Cartas de amor para L

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Meu amor, Desde que nos conhecemos tenho algo para lhe contar. Não sei como você reagirá, mas é preciso que eu diga. Sofro de síndrome do pânico e depressão bipolar. De vez em quando tenho alucinações, do tipo: escutar vozes, conversar e ver pessoas que não existem etc. A depressão vai e vem. Eu nunca sei quando vou está bem ou mal. Há dias que acordo com vontade de abraçar o mundo. Mas há dias em que acordo com vontade de não ver nem a luz do dia. E fico na cama escondida de tudo e de todos. Algumas vezes penso que todos estão contra mim e me afasto dos amigos por dias, meses e até mesmo anos. As crises de pânico duram no máximo quinze ou vinte minutos, embora sejam uma eternidade. É como se o mundo fosse acabar, um aperto na garganta, taquicardia, sudorese, tremor, medo, um medo de não-sei- o-quê. A incompreensão dos que estão próximos a mim é a pior coisa. Aprendi a mentir para as pessoas. Quando não estou bem dou uma desculpa qualquer para não sair de casa. Só Deus sabe o quanto dói esses sentimentos que me atormentam a alma. Tem dias que eu nem me

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Meu amor,

Desde que nos conhecemos tenho algo para lhe contar. Não sei como você reagirá, mas é preciso que eu diga.

Sofro de síndrome do pânico e depressão bipolar. De vez em quando tenho alucinações, do tipo: escutar vozes, conversar e ver pessoas que não existem etc. A depressão vai e vem. Eu nunca sei quando vou está bem ou mal. Há dias que acordo com vontade de abraçar o mundo. Mas há dias em que acordo com vontade de não ver nem a luz do dia. E fico na cama escondida de tudo e de todos. Algumas vezes penso que todos estão contra mim e me afasto dos amigos por dias, meses e até mesmo anos.

As crises de pânico duram no máximo quinze ou vinte minutos, embora sejam uma eternidade. É como se o mundo fosse acabar, um aperto na garganta, taquicardia, sudorese, tremor, medo, um medo de não-sei-o-quê.

A incompreensão dos que estão próximos a mim é a pior coisa. Aprendi a mentir para as pessoas. Quando não estou bem dou uma desculpa qualquer para não sair de casa. Só Deus sabe o quanto dói esses sentimentos que me atormentam a alma. Tem dias que eu nem me sinto, há apenas um vazio esquisito como uma cratera dentro de mim. Às vezes penso que há um dragão soltando brasas no meu cérebro e corrompendo meu pensamento para eu enlouquecer. São tantos sentimentos estranhos, difíceis de explicar, dolorosos, sofridos e temidos.

Tomo pílulas, meu amor. Tomo medicamentos controlados para aliviar esses sentimentos. Algumas pílulas são famosas por serem consideradas “pílulas da felicidade”. Seja o que for que elas provocam tudo o que posso lhe dizer é que não posso viver sem elas. Há anos tomo pílulas. Sou dependente quimicamente delas. Quando não as tomo sinto dor de cabeça, tonturas, enjôos, vômitos etc.

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Será que você ainda vai me querer depois de saber tudo isso? Tenho medo. Mas já faz um mês que nos conhecemos e acho que chegou o momento de você saber. Afinal, muitas vezes passei mal ao seu lado e fingi estar bem, quando necessitava urgentemente tomar uma pílula. Por favor, aceite-me, meu amor. Eu não causo mal a ninguém. A minha doença só me maltrata. Não maltrata aos outros. Eu sei como lidar com os efeitos colaterais dos remédios e com as crises que de vez em quando aparecem.

Estou morrendo de medo de você não querer mais me ver. Suplico que não me abandone. Você é muito especial para mim. Minha outra metade. A minha alma é irmã da sua. Aceite-me assim como me apresento nestas palavras.

Um abraço da sua Rosa.