Cartaz José Saramago Lado Esquerdo (Paulo Brito e Paulo Teixeira)

download Cartaz José Saramago Lado Esquerdo (Paulo Brito e Paulo Teixeira)

of 1

Transcript of Cartaz José Saramago Lado Esquerdo (Paulo Brito e Paulo Teixeira)

  • 8/18/2019 Cartaz José Saramago Lado Esquerdo (Paulo Brito e Paulo Teixeira)

    1/1

     

    “ Deus não precisa do homem para nada, exceto para ser Deus “  

    Crítica A aventura de Jesus revista por Saramago, não é diferente da aventura de Blimunda, de Ricardo

    Reis ou de Mogueime. O lugar de Jesus no cristianismo, que é a matriz da cultura ocidental, fará doEvangelho segundo Jesus Cristo um objecto de debate apaixonante e o escritor Saramago não seem eximido a deitar achas para a fogueira (que não será a da Inquisição).

    Os «desvios» relativamente à iconografia oficial de Cristo podem servir para entrevistas, comentáriosescandalizados ou laudatórios nos media, mas têm pouco a ver com literatura. Talvez façam vender oivro, mas pouco contribuirão para a sua fruição como obra artística. E é pena."

    Linda Santos Costa, Público, 29 de Novembro de 1991

    Resulta exemplar, pela sua funcionalidade, a recriação da figura de S. José. Na fábula de Saramago surge um personagem marcado pelo sentimento de culpa de não ter alertado os pais dos Santosnocentes sobre o fim que aguardava as crianças. Tal recriação cristaliza-se numa criatura atormentada, cujo final será trágico, e que transmite ao filho (que é também filho de Deus) esse sentimento

    de culpa, numa relação traçada de modo magistral."

    Miguel Garcia-Posada, El País, Madrid, 31 de Maio de 92

    Convém fazer desde logo fazer alguns esclarecimentos úteis. Primeiro: aos 69 anos, José Saramago é o melhor escritor vivo de língua portuguesa. Segundo: desde Guimarães Roa, não há nada demais original, belo e consistente, na ficção em língua portuguesa, do que o conjunto de romances que vêm sendo criados por esse português do Ribatejo, autor de obras-primas como o Memorial doConvento (1982), festejado, lido e traduzido pelo mundo afora, e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984). Terceiro ponto: este Evangelho segundo Jesus Cristo é um livro deslumbrante. Quarto: pelomenos desde as traduções de Mateus, Marcos, Lucas e João, os evangelistas oficiais da Igreja, que ainda e sempre têm a oferecer aos leitores, religiosos ou não, seu sabor antigo e primordial, nãohá no idioma português história de Jesus mais bem escrita."

    Roberto Pompeu de Toledo, Veja, S. Paulo, 6 de Novembro de 1991

    Bendito sejas Deus, que nos dás belos livros para ler! Bem-aventurado é José Saramago, que sabe contar histórias com elegância e graça, e lembrar-nos, a cada texto novo, a maravilha que é aíngua portuguesa, quando o escrevente sabe dançar todos os ritmos da sua rica sintaxe e saborear todos os sabores do seu suculento léxico.Raramente Saramago esteve tão iluminado, com a visão tão certa e o ouvido mais afinado. Os advogados de Deus poderiam dizer que, apesar de advogado do Diabo, ele está neste livro, em estadode graça. A narrativa flui com aquela simplicidade que só os clássicos conseguem fazer fácil. Se Saramago escreveu um evangelho, foi talvez menos pelas questões ali contidas do que por afinidadeprévia (e agora demonstrada) entre o seu estilo e o dos evangelistas, a singeleza, a oralidade, a comunicação, o gosto pelos apólogos e parábolas, as imagens que ganham intensidade euniversalidade por serem colhidas no real mais concreto, modesto e quotidiano."

    Leyla Perrone-Moisés, Folha de S. Paulo, 18 de Janeiro de 1992

    Hoje José Saramago é um dos narradores mais originais e singulares deste final de século não demasiado florescente no que ao romance se refere. O importante deste livro, do ponto de vistaiterário, é que está escrito «dentro» de um mundo cristão, e, embora fora do cristianismo, sem de modo nenhum o tentar negar, antes com um evidente desejo de o apropriar, pelo menos naquelaszonas que o autor sente próximas. Neste «evangelho» prevalece o social, o colectivo, a solidariedade com a dor, a fome e o sofrimento, a luta pela justiça - o que a nenhum cristão pode incomodar -,ainda que também uma evidente concepção dialéctica da religião - a coexistência entre Deus e o Diabo - da qual Jesus tenta evadir-se sem o conseguir, o que é já mais conflitual com a fé."

    Rafael Conte, ABC, 29 de Maio de 1992

    Há que esclarecer que Evangelho segundo Jesus Cristo não é um Evangelho, mas um romance. Um romance que parte de determinados acontecimentos históricos fundamentais para uma dasprincipais religiões do mundo. Saramago não pretende o escândalo, antes pelo contrário: que crentes e não crentes voltem a recolocar-se muitas daquelas perguntas que ficaram sem resposta. OCristianismo, quase desde as suas origens, foi uma religião de dogmas, uma religião que se foi convertendo em algo repetitivo. A proposta que ele faz é a de voltar a repensar, a reflectir. E faz estaproposta precisamente num tempo de crise espiritual como nunca houve no mundo. Um mundo ao qual já nem mesmo as heresias interessam.Saramago escreveu um belíssimo livro inquietante, um livro antidogmático, um livro que não só coloca dúvidas sobre as suas fontes, mas que é também ele próprio um poço profundo de perguntassem resposta."

    Cesar António Molina, Diário 16, Madrid, 29 de Maio de 1992

    Este seu Evangelho leigo, até se disse blasfemo, em relação a uma fábula canónica, que não suporta sequer a comparação com a terna inflorescência dos evangelhos apócrifos, nada tem a ver coma tradição renaniana das «vidas de Jesus» positivas. Aqui, a reger a construção biográfica de um homem dolorosamente consciente da sua própria origem divina, está um sopro de impetuosa, deautêntica religiosidade, no sentido etimológico do vocabulário, capaz de subverter qualquer raciocínio positivo. Está, como sempre, nas obras de um Saramago, de quem se disse que é o maisautêntico representante europeu daquele realismo fantástico que primeiro floresceu na América do Sul, a dimensão do sobrenatural e do visionário; ainda que o ponto de partida, o centro da narraçãoseja sempre o homem, só e sofredor nesta terra, com a sua humanidade e as suas perguntas sem resposta."

    Luciana Stegagno-Picchio, La República, Roma, 1 de Maio de 1992

    Considero que a obra tem o seu valor literário, até interpretativo, que merece ser estudada, e que ougar próprio para a denúncia das suas distorções históricas, teológicas, culturais ou outras é o diálogo,a contraposição de opiniões, a justificação das posições e das atitudes mentais. E considere-se que, nainha da doutrina dos últimos Papas, importa denunciar o erro, mas respeitar sempre a pessoa que erra.E nem sempre é erro o que os poderes declaram erro.Nem se estranhe que este assunto seja abordado nestes termos num jornal da Igreja. Competedefender os valores da liberdade de expressão e da liberdade de consciência.Um jornal de inspiração cristã tem que assumir-se como paladino de toda a liberdade criadora."

    C.F., Voz Portucalense, 7 de Maio de 1992

    O Evangelho segundo Jesus Cristo contém uma história que todos conhecemos. E contém cenas eafirmações que há alguns anos atrás teriam lançado o autor na fogueira, sem direito a sepulcro. Oescritor toma para si liberdades que são a substância da criação, e comporta-se, na invenção do seumundo, como Deus. Este é o evangelho segundo Saramago..."

    Clara Ferreira Alves, Expresso, 2 de Novembro de 1991

    Críticas apresentadas na contracapa d' Evangelho Segundo Jesus Cristo, 13ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1993

    José SaramagoNasceu em 1922, numa povoação chamada Azinhaga, perto da Golegã. Como não

    pôde seguir estudos, tirou o curso de serralheiro mecânico e também foi funcionário

    público até 1975, a partir desta altura, dedicou-se exclusivamente à literatura e à

    política, que fez sempre parte da sua vida.

    Dividiu a residência entre Portugal e Lanzarote, nas Canárias. Casou-se, primeiro

    com a pintora Ilda Reis, manteve uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega e

    casou-se novamente com a jornalista Pilar del Río .

    Escreveu diversas obras, a primeira aos 25 anos  –  o romance “Terra de Pecado”

    (1947), como poeta – “Os Poemas Possíveis” (1966), como cronista – “Deste Mundo

    e do Outro” (1971), contos –  “Objecto Quase” (1978), peças teatrais –  “A Noite”

    (1979), viagens  –  “Viagem a Portugal” (1983), diário e memórias –  “Cadernos deLanzarote” (1994), infantil – “A Maior Flor do Mundo” (2001). 

    Dentro das obras mais marcantes destacam-se – Memorial do Convento, A jangada

    de Pedra, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a Cegueira.

    Faleceu a 18 de junho de 2010, em Tías, Canárias.