos e competições demonstrando suas expectativas e fornecendo
feedbacks sobre o desempenho dos atletas (ALZATE et al., 2007; LORIMER;
JOWETT, 2009; JOWETT; POCZWARDOWSKI, 2007). Na estudo atual, enfatiza-se
que essa comunicação entre treinador-atleta sobre as habilidades físicas pode ter
sido facilitada pelo fato dos atletas realizarem testes físicos durante todos os meses
entre uma coleta de dados e outra, fornecendo um feedback mensurável das
habilidades para ambos.
Quando há comunicação efetiva, proximidade, compromisso, complementaridade e
coorientação na relação treinador-atleta, há uma relação de interdependência
positiva, fazendo com que ambos tenham percepção de eficácia positiva para o
108
desempenho atlético (LIRGG; FELTZ, 1991; JOWETT, 2007). Apesar de saber sobre
a influência da qualidade do relacionamento de treinador-atleta para uma maior
concordância da percepção destes, uma das delimitações da presente dissertação é
ter investigado apenas a percepção de eficácia, não podendo afirmar se houve
alterações na qualidade da relação do treinador e atletas participantes da amostra
que pudessem alterar os resultados aqui encontrados.
A terceira e última hipótese dessa pesquisa foi de que haveria melhora da eficácia
atlética percebida, tanto por atletas quanto pelo treinador, ao longo do tempo. Os
resultados do delta percentual permitiram verificar que para as habilidades físicas,
técnicas e tática, atletas e treinador concordaram que a eficácia atlética melhorou.
Já sobre as habilidades psicológicas, enquanto os atletas perceberam melhoras, o
treinador notou piora em todos os itens, com exceção da variável ‘preparação
psicológica para a luta’. O Teste de Wilcoxon mostrou que, mesmo com os
aumentos de notas na segunda coleta de dados em comparação com a primeira,
houve melhora significativa percebida em poucos itens: os atletas perceberam
melhora significativa em apenas três itens (‘velocidade’ / ‘técnicas de pé ou perna’ /
‘postura defensiva durante vantagem’); já o treinador concordou com os atletas
sobre as melhoras significativas dos itens ‘velocidade’ e ‘técnicas de pé ou perna’ e,
além disso, ele também notou melhora significativa em todos os itens que
investigavam técnicas de luta de solo e na única variável psicológica que percebeu
aumento de eficácia (‘preparação psicológica para a luta’). Esses dados vão ao
encontro dos resultados encontrados por Marcos et al. (2012) que verificaram
melhora na percepção da eficácia coletiva de jogadores de futebol no final da
temporada.
É importante observar que a literatura afirma que as habilidades esportivas (físicas,
técnicas, táticas e psicológicas) são adquiridas e aprimoradas ao longo do tempo de
dedicação ao esporte, com treinos eficazes e experiências competitivas e, por isso,
tendem a melhorar com o tempo (LEMUS et al., 2011; NICHOLLS et al., 2009;
SILVA, 2015). Entretanto, foi interessante observar que o treinador notou piora das
habilidades psicológicas de seus atletas ao longo do tempo, contrariando os autores
descritos acima.
109
Copetti (2001) e Lent e Lopez (2002) explicam que a percepção que uma terceira
pessoa tem sobre as habilidades e capacidades de alguém (percepção do treinador
sobre a eficácia dos atletas) é formada a partir da maneira como o indivíduo
demonstra possuir essa habilidade. No caso das habilidades psicológicas, a
percepção de eficácia torna-se mais subjetiva, pois os atletas podem não conseguir
demonstrar de maneira mensurável o desenvolvimento dessas habilidades, já que
muitas são encobertas. Copetti (2001) afirma que para a percepção de uma
habilidade ser positiva é necessário que o atleta tenha sucesso nos treinos e
competições. Entre os momentos de avaliação dessa dissertação, os atletas
participaram de apenas uma competição, o que cria a hipótese de que não houve
oportunidade para o treinador notar melhora das habilidades psicológicas (menos
observáveis que as demais em treinamentos). Podemos hipotetizar também que
pelo fato do treinador ter sido um atleta olímpico convencional, seu grau de
exigência quanto às habilidades psicológicas era maior, pois as considerava como
relevantes em se pensando no desempenho em competições internacionais.
Mesmo com o treinador percebendo piora nessas habilidades, os atletas notaram
aprimoramento das habilidades psicológicas ao longo do tempo, demonstrando que
a percepção de autoeficácia dos atletas aumentou em todas as habilidades
estudadas. Bandura (1982) enfatiza a relação direta entre o aumento progressivo da
autoeficácia e o aumento no desempenho atlético. A autoeficácia positiva influencia
positivamente a motivação do atleta para se empenhar nos treinamentos
preparatórios para a competição e estabelecer metas mais desafiadoras de serem
alcançadas. Além do mais, também atua sobre os esquemas cognitivos fazendo
com que o atleta encontre previamente soluções para potenciais problemas e realize
mentalizações positivas sobre seu desempenho (BANDURA, 1982, 1989, 2000).
Mesmo não havendo grande número de correlações significativas entre a percepção
de atleta e treinador no segundo momento de coleta, é possível notar, através do
delta percentual, que ambos observaram melhoras das habilidades físicas, técnicas
e táticas. Infere-se, como já mencionado acima, que os critérios utilizados por
treinador e atletas para a avaliação da eficácia atlética tenham sido diferentes e por
isso não apresentaram concordância; principalmente sobre as habilidades técnicas
em que a concordância diminuiu no segundo momento, mesmo atletas e treinador
percebendo melhoras (JOWETT; POCZWARDOWSKI, 2007). Porém, é muito
110
importante que o treinador identifique melhora em seus atletas ao longo do tempo,
pois, dessa forma, o treinador conseguirá influenciar positivamente a percepção de
autoeficácia dos atletas, gerando um ambiente motivador para o aprimoramento das
habilidades esportivas (BANDURA, 2001; COPETTI, 2001; HEUZÉ et al., 2006;
HOYT et al, 2003).
112
O objetivo dessa dissertação foi avaliar a percepção de autoeficácia competitiva de
atletas na Seleção Paralímpica de Judô e a percepção do treinador sobre a eficácia
competitiva de seus atletas. Investigou-se a percepção de ambos sobre as
habilidades psicológicas, físicas, técnicas e táticas em dois momentos distintos
(janeiro e maio/2016) e, posteriormente foi verificado o grau de concordância entre
as avaliações de atletas e treinador durante os dois momentos. Avaliou-se também
se houve mudanças da percepção de treinador e atletas sobre a eficácia atlética ao
longo do tempo.
De acordo com os resultados encontrados na presente dissertação, é possível
concluir que judocas e treinador passaram a perceber a eficácia das habilidades
físicas e psicológicas dos atletas de maneira mais parecida, conforme o aumento do
tempo de relacionamento entre eles, havendo maior concordância da percepção de
ambos na segunda avaliação. Entretanto, as variáveis técnicas apresentaram
diminuição da concordância de percepção de atleta e treinador, apesar de ambos
notarem melhora destas variáveis ao longo do tempo.
A partir dessas constatações, pode-se considerar que o tempo de treinamento e, por
consequente, de relacionamento entre o treinador e os atletas tenha colaborado
para uma maior concordância da percepção de ambos sobre a eficácia física e
psicológica dos atletas. Acredita-se que o tempo de relacionamento de treinador e
atletas entre a última avaliação (maio/2016) e a competição dos Jogos Paralímpicos
de 2016, que ocorreu em setembro deste ano (competição para a qual os atletas
estavam se preparando durante as avaliações), tenha ajustado ainda mais a
concordância da percepção de ambos sobre a eficácia dos atletas. Porém, verificar
essa hipótese foi uma delimitação deste estudo, uma vez que não foi possível
realizar uma terceira avaliação momentos antes dos Jogos.
Outro resultado interessante dessa dissertação foi que tanto atletas quanto treinador
perceberam melhoras ao longo do tempo sobre a eficácia atlética das habilidades
físicas, técnicas e táticas, apesar das concordâncias entre as percepções dessas
habilidades serem significativas em apenas um item investigado (‘potência de
golpes’ – variável física). Já em relação às variáveis psicológicas, nota-se que não
foram observadas melhoras estatisticamente significativas entre as avaliações dos
atletas, enquanto que entre as avaliações do treinador, apenas uma variável
113
apresentou melhora significativa (‘preparação psicológica para a luta’). O que mais
chama a atenção é o fato de que para os atletas há melhora em quase todos os
itens dessas habilidades quando se analisa o Δ%, e o oposto acontece com o
treinador, que observa piora em todos os itens com exceção de ‘preparação
psicológica para a luta’.
Esses dados permitem levantar algumas especulações acerca dos critérios de
avaliação de atletas e treinador serem diferentes quanto às habilidades esportivas.
Talvez por ter sido um atleta olímpico de judô, o treinador parece possuir um grau de
exigência maior do que os próprios atletas sobre a eficácia destes o que pode ter
levado a poucas concordâncias significativas entre as percepções. Além do mais,
com a proximidade dos Jogos Paralímpicos, o treinador pode possuir um grau de
exigência de melhoras das habilidades esportivas mais próximo do que os atletas
necessitariam durante a competição para a qual estavam se preparando.
Esse foi o primeiro estudo a identificar a percepção de eficácia de atletas
paralímpicos tanto na perspectiva dos próprios atletas quanto na perspectiva do
treinador. Diferenças de percepção podem trazer consequências negativas para a
qualidade do relacionamento entre eles. Um potencial percurso para a intervenção
prática através da observação desses dados está em se poder elaborar ações que
visem o estreitamento de critérios de percepção de eficácia entre atletas e treinador.
Há que se considerar, em tudo isso, que discrepâncias de opiniões serão inevitáveis.
Porém, é importante que elas sejam reduzidas para que se possa trabalhar com
uma equipe coesa e com autoeficácia positiva.
115
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YANG, S. X.; JOWETT, S.; CHAN, D. K. C. Effects of big-five personality traits on the quality of relationship and satisfaction in Chinese coach–athlete dyads. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, v. 25, n. 4, p. 568-580, 2015
TERMO DE RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO
O Coordenador Técnico da Seleção Brasileira Paralímpica de Judo, Sr. Jaime Roberto
Bragança, autoriza a psicóloga Carolina de Campos, aluna do curso de mestrado em
Educação Física da Universidade São Judas Tadeu - SP e participante do Grupo de
Estudos em Psicologia do Esporte - CNPq, sob orientação da Prof Dr̂ Maria Regina
Ferreira Brandão a realizar a pesquisa intitulada "Competência Esportiva de
Competição: uma comparação entre as percepções do técnico e do atleta", com atletas
da Seleção Brasileira Paralímpica de Judo convocados no ano de 2015.
O objetivo da pesquisa é comparar as percepções de autoefícácia competitiva dos atletas
com a percepção dos mesmos aspectos pelo treinador da equipe, sob a luz da Teoria
Social Cognitiva de Albert Bandura.
A Coleta de dados será feita em horário a ser combinado com os atletas e comissão
técnica, através de escalas a serem aplicadas individualmente para cada atleta e para o
treinador da equipe. Ambos (atletas e treinador) deverão, previamente, concordar em
participar da pesquisa assinando pessoalmente o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
Os dados coletados não servirão para a classifícação e convocação de atletas para as
competições, sendo utilizados apenas para fms de estudo e publicações em revistas
científicas, respeitando-se o sigilo e anonimato dos atletas.
São Paulo, 3 de abril de 2015
Coordenador Técnico
APÊNDICES
Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (atleta)
Apêndice 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (treinador)
Apêndice 3 – Questionários respondidos pelos atletas
Apêndice 4 – Questionários respondidos pelo treinador
Apêndice 5 – Descrições dos itens investigados nos questionários de eficácia
APÊNDICE 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Atleta)
TÍTULO DA PESQUISA: COMPETÊNCIA ESPORTIVA DE COMPETIÇÃO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES DO TÉCNICO E DO ATLETA
Eu, __________________________________________________________, data
de nascimento: ____/_____/_________, documento de identidade
tipo:_________________ n° _______________________________________,
endereço: ______________________________________________________,
telefone:_______________________ e-mail:___________________________,
abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como
voluntário da pesquisa COMPETÊNCIA ESPORTIVA DE COMPETIÇÃO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES DO TÉCNICO E DO ATLETA, sob
responsabilidade da pesquisadora Carolina de Campos e da orientadora Maria
Regina Ferreira Brandão, da Instituição de ensino Universidade São Judas Tadeu,
Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte – CNPq.
Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:
1. Essas informações estão sendo fornecidas para minha participação voluntária
neste estudo, que visa investigar a percepção de eficácia de competência
esportiva de competição, comparando as percepções dos atletas com as do
treinador.
2. Irei responder a escalas com a finalidade de se obter dados sobre a
percepção de eficácia durante o momento competitivo. O preenchimento
destes instrumentos terá duração de 10 (dez) minutos em média.
3. O pesquisador se compromete a utilizar as informações obtidas pelos
questionários somente para fins desta pesquisa.
4. Os procedimentos para este estudo apresentam risco mínimo de
constrangimento pelo teor das perguntas, mas caso eu não me sinta à
vontade poderei interromper a qualquer momento minha participação na
pesquisa e retornar se tiver interesse. Estou ciente também que, em casos de
maiores incômodos com minha participação no estudo, posso procurar
atendimento psicológico gratuito na clínica de psicologia da Universidade São
Judas Tadeu.
5. As informações obtidas serão tratadas de forma confidencial e não haverá a
identificação de nenhum dos participantes.
6. Tenho direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das
pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do
conhecimento dos pesquisadores.
7. Os resultados gerais obtidos por meio da pesquisa serão utilizados apenas
para alcançar os objetivos do estudo exposto acima, incluída sua ampla
publicação na literatura científica especializada.
8. Não há despesas pessoais para mim em qualquer fase do estudo. Também
não há compensação financeira relacionada à minha participação. Toda e
qualquer despesa será de responsabilidade das pesquisadoras.
9. Em qualquer etapa do estudo, terei acesso às profissionais responsáveis pela
pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas, sendo elas: Psicóloga
Carolina de Campos, que pode ser encontrada no telefone (11)99730-0080 ou no
endereço Rua Taquari, 546 - Mooca - São Paulo/SP (Universidade São Judas
Tadeu) e Profa. Dra. Maria Regina Ferreira Brandão.
10. Poderei contatar o comitê de ética em pesquisa da Universidade São Judas
Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa
através do telefone: (11) 2799-1946.
Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a
serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de
esclarecimentos permanentes.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que
foram lidas para mim, descrevendo o estudo “COMPETÊNCIA ESPORTIVA DE
COMPETIÇÃO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES DO TÉCNICO E
DO ATLETA”.
Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu
consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades
ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu
atendimento neste Serviço.
Este termo de consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em
meu poder e a outra com a pesquisadora. Ambas as vias tem todas as páginas
rubricadas pela pesquisadora e por mim.
________________________________
Assinatura do voluntário
Data ____/ ____/ ________
(Somente para o responsável do projeto)
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e
Esclarecido deste participante para a participação neste estudo.
______________________________________
Assinatura do responsável pelo estudo Data ____/ ____/ ________
APÊNDICE 2
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Treinador)
TÍTULO DA PESQUISA: COMPETÊNCIA ESPORTIVA DE COMPETIÇÃO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES DO TÉCNICO E DO ATLETA
Eu, __________________________________________________________, data
de nascimento: ____/_____/_________, documento de identidade
tipo:_________________ n° _______________________________________,
endereço: __________________________________________,
telefone:______________________ e-mail:___________________________,
abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como
voluntário da pesquisa COMPETÊNCIA ESPORTIVA DE COMPETIÇÃO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES DO TÉCNICO E DO ATLETA, sob
responsabilidade da pesquisadora Carolina de Campos e da orientadora Maria
Regina Ferreira Brandão, da Instituição de ensino Universidade São Judas Tadeu,
Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte – CNPq.
Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:
1. Essas informações estão sendo fornecidas para minha participação voluntária
neste estudo, que visa investigar a percepção de competência esportiva de
competição, comparando as percepções dos atletas com as do treinador.
2. Irei responder a escalas com a finalidade de se obter dados sobre a
percepção de eficácia que tenho dos atletas da Seleção Brasileira
Paralímpica de Judô durante o momento competitivo destes. O
preenchimento destes instrumentos terá duração de 10 (dez) minutos em
média.
3. As informações obtidas com a pesquisa serão sigilosas e não serão usadas
para critérios de convocações dos atletas para treinamentos, bem como
competições de níveis nacionais e internacionais.
4. O pesquisador se compromete a utilizar as informações obtidas pelos
questionários somente para esta pesquisa.
5. Os procedimentos para este estudo apresentam riscos mínimos de
constrangimento pelo teor das perguntas, mas caso eu não me sinta à
vontade poderei interromper a qualquer momento minha participação na
pesquisa e retornar se tiver interesse. Estou ciente também que, em casos de
maiores incômodos com minha participação no estudo, posso procurar
atendimento psicológico gratuito na clínica de psicologia da Universidade São
Judas Tadeu.
6. As informações obtidas serão tratadas de forma confidencial e não haverá a
identificação de nenhum dos participantes.
7. Tenho direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das
pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do
conhecimento dos pesquisadores.
8. Os resultados gerais obtidos por meio da pesquisa serão utilizados apenas
para alcançar os objetivos do estudo exposto acima, incluída sua ampla
publicação na literatura científica especializada.
9. Não há despesas pessoais para mim em qualquer fase do estudo. Também
não há compensação financeira relacionada à minha participação. Toda e
qualquer despesa será de responsabilidade das pesquisadoras.
10. Em qualquer etapa do estudo, terei acesso às profissionais responsáveis pela
pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas, sendo elas: Psicóloga
Carolina de Campos, que pode ser encontrada no telefone (11)99730-0080 ou no
endereço Rua Taquari, 546 - Mooca - São Paulo/SP (Universidade São Judas
Tadeu) e Prof. Dra. Maria Regina Ferreira Brandão.
10. Poderei contatar o comitê de ética em pesquisa da Universidade São Judas
Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa
através do telefone: (11) 2799-1946.
Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a
serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de
esclarecimentos permanentes.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que
foram lidas para mim, descrevendo o estudo “COMPETÊNCIA ESPORTIVA DE
COMPETIÇÃO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES DO TÉCNICO E
DO ATLETA”.
Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu
consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades
ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu
atendimento neste Serviço.
Este termo de consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em
meu poder e a outra com a pesquisadora. Ambas as vias tem todas as páginas
rubricadas pela pesquisadora e por mim.
____________________________________________
Assinatura do voluntário Data ____/ ____/ ________
(Somente para o responsável do projeto)
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e
Esclarecido deste participante para a participação neste estudo.
____________________________________________
Assinatura do responsável pelo estudo Data ____/ ____/ ________
APÊNDICE 3 – QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELOS ATLETAS
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DEMOGRÁFICA
ATLETA
Nome Completo: _____________________________________________________
Gênero: ( ) masculino / ( ) feminino
Idade: __________________ Data de Nascimento: ____/ ____/ _______
Escolaridade: ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior ( ) Pós-Graduação (Especialização) ( ) Pós Graduação (Mestrado) ( ) Pós-Graduação (Doutorado)
Deficiência: _________________________________________________________
Motivo da deficiência: __________________________________________________
Grau da deficiência (porcentagem/categoria): _______________________________
Há quanto tempo é deficiente: ___________________________________________
Tempo de experiência no judô (idade/data que começou): _____________________
Lutava antes de ser deficiente: ( ) Sim ( ) Não
Está na seleção desde ____/ ____/_____ Houve intervalos? __________________
Categoria em que luta: _________________________________________________
Nível de competições já disputadas:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Principais conquistas como atleta:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Nome: _____________________________________________________________
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES PSICOLÓGICAS
ESPORTIVA EM COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis psicológicas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie sua habilidade atual em cada uma delas obedecendo
à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não posso fazer
Posso fazer moderada-
mente
Sempre posso fazer
Variáveis Avaliação
Concentração 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Resistência de Concentração 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Recomposição Psicológica após a luta
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Controle Emocional 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Preparação Psicológica para luta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tomada de decisão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Gerenciamento de adversidades 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nome: _____________________________________________________________
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES FÍSICAS EM
COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis físicas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie sua habilidade atual em cada uma delas obedecendo
à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não posso fazer
Posso fazer moderada-
mente
Sempre posso fazer
Variáveis Avaliação
Resistência durante a luta (anaeróbia)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Força em relação aos meus adversários
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Velocidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Potência dos Golpes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Recuperação após as lutas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nome: _____________________________________________________________
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES TÉCNICA EM
COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis técnicas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie sua habilidade atual em cada uma delas obedecendo
à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não posso fazer
Posso fazer moderada-
mente
Sempre posso fazer
Variáveis Avaliação
Pegada 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Postura 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Movimentação na luta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de braço (TE WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Transição da luta em pé para a luta de solo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Defesa na luta de solo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nome: _____________________________________________________________
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES TÁTICAS EM
COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis táticas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie sua habilidade atual em cada uma delas obedecendo
à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não posso fazer
Posso fazer moderada-
mente
Sempre posso fazer
Variáveis Avaliação
Atitude ofensiva para jogar e vencer o adversário
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Postura ofensiva para reverter uma luta que estou perdendo (jogar o adversário ou força-lo a ser punido)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Postura defensiva quando estou em vantagem na luta (sem sofrer punições)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
APÊNDICE 4 - QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELO TREINADOR
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DEMOGRÁFICA
TREINADOR
Gênero: ( ) masculino / ( ) feminino
Idade: __________________ Data de Nascimento: ____/ ____/ _______
Escolaridade: ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior ( ) Pós-Graduação (Especialização) ( ) Pós Graduação (Mestrado) ( ) Pós-Graduação (Doutorado)
Está na seleção como treinador desde ____/ ____/_____
Como se tornou um treinador paralímpico?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Exerceu outras funções na Seleção além de treinador: ( ) Sim ( ) Não
Se sim, quais e em qual período
___________________________________________________________________
Já foi atleta da modalidade: ( ) Sim ( ) Não
Se sim, quais os níveis de competição já disputadas:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Quais foram suas principais conquistas como treinador:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES PSICOLÓGICAS
ESPORTIVA EM COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis psicológicas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie a habilidade atual do atleta _____________________
em cada uma delas obedecendo à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não pode fazer
Pode fazer moderada-
mente
Sempre pode fazer
Variáveis Avaliação
Concentração 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Resistência de Concentração 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Recomposição Psicológica após a luta
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Controle Emocional 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Preparação Psicológica para luta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tomada de decisão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Gerenciamento de adversidades 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES FÍSICAS EM
COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis físicas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie a habilidade atual do atleta _____________________
em cada uma delas obedecendo à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não pode fazer
Pode fazer moderada-
mente
Sempre pode fazer
Variáveis Avaliação
Resistência durante a luta (anaeróbia)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Força em relação aos meus adversários
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Velocidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Potência dos Golpes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Recuperação após as lutas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES TÉCNICAS EM
COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis técnicas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie a habilidade atual do atleta
____________________________ em cada uma delas obedecendo à seguinte
escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não pode fazer
Pode fazer moderada-
mente
Sempre pode fazer
Variáveis Avaliação
Pegada 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Postura 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Movimentação na luta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de braço (TE WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Transição da luta em pé para a luta de solo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Defesa na luta de solo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE HABILIDADES TÁTICAS EM
COMPETIÇÃO
Abaixo se encontra uma lista de variáveis táticas vivenciadas durante as
competições. Por favor, avalie a habilidade atual do atleta _____________________
em cada uma delas obedecendo à seguinte escala:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quase
não pode fazer
Pode fazer moderada-
mente
Sempre pode fazer
Variáveis Avaliação
Atitude ofensiva para jogar e vencer o adversário
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Postura ofensiva para reverter uma luta que estou perdendo (jogar o adversário ou força-lo a ser punido)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Postura defensiva quando estou em vantagem na luta (sem sofrer punições)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
APÊNDICE 5
DESCRIÇÕES DOS ITENS INVESTIGADOS NOS QUESTIONÁRIOS DE
EFICÁCIA
CAPACIDADES PSICOLÓGICAS
Item Significado
Concentração capacidade de focalização da atenção em sinais
importantes do contexto esportivo
Resistência de concentração
manutenção da concentração durante os diferentes momentos da competição
Recomposição psicológica após a luta
habilidade de se recompor após uma luta, independente do resultado ter sido favorável ou não
Controle Emocional capacidade em lidar com as emoções que surgem em
situações da competição
Preparação Psicológica para a luta
execução de estratégias mentais antes da competição
Tomada de decisão elaboração de planos de ação e sua execução durante a
competição
Gerenciamento de adversidades
lidar com as adversidades encontradas durante as lutas de maneira que estas não interfiram nas decisões futuras
dentro da mesma competição.
CAPACIDADES FÍSICAS
Item Significado
Resistência durante a luta (anaeróbia)
energia liberada por unidade de tempo pelo organismo
Força em relação aos meus adversários
capacidade física que permite que um músculo, ou grupo de músculos, produza tensão e vença uma resistência na
ação de empurrar, tracionar ou elevar
Potência dos Golpes força muscular desempenhada durante as execuções dos
golpes
Velocidade realizar movimentos no menor tempo possível ou reagir
rapidamente a um sinal
Recuperação após as lutas
recuperação da capacidade física após as lutas
CAPACIDADES TÉCNICAS
Item Significado
Pegada formas de segurar o judogui
Postura postura natural do corpo e postura defensiva durante a luta
Movimentação na luta formas de deslocamento no tatame
Técnicas de pé ou perna (ASHI WAZA)
técnicas de projeção em pé utilizando as pernas
Técnicas de braço (TE WAZA)
técnicas de projeção em pé utilizando os braços
Técnicas de quadril (KOSHI WAZA)
técnicas de projeção em pé utilizando o quadril
Técnicas de sacrifício (SUTEMI WAZA)
técnicas em que o judoca precisa “sacrificar” sua posição de vantagem e cair junto com o oponente
Técnicas de luta de solo (KATAME WAZA)
técnicas utilizadas no combate de solo como imobilização, estrangulamento e chave articular
Transição da luta em pé para a luta de solo
capacidade de mudar a luta em pé para a luta em solo (katame waza)
Defesa na luta de solo capacidade de se defender das técnicas utilizadas na luta
de solo
CAPACIDADES TÁTICAS
Item Significado
Atitude ofensiva para jogar e vencer o adversário
Conseguir vencer/pontuar quando a luta está empatada
Postura ofensiva para reverter uma luta que está perdendo (jogar o adversário ou
força-lo a ser punido)
Conseguir vencer a luta que está perdendo
Postura defensiva quando está em vantagem na luta (sem sofrer punições)
Conseguir se defender mantendo a vantagem na luta sem sofrer punição