Casa da Virada: uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense Resultados científicos

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Casa da Virada: uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense. Resultados Científicos.

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Uma experiência deintervençãosocioambiental noSalgado Paraense

Resultadoscientíficos

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RealizaçãoInstituto Peabiru e Museu Paraense Emílio GoeldiOrganizaçãoJoão Meirelles Filho, Hermógenes Sá, Suelen CarvalhoCoordenação CientíficaSamuel Almeida, M.Sc. Ecologia Vegetal

Pesquisadores Responsáveis e Colaboradores Temáticos

Caracterização da VegetaçãoAntonio Sérgio Lima da Silva, M.Sc. Taxonomia Vegetal,Aspectos Legais e InstitucionaisBenedita da Silva Barros, M.Sc. Direito,Ictiologia e recursos pesqueirosBreno Eduardo da Silva Barros, M.Sc. Ecologia MarinhaCrustáceosCristiana Ramalho Maciel, Dra. em Aqüicultura,Florística e FitossociologiaDário Dantas do Amaral, M.Sc. Biologia Vegetal,MoluscosFrancisco Arimatéia dos Santos Alves, M.Sc. Biologia Ambiental,Manejo e exploração do caranguejo uçáFrancisco Carlos Alberto Fonteles Holanda, M.Sc. Engenharia dePesca,Aspectos Histórico-CulturaisHelena Monteiro Quadros, M.Sc. Educação,CrustáceosManoel Luciano Aviz de Quadros, M.Sc. Biologia Ambiental,Geoprocessamento e identificação de impactos em baciashidrográficasMarcelo Cordeiro Thalês, M.Sc. Sensoriamento Remoto,HerpetologiaPablo Suarez, M.Sc. Genética e Biologia Molecular,Diagnóstico ArqueológicoPaulo Roberto do Canto Lopes, M.Sc. Arqueologia,Aspectos Sócio-AmbientaisRuth Helena Cristo Almeida, M.Sc. Sociologia,AvifaunaSidnei de Melo Dantas, M.Sc. Ecologia Animal.

Bolsistas e Técnicos:Alessandro dos Reis Oliveira,Bolsista Agente Ambiental;Breno Portilho de Sousa Maia,Técnico em Pesca; Camila deFátima Simão de Moura, BolsistaPIBIC Museu Goeldi;Carlos Alberto Santos da Silva,Técnico em Botânica;Jaciara Monteiro Cabral, BolsistaAgente Ambiental;Jony Vazes Ataíde, BolsistaAgente Ambiental;Nilzilene Cristo do Vale, BolsistaSc. Licenciatura em Biologia;Renata Jeane Lima Cabral,Bolsista Agente Ambiental.

Fotos e ilustrações: Equipe daCasa da ViradaDesign: Forminform

2 Casa da Virada

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Esta publicação é um resumo dos resultados do ProgramaCasa da Virada, do Instituto Peabiru, realizado em Curuçá,Pará, entre 2007 e 2009. Este conjunto de atividadesrealizou-se graças ao patrocínio do Programa PetrobrasAmbiental, da Petrobras e Governo Federal.

Participaram destes trabalhos 54 técnicos, entre 15colaboradores do Peabiru, 21 instrutores, e 18pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG,Universidade Federal do Pará - UFPA (campus Bragança) eInstituto Evandro Chagas, Seção de Meio Ambiente(IEC/SAMAM/SVS/MS), bom como centenas derepresentantes de comunidades, de organizações dasociedade civil de Curuçá e de órgãos públicos das diversasesferas.

Entre os parceiros cabe destacar e agradecer as duasentidades que participam desde o início: o Museu Goeldi,especialmente nos projetos de biosocio-indicadores e doEcomuseu do Mangue e a Associação dos Usuários da ResexMãe Grande de Curuçá - AUREMAG, cedendo a Casa doPescador.

Importante mencionar a UFPA, Campus Bragança, aSecretaria Estadual de Educação, por meio da EscolaEstadual de Ensino Médio Olinda Veras Alves, de Curuçá, e aPrefeitura Municipal de Curuçá e organizações da sociedadecivil, especialmente a ONG Cabanos.

A proposta é que este trabalho oriente as políticas públicaspara a região do Salgado e na Zona Bragantina e, emespecial para Curuçá.

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Entre as conclusões podem-se destacar as seguintes,que merecem maior discussão e sua transformaçãoem projetos, portarias, decretos e leis e açõescomplementares, entre as quais há recomendaçõesde âmbito regional (para o Salgado e ZonaBragantina), para o município de Curuçá ou paradeterminadas ilhas ou comunidades, a saber:

2.1 Criação de Corredor Ecológico da ZonaCosteira do Pará - Considerando-se o conjunto de8 reservas extrativistas federais marinhas (RESEX)no Nordeste Paraense, acrescido de áreas deproteção ambiental (APA) estaduais de Algodoal(Marapanim) e Urumajó (Augusto Corrêa),recomenda-se aos órgãos federais e estaduais acriação do Corredor Ecológico da Zona Costeirado Pará que promoveria a gestão integrada ecompartilhada destas unidades, garantindo osdireitos de uso das populações tradicionais, comoa integridade de manguezais e ecossistemasmarinhos e costeiros, incluindo-se a nova tipologiade vegetação, classificação proposta pela Casa daVirada, daMata Amazônica Atlântica. É precisoconsiderar um Plano de Manejo Geral para oCorredor Ecológico, seja a partir dos planos decada unidade (hoje inexistentes), seja das demaisinformações técnico-científicas;

2.2 Criação do Conselho Consultivo do CorredorEcológico da Zona Costeira do Pará –antecipando-se à criação deste Corredor Ecológico,seu objetivo seria angariar o apoio, afundamentação técnica e científica e discutir, demaneira apropriada e no tempo pertinente àscomunidades, para contribuir à sua formalização egarantir sua gestão adequada; propiciando plenarepresentatividade das comunidades usuárias, deorganizações civis e públicas;

2.3 Realizar a demarcação e os planos de manejodas unidades de conservação existentes – paragarantir que estas desempenhem sua função

socioambiental, uma vez que estes não existemdesde sua criação a partir de 2002.

2.4 Implementar ações de educação ambientalpara que as populações beneficiárias das unidadesde conservação efetivamente se assenhorem de seupatrimônio e gestão, zelando por suasustentabilidade. As pesquisas da Casa da Viradaindicam que a percepção das comunidades emrelação à RESEX Mãe Grande de Curuçá é muitosuperficial e tênue.

2.5 Garantir a continuidade da formação deagentes ambientais – como bem demonstraramos resultados da formação de 60 agentesambientais pela Casa da Virada;

2.6 Ações propostas para a Mata AmazônicaAtlântica:

2.6.1 Inclusão da nova classificação de MataAmazônica Atlântica pelos órgãos responsáveis(Ministério do Meio Ambiente, ICMBIO, Secretariade Meio Ambiente do Estado do Pará – SEMA e IBGE(como classificação oficial da cartografia brasileira)como ambiente único e altamente vulnerável,remanescente nas ilhas flúvio-marinhas (Ipomongae outras) de Curuçá e região, como medida para aconservação dos remanescentes florestais doameaçado litoral do Pará.

2.6.2 Delimitação da área de ocorrência da MataAmazônica Atlântica, com a preparação de mapatécnico e documentos de apoio, para o que devemser realizadas expedições científicas urgentemente;

2.6.3 Criação de unidade de conservação deproteção integral para proteger a MataAmazônica Atlântica, especialmente em ilhasflúvio-marinhas como Ipomonga, a nível estadual;

2.6.4 Realização de campanha de educaçãoambiental, acerca da importância da MataAmazônica Atlântica;

2.6.5 A criação de uma Estação de Pesquisas,como centro de referência sobre a Mata Amazônica

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Atlântica, e que proporcione base de apoio física àspesquisas científicas;

2.7 Dinamizar as pesquisas cientificas sobre aZona Costeira do Pará - o que se torna ainda maisurgente diante das crescentes ameaças (usoinadequado dos solos no meio rural, expansãourbana etc.) e, da potencial instalação de portosde grande escala em Curuçá;

2.8 Implementar os biosocio-indicadoresdesenvolvidos no presente programa,garantindo que organismos públicos locais epopulações usuárias sejam capazes de acompanhare analisar os impactos sobre os sistemas naturais,propondo medidas mitigadoras;

2.9 Promover a Conservação da biodiversidade -Garantir proteção adequada às espécies de flora efauna vulneráveis e ameaçadas, a partir daspesquisas científicas, especialmente para:

2.9.1 Ostras –atenção à diversidade de moluscos(Gastrópodes e Bivalves) de Nazaré do Mocajuba,Lauro Sodré e Arapiranga de Dentro, não observadaem outras localidades da RESEX;

2.9.2 Quelônios - Pela primeira vez na microrregiãoforam encontradas 5 espécies de quelônios, 2 dehábitos terrestres e 3 de hábitos aquáticos. Hápequena população isolada de tartarugassubaquáticas mussuã (Kinosternon scorpioidesscorpioides), espécie na lista de animaisameaçados de extinção. Em relação às tartarugasmarinhas, foram observados sinais de locais denidificação para o que deve ser realizada pesquisaespecífica e conservação das praias como sítios dereprodução das tartarugas marinhas.

2.9.3 Aves - é preciso formar lista mais completapara a região. Dois dos táxons registrados, aMaracanã-verdadeira (Primolius maracana) e oJoão-teneném-castanho (Synallaxis rutilans -subespécie omissa), encontram-se na listaparaense de espécies ameaçadas de extinção. É

preciso estudar a possibilidade de buscar adenominação de sítio RAMSAR - Convenção sobreZonas Húmidas de Importância Internacional,especialmente como Habitat de Aves Aquáticas;

2.9.4 Monitorar as ameaças de espécies exóticas– a principal ameaça constatada é a de camarões.Merecem atenção: a) a presença da espécie exóticaGigante-da-Malásia (Macrobrachium rosenbergii);b) O cultivo de outra espécie exótica Litopennaeusvannamei, original do Pacífico. O uso de espéciesexóticas requer monitoramento redobrado, poisresultam em riscos de enfermidades e competiçãopor alimento e espaço com espécies nativas. Aconstrução de portos representa ameaças deorganismos trazidos de outras regiões (as águas delastro e espécies encontradas em cascos deembarcações - algas, fungos, mariscos etc.);

2.10 Incrementar a fiscalização ambiental: éinsuficiente a atenção à exploração do caranguejo.Da mesma maneira, carece de maior atenção a açãopredatória de barcos pesqueiros industriais maisafora dos estuários.

2.11 Aprofundar pesquisas de arqueologia – aidentificação de materiais arqueológico e indíciosrelevantes apontam o potencial arqueológico daárea, especialmente em zonas associadas à MataAmazônica Atlântica (especialmente na ilha deIpomonga).

2.12 Priorizar a conservação da cultura local aoimplementar o Ecomuseu do Mangue, a partir daproposta apresentada pelo Museu Goeldi, adetalhar e discutir com os beneficiários;

2.13 Implementar Cadeias de valor biodiversase sustentáveis – o desenvolvimento de negócioscomunitários, inclusivos, geradores de renda e quepromovam a sociobiodiversidade, valorizem seupatrimônios natural e cultural:

2.13.1 A aquicultura - as condições sãofavoráveis, desde que aplicadas boas práticas de

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manejo e utilizem-se espécies nativas (peixes,caranguejos, ostras etc.);

2.13.2 Atividades agroflorestais -especialmente a fruticultura a partir de espéciesperenes em substituição à agricultura desubsistência e baixa produtividade de mandioca eculturas anuais, baseadas no corte-e-queima emcapoeiras e florestas secundárias;

2.13.3 Criação e abelhas nativas da Amazônia– visando o aumento da polinização de frutíferas, arecuperação de áreas degradadas, a fixação decarbono, e a geração renda com a venda de mel deabelhas nativas. Os primeiros resultados da Casa daVirada demonstram o potencial da atividade;

2.13.4 Ecoturismo – os trabalhos realizados pelaCasa da Virada demonstram o potencial,especialmente do ecoturismo de base comunitária;

2.13.5 Garantir o fortalecimento do tecidosocial local – a partir das organizações de basecomunitária, para que estas sejam capazes derepresentar os anseios das 52 comunidades deCuruçá, além de diferentes grupos de interesse;

2.13.6 Implementar as propostas da Agenda 21local - a partir do processo democrático deconstrução da Agenda 21 local, com especialatenção para as áreas de geração de renda,transporte e saúde.

Estas recomendações não esgotam as demandaslocais, reprimidas por décadas, e levantadas notrabalho da Casa da Virada, apenas apresentam, demaneira organizada, uma plataforma de trabalhopara os próximos anos, a partir de informaçõescientíficas e de mecanismos de escuta popular de-baixo-para-cima.

Reiteramos nossa alegria em apresentar estesestudos e nosso compromisso em buscar parceriase recursos para implementar esta agenda detrabalhos.

João Meirelles Filho Hermógenes SáDiretor Geral Gerente do Programa

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Índice

1. Apresentação ..........................................................32. Próximos Desafios ....................................................43. A Amazônia, o Peabiru e a Casa da Virada .....................84. Ciência .....................................................................155. Inventários botânicos nas comunidades ......................206. Descobertas relacionadas à fauna ..............................247. Indicadores biossociais e de ameaça à biodiversidade...278. Indicadores de impacto ambiental sobre

recursos hídricos ..................................................339. Indicadores de Áreas de degradação ...........................34

10. Caranguejo nosso de cada dia.....................................3611. Arqueologia - Vestígios da ocupação humana

no litoral da Amazônia .........................................3812. Ecomuseu do Mangue ..................................................39

Equipe ......................................................................44Anexo .......................................................................45

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Casa da Virada8

A Casa da Virada foi concebidacomo intervenção socioambientalpara contribuir para o aumentoda auto-estima de comunidadestradicionais caboclas do NordesteParaense, ao mesmo tempo quevaloriza a biosociodiversidade,promove negócios sustentáveis efortalece as unidades deconservação.

O conjunto de açõeseducacionais, científicas e dedifusão tecnológica visacontribuir para transformar arealidade de 32 mil pessoas, quevivem em mais de 52comunidades de Curuçá,município da microrregião doSalgado, meso-região doNordeste Paraense, a 130 km deBelém.

A Casa da Virada constitui-se desete projetos, a saber:

• Educação Ambiental -formação de 60 agentesambientais em 2 cursossemestrais de 200 horas e maisde 30 mini-cursos e oficinascomunitárias, sobre artesanato,ecoturismo, água, segurançaalimentar, manejo sustentável,valor da floresta etc.

• Agenda 21 –construção participativa edemocrática de uma agendacomum de sonhos e ações de 52comunidades de Curuçá.

• Museu do Mangue -(Ecomuseu) – elaboração deprojeto de museu comunitário, apartir de narrativas orais eformação de coleção dopatrimônio material, visando ainstalação futura de espaçomuseológico.

• Biosócio-indicadores -para orientar as comunidades nomonitoramento de políticaspúblicas, manejo de recursoshídricos, florísticos, faunísticos esociais.

• Clínica de ONGs –Assistência técnica emplanejamento e mobilização derecursos para fortalecimentode 8 organizações locais.

• Ecoturismo de basecomunitária –Desenvolvimento de unidade denegócio administrada por jovens,capacitados como monitores deecoturismo.

• Abelhas nativas –implantação de criação deabelhas nativas(meliponicultura) para 60famílias em 5 comunidades,com especial atenção paramulheres e jovens.

1 Alunos do curso de agentesambientais e equipe

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Entre os resultados cabe destacara melhora da auto-estima demais de 120 jovens participantesdos diferentes programas(agentes ambientais, ecoturismoetc.). Ainda como parte daEducação Ambiental, ascapacitações comunitárias emlegislação ambientalcolaboraram para aprimorar aconsciência coletiva a respeito daResex e sua função social.

O trabalho dos pesquisadores doMuseu Goeldi e da UFPAconstitui-se em acervo valiosoacerca da região, principalmenteno que se refere a orientaçõespara políticas públicas deconservação.

O projeto do Museu do Manguesegue os preceitos de umEcomuseu. O Fórum da Agenda 21Local das comunidades de Curuçáfoi implantado e realizado apartir de ampla base local. Éiniciativa que merece seracompanhada por seu caráterinovador e desafiador.

A Clínica de ONGs, apesar dasmetas terem sido alcançadas,apresenta-se como um dosmaiores desafios. Os resultadospermitem conjecturar anecessidade de revisãometodológica. Esta açãopermitiu, por exemplo, gerar umareflexão no Peabiru como se deveconduzir seu programa decapacitação de ONGs, realizado

em diferentes locais do Pará,Amapá e Amazonas.

Como resultados extras da Casada Virada destacam-se oEcoturismo, uma vez que nãoconstava no plano inicial. Estainiciativa apresentou resultadossignificativos, mesmo comlimitados recursos, como aformação de monitores emecoturismo, a criação pelosjovens capacitados de uma ONG,o Instituto Tapiaim, e acontinuidade da iniciativa pormeio de outros projetos.

Da mesma maneira, o trabalhocom as abelhas nativas nãoprevisto, constituiu-se em outroresultado positivo. Visando afutura geração de rendacomplementar para as famíliasenvolvidas. De cima para baixo, reunião do Fórum da

Agenda 21, manutenção das caixas deabelhas nativas e monitores de ecoturismoe visitantes em roteiro de base comunitária

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3.1 A proposta metodológica

Ao longo de seus 11 anos, oInstituto Peabiru aprimorou umaabordagem para a ação socialvisando o desenvolvimento localque compreende a economialocal, a cidadania, a cultura e ofortalecimento institucional dasorganizações da sociedade civil.A intenção é desenvolver as áreasdo conhecimento de maneiraintegrada.

Esta abordagem, batizada deCasa da Virada, significaimplementar, simultaneamente,iniciativas para a elevação da

auto-estima, a conservação dacultura e da biodiversidade, oresgate da cidadania, a geração deemprego e renda, e estimular ofortalecimento do tecido social apartir das associaçõescomunitárias. O termo Virada éinvenção dos pescadores deCuruçá. Quando vão em busca deseu sustento no mangue ou namaré dizem que vão para a virada.Ao mesmo tempo, Virada significamudar de vida, o ano da virada, ogol da virada, dia 31 de dezembro,data para renovar esperanças.

3.2 A Amazônia

Na Amazônia brasileira mais 3milhões de pessoas (10% dototal) são de populaçõestradicionais – índios, quilombolase caboclos. Se considerarmossomente as populações caboclos– ribeirinhos, seringueiros,pescadores artesanais,quebradeiras de coco, pequenosagricultores etc., encontraremoscerca de 30 mil comunidadesrurais.

Historicamente, o Brasil relegou aregião ao segundo plano,concebendo-a como fonteinesgotável de terras e matériasprimas, desrespeitando suaspopulações, praticandosistematicamente a pilhagem e aocupação de forma desordenada eviolenta. A partir de 1964 aAmazônia é interligada porestradas ao nordeste e centro-suldo país, a migração é fortementeestimulada, e os incentivos fiscaisatraem indústrias, incentivam apecuária bovina extensiva e pólosminero-metalúrgicos.

Graças à impunidade, à ausênciade Estado, à corrupção, aocoronelismo vigentes, bem comoa incompreensão do queverdadeiramente representa asociedade e a natureza daAmazônia, a região pouco avançaem termos sociais.

10 Casa da Virada

Pescador da maré

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Em termos ambientais oresultado é catastrófico. Emmenos de meio século aAmazônia perde 17% de suacobertura vegetal (70 milhões dehectares), superfície igual àsoma das áreas dos estados doRio Grande do Sul, SantaCatarina, Paraná, São Paulo, Riode Janeiro e Espírito Santo).

Em vez de atacar o problema defrente, como Nação, tratamos dosefeitos – a malária, a dengue, adesnutrição, a violência, aprostituição, o desemprego, aqueimada e o desmatamento –; enão das causas – a falta deconhecimento e acesso aosdireitos básicos, a mádistribuição de renda, o acessoinjusto à educação e aos serviçospúblicos, a subserviência aosditames de mercados por madeirae carne bovina barata, energiasubsidiada e água exportada naforma de grãos e carne bovina.

No meio rural, o maior desafio éoferecer respostas adequadas aoavanço da pecuária bovina. Em50 anos o Brasil transferiu para aregião 1/3 de seu rebanho (75milhões de cabeças). Entre asconsequências estão: Brasilcampeão mundial dedesmatamento e queimadas, e 5omaior emissor de gases para oaquecimento global.

As perspectivas são sombrias: apecuária e a soja avançam

rapidamente, e ensaia-se novociclo de grandesempreendimentos de infra-estrutura, mineração emetalurgia, com investimentos,em 5 anos, de mais de R$ 150bilhões, superiores aos dosúltimos 500 anos.

Que Amazônia queremos? Épossível aliar sustentabilidade,mineração e negócios rurais?Como substituir atividades nãosustentáveis antes que estas nosdestruam e à Amazônia? De quemaneira garantir direitos básicosaos cidadãos amazônicos?

O propósito do Peabiru écontribuir para fortalecer a auto-estima, a geração de renda deforma sustentável e arecuperação das paisagensnaturais da Amazônia maisdevassada. É neste sentido que oPeabiru prioriza o nordesteparaense e seu litoral. É naregião do Salgado, e em Curuçá,onde nossa ação se desenvolve.

3.3 Curuçá e a região doSalgado

O Peabiru atua no Salgado, e, emparticular, em Curuçá, motivadopelas limitadas oportunidades deeducação e geração de renda,pela forte pressão sobre osrecursos naturais; pela

necessidade de atender ospescadores artesanais epequenos agricultores no manejoracional desses recursos,especialmente de manguezais epela situação crítica daconservação da água doce.Igualmente importante é aameaça da construção de mega-empreendimentos, como o portoflutuante proposto pelaAngloamerican (MMX) e o portooff-shore do Espadarte.

Segundo o IBGE (Estimativas2007 e Censo 2000), Curuçá tem33.768 habitantes. Desses,20.741 vivem em áreas rurais.Apenas 25,5% das casas têmfossa séptica ou são ligadas àrede geral de esgoto; 22,2% têmacesso ao serviço de coleta delixo e 12,2% da população éanalfabeta.

Segundo o Atlas deDesenvolvimento Humano noBrasil, o Índice deDesenvolvimento Humano (IDH)de Curuçá é de 0,709; o IDH-Renda é de 0,561 com 74,1% dapopulação sendo consideradapobre.

Entre Belém, Pará, e São Luís,Maranhão, estão os maisextensos, complexos ebiodiversos manguezais doplaneta. Na Costa Norte brasileira(MA, PA e AP) concentra-se 85%dos manguezais do país, dosquais 270 mil hectares no litoral

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nordeste do Pará. O mangue é afonte de alimentação e de rendapara mais de 30 mil famílias depescadores do Salgado. O IBAMAe o ICMBIO consideram osmanguezais (que ocupam apenas1,87% do bioma Amazônia) entreas áreas mais frágeis eameaçadas da região, pois estãosuscetíveis às ações predatóriasdo homem e são consideradosambientes de baixa resiliência(baixa capacidade derecuperação natural). Além disto,é possível que mais de 2/3 dasespécies marinhas dependam, dealguma forma, dessesecossistemas.

A partir da demanda das maisde 52 comunidades tradicionaisdo município, em 2002 foi criadaa Reserva Extrativista Mãe Grande

de Curuçá (RESEX). Com 37.062hectares, esta protege igarapés,restingas, manguezais e baías,principal fonte de sobrevivênciade cerca de 6 mil famílias depescadores e pequenosagricultores.

3.4 As ações do Peabiru emCuruçá

A partir de 2005 o Peabiru iniciasuas atividades em Curuçá, emprojeto de pesquisa para aempresa RDP (Planejamento eDesenvolvimento PermaculturalLtda). O trabalho resultou emavaliação preliminar deviabilidade ambiental, fundiáriae político-social deempreendimento turístico nolocal, demonstrando que a

existência da RESEXimpossibilitaria qualquerempreendimento no local.

O escritório do Peabiru em Curuçáfoi instalado em 2006 e, desdeentão, serve como apoio àsiniciativas da organização. Em2007, fomos selecionados, entremais de 900 concorrentes, para oPrograma Petrobras Ambientalcom a Casa da Virada. Em 2007,em parceria com a Royal TropicalInstitute, da Holanda, efinanciamento do Banco Real,iniciamos o programa Abelhasnativas da Amazônia. Em 2009,foi a vez do Programa deEducação para Jovens, apoiadopelo Criança Esperança (RedeGlobo e UNESCO), comocontinuidade a uma dasatividades da Casa da Virada.

12 Casa da Virada

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3.5 O Instituto Peabiru

O Peabiru é uma Organização da Sociedade Civil deInteresse Público – OSCIP, com a missão de gerarvalores para a conservação da biosociodiversidadedas florestas tropicais, especialmente da Amazônia.

Criado em São Paulo em 1998, tem sua sede emBelém desde 2004. São mais de 110 projetosrealizados, dos quais 11 em andamento. Asatividades do Peabiru estão organizadas em 3programas: Escolas de Sustentabilidade – onde se seinsere a Casa da Virada; Negócios Inclusivos; e

Responsabilidade Social Empresarial.

São ações em 16 municípios em 4 estados: Amapá(Macapá, Santana, Mazagão, Oiapoque e PortoGrande), Amazonas (Boa Vista do Ramos), Pará(Acará, Barcarena, Belém, Castanhal, Curuçá, Juruti,Marapanim, Monte Alegre e Tailândia); e São Paulo(São Bernardo do Campo).

O Peabiru conta com uma assembléia geral de sóciospessoas físicas brasileiras, um conselho diretor de eum conselho fiscal. As ações são conduzidas por

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Manguezal eM Curuçá

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uma equipe com cerca de 23 pessoas, entre seus 6escritórios (Belém, Curuçá, Juruti, Macapá, SãoPaulo e Tailândia).

Nosso público preferencial são as associações demoradores e produtores de comunidadestradicionais da Amazônia. Os recursos advém dedoações de empresas privadas; fundações einstitutos nacionais e internacionais; editaispúblicos; assessorias em responsabilidade socialempresarial; doações da Secretaria da ReceitaFederal; e neutralização de carbono de organizaçõese eventos.

O Peabiru participa da Rede AVINA, do FórumAmazônia Sustentável - FAS, da ABCR – AssociaçãoBrasileira dos Captadores de Recursos e da RedeGERCO – Rede de Gerenciamento Costeiro, e colaborapara a Rede GTA – Grupo de Trabalho da Amazônia.Em parceria com o Conselho das Associações deComunidades Afro-descendentes do Amapá (CCADA)criou a Néctar da Amazônia Ltda., empresa com sedeem Macapá, AP, para apoiar a cadeia produtiva demel de abelhas nativas da Amazônia.

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4.1 Em busca da conservaçãodo Salgado

Para contribuir para aconservação dos ambientesnaturais e da cultura o ProgramaCasa da Virada desenvolveupesquisas científicas em parceriacom o Museu Paraense EmílioGoeldi - MPEG. Pesquisadorestrabalharam na área costeira einterior de Curuçá, especialmentenos manguezais, protegidos pelaRESEX Mãe Grande de Curuçá.

Entre as ações estão o inventárioda biodiversidade (identificaçãode espécies de flora e fauna), aidentificação e caracterização deindicadores de impactoambiental, e a avaliação doestado de conservação dosprincipais rios. Foram estudadasas ilhas flúvio-marinhas (como ailha de Fora, onde estão as vilasde Algodoal, Arapiranga de Fora,Iririteua, Mutucal, PedrasGrandes e Recreio), e as ilhas deAreuá, Ipomonga, Marinteua eRomana, onde há presençatemporária de pescadores.

O interior incluiu o estudo decomunidades em um raio de 20km a partir do núcleo urbano domunicípio. Foram visitados ospovoados com vegetação costeirade manguezais e restingas, e queapresentam como atividadeseconômicas a pesca, a catação demariscos (caranguejos,camarões, ostras, turus e

mexilhões) e a agricultura desubsistência.

As comunidades selecionadaspertencem a 3 micro-baciashidrográficas: a do Rio Muriá, umfuro separando a vila do Abade,na parte continental, e as ilhasde Fora, Ipomonga e Marinteua; abacia do Rio Mocajuba, cujanascente está no centro domunicípio, com águas mistas,sendo água doce na primeirametade e salobra e salgada, apartir da influência da água domar; e a micro-bacia do RioCuruçá, cujas nascentes ficam nomunicípio de Marapanim, comáguas mistas, e com maiorcontingente humano em seuentorno.

As metodologias levam emconsideração as diferenças entre

as ilhas e o interior, tanto para aamostragem socioambiental,quanto para sensoriamentoremoto, caracterização davegetação, composição florística,inventário biológico de aves,peixes, anfíbios, répteis,crustáceos e moluscos.

Em termos de identificação deespécies, os resultados forampromissores, ao revelar um rolconsiderável de espécies da florae da fauna que não se imaginavaser tão extenso e singular, sejaem ambientes de vegetaçãosecundária (capoeiras),remanescentes de florestas deterra firme, manguezais,restingas e vegetação inundada,como campos e igapós.

As atividades de campo buscaramcompreender a percepção das

Ilha flúvio-marinha de Areuá

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comunidades locais em relação aRESEX. Os resultados levantadosnas ilhas e áreas continentaisauxiliarão na construção deplano diretor que possa favorecero desenvolvimento sustentávelde suas comunidades. Estesresultados prestam-se paraorientar políticas públicas para arecuperação de áreasdegradadas, proteção e manejodas micro-bacias, conservação da

biodiversidade e uso sustentávelde recursos naturais. Aparticipação dos pesquisadoresdo Museu Goeldi inclui, ainda,aspectos legais, organizacionais,avaliação do capital social equestões relativas ao impactosobre o uso de recursos naturais.

4.2 Curuçá: Conjunto raro esingular de ecossistemas

Na zona costeira a paisagem édominada por manguezais,restingas, praias e dunas. Nointerior, pela agricultura familiar,capoeiras em diversos estágiosde recrescimento e escassosremanescentes de florestas deterra firme. O Salgado Paraense éa região que mais perdeu

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Mapa da vegetação de Curuçá

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florestas de terra firme naAmazônia, ao longo de 150 anosde colonização, com redução demais de 90% de sua coberturaoriginal. A microrregião doSalgado abrange outros onzemunicípios, apresentando umazona costeira de cerca de 300quilômetros.

O conjunto de ilhas flúvio-marinhas de Curuçá apresentagrande importância, seja peloalto grau de conservação davegetação, especialmentemanguezais e florestas de terrafirme (bacurizais, umirizais eoutros). Este é o caso da Ilha deIpomonga, exemplo de florestade terra firme, que impressionapelas características de MataAtlântica em plena Amazônia, oque leva-nos a propor novanomenclatura específica paraesta vegetação: a MataAmazônica Atlântica, aquelaencontrada próxima da costa doOceano Atlântico.

Por sua vez, as ilhas de Areuá,Marinteua e Romana apresentamvegetações de restinga, campos(apicuns) e dunas litorâneas,além de extensos manguezais eáreas de campos savanóides,compostas de antigas dunasaplainadas.

A única ilha habitada de formapermanente é a Ilha de Fora, cujacobertura vegetal de terra firmeencontra-se bastante alterada.

Em cerca de 90 km2 encontram-se 5 comunidades. Nas outrasilhas identificam-se abrigosprovisórios de pesca, visitadospor pescadores, camaroneiros etiradores de caranguejo na safrapesqueira, o que ocorre duranteos meses menos chuvosos.Somente nas praias oceânicas há

uma presença de algunspescadores durante o ano todo.

A parte continental, o interior deCuruçá, é composta por 52comunidades (vilas, povoados elocalidades) além do núcleourbano. As capoeiras e pequenasáreas de agricultura desubsistência são marcantes napaisagem das vilas do interior. Amaioria está localizada àsmargens das micro-bacias dosrios Curuçá, Muriá, Mocajuba eTijoca, e até recentemente, o

único acesso era a via fluvial. Ascomunidades mais recentes estãoao longo da rodovia Castanhal-Curuçá (PA 136). Nascomunidades rurais é raroencontrar remanescentes deflorestas originais, os poucosremanescentes estão empropriedades de maior porte.

4.3 Inventário dabiodiversidade

Os pesquisadores inventariarampopulações de grupos biológicosmais importantes dabiodiversidade, principalmentepelo seu interesse à economialocal. Milhares de pessoassobrevivem da coleta de recursoscosteiros – peixes, camarões,caranguejos, ostras e mexilhões– para a comercialização econsumo próprio. Foram, ainda,

Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 17

Aspecto externo de vegetaçãosecundária, cuja luminosidadefavorece o desenvolvimento de cipós.

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listadas e caracterizadas espéciesbotânicas (somente para plantascom flores) e da fauna terrestre(aves, répteis e anfíbios).

Descobertas relacionadas àflora

Diversos aspectos de importânciaacerca da flora local foramidentificados na Ilha de Fora. Ailha, com certa diversidadevegetal localiza-se a noroeste domunicípio, entre a foz do RioMuriá e a do Rio Curuçá. Nesta foipossível analisar parâmetrosflorísticos e fitossociológicos daárea e, a partir daí, conheceraspectos botânicos e ecológicos,e os impactos da ocupaçãohumana, como o surgimento da

vegetação secundária. Mais de80% da ilha é coberta porflorestas secundárias(capoeiras), em diversos graus derecuperação, utilizadas detempos em tempos para aagricultura de subsistência,baseada no corte-e-queima, ouseja, no cultivo e posteriorabandono, comum à agriculturaitinerante da Amazônia.

Por este motivo, restam na ilhapoucos fragmentos de florestasdensas de terra baixa, ameaçadaspela exploração madeireira paraatender as necessidades locais, epelas novas áreas de agriculturade subsistência. Dessesremanescentes florestais, ascomunidades retiram madeira

roliça (postes, caibros e varas),fibras vegetais e cipós (para afabricação de artefatosdomésticos, construção de cercase para habitações e depósitosrústicos, os chamados tapiris epaióis). As capoeiras eremanescentes e até osmanguezais servem como fontede madeira empregada nareforma de currais de pesca epara lenha e carvão vegetal.

Nessas pequenas áreas defloresta densa foram encontradosexemplares de espécieslocalmente raras, do ponto devista biológico e florestal, comoo Tauari (Couratari multiflora),Cupiúba (Goupia glabra),Sucupira (Diplotropis purpúrea),dentre outras.

Na Ilha de Fora, e na costa domunicípio, estão presentes osbosques de manguezais, como osmais densos e altos de todo olitoral amazônico, com o dosselatingindo até 30 metros dealtura. Nestes, há as 3 espéciesde mangue: Mangueiro-vermelho(Rhizophora mangle), Siriubeira(Avicennia nítida) e Tinteiro(Laguncularia racemosa).

4.4 Ipomonga: a MataAmazônica Atlântica

As expedições científicas doMuseu Goeldi, como parte da

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A Mata Amazônica Atlântica na ilha de Ipomonga

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Casa da Virada, identificaram aocorrência de um tipo de florestaremanescente que apresentacaracterísticas de Mata Atlânticaem plena região Amazônica.Trata-se da floresta presente naIlha de Ipomonga e ilhas comcaracterísticas semelhantes naregião do Salgado. A Ilha deIpomonga, com 12 km2, localiza-se a 5 km do Oceano Atlântico.

O conceito de Mata Atlânticaenvolve questões biogeográficas.O bioma Mata Atlântica quecobria o litoral e parte do interiordo Brasil, em mais de 1 milhão dekm2 (100 milhões de hectares),desde o Rio Grande do Sul aoCeará, apresenta diferentescaracterísticas na medida em quese alteram o clima, os solos, aaltitude e outros fatoresgeográficos.

Na Ilha de Ipomonga, em Curuçá,há também Mata Atlântica, com oacréscimo de Amazônica, a MataAmazônica Atlântica, porque,antes de tudo, esta é amazônica,uma vez que está no biomaamazônico. Essa classe não existeentre as tipologias florestais daregião, classificadas pelo IBGE.No entanto, nesta escalaanalisada pelo Museu Goeldi paraa Casa da Virada, podemosconsiderar essa tipologiasingular.

A antiga cobertura florestal tantodo Salgado como da Zona

Bragantina eram de florestas deterra firme, semelhantes à deIpomonga, com diferençasfundamentais. A floresta da Ilhade Ipomonga apresentadiferenças em relação às demaismatas densas amazônicas. Existemaior proporção de espéciescaducifólias, ou seja, que perdemas folhas durante a estação seca.Há maior proporção de epífitas,no que se assemelha com a MataAtlântica. Existem algumasespécies, como o Jatobá(Hymenaea courbaril), que sãoencontradas em toda a mata.

É impressionante o estado deconservação da ilha deIpomonga. Foram encontradaspopulações remanescente de

Bacuris (Platonia insignis) degrande porte, que já vinhamsendo estudadas pela EMBRAPA.Ipomonga apresenta, ainda,espécies de árvores típicas dafloresta de terra firme, o Piquiá(caryocar villosum), o Tauari(Couratari guianensis) e aSapucaia (Lecythis pisonis).

Para conservá-la e protegê-la, oMuseu Goeldi e o InstitutoPeabiru, recomendam que a Ilhade Ipomonga se transforme emunidade de conservação estadualou federal, e como Estação dePesquisas, enfim, um centro dereferência sobre esse tipo defloresta na Amazônia, e queproteja este ecossistema único dobioma amazônico.

Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 19

Pesquisadores em expedição na Ilha de Fora

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5.1 Comunidade de Nazaré doMocajuba

Possui capoeira demais de 20anos, proveniente de roçaabandonada. É utilizada comoreserva, mas sofre a retirada demadeira de pequeno porte,principalmente para caibros eesteios. A capoeira se encontra emárea de relevo plano, com soloarenoso. Em algumas partes háterra-preta areno-argilosa,provavelmente por causa dasqueimadas anteriores.

Na comunidade há sub-bosquenãomuito denso, com áreas demaior densidade de cipós. Nãoforam observadas epífitas. Acamada de liteira não émuitoespessa. Entre as palmeirasobservou-se o Tucumã eDesmoncus sp.

O dossel é de aproximadamente 12m de altura, com predominânciade Croton sp (Euphorbiaceae),Saboeiro (Abarema jupunba – Leg.Mimosoideae) e Guapira venosa(Nyctaginaceae). Entre os cipós oEscada-de-jabuti (Bauhiniaguianensis – Leg.Caesalpinioideae) Arrabidaea sp.(Bignoniaceae). Entre as ervas aWulffia baccata (Compositae),Heliconia psilostachya(Heliconiaceae). Não foramobservadas regeneração nemindivíduos jovens de espéciesflorestais que poderiam serprovenientes da floresta primária.

5.2 A Comunidade Vila Lauro Sodré

Também possui capoeira proveniente de roça abandonada, utilizadapara a retirada de madeira, com mais de 30 anos. O relevo é plano, comsolo areno-argiloso. O sub-bosque é ralo, e onde é mais denso nota-se apresença de cipós. No chão da capoeira, encontrou-se grande incidênciade Sellaginella sp. (Sellaginellaceae). Provavelmente pela altaumidade, uma vez que estas áreas eram próximas de igarapés. Apresença de epífitas é muito baixa, observando-se, apenas, algumasespécies de Araceae. Entre as palmeiras, destacam-se a regeneração deTucumã (Astrocaryum vulgare) e Inajá (Attalea maripa).

Há camada de liteira densa, principalmente junto aos igarapés. O dosselé de aproximadamente 18 m, com emergentes que chegam a atingirentre 25 a 30 m, como Pará-pará (Jacaranda copaia – Bignoniaceae),Virola michelli (Myristicaceae) e Xylopia nitida (Annonaceae). Essasemergentes são provenientes da mata primitiva, à exceção de Pará-pará, espécie pioneira de crescimento rápido.

No dossel não observamos espécies dominantes. Entre as mais comunshá a Tapiririca (Tapirira guianensis – Anacardiaceae). Observou-se aregeneração e indivíduos juvenis de espécies da mata primitiva, como aSucuúba (Himatantus sucuuba – Apocynaceae), Chrysophyllum sp(Sapotaceae). Nessa área existe Cupuaçú (Theobroma grandiflorum –Sterculiaceae).

5.3 Vila Lauro Sodré

A capoeira também temaproximadamente 30 anos, e ésemelhante à anterior, compequenas diferenças nacomposição florística, como apresença de Mumbaca(Astrocaryum gynacanthum –

Arecaceae) e certa dominância deConnarus perrotetti(Connaraceae). Há retirada demadeira para caibros, esteios etc.Entre as ervas está a Sororoca(Phenacospermum guianensis –Strelitziaceae).

Detalhe de mangue

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5.5 Comunidade Nazaré daTijoca

A capoeira é mais antiga, entre 25e 30 anos, em área plana, tambémresultado de roças abandonadas.Não há informações sobre retiradade madeira. O solo é areno-argiloso e a camada de liteiraapresenta, de 1 a 3 cm deespessura. O sub-bosque não édenso, com poucos cipós epalmeiras. Entre as palmeirasapenas indivíduos de Inajá(Attalea maripa – Arecaceae) epouca regeneração. Os poucoscipós são principalmente dos

gêneros Arrabidaea(Bignoniaceae) e Escada-de-jabuti (Bauhinia guianensis – Leg.Caesalpinioideae).

O dossel é de aproximadamente15 m, não apresentandoemergentes. No dossel não hápredominância de determinadaespécie, e as mais abundantes sãoa Guapira opposita(Nyctaginaceae) e o Bacuri(Platonia insignis – Clusiaceae),com intensa regeneração.

Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 21

5.4 Comunidade Arapiranga

Está bastante desmatada. A áreaobservada estava abandonada aaproximadamente 10 anos.Apresenta terreno plano, soloareno-argiloso, arenoso emalguns pontos. A vegetação temaproximadamente 3 m de alturacom árvores remanescentes dafloresta primitiva, oChrysophyllum sp. –Sapotaceae).

Um sub-bosque muito denso,com presença de Tiririca (Scleriasp. – Cyperaceae), Paspalum sp.(Poaceae) e outros, comoSolanum sp. (Solanacae),Stylosanthes guianensis (Leg.Papilionoideae) e Wullfia baccata(Compositae). Os cipós são raros,sendo observados aqueles deáreas recentemente desmatadas,como espécies de Mandevilla sp.(Bignoniaceae). Apesar dadevastação, as matas ciliares, asbeiras dos igarapés, estãorelativamente preservadas.

Frutas na estrada

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5.7 Boa Vista do Muriá

A capoeira chega a três décadas de regeneração, e está localizada aapenas 5 m do mangue. É área de preservação da comunidade e não épermitida a extração de madeira ou caça. O relevo é plano, o soloarenoso a areno-argiloso, e em algumas partes pedregoso. O sub-bosque é limpo, com boa penetração de luz. A camada de liteira éespessa, e o dossel de 13 a 15 m, com emergentes de até 20 m. Entre aservas, há grande número de indivíduos de Heliconia psilostachya(Heliconiaceae) e Scleria sp. (Cyperaceae). Os cipós, apesar de nãoserem abundantes apresentam espécies como Bauhinia guianensis(Leg. Caesalpinioideae), Mandevilla sp. (Apocynaceae), Cipó-de-fogo(Doliocarpus dentatus e Doliocarpus sp. – Dilleniaceae), Maripa sp.(Convolvulaceae), Smilax sp. (Smilaceae) entre outras.

As poucas palmeiras são dos gêneros Bactris sp. (comum no sub-bosque), Astrocaryum vulgare (tucumã). No dossel há uma ligeirapredominância de Sucuúba (Himatantus sucuuba – Apocynaceae),Tatapiririca (Tapirira guianensis – Anacardiaceae). As emergentes são aSucuúba (Himatanthus sucuuba), alguns indivíduos de Tatapiririca eTrattinickia burserifolia (Burseraceae), que atingiu aproximadamente25 m. Devido à proximidade do mangue foram observados indivíduos deTaperebá (Spondias monbim – Anacardiaceae).

5.8 Comunidade da Beira

Foi observada capoeira com 20 anos, proveniente de roça abandonada,em área de relevo plano, solo argilo-arenoso a argiloso. O sub-bosque élimpo, com boa penetração de luz. Há pouca ocorrência de epífitas,cipós e de palmeiras. A camada de liteira é espessa. O dossel possuiaproximadamente 17 m de altura, e as emergentes chegam a atingir25m.

As ervas são pouco representadas, com a presença de Heliconiapsylostachia (Heliconiaceae), Pariana sp. (Poaceae). Os cipós estãorepresentados principalmente por Bauhinia guianensis (Leg. Caesalp.),Serjania sp. (Sapindaceae), Strychnos sp. (Loganiaceae) e Dioscorea sp.(Dioscoreaceae). No dossel, embora não haja predominância dedeterminada espécie, evidenciamos o Marupá (Simarouba amara –Simaroubaceae), a Sucuúba (Himatanthus sucuuba – Apocynaceae) e oSaboeiro (Abarema jupunba – Leg. Mimos).

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5.6 Comunidade Santo Antonioda Tijoca

Observadas capoeiras de 20 anos.Seu relevo é plano, o solo éareno-argiloso, a camada deliteira apresenta, em média, de 1a 3 cm. O sub-bosque não é muitodenso, com poucos cipós epalmeiras. Entre as epífitasalguns indivíduos de Anthuriumsp. (Araceae). Entre as palmeirasa abundancia de Tucumã(Astrocaryum vulgare –Arecaceae), em grandes touceirascom até 10 indivíduos em cadauma, e intensa regeneração.Entre as ervas a Heliconiapsilostachya, Scleria sp.; os cipósobservados foram Memoramagnifica (Bignoniaceae), Derrisutilis (LeguminosaePapilonoideae) e Memora flavida(Bignoniaceae).

O dossel é de 12 a 14 metros, semdominância de espécie. Asemergentes são Cecropia palmata(Cecropiaceae), Saboeiro(Abarema jupunba – Leg.Mimosoideae), observaram-seindivíduos de Xylopia sp.(Annonaceae) embora nãotenham sido inventariados.

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Entre as emergentes destacam-sea Sucuúba e o Marupá, além deCroton matourensis(Euphorbiaceae), o Saboeiro eSapium lanceolatum(Euphorbiaceae). Algumasespécies típicas de mata de terrade firme, como o Breu-de-leite(Thyrsodium paraensis –Anacardiaceae), Pouteria hirta(Sapotaceae), Copaíba (Copaiferasp.) e Eschweilera coriacea foramobservadas com indivíduosjuvenis e em regeneração.

Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 23

A flora em númerosInicialmente foram listadas 173 espécies vegetais,representantes de 45 famílias botânicas. A partir de análisesde similaridade florística, a lista de espécies caiu para 126.Destas, 37% são comuns aos dois ambientes, o das ilhas e odo continente. Um grupo de 43% apresenta ocorrênciarestrita às capoeiras continentais. Cerca de 20% das espéciessão exclusivas das capoeiras insulares.

As capoeiras continentais apresentam maior riquezaquantitativa, com 126 espécies. As capoeiras das ilhasapresentaram 94 espécies. Quase a metade das espécies(42%) corresponde a 5 famílias botânicas: Fabaceae(15,03%), Myrtaceae (8,67%), Annonaceae (6,36%),

5.9 Comunidade de Curuperé

Trata-se de assentamento, vizinho à Reserva Extrativista, onde hágrande capoeirão em terreno plano e solo de areia branca. O sub-bosque é limpo, com boa penetração de luz. A camada de liteira éespessa, com pouca presença de cipós e dossel de 15 m, comemergentes com mais de 20 m.

As palmeiras compõem o sub-bosque e principalmente a Mumbaca(Astrocaryum gynacanthum – Arecaceae) e alguns indivíduos esparsosde Bactris sp. Poucas ervas foram encontradas. O dossel não apresentapredominância de determinada espécie, no entanto, estão presentesAndira retusa (Leg. Papil.), Guatteria poeppigiana (Annonaceae),Thyrsodium paraensis (Anacardiaceae), Rinorea guianensis (Violaceae),Rollinia exsucca (Annonaceae). Todas espécies de mata de terra firme.

Os cipós são Davilla kunthii (Dilleniaceae), Smilax sp. (Smilacaceae).Há regeneração de espécies da mata de terra firme: Virola sebifera(Myristicaceae), Saccoglotis guianensis (Humiriaceae), Andira retusa(Leg. Pap.). Embora haja indícios de extração de madeira, a área é bempreservada.

Pesquisa de campo

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Para répteis e anfíbios foram recolhidos dados emmanguezais, margens de igarapés, capoeiras,florestas de terra firme e áreas savanóides das ilhasde Fora, Ipomonga, Marinteua e Areuá. Mesmo emáreas onde há comunidades (Ilha de Fora), o númerode espécies é de 74, sendo 18 espécies de anfíbios,15 de lagartos e 12 de serpentes.

Pela primeira vez na microrregião, foramencontradas 5 espécies de quelônios, 2 de hábitosterrestres e 3 de hábitos aquáticos. A mais relevanteé a pequena população isolada de tartarugas sub-áquaticas que vive em lagoas nas ilhas. A espécieestá na lista de animais ameaçados de extinção(Kinosternon scorpioides scorpioides).

Entre os anfíbios, houve a predominância deespécies das famílias Hylidae e Leptodactylidae.Entre os lagartos, a família com maior número deespécies foi a Teiidae. Das 12 espécies de serpentes,6 foram da família Colubridae, 2 das famílias Biodaee Elapidae e apenas 1 de cada família, Typhlopidae eViperidae.

Os manguezais e ilhas sã importantes habitats paraaves migratórias. As áreas florestadas nas ilhasmerecem atenção especial por abrigar espéciesameaçadas de extinção. Dois dos táxons registrados,a Maracanã-verdadeira (Primolius maracana) e oJoão-teneném-castanho (Synallaxis rutilans -subespécie omissa), encontram-se na lista paraensede espécies ameaçadas de extinção, a primeira comovulnerável, e a segunda como em perigo.

É preciso formar lista mais completa, e realizarmelhor avaliação da importância dessas formaçõesvegetais para a avifauna local. Estudos sócio-econômicos e ambientais contribuem para avaliar oimpacto de ações predatórias como desmatamentoilegal, captura de filhotes etc.

Na região foram registradas 121 espécies de aves, de43 famílias. A maioria habita ambientes secundários

ou de florestas de terra firme. Poucas espéciesmigratórias, como maçaricos e gaivotas, foramregistradas, devido a época do trabalho, fora doperíodo de migração.

Nos manguezais destacou-se o grande número deGarças-brancas grandes (Ardea alba) e Garças-pequenas (Egretta thula). Em menor número,espécies como a Garça-maguari (Ardea cocoi), aGarça-azul (Egretta caerulea), a Garça-tricolor(Egretta tricolor), e os Savacus (Nycticoraxnycticorax e Nyctanassa violacea). O Guará(Eudocimus ruber) registrado ao longo dosmanguezais diversas vezes, em grupos de 2 a 7indivíduos. Trata-se de espécie relativamentecomum em Curuçá, o que indica a boa conservaçãodo mangue.

Quanto aos peixes, apesar de pescadores relatarem aocorrência de pescados apresentando enfermidades,constatou-se que a região é relativamente íntegraecologicamente. Nas amostras foi observadaconsiderável inferioridade na proporção deindivíduos onívoros (que comem de tudo – insetos elarvas, outros peixes, algas e vegetais) em relaçãocarnívoros e herbívoros (que se alimentam deplantas) e planctívoros (que se alimentam de algas epequenos invertebrados).

As amostragens indicam que nas águas interiores(conhecidas como Maré) em Curuçá a fauna foipouco alterada pela ação da pesca, apesar da açãopredatória de barcos pesqueiros industriais, maisafora do estuário determinar a diminuição dealgumas espécies.

A Reserva Extrativista é composta por comunidadestradicionais de pescadores e agricultores, queutilizam práticas artesanais da pesca desubsistência, sendo os caranguejos, siris e camarõesos recursos da carcinofauna mais importantes.

Além de espécies que apresentam interesse

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econômico para os pescadores, foi observada faunadiversificada e abundante. Foram registradas mais demil indivíduos distribuídos em 24 espécies. Um tipode caranguejo coletado ainda não foi identificado,pode tratar-se de uma nova ocorrência para a região,ou mesmo espécie nova, por isso foi enviado paraanálise de especialista.

Foi observada a presença da espécie exótica decamarão Macrobrachium rosenbergii, conhecidocomo Gigante-da-Malásia. Esse registro requermonitoramento, pois segundo ribeirinhos, essecamarão não é cultivado na região há algum tempo,indicando risco de reprodução e colonização doambiente natural.

Foi observada em Curuperé pequenas fazendas decamarão marinho, cultivando Litopennaeusvannamei, espécie exótica, originada do Pacífico. Ouso de espécies exóticas requer monitoramentoredobrado, pois trazem riscos de enfermidades ecompetição por alimento e espaço com as espéciesnativas. Não foi coletado nenhum indivíduo dessaespécie nas diversas áreas do levantamento.Pescadores relatam que houve captura dessescamarões com as espécies nativas. A regiãoapresenta condições favoráveis para a aquicultura,desde que aplicadas boas práticas de manejo e hajarestrição ao uso de espécies exóticas.

Pescada-amarela (Cynoscion acoupa)

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Nazaré do Mocajuba, Lauro Sodrée Arapiranga de Dentro têm umgrande potencial para cultivo eextrativismo comercial de ostrasnativas, de maneira sustentável.Estas possuem grande diversidadede espécies de moluscos

(Gastrópodes e Bivalves), nãoencontradas em outraslocalidades de Curuçá, o queindica necessidade deconservação dos habitats destasespécies. Além de seremexcelentes para o cultivo desses

moluscos, ainda possuem outrofator favorável, uma vez que nãolançam esgotos nos rios,fundamental na medida que parao crescimento dos moluscos,biofiltradores, não devem existirfontes de poluição da água.

26 Casa da Virada

Banco natural de ostras e mexilhões

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7.1 Biosocio-indicadores7.1.1 Socioambiental

A percepção das comunidades emrelação à RESEX é muitosuperficial e tênue. Inexisteconsciência coletiva sobre aimportância dessa unidade deconservação como área aproteger, e como fator para amelhoria de condições de vida.

7.1.2 Pesca

Ano a ano aumentam asdificuldades em encontrarpescado. Cada vez é necessáriodedicar maior tempo e esforçospara que a pesca resultesatisfatória. Além das entidadesde classe não abrangerem ouniverso de pescadores locais,estes sofrem a concorrência depescadores de outros municípios,

e de outros estados, o que geraconflitos. A pesca de subsistênciaestá em decadência e ascomunidades, crescentemente,alimentam-se de outras proteínasanimais, como carne de frango ebovina.

Entre os desafios para melhorar adisponibilidade de estoquessustentáveis de recursos

pesqueiros estão a educaçãoambiental, a valorização dossaberes populares, ofortalecimento das organizaçõessociais e o desenvolvimentotecnológico e científico daatividade.

Por diversas ocasiões constatou-se que a mera adoção de práticassimples de manejo poderiamsignificar, em curto prazo, maioroferta de proteínas animais, seja

para consumo local ou venda.Neste contexto, a preservação dosmanguezais é vital para amanutenção de diversas espécies,assim como, para assegurarrecursos pesqueiros. A maiororganização das comunidades em

acordos de pesca apresenta-secomo essencial e urgente para asustentabilidade da RESEX.

7.1.3 Agricultura

Há restrições no uso das terras,uma vez que sua maior parteencontra-se no entorno de umaunidade de conservação, aReserva Extrativista. No entanto,como não há plano de manejo e aorientação pública é insuficiente,

O crescimento da população de Curuçá e as mudanças em relação ao uso de recursos naturais, causamtransformações na conservação da biodiversidade. Segundo as pesquisas do Museu Goeldi foi possívelpropor indicadores relacionados à biodiversidade, à pesca, à agricultura, aos conflitos sociais, à infra-estrutura, à saúde e ao saneamento básico.

Pescadores da maré Plantio de açaí

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os danos aos solos, aos recursos hídricos e à vegetaçãoprosseguem. A produção de subsistência, especialmente demandioca, indica a necessidade buscar meios sustentáveisdesta cultura para maior produtividade e geração de renda.

7.1.4 Conflitos sociais

Uma das principais causas de conflito é a presença depescadores de outras comunidades e municípios. O processode Agenda 21 demonstrou como é baixa a participação dapopulação nos processos municipais de decisão política.

A questão fundiária é outra fonte de conflitos sociais, hajavista que amaioria dos terrenos não possui documentação, oque, sabe-se, é determinante para o desenvolvimento agrícola.

7.1.5 Infra-estrutura

A precariedade do sistema viário e a falta de transportepúblico regular estão entre as principais reivindicações dascomunidades. Com dificuldades de circulação, ascomunidades encontram-se isoladas, prejudicando o acessoà educação, sistema de saúde, e o atendimento àsnecessidades básicas por serviços para os moradores dascomunidades.

7.1.6 Saúde e Saneamento Básico

Entre as principais causas de doenças estão aquelasrelacionadas à qualidade da água, na medida que diversascomunidades não contam com abastecimento regular deágua. A maior parte das comunidades está distante dosserviços de saúde pública. A maior parte dos postos de saúdenão são equipados e, muitas vezes, nem mesmo funcionam.A coleta de lixo é insuficiente, o que resulta em acumulo delixo, que é carreado para cursos d’água, atraindo vetores dedoenças, como mosquitos, moscas, roedores e urubus.

7.2 Indicadores de ameaça à biodiversidadeFlorestas dominadas por Bacuris (Platonia insignis); invasãode espécies exóticas de crustáceos e moluscos; e redução depopulações de aves, anfíbios, répteis; estão entre osprincipais indicadores de que a biodiversidade do municípiode Curuçá está ameaçada. Daí ser fundamental um conjuntode medidas e o acompanhamento da conservação dabiodiversidade local, especialmente faunística.

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7.2.1 Desmatamento - Flora e vegetação

À exceção de manguezais e de alguns ambientes de ilhasmais isoladas, a flora e a vegetação da área foramcompletamente alteradas pelo homem (ação antrópica)através da agricultura de subsistência de corte-e-queima.Esta prática torna os solos degradados em curto espaço detempo, especialmente devido a solos tropicais de baixafertilidade.

7.2.2 Caranguejos

A extração de caranguejo é realizada de maneira artesanalpor diversas comunidades do entorno da ReservaExtrativista. Em São João do Abade destaca-se como local decomercialização de caranguejos, para onde, inclusive,barcos de outros municípios e comunidades vizinhas sedirigem.

Alguns fatores interferem diretamente na rotina dospescadores artesanais da RESEX: os conflitos por pontos decoleta de caranguejos; o uso de técnicas predatórias decatação; a concorrência com a pesca industrial e a retiradailegal de caranguejos por pessoas de outras localidades,especialmente de São Caetano de Odivelas. Assim, é de sumaimportância o maior conhecimento do potencial faunísticoda região.

7.2.3 Camarão

A exploração de camarões de água doce e marinhos nasáreas estuarinas são pontos críticos a considerar comreserva. Neste ambiente os camarões marinhos sãopequenos, pois geralmente são juvenis que migraram do marpara crescerem e posteriormente retornarem ao ambientemarinho. Os camarões de água doce geralmente são adultosque se deslocaram para áreas com água salobra, para areprodução.

Os crescentes conflitos por pontos de pesca causamsignificativos impactos ambientais. Outra ameaça àsespécies nativas é o registro dos camarões exóticos: oGigante-da-Malásia (M. rosenbergii) e o Camarão-Cinza(Litopennaeus vannamei). O Gigante-da -Malásia éterritorial e predador, competindo por espaço e alimento.

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Provavelmente, esses camarões escaparam de viveiros decriação. A sua fecundidade é alta em relação às espéciesnativas, reproduz-se em água salobra, e as condições de seuhabitat de origem são similares às da RESEX, representandorisco de colonização de espécie exótica. L. vannameiapresenta dois importantes possíveis focos de conflito: asenfermidades atribuídas à presença desses animais emoutros ecossistemas, e há casos no nordeste brasileiro; e ouso de produtos químicos na despesca de fazendas decamarão (metabissulfito de sódio). Esse provoca reduçãobrusca, porém passageira, do oxigênio dissolvido da água, oque poderia gerar grande mortalidade de peixes ecrustáceos. São necessárias ações educativas com aquelesdedicados ao cultivo de espécies aquáticas para empregadasas boas práticas de manejo.

7.2.4 Moluscos

A diversidade e abundância de moluscos está diretamenterelacionada aos diferentes habitats da Resex. Entre asprincipais ameaças à sustentabilidade de determinadosgrupos está a introdução de espécies exóticas de moluscos,crustáceos e peixes de áreas de criatórios ou introduzidosacidentalmente. A criação de ostras e mexilhões semacompanhamento técnico pode causar a proliferação depredadores, causando a exaustão da base de recursosalimentícios.

7.2.5 Peixes

As entrevistas com 34 pescadores artesanais apontam que aquantidade do pescado está diminuindo. A Tainha (Mugilcurema) é cada vez menos encontrada, seguida pelo Mero, aPescada-amarela (Cynoscion acoupa), a Gurijuba e diversasespécies de Cação.

Os pescadores, tanto da área urbana de Curuçá, como doAbade relatam a presença de enfermidades no pescado(ocorrência de desvios de coluna de peixes mugilídeos,como a Tainha, Pratiqueira (Mugil incilis) e Pescada-gó(Macrodon ancylodon). Relatam, igualmente, parasitas naPescada-amarela e em Pacamuns (Batrachoidessurinamensis), comuns nas espécies e que não

30 Casa da Virada

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 31

comprometem a saúde dos peixes.

Como técnicas de pesca, a maioria dos pescadores usamredes de malha entre 25 a 40 mm. A estação chuvosa é amais abundante e a mais produtiva. Nesse período a Tainha ea Pratiqueira são as mais frequentes, seguidas pela Pescada-gó e por grandes bagres balizadores, a Dourada ePiramutaba.

7.2.6 Anfíbios e répteis

A diversidade da fauna de anfíbios e répteis é pequena,como regra na zona costeira. A salinidade limita essesgrupos a algumas espécies adaptadas. As lagoas e igarapéssão de vital importância nos ciclos de vida da maioria deanfíbios e répteis. A degradação da maioria das cabeceirasde igarapés e matas ciliares é a mais séria ameaça paraanfíbios e répteis.

7.2.7 Tartarugas (quelônios)

Nas áreas costeiras e de influência de marés, existepreocupante impacto sobre tartarugas marinhas. Foramregistradas 5 espécies. A Chelonoidis carbonaria e a C.denticulata são de hábitos terrestres. Três espécies são dehábitos aquáticos, 2 de água doce, a Rhinoclemmyspunctularia e a Kinosternon scorpioides; e 1 Marinha, aLepidochelys olivacea.

Alterações nestes ambientes são responsáveis peladestruição ou modificação de sítios de desova e áreas dealimentação. A captura acidental por equipamentospesqueiros também causa danos. Moradores de Mutucalcontam sobre capturas ocasionais em currais de praia deexemplares de L. olivacea. É de vital importância maioresforço para determinar a conservação das praias comosítios de reprodução de tartarugas marinhas.

Do grupo de quelônios Kinosternon scorpioides representoua espécie mais abundante, e provavelmente corresponda aoprincipal predador de girinos e adultos de Hypsiboas,Leptodactylus, Physalemus e Rhinella em lagoas das ilhas.Especialmente, na lagoa da Campina, na Ilha das PedrasGrandes, onde esta espécie foi o único predador noturnoobservado, com registros de 8 indivíduos de várias classes

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etárias. Deve-se ter especial atenção ao quelôniomuçuã visto tratar-se de população rara e isolada,podendo ter atributos genéticos diferenciados porestar tão próximo de região salina.

7.2.8 Aves

Foram observados diversos locais de retirada demadeira na região das ilhas e nos povoados, quecomprometem a avifauna no local (locais denidificação, pouso, alimentação etc.). Outra ameaçaé a captura de filhotes, como de Papagaios eMaracanãs, como animal doméstico e para acomercialização ilegal. No período entre setembro ejaneiro, essas espécies migram em grandequantidade para a Ilha de Fora para reprodução. Emilhas como a de Ipomonga, onde ainda existem matasprimárias de terra firme, foram encontradas espéciescaracterísticas de florestas, como duas espécies deTucano (Ramphastos tucanos e R. vitellinus), e oCapitão-de-saíra-amarelo (Attila spadiceus).

Na Ilha de Fora, foram registradas espécies c defloresta de terra firme, como os Tucanos, o Gavião-relógio (Micrastur semitorquatus), oMacuru-de-pescoço-branco (Notharchushyperrhynchus), a Galinha-do-mato (Formicariuscolma) e a Choca-lisa (Thamnophilus aethiops).

7.3 Porto

Uma das grandes ameaças à biodiversidade da regiãosão os dois empreendimentos portuários projetadospara a Ponta da Tijoca, na ilha da Romana. A região éde grande interesse pois a uma milha náutica dacosta, em frente a Romana, há uma profundidadeestável de 25 m, sem necessidade de dragagem, emáguas r calmas, o que garantiria o acesso aembarcações Cape Size (que não passam no Canal(Cape) do Panamá), com capacidade de cargasuperior a 200 mil toneladas, ideal para o transportede minério de ferro.

O primeiro é o Terminal Marítimo Off-shore do

Espadarte, que se cogitou nos anos 1980, para ser oporto de Carajás, e para o qual o Ministério do MeioAmbiente apresentou os termos de referência do EIA-RIMA por solicitação de grupo privado; o segundo é ainiciativa de porto flutuante, pelo empresa Anglo-American (Companhia Minerais e Metálicos S.A -MMX), para servir como porto da mineração de ferroda Serra do Navio, no Amapá.

Ambas propostas representam impacto ambiental esocial. Do ponto de vista ambiental, quaisquerestruturas representam riscos. A passagem de grandevolume de embarcações alteraria as condiçõesnaturais de turbidez, luminosidade e outros fatoresdas águas doce e salgada e, riscos de derramamentode óleo e outros produtos, além da contaminaçãopor flora e fauna exóticos trazidos nas águas delastro.

Do ponto de vista social, empreendimentos de porteresultam em aumento populacional descontrolado,risco social para grupos menos protegidos (crianças,jovens, mulheres, idosos etc.), invasões, enfim, adesestruturação social e colapso dos já exauridosmanguezais, acirrando a disputa por acesso arecursos naturais. Estes riscos merecem estudosprofundos e o acompanhamento da população local.

32 Casa da Virada

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 33

É crítico o estado de degradação dos ambientesnaturais da região relacionados às micro-baciashidrográficas que demandam o complexo flúvio-marinho. Os desmatamentos, especialmente dematas ciliares, as queimadas anuais para apreparação de áreas agrícolas, resultam no aumentoprogressivo de erosão de solos, e consequenteassoreamentos de corpos d’água. Isto pode serobservado pelo crescente número de currais no meiodos rios, algo inconcebível há algumas décadas. Ospescadores, sem compreender a situação, reputamaos currais a destruição, no entanto, estes só sãofincados em novos areais pois areia foi carreada parao leito dos rios.

A estes fatores acresce-se a ocupação irregular deáreas protegidas por lei – manguezais, dunas erestingas – alteradas, de maneira irreversível para aexpansão viária e urbano, e para garantir maisespaço a pastagens e áreas agrícolas.

Por terra foram visitadas as vilas de Curuperé, BoaVista do Muriá, Abade, Lauro Sodré, Santo Antôniodo Tijoca, Nazaré do Tijoca, Água Boa, Candeua e

Murajá. Pelos rios foram percorridos trechos dos riosMuriá, Mocajuba, Curuçá e Araquaim. Foramobservados os eventos de impactos que se seguem.

Ao longo do Rio Muriá, exceto nas confluências comos Rios Mocajuba e Curuçá, foram observadas faixasestreitas de mangue, com vegetação secundária aofundo. Estes mangues se caracterizam por vegetaçãomais baixa, quando comparada a áreas maisextensas do Rio Mocajuba. É na transição domangue para a vegetação secundária e áreas de usoque se localizam a maioria das vilas.

O mangue pode parecer um local sem condições dehabitação, mas não é isto que está ocorrendo. Asvilas expandem-se em direção aos manguezais. Aexpansão da Vila de Abade relaciona-se àproximidade da área urbana de Curuçá, com acessopor asfalto. A expansão do Abade, com 5 milhabitantes, desloca-se em direção ao mangue àmargem do Rio Grande. Também foram observadasem áreas de mangue residências isoladas, barracasde pescadores, criadouros de camarão e fazendas depecuária com pastagens artificiais.

Mapas das principais Micro-Bacias Hidrográficas

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34 Casa da Virada

O Salgado Paraense é uma dasáreas mais antigas sob pressão deocupação e uso intensivo do solona Amazônia. Este processo dequase dois séculos, resulta emdepauperamento do solo e perdade diversidade biológica. Dacobertura vegetal original restammenos de 10%, fragmentados empequenas manchas de terra firme,bosques de mangues e vegetaçãonão florestais como restingas ecampos.

O solo das agrovilas de Curuçá ede algumas ilhas igualmentesofreram, processos de corte-e-queima relacionados à agriculturade subsistência. Isso eliminou ascoberturas vegetais de florestaprimárias, resultando emambiente comprometido em suasfunções ecológicas. Destarte, asflorestas perderam um de seuspapéis, o de refúgio e lugar deprocriação de animais silvestres.

Da mesma maneira, a maior partedas nascentes e igarapés foramalterados de maneira definitiva,agravado pela derrubada dasflorestas de galeria (matasciliares). Se a cobertura vegetalnão for recomposta as nascentestendem a diminuir, tornando-seintermitentes durante a seca, echegando, inclusive, como ocorreem muitos casos, a se extinguir.

Esses fatores modificam aqualidade de vida dascomunidades. O acesso à água

torna-se mais dificil,especialmente no verãoamazônico. A disponibilidade deproteínas animais da caça e pescaescasseiam e, mesmo a água paraa agricultura e pecuária sofremrestrições severas.

Essas áreas apresentamvegetação secundária, ondeocorrem, espécies frutíferas comoo Bacuri (indicador dedegeneração do solo), oTaperebá, o Muruci e o Tucumã(como outras palmeiras,altamente resistente ao fogo esecas). Se estas capoeiras fossembemmanejadas para a geração derenda (produção de madeira,carvão, caça, frutas, etc.

compatíveis a florestas emregeneração) seria possívelrecuperar as paisagens e buscarnovo equilíbrio ambiental.

Nas áreas de vegetaçãosecundária há espécies de usomadeireiro como o Cumarú(Dipteryx odorata), o Marupá(Simarouba amara), a Sucupira-preta (Diplotropis purpurea), oParicarana (Stryphnodendronpulcherrimum), o Morototó(Shefflera morototoni) quepoderão ser priorizadas emprogramas de repovoamento.Estas contribuem, ainda, para amanutenção do fluxo gênicodestas espécies, evitando-se asua extinção local.

Pesquisadores em área degradada

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 35

Alguns indicadores de impactosdemonstram que a costa e, emparticular, ambientes maissensíveis – manguezais erestingas – estariam sofrendoprofundas e indesejáveismodificações, devido ao uso

inadequado de seus recursosnaturais ambientais.

É preciso estruturar medidas decorreção e vigilância ambientalpara esta região, sob pena dadegradação ambiental alcançarníveis além dos quais a

sustentabilidade da costaatlântica paraense estariadefinitivamente comprometida,tornando-a uma costa estéril eum mar vazio.

Nascente de um curso d´água

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36 Casa da Virada

Curuçá se encontra no maior conjunto contínuo demanguezais do planeta, entre as regiões costeiras deSão Luís a Belém. Desta zona saem a maior parte doscaranguejos consumidos no Brasil. A captura docaranguejo é uma das principais atividadeseconômicas das famílias de Curuçá. É fonte de rendapara a maioria das comunidades tradicionais daregião costeira da do Nordeste Paraense.

A abundante captura de caranguejos estádiretamente relacionada à extensão dos manguezaise um ambiente capaz de garantir a reposição dosestoques coletados. A crescente procura e novosmétodos de captura ameaçam reduzir a quantidadede caranguejos, principalmente a do Caranguejo-uçá,o mais abundante.

Em Curuçá os caranguejeiros têm como principalatividade a retirada do caranguejo, seguida pelapesca do camarão. Alguns fatores já indicam que aespécie vem se tornando escassa. Os catadoresprecisam se deslocar cerca de 3 horas em pequenaembarcação para alcançar pontos de coletas. Desegunda-feira a sábado, estes saem às 6 h, chegamno mangue às 9 h e retornam para casa depois de 13h. Anteriormente, os caranguejos podiam serencontrados próximos às comunidades, evitandodeslocamentos longos. O crescimento da malhaviária, permite que alguns pontos de coleta sejamacessíveis por bicicleta.

Para a captura são utilizadas braçadeiras para aproteção das mãos e braços, sapatos para andar nomangue e a pêra, sacola onde são colocados oscaranguejos. Esse método é o de menor impacto paraa espécie. No entanto, a prática da tapa é utilizada. Atapa consiste em tapar os buracos construídos peloscaranguejos, enfiando os pés até que o caranguejofique quase morto. Esta prática é adotadaprincipalmente por caranguejeiros de outrascomunidades. Em diversas ocasiões onde oscaranguejeiros locais advertiram os de fora para

estas práticas, sofreram intimidação e ameaça de usode força física. Esta prática é bastante danosa àreposição natural da espécie, pois a maioria dosburacos e a vegetação são destruídos. Outra formapredatória é a utilização do laço. Uma terceiratécnica predatória é a redinha, armadilha de pescaque eleva consideravelmente a produção do catador.Adotando o método tradicional, um caranguejeirocaptura, em média, 50 caranguejos/dia. Se utilizar atécnica da redinha sua produção pode atingir até 150indivíduos/dia, o triplo da tradicional.

Além de retirar do meio mais animais que acapacidade natural de reposição, muitos catadoresnão respeitam as dimensões mínimas do caranguejocomercial, e pior, retiram número excessivo defêmeas. O tamanho médio do caranguejo vemdiminuindo rapidamente. Se a produção de 50caranguejos/dia é um dado histórico, o que seobserva é que a coleta fraca dificilmente ultrapassaos 30 exemplares/dia. Da mesma sorte, em dia deprodução forte a média diária pode elevar-se a 100caranguejos. O resultado da venda de um dia detrabalho orça entre R$ 30,00 na produção fraca a R$60,00 para a produção forte.

O destino principal da coleta são os caminhões(ilegais em sua maioria) que aguardam no porto doAbade e na feira da cidade. As maiores quantidadesresultam de encomendas. As pequenas quantidadesdestinam-se à população local. Os caranguejos sãocomercializados vivos.

Em Curuçá não há unidade de beneficiamento docaranguejo, nem mesmo da polpa do animal. Nototal, 18 caranguejeiros participam da Associaçãodos Pescadores de Curuçá. No entanto, estes não têmacesso a qualquer benefício social, não sãoreconhecidos como pescadores no período de defeso,não possuem carteira de trabalho para a categoria, equalquer benefício complementar como a assistênciamédica. Trata-se de coleta artesanal e informal.

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 37

As consultas da equipe de pesquisa apontam aintenção de restrição no número de caranguejoscoletados, tamanho dos espécimes retirados,ampliação do defeso e outras condições para sealcançar a sustentabilidade da coleta.

Retirada do caranguejo

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38 Casa da Virada

Entre os bens culturais de umpovo estão a identificação dosprimeiros registros históricos,que apresentam a presença dosprimeiros colonizadores e suasmodificações no ambiente. Trata-se de patrimônio que além deidentificado e protegido, deve sergerido pela própria comunidade.

O primeiro passo para identificar apassagem do Homem pelo litoralparaense é a realização dediagnóstico arqueológico. Este foio primeiro trabalho da Casa daVirada. O próximo passo é,futuramente, elaborar umPrograma de Arqueologia para omunicípio de Curuçá.

Foram localizados materiaisarqueológicos e indíciosrelevantes em diversas áreas dasilhas de Ipomonga, Areuá,

Marinteua e Romana. No entanto,observou-se a ação dos ventos,água do mar e outros fatores deimpacto em sítios potenciais,afinal trata-se de bens finitos enão renováveis.

A recomendação é que aspesquisas arqueológicascontinuem, e o maisurgentemente possível, para seevitarem possíveis destruições dossítios, especialmente em locais deuso urbano e outros usos.

Nessas áreas podem estarguardados vestígios materiais queservem para a compreensão dodesenvolvimento de sociedadeshumanas desde o período pré-colonial, passando pelo colonial -do contato entre sociedadesameríndia, européia e africana -até o os dias de hoje.

A partir destas pesquisas serápossível oferecer um programa deeducação patrimonial que inclua,espaços museológicos adequados(seja com peças originais,réplicas, painéis explicativos,publicações, maquetes etc.),cursos e palestras sobrearqueologia, especialmente paraas comunidades onde os sítiosforem identificados, enfim, umasérie de atividades de carátereducativo capazes de despertar ointeresse da população local paraseu passado, ou seja, para suaprópria formação cultural.

O trabalho arqueológico poderá,inclusive, ter reflexos positivospara o desenvolvimento doturismo, do artesanato local emesmo de festividades e outrasatividades compatíveis.

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 39

Os manguezais também revelam acultura e a história de seushabitantes com o meio ondevivem. Para registrar asmanifestações históricas eculturais de Curuçá a Casa daVirada, em parceria compesquisadores do Museu Goeldi,concebeu o Ecomuseu do Mangue.

O Ecomuseu é voltado para avalorização histórico-culturallocal com o envolvimento dacomunidade. A proposta é que acomunidade torne-seprotagonista no processo deformulação, execução emanutenção do acervo do futuroMuseu, com o assessoramento de

profissionais da área. OEcomuseu inicia-se com amplaescuta das comunidades locais,resgatando a memória dos atoressociais, que comporão seu acervoimaterial.

Foram realizadas 30 entrevistasem diversas viagens a campo,com moradores do centro urbanoe habitantes de 8 comunidades:Caratateua, Caju, Marauá, SãoPedro, Abade, Araquaim, Vila deBoa de Iririteua e Lauro Sodré. Ocritério de escolha dosentrevistados foram os aspectoseconômicos, as liderançascomunitárias e o conhecimentosobre a história e a cultura do

lugar. Foram ouvidos líderescomunitários, agricultores,pescadores, historiadores,mestres de carimbó, integrantesde grupos folclóricos, artesãos, opresidente de um bloco decarnaval e moradores de distintasorigens.

Os depoimentos demonstramcomo a história local é poucoconhecida pelos próprioshabitantes. Está patente como épreciso desenvolver políticaspúblicas que incentivem acomunidade a registrar, divulgare preservar sua história, conhecere estimular suas manifestaçõesculturais, para que estas não sepercam.

Os registros da história oral são aprincipal fonte do levantamento,que contou, ainda, com pesquisabibliográfica, participações emeventos e oficinas técnicas.Nestas oficinas habitantes deCuruçá conheceram a proposta doestudo e sua relevância.

Houve, ainda a doaçãoespontânea de documentos,fotografias, instrumentos detrabalho, artesanato e utensílios,que resultam na formação de umprimeiro acervo de culturamaterial da região ecomplementam a compreensão dahistória de Curuçá.

Um dos objetivos da Casa daVirada é compreender o impactodas alteração nos ecossistemas

Casa de farinha

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naturais sobre a cultura local,seus hábitos e costumes. Um dosresultados mais evidentes doaumento populacional, adiminuição do isolamento dascomunidades e a substituição dosecossistemas naturais está noabandono de manifestaçõesculturais. Estas tornam-serestritas a uma ou maiscomunidades e estão,escondidas, e, por isso,desconhecidas da maioria. Umdos resultados da pesquisa foiidentificar manifestaçõesculturais para seu posteriorestudo, procurando compreendersua abrangência cultural.

A proposta de implementar espaçopara a conservação e divulgaçãoda cultura tradicional, ou seja, oprojeto do Ecomuseu foi bemrecebido. Especialmente por setratar de museu cujo acervo éconstruído e mantido pelacomunidade. Aqui estão trechosselecionados de entrevistas comos moradores.

". (...) Hoje, para mim, felicidadeé isso que eu vivo agora. Tipoassim, eu sempre falo que mesmose me convidasse para morar emoutro país, para viajar, eu sousincera com vocês, eu não saiodaqui do meu lugar, mais”.

Maria Liliana da Silva Rodrigues,34 anos, criadora de abelhasnativas e presidente daAssociação de Meliponicutores deCuruçá - ASMELC, Comunidade deCabeceira, Curuçá.

“Naquele tempo na pescaria nãoé como hoje que tudo é difícil,trazia muito peixe e não tinhapara quem vender, né? Às vezes agente não tinha outra coisa, mascomida a gente tinha, porquetudo era farto”.

Luzia da Silva Rodrigues, 78anos, aposentada como

agricultora, nasceu emBarcarena, e criou seus 14 filhosem Curuçá.

“Olha! eu fui criado como bichodo mato, acredita? com a juruti, arola, a saracura, depois que eufui comer, primeiro com carimã, épor isso que até hoje o filho dointerior que foi criado com carimãé uma pessoa rica de saúde, porque eu sou um desses, eu fuicriado com um, eu sou umapessoa desses, veja bem eu tôcom 78 ano e o meu jeito é este,cheio de saúde, cheio de vista, devida, negudo, arbusto e bonito(...) A minha é um romance desdeo começo, e ta sendo até hoje” .

Cristovam Monteiro Cardoso,conhecido como MestreCristovam, nasceu na Vila deIririteua, Curuçá.

40 Casa da Virada

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“O Carimbó só é fortalecido, só éfortalecido em Curuçá a partir dofinal de 70, por que? Porquepouco se valorizava isso. Até hoje,Curuçá tem divulgação muitopouca da história, da sua cultura,da identidade, do fortalecimentode Curuçá, como umMunicípio degrande potencial turístico, mas,no entanto, não existe umapolítica voltada para isso(...)”.

Paulo Henrique dos SantosFerreira, 26 anos, pesquisador dehistória de Curuçá.

“Eu falei que eu queria chamar aatenção, não queria fazer o blocosó por brincadeira, mas queriafazer uma coisa assim na questãoambiental, então eu chamei aimprensa naquela época, euchamei O Liberal. Vieram, fizerama reportagem, em 2000. Aí em

2001 eu queria ir mais além, aíeu tentei ligar para o MauricioKubrusly (...)aí no momento emque eu anunciei que vinha areportagem em rede nacionalatravés do Jonas Campos, todomundo disse que eu era um leso,doido, mas eu insisti, aí quandoele chegou veio procurar o Cafá,aí começou a reportagemnaciona. (...).

Edilson Campo dos Santos, Cafá,31 anos, presidente do Bloco deCarnaval Os Pretinhos doMangue. Nasceu e se criou emCuruçá.

Minha vida é o seguinte: sendouma pessoa tradicional, eu vivivinte e cinco anos no interior doMunicípio de Curuçá, ai de lá euvim para Curuçá, eu tenho 50anos de tradição. Eu sempre fui

tradicional, lá eu colocavacordão, seresta, carimbó. Aíquando eu cheguei em Curuçá, opessoal me procurava, o pessoalde escolas para eu dar oincentivo a nossa tradição, anossa cultura (....)”.

Manoel Soares dos Santos,Mestre Mimico, 75 anos, é mestrede carimbó.

“O que a gente fazia muitoquando era criança, eram asbrincadeiras no igarapé, asbrincadeiras de cair no poço,Trinta e um, Alerta. (...) Passeiode barco, por que aqui atrás é sómar. As nossas brincadeiras eramtodas de dia, nós não tinhaenergia elétrica, e era até 21 hque o gerador fornecia energia”.

Dirce Rodrigues Corrêa, 48 anos,nasceu e se criou na Vila de BoaVista do Iririteua, Curuçá.Costureira e coordenadora doCompanhia de Dança eExpressões Folclóricas OsAndirás.

“Antigamente o arraial era maisalegre, tinha mais participação.Antigamente não tinha televisãoas pessoas iam participar domovimento mesmo, mas hoje jáse tem a televisão, estamos naera da informática isso tudoinfluência já para as pessoas nãoir participar desse movimento”.

Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 41

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42 Casa da Virada

Esaú Trindade de Souza, 32 anos,é artesão e agricultor. Nasceu ese criou na Comunidade doMarauá.

“Quando chegava as férias, meupai entendia desse negócio dedemarcar terreno. Convidavamele para demarcar terreno pelointerior e eu ia com ele, andavacom ele por esses sítios aí, emcada lugar que eu chegava em tallugar eu perguntava: que nomeesse lugar? (...) Eu gostava deperguntar e eu ia gravando,quando chegava aqui eu tinha umcaderno aí ia tomando nota: (...)lia uma série de livros. Mas nuncacom a intenção de fazer livro épor que eu gostava de saber”.

Paulo Tarso Monteiro da Cunha,96 anos, aposentado ehistoriador de Curuçá. Nasceu ese criou na cidade de Curuçá.

No Ecomuseu do Mangue, ahistória e as manifestaçõesculturais do município serãoretratadas por meio dosdepoimentos e doações daprópria comunidade local.

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Caju

ArupiAbade

km-50

km-42

km-58

Simoa

Boa Fé

Pauxis

Andirá

Ananin

Marauá

Murajá

Cumeré

Membeca

Arapuri

Recreio

Candeua

Itajuba

Valério

Prauajó

Mutucal

Curuperé

Pinheiro

Araquaim

Coqueiro

Algodoal

Água Boa

Valentim

Pindorama

São Pedro

Beira Mar

Cabeceiras

Livramento

Arapiranga

Piquiateua

Lauro Sodré

Ponta da Rua

Itarumãzinho

Acaputeuazinho

Ponta de Ramos

Pedras Grandes

Nazaré do Tijoca

Arapiranga de Fora

Nazaré do Mocajuba

Boa Vista do Muriá

Boa Vista do Iririteua

Santo Antônio do Tijoca

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170000

175000

175000

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9920

000

9925

000

µ

0 2 4 6 81 k m

Projeção: UTM - Fuso 23 SulDatum: WGS-84

µ

OBS: Imagem Landsat de 13.07.2008

Mapa das Comunidades de Curuçá

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 43

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Ao longo de dois anosparticiparam as seguintespessoas:

Do Instituto Peabiru

João Meirelles Filho

Luiz Cruz Villares

Hermógenes Sá

Karla Oliveira

Guilherme Romano

Francisco Xavier Cardoso,

Maria Liliana Rodrigues

Francinaldo Costa Júnior,

Gabriela Carvalho

Richardson Frazão

Gilberto Meirelles

Rogério Favacho

Leandro Prates

Marcilene Santos

Joana Faggin

44 Casa da Virada

Técnicos e instrutores

Moirah Paula Machado de Menezes, Rachel Macêdo da Silva, MarceloCordeiro Thales, Liandro Moreira da Cunha Faro, Cinthya CristinaBulhões Arruda, Jônatas de Lima Moura, Flávio Augusto da SilvaContente, Francisco Carlos Alberto Fonteles Holanda, Sandra MenezesWalmsley, Marileide Moraes Alves, Breno Barros, Bruno Ribeiro,Gabriela Carvalho, Marcio Neiva Coelho, Gualber Nunes Pamplona, JoãoMeirelles Filho, Hermógenes Sá, Luiz Cruz Villares, Guilherme Romano,Gardênia Queiroz Galvão, Fernanda Martins, Rita Mendonça, Maria JoséBarney Gonzalez, Suelen Carvalho.

Pesquisadores e Colaboradores

Samuel Soares de Almeida, Antonio Sérgio Lima da Silva, Benedita daSilva Barros, Breno Eduardo da Silva Barros, Cristiana Ramalho Maciel,Dário Dantas do Amaral, Francisco Arimatéia dos Santos Alves,Francisco Carlos Alberto Fonteles Holanda, Helena Monteiro Quadros,Manoel Luciano Aviz de Quadros, Marcelo Cordeiro Thalês, Pablo Suarez,Paulo Roberto do Canto Lopes, Ruth Helena Cristo Almeida, Sidnei deMelo Dantas, Alessandro dos Reis Oliveira, Breno Portilho de SousaMaia, Camila de Fátima Simão de Moura, Carlos Alberto Santos da Silva,Jaciara Monteiro Cabral, Jony Vazes Ataíde, Nilzilene Cristo do Vale,Renata Jeane Lima Cabral.

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 45

Indicadores físicos, biológicos e socioambientais(texto Samuel S. Almeida)

Nas três micro-bacias hidrográficas do município de Curuçá foramidentificados diversos indicadores de ameaças à biodiversidade e deimpacto aos meios físico, biológico e socioambiental. Foramrelacionadas oito atividades econômicas capazes de produzir pressões erespectivos impactos.

A partir do estado do ambiente em suas diversas dimensões - física,biológica e socioambiental - foi estruturada uma matriz baseada nomodelo pressão-estado-impacto/indicador-resposta (PEIR), adaptadada metodologia proposta pelo Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA). Essa matriz é estruturada a partir da identificaçãodas atividades humanas causais ou fontes das pressões e impactos.

As atividades antrópicas, com base sócio-econômica, sobre os recursosnaturais produzem pressões e impactos que alteram o estado de seuscomponentes, podendo auxiliar na proposição de ações (respostas)pelos agentes públicos e privados de comando e controle. Algumasdessas atividades podem produzir impactos irreversíveis, mitigáveis oupodem até ser evitados.

A metodologia PEIR tem por objetivo identificar, de maneira simples, aspressões das atividades antrópicas sobre o meio ambiente, como estasmodificam a qualidade de vida das populações, dos estoque de recursosnaturais, do estado de conservação da biodiversidade, e os respectivosimpactos causados e a resposta ou reação da sociedade e dos agentesfrente a tais alterações.

Essas pressões e impactos podem, ser comuns a mais de uma atividadehumana, potencializando seus efeitos, a exemplo do desmatamentoque ocorre tanto por efeito da agricultura de subsistência, como dapecuária extensiva e da implantação de infra-estrutura.

A metodologia PEIR objetiva basicamente apresentar as informaçõesambientais de forma a responder quatro questões básicas:

Estado: o que está acontecendo com o meio ambiente?Pressão: por que isto está acontecendo?

Impactos: quais as conseqüências da degradação ambiental?>ImpactosRespostas: o que se está fazendo a respeito?>Respostas

A partir da identificação dosimpactos será possível propor osindicadores para medir e estimaros níveis desses impactos. Essesindicadores devem ser fáceis demonitorar e eficientes e sensíveispara detestar quaisqueralterações, mesmo em pequenaescala.

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Indicadores físicos e biológicos de impactos e ameaças a biodiversidade nasmicro-bacias do município de Curuçá, PA.

46 Casa da Virada

Fonte/Vetor Estado Pressão Impacto/Indicador Resposta

Agricultura desubsistência

Áreas alteradase degradadas

Desmatamento;Redução do fluxo desedimentos enutrientes; solosimprodutivos

Erosão superficialAssoreamentoPerda debiodiversidade

Recuperação dasáreas degradadase mitigação deimpactos

Pecuária exten-siva

Áreas alteradase degradadas

Desmatamento;aumento dademanda por carne

Áreas abandonadasalteradas oudegradadas; perda debiodiversidade

Idem

Infra-estrutura(estradas,portos)

Áreas alteradase degradadas

Desmatamento;aterramento decanais

Perda debiodiversidadePerda de Habitat

Pesca predatória Redução da rendae produtividade

Sobre-pesca;aumento dademanda porpescado

Redução do pescado;aumento do esforçode pesca

Acordos de pesca:defeso, cotas etamanhosmínimos.

Extraçãopredatória demariscos

Redução da rendae produtividade

Sobre-coleta demariscos.

Redução depopulações; aumentodo esforço de coleta;perda de habitat

Acordo depesca/coleta:idem

Carcinoculturacom espéciesexóticas

Invasão dehabitats naturais

Eventos de fuga apartir de criatórios

Predação e reduçãode espécies nativas

Melhorarfiscalização;eliminação dafauna exótica.

Uso de recursos Escassez dosrecursos emalgumas áreas

Aumento dademanda porprodutos da pesca emariscos

Conflitos,apropriação indevidae violência; IDH

Acordos de uso derecursos,zoneamento egestão territorial.

Assentamentohumanoirregular

Degradaçãoambiental demanguezais erestingas, baixaqualidade devida.

Desmatamento,poluição e lixodoméstico.

Perda e degradaçãode habitat; doençasparasitárias;aumentodemográfico; IDH

Retirada depopulaçõesassentadasirregularmente;recuperaçãoambiental.

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Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense 47

Esta primeira edição composta na famíliaAxel e Clarendon foi impressa nas oficinas daGráfica Supercores sobre papel reciclato

150g/m² para o miolo e 240g/m² para capa,em Belém, Pará, em outubro de 2009

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