CASAR UM ESTUDO ARGUMENTAL E PROTOTEMÁTICO · nheiro, Mariana e o engenheiro e o respectivo...

25
49 CASAR UM ESTUDO ARGUMENTAL E PROTOTEMÁTICO Ângela Cristina Di Palma Back UNESC 1 Magdiel Medeiros Aragão Neto UFPB/UFAM 2 RESUMO: Este artigo apresenta uma sistematização da estrutura semân- tica de ‘casar’, mais especificamente da estrutura de argumentos, que se apresenta como: x casa(-se), x casa(-se) com y e z casa x com y. Funda- mentados no Léxico Gerativo de James Pustejovsky (1995) e na teoria de papéis prototemáticos de Dowty (1991), os autores concluem que o item lexical ‘casar’ pode apresentar uma nova estrutura semântica, ainda não prevista por Pustejovsky (1995). Diante dessas diversas possibilidades de realização, defendem tomá-lo como uma estrutura polissêmica. ABSTRACT: is paper presents a systematization of the semantic struc- ture of the verb ‘casar’ (to marry); in particular, of the structure of argu- ments, presented as: “x casa(-se)”; (“x marries him/herself”); “x casa(-se) com y” (“x marries him/herself with y”); e “z casa x com y” (“z marries x with y”). Based on the Generative Lexicon, by James Pustejovsky (1995) as well as on Dowty’s (1991) thematic proto-roles theory, the authors con- clude that the lexical item ‘casar’ may present a new semantic structure, not yet foreseen by Pustejovsky (1995). Given its various possibilities of occurrence, they argue it should be taken as a polysemic structure. Introdução Com este trabalho, busca-se sistematizar a estrutura semântica de casar, mais especificamente a de argumentos, que ora se apresenta com um (x), ora com dois (x, y) ou (z, x/y/x e y) e, ainda, com três (z, x, y) argumentos saturados, ou seja, sintaticamente realizados, como em: x casa(-se), x casa(-se) com y e z casa x com y (na seção1). Diante dessas diversas possibilidades de realização, defendemos a posição de que es- tamos diante de uma estrutura polissêmica. O estudo se pretende sin-

Transcript of CASAR UM ESTUDO ARGUMENTAL E PROTOTEMÁTICO · nheiro, Mariana e o engenheiro e o respectivo...

49

CASAR UM ESTUDO ARGUMENTAL E PROTOTEMÁTICO

Ângela Cristina Di Palma Back UNESC1

Magdiel Medeiros Aragão Neto UFPB/UFAM2

RESUMO: Este artigo apresenta uma sistematização da estrutura semân-tica de ‘casar’, mais especificamente da estrutura de argumentos, que se apresenta como: x casa(-se), x casa(-se) com y e z casa x com y. Funda-mentados no Léxico Gerativo de James Pustejovsky (1995) e na teoria de papéis prototemáticos de Dowty (1991), os autores concluem que o item lexical ‘casar’ pode apresentar uma nova estrutura semântica, ainda não prevista por Pustejovsky (1995). Diante dessas diversas possibilidades de realização, defendem tomá-lo como uma estrutura polissêmica.

ABSTRACT: This paper presents a systematization of the semantic struc-ture of the verb ‘casar’ (to marry); in particular, of the structure of argu-ments, presented as: “x casa(-se)”; (“x marries him/herself ”); “x casa(-se) com y” (“x marries him/herself with y”); e “z casa x com y” (“z marries x with y”). Based on the Generative Lexicon, by James Pustejovsky (1995) as well as on Dowty’s (1991) thematic proto-roles theory, the authors con-clude that the lexical item ‘casar’ may present a new semantic structure, not yet foreseen by Pustejovsky (1995). Given its various possibilities of occurrence, they argue it should be taken as a polysemic structure.

IntroduçãoCom este trabalho, busca-se sistematizar a estrutura semântica de

casar, mais especificamente a de argumentos, que ora se apresenta com um (x), ora com dois (x, y) ou (z, x/y/x e y) e, ainda, com três (z, x, y) argumentos saturados, ou seja, sintaticamente realizados, como em: x casa(-se), x casa(-se) com y e z casa x com y (na seção1). Diante dessas diversas possibilidades de realização, defendemos a posição de que es-tamos diante de uma estrutura polissêmica. O estudo se pretende sin-

50

crônico, considerando não somente o significado dicionarizado, como também o conhecimento que os falantes nativos possuem intuitivamen-te.

A fim de defender a ideia posta, a fundamentação se dará com base no aparato teórico do Léxico Gerativo (na seção 2), de James Pustejo-vsky (1995), a partir do qual se mapeia a estrutura semântica de um item lexical, levando-se em conta seu uso criativo no contexto senten-cial, no qual se estabelece o significado atribuído às expressões.

Por meio do mapeamento semântico de um dos quatro níveis3 de representação – estrutura de argumentos – (seção 3), conclui-se que esse item lexical pode apresentar uma nova estrutura semântica, ainda não prevista por Pustejovsky (1995).

Para tornar nossa análise mais explicativa e explícita, além do Léxico Gerativo (LG), traremos para a discussão a teoria de papéis protote-máticos de Dowty (1991), cuja lista de propriedades escalares e não--atomistas torna mais dinâmica a noção de tematicidade.

1. Casar: mesma categoria lexical e polissemia lógicaAntes de iniciarmos propriamente a discussão acerca da estrutura

semântica do verbo casar, algumas considerações se fazem necessárias. Para tanto, devemos salientar que, em linhas gerais, um dos principais problemas é saber o que afinal significa casar atualmente.

Comumente, chama-se de casamento a “simples” união sem forma-lização civil ou religiosa – Elisabeth Taylor4, por exemplo, foi casada oito vezes; uniões, provavelmente, informais –, até porque a convivência hoje gera praticamente todos os vínculos legais que outrora existiam apenas em casamentos civis.

Conforme Houaiss (2001), casamento significa união voluntária de um homem e uma mulher, nas condições sancionadas pelo direito, de modo que se estabeleça uma família legítima. O dicionário (op. cit.) registra esse significado como ligado à esfera jurídica. Contudo, esse significado faz parte do conhecimento enciclopédico que, segundo esse dicionário, ainda registra outros, como 1) ato ou efeito de casar, e, por extensão de sentido, sem mencionar os figurados, 2) qualquer relação comparável à de marido e mulher, o que remete ao que já havíamos intu-ído sobre os casamentos de Liz Taylor, agora ratificado pelo dicionário.

Vale lembrar, porém, que um casamento não é necessariamente uma união voluntária entre duas pessoas; pode ser também uma união inde-pendente da volição de pelo menos um dos participantes. Desse modo podemos interpretar casar “apenas” como unir: casarunir. Se assim o fizermos, poderemos dar conta de usos considerados metafóricos tais como “Ele casou as araras azuis” e “João casa bem meias com sapatos”.

51

Podemos ainda dar conta das expressões casamento religiosounião_religiosa e casamento civilunião_civil, sentido este segundo que cobre a expressão parceria civil e faz com que atribuamos/reconheçamos identidade se-mântica entre parceria e casamento no contexto homoafetivo.

Nossa intenção, para com este trabalho, é dar um tratamento sin-crônico do conhecimento lexical, aquele conhecimento que os nativos têm intuitivamente sobre os itens lexicais de sua(s) língua(s) mãe(s), e possibilita não só generalizações como também detalhamento com o máximo de granularidade linguisticamente analisável.

O objetivo, então, é o de propor para casar um significado mais geral, unir, englobando os casos compatíveis como “unir-se a alguém” e “unir alguém”. O primeiro caso ilustra casar como uma estrutura que pode realizar-se como segue em (01) e possíveis alternâncias sintáticas que veremos mais adiante:

(01) Mariana casou(-se) com o engenheiro.

Os casos comparáveis a “unir alguém” têm como realização (02) com suas respectivas alternâncias sintáticas:

(02) O padre/juiz casou Mariana com/e o engenheiro.

Embora pareça que estamos diante de dois verbos diferentes, que faz uso da mesma forma, mostraremos que estamos diante de um mesmo item lexical que mantém os mesmos significados básicos por ser logica-mente polissêmico: propriedade inerente das línguas humanas em fun-ção de sua capacidade polimórfica.

A análise mostra-se pertinente na medida em que assumimos ter o mesmo verbo casarunir com realizações sintáticas diferentes para as duas sentenças acima expostas. Essas diferentes realizações, assumimos base-ados em Pustejovsky (1995), são frutos da interação entre argumentos e eventos5 componentes do significado do verbo.

Alguns pesquisadores, a exemplo de Riemer (2010), Levin & Hovav (2005) e Cruse (2000), ao tratarem da realização argumental, observam comumente relacionar-se a noção de argumento à de papel temático, função semântica, e por meio dessa relação analisar preferências de ar-gumentos em relação a determinadas funções sintáticas, o que implica uma tentativa de emparelhamento entre função semântica e função sin-tática. Por exemplo, o argumento mais agentivo o padre/juiz, no exem-plo (02) acima, tende a exercer a função de sujeito, os menos agentivos (Mariana e o engenheiro) a função de objeto. Essas preferências temáti-cas acabam por acarretar a assunção de uma hierarquia temática. Diver-

52

sas e atrativas, e, até certo ponto, explicativas, são as propostas de hierar-quização temática desde Fillmore (1968) até o presente. Levin & Hovav (2005, p. 183), entretanto, afirmam que “[...] many thematic hierarchies are meant to be a shorthand for capturing local empirical generalization and should not be considered a universal construct”6.

Pelo que, entretanto, se observa de casar, os objetos (Maria/o enge-nheiro), argumentos mais pacientes e menos agentivos, podem também exercer a função de sujeito, caso não haja um agentivo prototípico (o padre/juiz). Nesse caso, tem-se o que comumente se chama, na literatura sobre diátese verbal, de voz média/medial, tópico amplamente discutido em trabalhos como o de Levin & Hovav (2005) e Cambrussi (2007). Nessa voz, sem a estrutura sintática da passiva, um objeto, ou ambos, passa a exercer a função de sujeito, e o outrora sujeito da voz ativa, um argumento mais agentivo, não mais é recuperado se não houver uma especificação, conforme mostram (03)–(11) abaixo. O outro argumento que resta então como completo verbal exerce a função de objeto indire-to, podendo este ser ou não ser realizado sintaticamente:

(03) *Mariana e o engenheiro casaram(-se) com o padre.(04) *Mariana casou(-se) com o padre.(05) Mariana casou(-se) com o padre Júlio.

(06a) Mariana e o engenheiro casaram(-se) com o padre Júlio.(06b) ??Mariana e o engenheiro casaram(-se) a si mesmos com o padre Júlio.

(07a) Mariana casou(-se) com o engenheiro.(07b) ??Mariana casou(-se) a si mesma com o engenheiro.

(08a) Mariana casou(-se) mesma.(08b) ??Mariana casou(-se) a si mesma.

(09a) O engenheiro casou(-se) com Mariana.(09b) ??O engenheiro casou(-se) a si mesmo com Mariana.

(10a) O engenheiro casou(-se).(10b) ??O engenheiro casou(-se) a si mesmo.

(11a) Mariana e o engenheiro (se) casaram.(11b) Mariana e o engenheiro (se) casaram a si mesmos.

53

Duas observações aqui são vitais. A primeira refere-se à versão de ocorrência dessas sentenças com o se e a segunda sem ele.

Diferindo de trabalhos como o de Camacho (2003), que nega um es-tatuto argumental para o se indicativo de voz média, mas por outro lado concordando com o mesmo autor que em sentenças na voz média o uso do enfático a si mesmo gera grande estranheza, como mostram (06b)–(11b), podemos analisar que as ocorrências do se em (05) e (06a)–(11a) têm a função de indicar que a sentença encontra-se na voz média pois o sujeito não é percebido como claramente agentivo, uma vez que nem Mariana nem o engenheiro são legitimados a promulgarem um casa-mento tal qual um juiz, padre, pastor, rabino etc.

Semanticamente, o que se tem é que “[...] A formulação medial só será selecionada se o estado de coisas for verbalizado do ponto de vista da entidade afetada, que também é a responsável pelo desencadeamento desse estado de coisas. [...]” (Camacho, 2003, p.120). Como essa inter-pretação semântica dá-se sintaticamente pode ser formulada segundo duas orientações teóricas. Em uma delas, baseando-se na noção de acu-mulação de papel temático de Perini (2006) e de outros linguistas lista-dos em Riemer (2010) e Levin & Hovav (2005), podemos assumir que um argumento, pela própria natureza do seu verbo, pode acumular mais de um papel temático: nos exemplos acima os sujeitos Mariana, O enge-nheiro, Mariana e o engenheiro e o respectivo pronome se a eles anafori-cos. Seguindo a outra orientação teórica, que não admite cumulação de papel temático, poderíamos assumir que os sintagmas em questão não são sujeitos, mas sim tópicos que ao serem movidos de sua posição de objeto direto, onde recebera o papel de paciente, ali deixam um prono-me como vestígio. As duas perspectivas teóricas são interessantes, mas a primeira se mostra mais econômica para os propósitos de formalização que aqui empreendemos.

Já no caso das ocorrências de (05) e (06a)–(11a) sem o se, parece ha-ver uma tendência à percepção/compreensão de uma maior agentivida-de dos sujeitos Mariana, O engenheiro e Maria e o engenheiro, mas ainda assim uma não total agentividade, tanto que podem ser traduzidas pela forma pronominal nos dialetos que usam essa forma. Assumimos po-rém que aquilo que mais se ressalta nesse caso não é uma maior agenti-vidade porém uma menor passividade, devido à ausência do pronome que pode ser interpretado como o argumento que sofre o evento e ao sujeito repassa-o por causa da co-indexação. Isso nos leva a interpretar que tais versões sem o se estão também na voz média, ainda que o se-gundo argumento não esteja saturado por elemento algum.

Associado ao traço de agentividade, temos outra estrutura: a de um sujeito agentivo, mas sem o objeto indireto, como em (12)–(14) abaixo.

54

Contudo em estruturas nas quais esse sujeito tem alta agentividade, não é possível o complemento ser saturado apenas por um objeto indireto, como mostram (15)–(17).

(12) O padre casou Maria.(13) O padre casou o engenheiro(14) O pai casou a filha. (15) *O padre casou com Maria.(16) *O padre casou com o engenheiro.(17) *O pai casou com a filha.

Observemos que (15) e (16) podem ser gramaticais7 se forem inter-pretadas como sentenças na voz média, se o padre não for o agentivo realizador da cerimônia por se tratar de um ex-padre (já que muitas ve-zes falamos de “ex” como se ainda fossem no momento). Ou seja, (15) e (16) podem ser gramaticais se o padre em questão for um ex-padre e um dos cônjuges. Se a saturar o primeiro argumento tivéssemos: “o pastor”, (15) seria gramatical; “o juiz”, (15) e (16) seriam gramaticais. Em nossa cultura, (17) porém só seria gramatical se o pai, o pastor ou o juiz tivesse casado no mesmo evento em que a filha casou com outro nubente.

Por fim, se o sujeito tem alta agentividade, a sua pronominalização é impossível, como mostram (18)–(20) abaixo.

(18) *O padre casou-se Mariana com o engenheiro.(19) *O padre casou-se Mariana e o engenheiro.(20) *O padre casou(-se) com Mariana e o engenheiro.

A sentença (20) seria possível se fosse interpretada como uma sen-tença na voz média e, de novo, “o padre” fosse equivalente a “o ex-padre”. E ainda assim haveria pelo menos duas interpretações distintas: uma na qual o ex-padre teria se casado simultaneamente a Mariana e ao enge-nheiro; e outra na qual o ex-padre teria se casado em uma fase da sua vida com Mariana e noutra fase com o engenheiro, ou seja, tornado-se cônjuge de ambos.

O que possibilita essa análise de (20) como podendo ser média é o fato de o sujeito poder ser não só agente, mas também paciente, passi-vidade essa que é uma característica prototípica do sujeito da voz mé-dia. Considerando que as sentenças médias, a exemplo de A porta bateu com o vento, têm a propriedade de o sintagma que não exerce a função de sujeito precisar ser introduzido por uma preposição (Cf. Cambrussi, 2007), podemos assumir que para os casos de verbos como casar, que têm dois complementos do tipo argumento default e um deles se realiza

55

sob a forma pronominal, o outro complemento precisa necessariamen-te ser introduzido por preposição, mesmo que esse terceiro seja cons-tituído de sintagmas nominais coordenados. Quando essa regra não é obedecida temos casos como (18) e (19). Em (18) a preposição com in-troduz apenas um sintagma o engenheiro e, como a posição de segundo argumento já está saturada pelo sintagma se, o sintagma Mariana fica sem função sintática porque também não está coordenado a nenhum outro sintagma, ou seja, é um sintagma excedente, um sintagma sem ar-gumento para saturar. Em (19) o sintagma Mariana e o engenheiro estão coordenados ocupando a mesma função sintática, ou seja, saturando uma única posição argumental, mas ainda assim a sentença não é gra-matical porque casar quer que pelo menos um dos seus complementos seja introduzido por preposição e nem se nem Mariana e engenheiro são introduzidos por preposição.

O exposto nos exemplos acima nos possibilita argumentar a favor de uma explicação para a polissemia do verbo casar, cujo tratamento teórico será o do Léxico Gerativo e dos papéis prototemáticos de Dowty (1991), na seção a seguir.

2. Léxico GerativoO Léxico Gerativo (LG) surge, em meados da década de 1990, como

uma teoria visando a explicar a extensão de sentido lexical, consideran-do o uso criativo das palavras. A abordagem prevê um sistema sensível o bastante para gerar novos sentidos que são semanticamente apropriados a contextos8 linguísticos específicos; consequentemente, não há um gerador único, o que há, na verdade, são mecanismos que agem, organicamente, com estruturas lexicais a fim de criar significado ou mesmo expandi-lo.

O aparato teórico se constitui como capaz de recursivamente atribuir significado às expressões. Para captar as facetas da significação quanto à construção, a teoria apresenta uma composicionalidade de forma en-riquecida. A composicionalidade em Frege (1978) expõe uma composi-ção (a + b + c) que gera algo já existente em (a), (b) e (c). No LG, o foco não se pauta nessa lógica; acredita-se que o resultado possa gerar algo que não havia de forma explícita em (a), (b) e (c).

A visão de léxico, nessa perspectiva, é de um todo altamente estru-turado, cuja estrutura interna é maior do que assumem outras teorias lexicais, como a do Léxico de Enumeração de Sentidos (SEL, de Sense Enumeration Lexicon)9, por exemplo, que apenas fornece uma lista de sentidos que o item lexical possui.

Teorias lexicais que listam sentidos possuem uma concepção de lín-gua monomórfica se para cada sentido houver uma entrada lexical. Pode, porém, ocorrer que os sentidos sejam todos listados na mesma entrada;

56

nesse caso, temos uma teoria polimórfica irrestrita. Independentemente de a concepção de língua ser monomórfica ou polimórfica irrestrita, os itens lexicais parecem ser interpretáveis a partir de um único significado, e, diante de uma ambiguidade, a solução que se apresenta é a listagem múltipla de palavras a fim de garantir interpretações únicas para os seus sentidos. Contrário ao SEL, o LG assume um polimorfismo fraco, i.e., uma semântica fracamente polimórfica em que todos os itens lexicais são semanticamente ativos, atuando sob restrições bem delimitadas.

Todo o processo aí descrito expõe um fluxo de interação constante entre os itens lexicais, de modo que os itens são combinados no interior das estruturas da qual fazem parte, como sintagmas; aí está a noção de contexto da qual falamos. A interação, então, passa a evidenciar capaci-dades gerativas que são progressivas na medida em que recobrem e ex-pandem os significados, o que envolve um poder recursivo decorrente do sistema composicional que é capaz de gerar significados a partir dos quais se atribui à palavra um núcleo de significação.

A fim de evitar a sobregeração de sentidos, o poder recursivo, cer-tamente, sofre restrições, e, para tanto, fazem-se necessários níveis de representações semânticas que não se confundem com meros papéis te-máticos. Segundo James Pustejovsky (1995), o propósito, quanto a esses níveis de representação, é assumir que a semântica de um item lexical α pode ser definida como uma estrutura consistindo de pelo menos quatro componentes: α = <A, E, Q, I>. Em que: 1) A é a estrutura de argumentos; 2) E é a estrutura de evento; 3) Q a estrutura de qualia, e I é a estrutura de herança lexical. A cada um desses níveis de representa-ção corresponde uma forma interpretação e análise. A fim de capturar a natureza gerativa da criatividade lexical, mais especificamente do fe-nômeno de extensão de sentido, a explicação formal da língua é assim fornecida com base nessa constelação de estruturas, e também de três mecanismos gerativos que não serão aqui abordados.

Evidentemente, uma representação lexical adequada não pretende responder pelo cômputo de inferências extralinguísticas envolvidas no processo interpretativo, mas contribuir como um dos muitos níveis numa caracterização enriquecida da estrutura contextual, fazendo com que a abordagem teórico-analítica seja capaz de apreender o uso criati-vo das palavras em contextos diferentes.

Visando a captar toda a significação potencial que o léxico pode ex-primir e explicando, inclusive, a natureza polimórfica da língua, frisa-se que se faz necessária uma apreciação da estrutura sintática sem a qual, segundo Pustejovsky (op. cit.), o estudo da semântica lexical está fadado ao fracasso; assim, o meio pelo qual o significado se constitui não pode ser dissociado da estrutura que o transporta.

57

Pustejovsky (1995) propõe-se a apreciar mais em detalhes os aspec-tos gerativos ou composicionais da semântica lexical, do que somente olhar para a decomposição limitada a um número de primitivos – e.g., Quillian (1968), Collins and Quillian (1969), Fodor (1975), Carnap (1956), Brachman (1979) apud Pustejovsky (1995). Para tanto, cabe à abordagem do LG descrever a semântica lexical acionando um apara-to que envolve os quatro níveis de representação que interagem entre si, e podem ser submetidos à ação dos mecanismos gerativos. Para os propósitos deste trabalho, e já no tópico a seguir, focaremos apenas na estrutura de argumentos.

3. Construindo a estrutura de argumentos do verbo CASARPustejovsky (1995) pontua que a estrutura de argumentos de uma

palavra diz respeito à especificação mínima de sua semântica lexical. Trata-se de um componente necessário, entretanto não único para cap-turar a caracterização semântica de um item lexical.

Vejamos os tipos de argumentos ilustrados pelo autor (op. cit., p. 63–64):

1. Argumentos autênticos10: parâmetros do item lexical que de-vem ser saturados; e.g.:João chegou tarde.

2. Argumentos default: parâmetros que participam nas expres-sões lógicas de qualia, mas não necessariamente precisam ser sa-turados; e.g.:João construiu uma casa de madeira.

3. Argumento sombreado: parâmetros que são semanticamente incorporados ao item lexical. Geralmente são saturados apenas quando há necessidade de operações de subtipificação ou de es-pecificação discursiva; e.g.:João beijou Maria com um beijo ardente.

4. Adjuntos autênticos: parâmetros que modificam a expressão lógica, mas que são parte da interpretação situacional, e não são vinculados a qualquer representação semântica de item lexical específico. Isso inclui adjuntos que expressam modificação tem-poral ou espacial, pois podem se adjungir a qualquer classe verbal (semanticamente cheia); e.g.:Mary dirigiu até Nova Iorque na terça-feira.

58

Tendo como parâmetro os tipos de argumentos acima listados, pas-semos, então, a aplicá-los aos contextos sentenciais nos quais se apre-senta o verbo casar. Com relação a sua estrutura de argumentos, o pro-pósito é sustentar que o exemplo (21) esboça umas das arquiteturas que mais se aproximam, do ponto de vista da realização sintática, à estrutura semântica. Vejamos, então, o raciocínio passo a passo.

(21) Mariana casou-se11 com o engenheiro.

O enunciado acima se apresenta, em princípio, sintaticamente com três posições argumentais, Mariana, se e com o engenheiro, entenden-do-se que o saturador segundo argumento, se, tem o mesmo índice de referência do sujeito, ou seja, Mariana e se fazem referência à mesma pessoa, como segue:

(21a) [Mariana]1 casou-[se]1[com o engenheiro]2.

A ausência do se pode ser interpretada como objeto nulo/insaturado, continuando a posição argumental a ter o mesmo índice, mas desprovi-da de realização fonológica.

(21b) [Mariana]1 casou-[Ø]1 [com o engenheiro]2.

Isso posto conduz a uma interpretação que pressupõe para casar a projeção de dois argumentos autênticos com o mesmo índice referen-cial. Entretanto, outras configurações sintáticas são possíveis. Vejamos:

(22) Mariana casou.

Considerando a interpretação de objeto insaturado, temos em (22) uma insaturação de outra ordem quando comparado a (21b). O terceiro argumento, com o engenheiro, não se realizou e, em contexto mínimo, podemos não precisar dele, pois Mariana pode ter casado com o en-genheiro, com o farmacêutico, com o jovem médico, enfim pode ser qualquer um, desde que seja uma entidade do tipo humano com algum valor temático que veremos mais adiante. É essa possibilidade, de poder o nubente de Mariana ser de qualquer tipo, desde que seja humano, que valida a sua interpretação como outro objeto insaturado. Assim, casar nos possibilita reconhecer em sua estrutura de argumentos, dois objetos insaturados, e uma proposta possível para esses objetos é tratá-los, se-guindo a tipologia argumental de Pustejovsky (1995), como argumentos defauts. Com base nesse tratamento, estamos diante da seguinte confi-

59

guração para casar: um argumento autêntico e dois defauts. Com isso, pode-se obter a alternância sintática, considerando os exemplos (21) e (22), como segue em (23):

(23) Mariana e o engenheiro (se) casaram12.

Os exemplos (21), (22) e (23) apresentam possibilidades de reorga-nização sintática nas quais se assenta o que podemos, em linhas gerais, chamar de alternância de focalização de eventos e valores temáticos par-tir dos quais se interpreta os participantes envolvidos nos subeventos, que envolvem a mudança de estado dos envolvidos13. Daí podermos di-zer que casar é um verbo de mudança de estado.

O significado de mudança de estado, que poderia ser interpretado como significado de base caso não quiséssemos argumentar a favor de o verbo casar ser logicamente polissêmico, tem como contrapartida o significado de criação, que discutiremos em trabalho em fase de con-clusão. O significado de criação apresenta/focaliza o evento de pro-cesso que culmina com a mudança de estado, afetando os saturadores14 de argumentos que têm ao mesmo tempo algum valor agente e algum valor paciente e, por essa “ambiguidade” temática, esses saturadores po-derem assumir distintas funções sintáticas. A comum associação entre agentividade e desencadeamento de processo parece validar uma classe de verbos que apresenta comportamento parcialmente similar a casar, a exemplo dos encontrados nos excertos que seguem:

“O lobisomem lutava corpo a corpo com a gente viva.” (Rego, 1960, p.37 apud Back no prelo)15 “Trocava pássaros com outros amadores” (Assis, 1997, p.25 apud Back no prelo) “convive com tantas outras” (Queiroz, 1988, p.106 apud Back no prelo) “cruzaram com o Dr. Celso” (Queiroz, 1988, p.57 apud Back no prelo) “correspondia-se com Capitu” (Assis, 1997, p. 211 apud Back no prelo) “dividir contigo os direitos de autor” (Assis, 1997, p.14 apud Back no prelo) “vou jogar com eles” (Assis, 1997, p.149 apud Back no prelo) “acotovelava-se com outras semelhantes à beira de uma estrada” (Queiroz, 1988, p. 27 apud Back no prelo) “a reflexão casa-se muito bem à curiosidade natural” (Assis, 1997, p. 144 apud Back no prelo)

60

“ia competir com aquele monge da Bahia pouco antes revelado” (Assis, 1997, p.90 apud Back no prelo) “seu automóvel chocou-se com outro” (Queiroz, 1988, p. 13 apud Back no prelo)

Tomemos apenas o primeiro enunciado, da relação acima, com a fi-nalidade de mostrar suas possibilidades quanto à realização sintática:

(24) O lobisomem lutava com a gente viva.(25) O lobisomem e a gente viva lutava.(26) O lobisomem lutava.(27) A gente viva lutava.

Vale salientar que, segundo Dowty (1991), exemplos do tipo (24) e (25) parecem ser sinônimos por representarem o mesmo estado de coi-sas do mundo em que “os lutadores” são os mesmos participantes nos dois casos. (24) e (25) diferem, no entanto, em relação a (26) e (27), porque não se tem expresso com quem ou o quê o lobisomem ou a gente viva lutava. Entretanto, analisar tais exemplos sem alguma noção de te-maticidade é fazer uma investida pouco explicativa. Diferenças semân-ticas começam a apresentar-se quando percebemos que os exemplos (24) e (26) implicam que apenas o lobisomem, de algum modo, é apre-sentado como agente (principal) do ato de lutar, mas em (25) a agentivi-dade é atribuída a ambos, lobisomem e a gente viva, uma vez que ambos estão coordenados na função sintática de sujeito do evento denotado pelo verbo lutar, gerando assim dois sentidos para a sentença: 1) o lobi-somem e a gente viva lutam entre si; e 2) o lobisomem e a gente lutavam contra alguma outra entidade.

Uma abordagem mais explicativa precisa unir à estrutura de argu-mentos a noção de papéis temáticos a fim de resolver questões como a que acima se apresenta. Pois, como mostram Badia & Saurí (2006) e Aragão Neto (2007), essas duas abordagens apenas supostamente são teorias excludentes entre si e também apenas supostamente de um lado se apreende o léxico, basicamente, a partir da estrutura de argumentos e de outro lado com base unicamente nos papéis temáticos.

A representação para os argumentos de um item lexical, ARG1, ..., ARGn, apresenta-se em uma estrutura de traços, em que o tipo de argu-mento é diretamente codificado na estrutura de argumento, ARGSTR, como mostra o esquema abaixo.

61

Aplicando o esquema acima ao item lexical casar e considerando a

interpretação dos exemplos (21), (22) e (23), inicialmente representa-mos a estrutura de argumentos conforme segue:

O item lexical casar pressupõe, em sua estrutura de argumentos, três entidades do tipo indivíduo dentro de um mesmo conjunto18. No caso da estrutura de argumentos representada no esquema (2), as entidades envolvidas estão inseridas dentro do conjunto dos humanos. Entretan-to, o verbo casar pode supostamente apresentar outra configuração de argumentos que seja considerada problemática para o LG, pois se pode entender que por se tratar de outra configuração, trata-se igualmente de outra estrutura argumental e, por conseguinte, de outro item lexical. Diante disso, tem-se que buscar uma representação cuja geometria dê conta dessa complexidade em que se tem para casar o significado UNIR ALGUÉM. Consideremos o exemplo a seguir:

(28) O padre casou Mariana com o engenheiro.

De imediato percebemos que (28) se apresenta com três argumentos a exemplo de (21), contudo o segundo argumento não possui o mesmo índice referencial do primeiro, o que requer a sua realização fonológica em nível sintático, como em (28a):

(28a) [O padre]1 casou [Mariana]2 [com o engenheiro]3.

62

Mesmo diante da distinção entre (21) e (28) com relação ao índice referencial, a estrutura de argumentos se mantém: um argumento au-têntico e dois defaults, como se constata a partir da gramaticalidade de (29) em que se observa uma sentença com um argumento autêntico, um argumento default saturado, Mariana, e outro default não saturado, a pessoa com a qual Mariana foi casada.

(29) O padre casou Mariana.

Isso mostra que casar com o significado de UNIR a si próprio ou UNIR alguém são simétricos quanto à estrutura de argumentos, man-tendo-se, para todos os exemplos aqui apresentados, o esquema (2).19

Quando sintagmas como o padre, o pastor, o juiz, o rabino etc. ocu-pam a posição de sujeito, podemos ver que os seguintes comportamen-tos sintáticos são avalizados pela estrutura semântica de casar:

(30) [O padre]1 casou [Mariana]2 [com o engenheiro]3.(31) [O padre]1 casou [Mariana]2 e [o engenheiro]3.(32) [O padre]1 casou-[os]2&3.

Tomando como base a indexação em (30), (31) e (32), podemos in-terpretar que as três sentenças expressam o mesmo valor referencial, ou seja, o mesmo estado de coisas. Mas o que queremos destacar aqui é que se nota que o casar do padre é de um tipo de casar distinto do que vimos no casar de Mariana, em (21) acima, pois: 1) em (30)–(32), a agenti-vidade está presente no padre como aquele que realiza a cerimônia e oficializa a união, mas isso não exclui certa agentividade, pela aceita-ção, daqueles que estão a serem casados, apenas têm-se agentividades diferenciadas devido ao papel que desempenham; e 2) em (21), o agen-te causador (realizador e oficializador) da união, não está presente na realidade sintática, de modo que certa agentividade é atribuída apenas aos casantes, ou mais fortemente apenas a um deles, Mariana. Assunção similar, no que diz respeito a diversos níveis de agentividade, encon-tramos na teoria de papeis prototemáticos de Dowty (1991), à qual, no tópico a seguir, propomos alguns acréscimos e relacionamos ao LG, e utilizamos para melhor analisar casar.

4. Casando papéis prototemáticos com a estrutura de argumentos do verbo CASAR

A teoria de Dowty (1991) propõe apenas dois papéis prototemáti-cos: agente e paciente, recebendo cada um desses papéis certa seleção de propriedades/traços. O papel prototemático de agente apresenta um

63

total de cinco propriedades. Quanto mais traços agentivos um deter-minado sintagma possuir, mais ele será agente, e quanto menos traços, menos agente será; assim, “o padre”, em (30) acima, é mais agentivo que “Mariana”, em (21a), (21b) e (22) também acima.

Com base no exposto, os exemplos (21) e (30) poderiam ser con-siderados dois verbos diferentes. Entretanto, o casar da Mariana está semantica e estruturalmente relacionado ao casar do padre. O processo de casar e o estado de casado resultante são garantidos nos dois casos, e, justamente por isso, ambas as sentenças são sintaticamente bem forma-das. Podemos dizer que a semântica do verbo casar em (30) evidencia três participantes que tomam parte dos eventos contidos na estrutura de eventos do verbo, sendo que apenas um, o padre, controla a experiência, gerando a cerimônia da qual ele, como causador, participa mais agenti-vamente do que os demais participantes20.

Segundo Cruse (2000), não há concordância quanto a melhor ma-neira de descrever o papel semântico dos participantes de um evento/situação. O autor afirma também que as propostas de Fillmore (1968), em se tratando de papéis temáticos, “[...] had an elegant simplicity, but history shows elegant simplicity to be a fragile thing in linguistics [...]”21 (Cruse, 2000, p. 282). Cruse (op. cit.) afirma ainda que uma alternativa moderna para lidar com a agentividade é assumir que o papel AGEN-TIVO requer um agente prototipicamente animado, que não só forne-ce energia para a realização de uma ação mas também atua consoante sua vontade. Contudo, nem sempre é assim que funciona. Entre outros exemplos tratados pelo autor, em o vento fechou a janela percebe-se um agente como causativo, mas que não é animado.

Considerando, então, a realização sintática de casar em (30), a agen-tividade pode ser percebida nos três participantes, o que coloca a ques-tão de como atribuir a esses argumentos os papéis adequados. Cruse (op. cit., cf. p. 284) observa que existem, obviamente, vários casos fronteiri-ços e intermediários que podem seguir subdividindo-se. A discussão dá evidências de que estamos diante de um caso fronteiriço em se tratan-do do item lexical casar em que temos graus diferentes de agentividade envolvendo os participantes, muito próximo do que segundo Dowty (1991) chamou de pacientes e/ou agentes menos, ou mais, prototípicos.

Vale lembrar também que há casos em que algum agentivo apresenta ainda alguma passividade: se o padre casou Mariana e/com o engenheiro, é certo que Mariana e o engenheiro sofreram a ação de casamento rea-lizada pelo padre e, por consequência, tiveram seus estados civis altera-dos de solteiros para casados. Assim, em (30) não basta reconhecermos que “Mariana” e “o engenheiro” são agentivos menos prototípicos do que “O padre”, é preciso também se reconhecer que os nubentes são em

64

algum grau também pacientes.Apesar de James Pustejovsky (1995) rejeitar a noção de papéis (pro-

to/micro)temáticos para a sua versão do LG, outros trabalhos, a exem-plo de Badia e Saurí (2006) e Aragão Neto (2007), assumem que tal modelo de léxico pode se tornar mais explicativo se se vale de papéis (proto/micro)temáticos. Tal assunção também é feita aqui por nós, po-rém com o diferencial de, como já nos propusemos desde o início deste trabalho, utilizarmos como norte a teoria de papéis prototemáticos de Dowty (2001). Essa teoria mostra-se relevantemente produtiva por ser flexível devido ao uso de traços que envolvem uma certa noção de es-calaridade, aqui potencializada por nós, e que podem compor-se umas com as outras, descartando a noção binária, e menos explicativa, dos papéis temáticos tradicionais, que geralmente são assumidos como ex-cludentes entre si.

Para tornar nossa análise em termos de papéis prototemáticos mais explícita, fortemente baseados em Dowty (2001), apresentamos logo abaixo uma proposta de sete propriedades para os papéis prototemá-ticos de agente e de paciente. Salientamos, assim como faz o autor, que essas sete propriedades não se pretendem exaustivas. Elas são as neces-sárias para a análise aqui empreendida.

ProtoagentesA1 = Existe independentemente do evento designado pelo verbo;

João precisa de sapatos novos.A2 = Move-se (relativamente à posição de outro participante) ou é utilizado para;

A bola entrou na cesta.A3 = Tem consciência ou percepção;

João sabe/viu a questão.A4 = Tem aceitação, resignação ou envolvimento de/em um evento ou estado;

João aceitou o beijo.A5 = Tem intenção;

João nadou.

65

A6 = Causa um evento, ou mudança de estado ou criação de outro participante;

O vento apagou o fogo.A7 = Causa intencionalmente um evento, ou mudança de estado ou criação de outro participante.

João cortou o queijo.

ProtopacientesP1 = Não move-se (relativamente à posição de outro participante);

A bola entrou na cesta.P2 = É objeto de consciência, percepção ou manipulação;

João sabe/viu/folheou o livro.P3 = É resultado de aceitação/resignação de um evento ou estado;

João aceitou o beijo.P4 = Não tem intenção;

João desmaiou.P5 = É afetado por um evento ou mudança de estado provocado por outro participante;

O vento apagou o fogo.P6 = É afetado por um evento ou mudança de estado provocado intencionalmente por outro participante.

João cortou o queijo.P7 = Não existe independentemente do evento designado pelo verbo;

João construiu uma casa.

De acordo com a proposta acima, quanto maior o número atrelado ao protopapel mais prototípico é ele e o sintagma por ele designado. Assim sendo, o agente (A7) que intencionalmente causa um evento ou mundança de estado ou criação de outro participante é o mais prototípi-co de todos. Já (A6), que sem intenção, seja porque motivo for, causa um evento ou mudança de estado ou criação de outro participante, é menos prototípico do que (A7) e mais prototípico do que (A5), pois este é o que

66

mesmo tendo agido com intenção não causa um evento ou mudança de estado em outro participante. O mesmo raciocínio vale para os proto-pacientes, de forma que o mais prototípico é (P7), que se quer chega a existir independentemente do evento designado pelo verbo.

Para então implementar nossa proposta de papéis prototemáticos na arquitetura do LG, formalizaremo-la em termos de índices superes-critos aos respectivos argumentos, como em (33) abaixo. Esses índices, vale salientar, como vemos na estrutura de argumentos de casar, podem ser cumulativos indicando que as propriedades listadas junto aos papéis prototemáticos, além de escalares, não são excludentes entre si, pelo contrário, podem ser cumulativas por serem passíveis de se comporem umas com as outras. Retomemos agora o Esquema 2 enriquecido com o que acabamos de propor.

(33) [O padre]A7 casou [Mariana]A4,P6 ([com o egenheiro]A4,P6).

Ao analisar exemplos como “Kim and Sandy married” e “Kim mar-ried Sandy”, Dowty (1991) afirma que “Marrying, playing chess, debating and other such activities (e.g. fighting) are actions that by their nature require the volitional involvement of two parties: one can’t understand the essential nature of these actions without knowing that.”22 (p. 584, itálicos ou autor). É interessante, entretanto, lembrar que volição geral-mente nos remete à ideia de vontade própria, mas sabemos, por exem-plo, que muitas pessoas se casam mesmo não querendo. Considerando esse fato, assumimos que para o verbo casar volição não é uma proprie-dade essencial. A propriedade essencial é haver aceitação/resignação/envolvimento, pois certamente há pessoas que aceitam se casar, ou me-lhor, serem casadas simplesmente porque não têm outra opção; dou-tra forma, sem aceitação de pelo menos uma das partes, não existe o evento de casar. Inclusive lembremos que histórica e culturalmente há a pergunta por parte do padre: “X você aceita Y como seu/sua esposo/esposa?” mas não pergunta “X você tem vontade de casar-se com Y?” ou “X você tem vontade de que Y seja seu/sua esposo/esposa?”. Como resultado, para os nubentes argumentos de casar atribuímos o valor pro-

67

totemático A4 e P6. Para aos nubentes atribuirmos a propriedade de vo-lição, e valor A5, precisaríamos ter um conhecimento extralinguístico a respeito de casamentos específicos, ou seja, precisaríamos saber se, além de aceitarem o casamento, os nubentes queriam de fato se casar. Esse mesmo valor A4 mostra-se também pertinente para os demais verbos acima elencados por Dowty – jogar xadez, debater, brigar etc. –, afinal, às vezes: 1) não queremos jogar xadrez ou outra coisa qualquer, mas nos resignamos a preencher o tempo; 2) muitos políticos não querem debater, mas aceitam fazê-lo porque a imprensa os cerca; e 3) acabamos brigando sem querer.

Voltando a analisar a estrutura de argumentos que apresentamos para o verbo casar, aventamos agora a hipótese de que, quando um ver-bo possui mais de um argumento com o mesmo papel prototemático, aquele que for mais prototípico assume a posição de sujeito. Essa hi-pótese baseia-se: 1) na possibilidade de cumulação de papel temático, de Perini (2006); e 2) na hierarquização de papéis temáticos, de Levin & Hovav (2005). Evidência a favor dessa hipótese é que, para casar e outros verbos sintaticamente equivalentes, não podemos combinar agentes com prototipicidades distintas sem gerarmos agramaticalidade, como mostram (34)–(35) abaixo.

(34) *[O padre]A7 e [Mariana]A4,P6 casaram o[ engenheiro]A4,P6.(35) *[O Padre]A7 e [o engenheiro]A4,P6 casaram [Mariana]A4,P6.

(34) e (35) interpretadas na voz ativa são agramaticais pois não apre-sentam coordenação de sujeitos, mas sim, como mostram as agentivi-dades distintas, uma tentativa de se coordenar o sujeito com um dos objetos: o padre, A7; Mariana e o engenheiro, A4. Comparemos as duas sentenças com as três abaixo.

(36) [[O padre]A7 e [o pastor]A7] casaram [o engenheiro]A4,P6.(37) [[O padre]A7 e [Mariana]A7] casaram [o engenheiro]A4,P6.(38) [[O Padre]A7 e [o engenheiro]A7] casaram [Mariana]A4,P6.

Supondo que em (37) Mariana não seja um dos cônjuges e em (38) o engenheiro também não seja um dos cônjuges, (36), (37) e (38) são gramaticais porque tem-se realmente coordenação de sujeitos, já que ambos têm o mesmo papel prototemático: A7. Assim sendo, a necessi-dade de coordenação se estende então a papeis prototemático; mas vale salientar que isso não implica que todos os sintagmas que têm os mes-mos papeis prototemáticos podem-se coordenar aleatoriamente, pois poderíam levar a falsas paráfrases, como nos mostra a série em (39).

68

(39) [[O padre]A4,P6 e [Mariana]A4,P6] casaram(-se) com [o enge-nheiro]A4,P6.23, 24

<==>25(39a) [O engenheiro]A4,P6 casou(-se) com [[o padre]A4,P6 e [Mariana]]A4,P6.<=/=> (39b) [O padre]A4,P6 casou-se com [[o engenheiro]A4,P6 e [Mariana]A4,P6].<=/=> (39c) [Mariana]A4,P6 casou-se [[com o engenheiro]A4,P6] e [o padre]A4,P6].

Ao longo da construção da estrutura de argumentos de casar, le-vantamos distintas interpretações e comparações a fim de evidenciar a ambiguidade estrutural do verbo em questão e de representar as geome-trias relevantes envolvidas. Como resultado, observamos haver regras prototemáticas e, mais do que simetria quanto à estrutura de argumen-tos para (21)26 e (30)27, alternâncias semântico-sintáticas da mesma es-trutura de argumentos.

5. Considerações finaisA análise do item lexical casar aqui feita, com base na teoria do Léxi-

co Gerativo e dos papeis prototemáticos, toma como cerne as conside-rações teóricas de Pustejovsky (1995) e Dowty (1991), respectivamente, e mostra que o verbo em questão tem recebido um tratamento bastante simples para suas propriedades semânticas e comportamentos sintáti-cos. Isso decorre do fato de casar manter-se categorialmente como um único verbo, mesmo desdobrando-se em duas possibilidades de mani-festação sintática, o que ocasiona sua extensão de sentido e é resultado da combinatória entre funções semânticas e funções sintáticas.

Como dos quatro níveis que compõem a estrutura semântica, pau-tamos nossa investigação focalizando apenas uma delas, a estrutura de argumentos, este trabalho nos leva a continuar o estudo com vistas a in-vestigar se, nas duas vozes, casar apresenta-se como contendo um even-to complexo estruturado com dois subeventos, de modo que o primeiro envolva um processo de transição e o segundo o estado resultante. Isso posto, entendemos que será por meio da análise de, pelo menos, mais duas estruturas semânticas – eventos e qualia - que poderemos obser-var se existem motivações que atestam não só a ambiguidade mas uma polissemia lógica para casar e outros verbos que possam ser analisa-dos como uma mesma classe lexical, ainda não prevista por Pustejovsky (1995).

Análises semânticas como estas têm implicações. Uma delas é de na-tureza teórico-metodológica, pois podem ajudar a resolver problemas

69

quanto a possibilidades de variação linguística em se tratando de deli-mitar o significado que se busca a fim de postular os limites da variação. Além disso, a verticalização deste estudo pode contribuir epistemolo-gicamente para delimitar as variáveis semânticas com vistas a explanar com propriedade o significado do significado. Por fim, outra implica-ção, certamente, é de natureza pedagógica, pois descrever a língua im-plica em conhecê-la, torná-la significativa a fim de contribuir para que os professores façam mediações quando do tratamento didático.

Notas1 Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina e, atualmente, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense e coordenadora do Grupo de Pesquisas LITTERA - Correlações entre cultura, processamento e ensino: a linguagem em foco.2 Doutor em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, atual-mente, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB, campus João Pessoa) e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Amazonas (UFAM, campus Manaus), membro do Grupo de Pesquisa Semântica, léxico e cognição da UFPB. Temas de investigação: estrutura lexical, interface léxico e gramática, interface semânti-ca e sintaxe, argumentação e música brega.3 Os outros três níveis dizem respeito às estruturas de eventos, de qualia e de herança lexical que, neste trabalho, não serão abordados. 4 Atriz norte-americana, reconhecida internacionalmente por ter atuado em diversos filmes, a exemplo de Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof ).5 Em trabalho futuro discutiremos a estrutura de eventos.6 “[...] muitas hierarquias temáticas devem significar apenas uma formulação para se capturar generalizações empíricas específicas e não devem ser consideradas um cons-tructo universal”.7 A noção de gramaticalidade que adotamos aqui não envolve apenas boa formação sintática, mas também semântica, morfológica e fonológica.8 O contexto a que nos referimos diz respeito aos conhecimentos lexicais, excluindo quaisquer situações que remetam ao extralingüístico, i. e, ao contexto pragmático.9 Para maiores esclarecimentos, ver Pustejovsky (1995).10 A opção neste trabalho foi por traduzir a expressão true como autêntico em função de verdadeiro acarretar na possibilidade de um argumento default não ser verdadeiro. Pa-rece-nos que um argumento, mesmo quando não se realiza sintaticamente, aproxima-se da autenticidade esperada para proceder com a análise, uma vez que o interpretamos. No caso do português, por exemplo, o argumento com função de sujeito mesmo estando apagado (elíptico) é previsto e interpretado como tal. Do contrário, há argumentos que podem ser interpretados como default ou ainda como sombreado, pois, quando apare-cem, não necessariamente sua ausência seria interpretada. Em suma, todos são argu-mentos verdadeiros, mas autêntico cabe àquele que sempre que é previsto, realizado ou não sintaticamente, a fim de garantir a gramaticalidade. Vale registrar que para alguns o termo ‘autêntico’ acarreta o mesmo problema de ‘verdadeiro’. O que se levanta é, na realidade, uma dúvida de até que ponto os argumentos ‘default’ e ‘sombreado’ podem ser tratados de fato como argumentos, pois eles têm uma certa ‘cara’ de adjuntos.11 Em princípio, tanto o exemplo (20) quanto o (21) pode ser expresso com o se

70

evidenciando o que, tradicionalmente, conhecemos como voz reflexiva. Segundo a tradição gramatical, os verbos reflexivos agrupam-se em pronominais essenciais (Ma-riana se arrependeu do que fez.); e pronominais acidentais (Mariana se escondeu do João.) cujos verbos não necessariamente fariam uso do pronome se (Mariana escon-deu João.). Ao tentarmos enquadrar o verbo casar dentro de um dos grupos, perce-bemos que ele parece estar na interface. Como essencial, o se junto ao verbo casar se apresenta sem conteúdo semântico. Já como acidental, o verbo casar pode fazer uso ou não do se, isso é, sem dúvida, o que caracteriza esse grupo; entretanto, diferente-mente do que ocorre com os verbos que se enquadram nesse grupo, casar não muda o estado de coisas por ora se apresentar com ou sem o se. Enquanto percebemos di-ferença sistemática quanto ao estado de coisas em Mariana se escondeu de João / Ma-riana escondeu João, não o atestamos em Mariana se casou com João / Mariana casou com João. Provavelmente, o que temos aí conduz a uma reflexão acerca da voz média cujo resquício se conserva no português. Segundo Sproviero (1997), a voz média in-dicaria a fase da consciência não destacada do mundo, isto é, o homem e o mundo não se separavam, integravam o mesmo todo e a linguagem exprimia essa relação integral. Então, ao enunciarmos Mariana casou com o engenheiro, não precisamos detalhar a reflexividade de que ela mesma casou, essa relação está posta integralmente: ela como sujeito protagoniza seu próprio casamento. Lauand (1997) observa que certos verbos reflexivos tentam indicar dualidade simultânea sujeito/objeto na ação. Ainda, segun-do ela, no castelhano, com seus muitos usos reflexivos, isto é muito nítido: ‘se murió’, por exemplo, morrer não é uma ação exercida pelo sujeito, mas, sempre o sujeito protagoni-za sua própria morte. Em função do exposto, optamos por entender que casar quando acompanhado do se não afeta o estado de coisas, de modo que não o interpretaremos como argumento nas estruturas em questão. 12 A leitura do exemplo (22) diz respeito a “Mariana” se casar com o “engenheiro”. Mas uma outra interpretação é possível: a de que eles podem ter casado com outras pessoas (argumento default).13 Quando discutirmos a estrutura de eventos e de qualia, poderemos fechar a questão do significado de base.14 Na sentença “O engenheiro casou com Mariana.”, o engenheiro e Mariana são satura-dores, ou seja, sintagmas que estão saturando dois argumentos de casar. Um saturador é um sintagma que satisfaz às exigências gramaticais de um dado argumento e por isso se manifesta como a realização sintático-fonológica desse argumento. Para discussão aprofundada ver Aragão Neto (2007).15 Estas ocorrências (de Assis, Rego, Queiroz) foram extraídas de acervos literários com vistas a mostrar a regularidade que já se apresenta na língua portuguesa desde o início do século XX, o que não contraria o nosso recorte sincrônico do verbo casar.16 D-ARGi corresponde à representação do argumento defaut.17 S-ARGi corresponde à representação do argumento shadow.18 Inserimos essa consideração por entender que o verbo casar envolve em sua estrutura de argumentos objetos individuados pertencentes, de algum modo, a uma determinada classe. No caso acima, trata-se da classe dos humanos (Mariana, engenheiro). A inclusão do conceito de classe valida construções como do tipo A reflexão casa-se muito bem à curiosidade natural conforme relacionado anteriormente. Assim, podemos juntar em uma mesma classe reflexão e curiosidade na classe das virtudes, cuja relação se estabele-ce a partir da composicionalidade entre tópico (a reflexão) e o predicado. Em princípio, parece não se tratar de um uso metafórico, uma vez que o significado de casar se man-tém como UNIR; entretanto, há uma mudança no quale agentivo: x casa com y em que

71

‘x’ e ‘y’ não pertencem a classe dos humanos, logo não porta agentividade. Para maiores detalhes, ver a seção 2.3 deste ensaio. 19 A exemplo de Back (no prelo), outra alternativa de análise seria organizar em classes os verbos com o mesmo comportamento sintático numa proposta puramente sintática. O autor analisa uma classe de verbos regidos pelos prepositivos com (não comutável por sem), de, a e por, que permitem a sua transformação em locução composta no com-plemento que configura o argumento na posição sintática de objeto. Alguns exemplos analisados por este autor (negritos nossos) são:“compara tu a situação de Príamo com a minha” (Assis, 1997, p.190) “confundi os modos de criança com expressões de caráter” (Assis, 1997, p.156.) “não confundam purgatório com inferno” (Assis, 1997, p.177) “unindo a sua despedida à dos moços, num curioso arremedo de sucesso” (Queiroz, 1988, p.93) “não unia a frase nova à antiga” (Assis, 1997, p.97) “uma cortina de chita separa essa peça do quarto do casal” (Queiroz, 1988, p.29) “alternando os jantares da Glória com os almoços de Mata-cavalos” (Assis, 1997, p.161) “substituiu a zanga por um ronrom doce e meigo” (Queiroz, 1988, p.111)Diferente de Back (no prelo), o propósito desse trabalho não é prioritariamente sintá-tico, pois comungamos com Pustejovsky (1995) que devemos conhecer a estrutura que transporta os significados, e se o foco da organização da língua elege como módulo principal o aparato semântico, então a sintaxe se apresenta gramaticalmente estruturada por ser avalizada pelo módulo semântico que, por assim dizer, dita as regras.20 A leitura de (30) também é possível em inglês, visto que Dowty (1991, p. 584), em nota de rodapé, explica que a leitura relevante em Kim married Sandy é aquela na qual Kim é o parceiro que se casa e não o oficial que realiza a cerimônia.21 “[...] tiveram uma simplicidade elegante, mas a história mostra que simplicidade elegante é algo frágil em linguística [...]”.22 “Casar(-se), jogar xadrez, debater e outros atividades tais como essas (e.g. lutar) são ações que pela sua natureza requerem o envolvimento volicional de duas partes: nin-guém pode entender a natureza essencial dessas ações sem saber isso.”.23 Estamos considerando aqui apenas a leitura em que o padre e Mariana tornaram-se cônjuges do engenheiro. Não a leitura em que tenha havido dois ou três casamentos simultaneamente.24 Observemos que (36) e (36a) acarretam também (I)–(IV), mas não são por essas sentenças acarretadas. ==> (I) O engenheiro casou-se com o padre. ==> (II) O engenheiro casou com Mariana. ==> (III) O padre casou-se com o engenheiro. ==> (IV) Mariana casou-se com com o engenheiro.25 Utilizamos “<==>” para “acarreta e é acarretado por” e “<=/=>” para “nem acarreta nem é acarretado por”.26 Lembrando o exemplo: “Mariana casou-se com o engenheiro”.27 Lembrando o exemplo: “O padre casou Mariana com o engenheiro.”

72

Referências BibliográficasARAGÃO NETO, M. M. (2007). Enriquecimento semântico da HPSG e

definição de argumento como uma estrutura de traços. Florianópolis, SC. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, 159p.

BACK, E. Vocábulo. No prelo.BACK, E.; MATTOS, G. (1972). Gramática construtural da língua por-

tuguesa. São Paulo: FTD.BADIA, T.; SAURÍ, R. (2006). Developing a generative lexicon within

HPSG. (Draft version).CASAR. In: HOUAISS, Antônio. VILLAR, Mauro de Salles. (2001). Di-

cionário Houaiss da língua portuguesa. 1a. ed. Rio de Janeiro: Objetiva.CAMBRUSSI, M. F. (2007). Médias e ergativas: uma construção, dois

sentidos. Florianópolis, SC. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, 122p.

CAMACHO, R. G. (2003). “Em Defesa da Categoria de Voz Média no Português”. In: Delta, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 91-122.

CARNAP, R. (1956). “The Methodological Character of Theoretical Concepts”. In: Minenesota Studies in the Philosophy of Scientce, vol. I, ed. De H. Feigl e M. Scriven, Minneapolis: University of Minnesota Press.

COLLINS, A. M.; e QUIILLIAN, M. R. (1969). “Retrieval time from se-mantic memory”. In: Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, 240-247p.

COAN, M. (1997). Anterioridade a um ponto de referência passado: pre-térito (mais-que-) perfeito. 1997. Dissertação (Mestrado em Lingüís-tica) – Curso de Pós-graduação em Lingüística, Universidade Fede-ral de Santa Catarina, Florianópolis.

CRUSE, A. (2000). Meaning in language: an introduction to semantics and pragmatics. Oxford: Oxford.

DOWTY, D. (1991). “Thematic proto-roles and argument selection”. In: Language: Vol. 67, nº 3, p. 547−619. Disponível em: < http://semantics.uchicago.edu/kennedy/classes/s07/events/dowty91.pdf >. Último acesso em: 02.10.2007.

FILLMORE, C. J. (1968). “The case for case”. In: BACH, E., HARMS, R. (Eds.) Universals in Linguistica Theory. New York: Holt, Rinnehart and Wiston.

FODOR, J. A. (1975). The Language of Thought. Cambridge: Harvard University Press, 1975.

FODOR, J. A.; LEPORE, E. (1998). “The emptiness of the lexicon: reflections on James Pustejovsky’s The Generative Lexicon”. In: Linguistic Inquiry. Cambridge: MIT. Vol. 29, nº 2, p. 269�288.

73

FREGE, G. (1978). “Sobre o sentido e a referência”. In: Lógica e Filosofia da Linguagem. Tradução de Paulo Alcoforado. São Paulo: Cultrix. (p.61-86).

GAYRAL, F. (1998). “Créativité du sens en contexte et hypothèse de compositionalitè”. In: Traitement automatique des langues. Paris: ATALA. v.39, no. 1, p. 103-109. Disponível em: http://www.atala.org/tal/volumes/vol39-1.html. Acesso em: 23 de julho de 2004. p. 67-98.

GEERAERTS, D. (2010). Theories of lexical semantics. Oxford: Ox-ford.

GRIMSHAW, J. B. (1990). Argument structure. Cambridge: MIT.JACKENDOFF, R. (2002). Foundations of language: brain, meaning,

grammar, evolution. Oxford: Oxford.LAUAND, L. J. (2997). “Ciência e Weltanschauung – a álgebra como

ciência árabe”. In: Ética e Antropologia – estudos e traduções. São Paulo: Mandruvá.

LEVIN, B; HOVAV, M. R. (2005). Argument realization: research sur-veys in linguistics. Cambridge: Cambridge UniversityPress.

LEVIN, B. (1993). English verb classes and alternations: a preliminary investigation. Chicago: University of Chicago Press.

MARRAFA, P. (2004). “Extending WordNets to Implicit Information”. In: Proceedings of LREC 2004 - International Conference on Language Resources and Evaluation. Lisboa. p. 1135-1138.

MOURA, H. M. de M.; PEREIRA, J. S. do V. (2004). “A interface léxico--enciclopédia no Léxico Gerativo: um estudo do verbo preparar”. In: Revista da Anpoll. São Paulo: Humanitas, n. 16, p. 57-73, jan./jun. 

PERINI, M. A. (2006). Princípios de linguística descritiva: introdução ao pensamento gramatical. São Paulo: Parábola.

PUSTEJOVSKY, J. (1995). The generative Lexicon. Cambridge: MIT.QUILLIAN, M. R. (1968). “Semantic Memory”. IN: MINSKY, M. L. Se-

mantic information processing. Cambridge: MIT.RIEMER, N. (2010). Introducing Semantics. Cambridge: Cambridge

University Press.SPROVIERO, M.B. (1998). Escritos do curso e sua virtude (Tao Te

Ching). São Paulo: Editora Mandruvá.VENDLER, Z. (1967). ”Verbs and Times”. In: Linguistics and Philosophy.

Ithaca, New York: Cornell University Press.

Palavras-chave: casar; léxico gerativo; papéis prototemáticosKeywords: to marry; generative lexicon; thematic proto-roles