·Carta da Obra do Ardina -...

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As " eia car ma a! Fui da a s r 10 de Anoslo de 1946 Ano 111-N. 0 64 1 ., 1 J .. OBRA.\ RAPAZES, PARA RAPAZE.?, PEL0S RAPAZE4j Ridar:ção, Admlnlslra;ão e Proprietária: Casa df Balala dt Htll-Pall Ili ltHll para Cete-Preco 1$00 A QUI tempos, no rápido, vinham alguns dos nossos Prelados, de uma das Suas usuais reu· niões, em Lisboa. Falandc-se da Obra, um dEles quiz saber se nela havia escola! Doeu-me infi- nitamente aquela pregunta, por vir de quem vinha, e disse: 1 Bm, aim, meu Senhor. Onde nasceram as letras e as artes, senão nas portarias dos conventos? Como pode haver no mundo uma obra social, aonde os padres riscam, sem a esco la anexa? Não. seria obra da Igreja. O analfabeto, é um desgraçado. Hoje, estas creanças, não compreendem, pela idade, mas sabemo-lo n6s. Este conhecimento, gera no meu espírito a obrig ação de ver muito de perto, que os íié ssos rapazes façam, pelo menos, a 4.ª classe. Eu vi com os meus olhos, algures, um individuo aceitar em silencio a calunia que lhe fizeram de têr violado uma caria, s6 pela vergonha de declarar que :àilo sabia ler! Era um português numa colónia de estrangeiros. Antes calu- niado do que humilhado! Que os nossos rapazes leiam hoje este facto, para não virem amanhã a cair na mesma desgraça. Começamos pelo L ar do ex- Pu pilo dos Reformat6- rios e para abrir as noticias, damos à estampa uma carta do Herlander. o me e.nganei, quando este rapaz me declarou de uma vez, por palavras suas: muitaa graças tB'llho de dar a DeU1J, por ter eatado no Reformatório de Caxias. Vi nele, imediatamente, ama alma grata. A gratidão é penhor de bom caracter. Dei-lhe azaa: anda, rapaz. Vôa. •Há precisamente quatro anos que iniciei os meus estudos secundários. Receando que não seria capaz de levar a cabo tão arduo trabalho, embora eu sentisse em mim uma ansiedade louca de embelezar o meu espírito, ao seu apelo eu vi acrescentadas palavras de estimulo, que me lançaram para a frente ao encontro de todas as difi culdades. Assim couraçado, enfrentei os três primeiros anos e venci-os com uma distinção final. No ano seguinte, depois de ter sacrificado parte das férias grandes, acumulei os três anos do 2. 0 ciclo e consigo fa zer as cadeiras de História, Inglês e Portu- guês-Latim, ficando as de Ciencias e Matemática para ·a época de Outubro. Mas nas férias desse ano sou chamado ao Curso de Sargentos Melicianos! Senti então que tudo se desfazia no horizonte dos meus planos! Após·quinze dias de desânimo, resolvi encarar a nova situação como base para outros voos, e com os olhos nos Céus venci o curso militar com a classifi- cação final de 14,6 valores. Licenciado em Fevereiro dQ ano seguinte, re começo os estudos liceais e vou cometer a primeira imprudência: a quatro meses dos exames, englobar as duas disciplinas do 6.º ano com o 7. 0 Como era de esperar, 11penas completei o 2. 0 ciclo e fiquei com uma cadeira do 7. 0 a no feita. Vieram as manobras militares e eu lá fui desconsolado, porque via os estudos novamente interrompidos. Cheguei, e quando tinha apenaa dois dias de aulas, fui chamado pára tirar uma escola de recrutas. De novo paralizei os trabalhos escolares até Fe vereiro deste ano. Para não atrazar o 7. 0 ano, tive necessidade de prolongar os estudos pela noite dentro. visto que o dia passava-o no quartel. A quatro meses dos exames, volto às aulas, agora com a preocupação dominante de fi car isento do exame de aptigão à Universidade. Era ne- cessário obter a média de 14 valores no 7. 0 ano e eu tinha, do ano passado, uma com IO valores. Não desmoreci, confiei no Alto e precipitei-me sem tréguas no arranco fi nal, convicto de que tinha obriga- ção de tirar dois 14 e dois 15 nas qu atro cadeiras que me faltavam 1 para assim poder cobrir a nota de 10 da càdelra anterior. Os exames aproximam-se e eu sin- to-me em co ndições de obter o que muita gente julgava impossível! Eis, meu Bom Amigo, os resultados: Latim, 12 vai.; Ciencias Geográficas, 14 vai.; Literatura, 15 vai.; Filosofia, 16 vai. Tinha dispensado a três provas orais e estava admitido à de Latim, onde carecia de um· 13 para .a média fi nal de 14 vai. Enquanto não fu i DIRECTOR E EDITOR: Padre Américo chamado, andei enervado, desorientado! Seria possível? Foi! Na prova oral consegui 14 vai., o que me dava, com os 12 da escrita, a média de 13. Tinha conseguido os dois 14 e os dois 15. Estava consumado o curso dos li ceus com a média final de 14 vai., média neces- sária para entrar na Universidade sem o contingente exame de aptidão a Direito. Em 4 anos, práticamente em 3, completei o curso secundário, e completei-o com uma distinção em Filosofia (16 vai.). Aqui lhe mando um quadro com o trabalho discriminado do meu curso. Estou caloiro! Parece-me um sonho mas é realidade. A primeira parte da alta missão que o meu Bom Amtg? me chamou, está terminada. Correspondi, assim o ereto! Com trabalho, método e perseverança, e inci- tado por UfT!ª vontade indomável em vencer, foi possível levar a efeito esta quase impossibilidade. Nos próxi- mos estudos superiores, reconheço e já sinto que as minhas responsabilidades vão aumentar, mas eu não lhes fujo. Não hei-de afrouxar os trabalhos e com o Crucifixo sobre a minha secretária, removerei' todas as dificuldades». Esta carta é um documento Não sofre .comentarias. Ela é. Cada um que a leia e tome para i. Os melhores vlllores não veem à tôna, por falta de quem lhes bote a mão. Além do Herlander, no Lar, fizeram exame de 4 ª classe, em curso nocturqo o Luciano de Matos, e o Marcos doe Santos. Da 3.ª, fez o Manuel Agostinho. Os que frequentam a Escola Comercial e Industrial, falaram bem de si; o António Boto, transitou para o 2. 0 ano. O F ílipiano. está no 4. 0 ano e o Carlos Migueis, no 5.º. O Luiz Ferraz, falta-lhe uma cadeira para ser Douto,,.. O Mario Henriques, vai nas mesmas águas. O Cosme, concluiu o seu curso de enfermagem. Será bom enfermeiro, se fizer aos doentes o que fez o Sa- '!Daritano. Se nlto, não. Estes moços do Lar, são herois. Trabalham todo o dia. As horas de estudo, são roubadas ao repouso. Honra lhes seja. Vamos vêr agora a tropa de Miranda, da Casa do 0-aiato de Mirarda, berço da Obra da Rua. O Luiz de Coimbr a, o António de Cête, o Maria da Covilhã o Manuel do Gerardo, o Figueira da Figueira mai-lo Chico do Porto, passaram a prontos. Podem mostrar em toda a parte o seu diploma de 4 ª classe. Da 3.•, fizeram exame o Albino' de Coimbra, o Joaquim idem e o Hi,,.o hito. . . do Japão! Aqui em Paço de Sousa, temos um chines. Em .Miranda, um japones, e o cabeça deles, para mais: O Hirohito! A Obra da Rua é internacional. O J ollo Freitas de Lisboa e o Armindo, fizeram o primeiro ano do Seminário, com a média de 14 valores. Se estes dois mancebo& forem capazes de virem a esquecer a sua rial pessoa e bens, serão amanhã sacer- dotes. Se não, por muito que ·estudem, nlto. Vem agora a Casa do Porto. O Lar fios Gaiatos . O Adriano de Tomar, fez a 4. a. classe. Licínio do D ouro mai-lo Mondim, passaram da 3.• à 4.ª. Os de ensino técnico saíram fraquinhos. Não se lhes pode exigir muito, por causa dos trabalhos em que de dia se ocupam. Todos, frequentam escolas da noite. a ma grande força de vontade é capaz de triunfar. O Jolio d'Elvas, vai à frente com uma boa passagem para o 3. 0 ano comercial. Os outros, são o \Manuel Pinto na Escola Industrial, e o Avelino mai-lo Bernar- dino na Comercial, com fracas notas. E por ultimo, vamos à Casa de Paço de Sousa, a mais adoravel balburdia que existe debaixo• do sol. Só visto! Os grandes, saíram bem da 4.ª classe, feita na comarca de Penafiel, na presença de 3 dot-Ores, como Continua na terceira página. Composição a lmpressão-Tlp. da casa Nun' Alvares R. Bania Calarlna, 828- Vl sado pela Comiss ão de Censura C> lv.l:agaJa. é o .António dos R.eis, «qu.inze» de 'I"omar, a qui mu.ito :i 1ado. « Qu.inz :foi «o nome» com. qu.a1 o apresen.tei na « A.1deia», E -vin.ha. do 15 de 'I"omar. Porém, , malta. não a.ceita de :fa.-vo há.-de ser u.m esco1hido pc e1es. Esco1hera m. E' o « LVl:agala. Est e-ve , há. dias, u.m 'Visita:n.te . o rapaz ci ceroneou.. E1e gosta. de 0 :fa z er, c on.q'U.a:n.to não ten.ha a missãc de cicerone. C> v-isita.n.te, por :n.a.tural simpati a, ti rou.· lh e o retrato e eu. também por simpatia, dou. -o a. lume. :E' «m a.gala», sim senhor . Olhem prae botas. Olhem pra posição de se:n.tiÇl.o. C>s r apazes é que sabem pôr a.leu.· :n.hos. :N' ós, o. tJMA CARTN « Sou neo-sacerdote, leitor do grande jornal «O Gaiato» «e conhecedor, um pouco, da «Obra da Rua». Quero dar « ao Senhor, na «Obra da Rua» os primeiros centavos que «me foram entregues, pelo serviço ao Alt ar. Envio em vale «de c, orreio esta pobre e humílde oferta. Digne-se V. acei- «tá-la, não pela importancia, mas pelo significado. Humil-' «demence peço as orações conquistadoras dos lindos «Gaiatos». Em vez de dar, DÊ·SE. Peça ao seu Superior e venha. A seara é imensa e os obreiros, nenhuns. · Traga o facho acêso. Nós somos o facho. Morrão, não. Nunca o mundo precisou tanto de luz, como nesile século chamado o das luzes. Oh! trevas! São os homens que as fazem com a sua Juz; a LUZINHA deles.

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OBRA.\ O~ RAPAZES, PARA RAPAZE.?, PEL0S RAPAZE4j

Ridar:ção, Admlnlslra;ão e Proprietária: Casa df Balala dt Htll-Pall Ili ltHll V~li:s ~~ ço~o para Cete-Preco 1$00

A QUI há tempos, no rápido, vinham alguns dos nossos Prelados, de uma das Suas usuais reu· niões, em Lisboa. Falandc-se da Obra, um

dEles quiz saber se nela havia escola! Doeu-me infi­nitamente aquela pregunta, por vir de quem vinha, e disse: 1 Bm, aim, meu Senhor. Onde nasceram as letras e as artes, senão nas portarias dos conventos? Como pode haver no mundo uma obra social, aonde os padres riscam, sem a escola anexa? Não. seria obra da Igreja. O analfabeto, é um desgraçado. Hoje, estas creanças, não compreendem, pela idade, mas sabemo-lo n6s. Este conhecimento, gera no meu espírito a obrigação de ver muito de perto, que os íiéssos rapazes façam, pelo menos, a 4.ª classe. Eu já vi com os meus olhos, algures, um individuo aceitar em silencio a calunia que lhe fizeram de têr violado uma caria, s6 pela vergonha de declarar que :àilo sabia ler! Era um português numa colónia de estrangeiros. Antes calu­niado do que humilhado! Que os nossos rapazes leiam hoje este facto, para não virem amanhã a cair na mesma desgraça.

Começamos pelo Lar do ex-Pupilo dos Reformat6-rios e para abrir as noticias, damos à estampa uma carta do Herlander. Não me e.nganei, quando este rapaz me declarou de uma vez, por palavras suas: muitaa graças tB'llho de dar a DeU1J, por ter eatado no Reformatório de Caxias. Vi nele, imediatamente, ama alma grata. A gratidão é penhor de bom caracter . Dei-lhe azaa: anda, rapaz. Vôa.

•Há precisamente quatro anos que iniciei os meus estudos secundários. Receando que não seria capaz de levar a cabo tão arduo trabalho, embora eu sentisse já em mim uma ansiedade louca de embelezar o meu espírito, ao seu apelo eu vi acrescentadas palavras de estimulo, que me lançaram para a frente ao encontro de todas as dificuldades. Assim couraçado, enfrentei os três primeiros anos e venci-os com uma distinção final. No ano seguinte, depois de ter sacrificado parte das férias grandes, acumulei os três anos do 2.0 ciclo e consigo fazer as cadeiras de História, Inglês e Portu­guês-Latim, ficando as de Ciencias e Matemática para ·a época de Outubro. Mas nas férias desse ano sou chamado ao Curso de Sargentos Melicianos! Senti então que tudo se desfazia no horizonte dos meus planos! Após·quinze dias de desânimo, resolvi encarar a nova situação como base para outros voos, e com os olhos nos Céus venci o curso militar com a classifi­cação final de 14,6 valores. Licenciado em Fevereiro dQ ano seguinte, re começo os estudos liceais e vou cometer a primeira imprudência: a quatro meses dos exames, englobar as duas disciplinas do 6.º ano com o 7.0 • Como era de esperar, 11penas completei o 2.0 ciclo e fiquei com uma cadeira do 7. 0 ano feita. Vieram as manobras militares e eu lá fui desconsolado, porque via os estudos novamente interrompidos. Cheguei, e quando tinha apenaa dois dias de aulas, fui chamado pára tirar uma escola de recrutas. De novo paralizei os trabalhos escolares até Fevereiro deste ano. Para não atrazar o 7.0 ano, tive necessidade de prolongar os estudos pela noite dent ro. visto que o dia passava-o no quartel. A quatro meses dos exames, volto às aulas, agora com a preocupação dominante de ficar isento do exame de aptigão à Universidade. Era ne­cessário obter a média de 14 valores no 7.0 ano e eu já tinha, do ano passado, uma d~sciplina com IO valores. Não desmoreci, confiei no Alto e precipitei-me sem tréguas no arranco final, convicto de que tinha obriga­ção de tirar dois 14 e dois 15 nas quatro cadeiras que me faltavam1 para assim poder cobrir a nota de 10 da càdelra anterior. Os exames aproximam-se e eu sin­to-me em condições de obter o que muita gente julgava impossível! Eis, meu Bom Amigo, os resultados: Latim, 12 vai.; Ciencias Geográficas, 14 vai.; Literatura, 15 vai.; Filosofia, 16 vai. Tinha dispensado a três provas orais e estava admitido à de Latim, onde carecia de um· 13 para .a média final de 14 vai. Enquanto não fui

• DIRECTOR E EDITOR: Padre Américo •

chamado, andei enervado, desorientado! Seria possível? Foi! Na prova oral consegui 14 vai., o que me dava, com os 12 da escrita, a média de 13. Tinha conseguido os dois 14 e os dois 15. Estava consumado o curso dos liceus com a média final de 14 vai., média neces­sária para entrar na Universidade sem o contingente exame de aptidão a Direito. Em 4 anos, práticamente em 3, completei o curso secundário, e completei-o com uma distinção em Filosofia (16 vai.). Aqui lhe mando um quadro com o trabalho discriminado do meu curso. Estou caloiro! Parece-me um sonho mas é realidade. A primeira parte da alta missão ~ que o meu Bom Amtg? me chamou, está terminada. Correspondi, assim o ereto! Com trabalho, método e perseverança, e inci­tado por UfT!ª vontade indomável em vencer, foi possível levar a efeito esta quase impossibilidade. Nos próxi­mos estudos superiores, reconheço e já sinto que as minhas responsabilidades vão aumentar, mas eu não lhes fujo. Não hei-de afrouxar os trabalhos e com o Crucifixo sobre a minha secretária, removerei' todas as dificuldades».

Esta carta é um documento univer~al. Não sofre .comentarias. Ela é. Cada um que a leia e tome para 'ªi. Os melhores vlllores não veem à tôna, por falta de quem lhes bote a mão.

Além do Herlander, no Lar, fizeram exame de 4 ª classe, em curso nocturqo o Luciano de Matos, e o Marcos doe Santos. Da 3.ª, fez o Manuel Agostinho. Os que frequentam a Escola Comercial e Industrial, falaram bem de si; o António Boto, transitou para o 2.0

ano. O F ílipiano. está no 4. 0 ano e o Carlos Migueis, no 5.º. O L uiz F erraz, falta-lhe uma cadeira para ser Douto,,.. O Mario H enriques, vai nas mesmas águas. O Cosme, concluiu o seu curso de enfermagem. Será bom enfermeiro, se fizer aos doentes o que fez o Sa­'!Daritano. Se nlto, não. Estes moços do Lar, são herois. Trabalham todo o dia. As horas de estudo, são roubadas ao repouso. Honra lhes seja.

Vamos vêr agora a tropa de Miranda, da Casa do 0-aiato de Mirarda, berço da Obra da Rua. O Luiz de Coimbra, o António de Cête, o Zé Maria da Covilhã o Manuel do Gerardo, o Figueira da Figueira mai-lo Chico do Porto, passaram a prontos. Podem mostrar em toda a parte o seu diploma de 4 ª classe. Da 3. •, fizeram exame o Albino' de Coimbra, o Joaquim idem e o Hi,,.ohito. . . do Japão! Aqui em Paço de Sousa, temos um chines. Em .Miranda, um japones, e o cabeça deles, para mais: O Hirohito! A Obra da Rua é internacional.

O J ollo Freitas de Lisboa e o Armindo, fizeram o primeiro ano do Seminário, com a média de 14 valores. Se estes dois mancebo& forem capazes de virem a esquecer a sua rial pessoa e bens, serão amanhã sacer­dotes. Se não, por muito que ·estudem, nlto.

Vem agora a Casa do Porto. O Lar fios Gaiatos . O Adriano de Tomar, fez a 4. a. classe. Licínio do D ouro mai-lo Mondim, passaram da 3.• à 4.ª. Os de ensino técnico saíram fraquinhos. Não se lhes pode exigir muito, por causa dos trabalhos em que de dia se ocupam. Todos, frequentam escolas da noite. Só a ma grande força de vontade é capaz de triunfar. O Jolio d'Elvas, vai à frente com uma boa passagem para o 3.0 ano comercial. Os outros, são o \Manuel Pinto na Escola Industrial, e o Avelino mai-lo Bernar­dino na Comercial, com fracas notas.

E por ultimo, vamos à Casa de Paço de Sousa, a mais adoravel balburdia que existe debaixo• do sol. Só visto!

Os ~ez grandes, saíram bem da 4.ª classe, feita na comarca de Penafiel, na presença de 3 dot-Ores, como

Continua na terceira página.

Composição a lmpressão-Tlp. da casa Nun' Alvares R. Bania Calarlna, 828-Vlsado pela Comissão de Censura

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C> lv.l:agaJa. é o .António dos R.eis, «qu.inze» d e 'I"omar, a qui mu.ito :i 1ado. «Qu.inze» :foi «o nome» com. qu.a1 o apresen.te i na « A.1deia», E -vin.ha. do 15 de 'I"omar. Porém, , malta. não a.ceita nom~s d e :fa.-vo há.-de ser u.m «~ame» esco1hido pc e1es. Esco1hera m. E' o « LVl:agala.

Este-ve cá, há. dias, u.m 'Visita:n.te. o rapaz c i ceroneou.. E1e gosta. d e 0 :fa z er, c on.q'U.a:n.to n ã o ten.ha a missã c de cicerone. C> v-isita.n.te , por :n.a.tural simpatia , tirou.·lhe o retrato e eu. também por simpatia, dou.-o a. lume . :E' «m a.gala», sim senhor. Olhem pra e botas. Olhem pra posiçã o de se:n.tiÇl.o. C>s r apazes é que sabem pôr a.leu.· :n.hos . :N'ós, n ã o.

tJMA CARTN «Sou neo-sacerdote, leitor do grande jornal «O Gaiato»

«e conhecedor, um pouco, da «Obra da Rua». Quero dar «ao Senhor, na «Obra da Rua» os primeiros centavos que «me foram entregues, pelo serviço ao Altar. Envio em vale «de c,orreio esta pobre e humílde oferta. Digne-se V. acei­«tá-la, não pela importancia, mas pelo significado. Humil-' «demence peço as orações conquistadoras dos lindos «Gaiatos».

Em vez de dar, DÊ·SE. Peça ao seu Superior e venha. A seara é imensa e os obreiros, nenhuns. ·Traga o facho acêso. Nós somos o facho. Morrão, não.

Nunca o mundo precisou tanto de luz, como nesile século chamado o das luzes. Oh! trevas! São os homens que as fazem com a sua Juz; a LUZINHA deles.

Page 2: ·Carta da Obra do Ardina - CEHR-UCPportal.cehr.ft.lisboa.ucp.pt/PadreAmerico/Results/OGaiato/j0064... · guês-Latim, ficando as de Ciencias e Matemática para ·a época de Outubro.

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o ....... .2!:~ ... ca Tenho aqui uma carta do Porto, aonde se

anuncia um comboio especial de visitantes à nossa ALDEIA. A intenção de quem assina é recta. A carta é de agradecer. Eu agradeci, rogando, ao mesmo tempo, que seria melhor ficar para mais tarde a projectada excursão.

Uma das grandes dificuldades que necessa­riamente experimenta quem estiver no meu lugar, é isto de recusar a visita de grupos organisados, que vêm trazer, com devoção, nome e dinheiro para a nossa obra. Parece que devei íamos es­cancarar as portas e fomentar comboios, por­quanto, assentou·se em que as obras valem pelo cartaz, e as excursôes são, de facto, um cartaz. Mas esta doutrina é falsa. A natureza da OBRA DA RUA, pede silencio e ordem.

E' necessário ter-se em conta, para bem com­preender a nossa atitude, que nós, aqui, traba­lhamos com os rapazes. A experlencia já mos­trou, que nos dias de aglomerados, é muito difícil segura-los no seu pôsto. A multidão levanta-os. O ·bulicio, deso1ienta. Anda o Porto na ALDEIA e eles são quási todos do Porto! Que é dos co­zinheiros? Aonde os refeitoreiros? Quem dá de comer aos bois? Quem vai à hortaliça? ·E os do1 mitórios? E os quartos particulares? Quem lava e cuida dos mais pequeninos?

Por muito dinheiro que nos traga a excursão ou pelo bem que vá dizer da obra, nós ficamos sempre mal. Mas há um ponto muitíssimo mais importante, o qual nos leva a dizer que não, com risco de parecer ingrato.

E' o ~ilencio. E' preciso que estes DOENTES não oiçam nada das ruas. Ora a multidão é a rua. Tudo quanto se possa aqui dizer dos estra­gos da rua na alma destas. creanças, fica muito aquem da realidade. O silencio ajuda

arar esta nf ermidades. O silencio deles, feito ulll'io de zaragatas, de queixas, de correr e saltar.

O silencio da vida da nossa grande quinta, feito de bois e de vacas e de galinhas e de car­neiros e de pombas e de tudo. Este é o nosso silencio. E' a vitamina que afasta as ruas; que traz o esquecimento. Alguns curam-se. Pe1-guntei ontem a um dos que fez a 4.a classe, quando queria ir para a Casa do Porto. NUNCA disse êle. Este rapaz f ai az das ruas. Rou~ bava e ia fazer ceias, com a malta, ao Caçoila de Cedof2ita. Alguns curam~se.

Mas, entao, vamos riscar os visitantes? De maneira nenhuma. Que venham. Em pequeninos grupos. Em famílias. já tem calhado anda;e~::t" os nossos cicerones ocupados com muitG~ famílias e isto não perturba a ordem nem o silen­cio devidos à nossa vida. Tudo está no seu lugar, inclusivé os Cicerones.

MAIS UMA CARTA Não se publica toda. O melhor, guarda-se.

Eis o que se pode dar à luz: .J

Peço desculpa de só agora lhe fazer chegar às mãos o dinheiro da assina­tura. Como <penitência> tenho com­prado sempre o jornal, e continuarei a compra-lo se Deus quizer. Dá lucro, sabe, e até apetece <açambarcar> Oaia­tos de papel e de carne e ôsso! Oanha­·Se tanto tendo duma ponta a outra este Evangelho mais novo de todos! -1

Costumo ser muito gabado pelos meus dotes (dizem) de escritor. Até .de uma vez, em certo grupo, aonde estava sendo zurzido com entusiasmo foi-me concedido, ao menos, um titulo. Tem ha: billdade para escrever. Ora a verdade é que cu nunca dei fé de tal. As coisas saem-me da pêna e.orno o leite do peito das mães que amamentam. O~ filhos é que o puxam. Assim estes meus. São eles, a bem ~izer, que fazem o jornal. E' por eles, que ~s le1to~es co'!leçam no principio e aca­bam no f1m,-e ficam a espera de mais. E tanto assim é, que êste simpatico assinante quere açam­barcar uma coisa e outra; o jornal e quem 'lo faz ~petece açambarcar gàiatos de papel e de làrne ~ osso. ~ com ~e alma n~ tenho er de os /dei­xar, m senhor quando e ega a hor de os qolo-car n Porto, c o agora contece!

Oanha-se lendo de uma onta a outra continua a dizer o nosso assinante. Este senho'r é feliz. Tem bom paladar. Chama lucro ao que verda· deiramcnte o é.

O GAIATO

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·Carta da Obra do Ardina Lisboa, Calçada da Glória. 39

'l'razemos-te 11Gaiato11 amigo, a noticia de que um novo jornal-aO Ardina11 acaba de aparecer.

Sonho de há muitos anas, que só agora se realiz11., a 110bra do Ardin!'" tem o seu jornal próprio, um jornal irmão do 11Gaiato», na simplicidade, na vida, que não no estilo e forma.

Precisamos assinantes, senão. • . não conseguimos aguentar nem o jornal, nem a obra. Confiamos a quantos nos lêem a missão de nos conseguir angariar assinaturas. Preço? .•• A' generosidade e expontanei­dade de cada um; muito, ou pouco, tudo receberemos de mães abertas, de alma agradecida.

Toda a correspondência do jornal 110 Ardina11, será para a Sede da o: Obra do Ardina», como é natural: -Calçada da Glória 39, Lisboa.

Não esqueças os nossos rapazes que são afinal, 11gaiatos11, como os mais, que nos estão confiados de uma maneira especial. Abrangemos ardinas e ... famí­lias de Lisboa, por enquanto, à espera que Coimbra e Porto também nos queiram lá.

Para alargarmos e aguentarmos a e Obra do Ardina11 lançamos o jornal «0 Ardina .. , um jornal mensal, que será o porta·voz do ardina de Lisboa para pequenos e .•• grandes de toda o país.

Manda-nos assinantes!' Pede-nos listas para inscrever assinantes, que as

temos à espera que no-las peças. Valeu?-Esperamos a tua resposta, leitor amigo ...

· No 11Gaiato», teremos sempre um irmão maia velho, na idade e no pensamento, teremos sempre um apoio amigo, que tanto nos ajuda a continuar em frente! •..

Fala do 11Ardina11, uGi&iato» amigo, pois é , um irmão teu muito novinho, que vive independente e longe de ti, confiado a uma pobre Assistente Social •.•

E agora, vamos falar-te do que se passa na 11Casa do Ardina11

Temos o João Pereira seriamente doente. Sacrifi­cou-se até ao fim, até chegar à última, por um irmão, a quem queria trazer ao bom caminhe. Morrera-lhes a mãe há poucos meées e o nosso Joll.o Pereira, com 16 anos aP,enas, assumiu o governo e orientaçto doe dois irmãos que lhe ficaram em casa-um de 18 outro de 20 anos.

Há almas assim heroicas entre os nossos ardinas, graças a Deus!

Não tivemos coragem para o obrigarmos a ficar na uCaea do Ardina11, e assim evitarmos-lhe a longa caminhada diária até casa. A resposta era sempre a mesma:

º«Agora, que· oe meus irmãos estão sós, eu sou muito preciso em casa. Logo que o meu iqnão mais

· velho entre na ordem, eu faço o que a Senhora quere ... 11

Como era nafüral, por mais'lrepousos que fizesse durante o dia, a caminhada da manhã. e noite iam desfazendo o nosso trabalho de querer dar-lhe fôrças.

O Joll.o Pereira deu parte de fraco, teve que dar baixa a uma cama, enquanto não lhe podemos arranjar melhor... .

Valia a pena ver a tristeza com que os mais, todos aqueles, que, por o nosso João estar fraco, f,aziam o trabalho dêle, a contarem-nos:

<Sabe, o João Pereiru, está de cama. O irmão chorou a bom chorar, sentindo q11e foi por causa dêle qae . n João piorou, em lugar de melhorar. A Snr.ª

- 10 8·1946 -

Ot como foi a vtnõa õo caõa vt~ mais famoso jornal Digo cada vez mais famoso, e não me engano.

Quem dera a muitos jornais pimpôes, a fama mai-lo proveito que este nosso já tem. O derra­deiro número esgotoo-se completamente! Quando os vendedores de Paço de Sousa me chegam a casa sem nada, e à minha pergunta do que ha­viamas de fazer às praças de Paredes e de S. Vi­cente, o Amadeu responde simplemente. , .

-Bestial. Foi uma venda bestial/ Vinha todo contente, na.o obstante o ter per·

dido a camisola. Sim. Pe1deu a camisola ama­rela. Tem-na, agora, o Oscar.

Este, vendeu 300 numeros e aquele, 294. Mas na venda da Obra da Rua, que é o nosso livro branco, ali é que foi. Enquanto o Amadeu apre­senta a miséria de dois livrecos vendidos, o Oscar despachou trinta e sete deles. Sim senhor.

Trinta e sete livrinhos que o Oscar vendeu I - Como é que tu fazes? -Eu persigo os senhores! Ao Carlos Inácio, que foi o segundo na venda

do livro, fiz identica pergunta. -?! - Eu tanto chateio os senhores que eles não

teem remédio sena.o comprar! Ora eu tenhd sério e justificado receio da

audacia destes meus 1apazes. Não venham eles a fazer no Porto, o que fizeram os americanos aos habitantes de Bikinil Eu persigo os senhores. já agora, por Bikini, um apG1te.

O último número da National Geographic Magazine, traz a história dos Bikinenses e foto­grafias do exodo. Lá vao eles em bicha, com as mulheres e filhos, e os magros have1es embru­lhados em esteiras Reparei mwto num grupo, que entrou no cemitér ia local, a dizer adeus aos seu:, mortos. Tivereram de deixar tudo-cobaias!

Mas continuemos: O Carlos Inácio, além de 25 livros, despachou 262 periodlcos e 68$90 de acréscimos. O Ernesto, 200 ce1 linhos e 28$90 a mais. O Rui, 101 jornais, 4 livros e 24$50 de acréscimos. O Torcato vendeu 168 e trouxe 54$80 de act és cimos e o cão. Sim o nosso cão, o Piloto. Foi assim : O cao tinha ido ontem na rêde. O rapaz chorou e pediu para o ir buscar sem saber aonde era o canil da Câmara. Nao o deixaram ir. Torna a oedir. Tornam a diser que não. Que faz Torcato ? Apressa a venda, pergunta a um policia aonde é que prendem os cães, e lá vai êle.

-Dá cá seis escudos. -Não tenho dinheiro. -Tens ai. -Não é meu. Os senhores p1esentes, souberam que e:,tavam

em frente de um gaiato. Tanto bastou para abrir as portas ao ctlo, pagar a hospedagem e dirigil palavras amigas ao libertador. Bem hajam. Quem meu filho ama, minha bôca adoça.

O Avelino vendeu 100 jornais, trouxe 33$00 áe sobras e despachou 4 livros. O Ferreirinha, andou com 72 jornais, 33$10 de sobras e um li­vro. Os dois que foram a Espinho, deixaram lá ficar 10 livros e 120 gaiatos. Os de Leça, 7 li· vros e 100 gaiatos. Dez assinantes antigos, con­fiaram aos rapazes 455$00. Oito senhores e senhoras, inscreveram-se no ró!.

A venda total foi de quatro mil duzentos e vinte escudos e setenta centavos.

Nunca tão poucos fizeram tanto!

D. Maria E ugénia está. a tratar dêle, lá no Bairro. O Snr. Silva foi hoje para lá, para o animar".

Daí a poucas minutos, encontramos três ardinas na estação do Rossio, aproximando-se duma bilheteira, com grandes embrulhos debaixo do braço.

-O que é que vocês Levam ai? Preguntamos-lhes. Num sorriso, cheio daquela caridade que o Senhor

veio acender no mundo, explicam-nos: uPào para o João Pereira. Um dúzia de bananas,

que lhe manda o Snr. Campos (o mestre de oficina de serralheiro quando nos fazes encomendas? •.• ) Batatas e bacalhau para o jantar dêle hoje11. E, como se não tivessemoe percebido ainda, rematam:

11 N óa três, vamos visitá-lo ••• , Comentários ? Não valem a pena, pois só estraga- .

riam a lição de caridade, de fraternidade, que os no3-soe rapazinhos dão a um mund<> que só vive de ódio e má· vontade •. •

Era t1o fácil haver verdadeira Paz entro cs hamena, se todos quisessem imitar êstes nossos t'1'BB ardina•.

MARIA · LUI SA

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·.

-101J-1946 -

·aegressou «i óase<0 primeiro '.grupo de colonos das ilhas, e --0 segundo encontra-se de saude, a rilhar.

Imediatamente •antes da partida, e já de JWALA feito,, meram os garotos dizer adeus aos .. seus irmttos da ALDEIA. Antes, haviam-se pe­sado. Pelas contas que fiEemos1 levaram para a cidade 715 quilos e 3()(j gramas, media de dois

.quilos a·cada bico. .fsto significa deficiencia de . alimentação na sua terra natal. Este é o pri· ·meiro.beneficio das colónias1 aquêle que se apalpa· .com os dedos. As mães, pelo muito que querem ,aos filhos, são p,s primeiras a dar fé-Ali FILHO ,,QUE :VE,N'S .TA(!) Ll'NDOJ Já era lindo, mas ~gora, mais.

O José Sara ilia, foi acompanhar os miudos . .(} estaçã.o de S. Bento e f a2er entrega às f amilias. Não é preciso que todos li.ajam anunciado pré­.viamente a ida;; o postal dum, é aviso geral. São • conhecidos. São da ILHA. Os pobres conhe­c em-se. Levava ·recado, o José Saraiva, para conduzir à nos6a .Casa do Porto, alguns cujos p ais não viessem, porventuf:a, reclamar. Não foi necessár.io esta medida. Uns conduziram os .eutros -e todos, naquela . noite, fizeram serão, a inteirar a jamilia das mar.avilhosas colónias. . f/aQ'ia dois, neste g1upo, que não tinham

casa. Diziam-no eles e confirmavam os campa· ,nheires: D(jRME NOS ALBERGUES A MAIS A .MÃE.

Não ,é novidade nenhuma para os leitores de <O Gaiato>.; o que eu sumamente pretendo, é que :nenhum deles se afaça a ouvir estas anomalias, .e deixe ·correr.. Não. E' necessário que cada • um teime. $e não pode fazer mais, que chorei . A creança mexe !fª ferida. Denunc:ia o aleijão

.social: AQUELE NA.O TEM CASA. Felizmente ,para todos nós, as coisas vão-se modificando. Não é só ouvir-se .falar do problema; é também VER como ete se val resolvendo: MAIS TANTOS C ONTOS PARA CASAS DE POBRES,-costu­.ma vir ·nos Diários.

'O Gregório do fundão, ocupado no seu trabalho

iO nosso anó escolar · Continua9ão da primeira página

'<iizem os rapazes de Coimbra. São êles o Fino d_a C o•ilhã, o António de Penafiel e o Prata, também da .Covilhã, que ficaram distintos. Honra lhes seja. F requentaram a escola da noite, por terem ocupações; 'ºª dois primeiros, a de carpinteiro e o terceiro, chefe .ç.a cop~. O Chegudinho, o ÂtJ6sinha, o Elvas, tantas 'Vezes aqui chamados; o Gari o Vitela, azes do nosso grupo da bola; o Manel Costa de Lisboa, maçagiata do .dito grupo; e o Fala-grossa, que é ~ Alfredo do Porto, .todos estes foram coroados por Minerva. Alguns vão :sair do ninho . Oh dôr! Dôr minha. Mais me valera .nunca os ter conhecido!

Entraram na 4.ª classe uma meia duzia deles, ;também grandes, que são o Pepe de E 1panha, o Fet­~ando e o Carlos Inácio e o Zé Sá, todos do Porto. •O ~orberto de Paredes e o Ernesto de Rezende .

Eu dantes era pregador. Quando estava muitos .dias na mesma terra, reservava um para pregar os h orrores do analfabetismo. Não é doutrina expressa no decalogo, mas subintende-se no 4. o mandamento. Pois bem. De uma vez, em uma freguesia do conce­lho de Pombal, tais coisas disse no pulpito, que as duas professoras da terra vieram ter comigo à sacristia: Cale-se que já nllo temos lugar p~ra mais rapazes! Andaram os tempos. Sou o mesmo ,pregador. Aqui há .tugares.

O GAIATO

Crónica do Lar do Porto Raa D. João IV - 68.1

Os leitores assíduos já sabem que na1 nossas comu­nidades, além dos rapazes, há pombas, galinhas, pin­tainhos, patos, suínos, gatos e cães. Ora é precisa­mente o noBBo cão - o Piloto - o heroi desta nota de abertura. Ele e o seu mais dilecto amigo, o Poupa­º 'I orcato de Vila Meã.

Foi o caso que o Piloto, apanhando o portão entrea­berto,"jugiu para a rua, mais uma vez. Isso acon­tece vulgarmente e depois do seu passeio vem sentar-se à porta até que algum transeunte lhe fa<;a o favor de tocar à campaínha • •. ·Ele é muito conhecido aqui nas 'l'edondezas .

Ora naquela manhã a demora prolongava·se. 'locam à campainha. Era um 'l'apaz desconhecido que vinha trazei/' a triste nova:

-O vosso cão foi apanhado pela i·ede na Rua das 12 Casa~

O Poupa até chorou. Ele tem a predilecção doa animais e por isso mesmo é o encar'l'egado da capoeira e dos dois esperançosos báco,.os que o Snr. La Llave para aqui ofereceu e que - diga·se de paHagem-vão em aumento consolador. · -

O Barna'l'dino fez-se jorte e la enguliu como pôde as lágrima~ que a prisão maior celular do seu querido Piloto lhe causou. ' .

Desde logo começaram os pedidos para a redenção do cativo, mas havia quem clisseau que una dias à sombra seria o juatp caatigp pa'l'a o endiâbrado cão · q~ é a alegria dos rapazes e o terror da nossa cos· tureira, com ·a mania de traçar à dentada a peça de roupa que apanhe menos acautelada .

ChegtJu, enjim, o dia da venda do ultimo número. Poupa, muito senhor da sua, esperava-o. Levou com ele o Rui e joram vender o jornal. • • para o canil. Chegaram lá, disseram ao q11e iam. O pessoal en· volveu-os naquela simpatia que o povo trabalhador do Porto tem pelos gai atos. Quando os 'l'apazes chegaram à cela do recluso este expandiu·se ue até pôs a pata em cima da minha cabeçan -diase o Poupa.

Oa 'l'apazea foram à presença do Snr. EngwnJuiro­·Directo'I' e logo começaram as negociaç3es para a 'l'edenção do cativo. O pior"joi qwtndo pediram 6(,00 pelos 3 dias de hospedagem. O Poupa tinha comigo isso e muito maia, tão bàa fora a ventla de Gaiate no pessoal daquele estabelecimento cama'l'ário. , Mas.o que êle não tinha era autorização para dispor dúma só mo~da. Viu assim ruir todos os seus esforços. E maia uma vez chorou.

Um senhor então disse: Então é preciso dar 6~00? Eles aqui estão-conta ainda o Poupa. .

E o Piloto foi entregue. O pessoal ar'l'anjou guita com que os dois herois trouxeram o animal à t'l'ela. A 'l'ecepção em casa joi estrondosa e à hora da ceia o procedimento do Poupa foi p8sto em 'l'elêvo e perdoado o destJio da sua zona de venda do jornal pela boa intenção do seu gesto de carinho pelos animais. Não se perdeu a ocasião de dai/' uma li<;ão sôbre os noBBo• deveres para com os animais domésticos.

SERVO.

Notícias dos nossos poLres

Foi admitido mais um pobreslnho; chama-se Filomena. Estão encarregados de o visitar o nosso Secretário mai-lo Júlio. Já pedimos ao Snr. Dr. Alvaro Ferreira Alves .para que o nosso pobresi­nho seja internado no Sanatório Marítimo, visto sofrer de tuberculose ossea, respondendo-nos que assim que houver vaga o internaria.

Foi suspenso o pobre António Palhas, que já arranjou trabalho. Foi este dos que mais· gosto nos deram. Ele que era um. revoltado, sem crença, com a nossa ajuda e visita, já pensa doutra ma· neira, a ponto de já procurar e conseguir trabalho, coisa de que tinha desistido. Ele disse que a nossa visita todas as semanas, mais do que a esmola, lhe dava conforto e o fez acreditar na bondade dos homens.

O pobre do Adriano, tinha -a casita lin:tpinha e muito bem arrumada, mas precisa muito de um casaco .

O vélhinho da rua f ernão de Magalhães espera que os nossos leitores lhe dêm roupa para a cama, visto não·ter nada com que a fazer.

A pobresinha de Camões dii. n,ão estar melhor. Agora vende tremoços à porta da sua casita, para ir vivendo daquele pouco que ganha.

O Fernando Marques (o Piolho) fez há dias 13 anos. O patrao deu-lhe um grande embrulho de dôces finos que o Fernando serviu a todos os companheiros. Ainda havia mais de metade de

Do que nós necessitamos

Mais, do Porto, 50$00 e 50$00 e 20$00. Mais de visitantes 500i00 e 500$00 e 100$00 e 150$00 e 50$00 e 120$00 de um grupo de caminheta e mais uma pancadaria de notas pc.quenas e moedas, de pessoas que entregam aos nossos rapazes. Pode ser que algum deles fique com o dinheiro para si • Pode ser. Não temos maneira de controlar~ por­quanto os visitantes costumam fazér cicerone do primeiro rapaz que topam e não esperam pelo verdadeiro cicerone.

Eu, porém, nunca dei fé de extravias de di· .. nheiros que entregam para a casa. Mesmo que houvesse a tentação, vinha-se a saber. E' m.uito difícil guardar um segrêdo aqui dentro, pela liber- . dade que todos teem de falar. Mais. Desd~ que o Zé Maria de Sinfães está na cadeia, eu costumo , perguntar à noite, no tribunal, a propósito de coi­sitas do dia, a quem aproveitou ·o dinheiro que ele roubou.

O caso do ladrão de Sinfães, tem dado e éstá para dar grandes lições àlnossa comunidade. E' caso vivo. O recluso, continua a escrever cartas dos tristes ferros da prisão e mais coisas que ele não sente, porq{.\e os outros lhas ditam, mas que, contudo, oferecem matéria adequada às nossas terríveis audiencias.

Mais um pacote de roupas da capital. Mais um dito da mesma procedencia. Quem nos dera muita roupa usada, agora, que passam pela nossa cása, duzentos garotos · das ilhas, no fio! Do pri­meiro grupo, vestimos cinco, de entre os mais necessitados, mas eles, a bem dizer, eram todos irmãos. Que fazes à~ roupas dos teus filhos? Leitora dos cinco cantos do mundo, quando fizeres as malas das praias, manda para Paço de Sousa ou Miranda do Corvo o que lá não couber - aquêle não tem casa. Nem róupa, digo eu.

-dôces e foi dito ao Fernando que os comesse, pois a 'festa era dêle. Mas êle disse que o nosso­pobre da tuberculose ossea e o vélhinho só comiam de desejos e por isso pedia licença para levar àqueles dois pobresinhos os dôces que sobraram. Está claro que lhe foi autorizado e o gesto do nosso Piolho foi muito apreciado por todos.

O presidente

Júlio Mendes

Notícias diver8afil

Vieram de Paço de Sousa, três rapazes para · se empregarem; são o Vitela, Avozinha e Elvas. O Elvas já está empregado na Junta dos Produtos Pecuárias, e os outros dois brevemente também estarão colocados.

• Um dia destes houve barulho; foi o caso de o

Bernardino e o Ferreirinha se embrulharem à pancada· como sabem venceu o mais forte. . • A malta c~rreu a pedir a intervenção de quem eles respeitassem mais porque como são ambos do mesmo corpo e aquilo parecia o catch sem 1ounds. Mas já estão amigos.

• O Júlio concluiu os exames do 2.º ano comer-

cial co{Tl a média de 14 valores. . A •

Teve como prémio o louvor da sua consctencta, a alegri~ do Snr. P.e Amé.rico e um fato novo.. .

Como prémio da apltcação ao. estudo o ]ui.lo, o Amadeu o Adriano, o José Francisco e o Domm­gos foram' dar um pas~eio de atito~ó·1el à Povoa de .Varzim e confratermzaram num 1antar.

• •• Entregaram nesta casa do Porto: '. Vinte escudos de um anónimo e mais 5o~OO

de• outro. 100$00 do Sr. Júlio Ferreira d~ Almeida. Azeite para o S.S., dois lençojs e um cobe.rtor e mais nada. Agradecemos ~os nossos benfeitores.

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_,_

O NTEM foi domingo. ·O do­mingo é dia de visitantes. Os cicerones não teem pa­

rança e gostam de mostrar. Ape­nas um carro faz alto, ai está o rapaz zeloso e desempedido: esta é a Casa-Mãe.

Os adultos não vão. A ordem foi dada, desde o principio. Nós não teríamos a graça que eles teem. A obra é deles. Sabem e sentem que é deles. Quem me­lhor, do que o próprio, pode falar do que é seu?!

Ele é verdade que há um ponto fraco, neste nosso sistema de mostrar a Aldeia; às vezes, os

' serto. Foi a semana da minha or-denação sacerdotal. Tinha 42 anos de idade!

Aqui, não poderia recordar como desejo aqueles dias de pentecostes. Porto, Coimbra, Miranda,- em todas as nossas casas anda o Mafarrico à solta !

Peço desculpa de ffflar de mim, mas é para bem dos outros. Bem dos leitores. Bem do mundo.

Que há de verdadeiramente grande que se tenha feito, sem recorrer à oração ? E que lugar próprio há para ela, senão o deserto? O Mestre fazia assim!

cicerones. pegam-se : , e _,,e,,__.._ -Vai te embora que eu já cá "----- - 1

ando. ) o uvi ontem recado de um -Não vou nada.

1 que se quere ir embora. Ele

Ora isto é um bocadinho de já fugiu e de novo regressou. desorganisação. Mas como os Agora, ao que ouvi, enfeita-se visitantes não teem reclamado, a p,,ara tornar. E' dos médios. Tem gente deixa correr. saúde. Na escola, dá conta. Qual

é, então, o mal deste rapaz? Não quere trabalhar ! Mais nada. •••

A NDAVAM aqui o Alfredo mai-lo Inácio, com uma grande vara na mão, atrás

de um dos nossos muitos gatos. Era em cima, nas salas g randes da casa principal. Quiz saber de 1amanho desalinho. Respondeu o Alfredo: esfe gato é o que suja a nossa obr;gação.

Ninguém diria melhor as suas queixas, do que este rapaz disse as que tem do gato, por lhe sujar a obrigação. ·

l

••• f E sT AVA eu ontem à tarde na

mata, fronteiriça à nossa aldeia, ao pé de um lago

que ali temos. Alguns dos nossos, regavam os campos, no fundo, enquanto o sol poente acendia fogueir~s nas vidraças da aldeia.

Tinha o pensamento ocupado, naquela maré, com a questão da catequese dos nossos rapazes. Eles são tantos! São tão dispares! Impõe-se uma organisação séria, em matéria de tal monta. Nisto, oiço o.. sino da capela, a chamar para a devoção da tarde. Fui. A tropa já estava, em seq e:1rnbe~ n,mte desalinho, com o 1.ttácio na presidência. No final do terço olho pela ·capela abaixo e dou com o Lutero a fazer o sinal da Cruz no Batata Nova. O catecú­meno, com a cara muito suja da tE'rra, dava o rôsto ao catequista: livre-nos Deus Nosso Senhor. Fi­quei muito contente.

Eu tenho que o nosso Bom Deus ajuda muito aos qi.e sofrem os problemas que necessàriamente se levantam numa comunidade de almas, sem recursos humanos. Este da catequese, não é dos maiores, mas é muito grande e muito importante. · Como naquela tarde me tivesse

afligido imenso com este pensa­mento, ·quiz Deus mandar alguém a confortar-me. Foi o pequeno da viela, o António Lutero,-filho \ de uma meretriz!

••• O Amandio veio agora aqui

trazer um envelope com 500$ e disse :

, -E' do senhor que me deu o relógio no Porto.

-Aonde está ele? - Ali eni baixo, no automóvel .. Desci muito depressa. Era um

carro !lluito modesto, assim como o senhor, a Esposa e o Pai que estavam dentro. Falamos. O carro andou. Dai a nada calhou-me passar pela enfermaria. O Zé da Lenha está na enfermaria, agora como doente. Chamou por mim. Deu:me um envelope com 100$00.

-Quem te deu isto? - Foi a minha senhor:a. - Quem é a tua senhora? -E' a mulher do senhor do

Amandio. \ 1 -A mesma famflia do carro

modestõ, naquela tatde, deu 500$ ao Amandio, deu HX>$ ao Zé da Lenha. Quanto mais terá dado? Quanto mais terá para dar?

Feliz de quem sabe repartir. O amontoar é contra a letra do Evangelho. Ajuntas, e não sabes quem vai colher, ó desgraçado ~v.arento! • • • ·

A RRANJEI 3 dias na semana que vai de 22 a 29 ile Julho e fu'gi para qm lugar de- ·

Nem sempre se puxa a tribu­nal o caso de cada um; muitos há que s ão tratados em particu­lar. Porém, êste do mquieto vadio, foi tratado em público. Não se disse .o nome, como tam­bém aqui se não diz, mas os rapa­zes sabem muito bem de qual deles se trata.

A hora dos avisos é ansiada. A' ceia, ninguém se levanta, sem que o chefe vá perguntar se há avisos. A comunidade gosta de ouvir novidades. Notícias da casa. Naquela noite, ouviram-me dizer q_ue um dos presentes é infiel. Que se um rapaz de olhos aber­tos, troca por aventuras uma oportunidade de se fazer homem ~onesto, êsse tal peca. E' temar a Deus. E desfiei: Temos aqui alimentação sadia e abundante. Temos variedade de trabalhos ,e quem ensine a trabalhar. Todos podem escolher a sua vocação: Artistas, camponeses, comércio, indústria, ciências, sacerdotes -tudo. Temos o padre espifitual pronto sempre a ouvir segredos e a dizer segredos. Sim, repeti; é tentar a Deus, se algum dos 'presentes abandona estes benefí­cios para ser, depois, um abando­nado.

O rapaz estava na múltidão. Ouviu. Não sei como vai reagir. Nós não podemos salvar quem se não quere salvar.

Mas podemos e queremos dizer-lhes as coisas com sinceri­dade. Dize-las a eles. Dize-las como elas são, para os escaldar.

Eu tenho como um mal, quando oiço que os chamados conselhos disciplinares das casas de educa­ção, se reunem para deliberar acêrca do educando e talham. O rapaz, em regra, não é tido nE'.m havido. Vai-se embora, que assim foi deliberado. E' mais cómodo. I E daqui nasce que pela vida fora, vemos mais adaptações do que vocações.

~e:-~

O pastor, que é o Zulmiro de Raimonda, deu ontem uma formidável tareia num

colono, dos maiores. Foi assim: ele passava com o rebanho, do pasto, e vai um colono atira-se a uma ovelha: à rola. A'quela, jus · tamente, que o Zulmiro mais preza. Que faz o Zulmiro? De­sata à cacetada ao atrevido.

Toma lá. Não te metesses com a ovelha. Mete-te com o carneiro, a ver como é. Ele, o Zulmiro, sabe como é. O carneiro já o tem botado ao chão um rôr de vezes!

Aqui há tempos, esteve cá, de visita um, g rupo de Raimonda, a saber notícias da ferp. A fera é este pastor. Veio com esse nome e fazia-as por lá de todo o tama­nl1o. Eu disse que não tinha nada a declinar contra ele,-nadinha. Grande espanto na multidão e ouve-se uma voz- : eram as más companhias! A mãe do rapaz estava no grupo. Foi ela quem atinou. A voz era dela. Conhece o filho! Por muito que a mulher se degrade, sendo mãe, é !)eroica. Conheci em Coimbra uma rapa­riga formosa, que por muito pisar caminhos, deu em farrapo. De vez em quando aparecia-me com novo · filho . ao colo, envelhecida, atrastada, cansada ge pecar. Con­versavamos .aonde calhava, e

O ti Ai ATO

aprendi na vida dela, que na misé­ria, também há heroísmo.

••• O Periquito veio hoje aqui

para a porta do meu escri­tório, cortar o cabelo do

Amandio e do Zé Eduardo, à papo seco. Achei o lugar um nadinha descabido. Podia ter ido para outra casa, ou, até, para os cam­pos, como ele costuma fazer, nos dia:s em que rapa os mais peque­nos. Na Casa Mãe, ao pé do meu escritório! E' abusar.

~__!...! •

O S nossos da Casa do Porto,/ receberam um pequeno da ilha, que pretendia vir para

as colónias. Como se apresen­tasse com a cabeça muito suja, eles foram dar-lhe um banho, não fosse mal contagioso. Enquanto o lavavam, ele queixa-se de outro mal, do seu verdadeiro mal: tenho fome. Os nossos, pareciam não lhe prestar atenção, e continua­vam a esfregar, mas o pequenino doente, também continuava: tenho fome.

Ninguém melhor do que eles, compn:endia o queixoso ; eles, que também a tiveram! Nem sempre significa posse o verbo ter. ·Quem tem fome, não tem nada.

Os nossos deram-lhe de comer. Ele comeu e comeu e comeu. No fim, pediu um papél : é para levar as sobras.

O Bernardino, foi o autor deste quadro, que seria belo, se não tôra t rágico. O Bernardino veio do Bêco de Coimbra. Sabe o .:iue por la passou, naquele tempo.

Hbje, é um empregado da Casa Piloto . Quem vai com­prar a este e a outros es­tabeleçimentos, onde se ocupam os nossos Gaiatos, nem sequer suspeita dos seus trabal!Jos dou­trora. Só quem vê como e onde vivia o Bernardino da Casa Pi­loto! Vi eu. Sei eu.

Por muito ter sofrido, êste e outros, agora, amam. .

l =8~r: ;:::r·l:s:e U7:pa:OI~~ )

Casa do Gaiato. Pelo muito que- sofreram, hoje

}amam. - ... O Miguel, passou para o lu­

gar do Avõsinha. E' agora o dispenseiro. Ele é ver­

dade que o seu passado, aqui, oferece garantias muito fracas.

Ele é o que ia ó açucar, quando era refeitoreiro. ia muitas vezes e numa que foi apanhado, almo­fadou-se com medo da colher de pau . . . Sim. Não é de muita con­fiança o Miguel de Coimbra, mas nós, por isso mesmo vamos ten­tar a sua emenda. Ele tem uns 10 anos. Está em muito boa idade.

••• J Á é muito mais difícil o Mário

do Bonfim. Ontem à noite, toi chamado, com outros, para descascar batatas. Os outros vie­ram. Ele,-não. Não quiz vir. Tem 17 anos. Esteve connosco. Saiu. Regressou meses depois. Ã mudança. A idade. A índole. Tem muito que trabalhar se qui­zer fazer alguma coisa de si mesmo. Há-de ser ele que há-de ajudar-se. Por nós, o mais que lhe podemos fazer na desobediencia das batatas, foi privá-lo delas ao jantar do dia seguinte, ~om reco­mendação especial do chefe de cozinha e do chefe de refeitório, para que ninguém lhe desse das suas. Se o fizesse, não seria amigo. Nem dele nem da casa. Este caso de desobediencia, foi muito sério. Que o saiba, pelo O Gaiato, o Mário. Que o saibam, no Porto, pela mesma via, os que se interessam pelo delinquente.

••• T EMOS o Periquito no leito.

Desta vez é coisa séria. Caiu sem sentidos e ficou

no chão um rôr de tempo. Lev11n­:ou-se. Tornou a cair. O Médico anda: a estudar o caso. O Carfos, também guarda o Jeito, por coisa som.enos. ••• COMO é sabido, o Vitela ali·

mentou dois porquitos que ficaram sem tetas. O caso

foi aqui muito falado, e também entre os leitores, com certeza_ Ora muito bem. Foi-lhe prome-. tido um. Venderam-se os dois na feira por 150~00. ·

- Quanto te calha? -75$00. O rapaz era estrela na classe.

Ou ele não fosse de Lisboa Três quarteirões de escudos na

mão de uma creança, <:om ordem de os gastar no que quizer, é pro­blema quase insolvente; os garo­tos querem tudo. Mas o José Francisco, não. Que quis ele'2 Um canário. Temos uma gaiola vazia nc refeitório das senhoras .. Gaiola •sem passarinhos. Fonte sem água. Lar sem filhos. - Oh! desolação! O pequenino viu essa desolação: quero um canário para a nossa gaiola.

Apanhava pontas nas ruas da capital. Que mais via êle por lá?.­Que vistas oferece a rua, à creança que nela mora? Oh! mundo; da à creança o que ela merece e conta com um homem.

••• ..____ D EVO ao Zé Eduardo, ao }

Porto, o relato deste caso,. pois que tantas vezes aqui /

temos falado em seu desabono: Um senhor de categoria, encon­trou o rapaz algures e ofereceu.­·lhe dinheiro para uma laranj_ada. Eram 17 horas, de um dia de bra­zas. A laranjada é doce -e linda e fresca.

- Não posso aceitaf. - Sabes onde elas se vendem'2 - E' além, naquela loja. -Vamos lá os dois e hebes

comigo. -.Não posso.

- 1(f~t94õ-

-Rndà dai; que eu falo com ~' ~·ª Américo.

Não posso aceitar. E não foi. O próprio senhor~

admirado do que acabava de ou­vir,. veie-me contar.

A" noite, chamei· o Po11to• ao tri.:. bunal, para lhe fazer j,ustiç,a. Os c:ompanheiros deram palmas. Não podes comer eomlgo à mesa, dis-· se-lhe, porque és chefe e tens. muito que fazer a essa hora. Tãcr­poueo dar-te um passeio 110 nosso carro, porque enjôas. Estudarei · o caso. Não que o dever cumprido ' mer.eça prémio, que não merece . . Mas é pela alegria qµe tu a<>abas de dar à comunidade. O Zé Eduar.do, estava aeo pé- de mim._ O bando disper.sa e e le fica na sua obrigação. Da~ a nada vem. ter comigo;. humildemente, meiga- ­mente:

- Já estudou?· Eu caleirme. - Não estude. Dê-me alguma

c:oisinha pai:a eu dar à minha mãe!' Foi no dia seguinte ao. Porto,. levai; alguma coisinha à mãe, Quem não há-de cooperar na acção de um filho q_ue deseja ser ,­bom cristão, agora, que há tão pou.cos! E Qara que serve o di­nheiro, senão para estas o'casiões?~ Orçamentos~ nesta e em obras se­melhantes, são os apagadores das. generosidades. Toma rapaz. Di-­nheko pró comhoK>, pró eléctrico P.ara uma laranjada, pra tua mãe. ~úanto? Não imgorta. Eu era . do Patronato das Prisõ.es, naquele tempo. Andava gelas cadeias das. comarcas,_c1. m despesas de trens-­portes e outras_ Não pode con­tinuar; não há._verba no orçamento, disseram-me, oficialmente. !

Quebrei as algemas naqhela hora. Ninguém me tomou a amar-rar: Toma rapaz.. /

Assin.atu:rasipaMas , -- Acabo de ler por emprestimo os n.0 ª 54 e 56 de cO

Gaiato >. Oue lhe direi? Ü\ie ao tentar sublinhar as passagens que mais me impressionml',. tive d, desistir, pois feria de subli-· nhar tudo. "O Gaiato > faz em mim a impressão que à, creança, faz uma loja de brinq,uedos;. dão·lhe a escolher. um; ela hesita., escolhe um, depois outro, e outro e acaba por dizer: Ouero tudo! E' o que se dá comig.o e os artigos do Galato1-quero-o!>" a todos. (Da~ car,.)

Uma loja de brinquedos,. quiz est-e leiwf chamar à nossa forma de viver. Pela idade e pela indole-;' assim tem que ser~ Até os castigos são a brincar. Não sabe deterininar-se na. e~colha e: lê tudo. Quere tudo. Q uereria mais, se a loja., fosse ma10r.

Dentro desta Obra,. não se pode ser formal. As coisas. mais solenes, hão-de ser levadas como quem brinca, ou não caminham. Aproveita-se tudo quanto o rapaz. nos oferece e· é com este material que edificamos~ Não é nada nosso. Não~ é nada dos codigos. E~ tudo dele.. Eis a graça infantil dG jornal, que é a voz fiel dos rapazes.. Se ocupassemos as suas. colunas com tratados sérios de psicologia , não tinhamos lei-­tores. Haveria, sim, quem assinasse, para auxiliar a obra mas quem lêsse, não. Ora n©s Ji>retendemos mas é quem leia: Quem goste da profusão, a pontos de levar a loja em péso)I. por não saber determinar-se na escolha. Que o mesmo é: dizer : quem leia o jornal de ponta a ponta por não ter tempo de o deixa·r. '

O numero de assinaturas, vai subindo. Quási te>dos os•· dias há um ou mais que pedem. Mas queremos mais, mais,. mais.

Isaura Rodrigues da Costa, Anadia, 50$; Maria Seabra da Costa, Anadia, 50$; Helena Nico­lau da Costa Maia, Vila N. de Gaia, 25$; Emília de Sousa Va­lente, Vila N. de Gaia, 30$; Dr. A. de Sousa Valente, Vila N. de Gaia, 30$; Conceição Pereira de Sousa, tVila N. de Gaia 25$ ; Ma­ria Luísa de Sousa Valente, Vila N. de Gaia, 30$; António Nicolau da Çosta Maia, 25$; António Mário Ribeiro da Costa, 100$; Artur Salgado Faria, 50$; Artur de Moura Portugal e Brito, 50$ ; Adolfo José da Fonseca, 100$· J. C: Valente Perfeito, 100$; A. R'. Silva Lima, 50$; Alvaro dos San­tos Rodrigues, 40$00, todos do Porto.

Cândida da Purificação Pinto de Sousa, Braga, 20$; Dr. Joa­quim Belo, Valença do Minho, 100$; Teresa de Jesus Oliveira .Albuq!l~rque, Lamego, 50$ ; Có­nego Manuel de Almeida, Lamego, 00$; Dr. Carlos Pinto Resende,

Lamego, 50$; Maria da Coneeição­Costa Carrusca, 10$; Catarina da Conce!ção Carrusca, 10$; Maria d~ Bnto Luz, 15S; Domingos da Silva Gomes. 20$1 Maria do.­Carmo Lopes da Cruz, 40$· Ma-­ria Teresa Mendonça, 2r1$; 'João Faísca Panasqueira, 20$, todos de S. Braz de AIP.ortel. · Otília Ventura (2 meses), Es- · toril, 10$; Esperança de Azevedo.. Soares, Trancoso, 30$i Eng.º Joa­quim Evaristo. da Silva, S. Marti-­nho do Porto, 50$; Maria Pelicano Fernandes, Barrancos, 100$; Ja­nuário da Conceição, Sarzedas, 50$; Eng.º Inácio Teixeira Coelho, Fermi!, 30$; P.• Mário Brito, Avô,_ 100$; P .e Joaquim dos Santos Lopes Pimentel, Aguas Belas, 20$;. P.e Manuel António Pires, Mesão" -Frio, 30$; Carlos de Sousa Ri·· beiro, 50$; Carlos Calçada Bastos,. 100$; Margarida Carneiro, 50$;. Alípio F. Cruz, 50$: Fernando. Santos e Silva, 100$; Aida de­Sequeira Costa Andrade1 f?<)$l:.