Cartas Pedagogicas

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Região Norte 1

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república federativa do brasilpresidente da repúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

assessor especial do gabinete pessoaldo presidente da república: Selvino Heck

equipe de educação cidadã e mobilizaçãosocial do talher nacional:Ana Lúcia Gusmão Brindeiro, Andréa Borges David, Cláu-dio Araújo Nascimento, Francisco Martins Teixeira, Irace-ma Ferreira de Moura, João Ferreira Santiago, Lurdes MartaSantin, Sandra Procópio da Silva, Vera Lúcia Lourido Barre-to e Willian Silva Bonfim.

comissão nacional da rede de educação cidadã(representantes da sociedade):Magda Maria da Silva (DF) e Paulo Sérgio Matoso (MS) - Re-gião Centro-Oeste; Jairo José da Silva (AL), Antônia Maria Al-ves Albuquerque (RN) e Maria Eliene Gomes de Souza (BA) -Região Nordeste; Agenor do Carmo (PA, suplente), Maria deFátima Dourado da Silva (TO, suplente), Marinaldo Gonçal-ves de Souza (AC), Raimunda Brito Pedraça (RO) - RegiãoNorte; Jucemar Francischetto (ES) e Nilson José de Oliveira(MG) - Região Sudeste; Antônio Adalton Prestes Braga (RS) eJurema da Graça Lima dos Santos (RS), Juarez da Silva (SC) eSalesiano Turigon (SC, suplente) - Região Sul

secretariado do talher nacional:Adriana Rosa, SecretáriaGabriel Soares de Souza Carvalho, Assistente de Gestãode ProjetosCélia Regina Mendes, Banco de DadosGeraldo Martins, Auxiliar de Serviços GeraisRichard de Oliveira Cavalcante, Assistente de Gestão de Projetos

equipes do ipf que acompanham o projeto:Administrativo-financeira: Salete Valesan Camba, AlexandreMunck e Diane Camilo Funchal.Pedagógica: Raiane Patrícia Assumpção e Juliana Notari

cartas pedagógicas

Produção do texto: resultado de um processo coletivo deprodução dos(as) educadores(as) populares ligados à Redede Educação Cidadã, desenvolvido a partir das experiên-cias concretas nos 26 estados e no DF, tendo em vista o 9ºEncontro Nacional, realizado em Brasília-DF, de 17 a 20 dejulho de 2008.Revisão e edição final: Willian BonfimProjeto gráfico e Diagramação: Farol Design GráficoCopidesque: Divina Maria de Queiroz

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Francinéia (Néia) Gomes do Rosário, 27 anos, atua-va na Pastoral da Criança, na Rede de EducaçãoCidadã e no trabalho comunitário no bairro SãoSebastião, periferia de Porto Velho-RO. Segundosua mãe, Dona Fátima, Néia tinha descoberto suavocação: a militância pela vida e demonstravagrande felicidade nesse trabalho. Na madrugadado dia 11 de julho de 2008, quando ia participardo Encontro Estadual da recid no Estado, junto aoutros 27 educadores(as) populares ligados à Re-de de Educação Cidadã, foi vítima de um acidentede trânsito na BR-364, que envolveu o ônibus, noqual viajava, e um caminhão-tanque, resultandona sua própria morte, de sua filha, Liz Eduarda, 6anos, e de outros 13 companheiros(as), entre eleso Valdir Benício, educador da recid em Rondônia.Queremos neste espaço, na pessoa da Néia, fazermemória e homenagear a todos(as) educado-res(as) envolvidos no acidente. Educadores(as) naestrada e na luta pela construção de um mundomelhor!

Fundo de solidariedade às vítimas:Favorecido: Arquidiocese de Porto Velho; Banco:Bradesco; Conta corrente: 35154-7; Agência: 1294.

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SUMÁRIO

7 Apresentação10 Introdução

Região Norte15 Rondônia18 Amapá20 Amazonas22 Acre25 Pará27 Roraima29 Tocantins

Região Nordeste35 Alagoas39 Bahia42 Ceará 43 Maranhão47 Paraíba50 Pernambuco53 Piauí55 Rio Grande do Norte58 Sergipe

Região Centro-Oeste63 Distrito Federal65 Goiás68 Mato Grosso72 Mato Grosso do Sul

Região Sudeste77 Espírito Santo80 Minas Gerais86 Rio de Janeiro89 São Paulo

Região Sul95 Paraná99 Rio Grande do Sul

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Cartas Pedagógicas 7

APRESENTAÇÃO

Na teia da vida, partilhando saberes

Participei, em julho de 2008, no 9º Encontro Nacio-nal da Rede de Educação Cidadã, uma articulação deatores sociais, entidades e movimentos popularesvoltada para o trabalho social e a educação popu-lar junto às famílias brasileiras mais empobreci-das. Considero a recid, como é chamada essa Re-de, uma das mais belas iniciativas de parceria en-tre governo e movimento social. Ela entende a edu-cação cidadã como aquela que oportuniza às pes-soas o exercício da cidadania, a conquista de direi-tos e a busca do bem-viver.

Tomei conhecimento, neste Encontro, do textoque ora apresento: Cartas Pedagógicas. Ele relata esistematiza um intenso trabalho de articulação dasociedade civil, de nucleação de famílias e de for-mação de educadores sociais, sonhando com a“criação de um mundo em que seja menos difícilamar”, como afirma Paulo Freire no final de seu li-vro Pedagogia do oprimido, que está completandoquarenta anos. A recid é movida pelo seu projetopolítico-pedagógico, um projeto popular para o Bra-sil, que implica numa outra economia e numa ou-tra educação.

Como método, a recid afirma a necessidade daação-reflexão-ação, sabendo que a soberania popu-lar, o ideal de um povo soberano, se funda na açãopolítico-educativa. Neste contexto surgem as Car-tas Pedagógicas. O gênero “carta” foi muito utilizadopor Paulo Freire. É um gênero que estabelece umvínculo imediato entre quem escreve e quem lê. Umacarta, ao mesmo tempo em que pode dirigir-se a umpúblico maior, se dirige a cada um em particular.Ela expõe a intimidade e convida a aproximação, àcumplicidade, ao diálogo. O gênero carta não se pres-ta ao discurso autoritário. A carta espera uma res-posta, um gesto, a tomada de posição, o engajamen-to. Por isso o gênero carta é tão pedagogicamenteapropriado a uma iniciativa como a da recid.

Essa metodologia precisa ser apropriada e in-tensamente utilizada mesmo porque ela ajuda a

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superar um dos principais desafios de um projetosocial como o da Rede que é o individualismo pos-sessivo gerado pela ideologia neoliberal a ser com-batido e superado. Por outro lado, a metodologiadas Cartas Pedagógicas me parece excelente para asistematização escrita da prática, expondo as rea-lizações feitas, os desafios, os limites, os avanços,os aprendizados. Ela desperta o desejo de apren-der. Parte-se de uma análise de conjuntura: do ho-je para projetar o amanhã, optar por um amanhã,por meio da participação popular, hoje, onde a edu-cação popular tem um papel primordial.

Incentivada pelo Governo Federal, a recid estáem todas as regiões do país. Nestas Cartas é descri-ta a realidade de cada região. Uma das coisas quemais me chamou a atenção foi o quanto o Estadobrasileiro está despreparado para lidar com a rea-lidade dos movimentos sociais e populares. Mes-mo num governo tão próximo das demandas dopovo, os históricos entraves legais criados para im-pedir a participação popular, deixam a relação en-tre o Estado e a sociedade civil em estado de letar-gia. Por isso, poucos projetos chegam realmente àsregiões mais empobrecidas do país, desse “Brasilprofundo” onde a precaridade é quase total, o Bra-sil das longas distâncias a serem percorridas paradesenvolver o trabalho, das dificuldades de trans-porte, de comunicação etc.

A Rede de Educação Cidadã beneficia grupos demulheres, crianças, jovens, quilombolas, idosos,negros, indígenas, grupos de direitos humanos, se-gurança alimentar, geração de trabalho e renda,meio ambiente, cultura e cidadania, associações demoradores, ribeirinhos, pescadores, cooperativas, aeconomia solidária; envolve voluntários, catado-res, povos de terreiro, agentes das pastorais so-ciais, trabalhadores desempregados, acampados eassentados, professores, pequenos agricultores, ar-tistas de teatro, de capoeira, de artesanato, maris-queiras, gaioteiros, carroceiros, meninos e meni-nas de rua, pescadores artesanais, produtores ru-rais, redes de saúde, cultivo agroecológico, de abe-lhas, da água, de hortas comunitárias… A recid es-tá chegando “lá onde está o irmão mais isolado edesamparado”, diz um dos relatos.

A Rede encontrou uma excelente metodologiaque irá se aperfeiçoar com a prática, na reflexão ena sistematização. Parabéns pelo seu excelente e

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Apresentação 9

imprescindível trabalho. Como um método quenasceu no ardor da discussão, no embate de pro-postas, ele mostra o quanto a luta é pedagógica.Aprendemos fazendo e refletindo criticamente so-bre o que fazemos.

Moacir GadottiDiretor do Instituto Paulo Freire

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INTRODUÇÃO

Em tempos globalizantes, de comunicação cada vezmais veloz, telegráfica e sintética, do mundo vir-tual e dos e-mails, a Rede de Educação Cidadã re-solveu apostar na retomada das cartas como umaforma de estabelecer um diálogo entre as diferen-tes realidades do país.

Transpor as vivências para o mundo da lingua-gem escrita não é tarefa fácil, conforme relatamos(as) educadores(as) de Goiás: “é difícil expremernossas vivências (...) e passar do vivenciado, calo-roso das cores, dos cheiros e sabores à escrita for-mal”. Contudo, este exercício foi vivenciado pelos27 Estados da Federação em preparação ao 9º En-contro Nacional da Rede de Educação Cidadã, rea-lizado em julho de 2008. As cartas foram a fonte deonde se extraiu o diagnóstico dos limites, avançose desafios das experiências.

Inseridas nos Círculos de Cultura no 9º Encon-tro Nacional da recid, as “Cartas Pedagógicas” re-tomam a experiência do próprio Paulo Freire que,em seu tempo, também escreveu Cartas Pedagógi-cas publicadas nos livros “Cartas à Guiné-Bissau”,“Cartas à Cristina” e “Pedagogia da Indignação”.

A intenção das cartas pedagógicas, como dizFreire, é a de oferecer aos leitores(as) uma visão di-nâmica das atividades que estamos desenvolven-do e a reflexão de alguns problemas que elas sus-citam. Como o fez o próprio Freire em suas cartas,conforme observa-se abaixo:

“Se alguém (...) me perguntar, com irônico sorri-so, se acho que, para mudar o Brasil, basta quenos entreguemos ao cansaço de afirmar quemudar é possível e que os seres humanos nãosão puros expectadores, mas atores também dahistória, direi que não. Mas direi também quemudar implica saber que fazê-lo é possível”, (Se-gunda Carta — Do Direito e do Dever de Mudar oMundo, in Pedagogia da Indignação, Unesp-2000,São Paulo).Por outro lado, a tradição de escrever missivas

remonta a tempos imemorias. O apóstolo Paulo es-tabeleceu um diálogo com as primeiras comunida-

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Introdução 11

des cristãs por meio de suas epístolas; Intelec-tuais, autores e revolucionários se entregaram aesta prática com apaixonada devoção: Karl Marx eFriedrich Engels, Che Guevara e Fidel Castro, Simo-ne de Beauvoir e Jean Paul Sartre.

Por meio das cartas de Frei Betto ficamos saben-do o que se passou nos porões da ditadura no Bra-sil. Elas, escritas por Olga Benário, foram portado-ras do horror do holocausto e do nazismo de Hitlerna Alemanha. É por meio delas que nos depara-mos com sentimentos mais profundos dos apaixo-nados. Aliás só apaixonados, conforme nos mos-trou o poeta português Fernando Pessoa, escrevemcartas de amor. E, segundo ele, só escreve cartas deamor àqueles(as) que não têm medo de expor o quepensam, o que sentem, o que amam...

As cartas pedagógicas de Paulo Freire recolo-cam a educação no espaço do coloquial e do afeti-vo. As Cartas Pedagógicas da Rede de Educação Ci-dadã querem fazer este mesmo movimento e o fa-zem com o relato de experiências vividas no Norte,Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país.

O discurso das cartas que seguem se situam orano campo da descrição ora no campo poético esimbólico e revelam uma prática social na qual seimpregnam o masculino e o feminino; na qual seenvolvem e são envolvidos diferentes sujeitos eatores políticos; uma prática que se incultura nasdiferentes realidades; e nutre-se da mística da es-perança e da mudança.

Ora escritas na primeira, ora na terceira pessoa,emerge destas um narrador coletivo, que fala deum fazer que vai se tecendo de diferentes saberes,por homens e mulheres, orientados por uma buscacomum: a retomada da educação popular comoopção metodológica, a vivência dos princípios e di-retrizes de seu Projeto Político Pedagógico e a uto-pia da construção do Projeto Popular para o Brasilque, como diz a Carta do Rio, “só poderá nascer docoração do povo brasileiro”.

Embora a Rede pareça pequena frente a tãograndes desafios e a realidade que vai desumani-zando tudo e as pessoas, frente à “epidemia” do ca-pital a recid vai propondo a “terapia” dos cantos,dos abraços, dos olhares, da mística, dos sorrisos,do conhecimento, da informação, da troca de ex-periências, da aprendizagem e da autogestão, co-mo nos comunicam os educadores do Paraná.

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Para facilitar a leitura, as Cartas Pedagógicas darecid estão organizadas por macrorregiões brasi-leiras e por ordem alfabética. Começamos, contu-do, com a carta de Rondônia, Estado que após umacidente de trânsito está transformado a dor emesperança e em novas ações.

Com este exercício, a Rede espera não só reto-mar esta prática que está caindo no esquecimen-to, mas sobretudo estimular a troca de preocupa-ções e reflexões que permeiam a prática dos edu-cadores(as) populares do Brasil. Tomara que essapublicação não se esgote nela mesma, mas motivea todos a continuar este diálogo, escrevendo cartasporque, como nos diz o poeta: “só as criaturas quenunca escreveram cartas de amor é que são ridí-culas”.

Boa leitura!

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RONDÔNIA

Companheiras(os) da Rede de Educação Cidadã.

Nós nos preparávamos pra escrever nossa cartapedagógica na tarde do dia 13 de julho, mas não foipossível. No meio do nosso caminho estava a ma-drugada do dia 11/7, um ônibus, um caminhão-tan-que e a partida de nossas companheiras(os) de ca-minhada, sonhos e esperanças.

Não estivemos fisicamente no 9º Encontro Na-cional da Rede, mas estivemos em memória, nósque continuamos a aventura da vida e aqueles(as)que estão em outra dimensão, mais pertos de Deus,mas que vivem em nós. E em memória a eles(as)queremos partilhar com vocês uma pequena refle-xão das nossas experiências com a gestão compar-tilhada dos recursos, formação e trabalho de basee comunicação. Hoje, após o acidente, nossos limi-tes e desafios são muito maiores, mas acreditamosnas nossas potencialidades.

Bem, desde 2004 quando acessamos os recursospor meio do convênio ipf/talher/mds, um compa-nheiro era o responsável para fazer as prestaçõesde contas. Nesta etapa, nós apenas recebíamos in-formes sobre os relatórios, forma de gestão que seprolongou até 2006, quando após um “furo” nasnossas contas mudamos o rumo e passamos, apartir de 2007, fazer uma gestão mais participati-va, incluindo desde ir ao banco retirar o recurso, aelaboração dos relatórios mensais e até a relaçãode pagamento.

Este ano tão logo acessamos a primeira parcelados recursos do convênio realizamos uma Oficinade Gestão com as entidades, parceiros(as) e pes-soas que fazem parte da Rede. Nosso objetivo era,a partir da partilha do convênio que começamosacessar, dos instrumentais pedagógicos e relató-rios de prestação de contas, garantir que todos te-nham conhecimento de como se faz a prestaçãode contas e como vamos utilizar esse recurso pú-blico para organização popular.

O nosso desafio nesse campo da gestão é vencero paradigma de que a prestação de contas é uma

“Nascer e morrer é fácil. Difícil é viver”.Dom Pedro Casaldáliga

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coisa difícil de fazer e que nem todos(as) são capa-zes. Assim como internalizar, em nós, que a gestãodos recursos é tão importante quanto o fazer pe-dagógico.

A comunicação é o nosso maior problema, in-clusive tomamos a liberdade de dizer que é um pro-blema de toda a recid, de Norte a Sul do país. Nósfalamos que precisamos nos comunicar, partilharas informações, divulgar o que fazemos, mas nãoconseguimos. A gente só se comunica por telefonepara dar recados e articular atividades. Isto é umlimite e um desafio! E a nossa potencialidade é quesomos criativos e temos uma preocupação muitogrande em vencer esse desafio!

Nós tentamos fazer formação interna para noscapacitar, refletir a teoria relacionada à nossa prá-tica e encontramos algumas dificuldades: a agen-da de trabalho, devido às demandas; a necessidadede atingirmos as metas do convênio, necessária pa-ra justificar o próprio convênio, nos impede de me-lhor qualificar essa formação interna, importantepara nossa ação com os grupos que trabalhamosjuntos.

Nosso trabalho de base é realizado com os gru-pos organizados em Cacoal e Pimenta Bueno quetem como principal limite a distância da capital pa-ra os municípios o que impede encontros mais fre-qüentes, então nosso desafio é qualificar mais emelhor as educadoras e educadores daquelas lo-calidades.

Em Ariquemes, Jaru, Machadinho D’Oeste e Can-deias trabalhamos com lideranças jovens e adul-tos com temáticas como Controle Social e conse-lhos, formação de educadoras e educadores, teatroe Hip Hop (juventude de Ariquemes), noções deeconomia solidária, organizações sociais, forma-ção e identidade do povo brasileiro. Acreditamosque nosso limite é conciliar as demandas do con-vênio com o tempo da educação popular, de modoque a gente realize processos de formação que nãotenham interrupções. E nosso desafio é a nossaprópria formação juntamente com as educado-ras(es) dos municípios que reflete no trabalho debase.

Além disso, nós que fazemos parte da Rede Ron-doniana, entendemos que ela deve fortalecer aslutas dos Movimentos Sociais pela construção deum mundo de justiça e igualdade para todas e to-

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dos. Hoje nosso Estado está no olho do furacão daexpansão/consolidação do capitalismo, então é fun-damental a organização e o fortalecimento do povo.

Continuamos, por nossas paragens do poente, aesperançar... Temos a certeza que mudar o mundoé realmente difícil, mas não é impossível, por issocontinuamos todas e todos na luta pela vida! Umabraço fraterno. Até a vitória!

Educadores(as) Rondonianos(as)

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AMAPÁ

Companheiros(as) da recid.

Somos filhos e filhas da floresta. Estamos sendoeducadores(as) de nós mesmos e conosco outrasmulheres e homens estão também se educandonesse mutirão de “Rodas de Abraços”. Desde 2003,estamos tecendo a vida e a história com a fé quenutre nossos sonhos e com a esperança que nosimpulsiona a continuar abrindo caminhos. Nestetempo de espera e de ações estamos aprendendo:

A Gerir compartilhadamente o dinheiro públi-co-coletivo, de forma transparente e na condiçãode aprendizes que ainda somos. A fazer cotação depreços, exigir recibos e notas fiscais, negociar pre-ços e prestar contas entre nós. Estamos (re)apren-dendo a confiar. A “aprendência” mais angustiantee linda ao mesmo tempo é a do amor. Amar, abra-çar, cuidar, chamar a atenção quando necessário.Co-responsabilizar-nos pelas alegrias e tristezas,erros e acertos. Outro aprendizado está sendo o decompartilharmos o poder. A vivência em rede vaipouco a pouco quebrando nosso olhar acostumadocom a verticalidade. Recria outras relações, como asolidariedade, a ternura, a co-existência, a humilda-de, mas está sendo difícil afogar nosso ego tão avas-salador e esfomeado por poder solitário-autoritário.

A Comunicação ainda está centralizada no grupomais próximo. Estamos aprendendo a ir ao encontrodo distante e do não tão próximo afetivamente. Elaestá acontecendo mais fortemente com pessoas,ainda falta maior entrelaçamento com outras enti-dades. A comunicação corpo a corpo está se fortale-cendo, a Rádio Comunitária Novo Tempo está sendoum meio de informar, divulgar e chamar para as ati-vidades da recid. Estamos aprendendo a socializaras idéias, textos, imagens e documentos da recidtambém pela internet, mas o telefone é o meio de co-municação ainda mais presente entre nós.

A sustentabilidade, ainda é um devir. Estamos nosorganizando fortemente em cinco municípios, agoraestamos envolvendo mais o município de Pracuúba eoutros estão sendo envolvidos mais lentamente.

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Hoje estamos nos aproximando dos moradoresdo Quilombo do Curiaú, dos ribeirinhos de Foz doRio Macacoarí, das cooperativas, egressos das es-colas famílias agrícolas e de alguns grupos de mu-lheres, religiosos e comunitários. Estamos tendoum olhar mais sensível para os que nos rodeiam eque podem compartilhar conosco de sonhos deum mundo mais solidário.

A vivência da “mística” como possibilidade de en-trelaçar a razão-emoção, o corpo-mente-alma, amatéria-espiritualidade e um outro mundo possívelestá nos ensinando a amar, a cuidar, a preservar anatureza como sendo parte e totalidade dela, a si-lenciar. A olhar pra dentro de nós, nos revisitarmos,refletir o porquê de estarmos aqui na terra compar-tilhando espaços e sentimentos. A tocar, a olhar,cuidando do outro que também é “cuidante”. E ain-da está nos ensinando a alegria de celebrar a vida.Podemos sentir que o Amapá-Amazônia, na sua di-mensão natureza universal, está criando um círculofraternal e se ligando ao corpo-terra numa granderoda Brasil, através da simplicidade e da humildade.Tudo isso é expresso através da música, da dança,do desenho, da dramatização e da culinária, enfimpor toda a beleza mística que há “no jeito de ser dopovo daqui”, “morantes” das margens do rio Amazo-nas, na esquina do Marco Zero do Equador. Bem co-mo, na essência dos elementos da natureza, comovivência e não como simbolismo. A mística está setornando carne e sendo levada para casa-vida.

Nossa Metodologia é fazer com o(a) outro(a).Construir coletivamente. (Re)inventar o conhecido.Falar também com o corpo e com o silêncio.

As nossas ações pedagógicas estão acontecendoem harmonia com a natureza. Apreender a florestae com a vida-floresta, rios, comunidades e pontes.

Incluímos nas nossas metodologias todos ossentidos do corpo. Fortalecendo a sensibilidade e aespiritualidade, quando a modernidade chama pa-ra a intelectualidade, dizendo que a razão é o sen-tido maior da vida.

Mas há dificuldades, são muitas as angústias,vivemos feixes de tristezas, mas nossas alegriasestão nos horizontes a vislumbrar... E lá está a pos-sibilidade de simplesmente sermos felizes.

Abraços e carinhos cuidantes sem fim,Rede de Educação Cidadã Amapá.

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AMAZONAS

Vivendo e sistematizando as experiênciasdo estado do Amazonas

Manaus-AM, 8 de julho de 2008.

“Banhar-se da realidade, fincar os pés no chão!”. Oque de fato essas expressões vêm nos dizer ou pro-vocar? Enquanto educadores(as) que pretendem eousam ser comprometidos(as) com a construção ereconstrução do projeto popular de nação, acredi-tamos que essas expressões não só nos conduzema uma reflexão, mas nos convidam a rever a cami-nhada, as lutas e os confrontos que contribuemcom o fortalecimento desse processo.

Nesse sentido, gostaríamos de compartilhar como Brasil e com o mundo parte desse trabalho quevem sendo desenvolvido no Estado, como: o pro-cesso de formação continuada que possibilitou atroca de experiências que buscam fortalecer as or-ganizações populares, bem como o trabalho de ba-se de tal forma que homens e mulheres possamestar imbuídos de conhecimentos da sua realida-de, fortes na participação coletiva, podendo assimlutar com esperança, aglutinando forças nos maisdiversos setores.

Ressaltamos ainda que esse trabalho tem comobase os princípios e diretrizes do Projeto PolíticoPedagógico da recid, um dos instrumentos peda-gógicos que norteiam a caminhada em busca doAmazonas que queremos, vislumbrando, a partirdaqui, o Brasil que queremos.

A partir daí percebe-se que o processo de for-mação vem desencadeando experiências significa-tivas tais como a nucleação de famílias e de edu-cadores populares e trabalho coletivo junto aospescadores e catadores de materiais recicláveis.No que se refere às contradições, apontamos emer-

“Ai de nós, educadores, se deixarmos de sonharsonhos possíveis. Os profetas são aqueles ou aquelas

que se molham de tal forma nas águas da cultura eda história de seu povo que conhecem o seu aqui e o

seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que eles,mais do que adivinham, realizam.”

Paulo Freire

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gências que são desafios para a continuação dessetrabalho que são: atender as prioridades pensadase planejadas pela Rede local, visto que a realidadediversificada da região impossibilita o avanço doque foi tirado como linha de ação. Percebe-se ain-da que a organicidade da recid ainda não respon-de as especificidades locais e regionais. É notóriotambém que a comunicação truncada dentro dopróprio Estado vem dificultando a construção des-se processo, que se reflete nacionalmente.

No tocante à gestão compartilhada, as burocra-cias são tantas que na maioria das vezes se perdea essência do objetivo maior a que se propôs a re-cid e isso vem desqualificando de certa forma essacaminhada.

Em se tratando de sustentabilidade, percebe-seque precisamos avançar muito e, sobretudo, traba-lhar na perspectiva de pensar e buscar estratégiaspossíveis de somar ou redirecionar os entraves, de-safios e gargalos emergentes e presentes na atualconjuntura. Tendo em vista a continuidade dessetrabalho educativo, buscando autonomia do grupolocal, sem ficar preso ou dependendo de convêniospaliativos, que engessam iniciativas e lutas popu-lares.

Nota-se que o trabalho de parceria que vemsendo desenvolvido no Estado ainda é tímido e nãodá conta das demandas e desafios que temos en-quanto amazônidas.

Não podemos deixar de ressaltar, que o vivido eexperimentado ao longo desses anos, foi, é, e con-tinua sendo um grande aprendizado, pois ao mes-mo tempo em que partilhamos conhecimentostambém recebemos uma troca e isso só é possíveldevido o processo recíproco e coletivo que busca-mos desenvolver na base.

Poderíamos escrever muito mais, porém fica-mos apenas com a essência do que nos motiva eimpulsiona a realizar essas ações educativas.

Carinhosamente,Equipe Talher Amazonas e Colaboradores.

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ACRE

Rio Branco-AC, 10 de julho de 2008.

Prezados companheiros(as) de caminhada,nossas cordiais saudações.

A partir de nossa vivência e atividades realizadas,elaboramos essa carta para partilhar com o con-junto da recid o que estamos realizando, os limi-tes de nossa ação, os avanços conquistados e osaprendizados acumulados. Mesmo que o elementobalizador de nossa caminhada seja o Projeto Políti-co Pedagógico, temos consciência que a vivênciana sua totalidade ainda é o ideal que buscamos acada ação desempenhada.

O trabalho da Rede no Acre está ancorado naslinhas de ação que foram elencadas pela equipeestadual no início das atividades. São elas: organi-zação, fortalecimento e acompanhamento de gru-pos sociais (juventude, idosos, mulheres, crianças,cooperativas, indígenas, associações de morado-res, ribeirinhos, pescadores); formação de atuais enovas lideranças (trabalho de base); núcleos de fa-mílias; formação dos conselhos das entidades; for-talecimento da economia solidária.

E dentro dessas linhas de atuação, um dos ele-mentos fortes são as oficinas. Nelas estão sendocompartilhados conhecimentos e experiências.Um dos primeiros trabalhos desenvolvido pelaequipe foi a formação de um núcleo de educado-res populares. Nesse núcleo discutimos metodolo-gia de ensino, trabalho de base, etc. Essa formaçãopermanente dos educadores implica reflexão críti-ca sobre a prática e se funda na dialética entreprática e teoria.

Atuamos, sobretudo, na periferia das cidades doAcre com famílias, que vivem diversas realidadesde exclusão e negação de direitos fundamentais,inclusive o direito a ter direito. Desenvolvemos ati-vidades com mais de 100 famílias, sempre na pers-pectiva de pensar juntos, alternativas de mudan-ça. Uma das tarefas básicas consiste em determi-nar, dentre os problemas, quais são fundamentais

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e podem ser sancionados. Também desenvolvemosatividades com adolescentes, conscientes de quetodos têm necessidades de aprendizado, para umaformação mais sólida para a reivindicação dosseus direitos.

Nos municípios trabalhamos com um grandenúmero de colaboradores. Esses voluntários dina-mizam a Rede no interior do Estado, atuando, prin-cipalmente, com a participação de numerosos jo-vens, os quais realizam oficinas nos barcos, àsmargens dos rios, nas colônias, nos ramais e noscampos. Esses jovens e adultos estão levando paraas suas comunidades a questão da cidadania, cul-tura e direitos, trabalhando de acordo com as ne-cessidades dos núcleos. A juventude atua com oitogrupos diferenciados com mais de 15 participan-tes, trabalhando políticas públicas, questão econô-mica, tendo sempre o desafio de manter os jovensdentro dos grupos devido à questão da vulnerabili-dade social e a cultura do descartável.

Na cidade atuamos com os trabalhadores quedesenvolvem atividades no terminal urbano e ro-doviário, grupos de família, associação de morado-res... Trabalhando a questão das relações huma-nas, através da economia solidária, vivência de ca-da um desses trabalhadores, auto-estima, segu-rança alimentar, participação política e cidadania.Atuamos com um grupo de moto-táxitas, por meioda cut, com cerca de 50 homens refletindo sobredireitos trabalhistas,, questão social, saúde e rela-ção cliente e trabalhador.

Limites, avanços e aprendizados nos trabalhosdesenvolvidos pelo conjunto da recid: No entanto,na caminhada, encontramos desafios que são en-frentados diariamente no trabalho que a Rede Acrea-na se propôs a desenvolver. Em muitos momentos, fi-zemos desses desafios nossos aprendizados.

Limites:O recurso é mínimo para a realização das ofici-nas;Comunicação dentro dos movimentos é muitofalha;Diálogo com a sociedade em geral, busca deconvênios e parcerias;É preciso avançar ainda mais na formação doseducadores da recid;Falta intensificação na metodologia Freiriana.Avanços/Aprendizados

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A questão de educação continuada, a partilhade conhecimentos com os participantes das ofi-cinas e os educadores.Uma troca de conhecimentos, para ser utilizadono dia-dia;União de diversas bandeiras e movimentos, on-de visualizamos a união desses movimentos emprol da educação popular;Uma das riquezas da recid são os colaboradores;Trabalho com auto-estima através das místicasdentro dos encontros e oficinas;A realização das oficinas sendo satisfatória paraos participantes e educadores;Fortalecimento do eixo com trabalho de PauloFreire;Mobilização dos movimentos para uma partici-pação mais ativa;Ampliação da rede em outros eixos de atuação(indígenas).Mudar o Brasil, fazer daqui um país solidário,

implica envolver milhões de pessoas no processode formação. O Brasil tem solução e para isso te-mos que combater a visão fatalista de mundo. Es-sas pessoas não se mobilizam se não tiveremchance de emergir da realidade e, a partir de umprocesso dialógico, começarem a compreender asrelações entre a sua situação local com os espaçosmacro-estruturais da política, da economia... Te-mos que respeitar o tempo do povo e não queimaretapas.

Equipe Estadual

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PARÁ

Olá recid do Brasil!

Nós aqui do Pará, deste lado do Brasil, da terra docarimbó, do tacacá, do açaí, das famosas chuvasda tarde e de muitas outras histórias e lendas, en-viamos a todos(as), carinhosamente, as nossassaudações Marajoaras.

Nossas experiências mais significativas têm sedado na formação para a transformação social pormeio da metodologia Freiriana com pessoas, grupode famílias e comunidades tradicionais (indígena,quilombolas, extrativistas, ribeirinhas, movimen-tos sociais, mulheres, juventude, crianças e adoles-centes dentre outros). A área geográfica do nossoEstado é muito complexa e de difícil acesso. Sãopoucos os projetos sociais que conseguem chegaraos municípios e com isso identificamos um gran-de número de famílias e pessoas que ainda vivemem vulnerabilidade social por falta de políticas pú-blicas que não atendam seus direito fundamentaiscomo: alimentação saudável, saúde, educação, sa-neamento básico, geração de trabalho e renda,transporte e regularização fundiária.

Entendemos que o pensamento coletivo na cons-trução do ppp para o processo de transformaçãocontinuada da educação popular veio somar e for-talecer nossas ações no Pará. Como resultado dotrabalho desenvolvido, a equipe estadual desenca-deou um processo de formação de multiplicadorese organização de grupos. Nossos esforços vão nosentido de empoderar aqueles que vivem em ex-clusão social, tendo a clareza de que isso só serápossível através da resignificação do trabalho debase.

O enfoque do processo formativo tem ocorridoem redes, fóruns, conselhos, associações, coopera-tivas, grupos culturais e políticos dentre outros, es-tabelecendo a importância da participação popu-lar no controle social das políticas públicas. Em

A educação é um ato de amor, por issoum ato de coragem e não pode temer o debate.

A análise da realidade não pode fugir à discussãocriadora, sob pena de ser uma farsa

Paulo Freire

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função do trabalho até aqui realizado temos a or-ganização de oito grupos de jovens, dois grupos damelhor idade, cinco grupos de mulheres, sendoum grupo de mulheres quilombolas e um grupo deindígenas; todos discutindo direitos humanos, se-gurança alimentar, geração de trabalho e renda,meio ambiente, cultura e cidadania, sendo prota-gonistas e construtores da sua própria história.

Nossa maior dificuldade em relação às açõesrealizadas tem sido a prestação de contas. Namaioria dos municípios onde atuamos nos depara-mos com a precariedade e a sonegação de impos-tos. A maioria dos estabelecimentos comerciais(hotéis, supermercados, restaurantes, postos degasolina, papelarias, etc.) não são legalizados jun-to à Receita Federal e ainda, quando o são, se omi-tem a emitir as notas fiscais e, em virtude disto, oseducadores são obrigados a comprar a maioria dasmatérias das atividades na capital do Estado. Des-ta forma, não é possível fortalecer a economia soli-dária e local, sendo contraditório com o nosso ppp.

Nossos aprendizados, ao longo de seis anos demuitas historias e lutas, nos fizeram compreenderque trabalhar na diversidade muitas vezes é umcaminho com limites e desafios a serem supera-dos, vividos e compartilhados, pois acreditamosque o processo de formação realizado durantes es-ses anos contribuiu na transformação de váriosgrupos aos quais trabalhamos, mas principalmen-te transformou a cada um de nós educadores(as).Entendemos que precisamos melhorar nossa co-municação seja no estado, na região e nacional; te-mos que humanizá-la.

Pela segunda vez, depois de três anos, voltamosa acessar os recursos do convênio. Ele volta em ummomento chave para nós. Chega para consolidar otrabalho da equipe da recid do Pará, nos traz a vi-vência de gestão compartilhada, sustentabilidadee organicidade como contribuição para o fortaleci-mento do trabalho coletivo.

Apesar de todos nossos esforços e dos avançosque o Governo Federal vem avançando no controlesocial e nas políticas públicas de combate à fome eà miséria, ainda temos dois Brasis: um da opulên-cia e um de muitas desigualdades e mazelas so-ciais, corrupção, sonegação de impostos. Precisa-mos ter altivez para sairmos da utopia que temosem busca de um país justo e de direitos.

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RORAIMA

Boa Vista-RR, 7 de julho de 2008.

Saudações companheirada,

Nós educadores(as) da recid/talher Roraima faze-mos uso desse instrumental e, desde já, destaca-mos como é importante a carta pedagógica comoprocesso de aprendizagem. Neste sentido vimos,por meio desta, iniciar um diálogo. Destacamos,neste relato, as seguintes experiências como pro-cesso significativo e de formação em Roraima.

1. Experiência vivenciada com a juventude da áreaurbana da cidade de Caracaraí e da área rural dacidade de Rorainópolis, dois municípios localiza-dos no sul do Estado e com o menor índice de de-senvolvimento humano:a) Núcleo de Jovens de Caracaraí: Os jovens há um

ano vêm sendo acompanhados por um núcleode educadores(as) da recid que contribuem noprocesso, na sua animação e organização, pormeio da metodologia freireana. Esse grupo dejovens vem despertando para o exercício da ci-dadania assim como participando ativamentedo processo formativo de educação popular.Desta forma, novas lideranças começam a sur-gir, tornando-se sujeitas do processo formativo.

b) Juventude Atuante de Rorainópolis: A sede dessegrupo esta localizada na área rural vicinal 12,km 05, a 20km de distância da sede do municí-pio de Rorainópolis. Destacamos a experiênciacom esse grupo levando em conta as dificulda-des geográficas e humanas. Desencadeamos umprocesso de estudo quinzenal, onde aproveitameste espaço para discutir suas problemáticas lo-cais. Para a recid/talher Roraima este grupoapresenta um grande desafio que é fazer comque novas lideranças surjam no grupo.2. Experiência com Núcleo de Mulheres do municí-

pio de Alto Alegre: Este grupo se inicia com famí-lias beneficiárias do Bolsa Família em parceria coma prefeitura. O núcleo inicia seu processo de orga-nização a partir das discussões do Programa Fome

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Zero com objetivo de se tornarem autônomos eco-nomicamente. Vivenciaram os passos da cartilha“Um Brasil diferente está em nossas mãos”. Essetrabalho ajudou as mulheres a melhorar suas con-dições econômicas, sociais e sua auto-estima. Odesafio dos(as) educadores(as) de Roraima com es-se grupo perpassa por um processo formativo con-tinuado independente da recid.

3. Experiência com o Fórum Estadual de EconomiaSolidária: A 3ª e última experiência destacamos oquanto o processo de educação popular pode trans-formar um processo organizativo.

O Fórum Estadual de Economia Solidária de Ro-raima por meio da participação da recid avançouna sua forma de organização, com a vivencia damística e sistematização da prática. A partir destaprática volta a se articular os grupos que estavamdesanimados frente ao fórum. Hoje o que se viveno fórum é um outro momento histórico e o forta-lecimento da prática da educação popular no seufazer pedagógico.

O nosso desafio é fazer com os empreendimen-tos de economia solidária que hoje estão no fórumse apropriem dessa metodologia de educação po-pular.

O Estado hoje vive outro momento com a parti-cipação de novas entidades e acompanhamentoda entidade âncora ativamente na gestão compar-tilhada, sendo esta uma prática de fato exercitada.

A nossa organicidade e comunicação ainda sãofrágeis. Temos três educadores contratados, sendoum que articula os municípios, um para a cidade eum para gestão, mobilização e articulação com osmovimentos; temos 10 voluntários que se reúnemuma vez por mês junto com aos liberados parapensar o rumo dos trabalhos.

E assim, concluímos que a proposta da carta pe-dagógica é interessante e desafiante, visto que nãotemos a prática de sistematizar nossas práticas.Fica o aprendizado de quanto é importante a escri-ta como forma de comunicação e organização donosso fazer pedagógico.

Atenciosamente,Equipe de educadores(as) da recid/talher Roraima.

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TOCANTINS

Palmas-TO, 14 de julho de 2008.

À Rede de Educação Cidadã,

Olá, é com prazer que mais uma vez nos dirigimosà recid para partilhar um pouco da nossa cami-nhada. São muitas dificuldades, vários desafios,mas também muitas vitórias... Nesses cinco anosconseguimos construir uma história significativa,de muitas conquistas. Isso porque acreditamosnos nossos sonhos e principalmente em nós mes-mos. Tornando realidade sonhos que antes eramapenas utopia.

O nosso trabalho não tem sido fácil. Principal-mente se considerarmos as longas distâncias a se-rem percorridas para desenvolvê-lo ou as dificul-dades de transporte e comunicação. Mas tudo issosão apenas obstáculos a serem vencidos. E pode-mos comprovar, a partir das muitas atividades de-senvolvidas nas várias regiões do Estado, como:

Criação do Centro de Direitos Humanos de Dia-nópolis, uma organização que irá abranger quatromunicípios, sendo eles Dianópolis, Rio da Concei-ção, Novo Jardim e Porto Alegre. Ainda não foi con-solidada, mas já conta com uma comissão provisó-ria para encaminhar a assembléia de fundação docdh, fruto de várias oficinas de capacitação em Di-reitos Humanos, realizadas pela recid naquela re-gião. Temos ainda outra comissão provisória cons-tituída para encaminhar a assembléia de criaçãodo Instituto de Meio Ambiente e Cidadania-imac,uma entidade que visa combater os danos am-bientais na região. A abrangência da ong será emtoda a região Sudeste e está com assembléia agen-dada para setembro.

Acompanhamento à três experiências com nú-cleos de famílias: Horta e granja comunitária nacomunidade rural do Cajueiro e uma lanchonetecomunitária com famílias do Setor São Paulo, nomunicípio de Taguatinga.

Apoio, mobilização e assessoria ao grupo de ca-tadores de material reciclável da região norte de

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Palmas. Deste trabalho resultou a criação da Asso-ciação de Catadores(as) de Materiais Recicláveisda região Norte de Palmas (Ascampa). Durante osúltimos dois anos foi possível dar passos significa-tivos; o principal deles foi a instalação do Galpãode Reciclagem. Esta atividade já vem dando bonsresultados no campo econômico e social para os(as)catadores(as). Para a instalação do Galpão, conta-mos com o apoio financeiro da Comunidade Kolpingde Palmas de R$ 6.059,00. Os catadores receberama doação de uma prensa por parte da prefeitura ea doação, por parte da Secretaria Estadual do Tra-balho e Desenvolvimento Social, de 450 cestas bá-sicas para serem distribuídas aos catadores nosprimeiros quatro meses como forma de incentivopara que depositassem material no galpão. Do ini-cio de setembro de 2007 a janeiro de 2008 foramrealizadas quatro vendas dos materiais coletadoscoletivamente que resultaram no valor de R$26.850,00. Este trabalho de assessoria é realizadocom diversas parcerias, dentre elas o Núcleo deEconomia Solidária da Universidade Federal do To-cantins.

Outra experiência importante diz respeito aosestudos de formação dos(as) educadores(as) nosencontros micros e estadual, sendo priorizado oaprofundamento da metodologia da educação po-pular, com destaque para a reflexão da construçãode uma análise de conjuntura. O processo de for-mação tem ocorrido conforme o próprio projeto darecid, atingindo as famílias nos encontros munici-pais e os educadores populares nos encontros mi-cros e estadual.

A respeito do processo de formação com as fa-mílias temos conseguido atingir nossa meta nosentido de qualidade e quantidade, tendo em vistaas experiências que foram fomentadas a partir damobilização da recid. Quanto à formação dos edu-cadores temos buscado através da ação formativaestudar e avaliar a nossa prática em educação po-pular à luz do Projeto Político Pedagógico.

Nesse processo de estudos temos enfrentadograndes desafios, o principal é a falta de regulari-dade dos encontros de estudo da equipe de coor-denação estadual em virtude do envolvimento doseducadores em outras organizações e atividades,além da grande quantidade de oficinas a seremrealizadas em um curto espaço de tempo.

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Também outro passo importante é a articulaçãodo Fórum Social Mundial que, pela primeira vez noEstado, tem-se buscado trabalhar de forma articu-lada e planejada. No último encontro microrregio-nal, organizado com a Pastoral da Mulher Margi-nalizada e o Fórum da Amazônia Oriental, com oobjetivo de realizar estudos das temáticas do fsm,foi elaborada uma agenda comum com a finalida-de de organizar a participação no fórum em janei-ro de 2009, em Belém.

Mas não paramos por aí. Registramos com ênfa-se a participação no Fórum Estadual de EconomiaSolidária. Neste ano, dando continuidade ao pro-cesso de reestruturação do Fórum de EconomiaSolidária, priorizamos a formação da nova coorde-nação e estamos contribuindo na elaboração doregimento interno e planejamento. Neste momen-to buscamos fortalecer e difundir o conhecimentodas principais bandeiras da economia solidária.São elas: formação, marco legal, finanças e comer-cialização.

Mas são muitos os desafios que enfrentamos,como a comunicação que tem sido difícil, pois omeio principal ainda é o telefone. O fato de restrin-gir as despesas com telefone a apenas uma únicalinha tem prejudicado o trabalho de comunicação,divulgação e até mobilização. Outro desafio é a ne-cessidade de aumentar a visibilidade dos traba-lhos da recid e do seu projeto político pedagógico.

Quanto à gestão compartilhada e sustentabili-dade, o que tem proporcionado um grande apren-dizado são as reuniões de planejamento, delibera-ções e avaliação, porém ainda é um desafio paranós garantir as metas que deliberamos relaciona-das ao fluxo de atividades. Já a sustentabilidade,não no campo financeiro, mas no que se refere aoquadro de voluntários e instituições que compõema base da recid do Tocantins avaliamos de formapositiva, embora se faça necessário realizar umnovo mapeamento não somente das organizaçõesque integram a recid, mas também dos educado-res que estão espalhados por todo o Estado.

Aqui no Estado estamos organizados em setemicrorregiões, o que tem garantido uma maiorabrangência das ações propostas. Como aprendi-zado, percebe-se uma crescente apropriação porparte dos educadores do método Freireano. E umúltimo desafio está em encontrar mais tempo em

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nossa agenda para estudo, reconhecendo como li-mites a temporalidade e as metas do convênio.

Enfim, muitas foram as ações realizadas, embo-ra as relatadas aqui sejam as mais significativas.Continuaremos aqui acreditando que ainda pode-remos fazer mais e torcendo para que essa não se-ja uma rede apenas de sonhos ou de poucas reali-zações, mas uma rede de novas e significativasconquistas.

Um abraço fraternal,Equipe de Coordenação Talher Tocantins.

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ALAGOAS

Maceió-AL, 7 de julho de 2008.

Amigos(as) educadores(as)!

É com muita alegria que compartilho nosso traba-lho pela Rede de Educação Cidadã aqui em Ala-goas. Esperamos que esta carta possa chegar a to-dos os nossos amigos e com isso partilharmos nos-sas alegrias e tristezas, mas principalmente, nossoideal de transformar o país!

Como bem deves saber, a realidade aqui é bemdifícil, pois temos um Estado cuja economia ba-seia-se no antigo modelo agrícola baseado na pro-dução de açúcar e álcool extraído da cana-de-açú-car. Um modelo que expropria todos os direitosdos trabalhadores a começar pelo direito à pro-priedade e ao próprio sustento e das famílias maispobres de nosso chão. A cada ano assistimos maisfamílias serem expulsas de suas pequenas pro-priedades para dar espaço a “plantation”1 que avan-ça sobre os lares de trabalhadores(as) rurais comoum carcará devorador. Sem terra para plantarvêm-se obrigados a migrar para a capital para vi-ver em condições subumanas para qualquer tipode animal, que dirá, para seres humanos!

Junto com a concentração de renda vem o do-mínio político, ou seja, o velho e presente corone-lismo que ainda persiste por essas bandas. Muitodo trabalho de educação que estamos fazendo,com os grupos do campo e da cidade, esbarra nopoder dos coronéis locais que mandam e desman-dam de acordo com sua vontade e para atenderaos seus propósitos. A princípio eles vêm com di-nheiro e “presentinhos” para te comprar; se nãofunciona, começam as ameaças a você e aos seuse por fim, se não desistes, é morte mesmo! Conhe-cemos diversos companheiros(as) educadores(as)que tombaram nessa luta contra a monoculturada cana-de-açúcar aqui em Alagoas. É pela memó-

(1) Sistema agrícola baseado na monocultura de exportação.

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ria deles que lutamos por um mundo melhor e pe-lo seu sangue derramado nesta terra que clama-mos por justiça!

Apesar de todos esses problemas sentimo-nosfelizes por fazer este trabalho. É bem verdade queestamos correndo muito para desenvolver as ofici-nas e os encontros microrregionais pois temos umprazo para realizar tudo. Muitas vezes nos pega-mos pensando sobre a eficiência do que fazemosem relação à metodologia que estamos empregan-do - quando conseguimos utilizá-la de fato. Lemosalguns livros sobre Paulo Freire e ele sempre falaem libertar-se do pensamento do opressor paradescobrir as verdadeiras causas dos males sociaisque nos afligem. A busca de uma construção de-mocrática e coletiva de visão sobre o mundo — en-tre educandos e educadores — e isso para nós temsido o maior desafio!

Na ânsia para transformar a realidade, muitasvezes passamos por cima da visão dos educandose impomos nossa visão já pronta e acabada, comose fosse o único jeito de mudar... (cabeça de opri-mido com pensamento de opressor). Acredito quesó com muito estudo e reflexão a cerca de nossaprática e da metodologia de Freire é que podere-mos avançar em nosso trabalho de educação.

Queremos lhes contar agora um pouco do nossotrabalho nas regiões de nosso lindo lugar. Começa-mos pelo litoral Norte, composto pelas mais belaspraias do país. Com o seu povo guerreiro, em suagrande maioria, vítima do descaso de políticos edos “senhores donos das senzalas” que são as usi-nas de cana-de-açúcar. Nesta região desenvolve-mos oficinas nos municípios de Matriz do Camara-gibe, onde a população vive principalmente da es-cravidão da monocultura da cana-de-açúcar e nomunicípio de São Miguel dos Milagres, cidade praia-na, onde temos um trabalho com jovens.

Na região Metropolitana, a juventude tem parti-cipado de forma expressiva através da arte com oresgate da cultura popular nos municípios de Ma-ceió e Rio Largo.

Outra experiência que está nos ensinando é oNúcleo da Orla lagunar composto por quatro co-munidades — Sururu do Capote, Muvuca, Torre eMundaú — cuja existência tem mais de 25 anos,sendo considerada a maior favela do Estado. É umpovo guerreiro composto principalmente pelas

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marisqueiras. Estas mulheres inconformadas coma vida que estavam levando, começaram a se orga-nizar e colocar a “boca no mundo” denunciando odescaso do poder público em relação à comunida-de. Este foi o inicio de uma luta que ultrapassou omunicípio, o Estado e o país chegando a outros paí-ses, inclusive à onu, através da Organização dasAções Unidas para Agricultura e Alimentação (fao)apoiada pela Ação Brasileira pela Nutrição e Direi-tos Humanos (Abrandh) no Brasil.

Varias entidades foram sensibilizadas com a si-tuação da comunidade a partir de um curso sobredireito humano à alimentação adequada, realiza-do pela fian do Brasil em 2006, e abraçaram a lutafortalecendo a comunidades e caminhando junto.Em 2007, com o apoio do Ministério Público e aProcuradoria Regional do Trabalho, foi dada a en-trada em uma Ação Civil Pública contra a prefeitu-ra de Maceió sentenciada a favor da comunidade -caso inédito no país e uma grande vitória! Existetoda uma estratégia junto à comunidade para oempoderamento sobre a exigibilidade de seus di-reitos. Nesta ação se viu, de um lado a prefeiturase achando dona da razão e do outro lado a comu-nidade se empoderando e exigindo seus direitos.

Temos um trabalho muito bom na região doBaixo São Francisco, desenvolvido na cidade histó-rica de Penedo, Piaçabuçu e cidades vizinhas comgrupo de pescadores, quilombolas, agricultores fa-miliares e ribeirinhos em busca da cidadania. Comeste povo festeiro e com sua grande luta, estamosdesenvolvendo a geração de renda, a conservaçãodo meio ambiente e o resgate da cultura popular.

E, por fim, o trabalho de educação e conscienti-zação que estamos realizando no Alto Sertão. Umaregião de uma beleza natural indescritível e depessoas mais lindas ainda! Bom, ali as atividadestêm sido desenvolvidas com uma cooperativa depequenos produtores rurais em Delmiro Gouveia.O surgimento desta cooperativa está relacionadacom uma visão da Igreja Católica de incentivar aprodução rural pelo Brasil na década de 70 e 80.

Nas oficinas e no encontro estadual que realiza-mos lá em Delmiro Gouveia contamos com um pú-blico bem heterogêneo. Temos dois núcleos: umem Delmiro, numa comunidade denominada Pa-raíso e outra na cidade de Pariconha, na Serra daJurema. Nessas comunidades o grupo de educan-

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dos é composto por agricultores(as) que, por vezes,deixam seu trabalho na roça para participar dasoficinas. São pessoas que detém um conhecimentoenorme sobre a natureza e os ciclos da terra e dasplantas. Aprendemos muito com eles, principal-mente sobre a valorização da semente natural,que chamamos de “crioulas”.

Este é o nosso trabalho desenvolvido no Estadoatravés de um planejamento participativo com agrande preocupação de envolver desde os educan-dos dos núcleos de base, aos educadores da equipeestadual até a equipe nacional. Sabemos que o pro-cesso participativo leva tempo, mas já nos mostraque o resultado é a transformação de cada educan-do no empoderamento de seus direitos como cida-dão e responsável pela construção de mundo me-lhor!

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BAHIA

Feira de Santana-BA, 6 de julho de 2008.

Aos educadores da Rede de Educação Cidadã,Ao nosso querido Mestre Prof. Paulo Freire,Saudações Baianas,

É com grande alegria e honra que escrevemos paracontar como vai a nossa recid, presente na Bahiadesde 2003, com vitórias e desafios vividos por to-dos nós. Para essa história existir foi preciso termuita garra e força, mas nós não desanimamos.

Com o passar do tempo, o nosso Coletivo deEducadores Populares vem atuando em diferentesfrentes de luta e organização social. Estamos pre-sentes em 10 Territórios de Identidade: Sertão Pro-dutivo, Velho Chico, Chapada da Diamantina, Pie-monte da Diamantina, Sudoeste, Metropolitana,Litoral Sul, Extremo Sul, Recôncavo e Sisal. A di-versidade dos sujeitos determina uma multiplici-dade de ações, devido à metodologia de educaçãopopular que utilizamos inspirada em Paulo Freire.Em nossa recid participam ativamente os indíge-nas, quilombolas, povos de terreiro, agentes daspastorais sociais, mulheres, trabalhadores desem-pregados, acampados e assentados, professores,pequenos agricultores, jovens, artistas, marisquei-ras, pescadores artesanais, catadores de materialreciclável, entre outros. Toda essa diversidade setraduz em potencialidades e abrangências. Dessaforma, sentimos que estamos chegando lá ondeestá o irmão mais isolado e desamparado, assimcomo conseguimos penetrar em grandes organiza-ções e projetos. Nisso reside a força do nosso cole-tivo e da nossa realidade.

Nosso planejamento ocorre com a dinâmica deescolha de prioridades em cada Território. Por exem-plo, no Território Litoral Sul a prioridade é o traba-lho nas turmas de alfabetização de jovens, adultose idosos, numa parceria com o governo do Estadoda Bahia. Esse projeto tem permitido a realizaçãode oficinas temáticas sobre a violência, direitoshumanos, meio ambiente, etc. Já no Território Cha-

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pada Diamantina, a juventude é o foco principalda ação e por meio dela são tratados temas e açõestransversais atingindo o todo das comunidades. OTerritório Piemonte da Diamantina prioriza a arti-culação e fortalecimento das comunidades qui-lombolas em torno da regularização fundiária eprojetos de sustentabilidade. Sua forma de traba-lhar é uma referência em todo o Estado, assim co-mo no Território Extremo Sul que está se re-articu-lando e além de trabalhar com povos quilombolasatua com os povos indígenas, preservação cultu-ral, esporte juvenil, a arte da capoeira e com osprodutores rurais.

Os territórios Sertão Produtivo e Velho Chico prio-rizam o fortalecimento das associações de agricul-tores familiares e a permanência no semi-áridocom projetos de geração de renda que envolvemmulheres e suas famílias. O território RecôncavoBaiano, recente em sua participação na recid, temcomo prioridade o fortalecimento e a organicidadedos povos de terreiro, pescadores artesanais e ma-risqueiras. O território Metropolitano também atuacom povos e comunidades tradicionais e aindacom trabalhadores de material reciclável, movi-mentos de moradia, trabalhadores desempregadose assentamentos em uma dinâmica que tem comoprioridade o fortalecimento dos movimentos so-ciais e o etno-desenvolvimento. O território Su-doeste atua fortemente junto aos assentamentos etrabalhadores desempregados. Já o território Sisalestá se re-articulando e atua principalmente juntoàs pastorais sociais e sindicato dos trabalhadoresrurais.

Com toda essa dinâmica e diversidade, nossosdesafios são bastante grandes. Um deles é umaquestão recorrente: “Temos uma rede de movi-mentos ou um movimento em rede?”. Alguns denós defendemos a sua institucionalização. Se so-mos uma rede de movimentos pra que institucio-nalizar? Já que os movimentos já têm as suas ins-titucionalidades. Por outro lado, se somos um mo-vimento em rede, é necessário identificar, na práti-ca, o que nos unifica ou é cada um por si mesmo?

Outro desafio diz respeito ao “poder popular”. Anegociação de projetos com o Estado, queiramos ounão, quase sempre envolve negociações com parti-dos. Temos ainda a questão de lideranças que sur-gem dentro da recid e se credenciam, às vezes a

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partir dela, a ocupar funções dentro de uma de es-feras do Estado (executivo, legislativo). Como a re-cid deve se relacionar com esse representante quesaiu do seu seio? O que ele pode esperar da Rede?

A sustentabilidade e a relação com o Estado cons-tituem o terceiro desafio. Os nossos movimentos eentidades precisam se instrumentalizar melhorpara disputar os seus projetos e acessarem recur-sos. Isso aponta claramente para o fato de que arecid precisa investir em formação popular e naauto-formação de seus membros. Temos ainda atensão na espera dos recursos vindos de convênioscom o governo federal e uma descontinuidade dasações que gera muita instabilidade. É necessáriobuscar um pouco mais de estabilidade e segurança.

E por fim, o quarto desafio é sobre a organicida-de da recid. Na Bahia, a cada etapa de novo convê-nio, precisamos recorrer a uma entidade âncoranova. Já estamos na terceira. Por um lado, cadamudança acarreta muitas dúvidas, muita apreen-são e muitos reajustamentos: agrega e desagrega,soma e subtrai. Por outro, o rodízio tem possibilita-do às entidades que compõem a Rede um maiorenvolvimento e colaboração para a sua existênciano Estado.

Em nosso 4º Encontro Estadual avançamos nofortalecimento da Rede no sentido de pertenci-mento: muitas pessoas se posicionam como mem-bros da recid e também avançamos em um plane-jamento estadual onde definimos, pela primeiravez, ações comuns para todos os territórios e umamaior articulação entre os movimentos.

Assim somos nós, uma rede composta por mui-ta beleza, colorido, alegria, cheiro, afeto e riquezade idéias. A nossa mística busca permitir uma re-lação com o Deus de todos, com todos os Santos etodos os Orixás. Nessa relação buscamos que ocorpo, mente, espírito e todos os sentidos sejamalimentados em um grande espaço de solidarieda-de, beleza e comunhão que é a recid. Como nosdisse um dos educadores: “Primeiro foi o desbrava-mento, chegar às bases, trabalho de formiguinha.Agora é hora de colher alguma coisa”.

Um grande abraço dos educadores da recid Bahia atodos os educadores da recid no Brasil.

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CEARÁ

A Rede de Educação Cidadã no Ceará-recid temparticipado do processo de mobilização social quefavorece caminhos na democratização das infor-mações que se intercalam a instrumentos commétodos formativos político cultural, construtivosdas políticas públicas na perspectiva das concep-ções de políticas de Estado, onde a participaçãodos movimentos populares busca revitalizar a his-tória de luta dos povos marginalizados.

Neste contexto, os diversos espaços formativosconstruídos na recid, aprofundam saberes teóri-cos e práticos sobre as políticas públicas, permitin-do a materialização com o envolvimento das orga-nizações construtoras da Rede.

Construtores esses que vão criando a percepçãoda identidade e autonomia dos movimentos popu-lares num espaço entre sociedade civil e governo.

Percebe-se aí a necessidade de estruturas de co-municação que fortaleçam os recursos e diversi-dades de instrumentos existentes nas organiza-ções populares para potencializá-las utilizandodos sonhos, saberes e sabores das tecnologias dacriatividade popular e científica.

Essa história interliga caminhos para superaçãode valores onde a construção da emancipação hu-mana tem o indivíduo como ser liberto das estru-turas capitalistas.

Nesse trilhar de práticas e sonhos a Rede inte-gra outras redes com desafios semelhantes onde àdiversidade é o termômetro impulsionador de supe-ração dos obstáculos cotidianos do fazer fazendo.

O fazer da partilha e da práxis com o acontecerda democracia direta, da solidariedade, do bem vi-ver, que a Rede persegue no acreditar em uma so-ciedade emancipada.

Esse caminho permite-nos o consenso das iden-tidades através da legitimidade histórica da lutados povos contemplando um projeto político peda-gógico baseado nos princípios da educação popu-lar na perspectiva da construção de um projetopopular para o Brasil.

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MARANHÃO

A luta nestes últimos anos ficou focada na garan-tia da terra e na permanência dos quilombolas emseus territórios, mas para chegarmos neste nívelde resistência passamos por um longo período deaprendizado. Hoje todos falam com propriedade,com segurança e acima de tudo com a certeza eorgulho de continuar uma luta secular contra umsistema opressor que tudo que fez até hoje foi ten-tar promover um etnocídio contra os negros livresna sua terra e escravizados neste lado do continen-te. Não queremos mais buscar resposta para ta-manho desamor e ódio, mas reforçar o tamanhodesta luta e resistência e para isso é necessário queestejamos juntos na luta. E qual é o principio dela?Onde vamos focar nossos esforços? Com quem va-mos contar? Faço estas indagações porque nesteemaranhado de situações que temos e conhecemosneste Brasil precisamos encontrar um ponto departida para este novo capíttulo de nossa históriade resistência.

O mundo mudou, a África foi transformada, osnegros que para aqui vieram criaram suas histórias,passamos por profundas transformações. Foramtempos de muita peleja de tantos negros que tom-baram mais que nos deixaram muitas herançasdas quais devemos nos orgulhar. Somos nascidosde ventre já livres, mas até que ponto somos livresnesta sociedade? Devemos considerar como umverdadeiro livramento ou apenas estamos nos con-tentando com aquilo que tem sobrado para nós?

A educação é para nós a porta de entrada paraqualquer outra ação de desenvolvimento, mas co-mo se trabalha essa educação? Nossa trajetóriaestá ligada a um conjunto de ações que somos ca-pazes de realizar no sentido de educar a sociedadepara um projeto político que sirva para todos. Nes-te trabalho que estamos atuando com as comuni-dades quilombolas. Este é mais um momento des-te projeto de libertação que vamos trabalhando noBrasil.

Nosso trabalho está diretamente ligado ao nos-so ppp. Ele é capaz de traduzir o anseio da comuni-

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dade negra porque nele está o principio daquiloque acreditamos que somos capazes de fazer: umasociedade diferente. Para isso acontecer é bom queconstruamos uma nova consciência na comunida-de: “a de que é somente através unidade do pensa-mento e do conhecimento da nossa realidade quefaremos a transformação”.

Este despertar só é possível com o chamado àreflexão do momento que vivenciamos e nestaanálise tomamos a postura da resistência para darcontinuidade à luta histórica dos quilombolas. OBanco Comunitário Quilombola é uma ação quetem nos mostrado as várias possibilidades de secriar mecanismos capazes de transformar e forta-lecer a luta por liberdade. Os cursos de formaçãoem associativismo, cooperativismo e gestão de ne-gócios solidários, possibilitam aos grupos o acessoao crédito no banco comunitário. O resultado detudo isso é a verdadeira autonomia do cidadão quese torna capaz de ser dono de si mesmo.

Acreditamos que esta ação de bancos comuni-tários possibilitará uma sociedade bem melhor pa-ras aqueles que estão excluídos do sistema finan-ceiro oficial, excludente e preconceituoso. Temosque colocar em prática nossos anseios por ummundo melhor, vamos unir as vontades de mu-danças e buscar inovadoras soluções para termosum mundo melhor para todos.

O Bairro Cidade Olímpica, em São Luís-MA, on-de está sendo desenvolvido o trabalho da Rede deEducação Cidadã têm população superior a 60.000habitantes, em sua maioria, famílias provenientesde outros municípios do Estado do Maranhão e vi-zinhos. Trata-se de um grande aglomerado urbano,constituído de pessoas que perderam seus referen-ciais socio-culturais de origem, encontrando-seem processo de reconstrução de novas relações eidentidades, num espaço urbano carente de infra-estrutura, habitação digna, saneamento, pavimen-tação de ruas, água, atendimento à saúde, escolade qualidade, etc. Um agravante dessa situação é afalta de trabalho capaz de propiciar à famílias ummínimo de dignidade.

Em Carapitanga, município da Raposa, localizadona Ilha de São Luis, a realidade socioeconômica dasfamílias integradas aos trabalhos da Rede é seme-lhante às da Cidade Olímpica. Contudo já desenvol-veram relações de vizinhanças e convivência, sendo

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mais socialmente integrados. Predomina a ativida-de de pesca artesanal como meio de sobrevivên-cia, mas essa atividade não possibilita renda sufi-ciente para garantir o sustento das famílias.

Os participantes dos grupos são atendidos pelosprogramas sociais do governo tais como: Fome Ze-ro e Bolsa-Família. Além desses benefícios, essasfamílias vivem da prestação de serviços urbanosem atividades domésticas, diaristas, pequenas la-vouras, predominando o trabalho informal. Há si-nais significativos no sentido da construção da Re-de, demonstrados através da manifestação de von-tade em participar dos encontros formativos, orga-nizar pequenos grupos para reivindicar direitos etrabalhos em artesanatos com bordados.

Permanecem os desafios como: falta de mora-dia digna, alto índice de analfabetismo, crescimen-to dos dependentes de substâncias químicas (dro-gas), exploração sexual de adolescentes, violênciaurbana e de moradores de rua.

Os trabalhos desenvolvidos nos município daregião do Sul do Maranhão são de grande impor-tância e fazem com que as famílias atendidas sesintam respeitadas e com desejo de lutar pelosseus direitos. Atendemos através de oficinas maisde trezentas pessoas das seguintes comunidades:assentamento São José Município de Balsas-MA,assentamento Bacuri Município de são Raimundodas Mangabeiras, assentamento Vida Nova e as-sentamento Alegre, ambos do município de Ria-chão-MA.

A região sul do Maranhão é onde se estendemos grandes projetos de soja e cana-de-açúcar. Pro-jetos que dizem trazer desenvolvimento para re-gião mas que, na verdade, expulsam o homem docampo para as periferias das cidades. Os agriculto-res acabam ficando sem terra para trabalhar e dei-xam suas famílias para trabalhar nas fazendas on-de muitas vezes são explorados e até mantidos emcondições de escravidão.

Diante desta triste realidade em que vive a po-pulação do sul do maranhão justifica-se a necessi-dade de um trabalho sério de conscientização emobilização para que as pessoas busquem a con-quista de seus direitos. É esse trabalho sério que aRede de Educação Cidadã vem desenvolvendo aolongo deste ano. Conseguimos dar passos signifi-cativos juntamente com as entidades parceiras:

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Cáritas Regional, Diocese de Balsas, cpt de BalsasBalcão de Direitos, Fóruns de Defesa dos Direitosdas Populações do Cerrado Sul Maranhense e asPastorais Sociais.

Nas regiões do Vale do Pindaré e Tocantina asfamílias não são atendidas por nenhuma políticalocal, a não ser pelo Bolsa Família. Estas comuni-dades são diretamente atingidas por conseqüên-cias do projeto Grande Carajás, que tem como car-ro chefe a exploração dos minérios de ferro e bau-xita. Os trabalhos desenvolvidos junto às famíliasestão diretamente relacionados ao processo orga-nizativo e formativo desenvolvido com educadorese lideranças. As famílias em situação de vulnerabi-lidade social atendidas por esse projeto já vinhamnum processo de organização assumido por esseseducadores e liderança através dos movimentos,pastorais e organizações populares a que eles per-tenciam. Os agentes que trabalharam até o mo-mento estão motivados para mudar esta triste rea-lidade.

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PARAÍBA

Paraíba, Julho de 2008.

Companheiros e companheiras,

Queremos, através desta, compartilhar aspectosda nossa caminhada na recid-PB por acreditarmosque a reflexão sobre a ação é primordial no fazerque almeja transformações sociais. Assim, com opropósito de facilitar o trabalho dividimos o Esta-do em três regiões (Zona da Mata, Compartimentoda Borborema e Alto Sertão), destacamos três ex-periências que consideramos mais significativas:

1. Encontro microrregional Zona da Mata: espa-ço onde vamos consolidando o trabalho com ju-ventudes, através das entidades da Rede. Com o te-ma Protagonismo Juvenil e Construção de PolíticasPúblicas para a Juventude, conseguimos mobilizaros vários rostos da juventude (indígenas, negra, jo-vens do campo, periferia, pastorais de juventude)em vista da articulação para a discussão e proposi-ção de políticas públicas locais, de acordo com aorientação do Projeto Político Pedagógico (ppp), nasua diretriz 10.1. Identificamos tanto a correlaçãocomo as contradições.

2. Na região do Alto Sertão a experiência se dá nodiálogo entre redes (rede saúde e alimentação, culti-vos agroecológicos, sementes, educação contextua-lizada, abelha, água), que visa fortalecer o enfrenta-mento coletivo aos avanços do agro-negócio; tam-bém contamos com uma importante parceria coma Comissão Pastoral da Terra (cpt) da diocese de Ca-jazeiras, a Central de Associações dos Assentamen-tos do Alto Sertão (caaasp) e o Sindicato dos Traba-lhadores Rurais de Aparecida-PB, que assumem atarefa de animar e mobilizar essas redes, com o ob-jetivo de construir uma agenda comum. Essa expe-riência tem sintonia direta com a Diretriz 4.1 do ppp.

3. No município de Jacaraú (Zona da Mata),como encaminhamento das oficinas realizadas

“Educação não transforma o mundo.Educação muda pessoas.

Pessoas transformam o mundo”.Paulo Freire

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com jovens do assentamento “Novo Salvador” foidecidido pela criação de uma horta comunitária,com o objetivo de garantir a permanência no cam-po desses jovens e proporcionar a geração de tra-balho e renda.

A riqueza do trabalho desenvolvido a partir des-sas três experiências nos faz perceber a necessáriaproposição da recid nesses espaços no sentido decontribuir para que avancem na proposição econstrução de espaços democráticos e cidadãos.Todavia, no que se refere ao processo de formaçãoe aprendizagem, observamos que ainda persisterelativa distância entre o discurso e a prática quepossa se configurar enquanto práxis. Isso decorreda improvisação do trabalho de educação popular,da dificuldade de definir a intencionalidade políti-ca dos processos educativos; considerando ainda,quando as nossas vivências simplesmente enfati-zam o teatral e se desviam do sentimento de per-tencimento e solidariedade à causa do empobreci-dos e aos que lutam em favor dessa causa.

É interessante perceber que, em alguns gruposacompanhados, há uma ausência de auto-criticacom relação aos procedimentos metodológicos uti-lizados na prática da educação popular quandoconfrontados com a teoria da educação popular crí-tica e a disposição em re-significar essas práticas.

Há uma melhor facilidade de comunicação paraquem está diretamente ligado(a) com as ativida-des desenvolvidas (educadores, executiva, amplia-da e entidade âncora). A comunicação não chegaaos grupos de base, gerando desequilíbrio no acom-panhamento e socialização das informações e deli-berações, caracterizando uma comunicação cen-tralizada, muito convergente com a lógica capita-lista e mercadológica, onde quem comunica é quemtem o poder. Outra fragilidade identificada tem si-do a comunicação com outras redes, fóruns e arti-culações. Identificamos, nesse aspecto, uma con-tradição com a diretriz 11.1 do ppp que indica: “Es-tabelecer e fortalecer espaços e meios para asse-gurar a democratização da comunicação…”.

Correlacionando com a nossa organicidade, queestá estruturada por meio de coordenações execu-tiva e ampliada e constituída por educadores e en-tidades, avaliamos positivamente o funcionamentodessas instâncias para planejar e deliberar, garan-tindo assim um processo decisório e transparente.

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Por último, identificamos avanços no sentido daapropriação técnica/ administrativa das normasestabelecidas pelo marco legal de convênios públi-cos. Convém ressaltar que, no sentido da gestãocompartilhada, ainda pensamos num modelo res-trito ao convênio e centralizado na entidade ânco-ra. Nossa compreensão é que a gestão vai muitoalém, por isso temos nos esforçado para não esta-cionar apenas na constatação, mas buscamos im-plementar algumas mudanças, como nos indica adiretriz 11.3.

Coletivo Estadual.

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PERNAMBUCO

Recife-PE, 12 de julho de 2008.

Caras(os) companheiras(os) da Rede de Educação Cidadã,

Através dessa carta estamos enviando nossas con-tribuições para o encontro nacional no sentido depossibilitar a coleta de informações e conteúdos so-bre os processos de educação popular por nós de-senvolvidos aqui na Rede de Educação Cidadã Per-nambuco. Esperamos que os desafios, limites eaprendizagens por nós identificados na nossa práti-ca possam servir ao planejamento participativo darecid nacional até 2010, com foco na organização deuma política nacional de formação, avanços na or-ganicidade, na sustentabilidade e na comunicação.

A Rede Pernambuco, parte integrante dessaconstrução inédita no país, mobiliza pessoas e or-ganizações sociais interagindo diretamente com oGoverno Federal no enfrentamento das contradi-ções históricas da sociedade brasileira — a fome e amiséria.

A organização da Rede no Estado fez com quechegássemos ao engajamento de dezenas de enti-dades e centenas de educadores populares em cin-co microrregiões: Agreste Central/Caruaru; Agres-te Meridional/Pesqueira e Garanhuns; Litoral Sul/Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapese Ipojuca; Sertão/Floresta e Petrolina.

Nossas atividades têm sido permeadas pela mís-tica da esperança e pelo compromisso político namudança. Tudo isso tem fortalecido iniciativas earticulações entre coletivos construindo uma pro-posta de Rede. Rede de Educação Cidadã que tem atarefa de buscar a unidade de classe, fortalecer asorganizações populares e suas diversas lutas comrespeito às diferenças.

Com a construção do Projeto Político Pedagógico(ppp) nossa estratégia política, a construção do Pro-jeto Popular para o Brasil (ppb) deixou mais claroenquanto Rede nosso horizonte coletivo, mas in-dagamos sobre como podemos dar nossa contri-buição nessa construção. Temos ainda dificuldade

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de aprofundar, compreender e atuar em vista aconjuntura do Estado, da região Nordeste e do Bra-sil. Precisamos entender melhor os projetos políti-cos em disputa. Fortalecer nessa disputa o projetopopular para o Brasil, sua construção local, regio-nal e nacional, tudo isso de forma articulada ejuntos a outras redes populares. Algumas vezes fa-zemos a leitura que mesmo com o ppp, não conse-guimos ainda na prática uma ação comum de for-te impacto enquanto Rede.

Percebemos e destacamos como ponto fortenessa busca a intenção, na prática, de fazer educa-ção popular e de fortalecer o trabalho de base. De-finimos como perspectiva dessa educação a meto-dologia freireana. Realizamos estudo com assesso-ria do Gouvêa, o que foi muito bom para desper-tarmos ainda mais a necessidade de qualificarmosnosso trabalho de base. Entendemos hoje que umdos nossos desafios é a reflexão constante da nos-sa prática associada a nossa compreensão sobre aconstrução do Projeto Popular para o Brasil.

Com essa intenção e participando ativamentedessa construção estamos procurando caminharatravés das seguintes ações e aprendizados:

Do ponto de vista pedagógico/Formação:Planejamento participativo anual das ações daRede partindo das bases, das microrregiões esendo concluído no coletivo estadual para alémdas ações do convênio;Avaliação processual nas microrregionais comvistas ao trabalho desenvolvido nas oficinas.Suas coerências e contradições.Formação como aspecto fundamental da nossamilitância Através das experiências em cursos,oficinas, encontros microrregionais, estaduais,macrorregionais e nacional, assim como, no de-sencadear dos processos com as AssembléiasPopulares.Do ponto de vista da organicidade:Configuração de uma nova realidade na organi-cidade a partir da descentralização dos educa-dores contratados pelo convênio. Fortalecimen-to da capilaridade da Rede e maior protagonis-mo das organizações locais;Surgimento de novas lideranças e fortalecimen-to de parcerias.Do ponto de vista da gestão compartilhada e susten-

tabilidade:

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Gestão compartilhada. Apropriação de meca-nismos de prestação de contas. Transparênciana gestão de verbas públicas;Fortalecimento de conselhos, fóruns e coletivos;Fortalecimento da luta no semi-árido.Do ponto de vista da comunicação:O desafio de socialização da comunicação daRede, divulgação do trabalho e apropriação dealternativas populares de comunicação.Ao final queremos colocar nossa fé de que a con-

clusão dos nossos trabalhos resulte em “aumentode nossa esperança e vontade de se comprometercom a Terra, com o resgate dos empobrecidos e ex-cluídos, com uma ética que combina justiça e cui-dado e uma espiritualidade que nos permita ligare re-ligar todas as coisas”.

Fraterno abraço,Equipe recid-PE.

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PIAUÍ

Piauí, Brasil, 15 de julho de 2008

Companheiros e companheiras da recid,

Reconhecemo-nos comprometidos com a liberta-ção do povo, que só a conhecerá pela via da educa-ção. Entretanto, os semeadores ainda são poucos,embora a demanda seja enorme.

Percebemo-nos imbuídos da chama Freireanado desafio, da sede e do querer fazer acontecer.Contudo, as nossas ações ainda são entravadaspor mecanismos institucionais que deveriam sereconhecer parceiros dessa obra vital para a hu-manidade.

Aqui no Piauí estamos dando passos no apren-dizado desse processo pedagógico e administrativofinanceiro (gestão). Para tanto, estamos fortalecen-do as parcerias a fim de garantir uma gestão com-partilhada.

A equipe de educadores tem estabelecido boasrelações interpessoais pautadas em debates cons-trutivos, planejamento participativo e garantidoresultados satisfatórios, a partir da adesão de va-riados setores da sociedade civil organizada, como:sindicato dos trabalhadores rurais, cooperativas,associações, igrejas e pastorais. Além de iniciar-mos diálogo e estreitar relações com órgãos públi-cos como o Programa Fome Zero, Delegacia Regio-nal do Trabalho do Estado, conab, Secretaria de As-sistência Social e Cidadania, etc.

O público se apresenta de forma bastante diver-sificada incluindo agricultores familiares, assenta-dos(as), jovens, mulheres e idosos, sobretudo, osparticipantes do Programa Bolsa Família.

As atividades são voltadas para a percepção dosdireitos humanos, participação social, políticas pú-blicas e desenvolvimento sustentável, a partir doprocesso de formação e capacitação de multiplica-dores, por meio de oficinas pedagógicas, palestras,eventos nos níveis municipal e estadual.

É nesse cenário, que tem como referencial a pe-dagogia Freireana, que Rede de Educação Cidadã se

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apresenta com muita altivez na efetivação das açõespedagógicas no Estado do Piauí, motivando novaspráticas em educação popular em vista do prota-gonismo entre os mais pobres da nossa sociedade.

Sabemos que temos ainda um longo caminho aser percorrido, pois o trabalho é grande e os operá-rios são poucos.

Que a Paz do Senhor da Vida esteja com todos etodas.

Rede de Educação Cidadã Piauí.

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RIO GRANDE DO NORTE

Amigos e amigas,

A recid no Rio Grande do Norte está presenteem três regiões (Mato Grande, Seridó e Metropoli-tana), mobilizando 28 núcleos, com participaçãoexpressiva de mulheres e jovens e 15 entidades.

Nos momentos de capacitação, encontros, reu-niões e mesmo em conversas informais, a praticada Rede é objeto de reflexão. Em seu ppp, a Rede fezopção pela educação popular, entendendo que es-ta se constrói na relação entre o sujeito-educan-do(a), sujeito-educador(a) em uma realidade con-creta. Sempre nos perguntamos como garantir queos(as) agentes socioculturais sejam os protoganis-tas de suas práticas, desenvolvendo a dialogicida-de comprometida com a humanização, como pro-põe Paulo Freire.

Os núcleos vivem em situação de vulnerabilida-de social. Por vezes nossa prática ainda se limitaàs resoluções imediatas de alguns problemas, sen-do preciso não perder de vista o aprofundamentodas contradições e conflitos. É desafiante para nóssuperararmos nossa cultura autoritária e consoli-dar o diálogo como instrumento metodológico ca-paz de desvelar a realidade, mobilizar os sujeitosno processo de construção e reconstrução de sen-tido da realidade.

Paulo Freire nos ensina que é necessário proble-matizar as visões de mundo, realizar pesquisa, en-frentar a tensão entre conhecimentos, fazer des-crição, análises, sínteses e conseqüentemente a in-tervenção sobre a realidade e a construção de umnovo conhecimento e uma nova prática. Mesmoassim, por vezes, nos deparamos com o pessimis-mo e a pressa de ver tudo mudar rapidamente. Enos vemos reproduzindo o senso comum. Pareceque por mais que façamos nada muda. Pensamosaté em desistir da luta. Quando isso acontece o co-letivo nos fortalece.

É bom não esquecer que todos nós educado-res(as) e educandos(as) somos síntese da culturasocialmente construída e, portanto, somos tenta-

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dos(as) a reproduzi-la em nossas práticas. A Redevem sendo o espaço de diálogo, de reflexão e deaprendizado. Assim vamos nos apropriando de no-vas lentes de análise da realidade e percebemosque por trás da realidade há relações sociais, cul-turais e econômicas construídas, e sendo construí-das, onde aprendemos que podemos interferir so-bre esta e transformá-la.

As experiências concretas nos mostram que aspequenas mudanças são extremamente significa-tivas para a Rede. Realçamos aqui a experiência doFórum de Desenvolvimento de Políticas Públicas daCidade de Taipu-RN. Esse fórum surgiu como resul-tado da ação da recid e hoje mobiliza cerca de 46associações comunitárias, grupos, pessoas, igrejas,lideranças comunitárias, comunidades e entidadesde diferentes segmentos, se constituindo como umespaço de capacitação, monitoramento e proposi-ção de políticas públicas do município.

Em Riacho do Sangue as mulheres e os jovensmobilizaram a comunidade para produzir solida-riamente, gerando renda e sendo também o espa-ço de capacitação e de intervenção na realidade,conquistando políticas públicas para a comunida-de. Em São Vicente os educadores(as) da Rede cen-tram os esforços na mobilização de crianças e ado-lescentes a partir da cultura, como forma de en-frentamento do abandono desse segmento.

Aprendemos com a educação popular que po-demos trabalhar para fazer a transformação. De-vemos ter a sensibilidade para não perder de vistaque aos(as) educadores(as) cabe sistematizar asfalas significativas do grupo e desafiá-los a supe-rar a visão limitada sobre a realidade, aproximan-do teoria e prática. Por isso na prática educativa darecid precisamos, cada vez mais, nos abrir paraconhecer o outro e ouvi-lo, pois somente ele(a) sa-be o que é melhor para si.

Amigos e amigas, apesar da Rede assumir a op-ção pela educação popular, por vezes nos depara-mos com falas nossas mesmo, “politicamente in-corretas” e práticas que se afastam dos princípiosda educação popular. Somos tentados o tempo to-do a ter solução para o outro. Isso ocorre em todasas esferas da Rede. O bom disso tudo é que o cole-tivo vem enfrentando os conflitos e reafirmandoque só a metodologia dialógica permitirá aos edu-cadores(as) identificar e refletir as contradições.

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Nessa perspectiva, a Educação Popular na recidse constitui um processo de luta e de formaçãopermanente. Temos o desafio de trabalhar o con-texto de forma que a Rede, cada vez mais, possasuperar os limites das vivencias que ficam nas so-luções isoladas e pontuais.

Queremos chamar a atenção para a necessida-de de trazer as compreensões que a Rede tem desi, as idéias, visões e a partir daí refletir sobre oque é significativo para ela. Também é identificaras contradições e manter o diálogo dentro da pró-pria Rede. Aqui no Estado mesmo tendo afirmadoque o diálogo deve contemplar os recortes de clas-se, gênero, sexualidade, raça, religiosidade e gera-ção, na prática educativa enfrentamos alguns limi-tes, principalmente nas questões de gênero, sexua-lidade e religiosidade.

Temos nas mãos os desafios de construir a hu-manização do processo educativo, fortalecendo aidentidade e a organicidade da recid, valorizandoas culturas e a diversidade.

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SERGIPE

Aracaju-SE, 17 de julho de 2008.

O ano de 2003 para Sergipe foi marcado com a cons-trução de uma nova história para as organizaçõessociais que atuavam na educação popular: marcao início de uma longa caminhada. Embora não ti-véssemos claro aonde queríamos chegar e qual aestrada seguir, mesmo assim seguimos o caminhocom uma grande fileira de seguidores. No trajeto,em razão dos espinhos, pedregulhos, buracos eventanias, a fileira foi encurtando e os poucos queseguiam se perguntavam para onde ir? Ninguémtinha claro mas, em algum lugar, tinha-se a certe-za de que iríamos chegar.

Diversas foram as paradas e novo recomeço docaminhar, limites, barreiras e desafios. Estes nun-ca deixaram de existir e nunca deixarão porque fa-zem parte da caminhada. Durante o percurso docaminho outros andarilhos engrossavam a fileira eoutros também desistiram desta caminhada cheiade obstáculos e intempéries. Há cinco anos ergue-mos muros, derrubamos outros envelhecidos econstruímos outras estradas menos íngremes eque nos guiam com mais clareza como um grandefarol para iluminar estes caminhos.

Decidimos então renovar a fileira, pois muitos es-tavam cansados, pessimistas, embora uns poucosafirmando da importância da persistência e da mu-dança. Paramos então para refletir e com esta refle-xão chegamos à conclusão de que era preciso reno-var, ousar e agir acreditando que queria seria possívelconcluir a caminhada. Com isso surgiram novos de-safios e uma pergunta: o que fazer? Pensamos, pensa-mos e decidimos começar de novo, com o novo e parao novo, catando as sementes esquecidas na estrada,precisando de alguém para regá-las. Isso as fortale-ceu para que os frutos e brotos vingassem e suas raí-zes se aprofundassem na terra com mais firmeza. As-sim fizemos, seguindo sempre o brilho do farol a ilu-minar a nova estrada que começamos a construir.

No recolhimento destas sementes, mais de 50,conseguimos aproveitá-las e estamos plantando e

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regando, com bastante adubo, em terras férteis.Com certeza bons frutos serão colhidos, pois suasfolhas estão viçosas como o raiar da primavera.

No planejamento buscamos sementes aindaverdes, mas com vontade enorme de dar frutos eserem regadas. A estrada, a cada dia, vai se fortale-cendo e novos horizontes vão se abrindo, clarean-do as idéias. Novos objetivos vão se formulando e,claro, novos desafios vão surgindo.1. Hoje podemos dizer que estamos construindo

uma boa estrada, embora com limites, poismuitos são os desafios (financeiros, humanos,estruturais, etc). Mas com a certeza de que ul-trapassaremos um a um fortalecendo o seu ali-cerce e ampliando as sementes em buscas denovos horizontes.

2. Aprendizados: a coragem de ousar e enfrentarcada desafio que surgir e estar ciente do quequer e aonde quer chegar, e acima de tudo em-basar-se no conhecimento através de estudospesquisas...

3. Desafios: o novo é sempre um desafio, pois esta-mos saindo de uma zona de conforto onde co-nhecemos tudo, para algo que é uma incógnita.A coragem e a persistência farão a diferença; Éum desafio também saber tirar de cada expe-riência um aprendizado.

4. Comunicação: este sempre será um grande desa-fio, pois o ser humano perdeu o contato com ooutro, se distanciou; o educador popular precisaretornar a suas origens.

5. Compartilhar é um outro grande desafio, poisaprendemos a delegar poderes e a cobrar, masnunca participar. Aos poucos estamos vencendo.

6. Sustentabilidade: ainda é desafiador e um grandeparadigma a ser quebrado, estamos tentandofazer isso.

7. Organicidade está sendo construída e fortalecida.8. Parcerias: foi construída uma relação de parcei-

ros com organizações, prefeituras. Nesta rela-ção o aprendizado está sendo gratificante.

9. Formação e trabalho de base: seguindo o nosso farol,a riqueza de conteúdo, emissores e receptores.Qualitativamente este é um dos momentos maisimportante de todo o processo desta caminhada.Enfim como diz o nosso mestre:“A primeira condição para que um ser possa as-

sumir um ato comprometido está em ser capaz de

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60 Cartas Pedagógicas

agir e refletir. É preciso que seja capaz de estandono mundo, saber-se nele. Saber que, se a forma pe-la qual está no mundo condiciona a sua consciên-cia deste estar, é capaz, sem duvida, de ter cons-ciência desta consciência condicionada. Quer di-zer, é capaz de intencionar sua consciência para aprópria forma de estar sendo, que condiciona suaconsciência de estar” (Educação e mudança, PauloFreire).

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Centro-Oeste 63

DISTRITO FEDERAL

Brasília-DF, 11 de julho de 2008.

À Rede de Educação Cidadã,

Olá! Escrevo-lhe para dizer que a Rede de EducaçãoCidadã no Distrito Federal e no Entorno2 continuafirme e enraizada, com as folhas mais verdes, tomque demonstra que a árvore da educação popularestá bem alimentada e em breve florida com sabo-rosos frutos. O Entorno e grande parte desta Brasí-lia são sempre relatados nos periódicos como sem-pre lindos e maravilhosos, mas isso pouco mostra arealidade nua e crua na sua totalidade. Por meio danossa realidade vivida, podemos falar da gente bo-nita, sedenta de saberes, que auxiliam a clarear avisão do povo e constroem, juntos, possibilidadesde melhores dias nas suas comunidades.

Como experiências significativas vivenciamosmomentos e sentimentos diversos: os encontrosmicrorregionais foram fundamentais neste pro-cesso. A partir do primeiro, no mês de abril, quan-do aprofundamos a educação popular com a as-sessoria da Guadalupe que despertou em nós o de-sejo de querer estudar mais. Outro micro foi o dajuventude, no qual o movimento Hip-Hop e a Pas-toral da Juventude se encontraram, elaborando pro-postas fundamentais para o fortalecimento de suaslutas. Tivemos também um micro no formato de se-minário sobre os Direitos Humanos no Distrito Fe-deral e Entorno. Neste, conversamos a respeito dosdesafios e perspectivas e descobrimos que os desa-fios são grandes e as perspectivas do mesmo tama-nho, sobretudo quanto ao acesso às políticas públi-cas, principalmente nas periferias e no Entorno quese mostraram à margem dos direitos fundamentais.

Ficamos felizes nesta caminhada, em nossosmicrorregionais encontramos novos brasileiros(as)que se somaram à nossa peleja por uma sociedade

(2) A microrregião do Entorno do DF localiza-se no Estado de Goiás, compreen-de 20 municípios e caracteriza-se por altos índices de violência.

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mais igualitária, entre estes, catadores(as) de ma-teriais recicláveis, ativistas culturais, agentes decidadania e pessoas que também comungam domesmo anseio e que desejam um mundo melhor.

Percebemos que as oficinas devem ser fortaleci-das e aplicadas na formação da base e deve serpensado em uma forma que comprometa maisnas atuações, vide o fato de alguns movimentos fi-carem muito amarrados aos recursos e não secomprometerem com trabalho contínuo da Rede,mas que se mostrou em muitos momentos comouma das folhinhas verdes desta nossa árvore quevem a cada dia crescendo bela e formosa.

Quanto ao processo de formação e trabalho debase existem limites no processo de formaçãocontinuada. Outro desafio é fato de os movimen-tos, por questões da datas ou atolados em ativida-de, de uma conjuntura de crise de organização earticulação nos movimentos do DF dificultar umaarticulação mais consistente e permanente dosmovimentos. Todo o trabalho tem sido pensado erealizado à luz do ppp, que muito tem nos ilumina-do no caminho percorrido e a percorrer.

Aprendizado com relação a esse processo é apresença da educação popular Freireana nos tra-balhos dos movimentos, que começam a percebera importância que esse método tem para o resul-tado dos trabalhos e desenvolvidos.

Além das oficinas e dos encontros microregio-nais, não poderíamos deixar de relatar que estive-mos presentes numa ação em Águas Lindas, mu-nicípio do Entorno, com capoeira, corte de cabelo,brincadeiras com a criançada, palestras com te-mas variados, o que ampliou a boa relação naque-la comunidade. De 4 a 6 de julho deste ano, reali-zamos o encontro Distrital. Percebemos que a con-quista de políticas públicas é fundamental paracontinuarmos “tecendo sonhos e construindo pos-sibilidades” mais fortalecidos(as).

Desejamos que o 9º Encontro Nacional da Redede Educação Cidadã seja pleno de luz e harmoniaem benefício de nós povo brasileiro.

Rede de Educação Cidadã do Distrito Federal

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GOIÁS

Goiânia-GO, 8 de julho de 2008

À Rede de Educação Cidadã,Saudações de luta,

Nós do Estado de Goiás gostaríamos de partilharcom todos os educadores(as) da recid, de Norte aSul do Brasil, nossas experiências com relação aotrabalho de educação popular, nossa forma de or-ganização e alguns erros e acertos.

Com nossas experiências aprendemos que anossa realidade é muito mais complexa e nossosrelatórios não dão conta de toda ela. Como diz ofilme “As pontes de Madison”, é difícil “expremer”nossas vivências em tão curtos, frios e formais re-latórios; mas tentamos. Além do mais, dá umapreguiça passar do vivenciado, caloroso, das cores,dos cheiros e sabores à escrita formal. Isso nãoacontece com vocês? Esperamos que sim, do con-trário nos sentiremos estranhos.

A diversidade dos grupos com suas linguagens,costumes, bandeiras de luta, místicas é um dos en-cantos do nosso trabalho, percebemos a diversida-de na unidade e, às vezes, o crescimento no confli-to e no confronto. Descobrimos nesses seis mesesda nova etapa do convênio que os movimentos,pastorais sociais e os grupos gostam de conversarsobre democracia, direitos humanos, socialismo,capitalismo, formação do Estado, Educação Popu-lar etc. Porém, muitas vezes, tais temas parecemestar tão longe da compreensão e tratados de for-ma tão formal e mecânica que não se empolganem as “mariposas”. Mas em outros casos, os en-contros de formação têm cheiro e sabor e descemda cabeça ao coração, chegando ao intestino deforma prazerosa e digestiva.

No planejamento da Rede aqui em Goiás, nomês de fevereiro de 2008, organizamos as nossasações e definimos o nosso jeito de trabalhar esteano. Eis o desafio: antes as nossas oficinas eramorganizadas e distribuídas por movimentos, o quemuitas vezes, se comparava a um grande leilão,

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66 Cartas Pedagógicas

onde não era o dinheiro quem levava a melhor,mas a disputa do poder e espaços dentro da Rede.Não que isso seja ruim, não fazemos juízo de valordas relações de poder, pois entendemos que é ine-rente a toda relação humana, porém, muitas vezesprejudicou e poderia prejudicar um processo de-mocrático, dialógico e de emancipação de homense mulheres. Então, voltemos aos temais geradores!Nesta reunião, os grupos trouxeram suas deman-das, limites e sonhos e a partir disso definimos 9grandes temas que, de certa forma, incluem todosos outros trabalhados pelos grupos. A partir daí asoficinas passaram a ser organizadas tendo-os co-mo referência. A idéia era a de juntar vários gru-pos em torno de um tema, o que tornaria o proces-so mais participativo, coletivo, mas também maisexigente.

Esta forma de organização possibilitou umavanço qualitativo em Goiás, uma vez que tenta-mos (e ainda estamos no caminho) de organizar otrabalho desde o planejamento até a execução porum maior número possível de grupos. Contudo, édifícil mudar algumas concepções, principalmentequando estão tão enraizadas. Alguns grupos aindaquerem realizar as “suas” oficinas, outros queremrealizar as oficinas juntando as “suas” com as “de-les” e outros já avançaram buscando realizar as“nossas” oficinas. Alguns meses isso funcionoumais, outros menos, mas não deixa de ser umgrande avanço.

Um outro avanço, que já chega a ser repetitivofalar, é a orientação que o ppp dá às nossas ações.Temos tentado em todas as reuniões enfatizar issopara que um dia, como dito antes, desça da cabeçaàs entranhas e ele se torne a referência das nossasações. Errando a gente vai acertando. Nem todasas pessoas que fazem parte da recid em Goiás oleram, mas aos poucos a gente chega lá e um nú-mero considerável de educadores participou desua construção. Uma vez, numa das nossas reu-niões mensais, alguém perguntou se tudo aquilode bonito e ideal que a gente busca, se o nosso pla-nejamento estava dando certo. Bem, o que vai di-zer isso é nossa confrontação entre nossas práti-cas e nossas ações com o nosso Projeto.

Um outro passo importante e significativo é oesforço que estamos tendo em criar espaços deformação na área da educação popular (metodolo-

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gia, temas geradores, opção política, práticas etc.).Realizamos duas etapas do curso em Educação Po-pular com o Gouveia e Guadalupe. Este tambémfoi a temática do nosso encontro estadual, além deser discutido direto e indiretamente nos encontrosmicros. Como um sonho para o futuro, pensamosnuma Escola de Formação em Educação Popular.

Não caberia aqui tudo que gostaríamos de par-tilhar com vocês, confessamos que este exercício ébem mais prazeroso do que escrever relatórios,planilhas de prestação de contas, relatório mensaletc. Mas entendemos que é necessário. Se tivésse-mos tempo ao invés de ter que terminar nossasobrigações deste mês, falaríamos do perfil de cadaeducador de Goiás, das farras nas nossas viagens,dos lanches nos encontros, do mau humor de al-guns e do “vôo” que outros fazem a lugares só exis-tentes em sonhos, o que nos obrigam a chamá-los devolta para as responsabilidades do dia-a-dia da se-cretaria, das horas que passamos na fila do correio,copiadora, banco e que se somassem daria 20 horassemanais. Ops!!! Nem precisaríamos fazer maisnada.

Falaríamos também dos nossos desejos de queesta Rede não acabe e fique só na lembrança e nashistórias que contaremos aos nossos filhos e netos.Falaríamos talvez daquilo que não se fala nos rela-tórios: do rosto do Deusdete quando ele cria umamística, da filhinha da Arilene crescendo entre nós,da capivara da Zilma, do Id, Ego e Superego, dasnossas mulheres da terceira idade dormindo (ourepousando as pálpebras) nos encontros... E, se porventura não compreenderem nada disso, venhamnos visitar em Goiás, teremos o maior prazer emrecebê-los com aquele arroz com pequi, aquela pa-monha com muito queijos e muitos beijos.

Com ternura,recid de Goiás.

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MATO GROSSO

Cuiabá-MT, 11 de julho de 2008.

Aos Educadores e educadoras da recid,Prezadas companheiras(os),Saudações de liberdade e esperança para vocês!

Esta é a 6ª Carta enviada à equipe da recid-MT, umdos meios que nos integra no processo; e a 1ª paraa recid Nacional.

Desde fevereiro 2007, estamos vivenciando umanova etapa, continuando o nosso processo de con-solidação da recid-MT, iniciado no ano 2003. Hojesomos uma equipe de educadores(as). A equipe deeducadores liberados se renovou em 60%; estamosorganizados em cinco regiões (Noroeste — Juina; Nor-te — Juara; Sul — Cuiabá, Baixada Cuiabana e Cuiabá,Sudeste — Cáceres e o público específico de indíge-nas) do grande MT. Já chegamos a realizar oficinasem aproximadamente 37 municípios.

Estamos vivendo experiências significativas, nes-ta caminhada de idas e vindas. Conseguimos nossoespaço e mobiliário necessário com o Instituto daDivina Providência, a partir de um termo de como-dato. Nos encontros também fomos tecendo redes eidentificando os grupos e parceiros como: mab, mmc,mpa, mst, quilombolas, movimentos urbanos, HipHop, movimento de mulheres, Movimento Cons-ciência Negra-mcn, fetagri, feab, indígenas Xavan-tes e Rikibaktsa, Centro Burnier Fé e Justiça, Irmãsda Divina Providência, consea, conseas, Cooperbras-sa, cebi, Centro de Capacitação e Pesquisa DorcelinaFolador-cecape; Associação Regional de CooperaçãoAgrícola-arca, Pastoral da Criança, ajopan, Unematde Cáceres e Sinop, como também segmentos comoeconomia solidária, Fórum de Lutas de Cáceres, Rá-dios Comunitárias, Pastorais Sociais, PJ, AssembléiaPopular, Crás, Grupo de Consciência Negra-grucon,Casa da Cultura, Projeto Popular “No Compasso daMúsica”, Universidade Popular Cuiabá-upc, ProjetosSala Verde e Cineclube Zumbi Sinop, entre outros.

Identificamos, convidamos e acolhemos volun-tários(as). Somos um grupo geralmente de 15 edu-

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cadores constantes na equipe estadual que se en-contram em Cuiabá e em cada região de 4 a 7 edu-cadores, em cada encontro de educadores(as) enas equipes. Sentimos que o processo de planeja-mento participativo que experimentamos nos dá aoportunidade de aprender e melhorar nossos tra-balhos, nos empurra a organizar espaços de estu-do, de avaliação, de reprogramação e a prática dasistematização dos conteúdos, uma forma de per-petuá-los e ser parte da história.

Sentimos uma grande satisfação de saber quefazemos parte dos avanços no processo de consoli-dação da recid-MT e ao mesmo tempo no cresci-mento pessoal e social com a metodologia liberta-dora numa construção do saber coletivo. Nesteprocesso, sentimos que a metodologia popularFreiriana pode também ser testada, aprovada econsumada nas oficinas, seminários, encontros es-taduais, micros, macros e sistematizados como ga-rantia de um processo de desenvolvimento huma-no que brota da base, do povo e do saber popular.

Para nos é um processo revolucionário, onde aspessoas enxergam um caminho de se libertar deum processo de longos anos de repressão e opres-são. Tudo isto se manifesta nas falas das pessoasque apóiam e participam das ações da recid-MT,sistematizadas nos relatórios pedagógicos. Esteprocesso envolve, nos exigiu e ainda nos exigemuita abertura, coerências em saber ouvir e saberidentificar o momento de aplicar conhecimentos àluz das diretrizes do ppp, sobretudo das diretrizesnº 6, 5 e 8.

Conseguimos elaborar nosso plano de ação es-tadual no coletivo, sintonizando-no com o objetivogeral, com uma proposta de formação de educado-res populares e de novas lideranças populares.Identificamos as demandas e prioridades temáti-cas do Estado como: Articulação e fortalecimentodos Movimentos sociais; Comitê de Educação doCampo, assentamentos e acampamentos, mulhe-res indígenas Xavantes, quilombolas, economia so-lidária/ articulação com as mulheres e com os jo-vens que são beneficiados pelo Programa de Erra-dicação do Trabalho Infantil, bolsa família ou ou-tros./Audiências públicas que tratam de temas re-lacionados ao que se espera de um projeto popularpara o estadual e nacional./ fortalecimento da As-sembléia Popular;/Disseminar e ampliar a Rede no

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interior. Trabalhamos sobretudo estes temas: edu-cação popular e trabalho de base, segurança ali-mentar e nutricional, hidronegócio e poder popu-lar, auto-gestão, cooperativismo, coletividade, au-to-estima, políticas públicas, pac, cooperativismo,geração de renda, estatutos indígenas e outro te-mas locais.

Com alegria partilhamos para vocês que esta-mos vivenciando um processo de gestão comparti-lhada na equipe, conforme os princípios 7 e 11 donosso ppp. Experiência que nos orienta para conse-guir experiências de fato, como a comunicação eaplicação do financiamento nas ações pedagógicase de administração por educadores. Mas para che-gar a este processo, precisamos de muita comuni-cação, passamos por muitos encontros de forma-ção e articulação nas equipes de educadores tantoliberados e como de voluntários. Este processo exi-giu de nos educadores muito estudo e leitura cons-tante da realidade, uma prática e manejo de ferra-mentas técnico pedagógicas. E ajudou a visualiza-ção e identificação da recid com a metodologia po-pular.

Contribuímos em muitas ações como exemplo aCasa da Cultura em Cáceres, a articulação de mu-lheres indígenas, a aprovação de projetos em Jua-ra, a participação em vários fóruns, Pastoral daCriança Estadual, educação do campo, assembléiaspopulares e outros.

Sentimos também alguns limites neste proces-so da Rede. Alguns movimentos e organizações so-ciais não aceitavam este processo de diálogo e par-ticipação na construção do planejamento, com fa-las assim:”isto demora muito e pede muitas reu-niões, não temos tempo para isto, já estamos orga-nizados”; “é melhor ir para conteúdos”. Porém, oexercício nos trouxe um novo olhar, até uma reto-mada da metodologia popular, provocando algunsafastamentos de lideranças e ao mesmo tempotrazendo novas lideranças que se sentiam protago-nistas do processo na caminhada e em outros ca-sos a volta de educadores antigos. Teve também operigo de olhar o processo apenas a partir de al-guns movimentos, desconhecendo o processo des-de o ano 2003, olhando a Rede como o um todo dearticulação de movimentos e organizações sociais.

Há alguns educadores que sentem mais dificul-dade que outros na elaboração das ferramentas

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pedagógicas. As 20h de contrato foi motivo paraque alguns educadores arrumassem outro serviço.Por outro lado, que M não teve outro serviço seenvolveu quase 40h.

Antes de terminar compartilhamos com vocêsque temos desafios como de trazer o acúmulo dosnossos movimentos para o interior da recid. E acontinuidade dos trabalhos depois deste convênioexemplo: cursos de metodologia popular, oficinasque são solicitadas. Um desafio que está ligado àsua sustentabilidade.

As regiões no Norte, Noroeste do Estado de Ma-to Grosso vivem permeados de conflitos, principal-mente políticos, pois, ainda impera naquele espa-ço o coronelismo; isto exige de nós a continuaçãode um trabalho, encontrando formas de continui-dade junto a movimentos e pastorais sociais, sen-do urgente buscar o diálogo com outras entidades,já que a inserção da Rede de Educação Cidadã emalgumas regiões é recente. Precisamos continuarcom as equipes locais no processo de ações peda-gógicas conforme cada realidade.

Motivadas(os) com esperança para re-encon-trarmos no 9º Encontro Nacional da recid, deixamosa nossa solidariedade para a recid-RO.

Um abraço fraterno,recid-MT.

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MATO GROSSO DO SUL

Caríssimos,

Somos Marias, Josés, Clarices e... Sabemos que so-nhar é preciso e mais do que isso: é não sonhar só.

No Mato Grosso do Sul vimos e ouvimos mulhe-res discriminadas e oprimidas que engoliam seuchoro; negros e negras dos quilombos fazendo suarapadura e tentando comprar uma farinheira...;índios expulsos de suas terras, se submetendo atodo modo de violências dentro das aldeias ou seaglomerando nos cantos das cidades; jovens semsaber para onde ir e crianças com olhares distan-tes pedindo um pouco de amor... A natureza? Po-bre mãe natureza... Como disse a índia guarani: “-não tem mais caça, não tem mais peixe, não tem maisnada...”.

No Mato Grosso do Sul estão sendo desenvolvi-dos, de forma violenta, projetos de implantação deusinas de álcool, exigindo o trabalho escravo, juntoàs carvoarias e plantações de eucalipto já enraiza-do neste Estado. Dentro deste contexto, parcelasignificativa de trabalhadores rurais desemprega-dos e sem terra e os povos indígenas, são incluídosneste projeto como mão-de-obra barata e descar-tável, desrespeitando leis trabalhistas e a Consti-tuição Federal de 1988.

O Governo do Estado com sua política de incen-tivo de agro-negócio vêm privilegiando a vinda degrandes grupos econômicos privados e estrangei-ros, diretamente ligados às grandes multinacio-nais, sem pensar na qualidade de vida dos nossostrabalhadores, provocando mortes e debilidadesde toda ordem à saúde destes trabalhadores. Issofaz parte do modelo neoliberal que tantos malestêm trazido ao nosso povo, desqualificando-os co-mo seres humanos. Isso também implica em umadesumanizarão das populações envolvidas cau-sando males com toda sorte de violências, prosti-tuição, assassinatos dos índios, trabalhadores docampo e da cidade e causando uma intensa vulne-rabilidade às populações excluídas, para ações docrime organizado.

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Diante deste quadro o Coletivo Regional Centro-Oeste da Rede de Educação Cidadã discutiu no úl-timo encontro de educadores e educadoras popu-lares, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, queas prioridades de ação a serem desenvolvidas notrabalho de base à luz do ppp e assumidas pelo Co-letivo de Mato Grosso do Sul, são:

A formação de núcleos de base se nota comonecessária para ampliar os processos de forma-ção desenvolvidos pelo Regional. Ampliando eintensificando o processo de formação nas ba-ses já desenvolvidas, mediante oficinas, encon-tros de discussão à luz da pedagogia freireana.Encontros de estudos de aprofundamento, apartir do pensamento de Marx e de Paulo Freire,intensificando oficinas com os povos indígenas(urbanos e aldeados), quilombolas, mulheres daperiferia e juventude, com o propósito de forta-lecer a questão teórico-metodológica das lide-ranças para as lutas específicas.Procurar formas alternativas de veiculação deinformações (atividades panfletárias, criação detablóides, internet, etc.) sobre as atividades daRede e as outras entidades envolvidas.Desenvolver com a Juventude trabalhos relacio-nados à grafite, hip-hop e outros, para melhorconscientização e formação política.Aprofundar o debate sobre as questões de gêne-ro e prevenção e combate à violência contra amulher, utilizando o teatro, mais especificamen-te o teatro do oprimido, como ferramenta de in-clusão, empoderamento, resgate da auto-estimae autonomia individual e familiar.É possível realizar essa tarefa? Sim, é possível.

Mas não seremos ingênuos a ponto de achar queuma mineradora em Corumbá, que o projeto deconstrução de usinas de álcool no Pantanal e no suldo Estado, o agro-negócio traga empregos oferecen-do melhor qualidade de vida à população regional,isto é uma contradição. Devemos pensar como esta-rá a saúde das próximas gerações, que futuro terãonossos rios, nosso Cerrado e o aqüífero Guarani, omaior do planeta Terra. Achar que isto não tem maisjeito é negar a nossa capacidade de pensar, de deci-dir e escolher o que queremos para nossos filhos efilhas, de projetar, de sonhar, de nos apropriar, de be-ber a água pura, de ter os nossos rios de volta, ter assombras das árvores... e respirar do mais puro ar.

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Como diz Paulo Freire em sua carta sobre o “Di-reito e do dever de mudar o mundo”: “os sonhossão projetos pelos quais se luta. Sua realizaçãonão se verifica facilmente sem obstáculos, implicapelo contrário, avanços, recuos, marchas às vezesdemoradas. Implica na luta”.

Queremos através da Rede de Educação Cidadã,à luz do Projeto Político Pedagógico, com açõesconjuntas na vanguarda deste processo conclamara Nação Brasileira na busca dos nossos sonhos já!

Zumbi dos Palmares... Presente!Marçal de Souza... Presente!Marta Guarani... Presente!Maria Bonita... Presente!Lampião... Presente!Olga Benário... Presente!Luiz Carlos Prestes... Presente!Dorcelina Folador... Presente!Apolônio de Carvalho... Presente!

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ESPÍRITO SANTO

A Rede de Educação Cidadã-ES foi criada em 2003,por meio de pessoas, organizações da sociedade ci-vil, ainda com pouca representação no Estado, ten-do como entidade âncora a Cáritas de Vitória. Nes-ta época, contávamos em nosso coletivo com pou-cas organizações, sendo uma destas a acompa-nhar o Talher. Foi o Fórum de Economia Solidáriaque ainda estava sendo constituindo.

A recid-ES passou por vários momentos de difi-culdades representado naquele momento por umaorganicidade que não tinha visibilidade por todos,com um processo centralizado na equipe liberadae principalmente na pessoa do gestor. Na perspec-tiva da construção de um novo momento que sedeu a partir da discussão de seu coletivo sobre osdirecionamentos da entidade, tivemos como hori-zonte as formas de metodologia de trabalho deuma educação popular para atividades, agora vis-tas como espaços de formação e assim dando ru-mo à consolidação desse desejo de superação etransformação.

Por meio de um novo coletivo, construído atra-vés dos encontros micros, macros e nacional, comum destaque para as oficinas de formação, chega-mos ao longo desta caminhada à Rede de Educa-ção Cidadã-ES.

O 1° Encontro Estadual da recid-ES aconteceuno ano de 2004 em Vitória, região metropolitanado Estado, no qual a Rede não se mostrava consoli-

“Se o ser humano não se descobrecidadão sujeito histórico, até mesmo

suas aspirações mais elementarescomo alimentação, saúde, educação,

trabalho, moradia e culturaficam confinadas ao paradigmaliberal-burguês. Busca-se apenasa melhoria das condições de vida,

o que é justo. Mas não é suficiente.É preciso modificar tambéma nossa maneira de pensar,

a nossa postura, as nossas atitudes,a nossa escala de valores.

Eis o Papel da Educação Popular”.Frei Betto

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dada; O 2° Encontro Estadual aconteceu em 2005,no município de São Mateus, região norte do Esta-do, com algumas representações de movimentos,como mpa, asa-Capixaba, cpt e outros.

A partir de agosto de 2005, a recid-ES foi toman-do novos caminhos, com um coletivo mais amplia-do com metodologia de trabalho para realizaçõesde suas atividades, como oficinas, encontros microdando-se novos rumos à horizontalidade desejada.

Então no 3° Encontro Estadual, a partir do temade discussão das lutas quilombolas e indígenas, emsintonia com aquele momento no qual estava sen-do discutida, por várias organizações do campo, aquestão quilombola no Estado, com a realização deum documentário na Comunidade de Linharinho —município de Conceição da Barra, onde está con-centrada a maior parte das Comunidades Quilom-bolas do Território Sapê do Norte. E assim a Redepassou a construir uma relação de parceria maispróxima à base. Esta experiência teve como propó-sito o resgate da vivência das comunidades qui-lombolas, a partir de relatos sobre a produção dealimentos, a cultura, a medicina alternativa, etc.

Percebe-se, com esse documentário, que os po-vos quilombolas e indígenas viviam harmonica-mente com a natureza de onde tiravam seu sus-tento e, hoje, com o avanço das monoculturas dacana-de-açúcar e do eucalipto lhes foi tirado o di-reito de produzir. Apesar de toda degradação am-biental, social, cultural e econômica que estas mo-noculturas causou à estas comunidades, ali aindaexistem e resistiram famílias que lutam por suasoberania.

Outro momento significativo para a recid-ES,que expressa essa busca, é a consolidação de seuColetivo, e a realização da Assembléia Popular, ummomento que possibilitou a unidade entre campoe cidade, a partir do Projeto Popular para o Brasil,onde foram construídas linhas de direcionamen-tos de atividades entre as organizações buscandoa unidade dentro da diversidade.

Outro processo importante que está sendoconstruído dentro do coletivo é a sustentabilidadeatravés de iniciativas simples assim como de gera-ção de emprego e renda para as famílias nuclea-das. Isto se dá através de formação de liderançasdentro do processo político das lutas locais e istose reflete na Rede também como um processo de

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sustentabilidade e horizontalidade. Com isso po-demos perceber que a Rede de Educação Cidadã-ES está caminhando à luz do Projeto Político Peda-gógico.

Coletivo Estadual Rede de Educação Cidadã-ES.

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MINAS GERAIS

Olá, educadores(as) populares de todo o Brasil,Esperamos que esta carta as(os) encontre com a

viva esperança na mudança a partir e com o povobrasileiro. Nós, da Rede de Educação Cidadã de Mi-nas Gerais, estamos presentes em várias regiõesdo Estado. Como sabem, Minas Gerais possui 853municípios. É claro que não conseguimos chegar atodos, mas estamos presentes nas diferentes re-giões do estado, atuando em e com diversas insti-tuições, organizações e grupos populares. Aqui, aRede de Educação Cidadã nasceu a partir do traba-lho articulado pela Equipe do Talher Nacional, em2003, inicialmente com a asa (Articulação no Semi-Árido) e com o fmsans (Fórum Mineiro de Seguran-ça Alimentar e Nutricional Sustentável). Hoje, elase tece nas várias regiões do estado, com outrastantas formas de organização social, como Ongs,fóruns, associações, sindicatos, Igrejas, poder pú-blico, conselhos de direitos, entre outros. Nossasações se concretizam em oficinas, encontros mi-crorregionais e estaduais, promoção de cursos,participação em eventos ligados às lutas popularese em conselhos, fóruns e outros coletivos. São mui-tas as ações e elas vão se encontrando por meiodessa Rede que se tece no Estado. Para facilitarque conheçam essas nossas atividades, queremosdestacar algumas ações específicas nas regiões,lembrando que elas não se limitam nessas descri-tas ou somente a essas regiões.

Nas regiões do Norte de Minas e Vale do Jequiti-nhonha, a Rede de Educação Cidadã atua junto aeducadores(as) e entidades no resgate e na preser-vação de culturas locais, como das parteiras, ben-zedeiras e raizeiras e atingidos por barragens, naluta pela dignidade e direito à terra, ao trabalho eà produção de forma organizada, coletiva e am-bientalmente sustentável.

Nas regiões do Noroeste e Triângulo Mineiro, aRede de Educação Cidadã busca consolidar seutrabalho junto a grupos de mulheres, na busca daequidade de gênero, principalmente na zona rurale visa também a articulação dos diversos sujeitos

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sociais presentes nas regiões, para a promoção dosdireitos humanos por meio da proposição, inter-venção e monitoramento de políticas públicas, emdefesa também do ambiente e, principalmente, degrupos sociais como catadores, quilombolas e as-sentados/acampados.

No Sul de Minas, a recid-MG vai construindo es-paços para a formação de lideranças populares naapropriação da metodologia e do método de edu-cação popular crítica, a partir do legado de PauloFreire. Buscamos, também, articular movimentossociais, fóruns, conselhos e outros sujeitos sociais,principalmente em torno da promoção do direitohumano à alimentação adequada. A economia so-lidária, a equidade de gênero e a comunicação po-pular são outras ações das quais a recid-MG buscacontribuir na região do Sul de Minas.

Em várias regiões, a recid-MG realiza ações jun-to a povos indígenas, inclusive no fortalecimentodo Conselho dos Povos Indígenas do Estado e juntoàs comunidades quilombolas, buscando a cons-cientização e luta por seus direitos, ajudando-osna sua organização coletiva e no resgate e fortale-cimento de suas culturas. Na Região Metropolita-na, as(os) educadoras(es) visam colaborar para aformação de grupos de geração de trabalho e ren-da, principalmente formados por mulheres, alémde contribuir e integrar o Fórum Estadual de Eco-nomia Solidária. Juventude e trabalho é um dos te-mas que move a atuação da recid-MG em Conta-gem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, umadas que mais sofrem com a desigualdade social e ocrescimento desordenado dos centros urbanos. Aformação de conselheiras(os), no sentido de forta-lecer a democracia participativa, é outro tema deação das(os) educadoras(es) da recid em Formiga,assim como ações formativas junto aos(as) agri-cultores(as) familiares e sem terras.

Pressupondo a horizontalidade das relações en-tre seus membros (educadoras/es, instituições,grupos, núcleos etc.), ao desenvolver suas ações, aRecdid-MG se pauta, entre outros, pelos princípiosda autonomia, do respeito à diversidade, da dialo-gicidade e do fortalecimento das lutas populares.A gestão dos recursos é feita de forma comparti-lhada entre as(os) educadoras(es) e as instituiçõesenvolvidas nesse processo. A partilha de experiên-cias e de informações, a otimização de recursos e o

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processo educativo têm se mostrado como forçana caminhada. No entanto, vemos como desafiosampliar e buscar sustentabilidade de suas ações,principalmente na divulgação da própria Rede eno fortalecimento das articulações presentes nela,aprofundar a metodologia e o método de educaçãopopular crítica e melhorar sua comunicação.

Em relação ao ppb/ppp, quando do princípio daSoberania, destacamos as ações junto aos movi-mentos pelos recursos naturais que oportunizamdiscutir e articular ações locais e regionais de se-gurança alimentar, com temas como Terminator3,banco de sementes, sementes crioulas; o enfrenta-mento às grandes empresas, como a Vale; mobili-zação para audiências públicas, levantando as de-núncias; resgate da cultura local e criação de iden-tidade do grupo, de sua força de trabalho e produ-ção, buscando a autonomia e a soberania. Aindatemos que enfrentar os preconceitos ligados aossem-terras na construção de um projeto real de re-forma agrária versus o modelo excludente da mo-nocultura; as grandes empresas que se unem aopoder político em interesses contra o povo, comoexemplo, a Lei de Biosegurança que permite a Ter-minator. Quanto ao compromisso com as diferen-ças e as diversidades, uma grande força de nossotrabalho é a descentralização da equipe, que atuaem diversas regiões do Estado, com várias deman-das e grupos diversos. Nosso trabalho tem buscadopotencializar as políticas públicas para as mulhe-res, as discussões sobre gênero, inclusive com apresença de grupos gblt, favorecendo o reconheci-mento de direitos, como o do trabalho feminino, ea quebra de preconceitos. Sobre Democracia diretae participativa, temos buscado a conquista de me-canismos legais para a participação. Isso nos levaà mobilização para reivindicações e controle socialde políticas públicas, fortalecendo conselhos, fó-runs, movimentos. Tem-nos permitido (re)desco-brir o valor e cobrar a democracia participativa, in-clusive por meio dos enfrentamentos; ajudar apensar novas formas de participação na constru-ção de um novo sistema, e nos envolver em açõescomo o combate à corrupção eleitoral (Lei 9.840).Enfrentamos, no entanto, alguns desafios, como as

(3) Sistema agrícola baseado na monocultura de exportação.

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visões reducionistas das vias de participação, a ne-cessidade de aprimorar a participação popular e adificuldade de dominar o tema.

Tendo em vista o Exercício do Poder Popular e oProcesso Emancipador e Transformador (foramanalisados em conjunto), nosso trabalho vem con-tribuindo para a formação e fortalecimento de no-vas lideranças. A metodologia utilizada permite tra-balhar com sujeitos para fortalecer a base, o coleti-vo. Assim, temos atuado no sentido de formação degrupos, criação de associações com enfoque na eco-nomia popular solidária e também com a conscien-tização de um exercício participativo do poder nasorganizações sociais e populares. No entanto, en-frentamos desafios como a dificuldade na relaçãoentre oprimidos e opressor, na busca de libertar oopressor que também já foi oprimido; a concepçãode poder não como serviço; a corrupção, a comprade votos, a dominação econômica em vários setoresde nossa sociedade, inclusive na classe popular.

Em relação à Organização Solidária de Econo-mia e da Sociedade, as ações que estamos reali-zando têm fortalecido o Fórum Estadual de Econo-mia Solidária. Favorece essa nossa ação a visão in-tersetorial que desenvolvemos em Minas, entre se-gurança alimentar e nutricional sustentável comEPS, populações específicas, reforma agrária, agri-cultura familiar e outros. A utilização de recursospúblicos para essas ações tem sido uma grandeoportunidade no trabalho. No entanto, enfrenta-mos os seguintes desafios: faltam pessoas contra-tadas para atender as demandas e o atual marcolegal que dificulta o acesso aos recursos públicospor parte dos grupos de EPS, ligados ao modelo so-cioeconômico capitalista e neoliberal, no qual vi-vemos. Sobre o Projeto com valores anti-capitalis-tas, percebemos que o exercício de novas relaçõesdentro da própria equipe e desta com os grupostem sido fator de grande aprendizado. Isso tem ge-rado um processo de maturidade da equipe, comsuas vivências pessoais e coletivas, ressaltando aconstrução de parcerias para as ações. A propostade organização em rede, como novo modelo, tempropiciado este aprendizado, assim como os mo-mentos de auto-avaliação e avaliação da Equipe.Nosso desafio está no modelo hierárquico já “con-solidado”, impregnado em nossa cultura, inclusivedentro dos movimentos sociais e populares.

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Quanto ao Internacionalismo, tem sido salien-tado no nosso trabalho, por meio do reconheci-mento do povo latino-americano, de sua identida-de. A participação e a reflexão sobre o Fórum So-cial Mundial contribuem neste reconhecimento.Isso possibilita ampliar as visões de mundo. Nos-sos desafios estão na visão reducionista do contra-hegemônico que pode levar ao perigo da “verdadeabsoluta”, e a grande mídia, com a sua visão par-cial e reducionista dos movimentos latino-ameri-canos. Já sobre a Comunicação social, temos ava-liado que nossa equipe busca trabalhar com diver-sas linguagens, conforme a realidade onde se inse-re. Nosso trabalho tem oportunizado a criaçãoe/ou fortalecimento de rádios e jornais comunitá-rios e a metodologia do teatro do Oprimido. No en-tanto, enfrentamos a falta de recursos para criar emanter boletins e jornais da recid-MG. Tambémenfrentamos as dificuldades com as rádios comu-nitárias, no processo burocrático de sua legaliza-ção, bem como a dificuldade para acessar recursospúblicos, para valorizar essa “outra comunicação”e a relação “grande mídia e comunicação popular”.

Em nossa avaliação, o ppp nos apresenta os se-guintes desafios: a partir das experiências, reto-mar as articulações com os movimentos sociais efortalecer as bandeiras de luta em defesa da vida,ampliando o debate metodológico, o planejamentomais articulado das lutas. É necessário também oaprofundamento metodológico, da realidade e his-tórico. Também é nosso desafio utilizar os meiospossíveis de comunicação e dar visibilidade àsconquistas; além de aprofundar as relações afeti-vas/humanas/grupais. Entendemos a mística co-mo momento propício para trabalhar a humaniza-ção. Necessitamos também repensar a metodolo-gia popular freireana nos espaços e demandas di-versas; aprofundar, planejar e garantir recursos eavaliação constante do processo, tendo clareza noscritérios, instrumentais, prazos e conceitos. Nossosdesafios, além dos já descritos, estão no fortaleci-mento dos conselhos de políticas públicas, muitasvezes manipulados; na influência da grande mídiae na pouca participação de pessoas, além das difi-culdades de mobilização para as lutas urbanas, as-sim como o resgate da cultura e dos costumes po-pulares e as dificuldades de se chegar às comuni-dades e povos tradicionais. A descontinuidade de

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convênios, tempo e recursos apresenta-nos tam-bém como dificuldade. Entre nossos desafios, nosquestionamos: estamos realmente chegando a to-das as pessoas? As mais necessitadas estão fazendoparte de nossa ação? O trabalho está chegando aelas? Por fim, refletimos: “As pessoas fazem as coi-sas pelos seus próprios motivos, não pelos nossos”.

Refletimos que, como a educação popular parteda realidade buscando processo de transformação,ela é importante passo para a mobilização, emprocesso contínuo, de maneira que educação po-pular e mobilização social caminham juntas. Nos-sas ações, neste sentido, são consideradas um pro-cesso dialético. Procuramos vivenciar processos eaprendizados, aprendemos a reunir forças entre osmovimentos para garantir mais força na luta.Aprendemos ao mesmo tempo que fazemos.

Deixamos nosso abraço e a certeza da luta!Equipe de Minas Gerais.

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86 Cartas Pedagógicas

RIO DE JANEIRO

Volta Redonda-RJ, 5 de julho de 2008.

Camarada Paulo Freire e Camaradas da recid,

Vivemos tempos difíceis por aqui, como disse umade nossas companheiras: “O bicho tá pegando”. Sãodias de banalização da violência e de ódio desme-dido. Vocês devem ter acompanhado o episódio doMorro da Providência, quando jovens foram captu-rados pelo exército e cruelmente entregues à tor-tura e à morte em um morro rival. Pois é, esta foi aparte que a mídia mostrou — a parte que interes-sou mostrar. Sem desmerecer o ocorrido, registran-do nossa revolta frente a este desmando e sendosolidários(as) ao sofrimento das famílias dos jo-vens, precisamos alertar que enquanto distraem omundo com esta notícia isolada, ainda engolimosas amargas mazelas de sempre. São os políticossacanas que já nos rondam com suas falsas pro-messas de sempre, querendo nos empurrar seuscentros sociais “goela a baixo”; são as interminá-veis filas nos hospitais públicos e as escolas quehipocritamente colocam em moldes alunos-futu-ro-exécito-de-reserva; é a violência da milícia e acomplacência do governo; sem esquecer do de-semprego e da falta de dinheiro que tiram o sonode quem não sabe o que vai dar de comer a seus fi-lhos amanhã de manhã. E só para registrar, a talcrise de alimentos já chegou aqui faz tempo.

Nesse cenário de passadas novidades, nossa Re-de de Educadoras(es) Populares se mantêm firme,apesar de algumas dificuldades. Neste período con-solidamos o trabalho de base em alguns núcleos eavançamos em outros: tanto no Norte quanto noSul Fluminense, na Região Metropolitana e na Bai-xada.

Criamos um novo espaço de reflexão e de for-mação continuada que é o Núcleo Estadual de Educa-dores(as) Populares do Rio de Janeiro. Trata-se de umgrupo de 20 educadores(as) vindos das diversas ex-periências de nucleação do Rio de Janeiro que reú-nem-se sistematicamente em oficinas de forma-

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ção. Este Núcleo serve ainda como espaço de per-manente avaliação (auto-avaliação) e planejamen-to da Rede. A intenção para o próximo período é deconsolidação deste espaço estadual e a proposiçãode pelo menos dois outros Núcleos de Educado-res(as): na Baixada e no Sul Fluminense.

É certo que ainda existem muitos ajustes a se-rem feitos, mas acreditem camaradas: a constitui-ção deste Núcleo de Educadores(as) está sendo umimportante exercício de humildade, de adminis-tração de conflitos e sobretudo uma grande opor-tunidade de troca de experiência e aprofundamen-to teórico-prático.

Refletimos também sobre nossas práticas noEncontro Estadual e chegamos à conclusão óbviade que o capitalismo e suas nefastas conseqüên-cias fazem o debate sobre a realidade rural e urba-na cada vez mais complexo. Mais uma vez nosaproximamos das questões referentes aos povostradicionais, mas ainda somos poucos(as) paraacompanharmos mais de perto a luta destes com-panheiros(as) aqui no Rio de Janeiro — assim comojá é feito em outros estados. Esperamos que eles(as)possam juntar-se a nós em breve.

Por outro lado, desafios já assumidos pela Redeno Rio de Janeiro continuam como pautas atuais.O aprofundado das desigualdades e a falta deperspectiva de trabalho no campo e na cidade pa-ra mulheres, para homens, para os jovens tem setornado cada vez mais graves. A cada dia torna-semais forte a tendência de desumanização das rela-ções, de “coisificação”, da desenfreada competiçãoe da naturalização do individualismo. Neste con-texto, como estreitar laços e como fortalecer orga-nização popular?

Repensar o trabalho de base, aprofundar nossareflexão acerca da educação popular, unir forças earticular as lutas têm sido importantes, mas nãosuficiente para avançarmos da forma que desejá-vamos. Avaliamos que é necessário consolidar oque já construímos e, ao mesmo tempo, abrir novasfrentes. Isto tem exigido e exigirá muito mais doseducadores(as) tanto voluntários como dos libera-dos. Nosso Estado é pequeno, mas diverso. Precisa-ríamos no Rio de Janeiro de pelo menos mais um(a)educador(a) liberado(a) para que possamos darconta de tamanha diversidade. É fundamental eurgente pensar os próximos convênios desta Rede

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numa perspectiva de ampliação da autonomia dagestão local para maior agilidade das ações e maioradequação à realidade, tendo a exigida responsabi-lidade e cuidado. É preciso que sejam mais trans-parentes e transmitidas de forma mais claras asdecisões no âmbito da gestão, para que neste am-biente de expansão da Rede todos(as) tenham ple-no conhecimento de procedimentos e da prestaçãode contas. Tais decisões permitem manter um am-biente de confiança e de coesão dentro da Rede

O trabalho em Rede nos exigirá repensar e rea-prender muito, mas o que atualmente mais nospreocupa é a nossa capacidade de comunicação.Sabemos que atuar em Rede exige eliminar os “cir-cuitos restritos de comunicação” para que a infor-mação chegue a todos(as) igualmente, mas aindatemos dificuldades. Talvez seja porque a Rede estácrescendo ou talvez porque o debate se tornoumais complexo. Ainda não sabemos precisar ascausas dos descompassos, contudo é fato que osruídos de comunicação são muito freqüentes. Énecessário repensar a comunicação para além dosmeios de comunicação e incorporar as reflexõesacerca das relações e das mensagens. É precisoaprimorar a comunicação entre educadores(as),entre núcleos, entre os estados, entre regiões, coma Comissão Nacional e com o Talher Nacional.

É preciso registrar que sem comunicação nãohá Rede. Se informação é poder, é necessário queeste poder seja partilhado plenamente nesta Redeempoderando a todo(as). Também se registre quesem diálogo e sem a pronuncia da “palavra verda-deira” (que é práxis) não é educação popular. Sãoestas, portanto questões a serem colocadas no to-po de nossas prioridades.

Camaradas, sabemos que nos aguarda uma lon-ga e dura jornada. Que isto não nos esmoreça, massim fortaleça nossa união porque durante estestempos difíceis nossos braços não estarão cruza-dos, nossas bocas não estarão cerradas e nossasalmas não serão prisioneiras. Por isso, aproveita-mos para mais uma vez renovarmos nosso com-promisso com a construção de um Projeto Popularde Nação que só poderá nascer de dentro do cora-ção do povo brasileiro.

Com um fraterno abraço,Educadoras(es) Populares do Rio de Janeiro.

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SÃO PAULO

São Paulo-SP, 9 de julho de 2008.

À Rede de Educação Cidadã,

Para nós educadores populares que compomos aRede de Educação Cidadã de SP, os processos deeducação popular que temos realizado em âmbitolocal viveram um salto qualitativo durante o pro-cesso de construção e vivência do ppp. A partir dasnossas lutas locais, orientados pelo ppp, compreen-demos que é essencial nos engajarmos em lutassociais mais amplas, de âmbito nacional e em soli-dariedade com muitos outros coletivos de traba-lhadores(as) que reafirmam sua convicção na cons-trução de um Projeto Popular para o Brasil. Ou se-ja, o que vivemos a partir do ppp, foi uma grandeampliação de nosso horizonte político.

Em 2007 vivenciamos, a partir da construção doppp e junto aos demais companheiros(as) de todosos estados, uma reflexão sobre quanto os proces-sos de educação popular que realizamos junto àfamílias pobres, são essenciais na construção dopoder popular e, portanto, de um outro Projeto pa-ra o Brasil, enraizado nas necessidades popularese capaz de romper com a lógica do contínuo favo-recimento da elite.

Em 2008 demos início ao Planejamento Partici-pativo das atividades da recid-SP, reunindo to-dos(as) educares(as) populares envolvidos no pro-cesso. Nosso ponto de partida foi explicitar as nos-sas dificuldades, refletir sobre elas, encontrar con-tradições entre o que estávamos realizando e aqui-lo que gostaríamos de realizar (sintetizado peloppp) e, então, propor ações para este ano, ou seja,buscar, concretamente, formas de superar essasdificuldades coletivamente. Dialogamos sobre oquanto podemos contribuir com a construção de

“Quanto mais me torno rigorosona minha prática de conhecer tanto mais

porque crítico, respeito devo guardarpelo saber ingênuo a ser superado,

pelo saber produzido através do exercícioda curiosidade epistemológica”.

Paulo Freire

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Projeto Popular a partir de nossas vivências e, as-sim, construímos, juntos, o plano de ação da Equi-pe de SP e as nossas contribuições na região Su-deste e nacional.

Nossa vivência vem sendo, a cada dia, construí-da e refletida a partir do Projeto Político Pedagógi-co da Rede, percebendo os limites nas nossas prá-ticas cotidianas e explicitando nossa identidade deeducares(as) populares, enquanto lutadores(as) donosso povo. Entendemos o quanto o enraizamentode nossas ações junto à núcleos de base, são capa-zes de fortalecer lutas mais amplas e o quanto es-tas, são essenciais, também, para a superação daslimitações locais.

Faz parte, também, do nosso processo de apren-dizagem, a superação de nosso imediatismo en-quanto educadores/educandos. O tempo da educa-ção popular e o tempo analógico para esta equipeainda é um desafio a ser superado por esta equipe.

Fortalecer a discussão do Projeto Popular para oBrasil, assim como as lutas dos movimentos popu-lares, e tentar a cada dia vivenciar a metodologiada educação popular crítica, vem sendo a nossaforma de buscar coerência entre aquilo que dese-jamos e a nossa prática cotidiana. Nesse sentido,para nós, é essencial refletirmos, sempre, sobrenossas ações em espaços coletivos diversos, bus-cando sempre vivenciar princípios como dialogici-dade, como a humanização das relações sociais, aformação integral de todos(as) os(as) envolvidos(as)neste processo, ou seja, reafirmar nosso compro-misso com a vivência da educação popular comoprática para a liberdade.

Desafios que estão presentes ainda na Equipedo Estado de São Paulo:

Nos reconhecermos enquanto protagonistasdeste processo (educando-educador).Ampliar a atuação conjunta com outros coleti-vos também empenhados em construir um Pro-jeto Popular para o Brasil, contribuindo para aconstrução de formas de lutas nacionais.O ppp nos fez avançar politicamente. É nosso de-safio, manter esse avanço, a partir da nossa prá-tica, sem caminharmos para trás.Nos organizarmos no tempo dos convênios.Realizar uma gestão mais partilhada.Aprofundar a discussão sobre o PPB, com a base.Através dos encontros microrregionais e esta-

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duais conseguimos mobilizar diferentes trabalhosde base, além daqueles já consolidados a partir daRede, para a reflexão de seus trabalhos, o aprofun-damento da metodologia de educação popular crí-tica, assim como, para o aprofundamento do PPB,fortalecendo os princípios políticos que norteiam anossa prática cotidiana.

Para nós educadores(as) do estado de São Paulo:“A pessoa conscientizada tem uma compreensãodiferente da história e de seu papel nela. Recusa-se acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mu-dar o mundo” (Paulo Freire).

Equipe recid-SP.

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PARANÁ

Olá, companheiros(as), lutadores(as)da Rede de Educação Cidadã,

Estamos caminhando entre pedras e flores. Maispedras? Mais flores? Não sabemos. Talvez haja umequilíbrio. Em alguns momentos, nos entristece-mos achando que estamos num mar cheio de pe-dras por todos os lados e não vemos nenhum sinalde flor. Em outros momentos, nos alegramos quan-do percebemos saltos de qualidade na organiza-ção, na mobilização, nas novas relações que se es-tabelecem. Nestes altos e baixos aprendemos mui-to e nos desafiamos a superar os obstáculos.

O sistema capitalista utiliza “armas invisíveis”que, assim como as armas biológicas, atingem ascomunidades, se espalham, se irradiam e pene-tram no interior de cada um, envenenando por on-de passa. Como se manifesta este veneno nos gru-pos de base que acompanhamos? Corroendo a so-lidariedade, o amor, a cooperação, o carinho que osseres humanos têm uns pelos outros. Estes vene-nos atuam também embaçando os olhos e as per-cepções, amortecendo o tato, o coração, o raciocí-nio. As pessoas e os grupos atingidos manifestamos seguintes sintomas: a) individualismo e egoís-mo; b) o ego aumenta de tamanho, principalmentediante da perspectiva de vencer numa competição,ou de levar vantagem, ou de mostrar serviço; c) fa-la-se muito “eu” e pouco “nós”, o trabalho é indivi-dual não em grupo; d) tendência a não confiar nospequenos, nos companheiros mas somente nas fi-guras de autoridade; e) vontade de oprimir e, con-cretamente, oprimir assim que surge oportunida-de. Paulo Freire diz que essa é a manifestação doopressor hospedado no oprimido. Nós só não sa-bíamos que isso acontecia de forma tão intensa efreqüente; f) ter sonhos de consumo, e não de jus-tiça social. g) agir de forma desonesta e corruptaassim que aparece uma chance; h) achar que a de-sigualdade, o preconceito, a exploração, são natu-rais e que a história não pode mudar. i) Amnésia éum sintoma forte: esquecimento do que foi combi-

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nado coletivamente, esquecimento das lutas dopovo, esquecimento da própria identidade, daspróprias raízes; j) incoerência entre o discurso e asações.

Só descobrimos estas “pedras” quando aprofun-damos nossos relacionamos com os grupos de ba-se. É aí que aparecem os conflitos e as contradi-ções.

Amigos, este veneno lançado pelo sistema capi-talista é tão potente que envenena até a nós mes-mos. De vez em quando nos pegamos, por exem-plo, querendo aparecer individualmente e esque-cemos do grupo. Às vezes também fazemos uso dapalavra de forma concentrada, não a dividimospara que todos tenham a oportunidade de se ex-pressar. Algumas vezes, também, nos deixamos le-var pela sedução do conforto, do poder e nos es-quecemos que o povo sofrido precisa de nós ao la-do dele como parceiros, como educadores, comomediadores para ajudar no seu fortalecimentodiante da correlação de forças.

Temos muitos desafios pela frente, dentre eles,semear valores como solidariedade, cooperação,cuidado com a vida, compromisso com o bem co-mum.

Nós, seres humanos, somos todos presos pelasnecessidades básicas, de sobrevivência. Precisa-mos comer, beber, vestir, morar. Participar de ofici-nas, para quem não tem nenhuma segurança ma-terial, é um luxo. Por isso, aprendemos a pensarem oficinas unindo a luta pela sobrevivência: pro-dução de artesanato, agricultura familiar, feira dealimentos ecológicos, grupos de compras coletivas,clube de troca, carrinheiros, padarias... A necessi-dade material faz as pessoas se juntarem e quan-do elas se juntam, é possível ajudá-las também ase tratarem contra a “epidemia do capital”, com a“terapia” dos cantos, dos abraços, dos olhares, damística, dos sorrisos, do conhecimento, da infor-mação, da troca de experiências, e a aprendizagemda autogestão. Fazer parte de um coletivo de tra-balho que opina, decide e partilha igualitariamen-te as responsabilidades e os frutos do trabalho éum aprendizado rico e libertador. Estas são algu-mas “flores” da nossa estrada.

Algumas doenças são contagiosas, a simples pro-ximidade pode desencadear uma contaminação.Que bom! As “flores” também são contagiosas. Des-

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cobrimos que os encontros maiores (oficinas de in-tercâmbio, encontros microrregional e estadual, asmobilizações diversas) possibilitam uma espéciede “contágio socialista”. Alguns grupos, só por sejuntarem a outros mais fortalecidos em suas lutase ideologias, acabam sendo “contaminados” e na-turalmente já avançam na organização, na toma-da de consciência e nas novas relações, manifes-tando novos valores.

Pudemos promover encontros entre o pessoaldo campo (assentamento do mst) e da cidade (gru-pos de economia solidária); participamos de rádioscomunitárias; aprofundamos aspectos da metodo-logia Freiriana, ajudando a atacar de frente as cau-sas da alienação. Promovemos encontros entre osdiversos grupos de economia solidária, com jovense adolescentes, para maior fortalecimento, união eempoderamento.

A comunicação popular também é uma belaflor neste processo. Através das oficinas de comu-nicação e ocupando espaços nos meios de comuni-cação local temos ajudado a romper com o silên-cio que oprime e desumaniza e adquirimos maisprática para dialogar. A “Cultura do silêncio” podeser superada, é possível construir a “cultura do diá-logo”. Os grupos têm se encontrado, têm buscadosair do isolamento, do seu “mundinho” e a cada en-contro entre grupos, se avança mais um passo emtermos de organização e experiências. O trabalhona região de Irati se caracteriza pela organizaçãodos grupos de base através de redes. Apesar da dis-tância geográfica entre os municípios, através dosencontros microrregionais e Estadual, buscamosampliar esta rede de grupos de base, para Curitibae Região Metropolitana, acreditando que podemosassim fazer um trabalho muito mais consistente efortalecido.

Os encontros promovidos pela Rede de Educa-ção Cidadã, aqui no Paraná, têm atingido muitaspessoas e grupos que não contávamos atingir, co-mo por exemplo a categoria dos assistentes so-ciais, que são maioria na Escola de Formação Bási-ca Multiplicadora em Economia Solidária, a “Esco-linha”, e estão irradiando novos saberes e valorespara a academia e para as instituições onde atuam.Aproximam-se da “Escolinha” também outros pro-fissionais e professores de outras áreas, formado-res de opinião. Os dois temas “Economia Solidária”

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e “Educação Popular”, num casamento perfeito,têm dado o tom e tem sido um “contra-discurso”,na disputa pela hegemonia.

Estamos semeando com empenho, cuidado eresponsabilidade. Depois de lançadas as sementes,perdemos a noção de onde elas vão florir, em quecircunstâncias ou momento. Por isso, acreditamosna sustentabilidade da Rede.

Enquanto educadores, buscamos nos organizarnos reunindo de uma a duas vezes ao mês, nos es-forçando para melhorar nossa comunicação, inten-sificar nosso diálogo, a troca de saberes, aprimorara gestão compartilhada. São dados passos lentosneste sentido, devido ao acúmulo de tarefas.

E nessas idas e vindas, entre pedras e flores, va-mos caminhando e aprendendo. Firmes no propó-sito de construirmos o Brasil que sonhamos.

Rede de Educação Cidadã-Paraná.

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RIO GRANDE DO SUL

Queridos(as) camaradas!

No Rio Grande do Sul, ao longo de 4 anos, viemos fir-memente fazendo o esforço de estabelecer uma lei-tura coletiva e clara da realidade e dos desafios pos-tos à classe trabalhadora. Expressão deste caminharé o objetivo de 2008 onde afirmamos a centralidadede nossa ação na luta do conjunto dos MovimentosSociais pela construção do Projeto Popular para oBrasil, qualificando nossa intervenção formativa nosdiferentes níveis e apoiando as alternativas de gera-ção de trabalho e renda, movidos pela mística da lutada classe trabalhadora. Este acordo no que se refereao projeto ao qual servimos, faz com que superemosdiferenças internas e, nos momentos de conflitos, te-nhamos confiança, respeito e amor uns aos outros.

Nossa construção se dá na relação com os mo-vimentos, com extremo respeito à sua autonomiae clareza de que o sujeito principal é o movimentopopular e no trabalho junto às comunidades, prin-cipalmente urbanas, ajudando-as a se organizarem núcleos para fortalecer suas associações ououtros instrumentos de organização e luta em suaspróprias ocupações, vilas e comunidades. Os movi-mentos com quem construímos estadualmentesão, especialmente o mtd e o Levante da Juventude,e nas regiões atuamos junto ao mst, mnmmr, mmc,cmp, Movimento dos Carroceiros e Gaioteiros. Tam-bém juntamente às pastorais: Pastoral da Criança,Pastoral da Juventude, Pastoral da Mulher, PastoralOperária, assim como comunidades Quilombolasde Piratini. Somos parceiros na implementação depolíticas públicas, especialmente o paa/conab, To-das as Letras e Brasil Alfabetizado e programas dealgumas prefeituras populares como no municípiode São Leopoldo. Assim como participamos de fó-runs e conselhos diversos, principalmente ligadosà Segurança Alimentar. Somos parceiros tambémde diversas ong's, como por exemplo o Centro deEducação Popular-camp.

“Não estamos perdidos.Ao contrário venceremos se não tivermos

desaprendido a aprender”.Rosa Luxemburgo

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Na perspectiva do trabalho junto aos movimen-tos, apontamos alguns avanços:

Abrimos espaço para o movimento dialogar nasvilas e comunidades onde a Rede atua;A Rede contribui na reflexão a cerca da impor-tância do método no trabalho de base e contri-bui no estudo da educação popular;Nesta relação a Rede se abastece e fortalece omovimento.Alguns desafios:Garantir que o sujeito da ação/construção sejao movimento, mas que a Rede seja reconhecidatambém. Não queremos batizar nada, mas pre-cisamos do reconhecimento dos parceiros.No que se refere ao trabalho de base, direta-

mente nas vilas e ocupações, podemos apontar al-guns avanços:

Temos conquistado a confiança das pessoas enos colocado como referência pela nossa gratui-dade e respeito;As pessoas têm se sentido provocadas à se orga-nizar, porém nós não temos condições de acom-panhar os processos de cada núcleo conformenecessidade para que os mesmos avancem naorganização e capacidade de luta; As pessoas se desafiam a aprender a produzir ese dispõem a trabalhar juntas;Porém, os desafios são grandes:Não temos “pernas” para acompanhar os nú-cleos conforme necessidade, o que faz com queo processo seja mais demorado para avançar;Os grupos de geração de renda, sem suporte pa-ra produzir, não tem avançado, o que gera frus-tração para todos e nós não temos conseguidoajudá-los a acessar projetos e suportes para su-prir este desafio vital para os grupos;Também temos que afirmar fortemente que a di-minuição do recurso, principalmente da contra-tação dos liberados, dificulta ainda mais o traba-lho, pois estes, por compromisso assumem cadavez mais demandas, enquanto seu salário foi re-duzido à metade. Ainda no que se refere ao con-vênio, o pouco tempo de execução das metas émuito ruim num processo de educação popular.Outro limite que temos tido dificuldade emavançar é nos instrumentos de relatório peda-gógico que não servem para relatarmos um pro-cesso de educação popular;

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No que se refere à comunicação, também nãotemos encontrado bom mecanismos, ficandoparca a comunicação entre estados, regiões emesmo dentro do Estado;Enfim, temos aprendido muito e muito teremos

a aprender, porém fica a certeza que, com humil-dade e abertura para as lições do processo, havere-mos de vencer e construir um Projeto popular parao Brasil!

Com Amor,Rede de Educação Cidadã do Rio Grande do Sul.

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SANTA CATARINA

Santa Catarina, julho de 2008.

A diversidade existente em cada canto de nossoimenso país reflete realidades e experiências dife-rentes, onde se trabalha, se organiza, se luta e sevivencia problemas e conquistas de todos os gêne-ros. Acreditamos na força de um povo que sonha equer transformar esse país em um mundo novo emais justo. É essa utopia que move a todos nós,educadores(as) populares a realizar esta impor-tante missão de contribuir para tornar realidadeum projeto popular para o Brasil.

Nesse sentido, nossas ações vão de encontro atudo o que acreditamos e sonhamos: “Continuar aconstruir um país mais digno aos cidadãos brasi-leiros”.

Com este propósito, apresentamos à recid na-cional os caminhos percorridos pela Rede em nos-so Estado, os quais estão pautados no Projeto Polí-tico Pedagógico construído coletivamente. Dentreeles: Movimento de Mulheres urbanas, hortas co-munitárias, feiras agroecológicas, regularizaçãofundiária, pequenos agricultores.

Experiências de destaque da Rede de Educaçãoem Santa Catarina:

Região Extremo-oesteEmbasado no ppp: Princípio 2: Fortalecimento

das lutas e dos movimentos sociais populares; Pa-pel do Talher nessa ação: Acompanhar o trabalhode formação e de organização do movimento.

Como e o que se trabalha: Através do auxílio naconstrução de uma cartilha para o trabalho de ba-se; Acompanhamento nos grupos de base com ofi-cinas de formação sobre o trabalho de base (o queé o grupo de base, importância do trabalho de ba-se, papel das líderes) em três bairros; Realizaçãode encontros de formação com as líderes do movi-mento de todos os bairros.

Metodologia de trabalho: vídeos, conversas, en-contros nas casas das companheiras.

Como iniciou o debate: Quem é a mulher? Qual

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é a nossa origem? O que é a cidade? Como se orga-nizar na cidade?

O que se quer com o movimento: Está em cons-trução, iniciou com a aposentadoria das donas decasa e hoje respeita-se as diversas realidades decada grupo de base. Tendo sempre em vista o com-promisso com a emancipação popular e a constru-ção do poder popular no exercício da transforma-ção das relações de poder. Cerca de 60 mulherestrabalhadoras domésticas e donas de casa do mu-nicípio de São Miguel do Oeste.

Hortas ComunitáriasEmbasado no ppp: Princípio 9: Compromisso com

a educação popular — Diretriz: 9.1 Trabalhar comdiversos grupos, priorizando aqueles em situaçãode vulnerabilidade social, de acordo com a realida-de local, com ênfase nos princípios da EconomiaPopular Solidária…

A recid-SC trabalha a autonomia e organizaçãodo grupo para a geração de renda através da horta;

Como e o que se trabalha: Através de oficinasde formação onde se trabalhou com o grupo (tirar)a importância da autonomia do grupo: a) Debateonde cada participante colocou sua opinião sobrea importância de estar trabalhando nessa horta eo que deseja com ela; b) Identificação que o grupotinha interesse em comercializar a produção e ge-rar renda; c)Oficinas onde auxiliou-se na elabora-ção de um planejamento das atividades na horta;d) Estudo sobre como montar uma associação oucooperativa - Diferenças e formas de gestão. Cercade 18 famílias atendidas pelo programa Bolsa Fa-mília em cada horta.

Região do Planalto SerranoA experiência da Feira Agroecológica da Serra

Catarinense é o resultado de uma ação realizadapelo Fórum de Produção e Consumo Solidário daSerra Catarinense coordenado pela Rede de Educa-ção Cidadã do Planalto Catarinense. O fórum é for-mado por diferentes instituições tanto do poderpúblico, quanto da sociedade civil. Integram esseFórum associações de agricultores familiares, enti-dades de assistência técnica e extensão rural, sin-dicatos, cooperativas e associações de consumido-res. A primeira Feira Agroecológica foi realizadaem 04 de maio de 2007.

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O grande desafio encontrado durante o proces-so foi garantir a formação de um grupo permanen-te de consumidores que garantissem a viabilidadedo processo de comercialização. Ela acontece emcinco municípios da região: Campo Belo do Sul, Pon-te Alta, Frei Rogério, São José do Cerrito, Bom Retiroe o Assentamento Pátria Livre do Correia Pinto. Osalimentos comercializados na feira têm como ca-racterísticas principal o fato de serem agroecológi-cos e produzidos com a utilização da tecnologiasocial da mandala, uma técnica de produção dapermacultura.

Outro empenho da Rede de Educação Cidadã edo Fórum é a construção de novas relações de co-mercialização que sejam pautadas nos princípiosda economia solidária e garantam uma relação di-reta entre produtor e consumidor numa perspecti-va de preço justo que evite as práticas sociais ex-ploradoras.

Região Litoral SulA organização da agricultura familiar de Alfre-

do Wagner que nos últimos 3 anos vem conquis-tando mais de 300 projetos nas áreas da habitaçãorural e urbana; projetos de crédito rural para aqui-sição de terras; projetos de eletrificação rural; pro-gramas para o melhoramento da produção de lei-te; e principalmente o processo de formação de li-deranças comunitárias como sustentação para ofuturo das diversas formas de organização no mu-nicípio.

No entendimento da equipe, em maior ou me-nor grau, todas as atividades e grupos acompa-nhados nesta região vêm de encontro aos princí-pios da Rede, pois partem das diferentes realida-des concretas, buscam a conquista dos direitos e aemancipação popular, fazem a defesa humana eambiental, resistem ao sistema e modelo econômi-co atual e aprofundam os eixos temáticos propos-tos pelo programa de formação da Rede.

Região Litoral NorteA Rede de Educação Cidadã em nossa região vem

acontecendo com os princípios básicos da educaçãopopular, ou seja, tendo como referencial a metodo-logia de Paulo Freire.

Compreendendo que o Movimento Popular na ga-rantia dos direitos fundamentais é um desafio às or-

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ganizações comunitárias principalmente nas maisempobrecidas e que se encontra em condições deauto-risco social, onde as pessoas não acreditammais ser possível romper a opressão e a explora-ção por estarem extremamente fragilizadas dianteda violação aos direitos humanos praticado funda-mentalmente pelo Estado.

É neste contexto que a Rede consegue articularMovimento Camponês (mst), Fórum dos movimen-tos Sociais, Fórum Sindical, Universidade e Gruposde resistência para travar uma luta pelo direito amoradia.

Atuamos diretamente em três Vilas, sendo elasáreas de ocupação irregular: a) Vila União — áreade Massa Falida — 97 famílias; b) Vila Vitória — áreaem região nobre da cidade (Iniciativa privada de es-peculação imobiliária) — 24 famílias; c) Vila Jensen— área de Massa Falida — 94 famílias.

Há três anos, a Rede vem fortalecendo a luta,articulando os movimentos camponês e urbano,através de assembléias populares, oficinas de for-mação, cinema na comunidade, panfletagem, jor-nais populares, debate com poder público munici-pal, ocupando prefeituras e câmara de vereadore,envolvendo a mídia local. Neste processo, fizemoscom que as Vilas fossem ouvidas, atingindo resul-tados e conquistas significativas para vida de cadafamília, mudando concepções, trazendo credibili-dade para os movimentos comunitários.

Muitos são os desafios que vivenciamos, mastambém muitos são os aprendizados... as expe-riências estão aí e os limites deste processo che-gam ano-após-ano. Um deles é como dar continui-dade a estes grupos com as varias interrupçõesque o convênio vem apresentando? Diante disso, épreciso definir melhor nossos passos e planejar-mos nossas ações a longo prazo enquanto Rede.

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Talher NacionalSIG Qd. 6, Lote 800, Sala 164 Fome Zero — Imprensa Nacional70610-460 Brasília-DFFone: 61 3411-3890 Fax: 61 [email protected]

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