Cartilha Oficina 1
-
Upload
oficina-da-sustentabilidadecombr -
Category
Documents
-
view
22 -
download
0
Transcript of Cartilha Oficina 1
Quintais Agroecológicos
Um caminho para a segurança alimentar na
Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro
CARTILHA
OFICINA I: Cuidando da terra do quintal agroecológico
Autoras:
Ana Paula Pegorer de Siqueira – Engenheira Agrônoma
Lucia Helena Maria de Almeida - Engenheira Agrônoma
Marcia Lie Ayukawa- Engenheira Agrônoma
Rio de Janeiro
Dezembro de 2011
Apresentação
Temos a satisfação de compartilhar com vocês algumas palavras sobre o projeto Quintais
Agroecológicos: Um Caminho para Segurança Alimentar na Região Serrana do Estado do
Rio de Janeiro.
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço em parceria com a articulação internacional
ACT Aliança, tem atuado na Região Serrana desde fevereiro de 2011, após a terrível catástrofe
das enchentes e deslizamentos de terra de janeiro, quando centenas de famílias tiveram perdas
humanas e materiais. Desde então, nossos planos incluíam também atividades para apoiar a
reabilitação da agricultura na Região, porém não tínhamos os recursos financeiros necessários
para tanto.
KOINONIA teve a oportunidade de apresentar este projeto, Quintais Agroecológicos: Um
Caminho para Segurança Alimentar na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, ao Banco
Canadense de Grãos Alimentícios, em junho de 2011. Isso foi possível através de outra
importante parceria com a Igreja Unida do Canadá. O Banco Canadense de Grãos
Alimentícios trabalha com ajuda alimentar, segurança alimentar e nutrição. Assim, depois de
quatro meses, entre elaboração, solicitação e aprovação - o projeto Quintais Agroecológicos foi
aprovado em agosto de 2011 e se estenderá até março de 2012.
Para o bom desenvolvimento desse projeto, contamos com uma equipe de três Engenheiras
Agrônomas: Ana Paula Pegorer, coordenadora de campo, Lucia Helena Almeida, Marcia Lie
Ayukawa e, na assistência administrativa ao projeto, Cecília Kastrup. Contamos ainda com
outras pessoas da administração de KOINONIA em funções ligadas à contabilidade do projeto.
Contamos também com parceiros que são a Associação Agroecológica de Teresópolis, a
Secretaria de Agricultura de Teresópolis, o Ibelga, o CIA Francisco Lippi , a Emater-Rio, a
Pesagro-Rio, a UFRRJ, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Embrapa
Agrobiologia, o Movimento Camponês Popular.
Após dois meses de sensibilização e mobilização das famílias a serem beneficiadas pelo
projeto, chegamos a este momento de iniciar as oficinas de capacitação dos agricultores e das
agricultoras. Esperamos que as oficinas e o projeto como um todo contribuam com melhorias
nas suas vidas!
Que a aprendizagem prática de ter um quintal agroecológico possa contribuir para que
tenham segurança alimentar, mais saúde e, muito mais, uma agricultura compatível com a
preservação e restauração do meio-ambiente. A manutenção da vida na Terra está também em
nossas mãos!
Um abraço,
Marilia Schüller - Coordenadora do Projeto
As Cartilhas
As cartilhas que os participantes do projeto Quintais Agroecológicos receberão têm o
objetivo de servir de guia com algumas informações a respeito dos temas que serão discutidos
em cada uma das quatro oficinas que realizaremos entre dezembro de 2011 e março de 2012!
Temas das cartilhas:
Cuidando da terra
Cuidando das plantas
Cuidando da alimentação e da saúde
Cuidando do excedente de produção do quintal
Nesta primeira cartilha, Cuidando da Terra, falaremos sobre o quintal, os solos
tropicais, como manter o solo vivo e saudável, adubos orgânicos, adubos verdes e informações
sobre como preparar o composto vegetal chamado Bokashi, que será a atividade prática desta
Oficina 1.
Esperamos ter bons momentos de troca de conhecimentos que servirão para uso nos
quintais e nas áreas de lavoura!
A Importância do Quintal Agroecológico
Geralmente chamamos de quintal aquela área ao redor da casa onde temos plantas de
diversos tipos e que servem para muitas coisas como: enfeitar o terreno com o colorido das
flores, fazer remédios com as ervas medicinais, alimentar a família e os pequenos animais,
enfim é o espaço de convívio da família!
O quintal é o guardião de preciosos conhecimentos, que são passados de geração em
geração!
Muitos de nós cuidamos das plantas dos quintais sem usar adubos químicos ou
agrotóxicos usando soluções caseiras que aprendemos com os nossos pais, avós ou vizinhos e
esse conhecimento é de muito valor para a preservação das próximas gerações de pessoas e da
própria natureza!
A seguir falaremos de alguns pontos importantes para implantação dos quintais
agroecológicos.
Localização
Devido à necessidade de produzir em grande escala, muitas famílias perderam esse
espaço de quintal perto da casa, mas podem cultivar essas plantas para a sua alimentação em
outras áreas, lembrando que as margens dos rios e beiradas de encostas com risco de
desabamento não são apropriadas para a instalação de um quintal agroecológico!
Caso você precise cultivar num terreno inclinado, deve plantar no sentido inverso ao da
descida da água, para evitar erosão, perda de nutrientes e de água!
A água
A água é a fonte da vida e um elemento muito importante no quintal. Ela deve existir em
quantidade suficiente para as plantas crescerem sadias! A falta ou o excesso de água podem
tornar as plantas mais sensíveis ao ataque de pragas e doenças!
Outro fator importante é que a água deve ser de boa qualidade sem contaminação por
micróbios ou resíduos de agrotóxicos!
Iluminação
No nosso projeto serão distribuídas mudas e sementes de hortaliças, flores e temperos
que, na maioria dos casos, precisam de muita luz, por isso devemos evitar cultivá-las em áreas
muito sombreadas. Caso existam árvores sombreando, podemos adotar a prática da poda,
raleando a sua copa.
O tamanho do quintal
Uma família de quatro pessoas pode se beneficiar com alimentos, remédios e temperos
produzidos em quintais de no mínimo 250 metros quadrados, ou seja, 25 metros de largura por
10 de comprimento. Nesse espaço é possível que plantas de diferentes espécies se desenvolvam
de forma harmoniosa!
O ideal é que o espaço dedicado ao cultivo no quintal seja separado das áreas de lavoura.
Uma boa solução para delimitar esse espaço é o uso de plantas de porte mais alto (milho, feijão
guandu, dentre outras) que possam formar uma cerca-viva ao redor da área do quintal.
Esta cerca-viva serve também de barreira contra o vento e protege esse espaço de animais
que se aproximem e diminui o impacto de agrotóxicos que podem se espalhar com o vento.
Moramos num país tropical
Vamos dar uma pequena pausa nos comentários específicos sobre os quintais para falar
um pouco de como devemos cuidar da terra em lugares de clima tropical, independente do
tamanho da área cultivada.
O clima tropical é o predominante no Brasil. No caso da região serrana fluminense, ele se
caracteriza por ter verões mais brandos e chuvosos do que em outras regiões do Estado e do país
e invernos moderadamente frios e secos.
Vento forte
Vento forte
Vento fraco
Vento fraco
Existem seis pontos fundamentais para o sucesso no manejo agroecológico da terra
em clima tropical. Vejamos quais são:
1- Uso periódico de matéria orgânica na superfície da terra para deixar ela fofa;
2- Manter a camada fofa na superfície - não arar ou gradear profundo, diminuir o uso de
rotativa, fazer plantio direto;
3- Proteger a superfície da terra contra o sol direto, o aquecimento e o impacto da chuva – fazer
cobertura viva (com adubo verde ou com o mato) e cobertura morta (palhas, folhas e
capins);
4- Diversificar a vegetação para diversificar a vida da terra - plantas cultivadas em consórcio e
fazer rotação de culturas;
5- Plantar variedades rústicas e adaptadas à terra e ao clima ou usar os micronutrientes
deficientes para garantir a saúde das plantas;
6- Proteger as plantas e a terra contra o vento (plantando barreiras);
7- Usar as máquinas de forma cuidadosa e o mínimo possível.
A terra tem vida
A terra do quintal é formada por pequenas partículas que ao longo de milhares de anos
foram se decompondo e se transformando em areia e argila, além de restos de plantas, bichos, ou
seja, materiais orgânicos que se decompõem em contato com a terra, a água, o ar e a luz!
Os seres vivos que vivem na terra e a ela dão vida são muito importantes. Tanto podem
ser pequenos animais que conseguimos enxergar (minhocas, gongolos e outros bichinhos)
quanto podem ser bactérias e fungos, seres que não conseguimos enxergar sem a ajuda de um
microscópio. São chamados de microrganismos.
+ + =
Partículas do
solo
Matéria
orgânica
Seres
vivos Solo
Na maior parte das vezes esses pequenos animais e microrganismos (que são em muita
quantidade) habitam a camada mais superficial da terra e é por isso que esta é a camada que
contém a maior quantidade de matéria orgânica.
Os seres vivos do solo têm um papel importantíssimo. Eles deixam a terra mais fofa,
arrumando de forma ideal suas partículas e ainda se alimentam da matéria orgânica semi-
decomposta (restos de animais e plantas apodrecidos).
Os microrganismos aceleram a quebra da matéria orgânica e as suas fezes e resíduos
compõem um material precioso e de qualidade, pronto para servir de alimento para as plantas.
Como se pode perceber, a existência desses organismos é fundamental. No entanto, é
importante que eles estejam em equilíbrio, ou seja, nenhum dos organismos deve prevalecer
sobre os outros. O desequilíbrio faz com que alguns seres se tornem indesejáveis nos cultivos.
As práticas agrícolas
Vamos falar um pouco mais detalhadamente sobre alguns daqueles seis pontos
fundamentais para o sucesso no manejo agroecológico da terra em clima tropical através de
práticas agrícolas fáceis de seguir.
A proteção da terra com cobertura viva ou cobertura morta
O consórcio de plantas
A rotação de culturas
A adubação orgânica
Não devemos matar a vida que existe na terra!
Por isso é importante alimentarmos e mantermos os
microrganismos e os pequenos animais que vivem
nela.
Os adubos químicos e os agrotóxicos
contribuem para diminuir as populações desses seres
vivos e assim a terra fica com menos vida!
Protegendo a terra
Devemos proteger a terra contra o aquecimento e a seca e contra o impacto das chuvas
para que não se formem camadas duras na parte superficial e na outra camada que fica logo
abaixo desta. Para tanto, podemos seguir as recomendações abaixo:
Usar palhas, folhas ou capins secos sobre a terra;
Plantar as culturas mais próximas umas das outras;
Plantar mais de uma cultura no mesmo espaço: consórcio;
Deixar a terra coberta com adubos verdes ou o próprio mato;
Plantar árvores e arbustos
Quando mantemos a terra protegida beneficiamos os cultivos seja no sol ou na chuva!
Diminuímos o efeito do sol que resseca a terra e desfavorece o desenvolvimento da microfauna
que ali vive e diminuímos o efeito da chuva evitando que a parte mais superficial do solo perca
os adubos e materiais orgânicos!
Consórcio entre plantas
Plantas diferentes podem conviver no mesmo espaço de terra e com isso aumentar a troca
de nutrientes que é feita pelas raízes, aumentar a microfauna reciclando estes nutrientes e, dessa
forma há um melhor desenvolvimento das plantas.
A cobertura viva é
quando mantemos a terra
sempre coberta por plantas.
Os adubos verdes são
plantas muito adequadas para
serem usadas como cobertura
viva, porque além de
protegerem o solo nos fornecem
nutrientes para os cultivos de
alimentos!
A cobertura morta consiste
na utilização de palhas e materiais
secos sobre as áreas de cultivo.
Nesse caso, devemos evitar
os restos das culturas como
cobertura morta, porque em caso de
terem doenças fica mais difícil
controlar novas infestações!
Aumentando a diversidade das plantas, nós aumentamos a diversidade de nutrientes na
terra e também estimulamos o crescimento de diferentes tipos de microrganismos.
Além disso, algumas plantas afastam insetos que causam problemas e outras plantas
atraem insetos benéficos que se alimentam de pragas que afetam as culturas!
No quadro com as épocas de plantio de cada cultura para o plantio do seu quintal (ao final
da cartilha), apresentamos algumas sugestões de consórcio entre plantas amigas que podem ser
cultivadas juntas. Nesse caso, tem um sinal assim: (+)!
Apresentamos também uma coluna com as plantas que não devem ser cultivadas no
mesmo canteiro ao mesmo tempo, porque uma prejudica a outra. Nesse caso, tem esse sinal: (-)!
Rotação de culturas
Quando plantamos sempre a mesma cultura no mesmo terreno, os nutrientes que a cultura
precisa para se desenvolver e existem naturalmente na terra vão se esgotando, aumentando cada
vez mais a necessidade do uso de adubos.
Quando mudamos a próxima cultura a ser plantada podemos dar um “descanso” na terra.
Para isso devemos levar em conta a família da cultura. Não devemos fazer rotação com culturas
da mesma família. Por exemplo: couve, brócolis, repolho e couve flor são plantas da mesma
família e não devem ser plantadas uma em seguida da outra pois não tem efeito na rotação.
Para orientar a troca de plantios em uma mesma área, em seguida estão relacionadas às
principais famílias e tipos de hortaliças:
Aizoáceas: espinafre-da-Nova Zelândia.
Aliáceas: alho, cebola, cebolinha.
Apiáceas : cenoura, mandioquinha salsa (Batata-Baroa), aipo, salsa, coentro, funcho.
Brássicas: couve, nabo, rabanete, agrião, repolho, brócolos, couve-flor, mostarda, couve-
chinesa.
Cichoriáceas: alface, chicória, almeirão.
Cucurbitáceas: abóboras, abobrinhas, maxixe, melancia, melão, morangas, pepino,
chuchu.
Leguminosas: feijão-vagem, ervilha, feijão-de-corda, fava, soja, grão-de-bico, lentilhas.
Malváceas: quiabo, vinagreira, algodão.
Quenopodiáceas: beterraba, acelga, espinafre europeu.
Solanáceas: tomate, batata, pimentão, pimentas, berinjela, jiló, jurubeba.
A seleção de espécies deve basear-se na diversidade de famílias e nas diferenças de
exigência das culturas. Os agricultores biodinâmicos seguem um sistema de rotação de culturas
descrito a seguir:
Primeiro plantam-se na área bem adubada as culturas mais exigentes em nutrientes. Isto
inclui todas da família da couve, brócolis e couve-flor, todos os vegetais de folhas como alfaces,
espinafre, aipo, alho porró, rúcula e também pepinos e milho. Depois se plantam as leguminosas
que vão novamente enriquecer a terra. Neste caso inclui-se a vagem, ervilha, feijão e todos os
adubos verdes. Após as leguminosas entram as menos exigentes em nutrientes como todas as
raízes e tubérculos, como cenoura, beterraba, rabanete, nabo, inhame e batata doce.
Estes são apenas alguns exemplos. O importante é alternar plantas com diferentes raízes e
hábitos de crescimento para aumentar a saúde das culturas e reduzir o custo de produção.
Outro efeito benéfico da rotação de culturas é que ela ajuda a quebrar o ciclo das pragas e
doenças que atacam uma determinada cultura.
A adubação orgânica
Adubos orgânicos são aqueles que têm origem diretamente de elementos da natureza e
podem ser de origem animal ou vegetal. Existem diversos tipos de adubos orgânicos, mas para
efeito desta oficina falaremos de três tipos de adubos orgânicos:
a) Composto orgânico feito através da compostagem de restos de materiais orgânicos;
b) Adubos Verdes;
c) Bokashi.
a) Composto orgânico
O composto orgânico é resultado de um
processo de transformação de materiais
grosseiros, como palhada e estrume, em
materiais orgânicos utilizáveis na agricultura.
Pode ser feito ao ar livre a partir de restos de
materiais orgânicos e traz muitos benefícios ao
solo.
Todos os restos de alimentos, estercos
animais, aparas de grama, folhas, galhos,
restos de culturas agrícolas, enfim, todo o
material de origem animal ou vegetal pode
entrar na produção do composto.
O Composto Orgânico é o produto final do processo de Compostagem.
Como fazer uma compostagem?
Preparo do Composto Orgânico
Existem vários métodos para preparar o composto. O ideal é empilhar diversos materiais,
intercalando restos de vegetais verdes, restos de cascas e resíduos orgânicos da cozinha,
palha, esterco, terra e assim sucessivamente.
Deve-se sempre regar a pilha para assegurar
uma boa umidade e protege-la com algum
material impermeável, para que a chuva não o
encharque.
O material deve ser remexido mensalmente, e quando não estiver mais esquentando pode-se
colocar minhocas para acelerar o processo de decomposição.
Outras ideias para se preparar o
composto:
Outra forma comum consiste em
acumular os dejetos em buracos no
chão. Este é um sistema mais adequado
a lugares muito secos. Em lugares
úmidos há o risco do excesso de
umidade apodrecer o composto.
Quando está pronto para o uso?
Dependendo do calor e da umidade pode
ficar pronto em dois meses ou mais.
O composto estará “maduro” quando não se
puder mais distinguir os materiais que foram
incorporados, tiver aspecto de terra preta e
esponjosa, não tiver mau cheiro e sim cheiro
bom de terra de mata e tiver a temperatura
igual ao ambiente.
Deve-se peneirar o composto:
O material mais grosso e ainda não
totalmente decomposto deve voltar
para uma nova pilha de composto;
O intermediário, bem decomposto,
mas ainda um pouco grosseiro deve
ser usado como cobertura nos
canteiros, como adubo nas covas de
fruteiras e plantas maiores;
O material mais fino, grumoso e
escuro deve ser utilizado no preparo
das mudinhas e nas linhas de plantio
dos canteiros.
O material usado no composto deve ser irrigado no início do preparo da pilha e a umidade
deve ficar em torno de 60%. Para saber se a umidade está adequada, deve-se apertar o material
com a mão. Ele deve estar úmido, mas sem escorrimento de água.
Adubos verdes
São plantas que cultivamos para melhorar a vida da terra, tornando-a mais fofa,
fornecendo matéria orgânica, e favorecendo o crescimento de microrganismos que beneficiam o
aproveitamento de água e de nutrientes pelas raízes de outras plantas!
Plantas de diversas espécies podem ser usadas como adubos verdes, e as mais conhecidas
e usadas são as plantas da família das leguminosas como ao crotalária, o feijão de porco, a
mucuna, o feijão guandu, entre outros. Porém plantas de outras famílias também podem ser
utilizadas como o nabo-forrageiro (que é da família do nabo e da couve), a aveia preta, o centeio
forrageiro, o milheto, o sorgo ou mesmo o milho (todos da família dos capins) e o girassol (da
família das margaridas).
No projeto Quintais Agroecológicos todos os participantes receberão adubos verdes
adequados para plantio no verão – adubos verdes de verão – entre os meses de outubro a
janeiro. Existem adubos verdes de inverno, adequados para serem plantados entre os meses de
março e junho.
Benefícios da Adubação Verde
a) Ajudam a diversificar a vida da terra;
b) Algumas plantas, como as leguminosas, fixam na terra o Nitrogênio (N) que retiram do
ar;
c) Melhoram a estrutura da terra, especialmente quando são plantas da família dos capins
com raízes fortes e abundantes, como o milheto, ou como plantas de raízes fortes e
profundas como o guandu e nabo forrageiro;
d) Reciclam e ajudam a fornecer nutrientes essenciais como o Cálcio (Ca), o Fósforo (P) e o
Potássio (K):
Fontes de Cálcio: trigo-mourisco, girassol, tremoço;
Fontes de Fósforo: leguminosas como mucuna, kudzu, guandu;
Fontes de Potássio: mamona e capim elefante (folhas);
e) A crotalária, o guandu, o nabo forrageiro e o tremoço ajudam a quebrar lajes duras da
terra;
f) Ajudam a diversificar a rotação de culturas;
g) Combatem nematóides.
As leguminosas como adubos verdes
As leguminosas são especiais como adubos verdes,
pois suas raízes fazem uma parceria com bactérias
chamadas Rhizobium (junção de Rhizo = raiz e Bio =
vida). Essas bactérias vivem no solo, penetram nas raízes
das plantas e desenvolvem os nódulos (pequenas bolinhas).
Elas têm a capacidade de fixar o Nitrogênio diretamente do
ar, algo que as plantas sozinhas não conseguem. Com isso
elas ajudam a enriquecer a terra com o Nitrogênio acumulado nas plantas.
Plantio e utilização dos adubos verdes
Podem ser plantados antes do cultivo das culturas principais, em rotação com as
culturas, em consórcios, ou em faixas, que é quando se planta as leguminosas alternadas com
as faixas de cultura. Quando são de ciclo mais longo (como o feijão guandu) podem ser
utilizadas como cercas vivas separando os talhões de plantio. No caso de serem mais altas que a
cultura principal, elas também servem de quebra-vento.
Existem várias maneiras de se preparar a terra após a adubação verde. Uma delas é fazer
uma roçada com roçadeira ou foice deixando-se a palhada sobre a terra, fazendo uma cobertura
morta para o plantio direto em covas ou com plantadeira adequada. Quando plantados em faixas,
os adubos verdes podem ser podados ou roçados periodicamente e colocados sobre a área do
cultivo como cobertura morta.
Se precisar incorporar o material, deve-se esperar pelo menos uma semana para que ele
esteja murcho ou seco. Depois se passa uma grade leve, ou pica-se com a enxada, tomando-se o
cuidado de nunca enterrar o material orgânico profundamente no solo. A incorporação deve ser
apenas superficial. Podemos também retirar a palhada roçada da área, preparar a terra e retornar
a palhada em forma de cobertura morta após o plantio das culturas em covas ou canteiros.
No próximo quadro listamos algumas recomendações a serem seguidas para os adubos
verdes de verão que serão utilizados no projeto Quintais Agroecológicos:
Adubo verde Características Como Plantar Com quem plantar
Crotalaria juncea
É um arbusto de crescimento muito
rápido e vigoroso, faz um bom
controle do mato, tem uma boa
produção de massa verde. Ajuda no
controle de nematoides. Não é
comestível. Época de plantio de
setembro a março.
Linhas com
espaçamento
de 50 cm e 25
sementes por
metro.
Pode ser plantada no
meio do milho e
outras culturas de
grãos, no meio de
fruteiras ou em
rotação com as
culturas principais.
Feijão Guandu
É uma planta arbustiva de porte alto que
tem ciclo de vida entre 2 e 3 anos. Sua
raiz é robusta e penetra em solos duros,
tornando-os mais fofos, principalmente
após dois anos. Produz uma boa
quantidade de folhas. Pode ser usada na
alimentação humana e animal. Plantado de setembro a março.
Linhas com
espaçamento
de 50 cm e 20
sementes por
metro.
É muito utilizado no
meio de fruteiras e
para fazer cerca viva
na horta. Muito boa
para plantio nas
curvas de nível dos
plantios nos morros.
Feijão Guandu
anão
Esta variedade tem o porte mais baixo e
ciclo anual. Sua raiz também é robusta, e
ajuda na descompactação da terra. Produz
boa quantidade de folhas. Pode ser usado na
alimentação humana e animal. Plantado de
setembro a dezembro.
Linhas com
espaçamento
de 50 cm e 20
sementes por
metro.
É muito utilizado no
meio de fruteiras e
para fazer cerca viva
na horta. Podam-se
seus galhos para fazer
cobertura nos
canteiros.
Adubo verde Características Como Plantar Com quem plantar
Feijão de porco
É uma planta rústica. Tem um ciclo
anual ou bianual. Adapta-se a
qualquer tipo de solo. Muito
eficiente no controle de tiririca.
Possui uma substância altamente
tóxica, por isso não pode ser
consumida! Plantado de setembro
a março.
Linhas com
espaçamento
de 50 cm e 5
sementes por
metro.
Muito plantado no
meio dos pomares.
Atrai os insetos
benéficos que
controlam doenças
dos citros, como a
leprose e a pinta
preta.
Girassol
Herbácea, da família das margaridas. Cresce rápido e apresenta um
efeito que reduz o crescimento do mato.
Não deve ser plantado junto com as
culturas da família do tomate ou pimentão.
Seu broto é muito utilizado na
alimentação. Plantado de outubro a março.
Linhas com
espaçamento
de 50 cm e 10
sementes por
metro.
Pode ser usado em
rotação ou
consorciado com as
culturas. Evitar
plantar junto com
tomate, batata ou
pimentões.
Milheto
É uma planta da família do milho e dos
capins. Ela se adapta bem em vários tipos de
solo e é muito rústica, tolerante à seca, à
acidez do solo, assim como à salinidade. Pode
ser utilizada como forrageira. Produz grande
quantidade de massa com alta qualidade da
forragem. Pode ser utilizada para consumo
humano. Na África o chamam de alimento do povo.
Linhas com
espaçamento
de 25 cm e 50
sementes por
metro.
Muito usada na
alimentação dos
animais. Boa para
recuperar estufas
salinizadas. Pode ser
plantada em cordões
nos morros para
reduzir a erosão.
Bancos comunitários de sementes
São uma forma de os agricultores familiares se organizarem em torno da autonomia na
produção e manutenção de sementes de variedades ou sementes crioulas. Num tempo em que as
sementes híbridas e transgênicas dominam o mercado tornando os agricultores cada vez mais
dependentes, os bancos comunitários de sementes são uma importante estratégia para a garantia
da segurança alimentar.
As sementes de adubos verdes fornecidas para os quintais fazem parte de um projeto do
Ministério da Agricultura que visa estimular essa autonomia de agricultores em relação a essas
sementes que contribuem para melhorar as condições da terra! Já as sementes de milho vêm do
banco de sementes do Movimento Camponês Popular, uma organização de agricultores
familiares do Estado de Goiás que têm uma grande preocupação com a segurança alimentar e
produzem em quantidade suficiente para fazer doações a outros agricultores familiares!
Consideramos importante que cada comunidade do projeto Quintais Agroecológicos
organize um banco comunitário de sementes e dessa forma se fortalecerem em torno da
manutenção das sementes e do saber agrícola tradicional que vem se perdendo a cada dia!
Bokashi
Bokashi é um adubo orgânico feito a partir de farelos e tortas vegetais, como o farelo de
trigo, de arroz, torta de mamona, entre outros resíduos vegetais, podendo ser enriquecido com
farinhas animais e alguns minerais naturais.
O Bokashi, além de servir como fonte de nutrientes para as plantas, tem a função muito
importante de estimular o aumento e a diversidade de organismos que vivem no solo. Ou seja,
melhora as condições de vida tanto para minhocas, gongolos e outros bichinhos que vivem na
terra, quanto para os microrganismos benéficos de que falamos anteriormente!
Esse nome diferente tem origem no Japão e significa “diluir”, mas aqui no Brasil algumas
pessoas o chamam de “Fermento da Vida”, exatamente porque traz vida ao solo, aumentando o
número e a diversidade dos microrganismos que vivem ali! Outros no Sul do Brasil o chamam
de “adubo da independência”, pois ele ajuda os agricultores a reduzirem sua dependência dos
adubos químicos e agrotóxicos.
É um revitalizador do solo, sendo recomendado para solos cansados e fracos ou que
sofreram muito com o uso de adubos químicos e agrotóxicos! Ele também ajuda a reestabelecer
um equilíbrio dos organismos do solo e quebrar os ciclos de algumas doenças e pragas.
Fazendo o Bokashi
O local
O bokashi deve ser feito em um local coberto e com piso liso para facilitar sua mistura e
ensacamento. O local deve ser abrigado do sol e da chuva.
O material
Ingredientes:
3 sacos de farelo de trigo de 40 Kg = 120 kg
2 sacos de farelo de mamona de 50 kg = 100 kg
40 a 50 litros de água
500 ml de fermento (EM, Kefir ou EMBIOTIC)
500 g de melaço de cana, açúcar mascavo ou cristal.
O fermento utilizado para fermentar o Bokashi é formado de microrganismos eficientes.
Existem várias fontes destes microrganismos. Pode ser feito coletando-se na mata, pode ser feito
a partir do Kefir ou pode ser comprado pronto com o nome de Embiotic ou EM. Estes tipos de
microrganismos funcionam como aceleradores do processo de fermentação.
Ativação do EM (7 dias antes)
Coloca-se 200 gramas de açúcar mascavo (ou melaço de cana) em 200 ml de EM,
completando-se até 2 litros de solução. Isso deve ser feito uma semana antes de preparar o
Bokashi. Esta mistura é suficiente para 4 receitas de Bokashi, ou 880 kg de material.
EM ativado
EM
200 g ou 1 copo de açúcar
200 ml de EM
Completar até 2 litros com água
O preparo
Mistura-se o material, colocando a água as poucos, da mesma forma que se faz massa de
cimento.
Sabemos que a umidade da mistura do Bokashi está correta quando o apertamos com a
mão e ele forma um torrão que se solta fácil. Depois de muito bem misturado, devemos guardá-
lo em sacos plásticos grandes e resistentes, que ficam dentro dos sacos de ráfia, que protegem os
de plástico contra rasgões. Estes sacos não devem ficar cheios demais, portanto não é
recomendado que se coloque mais do que 30 quilos. É importante que todo o ar seja retirado de
dentro dos sacos, fechando-os e amarrando as bocas com fitilho.
Os sacos com o Bokashi devem ser guardados em local fechado, protegidos contra a
presença de ratos e outros animais que possam furá-los. Após 21 dias está pronto para o uso.
Fechado, ele pode durar até seis meses. No clima fresco da serra pode durar até mais tempo.
Os cuidados
É necessário que se observe o cheiro do material. O cheiro do Bokashi pronto é agradável
de silagem. Se estiver com cheiro podre, é sinal que a umidade pode ter ficado acima do
adequado ou o saco pode ter furado no processo de fermentação.
Modo de usar
No preparo da terra: recomenda-se aplicar a lanço numa quantidade que fica em torno de
200 gramas por metro quadrado. Tomemos como exemplo um canteiro com 10 metros de
comprimento e 1 metro de largura. Haverá, portanto, 10 metros quadrados de canteiro. Nesse
caso, o canteiro de 10 metros quadrados deve receber 2 quilos de Bokashi.
Aplicação em cobertura: o Bokashi pode ser usado sobre os canteiros.
Em plantas de espaçamento curto, tais como alface, chicória, salsa, cebolinha ou rúcula
recomenda-se aplicar 200g de Bokashi por metro quadrado entre as linhas das verduras,
misturando-o com as mãos ou com alguma ferramenta. Se possível, deve-se cobri-lo com
cobertura morta. Cuidado para não aplicar o Bokashi muito próximo das mudas, mantendo
uma distância de pelo menos 05 centímetros.
Em plantas de espaçamento médio, tais como pimentão, tomate, berinjela, jiló ou quiabo,
aplica-se 200 gramas de Bokashi divididos pelo número de plantas que cabem em 1 metro
quadrado.
Agora é começar a plantar, anotar as dúvidas que surgirem e esperar o nosso próximo
encontro na Oficina 2 que terá como tema os Controles Alternativos de Pragas e Doenças!
Até lá!
Bibliografia Consultada
Sítio duas Cachoeiras; Composto Orgânico
fonte: http://www.sitioduascachoeiras.com.br/agricultura/vegetal/composto.html
MAPA, Bancos Comunitários de sementes de adubos verdes: cartilha para
agricultores/Wutke et al. Brasilia, 2007.
INTA; La huerta orgânica familiar. Plan Nacional de Seguridad Alimentaria. 2005.
Folder: Adubação verde; Embrapa Agrobiologia. Seropédica, RJ. 2005:
Fonte: http://www.cnpab.embrapa.br/pesquisas/folders/folder_adubacao_verde.pdf
PRIMAVESI, Ana Maria; Cartilha do Solo. Fundação Mokiti Okada, 2006.