Cartilha Patologias

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Universidade Federal de Alagoas Campus do Sertão Eixo das Tecnologias Levantamento das Patologias em Residências de Delmiro Gouveia e Região Causas e Soluções Delmiro Gouveia, outubro de 2012 LAJE REVESTIMENTO PAREDES FUNDAÇÃO

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Universidade Federal de Alagoas

Campus do Sertão

Eixo das Tecnologias

Levantamento das Patologias em Residências de

Delmiro Gouveia e Região – Causas e Soluções

Delmiro Gouveia, outubro de 2012

LAJE

REVESTIMENTO

PAREDES

FUNDAÇÃO

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Esta apostila é uma publicação sem fins lucrativos, resultado do projeto “Levantamento

de patologias de estruturas em residências de Delmiro Gouveia e região – Causas e

Soluções”, da Universidade Federal de Alagoas, vinculado ao Programa AÇÕES* –

Aperfeiçoando Cursos e Originando Elos Socioambientais, do Campus do Sertão.

Equipe Técnica

Professor Coordenador: Alexandre Nascimento de Lima

Aluna bolsista: Raísa Oliveira de Melo

Aluno bolsista: Rodrigo Januário de Melo

Aluna colaboradora: Kerolaynh Pereira Santos (membro do PET Engenharias)

Aluna colaboradora: Paula Caroline Lisboa dos Santos

* O Programa de Extensão AÇÕES tem por objetivo atender eminentes demandas socioambientais do semiárido

alagoano, através da promoção de atividades extensionistas que aprimorem o ensino das Engenharias Civil e de

Produção do Campus do Sertão da UFAL, bem como estabeleçam elos com a sociedade sertaneja para melhorar sua

qualidade de vida. Ele foi criado em junho de 2010, mediante aprovação na ‘Chamada para Apoio aos Programas de

Extensão Institucionalizados das Unidades Acadêmicas nº 01/2010’ da PROEX/PROGRAD/PROPEP/PROEST. Em

dois anos de atuação, já realizou 19 cursos, 10 eventos, 32 projetos de pesquisa-ação e 96 publicações. No mais,

envolveu 11 turmas inteiras de disciplinas em projetos de pesquisa-ação e impactou cerca de 6500 pessoas (número

auditável) do Sertão alagoano.

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Levantamento das Patologias em Residências de Delmiro

Gouveia e Região – Causas e Soluções

INTRODUÇÃO

“Patologia pode ser entendida como a parte da Engenharia que estuda os sintomas, os

mecanismos, as causas e as origens dos defeitos das construções civis, ou seja, é o

estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema”. (HELENE, 1992).

Muitas são as possíveis causas para ocorrência de patologias em residências. Em sua

maioria, atribui-se essa ocorrência a falhas de projeto, de execução ou falta de

manutenção, o que acaba comprometendo o desempenho das construções.

As manutenções na construção são de suma importância, pois podem diagnosticar

pequenas manifestações patológicas, que, se cuidadas, diminuiriam consideravelmente

sua evolução para uma situação insatisfatória, o que comprometeria o ambiente estética

e funcionalmente, sem mencionar o alto custo para recuperação da patologia em estado

mais avançado.

Para detecção de manifestações patológicas e estabelecimento das soluções, duas etapas

básicas devem ser seguidas, uma primeira etapa de levantamento dos problemas

existentes e outra de investigação das possíveis causas. Para o levantamento das

manifestações patológicas faz-se necessária uma vistoria no local para determinação da

existência e da gravidade da patologia, conhecendo os elementos que estão sendo

afetados e o comprometimento dos mesmos. Na sequencia, é necessária uma análise

mais específica através de ensaios laboratoriais, ou mesmo in loco, dos elementos

afetados.

As manifestações patológicas numa edificação podem se apresentar nas fundações e

paredes, no concreto armado, nas obras de madeira, nas pinturas e em função da

umidade. De forma ampla, podem ser classificadas conforme IOSHIMOTO (1994) em

umidade, fissuras e trincas, e descolamento de revestimento.

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Neste contexto, esta cartilha apresenta as principais patologias existentes em paredes e

elementos de concreto armado, em consonância com um estudo feito na região do sertão

alagoano, mais precisamente em Delmiro Gouveia e cidades circunvizinhas. Levanta as

principais manifestações patológicas, suas possíveis causas e a proposta de algumas

soluções para as mesmas.

As etapas de construção de um edifício podem ser divididas da seguinte maneira:

planejamento, projeto, execução e utilização, podendo surgir manifestações patológicas

como consequência de qualquer uma dessas etapas.

Baseando-se no exposto, evidencia-se a importância de profissionais habilitados e mão-

de-obra qualificada para desenvolver as primeiras etapas supracitadas. Tendo em vista

que, na maioria dos casos, o cumprimento às normas técnicas poderia evitar ou

desacelerar consideravelmente os mecanismos de degradação de estruturas

(AZEVEDO, 2011).

Quanto à utilização, é a etapa onde as responsabilidades ficam por parte do usuário, que

deve realizar reparos, seguir as orientações e utilizar a edificação somente para os fins

planejados desde o projeto. E no caso de reformas, realizá-las com a orientação de um

profissional qualificado, evitando danos à estrutura existente.

DADOS OBTIDOS

Nesta sessão serão expostos os dados obtidos a partir das observações feitas in loco e

das entrevistas feitas aos moradores da cidade de Delmiro Gouveia.

Configuração das Residências

Através da observação direta, nota-se que no município de Delmiro Gouveia

predominam as residências de apenas um pavimento (figura 1), as quais possuem entre

4 e 7 (30%) ou de 8 a 11 (70%) cômodos.

Consequentemente, do ponto de vista dos moradores, o uso de elementos de concreto

armado em residências da região é bastante reduzido.

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Figura 1 – Fotos de residências analisadas.

Segundo o Código de Obras do município (DELMIRO GOUVEIA, 2005), a aprovação

de Projetos de Arquitetura e concessão de Licença de Construção são de

responsabilidade da Secretaria de Infraestrutura, Urbanismo, Transportes e Habitação,

de modo a atender as exigências do referido documento, que garante a segurança e

legalidade da obra.

No entanto, essa fiscalização não é realizada de maneira adequada, visto que na maioria

das residências não foi verificado a existência de projeto ou acompanhamento de um

profissional devidamente registrado no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura

(CREA). A figura 2 mostra essa deficiência de projetos e falta de acompanhamento de

um profissional.

(a) (b)

Figura 2 – Representação percentual de a) casas que possuem projeto e b) tiveram acompanhamento de

um profissional.

Além desta deficiência relacionada à falta de projetos e acompanhamento de

profissionais qualificados, ainda identificou-se que apenas 25% dos moradores sabem a

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procedência dos materiais utilizados na construção de suas casas, o que vem a ser um

grande problema, visto que materiais de má qualidade podem contribuir para o

surgimento de anomalias nas construções e reduzir a as vida útil.

PATOLOGIAS EM PAREDES

As patologias mais frequentes em paredes são as fissuras, manifestações de problemas

associados à água, bem como a degradação dos revestimentos e acabamentos.

Algumas das principais causas que propiciam o surgimento destas patologias

relacionam-se a causas humanas e/ou causas naturais. As causas humanas incluem

ausência de projetos, inadequação ao ambiente, informação insuficiente no projeto e má

execução do mesmo, dimensionamentos incorretos, má qualidade dos materiais

empregados e mão de obra desqualificada, ausência de manutenções, entre outros; para

as causas naturais podem-se associar as variações bruscas de temperatura do ambiente,

presença de água e de sais, vento, vegetais ou animais que possam danificar a

construção, entre outros.

Para IANSSEN e TORRESCASANA (2003), quaisquer erros ou imperfeições no

projeto e na execução das diversas etapas da construção exigem, como consequência,

adaptações não previstas no orçamento, consertos com custos complementares e até

necessidade de reconstruções completas, muito dispendiosas, e mesmo prejuízos que

aparecem bem mais tarde.

Coleta de dados

Foi aplicado um questionário previamente elaborado aos moradores de cada residência

visitada, juntamente com a coleta de amostras dos elementos que possuíam alguma

manifestação patológica e de fotos dos mesmos.

A análise dos questionários indicou que quanto à configuração da residência 96% delas

são térreas e apenas 27% tiveram sua construção acompanhada pelo morador. A

avaliação das características regionais apresentou em sua totalidade que a residência não

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está localizada em uma região propícia a chuvas constantes, alagamentos ou mudanças

bruscas de temperatura, sendo a região caracterizada por um clima quente e seco, o que

limita a hipótese das patologias serem ocasionadas por causa de chuvas.

Com relação às características construtivas, 79% das residências não possuem projetos

arquitetônicos ou complementares e sua construção não foi acompanhada por um

profissional em 74% das casas; além do tempo da construção que, em sua maioria, é

elevado e sem apresentar manutenção periódica. A falta de manutenção aliada aos erros

previamente cometidos na execução ou escolha dos materiais a serem empregados

acarretam o aumento das manifestações patológicas que surgem e, consequentemente, o

encarecimento das correções necessárias.

PRINCIPAIS PATOLOGIAS EM PAREDES

Fissuras

As fissuras, além de causarem desconforto aos usuários de residências em que estão

manifestadas, ainda reduzem a durabilidade dos revestimentos e da própria parede, e

diminuem a vida útil das edificações.

As fissuras podem ser isoladas (figura 3), atingindo tanto os blocos constituintes da

parede quanto às juntas de assentamento, podendo estar dispostas na vertical, inclinadas

ou na horizontal. As fissuras disseminadas (figura 4) formam-se pela retração da

argamassa de revestimento, em função do excesso de componentes finos no traço.

Figura 3 – Fissuras isoladas.

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Figura 4 – Fissuras disseminadas (SAHADE, 2005).

As principais causas de fissuração, mencionadas por SAHADE (2005) são recalques de

fundação, atuação de sobrecargas, variações de temperatura e de umidade, ataques

químicos, etc. Estas causas comprometem diretamente a parede, bem como seu

revestimento (chapisco e emboço/reboco). Qualquer deformação numa dessas camadas

resultará no aparecimento de tensões em todo o conjunto, proliferando as fissuras,

podendo ser agravada se não for feita a intervenção e recuperação logo após o

diagnóstico das mesmas.

Umidade

Entre todos os problemas de patologias existentes dentro da construção civil, a umidade

é um dos mais difíceis de serem corrigidos. Alguns dos principais danos provocados

pela umidade são manchas na base das construções, destruição dos rebocos, formação

de bolores, paredes mais frias, ambientes insalubres, entre outros.

Estas manifestações patológicas causam ao usuário do ambiente um desconforto quanto

à segurança de utilização mediante a probabilidade de contrair algum problema que

comprometa a saúde e o conforto de vivência neste espaço, além da questão estética

envolvida.

Algumas das principais consequências de problemas relacionados à umidade é o

aparecimento de manchas e eflorescências (figura 5) em paredes que, em sua maioria,

deve-se à infiltração de água.

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A eflorescência é causada pela formação de depósito salino na superfície dos materiais.

Podendo vir de três fatores simultâneos: o teor de sais solúveis presentes nos materiais

ou componentes, a presença de água e a pressão hidrostática para propiciar a migração

da solução para a superfície.

Figura 5 – Eflorescência

Por outro lado, o desenvolvimento de microorganismos, que ocasionam o bolor ou

mofo, é preciso apenas de um teor de umidade elevado no material onde se

desenvolvem ou no ambiente (figura 6).

Figura 6 – Mofo

Além das manifestações patológicas citadas anteriormente, a presença de umidade pode

levar ao esfarelamento da argamassa, à formação de áreas com empolamento, podendo

chegar à desagregação da superfície. O empolamento, que consiste na formação de

bolhas derivadas da evaporação da água infiltrada nas paredes geralmente antecede o

descolamento e o esfarelamento do revestimento. O descolamento com empolamento

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também pode acarretar o descascamento da pintura. Pode ser causado por problemas

quanto ao preparo do substrato ou aplicação da tinta.

Desta forma, estas patologias decorrentes de infiltrações podem gerar danos elevados

nas edificações, o que gera enormes gastos com recuperação e reparo, estes que

poderiam ser evitados com medidas preventivas executadas no início da construção,

como trabalhos de impermeabilização.

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DAS PATOLOGIAS MAIS FREQUENTES

Quanto às características patológicas em paredes, as principais encontradas foram:

aparecimento de umidade (84% das residências – figura 7), eflorescência (36% das

residências) e fissuras (87% das residências – figura 8).

Figura 7 – Umidade nas paredes das residências.

Figura 8 – Fissuras na parede.

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A umidade se encontra, geralmente, na base das paredes, até um metro de altura, em

média, em relação à base. As fissuras puderam ser observadas sobre e/ou sob os vãos de

portas e janelas (44%); na extensão das paredes, sejam verticais, horizontais ou

inclinadas; ou na ligação da parede com algum elemento estrutural em concreto armado.

Dessas patologias encontradas a maioria possui caráter não estrutural, estas que não

interferem na estabilidade dos demais elementos construtivos da residência.

O questionário possuía uma seção onde o morador entrevistado dava sua opinião acerca

da (s) patologia (s). Quarenta e sete por cento dos entrevistados reclamam de problemas

estéticos causados pelas patologias na residência; 20% mostraram preocupação com a

perda de desempenho da edificação; 18% destacaram as consequências à saúde dos

moradores e 17% apontaram às dificuldades financeiras decorrentes de possíveis

reformas.

O questionário captou a opinião do morador quanto às possíveis causas das patologias:

42% acham que é defeito de construção (técnicas e de mão-de-obra); 21% apontaram os

materiais de construção utilizados; 19% mencionaram o tempo ou o clima

(principalmente a chuva) como principal causa. Digno de nota é que muitos mencionam

a existência de sal no solo (conhecido na região como “salitre”) como causador de

diversas patologias. Dezenove por cento admitiram não saber os motivos.

Foram retiradas e analisadas em laboratório amostras de reboco e revestimento colhidos

in loco, a fim de apontar tecnicamente possíveis causas destas manifestações.

Possíveis soluções

A análise da pesquisa (questionários e fotos) mostra que a região da cidade de Delmiro

Gouveia ainda está aquém no que diz respeito à tecnologia das construções. Há

predominância de residências com apenas um pavimento adicionada ao fato de apenas

uma pequena minoria ter utilizado de um profissional habilitado para projetar e

acompanhar a construção. Ainda vive-se no empirismo das experiências da mão de obra

local.

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A princípio, a umidade característica comum nas bases de paredes ocorre,

principalmente, devido à umidade ascendente, proveniente do solo, por capilaridade.

Esta umidade poderia ser evitada pela utilização de materiais impermeabilizantes, com

base asfáltica, quando da construção, sobre o alicerce e, com base polimérica, misturada

à argamassa de assentamento das, pelo menos, três primeiras fiadas (VEDACIT, 2011).

Alternativa é a utilização de cintas de concreto armado, que também podem diminuir a

ascensão de água.

Com relação às amostras de argamassa de revestimento coletadas, estas foram ensaiadas

para determinação da presença de cloretos. Os ensaios foram realizados tendo como

base a norma da Petrobras N-1946 de 1997. As amostras foram primeiramente

desagregadas por meio de um pistilo em um gral. Das 13 amostras coletadas, 10

amostras (77%) apresentaram coloração amarela, indicando que a solução de água

destilada em contato com a amostra apresenta um teor superior a 40 ppm de cloretos.

Embora este ensaio não seja totalmente conclusivo, indica a possibilidade de existência

de sais em excesso, o que explicaria a grande ocorrência de eflorescências (figura 3)

sobre os revestimentos (34% das residências).

Contudo, através deste ensaio, não é possível determinar a procedência dos cloretos –

dos materiais utilizados na confecção do revestimento (areia, argila e cimento) ou do

bloco (ou tijolo) da parede, pois a água de ascensão pode transportá-lo de qualquer um

destes.

Em residências já construídas, diferente do que a maioria dos moradores opinaram, a

umidade e eflorescências não podem ser evitados pela troca da argamassa de

revestimento ou pela aplicação de revestimento cerâmico sobre o primeiro, pois isso só

iria cobrir a patologia. A fonte de umidade é que deve ser combatida. Uma opção seria a

aplicação de placas de manta impermeabilizante na base das paredes.

Quanto às fissuras normalmente encontradas próximas aos vão de portas e janelas, estas

indicam o mau costume da região de não colocar vergas e contra-vergas de concreto

armado nessas regiões de alta concentração de tensões. Referindo-se as demais fissuras,

estas podem ser corrigidas com a aplicação de grampos metálicos e reconstituição de

parte da argamassa de revestimento na região da patologia.

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PATOLOGIAS EM ELEMENTOS DE CONCRETO ARMADO

ORIGEM DAS PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

O concreto é considerado um material durável. Mesmo assim, a ocorrência de um

grande número de patologias em estruturas de concreto armado tem causado índices

elevados de deterioração nas mesmas e consequentemente reduzindo sua durabilidade.

Nesse contexto, o estudo dessas patologias, quanto à sua origem, contribui para

identificar erros ocorridos durante a construção ou utilização dessas estruturas e

subsidia a correção e prevenção desse tipo de anomalia.

TIPOS DE PATOLOGIAS

As patologias mais frequentes em peças de concreto armado são fissuras, corrosão e

desagregação do concreto.

As fissuras podem surgir por mais de uma causa, estas podem ser identificadas por sua

posição do elemento e por sua profundidade. Contudo a maioria das fissuras encontrada

em estruturas de concreto armado é causada por tensões de tração que excedem a

capacidade da estrutura.

Outro problema comum são os vazios dentro do concreto, causados pelo mau

adensamento quando aplicado às formas. A desagregação dos componentes do elemento

podem ser causados pelo uso de concreto com porosidade elevada e como consequência

levar a exposição da armadura e corrosão da mesma.

A corrosão da armadura em muitos casos é causada por sua exposição a fatores físicos,

químicos ou naturais. Uma vez ocorrida, provoca alterações na peça afetada.

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O quadro 1 expõe algumas dessas anomalias, bem como suas formas de manifestação.

Quadro 1 – Principais patologias, mecanismos e sintomas. Adaptado de Azevedo (2011).

PRINCIPAIS PATOLOGIAS ENCONTRADAS

A averiguação dos elementos estruturais das residências mostra que poucas possuem

pilares, vigas, laje e verga simultaneamente, posto que em algumas moradias existam

uma superestrutura mista, apresentando (concreto + parede), um exemplo desse tipo de

superestrutura, são lajes e vigas apoiadas sobre pilares de tijolos/blocos. Ainda é

importante ressaltar o pouco uso de vergas nas casas, uma vez que apenas 10% possuem

esse tipo de elemento, o que resulta, em muitos casos, no surgimento de fissuras acima

do vão de portas e janelas (Figura 10).

Figura 10 – Fissuras causadas pela ausência de verga

Origem Mecanismos de Deterioração Sintomas

Concreto

Lixiviação Eflorescência

Ataques por sulfatos Fissuração e perda de massa

Reação álcali agregado Expansão e Fissuração

Atrito seco

Desgaste da superfície Erosão

Cavitação

Armadura Corrosão de armaduras Expansão, fissuração e lascamentos

Estrutura

Ações mecânicas Fissuras, lascas

Deformações e fissuras

Dilatação térmica Fissuras verticais em contato com

elemento que restringe a contração

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Pilares

Em relação aos pilares, foram observadas trincas e/ou fissuras (figura 11), em 25% das

moradias sendo estas horizontais, verticais ou inclinadas. Ainda observa-se a ausência

de vigas na maioria das residências que apresentam esse tipo de patologia, o que pode

ser a causa dessas anomalias, visto que a não utilização da mesma pode acarretar na má

distribuição de tensões sobre a estrutura. Outras causas possíveis para esse tipo de

manifestação patológica é o recalque da fundação, consequente de deformações do solo

ou ainda de excesso de cargas sobre um pilar.

Figura 11 – Pilar com fissura vertical

Vigas

Em vigas, foram verificadas duas patologias com maior frequência, a desagregação do

concreto e fissuras/trincas longitudinais. A causa provável para o primeiro tipo

relaciona-se ao processo de execução, falda de adensamento, prejudicando a coesão dos

componentes do concreto e resultando em um alto índice de vazios. Com essa

desagregação do concreto, a armadura do componente fica exposta a fatores externos

(figura 12).

Figura 12 – Desagregação de concreto em viga e exposição da armadura.

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Quanto às fissuras e trincas, não foi possível uma análise mais detalhada quantos as

causas das mesmas, no entanto, podem-se apontar algumas das causas prováveis para

esse tipo de anomalia.

Fazendo uma averiguação em algumas das casas visitadas, fica evidente um dos

principais motivos que podem causar este tipo de problema, a corrosão da armadura,

pela infiltração de água pela laje, já que na maioria das residências as lajes não possuem

impermeabilização. Por sua vez, a corrosão provoca o “inchamento” das barras de aço

no interior da viga, refletindo este problema no exterior da peça (figura 13).

Figura 13 – Fissuras longitudinais em vigas

Lajes

Como 95% das casas entrevistadas são térreas, as lajes presentes nas mesmas, são

utilizadas apenas como cobertura. Foram encontradas lajes pré-moldadas e moldadas no

local.

Como patologias foram observadas desagregação do concreto e consequentemente

exposição da armadura (figura 14). A causa desse tipo de problema ocorre pelo

cobrimento inadequado de concreto sobre a armadura, devido a ausência de espaçadores

entre a forma e a armadura durante a concretagem.

Neste caso, um cobrimento correto da armadura resultaria em uma proteção eficaz,

proporcionando um desempenho satisfatório da estrutura, uma vez que a exposição da

armadura a agentes externos pode causar sua corrosão e desgaste da estrutura.

Page 17: Cartilha Patologias

Figura 14 – Exposição da armadura em lajes devido a desagregação do concreto.

Outro problema frequente em moradias da região é a infiltração em lajes, que acarreta

em problemas como manchas e destacamento do revestimento (figura 15a). Ainda foi

observado outro problema proveniente da infiltração, o mofo, que se manifesta com

frequência (figura 15b).

(a) (b)

Figura 15 – Lajes com destacamento do reboco (a) e infiltração (b).

Fazendo um estudo das principais patologias que ocorrem em estruturas de concreto

armado, se percebe que a manifestação patológica que ocorre com maior frequência é a

infiltração em lajes, visto que essa foi encontrada em 40% das moradias entrevistadas.

A figura 16 mostra a ocorrências dessas patologias nas casas entrevistas e deixa clara a

ocorrência de infiltração em lajes.

Page 18: Cartilha Patologias

Figura 16 – Gráfico com a ocorrência de patologias em cada elemento estrutural.

MÉTODOS PARA SOLUÇÃO DE PATOLOGIAS EM CONCRETO ARMADO

Pilares

Para correção de fissuras em pilares, são aplicadas algumas técnicas como a selagem,

preenchimento ou costura das fissuras. A selagem consiste em vedar as fissuras com

material aderente, flexível e que tenha resistência química e mecânica, para se adaptar

as deformidades da abertura.

O preenchimento consiste na injeção de materiais específicos, a exemplo de resinas à

base de epóxi, nas fissuras e trincas, aplicadas com equipamento apropriado.

O método da costura consiste em utilizar armadura para resistir ao esforços de tração

que causam a patologia. Para evitar que a patologia voltar a ocorrer em outras partes da

peça, sugere-se colocar os “grampos” com inclinações diferentes. Ao fim, preenche a

fenda com argamassa.

Lajes e Vigas

Fissuras causadas por infiltração

As fissuras longitudinais em vigas causadas por infiltração podem ser tratadas de

maneiras diferentes, como selar as fissuras com resina, preencher a fissura com

argamassa impermeável e passar material impermeabilizante sobre toda a laje.

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Caso se manifestem trincas, as quais podem comprometer a resistência da peça, é

necessário realizar um estudo para uma intervenção mais cuidadosa e objetiva para o

problema encontrado.

Fissuras longitudinais

Para corrigir esse tipo de anomalia, é necessário adicionar reforços à armadura,

adicionando novas armaduras tracionadas, podendo ser de barra ou chapa de aço, ou

com um camisamento de fibras de carbono, muito dispendioso para usar em residências.

Desagregação do Concreto

Para tratamento de armaduras corroídas é necessário realizar alguns procedimentos

fundamentais, como recomenda LAPA (2008).

Definição da área a ser tratada;

Remoção do concreto contaminado, utilizando ferramentas manuais e jato

d’água, até pontos de armadura íntegra, onde se possa realizar ancoragem;

Limpeza das barras corroídas, com escova de aço para pequenas áreas ou jato

d’água e ar para grandes áreas;

Análise das barras corroídas, no que se refere a perda de sua capacidade, a qual

não deve ser superior a 10%, caso contrário, deverá ser realizado reforço nas

mesmas;

Após a remoção de detritos, toda a armadura (tratada e suplementar) devem ser

revestidas por tinta especial anti-ferruginosa.

Reconcretar o elemento tratado com concreto convencional e aditivado, sendo

recomendado concreto projetado, também aditivado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preocupação com a escolha dos materiais que serão empregados em uma construção,

a impermeabilização necessária, mediante a análise da região, do solo, entre outros

fatores, interferem na qualidade dos materiais, podendo deteriorá-los com o tempo. O

Page 20: Cartilha Patologias

acompanhamento de um profissional durante a execução é de suma importância quando

se quer uma maior durabilidade das edificações, atendendo as necessidades a qual são

propostas. Tomando os devidos cuidados podem-se evitar custos desnecessários e

garantir uma maior vida útil do imóvel.

No entanto, verificou-se nas residências visitadas que são frequentes falhas relacionadas

à ausência de projetos, utilização de materiais de baixa qualidade, entre outros, que

interferem diretamente no aparecimento de manifestações patológicas. Além da

despreocupação dos moradores quanto à necessidade de acompanhamento das

construções por um profissional habilitado e de manutenção periódica de suas

residências. Porém, com o aparecimento dos problemas, os mesmos se mostram

preocupados com o surgimento de patologias, contudo, não detém conhecimento para

solucioná-las.

REFERÊNCIAS UTILIZADAS

AZEVEDO, M.T. Patologia das estruturas de concreto. In: ISAIA, G.C. Concreto:

ciência e tecnologia. São Paulo: IBRACON, 2011.

DELMIRO GOUVEIA. Código de Obras Municipal. 2005.

HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de

concreto. Editora PINI – 2ª Edição – São Paulo – SP, 1992.

IANSSEN, Daniel; TORRESCASANA, C.E. Análise das patologias das edificações

de Chapecó. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Curso de Graduação em

Engenharia Civil, Unochapecó, Chapecó, 2003.

IOSHIMOTO, Eduardo. Incidência de Manifestações Patológicas em Edificações

Habitacionais. São Paulo: IPT, 1994. (Publicação 2182).

LAPA, J. S. Patologia, recuperação e reparo das estruturas de concreto. 2008. 56p.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Escola de

Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2008.

SAHADE, Renato Freua. Avaliação de Sistemas de Recuperação de Fissuras em

Alvenaria de Vedação. São Paulo, SP, 2005. 169p. Dissertação (Mestrado em

Habitação). Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT.

VEDACIT. Manual técnico Impermeabilização de estruturas. Edição 2011.