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CASO EMBRAER 01 Prof. Luiz C. Di Serio Ref. Monografia do MPA de Mauro Furtado Estudo prelimiar Dentro do processo de privatização do Brasil a Embraer foi privatizada através de um leilão em 1994. Após a privatização o conselho administrativo precisava agora reestruturar a organização visando à melhoria dos seus resultados econômico-financeiros e da sua produtividade, os quais, na ocasião, vinham apresentando crescente deterioração em virtude da crise por que passava a companhia. Qual deveria ser a nova forma de atuação da empresa e como deveria ser este novo modelo de negócios ? 1. Descrição da Empresa A seguir, alguns dados da companhia até 1994: Estabelecida em 1969 Escopo do Negócio: projeto, desenvolvimento, fabricação, comercialização e manutenção de aeronaves civis e militares Sede: São José dos Campos, SP Empregados: 6.300 Instalações: aproximadamente 254 mil metros quadrados A empresa, originalmente de capital público, foi privatizada em 7 de Dezembro de 1994, através de leilão. Seu atual grupo controlador é composto dos seguintes principais acionistas: Grupo Bozano, Simonsen. Previ - Caixa de Previdência Privada do Banco do Brasil. Sistel - Fundação Telebrás de Seguridade Social. 1.1. Histórico A história da Embraer teve origem, na verdade, na criação do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, nos anos 50. O objetivo da criação daquele instituto foi o de formar mão de obra especializada, engenheiros aeronáuticos, a fim de fomentar a geração de tecnologia aeronáutica no Brasil.

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CASO EMBRAER 01

Prof. Luiz C. Di Serio

Ref. Monografia do MPA de Mauro Furtado

Estudo prelimiar

Dentro do processo de privatização do Brasil a Embraer foi privatizada através de um

leilão em 1994. Após a privatização o conselho administrativo precisava agora reestruturar

a organização visando à melhoria dos seus resultados econômico-financeiros e da sua

produtividade, os quais, na ocasião, vinham apresentando crescente deterioração em virtude

da crise por que passava a companhia. Qual deveria ser a nova forma de atuação da empresa

e como deveria ser este novo modelo de negócios ?

1. Descrição da Empresa

A seguir, alguns dados da companhia até 1994:

• Estabelecida em 1969

• Escopo do Negócio: projeto, desenvolvimento, fabricação, comercialização

e manutenção de aeronaves civis e militares

• Sede: São José dos Campos, SP

• Empregados: 6.300

• Instalações: aproximadamente 254 mil metros quadrados

A empresa, originalmente de capital público, foi privatizada em 7 de Dezembro de

1994, através de leilão. Seu atual grupo controlador é composto dos seguintes principais

acionistas:

• Grupo Bozano, Simonsen.

• Previ - Caixa de Previdência Privada do Banco do Brasil.

• Sistel - Fundação Telebrás de Seguridade Social.

1.1. Histórico

A história da Embraer teve origem, na verdade, na criação do ITA – Instituto

Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, nos anos 50. O objetivo da criação

daquele instituto foi o de formar mão de obra especializada, engenheiros aeronáuticos, a

fim de fomentar a geração de tecnologia aeronáutica no Brasil.

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Em meados da década de 60, um grupo de engenheiros formados pelo ITA, liderado

por Ozires Silva, deu início, no CTA – Centro Técnico Aeroespacial, em São José dos

Campos, ao projeto IPD-6504 para a construção de um avião bimotor de transporte, que

viria a ser o Bandeirante. O sucesso do projeto deu origem à Embraer, que foi criada com

o objetivo de produzi-lo em série. A empresa foi fundada em Agosto de 1969 e iniciou

suas atividades em Janeiro de 1970. Desde então, dedica-se às atividades de concepção,

desenvolvimento, produção, comercialização e apoio de aeronaves comerciais e militares.

Os dois principais mercados nos quais a empresa atua são o mercado de aviação

comercial, no qual comercializa aviões turboélice e a jato destinados à aviação regional, e

o mercado de defesa, no qual comercializa treinadores avançados, aviões militares de

ataque, de vigilância aérea e de sensoriamento remoto. O segmento de aviação regional é

atualmente predominante em termos de faturamento, representando cerca de 80% do

volume total de negócios da companhia.

A empresa passou por algumas fases distintas na sua história. No início, tratava-se

apenas de uma iniciativa inédita no país de se produzir aviões em escala industrial. Mais

tarde, em meados dos anos 70, ao constatar o interesse no Bandeirante por parte algumas

companhias aéreas brasileiras, a empresa passou a comercializar uma versão civil daquele

avião, que foi então adaptado para transportar até 19 passageiros.

Ao final dos anos 70 o mercado de aviação regional nos Estados Unidos foi

totalmente liberalizado, num processo que ficou conhecido como “deregulation”, o que

fez surgir um grande número de companhias aéreas que passaram a operar na chamada

aviação “commuter”, responsável pela interligação entre grandes centros urbanos e

pequenas cidades.

O crescimento acelerado desse novo mercado criou boas oportunidades para a

Embraer. Depois de vencer muitos obstáculos, ela obteve a homologação de seu principal

produto (o Bandeirante) pelas autoridades aeronáuticas americanas e iniciou a sua

comercialização naquele país. O produto, robusto e barato, obteve boa aceitação no

mercado americano.

Seu próximo avião destinado ao transporte regional, o EMB-120 Brasília, turboélice

pressurizado para 30 passageiros, surgiu no início dos anos 80, na esteira do sucesso

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comercial do Bandeirante. O mercado americano de aviação regional vivia um “boom” em

razão da oferta de um novo serviço e do grande número de companhias aéreas que foram

criadas à época.

Numa etapa seguinte, decidiu-se desenvolver um novo avião para substituir o

Bandeirante. Assim, em meados dos anos 80, a Embraer desenvolveu um moderno avião

pressurizado, com capacidade para transportar até 19 passageiros. O projeto desse avião

privilegiou as soluções técnicas, o que encareceu o produto e inviabilizou sua

comercialização. A empresa aprendia, então, a necessidade de voltar-se para o mercado na

busca de soluções adequadas às exigências dos seus clientes.

2. Informações Sobre o Setor de Transporte Aéreo

O mercado de aviação regional sofreu grande expansão a partir do final da década

de 70 com a desregulamentação do setor de aviação comercial ocorrida nos Estados

Unidos.

A chamada “deregulation”, promovida pelo governo Reagan, facilitou a criação de

novas empresas e, por conseguinte, propiciou o surgimento de um grande número de

novas linhas aéreas regionais, em um mercado anteriormente dominado pelas chamadas

“major airlines”. Essas novas linhas aéreas, de pequeno e médio porte, passaram a

explorar um nicho de mercado que não era servido pelas grandes companhias: o transporte

regional entre centros urbanos menos populosos. A oferta desse novo serviço, a preços

atrativos, gerou um aumento de demanda no transporte aéreo norte-americano. Vôos

regulares de curta duração passaram a ligar cidades que antes não eram servidas por

transporte aéreo regular. Criou-se, também, um novo mercado para os vôos de conexão

interligando as pequenas cidades aos grandes centros urbanos, os chamados “hubs”.

Em razão dos aspectos econômicos relacionados com a modesta demanda original e

os custos operacionais, a grande maioria das linhas aéreas regionais iniciou sua operação

utilizando principalmente aviões turboélice de pequeno e médio porte. Como, à época,

inexistiam equipamentos específicos para esse mercado, as companhias iniciaram suas

operações utilizando aviões que foram especialmente adaptados para esse fim.

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O Bandeirante, fabricado pela Embraer, cujo projeto original era destinado ao

transporte de tropas militares, foi adaptado para operar no transporte regional.

Nos anos seguintes (início da década de 80), os fabricantes aeronáuticos lançaram

uma série de aviões com capacidade para transportar entre 20 e 60 passageiros, destinados

a servir especificamente a esse mercado. Surgiram, então, o Saab 340, produzido pela

Saab sueca, o Dash 8, produzido pela De Havilland canadense, o EMB-120 Brasília, da

Embraer, o Fokker 50 da Fokker holandesa e o ATR-42 do consórcio franco-italiano

Alenia/Aerospatiale. A esses concorrentes, juntaram-se, em 1990, o Dornier 328, da

Dornier alemã e o Jetstream 41 inglês.

Os turboélices dominaram o cenário da aviação regional durante os anos 70 e 80.

Àquela época, não existiam reatores a jato com as características de consumo específico

necessárias à operação comercial nesse mercado. Os aviões a jato de menor porte, então

existentes, destinavam-se ao mercado de transporte executivo.

No final dos anos 80, porém, o avanço da tecnologia de motores “turbofan”, que

permitiu o aparecimento de motores a jato de menor consumo, e o aumento da demanda

verificado na aviação regional norte-americana fizeram com que os fabricantes de motores

e de aviões decidissem investir em equipamentos para atender a esse mercado. Surgiram,

então, os dois principais concorrentes desse segmento: o Canadair Regional Jet (CRJ),

produzido pela Bombardier no Canadá e o ERJ-145 da Embraer.

As companhias aéreas passaram a preferir os aviões a jato aos turboélices, em

virtude da preferência pelos primeiros por parte dos passageiros. Os aviões a jato são

considerados mais seguros pelos passageiros, muito embora não haja nenhuma evidência

concreta em favor dessa percepção.

Dois dos fabricantes, a SAAB sueca e a British Aerospace (Jetstream), em virtude

da queda verificada nas vendas de seus aviões turboélices (Saab-340, Saab 2000 e

Jetstream 41) decidiram interromper sua produção. Os demais fabricantes de aviões

turboélices, que não possuem aviões a jato em suas linhas de produtos, vêm enfrentando

sérias dificuldades.

O gráfico 1, a seguir apresenta a evolução do mercado de aviação regional a partir de

1980. É possível observar o crescimento das vendas de aviões a jato a partir dos anos 90.

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Gráfico 1 – Vendas Aviação Regional

Aviação Regional Vendas - 80/93

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93

Ano

21-40 ass. Turboélices

21-40 ass. Jatos

41-60 ass. Turboélices

41-60 ass. Jatos

Fonte: Embraer

O fator primordial que impulsionou as vendas dos aviões a jato foi certamente a

capacidade dos aviões de nova geração de apresentar custos operacionais compatíveis com

o mercado, e até mesmo equivalentes ou inferiores àqueles dos antigos turboélices. Esse

fato, associado ao maior conforto dos aviões a jato e à preferência por parte dos

passageiros, modificou o cenário da indústria aeronáutica regional.

O gráfico-2 mostra uma comparação entre os custos operacionais do ERJ-145 e os

de aviões turboélice da mesma categoria. Nota-se um equilíbrio nos trechos mais curtos e

uma nítida vantagem do ERJ-145 nos trechos mais longos.

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Gráfico 2 - Custos Operacionais do ERJ-145

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

100 200 300 400 500 600 700 800

High PerformanceTurbopropERJ-145

High PerformanceTurbopropERJ-145

Distance (nm)

DOC / seat.nm (US$) Operating Cost ComparisonOperating Cost Comparison

Fonte : Embraer

3. A Empresa e sua Estratégia

Para assegurar que o processo de administração estratégica seja bem sucedido a

Embraer procura estruturá-lo cuidadosamente. Sua elaboração é precedida de um

criterioso planejamento de suas diversas etapas, fator primordial para que possa alcançar

sucesso na sua implementação.

3.1. Formulação da Estratégia

Na primeira etapa a empresa buscou estabelecer as bases para o posicionamento

estratégico da companhia. Esse posicionamento foi formulado com base na Visão da

empresa com relação ao seu futuro, focada no longo prazo. Na formulação da visão a

empresa buscou objetivos arrojados que pudessem ser encarados como verdadeiros

desafios por parte da administração e dos seus empregados. A Visão tinha que espelhar a

capacidade empreendedora da empresa e seus integrantes.

Coerente com esses princípios, o enunciado da Visão da Embraer foi definido como

sendo:

“A Embraer se tornará uma das grandes forças globais do

setor aeroespacial, nos seus segmentos de atuação, operando

com lucratividade e apresentando níveis de excelência em

tecnologia, produtos e serviços aos Clientes.”

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A partir da definição da Visão da organização, a empresa definiu claramente as suas

declarações de Missão e Negócio. .

No caso da Embraer, as declarações de Missão e Negócio foram as seguintes:

3.2. Missão:

“Fornecer aos segmentos do mercado aeroespacial mundial em que a Embraer

atua, bens e serviços de elevado padrão tecnológico e de qualidade, com preços

competitivos internacionalmente, de forma a assegurar a satisfação dos Clientes

quanto à qualidade dos produtos, prazos de entrega, flexibilidade e velocidade de

resposta às suas solicitações, atuando com uma força de trabalho criativa,

competente, motivada e integrada, e operando com competência de modo a

assegurar a seus acionistas o resultado esperado.”

3.3. Negócio

O negócio da Embraer é o fornecimento de bens e serviços para o mercado

aeroespacial, através do:

• Desenvolvimento, produção, comercialização e suporte de aviões para o

mercado mundial de aviação regional.

• Desenvolvimento, produção, integração, comercialização e suporte de sistemas,

aviões e serviços para o mercado mundial de aviação de defesa e governamental,

com foco no atendimento às necessidades do Sistema de Defesa Nacional,

inclusive como forma de alavancagem da nossa participação em mercados

internacionais.

4. O MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DA EMBRAER

A Embraer adotou um modelo de gestão estratégica baseado em Planos de Ação

integrados. De acordo com esse modelo, a Visão da companhia é orientada para o foco no

posicionamento estratégico e para os planos da empresa. Esse desdobramento é feito após

uma criteriosa análise de cenários na qual procura-se avaliar os impactos nos planos da

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empresa causados pelas condições de mercado e da conjuntura econômica, além do

posicionamento dos principais concorrentes. O cenário interno é também avaliado quanto

às capacidades existentes e a estrutura organizacional necessária para suportar as

operações.

O Plano de Ação e os Programas de Ação baseou-se nos seguintes Princípios

Fundamentais, que visam alcançar os propósitos de Sobrevivência, Crescimento e

Perpetuidade do Negócio:

• Satisfação do Cliente

• Descentralização das Ações

• Planejamento

• Delegação Planejada e Parceria

• Retorno aos acionistas

5. DEFINIÇÃO DO “MODELO DE VALOR” PARA OS CLIENTES:

O modelo de valor para os clientes leva em conta aqueles aspectos que são

considerados fundamentais para o sucesso comercial do empreendimento, ou seja, aquilo

que, sob a ótica do cliente, o faz preferir a oferta de uma empresa em detrimento daquela

de sua concorrência.

As análises indicaram que os seguintes principais fatores são considerados no

Modelo de Valor dos seus clientes:

• Características do Produto:

� Alta “despachabilidade”

� Tecnologia avançada

� Segurança na operação

� Flexibilidade Operacional

• Características de Custo:

� Menor “DOC” possível

� Facilidades de Financiamento

• Outras Características:

� Disponibilidade no mercado (“time to market”)

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� Prazo de entrega.

� Eficiência nos serviços de apoio (peças de reposição, manutenção,

reparos).

� Velocidade na solução de problemas operacionais.

6. AVALIAÇÃO DO POSICIONAMENTO COMPETITIVO.

A partir da determinação das características contidas no Modelo de Valor dos

clientes, a Embraer determinou posicionamento estratégico, utilizando uma matriz que

compara sua posição no que se refere aos requisitos supracitados em relação à

concorrência. Essa matriz serviu para determinar quais os itens deveriam ser priorizados

no processo de melhoria e constituir objetivos estratégicos.

Análise Comparativa da Posição CompetitivaAnálise Comparativa da Posição Competitiva

Concorrente “A” Concorrente “B”

Característica Posição CompetitivaFraca Ameaçada Favorável Forte Dominante

• Requisito A

• Requisito B

• Requisito C

• Requisito D

• Requisito A

• Requisito B

Produto

Custo

Outros

• Requisito A

• Requisito B

• Requisito C

À análise do posicionamento competitivo seguei-se a definição da Posição

Estratégica Desejada e dos Objetivos Estratégicos.

As tendências da indústria também foram consideradas no processo de elaboração

da estratégia da companhia. As seguintes tendências foram identificadas pela Embraer no

seu setor de negócios:

• Redução dos Ciclos de Desenvolvimento e Fabricação.

• Utilização Intensiva de Tecnologia de Informação.

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• Extensão do conceito de Desenvolvimento Integrado por meio de estrutura

orientada a projetos, IPT (Integrated Product Teams) e DBT (Design Build

Teams).

• Redesenho dos processos fabris (“lean manufacturing”).

• Adoção de sistemas integrados de gestão (ERP).

• Integração de processos com clientes e fornecedores.

Com base na metodologia acima descrita, a Embraer definiu algumas áreas

prioritárias de atuação, (Prioridades e Concentrações) que a empresa considera os Fatores

Críticos de Sucesso e constituem o foco de seus planos. São elas:

• Redução dos ciclos de desenvolvimento e produção como condição para chegar

ao mercado com preço adequado e no prazo correto.

• Menor custo operacional possível para o cliente.

• Melhoria dos serviços de pós venda como forma de “fidelizar” os clientes e

garantir sua posição no mercado.

7. O DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE PRODUTOS NA EMBRAER

A seguir, para melhor ilustrar a aplicação da abordagem de Desenvolvimento

Integrado de Produtos, descreveremos sucintamente o processo e a estrutura organizacional

adotados pela Embraer na condução de seus projetos de desenvolvimento.

7.1. O Desenvolvimento Integrado como estratégia

Na indústria aeronáutica, a exemplo de alguns outros setores produtivos que

trabalham com produtos de alto conteúdo tecnológico, o desenvolvimento de um novo

produto é provavelmente a atividade que mais agrega valor para os clientes, contribui para

o posicionamento estratégico da empresa e, ao mesmo tempo, contém o maior nível de

risco.

Para os seus clientes, o avião é um recurso vital na geração de receitas, pois dele

depende a capacidade da companhia aérea em fornecer o serviço de transporte e, assim,

gerar lucros operacionais.

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O custo total de operação de um avião inclui a amortização do investimento com a

sua aquisição, ou o valor mensal pago sob a forma de “leasing”, o custo da mão de obra da

tripulação e os demais custos relacionados à sua utilização, como combustível,

manutenção, etc. O desenvolvimento do produto afeta todas essas áreas. As decisões

tomadas ao longo do processo irão influenciar todos os fatores de custo envolvidos na

operação de uma aeronave, podendo determinar seu sucesso ou fracasso sob o ponto de

vista econômico e operacional.

A flexibilidade e a rapidez da empresa no desenvolvimento de novos produtos é

outro fator crítico para os seus clientes. A habilidade de projetar e fornecer um avião que

atenda às expectativas dos clientes, antes da concorrência, permite ser um “first mover” e,

assim, capturar uma fatia do novo e crescente segmento de mercado da aviação regional.

7.2. A Participação de Fornecedores no Desenvolvimento de Produtos

A exemplo da maioria das empresas aeronáuticas, a Embraer utiliza recursos de

terceiros de forma intensiva nos seus projetos. A empresa detém o domínio e o controle

interno de todo o ciclo de vida dos seus produtos, desde a fase de definições iniciais,

quando o produto começa a ser delineado, até a fase de apoio pós-venda.

7.3. A Questão Organizacional

A questão organizacional é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes na

gestão do projeto de desenvolvimento de um novo produto. Uma organização adequada ao

desenvolvimento integrado facilita a obtenção dos objetivos estabelecidos, permite o

controle eficiente dos recursos disponíveis e, sobretudo, o uso racional das habilidades

existentes na empresa.

Um dos pilares do desenvolvimento integrado, no caso da Embraer, é a utilização de

equipes multidisciplinares para a execução dos seus projetos.

Essas equipes são articuladas em torno dos chamados “core teams” que contêm

representantes das várias disciplinas necessárias à condução de uma determinada parte do

projeto.

Os times são estruturados segundo uma organização matricial que interliga equipes

compostas por especialistas das diversas tecnologias e disciplinas necessárias ao

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desenvolvimento do projeto de uma aeronave (aerodinâmica, estruturas, sistemas, ensaios,

etc.), chamados IPT (Integrated Product Teams), responsáveis pela integração de uma

determinada função, às equipes responsáveis pela integração física das várias partes que

compõem a estrutura do produto final (fuselagem central, asas, leme, etc.), os chamados

DBT (Design Build Teams).

8. A Decisão

Em meados de 1994 a Embraer estava numa posição financeira delicada, precisando

viabilizar a execução de novos projetos que precisavam de grande recursos econômicos.

Uma forma de viabilizar a execução dos projetos seria a construção de parcerias de risco,

através da construção de um produto integrado, onde cada fornecedor seria responsável

por uma parte do produto. A grande questão é se realmente está era a resposta ? E como

implementar um projeto de tal envergadura ?

8.1. Questões Para Discussão em Classe

a) O projeto de Avião é modular ou integrado

b) Decisão de Fazer X Comprar

c) Analise o uso de parcerias de risco como alternativa viável

d) A estrutura organizacional para este tipo de produto

e) Quais características de produto, organização, e processo para compor valor para

os clientes

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NOTAS PARA O PROFESSOR

RESULTADOS

Nos seus 30 anos de existência a companhia já produziu e entregou mais de 5000 aviões.

Seus principais produtos são :

ERJ-145

Jato pressurizado utilizado no transporte regional

com capacidade para transportar 50 passageiros.

EMB-120 - Brasilia

Avião turboélice pressurizado para transporte de 30

passageiros.

Super Tucano

Turboélice de emprego militar para missões de

treinamento avançado e apoio operacional.

ERJ-135

Jato pressurizado para transporte de 37 passageiros.

Derivado do ERJ-145.

Após a privatização, a empresa passou por um processo de restruturação organizacional

visando à melhoria dos seus resultados econômico-financeiros e da sua produtividade, os

quais, na ocasião, vinham apresentando crescente deterioração em virtude da crise por que

passava a companhia. Uma nova visão estratégica foi implementada com sucesso.

Os resultados alcançados no período foram animadores. O faturamento da

EMBRAER tem apresentado um crescimento consistente nos últimos três anos. A receita

bruta evoluiu de US$ 377 milhões em 1996 para US$ 1.308 milhões em 1998, ou seja, um

aumento de mais de 240%. Mais importante, esse aumento de receita foi acompanhado de

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uma expressiva melhoria nos seus resultados econômicos, revertendo uma situação de

prejuízo nos exercícios de 1996 e 1997 (US$ 40,2 milhões e US$ 13,2 milhões,

respectivamente) para lucro no exercício de 1998 (US$ 50 milhões). O índice de

produtividade medida em termos de receita por empregado saltou de US$ 98

mil/empregado em 96 para US$ 227 mil/empregado em 98.

DEMONSTRATIVOS DE RESULTADOSR$ milhões

392,3

833,0

1.581,0

79,9

220,3

(123,1)(33,0)

132,0

444,1

-200

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1996 1997 1998

Receita Bruta Lucro Bruto Lucro Lìquido

Os ciclos de produção dos aviões foram reduzidos de 12 meses em 1995 para 6

meses em 1998. Os ciclos de desenvolvimento de novos produtos estão sendo reduzidos

de 48 meses para 36 meses.

Esses resultados foram obtidos por meio de um rigoroso programa de gestão

empresarial, como parte de sua estratégia de longo prazo, que priorizou as ações e

investimentos com vista ao aumento da produtividade e redução dos custos operacionais

da companhia.

INFORMAÇÕES DO SETOR

As vendas de aviões com propulsão turboélice caíram vertiginosamente. Entre 1997

e 1998 foram vendidos 132 aviões turboélices de 20 a 60 assentos contra 604 jatos nessa

mesma categoria.

As companhias aéreas passaram a preferir os aviões a jato aos turboélices, em

virtude da preferência pelos primeiros por parte dos passageiros. Os aviões a jato são

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considerados mais seguros pelos passageiros, muito embora não haja nenhuma evidência

concreta em favor dessa percepção.

Aviação Regional Vendas - 80/96

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96

Ano

21-40 ass. Turboélices

21-40 ass. Jatos

41-60 ass. Turboélices

41-60 ass. Jatos

As pesquisas de mercado indicavam que a tendência de substituição dos aviões

turboélice pelos aviões a jato nas linhas aéreas regionais iria manter-se nos próximos anos.

Todos os investimentos em novos produtos anunciados foram destinados a aviões a jato.

A Bombardier trabalhou desenvolvimento do CRJ-700 para 70 passageiros. A

Embraer, por sua vez, lançou o ERJ-135, com capacidade para transportar 37 passageiros,

um derivado do ERJ-145. Em Junho de 99 a empresa anunciou seus planos para

desenvolver duas novas aeronaves, o ERJ-170 para 70 passageiros e o ERJ-190 para 90

passageiros.

A Dornier alemã, que foi adquirida pela Fairchild, lançou o DO-328 jet, com

capacidade para 32 passageiros, com o objetivo de competir com o ERJ-135 da Embraer.

Essa mesma empresa está desenvolvendo o DO-428 e DO-728 para 44 e 70 passageiros,

respectivamente.

O fator primordial que impulsionou as vendas dos aviões a jato foi certamente a

capacidade dos aviões de nova geração de apresentar custos operacionais compatíveis com

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o mercado, e até mesmo equivalentes ou inferiores àqueles dos antigos turboélices. Esse

fato, associado ao maior conforto dos aviões a jato e à preferência por parte dos

passageiros, modificou o cenário da indústria aeronáutica regional.

A EMBRAER X MERCADO

A participação em Mai/99, dos três principais produtos da Embraer no mercado de

aviação regional, o EMB-120 Brasília, o ERJ-145 e o ERJ-135 é mostrada nos gráficos a

seguir :

Saab 34029%

Jetstream 416%

DHC-8-100/200

24%

FD 328JET3%

ERJ-1359%

EMB-12022%

FD 3287%

Market share(21-40 seats)

(May/99)

Aircraft Type Firm OrdersDeliveries Backlog

FD 328 106 96 10DHC-8-100/200 382 396 13

Saab 340 455 445 10Jetstream 41 98 98 0

FD 328JET 42 0 42TOTAL 1567 1339 228

EMB-120 350 345 5

ERJ-135 134 0 134

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Aircraft Type Firm Orders Deliveries Backlog

ATR-42 345 336 9

DHC-8-300 154 144 10

Fokker 50 208 208 0

Saab 2000 60 60 0

ERJ-145 250 124 126

CRJ-100/200 551 308 243

TOTAL 1568 1180 388

Fokker 5013%

Saab 20004%

CRJ-100/20035%

ATR-4222%

ERJ-14516%

DHC-8-30010%

Market share(41-60 seats)

(May/99)

O Desenvolvimento de Produtos

O desenvolvimento do seu próximo produto, o ERJ 145, jato regional de 50

passageiros, seguiu uma trajetória completamente distinta, que veio a se mostrar acertada.

A partir de pesquisas de mercado que indicavam a necessidade pelas linhas aéreas

regionais de um avião de maior porte, foram avaliados quais seriam os principais

requisitos operacionais dos seus potenciais clientes-chave, por meio de entrevistas e

contatos com pessoal especializado do setor de operações e manutenção desses clientes.

Foram também realizadas consultas para saber quais seriam as preferências dos

consumidores finais (passageiros) quanto às características internas do avião. Além disso,

equipes técnicas de algumas companhias aéreas foram convidadas a contribuir com

sugestões durante a fase de concepção e desenvolvimento.

A empresa passou a utilizar os principais fundamentos do desenvolvimento

integrado de produto no projeto do novo avião. Equipes multidisciplinares foram

constituídas com o objetivo de garantir o envolvimento de todos os participantes dos

diversos processos empresariais. Líderes dessas equipes reuniam-se freqüentemente com

clientes e fornecedores para assegurar uma maior integração. Houve, pela primeira vez, a

utilização extensiva de sistemas CAD/CAM (Computer Assisted Design/Computer

Assisted Manufacturing) como forma de reduzir o ciclo e o custo do desenvolvimento,

Page 18: caso embraer final_131202-100210

18

assegurando, ao mesmo tempo, a perfeita aderência do produto final aos seus requisitos de

projeto e às exigências dos clientes.

Essa estratégia, focada nas exigências do mercado e no desenvolvimento integrado,

mostrou-se acertada. O ERJ 145, no seu primeiro ano de produção, conseguiu atingir 45%

das vendas de jatos de 50 lugares. Ao final de 1999, apenas 3 anos após a primeira

entrega, mais de 170 aviões já estavam operando em 15 diferentes companhias aéreas

espalhadas por quatro continentes.

A empresa ocupa hoje uma posição de destaque na indústria aeronáutica mundial.

Com pedidos em carteira que atingem a cifra de US$ 21 bilhões (dados de Junho 2000), a

Embraer consagrou-se como um dos principais participantes deste mercado e passou a ser

respeitada não apenas como fabricante, mas também como geradora de tecnologia.

A empresa produz atualmente o ERJ 145 e o ERJ 135, jatos com capacidade de 50 e 37

passageiros, respectivamente, além do EMB120 Brasília, turboélice para 30 passageiros.

Também se encontram em produção o EMB 145 AEW&C avião de vigilância aérea e o

EMB 145 RS avião de sensoriamento remoto, ambos destinados ao projeto SIVAM. Em

junho de 2000, a Embraer empregava cerca de 9000 pessoas e já tinha entregado mais de

5.300 aviões a seus clientes, durante seus 30 anos de existência.

A Embraer está desenvolvendo três novos aviões para o mercado de aviação

regional, o ERJ 170 e o ERJ 190-100 e ERJ 190-200, com capacidade de transportar 70,

90 e 108 passageiros, respectivamente. Além desses, a empresa também está finalizando o

desenvolvimento do EMB 314 Super Tucano, avião de ataque leve para a Força Aérea

Brasileira e do

O ERJ 140 jato derivado do ERJ 145, com capacidade para 44 passageiros. Também

estão sendo desenvolvidas novas versões do AM-X, avião de combate construído em

consórcio com empresas italianas, e dos aviões de vigilância aérea e sensoriamento

remoto, baseados na plataforma do ERJ 145. A empresa também iniciou recentemente o

desenvolvimento de um novo avião executivo, o Legacy, com base na plataforma do ERJ

135.

É interessante observar que a estratégia de produtos da Embraer está focada na

extensão de um conceito para diversos produtos, utilizando, sempre que possível, a

Page 19: caso embraer final_131202-100210

19

mesma plataforma ou uma plataforma derivada de outra já existente, com conseqüente

redução de custos no desenvolvimento e ganhos de escala na produção.

Como se vê, a Embraer tem um número expressivo de projetos em andamento. O

seu crescimento acelerado e a multiplicação dos seus projetos fizeram aumentar a

complexidade de administrar o desenvolvimento de produtos. Foi necessário adotar uma

estratégia dedicada, a fim de continuar atendendo às exigências e demandas dos mercados

nos quais atua.

O Desenvolvimento do Produto

O desenvolvimento de um novo produto requer um ciclo mínimo em torno de 36

meses e um investimento de várias centenas de milhões de dólares. Os novos aviões da

Embraer (ERJ-170 e ERJ-190), por exemplo, irão exigir investimentos da ordem de US$

900 milhões para o seu desenvolvimento e industrialização. Para recuperar este

investimento, até atingir o chamado “breakeven point”, uma média de 400 aviões deve ser

vendida, o que pode requerer entre 4 e 10 anos, dependendo da demanda do mercado.

A Embraer, a exemplo de seus concorrentes, utiliza avançados sistemas de

CAD/CAM e softwares de gestão de projetos para a coordenação das atividades de

desenvolvimento e o desenho digital dos seus produtos, obtendo, conseqüentemente,

reduções significativas no custo e prazo de desenvolvimento de seus produtos.

A empresa instalou recentemente um moderno Centro de Realidade Virtual (CRV)

que proporciona aos engenheiros e técnicos que trabalham no projeto uma visão

tridimensional do produto em desenvolvimento. Por meio dessa ferramenta, os

engenheiros podem modelar estruturas e sistemas da aeronave, acelerando ainda mais o

desenvolvimento. O Centro de Realidade Virtual também permite que os engenheiros

“passeiem” pelo interior do avião e avaliem possíveis localizações para os seus diferentes

componentes e verifiquem interferências eventualmente existentes.

Page 20: caso embraer final_131202-100210

20

Figura 15 – Modelo Tridimensional de Aeronave utilizado no CRV

Embora essas ferramentas representem um avanço no desenvolvimento de

produtos, tecnologias similares são utilizadas pela concorrência. Isto significa que a

tecnologia, por si só, não é uma fonte de vantagem competitiva, mas uma ferramenta

requerida para participar do mercado, podendo ser utilizada em vários níveis. A grande

questão torna-se, portanto, desenvolver a habilidade de implementar e aproveitar os

avanços dessa tecnologia da forma mais eficaz possível. Isto requer, sobretudo, uma

equipe competente na utilização das ferramentas e capacitada na sua implementação.

Ao longo dos anos, o desenvolvimento de produtos na Embraer evoluiu do modelo

tradicional, seqüencial na sua forma de conduzir, controlar e acompanhar as atividades,

para um modelo integrado, que utiliza as técnicas e metodologias de engenharia

simultânea. Um dos principais fatores que levou a empresa a adotar essa abordagem foi a

necessidade de conciliar os recursos existentes, relativamente escassos em algumas áreas

de tecnologia, com a capacidade de execução simultânea de diversos projetos. Como

vimos, até os anos 80, a empresa realizava um grande desenvolvimento de cada vez. A

partir dos anos 90, foi necessário adotar uma nova estratégia que permitisse à empresa

conduzir diversos projetos ao mesmo tempo, para poder explorar as oportunidades de

mercado então existentes.

Page 21: caso embraer final_131202-100210

21

A Metodologia de Desenvolvimento Integrado de Produtos na Embraer

O Desenvolvimento Integrado de Produtos (DIP) na Embraer foi definido como

sendo “uma estratégia para a execução de desenvolvimento de produtos que integra

Processos, Planejamento Integrado, Organização e o uso de Ferramentas e Metodologias

Adequadas”. A prática do DIP possibilita, segundo a empresa, “o desenvolvimento

simultâneo e eficiente de todos os Objetos que compõem ou são necessários à composição

de um Produto (no caso, uma determinada aeronave), incluindo seus modelos

geométricos, roteiros de fabricação, ferramental e dispositivos de produção, equipamentos

de apoio no solo, simuladores e publicações técnicas” (EMBRAER, 1999, p. 3).

Todas as decisões tomadas por cada indivíduo engajado no DIP da Embraer devem ser

fundamentadas nas virtudes que a empresa busca para os seus produtos, incluindo: Custo,

Qualidade, Prazos, Operação e Meio Ambiente. Finalmente, destaca-se que a

característica mais marcante do DIP, e indispensável ao sucesso dessa metodologia, é o

uso intensivo de Times Multidisciplinares.

As Dimensões do DIP

O DIP, na Embraer, é estruturado segundo quatro dimensões fundamentais:

1. Processos: os processos são conjuntos de atividades de características

semelhantes que se integram em uma seqüência lógica, de acordo com um

fluxo preestabelecido. As atividades são executadas segundo uma

metodologia apropriada e, sempre que possível, apoiadas por ferramentas

específicas. O processo de desenvolvimento de produtos corresponde ao

conjunto estruturado de atividades que permitem a criação de um novo

produto de forma integrada e o gerenciamento das tarefas ao longo do

processo. Ele é subdividido nos seguintes sub-processos: Estruturação e

Gerenciamento de Atividades; Identificação de requisitos e elaboração de

especificações; Execução do projeto conceitual e suas definições;

Detalhamento do Projeto; Testes de Validação; Certificação do Produto e

Atualizações do Produto.

Page 22: caso embraer final_131202-100210

22

2. Planejamento Integrado: o planejamento integrado permite a visão global

das atividades envolvidas no desenvolvimento de um novo produto. Por

meio dele é possível controlar e monitorar a utilização racional dos recursos

disponíveis, além do andamento do projeto e dos seus respectivos custos.

3. Ferramentas e Métodos: a condução de cada atividade ou processo

integrante do desenvolvimento integrado deve ser apoiada por ferramentas

adequadas que permitam a sua otimização e aperfeiçoamento. As

ferramentas utilizadas incluem não somente aquelas baseadas em

computador (CAD, CAE, CAPP, PDM, etc.), mas também todo o arsenal de

métodos, técnicas, metodologias, práticas e princípios de trabalho utilizados

na execução, controle e gerenciamento das tarefas no contexto do DIP.

4. Organização: uma organização apropriada para o DIP é um fator-chave de

sucesso. A organização deve ser voltada para a obtenção dos resultados. A

essência da organização fundamenta-se na utilização de times

multidisciplinares.

Planejamento Integrado de Projetos

O planejamento integrado de projetos é o processo responsável pelo monitoramento

e controle das atividades que compõem um projeto, envolvendo todas as fases de seu ciclo

de vida, da concepção ao encerramento.

Os seguintes elementos integram o processo de planejamento integrado de programas

como parte do DIP na Embraer:

Divisão do Projeto em Fases Estanques e Pacotes de Trabalho

O projeto deve ser dividido em fases estanques, com início e término bem

determinados, que atravessem todo o seu ciclo de vida, desde a concepção até o seu

encerramento.

Na Embraer, um projeto ou programa é dividido em fases bem definidas, com produtos e

resultados identificados para cada uma delas.

Page 23: caso embraer final_131202-100210

23

Phase-out

1 2 4 53Definiçõesiniciais doprograma

Definiçãoconjunta

Projeto detalhadoe certificação

Seriação

Cada fase do ciclo de vida deve ser desmembrada em pacotes de trabalho que contenham

todas as atividades a serem executadas no período. Cada pacote de trabalho terá um

responsável por planejar suas atividades e coordenar sua execução.

Definição do WBS

O WBS (Work Breakdown Structure) é a estrutura que identifica os diversos elementos de

projeto (WBE - Work Breakdown Element), além de organizar e definir o seu escopo. Seu

objetivo é estruturar as etapas do projeto e permitir o efetivo controle e gerenciamento de

cada uma delas.

A estrutura de WBS deve ser tão completa quanto possível e especificar a hierarquia da

divisão de trabalho a ser seguida, identificando todas as atividades a serem executadas,

inclusive aquelas de apoio.

Um WBS bem estruturado é fundamental para sustentar o processo de planejamento

integrado do projeto. Além disso, é o ponto de ligação entre a rede de atividades e os

sistemas corporativos de gestão.

Definição do SOW (Statement of Work)

O SOW (Statement of Work) é o documento formal que descreve de forma sucinta

as atividades contidas em todos os elementos do WBS. Seu objetivo é deixar claro para

todos os participantes do projeto o que é esperado durante o desenvolvimento de cada

pacote de trabalho.

Trata-se de um documento fundamental para definir as responsabilidades quanto à

execução das atividades e para permitir o efetivo monitoramento dos critérios de saída

para cada fase do projeto, por meio dos chamados “Phase Reviews”.

Page 24: caso embraer final_131202-100210

24

Redes de Atividades

A rede de atividades é a base para a implementação do processo de planejamento

integrado de um projeto. A sua elaboração deve levar em conta as atividades envolvidas, a

duração de cada uma delas, as precedências e os recursos a serem alocados para a

execução. Um dos objetivos da elaboração de uma rede de atividades de um projeto é

estimar a data de sua conclusão.

Durante as atualizações periódicas da rede, é possível verificar quais as atividades

que se encontram eventualmente atrasadas em relação aos prazos previstos e que possam

causar impactos em suas sucessoras. Essa informação é muito útil para indicar potenciais

desvios nas metas e permitir uma visão de planejamento de longo prazo e, assim,

possibilitar a correção de desvios em tempo hábil.

Figura – Integração por meio de Redes de Atividades

Atividades de suporte ao cliente

Atividades de manufatura

Deliverables Serviços

"Statment of Work - SOW"

Atividades de desenvolvimento

do produto

Atividades de suprimentos

WBS WB E

Antes de se iniciar a elaboração da rede de atividades do programa é importante que

sejam levados em consideração dados históricos de programas similares que forneçam

informações de prazos, seqüências de atividades, soluções adotadas e, principalmente, as

lições aprendidas.

A rede integrada de um projeto deve ser elaborada a partir dos cronogramas e redes

de atividades dos processos empresariais. Além disso, deve estar completamente alinhada

Fonte:

Page 25: caso embraer final_131202-100210

25

ao Master Phase Plan (MPP) do programa e estruturada em conformidade com o WBS

definido.

Master Phase Plan (MPP)

A partir da definição de atividades a serem executadas ao longo do projeto de

acordo com o SOW (Statement of Work), sua estruturação segundo o WBS (Work

Breakdown Structure) e a construção das redes estabelecendo as interdependências e

seqüências a serem obedecidas, constrói-se o chamado Master Phase Plan (MPP) que é

um cronograma geral das atividades do desenvolvimento. Esse cronograma geral será

posteriormente desmembrado em cronogramas que detalhem cada um dos pacotes de

trabalho.

Figura – Exemplo de Master Phase Plan

Project Start 01SEP95Project Finish 02JUL12

Data Date 02OCT00

Run Date 11AUG00

© Primavera Systems, Inc.

Early BarTarget 1

Progress Bar

Sheet 1 of 1

MASTER PHASE PLAN - AERONAVE MILITAR

ActivityDescription

Definição de requisitos pelo cliente

Requisitos

Liberação de Request For Proposal

Oferta e negociação com o Cliente

Spec/levantamento dados/composição/negociação

Assinatura do Contrato e Go-ahead

Concepção

Desenhos preliminares/arquitetura/PSA/

Preliminary Design Review (PDR)

Desenvolvimento

Projeto de detalhes e conjunto

Ferramentais/processos/manuais

Fabricação protótipos

Critical Design Review

Ensaios e relatórios

Série

Fabricação primeira aeronave de série

Entregas

In Service Support (ISS) - Fase 1

Peças de reposição/manuais/etc

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

02OCT00 20JUL01

20JUL01

23JUL01 05JUL02

05JUL02

08JUL02 31MAR03

31MAR03

01APR03 10MAR05

01APR03 25NOV05

06JAN04 16MAR05

04JUN04 04JUN04

25NOV04 01NOV05

31JAN05 20DEC05

21DEC05 06FEB08

21DEC0502JUL12

Design / Phase Review

Ao longo do ciclo de vida de um projeto, a conclusão de cada uma das etapas deve

ser precedida de uma revisão, a chamada “phase review”, durante a qual são verificados

pontualmente se todos os objetivos daquela etapa foram cumpridos com sucesso.

A passagem para a fase seguinte deverá ficar condicionada a essa verificação, que

normalmente é feita por meio de reuniões formais envolvendo todos os principais

Fonte:

Page 26: caso embraer final_131202-100210

26

participantes (executantes e gestores) do projeto. Etapas intermediárias também são

verificadas por meio dos chamados “design reviews” que têm o mesmo objetivo.

Figura 18 – “Phase Reviews”

Phase Review

Joint Definition Phase Detailed Design Phase

PDRPDR

DIP

Manufatura

Sup. Cliente

ReviewReview

ReviewReview

A Estrutura Organizacional

Uma pesquisa realizada com integrantes e líderes de times na Embraer indicou que o

trabalho em equipes multifuncionais proporciona as seguintes vantagens, de acordo com

os participantes ouvidos:

� Velocidade: os times, por trabalharem com objetivos bem definidos e por

terem autonomia para estabelecer o conjunto de estratégias de ação que irão

adotar, reduzem sensivelmente o tempo para realizar tarefas e cumprir

objetivos. Atribui-se esse benefício à redução das incertezas e à maior

velocidade na tomada de decisões.

� Complexidade: a contribuição efetiva de cada participante da equipe faz com

que aumente a capacidade de solucionar problemas complexos.

� Enfoque no cliente: os times conseguem enfocar os recursos disponíveis

para satisfazer as necessidades dos seus clientes internos e externos.

� Aprendizagem: o trabalho em equipe facilita o aprendizado, pois permite

que os integrantes dos times aprendam uns com os outros a respeito de

vários assuntos e a trabalhar com culturas distintas.

Fonte:

Page 27: caso embraer final_131202-100210

27

� Comprometimento: todos membros da equipe sentem-se comprometidos

com o projeto e os resultados esperados.

Os times multifuncionais devem estar inseridos em uma organização e um ambiente

que estimulem a criatividade, facilitem a comunicação e promovam o intercâmbio de

idéias e experiências entre os seus integrantes. As pessoas devem sentir-se motivadas e

serem reconhecidas pelo seu trabalho.

Uma estrutura organizacional adequada ao trabalho dos times é, portanto,

fundamental para que esses resultados sejam alcançados.

A Embraer adotou, a partir de 1997, uma estrutura matricial na sua Vice-Presidência

Industrial, responsável pelos setores de Engenharia, Suprimentos e Manufatura. Foi criada

originalmente uma Diretoria de Programas com o intuito de coordenar os diversos

projetos da companhia. Essa Diretoria ficou responsável pela gestão de todos os projetos

da empresa, tanto aqueles que se encontram em produção quanto dos novos

desenvolvimentos.

A estrutura adotada foi a seguinte:

Figura – Estrutura Organizacional Matricial da Embraer

Fonte:

Page 28: caso embraer final_131202-100210

28

EXECUTIVE VICE-PRESIDENT

INDUSTRIAL

DIRECTOR OF MANUFACTURING

DIRECTOR OF ENGINEERING

DIRECTOR OF SUPPLIES

Program A

DIRECTOR OF

PROGRAMS

Industrial OrganizationIndustrial Organization

Program B

Program C

Program D

Program E

A estrutura matricial adotada na Embraer é do tipo balanceada, ou seja, os gerentes

de projeto (ou programa) têm o mesmo nível de autoridade dos gerentes funcionais.

Os times que trabalham no desenvolvimento de um novo produto são eventualmente

deslocados fisicamente para um mesmo local de trabalho, com o objetivo de aumentar a

interação e a comunicação entre os seus participantes. Cada uma das equipes tem um

Líder de Time, responsável pelo planejamento das atividades e pela coordenação do

grupo. Esses Líderes de Time subordinam-se hierarquicamente aos Gerentes das áreas

funcionais da qual fazem parte e também respondem ao Gerente do Projeto no qual

estiverem engajados.

Embora a organização adotada tenha apresentado bons resultados desde que foi

adotada, como veremos posteriormente, os conflitos típicos de uma estrutura matricial

também se manifestaram. O crescimento acelerado da empresa e o aumento do número de

projetos em andamento fizeram com que os recursos disponíveis se tornassem escassos.

Logo, ainda há disputa por recursos. Além disso, o número de engenheiros com

maturidade e experiência para liderar as diversas equipes tem sido insuficiente para fazer

Page 29: caso embraer final_131202-100210

29

frente ao volume de projetos existente. Um grande contingente de engenheiros da Embraer

trabalha na empresa há menos de cinco anos.

Outra questão que tem sido discutida com freqüência é a necessidade de fazer com

que as lições aprendidas em um determinado projeto não fiquem estanques às equipes que

dele participam. É preciso que as dificuldades enfrentadas e as soluções encontradas sejam

divulgadas eficientemente por toda a organização. O aprendizado não deve ficar limitado

aos grupos que participam de um dado projeto. Alguns mecanismos de comunicação estão

sendo implementados com esse objetivo.

Em alguns casos isolados, a dualidade da estrutura matricial gerou conflitos quanto

à responsabilidade pelo andamento do projeto e pelos seus custos. Como os gerentes de

programa são responsáveis pelo desempenho do projeto no que se refere a esses

parâmetros (prazo e custo), mas nem sempre detêm o controle efetivo do efetivo alocado

ao seu projeto e dos custos associados, ocorrem algumas situações de conflito entre as

áreas funcionais e as áreas de projetos.

Os problemas existentes têm sido objeto de revisão permanente da estrutura e dos

processos da empresa de modo a minimizar seus efeitos. Apesar dessas dificuldades, a

estrutura matricial mostrou ser fundamental para permitir que a Embraer conseguisse

conduzir todos os seus projetos simultaneamente. Com equipes e gestores integralmente

dedicados a cada um deles, a empresa tem conseguido um desempenho operacional muito

positivo, como veremos a seguir.

Os indicadores de desempenho da Embraer

Desde a sua privatização, ocorrida ao final de 1994, a Embraer vem apresentando

resultados econômicos, financeiros e operacionais muito positivos, que demonstram o

acerto da estratégia adotada pela sua atual administração. Todos os indicadores dos

últimos quatro anos da história da empresa mostram uma notável recuperação da sua

situação financeira e patrimonial. O mesmo ocorre com relação aos índices de

produtividade.

Page 30: caso embraer final_131202-100210

30

A evolução das entregas, a redução dos ciclos de produção e o rigoroso

cumprimento dos planos representaram significativos ganhos de produtividade industrial e

redução dos custos de fabricação. Além disso, a implementação de novos processos nas

atividades industriais contribuiu para a redução dos gastos indiretos de fabricação e das

despesas administrativas e comerciais.

Em 1999, a Embraer entregou mais de cem aviões e atingiu um faturamento de US$

1.889 milhões, um crescimento real de 44% em relação ao ano anterior. O seu lucro

líquido foi de US$ 230 milhões, 111% superior ao obtido em 1998. O ciclo de produção

de seus aviões foi reduzido para 5,5 meses e a produtividade atingiu US$ 252 mil/ por

empregado.

A empresa está desenvolvendo um número expressivo de novos produtos

simultaneamente, em prazos muito mais curtos. O ciclo de desenvolvimento dos novos

jatos, o ERJ 170 e o ERJ 190, por exemplo, foi reduzido para 38 meses, o que representa

um ganho de aproximadamente 12 meses em relação ao ciclo de desenvolvimento do ERJ

145.

O quadro abaixo mostra os principais resultados econômicos obtidos pela empresa

nos últimos anos (Faturamento Bruto, EBITDA e Lucro Líquido). A evolução positiva dos

resultados tem sido notável:

Gráfico 2 – Resultados Econômicos da Embraer

DEMONSTRATIVOS DE RESULTADOSUS$ Milhões

377

746

1.308

1.889

47162

400

(118)

274109 230

(30)

-500

0

500

1000

1500

2000

1996 1997 1998 1999

Receita Bruta EBITDA Lucro LìquidoFonte: EMBRAER

Page 31: caso embraer final_131202-100210

31

O gráfico a seguir mostra a aceleração da produção do ERJ 145 em relação a outros

aviões. Observa-se que a Embraer atingiu a marca da centésima unidade entregue do ERJ

145 muito antes que os demais fabricantes

.

Gráfico 3 – Cadência Produtiva do ERJ 145

INITIAL PRODUCTION RATE (a/c)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

months

A/C

ERJ-145ERJ-145 / 135CRJSaab 2000777A319

A produtividade medida por meio da receita bruta por empregado também mostra

uma tendência positiva nos últimos quatro anos, conforme mostra o gráfico a seguir:

Gráfico 4 – Produtividade por Empregado na Embraer

98

166

227252

0

50

100

150

200

250

300

1996 1997 1998 1999

Produtividade (US$ Mil/Empregado)

Fonte:

Fonte: EMBRAER

Page 32: caso embraer final_131202-100210

32

Embora alguns dos resultados positivos mostrados anteriormente não estejam

diretamente relacionados à implementação do novo modelo organizacional e ao

Desenvolvimento Integrado de Produtos, é inegável que os indicadores relativos à

produtividade por empregado, ao aumento da cadência produtiva e à redução do prazo de

desenvolvimento dos aviões foram positivamente influenciados por essa metodologia e

pelo modelo organizacional utilizados pela Embraer.

A estrutura organizacional é um meio para obter resultados. Conseqüentemente,

deve estar em constante evolução, adaptando-se às necessidades da organização. No caso

da Embraer, a estrutura tem evoluído à medida que novas exigências surgem, com

resultados muito positivos.