Casamento e a Psicodinâmica Do Casal

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quarta-feira, 18 de setembro de 2013 DIÁRIO DE AULA: CASAMENTO CASAMENTO E A PSICODINÂMICA DO CASAL Em sociedade como a nossa os casamentos são monogâmicos. Outras sociedades, culturas e momentos históricos possuem organizações conjugais diversas, tais como casamentos poligâmicos ou poliândricos. O casamento monogâmico é entendido como um víncu lo entre duas pessoas, geralmente de caráter íntimo, afetivo e sexual, que pressupõe coabitação. A própria etimologia nos remete à ideia de coabitar, visto que vem da latim medievalcasamentum que se refere à cabana, moradia. O casamento representa uma contratualidade, seja ela social, jurídica, moral, afetiva, psicológica, ou tudo isso junto. Casamento é, pois, contrato (explicito e/ou implícito), é vínculo. É o liame que liga dois seres físico, afetiva e juridicamente. É também, de certo modo, um rito de passagem. São vários os tipos de casamentos. Assim vejamos: - casamento civil: celebrado sob aos auspícios do ordenamento jurídico do Estado; - casamento religioso: celebrado perante a uma autoridade religiosa; - casamento poligâmico: entre um homem e mais de uma mulher; - casamento poliândricos: entre uma mulher e mais de um homem; - casamento homoafetivo: entre pessoas do mesmo sexo; - casamento monogâmico: com a presença de apenas dois cônjuges; - casamento arranjado: cuja celebração é combinada por terceiros; - casamento putativo: passível de anulação; - casamento aberto: aquele em que os cônjuges podem, de comum acordo, ter outros parceiros sexuais. O casamento, no sentido de uma vida afetiva íntima, tem grande implicação no mundo adulto. A questão não é casar, pois casar até que é fácil, é manter o casamento em bons níveis de satisfação conjugal. Conviver com alguém envolve sensações, sentimentos, afeição, desejos, sonhos e mutualidade. Segundo Maria de Betânia Norgren e outros, em SATISFAÇÃO CONJUGAL EM CASAMENTOS DE LONGA DURAÇÃO: UMA CONSTRUÇÃO POSSÍVEL (http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a20v09n3.pdf), para a satisfação conjugal existem diversas variáveis intervenientes, como: características de personalidade, valores, atitudes e necessidades; sexo, momento do ciclo da vida familiar, presença de filhos, nível de escolaridade, nível socioeconômico, nível cultural, trabalho remunerado e experiência sexual anterior ao casamento. Olhando por uma perspectiva sistêmica a família de origem produz nos indivíduos padrões comportamentais de interação que são transmitidos transgeracionalmente. Assim, crenças, regras, valores e modelos de afetividade são passados de pai para filhos. O casamento é uma oportunidade para se elaborar e construir soluções para velhos conflitos ou repeti-los.

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Casamento e a Psicodinâmica Do Casal

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quarta-feira, 18 de setembro de 2013DIRIO DE AULA: CASAMENTO

CASAMENTO E A PSICODINMICA DO CASAL

Em sociedade como a nossa os casamentos so monogmicos. Outras sociedades, culturas emomentos histricos possuem organizaes conjugais diversas, tais como casamentos poligmicos ou polindricos. O casamento monogmico entendido como um vnculo entre duas pessoas, geralmente de carter ntimo, afetivo e sexual, que pressupe coabitao. A prpria etimologia nos remete ideia de coabitar, visto que vem da latim medievalcasamentumque se refere cabana, moradia. O casamento representa uma contratualidade, seja ela social, jurdica, moral, afetiva, psicolgica, ou tudo isso junto. Casamento , pois, contrato (explicito e/ou implcito), vnculo. o liame que liga dois seres fsico, afetiva e juridicamente. tambm, de certo modo, um rito de passagem.

So vrios os tipos de casamentos. Assim vejamos: - casamento civil: celebrado sob aos auspcios do ordenamento jurdico do Estado; - casamento religioso: celebrado perante a uma autoridade religiosa; - casamento poligmico: entre um homem e mais de uma mulher; - casamento polindricos: entre uma mulher e mais de um homem; - casamento homoafetivo: entre pessoas do mesmo sexo; - casamento monogmico: com a presena de apenas dois cnjuges; - casamento arranjado: cuja celebrao combinada por terceiros; - casamento putativo: passvel de anulao; - casamento aberto: aquele em que os cnjuges podem, de comum acordo, ter outros parceirossexuais.

O casamento, no sentido de uma vida afetiva ntima, tem grande implicao no mundo adulto. A questo no casar, pois casar at que fcil, manter o casamento em bons nveis de satisfao conjugal. Conviver com algum envolve sensaes, sentimentos, afeio, desejos, sonhos e mutualidade. Segundo Maria de Betnia Norgren e outros, em SATISFAO CONJUGAL EM CASAMENTOS DE LONGA DURAO: UMA CONSTRUO POSSVEL (http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a20v09n3.pdf), para a satisfao conjugal existem diversas variveis intervenientes, como: caractersticas de personalidade, valores, atitudes e necessidades; sexo, momento do ciclo da vida familiar, presena de filhos, nvel de escolaridade, nvel socioeconmico, nvel cultural, trabalho remunerado e experincia sexual anterior ao casamento.

Olhando por uma perspectiva sistmica a famlia de origem produz nos indivduos padres comportamentais de interao que so transmitidos transgeracionalmente. Assim, crenas, regras, valores e modelos de afetividade so passados de pai para filhos. O casamento uma oportunidade para se elaborar e construir solues para velhos conflitos ou repeti-los. Ainda segundo Pincus e Dare, desejos frustrados e sentimentos dolorosos que fazem parte da histria dos indivduos que formam o casal repercutem na interpessoalidade conjugal. Na formao de um lao conjugal ocorrem vrias articulaes psquicas conscientes e inconscientes, desde a escolha do parceiro amoroso at o legado familiar de origem. Em seu hoje clssico livro A FAMLIA NO DIV, Pincus e Dare, ressaltam que desejos inconsumados e sentimentos infantis dolorosos ou no tendem a reaparecer na vivncia da conjugalidade. Devido intensidade do lao afetivo os parceiros podem fazer acordos tcitos e inconscientes baseados nas demandas de cada um. A histria do casal se inicia na histria pessoal dos parceiros envolvidos.Ao longo do tempo, ao longo da histria de um casal haver de haver momentos gratificantes e de satisfao, bem como momentos de insatisfaes e conflitos. A cada conflito superado tanto o casal como os cnjuges vo amadurecendo. Embora idealisticamente falando para muitos o casamento seja uma representao de felicidade, ele permeado por conflitos, atritos e incertezas. A estabilidade em um casamento est muito relacionada com a capacidade de flexibilizar de cada parceiro envolvido.

Vrios estudiosos do casamento, do ponto de vista psicolgico, entendem que nele existe uma espcie de contrato secreto onde demandas inconscientes de cada cnjuge se interligam de maneira no escrita e no verbalizada,afinal a conjugalidade um terreno frtil para reedies de dramas familiares anteriores, assim como para a elaborao de conflitos no bem resolvidos em vivncias infantis.Uma das mais aprofundadas pesquisadoras brasileira sobre o casamento Terezinha Fres-Carneiro que, junto com colaboradores, tem contribudo sobremaneira para o entendimento da psicodinmica conjugal. Investigando, por exemplo, a influncia do casamento dos pais na construo do lao conjugal dos filhos, afirma que antes mesmo do encontro amoroso, em ambos os psiquismos de cada parceiro j existe uma representao de conjugalidade. Nesta representao psquica coexiste a histria do sujeito, seus ideais de conjugalidade, os mitos familiares da famlia de origem, bem como as imagens, lembranas e fantasias sobre a conjugalidade de seus pais e de seus antepassados. Tudo isto conjuga e se engendra no futuro eu conjugal do indivduo. E com base em muitos trabalhos da referida autora que daremos prosseguimento ao presente texto logo abaixo..continua post abaixo

quarta-feira, 18 de setembro de 2013DIRIO DE AULA: CASAMENTO II

SATISFAO CONJUGAL

Particularmente gosto muito quando Terezinha Fres-Carneiro diz que a frmula do casamento 1 + 1 = 3. Em seu timo texto CASAMENTO CONTEMPORNEO: O DIFCIL CONVVEL DA INDIVIDUALIDADE COM A CONJUGALIDADE (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79721998000200014&script=sci_arttext) ela nos presenteia com os seguintes dizeres: Costumo dizer que todo fascnio e toda dificuldade de ser casal, reside no fato de o casal encerrar, ao mesmo tempo, na sua dinmica, duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, de o casal conter dois sujeitos, dois desejos, duas inseres no mundo, duas percepes do mundo, duas histrias de vida, dois projetos de vida, duas identidades individuais que, na relao amorosa, convivem com uma conjugalidade, um desejo conjunto, uma histria de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma identidade conjugal.Neste sentido, existe a identidade de cada um dos cnjuges e existe a identidade do casal.

No artigo sob comento a autora diz que os casamentos atuais sofrem tenses relativas a duas foras que atuam sobre os casais contemporneos: a individualidade e a conjugalidade. Sabemos que vivemos hoje sob a gide do individualismo, e nesta cultura do EU a ideia de autonomia sobressai-se aoslaos de interdependncia conjugal. So os meus desejos, os seus desejos e os desejos conjugais compartilhados. Os extremos so perigosos e disfuncionais, ou seja, o excesso de individualismo dos cnjuges leva a fragilidade do lao conjugal; enquanto que o excesso da conjugalidade leva ao sacrifcio da autonomia.Interdependncia e individualidade. Estranho paradoxo este que habita nos casamentos e que geram tenses internas ao casal e aos cnjuges. Como ser um, ao mesmo sendo dois? Como manter a privacidade em um espao de intimidade? No h frmulas prontas e mgicas para se ser um casal feliz. Nem sei se existe um casal feliz, ao menos em sua plenitude. Talvez seja menos romntico falarmos em um casal onde o grau de satisfao predomina sobre as insatisfaes. Talvez seja melhor falarmos em equilbrio, mesmo que a corda balance um pouco de vez em quando. Intimidade e privacidade. Aniquilada a privacidade aniquila-se o indivduo propriamente dito. Excesso de intimidade fuso. Aniquilada a intimidade, aniquila-se o compartilhamento. Excesso de individualidade solido. O casamento no s duas pessoas que decidem juntar os trapos e morarem juntas. Casamento um constante trabalho psquico. Um bom nvel de satisfao conjugal mais perene requer, entre outras coisas, a valorizao mtua dos cnjuges, humor, amizades em comum, compartilhamento de ideias e projetos de vida, compartilhamento de gostos, segurana, admirao, ternura, carinho e respeito. Um casamento funcional quando o dar e receber espontneo e recproco. Durante o ciclo de vida familiar o casamento sofre consequncias e transformaes, e assim o nvel de satisfao igualmente varia. comum haver um maior nvel de satisfao conjugal nos anos iniciais, caindo um pouco ou um tanto com o tempo, porm quanto mais tempo se passa juntos volta a aumentar o nvel de satisfao.Graficamente como se fizesse uma curva do U.O casamento no o mesmo durante todo o percurso de sua existncia. As pessoas dos cnjuges mudam, mudam seus interesses, motivaes e valores, circunstncias de vida influenciam a maneira de o casal interagir entre si e com o mundo circundante. Diria que, no mnimo, h trs casamentos, que mudam sua moldura, seu contedo e sua contratualidade. H o casamento sem filhos, o casamento com filhos e o casamento quando os filhos saem de casa. So etapa evolutivas da vida familiar que o casal e cada membro devem lidar e melhor manejar. A qualidade do casamento fundamental para sua funcionalidade e longevidade. Como observa Minuchin, em seu livro FAMLIA: FUNCIONAMENTO E TRATAMENTO (ARTMED), casais satisfeitos e funcionais so aqueles que conseguem preservar laos afetivos fortes entre os cnjuges, capazes de flexibilizar a estrutura de poder, papis e regras de seu relacionamento ao longo do tempo e das mudanas e das crises familiares, bem como desenvolver padres de comportamento adequados e adaptativos. O casamento um importante espao vital para a auto realizao, visto que o ser humano deseja amar e ser amado, ser respeitado e admirado, sentir-se pertencente e seguro, compartilhar sonhos, desejos e histrias. E como bom poder dividir tudo isto com algum que para ns significativo no transcorrer de nossas vidas.

Como leitura complementar, temos: AS RELAES ENTRE A SATISFAO CONJUGAL E AS HABILIDADES SOCIAIS PERCEBIDAS NO CONJUGE, de Aline Sardinha, Eliane Falcone e Maria Cristina Ferreira (http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n3/a13v25n3.pdf).

.Joaquim Cesrio de Mello