Carta da jamaica

9
com 0 testemunho de quantas pessoas respeitaveis havia entao no Novo Mundo e com os processos mesmos que os tiranos fizeram entre si, como testemunham os mais sublimes historiadores daquele tempo. Todos os que sac imparciais fizeram justi~a ao zelo, sinceridade e virtudes daquele amigo da humanidade, que com tanto fervor e firmeza denun- ciou, diante de seu govemo e seus contemporaneos, os atos mais horro- rosos de urn frenesi sanguim'irio. Com que grata emo~ao leio a passagem da carta de V. S.s em que me diz "que espera que os sucessos que se seguiram entao as armas espanholas, acompanhem agora as de seus contrarios, os muito oprimi- dos _a~.e~ic~~~~m_~r.i.?~~~'! Eu tome esta esperan~a por umapredi~ao, se a Justl~a decIde as contendas dos homens. 0 sucesso coroara nossos esfor~os porque 0 destino da America se fixou de maneira irrevogavel; o la~o que a unia a. E~panha esta .cortado: a opiniao era toda sua for~a, por eIa estreitavam-se mutuamente as partes daquela imensa mo- narquia; 0 que antes as enla~ava, hoje as divide; maior e 0 6dio que nos inspirou a peninsula do que 0 mar que nos separa dela' menos dificil e unir os dois continentes do que reconciliar os espfritos d; ambos. o habito a obedieiIcia, urn comercio de interesses, de luzes, de religiao, uma recfpro~a ben 7 volencia, uma terna aten~ao pelo ber~o e pel a gl6ria de nosso palS, enflm, tudo 0 que formava nossa esperan~a, nos vinba de Espanha. Daqui nascia urn princfpio de adesao que parecia etemo apesar d~ a conduta de nossos dominadores afrouxar esta simpatia OU, melhor dlzendo, este apego for~ado pelo imperio da domina~iio. Pre- sen~e~ente ocoree 0 contrario: a morte, a desonra, tudo quanta e nOClVO nos amea~a e tememos, tudo sofremos dessa desnaturalizada madrasta. .a veu foi rasgado, ja vimos a luz, e querem nos devolver as ~revas; romperam-se os ~ilhoes, ja fomos Iivres, e nossos inimigos pre- tendem novamente escraVIZar-nos. Por isso, a America combate deses- peradamente, e raras vezes 0 desespero nao acarreta a vit6ria. Porque os sucessos tenham sido parciais e altern ados nao devemos desconfiar da sorte. Numas regioes triunfam os independentes enquanto os tiranos, em outros lugares, obtem suas vantagens; equal e 0 resultado final? nao esta todo 0 N9,vo Mundo comovido e armado para sua defesa? Olhemos e veremos uma luta simultanea na imensa extensao deste hemisferio. a belicoso estado das provfncias do rio da Prata purificou seu territ6rio e conduziu suas arm as vencedoras ao Alto Peru, comovendo Arequipa e inquietando os realistas de Lima. Cerca de um milhiio de habitantes desfruta ali de sua Iiberdade. a reino do Chile, povoado por oitocentas mil almas, esta Iutando contra inimigos que pretendem domimi-Io, mas em vao, porque os que antes findaram suas conquistas, os indomitos e livres araucanos, ali Resposta de urn americano meridional a urn cavalheiro desta ilha. Apresso-me em responder a carta de 29 do mes passado que V. S.H fez a honra de dirigir-me e que eu recebi com a maior satisfa~ao. Senslvel, como devo, ao interesse que V. s.a tomou pelo destino de minha patria, afligindo-se com ela pelos tormentos que padece, desde seu descobrimento ate estes ultimos tempos, da parte dos seus destrui- dores, ?~ espanh6is, nao sinto menos 0 comprometimento que me colocam as sohcltas perguntas que V. s.a me dirige sobre as questoes mais importantes .da poHtica americana. Assim, encontro-me num conflito, entr~ 0 de:eJo de correspond,er a confian~a com que V. s.a me distingue e 0 unpedlmento de satlsfaze-Ia, seja pela falta de documentos e livros seja pelos limitados conhecimentos que tenho de uma terra tao imensa' variada e desconhecida como ° Novo Mundo. ' Em minha opiniao e imposslvel responder as perguntas com que V. s.a me honroll. Mesmo ~_~i!~~pde Humboldt, com sua universalidade de conhe~imentos teoricos e prMieos, dificnmente 0 faria com exatidao, porque~ amda que uma parte da estatfstica e revoIu~ao da America seja conhee!~a, .atrevo-me a assegurar que a maior parte esta obscura e, em conse9Uenela, apenas se podem oferecer conjecturas mais ou menos aproxlmadas, sobretudo no que diz respeito ao destino futuro e aos verdadeiros. pro!etos c10s arnericanos; pais, se tantas combina~6es nos fomece. a_hls!~na das na~6.es,. de tantas outras e suscetivel a nossa, pela suaposlc;ao fIslea, pelas VICIssitudes da guerra e peJos calculos da poHtica. Como me sinto obrigaclo a prestar aten~ao a apreciavel carta de V. S:~". nao menos .do que aos seus filantropicos objetivos, animo-me a dmglr-Ihe estas hnhas, nas quais certamente nao achara V. S.S as ideias luminosas que deseja, mas sim as ingenuas express6es dos meus pensamentos. "Ha tres seculos", diz V. s.a, "que come~aram as barbaridades que as espanhois cometeram no grande hemisferio de Colombo". Barbari- dades. que a presente era rechac;ou como fabulosas, porque parecem sup~nores a perversiclade humana - jamais seriam acreditadas pelos entIcos modernos se constantes e repetidos documentos nao testemu- nhassem estas infaustas verdades. 0 filantropico bispo de Chiapas, 0 apostolo da America, !--as Casas, legou a posteridade uma breve rela~ao c1elas, extrafclas dos sumarios Ievados a Sevilha apos os conquistadores, . Reproduzido de BoliVAR, Simon. Dbms camp/etas. v. I, p. 159-74. 3 A "Carta de Jamaica" c conhccida tambem· par "Carta Profetica".

Transcript of Carta da jamaica

Page 1: Carta da jamaica

com 0 testemunho de quantas pessoas respeitaveis havia entao no NovoMundo e com os processos mesmos que os tiranos fizeram entre si,como testemunham os mais sublimes historiadores daquele tempo. Todosos que sac imparciais fizeram justi~a ao zelo, sinceridade e virtudesdaquele amigo da humanidade, que com tanto fervor e firmeza denun-ciou, diante de seu govemo e seus contemporaneos, os atos mais horro-rosos de urn frenesi sanguim'irio.

Com que grata emo~ao leio a passagem da carta de V. S.s em queme diz "que espera que os sucessos que se seguiram entao as armasespanholas, acompanhem agora as de seus contrarios, os muito oprimi-dos _a~.e~ic~~~~m_~r.i.?~~~'! Eu tome esta esperan~a por umapredi~ao,se a Justl~a decIde as contendas dos homens. 0 sucesso coroara nossosesfor~os porque 0 destino da America se fixou de maneira irrevogavel;o la~o que a unia a. E~panha esta .cortado: a opiniao era toda suafor~a, por eIa estreitavam-se mutuamente as partes daquela imensa mo-narquia; 0 que antes as enla~ava, hoje as divide; maior e 0 6dio quenos inspirou a peninsula do que 0 mar que nos separa dela' menosdificil e unir os dois continentes do que reconciliar os espfritos d; ambos.o habito a obedieiIcia, urn comercio de interesses, de luzes, de religiao,uma recfpro~a ben7volencia, uma terna aten~ao pelo ber~o e pel a gl6riade nosso palS, enflm, tudo 0 que formava nossa esperan~a, nos vinbade Espanha. Daqui nascia urn princfpio de adesao que parecia etemoapesar d~ a conduta de nossos dominadores afrouxar esta simpatia OU,melhor dlzendo, este apego for~ado pelo imperio da domina~iio. Pre-sen~e~ente ocoree 0 contrario: a morte, a desonra, tudo quanta enOClVO nos amea~a e tememos, tudo sofremos dessa desnaturalizadamadrasta. .a veu foi rasgado, ja vimos a luz, e querem nos devolver as~revas; romperam-se os ~ilhoes, ja fomos Iivres, e nossos inimigos pre-tendem novamente escraVIZar-nos. Por isso, a America combate deses-peradamente, e raras vezes 0 desespero nao acarreta a vit6ria.

Porque os sucessos tenham sido parciais e altern ados nao devemosdesconfiar da sorte. Numas regioes triunfam os independentes enquantoos tiranos, em outros lugares, obtem suas vantagens; equal e 0 resultadofinal? nao esta todo 0 N9,vo Mundo comovido e armado para sua defesa?Olhemos e veremos uma luta simultanea na imensa extensao destehemisferio.

a belicoso estado das provfncias do rio da Prata purificou seuterrit6rio e conduziu suas arm as vencedoras ao Alto Peru, comovendoArequipa e inquietando os realistas de Lima. Cerca de um milhiio dehabitantes desfruta ali de sua Iiberdade.

a reino do Chile, povoado por oitocentas mil almas, esta Iutandocontra inimigos que pretendem domimi-Io, mas em vao, porque os queantes findaram suas conquistas, os indomitos e livres araucanos, ali

Resposta de urn americano meridional a urn cavalheiro desta ilha.Apresso-me em responder a carta de 29 do mes passado que V. S.H

fez a honra de dirigir-me e que eu recebi com a maior satisfa~ao.Senslvel, como devo, ao interesse que V. s.a tomou pelo destino

de minha patria, afligindo-se com ela pelos tormentos que padece, desdeseu descobrimento ate estes ultimos tempos, da parte dos seus destrui-dores, ?~espanh6is, nao sinto menos 0 comprometimento que me colocamas sohcltas perguntas que V. s.a me dirige sobre as questoes maisimportantes .da poHtica americana. Assim, encontro-me num conflito,entr~ 0 de:eJo de correspond,er a confian~a com que V. s.a me distinguee 0 unpedlmento de satlsfaze-Ia, seja pela falta de documentos e livrosseja pelos limitados conhecimentos que tenho de uma terra tao imensa'variada e desconhecida como ° Novo Mundo. '

Em minha opiniao e imposslvel responder as perguntas com queV. s.a me honroll. Mesmo ~_~i!~~pde Humboldt, com sua universalidadede conhe~imentos teoricos e prMieos, dificnmente 0 faria com exatidao,porque~ amda que uma parte da estatfstica e revoIu~ao da America sejaconhee!~a, .atrevo-me a assegurar que a maior parte esta obscura e, emconse9Uenela, apenas se podem oferecer conjecturas mais ou menosaproxlmadas, sobretudo no que diz respeito ao destino futuro e aosverdadeiros. pro!etos c10s arnericanos; pais, se tantas combina~6es nosfomece. a_hls!~na das na~6.es,. de tantas outras e suscetivel a nossa, pelasua poslc;ao fIslea, pelas VICIssitudes da guerra e peJos calculos da poHtica.

Como me sinto obrigaclo a prestar aten~ao a apreciavel carta deV. S:~". nao menos .do que aos seus filantropicos objetivos, animo-mea dmglr-Ihe estas hnhas, nas quais certamente nao achara V. S.S asideias luminosas que deseja, mas sim as ingenuas express6es dos meuspensamentos.

"Ha tres seculos", diz V. s.a, "que come~aram as barbaridades queas espanhois cometeram no grande hemisferio de Colombo". Barbari-dades. que a presente era rechac;ou como fabulosas, porque parecemsup~nores a perversiclade humana - jamais seriam acreditadas pelosentIcos modernos se constantes e repetidos documentos nao testemu-nhassem estas infaustas verdades. 0 filantropico bispo de Chiapas, 0

apostolo da America, !--as Casas, legou a posteridade uma breve rela~aoc1elas, extrafclas dos sumarios Ievados a Sevilha apos os conquistadores,

•. Reproduzido de BoliVAR, Simon. Dbms camp/etas. v. I, p. 159-74.3 A "Carta de Jamaica" c conhccida tambem· par "Carta Profetica".

Page 2: Carta da jamaica

habitam e sac seus compatriotas; seu exemplo sublime e suficiente paraprovar-Ihes que 0 povo que ama sua independencia finalmente a consegue.

o vice-reinado do Peru, cuja popula9ao sobe a urn milhao e meiode habitantes, e, sem duvida, 0 mais submisso e do qual mais sacrificiosse tern arrancado para a causa do rei; embora sejam frageis as infor-ma90es sobre aquela parte da America, e fora de duvida que nao estatranqiiila, nem e capaz de se opor Ii torrente que amea9a as demaisprovincias. ".

A Nova Granada, que e, por assim dizer, 0 cora9ao da America,obedece a urn governo geral, excetuando 0 feino de Quito - que coma maior dificuldade contern seus inimigos por ser fortemente ligado acausa de sua patria - e as provlncias de Panama e Santa Marta quesofrem, nao sem dor, a tirania de seus senhores. Dois milhoes e meiode habitantes estao espalhados por aquele territ6rio que atualmentedefendem contra 0 exercito espanhol sob 0 comando do general Morillo,que e posslvel sucumba diante da inexpugnavel prac;:ade Cartagena. Masse a tomar sera a custa de grandes perdas, e logo carecera de for9assuficientes para subjugar os morigerados e bravos moradores do interior.

Quanto Ii her6ica e iufeliz Venezuela, os acontecimentos tern sidotao rapidos e as devasta90es tais que quase a reduziram a uma absolutaindigencia e a uma solidao espantosa, apesar de ter sido urn dos maisbelos paises de quantos faziam 0 orgulho da America. Seus tiranosgovern am urn deserto; s6 oprimem tristes restos que, escapados da marte,aliment am uma precaria existencia: algumas mulheres, crian9as e velhossao os que permanecem. as demais homens pereceram par nao seremescravos, e os que vivem, combatem com furor nos campos e nas a1deiasinternas ate morrer ou conseguir lan9ar ao mar aqueles que, insaciaveisde sangue e de crimes, rivalizam com os primeiros monstros que fizeramdesaparecer da America sua ra9a primhiva. Cerca de um milhao dehabitantes se contava na Venezuela, e, sem exagero pode-se assegurarque uma quarta parte foi sacrificada pela terra, pela espada, pela fome,pela peste e pelas migrac;:oes- com exce9ao do terremoto, tudo 0 maise resultado da guerra.

Na Nova Espanha havia, em 1808, conforme nos informa 0 baraode Humboldt, 7.800.000 almas, incluindo-se a Guatemala. Desde aquelaepoca, a insurreic;:ao que agitou quase todas suas provincias fez dimiouirsensivelmente aquele computo - que parece exato -, pois mais de urnmilhao de homens pereceu, como podera V. s.a ver oa exposi9ao demr. Walton, que descreve com fidelidade os sanguinarios crimes come-tidos naquele opulento imperio. Ali a luta se mantem a custa de sacri-ffcios humanos e de toda especie, pois nada respeitam os espanh6isdesde que consigam submeter os que tiveram a desgra9a de nascer nestesolo, que parece destin ado a empapar-se com 0 sangue de seus filhos.

Apesar de tudo, os mexicanos seraa livres, porque abra9aram 0 partidoda patria, com a resolU9aO de vingar seus antepassados ou segui-Ios aosepulcro. J Ii dizem com Ravnal: chegou 0 tempo, finalmente, de pagaraos espanh6is 0 suplfcio com suplfcios e de afogar essa ra9a de extermi-nadores em seu sangue ou no mar.

As ilhas de Porto Rico e Cuba, que entre ambas podem formaruma popula9aO de 700 a 800.000 almas, sac as que mais tranqiiila-mente possuem os espanh6is, porque eslao fora do contato com asindependentes. Mas nao sao americanos estes insulares? nao sac humi-Ihados? nao dcsejam seu bem-estar?

Este quadro represent a uma escala militar de 2.000 legu9s de lon-gitude e 900 da latitude em sua maior extensao, em que 16.000.000 deamericanos defendem sellS direitos au estao oprimidos pela nac;:aoespa-nhola, que, embora tenha sido em algum tempo 0 rnaisvasto imperio domundo, e agora impotente para dominar 0 novo hemisferio e ale paramanter-se no antigo. E a Europa civilizada, comerciante e amante daliberdade, permite que uma velha serpente, para apenas satisfazer sua'sanha envenenada, devore a mais bela parte de nosso globo? 0 que!esta a Europa surda ao clamor de seu pr6prio interesse? Ja nao ternolhos para ver a justi9a? Tanto endureceu, para ser desse modo insen-slvel? Estas quesloes, quanto mais as medito, mais me confundem; chegoa pensar que se aspira a que desaparec;:a a America;'mas e impossivel,porque toda a Euro!?!,!na.9._.~a Espanha. Que demencia a da nossainimiga, Qreten9.~~conguistat;I.~_~medca, sem marinha, sem tesouro e.9.uas~~.em_~oJd.ad()~1Pois 0 que ela te'rnaifitlUl1ente bastarao para reterseu pr6prio povo numa violenta obediencia e defender-se de seus vizi-nhos. Por outro lado, podera esla na9aO fazer 0 comercio exclusivoda metade do mundo, ~_manufaturas,seI!!. PtQg!ol~Qestenitoriai:;,§e_~~~!esl sem~iel1cias, _sem.politic?? Conseguida que fosse esla Ioucaempr ~sa e,' supondo mais ainda, conseguida a pacificac;:ao, os fillios dosatuais americanos, unidos com as dos europeus reconquistadores, naovoltariam a formar dentm de vinte anos os mesmos patri6ticos designiosque agora estao combatendo?

A Europa faria bem a Espanha em dissuadi-la de sua obstinadatemeridade, porque esta, ao menos, economizaria os gastos que expendee 0 sangue que derrama, a fim de, fixando sua aten9ao em seus pr6priosrecintos, fundar sua prosperidade e poder' sabre bases mais s6lidas doque as de incertas conquistas, urn comercio precario e exa90es violentassobre povos distantes, inimigos e pOder.o.s~s.....A EuroQa mesma, visando \a uma poHtica sadia, dev~.ti~ ter preparad~ ..e ce.~e,C:!1tado0 projeto da~g~'p~!!..d~~~_a.!I!.erj~1!I!~,nao 'so·porque 0 equillbrio do mundo assim o·exige, mas porque ~~g_meio legitimo e.~.~gt!roAe adquirirem-se esta- .~~le~II1entos ultramarinos de comercio. 'A Europa, que nao se eric·oiitraagitada pelas violentas paixoesda vinganc;:a, ambic;:ao e cobic;:a, como a

Page 3: Carta da jamaica

Espanha, parece que estava autorizada por todas as leis da eqUidade ailustni-Ia sobre seus bem-entendidos interesses.

Todos os escritores que trataram da materia esHio de acordo nesteponto. Em conseqiiencia, cspenivamos com razao que todas as nac6escultas se apressariam a auxiliar-nos, para que adquirfssemos urn berncujas vantagens sac redprocas a ambos as hemisferios. Entretanto, quefrustradas esperan<;as! Nao apenas as europeus, mas tambem nossosirmaos do norte mantiveram-se im6veis expectadores desta luta, que, porsua essencia, 'e a mais justa, e par seus resultados, a mais bela e impor-tante de quantas ocorreram nos seculos antigos e modemos, pois ateonde se pode calcular a transcendencia da liberdade do hemisferio deColombo?

"A feIonia com que Bonaparte", diz v.s.a, "prendeu Carlos IV e Fer-nando VII, reis desta nal;ao, que tres seculos aprisionou de forma trai-l;oeira aos monarcas da America meridional, e um ato manifesto daretribui~ao divina, e, ao mesma tempo, uma prova de que Deus sustentaa justa causa dos americanos e Ihes concedenl sua independencia".

Parece que V. s.a quer aludir ao monarca do Mexico - Montezu-ma - preso por Cortes e morto, segundo Herrera, pelo mesmo, emboraSolis diga que foi morto pelo povo; e a Ataualpa, inca do Peru, destru!dopar Francisco Pizarro e Diego de Almagro. Tal e a diferenca que eXl~teentre a sorte dos reis espanh6is e dos rcis americanos que nao admltecompara<;ao: as primeiros sao tratados com dignidade, preservados e,ao fim recuperam sua liberdade e trono, enquanto os ultimos sofremtormentos inauditos e os vilipendiv.;mais vergonhosos. Se a Guatimozin,sucessor de Montezuma, se trata como imperador e se da a coroa, talfoi par irrisao e nao por respeito, para que sofresse este escamio antesdas torturas, Iguais a sorte deste monarca foram as do rei de Michoacan,C'ltzontzin, 0 zipa de Bogota e de todos os toquis, ima~, zipas, ulmens,caciques e demais dignidades indigenas que sucumbiram ao poder espa-nhol. A sorte de Fernando VII mais se parece a que teve no Chile,em 1535, 0 ulmem de Copiap6, entno reinante naquela comarca. 0espanhoJ Almagro pretextou, como Bonaparte, tamar partido pela causado legitimo soberano e, em conseqtiencia, chamou-o usurpador, comoFernando 0 era em Espanha; aparentando restituir 0 legitimo soberanoa seus Estados, terminou por agrilhoar e lancar as chamas ao infelizulmem, sem querer nem mesmo ouvir sua defesa. Este e 0 exemplo deFernando VII com seu usurpador. Os reis europeus padecem apenasdo desterro, a ulmem do Chile termina sua vida de urn modo atroz.

"Dcpois de alguns meses", acresccnta v.s.a, "fiz muitas reflexoes sabrea situal;ao dos americanos e suas esperanl;as futuras; tenho gra.ndeinteresse em seus sucessos, mas faltam-me muitas informa~oes relatlvasao sell estado atual e ao que eles aspiram; desejo infinitamente saber da

politica de cada provincia, como taml>emde sua popula~ao: se desejamrepublicas ou monarquias, se formario uma grande republica ou umagrande monarquia? Toda noticia desta esp6cie que V.S.a possa dar-me,ou indicar-me as fontes a que devo recorrer, considerarei como urnfavor particular".

Sempre as almas generosas interessam-se pela sorte de urn povo quese esmera por recobrar os direitos com que o~riado..! e a natureza 0dotaram' e necessario estar muito fascinado pelo engano ou pelas paix6espara na~ abrigar esta nobre sensa~ao: V. s.a pensou no meu pais e porele se interessa; este ate de benevolencia inspira-me 0 mais vivo reco-nhecimento.

Eu disse a popula~ao que se calcula por dados mais OU rnenosexatos, dados esses tornados falhos por mil circunstancias dificeis deremediar, porque a maioria dos moradores tern habita~6es campe~trese muitas vezes errantes, sendo lavradores, pastores, nomades, perdldosno meio dos espessos e imensos bosques, planicies solitarias e isoladasentre lagos e rios caudalosos. Quem sera capaz de levan tar uma esta-tistica completa de semelhantes comareas? Alem dos tributos que pagamos indigenas, as penalidades dos escravos, as primicias, dizimos e direitosque pesam sobre os lavradores e outros addentes distanciam de seuslares as pobres americanos. Isto sem fazer men~ao a guerra de exter-minio que ja segou cerca de um oitavo da populacao e afugentou umaoutra grande parte; as dificuldades sac insuperaveis e 0 recenseamentoreduzir-se-a a metade do verdadeiro censo.

Entretanto, torna-se mais dificil pressentir 0 destino futuro do NovoMundo, estabelecer prindpios sobre sua polftica e profetizar a naturezado governo que ira adotar. Qualquer ideia sobre 0 futuro deste conti-nente parece-me temeraria. Foi· possivel prever, quando 0 genero humane

. se achava em sua irifanda, rodeado de lanta incerteza, ignorancia eengano, qual seria 0 regime que abra<;aria para sua pre!'erva~ao? Quemse atreveria a dizer: tal na~ao sera republica ou monarquia, esta serapequena e aquela grande? Em meu conceito, esta e a imagem denossa situa~ao. Somos urn diminuto genera humane; possufmos urnmundo a parte, cercado por dilatados mares, novo em quase todas asartes e ciencias, embora,de certo modo, seja velho nos costumes dasociedade civil. Considero 0 estado atual da America semelhante aodesmembrado imperio romano, em que cada parte formou urn sistemapolitico de acordo com seus interesses e situa~ao ou seguindo a ambic;aoparticular de alguns chefes, familias ou corporac;6es; com esta notaveldiferenc;a, porem: aqueles membros dispersos voltavam a restabelecersuas antigas nac;6es com as altera<;6es que exigiam as coisas au osacontecimentos, enquanto nos apenas conservamos vestfgios do que fornosem outros tempos.Por ()utra..parte, nao somos indios nem europeus,·

Page 4: Carta da jamaica

mas uma especie intermedilhia ,~~ ?s I:~iti!lloS proprie!ari?s ..~~_conti-Dente e os usurpadores espanhOls: em suma, sendo ~mencanos por nas-clinento -e'nossosdireitos os da Europa, temos de dlsputar estes aos dopais e mantermo-nos nele contra a invasa? ?~S invasore~ - encontra-mo-nos, assim, na situa<;ao mais extraordmana e, comphcada. Ap.esarde ser uma forma de adivinha<;ao indicar qual sera 0 resultado da hnhapolitica que a America ha de seguir, alrevo-me a aventurar algumasconjecturas que, desde logo, carac~eri,z~ de ar~itr~~ias,. dit~~~"p~r .ll!lldesejo racional e nao por urn raclOcmlO provavel...:-A-posi~a~dos moradores d~ ~e~isferi~, americano ~~, ...d.u.!~nte.seculos meramente passiva: sua eXlslcnCla pohllca era nula. Estav~mosntim'g~a~ ainda mais baixo que a servidao e, por isso, com malOresdificuldades para elevarmo-nos ao gozo da ~berdade. Permit~-me V. s.aestas considera<;6es para estabelecer a questao. Os Estados sao escravospela natureza da sua Constitui<;ao ou pel? a.buso dela. Logo: .um povoe escravo quando 0 governo, por sua essencla ou por seus VICIOS,es~e-zinha e usurpa os direitos do cidadao ou sudito. Ap.licando estes p~n-dpios, veremos que a ~merica esta~a privada da sua. h~erda~e e tambemda tirania ativa e dommante. Exphco-me. Nas admlDlstra<;oes a~solutasnao se reconhecem limites no exerdcio das faculdades governativa~: avontade do grande sultao, ~<? ca, do bei e de outros soberanos desp6t1cose a lei suprema e' esta e quase arbitrariamente executada pelos pax~s,cas e satrap as subalternos da Turquia e Persia, q~e organizam a opress~oda qual participam os suditos em razao da autondad~ que se Ihe~ .confla.A elec: est3 encarregada a administra<;ao civil, mllitar e pohuca, ~erend as e a religiao. Mas, a9 fim, sao persas os chefes do Ispahan, S?Oturcos os visires do grao-senhor, sac tartaros os sult6es da Tartan~.A China nao pensa em buscar mandatarios militares e letrad?s n~ paisde Gengis Khan, que a conquistou, apesar de serem os atual.s chinesesdescendentes diretos dos subjugados pelos ascendentes dos atums tartaros.

Quao diferente era entre nos! Humilhava-se-nos com u?la condutaque, alem de privar-nos dos direitos que ~os ~abiam, n~s del~a~a numaespecie de in fan cia permanente com respelto as trapsa<;?e~ pubhcas. Setivessemos pelo menos manejado nossos assuntos aome,st~cos ~m. nossaadministra<;ao interior, conheceriamos 0 curso dos negoclOs pubhcos eo seu mecanisme, e usufruiriamos tambem da considera<;ao pessoal queimp6e aos olhos do povo certo respeito inconsciente. que e tao neces-sario preservar nas revolu<;6es. Eis aqui por que eu dlsse ql;l~ estava~9sprivados ate da tirania ativa, pois que nao nos era permltldo exercersuas fun<;6es.

. Os americanos, no sistema espanhol que esta em vigor .e talvez co:nmaior {or<;a do que nunca, nao ocupam outro lugar n~ socledade. senao~E~ se.r.y.Q~pr~E~~()~.p~ra 0 ,!raba.lh~ ~u, quando mUl!O~ 0 des~11lple~cohsumidores; e amda esta parte, hmltada com restn<;oes chocantes.-_ ..-._-- .

tais sao as proibi~oes de cultivo de frutos da Europa, 0 estanco das!produ<;6es que 0 rei monopoliza, 0 impedimento das fabricas que a,'peninsula mesma nao possui, os privilegios exclusivos do comercio ate',dos objetos de primeira necessidade, os entraves existentes entre as pro- :vincias american as, para que nao se correspond am, nao entrem em enten-dimento nem negociem; enfim, quer V. s.a saber qual era nosso destino?os campos 'de cultivar 0 anil, 0 trigo, 0 cafe, a cana, 0 cacau e 0 algodao;as planic-ies solitarias para criar gado, os desertos para ca<;ar animaisferozes, as entranhas da k :ra para extrair 0 ouro que nao pode saciaressa na<;ao avarenta.

Tao negativo era nosso est ado que nao enconlfO semelhante emnenhuma outra associa~ao civilizada, por mais que percorra a serie dasidades e a politica de todas as na<;oes. Pretender que uma regiaoconstituida de 11)0do tao feliz, extensa, rica e populosa ~ja .1ll,erCimentep~s~iv~~ nao e urn ultraje e uma viola<;ao dos direitos da humanidide?

Esiavamos, como acabo de expor, isolados, e, digamos assim, au-sentes do universo no que diz respeito a ciencia do governo e a adminis-tra9ao do Estado. Jamais eramos vice-reis, nem govern adores, a naoser muito excepcionalmente; arcebispos e bispos, poucas vezes; diplo-matas, nunca; militares, apenas na qualidade de subalternos; nohres, semprivilegios reais; nao eramos, finalmente, nem magistrados, nem finan-cistas e quase que nem ainda comerciantes; tudo em coritraven9ao diretade nossas institui~oes.

o imperador Carlos V estabeleceu urn pacta com os descobridores,conquistadores e povoadores da America, que, como disse Guerra, 6nosso contrato social. Os reis da Espanha 0 estabeleceram solenementecom os descobridores para que 0 executassem por sua conta e risco,proibindo-os de faze-Io a custa da Fazenda Real e, por esta razao, osautorizava a serem senhores da terra, a organizarem a administra9ao ea exercerem 0 direito de julgar a· apela<;ao, com muitas outras isen90ese privilegios que seria prolixo detalhar. 0 rei comprometeu-se a naoalienar jamais as provincias americanas; a ele nao to cava outra jurisdi9aoque nao a do alto dominio, sendo uma especie de propriedade feudal aque all detinham os conquistadores, para si e para seus descendentes.Existem, ao mesmo tempo, leis expressas que favorecem quase queexclusivamente os naturais dos paises originarios da Espanha no queconceme aos empregos civis, eclesiastico e de rendas. De maneira que)com uma viola9ao expressa das leis e dos pactos subsistentes, viram-seaqueles naturais despojados da autoridade coristitucional que Ihes outor-gava seu codigo.

De tudo que referi sera facil conduir que a America nao estavapreparada para separar-se da Metr6p<>'e, como ocorreu abruptamente,por efeito das ilegitimas cess6es de B~yonne e pela infqua guerra que a

Page 5: Carta da jamaica

regencia nos declarou, sem direito algum para tanto, nao apenas pelaausencia de justi\(a como, tambem, de legitimidade. Sobre a naturezados governos espanh6is, seus decretos cominat6rios e hostis e todo 0desenvolvimento de sua desesperada eonduta h:i escritos do maior medtono peri6dico El Espanol, cujo autor e 0 senhor Blanco, e pOl' estar aimuito bem tratada esta parte da nossa hist6ria, Iimito-me apenas aindica-Io.

as americanos tiveram, de repente e sem os conhecimentos previos- e, 0 que e mais sensivel, sem a pnitica dos negacios publicos -, derepresentar no teatro do mundo as eminentes dignidades de legisladores,magistrados, administradores do enlrio, diplomatas, generais e todasaquelas autoridades superiores e subaltern as que formam a hierarquiade urn Estado organizado com regularidade.

Quando as aguias francesas respeitaram apenas os muros da cidadede Cadiz e, com seu voa, levaram de roldao os frageis governos dapenfnsula, af entao nos vimos na orfandade. Antes ja haviamos sidoentregues a merce de urn usurpador estrangeiro; depois, Iisonjeados coma justic;a que nos era devida e com esperan<;as atraentes, sempre bur-ladas; por ultimo, incertas sobre nasso destino e futuro e amea~adospela anarquia, por auseneia de urn governo legftimo, justo e liberal,preeipitamo-nos no eaas da revolu«ao. No primeiro momento cuidou-seapenas de estabeleeer a seguran<;a interior contra os inimigos que seencontravam entre nos. A seguir providenciou-se a seguran~a exterior;erigiram-se autoridades que substitufssem as que acabavamos de depore se enearregassem de dirigir a nossa revolu<;ao e de aproveitar a con-juntura feliz em que fosse possfve! estabeleeer urn governo constitucional,digno do presente seeulo e adequado a nossa 5itua<;ao.

Todos os novos governos registraram entre suas primeiras medidaso estabelecimento de juntas populare~ Estas elaboraram em seguidaregulalnentos para a convoca<;-aode congressos que produziram altera<;6esimportantes. A Venezuela erigiu urn governo democratico e federal,declarando previamente os direitos do homem, mantendo 0 equilibriodos poderes e estatuindo leis gerais em favor da Iiberdade civil, deimprensa e outras; finalmente, constituiu-se urn governo independente.A Nova Granada seguiu uniformemente os procedimentos politicos etad as as reform as que fez a Venezuela, estabelecendo como base funda-mental de sua Constitui<;3.o 0 sistema federal mais radical que jamaisexistiu; recentemente aperfci<;oou-se no tocante ao poder executivo geral,que obteve todas as atribui«6es que Ihe correspond em. Segundo sei,Buenos Aires e Chile seguiram esta mesma Iinha de opera<;6es, mas,como nos achamos a tanta distaneia, os document os sao tao raros e asnotfcias tao inexatas, nao me animarei nem mesmo a esbo<;ar um quadrode seus procedimentos.

as acontecimentos do Mexico foram demasiadamente variados,complicados, nipidos e infelizes para que se possa acompanhar 0 desen-volvimento de sua revolu<;ao. Carecemos, alem do mais, de documentossuficientemente instrutivos, que nos torn em capazes de julga-los. Osindependentes do Mexico, pelo que sabemos, iniciaram sua insurrei~aoem setembro de 1810 e urn ana depois ja tinham centralizado seugoverno em Zitacuaro e instalado ali uma junta nacional, sob os auspi-cios de Fernando VII, em cujo nome eram exercidas as fun<;6es gover-nativas. Devido a guerra, esta junta transferiu-se para diferentes lugarese e verossfmil que se tenha conservado ate estes ultimos momentos,com as modifica<;6es que os a~ontecimentos exigiram. Diz-se que criouurn generalfssimo ou ditador, que e 0 ilustre general MoreIos; outrosfalam do celebre general Ray6n; 0 certo e que urn destes grandes homens,ou ambos separadamente, exercem a autoridade suprema naqnele pals;recentemente surgiu uma Constitui<;ao para 0 regime do Estado. Emmar<;o de 1812, 0 governo residente em Zultepec apresentou urn planode paz e guerra ao vice-rei do Mexico, concebido com a mais pro-funda sabedoria. Nele reclamou-se 0 direito das gentes, estabelecendoprincipios de uma exatidao in~on~estavel. P~opo~ a jun.ta '!.ue a ~uerrase fizesse como se fora entre lrmaos e concldadaos, pOlS nao devla sermais cruel do que a guerra entre nac;6es estrangeiras; que os direitosdas gentes e de guerra, inviolaveis mesmo para os infieis e barbaros,deviam se-Io mais para os cristaos, sujeitos a um soberano e as mesmasleis; que os prisioneiros nao fossem tratados como reus de lesa-majestadenem se degolassem os que entregavam as armas, mas que fossem man-tidos como refens para trod-Ios; que nao se entrasse a sangue e fogonas povoa<;6es pacificas, que nao se as dizimasse oem quintasse parasacrifica-Ias; e conclufa dizendo que, no caso de nao ser admitido esteplano, se observariam rigorosamente as represalias. Esta negocia<;ao foitratada com 0 mais alto desprezo; nao se deu resposta a junta nacional;as comunica<;6es originais queimaram-se publicamente na pra<;a do Me-xico, pela mao do verdugo, e a guerra de extermfnio prosseguiu pOl'parte dos espanh6is com 0 furor costumeiro, enquanto os mexicanos eas outras na<;6es american as nao a faziam nem mesmo com a moTtedos prisioneiros de guerra que fossem espanh6is. Observa-se aqui que,pOl' conveniencia, conservou-se a aparencia de submissao ao rei e aConstitui<;ao da monarquia. Parece que a junta nacional e absoluta noexercicio das fun<;6es legislativas, executivas e judiciais, sendo muitoIimitado 0 numero de seus membros.

Os acontecimentos de Terra Firme nos provaram que as .).n_~«Desverdadeiramente representativas nao sao adequadas ao nosso carater,costumes"l; conheditiento~;atuais. Em Caracas, 0 espfrito de partidoteve sua orlgemna-ssociedades, assembl6ias e elei<;6es populares, e estes.partidos nos levaram a escravidiio. Ass~ como a Venezuela tern side a

Page 6: Carta da jamaica

republica american a que mais tern aperfeic;oado suas instituic;oes polf-ticas, tambem tern sido 0 mais claro exemplo da inefic,kia da formademocnitica e federal para nossos nascentes Estados. Em Nova Granada,os~~~~s~iyos. po?eres dos governos provLnc::i~i~.ea Ja!"~~,de ce.ntraIi?ac;aono g~raI, conduzlram aquele precioso pals ao estado a que se ve reduzidonos dias" de hoje. Por esta razao, contra todas as probabilidades, seusdebclS inimigos mantcm-se atuantes. Enquanto nossos compatriotas naoadquirirem os talentos e as virtudes polfticas que distinguem os nossosirmaos do norte, temo que os sistemas inteiramente 'popuiares,' ionge(Jc'" nos serem favoraveis, venham a ser nossa ruina. Infelizmente estascjiialidades, na medida requerida, parecem estar muita distantes de nos;pelo contrario, estamos dominados pelos vfcios que se contraem sob adirec;ao de uma nac;ao como a espanhola, que apenas se tern sobressaidoem crueldade, ambic;ao, vingan<;a e cobi<;a.

"B mais diffcil", diz Montesquieu, "tirar urn povo da servidao doque subjugar urn livre". Esta verdade esta comprovada nos anais detodas as eras, que demonstram ser maior 0 numero de nac;oes Iivresque foram submetidas ao jugo do que 0 de nac;oes escravas que reco-braram sua liberdade. Apesar desta convicc;ao, os meridionais destecontinente ma~ifestaram 0 prop6sito de atingir instituic;oes liberais emesmo perfeitas, sem duvida, como ef<;:.!!Q~Q...i.nstint9_gl!~.temto_etQs .oshOIllt<os.dc.aspirar. a Olelhor Ielicidad~ possivel - a que se aIcanc;a,infalivelmente, nas sociedades civis, quando elas estao erigidas sobre asbases da. justic;a, da liberdade e da igualdade. Mas, seremos capazes demanter em seu verdadeiro equilibrio a dificil carga de uma republica?Pode-se conceber que urn povo recentemente Iiberto lance-se a esferada liberdade sem que, como tcara, se the desfac;am as asas e caia noabismo? Tal prodlgio e inconcebivel, nunca visto. Conseqiientemente,nao hci urn raciocinio verdadeiro que nos embale com esta esperanc;a.

Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na America"a .maior nac;ao do mundo, menos por sua extensao e riquezas do quepela sua liberdade e gloria. Ainda que llspire it perfci~ao do governode minha patria, nao posso persuadir-me de que 0 Novo Mundo seja,no momento, regido por uma grande republica; como e impossivel, naome atrevo a deseja-Io e menos ainda desejo uma monarquia universalda America, porque este projeto, sem ser util, e tambem impossivel.Os abusos que atualmente existem nao se reformariam e nossa regene-rac;ao seria infrutifera. Os Estados american os tern necessidade doscuidados de governos paternais que curem as chagas e as feridas dodespotismo e da guerra. A metropole, por exemplo, seria 0 Mexico,q~e e. a uni~a que pode se-Io pelo seu poder intrinseco, sem 0 qualnao ha metropole. Suponhamos que fosse 0 istmo do Panama 0 pontocentral de todos os extremos deste vasto continente - nao continuariamestes na passividade e mesmo na desordem atual? Para que urn unico

govemo de vida, animo, ponha em ac;iio todos os recursos da prospe-ridade publica, corrija, ilustre e aperfeic;oe 0 Novo Mundo, seria neces-sario que tivesse os poderes de urn deus e, quando menos, as luzese as virtudes de todos os homens.

o espfrito de partido que no momenta agita nossos Estados seacenderia entao com maior rancor, estando ausente a fonte do poder,a unica que pode reprimi-Io. Alem do mais, os poderosos das capitaisnao sofreriam a prepollderancia dos metropolitan os, aos quais conside-rariam como tantos outros tiranos: sua inquietac;ao chegaria ao pontode compara-Ios aos odiosos espanhois. Finalmente, tal monarquia seriaurn col0sso disforme, que com 0 proprio peso, ao mcnor abalo, sedesmoronaria.

M. de Pradt sabiarncnte dividiu a America em quinzc au dezessetcEstados independentes entre si, govern ados por outros tantos monarcas.Estou de acordo com a prirneira parte, pois a America comporta acriac;ao de dezessete nar;oes; quanto a segunda, embora seja mais facilconsegui-la, e menos utH; sendo assim, nao sou da opiniao das monar-quias american as. Aqui van minhas razoes: bem compreendido, ainteresse de uma repu~lica circunscreve-se a esfera de sua preservat;ao,prasperidade e gloria. Nao exercendo a liberdade com sentido impe-rialista, porque e precisamente 0 seu oposto, nenhwn estimulo excitaos republicanos a estenderem os termos de sua na<;ao em detrimento doproprio meio, visando, unicamente, tamar seus vizinhos partfcipes deuma Constituir;ao liberal. Nenhum direito adquirem, nenhuma vantagemobtem vencendo-os, a menos que os reduzam a colonias, conquistas oualiados, seguindo 0 exernplo de Roma. Maximas e exemplos tais estaoem oposir;ao direta aos princfpios de justit;a dos sistemas republicanos;mais direi, em oposic;ao manifesta aos interesses de seus cidadaos, porqucurn Estado demasiado extenso em si mesrno ou par suas dependencias,ao final entra em decadencia e converte sua forma livre em tiranica,relaxa os principios que devem conserva-Ia, ocorrendo, por ultimo, 0

despotismo. O· disti!!~!vo das pequenas republicas e a permanencia, 0

das grandes e variado, mas sempre se inclina ao imperio. Quase todasas primeiras tiveram uma longa durac;ao; das segundas apenas Romamanteve-se alguns seculos, mas tal ocorreu porque era republica a capitale nao 0 era 0 resto de seus dominios, que se governavam por leis einstituic;6es diferentes.

Bastante contraria e a politica de urn rei, cuja inclinac;ao constantedirig~:~~·parabaumento de suas posses, riquezas e podere~ - comrazao, porque sua autoridade cresce com estas aquisic;6es, tanto emrelac;ao aos seus vizinhos, como aos seus proprios vassalos, que ternemnele urn poder tao formidavel quanta seu imperio,. que se conservapor meio da guerra e das conquistas. Por estas raz5es, penso que os

Page 7: Carta da jamaica

american os ansiosos de paz, clencias, artes, comerclO e agricultura pre-feririam as republicas aos reinos; parece-me 'que estes desejos estao deacordo com as intenl;6es da Europa.

Nao concordo no sistema federal com a carater popular e repre-sentativo par ser demasiado perfeito e exigir virtudes e talentos politicosmuito superiores aos nossos; par igual razao recuso a monarquia mistade arislocracia e democracia, que lanta fortuna e csplendor propicioua Inglalerra, Nao nos sendo possivcl obter entre as republicas e monar-quias 0 mais perfeito e acabado, ~~'-ite.!1}oScair em anarquias demago-.gica~. QU em tiranias monocratas. Busque'mas urn meio entre extremosopostos, os quais nos conduziriam aos m~smos cscolhos, a infelicidadee a desonra. Vou arriscar a resultado das minhas cavila<;6es sabre 0destino futuro da America: nao a melhor mas a que seja mais vh'iveI.

Pel a natureza dos lugares, riquezas, povoa<;6es e carater 90S mexica-,rlO~,_imagino que tentarao de inicio estabelecer uma republica representa-liva, !'!.~qual tenha grandes atribui<;6es a poder executivo, concentrando-onum indivrauo' que, ao descmpenhar suas funr;6es com acerto e justi<;a,quase naturalmente vira a conservar vitaliciamente sua autoridade. Sesua incapacidade au violenla administra<;ao provocar uma como<;ao popu-lar que triunfe, este mesmo poder executivo possivelmente se difundiranuma assembl6ia. Se a partido preponderante e militar ou aristocratico,provavelmente exigira uma monarquia que, de inicio, sera Iimitada econstitucional, e, depois, inevitavelmente desbordani em absoluta;poisdevemos convir em que nada mais dificil ha na ordem poHtica do quea preservar;i.io de uma monarquia mista; e preciso tambem convir emque apenas urn povo tao patriota como 0 ingles e capaz de conter aautoridade de um- rei e de suslentar 0 espirito de liberdade sob urncetro e uma coroa.

as Estados do istmo, J!9..Panama a Guatemala, talvez formem umaassociar;ao. Esta magnifica posi~~6 entre as dais grandes mares .poderaser, com 0 tempo, 0 emporia do universe; seus canais encurtarao asdistancias do mundo e estreitarao as Iac;:os comerciais entre a Europa, aAmerica e a Asia; carrearao para tao feliz regiao os tributos das quatropartes do globo. Ali, e apenas ali, podera fixar-se algum dia a capitalda terra, como Constantino pretendeu para Bizancio a do antigo hemis-ferio!

A Nova Granada unir-se-a a Venezuela, se chegarem a concordarem forrnar uma republica central, cuja capital seja Maracaibo, ou umanova cidade que, com 0 nome de Las Casas, em houra deste her6i dafilantropia, funde-se entre os lirnites de ambos as paises, no soberbo portode Bahia-honda. Esta posic;:ao, em bora desconhecida, pOI' todos os aspec-tos e mais vantajosa, Seu acesso e facil, e sua situar;ao tao privilegiada,que pode fazer-se inexpugnavel. Possui um c1ima puro e saudavel, urnterrit6rio proprio tanto para a agricultura quanta para a pecuaria e uma

grande abundancia de madeiras de constru<;ao. as l'e!vagens _.que ahabitam seriam civilizados e nossas posses aumentariam com a aquisi<;aoda Goagira. ~_.1!-~~ag.§e_.~~~~aria Colomb!a, ern tributo de justi~ae de gratidao ao criador de nossO'heiiiis'ferio. Seu governo poderaimitar 0 ingles, com a diferen<;a de que, em lugar de urn rei, haveraurn ,P0der executivo eleito, quando t.J'lUito,vitaHcio, jamais hereditario, sese quiser republica; uma camara ou senado legislativo hereditario, quenas tempestades polfticas se interponha entre as Q.ndas populares e asraios do governo, e um corpo legislativo, de livre elei<;ao, sem outrasrestric;oes que as da camara baixa da Inglaterra. Esta constitui<;ao parti-ciparia de todas as formas e eu desejo que nao participe de todos osvfcios. Como est a e minha patria, tenho 0 incontestavel direito paradesejar-Ihe 0 que, na minha opiniao, e melhor. f: bem possfvel que aNova Granada nao concorde no reconhecimento de urn govern a central,porque esta muito inclinada a federa~ao; entao formara par si s6 urnEstado que, se subsistir, podera ser muito feliz pelos grandes recursosde toda especie.

Pouco sabemos das opini6es que prevalecem em Buenos Aires,Chile e Peru: julgando pelo que transparece e pel as aparencias, emBuenos Aires havera urn governo central, em que os militares ocuparaoa primazia em conseqiiencia de suas divis6es intestinas e guerras externas.Esta constitui<;ao degenerara necessariamente numa oligarquia, ou umamonocracia com mais ou menos restric;6es, cuja denominac;ao ninguempode adivinhar. Seria doloroso que tal coisa sucedesse, porque aqueleshabit antes sao credores da mais ~splendorosa gloria.

o reino do Chile esta destinado. pela natureza da sua situa<;ao,pelos costumes inocentes e virtuosos de seus moradores, pelo exemplodos seus vizinhos - as bravos republicanos do Arauco - a gozar dasbenc;aos que derramam as justas e doces leis de uma republica. Se

'alguma havera de permanecer longo tempo na America, inclino-me apensar que sera a chilena. Jamais se extinguiu ali a espfrito da liberdade;os vicios da Europa e da Asia chegarao tarde ou nunca a corromperos costumes daquele extremo do universo. Seu territorio e limitado;sempre estara fora do cqntato corruptivel do resto dos homens; naoalteran'i suas leis, usos e' praticas; preservara sua uniformidade emopini6es polfticas e religiosas; numa palavra, 0 Chile pode ser livre.

o Peru, pelo contnirio, con tern dois elementos inimigos de todoregime justo e liberal: ouro e escravos. 0 primeiro a tudo corrompe;o segundo esta corrompido-p-m ·sTmesmo. A alma de urn servo raravez chega a apreciar a plena liberdade: enfurece-se nos tumultos ouhumilha-se nos grilh6es.

Ainda que estas regras sejam aplicaveis a toda a America, acreditoque, com mais justic;a as merece Lima pelos conceitos que expus epel a cooperaC;ao que prestou a seus senhores contra seus pr6prios irmaos,

Page 8: Carta da jamaica

os ilustres filhos de Quito, Chile e Buenos Aires. ~ corrente que aqueleque aspira a obter a liberdade pelo menos 0 tenta. Suponho que emLima os ricos nao tolerarao a democracia, nem os escravos e os pardoslibertos, a aristocracia: os primeiros prefeririio a tirania de urn s6, paranao sofrer as persegui«oes tumultuosas e para estabelecer uma ordempelo menos pacifica. Muito fani se conseguir recobrar sua independencia.

De todo 0 exposto, podemos deduzir estas conseqiiencias: as pro-vincias americanas lutarn por emancipar-se; ao final obterao 0 sucesso;algumas se constituiriio de forma regular em' republicas federais ecentralizadas; fundar-se-ao monarquias quase inevitavelmente nas grandessec~5es e algumas serao tao infelizes que devorarao seus elementos,seja na atual, seja em futuras revolu<;oes; uma grande monarquia naosera facil consolidar, uma grande republica, impossivel.

Burna ideia grandiosa pretender formar de todo 0 Novo Mundouma unica na«ao com urn tinico vinculo que ligue as partes entre si ecom 0 todo. Ja que tern uma s6 origem, uma s6 Hngua, mesmoscostumes e uma s6 religiao, deveria, por conseguinte, ter urn s6 governoque confederasse os diferentes Estados que haverao de se formari...mas_tal.Qao e possivel, porque dimas remotos, situac;6es""dive~sas.•_~teressesopostos e caracteres dessemelhantes dividem a Amedca. Que belo seriaque' 0 istmo do Panama fosse para n6s 0 que 0 de Corinto e para osgregos! Oxala que algum dia tenhamos a felicidade de instalar all urnaugusto congresso dos representantes das republicas, reinos e imperios,para" tratar e discutir sobre os altos interesses da paz e da guerra comas nac;oes das outras tres partes do mundo. Esta especie de corporac;aopodenl ter lugar em alguma epoca feliz da nossa regenerac;ao; outraesperanc;a e infundada, semelhante aquela do abade S1, Pierre, queconcedeu 0 louvavel delirio de reunir urn congresso europeu para decidirda sorte e dos interesses daquelas nac;oes.

"Mutac;6es importantes e felizes", continua V. s.a, "pJdem ser fre-qiientemente produzidas por atos individuais". Os americanos meridionaistern uma tradic;ao que diz que quando Quetzalcoatl, 0 Hermes-Buda daAmerica do Sui, renunciou a sua administrac;ao e os abandonou, prome-teu-Ihes que voltaria depois que os seculos designados tivessem passadoe que restabeleceria seu governo e renovaria sua felicidade. Esta tradic;aonao enseja e estimula uma convicC;ao de que muito breve deve voltar?Concebe V. s.a qual sera 0 efeito que produzira, se urn individuo,aparecendo entre eles, mostrasse os caracteres de Quetzalcoatl, 0 Budado bosque, ou Mercurio, do qual tern falado tanto as outras nac;oes?Nao cre V. s.a que isto indinaria todas as partes? Nao e a uniao tudoo que se necessita para coloca-Ios em condic;oes de expulsar os espanh6is,suas tropas e os partidarios da corrompida Espanha, para toma-Ioscapazes de estabelecer um imperio poderoso, com urn governo livre elei~ benevolas?

Penso, como V. s.a, que causas individuais podem produzir resul-tados gerais, sobretudo nas revoluc;oes. Mas nao e 0 her6i, 0 grandeprofeta, 0 deus de Anahuac, Quetzalcoatl, 0 que sera capaz de realizaros prodigiosos beneficios que V. s.a propoe. Esta personagem e conhe-cida apenas pelo povo mexicano e nao de maneira privilegiada, pois tale a sorte dos vencidos, mesmo que sejam deuses. Somente os historia-dores e literatos ocuparam-se cuidadosamente em investigar sua origem,sua verdadeira ou falsa missao, suas profecias e 0 fim da sua carreira.Discute-se se foi urn ap6stolo de Cristo ou antes urn pagao. Supoemuns que seu nome quer dizer Santo Tomas; outros, Serpente Emplumada;outros ainda, que e 0 famoso profeta de Yucatan, Chil8J1-Carnbal.Numa palavra, a maioria dos autores mexicanos, polernistas' e historia-dores profanos trataram, com maior ou menor extensao, a questao sobreo verdadeiro caniter de Quetzalcoatl. 0 fato e, segundo afirma Acosta,que ele estabeleceu uma religiao, cujos ritos, dogmas e misterios possuiamuma admiravel afinidade com a de Jesus, sendo, talvez, a mais semelhantea ela. Nao obstante isto, muitos escritores cat61icos procuraram afastara ideia de que este profeta tenha sido verdadeiro, sem reconhecer neleurn Santo Tomas, como 0 afirmam outros celebres autores. A opiniaogeral e que Quetzalcoatl foi urn legislador divino entre os povos pagaosdo Anahuac, do qual era lugar-tenente 0 grande Montezuma, delederivando sua autoridade. Infere-se daqui que nossos mexicaoos naoseguiriarn 0 pagao Quetzalcoatl, mesmo que aparecesse sob as maisidenticas e favoraveis formas, de vez que profess am uma religiao maisintolerante e exclusiva do que as outras.

-- Felizmente, os responsaveis pela independencia do Mexico aprovei-)taram-se do fanatismo da melhor maneira, prodamando a famosa virgemde GuRdalupe como rainha dos patriot as. invocando-a em todas asaralias situac;6es e transportando-a em seus estandartes. Com isto 0

entusiasmo politico mesclou-se com a religiao, produzindo urn veementefervor pela sagrada causa da liberdade. No Mexico, a venerac;iio a estaimagem e superior a mais exaltada que pudesse inspirar 0 mais sagazprofeta.

~ a~J.liao seguramente 0 que nos falta para completarmos a obrade nossa regenera~-: -Entretanto: nc)ssa divisao "nao e esfranha, 'POI-quetal e 0 distintivo das guerras civis geralmente formadas entre dois par-tidos: conservadores e reformadores. Os primeiros sao, em geral, maisnumerosos:--poique-- <> "dominlo da tradic;ao produz como result ado aobediencia as autoridades estabelecidas; os ultimos SaD sempre menosnumerosos, embora mais veementes e ilustrados. Deste modo a massa"!!~!~~eqUi~ib"._ra- e .<:9ma for~a moral e a contenda prolo[lga-se~~ndo;e.lls.!~su~t"aro uito incertos. Por sorte, entre n6s, a massa seguiu amteligencla-;- _ .. -_ .... -.

Page 9: Carta da jamaica

Eu direi a V. s.a 0 que pode nos colocar em condi<;6es "':e expu'saros espanh6is e de fundar urn governo livre: .! a uniiio, certamente; eest a uniao nao nos vira por milagres divinos mas' pot efeitos concretose esfor<;os bem-dirigidos. A America defranta-se consigo mesma, porque

i foi abandoeada par todas as na<;oes, isoJada no meio do univers9, semrcla<;oes diplomaticas nem auxflios militares, e combatida pela Espanha,que possui mais elementos para a guerra do que quantos nos possamosfurtivamente adquirir.

Quando as vit6rias nao cstao garantidas, quando 0 Estado e fracoe quando os empreendimentos sao remotos, todos os homens vacilam,as opinioes dividem-sc, as paix6es as agitam c os inimigos as incentivampara triunfar pm cste faeil Incio. Tao logo scjamos fortes, sob osauspfcios de uma na<;iio liberal que nos cmpreste sua prote<;ao, se nosvera eoncordes ern cultivar as virtudes e os talentos que concluzem a.gl6ria; entao, seguiremos a marcha majestosa em dire<;ao as grandesprosperidades pJra as quais a America meridional esta destinada; entao,as cieneias e as artes que nasceram no Oriente e que ihJstraram aEuropa dirigir-se-ao a Colombia livre, que as acolhera em scu rega<;o.

Tais sao, senhor, as observa<;oes e pensamentos que tenho a honrade submeter a V. s.a para que os retifique ou reprove, conforme seumerito, ~up!icalldo que se conven<;a de que me atrevi a expo-Ios maispara nao ser deseortes do que por me crer capaz de ilustrar a V. s.ana materia.

Sou de V. s.a etc., etc., etc.

"',-'"'' Puerto Prfrici~ 11 de novembro de 1816.

~o Senhor Pe~o'-Gual "-. \:~\, ",FI1~elfia'· " '- '''''"

)-". ] '., ,.,~l\~." "As rela<;6es mercantis cittre a Venezuela e os EstadosUnidos serao

vantajosa~'Para ambas as parte~. armas, muni<;6es, vestimentas"e .mesmo '.

'''' '....------ '.• Reproduzido de BoLivAR, Simon. Obras c'ompietas. v. I, p. 219.4 Pedro Gual (l784·i 862). Participou ativamenl.e do movimento pela independen··cia, tendo sido exilado varias vezes. Representuu (j- go verno independente em missiiodiplomatica 1V'Washington. "Fpi deputado durante 0 Congressu de Cucuta e, poste·riormenlJ>,..--e-ncarregado das Rela~6es Exteri'ores. Em '1858, foi ainda presidemeprovis6no da Venezuela e, em )859,. eleito vice-presidente:' (N. dos Orgs.) ~