Cartas de amor para L

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Meu amor, Fui à Martins anteontem. Subi a serra. Vi paisagens maravilhosas. Encantei-me com a cidade serrana. Levei você comigo. Não poderia deixá-lo sozinho, em casa. Eu não sou má. Levei você no pensamento, dentro da minha alma, numa poltrona aconchegante chamada vida. Levei muitas pílulas da felicidade, pois tive medo de ter uma daquelas minhas crises de pânico ou de depressão de repente. Não queria estragar o meu passeio. Conheci pessoas. Conheci lugares. Conheci animais. Conheci-me um pouco mais. Conversei com você o tempo todo, mas foi um monólogo, só quem falava era eu. Nada de você falar, nada de você, nada... em mim, a realidade acusava um vazio. A poltrona estava vazia. E eu chorei olhando o verde lá embaixo. Os amigos que me rodeiam não conseguem entender porque eu não esqueço você. Eles me criticam. Eles são ingênuos, meu amor. Eles não sabem o que é amar. Eles pensam que amam. Amar é viver, e por isso eu vou vivendo. No dia que eu parar de amar você, morrerei. Embora tenha medo desse amor tornar-se assassino e querer matar-me de repente. Não vou negar-lhe que muitas vezes

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Meu amor,

Fui à Martins anteontem. Subi a serra. Vi paisagens maravilhosas. Encantei-me com a cidade serrana. Levei você comigo. Não poderia deixá-lo sozinho, em casa. Eu não sou má. Levei você no pensamento, dentro da minha alma, numa poltrona aconchegante chamada vida.

Levei muitas pílulas da felicidade, pois tive medo de ter uma daquelas minhas crises de pânico ou de depressão de repente. Não queria estragar o meu passeio. Conheci pessoas. Conheci lugares. Conheci animais. Conheci-me um pouco mais. Conversei com você o tempo todo, mas foi um monólogo, só quem falava era eu. Nada de você falar, nada de você, nada... em mim, a realidade acusava um vazio. A poltrona estava vazia. E eu chorei olhando o verde lá embaixo.

Os amigos que me rodeiam não conseguem entender porque eu não esqueço você. Eles me criticam. Eles são ingênuos, meu amor. Eles não sabem o que é amar. Eles pensam que amam. Amar é viver, e por isso eu vou vivendo. No dia que eu parar de amar você, morrerei. Embora tenha medo desse amor tornar-se assassino e querer matar-me de repente. Não vou negar-lhe que muitas vezes já tive vontade de morrer. Bem, para algumas coisas eu estou morta faz anos.

Lá na serra fiquei numa casinha bem aconchegante de uma velha amiga. Quando eu me deitava e o frio tomava conta do meu corpo eu ficava pensando em você, nos seus braços, nas suas pernas, na sua cabeça apoiada no meu ombro. Esse pensamento era tão intenso que eu chegava a sentir seu abraço e logo o frio passava. Na minha vida tudo passa, menos você. Eu não sei se isso é bom, se é ruim, se é pouco ou demais para mim. Nada sei, meu amor, além do quilate desse coração dilacerado de amor que em mil pedaços se desfaz para depois recompor-se novamente todas às noites e manhãs. O sol está por sair e a manhã de hoje não parece preguiçosa. Não sei por que você não aparece na foto que tiramos juntos lá em Martins. Por quê? Você não estava abraçado a mim?

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Era mais uma das minhas alucinações? Será? As pílulas não estão mais fazendo efeito. Terei que ir ao médico.

Um abraço da sua Rosa.