Ccompras para a inovação: casos de inovações induzidas por clientes públicos

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    CCCOMPRASPARAAINOVAO:CASOSDEINOVAESINDUZIDASPORCLIENTESPBLICOS

    MARINA FIGUEIREDO MOREIRA

    Doutoranda em Administrao pelo Departamento de Administrao daUniversidade de Braslia (UnB) e da Universit Paul Czane Frana.

    Professora do Departamento de Administrao da Universidade de Braslia (UnB).

    CampusUniversitrio Darcy Ribeiro, ICC Norte, bloco 576, Asa Norte, Braslia DF Brasil CEP 70910-900

    E-mail:[email protected]

    EDUARDO RAUPP DE VARGASDoutor em Administrao pelo Departamento de Administrao da

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

    Professor do Departamento de Administrao da Universidade de Braslia (UnB).

    CampusUniversitrio Darcy Ribeiro, ICC Norte, Subsolo, mdulo 25, Asa Norte, Braslia DF Brasil CEP 71910-900

    E-mail:[email protected]

    Este artigo pode ser copiado, distribudo, exibido, transmitido ou adaptado desde que citados, de forma clara e explcita,o nome da revista, a edio, o ano e as pginas nas quais o artigo foi publicado originalmente, mas sem sugerir que aRAM endosse a reutilizao do artigo. Esse termo de licenciamento deve ser explicitado para os casos de reutilizao oudistribuio para terceiros. No permitido o uso para fins comerciais.

    RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 13, N. 5SO PAULO, SPSET./OUT. 2012ISSN 1518-6776 (impresso) ISSN 1678-6971 (on-line)

    Submisso: 2 maio 2011. Aceitao: 1 ago. 2012. Sistema de avaliao: s cegas dupla (double blind review).

    UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Walter Bataglia (Ed.), p. 232-257.

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    COMPRAS PARA A INOVAO

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    RESUMO

    Este estudo se prope a contribuir para a compreenso do processo de indu-o de inovaes por clientes governamentais em atividades de servios com a

    investigao de dez casos de inovaes desenvolvidas por empresas prestadorasde servios de softwareno Distrito Federal a clientes pblicos. Adotou-se comoopo terica, para o exame da inovao em servios, a abordagem integradorae investigou-se a premissa terica escolhida para o direcionamento das com-pras governamentais para o fomento inovao compras para a inovao ,realizando-se uma leitura do modelo de anlise chain-linked modeldesenvolvidaem estudo anterior. A partir da perspectiva trazida pelo modelo, desenvolveu-seuma proposta de entendimento para a induo e a possvel difuso de inova-es em servios de softwarecom o uso de compras governamentais baseada

    em trs etapas. Construiu-se um estudo descritivo, de natureza qualitativa ecorte transversal. Dados foram coletados a partir de entrevistas semiestrutura-das, nas quais os entrevistados apontaram a inovao mais significativa desen-volvida para um cliente governamental. As dez inovaes selecionadas foramrelatadas e analisadas de acordo com quatro critrios: descrio, momentode ocorrncia, caractersticas e ganhos gerados para a empresa. As anlisesrevelaram que as inovaes surgiram como resposta a um requisito (ou con-junto de requisitos) estabelecido por um cliente pblico e ocorreram em dois

    momentos: pr-venda e fase de desenvolvimento. As inovaes confirmarama premissa de induo trazida pelo modelo terico adotado a partir de duasde suas trajetrias: caminho central da inovao, trajetria c, e conexes e

    feedback, trajetria f. Quanto s caractersticas, foram identificadas inovaesradicais, incrementais e de melhoria. Os ganhos obtidos pelas empresas comas inovaes confirmaram sua condio inovadora. A proposta de entendimen-to construda mostrou-se compatvel com a dinmica observada para a induode inovaes nos casos selecionados.

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    MARINA FIGUEIREDO MOREIRA EDUARDO RAUPP DE VARGAS

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    PALAVRAS-CHAVE

    Inovao; Inovao em servios; Induo de inovaes; Compras para a inovao;Servios de software.

    1 INTRODUO

    Dentre as alternativas de que os Estados dispem para fomentar o desen-volvimento de inovaes pelas empresas privadas, uma tem assumido lugar dedestaque. Trata-se da opo de direcionar as compras governamentais para aaquisio de bens e servios potencialmente inovadores, prerrogativa denomina-dapublic procurement for innovation(PPI), ou compras para a inovao. Algumasexperincias de utilizao das compras governamentais como polticas para ainovao comearam a ganhar espao nos pases europeus na ltima dcada e,recentemente, ultrapassaram a fronteira do continente ao serem adotadas comoiniciativas possveis por governos em pases das Amricas.

    No caso brasileiro, o estmulo atividade inovadora das empresas umadiretriz poltica considerada desde a proposio da Poltica Industrial, Tecno-lgica e de Comrcio Exterior (Pitce), em 2004 (SALERNO; DAHER, 2006).

    Inicialmente, as compras governamentais no eram tratadas como instrumentosde polticas pblicas na Poltica Industrial. Em 2008, no entanto, com os pri-meiros relatos de experincias bem-sucedidas da utilizao desse instrumentoem outros pases, o governo brasileiro anunciou a adoo das compras governa-mentais como instrumento prioritrio para impulsionar a economia por meioda inovao. Em 2010, o governo deu mais um passo na direo da aquisio debens e servios inovadores ao permitir contrataes desde que devidamenteatestadas por valores at 20% superiores ao menor lance obtido em preges.Com as experincias decorrentes dessas aes, comeam a surgir os primeiros

    estudos sobre experincias de aquisies pblicas de solues inovadoras.O direcionamento das compras governamentais para a aquisio de inova-

    es, por ser uma ao poltica ainda em estgio inicial de adoo na maior partedos Estados, apresenta-se como tema de reduzida explorao em estudos cien-tficos. Entre as publicaes cientficas internacionais recentes que se voltam investigao da temtica, possvel destacar cinco trabalhos. Edler e Georghiou(2007) investigam as compras governamentais como insumos para polticaspblicas de inovao com foco no papel da demanda, caracterizando-as comoinstrumentos de polticas passveis de utilizao para essa finalidade. Aschhoff e

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    Sofka, por sua vez, (2009) investigam a efetividade de trs polticas tradicionaisde estmulo inovao legislaes, subsdios para pesquisa e desenvolvimentoe pesquisa bsica nas universidades comparando-as iniciativa de utilizaodas compras governamentais para estmulo inovao. Rolfstam (2009), adi-

    cionando nova dimenso s pesquisas anteriores, investiga o papel das insti-tuies (formais ou informais) na induo de inovaes com utilizao de com-pras governamentais como ferramentas de uma poltica de inovao. Uyarra eFlanagan (2010) avanam na investigao da temtica propondo uma tipologiabaseada no tipo de bens ou servios adquiridos pelos Estados para exploraode seu impacto inovador. Por fim, Rolfstam, Phillips e Bakker (2011) voltam-se investigao da difuso de inovaes induzidas por compras governamentais.Essa breve apresentao dos trabalhos internacionais voltados explorao dascompras para a inovao mostra diversidade de enfoques e abordagens de pes-quisa, caracterizando um campo de estudos emergente.

    No Brasil, os estudos voltados investigao das compras para a inovaoainda se restringem esfera governamental, identificando-se apenas um estudovoltado investigao da temtica: Moreira e Vargas (2009b) desenvolvem pro-posta terica para o entendimento da induo de inovaes com uso das comprasgovernamentais. Adicionalmente, possvel apontar trabalhos apresentados emcongressos brasileiros como exemplos de explorao da temtica (MOREIRA;VARGAS, 2009a; CAMARGOS; MOREIRA, 2011). Registra-se, por fim, um

    estudo sobre a utilizao de compras governamentais no setor de softwaree ser-vios brasileiro publicado na Venezuela (ALVES et al., 2007). A baixa incidnciade publicaes sobre a temtica no Brasil reitera o carter emergente do campo deestudos, expondo-se as lacunas a serem exploradas por pesquisas que se voltem investigao da utilizao das compras para a inovao, a exemplo deste estudo.

    Um dos setores estratgicos para o incentivo inovao no Brasil aque-le que se refere produo de software, hoje o setor de maior crescimento naindstria brasileira de tecnologia da informao (TI). No contexto da produo desoftware, destacam-se os servios de software, segmento que responde pela maior

    parcela das comercializaes no mercado brasileiro da rea. Dados do setor deTI mostram que trs categorias de servios responderam por 43% da receita totalobtida por esse setor em 2009: desenvolvimento e licenciamento de uso desoftwarecustomizvel (personalizvel) prprio, desenvolvido no Pas, repre-sentando 14,9% do total; consultoria em sistemas e processos em TI, represen-tando 14,1%; e softwaresob encomenda projeto e desenvolvimento integral ouparcial, representando 14,0% (IBGE, 2011). A dinmica inovadora dos serviosde software,por serem esses essencialmente atividades de servios, assemelha-sequela observada nos demais segmentos dessas atividades. Assim, a dinmica

    da inovao em atividades de servios deve ser levada em considerao nas aes

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    que se propem a fomentar o surgimento de inovaes nos servios de software,caso do direcionamento das compras governamentais para a aquisio de solu-es inovadoras das empresas do segmento.

    Adotar aes para fomentar o surgimento de inovaes no desenvolvimento

    de servios de software uma tarefa que exige o estabelecimento de diretrizespolticas e que depende, sobretudo, do conhecimento do processo de inovaoem atividades de servios. preciso considerar de que forma potenciais inova-es podem ser geradas, em atendimento a quais requisitos estabelecidos pelocomprador pblico, com qual dinmica e com quais caractersticas. Abre-se,assim, um campo para a realizao de estudos que se proponham a investigar asinovaes que possam ser potencialmente induzidas a partir do direcionamen-to das compras governamentais para a contratao de inovaes em atividadesde servios.

    Tendo por objetivo contribuir para a compreenso do processo de induode inovaes por clientes governamentais em atividades de servios, este estudose prope a examinar casos de inovaes desenvolvidas por empresas prestado-ras de servios de softwareao governo como resposta a requisitos estabelecidosnos processos de contratao pblica. O trabalho adota como seus objetivos espe-cficos: investigar teoricamente o processo de induo de inovaes por clientespblicos; compreender, a partir da literatura existente, a dinmica da inovaoem servios de software; selecionar e descrever casos de inovaes desenvolvidas

    por prestadoras de servios de softwareem atendimento a requisitos de clientespblicos; analisar, nos casos selecionados, a descrio, o momento de ocorrn-cia, as caractersticas e os ganhos das empresas com as inovaes.

    Para o alcance do objetivo definido, opta-se pela realizao de uma anlisede casos mltiplos com dez unidades de anlise, utilizando-se abordagem qua-litativa e corte transversal. A coleta de dados realizada por meio de entrevistassemiestruturadas e os casos de inovaes identificados so analisados de acordocom os seguintes critrios: descrio, momento de ocorrncia, caractersticas eganhos gerados para a empresa. O estudo est organizado em sete partes, sendo

    a primeira destinada apresentao das bases tericas usadas para o examedo fenmeno da inovao em servios. Demarca-se a utilizao da abordagemintegradora como opo terica para a anlise proposta. Na segunda parte, soapresentadas as concepes tericas referentes utilizao das compras paraa inovao. Mostra-se a opo terica utilizada para a compreenso do proces-so de induo de inovaes a partir do posicionamento de um cliente governa-mental como mercado consumidor. Adicionalmente, lana-se a construo deuma proposta de entendimento para o processo de induo a partir das comprasgovernamentais pautada em trs estgios. Na terceira parte, aborda-se a inovao

    em servios de software, caracterizando sua dinmica inovadora com dados de

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    duas edies da Pesquisa de Inovao Tecnolgica Pintec (IBGE, 2005, 2008).O mtodo utilizado para o desenvolvimento do estudo apresentado na quartaparte, e a quinta traz a descrio das inovaes relatadas nos casos apresentados.A sexta parte deste estudo prope a anlise das inovaes descritas de acordo com

    as quatro categorias definidas, e a ltima apresenta as concluses do estudo.

    2 INOVAO EM ATIVIDADES DESERVIOS

    O fenmeno da inovao tem sido estudado de forma sistemtica nas lti-mas dcadas por autores com distintas abordagens, adotando-se conceitos nounificados para a inovao. Tendo como ponto de partida os estudos schumpe-terianos (SCHUMPETER, 1976, 1982), surge uma escola de pensamento quedesenvolve estudos sobre o fenmeno da inovao com base, em um primeiromomento, em anlises exploratrias de setores tradicionais da indstria. Asanlises industriais levam ao desenvolvimento de observaes que prezam,inicialmente, pelo carter tecnolgico da inovao, a exemplo do proposto porDosi (2006).

    Nessa perspectiva inicial da chamada corrente neoschumpeteriana, a inova-o vista como um fenmeno originrio da indstria e, portanto, dela depen-

    dente. Considera-se que uma inovao sempre originria de um ambienteindustrial e, normalmente, resultante da adoo de uma nova tecnologia. Essapremissa caracterizada por um marco terico que define a indstria como olcus da inovao, sendo esta o resultado da aplicao de uma nova tecnologia aum processo produtivo. Nesse estgio de desenvolvimento, o potencial de geraode inovaes das atividades de servios era preponderantemente subestimado,corroborando o que, hoje, se denomina mitos dos servios (GALLOUJ, 2002).

    Graas s inerentes dificuldades de mensurao da produtividade dos ser-vios, essas atividades tiveram sua trajetria marcada por uma viso que lhes

    atribua carter residual na economia. No havendo ferramentas adequadas paradeterminar sua produtividade, atribuam-se aos servios apenas os resultadoseconmicos residuais, ou seja, aqueles que no fossem oriundos diretamentedos setores primrio (agricultura e extrativismo) nem secundrio (indstria),dando origem denominao setor tercirio (KON, 2004). A indisponibilida-de de ferramentas para medir de forma eficaz a produtividade em servios levou criao de um segundo mito, que lhes atribua baixa intensidade de capital ebaixa produtividade, o que tambm pode ser explicado pela dificuldade em defi-nir corretamente os outputsde servios (GADREY, 2001). Por se tratar de um

    setor teoricamente residual, acreditava-se que os servios fossem incapazes de

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    atrair os trabalhadores com maior qualificao, que naturalmente seriam absor-vidos pela indstria. Esse suposto fenmeno caracterizaria os servios como ocu-pao de trabalhadores de baixa qualificao, de modo que uma sociedade quetivesse sua economia baseada em servios seria considerada uma sociedade de

    servos (GALLOUJ, 2002).Com a evoluo da mensurao da produtividade dos servios e o cresci-

    mento da participao dessas atividades nos resultados econmicos, os mitosatribudos aos servios enfraqueceram. Na dcada de 1970, com a adoo de umnovo modelo produtivo de produo flexvel em substituio ao modelo fordis-ta, as atividades de servios tornaram-se essenciais para garantir a flexibilidadena produo e para agilizar e incrementar a circulao de mercadorias (KON,2004). A trajetria de crescimento econmico das atividades de servios cul-mina com o alcance, nas atuais economias, da posio majoritria na produ-o perante os demais setores, nos pases desenvolvidos. O nvel de atividadesde servios nas economias passa a ser utilizado, inclusive, como indicador dedesenvolvimento econmico.

    A trajetria de crescimento da participao dos servios na economia coin-cide com o aumento do interesse dos pesquisadores em relao dinmica desurgimento de inovaes nesse setor. Despontam, ento, estudos sobre inovaoem servios. Em relao s abordagens adotadas por eles, possvel destacar trslinhas de pensamento ao longo das dcadas: os estudos chamados tecnicistas, os

    baseados em servios e os integradores (GALLOUJ, 2002).A abordagem tecnicista concebia a inovao como o resultado da introdu-o de sistemas tecnolgicos originrios da indstria s atividades de servios,a exemplo do trabalho de Barras (1986). A abordagem orientada aos servios,por sua vez, tambm se mostra reducionista, tendo em vista que busca iden-tificar particularidades na natureza e na organizao da inovao em servios(GALLOUJ, 2002, p. 1, traduo nossa). Por fim, prope-se a abordagem inte-gradora, que, considerando a aproximao entre bens e servios, sugere umaabordagem analtica para a inovao nos dois casos. Trata-se de um esforo para

    reconciliar bens e servios, integrando-os definitivamente em uma s teoria dainovao (VARGAS; ZAWISLAK, 2006, p. 6).

    No contexto da abordagem integradora, destaca-se o trabalho de Gallouj(2002), que prope um modelo para o estudo da inovao em bens ou serviosde forma indistinta. O autor define que uma necessidade, ou seja, uma funo,pode ser satisfeita pelo consumo de um bem ou de um servio (GALLOUJ,2002, p. 25, traduo nossa). Partindo de um modelo sugerido por Lancasterpara a indstria, Gallouj (2002, p. 25, traduo nossa) prope sua extenso satividades de servios, lanando o pressuposto de que tanto para bens quanto

    para servios, as caractersticas tcnicas so conhecimento, competncias incor-

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    COMPRAS PARA A INOVAO

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    poradas em sistemas tangveis ou intangveis. Apresenta-se, assim, um mode-lo de anlise que considera bens ou servios como sistemas de caractersticase competncias.

    O modelo de Gallouj (2002) baseia-se em vetores e considera as competn-

    cias dos clientes (vetor C1), as competncias dos prestadores de servios (vetorC2), as caractersticas tcnicas materiais e imateriais (vetor T) e as caractersticasfinais, que correspondem ao prprio servio/bem final (vetor Y). O surgimentode inovaes seria o resultado de alteraes nessas caractersticas: resumida-mente, a inovao pode surgir a partir da dinmica (positiva ou negativa) dosvetores de caractersticas em suas vrias formas, [C], [C], [T], [Y] ou qualquercombinao desses vrios vetores (GALLOUJ, 2002, p. 68, traduo nossa).

    FIGURA1

    A FORMA MAIS GERAL DE UM PRODUTO

    Fonte: Adaptada de Gallouj (2002, p. 68).

    A partir do estudo sobre a dinmica dos vetores, Gallouj (2002, p. 70, tra-duo nossa) apresenta seis modelos para descrever as dinmicas particula-res das caractersticas, sendo seis modelos de inovao: radical (corresponde criao de um novo conjunto de caractersticas {[C*], [C*], [T*], [Y*]}); demelhoria (ocorre com o aumento no peso qualidade das caractersticas);incremental (adio ou eliminao de caractersticas); ad hoc(produo de novascompetncias [C] ou codificao e formalizao de [C], que a transformao de[C] em [T] caractersticas tcnicas intangveis); recombinativa (combinao oufragmentao de um grupo de caractersticas); e de formalizao (formatao e

    padronizao de caractersticas).

    Competncias diretasdos fornecedores

    Caractersticas tcnicasmateriais e imateriais

    Competnciasdo cliente

    Caractersticas finaisou de servios

    Y1

    Y2

    .

    Yi

    .

    .

    Ym

    C1

    C2

    .

    Ck

    .

    .

    Cp

    T1

    T2

    .

    Tj

    .

    .

    Ta

    C1 C2 . . Ck . . Cq

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    3 COMPRAS GOVERNAMENTAIS PARA AINOVAO

    Inicialmente vistas apenas como a forma de aquisio dos suprimentos eservios necessrios para o funcionamento do Estado, as compras governamen-tais foram gradativamente assumindo funes complementares (MCCRUDDEN,2004). Entre as distintas utilizaes das compras governamentais ao longo dasltimas dcadas, destacam-se

    [...] aumento da demanda, estmulo atividade econmica, criao de empregos,

    proteo das firmas nacionais contra a competio estrangeira, aumento da com-

    petitividade entre as firmas nacionais [...], remdio s disparidades regionais e

    criao de empregos (EDLER; RUHLAND; HAFNER, 2005, p. 9, traduo nossa).

    A utilizao das compras governamentais com vistas ao fomento inovaotem seu registro na ao de uma comisso formada na Unio Europeia reco-nhecendo que as compras governamentais poderiam ser utilizadas para provermercados pioneiros para novos produtos intensivos em inovao e pesquisas(EUROPEAN COMMISSION, 2005, p. 10, traduo nossa). Tratava-se de umamobilizao sistemtica das compras governamentais para o bem da inovao

    e da competitividade, caracterizando-as como uma das formas mais diretas deestimular a inovao por meio da demanda (EDLER; RUHLAND; HAFNER,2005, p. 13, traduo nossa). Para os governos, as compras governamentais soapresentadas como solues para estimular o desenvolvimento e a adoo denovas tecnologias e produtos e, ao mesmo tempo, para responder s presses porservios pblicos melhorados (CORDIS, 2006, p. 1, traduo nossa).

    As compras para a inovao consistem no estabelecimento de requisitospotencialmente capazes de levar ao desenvolvimento e contratao de inova-es das empresas fornecedoras. A compreenso do processo de desenvolvimen-

    to de uma inovao em atendimento a uma demanda induo de inovaes pressupe a adoo de um modelo capaz de considerar o papel do consumidorno processo. Moreira e Vargas (2009b), em trabalho anterior, propuseram aaplicao de uma leitura do chain-linked model, de Kline e Rosenberg (1986), aocaso de induo de inovaes propiciado a partir do direcionamento das comprasgovernamentais para a inovao. Recupera-se, neste estudo, a referida propostaterica por considerar sua adequao ao fenmeno, caracterizando este trabalhocomo um teste emprico para a leitura do modelo sugerido.

    Ao final, apresenta-se uma anlise dos casos de inovaes selecionados

    luz da proposta de leitura do modelo citado (MOREIRA; VARGAS, 2009b), que

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    COMPRAS PARA A INOVAO

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    posiciona o Estado como representante de mercado para as empresas prestadorasde servios. De acordo com essa proposta,

    [...] o posicionamento do governo como mercado consumidor primeiro estgio

    considerado no chain-linked model fornece uma interpretao no linear para o

    processo de induo de inovaes nas empresas fornecedoras a partir do estabe-

    lecimento de requisitos direcionadores por clientes governamentais (MOREIRA;

    VARGAS, 2009b, p. 42).

    FIGURA2

    GOVERNO COMO MERCADO POTENCIALNO CHAIN-LIKED MODEL

    Fonte: Moreira e Vargas (2009b, p. 38).

    A induo de inovaes com o uso das compras governamentais um pro-cesso que se inicia com o posicionamento do governo na qualidade de mercadoconsumidor. Esse processo, por sua vez, tambm gera efeitos passveis de difu-so na economia. Para a sua compreenso, apresenta-se, neste estudo, a cons-truo de uma proposta de entendimento para o processo de induo a partir dascompras governamentais pautada em trs estgios, descritos na sequncia.

    1. O Estado assume o papel de mercado consumidor para produtos ou serviosinovadores, sendo o indutor das inovaes. Para delimitar os produtos inova-

    Pesquisa

    Conhecimento

    Inveno e/ou

    produo de umdesenho analtico

    Desenho detalhado

    e teste

    Redesenho

    e produo

    Distribuio

    e comrcio

    Governo enquantomercado potencial

    e gerador de novascondies de mercado

    R3

    K

    R3

    R3

    K44

    1 122

    12

    4

    KD I S

    f f f f

    cc

    c c

    F

    f

    f

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    dores a serem adquiridos, o Estado estabelece requisitos e parmetros parao fornecimento de solues com caractersticas inovadoras (como produtosinexistentes ou passveis de aperfeioamento).

    2. Para atender aos requisitos governamentais, as empresas precisam realizar

    melhorias em suas prticas produtivas e adequaes em suas estruturas. Asnovas prticas produtivas so, ento, estendidas ao fornecimento aos demaisclientes, levando ao estabelecimento de um novo padro de fornecimento nomercado. As empresas concorrentes so compelidas a gerar solues inova-doras ou a imitar para manter suas posies no mercado.

    3. Com a difuso das prticas inovadoras na economia, as empresas alcanamum novo patamar produtivo. O Estado, no papel de comprador, beneficia-secom o nvel de inovao dos produtos fornecidos e pode estabelecer novos

    requisitos que impulsionem a gerao de solues inovadoras adicionais,levando a um novo ciclo de gerao e difuso de inovaes na economia.

    A proposta de entendimento construda pode ser representada graficamenteconforme a Figura 3.

    FIGURA3

    INDUO DE INOVAES COM A UTILIZAODE COMPRAS GOVERNAMENTAIS

    Fonte: Elaborada pelos autores.

    EmpresasAdaptam-se para

    desenvolver soluesinovadoras e geram um

    novo padro defornecimento.

    EstadoEstabelece requisitos

    e parmetros paraa aquisio de

    solues inovadoras.

    MercadoAlcana um novo

    patamar produtivocom a difuso dasinovaes induzidas

    pelo governo.

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    COMPRAS PARA A INOVAO

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    4 INOVAO EM SERVIOS DE SOFTWARE

    O desenvolvimento de servios de software, marcado pela concepo de uma

    soluo voltada a um cliente especfico, possui ntidas caractersticas de prestaode servios. Essa atividade marcada pelo desenvolvimento de solues e funcio-nalidades voltadas aos requisitos estabelecidos pelo cliente, o que caracteriza suacondio de servio intensivo em conhecimento (HERTOG; BILDERBEEK, 1998).Steinmueller (1995, p. 3, traduo nossa) estabelece a diferenciao do softwarenaqualidade de produto ou de servio, mantendo o foco na produo individual:

    [...] um softwareque produzido somente uma vez deve ser visto como um input

    de servio, enquanto um programa que reproduzido dzias ou milhares de

    vezes tem caractersticas de marketinge de desenvolvimento mais prximas sde bens manufaturados.

    A Associao Brasileira das Empresas de Software (2006) estabelece catego-rias que exemplificam os servios de software: consultoria, integrao de sistemas,outsourcing, suporte e treinamento.

    As atividades de servios desenvolvem-se constantemente como resposta sdemandas emergentes por novas funcionalidades, sejam elas provenientes daindstria, sejam mesmo de outros servios, o que explica a gerao de uma din-mica inovadora no setor. A inovao assume, assim, a condio de fator condicio-nante para o crescimento dos servios, sendo elemento crtico em sua trajetriaeconmica (KON, 2004). A indstria de software tradicionalmente caracteriza-da como altamente dependente de inovaes, e a capacidade de uma firma dese manter no mercado diretamente determinada por sua capacidade de inovar(ASSOCIAO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE SOFTWARE, 2006). Essadinmica inovadora das atividades de servios e da prpria indstria de softwareatribui inovao o papel de requisito para sua manuteno no mercado.

    No tocante inovao em servios de softwareno Brasil, cabe considerar osregistros da Pintec (IBGE, 2008), que mensura em sua edio 2008, entre outrosdados, a taxa de inovao de empresas das indstrias extrativas, das indstrias detransformao e de servios. Enquanto a indstria extrativa registra taxa de ino-vao mdia de 23,7% entre 2006 e 2008, as indstrias de transformao queincluem ramos diversos registram taxas de 38,4%. As atividades de servios, porsua vez, registram taxas mdias de 46,5%, sendo as responsveis pelos maioresndices de adoo de produtos ou processos inovadores. Especificamente entreas atividades de servios, interessam-nos, para este estudo, especialmente: as de

    tecnologia da informao, que registram taxas de inovao de 53,4%; as de desen-

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    volvimento e licenciamento de programas de computador, com 58,2%; e as detratamento de dados, hospedagem na internet e outras relacionadas, com taxade inovao de 40,3% (IBGE, 2008).

    Os elevados ndices de inovao obtidos pelas atividades relacionadas a ser-

    vios de softwarena Pintec 2008 no so um fenmeno isolado. Em sua edi-o anterior, a Pintec 2005 (IBGE, 2005), os dados investigavam atividades deinformtica e servios relacionados, consultoria em software e outras ativida-des de informtica e servios relacionados, e 57% das empresas apresentaraminovaes de produtos ou processos no perodo entre 2003 e 2005. Mostra-se,assim, que os indicadores de inovao relacionados a servios de softwareman-tm-se elevados de uma edio a outra da pesquisa, o que confirma a dinmicainovadora atribuda ao setor.

    5 MTODO

    Pararesponder ao objetivo proposto para este estudo investigar casos deinovaes desenvolvidas por empresas prestadoras de servios de softwareaogoverno como resposta a requisitos estabelecidos nos processos de comprasgovernamentais , so analisados dez casos de inovaes desenvolvidas porempresas prestadoras de servios de softwarea clientes pblicos no Distrito Fede-

    ral. Trata-se de uma anlise descritiva, de natureza qualitativa e corte transversal.Para a seleo das empresas aqui consideradas, partiu-se da lista de empresascadastradas no Sindicato da Indstria da Informao do Distrito Federal (Sinfor/DF). A partir dessa base de dados, as empresas foram selecionadas considerandosua adoo dos servios de softwarecomo atividade principal e, ainda, sua dedi-cao ao fornecimento de solues em servios de softwarepara o governo comoatividade principal.

    A coleta dos dados deu-se com a realizao de entrevistas semiestruturadascom profissionais de perfis tcnico e gerencial envolvidos nos processos de pres-

    tao de servios de software. Foram entrevistados, ao menos, dois profissionaisem cada empresa. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados consisti-ram em dois roteiros de entrevistas semiestruturadas aplicados para identificaro surgimento de inovaes em trs estgios do processo de prestao de serviosde software: pr-venda, prestao do servio e ps-venda. A partir das entrevistasrealizadas, optou-se pela anlise de uma inovao relatada em cada caso. Para aseleo dessas inovaes, os entrevistados apontaram, em cada caso, a inovaomais representativa em termos de ganhos para a empresa.

    Para o relato de cada uma das dez inovaes apontadas pelos entrevista-

    dos, foram considerados quatro critrios: sua descrio, que considera os relatos

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    obtidos nos casos; seu momento de ocorrncia (pr-venda, prestao do servioou ps-venda); suas caractersticas, analisadas de acordo com o modelo tericoproposto por Gallouj (2002); e os ganhos gerados por ela para a empresa, o queconfirma seu carter de inovao do ponto de vista organizacional. Aps o relato

    das inovaes identificadas, elas foram analisadas de forma unificada quanto aosquatro critrios previamente definidos.

    6 DESCRIO DAS INOVAESAs inovaes relatadas nos casos so apresentadas individualmente, conside-

    rando sua descrio (momento em que trechos das entrevistas so transpostos);seu momento de ocorrncia (pr-venda, prestao do servio ou ps-vendas); suas

    caractersticas anlise de cada inovao de acordo com os modelos propostospor Gallouj (2002); e os ganhos gerados para a empresa a partir das inovaes.

    CASO A

    Descrio da inovao: aps o desenvolvimento de um softwareespecficopara as necessidades de um cliente governamental, surgiu a demanda por umtreinamento em e-learningpara capacitar os usurios em sua utilizao. Mesmosendo uma soluo indita no escopo da empresa, foi desenvolvida para aten-

    der ao requisito do edital: tivemos de apresentar o e-learninge um help on-line,que antes no existia, mas que estava no edital. Dentro disso, cada gestor teveuma ideia inovadora, tentando fazer daquele produto um diferencial, e cada uminventou uma coisa. Momento de ocorrncia da inovao: pr-venda. Caracte-rsticas da inovao: por representar o desenvolvimento de um softwareinteira-mente novo no escopo de servios da empresa, essa inovao levou criao deum conjunto inteiramente novo de caractersticas (GALLOUJ, 2002), corres-pondendo definio do modelo de inovao radical. Ganhos da empresa com ainovao: com essa inovao radical, a empresa aumentou seu escopo de servios

    ao incorporar s suas competncias organizacionais o fornecimento de soluesadicionais em treinamentos para seus clientes.

    CASO B

    Descrio da inovao: um Tribunal de Justia para o qual a empresa pres-tava servios assinou um convnio com uma operadora de celulares para a con-tratao de planos por seus funcionrios. O cliente pblico demandou que osservidores pudessem adquirir os planos a partir do softwarede gesto de pessoal

    fornecido pela empresa, o que impulsionou o desenvolvimento de uma funciona-

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    lidade adicional ao sistema j desenvolvido para permitir aos servidores entrarno portal do softwaree escolher um plano, um celular [...], quantos minutos eledesejava sem que houvesse a necessidade de ir loja da operadora. Automatica-mente, o sistema verificava se o funcionrio tinha condies de assumir os valo-

    res escolhidos de acordo com seu salrio, a partir de uma avaliao da margemconsignvel na folha de pagamentos. Caso o pedido do servidor fosse aprovado, anova funcionalidade descontaria automaticamente o valor contratado da folha depagamentos. Momento de ocorrncia da inovao: prestao do servio. Caracte-rsticas da inovao: por representar uma nova funcionalidade dentro do escopode um softwarej desenvolvido, essa inovao responde ao modelo incremental,que prev adio ou eliminao de caractersticas (GALLOUJ, 2002). Ganhosda empresa com a inovao: com essa inovao incremental requisitada por umcliente, o softwareda empresa ganhou uma nova funcionalidade, levando ao lan-amento de uma verso superior.

    CASO C

    Descrio da inovao: para atender ao requisito de um edital, a empresaprecisou desenvolver um prottipo de softwarecom funcionalidades ainda noexistentes no mercado e em tempo reduzido. Para faz-lo no tempo requisitado,a empresa readequou seu mtodo de trabalho. Por fim, a empresa desenvolveu

    um softwarecom caractersticas, funcionalidades e solues que no existiam nomercado para atender ao requisito do edital e obteve nota mxima na licitao,sendo a ganhadora do processo licitatrio. Momento de ocorrncia da inovao:pr-venda. Caractersticas da inovao: nesse caso, possvel identificar duas ino-vaes. A primeira refere-se reorganizao do processo produtivo da empresa,uma inovao de melhoria, tendo em vista que isso permitiu aumentar a eficin-cia do mtodo de desenvolvimento adotado, correspondendo a um aumento nopeso (qualidade) das caractersticas (GALLOUJ, 2002). Tambm se identificauma inovao radical, com o desenvolvimento de um softwarecom funcionalida-

    des inexistentes no mercado. Ganhos da empresa com a inovao: em funo dareorganizao para tornar possvel a produo do prottipo inovador em temporeduzido, a empresa precisou adequar sua estrutura de desenvolvimento e, adi-cionalmente, desenvolveu uma inovao radical at ento inexistente no merca-do, o que posteriormente ampliou o escopo de servios da empresa.

    CASO D

    Descrio da inovao: com a adoo da legislao que determinava que os

    portais e sitesgovernamentais deveriam adotar critrios de acessibilidade interna-

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    cionais, a empresa foi obrigada a cumprir essa exigncia sem ter conhecimentonenhum. Como resultado, ela se viu compelida a desenvolver um softwarecomcaractersticas ainda no dominadas em seu processo de desenvolvimento: emmenos de 20 dias, disponibilizamos um sitecom todos os critrios de acessibilida-

    de. Momento de ocorrncia da inovao: pr-venda. Caractersticas da inovao:por ter desenvolvido um portal pioneiro no Brasil ao incorporar solues de aces-sibilidade, a empresa relata um caso de inovao radical. Ganhos da empresacom a inovao: com a inovao, a empresa relata um ganho secundrio: fomosa primeira empresa a ter um portal educacional com esses critrios no Brasil.Embora o entrevistado adote o termo secundrio, trata-se de uma inovaoradical sob a tica dos modelos de inovao de Gallouj (2002).

    CASO E

    Descrio da inovao: a empresa desenvolveu portais adaptados aos crit-rios de acessibilidade para portadores de necessidades especiais em atendimentoa uma diretriz governamental. Isso representou novos softwares no escopo deaes da empresa. A empresa ganhou, no mercado, novo status, que atestava suaqualificao para o desenvolvimento de portais que atendessem a esse requisito.Momento de ocorrncia da inovao: prestao do servio. Caractersticas da ino-vao: os softwares com critrios de acessibilidade para portadores de necessida-

    des especiais eram inteiramente novos no escopo de atividades da empresa. Doponto de vista organizacional, tem-se uma inovao radical. Ganhos da empresacom a inovao: com o desenvolvimento dos novos softwares adaptados, a empre-sa tornou-se especialista nesse processo e teve o reconhecimento do mercado,levando obteno de novos contratos e ao aumento de sua carteira de clientes.

    CASO F

    Descrio da inovao: ao contrrio de seus concorrentes diretos, que ado-

    tam os produtos como unidades de venda, a empresa tinha como meta a pro-moo das atividades de servios agregados venda de equipamentos. Para isso,buscou uma estrutura de vendas que fornecesse flexibilidade para, eventualmen-te, promover a troca de fornecedores de equipamentos sem que isso afetasse acapacidade de atendimento aos clientes governamentais, o que geraria riscos noatendimento s especificaes nos contratos firmados. A empresa estabeleceuum portiflio baseado em conceitos de tecnologia como continuidade de neg-cios, que se refere justamente capacidade de atendimento ao cliente governa-mental independentemente das estruturas de fornecedores. Trata-se de um novo

    mtodo de trabalho para atender aos clientes pblicos. Momento de ocorrncia

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    da inovao: pr-venda. Caractersticas da inovao: o desenvolvimento de ummtodo de trabalho inteiramente novo no escopo organizacional representa umainovao radical. Ganhos da empresa com a inovao: esse novo mtodo per-mitiu empresa reduzir os riscos de mudanas no atendimento aos clientes

    pblicos durante a vigncia do contrato, um problema comum s prestadoras deservios que atrelam seu servio ao fornecimento de hardwaresou componentesde fabricantes especficos.

    CASO G

    Descrio da inovao: a empresa desenvolveu uma metodologia denomi-nada hiper trainingapta a selecionar estagirios para assumir projetos de interesseda empresa com os clientes pblicos. O treinamento funciona como um cursopara desenvolver solues, em que a empresa custeia uma parte e o interessadocusteia a outra. Ao final, as solues desenvolvidas ficam em um repositriolivre a partir do qual qualquer funcionrio pode colher ideias. Na prtica, o repo-sitrio funciona como fonte de solues para a empresa e como objeto de ava-liao para novos profissionais. Momento de ocorrncia da inovao: pr-venda.Caractersticas da inovao: trata-se de um novo mtodo de desenvolvimento desolues em softwareque a empresa criou para atender aos clientes pblicos. Porser um mtodo inteiramente novo no escopo organizacional, representa uma

    inovao radical. Ganhos da empresa com a inovao: esse mtodo permitiu quea empresa reduzisse os custos de desenvolvimento de solues para os clientese, ao mesmo tempo, aumentasse as competncias dos estagirios contratados,alm de ter rendido empresa a premiao de melhor empresa para estgios noDistrito Federal, concorrendo ao prmio nacional.

    CASO H

    Descrio da inovao: a empresa desenvolveu um mtodo (poker planning)

    para a especificao de funcionalidades de softwares para clientes pblicos. Paraa definio das funcionalidades a serem desenvolvidas em um software, faz-seuma reunio com o cliente na qual cada funcionalidade desejada escrita em umcarto. Os cartes so colocados sobre uma mesa e os desenvolvedores estimamo tempo necessrio para o desenvolvimento de cada funcionalidade. O clienteestabelece as funcionalidades prioritrias, e, caso os prazos de desenvolvimentono se cumpram, o cliente envolvido no processo de reestruturao do tempopara desenvolvimento. Nesse caso, cabe ao cliente definir as funcionalidadesprioritrias. Com o avano do projeto, os cartes so remanejados ou descarta-

    dos conforme as funcionalidades so desenvolvidas. Momento de ocorrncia da

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    inovao: prestao do servio. Caractersticas da inovao: opoker planningum novo mtodo de especificao de funcionalidades para softwares em desen-volvimento. Por ser um mtodo inteiramente novo, representa uma inovaoradical. Ganhos da empresa com a inovao: essa metodologia foi desenvolvida

    para reduzir os problemas de m especificao de funcionalidades por clientespblicos, o que frequentemente gerava discordncias durante a fase de desenvolvi-mento. Trata-se de uma forma de garantir o envolvimento do cliente no processoprodutivo, facilitando a arquitetura de informao: o cliente est aprendendo oque softwaree eu estou aprendendo a lidar com o cliente. Quando eu crio umasinergia entre esses dois grupos, tudo flui melhor. O jeito que a gente encontroupara isso foi adotar essa forma ldica. Na prtica, ela reduz os prazos de execu-o e elimina o desenvolvimento de funes em dissonncia das expectativas dosclientes, o que evita retrabalhos.

    CASO I

    Descrio da inovao: a inovao corresponde criao de um softwareparaa integrao de sistemas de faturamento eletrnico e-fatura, que resulta damelhoria no processo de um cliente governamental gerada pela integrao dedois sistemas distintos, um para o controle dos fornecedores contratados e outropara a emisso de notas fiscais. Como os sistemas eram isolados, muitos produ-

    tos e servios contratados no eram pagos corretamente, pois, embora estives-sem no sistema de controle, no estavam no sistema de pagamentos. A empresacriou, ento, o e-fatura, um softwarepara integrao que permite fazer fatura-mento eletrnico simplificado. Com isso, no momento do empenho, o rgo jrecebe uma imagem da nota fiscal. Aps checar os dados, a nota paga correta-mente. Momento de ocorrncia da inovao: prestao do servio. Caractersticasda inovao: por representar a integrao entre dois sistemas j existentes, oe-fatura corresponde incorporao de uma nova funcionalidade ao escopode servios da empresa. Trata-se, ento, de uma inovao incremental. Ganhos

    da empresa com a inovao: o desenvolvimento do softwareimpactou o controledo faturamento eletrnico do rgo, fornecendo a soluo desejada. Com seudesenvolvimento, a empresa adquiriu domnio sobre uma nova funcionalidadeque, posteriormente, foi utilizada no atendimento a outros clientes.

    CASO J

    Descrio da inovao: um dos clientes pblicos da empresa solicitou a dis-ponibilizao de uma nova informao que inicialmente no era fornecida pelo

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    softwarej desenvolvido. Aps desenvolver a funcionalidade para a obteno dainformao dentro do software, a empresa se viu compelida a desenvolver umanova forma de apresentao para ela: voc se depara com uma informao evoc quer apresentar. A, cria uma nova forma de apresentao. Momento de

    ocorrncia da inovao: prestao do servio. Caractersticas da inovao: a inova-o refere-se incorporao de uma nova funcionalidade a um softwarepreexisten-te, caracterizando-se como uma inovao incremental. Ganhos da empresa coma inovao: a partir do desenvolvimento dessa inovao, a empresa aumentou asfuncionalidades de seu software-base e tambm incrementou as funes dispo-nibilizadas por ele para os usurios, melhorando a qualidade do servio ofertadopor ela ao mercado.

    7 ANLISES DAS INOVAESAs descries das inovaes relatadas nos dez casos ressaltam deman-

    das desafiadoras, do ponto de vista do desenvolvimento de softwares, a que asempresas foram submetidas. Em todos os casos, mostra-se que as inovaessurgiram como respostas das empresas a um requisito (ou conjunto de requi-sitos) estabelecido pelo cliente pblico. Essas solicitaes foram apresentadass organizaes, em alguns casos, antes mesmo da contratao, sob a forma

    de condio para a habilitao em licitaes. Tambm h relatos de requisitosapresentados j durante o desenvolvimento do software, gerando alteraes noservio final prestado.

    Em ambas as situaes, confirma-se a premissa de leitura do chain-linkedmodelapresentada por Moreira e Vargas (2009b) para a induo de inovaes apartir do estabelecimento de requisitos vindos do mercado potencial no caso,os clientes governamentais. Para as inovaes induzidas antes da contratao,sua trajetria pode ser explicada a partir da trajetria central c do modelo pro-posto, que traa um caminho direto entre as exigncias estabelecidas pelo mer-

    cado potencial e a inovao final, passando pelos demais estgios do modelo.No caso dos requisitos estabelecidos ou alterados pelos clientes j durante a fasede desenvolvimento dos softwares, considera-se a interferncia defeedbacksdosclientes definidos como f no modelo. A dinmica observada nos casos parao processo de interposio de requisitos de clientes levando gerao de inova-es induo de inovaes mostra-se, portanto, compatvel com as trajetriasdo modelo.Confirma-se, ento, a viabilidade de sua utilizao como modelo deanlise para o direcionamento das compras governamentais para a inovao, cor-

    roborando a proposio de Moreira e Vargas (2009b).

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    Em relao ao momento de ocorrncia, as inovaes mostram-se equilibra-das nas fases de pr-venda e prestao do servio (h cinco inovaes relatadasem cada fase). Na fase de pr-venda, destacam-se as inovaes realizadas como objetivo de qualificar e preparar as empresas para a obteno do contrato e,

    sequencialmente, para a prestao do servio contratado. Em geral, so inovaesdesenvolvidas para tornar as empresas aptas a fornecer para os clientes pblicose correspondem a esforos para o desenvolvimento de prottipos, obteno decertificaes de qualidade ou desenvolvimento de novos mtodos de trabalho.Na fase de prestao do servio, destacam-se as inovaes referentes incorpora-o de funcionalidades j desenvolvidas a um softwaree criao de novas solu-es com caractersticas originais. Ressalta-se a ausncia de inovaes atribudas fase de ps-venda, as quais corresponderiam ao resultado da incorporao e

    manuteno das inovaes desenvolvidas durante as etapas anteriores, estru-tura produtiva das empresas e s suas prticas organizacionais, o que apontariaseu reconhecimento pelo mercado e confirmaria sua condio de inovaes. Noseriam, portanto, inovaes advindas da participao direta do cliente, no sendogeradas diretamente pelo processo de induo. A no observao de inovaesna fase de ps-venda neste estudo apenas reflete a opo de buscar inovaesadvindas diretamente do processo de induo.

    Quanto s caractersticas das inovaes, h relatos de inovaes radicais,que representam o desenvolvimento de softwares, mtodos ou sistemas inteira-

    mente novos no escopo de servios da empresa, levando criao de um con-junto inteiramente novo de caractersticas (GALLOUJ, 2002). H, tambm,relatos de inovaes incrementais, correspondendo a novas funcionalidadesdentro do escopo de um softwarej desenvolvido, levando adio ou elimi-nao de caractersticas (GALLOUJ, 2002). Relata-se, ainda, uma inovao demelhoria, com a reorganizao e melhoria de um processo produtivo em umdos casos, correspondendo a um aumento no peso (qualidade) das caracters-ticas (GALLOUJ, 2002).

    Embora no sejam citadas diretamente pelos entrevistados como inovaesque ocorrem no processo de atendimento ao cliente, possvel considerar a ocor-rncia de inovaes ad hocnos casos em que acontecem na fase de prestao doservio. Essas inovaes ocorrem com a produo, a codificao e a formalizaode competncias durante a prestao do servio, sendo resultado da intera-o entre os prestadores e os clientes. Mesmo no apontadas diretamente pelosentrevistados, essas inovaes se fazem presentes nos casos nos momentos emque, durante o desenvolvimento de uma soluo em software, a interferncia docliente provoca alteraes no projeto original, redefinindo a configurao do ser-

    vio prestado o que se confirma em todos os casos que fazem parte dessa etapa.

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    Ao analisar os ganhos da empresa com as inovaes, o estudo buscou ind-cios que confirmassem a condio inovadora das solues desenvolvidas. Paraisso, investigou-se a gerao de algum benefcio para a empresa e o mercadoa partir da soluo desenvolvida. Nos casos observados, confirmou-se a condi-

    o de inovao. Entre os ganhos relatados, destacam-se: aumento do escopode servios da empresa; acrscimo de funcionalidade a um softwarepreexistente;aumento da eficincia no desenvolvimento a partir da reestruturao do mto-do de trabalho; reduo dos custos de desenvolvimento; e reduo dos eventos dem especificao de funcionalidades no desenvolvimento.

    8 CONCLUSES

    Este estudo investigou o processo de induo de inovaes por clientesgovernamentais em servios de software, a partir da investigao de dez casosde inovaes desenvolvidas por empresas prestadoras no Distrito Federal aclientes governamentais como resposta a requisitos estabelecidos nos proces-sos de contratao pblica. Adotou-se como opo terica a abordagem inte-gradora para o exame do fenmeno da inovao em servios. Investigou-se apremissa terica adotada para o direcionamento das compras governamentaispara o fomento inovao compras para a inovao a partir da leitura do

    chain-linked model proposta em trabalho anterior. A partir da perspectiva trazi-da pelo modelo, desenvolveu-se uma proposta de entendimento para a induoe a difuso de inovaes com o uso de compras governamentais, prevendo-setrs estgios de ocorrncia.

    O estudo caracterizou-se como descritivo, de natureza qualitativa e cortetransversal. Nos dez casos selecionados, a coleta de dados deu-se com a aplicaode dois roteiros de entrevistas semiestruturadas, nos quais os entrevistados apon-taram, para cada caso, uma inovao significativa desenvolvida em atendimento aum requisito de um cliente governamental. As dez inovaes selecionadas foram

    relatadas individualmente e, na sequncia, analisadas de acordo com descrio,momento de ocorrncia, caractersticas e ganhos gerados para a empresa.

    As anlises das descries revelaram que as inovaes surgiram como res-postas das empresas a um requisito (ou conjunto de requisitos) estabelecido porum cliente pblico, o qual ocorreu em dois momentos: antes da contratao,sob a forma de condio para a habilitao em licitaes (fase de pr-venda),ou durante o desenvolvimento do software, gerando alteraes no servio finalprestado (fase de desenvolvimento). As inovaes identificadas confirmaram a

    premissa de induo da leitura do chain-linked modelapresentada em trabalho

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    COMPRAS PARA A INOVAO

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    anterior por duas das trajetrias do modelo: as inovaes induzidas pr-vendaso explicadas pela trajetria central c, enquanto as inovaes induzidas naprestao do servio so explicadas pela trajetria f. Os resultados apontarama adequao do modelo escolhido para a anlise das inovaes induzidas por

    clientes governamentais.Quanto s caractersticas, foram identificadas inovaes radicais (sete casos),

    inovaes incrementais (trs casos) e inovao de melhoria (um caso), sendoum dos casos com duas inovaes. Os ganhos obtidos pelas empresas com asinovaes aumento do escopo de servios; acrscimo de funcionalidade a umsoftwarepreexistente; aumento da eficincia no desenvolvimento; reduo doscustos de desenvolvimento e dos eventos de m especificao de funcionalida-des confirmaram sua condio inovadora.

    Os resultados do estudo demonstram que a prerrogativa terica de indu-o de inovaes a partir do direcionamento das compras governamentais paraessa finalidade (compras para a inovao) confirma-se na prtica. Os requisitosestabelecidos pelos clientes pblicos foram capazes de induzir inovaes nasempresas desenvolvedoras, o que confirma o estgio 1 da proposta de entendi-mento para o processo de induo das inovaes aqui construdo. Ao gerareminovaes para atender aos requisitos governamentais, as empresas confirma-ram o estgio 2 da proposta de entendimento. Por haver indcios da manutenodos ganhos obtidos com as inovaes nas empresas e, ainda, de sua comercia-

    lizao posterior para outros clientes (com indicao de difuso das inovaesno mercado), considera-se que h indcios de ocorrncia do estgio 3 da propos-ta de entendimento. A proposta de entendimento construda mostra-se, nestaanlise, compatvel com a dinmica observada para a induo de inovaes noscasos selecionados.

    Ao confirmar essa compatibilidade da proposta de entendimento com adinmica emprica observada na induo de inovaes em servios de software,prope-se um ponto de partida para o teste e a construo de indicadores que

    permitam mensurar empiricamente os resultados das compras para a inovao.Abre-se espao, assim, para que observaes futuras ampliem as investigaessobre inovaes induzidas por clientes governamentais em outros segmentos daindstria de softwaree, de maneira mais ampla, em outros segmentos das ativi-dades de servios ou mesmo das aquisies de bens.

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    MARINA FIGUEIREDO MOREIRA EDUARDO RAUPP DE VARGAS

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    PROCUREMENT FOR INNOVATION: CASES OFINNOVATIONS INDUCTED BY PUBLIC SECTORCLIENTS

    ABSTRACT

    This study aims to contribute to the understanding of the process of innovationinduction by public clients and its dissemination in service activities by inves-tigating ten cases of innovation in companies that provide software services topublic clients in the Federal District of Brazil. This study adopted an integrativeapproach as a theoretical basis for the study of innovation in services. In addi-tion, the theoretical premise of public procurement was investigated as a poli-

    tical tool to promote innovation procurement for innovation adopting theadaptation of the Chain-Linked Model developed in an earlier study. Usingthe models perspective, the study developed a proposal for understanding theinduction and possible spread of innovations in software services through the useof public procurement based on three steps. Thus, this study may be described asdescriptive, qualitative and transversal. Data were collected from semi-structuredinterviews with respondents from private companies that developed the most sig-nificant innovations for government clients. The ten selected innovations werethen reported and analyzed using four criteria: description, timing, characteris-tics and earnings generated for the company. The analysis revealed that inno-vations have emerged in response to a requirement (or a set of requirements)established by a public customer and that they occurred in two phases: a pre-salephase and a development phase. Innovations confirmed the premise of induc-tion from two trajectories presented in the theoretical model: the central path ofinnovation, c, and the connections and feedbacks, path f. The study identifiedradical, incremental and ameliorative innovations. The gains made by companieswith innovations confirm the condition, and the dynamics observed related to the

    induction of innovations in the selected cases seem to be compatible with thisstudys proposal.

    KEYWORDS

    Innovation; Innovation in services; Innovation induction; Procurement for inno-vation; Software services.

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    COMPRAS PARA A INOVAO

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    COMPRAS PARA LA INNOVACIN: CASOSDE INNOVACIONES INDUCIDAS POR CLIENTESPBLICOS

    RESUMEN

    Este estudio tiene como objetivo contribuir a la comprensin del proceso deintroduccin de innovaciones por los clientes del gobierno en actividades de ser-vicio a partir de la investigacin de diez casos de innovaciones desarrolladas porempresas que prestan servicios de softwarea los clientes gubernamentales enel Distrito Federal. El estudio adopt el enfoque integrador como opcin teri-ca para el estudio de la innovacin en los servicios, y se investig la premisa

    terica adoptada por la direccin de compras del sector pblico para promoverla innovacin la contratacin de la innovacin mediante la adaptacin delmodelo de enlaces en cadena hecha en un estudio anterior. Desde la perspectivapresentada por el modelo, desarroll una propuesta para la induccin de la com-prensin y posible difusin de las innovaciones en los servicios de softwarecon eluso de la contratacin pblica basada en tres pasos. Fue desarrollado un estudiodescriptivo, cualitativo y de corte transversal. Los datos fueron recolectados apartir de entrevistas semiestructuradas en las que los encuestados indicaron la

    innovacin ms importante desarrollada para un conjunto de exigencias para uncliente del gobierno. Se seleccionaron diez innovaciones que fueron reportadas yanalizadas de acuerdo a cuatro criterios: la descripcin, el tiempo, las caracters-ticas y los ingresos generados por la empresa. El anlisis revela que las innova-ciones han surgido en respuesta establecidos por el cliente gubernamental y seprodujo en dos etapas: la preventa y el desarrollo. El anlisis de las innovacionesconfirm la hiptesis de induccin provocada por el modelo terico de dos desus ruta: la ruta central de la innovacin, c, y las conexiones y la retroalimen-tacin, la ruta f. Respecto a las caractersticas, se identificaron innovaciones

    radicales, incrementales y de mejora. Las ganancias obtenidas por las empresascon las innovaciones confirmar su condicin innovadora. La propuesta de enten-dimiento construida demostr ser compatible con la dinmica observada por lainduccin de innovaciones en casos seleccionados.

    PALABRAS CLAVE

    Innovacin; Servicio de innovacin; Innovaciones de induccin; Compras parala innovacin; Servicios de software.

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    MARINA FIGUEIREDO MOREIRA EDUARDO RAUPP DE VARGAS

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