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Caso Clínico
120 Rev Dental Press Estét. 2011 abr-jun;8(2):120-6
Vivian sOeTHe*Bruno LiPPMANN*elmar MeLCHeRT**
* Graduado em Odontologia pela Universidade da Região de Joinville/SC.
** Técnico em Prótese Dentária (TPD), Joinville/SC.
Soethe V, Lippmann B, Melchert E
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Procedimentos simplificados para recuperação estética do sorriso
Simplified procedures for smile esthetic recovery
Resumo
Este trabalho almeja apresentar abordagens simplificadas
para recuperação estética e funcional do sorriso acometido
por problemas frequentemente observados na clínica diária.
A fluorose dentária pode ocorrer em diferentes níveis, exigin-
do diferentes tipos de tratamento. No caso em questão, a
paciente apresentava dentes naturalmente amarelados com
manchas (estrias) esbranquiçadas opacas distribuídas pela
superfície do esmalte de um grande número de dentes. Ain-
da, os dois incisivos centrais superiores exibiam duas facetas
diretas em resina composta com perda de polimento, altera-
ção de cor e forma, e descoloração marginal. O tratamento
proposto resumiu-se à microabrasão de esmalte, clareamen-
to dentário e execução de novas facetas em cerâmica pura.
Utilizando tratamentos simples e conservadores, foi possível
devolver harmonia ao sorriso.
Abstract
This paper aims to present simplified approaches for es-
thetic and functional recovery of the smile stricken by
frequent problems observed on daily clinics. The dental
fluorosis can occur in different levels demanding differ-
ent types of treatment. On the following case, the patient
presented naturally yellowed teeth with white opaque
stains distributed on a great number of teeth. Moreover,
the two upper central incisors showed composite resin ve-
neers with loss of polishing, alteration of shade and form
plus marginal discoloration. The suggested treatment was
the enamel microabrasion, dental bleaching and a pair of
new veneers made of ceramics. By means of simple and
conservative treatments, it was possible to give back the
harmony to the smile.
Keywords: Dental veneers. Enamel microabrasion. Tooth bleaching.Palavras-chave: Facetas dentárias. Microabrasão do esmalte. Clareamento dentário.
Procedimentos simplificados para recuperação estética do sorriso
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INTRODUÇÃO
O adequado planejamento do caso é um passo
fundamental para o sucesso de um tratamento dentá-
rio. Individualizar as características de cada paciente,
lançar mão de exames apurados, realizar ensaios e
provas são princípios importantes que devem ser con-
siderados de acordo com a complexidade dos casos.
Com a gama de técnicas e produtos hoje disponíveis,
o profissional pode, em muitos casos, melhorar deter-
minada condição estética através de tratamentos mui-
to conservadores.
No caso que será descrito a seguir, a paciente
apresentava dentes naturalmente amarelados, fluorose
generalizada em grau moderado, incisivos superiores
desvitalizados (dentes 12, 11, 21 e 22) e facetas dire-
tas insatisfatórias nos dentes 11 e 21 (Fig. 1). Após o
diagnóstico e adequação do meio bucal, o plano de
tratamento foi definido em três etapas básicas.
MICROABRASÃO: ATENUAÇÃO DAS MANCHAS
FLUORÓTICAS
Os benefícios da utilização do flúor vêm sendo am-
plamente demonstrados ao longo dos anos, porém,
seu uso indevido pode ocasionar uma patologia que
interfere na formação dos dentes13. A fluorose é um
sinal de intoxicação crônica por flúor durante a forma-
ção dentária (risco estimado até 6-8 anos de idade)11,
onde o esmalte sofre alteração de sua maturação,
mostrando-se hipomineralizado10. As alterações pro-
vocadas pelo distúrbio podem manifestar-se em dife-
rentes níveis: de manchas esparsas esbranquiçadas
até defeitos estruturais que afetam a forma do dente5.
Consequentemente, para cada grau de acometimento
do dente existe um tipo indicado de tratamento, sendo
basicamente: microabrasão, clareamento, restaura-
ções em compósitos, facetas ou coroas totais13. A mi-
croabrasão em esmalte e o clareamento dentário são
indicados para tratar dentes acometidos por fluorose
moderada7, e foram conduzidos no caso em questão.
A técnica de microabrasão consiste no desgaste por
ação mecânica e química de pequena espessura (cer-
ca de 0,2mm) do esmalte afetado pelos manchamen-
tos. É aceito como um procedimento seguro, eficiente
e atraumático para remoção de manchas moderadas de
fluorose3 e, além de não enfraquecer o esmalte4, sugere-
se que a superfície abrasionada seja menos suscetível à
colonização por Streptococcus mutans12. A técnica é de
fácil execução, realizada friccionando-se a pasta abra-
siva (Whiteness RM, FGM) na superfície manchada por
até 15 aplicações de aproximadamente 10s cada (Fig. 2),
lavando os resíduos a cada nova aplicação. Pelo caráter
ácido da mistura e pela abrasividade dos grãos, deve ser
conduzida sob isolamento absoluto, para diminuir o risco
de contato com a mucosa bucal e eventual deglutição.
Figura 1 - Aspecto inicial: paciente jovem com dentes amarelados, manchas de fluorose generalizadas e facetas diretas com alteração de cor, forma e textura nos dentes 11 e 21.
A B
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CLAREAMENTO DENTÁRIO
No presente caso, além do clareamento dentário
caseiro, foi conduzido o clareamento intracoronário
como curativo de demora nos dois incisivos laterais
superiores (Fig. 3), pois os dentes desvitalizados não
responderam apenas ao clareamento externo.
O clareamento interno pela técnica do curativo de
demora visa remover manchamentos ocasionados
principalmente por hemorragia pulpar, abertura coro-
nal insuficiente (deixando restos necróticos da polpa),
remanescentes de obturação na câmara ou utilização
de medicamentos intracanal (compostos fenólicos ou à
base de iodofórmio)8. A técnica consiste na aplicação
intracoronal do gel clareador, seguida de selamento pro-
visório da cavidade. Esse “curativo” é trocado semanal-
mente e os resultados são checados sessão a sessão,
até obtenção de um ponto de saturação da cor.
A técnica é de simples execução e baixo custo; no
entanto, deve-se respeitar as indicações, tais como
ausência de restaurações extensas, presença de es-
trutura coronária suficiente, adequado tratamento en-
dodôntico e ausência de lesão endodôntica e doença
periodontal. O paciente também deve estar ciente de
que os resultados podem não ser totalmente previsí-
veis e a manutenção da cor é variável8.
O clareamento em dentes vitais é descrito em di-
versos protocolos, inclusive em associação de técni-
cas (ambulatorial e domiciliar). No caso em questão, o
ponto de saturação dos dentes não vitais pautou o cla-
reamento dos demais dentes, e a paciente utilizou gel
caseiro em moldeiras (Whiteness Perfect 10%, FGM)
até que os tons se equivalessem.
Figura 2 - A) Microabrasão realizada com pasta abrasiva e taça de borracha. Foram feitas 10 aplicações por dente, divididas em 2 sessões. B) Resultado obtido logo após a primeira sessão.
Figura 3 - Após adequado selamento cervical, o clareamento interno foi conduzido em 3 sessões com pasta à base de perborato de sódio (Whiteness Perborato, FGM) nos dentes 12 e 22.
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CONFECÇÃO DE NOVAS FACETAS
As facetas indiretas são indicadas principalmente
em casos onde se deseja modificar a forma dos den-
tes, alterar sua posição, cor, restituir sua textura ou
recompor estrutura quebrada. É importante também
levar em consideração se o dente possui muitas res-
taurações e verificar a qualidade/quantidade do rema-
nescente dentário, analisar a possibilidade de o térmi-
no do preparo ser realizado em esmalte e conferir se
o paciente possui bom controle de higiene e oclusão
adequada2. O caso apresentado possibilitou exten-
são do envelopamento palatino do preparo devido ao
maior trespasse horizontal apresentado pela paciente,
fazendo o preparo assemelhar-se ao de uma coroa to-
tal (Fig. 4). A espessura de desgaste foi delimitada pelo
preparo anteriormente realizado nos dentes, que con-
tinham facetas diretas em resina composta.
Existem diversos sistemas cerâmicos para restau-
ração indireta, que podem ser classificados em dois
grupos, de acordo com sua composição: a) cerâmicas
ricas em sílica e b) cerâmicas com baixo conteúdo de
sílica. O primeiro grupo é sensível ao tratamento quí-
mico pré-cimentação, onde a aplicação de ácido hi-
drofluorídrico reage com a sílica, alterando a topografia
da superfície e gerando microrretenções mecânicas,
e a aplicação de silano atua na promoção de união
química entre a sílica da cerâmica e a matriz orgânica
do cimento resinoso. Já as cerâmicas com baixo teor
de sílica possuem baixo potencial adesivo e não são
sensíveis aos ataques químicos. Nesse caso, para au-
mento da resistência adesiva quando da cimentação
com cimentos resinosos, recomenda-se o processo
de silicatização: jateamento da superfície interna com
partículas de óxido de alumínio revestidas por sílica6.
Esse processo aumenta significativamente a adesão9,
viabilizando a aplicação do silano.
No caso apresentado, optou-se pela peça com
coping cerâmico não condicionável, onde a infra-
estrutura tem função de reforço e mascaramento
de cor2, ambos necessários por causa da redução
dentária no preparo (de acordo com os preparos
anteriormente realizados) e escurecimento dentário.
O processo de silicatização (Sistema Cojet, 3M) foi
então indicado e o silano (Prosil, FGM) aplicado na
peça (Fig. 5). No remanescente dentário, o condicio-
namento ácido por 15s (Condac 37, FGM) e a aplica-
ção de adesivo (Ambar, FGM) (Fig. 6) precederam a
cimentação — realizada com cimento resinoso dual
(Allcem, FGM) (Fig. 7), que tem cura química em tor-
no de sete minutos após a espatulação.
Para a resolução do caso descrito, poderiam ser in-
dicadas variadas soluções, umas mais radicais e outras
mais conservadoras. No entanto, técnicas e materiais
modernos visam uma abordagem menos invasiva em
protocolos eficazes, como no caso da microabrasão
ou do clareamento caseiro com géis pouco concentra-
dos, que, quando bem indicados, trazem um resultado
satisfatório (Fig. 8) ao paciente e profissional.
Figura 4 - A, B) Em preparos dentários, o uso de fio retrator (Pro Retract, FGM) possibilita definição do término cervical subgengival. C) Em vista palatina, “envelopamento” em região de cíngulo possibilitado pelo acentuado trespasse horizontal.
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Figura 5 - A silanização da parte interna da peça (após silicatização) visa aumentar a re-sistência de união na cimentação adesiva.
Figura 6 - No munhão, procedimento adesivo convencional: A) condicionamento com ácido fosfórico e B aplicação de duas camadas de adesivo seguida de fotoativação.
Figura 7 - A) Peça recebendo cimento resinoso dual. B) Adaptação da peça ao dente e remoção dos excessos de cimento. A cura química ocorre em cerca de 7 a 10 minutos.
Figura 8 - Aspecto intrabucal inicial (A) e final (B) do caso.
A B
A B
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Enviado em: dezembro de 2010Revisado e aceito: janeiro de 2011
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