Caso Aírton - Jogador é chamado de inútil em edição de jornal impresso

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Caso Aírton Jogador é chamado de inútil em edição de jornal impresso Marcos Barcelos Correia Resumo: Este texto vai enquadrar uma atitude irresponsável de um jornal impresso na avaliação de um jogador de futebol, chamado de “inútil” pela matéria. A presente análise submeterá o caso a partir da perspectiva do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e indicará em quais pontos, tanto a empresa quanto o jornalista, falharam no discurso e em que penas se encaixariam, além de apontar uma solução. Palavras-chave: jornal, inútil, Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. 1. Introdução No dia 20 de agosto de 2014, Figueirense Futebol Clube e Botafogo de Futebol e Regatas jogaram pela 16ª rodada do Campeonato Brasileiro, no estádio Orlando Scarpelli, Florianópolis SC. A partida terminou com vitória da equipe catarinense, por 1 a 0 e foi noticiada em vários jornais do país, como de costume. No dia seguinte, o jornal A Gazeta, do Espírito Santo, a partida foi relatada em seu caderno de esportes, citando como referência a Agência Globo, que envia a crônica completa e a avaliação da equipe carioca, o Botafogo. Nesta parte da noticia, o jornalista responsável dá notas aos jogadores e faz comentários sobre eles. O jogador do Botafogo Futebol e Regatas Aírton, alvo de uma das críticas mais duras e por isso será objeto deste trabalho, recebeu nota 4 pelo jornalista, que ainda complementou: “Inútil. Marcou muito mal e com a bola nos pés foi um horror(2014, p.48). A crônica esportiva citada anteriormente será submetida neste artigo às normas vigentes no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, apontando aonde o jornalista e a empresa burlaram, mostrando os efeitos que um termo erroneamente utilizado pode gerar na sociedade e procurando também soluções para a notícia não infringir a lei para os meios de comunicação. 2. Análise do verbete “inútil” O verbete “inútil”, fundamentado no Minidicionário Aurélio, tem os seguintes significados: “Sem utilidade ou préstimo. Baldado, vão” (2001, p.430). Ao aplicar na

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Artigo escrito para a disciplina de Legislação na Comunicação, ministrada pela professora Nicoli Glória de Tassis Guedes, na turma de 6º Período de Jornalismo da Universidade Vila Velha-ES.

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Caso Aírton – Jogador é chamado de inútil em edição de jornal impresso

Marcos Barcelos Correia

Resumo:

Este texto vai enquadrar uma atitude irresponsável de um jornal impresso na avaliação

de um jogador de futebol, chamado de “inútil” pela matéria. A presente análise

submeterá o caso a partir da perspectiva do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e

indicará em quais pontos, tanto a empresa quanto o jornalista, falharam no discurso e

em que penas se encaixariam, além de apontar uma solução.

Palavras-chave: jornal, inútil, Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

1. Introdução

No dia 20 de agosto de 2014, Figueirense Futebol Clube e Botafogo de Futebol e

Regatas jogaram pela 16ª rodada do Campeonato Brasileiro, no estádio Orlando

Scarpelli, Florianópolis – SC. A partida terminou com vitória da equipe catarinense, por

1 a 0 e foi noticiada em vários jornais do país, como de costume.

No dia seguinte, o jornal A Gazeta, do Espírito Santo, a partida foi relatada em

seu caderno de esportes, citando como referência a Agência Globo, que envia a crônica

completa e a avaliação da equipe carioca, o Botafogo. Nesta parte da noticia, o

jornalista responsável dá notas aos jogadores e faz comentários sobre eles.

O jogador do Botafogo Futebol e Regatas Aírton, alvo de uma das críticas mais

duras e por isso será objeto deste trabalho, recebeu nota 4 pelo jornalista, que ainda

complementou: “Inútil. Marcou muito mal e com a bola nos pés foi um horror” (2014,

p.48).

A crônica esportiva citada anteriormente será submetida neste artigo às normas

vigentes no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, apontando aonde o jornalista e a

empresa burlaram, mostrando os efeitos que um termo erroneamente utilizado pode

gerar na sociedade e procurando também soluções para a notícia não infringir a lei para

os meios de comunicação.

2. Análise do verbete “inútil”

O verbete “inútil”, fundamentado no Minidicionário Aurélio, tem os seguintes

significados: “Sem utilidade ou préstimo. Baldado, vão” (2001, p.430). Ao aplicar na

frase “Inútil. Marcou muito mal e com a bola nos pés foi um horror”, podemos discernir

esses dois pontos de vista apontados pelo dicionário, que são muito semelhantes.

“Inútil”, quando no sentido de vão, pode ser interpretado como algo que

simplesmente não vingou. Um exemplo da aplicação é visto na frase: “Todos os

esforços foram em vão”. Ou seja, foram gastos sem produzir algum efeito contrário para

mudar uma situação. Talvez fosse a intenção do jornalista em transmitir esta ideia, mas

além de falhar em sua motivação, a noção de “inútil” foi totalmente inversa. A palavra

foi adequada no sentido de “insignificante”, um tom mais agressivo do verbete. O

restante da frase aplicada pelo jornalista denuncia esta constatação: “Marcou muito mal

e com a bola nos pés foi um horror”.

3. Caso Aírton e o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros

Submetendo este caso aos pontos apresentados pelo Código de Ética dos Jornalistas

Brasileiros (2007), o jornalista feriu quatro artigos. O primeiro foi o Artigo 6º, Inciso

VIII, sobre o respeito à honra e a imagem do cidadão. Mesmo se o autor da crítica

tivesse a intenção de retratar a atuação do jogador Aírton sem querer gerar danos a ele,

o uso do termo “inútil” pode criar uma intolerância por parte dos leitores dos jornais que

deram a crônica, aumentando índices de violência, sendo ela verbal, física ou de

qualquer outro fator, levando ao segundo critério infringido do Código, o Artigo 7º,

Inciso V: “O jornalista não pode usar o jornalismo para incitar a violência, a

intolerância, o arbítrio e o crime” (2007, p.2)

De acordo com o texto de Carlos Alberto Máximo Pimenta, dirigentes de clubes

afirmam que um dos fatores preponderantes para o aumento da violência no mundo do

futebol é a influência da mídia que, segundo esses diretores, cria fatos inexistentes, ou

até os aumentam, para vender o produto jornalístico (2000, p.125).

O terceiro ponto aonde o jornalista desrespeitou o Código de Ética está disposto

no Artigo 11, Inciso III: “O jornalista não pode divulgar informações de caráter

mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos (...)”. A palavra “inútil” na

análise dos jogadores foi colocada de maneira sensacionalista e com caráter pejorativo e

violento, pois causa reações de forma semelhante. O último ponto violado foi o Artigo

12, Inciso III, no qual se prega tratamento respeitoso com todos os que forem

mencionados nas informações divulgadas.

Os crimes identificados na frase do jornalista foram relacionados à difamação,

que significa tirar a “boa fama” de alguém; e à injúria, entendido como insultos à

dignidade do cidadão.

4. Soluções:

O jornalista responsável pela frase relacionada ao jogador Aírton, do Botafogo

Futebol e Regatas, poderia simplesmente não ter utilizado termos e expressões

ofensivas como “inútil” e “um horror”. Mesmo sabendo que o caso não teve

repercussão, o autor da crítica correu o risco de ser processado pelo próprio atleta, pelo

clube e pela família do volante botafoguense, com a possibilidade de sofrer multa ou

mesmo prisão.

5. Referências

BRASIL. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Disponível em:

<http://goo.gl/Mz2Gsv> Acesso em: 01 out. 2014.

GLOBO, Agência. Fogão volta a se complicar. A Gazeta, Vitória, p. 48, 21 ago. 2014.

INÚTIL, In: ANJOS, Margarida dos; FERREIRA, Marina B.. Minidicionário Aurélio.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 430.

PIMENTA, Carlos A. M.. Violência entre torcidas organizadas de futebol.

Disponível em: < http://goo.gl/VWsyfe > Acesso em: 1 out. 2014.