Cartografia de Controvérsias

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Cartografia de Controvérsias A finalidade de uma cartografia de controvérsia é aprender a navegar em um mundo cada vez mais diversificado de investigação científica e técnica. O método baseia-se no mapeamento de temas que são objeto de conhecimento técnico-científico profundo e que se tornaram um negócio; temas que envolvem interesses políticos e econômicos que nem sempre ficam explícitos para todas as partes envolvidas; temas, enfim, que envolvem aspectos jurídicos, econômicos, sociais e morais cujo tratamento por técnicos e cientistas não garante nenhuma neutralidade ou isonomia. No caso específico da patrimonialização e da turistificação, os casos a estudar são de interesse público. O que está em jogo são bens culturais, que conservam e comunicam valores intangíveis como a memória, a identidade, as tradições e a autonomia de um dado grupo ou sociedade. Porém, isso não os impede de serem tratados como mercadoria ou propaganda, o que implica que seus valores intangíveis não sejam apresentados como um fim em si mesmo, mas como meios de aquisição e conservação de capitais econômico e político. Ora, quando bens culturais tornam-se objeto de desejo econômico e político de empresas, organizações não- governamentais, instituições, governantes e legisladores, como saber quem tem razão? Ou ainda, como saber quais as razões legítimas que justificam ou não a patrimonialização ou a turistificação? Cartografar controvérsias no campo do patrimônio cultural é mapear esses agentes e suas razões, localizando-os no tempo e no espaço. É perceber e dar a ver os jogos de interesses e as estratégias e táticas de ocasião. É acompanhar a duração das polêmicas e suas relações com outras controvérsias. É balizar escolhas e futuras tomadas de posição a partir de bases sólidas. Na prática, o método consiste em X etapas: 1) Formação de grupos e escolha da controvérsia: no primeiro momento, os grupos de formam por competências. Espera-se que todo grupo disponha de um(a) coordenador(a), um(a) relator(a), um(a) ou dois(duas) pesquisador(as) de internet e de um(a) ou

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Texto com dicas para elaboração de cartografia de controvérsias. Adaptação a partir do site de Bruno Latour.

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Cartografia de Controvérsias

A finalidade de uma cartografia de controvérsia é aprender a navegar em um mundo cada vez mais diversificado de investigação científica e técnica. O método baseia-se no mapeamento de temas que são objeto de conhecimento técnico-científico profundo e que se tornaram um negócio; temas que envolvem interesses políticos e econômicos que nem sempre ficam explícitos para todas as partes envolvidas; temas, enfim, que envolvem aspectos jurídicos, econômicos, sociais e morais cujo tratamento por técnicos e cientistas não garante nenhuma neutralidade ou isonomia.No caso específico da patrimonialização e da turistificação, os casos a estudar são de interesse público. O que está em jogo são bens culturais, que conservam e comunicam valores intangíveis como a memória, a identidade, as tradições e a autonomia de um dado grupo ou sociedade. Porém, isso não os impede de serem tratados como mercadoria ou propaganda, o que implica que seus valores intangíveis não sejam apresentados como um fim em si mesmo, mas como meios de aquisição e conservação de capitais econômico e político.Ora, quando bens culturais tornam-se objeto de desejo econômico e político de empresas, organizações não-governamentais, instituições, governantes e legisladores, como saber quem tem razão? Ou ainda, como saber quais as razões legítimas que justificam ou não a patrimonialização ou a turistificação?Cartografar controvérsias no campo do patrimônio cultural é mapear esses agentes e suas razões, localizando-os no tempo e no espaço. É perceber e dar a ver os jogos de interesses e as estratégias e táticas de ocasião. É acompanhar a duração das polêmicas e suas relações com outras controvérsias. É balizar escolhas e futuras tomadas de posição a partir de bases sólidas.Na prática, o método consiste em X etapas:

1) Formação de grupos e escolha da controvérsia: no primeiro momento, os grupos de formam por competências. Espera-se que todo grupo disponha de um(a) coordenador(a), um(a) relator(a), um(a) ou dois(duas) pesquisador(as) de internet e de um(a) ou dois(duas) leitores(as) vorazes. O papel da coordenação é facilitar as trocas do grupo, à distancia e presencialmente; o da relatoria, escrever as memórias do grupo e dar forma final aos textos entregues ao professor; o da pesquisa, localizar e juntar fontes que indiquem a amplitude da controvérsia e a totalidade de agentes envolvidos nela; o da leitura, sistematizar e apresentar resumos para os colegas, preferencialmente de forma oral e em sala de aula.

2) Breve descrição da controvérsia: uma vez definida a controvérsia, o grupo deve entregar ao professor um texto de 200 a 400 palavras que a sistematize. Isso deve ser feito durante a primeira reunião do grupo.

3) Acompanhamento da controvérsia: ao longo do semestre, os grupos se reúnem, ampliam suas fontes e revisam seus textos. Isso será feito em sala de aula e conforme a disponibilidade de cada grupo.

4) Sistematização e apresentação da cartografia: nos dois últimos encontros, os grupos apresentam o seu caso de patrimonialização e/ou turistificação para a turma. A responsabilidade da apresentação será de dois alunos escolhidos ao acaso na data da apresentação (espera-se que todo o grupo domine o caso).

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Dos grupos, não se espera uma tomada de posição. O objetivo da cartografia é descrever e localizar a dinâmica das posições tão cuidadosamente quanto possível. Deve-se agrupar agentes cujos interesses e argumentos se assemelham e dar a ver a sua tradução pelos meios de comunicação (livros, artigos, jornais, rádio, entrevistas, blogs, redes sociais, etc.).