Catálogo para web (e-book)

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Distribuição�gratuita,�proibida�a�venda

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Há�exatos�15�anos,�durante�homenagem�a�José�Simeão�Leal�no�III�Festival�Nacional�de�Artes,�em�João�Pessoa,�o�historiador�José�Otávio�de�Arruda�Melo,�num�momento�de�assumida�perplexidade�e�desconfiança�com�o�rumo�que�teria�o�arquivo�de�Simeão,�recém-chegado�em�nossa�cidade�por�obra�dos�esforços�de�Chico�Pereira,�Iveraldo�Lucena,�Oswaldo�Trigueiro�e�do�próprio�governador�da�Paraíba,�José�Maranhão,�fez�a�seguinte�indagação�aos�presentes:

Alguns�arquivos�e�acervos�de�grandes�personalidades�e�intelectuais�ainda�estão�bem�tratados,�mas�outros�estão�desaparecendo�completamente.�Agora�pergunto:�o�que�vai�ser�feito�do�acervo�de�Simeão�Leal?�Falei�com�Chico�Pereira�sobre�este�assunto,�porque�Simeão�Leal�cedeu�obras�de�arte,�originais,�documentos,�livros...�e�nós�vamos�fazer�o�que�com�isso?�Será�que�vai�ter�o�mesmo�destino�do�acervo�de�Alberto�Torres,�ou�da�documentação�de�Capistrano�de�Abreu,�ou�mais�recentemente,�da�biblioteca�de�José�Honório�Rodrigues?�Inclusive,�teremos�condições�de�preservar,�de�instrumentalizar?�Ora,�porque�preservar�um�arquivo�não�é�apenas�guardar�livros�nas�prateleiras,�documentação,�quadros�nas�paredes�etc.�É�articular,�catalogar,�divulgar,�fomentar�a�presença�de�pesquisadores�para�a�realidade�do�trabalho.

Hoje,�por�sorte�ou�ironia,�temos�as�respostas�para�Arruda�Melo.�Depois�de�peregrinar�entre�os�prédios�do�Hotel�Globo,�da�Biblioteca�Virgínius�da�Gama�e�Melo�(do�Governo�do�Estado)�e�do�Instituto�do�Patrimônio�Histórico�e�Artístico�do�Estado�da�Paraíba-IPHAEP,�o�arquivo�de�Simeão�Leal�foi�destinado�ao�Núcleo�de�Documentação�e�Informação�Histórica�Regional-NDIHR,�da�Universidade�Federal�da�Paraíba,�sob�a�responsabilidade�da�professora�Bernardina�Freire.�A�partir�daí,�técnicos�e�especialistas�passaram�a�levantar�todo�esse�rico�acervo�e,�inclusive�promovendo�diversas�pesquisas�e�trabalhos�científicos�nas�esferas�da�graduação�e�da�pós-graduação.

Após�a�realização�do�seminário��Arquivos�Privados:�Políticas�e�Realidade�,�ocorrido�ao�longo�deste�projeto�contemplado�no�Edital�Conexão�Artes�Visuais,�da�Funarte/�Ministério�da�Cultura�e�com�patrocínio�da�Petrobras,�que�contou�com�a�contribuição�de�uma�dúzia�de�especialistas,�professores�e�técnicos�com�larga�experiência�no�campo�da�arquivologia,�das�artes�visuais�e�da�ciência�da�informação,�concluímos�que�nossas�instituições�mantenedoras�e�custodiadoras�de�arquivos�e�acervos���públicos�e�privados��,�salvo�algumas�exceções,�ainda�não�dispõem�de�recursos�humanos�e�de�conhecimento�técnico�suficientes�para�bem�gerir,�guardar,�manter,�organizar�e,�principalmente�disponibilizar�a�memória�(por�meio�de�documentos�e�atividades)�de�nossos�artistas�e�intelectuais,�de�nossa�cultura.

Mesmo�com�esta�sombria�constatação,�deve-se�tomar�como�exemplo�o�minucioso�(e�apaixonado)�trabalho�executado�pelos�técnicos�do�NDIHR/UFPB,�ao�sensibilizar�alunos�e�professores�dos�cursos�de�Arquivologia�e�Ciência�da�Informação�(Biblioteconomia)�e�promoverem,�em�torno�do�acervo�de�Simeão�Leal,�ações�com�a�finalidade�de�discutir�e�difundir�amplamente,�entre�outros�setores�acadêmicos�e�da�comunidade�paraibana,�a�valorização�e�divulgação�sobre�o��homem�de�cultura�,�José�Simeão�Leal;�como�também�de�desvelar�seu�acervo�para�pesquisas�nos�mais�diversos�matizes,�alimentando�necessidades�acadêmico-culturais.�Ao�mesmo�tempo,�contribuir�na�construção�e�preservação�da�memória�local�paraibana,�fomentando�tecnologias�de�conservação�e�restauro�de�documentos�e�obras�de�arte;�tecnologias�de�documentação�bibliográfica�e�iconográfica;�manutenção�de�arquivos�e�documentos�da�área�de�artes�visuais;�publicação�de�pesquisas�e�de�estudos�ligados�à�imensa�variedade�presente�no�acervo�em�questão;�além�de�tecnologias�de�difusão�e�publicação�em�meios�eletrônicos�e�virtuais.

Ao�final,�pudemos�constatar�que,�infelizmente,�outros�tantos�arquivos�e�acervos�de�artistas�plásticos,�de�críticos�de�arte�e�de�intelectuais�estarão�destinados�ao�esquecimento�e�à�falta�de�incentivo�oficial�se�não�houver�uma�ação�imediata�das�autoridades�competentes�e�responsáveis�por�nossa�memória�cultural.�Graças�à�maciça�presença�de�professores�e�alunos�de�Arquivologia,�Artes�Visuais,�História�e�Ciência�da�Informação�no�seminário���média�de�100�pessoas�em�cada�dia�de�palestra��,�e�na�exposição�iconográfica�(fotobiografia)�exibida�em�um�dos�mais�equipados�espaços�culturais�da�cidade,�a�Estação�das�Artes,�temos�a�esperança�de�que,�pelo�menos,�haverá�um�corpo�técnico�muito�bem�preparado�para�enfrentar�as�adversidades�apresentadas�neste�projeto.�Projeto,�acima�de�tudo,�de�caráter�elucidativo�ao�diagnosticar�a�precária�situação�dos�arquivos���públicos�e�privados���que�guardam�a�nossa�maior�riqueza�cultural:�a�memória.�

Assim,�conclamamos�todos�os�envolvidos�a�refletir�(e�divulgar)�sobre�os�artigos�que�seguem�nesta�documentação,�também,�a�vida�e�obra�desse�paraibano�ilustre,�José�Simeão�Leal�(e�que�estão�disponíveis�no�site:�www.josesimeaoleal.com.br),��...�uma�espécie�de�éminence�grise�da�cultura�brasileira.�,�como�bem�disse�o�escritor�e�intelectual,�Odilon�Ribeiro�Coutinho.

APRESENTAÇÃODyógenes�ChavesCoordenador�do�projeto�José�Simeão�Leal���Gestão�e�Manutenção�de�Acervos�e�Arquivos�em�Artes�Visuais

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As�manifestações�culturais�populares�de�modo�geral�se�fazem�por�caminhos�alheios�aos�da�tradição,�pois�as�formas�de�cultura�talvez�estejam�na�visão�totalizante�do�espaço�e�do�tempo:��é�todo�o�espaço�e�todo�o�tempo�que�se�pretendem�racionais��(TERRA,�1986,�p.�26).�Segundo�a�autora,�o�que�se�vem�verificando�é�um�processo�cada�vez�mais�intenso�de�universalização,�e�a�síntese�de�tal�processo�está�no�desarranjo�dos�valores�que�constituíam�o�passado,�ou�seja,�a�tradição.�

Com�estas�particularidades�José�Simeão�Leal�faz�uma�alusão�àquele�gênero�de�busca�de�informações,�ou�seja,�escritos�para�si�mesmos,�com�anotações�que�dão�conta�da�sua�indagação�(FOUCAULT,�1992),�em�horizontes�culturais�populares,�sendo�ao�mesmo�tempo�testemunha�e�coletor�dessas�manifestações.�Em�suas�pesquisas,�ele�contextualiza�a�manifestação�estudada�e�ainda�esclarece�o�leitor�a�respeito�de�como�foram�realizadas�as�pesquisa,�cujos�conteúdos�despertou�interesse�de�folcloristas�de�época,�a�exemplo�de�Arthur�Ramos,�que�solicita�parte�de�seus�dados�para�utilização�em�uma�de�suas�publicações.�

Suas�coletas�de�dados�seguiam�os�ritos:�levantamento�bibliográfico�de�tudo�que�havia�sido�publicado�nos�mais�diferentes�suportes,�jornais,�revistas,�livros.�Lia�todo�o�material�e�relacionava�o�nome�das�diversas�manifestações�e�suas�respectivas�designações�por�região;�em�seguida�partia�para�o�trabalho�de�campo�visitando�grupos�culturais�populares�e�suas�variadas�manifestações.�Anotava�tudo�o�que�via,�gravava,�utilizando�fios�de�metal�e�fotografava�quando�permitido.

Figura�determinante�no�âmbito�da�produção,�circulação�e�divulgação�das�obras�de�escritores�e�artistas�brasileiros,�Simeão�Leal�foi�um�divulgador�da�cultura�brasileira,�lançando�escritores,�editando�obras�enquanto�esteve�à�frente�do�Serviço�de�Documentação,�do�antigo�Ministério�de�Educação�e�Saúde,�período�que�durou�18�anos,�sete�meses�e�sete�dias.�Em�certo�sentido,�ele�iniciou�no�Brasil�o�movimento�editorial�no�campo�público,�ou�seja,�um�universo�de�intricados�meandros,�de�labirintos�oníricos.�Entrevê-se,�assim,�o�lugar�ocupado�por�José�Simeão�Leal�no�campo�das�letras,�das�artes,�da�cultura,�enfim,�no�campo�intelectual�e�artístico�brasileiro.

No�campo�editorial�público�brasileiro�José�Simeão�foi�um�descobridor�nato�de�talentos�literários,�acreditando�ser�dever�do�estado�à�impressão,�divulgação�e�circulação�de�obras,�sobretudo�as�que�discorressem�sobre�conteúdos�que�retratassem�o�Brasil�e�sua�diversidade,�foi�com�esse�espírito�que�editou�a�Revista�Cultura,�cujas�edições�estenderam-se�por�seis�anos�consecutivos,�através�do�Serviço�de�Documentação�do�

�O�homem�não�tem�uma�única�e�mesma�vida.�Tem�� �várias�arranjadas�de�ponta�a�ponta�.�(AUSTER,�2002)

José�Simeão�Leal,�paraibano,�filho�de�Alfredo�dos�Santos�Leal�e�Maria�de�Almeida�Leal,�nasceu�na�cidade�de�Areia/PB,�completaria�cem�anos�em�13�em�novembro�próximo.�Estudou�no�Lyceu�Paraibano,�uma�educação�tradicional,�pautada�na�estrutura�política�das�velhas�oligarquias,�alvarista,�epitacista�e�depois�americista,�José�Simeão�Leal�foi�educado�na�formação�privilegiada�da�época.�Saiu�da�pequena�cidade�de�engenhos�com�destino�à�capital�paraibana�e,�por�influência�do�pai�ingressou,�em�1925,�aos�dezessete�anos�de�idade,�no�Colégio�Lyceu�Paraibano,�onde�cursou�o�preparatório,�obtendo�grau�sete¹,�descobrindo,�na�ocasião,�o�grande�amigo�de�uma�vida�inteira,�Tomás�Santa�Rosa�Júnior.�Uma�amizade�alimentada�por�razões�pessoais�e�intelectuais�levou-os�a�partilharem�experiências�e�emoções,�até�a�separação�definitiva,�causada�pela�morte�de�Tomás�Santa�Rosa�em�1956,�às�10h30,�no�Hospital�Wellington�em�Nova�Delhi,�na�Índia,�vítima�de�ataque�cardíaco�fulminante,�assistida�por�José�Simeão�Leal�que�em�homenagem�ao�amigo�conclui�a�viagem�ao�oriente�na�companhia�de�Roberto�Assumpção,�percorrendo�monumentos,�embora�deixasse�transparecer�o�sofrimento�da�perda�demonstrado�por�uma�profunda�melancolia�que�o�acompanhara�em�todo�o�trajeto.

Aprovado�em�Medicina�na�Universidade�do�Recife,�e,�após�cursar�o�primeiro�ano,�transferiu-se,�em�1927,�para�o�Rio�de�Janeiro,�em�busca�de�sua�formação�médica�na�Universidade�do�Brasil,�juntamente�com�seus�primos�Aderbal�Almeida�e�Ney,�especializando-se�em�urologia�e�ginecologia,�volta�à�Paraíba,�exerce�cargos�públicos,�realizando�entre�1940�a�1945�pesquisas�sobre�a�cultura�paraibana.

Considerando�o�momento�histórico�dentro�do�qual�vivia�José�Simeão�Leal�(1938-1946),�na�Paraíba,�bem�como�a�prática�cotidiana�que�o�inspirou,�posso�dizer�que,�neste�ponto,�ele�procurou�dar�uma�maior�transparência�das�suas�indagações�etno-antropológicas,�constituída�de�relatos�informais,�de�anotações�de�campo�e�de�observação�a�respeito�das�manifestações�culturais�populares.�Essas�notas�trazem�uma�significativa�contribuição�para�os�estudos�da�cultura�popular,�embora�seus�escritos�permaneçam�sem�nenhuma�repercussão�até�hoje,�a�exemplo�dos�manuscritos�sobre�a�Nau�Catarineta,�os�Congos,�a�Lapinha,�as�danças�africanas,�as�adivinhações,�as�cantigas�de�roda,�entre�outros.

JOSÉ�SIMEÃO�LEAL,�USINA�CULTURAL�EM�MOVIMENTO

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Bernardina�Maria�Juvenal�Freire�de�Oliveira

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Ministério�da�Educação�e�Saúde�em�parceria�com�Tomás�Santa�Rosa,�na�qualidade�de�ilustrador.�Essa�parceria�incitou�não�apenas�essa�iniciativa�de�publicação,�mas�inúmeras�outras,�dentre�as�quais�citamos:�Cadernos�de�Cultura,�Revista�Arquivos,�catálogos�de�exposições�de�artes,�Coleção�Aspectos,�Coleção�Artistas�Brasileiros,�Coleção�Documentos,�Coleção�Letras�e�Artes,�Coleção�Teatro,�Coleção�Vida�Brasileira,�Separatas�de�Cultura,�Separatas�de�Arquivos,�discursos,�programas�de�ensino,�revistas,�jornais,�Coleção�Quadrante,�Coleção�Imagens�do�Brasil,�Os�Novos,�Comédia,�Documenta,�Correio�da�Unesco,�Revista�Branca,�RAL,�Revista�da�FNF�dentre�outras.�

Testemunhando�o�esforço�de�José�Simeão�Leal�em�prol�da�produção�literária�nacional,�Francisco�de�Assis�Barbosa�(2004,�p.�17),�ao�prefaciar�a�obra��A�Vida�Literária�no�Brasil�,�da�autoria�de�Brito�Broca,�registra��não�fosse�à�insistência�de�José�Simeão�Leal,�diretor�do�Serviço�de�Documentação�do�Ministério�da�Educação�e�Saúde,�jamais�teria�sido�publicado�o�livro�que�lhe�daria�notoriedade��[referindo-se�a�Brito�Broca]�e�por�essa�razão�chamou�a�Simeão�Leal�de�pai�do�livro�na�primeira�edição�e�tio�da�segunda,�publicada�por�José�Olympio.

A�dedicação�de�José�Simeão�Leal�extrapolou�uma�preocupação�meramente�quantitativa,�para�embarcar�numa�lúcida�viagem�editorial�com�o�objetivo�de�divulgar�a�cultura�brasileira,�conforme�enuncia�Altimar�Pimentel�(2001)��[...]�para�a�cultura�brasileira�foi,�sobretudo�a�alta�qualidade�dos�livros�que�ele�conseguiu�publicar�no�Ministério�da�Educação,�a�coleção�chamada�Cadernos�de�Cultura,�[...]�uma�grande�quantidade�de�obras�que�dão�uma�visão�geral�da�literatura�no�Brasil,�da�cultura�brasileira,�[...]�da�arte�,�e,�ratifica�Santa�Cruz�(1962,�p.�12-13)�

[...]�nesses�três�anos�de�sua�renovação,�o�Serviço�de�Documentação�do�MEC�editou�mais�de�2�milhões�e�meio�de�volumes,�distribuídos�por�todo�o�Brasil�e�pelo�estrangeiro,�sobretudo�os�de�edições�bilíngues�e�trilíngues,�levando�as�letras,�as�artes�e�a�cultura�brasileira�aos�principais�países�do�Velho,�do�Novo�Mundo�e�da�Ásia.��

O�depoimento�de�Santa�Cruz�chama�a�atenção�não�apenas�para�o�aspecto�quantitativo�do�número�de�publicações,�mas�de�maneira�lúcida�e�serena�para�o�entrecruzamento�entre�leitura�e�circulação.�Trata-se�de�uma�forma�amena�de�revelar�a�expansão�que�ganhou�o�discurso�literário�e�cultural�de�época,�a�partir�da�distribuição�e�circulação�da�produção�editorial�posta�em�prática�por�José�Simeão�Leal,�fonte�de�divulgação�da�cultura�nacional,�com�essa�brasilidade�viva�e�única.�

No�cerne�de�sua�trajetória�de�vida,�inscreveu-se�o�mundo,�fragmentado,�desconexo,�ao�mesmo�tempo�organizado,�com�base�em�um�critério�rigoroso,�bem�articulado�aos�valores�que�o�presidiram.�Em�rápida�passagem�pelo�percurso�de�vida�registra-se�um�Simeão,�médico,�professor,�secretário�de�estado�na�Paraíba,�adido�cultural,�representante�brasileiro�em�vários�países,�jornalista,�editor,�amante�e�pesquisador�da�Cultural�Popular,�membro�fundador�da�Associação�Brasileira�de�Críticos�de�Arte,�diretor�da�Escola�de�Comunicação�e�Artes,�membro�fundador�da�Escola�Superior�de�Desenho�Industrial,�ambas�no�Rio�de�Janeiro,�membro�da�Comissão�Organizadora�da�I�e�II�Bienal�Internacional�de�São�Paulo.�Nesta�última,�atuou�como�curador�da�exposição�que�homenageou�Eliseu�Visconti,�por�considerá-lo��o�verdadeiro�marco�da�pintura�moderna�no�Brasil�,�sem�menosprezar�o�trabalho�de�excepcional�importância�realizado�por�Anita�Malfatti,�Tarsila�do�Amaral,�Lasar�Segall,�Di�Cavalcanti�e�outros,�pioneiros�do�modernismo�no�Brasil.�

Foi�também�coordenador�do�Museu�de�Arte�Moderna�do�Rio�de�Janeiro,�além�de�artista�plástico,�escultor.�Sua�arte�foi�revelada�em�plena�maturidade�intelectual,�assegura�Raul�Córdula�em�1985,�ao�registrar:��artista�plástico�de�linguagem�contemporânea;�e�isto�é�muito�importante�porque�não�se�trata�de�um�homem�idoso,�fazendo�terapia�através�da�arte,�com�o�olhar�no�passado�a�reviver�lembranças,�mas�de�um�artista�com�o�pensamento�no�futuro,�construindo�sua�arte�avalizada�por�uma�grande�experiência�de�vida�.�

Sua�arte,�vinda�a�público�nos�idos�de�1950,�projetava-se�solitariamente,�revelando�entre�linhas�sinuosas,�desenhos,�colagens�e�pinturas�de�cores�mistas,�em�tons�avermelhados�e�fortes,�empregando�materiais�diversificados,�vanguardista�de�uma�estética�contemporânea.�Um�Simeão�múltiplo,�de�fantasia�solta,�frutíferas�em�formas�cinéticas,�ilusionistas,�que�possibilitam�túneis�infinitos�em�espaços�inquietantes.�Sua�obra,�como�afirmou�Flávio�de�Aquino��são�frutos�do�matemático�poeta�.�Assim,�produziu�arte�sem�prender-se�a�determinismos�acadêmicos�e�críticos,�revelando�em�sua�rebeldia�peculiar,�a�livre�expressão,�o�fluir�dos�sentimentos.�

Simeão�viveu�87�anos�de�múltiplos�fazeres�e�viveres.�Como�bem�disse�Rachel�de�Queiroz,��uma�espécie�de�usina�cultural�.�Ninguém�sabe�por�que�se�formara�em�medicina,�mas�deve�tê-lo�feito�cumprindo�aquela�obrigação�a�que�todo��moço�de�boa�família�,�na�província²,�é�praticamente�forçado:�possuir�o�diploma�de�doutor.��Que�eu�saiba�nunca�o�vi�ou�ouvi�falando�em�assuntos�médicos.�E�na�verdade�foi�ele�que�mudou�o�nome�do�Ministério�da�Educação�e�Saúde�para�Ministério�de�Educação�e�Cultura�.

Sempre�interessado�em�artes�plásticas,�foi�diretor�e�consultor�cultural�do�MAM;�nos�últimos�anos�de�vida,�já�meio�combalido�por�aquele�exigente�e�exigido�coração,�o�paraibano�dedicou-se�mais�à�pintura�e�ao�desenho.�Tenho�aqui,�diante�dos�olhos,�o�último�presente�que�ele�me�mandou�(o�nosso�intermediário�era�o�porteiro�dele,�que�fora�antes�nosso�porteiro�aqui�no�Leblon).�É�uma�folha�quase�branca,�com�um�grande�círculo�amarelo-avermelhado,�solitário,�no�meio�do�branco,�dando�uma�impressão�solar�de�luminosidade,�solidão,�beleza�(QUEIROZ,�1996).

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Com�todas�essas�virtudes�literárias,�plásticas�e�culturais,�Simeão�cultivava�a�arte�particular�de�se�fazer�querido.�Encontrá-lo�na�rua,�na�casa�dos�outros,�nas�editoras,�era�sempre�uma�festa,�de�risadas,�de�informações�curiosas,�irônicas,�engraçadas.�Oportunidade�única�para�Rachel�de�Queiroz�testemunhar�em�crônica�a�conversa�interessantíssima�entre�ambos:

A�última�vez�em�que�o�encontrei,�na�rua,�depois�de�conversarmos�um�pouco,�Simeão�se�despediu�às�pressas,�porque�Eloah�já�o�esperava�não�sei�onde�e�eu�disse:��Adeus,�minha�flor�.�E�ele,�que�fizera�a�meia-volta�para�ir�embora,�virou-se�para�mim�e�deu�aquele�sorriso�aberto:��Adorei�ser�sua�flor!�.�Foi�a�última�vez�em�que�nos�vimos.�Falávamos�ao�telefone.�Eloah�às�vezes�se�queixava�das�estripulias�que�ele�cometia�contra�a�saúde;�mas�principalmente�falávamos�de�quem�escreveu�isto�e�aquilo,�de�quem�andava�pintando�uma�barbaridade;�ah,�Simeão,�os�artistas�brasileiros�perderam�um�grande�animador�e�mestre.

Ultimamente�Simeão�andava�mais�esquisito,�queixava-se�Raquel�de�Queiroz.�Já�doente,�quase�não�telefona.��A�gente�fica�velho,�fica�ingrato�,�disse-me�ele�certo�dia.�E�não�se�referia�só�a�ele,�mas�principalmente�a�mim,�velha�também.�Foi�quando�lhe�agradeci�entusiasmadamente�o�quadro�do��sol�vermelho��.�Prossegue�a�autora�em�crônica/homenagem�a�José�Simeão�Leal,�uma�espécie�de�despedida,�pois�a�morte�triunfou:

Ah,�vida,�vida.�Longa�demais,�curta�demais.�Os�melhores�estão�indo�embora,�tantos,�tantos,�que�até�assusta�a�agente,�que�talvez�por�medo�da�solidão,�pensa�em�ir�embora�também.�Será�que�por�aí�está�crescendo�nova�geração�de�boas�cabeças,�de�belos�talentos,�para�tomar�o�lugar�dos�que�se�vão?�Simeão�diria�que�sim,�ele�acreditava�nos�moços,�principalmente�nos�moços.

Assim,�Rachel�de�Queiroz�emenda�as�pontas�do�fio�e�arremata�sua�homenagem�póstuma�ao�grande�amigo,�com�a�discussão�sempre�oportuna�de�que�José�Simeão�Leal�cumpriu�a�vida�de�forma�plena.�Todavia,�Simeão�continua�e�está�entre�nós!

Bernadina�Maria�Juvenal�Freire�de�Oliveira�é�Professora�do�Departamento�de�Ciência�da�Informação�da�UFPB;�Mestre�em�Ciência�da�Informação;�Doutora�em�Letras;�Coordenadora�do�Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação/�PPGCI/UFPB;�pesquisadora�e�admiradora�da�vida�e�obra�de�José�Simeão�Leal.�

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Notas

¹�Conforme�Livro�de�Atas�1920�a�1928,�página�01,�miolo�do�livro,�pertencente�ao�Arquivo�do�Colégio�Lyceu�Paraibano���João�Pessoa/PB.²�Estou�usando�o�termo��província��não�como�uma�unidade�administrativa,�posto�que�para�a�época�o�correto�fosse�Estado,�mas�estou�utilizando-o�com�o�significado�de�uma�região�com�ideias�provincianas�e�arraigadas�nos�moldes�tradicionais�da�classe�média�e�alta�de�ter�um��doutor��na�família.�

Fonte:�Acervo�José�Simeão�Leal�(NDHIR/UFPB)

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SIMEÃO�LEAL,�UM�CÃO�TENTADOR

Francisco�(Chico)�Pereira�da�Silva�Júnior

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Falar�de�José�Simeão�Leal�é�lembrar�um�tempo�da�cultura�brasileira.�De�uma�nação�que�ingressava�na�era�da�industrialização�e�saía�de�uma�ditadura�manipulada�astuciosamente�por�um�civil�que�se�apossara�dos�ideais�revolucionários�de�1922,�eclodidos�em�1930,�episódio�que�incluiria�a�Paraíba,�terra�de�Simeão.

Tudo�isso�passaria�pela�vida�deste�também�astucioso�intelectual�paraibano,�cujas�ações�em�benefício�da�cultura�nacional�começaram�na�Paraíba,�com�uma�aprendizagem�de�certa�forma�telúrica�em�relação�à�paisagem�da�sua�terra�ou�da�própria�sensibilidade�que�seria�sua�principal�ferramenta�para�entender�os�fatos�da�história�e�dos�acontecimentos,�que�teriam,�nele�mesmo,�um�senhor�agente.

A�minha�compreensão�de�José�Simeão�Leal�é�muito�pessoal,�pois�gozei�da�sua�intimidade�num�momento�já�distante�da�glória�e�poder�que�ele�exercia.�Quando�suas�reflexões�sobre�o�mundo�que�ele�vivera�já�esvanecia�pelas�rápidas�mudanças�sociais�e�culturais,�num�país�que�ingressara�no�viés�de�um�desenvolvimento�militarizado,�tecnicista�e�desalmado,�diferente�daquele�vivido�por�ele,�que�mesmo�herdeiro�da�ditadura�do�Estado�Novo�produzira�uma�concepção�de�nação�baseada�nos�princípios�das�identidades�brasileiras,�que�teve�à�frente�pessoas�iluminadas�como�ele.

Tornei-me,�assim,�um�aprendiz�e�menos�arrogante�nas�minhas�concepções,�quando�fui,�devagarzinho,�a�cada�encontro,�descobrindo�nele�o�oráculo�que�tanto�precisava�para�colocar�em�ordem�meus�pensamentos�sobre�arte�e�sobre�certas�coisas�da�vida,�entre�as�quais�aquelas�prazerosas�que�poderiam�ser�consumidas�de�maneira�mais�elegante�e�não�apenas�para�saciar�nossos�desejos�imediatos.

Daí�a�razão,�talvez,�do�meu�desinteresse�em�procurar�Simeão�de�maneira�acadêmica,�como�faz,�por�exemplo,�sua�grande�amiga�(que�ele�não�conheceu),�a�professora�Bernardina�Freire,�que�na�sua�acuidade�sobre�documentos�outros�pertences�de�Simeão,�vai�de�maneira�cirúrgica�recompondo�a�vida�dele,�fazendo�ligaduras,�separando�tecidos,�desinfetando�agentes�nocivos,�aplicando�medicações�que�lentamente�vão�trazendo�à�vida�um�ser�maravilhoso�que�estava�prestes�a�desaparecer�do�nosso�convívio.�Logo�ele�que�tanto�fez�pela�memória�cultural�da�nossa�Paraíba�e�depois�do�Brasil.

Decidi�ver�Simeão�através�da�nossa�convivência,�nas�intermináveis�conversas�na�sua�biblioteca,�local�que�me�abrigava�quando�ele�me�hospedava�em�sua�residência,�no�

Humaitá,�no�Rio�de�Janeiro.�Era�um�local�maravilhoso.�Quieto�e�impregnado�de�sabedoria.�Nem�parecia�ser�abrigo�de�uma�alma�buliçosa.�As�paredes�adornadas�de�Portinari,�Di�Cavalcanti,�Ivan�Serpa,�Milton�Dacosta,�e�pedestais�com�obras�de�Bruno�Giorgi,�entre�as�quais�um�busto�da�sua�Eloah,�sua�companheira�de�todas�as�horas.�No�teto,�móbiles�de�Alexander�Calder,�dos�poucos�em�mãos�de�particulares�no�Brasil.

No�chão�se�pisava�tapetes�persas,�autênticos,�trazidos�por�ele�das�suas�andanças�quando�o�turismo�ainda�não�havia�vulgarizado�o�mundo�exótico.�Móveis�de�Joaquim�Tenreiro�se�espalhavam�pelas�salas.�Sobre�eles�bronzes�de�cêra�perdida�com�imagens�de�divindades�indianas.�Tudo�original,�tudo�de�bom�gosto�para�um�casal�que�sempre�recebia�o�mundo�cultural�e�social�de�um�Rio�de�Janeiro�ainda�Capital�da�República.Por�lá�passavam,�quase�sempre,�Drummond,�Vinicius,�Zé�Lins,�Darcy�Ribeiro,�Rachel�de�Queiroz,�Ataulfo�Alves�e�suas�pastoras,�embaixadores,�políticos,�artistas,�tudo�sob�a�batuta�gastronômica�de�forno�e�fogão�de�Eloah.�Era�um�centro�efervescente�de�ideias�e�de�conversas�numa�época�em�que�a�cultura�e�a�vida�andavam�de�mãos�dadas.

A�transferência�da�Capital�para�o�Planalto�Central�foi�um�terror�para�essa�elite�pensante�que�tinha�assento�nas�coisas�do�governo�federal,�entre�eles�Simeão.�Tirá-lo�do�Rio�de�Janeiro�era�uma�grande�perda,�ele�que�era�um�motor�cultural�a�mover�com�seu�dinamismo�a�produção�de�livros,�de�exposições,�de�intercâmbios,�de�reuniões.�O�Rio�de�Janeiro�não�poderia�viver�sem�Simeão.�Aí�encontraram�uma�solução�quando�foi�deslocado�para�outras�e�novas�tarefas,�encerrando�o�ciclo�iniciado�em�1947,�à�frente�do�Serviço�de�Documentação�do�antigo�Ministério�de�Educação�e�Saúde,�setor�por�ele�transformado�na�mais�instigante�e�produtiva�editora�da�cultura�naquela�época,�além�de�outras�iniciativas�que�tanto�contribuíram�para�o�conhecimento�e�difusão�da�cultura�brasileira�no�país�no�exterior.

A�tudo�isto�que�era�tão�visível�não�se�promovia�Simeão.�Todos�sabiam�das�suas�performances�à�frente�dessas�iniciativas,�e�de�tão�natural�sua�generosidade,�encarada�por�ele�como�um�dever�de�ofício,�que�grande�parte�desses�acontecimentos�não�é�citado�nos�registros�e�documentos�da�época.�Hoje�se�fazendo�necessário,�por�quantiguidade,�buscar�essas�informações,�coisas�que�certamente�já�se�faz�a�partir�de�exames�do�seu�próprio�fundo�arquivístico,�sob�os�cuidados�da�UFPB.

Houve�um�momento�em�que�fiquei�muito�apreensivo�com�o�destino�desse�acervo�que�aportou�na�Paraíba,�entregue�que�foi�

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ao�Governo�do�Estado,�um�patrimônio�gerado�pelas�ações�de�uma�pessoa,�testemunha�e�agente�de�uma�época�heróica�e�emblemática�para�o�Brasil,�quando�a�nação�ainda�trafegava�na�dependência�dos�agentes�externos�e�precisava�encontrar�seu�verdadeiro�perfil�cultural,�ainda�embaçado�pela�sua�origem�ibérica,�escravocata,�agropecuarista�e�semi-industrial.

Se�o�movimento�de�22�e�a�Revolução�de�1930�não�se�completaram�na�sua�essência,�desviados�que�foram�pelas�oligarquias�e�interesses�dos�Estados�hegemônicos,�a�cultura�buscava�em�si�mesma�encontrar�caminhos�próprios�entre�influências�externas�e�identidades�regionais,�num�país�de�dimensões�continentais,�sem�estradas�e�de�pouca�instrução.�Uma�federação�que�só�no�Estado�Novo�é�que�veio�forçosamente�a�se�reconhecer�como�uma�grande�nação,�muito�mais�pela�propaganda�getulista�da�era�do�rádio�ou�mesmo�da�programação�de�uma�base�educacional�unificada�de�cunho�ufanista�e�nacionalista,�do�que�propriamente�por�uma�ação�crítica�de�seus�valores.

A�presença�de�Simeão�na�cena�pós-getulista�veio�atender�essa�necessidade,�não�por�ele�projetada,�mas�pela�oportunidade�que�ele�se�apropriou�de�fazer�despontar�e�rolar�as�boas�ideias,�diferentes�modos�de�pensar,�das�novidades�e�das�coisas�que�se�faziam�importantes�circular�em�todos�os�lugares,�de�se�conhecer�o�Brasil�pelos�brasileiros�e�não�só�no�território�dos�que�já�sabiam�das�coisas.�De�se�projetar�e�reconhecer�as�tradições�da�cultura�popular,�das�expressões�da�cultura�erudita,�da�geografia�revisitada,�da�história�brasileira�vista�sob�diferentes�visões;�também�sobre�as�culturas�emergente�do�pós-guerra�que�se�desdobravam�na�Europa�e�nos�Estados�Unidos,�procurando�entender�o�mundo�ressurgindo�das�cinzas,�as�novas�estéticas,�as�novas�ideias�filosóficas�e�as�contradições�culturais�advindas�da�Guerra�Fria.

Paralelo�à�produção�de�livros,�coletâneas,�revistas�e�outras�iniciativas,�uma�vasta�documentação�subterrânea�de�cartas,�bilhetes,�recados,�ou�de�forma�clara�papéis�oficiais,�revelam�uma�intensa�correspondência�entre�ele�e�os�que�ele�editava�ou�protegia,�num�projeto�despojado�para�amplificação�da�cultura�nacional.�Ele�sabia�da�importância�dessa�atitude,�e�os�outros�da�certeza�de�que�na�mão�dele�as�coisas�aconteciam.�Entre�tantos�documentos�dessa�natureza,�alguns�de�carinhosas�intimidades�como�um�bilhete�de�Drummond�perguntando�a�Simeão�se�ele�já�acrescentara�uma�cordinha�no�violão�do�seu�livro��Viola�de�Bolso�,�da�coleção�Cadernos�de�Cultura,�ou�de�Câmara�Cascudo�indagando�se�ele�já�havia�colocado�mais�um�madeira�na�sua�jangada,�naturalmente�se�referindo�a�edição�do�livro��A�Jangada�,�

obra�em�que�o�autor�descreve�a�origem�dessa�embarcação�tão�comum�na�paisagem�dos�mares�nordestinos,�uma�das�mais�belas�obras�editada�por�Simeão.

Com�uma�postura�sempre�bem�humorada,�Simeão�conquistava�mentes�e�corações.�Disse-me�uma�vez�sua�esposa,�Eloah,�que�o�que�mais�atraiu�sua�atenção�em�Simeão�fora�a�sua�inteligência.�Por�outro�lado�disse-me�ele�certa�vez,�julgando�a�si�próprio:��sou�um�sujeito�feio,�mas�não�sei�por�que,�as�mulheres�me�adoram�.�Certamente�ele�sabia�que�era�seu�charme,�certo�encantamento�no�vestir,�o�seu�linguajar�de�paraibano�num�meio�sofisticado,�sem�procurar�ser�diferente,�sendo�ele�mesmo,�às�vezes�explosivo�diante�do�cinismo�ou�da�burrice,�coisas�que�ele�não�perdoava.

Sempre�fora�assim,�dizem�os�mais�velhos�que�o�conheceram�no�tempo�do�Serviço�de�Documentação,�da�embaixada�no�Chile,�na�criação�da�Escola�Superior�de�Desenho�Industrial�do�Rio�de�Janeiro.�Para�mim,�a�partir�da�época�que�o�conheci,�quando�me�encontrava�à�frente�do�Museu�de�Arte,�em�Campina�Grande,�em�1969.�E�então�nos�sucessivos�cargos�que�ele�veio�ocupar�e�que�pude�testemunhar,�a�exemplo�da�Escola�de�Comunicação�da�UFRJ�ou�no�Museu�de�Arte�Moderna,�o�MAM�do�Rio�de�Janeiro.

Tive�o�privilégio�da�sua�convivência�e�intimidade�por�mais�de�vinte�anos.�Tornei-me�um�confidente�das�suas�alegrias,�dores�e�decepções.�Muitas�das�quais�confirmadas�a�mim�por�Eloah,�durante�os�dias�em�que,�ao�seu�lado,�íamos�empacotando�o�grande�acervo�que�veio�a�ser�doado�à�sua�Paraíba.�A�mesma�Eloah�que�tantas�vezes�nos�serviu�à�mesa,�que�participou�das�nossas�conversas,�mas�que�nunca�se�mostrara�na�sua�intimidade,�e�que�só�com�muita�solicitação�permitiu�que�eu�incorporasse�ao�acervo�suas�cartas�íntimas,�reveladoras�do�amor�e�da�grande�companheira�que�foi�de�Simeão,�demonstrado�no�enorme�esforço�que�teve,�doente�e�na�velhice,�de�organizar�tudo�que�era�a�vontade�de�Simeão�para�que�esse�testemunho�documental�não�se�perdesse,�e�nele�se�incorporasse�para�a�posteridade�as�provas�da�sua�lealdade.Quando�me�foi�confiado�essa�tarefa�por�Simeão,�pelo�que�ele�sabia�de�mim,�certamente�não�seria�eu�a�pessoa�ideal�para�organizar�sistematicamente�seu�acervo.�Mas�tenho�certeza�que�tanto�ele�como�Eloah�sabiam�que�eu�poderia�encontrar�caminhos�para�que�esta�preciosidade�não�se�perdesse.�Eles�estavam�certos.�Daí�porque�nossas�providências�não�foram�particulares,�mas�engajadas�pelas�autoridades�paraibanas�que�se�mostraram�sensibilizadas�com�a�responsabilidade�da�vinda�do�acervo,�fato�que�testemunhamos.�O�então�Secretário�de�

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Chico�Pereira�e�o�governador�José�Maranhão�na�mostra�em�homenagem�a�Simeão�Leal,�1997

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Educação�e�Cultura,�Prof.�Iveraldo�Lucena,�que�não�mediu�esforços�para�essa�empresa,�custeando�as�despesas�dessa�transferência.�O�gerente�da�VASP�na�Paraíba,�João�Madruga,�que�junto�à�direção�da�empresa�montou�uma�verdadeira�operação�de�guerra�para�transportar�de�avião�centenas�de�caixas,�superando�sutilmente�problemas�de�ordem�fiscal�e�sem�contabilização�nominal�do�material.�E�o�próprio�Governador�da�época,�José�Targino�Maranhão,�que�se�envolveu�diretamente,�se�responsabilizando�pelo�acervo�e�fazendo�sua�apresentação�pública�no�Palácio�do�Governo.

A�partir�dessa�operação,�muitos�percalços�aconteceram,�pois�não�estávamos�ainda�preparados�para�receber�tamanha�demanda.�Mas�é�importante�registrar�a�presença�da�bibliotecária�Débora�Chaves�na�primeira�tarefa�de�catalogação�das�obras�(infelizmente�extraviada�por�conta�das�andanças�do�acervo),�e�de�tantos�outros�colaboradores�que�se�envolveram.�Importante�também�lembrar�a�presença�do�artista�plástico�e�pesquisador�Dyógenes�Chaves,�responsável�que�foi�pela�embalagem�e�transferência�de�esculturas�em�ferro�que�permaneciam�no�Rio�de�Janeiro,�que�exigiam�embalagens�especiais�e�por�isto�não�foram�enviadas�naquele�primeiro�momento.

Mas�registramos�que�foi�exatamente�a�presença�da�Profa.�Bernardina�Freire,�contratada�com�a�sua�equipe�de�estagiários�pela�Subsecretaria�de�Cultura�que�o�acervo�de�Simeão�tomou�finalmente�um�destino,�a�partir�da�recuperação�de�documentos�e�dando�início�à�sua�catalogação,�registros�que�contribuíram�para�a�sistematização�do�acervo�e�sua�transformação�num�fundo�arquivístico�que�toma�corpo�como�fonte�de�pesquisa�e�de�apresentação�pública�do�seu�valor,�por�meio�de�exposições,�publicações�e�de�encontros�cada�vez�mais�frequentes�e�que�vão�reconstruindo�a�personalidade�de�Simeão�e�suas�ações.

E�é�exatamente�pela�modéstia�de�Simeão�em�não�divulgar�seus�feitos�que�se�estabeleceu�uma�lacuna�referente�às�suas�ações.�Conhece-se�a�obra�mas�não�se�sabe�do�seu�criador.�Daí�a�importância�de�se�mostrar�por�inteiro�seu�perfil�para�que�o�Brasil�não�só�o�reverencie�mas�se�reconheça�nele�o�elo�perdido�de�uma�corrente�sem�o�qual�não�se�pode�compreender�um�período�histórico�decisivo�para�afirmação�da�cultura�brasileira.

Essa�tarefa�cada�vez�mais�atraindo�pessoas,�mais�do�que�uma�trabalho�de�investigação�e�descobertas�traz�em�si�a�força�carismática�de�Simeão.�É�um�imã�de�grande�força�que�passa�a�exercer�uma�energia�gravitacional�para�os�que�dele�se�aproximem.�Essa�atração�possivelmente�ele�já�sabia.�Daí�sua�

preocupação�para�que�seu�acervo�não�se�perdesse�ou�se�despedaçasse.

Mas�do�que�uma�afirmação�de�valor�documental,�o�acervo�de�Simeão�Leal�está�se�transformando�também�numa�coisa�sentimental,�projetado�através�das�suas�imagens,�das�suas�correspondências�e�seus�trabalhos�artísticos.�Não�é�por�menos�que�numa�carta�a�ele�dirigida�por�seu�grande�amigo�Roberto�Asumpção,�então�embaixador�brasileiro�na�França,�sobre�as�peripécias�do�nosso�conterrâneo,�chamou-o�certa�vez�de��Cão�Tentador�,�certamente�por�conta�do�seu�charme�em�envolver�pessoas�à�sua�convivência.

Gostaria�imensamente�que�todos�vocês�tivessem�gozado�como�eu�da�amizade�e�da�convivência�de�Simeão.�Posso�afirmar�que�ter�tido�essa�oportunidade�foi�também�um�privilégio�e�uma�felicidade.�Infelizmente�ele�que�não�se�deixava�entrevistar,�me�aguardou�muito�tempo�para�essa�tarefa.�Eu�achava�que�Simeão�era�eterno.�E�negligenciando�essa�oportunidade�perdemos�para�sempre�confidências�e�detalhes�da�sua�vida,�industriosa,�reta�e�dignificante.

Nunca�me�perdoei�por�esta�falha.�Acho�que�vou�ter�que�me�explicar�a�ele�quando�nos�encontrarmos�algum�dia�em�qualquer�lugar�do�infinito.�Até�lá�vou�me�penitenciando�ajudando�como�posso�na�difusão�da�sua�obra.

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Francisco�(Chico)�Pereira�da�Silva�Júnior�é�Artista�plástico,�professor�aposentado�do�Depto.�de�Artes�Visuais�da�UFPB�e�membro�da�ABCA�

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O�perfil�que�geralmente�guardamos�ou�fixamos�de�José�Simeão�Leal�dá�cores�fortes,�destaca�o�administrador�cultural�com�alma�de�artista.�Era�esta�a�sua�grande�inclinação,�o�seu�gozo�espiritual�insuspeitável�até�quando,�no�ambiente�do�Rio,�fazendo�Medicina,�as�artes�começam�a�exercer�sobre�ele�o�seu�sortilégio.�

Vinha�de�uma�família�política�que�chegara�ao�poder�com�o�Monsenhor�Walfredo�Leal,�até�aí�limitada�às�fronteiras�do�Estado,�culminando�com�o�estrelato�de�José�Américo,�seu�tio,�que�se�converte�em�legenda�nacional,�alçado�ao�cume�da�Revolução�de�30,�do�grande�ministro�das�secas,�do�candidato�à�presidência�e,�num�extremo�de�autoridade�moral�e�intelectual,�no�homem�que�deu�um�basta�à�ditadura�de�Getúlio.�

Simeão�tinha�tudo�para�atuar�e�pontificar�na�política.�Tinha�até�experiência�administrativa�nos�seus�primeiros�anos�de�formado,�na�Paraíba,�com�passagem�discreta�pela�imprensa.�Moderno,�bem�informado,�criou�como�auxiliar�de�segundo�escalão�no�governo�da�Paraíba�o�DSP,�o�Departamento�de�Serviço�Público,�uma�espécie�de�DASP,�o�antigo�órgão�federal�que�ditava�as�ordens�no�comportamento�do�servidor�público.�

José�Simeão�poderia�ter�crescido�nessa�área,�chegado�à�Câmara,�ir�até�mais�longe,�e�ser�nome�de�uma�das�nossas�ruas�importantes.�

Mas�encantou-se�pelas�fantasias�da�vida�cultural�incrementadas�pelo�apego�à�leitura,�a�sua�grande�formadora,�desde�a�leitura�clássica�das�estantes�da�Paraíba�à�leitura�dos�modernos,�a�mesma�de�que�se�abeberava�o�seu�contemporâneo�na�Paraíba,�Mário�Pedrosa.�Pedrosa�é�um�pernambucano�criado�e�bem�vivido�na�Paraíba.�De�uma�família�igualmente�política.�Como�Simeão,�emigrou�cedo,�mas�por�motivações�diferentes.�Não�deviam�se�cruzar�politicamente:�Pedrosa�foi�à�Europa�formar�no�exército�de�trotskistas;�Simeão,�sem�ser�seu�contrário,�sem�ser�um�alienado,�limitava-se�a�acompanhar�esse�tempestuoso�cenário�com�seus�personagens�e�figurantes.�

E�deu-se�às�artes.�Nem�tanto�para�assiná-Ias,�o�que�fazia�com�muita�discrição�e�parcimônia,�mas�pelo�encantamento�que�ele�se�dispôs�a�dividir�com�o�público,�sobretudo�com�os�que�não�tiveram�os�seus�privilégios�de�formação�e�cultura.�

Simeão�foi�tão�comunista�quanto�Mário�Pedrosa,�não�pelo�manual�do�marxismo�ou�pela�filiação�ao�partido,�mas�pelo�seu�papel�na�socialização�cultural.�

Ninguém,�em�tempo�algum,�conseguiu�difundir,�distribuir�instrumentos�de�formação�intelectual�ou�cultural�mais�do�que�a�simples�divisão�do�MEC�confiada�no�fim�dos�anos�40�ao�nosso�Mecenas�público.�

A�Livraria�Globo,�dos�irmãos�Bertaso,�de�Porto�Alegre,�foi,�como�empresa�particular,�um�gigante�na�divulgação�da�literatura�e�do�pensamento�clássicos�num�momento�em�que�os�monoglotas�do�Brasil,�para�conhecer�Dostoiévski�ou�Goethe,�tinham�de�recorrer�às�traduções�importadas�de�Portugal.�Não�tenho�nada�contra�os�avós�portugueses,�devo-lhes�grandes�favores�e�grandes�momentos�de�absorção�literária�quando�os�vejo�no�seu�próprio�texto,�de�Camões�a�Saramago.�Mas�como�tradutores,�pelo�menos�os�que�nos�chegaram,�eram�mais�eles�do�que�os�autores.�Camus�português�fica�devendo�muito�ao�Camus�da�escola�de�tradutores�brasileira.�Na�tradução�do�Werter,�só�como�exemplo,�Antonio�Feliciano�de�Castilho,�o�tradutor,�tem�seu�nome�no�lugar�de�Goethe.�E�assim�a�maioria�das�obras�que�compõe�o�acervo�de�traduções�dos�clássicos�estrangeiros�pelo�nossos�co-irmãos�do�além-mar.�

Quase�como�um�recado,�uma�mensagem�alvissareira,�José�Simeão�inicia�a�sua�universidade�humanística,�dos�Cadernos�de�Cultura,�com�a�lição�de�Paulo�Rónai�no�número�3�da�coleção,�que�é�a�Escola�de�Tradutores.�É�o�papel�dessa�escola�que�possibilita�o�programa�de�difusão�clássica�da�Editora�Globo.�

É�preciso�ver�a�riquíssima�abrangência�da�coleção�universitária�dos�Cadernos�de�Cultura.�Feitos�para�ensinar,�para�informar�e�formar�em�todos�os�ramos�da�atividade�cultural:�teatro,�música,�artes�plásticas,�artes�visuais,�biografias,�poesia,�numa�sucessão�de�títulos�jamais�alcançada.�Foi�esta�coleção�que�me�salvou�da�cultura�de�almanaque,�oferecendo-me�alguma�profundidade�naquilo�que�compete�a�um�jornalista�e�homem�de�letras�saber.�

Quem�Simeão�chamou�para�me�oferecer�alguma��fumaça��sobre�Arquitetura,�eu�que�não�sou�coisa�nenhuma�em�matéria�de�especialização.�Chamou�ninguém�menos�que�Lúcio�Costa,�com�seu�Caderno�sobre�a�Arquitetura�Brasileira.�Deixei�de�ver�as�coisas�como�um�cego.�A�maior�lição�sobre�o�conto,�a�narrativa�que�teve�no�tempo�de�Simeão�seu�grande�momento�no�Brasil,�a�maior�lição�me�veio�do�livrinho�de�Herman�Lima,��Variações�sobre�o�conto�.�Lição�que�nunca�perdeu�a�atualidade,�que�me�deixa�sobranceiro�tanto�para�ler�o�conto�clássico�de�Maupassant�como�o�de�Katherine�Mansfield�ou�de�Cortazar.�Ganhei�certa�consciência�e�isso�me�inibiu.�

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SIMEÃO�LEAL�ENSINOU�O�BRASIL�A�LER...

Gonzaga�Rodrigues

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Hoje,�minha�contribuição�se�fará�em�torno�da�presença�de�José�Simeão�Leal�nos�cenários�culturais�brasileiros�em�três�momentos�de�sua�vida�profissional�e�pessoal.�No�primeiro�momento,�será�abordada�sua�atuação�como�editor�público�do�Serviço�de�Documentação�do�Ministério�da�Educação�e�Saúde�(MES),�posteriormente�denominado�Ministério�da�Educação�e�Cultura�(MEC),�dando�ênfase�à�herança�recebida�por�ele�neste�lugar�de�divulgação�cultural,�que�foi�este�ministério,�e�sua�contribuição�original.�

Em�seguida,�veremos�como�Simeão�Leal�saiu�de�seu�gabinete�no�9º�andar�do�Palácio�Capanema�e�foi�ao�encontro�da�cultura�popular�tendo�realizado�importante�trabalho�de�coleta�de�registros�da�cultura�popular,�material�que�se�encontra�em�seu�Arquivo�Privado�Pessoal�e�ainda�inédito.

No�terceiro�momento,�abordaremos�a�experiência�de�José�Simeão�Leal�como�artista�plástico�dando�destaque�para�as�exposições�que�realizou�e�as�características�de�sua�produção�artística.�

O�Ministério�da�Educação

O�Ministério�da�Educação�e�Saúde�foi�criado�por�Getúlio�Vargas�em�14�de�novembro�de�1930�com�o�nome�oficial�de�Ministério�dos�Negócios�da�Educação�e�Saúde�Pública.�Tornou-se�Ministério�da�Educação�e�Saúde�em�13�de�janeiro�de�1937�e�foi�transformado�em�Ministério�da�Educação�e�Cultura�em�25�de�julho�de�1953.�Funcionou�de�1945�a�1960,�ano�de�transferência�da�capital�do�país�do�Rio�de�Janeiro�para�Brasília,�no�edifício�conhecido�como�Palácio�Gustavo�Capanema,�chamado�assim�em�homenagem�ao�seu�idealizador�e�ministro�da�Educação�e�Saúde�durante�o�período�de�1934�e�1945.�

Ao�chegar�ao�Ministério�da�Educação�e�Saúde�(MES),�José�Simeão�Leal�se�deparou�com�a�herança�desse�famoso�ministro�que��deu�respaldo�a�artistas�renovadores,�que�buscavam�uma�linguagem�para�um�novo�Brasil��(SEGRE�et�al,�2005,�p.5).�A�concepção�do�edifício�partiu�da�necessidade�de�diferenciá-lo�do�modelo�de�edifícios�estatais�que�estavam�sendo�construídos�durante�o�primeiro�governo�Vargas.�O�Palácio�teve�como�referências�para�sua�concepção�artistas�de�vanguarda,�como�Le�Corbusier,�Portinari,�Bruno�Giorgi,�Lúcio�Costa�e�Oscar�Niemeyer,�nele�foram�integradas�obras�de�arte,�esculturas�e�murais,�com�a�arquitetura�moderna�representativa�das�novas�ideias�que�circulavam�entre�os�grupos�intelectuais�no�Brasil�e�no�exterior,�mas�buscavam�construir�sentidos�e�representar�algumas�das�peculiaridades�da�cultura�nacional,�como�uma

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Quantas�lições�a�universidade�dos�Cadernos�de�Simeão�Leal�não�difundiu?�Tenho�a�impressão�que�chegaram�a�mais�de�180�títulos.�O�finado�Waldemar�Duarte�conseguiu�reunir�a�coleção�completa.�Um�tesouro�que�a�cultura�oficial�de�hoje�está�longe�de�avaliar.�A�cultura�oficial�de�hoje,�em�cujo�Ministério�ninguém�sabe�o�titular,�está�longe,�muito�longe�de�se�advertir�da�imperiosidade�de�uma�reedição�dos�Cadernos.�

Não�se�limitou�a�ser�homem�de�uma�arte�só.�Abraçou�todas�as�artes,�na�sua�paixão�humanística,�no�gozo�de�suas�descobertas,�quando�disponibilizou�em�mãos�distantes�e�remotas�o�saber�que�as�metrópoles�ainda�hoje�concentram.�Ensinou�o�Brasil�a�ler�dando�grandes�gargalhadas�das�boas�intenções�do�Padre�Anchieta,�que�no�verso�de�Machado�de�Assis,��Ensinava�sorrindo�às�outras�gentes�/�Pela�língua�do�amor�e�da�piedade�.�Com�seu�humor�crítico,�era,�também,�a�língua�de�Simeão.

Luis�Gonzaga�Rodrigues�é�Jornalista�e�escritor�paraibano,�ex-presidente�da�Associação�Paraibana�de�Letras

A�PRESENÇA�DE�JOSÉ�SIMEÃO�LEAL�NOS�CENÁRIOS�CULTURAIS�BRASILEIROS�Kelly�Cristiane�Queiroz�Barros

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imagem�de�homem�e�de�mulher�brasileiros,�assim�como�histórias�universais�como�o�projeto�da�escultura�do�Prometeu�acorrentado�de�Lipchitz�e�o�Julgamento�de�Salomão.

Apesar�das�idas�e�vindas�do�projeto,�o�palácio�Capanema�foi�inaugurado�em�3�de�outubro�de�1945�(GOMES,�2000)�e�tornou-se�símbolo�da��mentalidade�do�ministro�e�seu�desejo�de�converter�o�MES�em�um�centro�de�cultura�artística�[quer]�ficou�demonstrado�na�intenção�de�adquirir�obras�de�pintores�da�vanguarda��(SEGRE�et�al,�2005,�p.�12).�

O�ministério�era�considerado,�entre�os�próprios�intelectuais,�como�um�lugar�especial.�Deste�local�foi�construída�uma��imagem�de�um�espaço�distinto�do�restante�do�aparelho�de�Estado��(GOMES,�2000,�p.14),�um�lugar��arejado�,�heterogêneo,�um��ministério�'revolucionário'��(GOMES,�2000,�p.15).�

No�período�em�que�Capanema�foi�ministro�da�educação,�foi�estabelecida�uma�rede�de�sociabilidades�entre�o�ministro�e�os�intelectuais�brasileiros�de�destaque�nas�décadas�de�1930�e�1940.�Foi�neste�lócus�e�com�esta�herança�que�José�Simeão�Leal�se�deparou�e�desenvolveu�suas�ações�inovadoras�como�divulgador�cultural.

O�processo�de�transformação�desse�ministério�em�um�agente�de�cultura�já�vinha�se�delineando�desde�a�década�de�1940�e�José�Simeão�Leal�fez�parte�do�período�mais�dinâmico�deste�processo,�remodelando�e�ampliando�as�atribuições�do�Serviço�de�Documentação,�até�então�considerado�um�órgão�responsável�pela�impressão�dos�atos�oficiais.�

Suas�qualidades�como�administrador�foram�somadas�as�qualidades�pessoais�e�o�fizeram�ampliar�suas�redes�de�sociabilidade,�o�permitiu�circular�entre�a�elite�intelectual�brasileira�e�exercer�funções�diversas�no�campo�da�cultura,�como�podemos�observar�no�quadro�1:

�����REFERÊNCIA�ESPAÇO-TEMPORAL� FUNÇÃO�EXERCIDA�����Recife/�Rio�de�Janeiro;�1928-1933�� Estudante�de�Medicina�����Rio�de�Janeiro/�João�Pessoa;�1933-�[?]� Médico�����João�Pessoa;�1938-1943�[?]� � Policial-médico�����João�Pessoa;�1940-1943� � Chefe�do�Serviço�de�Recenseamento�� � ������João�Pessoa;�1940-1943� � Pesquisador���Inquérito�alimentar�����João�Pessoa;�1940-1943� � Pesquisador�de�Cultura�Popular�����João�Pessoa;�1941-1944� � Diretor�no�Departamento�de�� �� � � � Serviço�Público�da�Paraíba�(DASP)�����Rio�de�Janeiro;�1947-1965�� � Diretor�do�Serviço�de�� � � � Documentação�do�MES/MEC�����Rio�de�Janeiro;�1949-�[?]� � Membro�de�comissões�do�Museu�� � � � de�Arte�Moderna

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���Rio�de�Janeiro;�[?]� � � Diretor�Escola�Comunicação/�UFRJ���Rio�de�Janeiro;�1949,�1950� � Comissário�Coordenador�de�� � � � Exposição�da�Bienal�de�São�Paulo���Rio�de�Janeiro;�1953,�1954,�1955�� Professor�da�Faculdade�de�Filosofia�� � � � da�Universidade�do�Brasil���Rio�de�Janeiro;�1958� � � Membro�da�Comissão�Nacional�de��� � � � Folclore�(CNFL)���Rio�de�Janeiro;�1958� � � Aluno�da�Escola�Superior�de�Guerra���Rio�de�Janeiro;�1961� � � Membro�da�Associação�� � � � Internacional�de�Críticos�de�Arte���Rio�de�Janeiro;�1976� � � Presidente�da�Associação�Brasileira�� � � � de�Críticos�de�Arte���Rio�de�Janeiro;�1961� � � Membro�do�Conselho�Técnico�do�� � � � Museu�Nacional�de�Belas�Artes���Paris�e�Nova�Deli;�1951,�1956�e�1960� Representante�do�Brasil�em�� � � � Conferências�da�UNESCO���Santiago�do�Chile;�1965-1967� � Adido�Cultural�do�Brasil�no�Chile���Veneza;�1950� � � Representante�do�Brasil�na�XXV�� � � � Bienal�de�Veneza���Rio�de�Janeiro;�décadas�de�1950-1990� Artista�Plástico���Rio�de�Janeiro;�1971-1979� � Diretor�Escola�Comunicação�UFRJ���Rio�de�Janeiro;�1969� � � Professor�da�Faculdade�de�Letras�da�� � � � UFRJ���Rio�de�Janeiro;�1979� � � Diretor�do�Museu�de�Arte�Moderna

Quadro�1���Informações�biográficas�(corte�espaço-temporal).Fonte:�BARROS,�2012,�p.107-108

Quando�Simeão�Leal�ingressou�neste�Ministério,�servir�como�Casa�Publicadora�e�disseminadora�de�cultura�era�uma�função�secundária�do�Serviço�de�Documentação�(SD).�Entretanto,�dez�anos�depois,�o�SD�passou�a�desenvolver�funções�de�divulgação�da�cultura�e�grande�parte�desse�novo�aspecto�do�setor�foi�uma�construção�de�José�Simeão�Leal.�Colaborando�com�esse�pensamento,�a�edição�do�Jornal�do�Comércio�de�09�de�novembro�de�1958�descreveu�da�seguinte�maneira�a�transformação�pela�qual�passara�o�SD:�

Em�1947,�assumiu�José�Simeão�Leal�a�direção�do�Serviço�de�Documentação�do�Ministério�da�Educação�e�Cultura.�Começou�não�apenas�a�renovação�gráfica,�mas�o�grande�desenvolvimento�e�prestígio�especial�que�passaram�a�ter,�com�os�novos�rumos�traçados,�as�publicações�oficiais,�pela�revista��Arquivos�,�do�MEC.As�publicações�oficiais�eram�até�então�em�nosso�país�de�um�caráter�muito�restrito,�sem�interesse�nenhum�para�o�público�leitor�em�geral�e�muito�menos�para�todos�os�que�se�interessam�pelas�coisas�do�livro�e�da�cultura.�(JORNAL�DO�COMÉRCIO,�09�Nov.�1958).

De�acordo�com�os�vestígios�que�encontramos�em�seu�acervo,�o�SD�tornou-se�uma�instituição�de�informação�com�as�seguintes�competências:�

reunir,�catalogar,�classificar�todo�elemento�que�interesse�direta�e�indiretamente�às�questões�educacionais�e�culturais�ligadas�a�esse�Ministério,�com�o�objetivo�de�criar�meios�coligidos�e�ordenados�que�facilitem�amplo�serviço�de�informações,�estudos,�pesquisas�e�divulgação;�promover�exposições,�conferências�sobre�temas�culturais�e�

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artísticos,�fazer�publicações�de�interesse�cultural,�artístico,�científico�e�educacional;�estabelecer�intercâmbio�no�país�e�no�estrangeiro�[...]�documentar�a�história�cultural�e�educacional�do�país�[...]��(OLIVEIRA,�2009,�p.�132).

Ao�contrário�do�que�poderia�ocorrer�com�iniciativas�inovadoras,�as�novas�atribuições�do�SD�e�a�responsabilidade�de�Simeão�Leal�nestas�mudanças�foram�reconhecidas�pelos�homens�de�seu�tempo,�é�o�que�fica�evidente�nas�cartas�de�intelectuais�e�notas�publicadas�em�diversos�jornais�brasileiros�que�deixaram�seus�testemunhos�sobre�a�ativa�atuação�de�Simeão�Leal�no�período:

a�quantos�titulares�sobreviveu�José�Simeão�Leal!�É�que�ele�se�tornou�insubstituível.�É�porque�realizou�obra�que�nenhum�outro�poderia�ter�realizado:�transformou�o�Serviço�de�Documentação�do�Ministério�da�Cultura�em�serviço�de�documentação�da�cultura�brasileira.�(Otto�Maria�Carpeaux,�1965,�Acervo�José�Simeão�Leal;�apud�OLIVEIRA,�2009,�p.�133)

Simeão�[...]�foi,�na�verdade,�uma�espécie�de�usina�cultural.�(Raquel�de�Queiroz,�Jornal�Estado�de�São�Paulo,�06�Jul.�1966)

[o�Serviço�de�Documentação�é]�uma�verdadeira�academia�ativa,�frequentada�pelos�clássicos,�neoclássicos,�modernos,�contemporâneos.�Revolucionário�a�vanguardistas�do�mundo�das�letras�e�das�artes.�Pode�assim,�no�tumulto�dessa�frequência�diária,�que�é�a�própria�cultura�em�ebulição.�(GAZETA�DE�NOTÍCIAS,�06�set.1952).

A�fotografia�1�é�representativa�da�dinâmica�cotidiana�do�SD�que�servia�como�local�de�encontro�de�intelectuais,�artistas,�jornalistas,�aspirantes�a�escritores,�escritores�já�consagrados�entre�outros�visitantes.�Segundo�as�testemunhas�da�época,�era�surpreendente�a�quantidade�de�pessoas,�conhecidas�e�desconhecidas,�que�subiam�ao�9º�andar�em�busca�de�publicações,�favores,�um�bate�papo�ou�para�reuniões�de�trabalho�com�seu�diretor.

Fotografia�1���Fernando�Tude�de�Souza,�José�Simeão�Leal,�Herman�Lima�e�Afrânio�Coutinho.�Serviço�de�Documentação,�Ministério�de�Educação�e�Cultura,�Rio�de�Janeiro,�década�de�1950.Fonte:�Acervo�José�Simeão�Leal�(JSL_Ft-347)

Podemos�ver,�também,�que�as�relações�nascidas�no�exercício�de�função�pública�foram�estendidas�para�a�vida�pessoal.�Como�identificou�Duarte�(2001)�em�seu�estudo�sobre�a�Revista�Cultura��[...]�o�convívio�de�Simeão�com�seus�pares�também�se�dava�nos�espaços�sociais,�nas�universidades,�nos�eventos�culturais,�missões�oficiais,�numa�infindável�gama�de�expedientes��(DUARTE,�2001,�p.�41).

Entretanto,�o�mesmo�autor�também�identificou�um�ofuscamento�da�contribuição�de�José�Simeão�Leal�entre�as�décadas�de�1940�e�1950,�pelas�ausências�de�referências�a�ele�e�a�suas�atividades�profissionais�nos�veículos�de�comunicação�e�em�trabalhos�acadêmicos�após�sua�saída�do�Ministério.�Como�nos�diz�o�autor,�durante�suas�pesquisas�bibliográficas,��poucas�foram�as�referenciais�à�Revista�Cultura�e�José�Simeão�Leal.�apenas�algumas,�no�geral�eram�as�publicações�do�Ministério�da�Educação�e�Saúde��(DUARTE,�2001,�p.�35).

Mas,�pelos�múltiplos�indícios�preservados�em�seu�acervo�podemos�afirmar�que�Simeão�Leal�se�situa�entre�os�grandes�editores�nacionais�que�contribuíram�para�o�delineamento�do�que�foi�o�mercado�editorial�brasileiro,�na�época,�e�fez�parte�do�pequeno�grupo�de�editores�que,�no�eixo�Rio-São�Paulo,�tornando-se�referência�para�os�escritores�já�consagrados�no�país�e�para�aqueles�em�busca�de�sua�primeira�publicação.�

Podemos�colocar�seu�nome�entre�os�de�Augusto�Meyer,�que�atuou�no�Instituto�Nacional�do�Livro,�Enio�Silveira,�a�frente�da�Civilização�Brasileira,�e�outros�editores�privados�que�muito�mais�do�que�comerciantes�foram�parceiros�de�artistas�e�escritores,�contribuindo�com�a�formação�de�milhares�de�leitores�no�país.Sua�postura�a�frente�do�SD�o�caracterizou�como�parceiro.�Neste�sentido,�Celso�Kelly�o�descreveu�da�seguinte�maneira:

Não�o�editor�dos�lucros,�imaginando�uma�carreira�de�sucesso�de�livraria;�porém�o�editor�intelectual,�o�que�experimenta�o�indivisível�prazer�em�contemplar,�na�letra�de�fôrma,�um�belo�original,�ou�um�texto��debutante��de�um�jovem,�ou�um�assunto�particularizado�(desses�que�nunca�têm�divulgação).�(apud�OLIVEIRA,�2009,�p.�155).

A�qualidade�das�edições�do�SD�foram�amplamente�comentadas�na�imprensa�da�época�e,�de�acordo�com�Duarte�(2001),�as�edições�que�saiam�de�suas�prensas�foram�marcadas�pelo�design�gráfico�moderno.�Não�podemos�esquecer�que�durante�muitos�anos�José�Simeão�Leal�lecionou�diagramação�na�Universidade�Federal�do�Rio�de�Janeiro,�função�que�exigia�dele�estar�sempre�atualizado�com�as�novidades�editoriais.�Além�do�convívio�com�escritores�e�intelectuais,�Simeão�construiu�desde�muito�cedo�uma�relação�de�proximidade�com�o�mundo�

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artístico.�Essa�integração�se�tornou�oficial�quando�passou�a�representar�o�Brasil�em�bienais�de�arte�no�país�e�no�exterior,�quando�passou�a�contribuir�com�a�Fundação�Bienal�de�São�Paulo,�gestor�de�instituições�museais�(Museu�de�Arte�Moderna�do�Rio�de�Janeiro)�e�membro�fundador�de�associações�de�críticos�de�arte.�A�Cultura�Popular�e�a�Arte

Além�de�suas�atribuições�como�divulgador�cultural�e�sua�interação�com�membros�da�elite�intelectual,�José�Simeão�Leal�também�foi�um�criador�e�um�pesquisador�atualizado�da�cultura�popular�brasileira.�Neste�sentido,�podemos�destacar�suas�atividades�como�pesquisador�da�cultura�popular�e�como�artista�plástico.�

Fotografia�2���José�Simeão�Leal�em�coleta�de�registros�da�cultura�popular.Fonte:�Acervo�José�Simeão�Leal,�s/nº;�OLIVEIRA,�2011,�p.�123.�

Seu�acervo�privado�pessoal�possui�material�ainda�não�analisado�ou�publicado�sobre�cultura�popular�na�Paraíba:�dezenas�de�páginas�manuscritas�e�áudio�gravado�aqui�na�Paraíba,�na�década�de�1950.�Trazemos�abaixo�um�quadro�com�os�principais�temas�pesquisados�por�ele:

��MANIFESTAÇÕES�DA�CULTURA�POPULAR��Adágios/Provérbios/Frases�����������Congos� � �����������������Lapinha���Advinhações� ���������������������Danças�Antigas�do�Interior����������Lendas��Auto�de�Natal� ���������������������Danças�Dramáticas:�Africanos�����Marujadas����������������������Boi�Tungão� ���������������������Danças�Dramáticas:�Aruenda������Modinhas����Brincadeiras�Infantis/Charadas����Danças�Dramáticas:�Cambinda���Nau�Catarineta����Bumba�Meu�Boi��������������������������������Danças�Dramáticas:�Catirina��������Orações����Candomblé/Catimbó����������������������Danças�Dramáticas:�Siriri��������������Parlenda����������Cantigas�de�Cego�����������������������������Danças�Indígenas���������������������������Partituras�de�� � � � � �����������������canção�popular��Cantigas�Imorais� ���������������������Dicionário�termos�populares��������Pastoril�����������������Cavalo�Marinho��������������������������������Emboladas�����������������������������������������Pelejas�������������Cantigas�de�Ninar����������������������������Fados���������������������������������������������������Plaquetas��������������Cocos��������������������������������������������������Histórias/Anedotas��������������������������Poesia�Popular

Apesar�de�permanecer�rodeado�por�escritores�e�intelectuais,�Simeão�nunca�publicou�nada�pelo�SD�como�autor.�As�únicas�produções�assinadas�por�ele�trataram�de�cultura�popular�e�foram�publicadas�em�revistas�de�circulação�restrita.�Sua�grande�paixão,�de�fato,�foi�a�arte.�Como�contribuição�e�experiência��do�outro�lado�da�mesa��do�SD,�Simeão�conseguiu�deixar�uma�marca�original�neste�campo�que��podemos�conhecer�através�das�dezenas�de�obras�preservadas�em�seu�acervo.

Sua�carreira�como�artista�plástico�se�iniciou�quando�já�estava�desligado�do�Ministério�da�Educação,�em�junho�de�1981�na�Itália.�Simeão�foi�um�dos�três�artistas�brasileiros�a�expor�suas�obras�de�arte�na�Galleria�Sagittaria,�cidade�de�Pordenoni.�Com�ele,�expuseram�os�escultores�Sérgio�Camargo�e�Tunga,�recebendo�críticas�positivas�nos�jornais�italianos�que�o�categorizaram�entre�os�artistas�da�corrente�do�Cinetismo�(Il�Piccolo,�1981).

No�Brasil,�sua�primeira�exposição�individual�aconteceu�em�1984,�na�Fundação�Escola�do�Serviço�Público,�Rio�de�Janeiro.��No�ano�seguinte,�em�homenagem�a�seu�estado�natal,�suas�obras�foram�expostas�no�Senado�Federal.�A�última�exposição�individual�em�vida�aconteceu�no�ano�de�1992,�novamente�no�Rio�de�janeiro.�A�Galeria�do�Instituto�Brasil�Estados�Unidos�recebeu�suas�obras�entre�agosto�e�setembro�deste�ano.�

Fotografia�3���Exposição�de�José�Simeão�Leal�na�Galeria�do���������������������������������Instituto�Brasil-Estados�Unidos�(IBEU),�Rio�de�Janeiro,�1992.Fonte:�Acervo�José�Simeão�Leal,�JSL_Ft-458.�

Mais�de�uma�década�após�sua�morte,�sua�carreira�como�artista�foi�relembrada�em�sua�terra�natal.�Entre�junho�e�julho�de�2011,�a�Usina�Cultural�Energisa,�em�João�Pessoa,�recebeu�a�exposição��José�Simeão�Leal:�homem�de�cultura�,�e�em�setembro�do�mesmo�ano,�a�cidade�de�Areia�acolheu�a�exposição��José�Simeão�Leal,�homem�de�cultura,�filho�da�terra��composta�por�obras�de�diversas�técnicas�e�esculturas�em�metal.�E�agora,�temos�mais�uma�oportunidade�para�contemplarmos�José�Simeão�Leal�em�suas�múltiplas�dimensões�na�Estação�das�Artes,�Estação�Cabo�Branco���Ciência,�Cultura�e�Artes,�que�recebe�a�mostra�iconográfica��José�Simeão�Leal,�homem�de�cultura�.

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No�seu�acervo�de�arte,�encontramos�obras�abstratas,�geométricas,�feitas�em�papel,�colagens�e�esculturas�em�ferro.�Suas�composições�geométricas�utilizam�cores�básicas�e�são�excepcionalmente�minuciosas.�Elas�são�representativas�da�sua�genialidade�e�dos�elementos�que�o�definiram�como�artista�original.��

Kelly�Cristiane�Queiroz�Barros�é�Mestre�em�Ciência�da�Informação�(PPGCI/UFPB)

Referências

BARROS,�Kelly�Cristiane�Queiroz.�Rede�humana�de�relações:�relações�de�sociabilidade�a�partir�do�acervo�fotográfico�de�José�Simeão�Leal.�144�f.�Dissertação�(Mestrado�em�Ciência�da�Informação)���Centro�de�Ciências�Sociais�Aplicadas,�Universidade�Federal�da�Paraíba,�João�Pessoa,�2012.DUARTE,�Patrício�Araújo.�Revista�Cultura:�modernidade�gráfica�e�informacional�João�Pessoa.�Dissertação�de�Mestrado�(Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação).�Universidade�Federal�da�Paraíba,�2001.GOMES,�Ângela�de�Castro.�O�ministro�e�sua�correspondência:�projeto�político�e�sociabilidade�intelectual.�In:�______�(Org.).�Capanema:�o�ministro�e�seu�ministério.�Rio�de�Janeiro:�Editora�FGV,�2000.�p.13-47.IL�PICCOLO.�Tre�artisti�dal�Brasile�alla�galleria�Sagittaria,�09�Mai.�1981.JORNAL�DO�COMÉRCIO,�09�Nov.�1958.OLIVEIRA,�Bernardina�Maria�Juvenal�Freire�de.�José�Simeão�Leal:�escritos�de�uma�trajetória.�João�Pessoa.�Tese�de�doutorado�(Programa�de�Pós-Graduação�em�Letras)���Universidade�Federal�da�Paraíba,�2009.�(CD-ROOM).QUEIROZ,�Rachel.�Simeão�Leal.�Estado�de�São�Paulo.�Crônica�2,�fl.�D-20,�06�jul/1996.SEGRE,�Roberto�et�al.�O�edifício�do�Ministério�da�Educação�e�Saúde�(1936-1945):�museu��vivo��da�arte�moderna�brasileira.�Seminário�internacional�museografía�e�arquitetura�de�museus,�Proarq/FAU/UFRJ,�Rio�de�Janeiro,�26/29�set.�2005.�Disponível�em:�http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/376�Acesso�em:�06�Nov.�2011.

Início�de�uma�comunicação

Estas�minhas�palavras�justificam,�muito�por�alto,�o�meu�silêncio,�depois�de�um�tempo�em�que�me�vi�envolvida�nas�questões�pontuais�que�se�referiam�a�políticas�públicas�de�informação�arquivísticas�e,�mais�precisamente,�na�busca�por�definições�e�resoluções�acerca�das�políticas�públicas�de�arquivos�privados,�especificamente�pessoais�e�familiares.�Minhas�prerrogativas�servem�para�significar�uma�linha�de�continuidade.�Voltei�e�quero�rever�essa�temática�do�ponto�onde�deixei.

Ao�ritmo�possível�da�minha�complicada�vida�profissional,�como�o�é�a�vida�dos�docentes�das�Ifes�do�Brasil,�em�que�a�gestão�eficaz�do�tempo�não�é�um�atributo�positivo,�mas�uma�total�falha,�irei�aproveitar�este�importantíssimo�Seminário,�a�nível�nacional,�para�me�posicionar�sobre�arquivos�de�indivíduos�e�de�famílias,�há�muito�sem�haver�delineamento�capaz�de�encontrar�soluções�plausíveis,�tal�como�as�concebo,�no�âmbito�do�projeto�formativo�em�nível�de�meus�estudos,�desde�a�tese�defendida�(DUARTE,�2000)�e,�posteriormente,�nas�publicações�surgidas�de�minhas�inquietações�acerca�do�tema�em�foco.

Introdução

O�registro�é�uma�prática�da�humanidade�desde�tempos�remotos,�comprovada�pelos�hieróglifos�e�ideogramas.�O�ato�de�registrar�o�que�vê�o�que�sente�e�o�que�faz,�ao�longo�da�história�possibilitou�descobertas�científicas,�filosóficas,�tecnológicas,�artísticas�e�sociais.

É�oportuno�lembrar�que�o�acúmulo�desses�registros�deu�origem�aos�arquivos,�objeto�de�estudo�e�reflexão�da�arquivística�do�século�XVI.�Para�Fonseca�(2005,�p.�30),�há�longevidade�da�atividade�arquivística,�considerando�que�a�história�dos�registros�confunde-se�com�a�história�das�civilizações�humanas�pós-escritas�e�que�os�arquivos,�ainda�em�suas�formas�preliminares,�surgiram�na�área�do�chamado��crescimento�fértil��do�Oriente�Médio,�há�cerca�de�seis�milênios.�Ao�longo�dos�séculos,�o�registro�assume�novos�formatos,�novos�tratamentos�e�novas�práticas�de�acumulação.

Impulsionada�pelos�avanços�tecnológicos,�a�arquivologia,�no�século�XXI,�assume�novos�horizontes�investigativos.�A�função�do�arquivo�se�estende,�desprendendo-se�do�suporte�e�do�tempo-espaço.�Duarte�(2007,�p,143-144),�assim�reflete:

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ARQUIVOS�PRIVADOS�E�ARQUIVOS�DE�FAMÍLIAS:�ADMINISTRAÇÃO�DA�PROPRIEDADE

Zeny�Duarte�de�Miranda

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Há�grandes�discussões,�e�muito�bem-vindas,�acerca�do�conceito�de�arquivo.�Este�apresenta�espaço�de�investigação�conduzindo,�analogicamente,�a�estudos�de�escavação�arqueológica.�Quaisquer�que�sejam�as�formas�de�sua�concepção,�o�arquivo�possui�universo�rico�de�elementos�que�devem�ser�explorados�para�que�se�possa�ter�acesso�às�variadas�possibilidades�de�acesso�à�informação.�Por�outro�lado,�não�é�possível�estabelecer�um�só�conceito�de�arquivo.�Os�ensinamentos�teóricos�da�arquivística�(para�alguns�países)�ou�arquivologia�(para�outros,�denominação�mais�utilizada�no�Brasil),�nos�remetem�a�reflexões,�primeiro,�sobre�o�termo�e�segundo,�sobre�o�seu�significado�(o�conceito).�Na�realidade,�todo�e�qualquer�suporte�da�informação�tem�no�seu�destino�um�espaço�onde�será�anexado�a�outros�dados,�culminando�no�que�se�entende�por�arquivo.

Quando�se�fala�de�arquivo,�associam-se�a�ele�conceitos�de�documentos�e�de�informação.�Essa�é�a�base�para�o�entendimento�de�seu�contexto.�Não�importa�o�tipo�de�informação�que�foi�gerado�e�não�se�pode�depreciar�um�dado�informacional�em�detrimento�de�outro.�No�final,�ter-se-á�concebido�um�documento�de�arquivo,�que�deverá�receber�tratamento�a�partir�dos�mecanismos�que�facilite�o�acesso�e�a�recuperação�da�informação�por�ele�contextualizada.

Nessa�perspectiva,�apresento�esta�reflexão�a�partir�de�um�dos�nichos�da�arquivologia:�o�arquivo�pessoal�e�de�família,�fonte�de�pesquisa�e�informação�única.�O�arquivo�pessoal�é�fonte�primorosa�de�informação�e�possibilita�releituras�da�sociedade�através�de�seus�documentos.�Apresentam�elementos�únicos�que�devem�ser�mantidos�para�que�não�haja�fragmentação�e�subjetividades.

Reconversão�ou�não�da�propriedade�no�processo�de�sucessão�

É,�exatamente,�neste�ponto�que�abordo�esta�minha�inquietação�com�relação�ao�processo�de�identificação�e�resgate�de�acervos�pessoais�e�de�família.�Trata-se�aqui�de�item�que�se�encontra�delineado�em�legislação�específica�e�que,�no�Brasil,�não�houve�ainda�a�oportunidade�de�um�debate�amplo,�com�participação�de�estudiosos�do�tema.

É�possível�encontrar�alguma�saída�na�legislação�vigente�que�trata�de�arquivos�pessoais�e�de�família,�mas,�ainda�que�tenhamos�a�Lei�8.159�de�8�de�janeiro�de�1991,�que�trata�no�Capítulo�III�dos�arquivos�privados,�dizendo:

Art.�11�-�Consideram-se�arquivos�privados�os�conjuntos�de�documentos�produzidos�ou�recebidos�por�pessoas�físicas�ou�jurídicas,�em�decorrência�de�suas�atividades.�HYPERLINK�"http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/�decreto/D2942.htm"RegulamentoArt.�12�-�Os�arquivos�privados�podem�ser�identificados�pelo�Poder�Público�como�de�interesse�público�e�social,�desde�que�sejam�considerados�como�conjuntos�de�fontes�relevantes�para�a�história�e�desenvolvimento�científico�nacional.Art.�13�-�Os�arquivos�privados�identificados�como�de�interesse�público�e�social�não�poderão�ser�alienados�com�dispersão�ou�perda�da�unidade�documental,�nem�transferidos�para�o�exterior.Parágrafo�único�-�Na�alienação�desses�arquivos�o�Poder�Público�exercerá�preferência�na�aquisição.Art.�14�-�O�acesso�aos�documentos�de�arquivos�privados�identificados�como�de�interesse�público�e�social�poderá�ser�franqueado�mediante�autorização�de�seu�proprietário�ou�possuidor.Art.�15�-�Os�arquivos�privados�identificados�como�de�interesse�público�e�social�poderão�ser�depositados�a�título�revogável,�ou�doados�a�instituições�arquivísticas�públicas.Art.�16�-�Os�registros�civis�de�arquivos�de�entidades�religiosas�produzidos�anteriormente�à�vigência�do�Código�Civil�ficam�identificados�como�de�interesse�público�e�social.

Não�nos�basta,�porque�os�arquivos�pessoais,�considerados�arquivos�privados,�em�suas�essências,�possuem�características�peculiares,�tendo�em�vista�seu�nascedouro,�a�forma�como�foi�acumulado�e�a�importância�de�se�observar�a�originalidade�de�sua�constituição�e�a�ordem�original.

Em�alguns�casos,�os�arquivos�privados,�quando�não�são�organizados�pelo�próprio�titular�recebem�interferência�em�sua�organicidade�e,�muitas�vezes,�a�organização�desses�arquivos�torna-se�complexa�e,�de�certa�forma,�sem�ordenação�lógica,�considerando�a�vontade�do�titular.

Nesse�contexto,�cito�o�arquivo�pessoal�de�Fernando�Pessoa,�um�tesouro�que�se�tem�noticiado,�com�documentos�em�processo�de�desmembramento�e�fragmentados,�a�partir�de�lançamento�em�leilão�por�interesse�de�herdeiro.�Esse�é�um�assunto�muito�noticiado�e�a�mídia�faz�questão�de�colocar�em�evidência.�Vejamos,�a�seguir,�numa�das�divulgações,�em�Público�Cultura,�Portugal,

Os�herdeiros�de�Fernando�Pessoa,�proprietários�do�espólio�que�vai�ser�leiloado�pela�P4�Photography,�a�13�de�novembro,�consideram�a�intenção,�hoje�anunciada�pela�Biblioteca�Nacional�de�Portugal�em�classificar�os�documentos�do�poeta�como�Património�Nacional,�uma�"ridicularia�política".Em�declarações�à�Agência�Lusa,�Miguel�Roza,�sobrinho�de�Fernando�Pessoa�(1888-1935),�e�um�dos�proprietários�do�espólio,�em�conjunto�com�a�irmã,�Manuela�Nogueira,�considerou�a�medida�"uma�tempestade�num�copo�de�água�nesta�altura"."É�uma�ridicularia�política�porque�os�documentos�que�vão�a�leilão�não�são�os�mais�importantes�e�o�Governo�vem�mostrar�agora�que�está�interessado�em�classificar�tudo",�comentou.�Miguel�Roza�reagiu�desta�forma�ao�facto�da�Biblioteca�Nacional�de�Portugal�(BNP)�ter�iniciado�o�processo�de�classificação�do�espólio�do�poeta�Fernando�Pessoa�como�Património�Nacional,�no�âmbito�da�lei�de�bases�do�património.

Fonte�do�gabinete�jurídico�da�Biblioteca�Nacional�confirmou�à�Lusa�que�"foi�decretado�o�início�do�processo�de�classificação�do�espólio"�e�que�todas�as�entidades�detentoras�de�documentos�do�poeta�foram�já�informadas."Tendo�sido�informados�todos�os�possuidores�de�documentos�de�Fernando�Pessoa,�será�colocado�anúncio�no�Diário�da�República�a�23�de�outubro,�havendo�20�dias�para�contestação",�explicou�Jorge�Couto,�director�da�BNP.

Dossier�inédito�Pessoa-Crowley�é�destaque�no�leilão�da�P4

Segundo�esta�determinação,�todos�os�possuidores�não�conhecidos,�de�documentos�de�Pessoa,�devem�dar�conhecimento�do�seu�paradeiro�à�Biblioteca�Nacional.�Esta�classificação,�esclareceu�Jorge�Couto,�"coloca�limitações�às�movimentações�dos�documentos�que�nunca�poderão�sair�de�Portugal�em�termos�permanentes,�mesmo�que�mudem�de�proprietários".

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Esse�acervo�foi�organizado�conforme�teoria�e�método�da�arquivologia,�projeto�por�mim�coordenado�e,�felizmente,�objeto�de�minha�tese�de�doutorado,�na�linha�de�pesquisa�documento�da�memória�cultural,�do�Programa�de�Pós-Graduação�em�Letras/�Ufba,�tendo�sido�salvaguardado�e�disponibilizado�aos�pesquisadores�que�dele�necessitam�como�fonte�de�estudo�das�mais�diversas�monografias,�dissertações�e�tese,�artigos�e�outros�textos�publicados.�Esse�arquivo�recebeu,�em�mídia�CD-Rom,�um�banco�de�dados�que�representa�o�catálogo�(instrumento�de�pesquisa),�contendo�descrição�de�todos�os�itens�documentais�do�arquivo�pessoal�do�insigne�escritor-poeta�Godofredo�Filho.�Esse�acervo�encontra-se�disponível�na�Biblioteca�Central�da�Universidade�Federal�da�Bahia,�precisamente,�no�Centro�de�Estudos�Baianos.�DUARTE�(2008).

Outro�exemplo,�trata-se�do�acervo�pessoal�de�Jorge�Amado�/�Zélia�Gattai.�Sobre�este�acervo,�não�se�pode�dissociar�os�dossiês�de�Jorge�Amado�dos�de�Zélia�Gattai.�O�Conselho�Nacional�de�Arquivos�(Conarq)�cadastrou�esse�acervo,�apresentando-o�da�seguinte�forma:

Conarq�-�Arquivo�Nacional�-�Fundação�Casa�de�Jorge�AmadoSeção:�Bahia�CODEARQ�BR�BAFCJANome�da�Instituição:��� Fundação�Casa�de�Jorge�AmadoVinculação�Administrativa:�� Entidade�privada�sem�fins�lucrativosEndereço:��� � Rua�Alfredo�de�Brito,�49/51�-�Largo�do� � �� � � Pelourinho�-�Salvador�-�BA�-�CEP�40026-280Telefones:��� � (71)�3321-0122�/�(71)�3321-0070E-mail:�� � � [email protected]�Site:�� � � http://www.jorgeamado.org.brAno�de�Criação:�� � 1986Missão�Institucional:��� Preservar,�divulgar�e�pesquisar�os�acervos�bibliográficos�e�artísticos�de�Jorge�Amado;�incentivar�e�apoiar�estudos�e�pesquisas�sobre�a�vida�e�a�obra�de�Jorge�Amado;�criar�um�fórum�permanente�de�debates�sobre�cultura�baiana,�especialmente�sobre�a�luta�pela�superação�das�discriminações�raciais�e�sócioeconômicas;�incentivar�e�apoiar�estudos�e�pesquisas�sobre�arte�e�literatura�baianas.Caracterização�do�Acervo:�� Com�período�de�abrangência�que�vai�de�1932�até�os�dias�atuais,�o�acervo�é�constituído�por�cerca�de�250�mil�documentos.�Trata-se�de�um�conjunto�documental�que�reúne�documentação�pessoal�dos�escritores�Jorge�Amado�e�Zélia�Gattai,�livros�da�autoria�de�ambos�em�edições�brasileiras,�portuguesas�e�estrangeiras.�Fazem�parte�desse�conjunto,�manuscritos�literários,�correspondências,�periódicos,�estudos�sob�forma�de�livros,�teses,�dissertações,�monografias�e�outros�textos�acadêmicos.�Além�de�um�conjunto�de�mais�de�6.000�fotografias,�21.000�negativos,�DVD's,�CD's,�discos,�cartazes,�gravuras,�caricaturas,�ilustrações,�diplomas,�certificados,�condecorações,�troféus,�medalhas,�placas,�quadros�e�esculturas.Condições�de�acesso�aos�documentos:�Necessidade�de�agendamento.Dia�e�horário�de�atendimento:�� De�segunda�a�sexta-feira,�das�10h00�às�17h30Serviços:�� � � http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/�cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?�infoid=552&sid=87&tpl=printerview�Dispersão�geográfica�da�propriedade:�Dificuldade�no�recolhimento�dos�documentos.

Miguel�Roza�disse�que�foi�notificado�há�dois�dias�e�que�os�herdeiros�e�a�leiloeira�P4�entregaram�o�caso�a�um�advogado�"porque�se�trata�de�uma�questão�jurídica".

Documentos,�livros,�cartas,�revistas�e�fotografias�de�Fernando�Pessoa�pertencentes�aos�herdeiros�do�poeta�integram�o�lote�de�documentos�que�estão�previstos�ir�a�leilão�em�Novembro�pela�leiloeira�P4�Photography.�No�conjunto�está�o�dossier�Pessoa-Crowley��com�cerca�de�800�páginas���que�reúne,�entre�outros�manuscritos,�correspondência�entre�o�poeta�e�o�ocultista�inglês�Aleister�Crowley,�e�a�novela�policial�inacabada�que�Pessoa�escreveu�com�base�no�suicídio�encenado�de�Crowley�na�Boca�do�Inferno,�perto�de�Cascais,�em�1930.A�família�detém�um�espólio�disperso�que�inclui,�por�exemplo,�cerca�de�trinta�livros�que�foram�pertença�de�Fernando�Pessoa,�alguns�deles�oferecidos�por�outros�escritores�da�época,�e�que�contêm�dedicatórias.�Num�leilão�realizado�em�dezembro�do�ano�passado,�em�Lisboa,�um�particular�adquiriu�por�11.000�euros�uma�fotografia�de�Fernando�Pessoa�aos�dez�anos,�com�uma�dedicatória,�oferecida�pelo�poeta�a�uma�amiga.(HYPERLINK�"http://www.publico.pt/cultura/noticia/espolio-defernando-pessoa-impedido-de-sair-de-portugal-1346448"�http://www.publico.pt/�cultura/noticia/�espolio-de-fernando-pessoa-impedido-de-sair-de-�portugal-1346448)

No�Brasil,�acontecem�casos�semelhantes,�quando�as�vezes�nos�deparamos�com�a�venda�de�acervos�inteiros�pertencentes�a�nomes�ilustres�da�educação,�artes,�literatura,�filosofia,�ciência�e�cultura�em�geral.�É�que�as�viúvas�ou�filhos,�em�sua�maioria,�desses�conjuntos�documentais,�visualizam�uma�espécie�de�herança�cultural�que�pode�render�financeiramente�aos�herdeiros.

Nessa�etapa,�o�Estado�não�pode�interferir�porque�o�bem�pessoal�ou�de�família.�No�entanto,�é�lastimável�o�desconhecimento�acerca�do�grande�mal�que�se�pode�promover�a�um�arquivo�que�contém�valor�informativo�ou�histórico�à�sociedade.�Esses�arquivos�são�de�imenso�valor�a�estudiosos�ávidos�por�informação�que�somente�pode�ser�encontrada�em�dossiês�empacotados�e�destinados�à�venda,�doação�ou�transferência�do�local�a�outras�cidades,�estados�ou,�até�mesmo,�a�outros�países.

Na�Bahia,�cito�algumas�experiências�de�arquivos�pessoais�e�de�família�que�podem�sinalizar�para�a�realidade�do�recolhimento�e�organização�de�acervos�dessa�ordem.

O�arquivo�de�Godofredo�Filho�nos�apresenta�como�um�exemplo�de�arquivo�pessoal�que�obteve�a�sorte�de�ser�transferido�a�uma�instituição�pública,�intacto�e,�de�certa�forma,�deixado�em�seu�estado�original,�de�como�o�titular�o�havia�deixado.

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Simeão�entre�Manuel�Bandeira�e�Jorge�Amado,�Rio�de�Janeiro,�1948

Page 18: Catálogo para web (e-book)

Ainda�que�citando�aqui�a�realidade�plausível�de�alguns�poucos�arquivos�que�receberam�tratamento�acompanhado�por�profissionais�da�informação,�encontra-se,�no�Brasil,�uma�infinidade�de�arquivos�pessoais�e�de�famílias�fragmentados�e�dispersos,�predestinados�a�serem�mantidos�no�anonimato.

A�dispersão�geográfica�da�propriedade�desses�arquivos�é�um�tema�pouco�debatido,�em�se�tratando�de�acervos�da�ordem.�Vale�dizer�que�os�arquivos�pessoais�e�de�família,�como�é�o�caso�do�arquivo�do�clã�dos�Calmons,�possuem�histórico�que�nos�faz�entender�a�dispersão�de�documentos,�sobretudo�de�arquivos�de�família,�causa�esta�que�não�se�pode�conter,�pelo�simples�fato�de�que�o�espaço�familiar�é�privado�e�individual,�de�onde�se�constituem�os�arquivos�de�família�e�não�se�encontra�acessível�ao�diálogo�com�o�profissional�da�informação,�caso�não�haja�o�chamado�do�tutor�ou�do�próprio�titular�do�arquivo.

Citando�outra�questão,�as�biografias�recorrentes�da�memória�dos��Calmons��contribuem�para�as�decisões�quanto�à�organização�e�preservação�desse�patrimônio�documental.

Considerando�a�imensa�relevância�desse�conjunto�documental,�acumulado�ao�longo�da�constituição�da�família,�cito-o�como�um�dos�exemplos�de�arquivo�de�família,�pela�representação�política,�econômica�e�social�desse�clã�na�Bahia,�ao�longo�de�quatro�séculos.�A�documentação�dessa�família�apresenta-se�como�legado�informacional�e�valioso�patrimônio�da�cultura�do�Brasil�e,�sobretudo,�da�Bahia.�Enquanto�representação�desse�passado,�esse�é�um�arquivo�que�recorda�passagens�da�extraordinária�história�da�Bahia�e�do�Brasil,�conservando�e�expondo�importantes�fontes�primárias�de�variada�natureza�e�expressão.

Essa�documentação�apresenta�informações�com�registros�de�conquistas�e�acontecimentos�marcantes�para�a�história�regional�e�nacional,�episódios�e�representativos�de�momentos�singulares�e,�por�vezes�até�desconhecidos,�ocorridos�no�cenário�nacional�e�internacional.�Sobre�esta�documentação,�Santana�(2011)�defendeu�dissertação�de�mestrado,�sob�minha�orientação,�no�Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação�(PPGCI),�Ufba.

Silva�(2004,�p.�63)�afirma�que�os�arquivos�de�família�precisam�ser�vistos�como�um�sistema,�compostos�por�subsistemas�individuais,�que�se�relacionam�pelos�indicadores�documentais�de�vínculo�entre�cada�subsistema.

Resultantes�de�uma�acumulação�natural,�necessária�e�não-gratuita,�os�documentos�são�dotados�de�organicidade,�isso�é,�da�capacidade�de�refletir�a�estrutura,�funções�e�atividades�da�entidade�acumuladora.�(CAMARGO,1998,�p.1).

O�arquivo�da�família�Calmon�possui�exatamente�o�caráter�de�acumulação�natural.�A�identificação�de�temáticas�das�atividades�exercidas�por�seus�membros�é�de�fácil�compreensão.�O�forte�vínculo�da�maioria�dos�membros�da�família�com�os�assuntos�políticos�e�financeiros�da�Bahia�nos�séculos�XIX�e�XX�são�explicitados�em�documentos.

Outra�característica�da�organicidade�desse�arquivo�é�sua�estrutura�fragmentada�de�gerações;�muitos�dos�documentos�datados�dos�séculos�XIX�e�XX�foram�acumulados�pelo�indivíduo�produtor�e�preservados�pelo�seu�descendente.�No�arquivo�de�família,�o�fato�da�identificação�do�documento�está�presente�no�conjunto�documental�do�membro�que�o�preservou,�não�anulando�a�origem�do�produtor.

Os�exemplos�de�arquivos�ora�apresentados�refletem�a�necessidade�de�ampliar�discussão�acerca�do�valor�dos�arquivos�pessoais�e�de�família,�no�Brasil,�onde�as�instituições�públicas�e�privadas,�detentoras�de�documentos�de�pessoas�e�de�famílias���mesmo�com�a�Lei�de�acesso�à�informação�e�com�as�normativas�apresentadas�pelo�Conarq��,�encontram-se,�em�sua�maioria,�sem�adoção�de�políticas�públicas�voltadas�à�gestão�de�arquivos�acumulados�por�indivíduos�e/ou�por�membros�de�uma�mesma�família.

Considerações�finais

Não�somente�no�Brasil,�mas�em�vários�outros�países,�nota-se�legislação�equivocada�ou�incompleta,�no�que�diz�respeito�aos�artigos�relacionados�com�políticas�públicas�de�informação�arquivística�e,�mais�precisamente,�políticas�públicas�de�arquivos�pessoais�e�de�famílias.

A�legislação�deveria�ser�o�eixo�fundamental�ao�qual�se�pudesse�ligar�o�desenvolvimento�da�arquivística�ao�alicerce�das�políticas�nacionais�relacionadas�com�a�gestão�e�organização�dos�arquivos�e�acesso�à�informação.�Torna-se�urgente�e�necessária�uma�reflexão�aprofundada�acerca�dessa�temática,�com�efetiva�participação�de�profissionais�da�área.

Logo,�se�não�houver�reformulação�das�leis�que�regem�as�políticas�públicas�de�informação,�a�exemplo�da�legislação�arquivística�e�da�lei�de�acesso�à�informação,�mencionadas�por�vários�colegas�neste�importante�Seminário��Arquivos�privados,�políticas�e�realidades�,�torna-se�difícil�defender,�com�eficiência,�o�patrimônio�documental.

Cuidar�da�regulação�legal�e�até�do�valor�patrimonial�dos�arquivos�privados,�pessoais�e�familiares,�é�matéria�de�grande�e�profundo�debate,�em�eventos�como�este�promovido�pelo�PPGCI/�UFPB�em�parceria�com�a�Funarte�e,�portanto,�das�competências�da�ciência�da�informação,�área�que�pode�e�deve�constituir�grupos�de�estudiosos�na�construção�de�um�trabalho�coletivo,�com�seguimentos�da�sociedade�civil,�pela�lei�e�pelas�políticas�públicas�de�incidência�cultural,�com�deliberações�mais�

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próximas�da�eficiência�legislativa,�constituídas�a�partir�de�bases�teórica,�epistemológica�e�prática�da�arquivologia.

Com�esta�revisão,�e�procurando�compreender�o�que�está�detrás�das�cortinas�dos�acervos�de�pessoas�e�de�famílias,�e�reconhecendo�a�importância�desses�arquivos�na�formação�da�sociedade,�finalizo�esta�comunicação�esperando�ter�contribuído�com�a�proposta�deste�Seminário.

Que�este�evento�estimule�iniciativas�similares,�direcionados�à�adesão�do�chamado�urgente�pela�implementação�da�política�de�salvaguarda�(organização�e�compartilhamento)�de�arquivos�de�famílias,�a�descortinar�documentos�nunca�antes�conhecidos�e,�muitas�vezes,�verdadeiros�tesouros�e�patrimônios�documentais.

Referências

BRASIL.�Lei�8.159�de�8�de�janeiro�de�1991.CAMARGO,�Ana�Maria.�Como�avaliar�documento�de�arquivo.�Divisão�de�Arquivos�da�cidade�de�São�Paulo:�São�Paulo,�1998.DUARTE,�Zeny.�Arquivo�e�arquivista:�conceituação�e�perfil�profissional.�Revista�da�Faculdade�de�Letras�Ciências�e�Técnicas�do�Património,�Porto,�2007,�Série�I,�vol.�V-VI,�pp.�143-144.DUARTE,�Zeny.�Arranjo�e�descrição�do�espólio�de�Godofredo�Filho:�estudo�arquivístico�e�catálogo�informatizado.�Tese�(Doutorado�em�Letras),�Programa�de�Pós-Graduação�em�Letras,�Ilufba�/�Ufba,�2000.DUARTE,�Zeny.�O�espólio�incomensurável�de�Godofredo�Filho:�estudo�arquivístico�e�resgate�da�memória.�Salvador:�ICI,�2008.Espólio�de�Fernando�Pessoa�impedido�de�sair�de�Portugal.�Público�Cultura,�Lisboa,�17�de�outubro�de�2008.�Acesso:�HYPERLINK�"http://www.publico.pt/cultura/�noticia/espolio-de-fernando-pessoa-impedido-de-sair-deportugal-1346448".�Em�27�de�junho�de�2013.FONSECA,�Maria�Odila�Kahl.�Arquivologia�e�Ciência�da�Informação.�FGV:�São�Paulo,�2005.SANTANA,�Eneida.�O�arquivo�da�família�Calmon�à�luz�da�arquivologia�contemporânea.�Dissertação�(Mestrado�em�Ciência�da�Informação),�Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação�-�ICI�/Ufba,�2011.SILVA,�Armando�Malheiro�da.�Arquivos�familiares�e�pessoais:�bases�científicas�para�aplicação�do�modelo�sistêmico�e�interactivo.�Revista�da�Faculdade�de�Letras,�Ciências�e�Técnicas�do�Património.�Porto,�2004,�Série�I,�vol.�III,�pp.�5

A�preservação�das�memórias�sociais�e�das�identidades�depende�dos�atos�de�lembrar�e�esquecer.�O�compartilhamento�das�memórias�torna-se�essencial�neste�aspecto�fazendo�com�que�a�evocação�das�memórias,�a�rememoração,�se�coloque�como�exercício�constante�nas�práticas�sociais�de�manter�e�passar�para�outras�gerações�suas�raízes�culturais,�memórias�individuais,�coletivas�e�sociais.�

A�composição�do�acervo�do�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba/UFPB�foi�se�dando�conforme�as�atividades,�oficinas�e�exposições�realizadas,�assim�como,�a�partir�dos�materiais�resultantes�dessas�ações.�Entre�1978�a�1985,�a�memória�do�Núcleo�foi�alimentada�por�essa�diversidade�de�fontes�informacionais�que�contribuíram�de�forma�significativa�para�sua�formação,�contando�com�o�apoio�e�incentivo�de�outras�instituições�e�órgãos�governamentais�através�de�doações,�fazendo�com�que�seu�acervo�se�re-significasse�a�cada�instante�que�um�novo�documento�se�aglutinava�ao�restante.

O�acervo�do�NAC�conta�registros�fotográficos,�compreendendo�as�fotografias�num�conceito�estendido,�documentos�administrativos,�currículos�de�artistas,�correspondências�institucionais�e�arte�postal,�arte-xérox,�projetos�voltados�para�preservação�e�manutenção�do�Núcleo,�projetos�artísticos,�trabalhos�de�arte�conceitual,�livros�de�artistas,�livros�literários�de�arte,�filosofia,�política�etc.

O�caráter�documental�dessas�produções�pode�assim�assumir�um�status�de�obra�de�arte,�bem�como�servirem�como�registros�das�realizações�artísticas.�Esses�documentos�são�partes�significativas�na�história�das�ações,�das�reflexões�e�conceitos,�elaborados�e�produzidos�por�artistas�e�graças�a�esse�fator�documental���fotografias,�projetos�artísticos,�revistas�de�artistas,�livros,�reportagens,�cartões�postais,�nos�possibilitam�conhecer�as�produções�e�ações�artísticas�realizadas�principalmente�nos�anos�de�1970�e�1980�e�assim,�(re)�apresentá-las�e�(re)�expô-las�atualmente�(FREIRE,�2009).

A�proposta�conceitual�do�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba���NAC�se�deu�num�conceito�contemporâneo�de�espaço�de�arte,�visando�principalmente�manter�o�diálogo�direto�e�constante�com�a�comunidade�universitária�e�local�através�do�trabalho�de�formação�e�extensão�com�e�entre�os�departamentos�da�Universidade.�

Inicialmente�em�1978�o�NAC�não�possuía�uma�sede�própria,�mas�já�em�1979,�passa�a�se�fixar�em�um�casarão�do�século�XIX�

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Zeny�Duarte�de�Miranda�é�Coordenadora�do�Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação/�Universidade�Federal�da�Bahia�

NÚCLEO�DE�ARTE�CONTEMPORÂNEA�DA�PARAÍBA/UFPB:�PRESERVAÇÃO�DAS�MEMÓRIAS�E�DAS�INFORMAÇÕES�Thaís�Catoira�Pereira

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pertencente�ao�Centro�Histórico�da�cidade,�que�já�havia�sido�a�antiga�Faculdade�de�Odontologia.�O�casarão�fica�na�Rua�das�Trincheiras,�nº�275,�fazendo�parte�do�patrimônio�cultural�imóvel�de�João�Pessoa,�tombado�pelo�IPHAN.�

Consideramos�assim,�que�o�patrimônio�cultural�se�configura�como�um�atributo�simbólico�com�indícios�das�memórias�e�identidades�dos�grupos�sociais.�Esses�bens�culturais,�sejam�eles�materiais�ou�imateriais,�apresentam-se�nos�mais�variados�formatos;�apropriando-se�da�cultura�do�cotidiano,�do�local,�global,�das�periferias,�das�manifestações�artísticas�e�populares,�da�culinária,�do�ato�de�fazer/criar�etc.�Quando�esses�bens�são�institucionalizados�por�espaços�culturais���museus,�bibliotecas,�arquivos�etc.,�estes�locais�potencializam-se�como�lugares�de�memória�e�podem�ser�reconhecidos�não�só�pelos�grupos�que�o�criaram�ou�produziram,�mas�pelos�demais�grupos�que�vierem�a�se�relacionar.�

Dessa�maneira,�a�partir�do�momento�em�que�a�comunidade�como�um�todo,�assume�a�noção�de�pertencimento�sobre�algo,�uma�coisa�ou�objeto�ou�espaço,�ela�também�estabelece�identidades�próprias�e�comuns�a�todos�daquele�grupo�promovendo�lembranças�comuns�e�gerando�uma�memória�social.�Os�compartilhamentos�dessas�memórias�a�partir�do�reconhecimento�se�estabelecem�dentro�de�vivências�individuais�e�subjetivas,�promovendo�experiências�consistentes�que�se�apoiam�nas�referências�dentro�de�um�espaço-temporal.�Essa�relação�que�as�memórias�provocam�entre�pertencimento,�identidades�e�lembranças,�faz�parte�essencial�na�formação�das�individualidades�de�cada�ser�do�grupo�(DIEHL,�2002;�RICOEUR,�2007;�MURGUIA,�2010).�

E�nessa�articulação�entre�os�indivíduos�e�seus�produtos�culturais,�memórias�individuais�e�memórias�coletivas,�as�representações�recebem�significados�e�valores�estabelecidos�por�contratos�sociais���e�nesse�movimento,�a�memória�passa�a�atuar�como�mediadora�dessa�relação,�estabelecendo�o�conhecimento�e�reconhecimento�ao�passado,�às�identidades�do�presente,�e�a�preservação�para�o�futuro�(AZEVEDO�NETTO,�2002;�MURGUIA,�2010).�

Ao�relacionar�espaços�de�memória�como�o�NAC,�com�as�perspectivas�referentes�ao�patrimônio�cultural�pode-se�refletir�sobre�a�significância�destes�espaços�de�cultura�e�arte�para�a�sociedade,�buscando�estabelecer�uma�aproximação�e�apropriação�desses�grupos�para�com�as�instituições�e�seus�significados.�Em�relação�ao�NAC,�pensando�para�além�do�seu�patrimônio�arquitetônico,�mas�principalmente�atentando�para�sua�configuração�de�espaço�produtor�e�divulgador�da�arte�contemporânea,�deve-se�destacar�seu�acervo,�como�rica�fonte�de�informação�e�bem�cultural�artístico�nacional.��

Nesse�sentido,�a�missão�das�instituições�torna-se�fator�fundamental�para�a�compreensão�e�valoração�da�mesma,�assim�ao�analisarmos�a�proposta�inicial�de�atuação�do�NAC,�esta�visava�um�trabalho�colaborativo�entre�os�departamentos�de�artes,�filosofia,�comunicação,�arquitetura�e�ciências�sociais,�para�ampliar�o�espaço�de�trabalho�e�as�discussões�em�relação�às�artes�visuais.�Segundo�a�resolução�178/80�do�Conselho�Superior�de�Ensino,�Pesquisa�e�Extensão�da�UFPB,�no�capítulo�1,�artigo�12�intitulado��O�NAC�tem�como�finalidade�permanente��

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observa-se�alguns�objetivos�traçados�na�política�cultural,�elencando�seus�interesses:�

a)Estudar,�promover�e�divulgar�as�artes�visuais�contemporâneas�na�Universidade�e�na�comunidade�em�geralb)�Executar�e�participar�de�programas�interdisciplinares�compatíveis�com�seus�objetivos;�c)�Manter�infra-estrutura�de�produção�e�documentação�da�arte�contemporânea�(CONSEPE,�1980).

Direcionando�para�o�acervo�do�NAC,�o�próprio�CONSEPE,�na�criação�dos�Núcleos�de�Extensão�(Resolução�15/79)¹,�especificava�em�seu�artigo�12���Ao�Coordenador�compete,�item:�g)����guardar�e�manter�em�boa�ordem�o�acervo�patrimonial�sob�sua�responsabilidade��(CONSEPE,�1979,�p.2-3).�Refletindo�assim�sobre�essas�diretrizes,�fica�claro�que�a�preservação�e�conservação�do�acervo�e�da�própria�instituição�faziam�parte�das�concepções�traçadas�pelo�Núcleo,�no�âmbito�de�sua�atuação.�

Assim,�a�partir�das�diretrizes�traçadas�para�acervos,�pela�UFPB�através�do�CONSEPE,�bem�como,�por�meio�das�próprias�concepções�fundadas�pelo�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba,�o�acervo�do�NAC�foi�constituído�visando�fundamentalmente�à�preservação�de�sua�memória�como�Núcleo�de�Arte;�-�e�ainda�trazer�para�o�Nordeste�as�memórias�das�produções�da�arte�contemporânea�brasileira�que�até�então�se�concentravam�nas�regiões�sul�e�sudeste�do�país;�-�como�também�servir�de�fontes�de�informação�para�pesquisas�e�para�o�desenvolvimento�de�materiais�educativos�na�área�das�artes.

Como�exemplo�de�alguns�trabalhos�desenvolvidos�pelos�dirigentes�do�Núcleo�nos�primeiros�anos�de�sua�existência,�em�relação�à�preservação�da�memória,�o�Projeto�Biblioteca/�Arquivo²�no�qual�apontava�claramente�as�funções�instituídas�pelo�Núcleo�na�constituição�como�espaço�para�pesquisa�e�conhecimento,�afirmando�assim:

O�NAC�possui�o�único�arquivo�de�bibliografia�sobre�arte�visual�contemporânea�no�Nordeste.�Sua�utilização�é�interessantíssima�para�informação�sobre�a�produção�recente�das�artes�visuais.�O�arquivo�tem�base�na�própria�história�do�NAC,�nas�suas�realizações�e,�principalmente,�no�seu�trabalho�de�pesquisa�[...]�(CÓRDULA�FILHO,�1985)

Segundo�Córdula�Filho�(1985),�as�ações�que�beneficiaram�a�formação�do�acervo�do�NAC�foi�o�apoio/convênio�com�a�FUNARTE.�Este�órgão�contribuiu�além�dos�financiamentos�para�a�vinda�de�artistas,�críticos�e�professores�de�arte�ao�Núcleo,�como�também�proporcionou�a�constituição�de�uma�Biblioteca�de�Arte�Contemporânea�ao�NAC.�A�aquisição�e�ampliação�desse�

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acervo�literário�do�NAC,�voltado�para�a�produção�contemporânea�só�aconteceu�por�meio�do�Projeto�Clarival�do�Prado�Valladares,�realizado�pela�FUNARTE�nos�anos�de�1980,�e�sobre�isso,�em�entrevista�a�Andriani�(2010),�Paulo�Estellita�Herkenhoff�que�trabalhou�na�FUNARTE�desde�1982,�relata�alguns�aspectos�essenciais�sobre�este�projeto:

Outra�coisa�que�nós�fizemos�foi�desenvolver�um�projeto�pro�Arivaldo�Prado�Valadares³,�selecionando�cinquenta�bibliotecas�em�todo�o�país,�pelo�menos�uma�em�cada�unidade�da�Federação�e�pra�elas�mandamos�todos�os�livros�da�FUNARTE�e�buscávamos�doações�de�livros�e�catálogos,�com�galerias,�instituições,�museus,�editoras�de�modo�que�na�primeira�distribuição�foram�450�itens�entre�folhetos�e�livros�pra�cada�uma�dessas�bibliotecas.�É�e�quando�não�havia�suficiente,�nós�dávamos�prioridade�às�bibliotecas�da�região�Norte,�do�Nordeste.�Se�nós�tivéssemos,�por�exemplo,�dez�exemplares�de�um�livro�X,�O�Que�É�Arte,�de�Jorge�Coli,�nós�mandaríamos�primeiro�pra�a�região�Norte�entendendo�que�mais�facilmente�esses�livros�chegariam�ao�Paraná,�Santa�Catarina�etc.�(HERKENHOFF,�2009.�In:�ANDRIANI,�2010).

O�depoimento�de�Herkenhoff�ressalta�e�comprova�o�investimento�da�FUNARTE�em�projetos�culturais�e�na�área�das�artes�plásticas�em�todo�o�país�nos�anos�de�1980,�principalmente�em�regiões�como�o�Nordeste�e�Norte�do�Brasil,�que�não�tinham�até�então,�incentivos�nesses�setores,�principalmente�voltados�para�produções�contemporâneas�de�arte.

Podemos�considerar�então,�que�o�NAC�foi�beneficiado�em�vários�aspectos;�tanto�por�um�cenário�político�cultural�favorável�ao�seu�desenvolvimento,�bem�como�pela�atuação�de�profissionais�qualificados�e�reconhecidos�nacional�e�internacionalmente,�e�que�a�partir�de�suas�experiências�conceberam�um�espaço�inovador,�experimental�e�voltado�para�propostas�contemporâneas.�

Preservação�e�tratamento�de�acervos:�políticas�e�realidades

Voltando�às�questões�que�envolvem�o�acervo�do�NAC,�observou-se�que�inicialmente�o�acervo�possuía�em�princípio�uma�organização�e�um�tratamento�sistemático,�entretanto�apesar�de�algumas�ações�específicas�em�meados�dos�anos�de�1990,�o�acervo�foi�deixado�de�lado,�perdendo�gradativamente�sua�organização,�assim�como�aumentando�o�processo�de�degradação�de�seus�materiais�devido�à�falta�de�manutenção�do�acervo�e�da�própria�estrutura�física�da�instituição.�Nos�últimos�anos�encontrava-se�quase�em�sua�totalidade�abandonado,�servindo�apenas�como�um�depósito,�onde�preservação�e�conservação�passavam�longe�de�seus�documentos�e�memórias.

A�importância�do�acervo�para�as�instituições�culturais,�citando�museus�como�exemplo,�devem�ser�tratadas�com�prioridade�e�atenção,�tanto�nos�aspectos�organizacionais�quanto�nas�questões�de�preservação�e�conservação.�Uma�vez�que�segundo�Loureiro�(2000.a,�p.93)�são��como�instâncias�de�coleta,�preservação�e�difusão�da�memória�social��e�esses�espaços�que�possuem�bens�patrimoniais�têm�por�finalidade��[...]�articular�e�favorecer�os�atores�sociais,�dotando-os�de�instrumentos�voltados�à�interpretação�e�transformação�do�presente�através�do�entendimento�de�seu�passado.��(LOUREIRO,�2000.a,�p.�93).

Dessa�forma,�para�preservar�e�conservar�as�produções�artístico-culturais,�as�políticas�de�preservação�se�fazem�necessárias�e�fundamentais�para�ampliar�a�vida�dos�documentos�e�possibilitar�de�forma�efetiva�a�evocação�das�memórias�sociais.�Ao�pensar�em�políticas�de�preservação�devemos�atentar�para�a�conscientização�de�ações�que�visem�à�conservação�dos�bens�materiais�e�imateriais,�de�maneira�a�envolver�todo�o�corpo�funcional�da�instituição�e�a�sociedade�através�da�formação�de�diretrizes.�Sobre�a�conservação�e�a�preservação�Estellita�(2011)�esclarece:

A�conservação�se�refere�à�manutenção�da�integridade�física�dos�objetos,�como�o�controle�de�temperatura�e�umidade,�higienização�e�acondicionamento�das�peças�etc.�Já�a�preservação�é�um�conjunto�de�práticas�que,�além�da�conservação,�incluem�a�documentação,�a�divulgação�do�acervo,�a�educação�patrimonial�e�todas�as�ações�possíveis�para�viabilizar�o�processo�de�valorização�e�comunicação�das�obras,�tendo�como�foco�não�puramente�o�objeto,�mas�a�relação�estabelecida�com�o�sujeito.�(ESTELLITA,�2011,�p.�7)

Em�se�tratando�de�um�acervo�de�arte,�as�reflexões�sobre�a�preservação�e�conservação�das�produções�contemporâneas,�atualmente�são�estabelecidas�através�do�diálogo�entre�Instituição�cultural�com�seus�profissionais,�bem�como�os�próprios�artistas.�Segundo�Estellita�(2011),�estão�sendo�feitos�alguns�mecanismos,�adotados�para�a�preservação�e�conservação�de�obras�contemporâneas,�a�autora�cita�os�seguintes;

[...]�registros�(fotográficos,�filmográficos�ou�sonoros)�se�aplicam�às�obras�efêmeras,�perecíveis�ou�que�de�alguma�maneira�se�desenvolvem�no�tempo.�Os�projetos�(ou�os�roteiros)�são�utilizados�pelos�próprios�artistas,�que�desenvolvem�um�planejamento�da�obra,�descrevendo�seu�processo�de�montagem�ou�de�acontecimento,�tal�como�uma�receita,�permitindo�sua�remontagem�por�outras�pessoas�com�outros�materiais�idênticos.�Já�as�réplicas�(ou�substituições)�se�adéquam�às�necessidades�das�obras�relacionais,�que�demandam�a�manipulação�do�público,�ou�simplesmente�objetos�que�sofreram�ação�do�tempo�e�podem�ser�substituídos,�no�todo�ou�em�partes,�sem�perda�simbólica.�Estes�mecanismos�são�articuláveis�

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entre�si,�sendo�possível�realizar�réplicas�a�partir�de�projetos,�fazer�registros�a�partir�de�roteiros�ou�réplicas�a�partir�registros.�(ESTELLITA,�2011,�p.�2)

Esses�mecanismos�citados�pela�autora���registros�fotográficos,�projetos/roteiro�e�réplicas���podem�sim�ser�uma�forma�perdurar�por�mais�tempo�a�vida�dessas�produções�artísticas,�mas�por�que�essa�preocupação�em�salvaguardar�todas�as�produções�contemporâneas,�uma�vez�que,�algumas�delas�possuem�propostas�de�efemeridade,�ou�que�determinam�seu�fim?�Essas�questões�são�extremamente�complexas�nas�discussões�do�campo�das�artes,�e�estão�longe�de�chegar�a�um�veredicto.�Mas�quando�uma�obra�entra�em�um�museu,�ou�em�instituições�de�memória,�esses�espaços�carregam�em�seus�primórdios,�o�sentimento�de�perpetuação.

A�partir�dessas�questões,�a�Ciência�da�Informação�entraria�buscando�promover�reflexões�em�torno�de�seu�objeto�de�estudo,�a�informação,�utilizando�seus�procedimentos�técnicos,�como�a�seleção,�representação�e�recuperação�da�informação,�pensando�nesses�mecanismos�como�ações�auxiliares�na�formação�das�identidades�e�na�preservação�das�memórias�sociais.�Dessa�maneira,�DODEBEI�(1997)�afirma�em�sua�tese�que:

[...]�a�Ciência�da�Informação�considera�todas�as�etapas�do�processo�social,�isto�é,�a�produção,�a�seleção,�a�organização,�e�o�uso�das�representações�informacionais.�[...]�trabalha�a�interdisciplinaridade,�no�sentido�de�fazer�uso�dos�conceitos�disciplinares�como�fontes�operacionais�teóricas�para,�circunstancialmente,�construir�um�objeto�de�estudo�(DODEBEI,�1997,�p.�25).

Dessa�maneira,�compreendendo�toda�a�diversidade�de�significados�que�essas�informações�podem�apresentar�a�partir�de�diferentes�interpretações,�voltamos�à�discussão�em�torno�do�acervo�do�NAC,�no�qual�estabelecemos�um�direcionamento�a�partir�do�sistema�de�organização�já�existente�no�acervo,�promovendo�apenas�novas�adaptações�para�organizar�as�informações,�e�por�consequência,�elaborando�um�novo�material�informacional�a�partir�da�representação�de�suas�informações.�Com�isso,�buscou-se�facilitar�a�recuperação�de�informações,�bem�como,�promover�sua�disseminação�e�preservação,�o�que�potencialmente�poderá�conduzir�a�novas�re-significações�da�memória�social�do�acervo�do�NAC�e�de�sua�comunidade.

Estabelecer�relações�entre�os�campos�da�Preservação,�da�Arte�e�da�CI,�refletindo�a�epistemologia�da�Ciência�da�Informação,�seu�objeto�de�estudo,�e�como�este,�se�estabelece�em�diferentes�

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contextos�a�partir�de�sua�socialização�,�isso�nos�auxilia�na�compreensão�e�qual�a�seria�melhor�visão�ou�a�mais�próxima,�que�seu�objeto�de�estudo�vai�dialogar�e�se�firmar�(LOUREIRO,�2002).

Considerações

Entre�2006�a�2010�com�uma�nova�coordenação�à�frente�do�NAC,�com�a�professora�Marta�Penner�do�Departamento�de�Artes�Visuais,�houve�ações�e�tentativas�para�a�reutilização,�preservação�e�recuperação�desse�espaço,�como�ambiente�de�produção�em�arte�e�conhecimento.�Segundo�Jordão�(2008)�uma�dessas�ações�foi�o�projeto��NAC�30�anos���sobrevivendo�nas�Trincheiras��,�realizado�em�dezembro�de�2008,�assim:

A�partir�de�meados�de�2007,�o�NAC�foi�oxigenado�com�uma�nova�coordenação�que�vem�paulatinamente�retomando�sua�proposta�inicial.�Nesse�sentido,�mesmo�sem�o�apoio�da�universidade�e�do�próprio�departamento�de�artes�visuais�da�UFPB,�o�Núcleo�tem�conseguido�aprovar�sistematicamente�projetos�em�editais�públicos�de�fomento�à�produção�cultural�e�artística,�como�podemos�perceber�com�a�realização�do�NAC:�30�anos�que�demonstra�que�apesar�de��sobreviver�nas�trincheiras��o�Núcleo�continua�vivo�(JORDÃO,�2008,�p.8).

Como�resultado�desse�projeto���que�contou�com�mesas�redondas,�oficinas�e�uma�exposição�(cujo�projeto�expo�gráfico�pode�ser�adotado�como�uma�exposição�de�longa�duração�para�o�Núcleo)��,�teve-se�a�publicação�de�uma�revista,�com�textos�resultantes�dos�depoimentos�realizados�nas�mesas�redondas,�de�artistas�como,�Chico�Dantas,�Chico�Pereira,�Dyógenes�Chaves,�Felipe�Ehrenberg,�Paulo�Bruscky,�Jota�Medeiros�e�Falves�Silva,�assim�como,�um�ensaio�introdutório�de�Fabrícia�Cabral�Jordão�(mestranda�em�Artes�Visuais�da�ECA/USP),�tais�textos,�atentam�para�algumas�ações�que�fizeram�parte�das�memórias�do�NAC�nos�seus�últimos�trinta�anos,�assim�como,�retrata�algumas�das�experiências�artísticas�individuais�no�campo�das�artes,�destacando-se�a�arte�contemporânea.

Ações�como�esta,�auxiliam�significativamente�a�recuperação,�a�divulgação�e�preservação�das�memórias�do�Núcleo.�Entretanto,�para�preservar�as�informações,�faz-se�necessário�e�essencial�o�tratamento�e�organização�pela�representação�e�classificação�em�novos�suportes,�como�catálogos,�inventários,�repositórios�digitais;�bem�como,�é�de�suma�importância�atentar�para�a�preservação�do�documento�em�si.�Uma�vez�que,�segundo�Silva�(2001,�p.30)��A�preservação�de�documentos�contribui�ao�esclarecimento�de�nossa�origem�étnica�e�ao�enriquecimento�do�patrimônio�cultural�do�mundo�.

Em�busca�da�conservação�e�organização�do�acervo�do�NAC�foi�o�procedimento�da�higienização,�considerado�uma�ação�preventiva�que�auxilia�na�vida�útil�dos�documentos.�Em�relação�a�esse�procedimento,�afirmam�Yamashita;�Paletta�(2006):

A�higienização�de�um�acervo�é�um�dos�procedimentos�mais�significativos�que�há�no�processo�de�conservação�de�materiais�bibliográficos.�A�poeira�é�a�grande�inimiga�da�conservação�dos�documentos,�pois�contém�partículas�de�areia�que�cortam�e�arranham;�fuligem,�mofo�e�inúmeras�outras�impurezas,�atraem�umidade�e�degradam�papéis.�Além�de�remover�a�poeira,�sempre�que�possível,�devem�ser�removidos�objetos�danosos�aos�documentos,�como�grampos,�clipes�e�prendedores�metálicos.�A�higienização�corresponde�a�retirada�da�poeira�e�outros�resíduos�estranhos�aos�documentos,�por�meio�de�técnicas�apropriadas�(YAMASHITA;�PALETTA,�2006,�p.177).

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Realizamos�o�processo�de�higienização�em�todos�os�documentos�e�livros�de�artistas,�que�classificamos�e�organizamos�dentro�do�recorte�temporal�estabelecido�para�a�pesquisa.�No�caso�do�acervo�do�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba,�nossa�ação�não�só�se�preocupou�em�representar�as�memórias�deste�núcleo�por�meio�da�sistematização�das�informações�contidas�em�seus�objetos�e�documentos,�mas�atentou�para�a�preservação�física�de�seus�materiais.�Dessa�forma,�

A�preservação�é�o�agir�em�procedimentos�que�visam�ao�retardamento�ou�à�prevenção�de�deterioração�ou�dos�estragos�nos�documentos.�No�caso�do�suporte�em�papel,�isso�ocorre�por�intermédio�do�controle�do�meio�ambiente,�das�estruturas�físicas�e�dos�acondicionamentos�que�possam�mantê-lo�numa�situação�de�guarda�estável.�(SILVA,�2001,�p.30).

Entretanto,�é�de�suma�importância�um�trabalho�permanente�na�conservação�do�acervo�do�NAC,�com�uma�equipe�especializada,�assim�como,�uma�reformulação�na�própria�estrutura�onde�se�encontra�o�acervo,�com�novas�estantes,�climatização�e�controle�da�umidade,�constante�processo�de�higienização�e�até�mesmo�restauração.�

Em�relação�ao�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba,�as�dificuldades�ainda�são�enormes,�principalmente�no�que�tange�o�apoio�e�investimento�por�parte�da�UFPB,�e�do�Departamento�de�Artes�Visuais.�No�qual�poucos�professores�do�Departamento�de�Artes�conhecem�ou�ainda,�compartilham�as�memórias�deste�Núcleo�com�seus�discentes,�assim�como,�pouco�utilizam�e�se�apropriam�dos�espaços�do�NAC�para�ministrarem�suas�aulas�ou�desenvolver�atividades�práticas�e�experimentais.�

A�falta�de�fiscalização�por�parte�dos�órgãos�competentes,�agregado�ao�desconhecimento�da�sociedade,�acelera�o�processo�de�degradação�e�esquecimento�do�acervo�do�NAC,�bem�como�de�outras�instituições�culturais.�A�título�de�curiosidade,�no�ano�de�2012�o�Corpo�de�Bombeiros�Militar�da�Paraíba,�através�da�portaria�N°�036/2012,�estabeleceu�a�norma�nº�004/2012,�o�documento�de�classificação�das�edificações�quanto�à�natureza�da�ocupação,�altura�e�área�construída,�e�define�na�tabela�1�do�documento�a�classificação�das�edificações�quanto�à�ocupação�ou�uso,�nesse�sentido,�denominado�de��Local�de�Reunião�de�Público�,�o�item��F-1���Museus,�centro�de�documentos�históricos,�bibliotecas�e�assemelhados�,�e�evidências�os�aspectos�essenciais�para�o�funcionamento�e�prevenção�de�sinistros�para�este�tipo�de�local.

Apesar�da�existência�de�diretrizes�que�busquem�a�prevenção�e�a�proteção�tanto�dos�acervos,�quanto�da�vida�dos�profissionais�que�atuam�nessas�instituições,�o�ato�de�fiscalizar�e�cobrar�melhorias�parece�inexistir.�Outro�aspecto�que�se�percebe�em�relação�ao�NAC,�é�que�a�pouca�disponibilização�de�recursos�e�de�estrutura�enfrentada�pelo�Núcleo,�e�a�falta�de�interesse�da�própria�UFPB�pelo�seu�patrimônio,�outro�motivo�de�seu�abandono,�pode�configurar-se�também�pela�inexistente�disponibilização�ou�ainda�pela�falta�de�reconhecimento�de�valor�de�seu�acervo.�Por�esse�motivo�a�necessidade�da�implantação�de�políticas�públicas�e�uma�política�de�preservação�efetiva,�trariam�novos�ares�e�visualização�para�os�acervos�e�arquivos�paraibanos.�Loureiro�(2000a):�

A�elaboração�e�implantação�de�Políticas�Públicas�devem�garantir�e�prover�os�canais�necessários�para�que�o�sujeito�exerça�seu�direito�de�produção�e�acesso�à�cultura,�ao�patrimônio�cultural,�à�memória�e�à�informação.�Não�se�trata�da�imposição�de�um�quadro�sócio-político�engendrado�a�partir�de�uma�base�ideológica�única,�mas�de�estímulo�e�respeito�ao�pluralismo,�à�diferença�e�à�diversidade�nas�construções�culturais�(LOUREIRO,�2000.a,�p.102).

Tratar�as�informações�a�partir�de�sua�representação�e�classificação,�promovendo�assim�uma�organização�que�permita�a�disponibilização�e�acesso,�nos�direciona�para�a�conservação�e�preservação�desses�bens�culturais,�e�para�isso,�podemos�pensar�na�importância�da�preservação�das�informações�e�das�memórias.

Com�o�tratamento�das�informações,�a�sistematização�e�organização�desse�acervo,�esperamos�que�seja�possível�evidenciar�as�memórias,�e�gerar�novas�visibilidades�ao�Núcleo,�bem�como,�proporcionar�uma�dinamização�na�busca�das�informações.�Ao�pesquisar�nos�acervos,�as�memórias�poderão�assim�ser�evocadas�e�re-significadas,�construindo�novas�perspectivas�e�informações�através�dos�resultados�das�pesquisas,�o�que�consequentemente�agregará�novas�memórias,�para�os�Arquivos,�Bibliotecas,�Centros�de�Documentação,�Museus,�e�para�nosso�objeto�de�estudo,�o�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba.�

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Thaís�Catoira�Pereira�é�Mestre�em�Ciência�da�Informação�(PPGCI/�UFPB)�

Fonte:�Acervo�José�Simeão�Leal�(NDHIR/UFPB)

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Notas

¹�A�resolução�15/79�da�CONSEPE�sobre�a�criação�dos�Núcleos�de�Extensão�da�UFPB�foi�organizada�e�digitalizada,�pode�ser�encontrada�na�CX1CP1�no�acervo�do�Núcleo�de�Arte�Contemporânea.�²�A�coordenação�do�Núcleo�desde�sua�criação�utilizou�em�seus�relatórios�e�documentos�administrativos,�os�termos�biblioteca/arquivo,�para�denominar�o�espaço�no�qual�estavam�armazenando�seus�documentos,�e�obras.�Para�a�pesquisa,�utilizamos�o�termo�acervo,�visando�um�entendimento�mais�abrangente,�para�além�de�documentos,�mas�também�para�produções�artísticas�e�bens�simbólicos.�Entretanto,�a�diferença�é�simplesmente�terminológica,�o�que�não�altera�a�função�ou�característica�do�conteúdo�material.�³�Paulo�Estellita�Herkenhoff�se�engana�no�nome,�diz�Arivaldo�Prado�Valadares�ao�invés�de�Clarival�do�Prado�Valladares,�provavelmente�o�erro�também�não�foi�percebido�durante�a�entrevista�por�Andriani�(2010).��Segundo�Loureiro�(2002)�a�socialização�da�informação�configura-se�como�uma�estratégia�alternativa�na�adoção�de�novas�abordagens,��Para�além�das�visões�tradicionais,�a�socialização�da�informação�remete�à�construção,�tratamento�e�divulgação�da�informação�em�regime�de�cooperação,�parceria�e�solidariedade.��(LOUREIRO,�p.�2,�2002).��O�projeto��NAC�30�anos:�sobrevivendo�nas�Trincheiras��foi�uma�proposição�da�Fundação�Ormeo�Junqueira�Botelho,�selecionado�para�integrar�a�Rede�Nacional�Funarte�Artes�Visuais�(edição�2008).�O�projeto�foi�desenvolvido�em�parceira�pelo�NAC/UFPB�e�a�Usina�Cultural�Energisa.

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Boa�noite�a�todos,�antes�de�iniciar�minha�fala�gostaria�de�agradecer�ao�Dyógenes�Chaves�e�a�toda�a�equipe�do�projeto�pelo�convite.�Para�mim�será�sempre�uma�alegria�retornar�a�João�Pessoa,�especialmente�à�UFPB,�onde�iniciei�minha�vida�acadêmica�e�pude�ter�contato�com�uma�instituição�que�foi�fundamental�em�minha�trajetória:�o�NAC/UFPB,�que�como�objeto�de�pesquisa,�me�aproximou�de�um�campo�muito�complexo,�o�das�instituições�culturais�brasileira�e�das�políticas�públicas�de�cultura.

Desse�modo,�minha�contribuição�numa�mesa�que�tem�como�objetivo��discutir�e�apresentar�a�realidade�dos�Arquivos�Paraibanos,�considerando�as�condições�de�acesso,�conservação�e�responsabilidade�técnica,�administrativa�e�pública�,�será�uma�análise�pontual�sobre�a�institucionalização�do�NAC�tomando�por�base�duas�perspectivas:�

Primeiro:�buscarei�articular�a�criação�do�NAC�no�contexto�mais�amplo�do�processo�de�institucionalização�da�área�cultural�brasileira�já�que,�apesar�das�especificidades,�a�situação�do�Núcleo�e�do�seu�acervo�não�difere�muito�da�que�encontramos�na�maioria�das�instituições�culturais�nacionais.�

Segundo:�buscarei�problematizar�alguns�aspectos�desse�formato�de�institucionalização�(sobretudo�seu�modelo�gestão)�e�seus�reflexos�na�trajetória�do�NAC/UFPB�no�período�de�1978�a�1985.�

O�processo�de�institucionalização�da�área�cultural�brasileira�se�inicia�na�década�de�1930,�durante�o�período�Vargas,�e�sofre�um�vertiginoso�crescimento�durante�o�regime�militar,�sobretudo�a�partir�de�1975,�ou�seja,�os�dois�momentos�de�maiores�investimentos�e�crescimento�nessa�área�aconteceram�durante�regimes�autoritários�e,�na�maioria�das�vezes,�estiveram�relacionados�com�interesses�políticos�que�passavam�longe�das�reais�necessidades�do�campo�cultural�e�de�seus�agentes,�além�de�servir�como�meio�de�perpetuar�privilégios�das�elites�econômicas�brasileiras.�

Se�por�um�lado�esse�formato�de�institucionalização,�ao�se�pautar�em�imperativos�alheios�ao�campo�cultural,�ocorreu�sem�que�nossas�instituições�passassem�por�um�efetivo�amadurecimento,�autocritica,�autonomia�e�modernização,�por�outro,�a�cultura,�nesse�processo,�foi�apropriada�e�instrumentalizada,�como�uma�moeda�de�troca,�pelo�aparato�estatal.

Essa�configuração�imprimiu�nas�relações�institucionais�uma�indefinição�entre�o�domínio�público�e�o�privado,�entre�a�entidade�jurídica�e�a�pessoa�física,�tal�indefinição�se�expressa,�por�exemplo,�no�dia�a�dia�de�diversas�instituições�culturais,�nas�

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quais�os�interesses�privados�dos�gestores�e�o�favorecimento�do�seu�ciclo�pessoal�de�amizades�é�a�regra.�E�o�atendimento�às�demandas�e�interesses�da�coletividade,�a�exceção.�

Como�derivação�do�exposto,�percebe-se,�nas�gestões�institucionais�a�reprodução,�tal�qual�ocorre�na�politicagem�brasileira,�de�uma�mentalidade�paternalista,�engendrada�em�relações�personalistas�e�corporativistas.�Essas�características�nutrem�dinâmicas�institucionais�fundamentadas�em�uma�mentalidade�oligárquica�e�assistencialista,�com�ações�voltadas,�quando�muito,�para�o�tempo�presente.�Ou�seja,�como�são�privilegiadas�iniciativas�e�negociações�personalistas,�travadas�fora�da�esfera�e�do�interesse�público,�inviabiliza-se�a�acumulação�social�de�experiências�institucionais�e�a�efetivação�de�políticas�de�longo�prazo.

Essa�fragilidade�e�instabilidade�terá�repercussões�que�se�fazem�sentir�nos�dias�atuais,�já�que�ainda�hoje�parece�não�ter�se�consolidado�entre�nós�uma�experiência�concreta�da�ideia�de�instituição,�com�tudo�que�ela�implicaria�em�favor�de�uma�tradição�de�gestão�e�política�pública�voltada�para�o�campo�cultural.²�

A�partir�do�exposto,�pode-se�considerar�que�no�Brasil�a�força�e�desempenho�exitoso�(ou�não)�de�uma�instituição�cultural�residirá�menos�numa�tradição�institucional�e�mais�na�maneira�como�seus�gestores�lidam�e�conduzem�o�patrimônio�público,�nas�relações�e�articulações�que�estes�estabelecem�com�os�agentes�do�campo�cultural,�político�e�econômico.�

Como�se�pode�constatar�observando�a�trajetória�do�NAC/UFPB.

De�acordo�com�a�documentação�e�com�os�depoimentos�de�alguns�dos�envolvidos,�a�criação�do�NAC�em�1978�seria�fruto�das�concepções�progressistas�do�reitor�Lynaldo�Cavalcanti�Albuquerque,�que�desejava�dinamizar�a�área�cultural�na�UFPB.�No�entanto,�essa�ação�estava�em�completa�consonância�com�as�estratégias�de�valorização�do�campo�cultural�desenvolvidas�pelo�regime�militar�para�as�universidades�brasileiras.�Tanto�é�assim,�que�a�criação�do�NAC/UFPB�foi�viabilizada�através�de�parceria�da�UFPB�com�um�dos�principais�órgãos�da�política�cultural�do�general�Geisel³,�a�Funarte,�que�tinha�um�importante�papel�no�diálogo�e�aproximação�do�Estado�autoritário�com�artistas�e�intelectuais�de�esquerda.�

Ou�seja,�a�criação�do�NAC/UFPB,�assim�como�diversas�outras�instituições�culturais�naquele�momento,�foi�possibilitada,�no�âmbito�da�macroestrutura,�não�por�uma�real�preocupação�do�

INSTITUIÇÃO�PÚBLICA�X�GESTÃO�PERSONALISTA:�O�CASO�DO�NÚCLEO�DE�ARTE�CONTEMPORÂNEA�DA�UFPB�(1978-1985)¹�Fabrícia�Cabral�de�Lira�Jordão

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estado�com�questões�relativas�à�produção,�circulação�e�mercado�de�arte�ou�com�melhorias�do�campo�cultural,�mas�como�uma�estratégia�de�aproximação�e�tentativa�de�neutralização�dos�artistas�de�oposição�durante�o�processo�de�abertura�política,�momento�em�que�era�mais�vantajoso,�para�o�Estado�autoritário,�apoiar�financeiramente�a�produção�artística�e�fornecer�espaço�para�exibição�e�atuação�dos�artistas,�mesmo�aqueles�que�não�expressavam�o�ideal�do�regime,�do�que�vê-los�construindo�circuitos�absolutamente�independentes�e�imprevisíveis.��

É�essa�contradição�na�estratégia�de�aproximação�do�regime�militar�que�possibilitará�que�Paulo�Sérgio�Duarte,�intelectual�que��havia�sido�preso�duas�vezes���e�vinha�de�um�exílio��voluntário��de��oito�anos�e�onze�meses�fora�do�Brasil���e�Antonio�Dias,��artista�cuja�produção�poética�possuía�um�certo�acento�político,�fossem�convidados�para�desenvolver�e�implantar�o�modelo�institucional�do�NAC/UFPB.�

Assim�sendo,�no�final�de�1978,�o�NAC/UFPB�surge�com�uma�proposta�institucional�inovadora�no�campo�das�artes�visuais�em�João�Pessoa�e�com�um�tremendo�desafio:�se�estabelecer�como�um�espaço�voltado�à�difusão�e�à�produção�em�arte�contemporânea,�numa�região�que�tradicionalmente�oferecia�resistência��a�qualquer�ação�atualizadora�no�contexto�artístico���e�numa�universidade�que,�há�mais�de�uma�década,�desenvolvia�ações�voltadas,�prioritariamente,�para�a�produção�artística�local�e�regional.��

Pode-se�considerar,�a�proposta�do�NAC�como�a�primeira�tentativa�de�se�implantar�uma�política�cultural�exógena,�baseada�nos�debates�travados�no�eixo�Rio���São�Paulo,�e�aberta�às�experimentações�artísticas.�Ou�seja,�sua�agenda,�procurava,�claramente,�romper�com�o�tradicional�isolamento�que�marcava�o�campo�cultural�paraibano�ao�mesmo�tempo�em�que�pretendia�difundir�a�arte�contemporânea�em�João�Pessoa.

A�proposta�desenvolvida�por�Duarte�e�Dias,�apesar�de�ousada�e�de�possuir�diversos�opositores,�foi�implementada�com�sucesso�no�intervalo�de�1978�a�1981,�período�em�que�observa-se�um�empenho�efetivo�do�Núcleo�em�promover�ações�e�proposições�artísticas�que�o�estabelecessem�como�um�centro�de�difusão�e�produção�da�arte�contemporânea.�

Percebe-se,�ainda,�uma�preocupação�para�que�esse�processo�fosse�acompanhado�de�uma�transformação�das�noções�e�práticas�artísticas�vigentes�em�João�Pessoa.�Para�tanto,�o�Núcleo�não�se�limitou�a�promover�a�exibição�de�trabalhos�que�exploravam�uma�variada�gama�de�técnica,�mídias,�materiais�e�suportes�(xerox�arte,�arte�correio,�art-door,�livro�de�artista,�videoarte,�fotografia,�instalação);�também�garantiu�que�suas�exposições�fossem�acompanhadas�de�palestras,�cursos�ou�oficinas�e�que�os�artistas�visitantes,�sempre�que�possível,�explicassem�sua�proposta,�compartilhassem�experiências,�conversassem�e�discutissem�questões�relativas�a�linguagem�artística�e/ou�meios�que�exploravam,�com�o�público�interessado.�

Além�disso,�o�Núcleo�procurou�fomentar�projetos�de�pesquisas�e�eventos�que�evidenciassem�a�aproximação�das�artes�visuais�com�outras�categorias�artísticas,�especificamente�o�cinema,�a�cenografia,�a�música,�a�literatura�e�a�arquitetura.�Como�exemplo�do�fomento�à�pesquisa�citamos�a�publicação�do�livro�

�Os�anos�60:�revisão�das�artes�plásticas�na�Paraíba��(Chico�Pereira�e�Raul�Córdula).�Ao�fomentar�essa�pesquisa,�o�Núcleo�apoiou�a�primeira�tentativa�de�sistematizar�e�dar�visibilidade�a�um�importante�período�da�história�das�artes�visuais�na�Paraíba,�momento�em�que�se�observa�uma�dinamização�da�produção�e�do�campo�das�artes�plásticas,�sobretudo�por�conta�das�atividades�e�ações�fomentadas�pelo�Setor�de�Artes�Plásticas�da�UFPB.�Essa�ação�também�demonstra�o�reconhecimento�e�respeito,�por�parte�do�Núcleo,�às�propostas�e�experiências�institucionais�que�o�precederam,�além�de�valorizar�e�dar�visibilidade�aos�artistas�locais�e�à�produção�plástica�realizada�na�década�de�1960�em�Campina�Grande�e�em�João�Pessoa.�

Esse�comprometimento�com�a�arte�contemporânea�e�suas�questões�resultou�em�ações�de�extrema�relevância,�muitas�pioneiras�e�avançadas�para�a�realidade�institucional�paraibana�e�nordestina�da�época.�Também�é�louvável�sua�preocupação�e�empenho�em�envolver�os�artistas�em�sua�proposta,�tanto�por�meio�de�ações�de�caráter�mais�reflexivo�quanto�por�meio�do�estímulo�a�uma�produção�experimental,�o�que�certamente�contribuiu�para�ampliar�e�relativizar�as�noções�artísticas�vigentes.�

A�partir�de�meados�de�1981,�quando�os�mentores�intelectuais�da�proposta�do�Núcleo�já�haviam�se�desligado,�observa-se�uma�crescente�diminuição�de�suas�atividades,�a�título�de�exemplo�podemos�citar�que�o�número�anual�exposições�caiu�de,�aproximadamente,�13,�em�1980,�para�7�em�1981.�Também�ocorre�a�paulatina�modificação�de�sua�proposta.�Do�mesmo�modo,�o�enfoque�antes�dado�à�arte�contemporânea�(a�sua�exibição,�produção�e�formação)�é�substituído�pela�ênfase�nas�tradicionais�categorias�artísticas�e�na�arte�regional.

A�partir�da�análise�de�inúmeros�documentos,�foi�possível�detectar�3�razões�principais�para�essas�mudanças:

a�primeira�no�campo�da�macroestrutura�esta�relacionada�com�as�alterações,�no�âmbito�federal,�das�políticas�culturais�que�haviam�possibilitado�a�criação�e�manutenção�do�NAC�na�UFPB.�A�partir�de�1982,�dando�continuidade�a�uma�nova�etapa�do�processo�de�abertura�iniciado�por�Ernesto�Geisel,�João�Figueiredo,�último�militar�à�frente�da�presidência,�modifica�completamente�a�estratégia�cultural.�Procedimento�de�acordo�com�o�modelo�de�institucionalização�brasileiro,�que�como�mencionei�anteriormente,�se�fundamenta�em�interesses�políticos�que�passam�longe�das�reais�necessidades�do�campo�cultural�e�de�seus�agentes.�Essa�instrumentalização�da�arte�pelo�aparato�estatal�fica�evidente�em�períodos�de�transição,�quando,�geralmente,�as�diretrizes�das�politicas�culturais�são�reformuladas�de�acordo�com�o�grupo�social/vertente�artística�que�se�quer�privilegiar.�Assim�sendo,�a�partir�de�1882,�com�o�general�Figueiredo�no�poder,�a�estratégia�cultural�adotada�passa�a�privilegiar�a�vertente�patrimonial�e�a�valorizar�a�cultura�popular�como�a�verdadeira�arte�representativa�da�identidade�nacional.�

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Nesse�contexto,�a�produção�cultural�contemporânea�e�os�inúmeros�problemas�que�vão�se�associando�à�cadeia��produção,�circulação�e�consumo��foram�relegadas�a�um�espaço�secundário,�consequentemente�ocorre�um�sistemático�declínio�das�atividades�e�do�orçamento�da�Funarte,�órgão�responsável�por�essa�vertente�artística�e�principal�financiador�das�atividades�do�NAC/UFPB;

a�segunda�causa,�eu�situo�no�campo�da�microestrutura�e�se�relaciona�com�a�crise�institucional�instalada�na�UFPB�em�decorrência�do�vertiginoso�crescimento�ocorrido�durante�o�reitorado�de�Lynaldo�Cavalcanti�Albuquerque�(1976-1980).�Lynaldo,�que�no�afã�de�expandir�a�universidade,�não�teve�tempo�suficiente�para�sua�consolidação�¹�.�Essa�situação�foi�intensificada�com�as�reduções�drásticas�nos�orçamentos�das�universidades��por�conta�do�arrocho�econômico�que�o�Brasil�atravessou�durante�a�crise�do�petróleo�em�1979;�E�por�fim,�a�terceira�razão,�que�eu�situo�no�âmbito�da,�digamos,�nanoestrutura�e�se�relaciona�com�os�modelos�de�gestão�implementados�no�NAC/UFPB.�Como�mencionei�anteriormente�o�processo�de�institucionalização�do�campo�cultural�no�mesmo�instante�que�cria�um�espaço�público,�destinado�à�coletividade,�pelo�uso�de�diversos�estratagemas�o�converte�em�um�reduto�oligárquico�e�elitista.�Um�dos�mais�perversos�estratagemas�utilizados�é�a�gestão�personalista,�já�que�é�o�gestor�que�pode�levar�a�cabo�(ou�não)�o�processo�de�segregação,�que�pode�tirar�proveito�(ou�não)�da�sua�posição�para�perpetuar�a�manutenção�de�privilégios�pessoais,�que�pode�dispor�(ou�não)�do�bem�e�do�patrimônio�públicos�com�se�esses�fossem�bens�privados.�

Pelo�exposto,�a�gestão�personalista�será,�dentre�as�três�causas,�a�questão�eleita�para�uma�análise�pontual,�já�que,�me�parece�afetou�de�modo�mais�direto�e�nefasto�a�trajetória�da�instituição�NAC/UFPB,�muito�embora,�as�três�razões�expostas�por�serem�interdependentes,�a�rigor,�não�podem�ser�pensadas�de�maneira�isoladas.�

Desse�modo,�a�trajetória�do�NAC/UFPB�no�período�de�1978�a�1985,�pode�ser�dividida�em�duas�fases,�que�correspondem�a�dois�modelos�de�gestão�e�a�procedimentos�distintos�com�o��bem�público:�a�primeira�de�1978�a�1981,�quando�foram�promovidas�66%�das�exposições�e�vigorou�a�proposta�concebida�por�Duarte�e�Dias;�a�segunda�de�1982�a�1985,�marcada�simultaneamente�pela�transformação�da�proposta�inicial,�o�declínio�das�atividades�e�ações�do�NAC/UFPB,�e�o�completo�desligamento�de�Paulo�Sérgio�Duarte�do�projeto.�

Como�a�primeira�etapa,�que�vai�de�1978�a�1981,�já�foi�apresentada.�Me�voltarei�para�a�segunda�fase�do�Núcleo.

No�período�de�1982�a�1985,�as�ações�voltadas�para�a�cultura�popular�e�regional,�antes�eventuais,�superaram�as�voltadas�para�a�arte�contemporânea,�como�percebe-se�na�programação�do�Núcleo.�Nesse�intervalo,�foram�realizadas�aproximadamente�17�exposições¹¹,�das�quais�apenas�3�exploravam�novas�mídias.�As�ações�de�formação,�além�de�não�possuírem�regularidade�não�

estavam�exclusivamente�relacionadas�às�exposições,�como�acontecia�no�período�anterior.�Do�mesmo�modo,�a�produção�textual,�que�anteriormente�enfocava�questões�relacionadas�à�arte�contemporânea,�neste�momento�se�volta�para�apreciação�da�produção�artística�local.�

É�importante�destacar�que,�no�Brasil,�a�partir�da�década�de�1980�a�discussão�em�torno�da�questão�regional�recebe�maior�relevo�nas�artes�plásticas,�marcando�presença�na�produção�artística�e�no�debate�crítico.�

Nesse�momento,�por�exemplo,�a�crítica�Aracy�Amaral�identifica�dois�modelos�de�animação�cultural;�o�primeiro�relacionaria�a�arte�internacional�com�a�arte�local,�com�a�discussão�incidindo,�geralmente,�sobre�o�campo�restrito�da�arte.�O�segundo�modelo�se�apoiaria��no�próprio�ambiente�cultural�local,�transformando-o,�tornando-o�gerador�de�um�processo�de�autovalorização,�revitalizando�formas�de�expressões�que�se�arriscam�a�cair�em�desuso,�ou�que�são�menosprezadas�[...]�¹²,�portanto�seria�mais�abrangente�e�engajado.�

No�entanto,�baseada�nas�análises�e�nos�desdobramentos�das�exposições�promovidas,�não�podemos�aplicar�nenhum�desses�modelos�ao�enfoque�dado�à�produção�regional�no�Núcleo,�já�que�essa�orientação�não�foi�consequência�da�implementação�de�uma�nova�proposta�(com�metas,�estratégias�de�ações�e�objetivos�definidos)�nem�expressou�uma�real�preocupação�em�converter�esse�espaço�em�um�centro�de�formação,�valorização�e�promoção�da�arte�local.�

Ao�contrário,�o�que�fica�claro,�confrontando�os�documentos,�os�discursos�e�práticas�institucionais,�é�que�apesar�crise�do�NAC/UFPB�está�inserida�e�diretamente�relacionado�com�as�transformações�nas�políticas�culturais�no�âmbito�federal,�com�a�crise�que�atravessou�a�UFPB�e�a�Funarte,�o�impacto�dessa�conjuntura�foi�potencializado�pelo�pouco�empenho�de�seu�coordenador,�Raul�Córdula,�em�dar�continuidade�à�proposta�concebida�por�Duarte�e�Dias,�no�momento�em�que�os�recursos�ficaram�escassos�e�ocorre�o�direcionamento�das�políticas�culturais,�que�haviam�possibilitado�a�criação�e�manutenção�do�Núcleo,�para�a�cultura�popular.�Nesse�contexto,�Córdula,�prefere�diminuir�e�restringir�as�atividades�do�Núcleo�à�captar�recursos�em�outras�fontes�ou�articular�a�realização�de�ações�independentes�do�apoio�da�Funarte.�Optando�por�um�formato�que�privilegiava�a�arte�regional�e�ateliês�de�pintura�e�desenho,�tendo�em�vista�que�seria�menos�oneroso�e�trabalhoso�que�articular�a�vinda�de�exposições�de�artistas�de�outras�regiões.

Esse�descompromisso�fica�claro�quando�sabemos�que�o�gestor�do�Núcleo,�Raul�Córdula,�no�período�de�1982�a�1984,�acumula�o�cargo�de�coordenador�do�NAC/UFPB�e�diretor�artístico�e�técnico�da�Oficina�Guaianases�de�Gravura�em�Olinda¹³.�E�como�se�não�bastasse,�em�1983,�passa�a�residir�em�Olinda¹�,�onde�permanece�ainda�hoje.�

O�acumulo�de�cargos,�um�em�Olinda�e�outro�em�João�Pessoa,�seguidos�da�mudança�definitiva�de�Raul�Córdula�para�Olinda�e�das�transformações�da�proposta�inicial�do�Núcleo�somada�à�sua�reduzida�atuação�no�período�de�1982�a�1985���ao�longo�do�ano�de�1983�promove�apenas�3�exposições�em�sua�sede�e�nos�dois�anos�seguintes�apenas�6���demonstra�claramente�que,�apesar�de�se�manter�como�coordenador�do�NAC/UFPB,�seus�interesses�

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já�não�estavam�relacionados�com�a�referida�instituição,�privilegiando�acordos�descompromissados�com�a�dimensão�pública�e�na�maioria�das�vezes�relacionadas�com�sua�autopromoção.�

Em�1986,�Raul�Córdula�lançou�o��Manifesto�da�precariedade�do�NAC��no�Jornal�A�União�onde,�exaltando�seus�feitos�e�se�eximindo�de�qualquer�responsabilidade,�culpou�a�UFPB�pela�precária�situação�do�NAC/UFPB¹�.�No�entanto,�conforme�aqui�discutido,�o�impacto�da�conjuntura�desfavorável�que�incidiu�sobre�essa�instituição�foi�potencializado�pela�falta�de�uma�liderança�empenhada�e�compromissada�em,�sem�perder�de�vista�os�objetivos�da�proposta�inicial,�encontrar�caminhos�para�superar�a�difícil�situação�que�o�Núcleo�enfrentava,�como�bem�notou�Antonio�Dias,�citação:��depois�que�o�Paulo�Sérgio�Duarte�saiu,�esse�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�ficou�praticamente�morto�durante�sete�ou�oito�anos�[...]�tudo�depende�de�vontade�política,�não�há�dinheiro�nem�liderança�¹�.�

O�caso�do�NAC/UFPB,�se�por�um�lado�demonstra�o�potencial�da�instituição�para�transformar�e�formar�o�processo�cultural,�por�outro,�ratifica�que,�na�ausência�de�uma�tradição�e�definição�institucional,�a�ativação�desse�potencial�dependerá�da�maior�ou�menor�consciência�institucional�(e,�portanto,�pública),�dos�esforços,�articulações�e�atuação�de�seus�gestores.�Portanto,�é�imprescindível,�lutar�por�mecanismos�legais�que�não�só�assegurarem�critérios�de�continuidade�mas�também,�e�principalmente,�garantam�a�manutenção�da�política�e�perfil�institucional�do�NAC/UFPB,�tornando�evidente�que�a�definição�de�qualquer�proposta�e/ou�projeto,�seja�ele�de�curto,�médio�ou�longo�prazo,�deve�partir�(e�respeitar),�necessariamente,�sua�razão�de�ser�institucional.�Enquanto�isso�não�acontece,�o�NAC/UFPB�continuará�à�deriva,�a�mercê�dos�interesses�pessoais�de�seus�gestores.

Por�fim,�resta�dizer�que,�em�um�país�onde�poucas�são�as�ações�de�preservação�e�raras�são�as�políticas�de�memória,�deve-se,�como�nos�alertou�Edgardo�Antonio�Vigo,�em�seu�poema�visual,��semear�a�memória�para�que�não�cresça�o�esquecimento�.�Portanto,�se�essa�fala�contribuir,�de�alguma�maneira,�para�que�a�história�e�a�memória�do�NAC/UFPB�não�caiam�no�esquecimento,�terá�cumprido�seu�papel.�

Notas

¹�Texto�elaborado�a�partir�da�pesquisa:�JORDÃO,�Fabrícia�Cabral�de�Lira.�O�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Universidade�Federal�da�Paraíba�(1978���1985).�2012.�240f.�Dissertação�(Mestrado)���Programa�de�Pós-Graduação�em�Artes�Visuais,�Escola�de�Comunicação�e�Artes,�Universidade�de�São�Paulo,�São�Paulo,�2012.²�SALZSTEIN,�Sônia.�Arte,�Instituição�e�Modernização�Cultural�no�Brasil:�uma�experiência�institucional.�1994.�187�f.�Dissertação�(Mestrado�em�Filosofia)���Faculdade�de�Filosofia,�Letras�e�Ciências�Humanas,�Universidade�de�São�Paulo,�São�Paulo,�1994.�³�MICELI,�Sergio.�O�processo�de��construção�institucional��na�área�cultural�federal�(anos�70).�In:�MICELI,�Sergio�(Org.)�Estado�e�Cultura�no�Brasil.�São�Paulo:�Difel,�1984,�p.�57.��NAPOLITANO,�Marcos.�Coração�Civil:�Arte,�Resistência�e�Lutas�Culturais�durante�o�Regime�Militar�Brasileiro�(1964-1980).�2011.�374f.�Tese�(Tese�de�Livre-Docência�para�concurso�junto�ao�Departamento�de�História).�Faculdade�de�Filosofia,�Letras�e�Ciências�Humanas,�Universidade�de�São�Paulo,�São�Paulo,�2011.�����Ibidem.��Ibidem,�p.�196.��Ibidem.���CÓRDULA,�Raul.�A�experiência�renovadora�do�NAC�no�campo�da�extensão�universitária.�In:�GOMES,�Dyogenes�Chaves�(Org).�O�Núcleo�de�Arte�Contemporânea�da�Paraíba/NAC.�Rio�de�Janeiro:�Funarte,�2004,�p.�14.��BOTELHO,�Isaura.�Romance�de�Formação:�Funarte�e�política�cultural�(1976-1990).�Rio�de�Janeiro:�Edições�Casa�de�Rui�Barbosa,�2000.¹��BORBA,�Berilo�Ramos.�Depoimento�escrito�em�outubro�de�2005.�In:�GUERRA,�Lúcia�de�Fátima;�DAVID,�Fernandes�(Org.).�UFPB�50�Anos.�João�Pessoa:�Editora�Universitária�UFPB,�2006.�p.�107.¹¹�No�período�de�1982�a�1984,�o�Núcleo�realizou�17�exposições�em�sua�sede:�3�de�fotografias,�3�mostras�iconográficas,�6�de�desenhos�e/ou�pintura,�2�de�gravuras,�1�de�papel�artesanal,�1�de�litofsete,�1�de�xerografia.�Em�1985,�por�conta�de�sua�precária�estrutura�e�a�falta�de�recursos,�não�promoveu�nenhuma�exposição�em�sua�sede.��No�entanto,�promoveu�junto�com�a�Secretaria�de�Cultura�do�Estado�da�Paraíba�a�exposição�Primitivos,�com�o�acervo�de�artistas�primitivos�do�Museu�de�Arte�Brasileira�da�Fundação�Armando�Alvares�Penteado�de�São�Paulo,�realizada�no�Espaço�Cultural�de�João�Pessoa.�Ver:�PRIMITIVOS:�mostra�do�acervo�de�artistas�primitivos�do�Museu�de�Arte�Brasileira�da�Fundação�Armando�Alvares�Penteado�de�São�Paulo.�João�Pessoa:�[s.n.],�1985.�3�p.�Catálogo�de�Exposição,�Espaço�Cultural�de�João�Pessoa,�03�a�22�mai.�1985.�Fonte:�Acervo�NAC/UFPB.�¹²�AMARAL,�Aracy.�O�grupo�de�Cuiabá:�sol�e�energia.�In:�______.�Arte�e�meio�artístico:�entre�a�feijoada�e�o�x-burguer:�1961�-�1981.�São�Paulo:�Nobel,�1983.�p.�371-375.¹³�CÓRDULA,�Raul.�Entrevista�concedida�a�Marcelo�Montanini�em�julho�de�2010.�Disponível�em:�<http://www.recife.pe.gov.br/agendacultural/index_eventos.php�?AgendaEdicaoAno=2010&AgendaEdicaoNumero=179&TiposEventosCodigo=22>.�Acesso�em:�jul.�2012.¹��Ver:�CÓRDULA,�Raul.�Raul�Córdula:�olindense�de�coração.�Entrevista�concedida�a�Manuella�Antunes.�Disponível�em:�<http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/�suplementos/arrecifes/noticia/2012/05/12/raul-cordula-olindense-de-coracao-41932.php>�Acesso�em:�jun.�2012.��¹��CÓRDULA,�Raul.�Manifesto�de�precariedade�do�NAC.�João�Pessoa.�25�nov.�1986.�2�f.�Mimeografado.�Fonte:�Acervo�NAC/UFPB.¹��DIAS,�Antonio.�Entrevista�concedida�a�Roberto�Conduru.�In:�CONDURU,�Roberto;�RIBEIRO,�Marília�André�(Org.).�Antonio�Dias:�depoimentos.�Belo�Horizonte:�C/Arte,�2010,�p.�30.

Fabrícia�Cabral�de�Lira�Jordão�é�Mestre�em�Artes�Visuais�(USP)

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1�Introdução

Esta�comunicação�é�resultante�do�projeto�de�pesquisa�intitulado�GUIA�DE�UNIDADES�CUSTODIADORAS�DE�ACERVOS�DA�CIDADE�DE�JOÃO�PESSOA¹.�O�projeto�integra�o�Programa�de�Documentação�e�Memória,�do�Núcleo�de�Documentação�e�Informação�Histórica�Regional���NDIHR/UFPB,�através�do�Grupo�de�Estudo�e�Pesquisa�em�Cultura,�Memória,�Informação�e�Patrimônio���GECIMP�e�tem�como�coordenadoras�as�professoras�Bernardina�Freire�(DCI/UFPB)�e�Vitória�Lima�(PPGCI/UFPB).

Selecionamos�instituições�públicas�(nível�federal,�estadual�e�municipal)�e�privadas�institucionais,�com�documentação�de�caráter�público�ou�de�interesse�histórico,�como�instituições�cartoriais,�eclesiásticas�ou�empresariais;�e�privadas�pessoais�com�documentos�particulares�de�indivíduos,�famílias�ou�grupos�de�interesse�à�pesquisa�histórica�local.��Nosso�objetivo�era�mapear�as�instituições-memória�da�capital�paraibana,�tais�como:�arquivos,�bibliotecas,�museus,�centros�(núcleo)�de�documentação�e�memoriais.�

Contudo,�falarei�sobre�a�realidade�dos�arquivos�de�João�Pessoa.�Para�conhecer�essa�realidade,�fizemos-nos�as�seguintes�perguntas:�Quem�são�eles?�Onde�estão?�O�que�possuem?�Como�estão?�Dão�acesso�aos�pesquisadores?�Assim,�elaboramos�um�questionário�contendo�elementos�da�Norma�Brasileira�de�Descrição�Arquivística���NOBRADE���para�atender�a�essas�questões�que�consistem�em:�Área�de�identificação�contendo�código�de�referência,�nome�institucional,�endereço�e�telefones,�horário�de�funcionamento,�forma�de�manutenção,�dimensão�e�suporte;�Área�de�contextualização�com�o(s)�nome(s)�do(s)�produtor(es)�e�datas-limite;�História�Administrativa�da�instituição�e�do�arquivo;�Área�de�conteúdo�e�estrutura�onde�registramos�informações�sobre�o�assunto�e�a�organização;�Área�de�condições�de�acesso�e�uso�ressaltando,�ainda,�as�condições�de�reprodução.

2�Resultados�obtidos

Elencamos�100�instituições�memória�na�capital�paraibana,�contudo�apenas�33�aceitaram�responder�ao�questionário�e�fazer�parte�do�Guia�de�Unidades�Custodiadoras�de�Acervos.�Os�motivos�usados,�em�relação�aos�arquivos,�para�negarem�a�participação�no�GUIA�foram:�não�terem�Arquivo�Permanente;�o�Arquivo�Permanente�não�está�organizado�e�não�há�funcionários�para�atenderem�aos�pesquisadores.

REALIDADE�DOS�ARQUIVOS�PARAIBANOS:�ORGANIZAÇÃO,�ACESSO,�CONSERVAÇÃO,�RESPONSABILIDADE�TÉCNICA�Maria�da�Vitória�Barbosa�Lima

2.1�Arquivos�identificados

As�entrevistas�realizadas,�com�a�aplicação�de�um�questionário�específico,�em�33�instituições�arquivísticas�revelam�que�as�instituições�públicas�são�mais�acessíveis�aos�pesquisadores�como�revelam�o�quadro�1.

2.2�Quanto�ao�estágio�de�organização�dos�acervos

Verificamos�que,�nos�arquivos�pesquisados,�há�o�predomínio�daqueles��parcialmente�organizados��em�número�de�14;�em�seguida�estão�os��organizados��com�11�e�os��em�organização��com�8�referências.�Ressaltamos�que�essas�denominações�foram�dadas�pelo(a)s�entrevistado(a)s,�que�correspondem�aos�coordenadores,�chefes,�diretores�e�notários�das�unidades�arquivísticas.

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Quadro�2:�Estágio�de�organização�dos�acervos

2.3�Quanto�ao�estado�de�conservação�da�documentação

Para�o�estado�de�conservação�da�documentação�definimos�três�categorias:��boa�,��regular��e��danificada�.�Identificamos�a�predominância�de�arquivos�cuja�documentação�vai�do�grau��boa��para�a��danificada��(em�número�de�20),�ou�seja,�que�precisam�de�uma�intervenção�urgente�de�restauração.�Entretanto�2�arquivos�encontram-se�em�situação�crítica,�ou�seja,�em�estágio��regular��a��danificado�.�Pela�importância�desses�arquivos�devemos�nomeá-los�pois�trata-se�do�Arquivo�Histórico�Waldemar�Bispo�Duarte�(Arquivo�Histórico�da�Paraíba)�e�o�do�Serviço�Notarial�Monteiro�da�Franca�(cartório).�O�primeiro�possui�documentação�do�século�XVII�(destacamos�as�cartas�de�sesmarias)�ao�XX�e�o�segundo�documentação�do�século�XVIII�e�XIX�(livros�notariais�com�registros�de�cartas�de�liberdade,�testamentos�etc.)

Percebermos,�na�grande�maioria�dos�arquivos,�que�os�responsáveis�por�eles�precisam�criar�medidas�de�preservação³�e�conservação�,�pois�das�33�instituições,�22�delas�necessitam�de�ações�de�restauração��em�sua�documentação.�

Quadro�3:�Estado�de�Conservação�da�documentação

2.4�Quanto�ao�acesso

Neste�item�destacamos�o�acesso�às�informações�pelos�pesquisadores�em�geral.�Nas�unidades�arquivísticas�registram-se�em�maior�proporção�as�instituições�que�não�possuem�restrições�de�acesso�à�informação.�Apenas�9�instituições,�constituídas�pelos�arquivos�do�poder�judiciário,�do�Instituto�de�Metrologia�e�Qualidade�Industrial�da�Paraíba���IMEQ/PB,�da�Companhia�de�Águas�e�Esgotos�do�Estado�da�Paraíba���CAGEPA,�e�dos�cartórios,�possuem�alguma�restrição�que�consiste�na�solicitação�de�autorização�para�se�ter�acesso�à�documentação.�

Quadro�4:�Quanto�ao�acesso�à�documentação�nos�arquivos

2.5�Quanto�aos�instrumentos�de�pesquisa

Destacamos�que�os�arquivos�totalmente��organizados��possuem�guias,�inventários�e�catálogos.�Os��parcialmente�organizados��dão�ênfase�às�séries/coleções�que�os�pesquisadores�solicitam�com�mais�frequência,�por�isso�elaboraram�inventários,�catálogos�ou�listagens.�Os�definidos�como��em�organização�,�às�vezes,�possuem�listagens�parciais�de�sua�documentação.

2.6�Quanto�às�condições�de�reprodução

�Constatamos�que�o�pesquisador�tendo�acesso�à�documentação,�a�maioria�das�instituições�permitem�a�eles�que�fotografem�os�documentos�sem�o�uso�do�flash.

2.7�Quanto�à�responsabilidade�técnica�do�acervo

Das�33�instituições�arquivísticas�visitadas�identificamos�que�apenas�8�destas�possuem�o(a)�profissional�formado(a)�em�arquivologia�responsável�pela�administração�e�atividades�técnicas�nos�arquivos.�Detectamos�que�dos�26�arquivos�públicos,�apenas�7�possuem�arquivistas�em�seus�quadros�de�funcionários.�Os�privados,�de�um�total�de�7,�apenas�1�possui�arquivista.

3�Considerações�finais

Os�resultados�aqui�expostos,�e�obtidos�através�do�Projeto�GUIA�DE�UNIDADES�CUSTODIADORAS�DE�ACERVOS�DA�CIDADE�DE�JOÃO�PESSOA,�revelam�a�fragilidade�dos�arquivos�na�cidade�de�João�Pessoa,�Paraíba.�Avanços�ocorreram,�no�Estado,�na�formação�e�nos�estudos�sobre�a�arquivologia�com�a�criação�de�dois�cursos�de�graduação�em�Arquivologia,�na�Universidade�Estadual�da�Paraíba�(2006)�e�na�Universidade�Federal�da�Paraíba�(2008).

Contudo,�acredito�que�as�causas�dos�arquivos�paraibanos�não�estarem�em�melhores�condições,�hoje,�não�se�deve�somente�às�questões�de�ordem�econômica�ou�a�ausência�de�profissionais�qualificados,�mas,�sobretudo,�devido�a�INÉRCIA�dos�seus�administradores.

Maria�da�Vitória�Barbosa�Lima�é�Doutora�em�História�(UFPE)�e�pesquisadora�(NDHIR/UFPB)�

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Notas¹�Projeto�iniciado�em�maio�de�2010�e�encerrado�em�janeiro�de�2013.�Este�projeto,�inicialmente,�estava�previsto�para�ser�executado�em�seis�meses,�porém�as�dificuldades�de�acesso�aos�administradores�nos�obrigaram�a�ampliar�o�tempo�da�pesquisa.²�Arquivo�de�caráter�público,�mas�cuja�documentação�é�privada�porque�possui�a�documentação�pessoal�dos�ex-governadores�e�personalidades�paraibanas.³�Entendemos�preservação�como��[...]�um�conjunto�de�medidas�e�estratégias�de�ordem�administrativa,�política�e�operacional�que�contribuem�direta�ou�indiretamente�para�a�preservação�da�integridade�dos�materiais�.�(CASSARES,�2000,�p.�12)��Compreendemos�conservação�como��[...]�um�conjunto�de�ações�estabilizadoras�que�visam�desacelerar�o�processo�de�degradação�de�documentos�ou�objetos,�por�meio�de�controle�ambiental�e�de�tratamentos�específicos�(higienização,�reparos�e�acondicionamento)�.�(CASSARES,�2000,�p.�12)��Entendemos�restauração��[...]�um�conjunto�de�medidas�que�objetivam�a�estabilização�ou�a�reversão�de�danos�físicos�ou�químicos�adquiridos�pelo�documento�ao�longo�do�tempo�e�do�uso,�intervindo�de�modo�a�não�comprometer�sua�integridade�e�seu�caráter�histórico�.

Referências

CASSARES,�Norma�C.�Como�fazer�conservação�preventiva�em�arquivos�e�bibliotecas.�São�Paulo:�Arquivo�do�Estado�e�Imprensa�Oficial,�2000.PROJETO�Guia�de�Unidades�Custodiadoras�de�Acervos�da�Cidade�de�João�Pessoa.�Coordenação:�Bernardina�Maria�Juvenal�Freire�de�Oliveira;�Maria�da�Vitória�Barbosa�Lima.�NDIHR/João�Pessoa,�2010.�(Digitalizado)GUIA�DE�UNIDADES�CUSTODIADORAS�DE�ACERVOS�DA�CIDADE�DE�JOÃO�PESSOA.�Coordenação:�Bernardina�Maria�Juvenal�Freire�de�Oliveira;�Maria�da�Vitória�Barbosa�Lima.�NDIHR/João�Pessoa,�2013.�(Digitalizado)

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Simeão�Leal�recebendo�amigos,�artistas�e�intelectuais�em�seu�gabinete,�no�Palácio�Gustavo�Capanema,�Rio�de�Janeiro.Fonte:�Acervo�José�Simeão�Leal�(NDHIR/UFPB)

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JOSÉ�SIMEÃO�LEAL�-�GESTÃO�DE�ACERVOS�E�ARQUIVOS�EM�ARTES�VISUAIS���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������Edital�Conexão�Artes�Visuais/�Funarte/�MinC

SEMINÁRIO�ARQUIVOS�PRIVADOS:�POLÍTICAS�E�REALIDADES04�a�06�de�junho�de�2013Auditório�da�Central�de�Aulas/�UFPB,�Campus�I,�João�Pessoa/�PB

PROGRAMAÇÃO

Abertura�OficialDia�04/06/2013���19hLocal:�Auditório�Central�de�Aulas/�UFPBParticipantes:�Beth�Baltar�(Coordenadora�do�PPGCI/�UFPB)�|�Dyógenes�Chaves�|�Carlos�Xavier�de�Azevedo�Netto�(Coordenador�do�NDIHR/�UFPB���Órgão�custodiador�do�Acervo�de�José�Simeão�Leal)�|�Isa�Maria�Freire�(Presidente�da�ANCIB)

Abertura�CulturalDia�04/06/2013���19h30Local:�Auditório�Central�de�Aulas/�UFPB

MESA�1:�José�Simeão�Leal���Homem�de�CulturaParticipantes:�Francisco�Pereira�da�Silva�Júnior�(Chico�Pereira)�|�Gonzaga�Rodrigues�|�Kelly�Cristiane�Queiroz�Barros.�Moderadora�e�Debatedora:�Karlene�Roberto�Braga�de�Medeiros

Objetivo:�Discutir�o�personagem�e�sua�relação�com�a�cultura,�feitos�e�ditos.

Dia�05/06/2013���19hLocal:�Auditório�Central�de�Aulas/�UFPB

MESA�2:�Arquivos�Privados�x�Políticas�Públicas���Realidade�ou�UtopiaParticipantes:�Rosilene�Paiva�Marinho�de�Sousa�|�Julianne�Teixeira�e�Silva�|�Zeny�Duarte�(UFBA).�Moderador�e�Debatedor:�Carlos�Xavier�de�Azevedo�Netto

Objetivo:�Discutir�a�configuração�contemporânea�que�assume�o�Direito�na�relação�público�e�privado�para�a�temática�dos�arquivos,�bem�como�as�políticas�públicas�para�a�área�dos�arquivos�privados.

Dia�06/06/2013���19hLocal:�Auditório�Central�de�Aulas/�UFPB

MESA�3:�Arquivos�Privados�x�Públicos���Realidade�e�DesafiosParticipantes:�Thaís�Catoira�Pereira�|�Fabrícia�Cabral�de�Lira�Jordão�(USP)�|�Dyógenes�Chaves�|�Maria�da�Vitória�Barbosa�Lima.�Moderadora�e�Debatedora:�Manuela�Maia

Objetivo:�Discutir�e�apresentar�a�realidade�dos�arquivos�paraibanos,�considerando�as�condições�de�acesso,�conservação�e�responsabilidade�técnica,�administrativa�e�pública.

EXPOSIÇÃO�JOSÉ�SIMEÃO�LEAL�-�HOMEM�DE�CULTURA10�de�maio�a�16�de�junho�de�2013Estação�das�Artes,�Av.�João�Cirilo�Silva,�S/N,�Altiplano�Cabo�Branco,�João�Pessoa/�PB

Realização:�Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação/�UFPB�|�Núcleo�de�Documentação�e�Informação�Histórica�Regional-NDHIR/�UFPB�|�Estação�das�ArtesProdução:�2ou4Curadoria:�Bernardina�Freire�|�Dyógenes�Chaves�|�Thaís�CatoiraProjeto�expográfico:�Dyógenes�ChavesMontagem:�Equipe�de�Montagem�da�Estação�das�ArtesCoordenação�de�montagem:�Maria�BotelhoVídeo�(Cartas):�Café�Dias�(vozes�de�Luiza�Gabriela�e�Roncalli�Dantas,�roteiro�de�Marta�Penner)�

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Ficha�técnica

Material�impressoProgramação�visual:�Dyógenes�Chaves�|�2ou4Imagens�e�obras:�Acervo�José�Simeão�Leal/�NDIHR/�UFPB�(Órgão�custodiador�do�Acervo)Tratamento�de�imagens:�Adriano�Franco�|�Dyógenes�ChavesImpressão�offset:�Gráfica�JB

ProjetoPatrocínio:�Petrobras/�Lei�de�Incentivo�à�CulturaRealização:�Conexão�Artes�Visuais/�Funarte/�MinCApoio:�Associação�Cultural�da�FunarteApoio�institucional:�Prefeitura�Municipal�de�João�Pessoa/�Estação�Cabo�Branco,�de�Ciência,�Cultura�e�Artes�|�Universidade�Federal�da�Paraíba/�Programa�de�Pós-Graduação�em�Ciência�da�Informação/�UFPBWebSite:�Café�DiasImpressão�de�fotografias:�ArtCor�(Marcos�Estrela)Documentação�fotográfica�e�videográfica:�Adriano�Franco�|�Tony�Neto�|�Wagner�Falcão��������������������������������������������������������Produção:�2ou4Coordenação�geral:�Dyógenes�ChavesCoordenação�do�Seminário:�Bernardina�FreireCoordenação�de�apoio:�Thaís�Catoira

Agradecimentos:�Bernardina�Freire�|�Carlos�Xavier�(NDHIR)�|�Chico�Pereira�|�Lúcia�França�e�Maria�Botelho�(Estação�das�Artes)�|�Thaís�Catoira�|�os�palestrantes�e�mediadores�das�mesas,�a�equipe�de�apoio�e�organização�do�Seminário�|�Equipe�de�Montagem�da�Estação�das�Artes�

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