CARTOGRAFIA DAS PRÁTICAS DE APOIO NA ATENÇÃO...
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JANAINA RODRIGUES CARDOSO
CARTOGRAFIA DAS PRTICAS DE APOIO NA ATENO PRIMRIA SADE
NA REGIONAL RECANTO DAS EMAS, DISTRITO FEDERAL
Braslia, 2015
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
FACULDADE DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE COLETIVA
JANAINA RODRIGUES CARDOSO
CARTOGRAFIA DAS PRTICAS DE APOIO NA ATENO PRIMRIA SADE
NA REGIONAL RECANTO DAS EMAS, DISTRITO FEDERAL
Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno
do Ttulo de Mestre em Sade Coletiva pelo Programa de
PsGraduao em Sade Coletiva da Universidade de Braslia.
Orientador: Gustavo Nunes de Oliveira
Braslia
2015
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JANAINA RODRIGUES CARDOSO
CARTOGRAFIA DAS PRTICAS DE APOIO NA ATENO PRIMRIA SADE
NA REGIONAL RECANTO DAS EMAS, DISTRITO FEDERAL
Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno
do Ttulo de Mestre em Sade Coletiva pelo Programa de
PsGraduao em Sade Coletiva da Universidade de Braslia.
Aprovado em 26 de fevereiro de 2015
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Gustavo Nunes de Oliveira (presidente)
Universidade de Braslia UnB
Profa. Dra. Dais Gonalves Rocha
Universidade de Braslia UnB
Prof. Dr. Ricardo Sparapan Pena
Universidade Federal Fluminense
Profa. Dra. Helena Eri Shimizu (Suplente)
Universidade de Braslia UnB
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Dedico este trabalho ao Eder, meu marido
e meu amor, e minha minha me, pelo
seu exemplo de vida.
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Gustavo Oliveira, meu orientador, que acompanhou toda a
construo desta interveno com muita dedicao, pacincia e comprometimento,
me inspirando confiana para construir esta pesquisa com liberdade.
Professora Doutora Paula Furlan, por ter vivido a pesquisa de campo comigo e ter
compartilhado seu conhecimento de forma to amvel e sbia.
Ao grupo de pesquisa pelo aprendizado, pela amizade construda e pela participao
imprescindvel para a realizao deste trabalho, em especial Milena, ao Magno e ao
Andr pela disponibilidade de estarem comigo na conduo dos grupos focais, e
Francini pela sua colaborao imprescindvel.
Aos gestores e trabalhadores do Recanto das Emas por sempre terem acreditado na
potencialidade deste trabalho, pois sem eles este trabalho seria invivel.
Aos gestores e tcnicos da SAPS e da Fepecs pelo envolvimento.
Aos apoiadores institucionais do Ministrio da Sade por compartilharem suas
experincias de apoio, em especial s colegas: Ailana, Maria da Paz, Michele, Nara e
Rejane pela pacincia e generosidade; Ligia pelos momentos de aprendizado
compartilhados; e ao Srgio pela compreenso e pacincia.
Aos professores e colaboradores da Faculdade de Sade Coletiva da UnB.
s colegas do Mestrado: Charlene, Mayara, Pauline, Aline, Kelly e Maria Alessio; por
terem compartilhado experincias e aprendizado.
Aos professores doutores: Dais Rocha, Ricardo Pena e Helena Shimizu; pela
participao na minha banca e pelas ricas contribuies.
minha amiga Mrcia, pela confiana, pacincia e apoio nessa caminhada.
querida Ktia Uchimura, pelo seu incentivo e contribuio no projeto para minha
insero no mestrado.
Aos meus familiares: minha me, Aloma, Taty, Jlia e Joo Vitor; que sempre me
impulsionam em direo s vitrias. Amo vocs!
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Ao meu marido, que me incentivou e torceu pela minha insero neste mestrado e
que, durante todos os momentos da construo deste trabalho, esteve ao meu lado,
me passando confiana e tranquilidade e me auxiliando nos momentos mais difceis.
Obrigada por ter feito do meu sonho o nosso sonho.
Ningum vence sozinho. Obrigada a todos!
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RESUMO
A pesquisa foi realizada no mbito do Sistema nico de Sade do Distrito
Federal, apostando-se na insero do apoio institucional como dispositivo para
ressignificar a compreenso dos processos de trabalho e de gesto da Ateno
Primria Sade. Nesse contexto, buscou-se cartografar as prticas de apoio na
Ateno Primria Sade da Regional Administrativa do Recanto das Emas e
correlacion-las com as prioridades de sade do Distrito Federal, mediante pesquisa
interveno, sob referencial qualitativo, com mtodos participativos, produo de
narrativas coletivas e cartografia. A experimentao do apoio propiciou: qualificao
e alinhamento das aes institucionais com as prioridades da gesto; qualificao,
humanizao e melhoria dos processos de trabalho e da gesto; implantao de
colegiados gestores; ativao de redes de coletivos preocupados com a qualificao
da assistncia e da gesto; interveno nas prticas cotidianas dos servios da
Ateno Primria. Conclui-se que as prticas de apoio podem aprimorar os processos
de gesto democrtica e contribuem para a qualificao da assistncia.
Palavras-chave: Sade Pblica, Ateno Primria Sade, Integralidade em Sade,
Gesto em Sade, Humanizao da Assistncia.
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ABSTRACT
The survey was conducted within the National Health System of the Federal
District, focusing on the integration of institutional support as a device to reframe the
understanding of work processes and management of Primary Health Care. In that
context, we sought to map the supporting practices of Recanto das Emas' Primary
Administrative Regional Health and correlate those to the health priorities of the
Federal District through research intervention in a qualitative framework, participatory
methods, production of collective narratives and cartography. The trial of the support
provided qualification and alignment of institutional actions with the priorities of
management; qualification, humanization and improvement of work processes and
management; incorporation of collegiate managers; activation of collective networks
concerned with the qualificaion of care and management; intervention in the daily
practices of primary care services. Conclusively, the support practices can enhance
the democratic management processes and contribute to the quality of care.
Keywords: Public health, Primary Health Care, integrality in health, health
management, humanization of assistance.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Diagrama de constituio dos grupos de interveno do apoio .................. 61
Figura 2 Diagrama de interveno dos espaos coletivos ........................................ 65
Figura 3 Problemas organizacionais identificados pelo Colegiado Gestor do RE ..... 68
Figura 4 Conformao das rodas de apoio ............................................................... 69
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quantidade de encontros por grupos de interveno do apoio ............... 61
Tabela 2 Problemas para o exerccio da funo de coordenao de programa .... 77
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS - Sndrome da Imunodeficincia Adquirida
AIS - Aes Integradas de Sade
APS - Ateno Primria a Sade
CF1 - Clnica da Famlia1
COAP - Contratos Organizativos de Ao Pblica
CODEPLAN Companhia de Planejamento do Distrito Federal
DAB - Departamento de Ateno Bsica
DAD - Departamento de Apoio Descentralizao
DAF - Departamento de Assistncia Farmacutica
DAI - Departamento de Articulao Interfederativa
DAPES - Departamento de Aes Programticas Estratgicas
DARAS - Departamento de Articulao de Redes de Ateno Sade
DAS - Diretor de Ateno a Sade
DF - Distrito Federal
DIRAPS - Diretoria Regional de Ateno Primria Sade
eSF - Equipes de Sade da Famlia
ESF - Estratgia Sade da Famlia
Fepecs Fundao de Ensino e Pesquisa em Cincias da Sade
Fiocruz - Fundao Oswaldo Cruz
GDF - Governo do Distrito Federal
GM - Gabinete do Ministro
GO - Gois
GPP - Gerncia de Polticas e Programas
HIV - Vrus da Imunodeficincia Humana
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
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ICS - Instituto Candango de Solidariedade
IDH - ndice de Desenvolvimento Humano
INAMPS - Instituto Nacional da Assistncia Mdica da Previdncia Social
MPAS - Ministrio da Previdncia Social
MS - Ministrio da Sade
NASF - Ncleo de Apoio Sade da Famlia
NGAI - Ncleo Gestor do Apoio Integrado
NOB - Norma Operacional Bsica
OMS - Organizao Mundial da Sade
PACS - Programa de Agentes Comunitrios de Sade
PDAD - Pesquisa Distrital por Amostra de Domiclios
PIB - Produto Interno Bruto
PLUS - Plano de Localizao de Unidade de Servios
PNAB - Poltica Nacional de Ateno Bsica
PNH - Poltica Nacional de Humanizao
PNS - Plano Nacional de Sade
PSC - Programa Sade em Casa
PSF - Programa Sade da Famlia
RAS - Rede de Ateno Sade
RE - Recanto das Emas
SAPS - Subsecretaria de Ateno Primria em Sade
SAS - Secretaria de Ateno Sade
SC - Santa Catarina
SCTIE - Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos
SE - Secretaria Executiva
SEPLAN - Secretaria de Estado de Planejamento, Oramento e Gesto
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SES - Secretaria Estadual de Sade
SESAI - Secretaria Especial da Sade Indgena
SGTES - Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao na Sade
SGEP Secretaria de Gesto Estratgica e Participativa
SM - Salrio Mnimo
SUS Sistema nico de Sade
UnB - Universidade de Braslia
UPA - Unidade de Pronto Atendimento
WHO - World Health Organization
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SUMRIO
1 INTRODUO ....................................................................................................... 16
1.1 CONHECENDO O DISTRITO FEDERAL E A REGIO ADMINISTRATIVA
RECANTO DAS EMAS ............................................................................................. 16
1.2 A ATENO PRIMRIA SADE NO DF E NO RECANTO DAS EMAS ......... 18
1.3 AS PRIORIDADES DE GOVERNO PARA A REA DA SADE NO DF............. 19
2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 23
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 26
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 26
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................... 26
4 CAMPO TERICO ................................................................................................. 27
4.1 SADE COMO DIREITO .................................................................................... 27
4.2 ATENO PRIMRIA SADE ........................................................................ 28
4.3 CONHECENDO AS BASES TERICO METODOLGICAS SOBRE O APOIO 33
4.3.1 Apoio Paidia ................................................................................................... 33
4.3.2 Apoio Interno e Externo .................................................................................... 37
4.3.3 Modalidades do Apoio ...................................................................................... 37
4.3.3.1 Apoio Matricial ............................................................................................... 38
4.3.3.2 Apoio Institucional ......................................................................................... 39
4.4 ESPAOS COLETIVOS COMO UMA QUESTO METODOLGICA PARA A
INSTALAO DA COGESTO PARA O EXERCCIO DO APOIO ........................... 39
4.5 O APOIO INTEGRADO E AS REDE DE ATENO SADE NO MINISTRIO
DA SADE ........................................................................................................... 41
4.6 PESQUISA INTERVENO ............................................................................... 48
4.6.1 Cartografia ........................................................................................................ 50
4.6.2 O Conceito de Interveno ............................................................................... 53
4.6.3 Narrativas ......................................................................................................... 54
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5 CAMINHO METODOLGICO ................................................................................ 56
6 RESULTADOS E DISCUSSES ........................................................................... 63
6.1 ESPAOS DE INTERVENO DO APOIO: GRUPO DE COGESTO ............. 69
6.2 ESPAOS DE INTERVENO DO APOIO: GRUPO DE APOIO GPP .......... 74
6.3 AS PRIORIDADES DA GESTO E O APOIO INSTITUCIONAL ........................ 81
6.4 DEVOLUTIVA DA PESQUISA: OPORTUNIZANDO VALIDAO DE
CATEGORIAS DE ANLISE E EFETIVANDO OS PROCESSOS PARTICIPATIVOS
JUNTO AOS SUJEITOS INTERESSADOS .............................................................. 87
7 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 89
8 REFERNCIAS ...................................................................................................... 90
APNDICE A Roteiros norteadores ..................................................................... 101
ANEXO A Aprovao da pesquisa pelo comit de tica ...................................... 105
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1 INTRODUO
1.1 CONHECENDO O DISTRITO FEDERAL E A REGIO ADMINISTRATIVA
RECANTO DAS EMAS
Em sua fundao o Distrito Federal possua 0,2% da populao brasileira.
Atualmente chega a 1,4%, com 2.570.160 habitantes (IBGE, 2010e). A taxa de
crescimento populacional anual, no perodo de 2000 a 2010, foi de 2,28%, enquanto
a brasileira foi de 1,17%, sendo a quarta unidade da federao que mais cresceu. O
Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Distrito Federal (DF) trs vezes acima da
mdia brasileira. Trata-se da unidade da federao com a maior arrecadao e possui
o Indce de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,844, ficando apenas 0,003 pontos
abaixo de Florianpolis (SC) que possui o maior do Brasil. Todavia, ao se examinar
indicadores especficos, que medem o grau de desigualdade social, como por
exemplo, o ndice Gini, constata-se que a distribuio de renda entre os indivduos do
DF a pior do Pas (SEPLAN, 2011).
Existem hoje 46.588 pessoas em situao de extrema pobreza, que equivale a
1,8% da populao do DF e a maior concentrao est nas faixas etrias de 5 a 14
anos (27,85%) e de 20 a 39 anos (26,1%). A populao economicamente ativa de
1.401.000 indivduos e 12% dessa populao est desempregada (CODEPLAN,
2013).
O Recanto das Emas (RE) a XV Regio Administrativa das 31 do DF e foi
criada e regulamentada em 1993, para atender o programa de assentamento do
Governo do DF. Limita-se com as regies administrativas XII, II, XXI, que so
respectivamente Samambaia ao norte, Gama ao sul, Riacho Fundo II ao leste, e com
o municpio de Santo Antnio do Descoberto (GO) ao oeste. Com populao estimada
de 133.527 habitantes, sendo 23,5% at 14 anos de idade, populao
economicamente ativa de 69,50% e 7,00% dos habitantes com 60 anos ou mais.
Obteve um crescimento de 2011 para 2013 de 3,5%, enquanto o DF, conforme censo
de 2000 e 2010, obteve um crescimento de 2,3%, em decorrncia da migrao interna,
principalmente de pessoas procedentes de Ceilndia, Taguatinga e Samambaia
(CODEPLAN, 2013).
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Com relao infraestrutura, o Recanto das Emas demonstrou que 10,6% das
pessoas vivem em condies no recomendveis de habitabilidade e existem 17,87%
de domiclios que no possuem nenhum tipo de filtro de gua. Com relao ao nvel
de instruo, apenas 35,1% dos jovens da faixa etria de 18 a 24 anos residentes no
Recanto das Emas frequentavam escola, sendo 58,9% frequentam escola pblica.
Com relao a populao total, identificou-se que 68% no estuda e h evaso escolar
aps o ensino fundamental e aps a concluso ensino mdio (CODEPLAN, 2013).
A renda familiar constitui um indicador amplamente utilizado para anlise da
situao socioeconmica e o estudo da Pesquisa Distrital por Amostra de Domiclios
(PDAD) em 2013, que avaliou a distribuio da renda domiciliar bruta mensal, apontou
que 46,81% recebiam de 2 a 5 salrios mnimos (SM), 25,03% recebiam de 1 a 2 SM
e que 9,13% ganham at 1 SM. J em Braslia, segundo os dados da PDAD em 2012,
a renda domiciliar bruta mensal de 34,4% dos domiclios foi de mais de 20 SM, em
31,4% estava entre 10 e 20 SM e que em 12,8% dos domiclios a renda bruta mensal
era de at 5 SM (CODEPLAN, 2012, 2013).
No Recanto das Emas, 84,10% da populao Sistema nico de Sade (SUS)
dependente, no existe hospital publico ou privado e quando perguntada sobre
utilizao de servios hospitalares, 76,43% da populao declarou que faz uso deste
servio em outras regies de sade, como por exemplo: 37,01% em Taguatinga;
13,38% em Braslia; 11,25% no Gama; 10,38% em Samambaia; e 5,96% em
Ceilndia. Nesta regio existe uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em que
15,51% dos entrevistados consideraram a UPA como hospital. Com relao
utilizao dos postos de sade, 16.425 mil (12,30%) pessoas relataram no utilizar
este tipo de servio do Estado e os que utilizam, 117.102 pessoas, 91,93% procuram
este servio no Recanto das Emas e o restante em outras regies, principalmente
Braslia e Taguatinga (CODEPLAN, 2013). De acordo com o PDAD, 2012, 80,7% da
populao de Braslia possui plano de sade privado (CODEPLAN, 2012).
De acordo com o Decreto no 6.135, de 26 de junho de 2007, o Governo Federal
definiu como famlias de baixa renda quelas com renda familiar mensal per capita de
at meio salrio mnimo. A pesquisa PDAD, 2013, utilizou o salrio de R$ 622,00 como
referncia. O percentual de domiclios abaixo da linha da pobreza, que considera tanto
aqueles em situao de pobreza como os de extrema pobreza, era de 4,0%, ou 1.404
domiclios, onde residiam 4,6% da populao, ou 6.085 pessoas. Com relao aos
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benefcios sociais, essa mesma pesquisa demonstrou que, de acordo com as
informaes das pessoas, no coincidindo necessariamente com o nmero
cadastrado nos bancos de dados do governo, 12,7% recebem bolsa famlia
(CODEPLAN, 2013).
Braslia teve um aumento demogrfico superior capacidade de
implementao do Plano de Assistncia a Sade e, durante o perodo da criao do
Recanto das Emas, em 1993, a sade no DF, que era prioritariamente hospitalar,
estava em crise oramentria decorrente da Norma Operacional Bsica (NOB) 91 e
92, que alterara a forma de repasse dos recursos federais para os Estados e
municpios. Em 1993 foi publicada a NOB 93 que criou outras formas de repasses de
recursos e, neste mesmo ano, foi promulgada a Lei Orgnica do Distrito Federal,
transcrevendo as disposies da Constituio distrital e das Leis N 8080/90 e N
8142/90 em seu Captulo II e artigos 204 a 216 (CMARA LEGISLATIVA DO
DISTRITO FEDERAL, 1993).
1.2 A ATENO PRIMRIA SADE NO DF E NO RECANTO DAS EMAS
Os modelos de Ateno Bsica desenvolvidos at o momento, constitudos
pelos: Programa Sade em Casa (1996 a 1998); Programa Sade da Famlia (1999 a
2003); e Famlia Saudvel (2004 a 2006). Tais polticas tiveram em comum a
focalizao da oferta de um pacote de servios de APS s parcelas populacionais, em
especial s de periferias urbanas. Em todo esse transcurso, dois modelos de APS
tiveram que conviver juntos, um baseado em unidades tradicionais no
territorializadas e outro baseado na Estratgia de Sade da Famlia (ESF)
(HILDEBRAND, 2008).
A implantao do Programa Sade em Casa (PSC) pelo DF, ocorrido entre os
anos de 1996 e 1998, assemelhava-se ao Programa Sade da Famlia (PSF) proposto
pelo Governo Federal. Em 1997, a cobertura populacional era de 53,4% (803.900
habitantes) e em 1998 chegou a 88,2%. Em 1997 o Recanto das Emas tinha uma
populao de 75.000 habitantes e com 100% de cobertura do PSC. (GTTEMS, 2010,
p.129)
Com o processo eleitoral em 1999, ocorreram mudanas de gestores e estes
romperam o convnio com o o Instituto Candango de Solidariedade (ICS) que fazia a
gesto do Programa Sade em Casa o qual, em decorrncia disso, foi extinto. No ano
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2000 ocorreu a V Conferncia de Sade do Distrito Federal, na qual foi defendida a
implantao do PSF e, com isso, foi garantida sua incluso no Plano de Sade do
Distrito Federal de 2001 a 2003. O Recanto das Emas tinha 100% de cobertura do
PSC, com a implantao do PSF, ficou com uma cobertura de 48,39%, utilizando-se
os parmetros de 13.286 habitantes por equipe, o que no est de acordo com as
diretrizes do PSF proposto pelo Ministrio da Sade (MS), que de 5 mil pessoas por
equipe. Em 2003 os novos gestores criaram o Programa Famlia Saudvel, que tinha
como diretrizes a Estratgia Sade da Famlia (ESF), e reconheceram as iniciativas
dos programas anteriores. Nessa poca foram destacados como problemas o
crescimento populacional e o perfil dos profissionais de sade no modelo biomdico
e hospitalocntrico (HILDEBRAND, 2008; GTTEMS, 2010).
Em 2006 o slogan Programa Famlia Saudvel assumiu o nome de Estratgia
Sade da Famlia (ESF) e coordenado pela Diretoria de Ateno Primria e Estratgia
Sade da Famlia, poca responsvel por todas as aes da Ateno Primria a
Sade (APS).
As teses de doutorado da Hildebrand (2008) e Gttems (2010), apontaram que,
dos programas constitudos de 1997 a 2006, o PSC foi o que obteve melhores
resultados e os motivos foram a construo de uma agenda poltica de governo
coerente com a proposta contida no plano de sade e a congruncia com as
deliberaes dos fruns de sade do controle social da poca. Esses estudos tambm
consideraram que essa estratgia permitiu que a proposta passasse do texto para a
prxis, com discusses democrticas e com garantia da autonomia para as regionais
trabalharem com suas necessidades de sade. Para alguns pesquisadores preciso
redefinir o processo de trabalho e a prtica dos Centros e Postos de Sade, bem como
a organizao da rede de servios de sade existente no DF para operacionalizar a
mudana do modelo de ateno (TEIXEIRA, 2007; PAIM, 1999). J para Gttems
(2010) necessrio agregar autoridade sanitria local, competncias polticas e
tcnicas para a defesa da sade internamente ao governo e junto sociedade local.
1.3 AS PRIORIDADES DE GOVERNO PARA A REA DA SADE NO DF
Em agosto de 2010 foi criada a Subsecretaria de Ateno Primria em Sade
(SAPS) que representou um marco para a consolidao e o fortalecimento da ateno
primria no DF e para o enfrentamento dos desafios existentes. O Governo do Distrito
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Federal (GDF) elaborou o Plano de Reorganizao da APS pelo GDF (2010), que teve
como objetivo geral contribuir para a retomada da APS a partir da expanso e da
qualificao da ESF, no perodo de cinco anos (2010 a 2014). Este plano props
quatro eixos: estruturao da gesto e dos servios da APS (infraestrutura fsica, de
equipamentos, de insumos e de recursos humanos); organizao e qualificao do
processo de trabalho das Equipes de Sade da Famlia (eSF) e das equipes de apoio
(Ncleo de Apoio Sade da Famlia-NASF, Sade da Populao de Rua, Sade
Prisional e Ateno Domiciliar); monitoramento e avaliao das aes de sade
desenvolvidas nos servios de APS; e desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre
a APS.
Para implementar esses eixos o plano detalhou: expandir de forma ordenada e
gradual as eSF, a Ateno Domiciliar, o sistema prisional, a populaco de rua e os
NASF; aumentar a resolutividade das equipes atravs da incorporao de recursos
humanos qualificados; implementar tecnologias de gesto nos servios para promover
a organizao dos processos de trabalho, revitalizar a capacidade instalada, colaborar
para desenvolvimento da rede integrada de ateno a sade com planejamento,
acompanhamento e avaliao permanente da melhoria da situao de sade das
famlias; promover a mudana do modelo de ateno praticado nos Centros de Sade
para o modelo proposto pela Poltica Nacional de Ateno Bsica (PNAB); promover
processos de educao permanente para as eSF e para as equipes de apoio focando
na Residncia Multiprofissional, nos cursos de especializao em sade da famlia,
em gesto de redes e na capacitao em gesto de sistemas e servios de sade;
qualificar a gesto central, regional e das unidades de sade; implementar o apoio
matricial s eSF para promover a integralidade da ateno e aumentar a
resolutividade das eSF, propiciando melhoria do acesso e da qualidade de vida da
populao; e monitorar as aes desenvolvidas pelas eSF com implementao de
metodologias voltadas para o planejamento e avaliao de aes, visando a
identificao de mudanas ocorridas no modelo adotado e o apoio aos processos de
deciso nos diferentes mbitos de gesto da Ateno Primria Sade no DF (GDF,
2010).
O Governo do Distrito Federal, em 2012, elaborou o Plano Distrital de Sade
2012 a 2015, equivalente dos Planos Estaduais de Sade, com trs grandes objetivos:
1) aumento da eficincia nas intervenes setoriais para a melhoria das condies de
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sade da populao; 2) aprimoramento dos processos de gesto no mbito da SES;
e 3) adequao da infraestrutura em sade s necessidades da populao. Para cada
um desses objetivos foram estabelecidas diretrizes, dentre as quais, a estruturao
do atendimento em Ateno Primria Sade com nfase na Estratgia Sade da
Famlia que prope como metas:
Atingir 75% de cobertura populacional no DF com acesso a equipes de
sade da famlia em 2015;
Atingir 80% dos recm-nascidos vivos de mes residentes no DF com
cobertura de 7 ou mais consultas de pr-natal em 2015;
Alcanar 95% em investigao de bitos maternos de residentes no DF em
2014;
Reduzir em 10% ao ano o nmero absoluto de casos de sfilis congnita;
Reduzir para 5,8 por 10.000 habitantes as internaes por complicaes de
diabetes mellitus em 2015;
Ampliar para 80% das unidades a oferta de prticas integrativas em sade
PIS;
Implantar 40 equipes de apoio Sade da Famlia (NASF); 22 equipes de
Ateno Domiciliar e 18 equipes de Sade no Sistema Prisional.
As aes dessa diretriz so as mesmas do Plano de Reorganizao da APS
citadas anteriormente.
Outra diretriz relevante a que se refere inovao das prticas de gesto do
trabalho e da educao em sade para valorizao e qualificao das relaes de
trabalho dos profissionais da SES DF, que define um conjunto de aes, quais sejam:
Produo do conhecimento na rea de gesto do trabalho e educao na
Sade;
Aquisio de sistema de gesto da informao integrada e eficaz;
Fortalecimento da mesa de negociao permanente da SES;
Tornar o ambiente propcio criatividade e ao desenvolvimento de
potencialidades individuais;
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Adoo de princpios e processos que defendam e permitam o envolvimento
regular e significativo dos servidores na tomada de deciso;
Fortalecimento da educao permanente em servio, da educao
continuada para servidores e gestores; e formao profissional de nvel
tcnico e de nvel superior.
J o Plano de Sade do Recanto das Emas, referente ao perodo de 2012 a
2015, elaborado pelo GDF, em 2011, agrupou os problemas de sade identificados, a
partir da anlise situacional, em trs eixos: 1) problemas de sade prevalentes na
populao; 2) problemas da rede de servios; e 3) problemas relacionados com a
gesto. Para cada eixo foram construdos objetivos e metas: atingir 100% de cobertura
populacional com eSF com estrutura fsica adequada; reduzir a demanda reprimida
por consulta de especialidade tendo como uma das metas a implantao do
matriciamento e capacitao dos profissionais das eSF; tornar a atuao do controle
social efetiva com a instalao de conselhos gestores de sade nas unidades;
coordenar de forma eficaz os processo de trabalho com a estruturao da rede de
ateno com definio de regimentos, servios, fluxos, protocolos; e construir e
executar planos de ao em cada unidade de sade atravs da gesto compartilhada
e participativa.
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2 JUSTIFICATIVA
No obstante a todos esses instrumentos de planejamento e gesto citados at
aqui evidenciarem um esforo da SES-DF para o fortalecimento da APS, os gestores
da SAPS explicitaram a necessidade de se promover mudanas no modelo de gesto
em decorrncia da baixa capacidade dos gestores regionais e da gesto central para
qualificao das prticas em sade, e da fragmentao da relao institucional entre
a SAPS e as regionais de sade.
Algumas experincias j acumuladas no SUS, como as dos municpios de
Vitria (ES) vivenciadas por Cardoso (2012) e Oliveira (2011), Campinas (SP) por
Campos (2007), So Paulo (SP) por Andrade (2011), Natal (RGN) por Barros (2010),
Capivari (SP) por Arona (2009), Maring (PR) por Moura (2014) e Becchi et al (2013),
Aracaju (SE) por Vasconcelos (2009), Rio de Janeiro (RJ) por Barros et al (2011),
demonstram que alm de unidades, equipes e equipamentos, o sistema de sade
pode ser ampliado e qualificado a partir da insero da estratgia do apoio institucional
e do apoio matricial nos processos de gesto e de ateno no SUS. Nesses casos
citados a estratgia do apoio demonstrou as funes de promover: ampliao na
capacidade de anlise e de interveno das equipes de sade e dos gestores de
servios de sade; qualificao das intervenes de sade na capacidade de gesto
do cuidado; insero de ferramentas de coordenao do cuidado e de governana
clnica; induo de espaos colegiados como dispositivo para cogesto em sade;
ampliao da participao do usurio e sua corresponsabilizao; conformao da
clnica compartilhada entre os especialistas e clnicos da APS; fortalecimento da APS
na consolidao das diretrizes da Poltica Nacional de Ateno Bsica (PNAB);
mudanas no processo vertical da transmisso passiva do conhecimento, instituindo
o apoiador como formador em processos de educao permanente inseridos no
cotidiano do trabalho. Existem tambm outras experincias como de Vasconcellos et
al (2013) com a experimentao do apoio institucional em 26 maternidades da
Amaznia Legal (AL) e do Nordeste (NE) nos anos de 2008 a 2011, e Furlan (2012)
que identificou o Mtodo Paidia como um potente dispositivo para exercer a
pedagogia construtivista, tendo efeito pedaggico e teraputico.
Os desafios da gesto do DF acima apresentados para a implantao e
fortalecimento da APS, justificaram e constituram ponto de partida para realizao do
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projeto Cartografia do Apoio Institucional e Matricial no SUS do Distrito Federal: reas
prioritrias da ateno e gesto em sade e a formao de apoiadores na APS pelos
professores e pesquisadores da Universidade de Braslia (UnB) e da Fundao
Oswaldo Cruz (Fiocruz), que propuseram SAPS a implementao do projeto de
pesquisa, com mtodo de pesquisa interveno participativa. Disparou-se da, em
confluncia com iniciativas anteriores, a experimentao do apoio institucional, com
formao de trabalhadores e de novos profissionais a partir de interveno com o SUS
local e regional, sustentada por escolhas metodolgicas e posicionamentos ticos,
estticos e polticos acerca do entendimento do papel da universidade pblica no
desenvolvimento institucional do SUS regional.
A partir de fevereiro de 2013, foram realizadas reunies estratgicas de
pactuao e delineamento do objeto de interveno junto subsecretaria e s
gerncias centrais da SAPS, nas quais foram explicitados interesses em mudanas
no modelo de gesto, almejando o estabelecimento de um contato direto da equipe
do nvel central com as regionais de sade a partir da estratgia do apoio institucional.
Atravs de um diagnstico situacional inicial, construdo junto com sujeitos da SAPS,
identificou-se baixa capacidade dos gestores regionais e da gesto central na
qualificao das prticas em sade e uma fragmentao da relao institucional entre
a SAPS e as regionais de sade. Os gestores manifestaram interesse em iniciar uma
interveno nas Regionais Gama e Recanto das Emas, devido implantao da ESF
e dos NASF e a construo de um modelo de gesto participativo.
No presente estudo, a Regional de Sade do Recanto das Emas tomada
como nosso campo de pesquisa, uma vez que nela se constitui o campo de
interveno, espao-tempo de encontro dos coletivos intervindos (BAREMBLITT,
2002).
O meu interesse nesse campo de pesquisa surgiu a partir da minha insero
como apoiadora do MS para o DF, pois ele constituia uma oportunidade para que eu
pudesse investigar as prticas de apoio em mbitos mais abrangentes no mesmo
territrio e, concomitantemente, para que eu pudesse problematizar a minha prpria
atuao como apoiadora.
Diante disso, assumimos como atividade de pesquisa, a partir da
experimentao do apoio na relao entre a universidade e o SUS, cartografar as
prticas de apoio da SAPS e da Diretoria Regional de Ateno Primria Sade
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(DIRAPS) do Recanto das Emas e correlacion-las com as prioridades da gesto do
SUS-DF.
Esta pesquisa parte do projeto denominado Cartografia do Apoio Institucional
e Matricial no SUS do Distrito Federal: reas prioritrias da ateno e gesto em sade
e a formao de apoiadores na APS.
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3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Cartografar as prticas de apoio da Subsecretaria de Ateno Primria Sade
(SAPS) e da Diretoria de Ateno Primria Sade (DIRAPS) do Recanto das Emas
e correlacion-las com as prioridades da gesto do SUS DF.
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Identificar a aderncia/coeso entre os objetivos prioritrios para o apoio
realizado na Regional de Sade do Recanto das Emas e as prioridades de gesto.
Analisar os mecanismos institudos pela SAPS para a realizao do apoio
Regional de Sade do Recanto das Emas.
Analisar os mecanismos institudos pela Regional de Sade do Recanto das
Emas para a realizao do apoio s 23 Equipes de Sade da Famlia.
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4 CAMPO TERICO
4.1 SADE COMO DIREITO
A Organizao Mundial da Sade afirma que Sade o estado do mais
completo bem-estar fsico, mental e social e no apenas a ausncia de enfermidade
(OMS, 1946). Esse conceito, importante para afirmar a integralidade e a relao entre
a sade e outros direitos sociais, acaba representando uma viso utpica, em funo
da complexidade dos determinantes envolvidos como: a prtica mdica; as
caractersticas comportamentais e culturais da populao e do indivduo; e o ambiente
econmico, social e fsico.
Em 1984, o Departamento Europeu da OMS (WHO Regional Office for Europe)
props uma nova definio para a sade:
[ ...] sade uma extenso na qual um indivduo ou um grupo capaz, por um lado, de realizar aspiraes e satisfazer necessidades e, por outro lado, de lidar com o ambiente. A sade, portanto, vista como um recurso para a vida diria, no o objetivo da vida; um conceito positivo envolvendo recursos sociais e pessoais, bem como capacidades fsicas (WHO, 1984, p. 29, aspas do autor, traduo nossa).
Tal definio inclui, em perspectiva, uma funo ativa que os indivduos e
populaes exercem ou so forados a exercer, diante de suas condies e situaes
de vida. Algo que vinha sendo incorporado produo da Sade Coletiva (AROUCA,
1975; TAMBELLINI, 1976; DONNNGELO, 1976), partir da obra de Foucault e
Canguilhem, mais especificamente relacionados s temticas do cuidado de si
(FOUCAULT, 1985) e sobre as capacidades de produo de normatividades dos
sujeitos (CANGUILHEM, 2006) e outros estudos (LAURELL; NORIEGA, 1989;
CECLIO, 2001; MATTOS, 2004) que, partir dessa produo, constituram e
disseminaram o enunciado modos de andar a vida dos sujeitos como forma de
expressar necessidades, capacidades e condies de vida e sade (COELHO;
ALMEIDA FILHO, 1999).
Em maro de 1986, no Brasil, a 8 Conferncia Nacional de Sade, evento
poltico sanitrio ocorrido imediatamente aps a democratizao a partir de 1985,
conceituou a sade como sendo:
Em seu sentido mais abrangente, a sade a resultante das condies de alimentao, educao, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
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emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, acesso a servios de sade. , assim, antes de tudo, o resultado das formas de organizao social da produo, as quais podem gerar grandes desigualdades nos nveis de sade (BRASIL, 1986).
Em novembro de 1986, foi publicada a Carta de Ottawa, que demonstrou que
a reforma sanitria brasileira estava alinhada com as propostas internacionais, na
medida em que afirmam que os determinantes sociais so os responsveis por
promover os meios que permitem que toda a populao desenvolva, ao mximo, sua
sade potencial. No captulo dos direitos sociais presente na Constituio Federal de
1988, no art. 6, temos que: so direitos sociais a educao, a sade, a alimentao,
o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo
maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados.
Essas influncias lanaram as bases doutrinrias de um novo sistema pblico
de sade. A Comisso Nacional da Reforma Sanitria, criada a seguir, foi responsvel
pela elaborao da Seo da Sade da Constituio Federal de 1988:
A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao (BRASIL, 2010d).
4.2 ATENO PRIMRIA SADE
O Brasil tem buscado garantir os direitos sociais por meio de programas sociais
e polticas pblicas universais que respeitam as especificidades das disparidades
regionais, etnorraciais e de gnero, que so essenciais para a equidade e a
universalizao dos direitos humanos. Nos Objetivos para o Desenvolvimento do
Milnio, apresentados pelo Brasil, a expanso do SUS, mediante acesso APS,
serviu de plataforma para a acelerao de vrias aes que visam, dentre outras
coisas, reduo da mortalidade na infncia, melhoria da sade maternal e combate
ao HIV/AIDS, malria e s outras doenas. (BRASIL, 2010a).
As polticas de sade adotadas no Brasil at a dcada de 80 tinham nfase na
medicina individual, curativa e assistencialista, em detrimento das aes coletivas.
O Ministrio da Previdncia Social (MPAS), por meio do Instituto Nacional da
Assistncia Mdica da Previdncia Social (INAMPS), cuidava da prestao da
assistncia mdica aos brasileiros que eram beneficirios da previdncia, que tinham
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carteira profissional assinada e que contribuam com um percentual do salrio para a
previdncia social. Os que no eram empregados formalmente dependiam dos
servios pblicos escassos e das instituies filantrpicas, como por exemplo, as
Santas Casas. O Ministrio da Sade cuidava dos programas e campanhas de sade
pblica: vacinao, tuberculose, hansenase, doenas de chagas, malria, entre
outras.
Durante o governo do General Geisel (1974 a 1979), a sociedade brasileira
criou novos espaos institucionais que propiciaram o surgimento do movimento
sanitrio, que apresentava propostas de democratizao do atendimento sade das
populaes mais carentes.
Nesse contexto alguns modelos de servios voltados para a sade coletiva, tais
como o Plano de Localizao de Unidade de Servios (PLUS) e o Programa de
Interiorizao das Aes de Sade e Saneamento, iniciados, respectivamente, no
Ministrio da Previdncia Social e no Ministrio da Sade, tinham como principais
diretrizes a universalizao, a acessibilidade, a descentralizao, a integralidade e a
participao comunitria na assistncia sade. Com a integrao dos servios do
Ministrio da Sade com a rede de assistncia mdica do INAMPS, surgiram as Aes
Integradas de Sade (AIS), pelas quais os estados firmavam convnios com o
Governo Federal, Ministrio da Sade e MPAS, para o seu financiamento (ESCOREL,
2011). Com a criao do SUS, alguns municpios comearam a organizar a Ateno
Bsica e, em 1994, criaram-se as Equipes de Sade da Famlia que, j naquele ano,
somaram 328 equipes que recebiam repasses de recursos em forma de convnio
(MARQUES, 2002, p. 412).
Para regulamentao do SUS, foram elaboradas as NOBs e a primeira foi
publicada em 1991, tratava da nova poltica de financiamento do SUS com o
pagamento por produo de servios de acordo com tabelas nacionais, tanto para os
prestadores pblicos quanto para os privados. A NOB/93 teve como objetivo promover
a descentralizao da gesto das aes e servios de sade e props o repasse
global dos recursos para a sade, de acordo com a condio de gesto habilitada pelo
municpio, dentro de suas capacidades administrativas.
A NOB/96 apresentou um dos modelos de reorganizao da Ateno Bsica
adotado pelo Brasil que era composto pelos Programas de Agentes Comunitrios de
Sade e pelo Programa de Sade da Famlia, formalizados pela Portaria GM/MS No
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1.886, de 18 de dezembro de 1997, que constituiu o caminho para a implantao das
aes de promoo da sade, proteo e recuperao. Esse modelo proposto era
orientado pela lgica de territorializao, vinculao, responsabilizao e olhar integral
sobre o ambiente em suas dimenses sociais e culturais, onde estavam inseridos as
famlias e os indivduos (BRASIL, 2002; CASTRO et al., 2010).
Relativamente Ateno Bsica, a NOB/96 apresentou um dos modelos de
reorganizao da Ateno Bsica adotado pelo Brasil que era composto pelos
Programas de Agentes Comunitrios de Sade e pelo Programa de Sade da Famlia,
formalizados pela Portaria GM/MS No 1.886, de 18 de dezembro de 1997, que
constituiu o caminho para a implantao das aes de promoo da sade, proteo
e recuperao. Esse modelo proposto era orientado pela lgica de territorializao,
vinculao, responsabilizao e olhar integral sobre o ambiente em suas dimenses
sociais e culturais, onde estavam inseridos as famlias e os indivduos (BRASIL, 2002;
CASTRO et al., 2010). Alm disso, introduziu um dispositivo importante que definiu
que os municpios passariam a ser os responsveis pela sua gesto e execuo direta
e o piso assistencial bsico seria por transferncia regular para todos os muncipes
sem, entretanto, estabelecer mecanismos de repasse desses recursos.
Em 1997, foi criado o Piso de Ateno Bsica que aprovara as normas e
diretrizes do Programa de Agentes Comunitrios de Sade (PACS) e do Programa
Sade da Famlia (PSF), entretanto, somente em 1998, iniciou-se o repasse dos
incentivos da NOB/96 para 1.134 municpios com os programas, 3.100 equipes de
PSF e 79.700 Agentes Comunitrios de Sade (10% da populao brasileira coberta)
(MENDONA, 2010). As Normas Operacionais da Assistncia Sade de 2001/2002
continuaram fortalecendo e ampliando as responsabilidades dos municpios sobre a
Ateno Bsica e reafirmando os princpios constitucionais da descentralizao, ao
definir que o municpio responsvel, em primeira instncia, pela situao da sade
de sua populao e pela organizao dos servios que esto sob sua gesto. A
Portaria GM/MS No 399, de 22 de fevereiro de 2006, divulgou o Pacto pela Sade que
apresentava trs dimenses: Pacto pela vida, Pacto de gesto e Pacto em defesa do
SUS. O Pacto pela Vida apresentava seis prioridades, dentre delas o fortalecimento
da Ateno Bsica, que tinha como objetivo maior a consolidao do SUS.
A Lei No 8.080, de 19 de setembro de 1990, decorrente da Constituio Federal
de 1988, dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da
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sade, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes e d outras
providncias, e com base nessa lei, a organizao da AB tem como fundamento os
princpios do SUS: sade como direito, integralidade da assistncia, universalidade,
equidade, resolutividade, intersetorialidade, humanizao do atendimento e
participao social que ir possibilitar a promoo, a proteo e recuperao da sade
(BRASIL, 2007).
A Portaria GM/MS N 3.925, de 13 de outubro de 1998, regulamentou a Ateno
Bsica e a conceituou como um conjunto de aes, de carter individual ou coletivo,
situadas no primeiro nvel de ateno dos sistemas de sade, voltadas para a
promoo da sade, preveno de agravos, tratamento e reabilitao, e definiu que
a organizao da Ateno Bsica tem como fundamento os princpios do SUS: sade
como direito; integralidade da assistncia; universalidade; equidade; resolutividade;
intersetorialidade; humanizao do atendimento; e participao social que ir
possibilitar a promoo, a proteo e a recuperao da sade (BRASIL, 1998).
A Portaria GM/MS No 2.488, de 21 de outubro de 2011, apontou a sade da
famlia como estratgia prioritria para expanso e consolidao da AB, e tornou
equivalentes os termos AB e APS. Essa portaria tambm caracterizou a Ateno
Bsica como um conjunto de aes de sade, no mbito individual e coletivo, que
abrange a promoo e a proteo da sade, a preveno de agravos, o diagnstico,
o tratamento, a reabilitao, reduo de danos e a manuteno da sade com o
objetivo de desenvolver uma ateno integral que impacte na situao de sade, na
autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de sade das
coletividades (BRASIL, 2011c).
Para que a Ateno Bsica seja resolutiva preciso desenvolver prticas de
cuidado e gesto, democrticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe,
dirigidas a populaes definidas, pelas quais assume a responsabilidade sanitria,
considerando a dinamicidade desse territrio (BRASIL, 2011, p.19). A utilizao de
tecnologias de cuidado complexas e variadas deve auxiliar no manejo das demandas
e necessidades de sade, sempre com o imperativo tico de que todas elas devem
ser acolhidas (BRASIL, 2011)
O Decreto n 7.508, de 28 de julho de 2011 (BRASIL, 2011d), que regulamenta
a Lei N 8.080/90, define que o acesso universal, igualitrio e ordenado s aes e
servios de sade se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede
http://www.saudeinfonews.com.br/abre_legislacao.php?COD=15984
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regionalizada e hierarquizada e, no seu Art.9 define que a AB uma das portas de
entrada da RAS e no Art.11 a estabelece como ordenadora do acesso universal e
igualitrio s aes e aos servios da sade. Mas para que isso acontea preciso a
constituio de relaes horizontalizadas entre os servios com canais permanentes
de comunicao, tendo como ponto estratgico a AB fortalecida e potente para
assumir a articulao do cuidado, principalmente para os usurios com necessidades
de cuidados contnuos (MAGALHES JUNIOR, 2014).
Mendes (2012) apresenta diversos problemas que constrangem o
desenvolvimento da ESF, dentre os quais destacamos: baixa valorizao poltica,
econmica e social; baixo valor simblico que a APS representa para os polticos, para
os gestores e para a prpria populao; baixa valorizao no campo corporativo dos
profissionais que trabalham na APS; fragilidade institucional das coordenaes de
APS; carncia de infraestrutura adequada; baixa densidade tecnolgica segundo o
autor uma viso distorcida de complexidade que leva os gestores, os polticos,
profissionais da sade e a populao a uma sobrevalorizao material e simblica das
prticas que so realizadas nos nveis de mdia e alta complexidade; carncia de
equipes multiprofissionais; problemas gerenciais; problemas educacionais; problemas
nas relaes de trabalho; e fragilidades dos modelos de ateno que operam em um
sistema fragmentado.
A Poltica Nacional de Humanizao (PNH) reconhece que existem inmeros
desafios para a produo de sade, dentre os quais destacamos: qualificao do
sistema de cogesto do SUS; criao de um sistema de sade em rede que supere o
isolamento dos servios em nveis de ateno; fortalecimento e qualificao da AB;
fortalecimento dos processos de regionalizao cooperativa e solidria; atendimento
diversidade cultural e desigualdade socioeconmica; superar a complexidade do
padro epidemiolgico que requer utilizao de mltiplas estratgias e tecnologias;
ampliao e a corresponsabilizao nos processos de cuidado de todos os servios
que compem a rede do SUS; superao da fragmentao do processo de trabalho e
das relaes entre os diferentes profissionais; implantao das diretrizes do
acolhimento e da clnica ampliada; melhoria da interao nas equipes e sua
qualificao para lidarem com as singularidades dos sujeitos e coletivos nas prticas
de ateno a sade; fomento de estratgias de valorizao do trabalhador
promovendo melhorias nas condies de trabalho, na ampliao de investimentos na
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qualificao; fomento de processos de cogesto, valorizando e incentivando a
incluso de trabalhadores e usurios em todos os processos de produo de sade;
e incorporao dos direitos dos usurios, de forma efetiva, nas prticas de gesto e
de ateno (BRASIL, 2008, 2010c).
possvel identificar convergncias entre os problemas apresentados nessas
diversas perspectivas de problemas e desafios do SUS. Todavia, para o seu
enfrentamento, alguns dispositivos foram desenvolvidos e sistematizados (BRASIL,
2008, 2010c), tais como: colegiado gestor; contrato de gesto; sistema de escuta
qualificada para usurios e trabalhadores da sade; programa de formao em sade
do trabalhador; equipe transdisciplinar de referencia e de apoio matricial; projeto
teraputico singular; e projeto de sade coletiva. Para agregar intensidade, qualidade
e viabilizar a prpria implementao e sustentao desses dispositivos, a insero do
apoio institucional e matricial tem sido recomendada como metodologia potente para
ressignificar a compreenso dos processos de trabalho em sade e gesto
(OLIVEIRA, 2011; GUIZARDI; CAVALCANTE, 2010; CAMPOS, 2005).
4.3 CONHECENDO AS BASES TERICO METODOLGICAS SOBRE O APOIO
O percurso construdo sobre a temtica do apoio apresenta as bases tericas
metodolgicas apenas para contextualizar e explicitar as fontes que contriburam ao
longo desse trabalho, sem a pretenso de avali-las.
4.3.1 Apoio Paidia
Para Campos (2007, p.85) o conceito de Apoio Paidia1 uma postura
metodolgica que busca reformular os tradicionais mecanismos de gesto partindo
do pressuposto que as funes de gesto se exercem entre os sujeitos com distintos
graus de saber e de poder. Assume que o trabalho produz efeitos na produo de
bens e servios para as pessoas externas s organizaes, procura ampliar a
reproduo da prpria organizao e interfere na produo social e subjetiva dos
prprios trabalhadores, sendo esse ltimo efeito desconsiderado pelo modelo de
1 Paidia uma noo grega e indica a formao integral do ser humano (CAMPOS, 2007, p.16).
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gesto tradicional, por entenderem que os trabalhadores devem ser regulados por
uma programao estranha eles, eliminando traos de subjetividade no momento
da execuo do trabalho, dominao que procura diminuir a autonomia e a liberdade
das pessoas (Campos, 2005). Um indicador concreto de alienao real a
inexistncia ou a existncia apenas formal de espaos coletivos (CAMPOS, 2005,
p.28).
O apoiador Paidia busca compatibilizar esses trs efeitos, reconhecendo que
a gesto produz efeitos sobre os modos de ser e de proceder de trabalhadores e de
usurios das organizaes em um trabalho de aprender a aprender com o objeto
submetido crtica, pois no h sabedoria sem esta dialtica da aproximao e do
distanciamento dos objetos ou fenmenos ou sujeitos com os quais interagimos
(CAMPOS, 2007, p. 86).
Os recursos metodolgicos, utilizados pelo apoiador, so voltados para lidar
com os distintos atores sociais de modo interativo que reconhece a diferena de
papis, de poder e de conhecimento.
O efeito Paidia um processo social e subjetivo em que pessoas ampliam a sua capacidade de buscar informaes, de interpret-las, objetivando compreenderem-se a si mesmas, aos outros e ao contexto, aumentando, em consequncia, a possibilidade de agir sobre estas relaes (CAMPOS, 2007, p.87)
Para Campos (2007, p.93) alguns recursos metodolgicos so teis para a
funo apoio:
construir rodas com o objetivo de construo de projetos de interveno, que
um planejamento construtivo e progressivo;
incluir as relaes de poder, de afetos e a circulao de conhecimento em
anlise, colocando em anlise pela roda o diagrama de relaes de cada
organizao;
trazer para o trabalho de coordenao, planejamento, superviso e
avaliao a lgica da trplice finalidade das organizaes: qualificar a ao
institucional para o cumprimento de finalidades externas ao grupo; produzir
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valores de uso2 para outros; e assegurar o desenvolvimento e a realizao
pessoal e profissional do grupo apoiado;
trabalhar com metodologias dialticas que tragam ofertas externas e que, ao
mesmo tempo, valorizem as demandas do grupo;
apoiar os grupos tanto para a construo de Objetos de Investimento3,
quanto para a composio de compromissos e contratos com outros;
pensar e fazer junto com as pessoas e no em lugar delas;
ampliar os espaos onde se aplica o mtodo Paidia; e
autorizar o grupo a exercer a crtica generosa e a desejar mudanas.
Existem momentos em que o dirigente ou os profissionais tambm realizaro
aes administrativas e tarefas particulares em espaos de ao especficos, sem a
necessidade de rodas prvias ou de espaos que estejam discutindo tudo em todo
momento, e o desdobramento destes atos pode constituir temas das rodas.
Entretanto, quando o apoiador no faz parte da direo ou das equipes e atua como
um agente externo, que se insere no grupo para apoiar, ele se vincula ao coletivo
durante um certo perodo e depois se vai (CAMPOS, 2007).
O trabalho do apoiador envolve trplice tarefa: ativar coletivos, conectar redes
e incluir conflitos que se desdobram em inmeras outras tarefas; sendo que os
agenciamentos4 que comandam e determinam as mudanas, e no o apoiador, pois
os agenciamentos so produzidos pelo coletivo e o seu trabalho se d no encontro,
na interferncia, no acontecimento. nesse encontro que os sujeitos efetuam a sua
potncia de afetar e serem afetados, de interferir e sofrerem interferncias. O apoiador
se prope a apoiar os sujeitos na ampliao de sua capacidade de problematizao,
de interferncia com outros sujeitos e de transformao do mundo e de si, o que
implica uma tarefa clnica-crtica-poltica (OLIVEIRA, 2011). Para ser/manter-se
2 Capacidade potencial de atender s necessidades sociais (CAMPOS, 2007, p.14).
3 quando o grupo se autoriza a ser feliz, a realizar-se pessoalmente e profissionalmente no contexto real em que trabalham. Este depende de fatores polticos, cognitivos e afetivos (CAMPOS, 2007, p.98).
4 Agenciar estar no meio, sobre a linha de encontro de dois mundos. Agenciar-se com algum no substitu-lo, imit-lo ou identificar-se com ele: criar algo que no est nem em voc nem no outro, mas entre os dois, neste espao-tempo comum, impessoal e partilhvel que todo agenciamento coletivo revela (ESCSSIA, 2009. p. 692).
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apoiador preciso estar sempre diferindo do ser apoiador - devir apoiador
(OLIVEIRA, 2011, p.158).
De acordo com o Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS
(Brasil, 2012) construdo pelo Ncleo Tcnico da Poltica Nacional de Humanizao
(PNH) a funo apoio colocada como diretriz e dispositivo para ampliar a capacidade
de reflexo, entendimento e anlise dos coletivos. Essa poltica entende que diretrizes
so orientaes gerais de determinada poltica, e dispositivo a atualizao das
diretrizes de uma poltica em arranjos de processos de trabalho (BRASIL, 2012).
O apoio um mtodo de interveno que expressa um modo de fazer em
grupalidade, buscado redes de coletivos, que depende da instalao de alguma forma
de cogesto. Os apoiadores precisam estar inseridos nos movimentos coletivos ou
induzi-los, auxiliando e ofertando conceitos e tecnologias para a anlise e busca de
novos modos de operar, funcionar, agir e produzir das organizaes, considerando os
pressupostos da democracia institucional e da autonomia dos sujeitos. Os apoiadores
exercem a funo de ampliar a capacidade das pessoas lidarem com o poder, com
circulao de afetos e com o saber, ao mesmo tempo em que esto trabalhando,
cumprindo tarefas (CAMPOS, 2007; BRASIL, 2012).
O apoio se afirma como tecnologia relacional partindo da premissa de que a
produo de sade no se faz sem a produo de sujeitos corresponsveis e
autnomos nesse processo (BARROS et al., 2011). A construo do plano de
interveno5 essencial para o exerccio do apoio, pois funda um plano de produo,
no qual, de modo indissociado, o esforo de mudar a realidade altera o modo como
os sujeitos se constituem nela. A partir de processos clnicos propiciados pelas ofertas
do apoiador, a crtica dessas formas-sujeito pode se transmutar em formao dos
sujeitos/equipes/coletivos, em situao de trabalho, no contexto dos servios (Brasil,
2010).
5 Denota interveno como estar e agir no entre, apoiando a anlise coletiva da situao de trabalho, intervindo no sentido de ajudar a melhor compreender e transformar a realidade. E a agregando dimenses do planejamento/pensamento estratgico para canalizar metas e aes para viabilizar a transformao dessa realidade (BRASIL, 2010C, p. 106).
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4.3.2 Apoio Interno e Externo
O apoiador externo pode ser a pessoa que compe a prpria organizao mas
no o servio, e no faz parte da direo nem das equipes que ele apoia e se vincula
ao coletivo durante um certo perodo, definido a partir de uma relao contratual.
Quando ele pertence a outra organizao, traz consigo uma referncia e uma
experincia que direciona a sua postura tica, poltica e ideolgica. O apoiador interno
o sujeito que apoia a prpria direo, equipe e servio ao qual est vinculado
(Campos, 2007).
Quando o prprio coletivo promove a reflexo de um objeto pela prpria
dinmica social e institucional, porque conseguiu produzir anlise e pode
desencadear tarefas no coletivo. Entretanto, em todos os coletivos, alguns temas no
podem ser postos em anlise de forma expontnea. Nesses casos, a participao de
um apoiador externo pode facilitar a incluso/emergncia de analisadores
(BAREMBLIT, 2002). O apoiador externo traz para o grupo oferecimentos que tm
potencial desestabilizador, que podem estimular falas e tambm aes prticas
reflexivas entre os trabalhadores, que podem gerar estranhamento por no
transitarem nas experincias concretas desses sujeitos, mas que podem abrir
possibilidades nos modos de pensar e de operar dos sujeitos. Esses temas precisam
ser incorporados criticamente pelo coletivo para no serem entendidos como
explicaes acabadas e suficientes.
O apoio no pode se tornar elemento imprescindvel no processo de anlise
das situaes cotidianas e na construo de outros modos de fazer a gesto dos
estabelecimentos. O que se espera e se almeja que o trabalhador, ao ser quebrada
qualquer relao de dependncia e tutela, se aproprie do seu fazer e a funo do
apoiador externo se torne dispensvel (BARROS et al., 2011). Segundo Campos
(2005) um dos indicadores de qualidade Paidia (demonstrativo de que o haveria
construo de Grupo Sujeitos) estaria na capacidade das prprias equipes
produzirem novos temas de reflexo e de reconstrurem novas possibilidades de
pensar e agir, e que desfrutariam de relativa independncia dos apoiadores
institucionais e de outros agentes externos.
4.3.3 Modalidades do Apoio
A metodologia do apoio para anlise e cogesto de coletivos no requer um
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lugar institucional especfico, seja qual for sua funo institucional possvel que
qualquer pessoa, em um espao coletivo, atue na perspectiva do apoio.
O apoio matricial e o institucional so denominaes encontradas nas prticas
sociais, nos servios de sade e polticas oficiais do SUS (BRASIL, 2010c, 2008;
BRASIL, 2011, OLIVEIRA, 2011). Embora possamos atribuir a essas modalidades
uma raiz metodolgica comum (Campos, 2005), diferenciam-se pelos seus objetivos
e objetos.
4.3.3.1 Apoio Matricial
O apoio matricial uma estratgia de enfrentamento tendncia de
fragmentao da ateno sade e de desresponsabilizao assistencial, oferecendo
tanto retaguarda assistencial especializada, de maneira personalizada e interativa,
quanto suporte tcnico-pedaggico s equipes de referncia, como exemplo, as eSF.
O apoio matricial altera a tradicional noo de referncia e contra-referncia
vigente nos sistemas de sade baseado em encaminhamentos e prope projetos
teraputicos que so executados por um conjunto de trabalhadores agenciados em
rede e no apenas pela equipe de referncia. Entretanto, a equipe e os profissionais
de referncia so queles que tm a responsabilidade pela coordenao e conduo
de um caso individual, familiar ou comunitrio. So atividades do apoio matricial:
atendimento conjunto entre profissionais de servios diferentes; participao em
discusses de projetos teraputicos; discusses de temas prevalentes; anlise de
estratgias para lidar com demanda reprimida; e anlise de encaminhamentos at a
simples disponibilidade para contato telefnico para discutir urgncias ou seguimentos
(CUNHA & CAMPOS, 2011; CAMPOS, 1999)
Apoio matricial , ao mesmo tempo, um arranjo organizacional e uma
metodologia para a gesto do trabalho em sade para efetivar a equipe de referncia,
como Unidades de Produo, objetivando aumentar as possibilidades de realizar-se
clnica ampliada e integrao dialgica entre distintas especialidades e ncleos
profissionais, e como unidades de poder em busca da democracia organizacional e
da valorizao dos trabalhadores (CUNHA; CAMPOS, 2011).
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4.3.3.2 Apoio Institucional
A denominao de apoiador institucional dada s pessoas que trabalham com
alguma forma de apoio s organizaes ajudando-as na gesto e na organizao de
seus processos de trabalho e que desempenham funes nas equipes ou nas
Unidades de Produo, promovendo a produo de coletivos organizados ou
ajudando-os na produo e na articulao de aes concretas que so capazes de
viabilizar mudanas na gesto e na ateno. O ponto de partida do apoio institucional,
assim como no apoio matricial, a construo de um contrato que estabelece
expectativas, objetivos, regras, mtodos e o que mais surgir durante o processo
relacional entre o apoiador e a equipe (CAMPOS, 2005; SANTOS FILHO et al., 2009).
Todavia, os objetos em jogo no apoio institucional comumente incorporam mais
explicitamente as relaes institucionais entre organizaes que se interferem. Temos
como exemplos mais difundidos no campo da sade no Brasil, as experincias de
apoio entre diversos nveis gerenciais nas secretarias municipais e estaduais e o apoio
institucional como dispositivo na relao interfederativa no SUS.
Para a PNH o apoio institucional uma funo gerencial que reformula o modo
tradicional de se fazer coordenao, planejamento, superviso e avaliao em sade,
constituindo um mtodo de interveno para a promoo da dimenso pblica do SUS
que envolve todos os sujeitos atuantes na gesto em sade, tendo como tarefa
primordial ofertar suporte aos movimentos de mudana deflagrados nos coletivos,
buscando fortalec-los no prprio exerccio da produo de novos sujeitos em
processos de mudana (BRASIL, 2012).
4.4 ESPAOS COLETIVOS COMO UMA QUESTO METODOLGICA PARA A
INSTALAO DA COGESTO PARA O EXERCCIO DO APOIO
Para que o apoio acontea necessria a instalao de alguma forma de
cogesto, em que h efetiva oportunidade de participao dos sujeitos interessados
nos processos decisrios. Para que isso acontea preciso existir espaos coletivos,
rodas humanas, ou que o apoiador ajude na sua criao, tendo como espao coletivo
um local em que a democracia institucional e a autonomia dos sujeitos sejam
praticadas e respeitadas, onde o grupo possa analisar, definir tarefas e elaborar
projetos de interveno (CAMPOS, 2005).
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Para que de fato os espaos coletivos atuem na produo da subjetividade,
eles precisam exercer trs funes, de acordo com Campos (2005, p.12): (1) a
clssica, que o de administrar e planejar os processos de trabalho para a produo
de valores de uso; (2) a de carter poltico, que a cogesto como uma forma de
alterar as relaes de poder e constituir a democracia da instituio; e (3) a
pedaggica e teraputica, que a capacidade que os processos de gesto tm de
influir sobre a constituio de sujeitos.
Para que isso ocorra, preciso superar a racionalidade gerencial hegemnica,
crtica ao taylorismo, todas as formas de verticalizao e concentrao de poder nas
organizaes de sade (CAMPOS, 1998). Nesse sentido, Campos (2005) traz a
proposta do Mtodo da Roda como mtodo potente para reformular e no suprimir os
tradicionais mecanismos de gesto, trabalhando com os conceitos advindos da
filosofia, poltica, psicologia e pedagogia sendo elaborado para analisar e cogerir
instituies. Com isso pretende-se complementar as formas gerenciais existentes
para realizar coordenao, planejamento, superviso e avaliao do trabalho em
equipe. A proposta no utilizar o mtodo de cogesto para resolver os conflitos e
muito menos eliminar as contradies existentes, mas reconhecer, dar visibilidade e
criar um espao necessrio para que os conflitos e as contradies possam ser
trabalhadas na roda, pois diante de cada ncleo de poder poltico ou gerencial h
contrapoderes de usurios e de trabalhadores, com os quais h que se relacionar em
esquemas de luta e negociao, objetivando a construo de compromissos e de
contratos em funo de valores democrticos. Propem-se uma mquina gerencial
capaz de lidar com o conflito entre desejos individuais e necessidades sociais e que
produza distribuies mais equilibradas de poder, como tambm garanta objetividade
e praticidade ao funcionamento do estabelecimento (CAMPOS, 1998).
O Mtodo da Roda ou Paidia um mtodo de apoio cogesto, que opera
com coletivos organizados para a produo, que objetiva ampliar a capacidade de
direo dos grupos, aumentando sua capacidade de analisar e de operar sobre o
mundo e para isso trabalha com o conceito de capacidade de anlise e de interveno.
A cada roda ocorre busca e interpretao de informaes e tomada de decises
produzindo snteses sucessivas, todas essas etapas acontecem simultaneamente em
cada ato, armando com esses procedimentos um mtodo construtivo de
conhecimento e de interveno na realidade. O Mtodo pode ser auto aplicvel pela
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prpria direo e equipe nas suas prprias unidades ou pode se buscar apoio de um
agente externo (CAMPOS, 2005).
Coletivos organizados so aqueles agrupamentos que tm como objetivo a
articulao da produo de algum bem ou servio com a produo de instituies,
organizaes e dos prprios sujeitos envolvidos no processo. Uma convergncia ou
cruzamento de sujeitos posicionados de formas distintas nas tramas de foras
institucionais verticais e horizontais das instituies, conformados em um certo
processo produtivo, levando a processos vivenciais concretos de transversalidade
(Oliveira, 2011). Esses processos podem levar a alteraes profundas no
organograma dos servios fazendo compor equipes com os profissionais que
possuem o mesmo objeto de trabalho, para que dessa forma se organizem em
Unidades de Produo com uma coordenao identificada tambm ao cotidiano do
trabalho. Esses processos so potencializados se houver espao para a formulao
de um projeto de trabalho democrtico com produo de compromissos e de
responsabilidades muito bem definidas. Essa Unidade de Produo seria um Coletivo
Organizado em potencial (CAMPOS, 2005). Esse arranjo organizacional pode gerar
diversos colegiados com conformaes e abrangncias variveis que vo constituindo
um sistema de rgos colegiados com a representantes de todas as unidades de
produo e gestores de nvel diretivo.
4.5 O APOIO INTEGRADO E AS REDE DE ATENO SADE NO MINISTRIO
DA SADE
A AB o centro de comunicao de toda a Rede de Ateno Sade (RAS) e
os fundamentos normativos da RAS esto presentes no Art. 198 da Constituio
Federal como as aes e os servios pblicos de sade integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico (...) e a Portaria GM/MS
No 4.279 de 2010 (BRASIL, 2010b), estabelece diretrizes para organizao da RAS,
que tem como objetivo a promoo da integrao sistmica de aes e servios de
sade, com proviso de ateno continua, integral, de qualidade, responsvel e
humanizada, bem como o incremento do desempenho do sistema, em termos de
acesso, equidade, eficcia clnica e sanitria, e eficincia econmica.
Segundo Mehry et al (2014) preciso se pensar a RAS alm da previsibilidade
definida, analgica, manejada dentro da racionalidade, pois apesar disso constituir um
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momento disparador, ela vai encontrar e ser atravessada por outras redes. As Redes
Vivas, que segundo o autor, so circunstanciais, que se montam e se desmontam, e
eventualmente apresentam alguma estabilidade, e que podem emergir em qualquer
ponto sem obedecer a um ordenamento lgico.
De acordo com Mendes (2014, p.41) a coordenao assistencial tem sido
definida como harmonizao das atividades que se requerem para atender as
pessoas usurias ao longo de todos os pontos das redes, e a APS deve coordenar a
gesto, a ateno, a informao, e a administrao da ateno, visto que ela a
coordenadora do cuidado e ordenadora da RAS. Ainda segundo ele, essa
coordenao paira no enunciado discursivo quando no se criam mtodos para que
ela ocorra eficazmente na prtica social (MENDES, 2014, p.41).
A promoo de redes assistenciais se d pela sua reinveno permanente
mediante produo de trocas e estabelecimento de relaes com servios, pessoas,
processos, projetos, dentre outros elementos que fazem parte dessa rede assistencial
e que ultrapassam os muros institucionais. Para que as mudanas ocorram e para se
colocar em anlise o conjunto de prticas ofertadas preciso ter encontros, que
possibilitem um trabalho vivo que seja adaptado e adequado realidade e ao contexto
do territrio, trabalho esse que no pode ser capturado, mas que sobre o qual
possvel capturar suas expresses, tenses e disputas pelo seu sentido (MERHY et
al., 2014).
A publicao da Portaria GM/MS n 4.279 de RAS trouxe um novo contexto
para o processo de trabalho e para os trabalhadores da Secretaria de Ateno a
Sade (SAS) do Ministrio da Sade (MS), intensificado a partir de 2011 com a adoo
da estratgia do apoio para a implementao da RAS em todo o territrio nacional.
A estratgia de apoio institucional interfederativo foi iniciada no ano de 2003
pelo Departamento de Apoio Descentralizao (DAD), sob coordenao da
Secretaria Executiva do Ministrio da Sade, que tinha como principal objetivo a
articulao das atividades de apoio desenvolvidas pelas diversas reas do MS e
possibilidade de envolvimento de todos os atores importantes para a gesto do SUS
em cada estado (BRASIL, 2004, p. 12). O desenho metodolgico proposto para o
apoio institucional interfederativo considerou as diferenas e especificidades
territoriais e os saberes dos atores envolvidos para a construo de estratgias de
enfrentamento dos problemas (BRASIL, 2004).
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No Ministrio da Sade, a proposio do apoio institucional ganha espao a partir de 2003, quando a gesto aponta que, alm de formular e financiar, o MS deve induzir a implementao de estratgias coerentes com os princpios e diretrizes do SUS. Compreende-se que no basta definir o que deve ser feito (normas, fiscalizao, auditoria), mas apoiar o como deve ser feito. Nesse percurso, algumas polticas, como a da AIDS, Sade Mental e ParticipaSUS, adotaram o apoio institucional como uma de suas estratgias e obtiveram bons resultados (BRASIL, 2011b, p.16).
A formulao do Departamento de Apoio Descentralizao (DAD), Apoio
Integrado Gesto Descentralizada do SUS, foi fundante da estratgia de apoio
gesto aos estados e municpios, por parte do Ministrio da Sade, pela explcita
necessidade de mudana dos modelos hegemnicos de organizao da ateno
sade e da gesto das instituies e servios de sade, e pela evidente fragmentao
e desarticulao dos diversos setores internos do Ministrio da Sade que tm a
responsabilidade constitucional pelo acompanhamento, controle e avaliao das
aes e servios de sade e pela cooperao tcnica e financeira a estados e
municpios, sem desconsiderar as competncias especficas dos entes federados
(BRASIL, 2004). A cogesto e a gesto participativa era um pressuposto para a
construo dessa nova estratgia (PEREIRA JNIOR; CAMPOS, 2014, p.900).
Essa compreenso pressupe o envolvimento no trabalho de apoio, dos sujeitos coletivos em interao no sistema de sade: usurios, trabalhadores e prestadores de servio, por meio dos Conselhos Estadual e Nacional de Sade; gestores municipais, representados pelos Conselhos Estaduais de Secretrios Municipais de Sade (COSEMS); e as Secretarias Estaduais de Sade (BRASIL, 2004, p. 10).
Esse processo de integrao do apoio do MS ofertado aos demais entes
federados, pouco priorizado de 2007 a 2010, foi retomado pelos novos gestores, em
meados de 2011 com objetivo:
[...] de potencializar uma horizontalidade e cooperao nas relaes interfederativas, construindo a regionalizao e as redes de ateno, contratualizando o desenvolvimento de prticas de ateno e de gesto que produzam acolhimento com ampliao do acesso e da qualidade no SUS. (BRASIL, 2012, p.7).
A coordenao desse processo foi exercida pelo Ncleo Gestor do Apoio
Integrado (NGAI), vinculado a Secretaria Executiva (SE), conferindo maior
participao das secretarias do MS neste processo, com relao aos anos anteriores.
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[...] implementar prticas de ateno e gesto em sade que garantam o acesso com qualidade e o cuidado integral, em uma Rede de Ateno Sade adequada s necessidades da populao, com o fortalecimento da governana regional e do controle social (BRASIL, 2012, p.2).
Para a sua sustentao foram construdos trs eixos: a formao dos
apoiadores; a conduo da estratgia; e o seu monitoramento e avaliao (BRASIL,
2012, p. 8). O processo formativo foi conduzido pela Secretaria de Gesto do Trabalho
e da Educao na Sade (SGTES), em articulao com o NGAI.
O processo de formao de apoiadores institucionais aqui delineado, considera o sujeito da aprendizagem como ativo e apto a aprender a aprender, a aprender a fazer, a aprender a conviver e a aprender a ser. A perspectiva de contribuir com a construo de um sistema pblico de sade que seja, de fato, democrtico, participativo, na busca da equidade social e da integralidade da ateno sade com qualidade, eficincia e resolu-tividade (BRASIL, 2011b, p.17).
Para a operacionalizao do apoio, definiu-se equipes de referncia para cada
estado, composta por apoiadores de quatro reas6: Departamento de Articulao
Interfederativa (DAI); Departamento de Articulao de Redes de Ateno Sade
(DARAS); Poltica Nacional de Humanizao (PNH); e Departamento de Ateno
Bsica (DAB); e, em casos singulares, a equipe de referncia pode ser composta por
apoiadores temticos: os apoiadores das redes temticas prioritrias; apoiadores da
Secretaria de Gesto Estratgica e Participativa (SGEP); apoiadores da Secretaria
Especial da Sade Indgena (SESAI); apoiadores da SVS; apoiadores da SGTES;
apoiadores do Departamento de Assistncia Farmacutica (DAF) e apoiadores do
Departamento de Ateno Bsica (DAB) (BRASIL, 2012).
Por apoiador entende-se o sujeito que atua em carter geral, ou seja, que far a interlocuo com estados e municpios, na implementao das Polticas Nacionais de Sade, respeitados os dispositivos legais. Por apoiador temtico entende-se o sujeito com um saber especializado num determinado processo de ateno sade/gesto, que dever ser acionado pelas equipes de referncia, de acordo com a demanda de modo a melhor
6 O Departamento de Articulao Interfederativa (DAI) vinculado Secretaria de Gesto Estratgica e Participativa (SGEP), o Departamento de Assistncia Farmacutica (DAF) vinculado a Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos (SCTIE) e os Departamento de Articulao de Redes de Ateno Sade (DARAS), a Poltica Nacional de Humanizao (PNH) que compe o Departamento de Aes Programticas Estratgicas (DAPES) e o Departamento de Ateno Bsica (DAB) so vinculados a Secretaria de Ateno Sade (SAS) (BRASIL, 2012).
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ordenar/potencializar o processo de cooperao federal a estados e municpios (BRASIL, 2012, p.10, grifo nosso).
Em 2011 foram publicadas as portarias das redes temticas que propunham a
construo de espaos coletivos de deciso, que foram denominados de Grupos
Condutores, com representantes da Secretaria Estadual de Sade, Secretarias
Municipais de Sade e apoiadores do Ministrio da Sade, formalizando o espao nos
quais os apoiadores de articulao de RAS e das redes temticas de ateno sade
estariam inseridos nos territrios de apoio, com a funo de ativar coletivos, conectar
redes e incluir olhares, prticas, interesses e desejos na produo do comum para a
implementao das Polticas de Sade, tendo como dispositivo potente espaos
coletivos para a cogesto, onde apoiadores do MS e os entes federados possam
estabelecer vnculos para alm das normas e da induo financeira, aprendendo com
os efeitos, aprimorando a prtica gestora, a partir da anlise de resultados em grupos
plurais e implicados positivamente com mudanas para melhoria do SUS (BRASIL,
2012).
Os apoiadores deveriam contribuir com os estados e municpios no
planejamento estadual, municipal e regional integrado, na elaborao e
implementao das redes de ateno sade, com nfase nas redes temticas7
estabelecidas nas diretrizes do Plano Nacional de Sade (PNS) 2012-2015 (BRASIL,
2011a), na implementao do Contratos Organizativos de Ao Pblica (COAP) e em
processos transversais de gesto como regulao, avaliao, gesto do trabalho,
educao em sade, vigilncia (BRASIL, 2012, p.9).
O apoiador poder contar com as vrias ferramentas existentes e disponibilizada pelo Ministrio da Sade, as quais podero contribuir com a anlise do territrio, a ser construda entre os atores envolvidos. O Mapa da Sade e o IDSUS possibilitam a ampliao da capacidade de anlise do territrio para a construo de um projeto coletivo de interveno, visando mudar a realidade da regio (BRASIL, 2012, p.8).
7 Rede Cegonha, Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias, Rede de Ateno Psicossocial, Rede de Ateno das pessoas com Doenas Crnicas e Rede de Cuidados pessoa com Deficincia (BRASIL, 2014, p.10).
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Para a estratgia do apoio integrado se efetivar, foi necessrio promover a
articulao tcnico-poltica das Secretarias do Ministrio em torno de objetivos
comuns e, para isso, foi promovido um processo de educao permanente para o
conjunto de apoiadores do MS pelo NGAI com o apoio da SGETS. Foram realizaram
duas oficinas nacionais de integrao e formao dos grupos de apoiadores do MS:
de referncia e temticos; com o objetivo de promover integrao e formao desses
apoiadores em apoio institucional na perspectiva do MS, e fortalecer a
horizontalidade das suas relaes e promover um processo de cooperao
interfederativo mais integrado e efetivo, na construo das Redes de Ateno Sade
nas Regies de Sade (BRASIL, 2012, p.15). Nesses encontros foi proposta a
construo de planos de ao dos apoiadores do MS, com objetivo de auxiliar no
planejamento, monitoramento e avaliao do trabalho do apoio integrado nas regies
de sade e estados, seguindo-se as quatorze diretrizes presentes no PNS 2012-2015,
a implementao das RAS e a implementao dos dispositivos do Decreto n 7.508,
de 28 de julho de 2011, com nfase na contratualizao entre os entes federados
atravs do COAP.
Entre 2011 e 2013 em que atuei no DARAS como apoiadora de articulao de
RAS foram promovidos, como estratgia pedaggica, encontros trimestrais com os
apoiadores de articulao RAS que visavam estimular o protagonismo dos apoiadores
no processo de planejamento e execuo das oficinas, com apoio dos supervisores
do DARAS. Esses espaos foram importantes no processo da formao como
interveno devido s trocas de experincia entre os apoiadores que estavam
inseridos nas diversas regies do Brasil, que traziam consigo demandas e angstias
que precisavam ser acolhidas, apoiadas e discutidas para a formulao de estratgias
de atuao. Foi nesses encontros que o grupo entendeu que para ser apoiador era
preciso desenvolver a capacidade de ser facilitador, e a habilidade de mediar conflitos
nos espaos coletivos, e identificou que muitos apoiadores no tinham vivncia ou
experincia em trabalho dessa natureza.
Ao mesmo tempo em que se pensava a necessidade de aprender a ser
facilitador e facilitadora de processos grupais para a implementao solidria da
poltica de sade, era necessrio o aprimoramento dos diversos saberes das reas
tcnicas do MS, que no se restringiam ao conhecimento das normativas publicadas
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referentes s redes temticas e requeriam um saber especfico para apoiar os
territrios no processo de consolidao de uma determinada poltica.
A identificao desta necessidade permitiu ao grupo de apoiadores de
articulao de RAS pensar uma estratgia de formao pautada na prtica e focada
na superao das fragilidades identificadas. Desta forma, foi desenvolvida a proposta
de realizao de rodas de conversas com a participao de convidados das reas
tcnicas do MS com os quais o dilogo seria fundamental para a atuao do apoio no
territrio, municiando o grupo com informaes tcnicas e polticas e promovendo a
integrao dos apoiadores de articulao de RAS com os demais apoiadores,
fundamentais para uma boa conduo do trabalho nos territrios, na perspectiva da
implementao das polticas de sade prioritrias do MS. Com base na proposta
desenvolvida, foram realizadas trs rodas de conversa de novembro de 2011 a janeiro
de 2012. Em fevereiro 2012 foi realizada uma oficina de avaliao da estratgia das
rodas de conversa entre os apoiadores de articulao de RAS, para avaliar a
viabilidade da sua continuidade. Nessa oficina concluiu-se que o grupo de apoiadores
havia incorporado o processo da mediao dos espaos coletivos e percebeu que ser
apoiador ia muito alm de ser um facilitador. As rodas de conversa eram potentes no
apenas para o desenvolvimento de habilidades e capacidades para o
desenvolvimento do papel de apoio nos territrios e tambm, como estratgia
importante de integrao e fortalecimento da grupalidade dos apoiadores.
Ao mesmo tempo em que esses processos ganhavam fora e significado, um
outro processo institucional de reforma da SAS estava sendo construdo para melhor
atender s necessidades do MS no processo de implementao das polticas de
sade prioritrias. Dessa forma, o DARAS foi desfeito em 2013 e sua estrutura de
apoiadores e supervisores passou a compor o gabinete da SAS. Ao mesmo tempo, o
processo de apoio integrado do MS, gestado e gerido pelo NGAI, passava por um
momento de questionamento sobre sua eficcia para o fortalecimento das parcerias
interfederativas.
Como elementos limitadores da estratgia do apoio integrado do MS
encontram-se a estrutura administrativa fragmentria das secretarias e diretorias do
MS e a falta de entendimento e consenso tripartipe sobre a pertinncia e validade do
apoio integrado, considerando as tradies em torno da defesa da relao e da
autonomia entre os entes federados para a gesto do SUS.
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Outra dimenso do dilema da integrao se baseia na excessiva fragmentao e baixa articulao das diversas reas e polticas do MS. Todos os textos apostam no apoio como dispositivo de cogesto, sendo capaz de aproximar e transversalizar as reas e polticas, historicamente desarticuladas e isoladas, em suas especificidades e particularidades. Entretanto a formulao de apoio geral e apoio temtico mantm a separao em polticas, secretarias e departamentos, reproduzindo a tradio das aes programticas em uma nova roupagem de redes temticas (PEREIRA JNIOR; CAMPOS, 2014, p.905).
No perodo entre 2011 e 2013 apoiei o estado do Paran na implementao
das redes temticas: Rede Cegonha, Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias,
e Rede de Ateno Psicossocial. De 2013 at os dias atuais venho atuando no apoio
ao Distrito Federal nos grupos condutores das redes temticas: Rede Cegonha, Rede
de Ateno s Urgncias e Emergncias, Rede de Ateno Psicossocial, Rede de
Ateno das pessoas com Doenas Crnicas e Rede de Cuidados pessoa com
Deficincia.
4.6 PESQUISA INTERVENO
A palavra qualitativa, no contexto da pesquisa, o mundo da experincia vivida.
A etnografia proposta pela Antropologia Social, a partir da vivncia direta do
pesquisador na realidade onde o objeto est inserido, marca o pioneirismo das
metodologias qualitativas de pesquisa que carrega um redimensionamento do
en