Cartilha Oficina 1

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Quintais Agroecológicos Um caminho para a segurança alimentar na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro CARTILHA OFICINA I: Cuidando da terra do quintal agroecológico Autoras: Ana Paula Pegorer de Siqueira Engenheira Agrônoma Lucia Helena Maria de Almeida - Engenheira Agrônoma Marcia Lie Ayukawa- Engenheira Agrônoma Rio de Janeiro Dezembro de 2011

Transcript of Cartilha Oficina 1

Page 1: Cartilha Oficina 1

Quintais Agroecológicos

Um caminho para a segurança alimentar na

Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro

CARTILHA

OFICINA I: Cuidando da terra do quintal agroecológico

Autoras:

Ana Paula Pegorer de Siqueira – Engenheira Agrônoma

Lucia Helena Maria de Almeida - Engenheira Agrônoma

Marcia Lie Ayukawa- Engenheira Agrônoma

Rio de Janeiro

Dezembro de 2011

Page 2: Cartilha Oficina 1

Apresentação

Temos a satisfação de compartilhar com vocês algumas palavras sobre o projeto Quintais

Agroecológicos: Um Caminho para Segurança Alimentar na Região Serrana do Estado do

Rio de Janeiro.

KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço em parceria com a articulação internacional

ACT Aliança, tem atuado na Região Serrana desde fevereiro de 2011, após a terrível catástrofe

das enchentes e deslizamentos de terra de janeiro, quando centenas de famílias tiveram perdas

humanas e materiais. Desde então, nossos planos incluíam também atividades para apoiar a

reabilitação da agricultura na Região, porém não tínhamos os recursos financeiros necessários

para tanto.

KOINONIA teve a oportunidade de apresentar este projeto, Quintais Agroecológicos: Um

Caminho para Segurança Alimentar na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, ao Banco

Canadense de Grãos Alimentícios, em junho de 2011. Isso foi possível através de outra

importante parceria com a Igreja Unida do Canadá. O Banco Canadense de Grãos

Alimentícios trabalha com ajuda alimentar, segurança alimentar e nutrição. Assim, depois de

quatro meses, entre elaboração, solicitação e aprovação - o projeto Quintais Agroecológicos foi

aprovado em agosto de 2011 e se estenderá até março de 2012.

Para o bom desenvolvimento desse projeto, contamos com uma equipe de três Engenheiras

Agrônomas: Ana Paula Pegorer, coordenadora de campo, Lucia Helena Almeida, Marcia Lie

Ayukawa e, na assistência administrativa ao projeto, Cecília Kastrup. Contamos ainda com

outras pessoas da administração de KOINONIA em funções ligadas à contabilidade do projeto.

Contamos também com parceiros que são a Associação Agroecológica de Teresópolis, a

Secretaria de Agricultura de Teresópolis, o Ibelga, o CIA Francisco Lippi , a Emater-Rio, a

Pesagro-Rio, a UFRRJ, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Embrapa

Agrobiologia, o Movimento Camponês Popular.

Após dois meses de sensibilização e mobilização das famílias a serem beneficiadas pelo

projeto, chegamos a este momento de iniciar as oficinas de capacitação dos agricultores e das

agricultoras. Esperamos que as oficinas e o projeto como um todo contribuam com melhorias

nas suas vidas!

Que a aprendizagem prática de ter um quintal agroecológico possa contribuir para que

tenham segurança alimentar, mais saúde e, muito mais, uma agricultura compatível com a

preservação e restauração do meio-ambiente. A manutenção da vida na Terra está também em

nossas mãos!

Um abraço,

Marilia Schüller - Coordenadora do Projeto

Page 3: Cartilha Oficina 1

As Cartilhas

As cartilhas que os participantes do projeto Quintais Agroecológicos receberão têm o

objetivo de servir de guia com algumas informações a respeito dos temas que serão discutidos

em cada uma das quatro oficinas que realizaremos entre dezembro de 2011 e março de 2012!

Temas das cartilhas:

Cuidando da terra

Cuidando das plantas

Cuidando da alimentação e da saúde

Cuidando do excedente de produção do quintal

Nesta primeira cartilha, Cuidando da Terra, falaremos sobre o quintal, os solos

tropicais, como manter o solo vivo e saudável, adubos orgânicos, adubos verdes e informações

sobre como preparar o composto vegetal chamado Bokashi, que será a atividade prática desta

Oficina 1.

Esperamos ter bons momentos de troca de conhecimentos que servirão para uso nos

quintais e nas áreas de lavoura!

Page 4: Cartilha Oficina 1

A Importância do Quintal Agroecológico

Geralmente chamamos de quintal aquela área ao redor da casa onde temos plantas de

diversos tipos e que servem para muitas coisas como: enfeitar o terreno com o colorido das

flores, fazer remédios com as ervas medicinais, alimentar a família e os pequenos animais,

enfim é o espaço de convívio da família!

O quintal é o guardião de preciosos conhecimentos, que são passados de geração em

geração!

Muitos de nós cuidamos das plantas dos quintais sem usar adubos químicos ou

agrotóxicos usando soluções caseiras que aprendemos com os nossos pais, avós ou vizinhos e

esse conhecimento é de muito valor para a preservação das próximas gerações de pessoas e da

própria natureza!

A seguir falaremos de alguns pontos importantes para implantação dos quintais

agroecológicos.

Localização

Devido à necessidade de produzir em grande escala, muitas famílias perderam esse

espaço de quintal perto da casa, mas podem cultivar essas plantas para a sua alimentação em

outras áreas, lembrando que as margens dos rios e beiradas de encostas com risco de

desabamento não são apropriadas para a instalação de um quintal agroecológico!

Caso você precise cultivar num terreno inclinado, deve plantar no sentido inverso ao da

descida da água, para evitar erosão, perda de nutrientes e de água!

A água

A água é a fonte da vida e um elemento muito importante no quintal. Ela deve existir em

quantidade suficiente para as plantas crescerem sadias! A falta ou o excesso de água podem

tornar as plantas mais sensíveis ao ataque de pragas e doenças!

Outro fator importante é que a água deve ser de boa qualidade sem contaminação por

micróbios ou resíduos de agrotóxicos!

Iluminação

No nosso projeto serão distribuídas mudas e sementes de hortaliças, flores e temperos

que, na maioria dos casos, precisam de muita luz, por isso devemos evitar cultivá-las em áreas

Page 5: Cartilha Oficina 1

muito sombreadas. Caso existam árvores sombreando, podemos adotar a prática da poda,

raleando a sua copa.

O tamanho do quintal

Uma família de quatro pessoas pode se beneficiar com alimentos, remédios e temperos

produzidos em quintais de no mínimo 250 metros quadrados, ou seja, 25 metros de largura por

10 de comprimento. Nesse espaço é possível que plantas de diferentes espécies se desenvolvam

de forma harmoniosa!

O ideal é que o espaço dedicado ao cultivo no quintal seja separado das áreas de lavoura.

Uma boa solução para delimitar esse espaço é o uso de plantas de porte mais alto (milho, feijão

guandu, dentre outras) que possam formar uma cerca-viva ao redor da área do quintal.

Esta cerca-viva serve também de barreira contra o vento e protege esse espaço de animais

que se aproximem e diminui o impacto de agrotóxicos que podem se espalhar com o vento.

Moramos num país tropical

Vamos dar uma pequena pausa nos comentários específicos sobre os quintais para falar

um pouco de como devemos cuidar da terra em lugares de clima tropical, independente do

tamanho da área cultivada.

O clima tropical é o predominante no Brasil. No caso da região serrana fluminense, ele se

caracteriza por ter verões mais brandos e chuvosos do que em outras regiões do Estado e do país

e invernos moderadamente frios e secos.

Vento forte

Vento forte

Vento fraco

Vento fraco

Page 6: Cartilha Oficina 1

Existem seis pontos fundamentais para o sucesso no manejo agroecológico da terra

em clima tropical. Vejamos quais são:

1- Uso periódico de matéria orgânica na superfície da terra para deixar ela fofa;

2- Manter a camada fofa na superfície - não arar ou gradear profundo, diminuir o uso de

rotativa, fazer plantio direto;

3- Proteger a superfície da terra contra o sol direto, o aquecimento e o impacto da chuva – fazer

cobertura viva (com adubo verde ou com o mato) e cobertura morta (palhas, folhas e

capins);

4- Diversificar a vegetação para diversificar a vida da terra - plantas cultivadas em consórcio e

fazer rotação de culturas;

5- Plantar variedades rústicas e adaptadas à terra e ao clima ou usar os micronutrientes

deficientes para garantir a saúde das plantas;

6- Proteger as plantas e a terra contra o vento (plantando barreiras);

7- Usar as máquinas de forma cuidadosa e o mínimo possível.

A terra tem vida

A terra do quintal é formada por pequenas partículas que ao longo de milhares de anos

foram se decompondo e se transformando em areia e argila, além de restos de plantas, bichos, ou

seja, materiais orgânicos que se decompõem em contato com a terra, a água, o ar e a luz!

Os seres vivos que vivem na terra e a ela dão vida são muito importantes. Tanto podem

ser pequenos animais que conseguimos enxergar (minhocas, gongolos e outros bichinhos)

quanto podem ser bactérias e fungos, seres que não conseguimos enxergar sem a ajuda de um

microscópio. São chamados de microrganismos.

+ + =

Partículas do

solo

Matéria

orgânica

Seres

vivos Solo

Page 7: Cartilha Oficina 1

Na maior parte das vezes esses pequenos animais e microrganismos (que são em muita

quantidade) habitam a camada mais superficial da terra e é por isso que esta é a camada que

contém a maior quantidade de matéria orgânica.

Os seres vivos do solo têm um papel importantíssimo. Eles deixam a terra mais fofa,

arrumando de forma ideal suas partículas e ainda se alimentam da matéria orgânica semi-

decomposta (restos de animais e plantas apodrecidos).

Os microrganismos aceleram a quebra da matéria orgânica e as suas fezes e resíduos

compõem um material precioso e de qualidade, pronto para servir de alimento para as plantas.

Como se pode perceber, a existência desses organismos é fundamental. No entanto, é

importante que eles estejam em equilíbrio, ou seja, nenhum dos organismos deve prevalecer

sobre os outros. O desequilíbrio faz com que alguns seres se tornem indesejáveis nos cultivos.

As práticas agrícolas

Vamos falar um pouco mais detalhadamente sobre alguns daqueles seis pontos

fundamentais para o sucesso no manejo agroecológico da terra em clima tropical através de

práticas agrícolas fáceis de seguir.

A proteção da terra com cobertura viva ou cobertura morta

O consórcio de plantas

A rotação de culturas

A adubação orgânica

Não devemos matar a vida que existe na terra!

Por isso é importante alimentarmos e mantermos os

microrganismos e os pequenos animais que vivem

nela.

Os adubos químicos e os agrotóxicos

contribuem para diminuir as populações desses seres

vivos e assim a terra fica com menos vida!

Page 8: Cartilha Oficina 1

Protegendo a terra

Devemos proteger a terra contra o aquecimento e a seca e contra o impacto das chuvas

para que não se formem camadas duras na parte superficial e na outra camada que fica logo

abaixo desta. Para tanto, podemos seguir as recomendações abaixo:

Usar palhas, folhas ou capins secos sobre a terra;

Plantar as culturas mais próximas umas das outras;

Plantar mais de uma cultura no mesmo espaço: consórcio;

Deixar a terra coberta com adubos verdes ou o próprio mato;

Plantar árvores e arbustos

Quando mantemos a terra protegida beneficiamos os cultivos seja no sol ou na chuva!

Diminuímos o efeito do sol que resseca a terra e desfavorece o desenvolvimento da microfauna

que ali vive e diminuímos o efeito da chuva evitando que a parte mais superficial do solo perca

os adubos e materiais orgânicos!

Consórcio entre plantas

Plantas diferentes podem conviver no mesmo espaço de terra e com isso aumentar a troca

de nutrientes que é feita pelas raízes, aumentar a microfauna reciclando estes nutrientes e, dessa

forma há um melhor desenvolvimento das plantas.

A cobertura viva é

quando mantemos a terra

sempre coberta por plantas.

Os adubos verdes são

plantas muito adequadas para

serem usadas como cobertura

viva, porque além de

protegerem o solo nos fornecem

nutrientes para os cultivos de

alimentos!

A cobertura morta consiste

na utilização de palhas e materiais

secos sobre as áreas de cultivo.

Nesse caso, devemos evitar

os restos das culturas como

cobertura morta, porque em caso de

terem doenças fica mais difícil

controlar novas infestações!

Page 9: Cartilha Oficina 1

Aumentando a diversidade das plantas, nós aumentamos a diversidade de nutrientes na

terra e também estimulamos o crescimento de diferentes tipos de microrganismos.

Além disso, algumas plantas afastam insetos que causam problemas e outras plantas

atraem insetos benéficos que se alimentam de pragas que afetam as culturas!

No quadro com as épocas de plantio de cada cultura para o plantio do seu quintal (ao final

da cartilha), apresentamos algumas sugestões de consórcio entre plantas amigas que podem ser

cultivadas juntas. Nesse caso, tem um sinal assim: (+)!

Apresentamos também uma coluna com as plantas que não devem ser cultivadas no

mesmo canteiro ao mesmo tempo, porque uma prejudica a outra. Nesse caso, tem esse sinal: (-)!

Rotação de culturas

Quando plantamos sempre a mesma cultura no mesmo terreno, os nutrientes que a cultura

precisa para se desenvolver e existem naturalmente na terra vão se esgotando, aumentando cada

vez mais a necessidade do uso de adubos.

Quando mudamos a próxima cultura a ser plantada podemos dar um “descanso” na terra.

Para isso devemos levar em conta a família da cultura. Não devemos fazer rotação com culturas

da mesma família. Por exemplo: couve, brócolis, repolho e couve flor são plantas da mesma

família e não devem ser plantadas uma em seguida da outra pois não tem efeito na rotação.

Para orientar a troca de plantios em uma mesma área, em seguida estão relacionadas às

principais famílias e tipos de hortaliças:

Aizoáceas: espinafre-da-Nova Zelândia.

Aliáceas: alho, cebola, cebolinha.

Apiáceas : cenoura, mandioquinha salsa (Batata-Baroa), aipo, salsa, coentro, funcho.

Brássicas: couve, nabo, rabanete, agrião, repolho, brócolos, couve-flor, mostarda, couve-

chinesa.

Cichoriáceas: alface, chicória, almeirão.

Cucurbitáceas: abóboras, abobrinhas, maxixe, melancia, melão, morangas, pepino,

chuchu.

Leguminosas: feijão-vagem, ervilha, feijão-de-corda, fava, soja, grão-de-bico, lentilhas.

Malváceas: quiabo, vinagreira, algodão.

Quenopodiáceas: beterraba, acelga, espinafre europeu.

Solanáceas: tomate, batata, pimentão, pimentas, berinjela, jiló, jurubeba.

Page 10: Cartilha Oficina 1

A seleção de espécies deve basear-se na diversidade de famílias e nas diferenças de

exigência das culturas. Os agricultores biodinâmicos seguem um sistema de rotação de culturas

descrito a seguir:

Primeiro plantam-se na área bem adubada as culturas mais exigentes em nutrientes. Isto

inclui todas da família da couve, brócolis e couve-flor, todos os vegetais de folhas como alfaces,

espinafre, aipo, alho porró, rúcula e também pepinos e milho. Depois se plantam as leguminosas

que vão novamente enriquecer a terra. Neste caso inclui-se a vagem, ervilha, feijão e todos os

adubos verdes. Após as leguminosas entram as menos exigentes em nutrientes como todas as

raízes e tubérculos, como cenoura, beterraba, rabanete, nabo, inhame e batata doce.

Estes são apenas alguns exemplos. O importante é alternar plantas com diferentes raízes e

hábitos de crescimento para aumentar a saúde das culturas e reduzir o custo de produção.

Outro efeito benéfico da rotação de culturas é que ela ajuda a quebrar o ciclo das pragas e

doenças que atacam uma determinada cultura.

A adubação orgânica

Adubos orgânicos são aqueles que têm origem diretamente de elementos da natureza e

podem ser de origem animal ou vegetal. Existem diversos tipos de adubos orgânicos, mas para

efeito desta oficina falaremos de três tipos de adubos orgânicos:

a) Composto orgânico feito através da compostagem de restos de materiais orgânicos;

b) Adubos Verdes;

c) Bokashi.

a) Composto orgânico

O composto orgânico é resultado de um

processo de transformação de materiais

grosseiros, como palhada e estrume, em

materiais orgânicos utilizáveis na agricultura.

Pode ser feito ao ar livre a partir de restos de

materiais orgânicos e traz muitos benefícios ao

solo.

Todos os restos de alimentos, estercos

animais, aparas de grama, folhas, galhos,

restos de culturas agrícolas, enfim, todo o

material de origem animal ou vegetal pode

entrar na produção do composto.

Page 11: Cartilha Oficina 1

O Composto Orgânico é o produto final do processo de Compostagem.

Como fazer uma compostagem?

Preparo do Composto Orgânico

Existem vários métodos para preparar o composto. O ideal é empilhar diversos materiais,

intercalando restos de vegetais verdes, restos de cascas e resíduos orgânicos da cozinha,

palha, esterco, terra e assim sucessivamente.

Deve-se sempre regar a pilha para assegurar

uma boa umidade e protege-la com algum

material impermeável, para que a chuva não o

encharque.

O material deve ser remexido mensalmente, e quando não estiver mais esquentando pode-se

colocar minhocas para acelerar o processo de decomposição.

Outras ideias para se preparar o

composto:

Outra forma comum consiste em

acumular os dejetos em buracos no

chão. Este é um sistema mais adequado

a lugares muito secos. Em lugares

úmidos há o risco do excesso de

umidade apodrecer o composto.

Page 12: Cartilha Oficina 1

Quando está pronto para o uso?

Dependendo do calor e da umidade pode

ficar pronto em dois meses ou mais.

O composto estará “maduro” quando não se

puder mais distinguir os materiais que foram

incorporados, tiver aspecto de terra preta e

esponjosa, não tiver mau cheiro e sim cheiro

bom de terra de mata e tiver a temperatura

igual ao ambiente.

Deve-se peneirar o composto:

O material mais grosso e ainda não

totalmente decomposto deve voltar

para uma nova pilha de composto;

O intermediário, bem decomposto,

mas ainda um pouco grosseiro deve

ser usado como cobertura nos

canteiros, como adubo nas covas de

fruteiras e plantas maiores;

O material mais fino, grumoso e

escuro deve ser utilizado no preparo

das mudinhas e nas linhas de plantio

dos canteiros.

Page 13: Cartilha Oficina 1

O material usado no composto deve ser irrigado no início do preparo da pilha e a umidade

deve ficar em torno de 60%. Para saber se a umidade está adequada, deve-se apertar o material

com a mão. Ele deve estar úmido, mas sem escorrimento de água.

Adubos verdes

São plantas que cultivamos para melhorar a vida da terra, tornando-a mais fofa,

fornecendo matéria orgânica, e favorecendo o crescimento de microrganismos que beneficiam o

aproveitamento de água e de nutrientes pelas raízes de outras plantas!

Plantas de diversas espécies podem ser usadas como adubos verdes, e as mais conhecidas

e usadas são as plantas da família das leguminosas como ao crotalária, o feijão de porco, a

mucuna, o feijão guandu, entre outros. Porém plantas de outras famílias também podem ser

utilizadas como o nabo-forrageiro (que é da família do nabo e da couve), a aveia preta, o centeio

forrageiro, o milheto, o sorgo ou mesmo o milho (todos da família dos capins) e o girassol (da

família das margaridas).

No projeto Quintais Agroecológicos todos os participantes receberão adubos verdes

adequados para plantio no verão – adubos verdes de verão – entre os meses de outubro a

janeiro. Existem adubos verdes de inverno, adequados para serem plantados entre os meses de

março e junho.

Benefícios da Adubação Verde

a) Ajudam a diversificar a vida da terra;

b) Algumas plantas, como as leguminosas, fixam na terra o Nitrogênio (N) que retiram do

ar;

c) Melhoram a estrutura da terra, especialmente quando são plantas da família dos capins

com raízes fortes e abundantes, como o milheto, ou como plantas de raízes fortes e

profundas como o guandu e nabo forrageiro;

d) Reciclam e ajudam a fornecer nutrientes essenciais como o Cálcio (Ca), o Fósforo (P) e o

Potássio (K):

Fontes de Cálcio: trigo-mourisco, girassol, tremoço;

Fontes de Fósforo: leguminosas como mucuna, kudzu, guandu;

Fontes de Potássio: mamona e capim elefante (folhas);

Page 14: Cartilha Oficina 1

e) A crotalária, o guandu, o nabo forrageiro e o tremoço ajudam a quebrar lajes duras da

terra;

f) Ajudam a diversificar a rotação de culturas;

g) Combatem nematóides.

As leguminosas como adubos verdes

As leguminosas são especiais como adubos verdes,

pois suas raízes fazem uma parceria com bactérias

chamadas Rhizobium (junção de Rhizo = raiz e Bio =

vida). Essas bactérias vivem no solo, penetram nas raízes

das plantas e desenvolvem os nódulos (pequenas bolinhas).

Elas têm a capacidade de fixar o Nitrogênio diretamente do

ar, algo que as plantas sozinhas não conseguem. Com isso

elas ajudam a enriquecer a terra com o Nitrogênio acumulado nas plantas.

Plantio e utilização dos adubos verdes

Podem ser plantados antes do cultivo das culturas principais, em rotação com as

culturas, em consórcios, ou em faixas, que é quando se planta as leguminosas alternadas com

as faixas de cultura. Quando são de ciclo mais longo (como o feijão guandu) podem ser

utilizadas como cercas vivas separando os talhões de plantio. No caso de serem mais altas que a

cultura principal, elas também servem de quebra-vento.

Existem várias maneiras de se preparar a terra após a adubação verde. Uma delas é fazer

uma roçada com roçadeira ou foice deixando-se a palhada sobre a terra, fazendo uma cobertura

morta para o plantio direto em covas ou com plantadeira adequada. Quando plantados em faixas,

os adubos verdes podem ser podados ou roçados periodicamente e colocados sobre a área do

cultivo como cobertura morta.

Se precisar incorporar o material, deve-se esperar pelo menos uma semana para que ele

esteja murcho ou seco. Depois se passa uma grade leve, ou pica-se com a enxada, tomando-se o

cuidado de nunca enterrar o material orgânico profundamente no solo. A incorporação deve ser

apenas superficial. Podemos também retirar a palhada roçada da área, preparar a terra e retornar

a palhada em forma de cobertura morta após o plantio das culturas em covas ou canteiros.

No próximo quadro listamos algumas recomendações a serem seguidas para os adubos

verdes de verão que serão utilizados no projeto Quintais Agroecológicos:

Page 15: Cartilha Oficina 1

Adubo verde Características Como Plantar Com quem plantar

Crotalaria juncea

É um arbusto de crescimento muito

rápido e vigoroso, faz um bom

controle do mato, tem uma boa

produção de massa verde. Ajuda no

controle de nematoides. Não é

comestível. Época de plantio de

setembro a março.

Linhas com

espaçamento

de 50 cm e 25

sementes por

metro.

Pode ser plantada no

meio do milho e

outras culturas de

grãos, no meio de

fruteiras ou em

rotação com as

culturas principais.

Feijão Guandu

É uma planta arbustiva de porte alto que

tem ciclo de vida entre 2 e 3 anos. Sua

raiz é robusta e penetra em solos duros,

tornando-os mais fofos, principalmente

após dois anos. Produz uma boa

quantidade de folhas. Pode ser usada na

alimentação humana e animal. Plantado de setembro a março.

Linhas com

espaçamento

de 50 cm e 20

sementes por

metro.

É muito utilizado no

meio de fruteiras e

para fazer cerca viva

na horta. Muito boa

para plantio nas

curvas de nível dos

plantios nos morros.

Feijão Guandu

anão

Esta variedade tem o porte mais baixo e

ciclo anual. Sua raiz também é robusta, e

ajuda na descompactação da terra. Produz

boa quantidade de folhas. Pode ser usado na

alimentação humana e animal. Plantado de

setembro a dezembro.

Linhas com

espaçamento

de 50 cm e 20

sementes por

metro.

É muito utilizado no

meio de fruteiras e

para fazer cerca viva

na horta. Podam-se

seus galhos para fazer

cobertura nos

canteiros.

Page 16: Cartilha Oficina 1

Adubo verde Características Como Plantar Com quem plantar

Feijão de porco

É uma planta rústica. Tem um ciclo

anual ou bianual. Adapta-se a

qualquer tipo de solo. Muito

eficiente no controle de tiririca.

Possui uma substância altamente

tóxica, por isso não pode ser

consumida! Plantado de setembro

a março.

Linhas com

espaçamento

de 50 cm e 5

sementes por

metro.

Muito plantado no

meio dos pomares.

Atrai os insetos

benéficos que

controlam doenças

dos citros, como a

leprose e a pinta

preta.

Girassol

Herbácea, da família das margaridas. Cresce rápido e apresenta um

efeito que reduz o crescimento do mato.

Não deve ser plantado junto com as

culturas da família do tomate ou pimentão.

Seu broto é muito utilizado na

alimentação. Plantado de outubro a março.

Linhas com

espaçamento

de 50 cm e 10

sementes por

metro.

Pode ser usado em

rotação ou

consorciado com as

culturas. Evitar

plantar junto com

tomate, batata ou

pimentões.

Milheto

É uma planta da família do milho e dos

capins. Ela se adapta bem em vários tipos de

solo e é muito rústica, tolerante à seca, à

acidez do solo, assim como à salinidade. Pode

ser utilizada como forrageira. Produz grande

quantidade de massa com alta qualidade da

forragem. Pode ser utilizada para consumo

humano. Na África o chamam de alimento do povo.

Linhas com

espaçamento

de 25 cm e 50

sementes por

metro.

Muito usada na

alimentação dos

animais. Boa para

recuperar estufas

salinizadas. Pode ser

plantada em cordões

nos morros para

reduzir a erosão.

Page 17: Cartilha Oficina 1

Bancos comunitários de sementes

São uma forma de os agricultores familiares se organizarem em torno da autonomia na

produção e manutenção de sementes de variedades ou sementes crioulas. Num tempo em que as

sementes híbridas e transgênicas dominam o mercado tornando os agricultores cada vez mais

dependentes, os bancos comunitários de sementes são uma importante estratégia para a garantia

da segurança alimentar.

As sementes de adubos verdes fornecidas para os quintais fazem parte de um projeto do

Ministério da Agricultura que visa estimular essa autonomia de agricultores em relação a essas

sementes que contribuem para melhorar as condições da terra! Já as sementes de milho vêm do

banco de sementes do Movimento Camponês Popular, uma organização de agricultores

familiares do Estado de Goiás que têm uma grande preocupação com a segurança alimentar e

produzem em quantidade suficiente para fazer doações a outros agricultores familiares!

Consideramos importante que cada comunidade do projeto Quintais Agroecológicos

organize um banco comunitário de sementes e dessa forma se fortalecerem em torno da

manutenção das sementes e do saber agrícola tradicional que vem se perdendo a cada dia!

Bokashi

Bokashi é um adubo orgânico feito a partir de farelos e tortas vegetais, como o farelo de

trigo, de arroz, torta de mamona, entre outros resíduos vegetais, podendo ser enriquecido com

farinhas animais e alguns minerais naturais.

O Bokashi, além de servir como fonte de nutrientes para as plantas, tem a função muito

importante de estimular o aumento e a diversidade de organismos que vivem no solo. Ou seja,

melhora as condições de vida tanto para minhocas, gongolos e outros bichinhos que vivem na

terra, quanto para os microrganismos benéficos de que falamos anteriormente!

Esse nome diferente tem origem no Japão e significa “diluir”, mas aqui no Brasil algumas

pessoas o chamam de “Fermento da Vida”, exatamente porque traz vida ao solo, aumentando o

número e a diversidade dos microrganismos que vivem ali! Outros no Sul do Brasil o chamam

de “adubo da independência”, pois ele ajuda os agricultores a reduzirem sua dependência dos

adubos químicos e agrotóxicos.

É um revitalizador do solo, sendo recomendado para solos cansados e fracos ou que

sofreram muito com o uso de adubos químicos e agrotóxicos! Ele também ajuda a reestabelecer

um equilíbrio dos organismos do solo e quebrar os ciclos de algumas doenças e pragas.

Page 18: Cartilha Oficina 1

Fazendo o Bokashi

O local

O bokashi deve ser feito em um local coberto e com piso liso para facilitar sua mistura e

ensacamento. O local deve ser abrigado do sol e da chuva.

O material

Ingredientes:

3 sacos de farelo de trigo de 40 Kg = 120 kg

2 sacos de farelo de mamona de 50 kg = 100 kg

40 a 50 litros de água

500 ml de fermento (EM, Kefir ou EMBIOTIC)

500 g de melaço de cana, açúcar mascavo ou cristal.

O fermento utilizado para fermentar o Bokashi é formado de microrganismos eficientes.

Existem várias fontes destes microrganismos. Pode ser feito coletando-se na mata, pode ser feito

a partir do Kefir ou pode ser comprado pronto com o nome de Embiotic ou EM. Estes tipos de

microrganismos funcionam como aceleradores do processo de fermentação.

Ativação do EM (7 dias antes)

Coloca-se 200 gramas de açúcar mascavo (ou melaço de cana) em 200 ml de EM,

completando-se até 2 litros de solução. Isso deve ser feito uma semana antes de preparar o

Bokashi. Esta mistura é suficiente para 4 receitas de Bokashi, ou 880 kg de material.

EM ativado

EM

200 g ou 1 copo de açúcar

200 ml de EM

Completar até 2 litros com água

Page 19: Cartilha Oficina 1

O preparo

Mistura-se o material, colocando a água as poucos, da mesma forma que se faz massa de

cimento.

Sabemos que a umidade da mistura do Bokashi está correta quando o apertamos com a

mão e ele forma um torrão que se solta fácil. Depois de muito bem misturado, devemos guardá-

lo em sacos plásticos grandes e resistentes, que ficam dentro dos sacos de ráfia, que protegem os

de plástico contra rasgões. Estes sacos não devem ficar cheios demais, portanto não é

recomendado que se coloque mais do que 30 quilos. É importante que todo o ar seja retirado de

dentro dos sacos, fechando-os e amarrando as bocas com fitilho.

Os sacos com o Bokashi devem ser guardados em local fechado, protegidos contra a

presença de ratos e outros animais que possam furá-los. Após 21 dias está pronto para o uso.

Fechado, ele pode durar até seis meses. No clima fresco da serra pode durar até mais tempo.

Os cuidados

É necessário que se observe o cheiro do material. O cheiro do Bokashi pronto é agradável

de silagem. Se estiver com cheiro podre, é sinal que a umidade pode ter ficado acima do

adequado ou o saco pode ter furado no processo de fermentação.

Page 20: Cartilha Oficina 1

Modo de usar

No preparo da terra: recomenda-se aplicar a lanço numa quantidade que fica em torno de

200 gramas por metro quadrado. Tomemos como exemplo um canteiro com 10 metros de

comprimento e 1 metro de largura. Haverá, portanto, 10 metros quadrados de canteiro. Nesse

caso, o canteiro de 10 metros quadrados deve receber 2 quilos de Bokashi.

Aplicação em cobertura: o Bokashi pode ser usado sobre os canteiros.

Em plantas de espaçamento curto, tais como alface, chicória, salsa, cebolinha ou rúcula

recomenda-se aplicar 200g de Bokashi por metro quadrado entre as linhas das verduras,

misturando-o com as mãos ou com alguma ferramenta. Se possível, deve-se cobri-lo com

cobertura morta. Cuidado para não aplicar o Bokashi muito próximo das mudas, mantendo

uma distância de pelo menos 05 centímetros.

Em plantas de espaçamento médio, tais como pimentão, tomate, berinjela, jiló ou quiabo,

aplica-se 200 gramas de Bokashi divididos pelo número de plantas que cabem em 1 metro

quadrado.

Agora é começar a plantar, anotar as dúvidas que surgirem e esperar o nosso próximo

encontro na Oficina 2 que terá como tema os Controles Alternativos de Pragas e Doenças!

Até lá!

Bibliografia Consultada

Sítio duas Cachoeiras; Composto Orgânico

fonte: http://www.sitioduascachoeiras.com.br/agricultura/vegetal/composto.html

MAPA, Bancos Comunitários de sementes de adubos verdes: cartilha para

agricultores/Wutke et al. Brasilia, 2007.

INTA; La huerta orgânica familiar. Plan Nacional de Seguridad Alimentaria. 2005.

Folder: Adubação verde; Embrapa Agrobiologia. Seropédica, RJ. 2005:

Fonte: http://www.cnpab.embrapa.br/pesquisas/folders/folder_adubacao_verde.pdf

PRIMAVESI, Ana Maria; Cartilha do Solo. Fundação Mokiti Okada, 2006.