Casos de Sucesso_ajuste1

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Histórias de Sucesso

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  • Histriasde

    Sucesso

  • Histriasde

    SucessoHistrias de Sucesso

    Alyne Chicocki et al.

    1 edio

    CuritibaSEBRAEPR

    2012

  • Ficha Tcnica

    SEBRAE-PR

    Rua Caet, 150 Prado Velho

    CEP 80220-300 Curitiba PR

    Tel.: +55 [41] 3330-5757

    www.sebraepr.com.br

    Histrias de Sucesso Agentes Locais de Inovao / Alyne Chicocki et al. Curitiba: Sebrae-PR, 2012. 168 p.

    Bibliografia. isbn

    1. Histrias de Sucesso 2. Empreendedorismo 3. Marketing

    I. Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas do Paran SEBRAE/PR II. Ttulo.

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio

    ou forma sem a prvia autorizao do SEBRAE-PR.

    A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n 9.610/1998

    e punido pelo art. 184 do Cdigo Penal.

    Presidente do Conselho Deliberativo

    Joo Paulo Koslovski

    Diretoria Executiva

    Allan Marcelo de Campos Costa

    Julio Czar Agostini

    Vitor Roberto Tioqueta

    Unidade de Inovao e Competitividade

    Agnaldo Castanharo Gerente

    Luciana Nalon Gesto Estadual do Projeto ALI

    Unidade de Desenvolvimento de Solues

    Rainer Junges Gerente

    Joo Luis Moura

    Autoria

    Alyne Chicocki et al

    Reviso metodolgica da obra

    Ana Cristina de Liz

    Ana Lucia da Silva Luz

    Cinara Stock dos Santos

    Joo Luis Moura

    Marta Beatriz Horn Schumacher

    Natasha Bacchi Manano

    Ilustraes

    Thiago Cesar Gomes

    Design Grfico

    Ingrupo//chp Propaganda

    Editorao

    Ceolin & Lima Servios LTDA

  • 4A inovao essencial para a sobrevivncia das em-presas num cenrio competitivo e global. Pases como Coreia do Sul, Singapura e Malsia ensinam ao mundo a lio.

    No Brasil, entretanto, o desafio mudar a cultura empresarial, mostrando que inovar nem sempre si-nnimo de alto investimento, como pensa boa parte dos empreendedores.

    O Programa ALI (Agentes Locais de Inovao) prova disso. uma proposta pioneira, lanada pelo Sebrae Nacional com o objetivo de disseminar a inovao s micro e pequenas empresas.

    Testado em 2008, no Paran e no Distrito Federal, o Programa mostrou-se desde ento uma alternativa inteligente para levar gratuitamente a inovao aos pequenos negcios.

    Por meio de agentes locais de inovao, jovens recm--formados capacitados pelo Sebrae, empresrios so sensibilizados e convencidos a incorporar a inovao e a tecnologia no dia a dia.

    Em 2010, o projeto Agentes Locais de Inovao deu seu primeiro salto. Passou de projeto-piloto para tor-nar-se um programa de alcance nacional, envolvendo diversos estados brasileiros.

    APRESENTAO

    Inovao como marca registrada

  • 5S no Paran, cerca de 1,8 mil micro e pequenas empre-sas j foram atendidas pela proposta que alia extenso acadmica e tecnolgica. Do total, 1,3 mil aderiram ao Programa.

    Mais faturamento, menos custos, melhoria nos pro-cessos, aprimoramento na gesto so alguns dos resultados oferecidos pelos Agentes Locais de Inovao s empresas participantes.

    Em 2012, um novo marco. O Sebrae ganhou um novo aliado no Programa, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), com atuao em todo o territrio.

    Juntos, Sebrae Nacional, CNPq e Sebrae/PR executor da proposta no Paran mostram aos empresrios de micro e pequenas empresas como possvel inovar e fazer a diferena.

    Nesta publicao, voc leitor confere histrias de su-cesso, de empreendedores e empresrios paranaenses atendidos pelo Programa Agentes Locais de Inovao entre 2010 e 2012.

    Os exemplos trazidos, pelos prprios agentes locais de inovao, so uma demonstrao de como a inova-o pode ser a marca registrada das empresas de olho no mercado.

    Allan Marcelo de Campos CostaDiretor-Superintendente do Sebrae/PR

  • 6Em uma iniciativa pioneira no estado do Paran e no

    pas, a Fundao Araucria em parceria com o SEBRAE,

    apresenta o projeto Agentes Locais de Inovao com

    a finalidade de levar cincia, tecnologia e inovao s micro e pequenas empresas. O objetivo era diagnosti-

    car o estgio de inovao das empresas e identificar oportunidades potencialmente aproveitveis para a

    inovao, aproximando as pequenas empresas de algu-

    mas instituies de cincia e tecnologia, que detenham

    a expertise para proceder s correes ou adequa-

    es necessrias.

    Outro ponto abordado pelo projeto, porm no menos

    importante, foi elevar o poder de competitividade dos

    pequenos empresrios, por meio dos agentes locais de

    inovao, mediante a sensibilizao dos empresrios

    para a importncia estratgica da inovao dos seus

    produtos, processos produtivos, tcnicas de marketing

    e revises organizacionais.

    E para melhor compreenso da amplitude desse inves-

    timento, necessrio conhecer o conceito de inovao.

    Trata-se de uma ferramenta essencial para a elevao

    da competitividade das empresas que esto inseridas

    em um mercado consumidor cada vez mais exigente

    e competitivo. Entretanto, os empresrios encontram

    inmeras dificuldades para obterem acesso inova-o, pois as ferramentas que esto disposio das

    micro e pequenas empresas so limitadas, quanto mais

    se comparadas s grandes empresas.

    Prefcio

  • 7Dessa forma, a Fundao Araucria exerce um impor-tante papel no projeto em questo, pois as premissas do projeto vo ao encontro com um dos pontos da sua misso institucional, que promover estudos sobre inovaes cientficas e tecnolgicas, acompanhar seu desenvolvimento e aplicao, identificar setores que devero ser priorizados e investir na formao de pes-quisadores das reas priorizadas; em resumo, fomentar o desenvolvimento cientfico e tecnolgico no Paran.

    O programa voltado disponibilizao de instrumen-tal micro e pequena empresa, no sentido de assegurar a estas pleno acesso s prticas de inovao em nvel de excelncia. Por meio de capacitao, preparao e orientao dos agentes locais de inovao; com acom-panhamento contnuo das adequaes desenvolvidas para as empresas, ofertadas pelas instituies prove-doras de solues (fomento inovao), foi possvel que os envolvidos no projeto alcanassem com xito os objetivos propostos.

    O projeto implementou testes para avaliar a metodo-logia utilizada, para que o projeto piloto seja estendido s demais unidades da federao, possibilitando que inmeras micro e pequenas empresas sejam bene-ficiadas com a formao de diversos quadros de recursos humanos, aptos a difundir a inovao em pe-quenas empresas.

    A parceria entre SEBRAE e Fundao Araucria firmada em 2010 foi significativa no que tange o em-

    preendedorismo no Brasil, pois trata-se da unio entre o conhecimento cientfico e tecnolgico, com a prtica empresarial sucinta e eficaz, que h anos aplicada pelo SEBRAE. Os investimentos variam do setor ali-mentcio, passando pelo setor de servios e chegando ao vesturio; uma das reas em amplo crescimento no Estado.

    Os depoimentos colhidos nesta publicao consolidam os resultados do efetivo trabalho que est sendo rea-lizado na Fundao Araucria. Este livro no poderia ter melhor ttulo, pois Histrias de Sucesso o que a Fundao Araucria pretende obter em todos os seus convnios e parcerias.

    Paulo Roberto BrofmanPresidente da Fundao Araucria

  • 8

  • 9Sumrio

    Inovao como marca registrada .......................................4

    Abrindo as portas para

    novos desafios ......................................................................... 10

    O empreendedorismo no sangue ..................................... 19

    Delcias de milho: respirando a inovao ......................27

    Quando o empreendedorismo

    encontra a inovao ..............................................................35

    A ousadia faz parte de seu cotidiano ............................ 46

    Doces sonhos que se tornam realidade .....................52

    O apego s tradies e um

    olhar para o futuro ................................................................ 60

    Uma microempresa com gesto

    de grande organizao ........................................................ 70

    Mania Jovem .............................................................................78

    O Hot Dog que sucesso ................................................... 84

    A Busca de novos horizontes, entre tintas e suor... ..92

    Apario Modelo ........................................................................ 99

    Turismo servir com alegria ............................................108

    Do Rio Grande do Sul para

    a terra das cataratas ...........................................................116

    O empreendedorismo

    formando geraes ..............................................................123

    Cafs Especiais, uma ferramenta

    para o sucesso .......................................................................129

    Em busca da inovao pela unio ..................................134

    Reconstruindo e inovando

    um agronegcio familiar ....................................................143

    A arte da gastronomia do

    Oriente para o Ocidente .....................................................151

    Inovar para Competir ..........................................................161

  • 10

    Da necessidade nasce um sonho

    A cidade de Maring est localizada na regio norte do estado do Paran, a uma distncia de 423,6 km de Curitiba, capital do estado. Foi fundada pela em-presa Britnica Companhia de Melhoramentos do Norte do Paran, em 1947, e elevada categoria de municpio em 1951.

    As atividades confeccionistas se instalaram na cidade e regio, devido geada de 1975. Como o plantio de caf era fundamental para o desenvol-vimento das cidades, muitas entraram em crise e o desemprego aumentou. Assim mulheres e suas famlias vislumbraram a confeco como forma de ampliar sua renda familiar. A possibilidade de uma nova fonte de renda e maior envolvimento da po-pulao da regio resultou numa forte expanso do setor que se intensificou a partir de 1990.

    Foi justamente nessa poca que Roseli D. Morgenstein, chegou a Maring/PR, mas precisa-mente em1988, para acompanhar seu marido, que havia passado num concurso pblico. Natural de Marechal Cndido Rondon/ PR, criada na zona rural, ainda sem o 2 grau concludo, decidiu comprar e

    Abrindo as portas para novos desafios(Jefferson Luiz Ramos da Silva ALI)

  • 11

    vender roupas de porta em porta, uma fonte de renda para ajudar a pagar as despesas da famlia.

    Dessa maneira no demorou muito para Roseli iden-tificar essa oportunidade. Ao invs de comprar e revender, por que no fabricar? A deciso j estava tomada. S faltava um detalhe: algum que soubes-se costurar. Em 1990, sua vizinha que j trabalhava como costureira aceitou a parceria. Roseli comprou uma mquina reta e uma mquina overlock, com o fundo de garantia do marido. Nasceu assim o sonho de abrir uma empresa de confeco.

    Qual o caminho?

    A parceria no durou muito tempo. Depois de 3 meses sua vizinha saiu do negcio. Eu sofria muito precon-ceito, pois no sabia costurar, eu ficava responsvel pelas vendas, mas minha vizinha no aceitou, contou Roseli, que decidiu fazer um curso de corte e costura, logo em seguida um curso de serigrafia e continuou com o negcio, com muita dificuldade e quase que aprendendo fazendo, conta Roseli.

    Cada vez mais Roseli foi se aprimorando na atividade, procurava conhecer os fornecedores, a matria prima, o processo produtivo e as tendncias do

  • 12

    mercado. Desenvolvia seus produtos para o pblico

    feminino. Naquela poca trabalhava apenas com

    modinha feminina, produzia pouco e tentava seguir

    as tendncias do mercado, mas os resultados com as

    vendas no eram o que eu esperava contou Roseli.

    Em 1994, convicta de que precisaria buscar mais

    uma alternativa de gerao de renda, pois a fam-

    lia havia aumentado e as despesas tambm, Roseli

    resolveu concluir seus estudos e ingressou no curso

    de Educao Fsica. Durante o curso de graduao

    confeccionou as primeiras peas de uniformes, que

    eram calas usadas para a prtica de capoeira e co-

    meou a ter uma perspectiva de sucesso nesta rea,

    pois s fabricava por encomenda. E foi nesse pero-

    do que mudou o segmento do seu negcio.

    Impulsionada por pedidos de professores, que con-

    duziam projetos de bairro para Centros Esportivos

    e precisavam de uniformes, Roseli parou com a

    produo de confeco feminina. As vendas de

    uniformes traziam mais retorno, era uma venda

    certa, no corria o risco de produzir e no ter pra

    quem vender, pois produzia conforme os pedidos

    e no deixava produtos em estoque disse Roseli.

    At 1999, Roseli, ainda emitia suas notas fiscais por um projeto da prefeitura da cidade Eu emitia as notas pela prefeitura e pagava os impostos. Era um projeto muito interessante, para quem ainda no estava formalizado, mas no durou muito tempo, conta Roseli.

    Em 2000, concluiu os estudos e comeou a dar aulas. Na poca atendia quatro escolas com sua confeco. Com seu objetivo de crescimento j es-tabelecido, formalizou a empresa em 2001. Surgiu ento a Demorgan Uniformes.

    O grande desafio

    Com a formalizao, veio a necessidade da profis-sionalizao e investimentos. Em 2003, Roseli que ainda trabalhava sozinha e terceirizava toda sua produo, resolveu vender sua casa e seus auto-mveis para construir um novo barraco e uma loja para sua empresa. A deciso no foi fcil, at lgri-mas surgiram em funo da venda da casa, vender tudo o que havia conquistado at ento e voltar a morar de aluguel, meu marido e meus filhos tambm estavam envolvidos, mas planejei e pesquisei muito antes e sabia que teria que me dedicar muito para melhorar meus resultados.

  • 13

    A empresria pesquisou a concorrncia, como tinha muito contato com pais e alunos, ouvia muitas reclamaes da concorrncia e procurei trabalhar em cima do erro da concorrncia, como no ter pro-duto pronta entrega e ou demora para entregar, contou Roseli. Verificou que seu principal concor-rente tinha uma loja muito mal organizada e que os clientes reclamavam, pois no conseguiam encon-trar os produtos. Essa foi uma das oportunidades que aproveitei, montei o projeto da loja e da produ-o com o intuito de atender melhor meus clientes, informou Roseli.

    Em 2004, com a concluso da construo, inter-rompeu sua carreira de professora para se dedicar exclusivamente empresa. Como havia vendi-do minha casa e meus automveis precisaria me dedicar exclusivamente empresa e recuperar meu investimento.

    Com algumas ideias j organizadas, seu prximo passo foi procurar maneiras de aumentar o nmero de clientes. Efetuou uma parceria com uma rdio e trocou uniformes por propaganda. Praticamente todo meu capital foi investido na infraestrutura, no tinha como investir em propaganda e precisa-va divulgar a nova loja para captar mais clientes.

    A soluo foi fazer a parceria com a rdio, que deu muito certo, contou Roseli. O resultado foi imediato, em pouco tempo a demanda aumen-tou consideravelmente.

    Quando vendia em casa, nem todo dia realizava uma venda, com a loja aberta e divulgao jamais deixei de realizar no mnimo uma venda todo dia. Foi tambm escolhido um produto que seria o chamariz da loja, que foi o jaleco, divulgando intensamente e com preo competitivo e o resultado foi o espera-do contou a empresria.

    Nos prximos anos a empresa cresceu junto com a cidade e se fortaleceu no mercado. Roseli recu-perou todo o seu investimento e ainda conseguiu formar um bom capital de giro para a empresa.

    O nmero de habitantes em Maring no ano de 1991 era de 240.292 e passou para 357.077 em 2010, segundo dados do IBGE. Neste perodo o setor tambm passou por um perodo de mudana, o pro-cesso produtivo das confeces havia melhorado e se modernizado, com a introduo de novas tecno-logias. O setor vinha apresentando elevadas taxas de crescimento no nmero de empresas, principal-mente nos ltimos trs anos. Esse crescimento no

  • 14

    era somente na quantidade de estabelecimentos, mas tambm na ampliao da produtividade e da competitividade das empresas de confeco.

    A Demorgan melhorou sua gesto com a implanta-o de softwares de gesto financeira, aquisio de mquinas e contratao de mais funcionrios. Em 2009, j atendia 15 escolas da regio, alm das em-presas com os uniformes profissionais.

    Em 2010 a empresa j estava estabilizada no mer-cado, o nmero de escolas e empresas atendidas era suficiente para proporcionar um bom fatura-mento. Mas a capacidade produtiva estava limitada ao espao fsico da produo e no tinha como ser aumentada.

    A opo de terceirizar ainda mais a produo, no era interessante. O cenrio produtivo local, com uma demanda muito forte por esse tipo de servi-o, fazia com que as faces se comportassem de maneira instvel. A empresa j terceirizava 30% da produo, terceirizar mais que isso, representa-ria um risco e uma incerteza, pois qualquer atraso e falha das faces fariam a empresa Demorgan ser prejudicada.

    COLUCCI

    CONFECES

  • 15

    O espao fsico tambm prejudicava a organiza-odo estoque de matria- prima, as caixas com os produtos acabados ficavam no mesmo local atrapa-lhando o processo produtivo e at a mobilidade dos funcionrios dentro da fbrica. A empresria sabia que para continuar crescendo teria que mudar.

    Inovao fez a diferena

    Mesmo com a estabilidade da empresa, Roseli no aceitou adequar sua demanda produo, pois teria que recusar novos pedidos e deixar de atender novas escolas e empresas. Eu poderia continuar da mesma maneira, atendendo meus clientes, pois tinha um bom faturamento, a empresa tinha estabilidade e era conhecida na cidade e regio. No precisaria investir num novo barraco para aumentar minha produo. Mas no queria ficar estagnada, queria ver minha empresa crescer e faturar ainda mais. A dvida era como fazer isso acontecer, contou Roseli.

    Ainda em 2010 a empresria comprou um terreno e comeou a construir um novo barraco, com o capital da empresa. O desafio era melhorar os re-sultados da empresa mesmo com o acrscimo nos custos e despesas mensais que a empresa teria com o novo barraco.

    Cansada de aprender fazendo, pois fazendo se aprende, mas tambm se erra muito, s vezes so necessrias vrias tentativas at acertar e isso cansa, deprime, ento resolvi procurar o SEBRAE antes de mudar para o barraco, para no errar mais ou agir por tentativas, e esta parceria existe at hoje. necessrio saber escolher o consultor que tem experincia na sua rea, de nada adianta ter um consultor que no consegue agregar conhecimento aos processos da empresa, contou a empresria.

    Inicialmente foi elaborado um layout produtivo para a nova estrutura fabril, com o planejamento do espao para futuras ampliaes. Roseli procurou o SEBRAE e contratou uma consultoria para reali-zao do layout da nova estrutura. Foi a primeira interveno de uma profissional de fora da organi-zao desde o incio da empresa.

    No incio de 2011, a construo do barraco foi concluda e a mudana do local da produo foi re-alizada. J com o layout planejado, com aumento no espao para o corte e melhoria do fluxo de pessoas no cho de fbrica, sua produtividade aumentou.

    Na mesma poca aderiu ao Projeto Agentes Locais de Inovao, Aps a mudana para o novo barraco

  • 16

    minhas despesas e custos operacionais dobrariam e precisava de todo apoio e informao. Aderi ao Projeto com o intuito de intensificar as aes inova-doras na minha empresa e melhorar meu resultado.

    O Projeto Agentes Locais de Inovao, do SEBRAE, em parceria com a Fundao Araucria, tem o ob-jetivo de transformar as empresas atendidas em empresas inovadoras, para praticarem rotineira-mente a Gesto da Inovao. O agente realiza um diagnstico empresarial e a Mensurao do Grau de Inovao, com base nos diagnsticos apresenta um Plano de ao para a empresa. A implementao do Plano de Ao acompanhado e ao trmino do projeto os resultados so medidos. Toda inovao direcionada para o aumento da competitividade.

    Atravs do diagnstico e do plano de ao realizado pelo projeto, ainda no incio de 2011, foi identifica-do que alm do aumento na estrutura fsica e da recente mudana no layout produtivo, a Demorgan poderia aumentar ainda mais sua produtividade, melhorando seus processos.

    A empresria no hesitou em aderir s consi-deraes e anlises realizadas e imediatamente contratou uma consultoria para a implantao do

    setor de Planejamento, Programao e Controle da Produo. O objetivo foi implantar controles pro-dutivos, melhorar a gesto da produo e diminuir os desperdcios.

    As mudanas foram significativas. Os funcionrios foram realocados de acordo com suas funes. Cargos e responsabilidades foram definidos. O controle sobre o que estava sendo produzido foi implementado, tanto na produo interna quanto nas faces. Com a organizao e planejamento da produo, foi possvel aumentar o nmero de fac-es sem prejudicar a empresa.

    Alm da implantao do PPCP, foram eliminados desperdcios, principalmente o retrabalho. As peas que chegavam das faces no eram conferidas e os defeitos eram concertados na prpria empresa. A Demorgan pagava duas vezes para costurar a mesma pea e ainda prejudicava sua produtividade, afirmou a empresria. Foi adotada a conferncia das peas. As que apresentassem defeito retornariam para as faces. A qualidade da costura das faces aumentou e a produtividade interna tambm.

    O relacionamento com os funcionrios mudou. Atravs de reunies, tiveram mais abertura para dar

  • 17

    ideias e sugestes para a melhoria dos processos. A implantao de uma simples ideia facilitou o traba-lho na empresa. Um funcionrio do setor de corte definiu a medio dos tecidos e implantao de eti-quetas com informao sobre a largura de cada um, isso aumentou a produtividade no setor de risco e modelagem. Aps a inovao deste processo, a largura dos tecidos so medidos uma nica vez. Ganhamos tempo, detalhou a empresria.

    O layout foi alterado mais uma vez, devido s suges-to dos funcionrios. Esse relacionamento com os funcionrios melhorou bastante nossos resultados, eles tm abertura suficiente para opinar sobre qual-quer melhoria, o importante foi facilitar o trabalho deles, com isso ganhamos produtividade tambm, afirma a empresria.

    Outra mudana que proporcionou aumento da produtividade foi o investimento em tecnologia. A empresria realizou uma pesquisa e localizou uma mquina de acabamento, para tirar linha, que po-deria facilitar o trabalho dos funcionrios. Aps a aquisio da mquina, o trabalho que antes era efe-tuado por at quatro pessoas, diminuiu para apenas um, os demais foram realocados.

    A aquisio de um software de modelagem, en-caixe e risco tambm impactou na produtividade. Aumentou o aproveitamento de tecido e com a digitalizao dos moldes diminuiu o tempo de exe-cuo deste processo.

    Apesar do aumento dos custos e despesas opera-cionais com o novo barraco, a Demorgan no teve prejuzo. Aumentou seu faturamento investindo e incentivando cada vez mais a inovao, com a dimi-nuio dos desperdcios, melhoria de seus processos e aumento da produtividade. At fevereiro de 2012, aproximadamente um ano aps a mudana para o novo barraco, a empresa aumentou 40% sua pro-duo. Comeou a atender mais oito novas escolas.

    Ao atingir um objetivo, cria-se outro

    Roseli, com o apoio da famlia, conseguiu realizar seu sonho, que era o de ter uma empresa de con-feco. No poupou esforos e desafios para atingir seu objetivo.

    O plano de Roseli era continuar aumentando o nmero de clientes no s na regio, mas tambm em novas cidades e estados. Para isso teria que

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    melhorar ainda mais sua produtividade e intensificar suas aes em vendas.

    Ainda em abril de 2012, a empresria havia contra-tado mais uma consultoria, atravs do programa Sebraetec do SEBRAE, que oferece Servios em Inovao e Tecnologia, visando melhoria de processos.

    Havia planejado para aquele ano, uma nova linha de uniformes profissionais, a implantao de um sistema para controle de estoque dos tecidos e aviamentos e o aumento da produo em mais 15%.

    Meu Objetivo de Sucesso profissional e pessoal foi atingido! Nesse caminho aprendi tambm que ao atingir um objetivo, logo se cria outro e outro... e isso que d sentido vida, finalizou Roseli.

    Questes para discusso

    Quais caractersticas empreendedoras foram fundamentais para Roseli conseguir atingir seu objetivo?

    Se voc fosse um Agente Local de Inovao. Quais inovaes voc aconselharia Demorgan Uniformes para manter ou aumentar esse ritmo de crescimento?

  • 19

    O ttulo desta histria bem descreve o esprito das duas irms: Julieta e Joahne Trizotto de Pato Branco/PR. De esprito jovem e aberto, as duas esto sempre em atividade. A ateno ao que acon-tece em volta de suas vidas proporciona enxergar as oportunidades. A capacidade de calcular e correr riscos e a energia que empregam em tudo o que fazem, garantem a melhoria dos resultados. E foi assim que abriram um pequeno mercado num bairro que ainda estava em desenvolvimento. Foi pela ca-pacidade intuitiva que nasceu o novo negcio. Mas nem tudo foi simples e natural. As dificuldades apa-receram. Os custos nas compras da matria-prima apertaram. Como lidar com essa situao? O que fazer para garantir os resultados. Conhea a histria dessas meninas decididas a vencer.

    A capital do sudoeste hospeda as duas empreendedoras

    A regio Sudoeste do Paran destaca-se pela cul-tura empreendedora do seu povo. Nesse cenrio de desenvolvimento, a cidade de Pato Branco, cha-mada carinhosamente pelo seu povo de Capital do Sudoeste, destaca-se na regio como um centro de servios com nfase nos setores da sade e da educao. A partir de 1996, Pato Branco buscou

    O empreendedorismo no sangue(Alyne Chicocki ALI)

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    diversificar ainda mais sua economia atravs de incentivos fiscais a empresas dos setores de infor-mtica e de eletroeletrnicos, o que resultou na criao de um centro tecnolgico industrial.

    As empresas de Pato Branco so em sua maioria empresas familiares, de micro, pequeno e at mdio porte, cuja gesto est caminhando para um estilo mais profissional. O desenvolvimento empresarial de Pato Branco evidenciado por histrias como a das empresrias, scias e irms, Julieta e Joahne Trizotto. Esprito criativo, busca de oportunidades, persistn-cia e comprometimento - caractersticas fortes de quem tem o empreendedorismo correndo nas veias.

    As irms j atuavam no mercado de trabalho Joahne, como prestadora de servios em uma em-presa e Julieta, proprietria de duas empresas do setor de alimentao. Duas personalidades diferen-tes, mas a mesma paixo pelo empreendedorismo. Por que no unir duas experincias numa outra? Foi o pensamento delas quando aquela inquietao por novos desafios, sentimento que os empreendedores conhecem bem, comeou a aparecer.

    Sem ideia do que fazer, juntando os recursos que tinham e buscando o capital que faltava para comear

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    um novo negcio juntas, resolveram explorar o bairro em que Julieta morava h pouco tempo e que ainda estava em expanso. Conversaram com os moradores e ao observar uma sala vazia, na rua de acesso ao bairro como dando as boas-vindas aos moradores. Julieta percebeu o que faltava ali: um minimercado. Sempre fui intuitiva, frisou ela. As scias ento conversaram, pesquisaram, buscaram informaes e concluram: a ideia era boa e o local ideal. Os desafios ento comearam. Faltava experincia no ramo, pois at ento, exerciam outras atividades. Iniciaram em 2009 e a cada ms e a cada ano, garantir a sobrevivncia, baixar o custo dos produtos e aumentar as vendas foram desafios mais que reais e sempre presentes. Quem disse que seria fcil? Mas correr riscos calculados e resolver problemas so situaes que estas empreendedoras sabem lidar muito bem.

    Pato Branco Sinnimo de desenvolvimento, cidade de oportunidades

    A cidade de Pato Branco tem populao de 73.148 habitantes (IBGE, 2010) e ndice de desenvolvimen-to humano (IDH) de 0,849, colocando-se como a 34 melhor cidade em qualidade de vida do Brasil e 3 do Paran (PNUD, 2000). Segundo IPARDES

    (2011), Pato Branco possui uma populao economi-camente ativa de 39.966 pessoas, 27.404 pessoas empregadas e 24.540 domiclios residenciais.

    O agronegcio representa uma significativa participa-o na economia do municpio. Quanto aos setores econmicos, o nmero de empresas do setor indus-trial, comrcio, servios e agropecuria, Pato Branco conta com um total de 2.905 empresas. Desse total, quando estratificado temos no segmento da Agricultura, Pecuria, Produo florestal, Pesca e Aquicultura o total de 167 empresas. No segmento in-dustrial existem 281 empresas, o comrcio conta com 1.181 e o setor de servios com 1.276 (IPARDES, 2011).

    A existncia de uma instituio federal de ensino su-perior, a UTFPR - Universidade Tecnolgica Federal do Paran (antigo CEFET - Centro Federal de Educao Tecnolgica) e duas faculdades particu-lares, a Faculdade Matter Dei e Fadep Faculdade de Pato Branco cristaliza o potencial crescente de Pato Branco como um centro regional provedor de servios.

    Hoje o municpio se consolida como o maior gerador de receitas pblicas da regio Sudoeste, atravs do Fundo de Participao dos Municpios (FPM), e um

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    dos municpios que tem obtido maior crescimento imobilirio marcado por investimentos macios na cadeia da construo civil (SILVA e FERREIRA, 2012).

    As diferenas que somaram e multiplicaram

    No Manual do Jovem Empreendedor, Matos e colaboradores definiram bem a personalidade das irms Joahne e Julieta: A palavra empreendedor (entrepreneur), originada do francs, usada para descrever uma pessoa que tem, acima de tudo, a necessidade de realizar coisas novas. Essas pesso-as que tm a necessidade de realizar se destacam porque, independentemente de suas atividades, fazem com que as coisas aconteam. O empreen-dedor, com sua aguada percepo, est sempre observando recursos escassos na regio onde atua, recursos que no estejam sendo devidamente ex-plorados ou at mesmo que no tenham sido alvo da ateno de ningum, sendo, no entanto, uma boa fonte de oportunidade de negcio.

    Julieta trabalhou 13 anos no ramo de vendas. Esse tempo lhe garantiu talento e experincia na rea. Trabalhou em lojas de calados e confeces, mas sempre com o sonho de um dia ter seu prprio

    negcio. O ano de 2006 reservou novidades. Alm de boa vendedora, era cozinheira de mo cheia. Julieta juntou o til ao agradvel e em setembro daquele ano, quase concluindo a faculdade de administrao, aproveitou a oportunidade de administrar a cozinha de um hospital particular. Com o negcio dando certo e com a experincia adquirida em dois anos, em agosto de 2008 alugou um espao num complexo de clnicas onde montou uma cafeteria.

    Essa histria tem outra protagonista: Joahne Trizotto, irm de Julieta. Essa, por sua vez, no ano de 1999, saiu de Pato Branco e foi fazer faculdade de engenharia de produo na capital catarinense. Aps formar-se, per-maneceu por l estagiando e trabalhando com gesto financeira em algumas empresas. Mas a saudade da famlia foi aumentando e aps dez anos morando fora de casa, Joahne voltou para Pato Branco, onde fez ps-graduao em finanas e trabalhou no setor fi-nanceiro de uma empresa.

    Com experincias de vida e personalidades diferen-tes Joahne, muito realista, dada ao uso da razo e a calcular sempre muito bem os riscos e com expe-rincia maior na rea de finanas; Julieta, perfil mais impulsivo, sonhadora e com feeling para vendas,

  • 23

    decidiram unir suas bagagens profissionais em prol de um novo empreendimento.

    Da urbanizao nasceu uma oportunidade

    Pato Branco uma cidade em desenvolvimento acelerado, considerada polo regional de educa-o. destaque tambm no setor da sade, com um moderno hospital privado de alta-especialidade atendendo pacientes de outras regies do Estado e fora dele (SILVA e FERREIRA, 2012).

    A demanda gerada pelo desenvolvimento do munic-pio influenciou na rpida urbanizao de bairros at ento pouco ocupados. Quando a empresria Julieta Trizotto foi morar no Bairro Parque do Som, prximo TV Celinauta, havia poucas casas, mas j havia di-versas construes em estgio inicial. O bairro era tranquilo e j demonstrava sinais de desenvolvimento, com famlias de classe mdia e alta, alm de jovens casais que estavam construindo suas casas e urbani-zando o bairro, lembra a empresria. Distante 5 km do centro da cidade, o Bairro Parque do Som tinha apenas um bar nas proximidades. As irms percebe-ram a carncia que o bairro tinha de um mercado.

    Com a escassez de recursos prprios, as jovens em-preendedoras levantaram o capital que precisavam para abrir o minimercado atravs de financiamen-to no BNDES e emprstimo do pai. Procuramos o dono da sala que queramos e alugamos o espao em poucos dias. Foi tudo muito rpido, conta Julieta. s vsperas do Natal, no dia 22/12/2009, ainda em meio arrumao das prateleiras, o Minimercado O Armazm nasceu. Tivemos que abrir as portas, pois os clientes j estavam procurando alguns itens, conta Julieta.

    As jovens empresrias no tinham experincia no ramo escolhido para empreender. Nunca trabalha-mos com mercado, ento fomos pesquisar e buscar informaes. Conversamos com proprietrios de ne-gcios similares e fomos traando o caminho para iniciar o nosso negcio, contam as irms. A experi-ncia na atividade tambm foi sendo adquirida com a rotina diria de trabalho. Por ser uma empresa de pequeno porte e com poucos recursos, as irms ad-ministraram o negcio sozinhas desde o comeo.

    Julieta e Joahne conheciam poucas pessoas do bairro. Comearam ento a visitar os moradores, pois o atendimento familiar era uma das propostas do mi-nimercado. Outra proposta diferenciada era o mix

  • 24

    de produtos. Desde o incio, optamos pelo concei-to de um minimercado com produtos diferenciados, focando na qualidade. A boa localizao, o bom re-lacionamento com os fornecedores, a idoneidade, o horrio diferenciado e o atendimento familiar, foram marcando o nosso diferencial, ressalta Joahne.

    O mercado j tinha um ano de vida quando as irms perceberam que para se manter no mercado ou aumentavam as vendas ou abaixavam o custo de compra das mercadorias. As scias lembram-se do dilema: Baixar o custo dos produtos para um mer-cado de pequeno porte difcil, pois o baixo volume de compras dificulta a negociao com os fornece-dores e no tnhamos capital de giro para melhorar as negociaes. Ento para nos manter no mercado teramos que aumentar as vendas.

    A pergunta era: como fazer isso?

    Um programa que chegou na hora certa

    Precisvamos inovar! O Programa ALI chegou no momento ideal! - lembra-se Julieta. Em novembro de 2010, as empresrias aderiram ao Programa ALI (Agentes Locais de Inovao). Aps a realizao

    do diagnstico empresarial e de grau de inovao, identificamos os pontos a serem melhorados. Em conjunto com as empresrias, foram priorizadas as aes necessrias para inovar: relacionamento com clientes, processos, mix de produtos, reorganizao e capacitao.

    A motivao foi imediata!, lembra Joahne. A pri-meira ao colocada em prtica foi a mudana de layout reposicionamento do caixa e das gndolas e destaque para o expositor de hortifruti. A mudana valorizou o espao e a iluminao. Com essa inovao, as vendas de frutas aumentaram em 200% em poucas semanas. Foi impressionante como os clientes come-aram a se sentir mais vontade. Percebemos como o layout estava bloqueando a circulao das pesso-as, comentam as scias.

    As empresrias buscaram as sugestes dos clien-tes e inseriram novos produtos no mix do mercado, como molhos diferenciados, artigos infantis, varie-dades de carnes, pizza e lasanha congelada, po de queijo, produtos caseiros como mel, massas e bolachas e peas de reparos eltricos e hidruli-cos. Aumentamos tambm a variedade de frutas e vinhos, destacam as empresrias.

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    As melhorias no paravam de acontecer. Outras aes foram definidas com foco no cliente. Sempre preocupadas em manter um bom relacionamento, as empresrias intensificaram as aes de inovao e fizeram pesquisas de satisfao e cadastro de clien-tes atravs do sorteio de brindes. Temos que tentar entender qual a necessidade do cliente, dizia Julieta. As scias colocaram o mercado em rede social na internet. Atravs desse espao, divulgaram seus pro-dutos, as novidades e ainda se comunicaram com os clientes. No mercado, tornou-se prtica um quadro de informaes, tipo classificados, onde o cliente pode divulgar ou buscar informaes teis. Muitos clientes utilizam, uma tima forma de interao entre eles, destaca Joahne.

    Tornar o ambiente inovador atravs da busca de informaes prioridade para as empresrias. As empresrias participaram do Workshop de Inovao promovido pelo SEBRAE, e Julieta fez o Curso de Administrao de Estoque no Senac.

    O desenvolvimento das aes propostas fidelizou os clientes, reestruturou as instalaes, aumentou o mix de produtos, possibilitou empresa a diferenciao da concorrncia, tornando-a mais competitiva, alm do aumento nas vendas e a criao de um ambiente

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    propcio para a gesto da inovao atravs da busca

    de informaes.

    Mas a inovao no pode parar! Para um futuro bem

    prximo, a empresa pretende ampliar a rea do

    mercado, colocar panificao e aougue atravs de parcerias com panificadoras e frigorficos, mudar a fachada do mercado e informatizar a empresa.

    Para quem deseja empreender

    As irms acreditam na persistncia e no respeito

    mtuo para o negcio dar certo: Dificuldades exis-tem, mas no podemos nos deixar levar pelo mau

    tempo. Como nosso negcio familiar, aprende-

    mos a separar o profissional do pessoal. Tem que haver respeito.

    Questes para discusso

    Joahne e Julieta Trizotto so exemplos de jovens empreendedoras que criaram seu negcio de

    sucesso. Quais so as informaes necessrias

    que o empreendedor deve buscar para abrir

    seu negcio e torn-lo um empreendimento

    de sucesso?

    Quais so as caractersticas empreendedoras que contriburam para o alcance dos resultados no novo negcio?

    O Minimercado O Armazm conseguiu resul-tados expressivos a partir de aes inovadoras. Comente sobre a importncia da inovao e as aes realizadas pelas irms na empresa.

    Referncias

    Censo Populacional 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/censo2010/. Acesso em: 5 maio 2012.IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social. Perfil do municpio de Pato Branco. 2011. Disponvel em: http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal. Acesso em: 7 maio 2012.MATOS, A. C.; SOUZA, A. A. de; HARIZ, M. S. Manual do Jovem Empreendedor. Disponvel em: http://www.cjefiesp.com.br/. Acesso em: 8 maio 2012.Ranking decrescente do IDH-M dos municpios do Brasil. Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2000). Disponvel em: http://www.pnud.org.br/atlas/ranking. Acesso em: 5 maio 2012.SILVA, Nzio Jos da. FERREIRA. Arildo. Artigo: A lei geral das micro e pequenas empresas - Uma alternativa de polticas pblicas no contexto do desenvolvimento de Pato Branco-PR. UAB/UNICENTRO, 2012, 30 p.

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    No ano de 2006, o casal Ailton Pereira e Dorvalina Aparecida Belisse Pereira foi convidado a trabalhar em uma empresa na cidade de Umuarama, Paran, deixando para trs sua cidade atual So Jos dos Pinhais eles retornaram a sua cidade natal. Porm, sua permanncia na empresa no durou muito, pois, em meados de 2006, eles foram obrigados a procu-rar outra forma de renda.

    Iniciaram com a fabricao e venda de confeco de peas utilitrias para uso domstico, porm como eram necessrias muitas viagens e isso prejudicava a sade de Dorvalina, no mesmo ano teve-se a ideia de fabricar pamonhas, algo com que ela j havia tra-balhado. O casal passou ento a fabricar e vender as pamonhas de porta em porta. E como a aceitao foi imensa eles decidiram investir neste ramo. Com o aumento crescente de vendas, em 2008, constru-ram sua cozinha industrial.

    Em 2010, eles formalizaram a empresa, qual deram o nome de Delcias de Milho, e alm das pamonhas inicia-ram com a fabricao de cural e de bolos de milho, mas ainda vendiam de porta em porta, at que, no mesmo ano, uma rede de supermercados da cidade se interes-sou pelo produto e passou a vender seus em suas lojas.

    Delcias de milho: respirando a inovao(Ana Maria da Veiga ALI)

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    Com isso o trabalho aumentou e o casal viu a neces-sidade de melhorar o processo para fabricar com maior rapidez. Dorvalina que gastava muito tempo embalando as pamonhas comeou a desenvolver um novo tipo de embalagem onde ela costurava a palha e cozinhava na embalagem plstica de polipropile-no. Foram vrias etapas de teste, at que, em 2011, chegou-se ao modelo que proporcionaria maior efi-ccia na produo e tambm para o consumo.

    A ideia de fabricar pamonha fora do formato tra-dicional facilitaria muito na produo e tambm na melhoria da qualidade do produto, porm Dorvalina comeou a refletir sobre algumas questes, teria a pamonha uma boa aceitao dos clientes estando embalada de forma diferente da tradicional?

    O setor Agronegcio de Umuarama

    Umuarama significa em tupi embu: lugar; ara: clari-dade e ama: sufixo coletivo que indica ajuntamento de pessoas ou coisas, ou seja, lugar ensolarado onde os amigos se encontram, proveniente da tribo ind-gena Xetas. A cidade possui 1.233,7 km2 de extenso territorial e est localizada na regio Noroeste do estado do Paran, a 575 km da capital Curitiba. Com 100.676 habitantes, segundo IBGE de 2010, consi-

    derada uma das principais cidades do estado e do polo da regio AMERIOS (Associao dos Municpios do Entre Rios), constitudo por mais 32 municpios (Altnia, Alto Paraso, Alto Piquiri, Brasilndia do Sul, Cafezal do Sul, Cianorte, Cidade Gacha, Cruzeiro do Oeste, Douradina, Esperana Nova, Francisco Alves, Guaporema, Icarama, Indianpolis, Ipor, Ivat, Japur, Jussara, Maria Helena, Mariluz, Nova Olmpia, Prola, Rondon, Perobal, So Jorge do Patrocnio, So Manoel do Paran, So Tom, Tapejara, Tapira, Tuneiras do Oeste, Umuarama e Xambr).

    Composta pelo solo Arenito Caiua, as principais atividades econmicas de Umuarama so a agrope-curia de Corte e a prestao de servios. Com o desenvolvimento da cidade houve um crescimento das atividades comerciais e industriais e o aumento da populao urbana. Segundo o IBGE, h apenas 7.221 habitantes na zona rural, com isso a agrope-curia de corte acabou tornando-se algo somente para grandes proprietrios, e os pequenos acaba-ram optando por outra forma de renda, sendo o Agronegcio uma das principais atividades que se destaca na regio.. Segundo o economista Carlos Jos Caetano, o termo agronegcio, refere-se ao conjunto de atividades vinculadas com a agropecu-ria, ou seja, o conceito de agronegcio representa, o

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    enfoque moderno que considera todas as empresas que produzem, processam e distribuem produtos agropecurios. Atualmente o agronegcio o mais importante setor da economia do pas, represen-tando 27% do nosso Produto Interno Bruto - PIB, gerando 37% dos empregos e respondendo por mais de 40% das exportaes.

    As origens

    Dorvalina Aparecida Belisse e Ailton Pereira esto casados h trinta e um anos, retornaram a Umuarama no ano de 2006 depois de um perodo em So Jos dos Pinhais, municpio situado na regio metropoli-tana de Curitiba. Com o objetivo de Ailton trabalhar em uma empresa local, uma nova oportunidade que surgira na vida do casal, pois ele havia trabalha-do por longos anos como motorista de caminho. Porm os planos deles no foram concretizados, visto que a empresa passou por dificuldades e o casal teve que iniciar uma nova forma de renda.

    A ideia inicial foi a confeco de peas utilit-rias para uso domstico. Atravs de uma mquina de costura antiga, iniciou-se com a confeco de conjuntos para banheiro, conjuntos para quartos e encomendas em geral. Com muita disposio

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    foram em busca de seus clientes que na maioria das vezes eram de cidades prximas, mas essas viagens acabaram prejudicando a sade de Dorvalina j de-bilitada, o que foi um fator predominante para no continuarem a vender seus produtos.

    A segunda ideia, ainda em 2006, foi descoberta em uma de suas viagens. Ao passar por uma plantao de milho, o casal se despertou para a fabricao de pamo-nhas, algo com que Dorvalina j havia trabalhado junto com sua irm em So Jos dos Pinhais, porm de forma caseira. Nesse mesmo dia o casal procurou a unidade do CEASA de Umuarama (Central de Abastecimento da Secretaria de Agricultura) e os dois adquiriram suas primeiras dzias de milho e, em sua prpria cozinha, transformaram as espigas em pamonhas. Seus pri-meiros clientes foram os seus vizinhos e familiares, e juntamente com eles vieram os elogios que deram mais incentivo para colocar a ideia em prtica.

    E foi o que realizaram, sem nenhuma estrutura fsica de pamonharia, mas com muito esforo. Com essa ideia, eles iniciaram com a fabricao de deus produ-tos. Sem nenhum histrico de empreendedorismo, as atitudes por eles realizadas foram com base na sorte e mais tarde nas tentativas e tambm no erro.

    Delcias de Pamonha

    O processamento da pamonha, principalmente a preparao do milho, exigia tempo para ser re-alizado, por isso eles iniciavam com a fabricao bem cedo para ter o produto pronto no perodo da manh e ter o restante do dia para vend-lo. Eram realizadas produes em dias alternados, pois em alguns dias faltava a matria-prima essencial: o milho. Os equipamentos improvisados da cozinha de Dorvalina foram aos poucos sendo adaptados ao manuseio dirio. E com a ajuda da Vigilncia Sanitria, rgo que tem o objetivo de garantir a in-salubridade e inocuidade dos alimentos produzidos em geral, eles obtiveram o conhecimento terico sobre higiene e segurana alimentar e aprovao para vender seus produtos de porta em porta.

    Mesmo sem estar estruturada como uma empresa e sim como uma forma de renda, eles procuravam sempre melhorar seu produto. J em 2007 comea-ram a fabricar diariamente e a fidelizar seus clientes. Sempre prezando pela qualidade, buscavam por fornecedores bem qualificados, como comenta Dorvalina: O bom produto ele tem que ser desde o plantio mais selecionado e especfico para a pamo-nha. Com esse objetivo a seleo era realizada ainda

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    no plantio, para encontrar as espigas que possuam o ponto certo para se fabricar uma pamonha.

    Em 2008, j com quase dois anos vendendo de porta em porta, eles acreditavam que podiam alar voos mais longos e com uma ideia diferente procuraram um representante de uma rede de supermercado da cidade. Na oportunidade, levaram uma pamonha para que eles pudessem experimentar e comprovar o sabor. Tal qual foi surpresa quando eles foram chamados a participar de uma reunio, nesta foi dada a oportuni-dade de o casal distribuir as pamonhas para uma loja a fim de verificar a aceitao dos clientes. To logo as vendas foram concretizadas, eles passaram a dis-tribuir para as outras lojas da rede, formando quatro ao todo. Com isso as vendas paralelas foram dando espao para atender necessidade do mercado.

    A oportunidade apareceu em boa hora, mas com ela veio o aumento de responsabilidades. Dorvalina viu que no conseguiria mais produzir em sua prpria cozinha e foi buscar sua cozinha industrial. Para isso realizaram um emprstimo no banco e mesmo mo-rando de aluguel construram ao fundo de sua casa a cozinha industrial. A melhoria tambm veio nos equi-pamentos, pois alguns foram adquiridos outros foram

    customizados, mas todos tinham o seu devido valor e eram extremamente uteis na difcil lida com o milho.

    Com seu prprio espao definido, e com tudo o que j haviam alcanado Dorvalina no media esforos para melhorar seu produto, a fabricao era algo muito prazeroso para o casal que sempre especificou a paixo que tinham em trabalhar com pamonhas, porm existia uma parte do processo produtivo que no atendia s necessidades deles, a embalagem. A pamonha se tornou conhecida, pois seu sabor di-ferenciado, deve-se forma como apresentada e realizada sua produo, pois a massa cozida en-volta em duas palhas que ficam dispostas sobre ela para proteger e tambm salientar o sabor tradicio-nal. Dessa forma, embalar as pamonhas exigia mais tempo, o qual poderia ser aproveitado na fabrica-o e nas vendas, com isso eles desenvolveram o prprio mtodo de embalar suas pamonhas.

    Com uma mquina de costura daquelas usada para confeccionar os conjuntos que vendia anteriormen-te, ela realizou o primeiro teste costurou a palha em baixo, colocou a massa cobriu com outra palha, amarrou e levou coco. Pronto, foi descoberta a soluo. A partir da as embalagens passaram por vrios testes, at que depois de utilizar quatro tipos

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    diferentes, ela encontra a considerada ideal, na qual as palhas so costuradas e sobrepostas com uma embalagem de polipropileno, que alm de diminuir o tempo de servio tambm proporciona uma maior qualidade, pois a massa no entra em contato com gua em nenhum momento. A descoberta foi muito til para a empresa, porm como seria a reao de seus clientes? Um produto tradicional poderia ser aceito com caractersticas diferentes?

    Olha a Pamonha!

    Como muitas empresas existentes, a Delcias de Milho, nome dado empresa em 2010, quando for-malizada, foi crescendo e evoluindo ao longo dos anos que passaram, j com uma viso ampliada no segmento em que atua. Ailton realizava um con-trole pequeno sobre a empresa, sempre focado na produo as partes de planejamentos financeiro e administrativo no eram sempre vistas.

    Em meados de 2010, Dorvalina recebe a visita de uma Agente Local de Inovao, oferecendo a oportunida-de de a empresa participar do projeto ALI (Agente Local de Inovao), parceria do SEBRAE com a fundao Araucria. A empresa que j aplicava a ino-vao e nem sabia aderiu ideia de forma completa.

    DELCIAS DE MILHO

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    Assim, foi desenvolvido um plano de ao para dar continuidade inovao e consolidar a empresa.

    No plano de ao estavam includas consultorias financeiras que foram realizadas e essenciais em-presa. Uma das opes sugeridas pelo consultor foi a determinao do ponto de equilbrio da empresa dado este que eles no possuam e que foi primor-dial para o controle de produo. Dessa forma foi identificada a necessidade de planejar as quantida-des de pamonhas que seriam produzidas por dia e qual o perodo em que o produto era mais vendido.

    A implantao de uma estagiria da Universidade Estadual de Maring foi outra medida proposta com o objetivo de realizar pesquisas microbiolgicas, Boas Prticas de Fabricao e um melhor embasa-mento terico entre empresa e universidade.

    Porm, a questo que sempre foi primordial para a Delcias de Milho foi seu mtodo diferente de emba-lagem, como Dorvalina disse: necessrio fazer o que o cliente pede no o que ns queremos. Diante disso, foi necessrio melhor-lo, para isso foi realiza-da uma aproximao com a Agncia Experimental de Marketing, uma empresa da Fundao Cndido Garcia que desenvolveu todo o projeto de readequao de

    marca, incluindo melhoria de design de embalagem com logotipo e etiqueta especfica para cada produto. Com tudo o que foi feito a Delcias de Milho alavan-cou sua marca e distribui as pamonhas, bolos e curais todos etiquetados em embalagem prpria.

    A empresa que chegou a dobrar sua produo diria que j atinge a marca de 500 peas/dia, apenas se reorganizou e pde observar, j no ano de 2011, os resultados que as aes podero proporcionar. Seu faturamento anual aumentou em cerca de 10%, e a empresa que iniciou com a distribuio em quatro lojas de supermercados aumentou seus pontos de vendas com mais duas lojas e mais uma pamonharia da cidade vizinha. Alm disso, foi contratada mais uma colaboradora para auxili-los na empresa.

    O que o futuro reserva

    A Delcias de Milho juntamente com seus proprie-trios esto no caminho certo para a inovao e desenvolvimento. O crescimento da empresa algo certo e com serenidade e muito trabalho logo esta-ro despontado como uma grande empresa.

    As embalagens so o maior orgulho de seus desen-volvedores e devido ao sucesso que proporcionam

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    Dorvalina j est em andamento com o registro de sua marca juntamente com o trabalho desenvolvido pela Agncia Experimental de Marketing.

    Acima de tudo o que fica desta histria de empreen-dedorismo a constante determinao do casal, que atravs de uma necessidade ajustaram e transfor-maram em uma excelente ideia prtica e funcional. Segundo Dorvalina: Melhorar a cada dia mais, estar sempre acompanhando o desenvolvimento do mer-cado, tornando a pamonha conhecida. Este o objetivo da empresa para conquistar e consolidar seu espao cada dia mais.

    Questes para discusso

    Quais foram os comportamentos de empreende-dorismo que voc identificou no casal Dorvalina e Ailton?

    Defina inovao. A embalagem diferenciada de Dorvalina pode ser considerada uma inovao?

    De acordo com o plano de ao adotado pela empresa, o que voc acataria e o que voc suge-riria para melhorar ainda mais a Delcias de Milho.

    Referncias

    SEBRAE/DF. Metodologia para produo de casos e prticas de sucesso do SEBRAE. SEBRAE/DF, 2006.SEBRAE/DF. Historias de Sucesso: Agronegcio Leites e Derivados. SEBRAE/DF., 2007.

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    O ttulo deste texto fala em empreendedorismo e inovao. Mas em essncia o que vem na sequncia, uma histria de coragem. A coragem um fator fundamental para que nossas atitudes sejam efe-tivadas, gravadas no mundo real. No escolhemos a frase que ilustra bem este texto, com autoria de Peter Drucker, por acaso... Este intelectual dos ne-gcios, considerado o pai da Administrao, falava muito na necessidade de ousar, de inovar e de botar pra fazer. Mas o que mais chama ateno em seus textos so suas ressalvas. Geralmente, a maioria delas ligadas busca pelo conhecimento.

    Esta histria a celebrao de que comprometimen-to e dedicao fazem toda a diferena na jornada de quem se dispe a empreender. O objetivo princi-pal de relatar este caso de sucesso comprovar que o conhecimento a argamassa que unificar todos os outros ingredientes do sucesso empresarial. E assim, esperamos como resultado, o aprendizado e a inspirao por parte de quem ler este texto.

    Apresentando: o futuro empresrio

    Heitor Satorelli Jnior hoje um empresrio de su-cesso do vesturio. Tornou-se empreendedor em meio a um ambiente de crise no setor. Dia a dia, vem

    Para ter um negcio de sucesso, algum, algum dia, teve que tomar uma atitude de coragem.(Peter Drucker)

    Quando o empreendedorismo encontra a inovao(Andr Luiz Turetta ALI)

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    superando os obstculos impostos pela economia globalizada e aprendendo a realidade diversa que ser empresrio. De uma coisa hoje ele j sabe: no vai mais desagarrar da inovao.

    Quando mais jovem, Heitor trabalhava com seu pai como ajudante de pedreiro. Em seguida, vieram outras oportunidades de trabalho. Foi funcionrio de uma farmcia, trabalhou em uma lanchonete e tambm j entregou jornais. Natural de Ipor Paran, Heitor sempre teve o sonho de ser empresrio. O que o motivava era a vontade de por prova sua capaci-dade de gerenciar um negcio prprio e tambm de melhorar sua qualidade de vida.

    No entanto, antes de tornar seu sonho realidade, precisaria desenvolver uma srie de habilidades e acessar uma gama de conhecimentos. Em que setor atuar? Por onde comear? Perguntas complicadas para serem respondidas por um jovem de 18 anos. Era 2001, e o setor do vesturio estava aquecido. Em Altnia, municpio que fica h 668 km da capital Curitiba, via-se surgir grandes fbricas prestadoras de servios para indstrias do vesturio de So Paulo.

    Tudo comeou com o declnio da atividade cafeicul-tora no final dos anos 80. A regio de Altnia perdeu

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    um pouco de sua identidade. Com sua economia abalada, era necessrio que o territrio adotasse urgentemente uma nova atividade para alavancar o desenvolvimento regional e melhorar a qualidade de vida e renda da populao.

    Na segunda metade dos anos 90, Heitor observava os pioneiros do setor do vesturio na regio. Algumas marcas prprias, mas a maioria deles, faccionistas de jeans, que trabalhavam em parceria com indstrias de outros estados. A regio ganhava destaque e chamava ateno de todo o estado do Paran com a retomada do desenvolvimento econmico.

    Percebendo a uma oportunidade de crescer e de se desenvolver profissionalmente, Heitor trabalhou de graa em sua cidade para uma confeco por trs meses. Aprendeu a costurar em vrias mquinas. Foi quando sentiu que estava na hora de se candidatar ao cargo de costureiro em uma das maiores confeces de Altnia, que ficava apenas a 20 km de sua cidade natal. Conseguiu o emprego, mudou-se de Ipor e comeou a trabalhar em Altnia. Permaneceu 6 anos na mesma empresa.

    Durante este tempo todo, sua vontade de ter seu negcio prprio s ia aumentando. Entre 2008 e

    2009 passou por outras duas grandes confeces da cidade. Sempre muito observador, procurou en-tender dos processos da confeco. Via como os encarregados de produo trabalhavam. Percebia os pontos fracos e fortes das empresas.

    Nessa poca, junto com outros dois amigos, o jovem sonhador percebeu que j estava na hora de comear a tirar os planos da cabea. Mas no era a hora de execut-los. Seus amigos abriram uma confeco em sociedade e Heitor preferiu aguardar. Ainda no se sentia totalmente preparado: desconhecia alguns processos empresariais difceis de serem percebidos na condio de funcionrio.

    J casado, chegou a trabalhar durante o dia em uma empresa e durante noite, noutra. A renda era curta, e Heitor percebia que sua famlia carecia de uma melhoria na qualidade de vida. Pediu demisso em maio de 2009 e foi trabalhar naquela que seria sua ltima empregadora. Uma grande confeco, que alm de lhe permitir mais conhecimentos sobre o ramo, melhorou sua remunerao.

    Ao iniciar na nova empresa, Heitor estabeleceu uma meta: abrir sua empresa dentro de 6 meses.

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    O incio, as dificuldades e as parcerias

    Durante o segundo semestre de 2009, Heitor vai amadurecendo suas ideias e pesquisando o mercado. Em dezembro, ganha reforo com uma sociedade. Foi fundamental para obter mais segurana e tirar os planos do papel. Ainda naquele finalzinho de ano, conseguiu uma carona para So Paulo atravs da transportadora TransNil. O experiente amigo e motorista Marquinhos foi apresentando as lojas que conhecia no Brs.

    A TransNil foi a primeira parceria de sucesso dos empresrios. A transportadora operava fazendo a lo-gstica de transporte dos lotes de jeans que seguiam para serem costurados em Altnia e regio. Em So Paulo, Heitor teve duas empresas que acreditaram na sua fora de vontade no endosso da TransNil. Heitor foi convidado a retornar ao Brs em janeiro de 2010 para buscar os lotes a serem costurados que servi-riam como um teste para concretizar as parcerias.

    Ainda em janeiro de 2010, nasce a Hazis confeces. Heitor retorna a So Paulo, conforme combinado, e consegue dois lotes de jeans para serem costurados para a empresa Aisha Confort. Na segunda em-presa, a Ka Entre Ns, so disponibilizados para a

    Hazis, 3 lotes. Heitor retorna a Altnia com deman-da certa. Mas ainda faltava o corao da empresa. Como processar estes produtos e entregar no prazo sem mquinas e sem funcionrios?

    Contando com sua rede de contatos, Heitor conse-guiu ajuda dos amigos mais prximos. A empresa MaqFio, acreditou no potencial do empresrio e vendo que o mesmo j possua lotes a serem pro-cessados, resolveu apostar no talento dele. Liberou um financiamento em 10 vezes para as primeiras mquinas. Com muita dificuldade, Heitor e sua scia conseguiram contratar 5 costureiros. Mos obra!

    Com muito trabalho e esforo, os cortes foram con-feccionados e entregues nos prazos. Os setores de controle de qualidade das empresas fornecedoras aprovaram a costura. As parcerias estavam conso-lidadas. O amigo Marco fez as instalaes eltricas sem cobrar nada. Como empresa nova, raramente se obtm crdito no mercado, Heitor contou com a ajuda de amigos para alavancar o capital de giro, j que as empresas parceiras pediam carncia para descontar os cheques no incio.

    Empresa estabelecida, e primeiras dificuldades ven-cidas, a produo comeava a fluir. No meio do

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    primeiro ano de vida do empreendimento, chega a proposta para aumento da produo. A Hazis teria de aumentar suas mquinas e seu pessoal se quises-se manter o contrato com uma de suas parceiras. O risco a ser corrido seria alto, j que a empresa ainda no tinha completado um ano de vida.

    Por coincidncia, uma pequena fbrica estava venda na cidade. Aps uma negociao delicada e bem estudada, Heitor e sua scia adquirem a em-presa, dobrando sua capacidade produtiva. Com a complexidade do design das roupas aumentando, os processos produtivos comeam a apresentar alguns gargalos e a ateno e dedicao dos scios deveriam acompanhar esta demanda.

    Em agosto, a sociedade apresenta sinais de desgaste e discordncia quanto ao gerenciamento do negcio. Os estilos de liderana eram bem diferentes. Heitor sentia que as energias empregadas no negcio por ele e sua esposa Luciene, no eram as mesmas de-dicadas pela sua scia. Heitor se depara com um grande dilema: prosseguir com a sociedade e tentar contornar os gargalos dos processos de alguma forma ou comprar a parte de sua scia e ganhar a liberdade para alavancar a produo a seu modo?

    A chegada da inovao

    Enquanto estas decises e mudanas aconteciam na empresa de Heitor, o Projeto ALI iniciava suas atividades na cidade. A misso era levar a cultura da inovao para as pequenas empresas do setor do vesturio localizadas no territrio. Numa perspecti-va inclusiva, focada no desenvolvimento territorial, o SEBRAE consolida suas parcerias estratgicas com a Prefeitura do municpio e com a Associao Comercial e Empresarial, propiciando total apoio iniciativa do Projeto.

    Ainda no ms de agosto, o agente local visitou a empresa, realizou os diagnsticos contemplados na metodologia do projeto e aps anlise da consulto-ra snior Margarete Vieira, retornou empresa de Heitor com um plano de aes a serem recomenda-das aos empresrios. A devolutiva das anlises foi realizada apenas com Heitor e sua esposa, j que a sociedade j estava desfeita.

    No plano de aes, constavam recomendaes para melhoria das condies de trabalho dos co-laboradores, sustentabilidade dos processos produtivos, melhoria na organizao financeira e participao em capacitaes com o tema empre-

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    endedorismo e planejamento empresarial. Heitor, nesta poca mais costurava e consertava mquinas do que administrava.

    Deparava-se com a rotina de empresrio (se que podemos chamar de rotina, uma vida to dinmica e intensa) e percebia agora, aquilo que no conseguia enxergar quando funcionrio: deveria desenvol-ver uma postura mais estratgica, olhando para o futuro e absorver outros conhecimentos. Precisava acessar informaes sobre gesto de pessoas, pro-duo e tantas outras.

    O ms de setembro comea com uma grande dvida a ser paga pela Hazis. Heitor comprara a parte de sua scia. Teria de produzir mais se quisesse fechar o primeiro ano no azul. Com algumas mudanas na coordenao do negcio e no estilo de liderana, a empresa consegue melhorar sua eficincia. Heitor e sua esposa Luciene, conseguiram um feito: aumen-tar a produtividade em 22%.

    Neste mesmo ms, o Projeto ALI em parceria com o Projeto Polo do Vesturio no Noroeste do Paran do SEBRAE e com o apoio de entidades parceiras no municpio, articula e promove a capacitao Aprender a Empreender Txtil e Confeces.

    Essencial para despertar nos empresrios a impor-tncia do planejamento, da ateno aos controles e custos, mas principalmente, decisiva na sensibi-lizao para buscar solues inovadoras para os produtos e processos.

    Heitor foi convidado a participar da capacitao to-talmente subsidiada pelo SEBRAE e pela Prefeitura do municpio. Alm de novos conhecimentos, fez novos contatos. A capacitao refletiu no seu modo de pensar e de agir como empresrio. A melhora na eficincia conseguida por Heitor e sua esposa foi mantida at dezembro, e a Hazis fecha seu pri-meiro ano de vida com todas as contas pagas. Na viso de Heitor, foi um ano de muitas superaes e descobertas.

    O melhor ainda estava por vir

    Como alguns gostam de dizer nas festividades da passagem de ano: ano novo, vida nova!. No caso do Heitor, estava mais para ano novo, desafios novos!. Mas o casal agora contaria com um novo aliado para inovar. Como a empresa j tinha feito aniversrio, os bancos comeavam a disponibilizar crdito para aquisio de maquinrio e capital de giro.

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    A empresa ainda no tinha a lucratividade que Heitor esperava, ento os funcionrios eram motivados com confraternizaes constantes. Meta batida, contas pagas, era churrasco garantido no final de semana! No ms de maro de 2011, a empresa se muda. Vai para um salo de 280 metros quadrados. O antigo tinha apenas 70 metros quadrados e no permitia re-alizar as melhorias que Heitor tinha em mente.

    O clima organizacional da empresa melhora bastan-te, pois o novo local era mais arejado e permitia uma melhor organizao dos processos produtivos. Apesar do ganho de eficincia, ainda existiam gargalos no sistema produtivo da Hazis. A principal mudana acon-teceria com a aproximao realizada pelo Projeto ALI: Heitor foi apresentado s solues do SENAI e ficou bastante animado com o plano de trabalho.

    Atravs do SEBRAETEC programa do SEBRAE que subsidia em at 80% o valor de solues de transferncia de tecnologia bsica para a peque-na empresa, Heitor pde contratar as solues indicadas pelo ALI. A empresa passou por uma re-adequao do layout das mquinas e tambm por uma reviso e otimizao do fluxo de trabalho. Organizou sua produo em setores (preparao/

    montagem/acabamento), tornando assim o proces-so mais flexvel e fcil de se controlar.

    O empresrio e a consultora Mrcia Pires, acompa-nhavam os novos nmeros, esclareciam as dvidas dos colaboradores sobre os novos mtodos de tra-balho, analisavam o desempenho individual e global da empresa quanto produtividade, alm de aplicar conceitos oriundos da Produo Enxuta e 5 Sensos, o que tornou a empresa mais sustentvel.

    Paralelamente, o Projeto ALI j articulava outro evento na cidade de Altnia em parceria com o SESI/PR. A realizao de uma palestra de sensibilizao sobre a importncia de se atentar para a sade ocupacional e para a segurana do trabalho. Heitor participou da palestra e percebeu que estava devendo este cuidado aos seus colaboradores. A aproximao das solues do SESI foi essencial para a implantao da CIPA na empresa e para a anlise de riscos do ambiente.

    Heitor tinha mais parceiros para o seu negcio. Viu que tinha apoio e prosseguiu com sua postura ino-vadora. Ao final de 2011, com os novos mtodos de trabalho e com as melhorias no ambiente da fbri-ca, foi possvel constatar que a produtividade tinha melhorado bastante. Mais do que isso: Heitor e sua

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    esposa tinham a confiana e o comprometimento de sua equipe garantida, pois o reconhecimento do esforo de todos vinha em forma de melhoria das condies de trabalho.

    Com novos conhecimentos e parcerias, avanar foi algo natural

    Heitor sempre destacou o papel fundamental que sua esposa Luciene desempenhava na empresa. Alm de orientar os colaboradores, acompanhava, ques-tionava e apoiava o esposo nas decises que tinha que tomar. Desde o incio, sempre esteve claro para o empresrio, que no se consegue nada sozinho. Hoje, ele considera indispensvel manter um relacio-namento transparente e amigvel com sua equipe e fortalecer as parcerias com instituies de ensino e tecnologia, clientes e inclusive com os concorrentes.

    Com as dicas e sugestes apontadas pelo Projeto ALI, a partir das anlises realizadas na empresa, Heitor aderiu s solues do SESI/PR para melhorar a sustentabilidade no mbito social de sua empresa. Alm dos servios essenciais, Heitor utilizou o conhecimento da instituio para realizar investimentos na planta: instalou climatizadores, trocou inclusive as cadeiras tradicionais por cadeiras

    ergonomicamente corretas, diminuindo o risco do desenvolvimento de doenas ocupacionais, comuns na indstria da confeco.

    Em 2012, a empresa visualizou uma oportunidade de ampliar sua capacidade produtiva, a partir de uma sinalizao positiva de um parceiro de negcios que lhe fornecia os lotes para serem costurados. O jovem empresrio sempre esteve prximo de seu parceiro e entende que este bom relacionamento, ao longo do tempo, tem favorecido as negociaes.

    A crise no setor do vesturio em funo da recon-figurao do ambiente competitivo internacional ocasionou o fechamento de vrias empresas do ramo na cidade. Embora muitas empresas tenham sido prejudicadas, a Hazis manteve seus nveis de produtividade. O fechamento de algumas indstrias fez aumentar a disponibilidade de sales industriais, e Heitor aproveitou a oportunidade para se mudar pela segunda vez.

    A rapidez com que as mudanas vinham ocorrendo assustava um pouco o casal de empreendedores. No entanto, se analisarmos de perto a situao, verifi-caremos que eles estavam respondendo na mesma velocidade em que o mercado pedia. Era essencial

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    ser proativo e ter dinamismo para manter o neg-cio vivo. O novo salo, alm de possuir instalaes eltricas melhores, era mais espaoso: 500 metros quadrados. O aluguel tambm subiu, onerando seu custo fixo.

    Mas desta vez, o empresrio aprendera a colocar tudo na ponta do lpis. O acompanhamento do Projeto ALI ajudou o empresrio a planejar e imagi-nar cenrios antes de investir. No novo salo, Heitor viu que era possvel responder ao pedido de seu principal cliente. Fez o pedido do carto BNDES e adquiriu maquinrio mais moderno, melhorando ainda mais sua performance e a sua capacidade de processamento.

    No entanto, as contas no batiam. Apesar da mu-dana, era possvel notar que a produtividade ainda deixava a desejar. A melhora de performance an-terior no era suficiente para manter os processos sustentveis por muito tempo. Novamente, Heitor recorreu ao SEBRAETEC para identificar as falhas e san-las. A nova consultoria acompanhou de perto os processos na nova sede. Heitor gostaria de pro-piciar mais estabilidade para seu negcio, agora que contava com um local de trabalho e maquinrio mais adequados.

    Heitor teve de mexer no quadro de funcionrios, atentar para a logstica interna (movimentao de materiais) e retomar alguns pontos na liderana da produo que andavam esquecidos. O trabalho re-sultou num aumento de performance satisfatrio. Ao final dos trabalhos, com a ajuda da consultoria em processos produtivos e com as melhorias das condies de trabalho, o percentual de aumento da produtividade foi de 45%.

    Ainda em 2012, o Projeto ALI em Altnia, articu-lou uma palestra sobre a importncia da Ginstica Laboral na indstria, para melhoria da qualidade de vida dos funcionrios. Como Heitor j havia consta-tado os resultados das solues aproximadas pelo Projeto ALI anteriormente, foi conferir do que se tratava. Resultado: j est na agenda do empres-rio implementar a soluo ainda neste ano. Ser um dos primeiros empresrios da cidade a investir no benefcio para os funcionrios.

    O futuro e o conselho do jovem empresrio

    Nas palavras do empresrio, o jeito novo de tra-balhar mudou completamente... deu certo para a empresa e para os colaboradores. O que ficou claro

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    nesta histria foi a ousadia e a coragem do jovem empresrio, mesmo em meio a crises do setor, inexperincia em gesto e ao tempo e o dinheiro escassos, ele buscou ajuda externa para inovar.

    Se Heitor e sua esposa tivessem se isolado, pro-vavelmente no teriam conseguido estabilizar sua empresa e inovar em seus processos. A Hazis hoje uma empresa modelo para a regio, principalmen-te no que diz respeito ao relacionamento com os funcionrios. Heitor esclarece que se trata de uma relao transparente e de confiana.

    Com o encerramento dos atendimentos pelo Projeto ALI na cidade, visitamos mais uma vez a empresa do Heitor para verificar os resultados nas solues implantadas na empresa. Heitor relata estar muito satisfeito e que est contente, pois comeou a em-presa fazendo certo: buscando conhecimento e investindo em tecnologia. Relata que o Projeto ALI foi muito importante para sensibilizar a empresa quanto a estes investimentos e tambm para faz-lo refletir e planejar melhor as tomadas de decises.

    Para o futuro o empresrio diz que vai focar em tecnologia, pois percebeu que no se trata de algo complexo e que as parcerias com o SEBRAE e com

    o SENAI tem sido fundamentais na implementao de novos mtodos de trabalho. O conselho que ele deixa para os empresrios do setor que nunca desistam diante das dificuldades, que busquem par-ceiros srios de negcio, que fiquem atentos quanto ao abastecimento (relacionamento com os clientes) e que acreditem no sucesso do negcio.

    O casal ainda aponta que necessrio adaptar-se aos novos modelos, referindo-se s solues tecnolgi-cas oferecidas no mercado. E que qualificar a mo de obra essencial para que estes modelos funcionem.

    A Hazis Confeces um caso de sucesso, pois atravs de uma boa rede de contatos, venceu o pri-meiro ano de empresa e fechou no azul. O segundo ano ficou marcado pela gesto da inovao, que permitiu empresa, profissionalizar-se. E daqui em diante a inovao no arredar o p da empresa de Heitor e Luciene.

    Questes para discusso

    Qual foi o momento em que Heitor percebeu que era necessrio investir em inovao?

    Qual a importncia da rede de contatos para o empreendedor?

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    Voc teria coragem de mudar duas vezes de sede em um curto perodo de tempo para aten-der uma nova demanda de produo? Na sua opinio, o que deu segurana a Heitor e sua esposa para fazer isso?

    Heitor afirma ter tido sucesso na implementao de novos mtodos de trabalho. Na sua opinio, que caracterstica do empreendedor permitiu este sucesso?

    Neste caso de sucesso, falou-se em sustentabili-dade (social, no caso das melhorias das condies de trabalho e econmica e ambiental no caso da otimizao dos processos produtivos). Voc j pensou em consultar um profissional para verificar a viabilidade de tornar sua empresa mais sustentvel?

    Heitor sempre teve um sonho. No entanto, teve que estabelecer uma meta para tirar seu sonho do papel e tomar uma atitude. Voc acredita que ele buscou todas as informaes disponveis para comear um negcio ou que ele se arriscou demais no incio? Comente.

    Referncias

    BERTAGLIA, Paulo Roberto. Logstica e gerenciamento da cadeia de abastecimento. So Paulo: Saraiva, 2003.Projeto ALI no Paran. Disponvel em: . Acesso em: 10 maio 2012.REIS, Dlcio R; CARVALHO, Hlio G; CAVALCANTE, Mrcia B. Gesto da inovao: inovar para competir. Braslia: SEBRAE, 2009.SANTOS, Carlos Alberto dos. Pequenos negcios desafios e perspectivas: desenvolvimento sustentvel. SEBRAE, Braslia-DF, 2012. p. 333.SEBRAETEC. Disponvel em: . Acesso em: 25 maio 2012.SENAI para Empresas. Disponvel em: . Acesso em: 22 maio 2012.

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    A ousadia faz parte de seu cotidiano

    As oportunidades favorecem as mentes alertas. Se alguma oportunidade bater sua porta, preciso abri-la. Voc tem que estar receptivo. E eu estava.Peter Drucker

    No ano de 1994, Mauro Raimundo teve interes-se despertado pelo setor metal mecnico, assim buscou no SENAI de Campo Mouro cursos que o agradavam. Primeiro realizou o curso de soldador e logo em seguida o curso de torneiro mecnico. Com a concluso dos dois cursos, comeou a trabalhar na rea na cidade de Campo Mouro.

    Em 2002, Mauro recebeu uma proposta de um amigo, o senhor Jos L., para iniciar uma empresa. O convite estava de acordo com os objetivos pes-soais de Mauro, assim foi o incio de seu primeiro empreendimento, a tornearia JM. A empresa atuava na prestao de servios de torno e solda em geral, sendo o foco a manuteno agrcola.

    Durante a caminhada da empresa e seus contatos e servios prestados para diversos clientes, a tor-nearia JM recebeu uma proposta de parceria do empresrio Ater Cristfoli. Esta proposta acon-teceu em meados de 2007 e se originou de uma necessidade da empresa Cristfoli, que consistia na ampliao da produo de equipamentos para rea da sade (clnicas odontolgicas; clnicas mdicas; hospitais; salo de beleza; veterinrias; e clnicas para tatuagem e body piercing) com a mesma qua-lidade e seguindo as normas da Agncia Nacional

    (Andressa Carina Waideman ALI)

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    de Vigilncia Sanitria (ANVISA). Desse modo, a empresa Cristfoli caminhava com sua busca por in-teressados em fazer parte da rede de fornecedores para terceirizao de servios em srie.

    O caminho para as decises

    A ideia da nova atividade agradou o empresrio Mauro, mas seu scio preferiu continuar com foco na rea de manuteno agrcola. Desse modo, em 2007, os scios entram em um acordo, o senhor Jos passaria a ser nico empresrio da tornearia JM e, aps alguns meses da proposta, Mauro encara o desafio: abre a empresa USICAMPO.

    A empresa Usicampo iniciou suas atividades na Rua Doutor Luiz Carlos Klank, 156, fundo, prximo ao DETRAN, Campo Mouro. A princpio, sua atividade limitava-se a ser um segundo fornecedor de um de-terminado servio para a empresa Cristfoli. J em 2008, aproximadamente seis meses aps o incio do desenvolvimento do processo, da estruturao do barraco e da aquisio dos equipamentos, o em-presrio Ater Cristfoli realizou uma nova proposta. O objetivo agora era a Usicampo no ser somente um fornecedor de servios, mas sim desenvolver e fornecer um produto.

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    Durante ano de 2008 a empresa continuou a fornecer servios para a Cristfoli e em paralelo tra-balhava no projeto do produto, uma tampa de inox para a autoclave. A autoclave um equipamento que realiza a esterilizao dos equipamentos utili-zados em clnicas odontolgicas, clnicas mdicas, hospitais, salo de beleza, clnicas veterinrias, e clnicas para tatuagem e body piercing e o prin-cipal produto vendido pela empresa Cristfoli. J em 2009, a Usicampo conseguiu elaborar o pri-meiro prottipo da tampa de inox da autoclave. O prottipo passou por testes e com a aprovao, foi autorizado o incio de uma produo piloto. No final de 2009, a Usicampo trabalhava com uma pro-duo que demandava entre 50 a 60 peas/ms, sendo que essas peas estavam em desenvolvimen-to e testes.

    Aprovado o lote piloto, a demanda passou de 50 a 60 peas/ms, para 680 peas no segundo ms de produo e 1.200 peas/ms nos perodos seguin-tes. Com a produo 24 vezes maior, o empresrio comeou a identificar as primeiras dificuldades, como: identificar a quantidade e qualificao de mo de obra necessria para atender s necessidades do cliente, como realizar a padronizao da qualidade de produo e do produto, pois o conhecimento era

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    limitado para produo em escala, e as normas de controle, principalmente a produtos ligados a rea da sade, desconhecidas. A instalao eltrica no estava de acordo com a atividade desenvolvida, a infraestrutura tambm no era adequada. Por fim, como realizar os controles financeiros, pois controlar financeiramente 50 a 60 peas/ms e dois funcio-nrios era fcil, mas passando para 1.200 peas/ms e quinze funcionrios, passou a ficar complicado.

    Os desafios chegam como a chuva

    Com a chegada mtua das dificuldades, uma das primeiras aes que o empresrio realizou, foi a listagem de itens a serem trabalhados. Assim, o primeiro item da lista foi a necessidade do controle de qualidade do processo e do produto. As primeiras atividades desenvolvidas foram a criao de uma sequncia de produo, a definio do layout, ou seja, a definio da organizao fsica interna, e tambm a determinao dos setores e das equipes para desenvolver as atividades. Essas aes foram consideradas prioridades, pois no incio das atividades dois funcionrios executavam todo o processo e quando passou para quinze funcionrios na linha de produo, a variao de tempo e qualidade tornou-se evidente, um servio que antes

    era realizado em uma hora, estava acontecendo em uma hora e meia.

    Com a produo em andamento, as dificuldades foram se agravando. Tornando evidentes preocupa-es como a formao do preo de venda e como produzir atendendo s exigncias do cliente. Assim, em acordo com o cliente, Mauro e um representan-te da Cristfoli procuraram o SEBRAE de Campo Mouro. Foram encaminhados para uma consultoria em finanas, onde receberam quatro consultorias com o consultor Cladio Carrasco. O resultado dessas con-sultorias foi a formao do preo de venda adequado para ambos. Com a rea de finanas alinhada, a em-presa sentiu a necessidade de um sistema de gesto, e aproveitando o momento de implantao da nota fiscal eletrnica, buscaram um sistema que atendesse a esta necessidade, e que tambm controlasse o esto-que, no conformidade na produo e nos produtos, tempo e demais atividades da empresa.

    Com o conhecimento de que seu cliente deve-ria atender s normas da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), ficou claro para o empresrio Mauro que seu processo e produto de-veriam tambm estar de acordo com as normas exigidas pela ANVISA, e com a indicao do cliente

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    e percepo do empresrio, identificou-se a ne-cessidade de implantar ISO 9001/2008. Em 2010, iniciou a busca por prestadores de servio para esta implantao. Assim, fechou contrato com uma em-presa de consultoria de Santa Catarina.

    O ano de 2010 foi realmente o incio da qualificao e aprimoramento da equipe Usicampo. A equipe partici-pou do curso de 5S com a empresa de consultoria de Santa Catarina, e de um curso de vendas na Fundao Educere. Em 2011, participaram do curso de Estratgias empresariais no SEBRAE, de uma clnica tecnolgica no SEBRAE, em um curso de auditor interno de qualidade na Faculdade Estadual de Cincias e Letras de Campo Mouro, e ainda realizaram trs consultorias em finan-as no SEBRAE. Em 2012, realizaram um curso da CIPA, consultorias em qualidade e finanas com o SEBRAE, consultorias em Planejamento e Controle de Produo pelo TECPAR, e participao no curso da RDC 59 na Fundao Educere com parceria do SEBRAE.

    No final do ano de 2010, a empresa decide mudar para outra estrutura, Rua Maria Olmpia jardim, 406, prximo rodovia BR 158, Campo Mouro. A nova estrutura, maior e melhor localizada, propiciaria a ex-panso do negcio. Alm do incio das capacitaes, da deciso de mudana, do incio de preparao

    para certificao ISSO 9001/2008, a empresa aderiu ao Projeto Agentes Locais de Inovao (ALI), e teve uma participao ativa de todas as atividades pro-postas, entre elas participou de uma apresentao no SEBRAE/Campo Mouro em 2011, onde relatou para aproximadamente trinta e cinco empresrios suas experincias, dificuldades e a importncia da ousadia para a prtica da Gesto da Inovao.

    Entre os relatos para os empresrios participantes da apresentao no SEBRAE, foi apresentada com emoo, a conquista da certificao ISO 9001/2008 no ano de 2011, e expanso dos negcios da Usicampo. O faturamento da empresa concentrava-se em 99% em um nico cliente, e como isso uma situao de risco, o empresrio verificou que o mercado local e regional, teria demanda para terceirizao de servios de torno CNC. No ano de 2011, diversificou seu negcio, adquiriu o primeiro torno CNC (comando numrico computadorizado) para a Usicampo. Logo no incio saturou a capacidade da mquina nos trs turnos em andamento. Tal resultado gerou a aquisio de mais um torno CNC, e estabeleceu um objetivo para aquisio de um terceiro torno CNC at 2014. Com a diversificao das atividades, a empresa conseguiu diluir para 70% de seu faturamento na mo de um nico cliente

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    e aumento da porcentagem de atendimento das necessidades do cliente.

    O conhecimento tudo

    As mudanas aconteceram a seu tempo, comean-do pela mudana de pensamento do empresrio, de que importante visualizar oportunidades onde os outros no veem. Outras mudanas ainda espera-vam pela identificao das necessidades, adoo de sistemas de gesto, sistemas de controle, cer-tificao, ousadia para nova atividade, incio da melhoria contnua, incio da prtica contnua da Gesto da Inovao.

    O aprendizado adquirido pelo empresrio Mauro proporcionou confiana para a busca de novos horizontes e para o estabelecimento de novos objetivos, nos quais trabalhar para manter quan-tidades significativas de vendas para seus clientes, mas trabalhar para diluir a concentrao de seu faturamento em no mximo em 25% por cliente po-tencial. Tambm buscar aquisio de sede prpria, de mais um torno CNC, a certificao da rea de Usinagem. Mauro comea uma nova fase do seu ne-gcio, seu pblico j diferenciado e seus objetivos j esto traados.

    Questes para discusso

    Em sua opinio, quais foram os momentos cr-ticos que Mauro teve que enfrentar em sua trajetria na empresa Usicampo? Quais atitudes voc tomaria em seu lugar?

    Em sua opinio quais aes a empresa pode-ria desenvolver para se tornar referncia em seu setor?

    Quais atitudes voc recomendaria para o novo desafio, apontado por Mauro?

    Referncias

    AGNCIA NACIONAL DE VIGILNCIA SANITRIA. . Acesso em: 12 abr. 2010.CRISTFOLI BIOSEGURANA. < http://www.cristofoli.com>. Acesso em: 12 abr. 2010.KRAMES, J. A. A cabea de Peter Drucker/ Jeffrey A. Krames (traduo de Afonso Celso da Cunha Serra). Rio de Janeiro:Sextante, 2010.TORNO CNC. < http://pt.wikipedia.org. Acesso: 12 abr. 2010.

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    Esta histria teve incio com o convite de um sobri-nho que participava da feira de produtores rurais e queria ampliar suas vendas, mas precisava de mais produtos. Convidou dona urea Spohr para produ-zir alguns panificados e com ele participar da feira.

    Como a cultura daquela poca tinha um conceito de que mulher deveria sempre estar em casa, e no em busca do mercado de trabalho; dona urea, no pode contar com o suporte do marido, nos passos que pretendia dar rumo ao seu futuro: seguir seu corao e sua vocao para ser empreendedora.

    Ainda que no contasse com o apoio do esposo que no aceitava mulher trabalhando fora de casa, dona urea ficou em dvidas quanto a sua participao; porm com incentivo da filha Cristiane Spohr, pro-duziu cinco pes, oito cucas, 10 pacotes de bolacha e 10 roscas de polvilho, colocou tudo em seu veculo e com muita f, amor, coragem e determinao, se dirigiu feira; pois essa deciso mudaria a vida de toda famlia.

    Ao chegar feira, olhares misteriosos e coment-rios paralelos faziam aumentar o medo e a tenso de um novo momento em suas vidas. Quando seu sobrinho chegou, constrangido teve que dizer que

    Doces sonhos que se tornam realidade(Charles Cardoso de Aguiar ALI)

    O futuro pertence queles que acreditam na beleza de seus sonhos. Elleanor Roosevelt

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    por regulamentos e normas internas elas no eram bem vindas.

    Se sentindo humilhadas, envergonhadas e exclu-das, as empreendedoras recolheram seus produtos e retornaram para o carro, com os olhos cheios de lgrimas se questionando, e agora? Olharam uma para outra e decidiram que venderiam seus produ-tos de casa em casa. Seria um desafio, mas sabiam que com a qualidade e o carinho, com que pre-paravam seus produtos, seria um diferencial para a comercializao.

    E assim aconteceu, venderam todos os seus produ-tos. Haviam no somente superado uma dificuldade, como conquistado uma primeira vitria.

    Na semana seguinte confeccionaram mais pani-ficados, nata, geleias, leite e frutas colhidas na propriedade, compraram uma cesta de vime, e sen-tindo-se mais seguras e confiantes; saram de porta em porta vendendo seus produtos e novamente por onde passavam seus produtos faziam sucesso. Seu pblico comeou a indicar novos clientes, o que au-mentava muito as vendas. E tambm a certeza, de que seu sonho estava comeando a se concretizar.

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    Os produtos eram produzidos na cozinha da residn-cia de dona urea que, com o aumento das vendas, decidiu desativar a sala de ordenha, vender os ani-mais e transformar o local em uma sala de produo. Novos ventos soprando a favor deste seu projeto.

    Construindo uma empresa

    Ao final de 1997, a filha Cristiane se forma em Administrao e resolve ajudar a me em tempo integral. Utilizando seus conhecimentos e tambm auxiliando na produo, conseguiram aumen-tar a produo e passaram a comercializar maior quantidade.

    Nessa poca devido quantidade de trabalho elas contrataram sua primeira funcionria. Foi quando a Cristiane engravidou e para sua alegria, de gmeos. Com a barriga o trabalho ficaria complicado, pois comprometeria as vendas de porta em porta.

    Surgiu a ideia de diversificar os locais de vendas de seus produtos. E assim, deu incio comercializa-o nos mercados da regio. Como os mercados eram prximos de onde residiam, isso facilitaria a entrega. Logo no primeiro mercado o negcio foi fecha