Carta aberta à Presidente Dilma Roussef

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Artigo publicado no jornal Diário da Manhã, em Goiás

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  • 1. Resposta Presidente Dilma Roussef Recentemente, a senhora disse que "cabe a todos ns, servidores pblicos, responder essas vozes" que clamam por solues para as mazelas de nosso pas e por qualidade nos servios pblicos. Sou servidora pblica desde 1990 e h 4 anos sou concursada.Tive a oportunidade de trabalhar muito com o PT e conheci bem de perto as teorias que me convenceram a acreditar nos programas do seu partido. Fui militante. Sai por no ver acontecer nada do que era a proposta inicial. J no primeiro discurso de posse de Lula, fiquei desapontada e aos poucos percebi que estava acontecendo com o PT, o que eu previ em 1993. Aqui estamos. Luto muito para defender o que aprendi quando estive no PT, no desistirei nunca! Ento, peo V. Excelncia, que se atente s mudanas de concepo que se fazem necessrias nesta era de transformaes socioeconmicas. O Prof. Mrcio Pochmann, doutor em Cincia Econmica, j disse que continuamos discutindo as condies de trabalho como herdeiros do capitalismo do sculo XX, afirmando que preciso considerar que estamos diante de uma nova possibilidade tcnica de organizao do trabalho, com jornadas dirias menores e ingresso no mercado de trabalho somente aos 25 anos, considerando que antes, a pessoa deve ser totalmente integrada a uma educao que deve ser recebida ao longo de toda sua vida, diante da complexidade da sociedade contempornea. Chega de no ver que a juventude serve de mo de obra barata e ocupa vagas que serviriam para chefes de famlia e que o baixo poder de compra salarial remete famlias inteiras ao mercado de trabalho, aumentando o exrcito de reserva. E que as famlias, quase nunca conseguem garantir aos seus membros, sade, educao, lazer, moradia e transporte com dignidade mnima, nos servios pblicos, embora os tributos fiscais destinados a garantir estes direitos bsicos, onerem mercado e sociedade. O trabalho na juventude , estatisticamente, motivo de evaso escolar, e esta a causa da falta de qualificao profissional no mercado. Quero aqui, discordar da forma com que tratada a questo do trabalho. Da idia purista de que o trabalho dignifica o homem, mas que no pondera que o trabalho no uma exclusividade material ou fsica, considerando que ele tambm se resulta de atividade afetiva (emocional) e intelectual (cognitiva). Na verdade, acredito que se pensarmos bem, no permitiremos a entrada de pessoas em formao, no mercado de trabalho, pois este um campo perigoso, pernicioso mesmo, repleto de maus costumes e de explorao. Alm do mais, ao adentrar o mercado, o (a) jovem passa a ser responsvel por si, a ir e vir por conta prpria; em contrapartida, tem menos tempo para o convvio familiar, para os estudos, o lazer; adquire maus hbitos pessoais e sociais. Tambm no comungo das maravilhas das creches e escolas integrais. Estas, devem valer como opo, no condio ou ideal. a famlia que deve criar seus filhos, no o Estado. A prerrogativa das escolas integrais e creches parte da idia desenvolvimentista, e deveria ter sido efetivada nos idos dos anos 70, mas j no servem para este sculo, quando a desacelarao do tempo e a convivncia familiar e social, alm dos hbitos sociais, exigem novos comportamentos; Quando pensamos em sade, apenas reclamamos sobre as condies para o tratamento de doenas, raramente pensando ou interferindo para que a doena no acometa. Bertrand Russel, em O Elogio ao cio, afirma categoricamente, que a moral do trabalho uma moral de escravos, e o mundo moderno no precisa de escravido. Russel, nos anos de 1935, j defendia quatro horas dirias de trabalho e dizia que s assim haver felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fadiga e m digesto. Neste caso, a previdncia social pode contribuir com dados sobre idades e problemas de sade que demandam afastamentos remunerados e aposentadorias precoces. Costumo dizer que o mercado de trabalho estraga e o INSS paga... O Brasil precisa pensar no lazer de sua populao, garantindo por exemplo, o funcionamento de parques pblicos em turno noturno, durante a semana, e 24 horas nos finais de semana, com a devida segurana e espaos para alimentao saudvel e recreao completa (arvorismo, jogos de

2. vlei, squash, basquete, tnis de mesa etc. e tambm concertos, shows de arte, biblioteca, cafenet, clubes de leitura, do vdeo, videoteca e oficinas permanentes diversas, como: de arte, de produo, de beleza e sade, educativas para o meio ambiente, as vocaes, as relaes, o trabalho voluntrio), para pessoas que cumprem turnos irregulares de trabalho, considerando que o setor privado, investe em lazer e entretenimento, mas no se preocupa com os efeitos do que oferecem e trabalham 24 horas por dia. So bares, boates, lan houses, festas psicodlicas, postos de convenincia. A escala industrial. No setor pblico, a escala artesanal, e os resultados, podemos ver: violncia nas noites, toxicomanias, insatisfao pessoal, egocentrismo e perda de vrios valores humanos coletivos essenciais, em uma sociedade ftil, com apego em valores efmeros e sem preocupao com a sade e com a vida. fundamental constituirmos um Movimento junto a trabalhadores (as), patroas e patres, em uma ao genuinamente voltada para o bem comum, os ideais coletivos e a emancipao do homem, atravs do investimento na produo do pensamento coletivo acerca das questes humanas, associando a prtica cotidiana aos ideais tericos, atravs de estratgias da administrao de empresa; que de forma inteligente, se destine a contribuir com um mundo de vidas mais felizes, com significados positivos. Na pauta deste Movimento, questes como diminuio de jornada de trabalho, direitos e deveres trabalhistas e patronais, entre outros temas relevantes que afetem diretamente a classe trabalhadora e a sociedade em geral, requalificando postos de trabalho e refletindo sobre condies e modernizao do trabalho, no sentido de ampliarmos o grau de satisfao de patres, trabalhadores e usurios dos servios e produtos oferecidos, pois no apenas o setor pblico que carece de mudanas e seriedade em sua conduo; a realidade econmica mundial nos remete a obrigao de buscarmos novos rumos para o consumo e a produo de bens e servios, que garantam padro de qualidade e sustentabilidade socioambiental. A diversidade de opes do mercado exige competitividade. Por outro lado, administradores modernos indicam a viso de futuro como sendo quesito para qualquer empreendimento de sucesso, alm do investimento no capital humano, com treinamentos e assistncia aos funcionrios, que acabam melhorando a produtividade, buscando realmente a inovao de alguns valores, regras e comportamentos, tanto no mercado quanto na sociedade como um todo. A consolidao dos direitos humanos s se dar com novas relaes que no indiquem explorado e explorador, na superao da viso mercadolgica do arcaico capitalismo selvagem, onde tudo mercadoria, onde o lucro e a vantagem so premissas bsicas. tempo de investirmos em uma discusso fundamental, de acordo com Freud, para a nossa felicidade, enquanto humanidade: a nossa sexualidade. O aborto, os inmeros e at os ignorados estupros que sabemos que existem, em nosso pas, a violncia domstica, a iniciao sexual e gravidez precoce. Ora, se nossa sociedade joga feto/beb vivo no lixo, ou se mata antes de jogar, isto no problema de foro ntimo, apenas. Se nossos homens (moos, at) se comportam como bestas, como animais rupestres, e estupram, violentam, desacolhem suas crias (mesmo que sejam frutos de relao extempornea), isto uma questo de sade mental, cultural e de educao e de segurana sim, uma questo de Estado. Ora, se mulher no quer filho, se preserve; existem vrios meios. No tem que jogar fora de uma vez por todas, o que penso. Nossa sociedade precisa entender a lei da ao e da reao. Bertrand Russel, em O Elogio ao cio, apregoa que necessria uma reforma educacional radical para que o conhecimento, o aprendizado e o saber sejam valorizados em si mesmo e para que o cio, a diverso e o lazer substituam o trabalho como atividades dignificantes. Nossa sociedade precisa parar de educar e de viver para satisfazer o mercado. Precisa pensar a vida que vive e a vida que quer, trabalhando neste sentido. O setor pblico precisa parar de governar para o mercado. Desenvolver polticas educacionais para alm da escola formal, utilizando-se para isto, da Assistncia Social, por exemplo, que deve fazer mais do que oferecer bolsas de auxlio. Precisa de uma Educao que alcance crianas e jovens e adultos, para uma sociedade que avance em sentido contrrio ao da barbrie que temos visto. O planejamento familiar, o estmulo aos bons hbitos da alimentao saudvel, da prtica 3. diria de atividades fsicas e a preocupao com o meio ambiente, retomando as discusses e atividades da antiga Agenda 21, so premissas bsicas para as mudanas que o Brasil enseja. Precisamos de investimentos em pesquisas nos campos da biologia, da tecnologia e tambm da sociologia e demais cincias humanas, nas quais quase nada, ou bem pouco, se investe. Trabalho com foco nestas questes aps estudos, desde 2000. Como j tentei muito argumentar estas questes nos espaos do PT, do PMDB e at do PSDB, em vo, e por constatar que a cada dia, so mais pertinentes, solicito a ateno de Vossa Excelncia. Alexandra Machado Costa, assistente social, poetisa, servidora da Prefeitura de Goinia/SMS