Cartilha o audiovisual na escola

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O Audiovisual na Escola

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Seja bem-vindo aos Workshops do Educativo Tela Brasil.Aprender a ver, numa sociedade regida pelas imagens, é aumentar a capacidade de reflexão, fortalecer o senso crítico, estimular a criatividade, derrubar os preconceitos, abrir novas perspectivas.Quanto mais cedo se aprende a ver, mais rápido se de-senvolve um cidadão capaz de construir opiniões sólidas, baseadas na reflexão sobre sua realidade e imunes a qualquer tipo de manipulação da informação. Ser cidadão é saber ver e saber se expressar. Saber assistir para saber agir.A proposta destes workshops é oferecer conteúdos teó-ricos e práticos para que você explore, à sua maneira, todas as possibilidades de utilizar o cinema como ferra-menta para educar.Além dos três workshops e deste material de apoio, co-locamos uma equipe à sua disposição através do Portal Tela Brasil: www.telabr.com.br. Antes, durante e depois dos workshops você pode falar diretamente com nossos educadores para tirar dúvidas e trocar informações. É um grande orgulho pra nós desenvolver este projeto em parceria com você, professor.

Um carinhoso abraço,

Olá Educador,

Laís Bodanzky Luiz Bolognesi

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Trabalhar o conteúdo de filmes em sala de aula

Documentário ou ficção? Quando exibir?

1. O cinema como ilustraçãoProposta de atividade – A Missão e Desmundo

2. O cinema como pré-textoProposta de atividade – JunoProposta de atividade – Wall-E

3. O cinema como linguagemProposta de atividade – Curta-metragemProposta de atividade – Wall-EProposta de atividade – O Homem que Copiava

4. O cinema como discurso ideológicoProposta de atividade – Ladrões de Bicicleta

5. O cinema como arteProposta de atividade – Cinema como arte

Montar uma oficina de vídeo na escola

1. Gramática visualProposta de atividade – Gramática visual

Sobre este fichário

Cinema e escola

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Índice

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2. O SomProposta de atividade – O som

3. Primeiros passosProposta de atividade – Usando a câmera

Realizar o filme com seus alunos

4. RoteiroProposta de atividade – Escrevendo o roteiro

5. ProduçãoProposta de atividade – Produzindo o vídeo

6. Direção de fotografiaProposta de atividade – Fotografando o vídeo

7. DireçãoProposta de atividade – Dirigindo o vídeoProposta de atividade – Antes da gravaçãoProposta de atividade – Durante a gravação

8. MontagemProposta de atividade – Montando o vídeo

9. Quando o vídeo está pronto

Montar um cineclube na escola

O que é um cineclubeA infraestruturaA diretoriaA programaçãoO debate

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SOBRE ESTE FICHÁRIO

Professor, você está recebendo este material com algu-mas fichas introdutórias.

O conteúdo completo, que será entregue durante os workshops presenciais, é dividido em três partes: como trabalhar o conteúdo de filmes em sala de aula; como montar uma oficina de cinema na escola; como montar um cineclube na escola.

Apesar dessa divisão, feita para facilitar o seu tra-balho, vale ficar atento: realizar uma obra audiovisual está relacionado a assistir a filmes, acumular referên-cias, desenvolver um olhar crítico. E assistir a filmes com apuro tem relação com conhecer um pouco mais sobre linguagem e técnicas de produção audiovisual.

Por isso, é importante conhecer e consultar todo o conteúdo das fichas, além de buscar outras fontes de informação.

Este fichário também foi pensado para ser seu com-panheiro na implantação de um projeto de educação audiovisual na escola. A ideia é que ele seja bastante prático e se adapte às suas necessidades. Você pode, por exemplo, mudar a ordem e misturar as fichas de acordo com o assunto que pretende abordar ou com seu planejamento de aula. Pode também inserir outras páginas entre as fichas, complementando o conteúdo com suas próprias pesquisas e anotações.

Em caso de dúvidas ou comentários sobre o conte-údo do fichário e sua utilização, converse com nossos educadores durante os workshops. Ou faça contato pelo site www.telabr.com.br.

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Cinema e escola vêm se relacionando há muito tem-po, porém nem sempre de forma muito amistosa. Sabemos que a educação é um campo antigo no qual as mudanças ocorrem muito lentamente. A escola vive uma situação de ambiguidade: por um lado é só nela que se garante a conservação do saber acumulado; por outro, está nela a responsabilidade da transformação da sociedade. O cinema, ao contrário, em um século sofreu mudanças muito rápidas e está sempre tentan-do responder às demandas da contemporaneidade.

É importante conhecer a história das relações edu-cação e cinema (que hoje envolve o termo “audio-visual”) não apenas para refletirmos sobre acertos e erros passados, mas para que conheçamos a origem dos preconceitos e resistências existentes no uso do cinema na escola.

No mundo todo o mal-estar na relação da educa-ção com o cinema ocorreu, também, no meio intelec-tual e artístico. Walter Benjamin, no clássico texto A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, discu-te o quanto o conceito de arte se transformou com o advento da fotografia e do cinema. Surgiu a cultura de massas, e muitos pensadores, principalmente pelo uso que os governos totalitários fizeram do rádio e do ci-nema, condenam essa forma de cultura por promover a manipulação ideológica. A visão desses pensadores, que se concentraram na famosa Escola de Frankfurt, é conhecida como “teoria crítica da comunicação” e foi muito difundida especialmente nos cursos de Humanidades. Embora ela tenha sido concebida nos anos de ascensão do nazismo, ela ganhou muito espa-ço no Brasil nos anos 1970, pois “caía como uma luva” para se compreender a força dos meios de comunica-ção de massa no período da ditadura militar.

Cinema e escola

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A Igreja, por sua vez, percebeu a força do cinema e temia pelo seu impacto junto à sociedade, especial-mente no que tangia à formação de crianças e jovens.

“Em nome da moral e dos bons costumes”, defendeu o controle das mensagens dos filmes por meio da censura.

Com o tempo, a ideia de censura se transformou em necessidade de se compreender a linguagem do cinema, com o intuito de proteger as pessoas contra as más influências. A parte mais progressista da Igreja católica acabou se transformando em grande incen-tivadora dos cineclubes, nos círculos operários e es-tudantis. As escolas católicas, nos anos 1950 e 1960, passaram a adotar o cinema como parte da formação do magistério, o que fazia parte de uma estratégia ca-tólica internacional conhecida como “Plan de niños”. Esse plano, que ganhou muita força na América Latina, deu origem a uma série de entidades ligadas à alfabe-tização audiovisual e formou a base da corrente edu-cacional que defendia a “leitura crítica dos meios”.

Essas duas visões (da Escola de Frankfurt e da Igreja), cada uma a seu modo, fincaram raízes na for-mação de muitos professores, que até hoje olham para a cultura audiovisual com certa desconfiança. Alguns acreditam que um filme ou um programa de televisão pode causar total alienação. Outros, com uma visão mais moralista, pensam que o audiovisual tem o poder de deformar por oferecer “maus exemplos”.

Muitos professores acreditam que o simples fato de evitar um filme “polêmico” ou de passar um filme que mostre uma mensagem edificante seja suficiente para que o aluno “assimile” que devemos fazer o bem, ser altruístas, cuidar do planeta, evitar doenças sexu-almente transmissíveis, compreender a importância do estudo, ser tolerante etc.

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Sem um aprofundamento dos professores no uni-verso audiovisual e nas reais possibilidades que ele pode oferecer como ferramenta para educar, a cultu-ra escolar continuará presa à avaliação superficial do

“bom” ou “ruim”, do “verdadeiro” ou “falso”, ofere-cendo pouco espaço para a problematização de temas e situações mais complexas, mais humanas. Exibir um filme edificante e simplesmente pedir aos alunos que escrevam uma redação sobre a “mensagem” da obra não é uma maneira satisfatória de usar o cinema na sala de aula. É bom lembrar que o aluno sabe muito bem o que o professor “espera de uma boa redação”, podendo escrever um texto “politicamente correto”, sem nenhuma reflexão sincera.

Outras formas infelizes (mas habituais) de utiliza-ção do cinema na escola são a exibição de filmes quan-do um professor falta e/ou quando não teve tempo de preparar a aula.

Por todos esses “maus usos”, construiu-se uma série de resistências e preconceitos com o uso do ci-nema na escola. Ainda hoje é frequente, quando está programado um filme no horário da aula, surgirem comentários do tipo: “hoje não tem aula, é só filme”. Comentários maldosos vêm de colegas, superiores hie-rárquicos, dos pais de alunos (“mando meu filho pra escola para estudar, não para ver filme”) e, tristemen-te, dos próprios alunos.

Hoje podemos dizer que vivemos em um mundo audiovisual, no qual cada vez mais se popularizam meios de exibição e de realização de filmes. No entan-to, a cultura escolar ainda se mantém apoiada quase exclusivamente no mundo letrado, na cultura impres-sa. Ainda há muito que se caminhar para que a cultura audiovisual adquira a mesma legitimidade que a escri-ta na escola – o que nos parece fundamental.

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Trabalhar o conteúdo de filmes em sala de aula

introdução É difícil imaginar nossa vida sem o cinema. Segundo o historiador Eric Hobsbawn, o mundo seria comple-tamente diferente do que é hoje se não houvesse a marca do cinema, da imagem em movimento, no sé-culo XX. Nossa forma de perceber o mundo tem muito que ver com o imaginário do cinema: locais que nun-ca visitamos pessoalmente, personalidades que nunca conhecemos, fatos históricos que se cristalizaram em nossa memória através do cinema.

Também em termos individuais e subjetivos o cine-ma nos diz muito sobre nós mesmos.

A que tenho assistido? Há quanto tempo não fre-quento uma sala de cinema? Tenho assistido apenas a filmes em DVD ou na televisão? Como têm sido as minhas escolhas? Vou à locadora e escolho os fil-mes? Que tipo de filme: comédia, suspense, romance? Filmes de que nacionalidade? Há uma variedade nes-sa seleção? A quem recorro para escolher os filmes: à critica cinematográfica dos jornais que divulgam as últimas premiações do Oscar; aceito conselhos do indi-cador da locadora que conhece melhor os últimos lan-çamentos; ou me deixo programar pelo que a televi-são disponibiliza? Tenho amigos e familiares que veem muitos filmes e costumam me indicar os melhores?

A escolha do que vou assistir – e gostar ou não – é afetada por muitas mediações: de amigos, da publici-dade, da crítica especializada, da mídia. É interessante pensar se, em algum momento de nossas vidas, pro-fessores são ou já foram esses mediadores.

Pensar nos filmes que escolhemos, na situação em que assistimos a eles (em casa, nas salas de exibição),

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em companhia ou sozinhos, nos motivos por que os escolhemos, no gosto que desenvolvemos por deter-minados gêneros ou nacionalidades dos filmes, tudo isso fala muito de nossa história, dos nossos sonhos e da nossa cidadania audiovisual.

Neste fichário vamos abordar algumas possibilidades de trabalhar filmes com seus alunos, mas é fundamental que, antes de levar os filmes para a sua escola, você refli-ta sobre sua relação particular com o audiovisual.

As sugestões de atividades deste material devem funcionar como exemplos e provocações para que você crie seu próprio método de trabalho, de acordo com suas referências, sua relação com a sétima arte e seus métodos pedagógicos.

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Documentário ou ficção? Quando exibir?

Antes de apresentar qualquer sugestão de atividade, vale a pena refletir sobre duas questões que inquietam muitos professores quando decidem usar filmes na es-cola: Que tipo de filme é mais indicado para trabalhar com os alunos: documentário ou ficção? Quando es-ses filmes devem ser exibidos para a turma?

É comum que os professores avaliem que um docu-mentário é mais educativo do que um filme de ficção. Assim como os professores, o público também costu-ma acreditar que o documentário “fala a verdade” e a ficção “conta uma história fantasiosa”. Nesse sentido, precisamos lembrar que o documentário não deixa de ser uma montagem de depoimentos, informações e imagens. É resultado de um processo de escolha de seus realizadores e, normalmente, reflete mais o ponto de vista do diretor do que uma verdade incontestável. Bons documentários são ótimas opções de filmes para você trabalhar com seus alunos. Mas, ao propor qual-quer debate ou atividade sobre um documentário, não esqueça que a verdade é bastante relativa e manipula-da pelo realizador durante a gravação e a montagem do documentário.

Sobre a ficção, podemos dizer que, a seu modo, ela reflete processos que determinada sociedade está vivendo. As produções estadunidenses dos últimos anos, após o ataque às torres gêmeas, por exemplo, têm nos trazido muitas discussões sobre intolerância. Os filmes europeus têm se aprofundado em temas como miscigenação e identidade cultural, resultantes da colonização e da presença maciça de imigrantes em seus territórios. No Brasil, recentemente, muitos filmes

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tratam da violência urbana e outros trazem à tona o período da ditadura militar. São temas que revelam contextos históricos, sociais, econômicos e culturais do local onde os filmes foram produzidos.

Dessa forma, assim como não devemos superva-lorizar a verdade nos documentários, não devemos subestimar o poder de um bom filme de ficção para refletir sobre a realidade.

Quanto à exibição para a turma, sabemos que, nor-malmente, o tempo do filme não condiz com o tempo de aula.

Para que seja exibido integralmente em uma aula é preciso que o filme seja um curta metragem (o que pode ser ótima opção, em alguns casos) ou que seja exibido numa aula “dobradinha”. Caso você não dis-ponha de tempo suficiente em suas aulas, pode ser interessante um acordo com outro professor para que o filme seja exibido em aulas de disciplinas diferentes, sendo abordado de forma interdisciplinar, dialogando com as duas matérias.

A outra opção é que o filme seja exibido no con-tra-turno, o que exige adequação das atividades aos horários da escola. Mais adiante veremos como um ci-neclube, por exemplo, pode ser uma opção excelente para cultivar a presença do cinema na escola, propor-cionando diversas atividades para seus alunos.

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É comum, em muitas escolas, o uso de filmes para ilus-trar matérias tratadas pelo professor em sala de aula. Essa prática pode funcionar muito bem, mas apresenta alguns problemas – algumas armadilhas das quais é importante você escapar.

O primeiro problema que o uso do cinema como ilustração apresenta é reduzir o filme a um recurso di-dático de segunda ordem, em geral para animar uma aula cuja principal referência encontra-se num livro di-dático, num texto escrito “mais confiável”.

O segundo problema é que um filme pode passar para os alunos a ideia de que a abordagem filmada é a verdadeira, ou a única possível sobre a matéria tratada. Se não houver uma intervenção importante do profes-sor, os alunos podem voltar para casa com a sensação de que “foi assim, como o filme mostrou, que as coisas aconteceram”, o que é um grande engano.

Os “filmes históricos” são, evidentemente, os mais usados na prática escolar. Esse dado revela não apenas que os historiadores gostam muito de cine-ma, mas também que os filmes costumam ser usados como “ilustração” do conteúdo das aulas de História. Nesse caso, para fugir das duas armadilhas, você pode escolher trechos de filmes diferentes que tratem do período histórico que está sendo abordado. Ao exibir pontos de vista diversos, procure discutir com seus alu-nos cada uma das abordagens cinematográficas sobre o tema. Deixe claro que cada trecho exibido faz parte de um filme diferente, que propõe um olhar particular sobre o mesmo momento histórico.

Para utilizar um filme como ilustração, em qualquer aula, é fundamental que você mostre a complexidade e o contexto de cada obra. Se usado com planejamento,

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Para ilustrar a matéria “A missão dos jesuítas no Brasil”, exiba para seus alunos trechos dos filmes A Missão, de Roland Joffé, e Desmundo, de Alain Fresnot.

Procure escolher trechos que deixem claras as di-ferentes abordagens que os dois cineastas escolheram para tratar o tema e apresente-as para seus alunos.

Mostre, por exemplo, que no filme europeu A missão os jesuítas são tratados de maneira bastante romântica.

Por outro lado, no filme brasileiro Desmundo, o mesmo assunto é visto de maneira mais crítica, como parte do projeto colonizador do Brasil.

IMPORTANTE: Você pode propor um debate sobre essas diferentes abordagens, pedindo opiniões para seus alunos e trazendo outras matérias para enriquecer a conversa.

A Missão eDesmundo

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

critério e discussão, o cinema como ilustração do con-teúdo pode ser bastante enriquecedor.

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Outra forma costumeira de usar filmes na escola é transformá-los em “pré-texto” para problematizar te-mas que o professor deseja trabalhar com seus alunos.

Nesse caso, você tem pouco compromisso com o fil-me em si, com a linguagem, com a estrutura narrativa, e assume um compromisso maior com os temas abordados pelo filme (políticos, morais, ideológicos, existenciais etc.).

Um filme usado como pré-texto pode estimular de-bates e diversas atividades (especialmente interdiscipli-nares) para você realizar com seus alunos.

O CINEMA COMO PRÉ-TEXTO

Exiba o filme Juno, de Jason Reitman, para sua turma de Ensino Médio.

IMPORTANTE: Juno é um filme aparentemente di-vertido e descolado, mas trata de questões espinhosas: sexualidade, gravidez, aborto, doação de crianças, rela-cionamentos. Nem sempre os professores se sentem pre-parados para discutir esses temas de forma democrática. Sem querer, podemos nos pegar transmitindo nossos va-lores, que podem ser diferentes dos valores dos alunos e de outros professores. Por isso pode ser interessante, antes de desenvolver a atividade com os alunos, assistir ao fil-me e debatê-lo com outros professores. Como mediador, você precisa se sentir confortável para debater essas ques-tões com seus alunos, tão necessárias nos dias de hoje.

Num primeiro momento, após a exibição do filme, você pode deixar o debate entre os alunos correr solto por algum tempo. Depois, comece a inserir os temas que você quei-ra abordar com a turma. No caso de Juno, há muitos

Juno

PROPOSTA

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elementos sobre os quais é possível refletir num debate, que certamente será muito interessante para os alunos:

– No filme, quem conta a história é uma adolescen-te. O tom da narrativa é bastante juvenil, como se os acontecimentos saíssem de um algum gibi para a vida real (a abertura do filme sugere essa relação com as his-tórias em quadrinhos). Isso torna o filme menos “realis-ta” do ponto de vista dos adultos? É dessa forma que os adolescentes, de modo geral, encaram a gravidez pre-coce? Sob esse ponto de vista, é possível fazer algum julgamento moralista sobre a personagem e sua traje-tória no filme? Caso uma gravidez precoce acontecesse na vida de uma de suas alunas, ela viveria sentimentos parecidos com os da personagem? Juno assume posi-ções maduras ou imaturas no filme? É possível dizer que ela sabia o que estava fazendo quando tomava decisões importantes? O pai e a madrasta de Juno apoiam a me-nina de maneira satisfatória? O final do filme é feliz?

Para enriquecer o debate, você pode dividir sua tur-ma em grupos. Proponha a cada grupo que represente pessoas que se relacionam diretamente com uma meni-na fictícia, que descobre estar grávida. Exemplo: um dos grupos pode representar o pai da menina. Outro grupo pode representar a mãe da menina. Outro grupo pode representar o namorado da menina, pai do filho que ela espera. Dê algum tempo para que os grupos se reú-nam e preparem uma pequena apresentação, que deve consistir na criação do ponto de vista de cada uma das pessoas que se relacionam com a menina. Ao fim da atividade, dê um tempo para que cada grupo apresente seus pontos de vista sobre a gravidez da menina fictícia. Compare as opiniões de cada grupo com a postura de personagens semelhantes do filme.

Além do debate, você pode propor pesquisas para seus alunos sobre os seguintes temas:

– Quais as principais diferenças e semelhanças entre

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a realidade dos jovens brasileiros e estadunidenses? Que condições cada um dos países oferece para meninas que engravidam precocemente? Como funcionam as leis de aborto e adoção nesses dois países?

Wall-E

PROPOSTA

DE ATIVIDADEExiba a animação Wall-E, de Andrew Stanton, para sua turma.

IMPORTANTE: Discutir sustentabilidade do planeta com os alunos é estimulante, e certamente envolve mui-tas disciplinas, não se restringindo a Ciências. A cena inicial do filme, uma panorâmica da Terra tomada por torres de lixo, é maravilhosa. Os créditos finais mostram o eterno retorno de muitas civilizações surgindo, se des-truindo e se reconstruindo.

Wall-E pode oferecer muitas questões interessantes para serem abordadas em debate, entre elas:

– Continuando a viver da forma que vivemos hoje em dia, estamos fadados a um futuro semelhante ao que é proposto no filme? É possível perceber críticas ao consumismo exacerbado e ao imediatismo na ani-mação? Que comportamentos adotados pelos seres humanos podem levar a Terra à ruína? O que podemos mudar, pensando nos comportamentos mais cotidia-nos, para que o futuro seja melhor?

IMPORTANTE: O filme propõe uma forte crítica à socie-dade consumista. Curiosamente, muitos produtos com a marca Wall-E são vendidos para nutrir milhões de con-sumidores: mochilas, material escolar, álbuns de figuri-nhas, revistas, camisetas. Essa contradição da indústria cultural também gera bastante polêmica. Você pode dis-cutir atitudes diante dessa realidade e sugerir pesquisas.

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Exercitar o olhar de seus alunos para “ler” obras au-diovisuais é outra maneira de trabalhar com filmes em sala de aula. Nesse caso, o mais importante não é a história do filme ou o tema que ele aborda, mas os princípios da linguagem cinematográfica.

Que recursos visuais e sonoros um cineasta pode usar para contar uma história? Há um narrador explíci-to? Há uma câmera que, em algum momento, nos con-duz e nos coloca dentro de um personagem? Que op-ções de iluminação foram usadas para criar determinada atmosfera? De que forma a montagem conduz nosso olhar, nossas interpretações e nossos sentimentos?

Essa abordagem é muito interessante para a for-mação do olhar crítico do aluno, que vai ganhar uma visão diferenciada para “ler” qualquer produto audio-visual, desde programas televisivos e vídeos da internet até filmes mais sofisticados.

Normalmente, o professor que se sente mais se-guro para abordar o filme enfocando a linguagem é aquele que constrói um bom repertório cinematográfi-co pelo hábito de assistir a muitos filmes, de pesquisar sobre cinema e frequentar cineclubes.

Caso você se sinta inseguro para usar o cinema como linguagem em suas aulas, comece a formar seu olhar, assistindo a mais filmes e pesquisando sobre sua realização. Enquanto você se prepara, é possível pro-mover sessões em sua escola com convidados espe-ciais, que possam discutir mais profundamente a lin-guagem cinematográfica com você e com seus alunos.

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Exiba um curta-metragem (com no máximo sete minu-tos de duração) para seus alunos.

Peça à turma que forme um semicírculo em torno da TV ou do telão. Divida os alunos em trios, que podem sentar juntos, mas é fundamental manter a formação semicircular, para que todos possam assistir ao filme.

IMPORTANTE: Explique para seus alunos o que é uma cena na linguagem audiovisual (você pode consultar a página 29 do caderno Montar uma Oficina de Vídeo na Escola). Deixe claro que é muito simples: quando a nar-rativa muda de lugar ou de tempo, a cena muda.

Proponha aos alunos o seguinte exercício: Cada trio vai descrever no caderno, de forma bem resumida, uma cena do curta. O primeiro trio descreve a primeira cena. O segundo trio descreve a segunda cena. O terceiro trio descreve a terceira cena, e assim sucessivamente. Quando o último trio descrever sua cena, provavelmen-te o filme irá continuar. Então voltamos ao primeiro trio, que descreve a cena seguinte. Assim o exercício se de-senvolve até que o filme termine e, consequentemente, terminem as descrições feitas pela turma.

IMPORTANTE: Tenha cuidado para não escolher, para este exercício, um curta-metragem com poucas cenas ou com grandes planos em sequência. Para que todos os trios consigam descrever suas respectivas cenas, o curta deverá ser exibido três ou quatro vezes.

Depois, peça a cada trio que leia, em ordem, as descrições resumidas que fez das cenas.

Esse exercício é uma maneira divertida de compre-ender fundamentos da linguagem audiovisual.

Depois da leitura, observe que a linguagem escrita foi explorada de maneira extremamente visual pelos

CurtaMetragem

PROPOSTA

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alunos. Você pode introduzir, neste ponto, algumas questões sobre o trabalho do roteirista no cinema, que escreve para criar imagens. Afinal, fazer cinema, de certa forma, é escrever com imagens.

Observe também a importância da montagem. Reflita sobre como fragmentos de diálogos, lugares e ações constroem o filme como um todo. Fale sobre a importância da montagem na linguagem audiovisual.

Use as próprias folhas de papel nas quais os alunos descreveram as cenas para ilustrar seus comentários so-bre linguagem visual. Junte todos os papéis, coloque--os na ordem e passe entre os alunos, sugerindo que eles “assistam ao filme que está escrito ali”. Dê a eles a opção de trocar algumas descrições de lugar e reler tudo. Misture todas as folhas e releia, percebendo que, mudando a sequência das cenas na montagem, um curta-metragem bem diferente poderia ter sido feito.

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Wall-E

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

Exiba a animação Wall-E, de Andrew Stanton, para seus alunos.

Observe atentamente com a turma o trecho inicial do filme, no qual praticamente não aparecem diálogos. Debata sobre como a história é contada somente através das imagens (princípio básico da linguagem cinemato-gráfica). Procure conhecer mais o universo de referências de seus alunos, pedindo sua opinião sobre o trecho do filme e buscando comparações com outras animações.

IMPORTANTE: É comum que os alunos estejam acostu-mados a filmes ou animações com muitos diálogos, com informações mais mastigadas, mais “explicadinhos”. É interessante sublinhar a essência da linguagem audio-visual, exibindo também trechos de outros filmes sem diálogos ou narrações.

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O Homem que Copiava

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

Trabalhar com o filme O Homem que Copiava, de Jorge Furtado.

Exiba o trecho inicial do filme, no qual o protago-nista André conta para o espectador (através de seu pensamento, em off) qual é sua rotina de trabalho. Proponha um debate sobre a linguagem nesse trecho, fazendo com que os alunos percebam alguns recursos narrativos simples, mas sutis e eficientes:

– Enquanto André realiza ações repetidas (como preparar o papel, colocar papel na máquina e acionar os botões da fotocopiadora), suas roupas se modifi-cam algumas vezes, sugerindo que as mesmas ações acontecem em tempos diferentes. Analise, com os alunos, a montagem dessa sequência, refletindo sobre como o diretor trabalha com o tempo e sobre as sensa-ções que cria no espectador utilizando a repetição de ações do personagem.

IMPORTANTE: Você pode exibir um trecho do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, e propor uma reflexão sobre as diferenças de uso da linguagem audiovi-sual na criação de contextos e sensações semelhantes em épocas bem diferentes, por diretores diferentes.

Exiba trechos do filme nos quais o personagem André “espiona” a vizinha Sílvia pela janela de seu

Como prática, sugira que os alunos façam uma pes-quisa sobre animação. Peça que conheçam mais sobre a história do desenvolvimento dessa linguagem, dos primórdios aos dias de hoje. Solicite que procurem víde-os de animação no Youtube para ilustrar sua pesquisa. Mostre os paralelos da animação (e do cinema, claro) com a arte sequencial (quadrinhos) inserindo novas lin-guagens no universo referencial de seus alunos.

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apartamento. Proponha um debate sobre as escolhas visuais do diretor, que deslocam o espectador para a posição do protagonista, compartilhando seu ponto de vista, seus desejos e sonhos:

– Discuta com os alunos o que o espectador, que compartilha o ponto de vista de André, consegue ou não ver pela janela de Sílvia. Analise os enquadramen-tos criados pelo diretor e o jogo de imagens criado pelo espelho localizado no quarto da personagem. Relacione a narração de André com sua visão parcial do quarto de Sílvia, sublinhando como o som (nesse caso, a narração de André) complementa as imagens (afinal, André idealiza aquilo que não consegue ver).

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Considerando o cinema como linguagem, podemos observar outra forma de abordagem de filmes na es-cola: o cinema como discurso ideológico.

A partir dos anos 1980, com a abertura política, propagou-se uma corrente de pensamento que prega-va a leitura crítica dos meios de comunicação, privile-giando a desconstrução de obras para “desvendar” as reais intenções do realizador.

No período de maior difusão desse pensamento (anos 1980, como dissemos), era muito importante denunciar todo tipo de manipulação exercida pelos meios de comunicação.

Atualmente, entretanto, vale o cuidado para não tomarmos todos os conteúdos audiovisuais como “maus objetos”. Como nos explica o cineasta e pes-quisador francês Alain Bergala, não precisamos “de-fender” as crianças e os jovens contra todo e qualquer tipo de manipulação.

É interessante lembrar que, também a partir dos anos 1980, ganharam expressão as pesquisas de re-cepção qualitativas, que buscam compreender como as pessoas assistem a filmes ou programas de televisão e como ressignificam essa experiência cultural.

As pesquisas qualitativas mostram que as pessoas estabelecem uma negociação de sentidos com os con-teúdos audiovisuais que recebem e que é um exagero achar que os meios de comunicação – em especial os audiovisuais – “deformam” as mentes, “hipnotizam” e “anestesiam” os indivíduos, tirando-lhes a capacida-de crítica e criativa.

Tem sido comprovada que a formação das crianças e jovens acontece a partir da combinação de várias instân-cias sociais: família, escola, religião, mídia, entre outras.

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Exiba para seus alunos o filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica.

IMPORTANTE: Mostrar o quanto uma linguagem cine-matográfica pode estar ligada a uma posição ideológica nos instiga a saber um pouco mais sobre a história do cinema. Ladrões de Bicicleta (1948) utiliza recursos nar-rativos e estéticos típicos do neorrealismo italiano, mo-vimento artístico que surgiu no pós-guerra e que buscou retratar uma realidade sociopolítica por meio do cine-ma. Hoje em dia, com a internet, você pode pesquisar e se preparar melhor para trabalhar um filme. Não é pre-ciso ser um especialista para trabalhar o neorrealismo italiano: basta realizar uma boa pesquisa e, se possível, assistir a alguns filmes do mesmo período.

Analise com alunos a cena em que o protagonis-ta Ricci leva seu filho Bruno a uma lanchonete. Para Bruno é um “luxo” comer um queijo quente. Faminto, enquanto espera seu lanche, Bruno observa outro ga-roto que, na mesa ao lado, come uma suculenta pizza e se esbalda em esticar a mussarela quente. Quando o sanduíche de Bruno chega, ele repete os gestos do outro garoto, esticando o queijo. Procure significados nessa cena, debatendo, por exemplo:

Ladrões de Bicicleta

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

A força da experiência audiovisual na formação (incluin-do aí a internet) depende muito da presença vital dessas outras instâncias formadoras no cotidiano dos jovens.

Nessa perspectiva, a leitura crítica deve adotar um sentido muito menos “defensivo” e mais “favorável” ao contato com a diversidade de linguagens, propos-tas, conceitos e experiências culturais que uma obra audiovisual pode oferecer.

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– Os personagens centrais desse filme representam indivíduos ou algum tipo de coletividade? Essa cena mostra diferenças entre Bruno e o garoto que come a pizza? Essas diferenças são de caráter pessoal ou so-cial? Que segmento social os personagens de Ricci e Bruno representam no filme?

IMPORTANTE: Você pode trazer outros filmes/trechos para enriquecer esse debate. Filmes estadunidenses po-dem ser interessantes para que você conduza o debate no sentido de apontar diferenças na construção de perso-nagens num filme neorrealista e num filme americano. No cinema estadunidense, os personagens costumam ter jornadas pessoais, individuais, muitas vezes heroicas e re-dentoras, ao contrário dos personagens de Ladrões de Bicicleta, que são representações de um segmento social (famílias pobres do pós-guerra na Itália).

Fale com seus alunos sobre o caráter quase docu-mental do filme. Sugira uma pesquisa sobre o que é um documentário e o que é uma ficção. Discuta os limites existentes entre os dois e como cada um lida com a “verdade”. Peça à turma que traga exemplos de outros filmes (documentais e ficcionais), de programas da TV (jornalísticos e ficcionais) e de vídeos da internet. Debata as referências de alunos.

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Talvez o maior incômodo na relação cinema e educa-ção venha do fato de que o cinema é um produto cul-tural e artístico que não é pensado pelo cineasta para “caber” na aula de Geografia ou de Física, ou mesmo para transmitir mensagens educativas. O cinema é for-mador à medida que faz parte da nossa herança cul-tural e sua utilização contribui para o desenvolvimento de pessoas mais sensíveis e humanistas.

Os defensores da presença do cinema como arte na educação têm a preocupação de que a escola evi-te “didatizar” o filme, isto é, instrumentalizá-lo de forma que o transforme em um recurso didático de menor importância.

A experiência com a arte é subjetiva e polissêmi-ca, isto é, produz muitos significados. Dependendo do universo cultural de cada pessoa, a apreciação da arte pode ter maior ou menor profundidade. Uma obra de arte pode provocar diversas camadas de leituras e a escola pode desempenhar um papel importante na sensibilização e na criação de laços dos alunos com as obras de arte.

Para apreciação da arte não é interessante ser mui-to pragmático. Não é possível “mensurar” o quanto uma criança ou um jovem é capaz de interagir com uma obra de arte, por tratar-se de uma experiência subjetiva. Muitas vezes, o tempo em que um filme opera uma transformação em uma pessoa é variável.

A obra de arte exige releituras para a sedimenta-ção da experiência. A primeira leitura, em geral, tem o efeito de se compreender a história, os personagens, as situações criadas. Mas o cinema é muito mais que isso, e as várias outras camadas de significação vêm

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Há muitos filmes que devem ser apreciados indepen-dentemente de qualquer tema relacionado ao currícu-lo escolar.

Obras desse porte podem gerar diversas reações nos alunos, mas certamente irão emocioná-los e abrirão as portas para um contato mais intenso e despretensioso com a arte, formando um rico repertório audiovisual.

Por isso, exiba também bons filmes sem nenhum compromisso com a realização de debates e/ou outras atividades complementares.

IMPORTANTE: Caso um debate comece naturalmente após a exibição do filme, respeite opiniões e interpreta-ções diferentes. Procure entender as razões que levaram alunos a gostar ou não gostar do filme. Respeite, tam-bém, o silêncio deles, caso não tenham nada a dizer sobre a sessão. Alguns filmes podem ser decantados ao longo de uma vida inteira.

Cinema Como Arte

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

com o tempo, com as conversas, com os sentimentos que se assentam.

A defesa de Alain Bergala, cineasta francês que implantou o ensino de cinema no sistema educativo francês, é que o cinema deve trazer para a escola uma experiência de alteridade. A arte, para permanecer arte, deve ser vista como um fermento de anarquia, de escândalo, de desordem.

Segundo o próprio Bergala: A arte é, por definição, um elemento perturbador dentro da instituição.

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Montar uma Oficina de Vídeo na Escola

introdução Formar pessoas, hoje em dia, é uma missão que exi-ge do educador um trabalho amplo, que vai além de transmitir aos aprendizes informações teóricas con-tidas nos livros didáticos. Sabemos que é necessário formar cidadãos capazes de conhecer e de desenvol-ver uma visão crítica sobre sua comunidade e sobre o mundo. Sabemos que é preciso formar pessoas ativas, que saem do papel de simples espectadoras e assu-mem a condição de atores, observando e agindo para transformar suas comunidades e suas vidas.

Usar a prática do cinema como ferramenta peda-gógica é, sem dúvida, uma ótima alternativa para en-riquecer o cotidiano escolar. Não se trata de substituir formatos pedagógicos “consagrados” por oficinas de cinema. Trata-se de unir forças, promovendo diálo-gos entre o currículo da escola e a prática do cinema. Trata-se também de abrir um espaço definitivo, dentro da escola, para a criatividade e a espontaneidade dos alunos, que vão se tornar pessoas mais atuantes, ga-nhando confiança e autoestima.

Além de ser uma linguagem que faz parte do uni-verso dos jovens, o cinema, na prática, alia um tra-balho intenso de criação com certos pragmatismos: concilia a realização de uma obra de arte – livre e di-vertida – com a necessidade de um trabalho coletivo comprometido. Aguça a inventividade e a capacidade de expressão, ao mesmo tempo em que ensina princí-pios de convívio, de relações pessoais, de respeito por diferentes pontos de vista e, principalmente, revela a necessidade da união de esforços, da ação coletiva para alcançar um objetivo comum.

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Talvez sua escola já tenha alguns equipamentos de filmagem e edição; talvez não tenha nenhum; não im-porta. Segundo a proposta que você vai conhecer nes-te material pedagógico, os equipamentos são apenas um detalhe. O que vale é o processo pelo qual você e seus alunos vão passar.

Quanto ao conteúdo, você pode propor a realiza-ção de filmes para ensinar História, Geografia, Língua Portuguesa, Literatura etc. Também pode abrir as portas da sua escola para o bairro, para a cidade, e incentivar a realização de vídeos sobre costumes, len-das, belezas e problemas locais; pode abordar temas importantes para sua escola, como direitos humanos, ecologia, sustentabilidade; pode trabalhar com temas relacionados à faixa etária de seus alunos, como sexu-alidade, gravidez na adolescência ou bullying; ou pode investir pesado na subjetividade de seus alunos, pro-pondo uma oficina de vídeo sem tema definido, me-diando as escolhas temáticas e estéticas do grupo. As possibilidades são inúmeras.

Você vai perceber que mergulhar no universo de seus alunos e abrir espaço para eles falarem com sua própria voz, para mostrarem o mundo através de seus olhos, para filmarem sua realidade e seu imaginário é dar um passo importante na construção de uma edu-cação mais humana e completa.

Nas próximas fichas você vai conhecer os princípios básicos da criação da oficina de vídeo na sua escola. Há algumas sugestões de exercícios para que seja colo-cada em prática a realização de um filme com alunos, mas atenção: não é preciso seguir à risca nossas su-gestões. Elas devem funcionar como ilustrações, como exemplos para que você crie seu próprio método.

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Gramática, segundo o Dicionário Aurélio, é a arte de falar e de escrever bem em uma língua, ou o estudo que expõe as regras da língua-padrão.

Assim como a linguagem oral e escrita, o cinema também possui uma gramática própria.

Não é nada original a comparação da linguagem audiovisual com a linguagem escrita. O russo Sergei Eisenstein, lá pelos anos 1940, traçou interessantes paralelos entre a imagem e hieróglifos japoneses, de-monstrando como a combinação de diferentes sím-bolos pode resultar num novo símbolo. O mesmo Eisenstein, em seu antológico livro O sentido do filme, comparou o ritmo da montagem cinematográfica com a construção de um novo sentido em um poema escri-to por Puchkin.

Esse paralelo acontece porque é evidente que o audiovisual, assim como a fala e a escrita, é mais um mecanismo de expressão, de comunicação do ser hu-mano. Um mecanismo que, como o idioma, é vivo e dinâmico; que é cada vez mais utilizado e, por isso, precisa ser reconhecido e dominado.

Partindo desse princípio, vamos conhecer os primei-ros conceitos fundamentais da gramática audiovisual:

Plano: A menor parte da obra audiovisual, cada fragmento filmado. Um plano é o espaço de imagem gravada entre os atos de disparar e interromper a gra-vação de uma câmera.

Cena: Unidade de lugar e de tempo na narrativa dramática. Uma ou mais ações que se desenvolvem sem saltos de tempo, num mesmo lugar, constituem uma cena. Quando mudamos de lugar ou de tempo, mudamos de cena. Uma cena pode ser formada por um único plano ou por vários planos diferentes.

GRAMÁTICA VISUALMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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Sugira uma situação fictícia qualquer para os alunos. Pode ser algo simples, que contenha um número mí-nimo de ações. Por exemplo: uma menina, em sala de aula, desenha um coração em seu caderno, dentro do qual ela escreve: Aline e Gabriel. A aluna deixa a sala de aula, carregando o caderno debaixo do braço. No corredor, a aluna esbarra em Gabriel. O caderno cai no chão, aberto exatamente na página em que a aluna fez o desenho. Gabriel se abaixa para pegar o cader-no e vê seu nome escrito na página, dentro de um enorme coração, ao lado do nome de Aline. Gabriel entrega o caderno para Aline, com um sorriso estam-pado no rosto.

Depois de apresentar a situação, peça aos alunos (individualmente ou em grupo) que desenhem essa situação em forma de história em quadrinhos. Deixe claro que o que está em jogo não é qualidade dos de-senhos, mas a possibilidade de contar essa historinha simples através da arte sequencial.

Ao fim do exercício, observe a necessidade de va-riar o ponto de vista para contar a situação sugerida. Exemplo: em um quadrinho, é possível mostrar uma menina, em sala de aula, desenhando em seu cader-no (um plano). Para mostrar o desenho que ela faz (coração e o que escreve), é preciso mudar de posição e olhar mais de perto para o caderno (outro plano). Para mostrar que ela sai da sala de aula, carregando

Gramática Visual

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

Sequência: Conjunto de cenas nas quais é desen-volvida uma mesma história/situação. Exemplo: em um filme, a sequência do casamento pode ser formada por uma cena no carro da noiva (pouco antes do casamen-to), uma cena dentro na igreja (durante o casamento) e uma cena fora da igreja, em que amigos festejam o novo casal (pouco depois do casamento).

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o caderno debaixo do braço, é preciso desenhar outro plano, em outro quadrinho. E assim por diante.

CONCLUSÃO: Um dos princípios fundamentais do au-diovisual é a manipulação da imagem, dos pontos de vista sobre determinado acontecimento. O cinema é uma forma de arte sequencial. No audiovisual é possí-vel conduzir o olhar do espectador para qualquer lugar, contando uma história, criando símbolos e transmitindo sensações. Isso é feito pela variação de planos, de cenas e de sequências.

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GRAMÁTICA VISUAL

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Desde que começou a ser usado no cinema, o som exerce um papel essencial. Alguns relatos de pessoas que assistiram às primeiras imagens em movimento, feitas pelos irmãos Lumière, mostram certo incômo-do com o silêncio na sala de exibição. Hoje, ao entrar numa sala de cinema equipada com o sistema Dolby Digital 5.1, sequer podemos imaginar o que seria assis-tir a um filme sem ouvir seus ruídos.

Ouvir o que vê em movimento parece um instinto na-tural do ser humano. Por isso, um filme só é pleno quan-do constrói sua simbologia na imagem e no som – mes-mo que esse som seja, em alguns casos, o do silêncio.

Trabalhar com cinema é trabalhar com os sentidos. Por isso, é importante pensar no que se vê e no que se ouve. O som é um importante aliado da imagem não só para ambientar a situação, mas também para con-tribuir com a narrativa, com a construção do sentido e do sentimento da cena.

Em algumas ocasiões, o som assume o controle narrativo do filme. Não mostrar a imagem de um tiro e sugerir seu acontecimento por meio do ruído do disparo é um exemplo. Forjar a existência de uma multidão por meio de gritos e palmas é outro. Sugerir a chegada da polícia pelo barulho da sirene, sem mostrar a viatura, é mais um.

Usar o som com criatividade pode ajudar a driblar determinadas limitações do seu filme.

O SOMMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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Sugira aos alunos que narrem determinada situação (criada por eles, livremente) apenas com o uso de ru-ídos. Essa situação pode ser gravada na escola ou em casa, em qualquer aparelho de MP3 (telefone celular, walkman etc.). Exemplo: ruído de geladeira abrindo, ruído de geladeira fechando, ruído de forminha de gelo sendo retorcida e de pedras de gelo sendo jo-gadas num compartimento plástico, ruído de líquido sendo derramado no mesmo compartimento plástico, ruído de liquidificador ligado, ruído de liquidificador desligado, ruído de líquido sendo derramado num copo, ruído de alguém engolindo o líquido. Momento de silêncio. Ruído de arroto.

Essa gravação deve ser apresentada para toda a turma, que precisa entender a história contada através de sons.

IMPORTANTE: Esse exercício pode ser feito individual-mente ou em pequenos grupos. Não é permitido utilizar nenhuma fala nem música, apenas ruídos. O aluno ou grupo que desenvolver a narrativa não pode contar para o restante da turma qual é a situação retratada em sua narrativa sonora. É importante que o restante da turma tente decifrar a narrativa sonora.

CONCLUSÃO: O som é um instrumento fundamental na criação de símbolos no cinema. Apesar de a imagem exercer um papel dominante, o som pode assumir fun-ções narrativas num filme, dialogando com a imagina-ção do espectador. É sempre importante pensar na com-binação entre som e imagem na hora de fazer um filme.

O Som

PROPOSTA

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Uma criança aprende a andar arriscando, vivendo in-tensamente a experiência do aprendizado. O papel dos pais, nesse caso, é oferecer estímulos para que a criança possa desenvolver melhor sua função motora. A criança levanta do chão, dá o primeiro passo e cai. Levanta de novo, dá dois passos, e cai. Ergue-se mais uma vez e então consegue dar quatro passos antes de cair. É interessante perceber que não é possível ensinar um bebê a dar seus primeiros passos com aulas teóri-cas, usando giz e lousa. Não conhecemos muitos pais que imprimem uma apostila chamada “Como dar seus primeiros passos”. Quando aprende, a criança desen-volve sua própria maneira de andar.

Quando pegamos uma câmera o processo é se-melhante. Na primeira vez vamos tremer demais e enquadrar tudo torto. Depois de assistir ao material, pegamos a câmera pela segunda vez. Aí, quem sabe, corrigimos o enquadramento. E na terceira vez vamos descobrir que existe o tripé, para que a imagem não fique tão instável.

Cada pessoa, ao apontar a lente de uma câmera para alguma coisa, de determinada posição, está reve-lando algum aspecto do seu olhar, um aspecto singular, que nenhuma outra pessoa tem. E não há certo nem errado quando se trata de uma maneira de olhar. É uma maneira de olhar e ponto. No processo de aprendizado isso não deve, de maneira alguma, ser desprezado.

Não se pode aprender a fazer filmes através de re-gras que estabeleçam o que é certo e o que é errado, afinal, expressar-se por imagens é uma arte. E como toda arte, ela é feita de erros e acertos, é feita de ten-tativas frustradas e felizes, é feita do mesmo elemen-to, talvez indefinível, que faz o ser humano sonhar,

PRIMEIROS PASSOSMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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aprender, agir, perder, conquistar, arriscar, desgostar, amar. Antes de ser uma técnica, a arte é viva como a vida. O aprimoramento técnico e teórico vem depois.

Dê algum tempo para que seus alunos, em grupo (ou grupos), desenvolvam um roteiro para um vídeo, sem diálogos nem música. Esse roteiro deve contar uma pequena história utilizando apenas imagens. Não se preocupe com questões como a linguagem que os alu-nos estão usando para escrever o roteiro, por exemplo. Preocupe-se em mediar o debate de ideias do grupo (caso seja necessário) sem interferir diretamente na criação da narrativa. Depois do roteiro pronto, pegue a câmera e saia da sala com a turma, utilizando o que for preciso da área interna e externa da escola. Deixe que os próprios alunos operem a câmera, oferecen-do apenas os conceitos básicos de sua utilização (caso seja uma câmera com a qual os alunos nunca tenham trabalhado). Durante a gravação, incentive os alunos a criarem diferentes opções visuais para contar a história proposta no roteiro. Fique atento para a capacidade de organização e trabalho em grupo dos alunos. Deixe claro que existe um limite de tempo para gravar a his-tória e que, para que tudo funcione bem, é importante se organizar. Mas dê liberdade criativa para todos.

Quando a gravação tiver terminado, assista ao ma-terial gravado com seus alunos e promova um debate.

CONCLUSÃO: Nesse exercício não é importante avaliar tecnicamente o roteiro nem a utilização da câmera. Os objetivos aqui são: dar início ao contato com a câmera de maneira divertida e lúdica; introduzir o processo de passagem do roteiro escrito para a imagem; introduzir a necessidade de comprometimento e organização do grupo para fazer um filme; avaliar, sem peso, a eficiência

Usando a Câmera

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na transformação do roteiro escrito em imagem (o vídeo está contando a mesma história que está no roteiro? Se não está, por quê? Que imagem faltou para contar a história que se queria contar? Por algum motivo o grupo decidiu, no meio da gravação, mudar o roteiro? Por quê? Que imagens poderiam ter sido mais bem elaboradas para contar a história com mais clareza? Que possibi-lidades de montagem poderiam existir para esse filme, caso ele fosse editado?).

IMPORTANTE: Essa avaliação não deve partir apenas do professor. Estamos falando em propor um debate para o grupo. O papel do professor é o de provocar e levantar questões, deixando que os próprios alunos ava-liem seu trabalho.

PRIMEIROS PASSOS

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A partir daqui vamos começar o processo que vai levar você e os alunos da ideia inicial até a montagem e a finalização de um filme.

Antes de começar a trabalhar em grupo, você pode definir um tema. Como já dissemos, esse tema pode dialogar com alguma matéria que esteja sendo tratada, com temas transversais do seu interesse, com questões relacionadas à comunidade onde vivem os alunos, ou pode ser livre, partindo de ideias dos pró-prios aprendizes. Você decide, de acordo com seu de-sejo e necessidade.

Para um melhor desempenho neste trabalho, é interessante que o grupo que vai realizar o filme te-nha, no máximo, 10 integrantes. Se você tem uma turma grande, divida-a em mais de um grupo e tente se planejar para atender a todos com igual atenção. Crie também uma logística para que cada grupo tenha acesso aos mesmos equipamentos.

Você também não precisa realizar todas as ativida-des em horário de aula. Separe algum tempo de suas aulas para aplicar os exercícios que necessitam da sua presença, mas deixe que os grupos se organizem fora da escola, em horários alternativos, para desenvolver as atividades solicitadas por você. Esteja certo de que, para fazer um filme, a maior parte dos alunos irá se comprometer bastante.

Adapte o processo para o tempo de que você dis-põe para realizar a oficina.

MONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

Realizar O Filme Com Os Alunos

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O roteiro é um texto escrito que contém a história, a descrição das cenas e os diálogos do vídeo. Fique aten-to para as diferenças que existem entre escrever um roteiro de filme de ficção e um roteiro de documentário (para mais informações, acesse as oficinas virtuais de roteiro e de documentário no Portal Tela Brasil).

Segundo o antropólogo Claude Lévi-Strauss, a vida social, como a conhecemos hoje em dia, é fundada com o desenvolvimento de três características no ser humano:1. A capacidade de trocar uma coisa por outra (objetos por outros objetos, bens por outros bens, mercadorias por dinheiro);2. A troca de mulheres (isso mesmo, troca de mulheres; afinal, em determinado momento de sua evolução, o homem percebeu que não dava para ficar namorando a própria irmã, então, começou a emprestar sua irmã para namorar com outro e pegar a irmã do outro em-prestada para namorar);3. A troca de signos – o que significa troca de símbolos, tro-ca de informações, de experiências, conversa, bate- papo.

Contar histórias é um ato diretamente relacionado à capacidade humana de trocar símbolos. Ou seja, con-tar histórias é uma prática que o ser humano cultiva desde que nossa sociedade foi fundada.

Por meio das conversas e das histórias, o homem pôde aprender (e aprende até hoje) mais coisas sobre seu mundo, sua sociedade, seu semelhante e, claro, sobre si mesmo.

Nossos antepassados sentavam-se no chão, em volta de uma fogueira, para escutar histórias e refletir. Nossos contemporâneos sentam-se numa sala escura, diante de uma tela, e, durante uma hora e meia, assis-tem a um filme.

ROTEIROMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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Este exercício se destina à concepção da ideia e ao de-senvolvimento do roteiro do vídeo que será realizado pelos alunos durante a oficina.

Ofereça a seu grupo de alunos algum tempo para que se reúna e converse sobre ideias para o vídeo da turma. Acompanhe de perto. É importante que todos falem, apresentem suas ideias, seus temas favoritos, seus desejos de expressão. Por isso a mediação do pro-fessor: é preciso interferir para tentar trazer os alunos mais introspectivos para o debate.

Depois que todos derem sua sugestão, deve haver uma votação entre os alunos para que seja escolhido o tema do vídeo. Nesse momento é importante dei-xar claro que se trata de um vídeo de, no máximo, sete minutos (você pode adaptar o tempo do vídeo de acordo com suas possibilidades de tempo e estrutura para realizar a oficina. Você pode sugerir a produção de um videoclipe de dois minutos ou até a realização de um filme mudo de trinta segundos). Dessa forma, temas muito extensos e complexos podem não funcio-nar. Ideias também podem ser misturadas, criando um novo conceito para o vídeo. É fundamental chegar a um tema que agrade a maioria do grupo (agradar a to-dos é sempre difícil). Fica aqui uma dica: deixe sempre claro que a participação de todos é importantíssima para a realização do vídeo, que vale a pena embarcar na ideia escolhida pela maioria, que sempre há a pos-sibilidade de contribuir com o trabalho e com as críti-cas para realizar um filme melhor. Durante o processo você vai perceber que todos os alunos embarcarão na aventura de fazer o filme.

Caso o tema seja predefinido por você, ofereça aos alunos a possibilidade de inventar diferentes aborda-gens para o tema.

Durante a conversa dos alunos para definir o tema (ou a abordagem do tema), o papel do educador é

Escrevendo o Roteiro

PROPOSTA

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provocar e tentar compreender cada ideia, sempre respeitando o universo de referências e a experiência de vida de cada aluno. Um tema (ou uma forma de abordagem) nunca é de todo bom ou de todo ruim. Seu sucesso como filme depende de muita coisa que está além da ideia inicial. Por isso, o educador deve, antes de criticar, compreender cada ideia, cada tema, cada proposta narrativa e estética, fazendo aos alunos algumas perguntas como: por que você quer contar essa história ou fazer esse documentário (no caso do tema partir dos alunos)? De que maneira você preten-de contar essa história? Qual a relação desse tema com a sua vida? O que você sabe, exatamente, sobre esse tema? É preciso fazer uma pesquisa? Um vídeo sobre isso pode interessar a outras pessoas? Que mensagem você quer passar com essa história de ficção ou com esse documentário? É possível tratar esse tema, com essa abordagem, em sete minutos de vídeo (ou no tempo definido por você)?

Antes de tirar suas conclusões, o educador deve es-cutar cada aluno, cada justificativa, e tentar compreen-der seu conteúdo. Não esqueça: qualquer julgamen-to do tipo “esse tema/abordagem é muito ruim” ou “esse tema/abordagem é muito bom” é precipitado.

Depois de escolhida a ideia, o tema do vídeo e sua forma de abordagem, um ou dois alunos do grupo se-rão responsáveis pela escrita do roteiro. Todo o grupo deve participar da criação do roteiro, se reunindo fora do horário de aula, caso seja necessário, mas um ou dois alunos serão os redatores do roteiro. Fica como li-ção de casa desenvolver uma primeira versão do rotei-ro, que deverá ser apresentada à turma e ao educador no encontro seguinte.

A avaliação sobre a primeira versão do roteiro deve seguir os princípios de respeito e compreensão que pautaram a escolha do tema e da abordagem pelos

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ROTEIRO

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alunos. A partir daqui, o educador deve inserir ques-tões um pouco mais técnicas no debate com os alu-nos, pensando nas possibilidades práticas de realizar o filme. Não adianta, por exemplo, ter um bom roteiro que não possa ser filmado por falta de estrutura. Mas vale ficar atento: é sempre possível driblar a falta de estrutura com muita criatividade.

IMPORTANTE: Pense no cronograma que você desen-volveu para a realização da oficina. Dependendo do tem-po que você tem, sugira a reescrita do roteiro uma ou duas vezes.

ROTEIRO

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Comprar carne, comprar linguiça, frango, cerveja, re-frigerante, gelo, carvão; limpar a churrasqueira; lavar os espetos, as grelhas; levar o som, as mesas e as ca-deiras para o quintal; colocar o gelo no isopor, a cer-veja no gelo; ligar para galera. Essa pequena “lista de afazeres” é uma velha conhecida de quem já preparou um churrasco para os amigos.

Produzir um filme é mais ou menos como orga-nizar um churrasco: É preciso planejar e providenciar algumas coisas para que, na hora da festa, não falte bebida ou não acabe a carne, deixando os convidados com fome. No caso do cinema, podemos dizer que o ponto alto da festa é o set de filmagem e que o plane-jamento é essencial para não deixar faltar um rolo de filme, uma fita ou o figurino de um personagem, na hora de gravar.

Olhando de perto, percebemos que cada churrasco é um churrasco. O tamanho da organização dessa fes-ta varia de acordo com o dinheiro que temos no bolso e com a quantidade de convidados envolvidos. Com 100 reais, é possível comprar determinada quantidade de bebida e de carne. Quer dizer, se a ideia for matar a fome e a sede de todo o mundo, com esse valor, não adianta convidar 85 pessoas.

Então, é preciso repensar o churrasco: podemos convidar menos gente. Ou pedir a cada uma das 85 pessoas que traga bebida e carne. No final, o chur-rasco sai. Tudo se resolve com um bom planejamento.

Por incrível que pareça, há pessoas que fazem fil-mes com menos de 100 Reais. Há pessoas que fazem filmes sem dinheiro nenhum. Escrevem um roteiro, arrumam uma câmera emprestada, convidam alguns

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amigos, gravam em casa, montam no próprio compu-tador, colocam no Youtube e pronto.

Há pessoas que fazem filmes com 8 milhões de Reais. Contratam equipes enormes, trabalham com equipamentos de ponta, viajam para longe, filmando nas mais diversas locações, e finalizam o filme em alta qualidade, para passar nas maiores salas de cinema.

Cada um desses projetos é diferente e precisa de planejamentos diferentes. Mas, nos dois casos, a pro-dução – que faz esse planejamento – é essencial para não faltar bebida, fita, carne ou figurino na hora mais divertida e importante da festa.

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Com o roteiro pronto, é hora de viabilizar tudo que será necessário para realizar o vídeo. Junte seu grupo e, coletivamente, comece o processo de produção.

O tamanho da estrutura da qual seu grupo vai pre-cisar depende do tamanho do filme que vocês vão reali-zar. Mas, de maneira geral, os pontos a serem observa-dos para a viabilização do vídeo são sempre os mesmos.

No caso de um vídeo de ficção, seu grupo precisa se concentrar nos seguintes pontos:1. Quanto tempo estará disponível para a gravação do vídeo (uma tarde, um dia inteiro, duas tardes, dois dias inteiros)? A resposta a este item depende do tamanho do vídeo que você vai realizar. Analise o roteiro e, usan-do o bom senso, procure avaliar quanto tempo será ne-cessário para gravar. Um roteiro de sete páginas, com cinco personagens e seis locações diferentes, provavel-mente não poderá ser gravado em apenas um dia. Dois ou três dias seriam o tempo ideal. Por outro lado, um roteiro de três páginas, com apenas dois personagens e uma única locação, talvez possa ser gravado durante uma tarde, com planejamento e organização.

IMPORTANTE: Caso seu grupo decida gravar durante um ou dois dias inteiros, não se esqueça de planejar o transporte e a alimentação da equipe. Certifique-se de que todos os integrantes poderão passar o dia trabalhando e pense que eles precisam se alimentar adequadamente.

2. Quantas locações são necessárias para gravar o ví-deo (em quantos lugares diferentes a história se pas-sa)? Veja no roteiro os locais necessários para gravar a história. A partir daqui, caso as locações estejam fora da escola, você começa a depender da ajuda e da boa vontade de outras pessoas. Se o filme se passa no quarto, na sala, no banheiro e na cozinha de uma casa, por exemplo, é preciso conseguir essa casa. A quem

Produzindo O Vídeo

PROPOSTA

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PRODUÇÃO

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recorrer? Você vai emprestar sua casa para as grava-ções? Os alunos vão conversar com os pais para saber se podem utilizar a casa de um ou de outro aluno? Se parte do filme acontece numa padaria, por exemplo, é possível conversar com o dono do estabelecimento mais próximo e pedir autorização para gravar?

IMPORTANTE: É sempre possível repensar e adaptar as locações caso a ideia original seja inviável. Você também pode optar por realizar todo o vídeo dentro da escola, em horários alternativos aos das aulas. Com criativida-de, tudo se resolve.

3. Quantos personagens existem no filme? Quantos atores serão necessários? Quem serão esses atores? Os próprios alunos do grupo? Outros alunos, convi-dados pelo grupo? Pais, mães e professores? Amigos? Parentes? Os atores escolhidos poderão trabalhar com o grupo nos dias de gravação?

IMPORTANTE: Para que o grupo possa se concentrar na realização do filme, é mais indicado que os atores sejam pessoas de fora do grupo, convidadas para parti-cipar do vídeo.

4. Que objetos e figurinos são necessários para realizar o vídeo? Quem vai conseguir esses objetos e figurinos? (O grupo pode definir um aluno responsável pela dire-ção de arte do vídeo.)

IMPORTANTE: Mais uma vez, é preciso ficar atento à viabilidade daquilo que é proposto no roteiro. Com cria-tividade, força de vontade e colaboração, é sempre possí-vel driblar as limitações.

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No caso da realização de um documentário, as questões de produção são semelhantes. É preciso pla-nejar a quantidade de diárias de gravação e escolher as locações. Quanto aos personagens, não é necessário viabilizar a participação de atores, mas de pessoas de verdade que poderão dar seus depoimentos no filme. Objetos e figurinos se tornam secundários, visto que num documentário seu grupo estará mais preocupado em captar a realidade.

Converse com seus alunos sobre cada um dos pontos citados acima, mostrando a necessidade de organização do grupo para que o vídeo seja realizado. Proponha que os alunos, em grupo, partindo do roteiro, desenvolvam uma lista de necessidades para que o vídeo seja realiza-do. Peça ao grupo que discuta e indique uma ou duas pessoas para serem responsáveis pela produção. Assim como o roteiro, a produção deve ser de responsabilida-de de todo o grupo, mas um ou dois alunos deverão assumir o papel de produtores do filme.

Peça aos alunos que criem uma logística de traba-lho para que tudo seja produzido adequadamente até o dia da gravação.

IMPORTANTE: O produtor (ou os produtores) também deverá encabeçar o processo de planejamento das diárias de gravação, depois que o storyboard (consulte o item Fotografando e Dirigindo o Vídeo) estiver pronto.

Supervisione todo o processo, usando sua experi-ência para garantir a viabilidade da produção.

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Podemos observar a beleza do mar rapidamente, pas-sando pela orla de carro, ou falando ao telefone celular enquanto se caminha. Por outro lado, podemos sentar na areia e distinguir o formato das ondas. Perceber o barquinho longe que se move com o vento. Traçar um paralelo entre o movimento do barco e as nuvens que se espalham revelando o sol. Relacionar o céu e o mar contemplando os reflexos do sol na superfície da água.

Para o fotógrafo, a arte de suas imagens não nasce de uma cartilha de regras, mas da capacidade de con-templar, interpretar e representar as imagens da vida. Um artista que não conhece bem o mundo tem dificul-dade de usar uma caneta, um pincel ou uma câmera para representá-lo.

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIAMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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Este exercício propõe a observação de diferentes fontes de luz pelo olho humano e pela lente da câme-ra. Além disso, o exercício se destina a dividir com os alunos algumas funções básicas da câmera, afinal, o diretor de fotografia é, normalmente, quem opera a câmera no cinema.

Pode-se propor:– Levar para a aula algumas velas, um abajur (ou

qualquer outra fonte de luz elétrica de fácil operação) e uma folha grande de isopor.

– Observar, a princípio sem a câmera, como a luz de dentro da sala (com as janelas abertas e a lâmpada ligada) incide sobre o rosto de alguém. Observar com cuidado as sombras e as fontes de luz. Depois, observar o mesmo rosto, sob a mesma luz, através da câmera.

– Variar a luz da sala e repetir o mesmo processo, sempre observando sem a câmera e depois através da

Fotografan-do O Vídeo

PROPOSTA

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câmera: apagar a luz da sala e deixar as janelas aber-tas; fechar as janelas e deixar a luz acesa; apagar a luz, fechar as janelas e iluminar com o abajur. Ainda no escuro, iluminar com uma ou duas velas. Utilizar o isopor para rebater a luz de sua fonte.

– Sair da sala e fazer o mesmo exercício ao ar livre, usando a luz do dia.

IMPORTANTE: Procure utilizar nesse exercício fontes de luz que estão apontadas no roteiro, para fazer uma es-pécie de teste antes das gravações. Grave esse exercício e depois exiba as imagens para toda a turma, apontando as origens da luz e como ela incide sobre o objeto. Caso não seja possível gravar, use uma câmera fotográfica di-gital e tire retratos.

Caso o grupo utilize a câmera que será usada na gra-vação, enquanto grava o exercício procure ajustá-la para cada tipo de luz. Explique cada um desses comandos para sua turma (consulte o Vídeo Tutorial Tela Brasil 1).

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Um plano é o trecho de filme que começa quando a câmera é ligada e termina quando a câmera é desli-gada. Quer dizer, se ligo a câmera, e um personagem, com uma lágrima no rosto, diz “Vou pegar um táxi”, e desligo a câmera, tenho um plano. Se ligo a câmera, novamente, quando o personagem atravessa a rua, e desligo quando ele chega à calçada, tenho outro pla-no. Se ligo a câmera quando ele entra no táxi e desligo quando o táxi parte, tenho mais um plano.

Da mesma forma, se ligo a câmera, o personagem diz “Vou pegar um táxi”, se levanta, caminha na cal-çada, atravessa a rua, faz sinal para um táxi, entra no táxi, o táxi parte, e desligo a câmera, tenho um pla-no maior. Sabendo que uma cena é um conjunto de ações e/ou diálogos que acontecem num mesmo lugar e num mesmo tempo, podemos dizer que uma cena é formada por vários planos, ou por um mesmo plano que mostra vários acontecimentos. Simples assim.

O problema começa quando é preciso definir quando ligar e quando desligar a câmera e onde, exa-tamente, essa câmera precisa ser colocada para captar as ações desse personagem que vai pegar um táxi.

É muito importante que todo diretor faça um pla-nejamento daquilo que deseja filmar. Que chegue ao set sabendo (ou pensando que sabe) do que precisa, tendo uma ideia clara do que é a cena e de quais ima-gens precisará para contar a história.

Esse trabalho começa na leitura do roteiro, em que o diretor analisa a cena imaginando cada movimento, cada expressão, cada objeto que compõe o cenário, cada fala do personagem.

Vamos imaginar que nosso personagem do táxi é um rapaz que acaba de receber a notícia da morte do pai, a

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DIREÇÃOMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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quem não vê há muitos anos. Ainda confuso, ele se sen-ta no meio-fio e observa os carros que passam pela rua.

O desafio do diretor, nessa cena, é mostrar o mo-mento em que o personagem decide pegar um táxi e ir ao enterro do pai. Onde posicionar a câmera, afinal? Bem, se o personagem chora ao dizer “Vou pegar um táxi”, e se mostrar o choro é importante para gerar emoção na cena, então é preciso colocar a câmera próxima ao rosto do personagem.

Assim, se é importante que o público veja a lágri-ma caindo, de que adianta uma câmera que mostre somente os carros que passam na rua? Por mais bonita que possa ser uma imagem de cima de um prédio, mostrando a rua movimentada lá em baixo, de que ela vale se não captou a lágrima de nosso personagem, se não foi capaz de transmitir sua emoção para quem assiste ao filme?

As posições de câmera e seus movimentos sempre es-tão em função do contexto e/ou do sentimento da cena. Se a imagem se aproxima de um rosto ou de um objeto, é porque ali existe algo importante para ser mostrado.

Um diretor não escolhe apenas a imagem mais bo-nita, escolhe a maneira mais bonita de contar a história que precisa contar, de passar o sentimento que deseja passar. Um plano simples, mas forte simbolicamente, que contribui com a narrativa, vale mais que mil planos lindíssimos e vazios de significado no contexto do filme.

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Peça ao grupo que escolha duas ou três pessoas que sejam responsáveis pela direção e pela direção de foto-grafia do vídeo. Sempre deixe claro que o diretor não terá plenos poderes sobre o vídeo, mas que tudo será decidido coletivamente. Sua condição de diretor está relacionada a desempenhar determinadas funções para que o vídeo fique legal. Não há relação de poder do diretor com o grupo.

O diretor de fotografia será o operador de câmera no set de filmagem.

IMPORTANTE: Caso seu grupo vá utilizar um microfone externo ao da câmera, este também é o momento de indi-car um técnico de som, que vai operar o microfone no set.

Dê algum tempo para que o grupo se reúna para decupar o filme. Na decupagem, a equipe deve ler o roteiro e definir como cada cena escrita será transfor-mada em imagem.

Essa transposição do roteiro escrito para a imagem deve ser feita através da criação de um storyboard.

O storyboard consiste na prévia visualização dos planos que serão utilizados no filme através de de-senhos ou fotografias. Nele são indicados os enqua-dramentos e os movimentos de câmera que o grupo pretende realizar no dia da filmagem para contar a história do roteiro (consulte o exercício de linguagem 1). Peça ao grupo que desenvolva o storyboard de to-das as cenas do roteiro.

IMPORTANTE: Caso queira propor um exercício mais dinâmico para a realização do storyboard, sugira que os alunos representem todas as cenas do roteiro e registrem tudo com fotografias. Para desenvolver o storyboard com fotografias não é necessária a presença dos atores, nem a utilização de figurinos ou cenários. Os próprios

Dirigindo o Vídeo

PROPOSTA

DE ATIVIDADE

DIREÇÃO

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integrantes do grupo podem substituir os atores. O story-board é o planejamento do que será realizado estetica-mente no set de filmagem.

Você pode optar por desenvolver o storyboard com o grupo ou pedir que esse trabalho venha pronto num próximo encontro. Ao analisar o storyboard feito pelo grupo, procure questionar as escolhas estéticas, pen-sando na função de cada plano para contar a história que o roteiro propõe. Não parta de julgamentos do tipo “este plano é muito feio” ou “este plano é muito bonito”. Tente compreender as escolhas do grupo e, ao mesmo tempo, provocá-lo para que cada escolha tenha algum objetivo ou exija alguma reflexão.

IMPORTANTE: Antes e durante o desenvolvimento do storyboard, você pode pedir aos alunos que procurem (em outros filmes, videoclipes ou programas de TV) referên-cias para a estética do vídeo. Você também pode sugerir referências, levando trechos de obras audiovisuais para que os alunos assistam e pensem a respeito. Esteja sem-pre aberto para receber as referências trazidas pelo grupo.

Com o storyboard feito, seu grupo está quase pronto para o grande momento: o set de filmagem.

DIREÇÃO

Proponha mais um encontro com o grupo para que to-dos se certifiquem de que o planejamento para o set está bem encaminhado. Coloque em pauta nessa reunião:1. Todas as locações estão de pé? 2. Tudo está certo com os atores para as diárias de gra-vação? Os atores já receberam o roteiro para estudar a história, o personagem e os diálogos antes do set?3. Objetos que constituirão o cenário e figurinos estão em ordem?

Antes da Gravação

PROPOSTA

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DIREÇÃO

4. Tudo está certo com o equipamento que será utilizado?5. O storyboard está pronto?6. Tudo está certo com as funções que foram divididas entre os integrantes do grupo?7. Caso o grupo decida passar um ou dois dias inteiros gravando, tudo está certo com o transporte e com a alimentação de todos os integrantes?8. Caso as gravações aconteçam em mais de uma loca-ção, como será realizado o transporte da equipe, dos atores e do equipamento para cada locação?9. Em que horário cada integrante do grupo e cada ator precisa estar presente no set de gravação?10. O planejamento de trabalho para o dia de grava-ção está pronto?

IMPORTANTE: No cinema, a gravação das cenas não é feita na ordem em que elas aparecem no roteiro. A ordem da gravação respeita critérios relacionados à lo-gística de produção. Dessa forma, se uma locação que aparece no final do roteiro só pode ser usada pelo grupo na manhã da primeira diária de gravação, a última cena do roteiro será a primeira a ser gravada. Caso o planejamento não esteja pronto, ofereça algum tempo para que o grupo trabalhe nisso antes de ir para o set. Você deve supervisionar esse trabalho usando seu bom senso e percebendo o que é viável e o que é inviável nes-se planejamento. Gravar uma cena muito longa, cheia de planos, em apenas uma hora, pode ser inviável. Talvez sejam necessárias adaptações no planejamento, no storyboard ou no próprio roteiro para que o grupo consiga realizar a gravação.

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DIREÇÃO

Chegou o grande dia!O mais indicado é chegar ao set com tudo resolvido

e planejado, para que o processo de gravação se de-senvolva de maneira fluída, gostosa e divertida.

Neste momento, cada integrante do grupo deve se concentrar na sua respectiva função, definida duran-te a oficina. Isso não significa “bitolar” os alunos. Ao contrário, todos devem continuar dialogando e encon-trando consensos. Mas é fundamental que, na prática, cada uma das funções seja bem realizada.

IMPORTANTE: Não esqueça (e não deixe os alunos es-quecerem) que o cinema é uma arte coletiva e que ne-nhuma função é mais importante que outra. Todas as funções precisam ser realizadas com empenho e criativi-dade para atingir o grande objetivo comum: fazer o vídeo.

No nosso caso, o set também é o lugar para que o grupo se preocupe com o desempenho dos atores. O grupo pode discutir a respeito, mas o contato direto com os atores deve ser realizado somente pelo diretor. Isso evita transformar o set e a cabeça dos atores numa grande confusão.

IMPORTANTE: Você vai perceber que, por mais perfei-to que seja o planejamento do grupo, alguns problemas aparecem no set durante a gravação. Não culpe os alu-nos nem culpe a si mesmo. Isso é absolutamente nor-mal, em qualquer tipo de produção audiovisual. Com jogo de cintura e criatividade, procure conduzir os alunos na solução desses problemas. Não se preocupe demais com o resultado final do vídeo. Pense, sempre, no que pode aproveitar do processo. Potencialize a criatividade de seus alunos e invista nas relações pessoais como for-mas de solucionar os problemas. Tente transformar o set numa espécie de “microcosmo da vida”.

Durante a Gravação

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DIREÇÃO

Se o processo da oficina for intenso e rico, você vai perceber que, para os alunos, as vivências ao realizar o trabalho serão muito mais marcantes que o produto final, que é o vídeo em si.

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No corredor de um hospital, um homem caminha de um lado para o outro. Pega, no bolso da calça, uma caixa e chicletes. Coloca um chiclete na mão. Guarda a caixa no bolso. Com a mão muito trêmula, coloca o chiclete na boca. Mastiga.

Pessoas que não estão muito habituadas às téc-nicas da linguagem cinematográfica assistem a essa cena atentas ao contexto, vivenciando a ansiedade, o nervosismo, com o personagem: ele é um homem in-quieto, que caminha num hospital e treme ao colocar um chiclete na boca.

Do outro lado da tela, o montador que trabalhou nessa cena pensou assim: “Bem, precisamos mos-trar que esse homem está num corredor de hospital. Então, vamos ver... esse plano aqui, mais aberto, em que o personagem aparece de corpo inteiro e, na pa-rede, vemos um cartaz com o rosto de uma enfermei-ra. Pronto, mostramos o homem num hospital. Agora, bom... Ele pega a caixa e chicletes. Ok. Nesse mesmo plano, ele caminha de um lado para o outro. Sim, ele está nervoso. Ah, veja só, temos aqui um plano bem fechado, em que vemos apenas sua mão trêmula colo-cando o chiclete na boca. Vou fazer o seguinte: deixar em plano aberto até ele aproximar a mão da boca. Depois corto para esse plano fechado em que vemos apenas sua mão, muito trêmula, jogando o chiclete na boca. Legal. Isso, sem dúvida, mostra com clareza que ele está nervoso”.

Num filme em que vemos duas pessoas conver-sando, geralmente não prestamos atenção nos cortes que nos levam de uma pessoa para outra. Uma delas fala, e é ela que nós vemos. A outra fala, nós passa-mos a vê-la. A outra pessoa reage, vemos sua reação.

MONTAGEMMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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Assistimos com a maior naturalidade do mundo a uma conversa entre duas pessoas como se estivéssemos presentes no lugar e pudéssemos mover nossa cabeça, mudando o foco de nosso olhar.

Bem, é exatamente para isso que existe o montador de cinema: para pontuar o que é mais importante mos-trar ou não mostrar numa cena; Para escolher a melhor hora de passar informações ao espectador, para dire-cionar a leitura do filme, para manipular o tempo, para analisar o material que foi captado, conduzir o olhar de quem assiste e fazer um filme melhor ainda.

Depois da gravação, é hora de montar o vídeo.Peça ao grupo que escolha um ou dois integrantes

como montadores. O ideal é que um desses monta-dores seja capaz de operar o programa de montagem que será utilizado. Caso nenhum dos alunos saiba operar o programa, o professor deve operar ou con-vidar alguém (outro aluno da escola, outro professor) que saiba manipular o programa.

IMPORTANTE: Programas de edição simples, como o Windows Movie Maker, não são complicados. Perguntando para a turma, você vai descobrir que mui-tos alunos já conhecem e operam esse programa. Caso contrário, consulte o Vídeo Tutorial Tela Brasil 2.

Apesar de escolher um ou dois alunos para con-duzir a montagem, todo o grupo deve participar des-sa etapa também. Você pode optar por deixar todo o grupo reunido enquanto os montadores trabalham, abrindo espaços para debates e ideias, ou deixar que os montadores trabalhem sozinhos, montando versões para o vídeo e marcando horários específicos para que todo o grupo assista e discuta.

Montando o Vídeo

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MONTAGEM

Na montagem, o primeiro passo é criar uma versão do vídeo tendo o roteiro como guia. Sugira que o grupo leve o roteiro para a ilha de edição e monte o material exatamente na ordem sugerida pelo roteiro. Depois desse primeiro corte, o grupo deve assistir à versão e sugerir outras possibilidades de montagem.

Guardando sempre a versão anterior, deixe o grupo criar à vontade, experimentando outras maneiras de montar o material, mesmo que, a princípio, não exista uma relação direta com o roteiro. Deixe solta a criativi-dade do grupo para escolher músicas, inserir ou retirar trechos do vídeo.

IMPORTANTE: É preciso determinar um tempo de tra-balho também para a montagem (uma tarde, duas tar-des, um dia inteiro, dois dias inteiros). Use o bom senso para determinar esse tempo, lembrando que ele pode variar de acordo com o tamanho do vídeo que o grupo está realizando.

Dentro do prazo, o grupo pode experimentar, brin-cando com a linguagem cinematográfica,. Montar o quebra-cabeça de imagens e sons que formam um fil-me pode ser uma experiência lúdica e muito rica.

Durante a montagem, procure agir da mesma for-ma que você agiu na composição do roteiro, nos pla-nos de produção, na criação do storyboard e no set de gravação. Fique atento às escolhas do grupo e incenti-ve a reflexão e o debate, mediando o processo. Traga questões relacionadas à forma de contar a história, à mensagem que o filme vai passar, ao tempo de dura-ção do vídeo e à sua estética.

Caso o grupo depare com problemas durante a montagem, como a falta de planos para contar a his-tória, não aponte culpados. Levante a questão para o grupo, que deve discutir e descobrir onde poderia ter

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trabalhado melhor. Erros e acertos fazem parte do pro-cesso e devem ser compartilhados.

E o vídeo está pronto. Parabéns para todos os realizadores.

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É hora de pensar na exibição do vídeo.Esse momento representa muito para toda a equi-

pe, por isso é fundamental realizar a exibição, abrindo--a, se possível, para todos os alunos, professores da escola e familiares.

Antes dessa grande exibição, no entanto, marque uma sessão exclusiva com o grupo de realizadores.

O grupo deve assistir ao vídeo duas vezes: uma, de maneira livre e solta, deixando espaço para gargalhadas e comentários. Outra, em silêncio e com mais atenção.

Depois da exibição, você deve conduzir um deba-te sobre o tema do vídeo e sobre o seu processo de realização.

Se você sugeriu o tema, este pode ser um bom mo-mento para falar mais sobre isso com a turma, além de conhecer melhor o ponto de vista dos alunos.

Se você não sugeriu o tema, é uma ótima oportu-nidade para conversar sobre os motivos que levaram o grupo a escolher tal tema.

Nos dois casos, esse também é o momento para fazer um balanço de todo o processo, refletindo so-bre o trabalho em grupo, sobre o convívio entre os integrantes da equipe, sobre as soluções que nasceram coletivamente, sobre o que foi planejado e o que foi de fato realizado.

Novamente, procure agir como mediador. Deixe que a avaliação parta dos próprios alunos. Você vai se sur-preender bastante com o resultado dessa autoavaliação.

QUANDO O VÍDEO ESTÁ PRONTOMONTAR UMA OFICINA DE VÍDEO NA ESCOLA

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introdução A exibição é uma etapa fundamental do processo cine-matográfico – ela é a responsável direta por promover o encontro da obra audiovisual com o seu público.

Nos primórdios do cinema, os filmes tinham exibi-ção ambulante, em feiras de variedades, circos e ca-barés, geralmente como atrações complementares. Em pouco tempo, o cinema ganhou autonomia e passou a ser exibido em salas exclusivas.

Até os anos 1950, o cinema, como entretenimento, só concorria com o rádio. Por isso, assistir a filmes em luxuosas salas foi uma das maiores diversões de nossa sociedade. Hoje em dia, no entanto, é cada vez mais difícil separar o cinema das outras artes audiovisuais, e a exibição passou a ser feita pelas salas de cinema, pela TV, DVDs, internet, telefones celulares e aparelhos MP4.

Nessa época em que uma enxurrada de imagens in-vade nosso olhar indiscriminadamente e em que o aces-so a qualquer conteúdo é bastante fácil, a escola pode assumir o importante papel de mediadora na relação de crianças e jovens com a linguagem audiovisual.

Além de levar filmes para dentro da sala de aula, de assistir e debater cinema apenas com sua turma, você pode encontrar seus alunos numa sala de exibição, na qual outros alunos, professores e convidados especiais vão assistir juntos a uma obra audiovisual, mantendo vivo o “ritual” de ir a uma sala de cinema.

Para viver esse “ritual” na sua escola e oferecê-lo a seus alunos, você pode montar um cineclube.

Um cineclube também ajuda a resolver alguns problemas práticos, como a dificuldade de tempo para exibir filmes inteiros durante as aulas. Com uma

Montar um Cineclube na Escola

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programação frequente (em horários alternativos), muitos professores e alunos, de diferentes disciplinas e anos, poderão tirar proveito do conteúdo de filmes.

Neste fichário você vai conhecer o cineclube um pouco mais de perto. Lembre-se de que você pode en-contrar muitas sugestões de atividades para realizar no cineclube de sua escola nos fichários Trabalhar o con-teúdo de filmes em sala de aula e Montar uma oficina de cinema na escola.

Por fim, é importante ressaltar que você pode criar um gostoso espaço de convívio e cultura abrindo as portas de sua escola para toda a comunidade através de um cineclube.

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O cineclube é uma reunião de pessoas que têm como objetivo assistir a filmes e debatê-los. Há muitos anos o cineclube reúne, em salas do mundo todo, milhões de apaixonados pela sétima arte.

Louis Delluc e Riccioto Canudo, pesquisadores da estética do cinema, foram os criadores do primeiro ci-neclube, nos anos 1920. Na época, a proposta era exi-bir somente filmes considerados “de alto grau artísti-co” e debatê-los. Da sua criação até o fim da Segunda Guerra Mundial, os cineclubes só eram frequentados por uma elite intelectualizada. Depois da guerra, a França assumiu o movimento cineclubista como parte de sua política de reconstrução identitária e cultural, popularizando o cineclube.

Até hoje, os cineclubes exibem filmes que, normal-mente, não estão em cartaz no grande circuito. Sua programação nunca é organizada com o objetivo de gerar lucro. Os objetivos que predominam são conser-var e difundir a cultura cinematográfica, gerar refle-xões e debates sobre o cinema e sobre a sociedade.

Antigamente, os cineclubes exibiam cópias em pe-lícula, fato que os aproximava das grandes salas de exi-bição. Hoje, a maior parte dos cineclubes exibe DVDs. Por isso, é cada vez mais fácil montar um cineclube e organizar pequenas exibições.

O QUE É UM CINECLUBE

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MONTAR UM CINECLUBE NA ESCOLA

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Antes de pensar na programação, nos convidados e nos debates de seu cineclube, é preciso pensar na infraestrutura.1. O primeiro passo é conseguir um local para realizar suas sessões. Nem todo cineclube tem locais fixos de exibição, mas o ideal é que você consiga uma sala da escola que possa usar frequentemente. Caso isso não seja possível, você pode marcar a sessão e montar a estrutura de exibição no local disponível na data.

Se sua escola conta com um auditório, tente insta-lar ali o cineclube. Isso vai facilitar bastante sua vida.2. Consiga um projetor multimídia, um telão e um apa-relho de DVD (ou um laptop) para projetar os filmes. Se a escola não tiver esses equipamentos disponíveis e você não conseguir por outros meios, utilize a boa e velha TV. Nesse caso, lembre-se de que você precisa limitar a quantidade de pessoas presentes na sala para que todos possam assistir satisfatoriamente ao filme.3. Utilize o sistema de som da escola (uma mesa de som, um amplificador e duas caixas de som). Caso a escola não disponha desse equipamento, um aparelho de som caseiro, com as saídas auxiliares necessárias, pode resolver o seu problema.

O som é um elemento muito importante para a sala de cinema. Usar caixinhas pequenas ou o alto-fa-lante da TV pode inviabilizar a exibição do filme para o público de seu cineclube.

IMPORTANTE: A direção da escola deve ser simpática à ideia e compreender a importância do cineclube. Isso fa-cilita a negociação para a infraestrutura e a divulgação.

A INFRAESTRUTURA

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Crie uma “diretoria” para o cineclube, formada por professores e alunos – de preferência, que gostem de cinema.

Essa “diretoria” vai definir, de maneira democráti-ca, questões relacionadas ao funcionamento do cine-clube e à sua programação.

As primeiras definições importantes devem ser: 1. Qual o nome do cineclube?2. Qual a periodicidade da programação? Quantas ses-sões serão realizadas por mês? Quatro (uma por sema-na)? Duas (uma a cada quinze dias)? Uma?3. As sessões serão abertas somente para alunos e pro-fessores ou para familiares e comunidade também? 4. O que fazer para dar um “clima” de cinema à sala de exibição? Decorá-la? Tocar músicas antes do come-ço do filme? 5. Como será feita a divulgação do cineclube: por meio de cartazes na escola e na comunidade? Por meio de um blog?6. Que tipo de evento pode ser realizado para marcar a inauguração do cineclube? Uma festa? A presença de um convidado especial? A exibição de um filme específico?

IMPORTANTE: Por tratar-se de uma experiência demo-crática, a escolha dos filmes e mostras deve ser feita co-letivamente. Além de promover o diálogo entre alunos e professores, quebrando a hierarquia, o cineclube estimu-la que os alunos organizem uma atividade interessante na escola e se vejam envolvidos em questões que contri-buem para seu amadurecimento político.

A DIRETORIAMONTAR UM CINECLUBE NA ESCOLA

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Reúna a diretoria e, de acordo com a periodicida-de definida para as sessões, comece a desenvolver a programação.

Os filmes podem ser escolhidos baseando-se em inúmeros critérios, que variam de acordo com o de-sejo e a necessidade de sua escola e dos alunos.

É possível realizar “Mostras de Cinema”: durante quatro, cinco ou dez sessões, o cineclube pode exi-bir filmes de um mesmo diretor, filmes ambientados num mesmo período histórico ou filmes que tratem de temas semelhantes. Exemplo: Mostra Woody Allen; Mostra Ditadura Militar no Brasil; Mostra Direitos Humanos.

Também é possível propor temas para sessões únicas, de acordo com matérias que estão sendo vistas pelos alunos ou com assuntos que estão em pauta no noticiário.

IMPORTANTE: O repertório cultural e cinematográfi-co se constrói aos poucos, e isso vale tanto para alunos como para professores. Vale a pena escolher uma perio-dicidade para as exibições do cineclube que a equipe res-ponsável tenha fôlego para executar.

Em caso de dúvidas, consulte o fichário Trabalhar o conteúdo de filmes em sala de aula para exemplos de como escolher os filmes que serão exibidos e os deba-tes e as atividades que serão realizados.

IMPORTANTE: Sessões do cineclube podem ter a parti-cipação do professor ou não. A escola deve se encarregar de que exista, sempre, um mediador preparado para o debate. Grêmios escolares podem ter no cineclube uma

A PROGRAMAÇÃOMONTAR UM CINECLUBE NA ESCOLA

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atividade bastante agregadora e alguns professores ou personalidades amigas devem ser convidadas para uma mesa de debates ao final do filme exibido.

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Para que um cineclube seja um cineclube, é fundamen-tal que haja um debate depois da exibição do filme.

Esse debate pode ser realizado entre alunos e pro-fessores ou pode contar com a presença de um convi-dado especial.

É sempre muito enriquecedora para o grupo a presença de debatedores especialistas, que venham compartilhar sua visão de mundo. Tente, sempre que possível, trazer convidados.

Você pode, por exemplo: convidar um psicólogo para debater o filme Juno; convidar um sociólogo para conversar sobre Ladrões de Bicicleta; ou, se quiser abordar o cinema como linguagem, pode convidar um cineasta para um bate-papo ou para desenvolver algu-ma atividade com a turma.

IMPORTANTE: O cineclube pode criar um hábito muito saudável, o de compreender que o filme vai muito além do entretenimento. Existe hoje uma ideia de “consumo” de filmes, que são vistos e rapidamente esquecidos. Com um debate ou atividade após o filme, há uma valoriza-ção, uma “qualificação” da experiência cultural.

Cuide para que os debates não sejam muito longos e cansativos. O convidado pode ter um tempo limitado para expor seus pontos de vista (algo em torno de 20 minutos, por exemplo). Depois da fala do convidado, abra espaço para perguntas do público, que também devem respeitar um tempo de duração (40 minutos, por exemplo).

O DEBATEMONTAR UM CINECLUBE NA ESCOLA

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IMPORTANTE: O cineclube também pode ser um es-paço para exibir filmes realizados por seus alunos (con-sulte Como montar uma oficina de cinema na escola). Mantenha também sempre as portas abertas para rece-ber vídeos de artistas da comunidade. Exiba os filmes e convide esses artistas para o debate.

Aproveite a “badalação” do cineclube da escola para sugerir a criação de um blog, que deve ser ad-ministrado e alimentado de conteúdo pelos próprios alunos. Com muita liberdade, eles podem descobrir no blog um espaço para prosseguir debatendo temas abordados em sessões do cineclube.

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IdealizaçãoLaís Bodanzky e Luiz Bolognesi

Concepção do Conteúdo PedagógicoHenry Grazinoli

TextosHenry Grazinoli e Cláudia Mogadouro

Consultoria PedagógicaCláudia Mogadouro

ProduçãoTânia Magalhães

Assistência de ProduçãoJe�erson Barbosa

RevisãoAssertiva Produções Editoriais

Projeto gráfi co e Diagramaçãoamatraca desenho gráfi co

CRÉDITOS

Realização

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OBSERVAÇÕES

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