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Boletim do Centro de Documentação e Informação Carta Náutica Agosto 2012 «Atas do 7º Congresso European Maritime Heritage» Das últimas aquisições… Neste número: Das últimas aquisições -Atas do 7º Congresso European Maritime Heritage Das nossas estantes - Soft Values of Seaports Revista do mês - Revista de Marinha O que se passa por aqui Pesquisa de contratos Leitor do mês - Marques Afonso Boletim Bibliográfico Julho de 2012 Ligações Interessantes AMTC - Associação para o Museu dos Transportes e Comunicações Foto Final Contactos Conte-nos o que tem lido! Envie para CDI@portodelisboa .pt o seu comentário sobre um livro que tenha gostado (ou não!), e partilhe com os demais a sua experiência. Das nossas estantes… O que se passa por aqui Revista do mês Questões ou Comentários? Envie para [email protected], ou ligue 21 361 10 45. Visite-nos na Rua da Junqueira, 94 - 1349-026 Lisboa Caso receba esta Carta Náutica desformatada, seleccione, no Microsoft Outlook, Actions” e, depois, “View in Browser”. Caso não pretenda receber esta Carta Náutica informe-nos. Leitor do mês Ligação Interessante Boletim Bibliográfico O Boletim Bibliográfico é editado periodicamente pelo Centro de Documentação e Informação. A sua finalidade é dar a conhecer ao leitor todas as publicações que deram entrada no CDI, revistas ou livros destacando-se vários artigos na intranet; nele figuram, igualmente, as informações destacadas durante o mês, sob a forma de legislação ou de artigos. As publicações não periódicas, ou livros, são apresentadas através da catalogação enquanto as publicações periódicas podem ser visualizadas através dos índices dos respetivos artigos de modo a que facilmente o leitor possa escolher o tema que o interesse. As publicações periódicas são regularmente enviadas a todos os leitores que as tenham solicitado mas qualquer leitor pode requisitar ao CDI a disponibilização de livro ou artigo avulso que pretenda. Marques Afonso Pesquisa de Contratos, Licenças, Acordos e Autos da APL Foto Final Nota: O Boletim Bibliográfico encontra-se na intranet da APL (para o ler necessita de aceder previamente à intranet). Evolução ou Revolução na Pilotagem Nota: Este artigo encontra-se na intranet da APL (para o ler necessita de aceder previamente à intranet). Soft Values of Seaports, Eric Van Hooydonk, ed. Garant, 2007 Págs. 192 Se gostou deste vai gostar: Ports are more than piers: liber amicorum presented to Prof. Dr. Willy Winkelmans, De Lloyd, Antwerp, 2006, 428 págs. «Soft Values of Seaports — a strategy for the restoration of public support for seaports» «Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra» - Mia Couto Se gostou deste vai gostar: Caderno de Todos os Barcos do Tejo, edição fac-similada da Câmara Municipal de Lisboa, 1982, 20 págs. Algo que era resultado da prática e conhecimento empírico foi-se transformando, gradualmente, numa técnica cada vez mais especializada que exige constante atualização no conhecimento das tecnologias associadas aos equipamentos marítimos. Essa especialização é apoiada por associações profissionais, de pilotos que detêm conhecimento dos PPU – Pilot Portable Units – que representam o atual culminar das novas tecnologias aplicadas à Pilotagem. É tal a mudança que o autor deste artigo da Revista de Marinha, o Com. nte Rui Nunes, Piloto da Barra do Porto de Lisboa, considera estar a acontecer uma verdadeira Revolução na profissão, na medida em que o desempenho, bastante eficiente e seguro, sustentado embora em tecnologias vulgarizadas e também em conhecimentos e alguma sensibilidade…, altera completamente o comportamento — o piloto, munido de algum equipamento, permanecia na ponte do navio; agora, concentra a sua atenção em tecnologia de ponta, com um software altamente sofisticado, preciso e fiável. Confesso que fiquei aflito quando a Sara me convidou a escrever sobre um livro que tivesse lido. Sou um leitor compulsivo, não consigo imaginar noite nenhuma sem a companhia de um livro e, nesta parte do dia, preferencialmente um romance; quando o livro está a chegar ao fim começa a invadir- me algum pavor pela aproximação do momento em que terei de me despedir dos ambientes que fui vivendo e da companhia das personagens dos livros. No entanto, apesar dos muitos livros que já li, nunca me aconteceu na vida ter que escrever sobre eles. Tratava-se, por isso, de uma primeira experiência e, a agravar este facto, o tempo que me era dado era muito curto, ou seja, não me permitiria ler um livro sabendo que teria de escrever sobre ele, o que, julgo eu, me teria facilitado a tarefa. Aquilo que teria de fazer era antes escrever sobre um livro já lido. Naturalmente, julgo eu, a primeira ideia que me ocorreu foi escrever sobre um dos livros dos dois autores portugueses de que mais gostei: o António Lobo Antunes, que acompanhei sem falhas desde o primeiro livro e até 1999, e o José Saramago, de quem li tudo o que publicou desde o “Memorial do Convento”. Pensando melhor concluí que se tratava de uma má opção porque apesar de ter, de grande parte deles, a memória das sensações que me despertaram não me recordava de nenhum com o detalhe necessário para a tarefa que me era pedida. A simpatia da nossa colega, que me impediu de recusar imediatamente o pedido, por maioria de razão fez com que nem sequer encarasse a hipótese de voltar atrás e, por isso, achei que a opção seria falar sobre um dos últimos livros lidos. Rejeitei imediatamente aquele que estava a ler e que entretanto terminei – “Todo o Mundo” do Philip Roth – porque, pelos temas tratados – as doenças, a velhice e a morte – recomendo que seja lido só em situações muito particulares que armem de uma couraça, e, por isso, decidi escrever sobre o que tinha acabado de ler anteriormente – “um rio chamado tempo, uma casa chamada terra” - do Mia Couto. Aquele livro relata a história do funeral do Avô Mariano na ilha do Luar-do-Chão, algures em Moçambique e, pelo que se pode inferir, embora julgue que nunca explicitado, perto da cidade de Maputo e separada dela pelo “rio chamado tempo”. Pelo livro desfilam várias personagens, cada uma com a sua própria história, desde logo o próprio Avô Mariano, o neto Mariano, que é o relator da história e, supostamente, é estudante, e regressa à ilha, após uma longa ausência, para assistir ao funeral do avô. A maior parte é constituída por familiares do falecido, onde, entre outros, se destacam a avó Dulcineusa, mulher do falecido mas não a única com quem ele partilhou amores, o pai do neto Mariano, Fulano Malta, ex-guerrilheiro desiludido com o rumo que a sociedade veio a tomar, o tio Ultímio, supostamente residente na capital mas de visita à ilha por causa do funeral, que sabe beneficiar da participação no sistema corrompido e, sobre quem, se insinua ter sido o mandante, juntamente com os respetivos filhos, de algumas mortes ocorridas na ilha relacionadas com tráfico de droga. Entre os não familiares destaca-se o coveiro, protagonista de uma das cenas fantásticas relatadas – o fecho do chão, que se torna tão duro que não pode ser cavado, o que impede a realização do funeral – e o médico indiano, Mascarenha, cuja sabedoria extravasa em muito o campo da medicina. Entre outros aspetos de interesse sublinho alguns. A reinvenção de palavras, a que Mia Couto já nos habituou mas que continua a fazer com mestria – a este propósito interrogo-me sempre se ele as vai buscar ao falar do povo ou se, criando-as, as oferece à linguagem falada. Também o recurso ao fantástico, à semelhança do que é tão bem feito na literatura sul-americana, exprimido, por exemplo, no já referido fecho do chão mas também nas cartas que o avô, supostamente morto, vai escrevendo ao neto e, ainda, na indefinição, que atravessa todo o relato sobre a morte efetiva do Avô Mariano. Finalmente, a referência à desilusão daqueles que abraçaram ideais de uma nobreza tal que justificava o sacrifício da própria vida e hoje se vêm confrontados com uma realidade do lado oposto da utopia e da qual se aproveitam antigos companheiros mas também arrivistas como o tio Últimio. Em resumo, é um livro que se lê com encanto, com um permanente sorriso nos lábios e, que por isso, recomendo vivamente. As sociedades atuais têm, por norma, uma visão negativa dos portos marítimos pelos aspetos negativos ambientais e riscos de poluição. Para isso contribui a mentalidade capitalista algo obsessiva dos seus operadores, a reputação duvidosa da indústria naval, o design pouco inspirador e estritamente utilitário das instalações portuárias e a sua desumanização. Atualmente, dá-se grande importância à opinião pública no que respeita à gestão e política portuárias; daí esta publicação destacar outros valores relativos aos portos marítimos que vão desde a história do porto e a sua herança artística expressa ao longo das docas, que juntamente com atividades lúdicas como a navegação de recreio, constituem hoje uma forte atração turística. Será, pois, defende o autor, necessário implementar uma estratégia que faça a gestão destes valores, cabendo à União Europeia a responsabilidade de apoiar tais iniciativas. É uma obra ricamente ilustrada, com uma seleção original de mais de 400 fotos, obras de arte, mapas e outras imagens. Obras da Doca de Pesca de Pedrouços (terrapleno em volta do coletor)” 28-10-1949 Acervo do CDI A presente edição congrega os textos das comunicações técnicas apresentadas no congresso realizado no Seixal, reunindo 150 participantes oriundos de 20 países. O património e a cultura flúvio-marítimos constituem importantes meios de valorização do património náutico do estuário do Tejo, a sua utilização e fruição pelo público procura conciliar objetivos educativos, culturais e de lazer. Foi a existência deste património flutuante que motivou a European Maritime Heritage, uma associação não governamental de âmbito europeu, que dedica a sua atividade às embarcações tradicionais em atividade, reunindo proprietários privados, museus marítimos (ou possuidores de coleções marítimas) e outras instituições envolvidas na preservação do património marítimo. Considerando essencial a dinâmica criada a partir da participação em organizações internacionais, a Câmara Municipal do Seixal propôs-se organizar o 7º Congresso European Maritime Heritage, procurando promover a troca de experiências e a partilha de boas práticas a nível europeu. Atas do 7º Congresso European Maritime Heritage, ed. Camâra Municipal do Seixal, 2012 págs. 143 AMTC - ASSOCIAÇÃO PARA O MUSEU DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES, foi criada em 21 de fevereiro de 1992, tratando- se de uma instituição privada sem fins lucrativos, com o objetivo de preservar um valioso património na área dos transportes e comunicações que importa recuperar, preservar e divulgar. Tem igualmente por objetivos a preservação de infraestruturas de reconhecido interesse histórico relacionadas com os transportes e as comunicações. Mais artigos selecionados: Plano estratégico de transportes de Portugal 2011-2015, em debate na Logistel, SA, revista Mobilidade La tentation d'une perpétuelle réforme de la gestion portuaire, Journal de la Marine Marchande Estão à guarda do CDI todos os contratos/acordos/protocolos da APL (bem como licenças de utilização do domínio público). Os mais antigos datados de 1907 a 1969 estão em regime de custódia, na empresa EAD—Empresa de Arquivo e Documentação, SA, em instalações especialmente vocacionadas para a guarda de documentação, em Palmela. Os contratos mais recentes estão arquivados na sede da APL em 65 pastas de arquivo. A base de dados do CDI sobre o assunto contém 1725 registos, indicando nome das partes, objeto do contrato, data de celebração, data de vigência, local e concelho relevantes, etc.. Tudo à distância e velocidade de um correio eletrónico... Esta obra bilingue (Português - Inglês), trata as “questões sobre o património marítimo, à dimensão e economia da frota patrimonial, classificação de património marítimo, os jovens e o património marítimo, património imaterial marítimo”. Brevemente serão apenas utilizadas cartas de navegação virtuais contribuindo para fornecer ao piloto todos os dados de que necessita, a par de equipamentos altamente sofisticados. O nosso colega frisa as questões que se colocam: as relativas à portabilidade do equipamento, já que o piloto necessita de toda a sua agilidade disponível, e, claro, ao custo; mas a segurança marítima é um assunto que preocupa várias entidades. Um trabalho em conjunto só poderá trazer benefícios. Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, Mia Couto, Editorial Caminho, Págs. 264

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Boletim do Centro de Documentação e Informação

Carta Náutica Agosto 2012

«Atas do 7º Congresso European Maritime Heritage»

Das últimas aquisições… Neste número: Das últimas

aquisições

-Atas do 7º

Congresso

European

Maritime Heritage

Das nossas

estantes - Soft Values of Seaports

Revista do mês - Revista de

Marinha

O que se passa

por aqui

Pesquisa de

contratos

Leitor do mês

- Marques Afonso

Boletim

Bibliográfico

Julho de 2012

Ligações

Interessantes

AMTC -

Associação para o

Museu dos

Transportes e

Comunicações

Foto Final

Contactos

Conte-nos o que

tem lido!

E n v i e p a r a

CDI@portodelisboa

. p t o s e u

comentário sobre

um livro que

tenha gostado

(ou não!), e

partilhe com os

demais a sua

experiência.

Das nossas estantes…

O que se passa por aqui

Revista do mês

Questões ou Comentários? Envie para [email protected], ou ligue 21 361 10 45.

Visite-nos na Rua da Junqueira, 94 - 1349-026 Lisboa

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Caso não pretenda receber esta Carta Náutica informe-nos.

Leitor do mês

Ligação Interessante

Boletim Bibliográfico

O Boletim Bibliográfico é editado periodicamente pelo

Centro de Documentação e Informação.

A sua finalidade é dar a conhecer ao leitor todas as

publicações que deram entrada no CDI, revistas ou livros

— destacando-se vários artigos na intranet; nele

figuram, igualmente, as informações destacadas durante

o mês, sob a forma de legislação ou de artigos.

As publicações não periódicas, ou livros, são

apresentadas através da catalogação enquanto as

publicações periódicas podem ser visualizadas através

dos índices dos respetivos artigos de modo a que

facilmente o leitor possa escolher o tema que o

interesse.

As publicações periódicas são regularmente enviadas a

todos os leitores que as tenham solicitado mas qualquer

leitor pode requisitar ao CDI a disponibilização de livro

ou artigo avulso que pretenda.

Marques Afonso

Pesquisa de Contratos, Licenças, Acordos e Autos da APL

Foto Final

Nota: O Boletim Bibliográfico encontra-se na intranet da APL (para o ler necessita de

aceder previamente à intranet).

Evolução ou Revolução na Pilotagem

Nota: Este artigo encontra-se na intranet da APL (para o ler necessita de aceder

previamente à intranet).

Soft Values of Seaports, Eric Van Hooydonk,

ed. Garant, 2007 Págs. 192

Se gostou deste vai gostar:

Ports are more than piers: liber amicorum presented to Prof. Dr. Willy Winkelmans, De

Lloyd, Antwerp, 2006, 428 págs.

«Soft Values of Seaports — a strategy for the restoration of public

support for seaports»

«Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra» - Mia Couto

Se gostou deste vai gostar:

Caderno de Todos os Barcos do Tejo, edição fac-similada da Câmara Municipal de

Lisboa, 1982, 20 págs.

Algo que era resultado da prática e conhecimento

empírico foi-se transformando, gradualmente, numa

técnica cada vez mais especializada que exige

constante atualização no conhecimento das tecnologias

associadas aos equipamentos marítimos. Essa

especialização é apoiada por associações profissionais,

de pilotos que detêm conhecimento dos PPU – Pilot

Portable Units – que representam o atual culminar das

novas tecnologias aplicadas à Pilotagem.

É tal a mudança que o autor deste artigo da Revista de

Marinha, o Com.nte Rui Nunes, Piloto da Barra do Porto

de Lisboa, considera estar a acontecer uma verdadeira

Revolução na profissão, na medida em que o

desempenho, bastante eficiente e seguro, sustentado

embora em tecnologias vulgarizadas e também em

conhecimentos e alguma sensibilidade…, altera

completamente o comportamento — o piloto, munido

de algum equipamento, permanecia na ponte do navio;

agora, concentra a sua atenção em tecnologia de ponta,

com um software altamente sofisticado, preciso e fiável.

Confesso que fiquei aflito quando a Sara me

convidou a escrever sobre um livro que

tivesse lido. Sou um leitor compulsivo, não

consigo imaginar noite nenhuma sem a

companhia de um livro e, nesta parte do dia,

preferencialmente um romance; quando o

livro está a chegar ao fim começa a invadir-

me algum pavor pela aproximação do

momento em que terei de me despedir dos

ambientes que fui vivendo e da companhia

das personagens dos livros.

No entanto, apesar dos muitos livros que já li, nunca me aconteceu na vida ter que

escrever sobre eles. Tratava-se, por isso, de uma primeira experiência e, a agravar este

facto, o tempo que me era dado era muito curto, ou seja, não me permitiria ler um livro

sabendo que teria de escrever sobre ele, o que, julgo eu, me teria facilitado a tarefa.

Aquilo que teria de fazer era antes escrever sobre um livro já lido. Naturalmente, julgo

eu, a primeira ideia que me ocorreu foi escrever sobre um dos livros dos dois autores

portugueses de que mais gostei: o António Lobo Antunes, que acompanhei sem falhas

desde o primeiro livro e até 1999, e o José Saramago, de quem li tudo o que publicou

desde o “Memorial do Convento”. Pensando melhor concluí que se tratava de uma má

opção porque apesar de ter, de grande parte deles, a memória das sensações que me

despertaram não me recordava de nenhum com o detalhe necessário para a tarefa que

me era pedida.

A simpatia da nossa colega, que me impediu de recusar imediatamente o pedido, por

maioria de razão fez com que nem sequer encarasse a hipótese de voltar atrás e, por

isso, achei que a opção seria falar sobre um dos últimos livros lidos. Rejeitei

imediatamente aquele que estava a ler e que entretanto terminei – “Todo o Mundo” do

Philip Roth – porque, pelos temas tratados – as doenças, a velhice e a morte –

recomendo que seja lido só em situações muito particulares que armem de uma

couraça, e, por isso, decidi escrever sobre o que tinha acabado de ler anteriormente –

“um rio chamado tempo, uma casa chamada terra” - do Mia Couto.

Aquele livro relata a história do funeral do Avô Mariano na ilha do Luar-do-Chão,

algures em Moçambique e, pelo que se pode inferir, embora julgue que nunca

explicitado, perto da cidade de Maputo e separada dela pelo “rio chamado tempo”. Pelo

livro desfilam várias personagens, cada uma com a sua própria história, desde logo o

próprio Avô Mariano, o neto Mariano, que é o relator da história e, supostamente, é

estudante, e regressa à ilha, após uma longa ausência, para assistir ao funeral do avô.

A maior parte é constituída por familiares do falecido, onde, entre outros, se destacam

a avó Dulcineusa, mulher do falecido mas não a única com quem ele partilhou amores,

o pai do neto Mariano, Fulano Malta, ex-guerrilheiro desiludido com o rumo que a

sociedade veio a tomar, o tio Ultímio, supostamente residente na capital mas de visita à

ilha por causa do funeral, que sabe beneficiar da participação no sistema corrompido e,

sobre quem, se insinua ter sido o mandante, juntamente com os respetivos filhos, de

algumas mortes ocorridas na ilha relacionadas com tráfico de droga. Entre os não

familiares destaca-se o coveiro, protagonista de uma das cenas fantásticas relatadas –

o fecho do chão, que se torna tão duro que não pode ser cavado, o que impede a

realização do funeral – e o médico indiano, Mascarenha, cuja sabedoria extravasa em

muito o campo da medicina.

Entre outros aspetos de interesse sublinho alguns. A reinvenção de palavras, a que Mia

Couto já nos habituou mas que continua a fazer com mestria – a este propósito

interrogo-me sempre se ele as vai buscar ao falar do povo ou se, criando-as, as oferece

à linguagem falada. Também o recurso ao fantástico, à semelhança do que é tão bem

feito na literatura sul-americana, exprimido, por exemplo, no já referido fecho do chão

mas também nas cartas que o avô, supostamente morto, vai escrevendo ao neto e,

ainda, na indefinição, que atravessa todo o relato sobre a morte efetiva do Avô

Mariano. Finalmente, a referência à desilusão daqueles que abraçaram ideais de uma

nobreza tal que justificava o sacrifício da própria vida e hoje se vêm confrontados com

uma realidade do lado oposto da utopia e da qual se aproveitam antigos companheiros

mas também arrivistas como o tio Últimio. Em resumo, é um livro que se lê com

encanto, com um permanente sorriso nos lábios e, que por isso, recomendo vivamente.

As sociedades atuais têm, por norma, uma visão

negativa dos portos marítimos pelos aspetos negativos

ambientais e riscos de poluição. Para isso contribui a

mentalidade capitalista algo obsessiva dos seus

operadores, a reputação duvidosa da indústria naval, o

design pouco inspirador e estritamente utilitário das

instalações portuárias e a sua desumanização.

Atualmente, dá-se grande importância à opinião

pública no que respeita à gestão e política portuárias;

daí esta publicação destacar outros valores relativos

aos portos marítimos que vão desde a história do

porto e a sua herança artística expressa ao longo das

docas, que juntamente com atividades lúdicas como a

navegação de recreio, constituem hoje uma forte

atração turística. Será, pois, defende o autor,

necessário implementar uma estratégia que faça a

gestão destes valores, cabendo à União Europeia a

responsabilidade de apoiar tais iniciativas. É uma obra

ricamente ilustrada, com uma seleção original de mais

de 400 fotos, obras de arte, mapas e outras imagens.

“Obras da

Doca de Pesca de

Pedrouços

(terrapleno em

volta do coletor)”

28-10-1949

Acervo do CDI

A presente edição congrega os textos das comunicações

técnicas apresentadas no congresso realizado no Seixal,

reunindo 150 participantes oriundos de 20 países.

O património e a cultura flúvio-marítimos constituem

importantes meios de valorização do património náutico

do estuário do Tejo, a sua utilização e fruição pelo

público procura conciliar objetivos educativos, culturais e

de lazer.

Foi a existência deste património flutuante que motivou

a European Maritime Heritage, uma associação não

governamental de âmbito europeu, que dedica a sua

atividade às embarcações tradicionais em atividade,

reunindo proprietários privados, museus marítimos (ou

possuidores de coleções marítimas) e outras instituições

envolvidas na preservação do património marítimo.

Considerando essencial a dinâmica criada a partir da

participação em organizações internacionais, a Câmara

Municipal do Seixal propôs-se organizar o 7º Congresso

European Maritime Heritage, procurando promover a

troca de experiências e a partilha de boas práticas a

nível europeu.

Atas do 7º Congresso European Maritime Heritage, ed. Camâra

Municipal do Seixal, 2012 págs. 143

AMTC - ASSOCIAÇÃO PARA O MUSEU DOS TRANSPORTES E

COMUNICAÇÕES, foi criada em 21 de fevereiro de 1992, tratando-

se de uma instituição privada sem fins lucrativos, com o objetivo

de preservar um valioso património na área dos transportes e

comunicações que importa recuperar, preservar e divulgar. Tem

igualmente por objetivos a preservação de infraestruturas de

reconhecido interesse histórico relacionadas com os transportes e

as comunicações.

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Plano estratégico de transportes de Portugal 2011-2015, em debate na Logistel, SA,

revista Mobilidade

La tentation d'une perpétuelle réforme de la gestion portuaire, Journal de la Marine

Marchande

Estão à guarda do CDI todos os contratos/acordos/protocolos da

APL (bem como licenças de utilização do domínio público).

Os mais antigos datados de 1907 a 1969 estão em regime de

custódia, na empresa EAD—Empresa de Arquivo e Documentação,

SA, em instalações especialmente vocacionadas para a guarda de

documentação, em Palmela.

Os contratos mais recentes estão arquivados na sede da APL em 65

pastas de arquivo.

A base de dados do CDI sobre o assunto contém 1725 registos,

indicando nome das partes, objeto do contrato, data de celebração,

data de vigência, local e concelho relevantes, etc..

Tudo à distância e velocidade de um correio eletrónico...

Esta obra bilingue (Português - Inglês), trata as “questões sobre o património

marítimo, à dimensão e economia da frota patrimonial, classificação de património

marítimo, os jovens e o património marítimo, património imaterial marítimo”.

Brevemente serão apenas utilizadas cartas de navegação virtuais contribuindo para

fornecer ao piloto todos os dados de que necessita, a par de equipamentos altamente

sofisticados.

O nosso colega frisa as questões que se colocam: as relativas à portabilidade do

equipamento, já que o piloto necessita de toda a sua agilidade disponível, e, claro, ao

custo; mas a segurança marítima é um assunto que preocupa várias entidades. Um

trabalho em conjunto só poderá trazer benefícios.

Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra,

Mia Couto, Editorial Caminho, Págs. 264