CDM 21 . Embarque na Viagem

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ano 8 | número 21 | nov 2010 ISSN 1678-3417 Revista Laboratório Corpo da Matéria | Jornalismo | PUCPR

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Revista Laboratório . Jornalismo . PUCPR [ ano 08 . número 21 . nov 2010 ]

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ano 8 | número 21 | nov 2010 ISSN 1678-3417

Revista Laboratório Corpo da Matéria | Jornalismo | PUCPR

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Descobrir Curitiba Viajar nas páginas. Esse é o con-vite que fazemos nesta edição da CDM. Perambular com o olhar pelas ruas da cidade e encontrar raridades, des-sas que encontramos no cotidiano. Na seção Ensaio procuramos ilustrar uma dessas viagens, passando por lugares conhecidos, mas nem sempre notados, com um fino olhar. Dalton Trevisan é um dos condu-tores desse passeio, na editoria Crítica Livro, o conto Uma vela para Dário traz o conceito estereotipado de curitibano presente nas ações dos personagens. Na seção Música foi feito um resgate da Pedreira Paulo Leminski, antigo palco de grandes shows, hoje abandonada. E que assim como a Sorveteria do Gaúcho, trazida no espaço Perfil, são ícones da capital do estado. Esses são alguns exemplos do que você encontrará mergulhando nas próximas páginas. Você é nosso convi-dado especial. Delicie-se afinando o seu próprio olhar e recriando a sua maneira a visão de Curitiba. Redescubra!

Os editores

editorial

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ARTES PLASTICAS A expressão das artes 5

LITERATURA Filmes atraem novos leitores para livros 7

Uma estante virtual 9MÚSICA

Curitiba riscada do mapa 11Black Heaven 13

DANÇACuritiba dança 15

Os Dançarinos da Casa Amarela 17PERFIL

Quente e frio 19Edith de Camargo 22

ENSAIOTrip na city 24

MÍDIA E SOCIEDADE Qual é a sua série? 30

Artistas autistas 33AUDIOVISUAL

Curitiba em animação 36 Mania de blogueiros 38

CRÍTICADário aos XV 40

Visões de destruição 42As indagações de Miguilim 44

Arte para quem? 46ENTREVISTA

Frutos de uma ressaca 48

editoria

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sumário

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A expressão das artes...

Texto: Emanuelle Garolo, Majore RibeiroFotos: Mayara Bressán

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editoria

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artes plásticas

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Trabalhar com artes plásticas permite a realização de desejos, satisfação de necessi-dades especiais e acima de tudo a afirmação do Eu, uma forma que o artista encontra para se libertar do mundo e dar asas a imaginação.Com relação ao processo criativo de um ar-tista, vários aspectos estão envolvidos, desde sensibilidade e gostos até o inconsciente.As artes plásticas são expressões realizadas utilizando-se de técnicas de produção e ma-nipulação de materiais para construir formas e imagens que revelem uma concepção esté-tica. É a capacidade que o artista tem de expres-sar, moldar e divulgar seus sentimentos e idéias. Para a artista plástica Sila Lima o pro-cesso criativo pode estar relacionado a tudo que o artista vê ao seu redor, a elementos sentimen-tais e “estado de espírito”. “É também aquilo que você se propõe a fazer como estilo de vida” acres-centa a artista. Para Sila, tudo o que está ao redor pode influenciar o artista na hora do processo in-spiratório, uma vez que muitos se deixam levar pelo momento que estão passando. Segundo a artista o

segredo para o sucesso é deixar não ter medo de ousar nas combinações de materiais e não se pren-der a nenhuma regra, “simplesmente deixar a sensi-bilidade fluir com toda a liberdade”. Artista plástica há dez anos, Sila possui seu próprio atelier de artes visuais, criando mandalas, esculturas e telas. Com um estilo próprio, usando técnicas cria-das por ela mesma e sempre ousando na combinação de materiais, a artista trabalha principalmente com a criação de tela, que de um modo geral são abstratas. A artista que vê sua própria arte como um produto e afirma que atualmente o mercado esta financeiramente ruim, e quem procura pela arte são pessoas que entendem, conhecem ou possuem algum interesse por artes em geral. Formada em publicidade e propaganda e com MBA em Market-ing, Sila afirma que se não fosse a faculdade não teria uma perspectiva de como seria vender suas telas e algumas técnicas para produzir suas obras.Sila já teve suas obras expostas no Salão Graciosa de Artes Plásticas, Casa Cor Paraná, Espaço Cul-tural Central de Florianópolis e SCA Vero Beach na Florida e na Califórnia, nos Estados Unidos.

que liberta o artista

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A luz da sala se apaga e a expectativa aumenta para a estudante Amanda Oliveira. Depois de ler o livro Comer, Rezar e Amar, de Elizabeth Gilbert, ela esperava ansiosamente pela estreia da adaptação para o cinema. A estudante, assim como muitos outros leitores, costuma ver os filmes sobre os seus livros favoritos. Para aqueles que não têm o hábito da leitura essa é uma oportunidade para se aproximar desse universo que encanta pessoas muito antes das adaptações. “Eu não gostava muito de ler, mas há alguns anos, quando saiu o filme do Harry Potter, procurei os livros para não precisar esperar o próximo filme”, conta a estudante Camila Campos. Assim como Camila muitos outros buscam mais informações depois de ver filmes, séries e peças de teatro que lhes agradem. Para especialistas em comportamento, o hábito da leitura deve ser incentivado desde cedo pelos pais. “Os pais podem incentivar as crianças desde cedo a ler, mostrando que a leitura estimula a imaginação”, conta o professor de letras Alceu

Filmes atraem novos leitores para livros

Henrique Luz faz parte do público que começou a ler adaptações

Carvalho. Ele ainda acrescenta que os filmes podem ser um complemento para esse processo, mas nunca deve ser substituído por um bom livro. “São formas de cultura diferentes e elas devem ser levadas em paralelo, mas nunca ser substituída uma pela outra”, conta o professor. Há aquelas pessoas que muito antes da adaptação fazer sucesso já liam seus romances favoritos, como é o caso de Mateus Moreto. O arquiteto é fã da trilogia Senhor dos Anéis e acompanha os livros desde a sua adolescência. Ele explica que é interessante ver os personagens na adaptação. “Para mim é muito ruim ver o filme depois que eu já li o livro, você sempre tem uma expectativa maior quando conhece bem a história”, diz Moreto. Mas ele não é o único a pensar dessa maneira. “Para pessoas que costumam ler muito, os filmes não são suficientemente detalhistas e não demonstram toda a emoção sentida na hora da leitura, e isso é frustrante para algumas pessoas”, explica o psicólogo Antônio Carreira.

Texto: Bruna Regatieri, Francielle CiconettoFotos: Natália luz

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literatura

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Cresce o gosto pela leitura de livros adaptados Mal a adaptação “Querido John” havia estreado nos cinemas, que a estudante de Engenharia de Alimentos Gabriela Santos já estava buscando nas estantes o livro. “Eu amei o filme, mas sei que essas adaptações são sempre mais simples, então quero buscar e conhecer melhor a história e os outros livros deste autor”, conta. O autor a que ela se refere é Nicholas Sparks, um romancista muito famoso no exterior, mas que nunca havia tido um livro publicado no Brasil. Devido ao sucesso de três de seus últimos livros no cinema, eles foram traduzidos e lançados no mercado brasileiro. São eles: A Última Música (estrelado por Miley Cyrus e Liam Hemsworth), Noites de Tormenta (com Richard Gere) e Querido John (com Amanda Seyfried). “Estes livros são um sucesso aqui na loja, o mais recente (A Última Música) é o mais vendido deles”, conta Paola Maciel, vendedora de uma grande rede de livrarias. Além de serem lançados, muitos livros que já existem no mercado são relançados com as capas que reproduzem os pôsteres das respectivas adaptações. “Isso é um chamativo para as pessoas que viram o filme, saberem que existe o livro”, explica o gerente Paulo Roberto. Para o estudante Henrique Luz, a capa do filme ajudou-o a encontrar o livro que contém as sete crônicas de Nárnia. “Eu adorei o primeiro filme, e acabei comprando o livro quando vi na loja”, conta Henrique que agora aguarda a terceira adaptação do livro “A Viagem do Peregrino da Alvorada”.

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Uma estante Virtual

Texto: Julia Bottini e Lívia MarquesFotos: Clarissa Herrig e Jéssica Kimy

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A Estante Virtual é um site que reúne os principais sebos do país e faci-lita muito a vida de quem ama ler.Para a estudante Isis Rodrigues, 19 anos, o site foi uma das melhores invenções dos últimos tempos “Já consegui vários livros raros através do site, é fácil e eu posso comprar livros em qualquer parte do Bra-sil.” Mas Isis revela que por mais que o site seja prático nada substitui o momento mágico que é escolher os livros no próprio sebo. “Não sei explicar, a sensação que eu tenho quando entro em um sebo é diferente, parece que lá eu posso encontrar a história que eu quiser de um jeito inimaginável.”

Carlos Lopes,47 anos, dono de um sebo no centro de Curitiba, e que tem a loja ca-dastrada na Estante Virtual, diz que as vendas melhoraram com a inclusão da loja no site, porém a clientela e o movimento continua igual. “É até engraçado pois, tem muita gente que procura os livros no site e quando vê que é na mesma cidade acaba vindo na loja pessoalmente, ao invés de pedir a encomenda pelo correio. Acho que isso prova a magia que o sebo desencadeia em algumas pessoas”. Lopes ainda revela que as vendas pelo site são, em 90% dos casos, para pessoas fora da cidade “Já mandei livro até pro Acre,” brinca o lojista.

Em Curitiba existem cerca de 40 sebos espalhados pelo centro da cidade, mas não é só nessas casas que os apai-xonados por livros podem encontrar seus autores prediletos, livros raros ou simples-mente alimentar seu vício pela leitura de um jeito barato. Agora, os aficionados por livros podem ir a um lugar que reúne mais de 25 mil livros, espalhados por 1.455 sebos distribuídos em 245 ci-dades, com apenas um clique, o nome desse lugar? Estante Virtual.

Senta que lá vem a história

Em novembro de 2005 o administrador carioca André Garcia criou o portal estante virtual, no começo eram apenas de 12 sebos com 5 mil exemplares disponíveis no acervo. Segundo a lenda, Garcia procurava alguns livros na internet com dificuldade e percebeu a desorganização dos sebos, foi aí que surgiu a idéia do site. Em 2006 o portal contava com mais de 20 mil usuári-os cadastrados, não só no Brasil, e no início de 2010 os usuários do portal chegam a 500 mil.

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Texto: Igor CastanhoFoto: José Mário Dias

Curitiba riscada do mapa

Cidade já recebeu inúmeros artistas de

renome internacional. No entanto, falta de

espaços adequados e de viabilidade para shows

espantou grande parte dos artistas

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editoria

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música

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Paul McCartney, AC/DC, David Bowie, Pearl Jam, Iron Maiden, Beastie Boys, Bon Jovi, entre outros. A lista é de artistas de peso na música mun-dial e todos eles já puderam ser vistos por curitiba-nos no passado. A realidade atual, contudo, mostra que já faz algum tempo que os moradores da capital paranaense não podem contar com a presença de grandes astros na sua própria cidade. Uma das principais causas desse esqueci-mento é a pedreira Paulo Leminski. Palco dos princi-pais shows realizados em Curitiba, hoje encontra-se fechada e sem uso. O último show que ocorreu no local foi do grupo Inimigos da HP, em 2008. Depois disso uma ação judicial realizada pelo Ministério Público do Paraná decretou o fechamento do local. A razão para a medida seria o protesto de 134 mora-dores da região, em virtude do barulho e da bagunça que ocorria no local em dias de show. Um dos espa-ços de maior capacidade em Curitiba – que, segundo dizem, foi escolhido por Paul McCartney como o de melhor acústica natural no mundo – ficou desde en-tão às moscas. Tentativas de atenuar o problema até exis-tiram, mas nenhuma com grande efeito. O movi-mento “A pedreira é nossa”, liderado por vereadores da capital tenta solicitar a reabertura da Pedreira, mas até o momento não obteve grandes resultados. Outra solução seria deslocar os shows para a região metropolitana. Foi o caso de eventos como o Curitiba Country Festival e o show da banda inglesa Oasis, re-alizados no Expotrade, em Pinhais. O grupo de Man-

chester, no entanto, não gostou do local. “Um show em um palco desmontável em um estacionamento nunca vai ser comparável ao baru- lho e cores de um estádio”, foi a crítica do guitarrista Noel Gallagher no perfil do MySpace após o show. O artista se retratou depois, mas o registro já havia sido feito. Quando uma dessas opções dá certo surge outro empecilho: o custo do ingresso. Shows de artis-tas como a cantora Rita Lee e o guitarrista consagrado internacionalmente Johnny Winter foram realizados no teatro Positivo e teatro Guaíra, mas não tiveram preços menores do que R$80,00. Para grupos inter-nacionais o valor seria, no mínimo, o dobro. O show da banda Scorpions não tinha ingressos por menos do que R$100,00. No caso do Oasis o custo era de no mínimo R$160,00. O elevado preço espanta o públi-co, e conseqüentemente, reduz o lucro dos organiza-dores, o que desestimula a realização de eventos. Outra saída seria recorrer aos estádios, como ocorre na cidade de São Paulo. Couto Pereira e Arena da Baixada têm ampla capacidade de público, mas não querer arriscar danificar o gramado, palco das partidas dos dois times. A cidade fica assim, sem opções. Enquanto o poder público e a iniciativa privada não oferecem opções para os shows, cabe ao curitibano viajar ou simplesmente não assistir grandes shows como o do Guns N’ Roses, Coldplay, Aerosmith e Metallica, que passaram pelo Brasil mas não se apresentaram na capital paranaense. É Curiti-ba ficando fora da rota dos shows internacionais.

O lendário Johnny Winter em show no Teatro Guaíra e Rita Lee, no palco do Teatro Positivo

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Black Heaven

Black Heaven é uma banda que já tem dois anos de idadee alimenta o cenário da música nipônica em Curtiba

Texto:Cássio Barbosa, Durval Ramos, Guilherme GasparFotos: Gisele Eberspächer

Siam Shade, X-Japan, Glay, Gackt, Hinorobu Kageyama... Talvez você nunca tenha ouvido sequer falar desses grupos e músicos, mas são eles respon-sáveis por grandes sucessos da música nipônica. Os jovens que os admiram, além de saberem todas as letras de cor, colam cartazes nas paredes de seus quartos, usam bottons com a foto de seu ídolo e até mesmo se vestem como eles. Porém, se você pensa

que isso é apenas no Japão, está muito enganado.Em Curitiba, praticamente do outro lado do mundo, é possível encontrar verdadeiros fãs dessas bandas. Mesmo com a diferença cultural, isso não impede que a música atravesse o planeta e venha embalar festas e shows aqui no Brasil. Nem mesmo o idioma parece assustar quem está disposto a expandir seu repertório musical.

Black Heaven, banda de rock em japonês, está junta desde 2008 e canta em vários eventos na capital.

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Porém, mais do que simplesmente ouvir e admirar, um grupo de amigos decidiu ir além nessa paixão pelo pop rock japonês: eles também queriam fazer parte desse mundo e criaram sua própria banda para cantar as músicas de que tan-to gostavam. E assim nasceu a The Black Heaven. Esqueça os olhos puxados e os movimen-tos sutis e delicados. De oriental, os seis integrant-es do grupo têm o coração e a alma, já que nenhum deles possui ascendência japonesa ou de algum outro país da região. Entretanto, aprenderam o idioma por paixão e hoje cantam como se tives-sem nascido na Terra do Sol Nascente, fazendo seu público – na maioria jovens entre 13 e 19 anos – pularem e cantarem em cada um de seus shows. Criado em 2008, o grupo vem gan-hando destaque no cenário nipônico brasil-eiro, tanto que já fizeram várias apresentações fora de Curitiba, incluindo o Anime Friends, maior evento de cultura pop japonesa da América Latina, que acontece em São Paulo. A vocalista Adriane Marilise de Jesus não é descendente de orientais, mas isso não a impede de empolgar o público durante suas apresentações. Tanto que adotou um nome artís-tico para criar uma maior identificação: Usagi. O pseudônimo, inspirado na persona-gem principal do desenho animado Sailor Moon, é um apelido de infância, mas também serve para demonstrar qual o maior foco da The Black Heaven no cenário musical: oferecer músicas de animações famosas que só podem ser ouvidas pela internet. A banda tem em seu repertório canções das mais variadas épocas e incluem sucessos an-tigos e recentes, como as aberturas de “Os Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball Z”. E a Black Heaven não é a única banda cu-ritibana que canta em outras línguas. Copacabana Club, Rosie and Me e Tiago Iorc cantam em inglês e fazem sucesso aqui e até internacionalmente, fa-zendo shows em Nova York ou na Europa. O ideal da Black Heaven é “levar a música japonesa, em espe-cial o rock, para mais e mais pessoas“, afirma Usagi.

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Curitiba dança

Texto: Jonathan Seronato, Ruann Jovinski e Letícia ParisFotos: Gustavo Prestini

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editoria

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dança

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A arte da dança, que encanta a todos os públicos, ga-rante seu espaço na capital paranaense. O Festival Dança Curitiba, um projeto cujo objetivo é divulgar a dança aos curitibanos, não atende a demanda dos grupos da cidade, apesar de contar com a partici-pação de aproximadamente 500 dançarinos. Além disso, a pouca divulgação desfavorece o sucesso do projeto. De acordo com a coordenadora de even-tos do Departamento de Esporte e Lazer, Leloir de Fátima Santos, a procura desses grupos para par-ticipar do Dança Curitiba começa em meados de fevereiro, considerando que o evento acontece em setembro. “Há uma seletiva que todos os anos fazemos nas Ruas da Cidadania e os melhores gru-pos se apresentam no Festival”, explica Leloir. Em média 18 grupos de dança se apresentam du-rante duas horas de evento, ao longo de três dias. Dentre os participantes, no entanto, as opiniões sobre o festival são a respeito da falta de vagas para se ingressar entre as apresentações. “A prefeitura afirma que nós podemos dançar, mas como são pouquíssimas vagas para muitos gru-pos, não importando se são grandes ou peque-nos, sempre os mesmos acabam sendo chama-dos”, afirma Amanda Bueno, dançarina de ballet.

Segundo o dançarino de frevo Leonardo Andrade também existem falhas na abordagem do evento: “Esse festival, além de uma competição, deveria ser um espaço de divulgação dos nossos grupos, mas nem isso acontece. A propaganda é pratica-mente inexistente, quase ninguém sabe que existe o evento, a prefeitura deveria dar mais incentivos”. “A dança é uma das formais de arte mais bonitas que existem, pois une atividade física com graça e leveza. A Fundação Cultural deveria valo-rizar mais essa arte, ainda mais no nosso país, que é tão rico em termos de dança e cultura. Acho até que as escolas deveriam oferecer aulas ex-tra curriculares de dança” diz Madalena Silveira, mãe de um aluno que já participou do festival. A respeito das dificuldades relatadas, Leloir afirma que em todas as edições a organização pro-cura realizar de maneira bem regional para gerar mais espaço para os participantes e também para atrair o público a apreciação da cultura, e que o nível dos grupos é muito alto: “sempre fazemos as seletivas para manter as oportunidades de maneira mais democrática, mas existem alguns problemas que não chegam ao nosso conhecimento”, afirma.

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Os dançarinosda Casa Amarela

Texto: Daniela Mallmann e Ana SuperchinskiFotos: Arquivo

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conhecerem que são capazes de estar no palco e serem aplaudidas, e seus pais olhando com orgulho”.

Beatriz Souza, 13 anos, que possui a coordenação da perna esquerda levemente comprometida, con-ta sobre os benefícios que o hip hop trouxe. Ela foi encaminhada para as aulas através da neuropedia-tra Lúcia dos Santos, do Hospital de Clínicas, que foi quem possibilitou o projeto.“ Dançar hip hop melho-rou minha postura e meu equilíbrio. No começo era difícil, mas consegui pegar o jeito”, conta Beatriz.

O aprendizado do hip hop ajuda os alunos de Joseana não só fisicamente, mas também emocio-nalmente. Superando limites de movimentos com o corpo, há aumento da autoestima. Noeliza deAssis tem a mesma dificuldade de Beatriz, porém, no lado direito do corpo. “Eu estava deprimida quando a Joseana me convidou para dançar hip hop. Ela disse que a música, a dança e a convivência com o pessoal iriam fazer bem para mim. Então eu fui, e gostei ”.

Dar aulas de hip hop foi extremamente desafiante para Joseana. Mas aos poucos, seus alunos apren-deram a usar os membros comprometidos tam-bém. “Eles perceberam que podiam experimentar um movimento inédito com o corpo. Hoje é pos-sível ver que eles se transformaram em dançarinos, e não ficou só naquela proposta de usar a dança como método de reabilitação”, declara Joseana.

Através do hip hop, adolescentes superam seus limites físicos e são aplaudidas em apresentações

A Casa Amarela de Curitiba é lugar de aprendizado para cerca de 30 pessoas com paralisia cerebral. Todos os sábados pela manhã, crianças e adolescentes vencem seus desafios de coordenação motora. Ali, desco-brem que conseguem fazer movimentos corporais de que antes se consideravam incapazes. Como forma de fisioterapia musicalizada, eles dançam hip hop.

Quem os ensina é a professora e fisioterapeuta Jo-seana Withers. “Eu era aluna de hip hop. Foi quando comecei a me defrontar, porque o dia inteiro eu tra-balhava com crianças com paralisia cerebral, através da fisioterapia convencional. Percebi que a dança faz com que o corpo se movimente exatamente com o objetivo que se procura na fisioterapia”, explica.

O projeto teve início em 2007 com adolescentes. Hoje, já está com três turmas em que participam crianças e adolescentes, de níveis iniciante e avan-çado. Com o passar do tempo, os dançarinos foram obtendo reconhecimento dos profissionais da dança.

As turmas de hip hop também realizam espetáculos, apresentados na abertura do Congresso de Neuro-pediatria do Hospital de Clínicas, Teatro Positivo e Guairinha. Foram convidados também para fazer uma participação especial na Copa Sul Americana de hip hop. A proposta de um dos espetáculos foi tratar de temas sociais, com a música “Where is the Love”, do Black Eyed Peas. “O que mais comoveu a gente foi ver aquelas crianças e adolescentes re-

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Quente e frio

Texto: Bruna Covacci e William SaabFotos: Thyago da Silva

Ponto de encontro dos curitibanos misturasabor gelado com momentos acalorados.

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editoria

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perfil

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Azulejos brancos com desenhos azuis, freezers antigos, mesinhas de ferro e uma placa branca expondo opções de trinta e cinco sabores de sorvete em vermelho. A casa inaugurada na década de 50 preserva os mesmos móveis desde sua criação e o piso original. Tudo ali dentro é de uma simplicidade genuína, mas que não é desmérito, pelo contrário. É um clima mais rústico que mantém o lugar valorizado e aprecidado. Os pequenos detalhes tornam-se grandes para quem visita o ambiente e revelam um local de tradição que se tornou um encontro de gerações. Que curitibano não conhece a sorveteria “do Gaúcho”? Crianças, skatistas, patricinhas, hippies, roqueiros, adolescentes, casais de namorados, adultos... Uma clientela bastante

diversificada movimenta o dia a dia da sorveteria.“Pai, quero sorvete de morango!”, diz o menino sentado do lado de fora da sorveteria. Na mesa ao lado, o casal de namorados toma o seu sorvete nos intervalos de suas carícias. Morango, uva, pistache, torrone, maracujá, passas ao rum, africano... Tomando sorvete na casquinha ou no copinho, os curitibanos passam horas dentro do local onde conversam e namoram. Um deleite a ser aproveitado em qualquer época, ainda que o clima em nossa cidade prefira estar oposto para a arte do sorvete. Ao lado da antiga caixa registradora uma foto. Aquele é o Gaúcho, Adalberto Pinto dos Santos, que há 55 anos fundou a sorveteria. O local que hoje é administrado pelos filhos já presenciou

Sorvete de nata é um dos mais tradicionais e pedidos

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Há mais de trinta anos a sorveteria mantém a tradição na produção dos sabores

muitas histórias na capital. Inícios de namoro, comemorações, discussões e muita tristeza. Afinal, a sorveteria fica em frente ao Cemitério Municipal. Um produto gelado, em uma cidade gelada. Para aqueles que chamam o curitibano de pessoas frias, a sorveteria do Gaúcho é um local de calorosas confraternizações. Sorrisos, beijos e gargalhadas são demonstrações de afeto comuns entre os freqüentadores que veem o local como um ambiente prazeroso. Reginato Mendes Junior, de 41 anos, era frequentador da sorveteria quando adolescente. “Guardava dinheiro para vir até aqui e pedir um colegial. Aquela bola de sorvete com calda de chocolate, amendoim e canudinho de waffle”, mais tarde, Junior chegou a levar sua namorada para lhe acompanhar na sorveteria. A vida inteira de Júnior foi pontuada por momentos em que a sorveteria do gaúcho estivesse presente. Hoje, domingos continuam sendo dia de sorvete para Junior e seus filhos Enzo e Enry. “A sorve-teria me lembra muitos momentos bons, é um ponto de encontro da cidade, fala muito sobre o curitibano”. A praça do Gaúcho reúne uma das grandes virtudes de Curitiba. Lá, apesar do ambiente tipicamente skatista, todos os núcleos da cidade se

encontram. E todos se amontoam em algum momento próximo ao half (pista própria para manobras com skate) para apreciar os altos e baixos dos esportistas. Desafiar a gravidade, voar baixo e alto, superando os limites do corpo. Quem está do lado, avaliando a performance, deixa o sorvete derreter para acompanhar os giros do skate. A sorveteria do gaúcho tem como companheiro de praças tradicionais bares que servem comumente um público que consome cerveja. Mas ela não faz feio em meio a concorrência. Mesmo num ambiente hostil, ela consegue transitar o popular sem ter um caráter popularesco. A clientela é das boas, pois sua fidelidade é baseada em quem busca o ambiente em si e não os frequentadores. Apesar da enorme multidão. todos ali respeitam um ao outro, num clime de serenidade, de fim de semana família. A praça do gaúcho reúne num mesmo ambiente diferentes tribos. A sorveteria tá ali, esperando quem a deseja, sempre com as portas abertas, para receber e agradar a todos os clientes. Numa cidade em que as tribos estão cada vez mais distintas e isoladas, um ambiente em que todos se encontrem deve ser valorizado independente do calor ou do frio.

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Texto: Milena Vicintin, Viviane Prestes.Foto: Milena Vicintin

Musicista, que teve seu primeiro contato com a cultura brasileira a partir da música,

conta como se estabeleceu no núcleocultural curitibano

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Edith de CamargoUm dia frio e chuvoso de Curitiba. Um pouco seme-

lhante a Suíça. E Edith de Camargo sente falta de lá, mas não se imagina voltando, pois sua vida está aqui. “A minha vida acontece aqui, está aqui em Curitiba”, afirma. Veio para cá há 16 anos. Ela tem um nome pouco conhecido, mas ao mesmo tempo familiar. Uma história que levaria dias para ser contada. Um sotaque pouco acentuado, porém perceptível toma conta do diálogo. Ela chega discretamente ao local marcado, e aos poucos aparecem pessoas falando “Oi Edith!”. Sem formalidades a conversa começa. Ela esperava um bando de perguntas e anotações.

A musicista que tem carreira solo e é integrante do grupo curitibano Wandula, lembra de seus natais em St. Gallen, na Suíça, com a família, que ainda reside no país. “Era tudo muito mágico!”, conta entusias-mada. Apesar da proximidade com o país de origem, já não se sente mais pertencente à antiga pátria.

Edith conta que quando morava em St. Gallen tra-balhava em um restaurante, onde havia duas ango-lanas que escutavam músicas brasileiras de Cateano Veloso, Chico Buarque, João Gilberto e Gilberto Gil. Isso despertou sua curiosidade para aprender o por-tuguês. Por isso foi a Lisboa estudar. Em terras portu-guesas encontrou um brasileiro, com quem se casou.

Quando chegou a Curitiba, começou sua ca-minhada musical estudando no Conservató-rio de Música Popular Brasileira, fez vários cur-sos na área de música e por aqui foi ficando.

Discreta fala da vida sem ambições. E o sucesso ocorre ao acaso. “Talvez tenhamos que nos empe-nhar mais para que o nosso trabalhe chegue ao gran-de público”, conta e ainda ressalta que tem um públi-co fiel, apesar de o estilo musical tender ao europeu.

Na literatura, muito gosta de Clarice Lispector, e algumas obras internacionais. Mas confessa que ultimamente não consegue terminar livros que começa a ler. “As vezes começo um e não termino porque vão aparecendo outras obras que me cha-mam atenção, e assim vai indo, mas sempre te-nho uns três livros em minha cabeceira”, comenta.

Um nome que se destaca para ela é o de Pascal Mercier, pseudônimo do filósofo Peter Bieri. “ O ulti-mo trem para Lisboa” (Tren Nocturno de Lisboa, no título original). Além de obras como “O ator erran-te”, de Yoshi Oida e destaca o escritor Oliver Sacks.

O movimento frenético da vida, e do mundo, não com-binam com o ritmo desacelerado da criação campesi-na, que teve na infância. Uma conversa sobre a artista acaba se tornando uma reflexão sobre a própria vida.

De política ao modo de vida das pessoas, brasileiras e suíças, faz surgir longos pensamentos sobre a existência humana, algo que ela valoriza e aprecia acima de tudo.

Hábitos, curiosidades e outras características do povo brasileiro começam a despertar o interesse da entrevistada. As perguntas são deslocadas ao entre-vistador, e por um momento o foco passa a ser per-cepções sobre a cultura e os costumes dos dois países, para conhecer mais sobre a cidade e o que está ao seu redor, o ambiente, a música e as pessoas. Com olhares desconfiados ela até se solta, mas continua tímida.

Wandula“Encontrei as pessoas certas”, essa foi a frase com a

qual definiu sua carreira musical. No Conservatório de MPB, começou com um trio feminino, que não foi adian-te. E depois encontrou Marcelo Torrone, com quem mantém uma parceria musical, muito bem sucedida.

A estreia do Wandula se deu em 1999, com um con-certo no auditório Antônio Carlos Kraide, em Curitiba.

Apesar de se dedicar à banda, Edith também tem três trabalhos solos. O primeiro disco foi fei-to inteiramente em alemão e francês, destacando suas principais influências musicais: a polca suí-ça e ritmos austríacos e madrigais. Suas composi-ções tendem ao minimalismo e experimentalismo.

A musicista pretende lançar mais um álbum até o ano que vem e comenta que para conseguir ser aprovada no edital cultural teve que inscrever seu trabalho três vezes, porque as músicas serão em inglês e francês. O título que inicialmente era uma brincadeira com o jogo medieval, Diable dans le plafond (O diabo no teto), teve que ser alterado.

“O mundo faz parte da inspiração”Sempre teve a música presente em sua casa. É a sex-

ta dos sete irmãos e conta que na Suíça a relação das pessoas com a música é muito forte. “Quase todo mun-do na Suíça toca algum instrumento musical”, comenta.

Entre um cappuccino e outro a conversa passa. A noite cai, fria e úmida, nem um pouco semelhante à Suíça de Edith de Camargo, que para ela resta só em lembranças.

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Texto: Renata CamposFotos/Ilustrações: Cláudio Alvez e Paulo José

Trip na City

ensaio

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As fotos que abrem as páginas dessa editoria tem a pretensão de reviver no olhar do espectador to-dos os sentimentos que uma viagem pode causar.

Por exemplo, enfrentar aquele ônibus convencio-nal de linha cheio e carregar sua mochila nas costas.

Não tem muita coisa para fazer em um ônibus cheio a não ser observar. Então você o faz. Ob-serva a jovem, com fone de ouvido, sentada no banco preferencial - ela está tão desligada que parece nem ligar para a velhinha que está ao seu lado querendo sentar. Observa o famoso roquei-rinho ouvindo um som e batendo o pé. Obser-va aquele mais humilde, com chinelo e pé sujo.

Você olha pela janela também. Vê aque-le casal no banco da praça e pensa: “Nossa,

não é que namorar na praça ainda existe?”. Vê o carrinho do pipoqueiro. E o sino da igreja.

E percebe: até que pegar ônibus não é tão ruim assim.O lugar da janela é sempre melhor para ver a

paisagem. Você começa a observar as pequenas coisas bonitas de sua cidade. Por exemplo, aque-la casa antiga que sempre estava ali e você nunca viu. A praça que você aprendeu a andar de bici-cleta quando era criança e agora está diferente. Os grandes prédios, que mesmo não sendo natu-rais, tem sua beleza em contraste com o céu azul.

Tudo isso até você chegar ao seu desti-no, onde descobrirá novas coisas para ob-servar e deixar fotografado na memória.

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ensaio

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Texto: Marília Dissenha, Nathália Pontes e Patrícia FernandaFotos: Arquivo (pgs 30/31) e Patrícia Fernanda (pg 32)

Qual é a sua

Na televisão americana desde 2004, House é uma das séries médicas mais vistas de todos os tempos. Gregory House é um infectologista reconhecido pela sua incrível capacidade de fazer diagnósticos precisos. Outro fator, que faz da série um sucesso, é a personalidade do médico que é conhecido pelo mau-humor, sarcasmo e seu distanciamento dos pacientes.

Gossip Girl estreou na televisão ameri-cana em 2007. Os acontecimentos que envolvem a personagem principal (Blake Lively) e seus amigos são narra-dos e expostos em um blog por uma desconhecida apelidada de “Gossip Girl“. A série é conhecida pela trilha sonora que vai de indie-rock a pop-eletro, de Lady Gaga a Crystal Castles.

Hannah Montana Estreou na televisão americana em 2006. A série tem como personagem principal uma menina (Miley Cyrus) que vive uma vida dupla. Ao mesmo tempo que ela é uma ado-lescente comum, ela também é uma estrela do mundo pop, mas sua identi-dade real é escondida de todos, exceto de sua família e amigos íntimos.

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editoria

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mídia e sociedade

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A série musical Glee estreou na tele-visão americana em 2009. A história é focada nos esforços de um professor de espanhol em reerguer o coral da escola William McKinley, chamado de “Glee Club”, que no passado foi motivo de grande orgulho para todos os alunos na instituição. No entanto, a escola não tem recursos para sustentar o coral, que a princípio só atrai os alunos pouco populares e estigmatizados. A 1º tem-porada foi vista por cerca de 11 milhões de pessoas nos Estados Unidos.

A série se passa na cidade de Bom Temps, em Louisiana, e trata da co-existência de humanos e vampiros. True Blood é um sangue sintético criado para saciar a vontade dos vampiros, e apesar disso, os humanos não se sentem seguros com essa nova convivência. A per-sonagem principal é Sookie Stackhouse, uma garçonete que se apaixona pelo vampiro Bill Compton. A 4ª temporada da série está pre-vista para Julho de 2011.

Certa noite, o estudante Alan de Oliveira Pazian, nascido em 1991, chegou em casa cantando “Don’t Stop Believing”, sucesso da década de 80, interpretado pelo grupo Journey. O fato surpreendeu sua mãe, Marlene Cantoia de Oliveira Pazian, de 40 anos, pois, segundo ela, “esta música é de outra época”. Alan nunca ouviu falar dos Journey.

Ele conhece a música por causa do seriado americano Glee.

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A febre das séries americanas faz com que cada vez mais jovens brasileiros adquiram novos hábitos, gostos e aprendam novas músicas, como é o caso de Alan. Em Glee, um grupo de estudantes considerados perdedores entra em um coral que faz o maior suces-so. Alan afirma que nunca foi “o loser” da escola, mas se identifica com a série por outras razões. “A série sabe combinar boa música com boa trama e drama com comédia. É o que me faz assistir”. Alan baixa os episódios toda semana pela internet. Além disso, ele também já comprou os cinco CDs da série. E a mãe aprova: “Pelo menos agora eu conheço as músicas que ele ouve. A maioria é do meu tempo”. Ser influenciado por uma série de TV é um compor-tamento normal entre os jovens, segundo a psicólo-ga e professora universitária Priscila Frehse P. Robert. Ela explica que na adolescência acontece o “luto da identidade e do corpo infantil e da imagem idea-lizada dos pais”, ou seja, o adolescente busca outros referenciais. Para a psicóloga, as mídias oferecem modelos para estas identificações a todo momento, inclusive nos seriados. “Os personagens das séries podem funcionar como uma resposta provisória, um ideal a seguir, em uma tentativa de preencher esta ‘crise’ de identidade”, avalia.

Alan comprou os cinco CDs da série musical Glee

Priscila conta que seguir um modelo que vem da televisão é saudável desde que não haja “sofrimento psíquico e prejuízo na vida do adolescente”. E com-pleta: “O problema, a meu ver, é quando qualquer pessoa passa a guiar sua vida em função de uma ide-alização única, sem qualquer crítica ao modelo a ser seguido”. De acordo com a psicóloga, é preciso ouvir o que o adolescente tem a dizer para evitar danos. A estudante Carolina Lima, de 17 anos, conta que decidiu fazer aulas de violão depois que começou a assistir à série Hannah Montana, em 2008. No se-riado, uma garota normal é também uma cantora famosa. Carolina diz que agora até já compõe suas

próprias músicas. “Por causa do vestibular eu parei um pouco, mas já tenho cinco músicas compostas”. Mas a influência das séries algumas vezes vai além e pode interferir no futuro do jovem. Lucas Murilo da Silva tem 16 anos e está no segundo ano do ensino médio. Há um ano ele decidiu que vai prestar ves-tibular para medicina, influenciado pela série House, cujo personagem principal é um médico ranzinza, mas muito competente. Lucas garante que teve a ideia pela série, mas que não foi só isso. “O estalo veio por causa da série, mas hoje eu sinto que tenho vocação. Eu sei que a vida real não é aquilo, não ide-alizo ser o House. Já pesquisei sobre medicina e é o que eu quero fazer”. A psicóloga, no entanto, faz um alerta para quem escolhe a profissão com base em programas de TV. “E-xiste a possibilidade de uma frustração profission-al. A realidade nunca é exatamente igual àquilo que idea-lizamos. Mas isso também vale para qualquer escolha profissional.” Problemas à parte, escolher uma série para acompanhar pode ser muito praz-eroso. Afinal, é como diz a psicóloga: “As ilusões são fundamentais para constituição psíquica do ser hu-mano”.

“Os personagens das séries podem funcionar como uma resposta pro-visória, um ideal a seguir, em uma tentativa de preencher esta ‘crise’

de identidade”

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Artistas AutistasEduardo Baggio utiliza redes sociais para promover

projeto fotográfico com crianças e adolescentes autistas

Texto: Analívia Costa e Maria Clara OliveiraFotos: Eduardo Baggio, Flávia Tomita e Lidiane Tonon

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Com esse mundo de tecnologia, nada mais fácil do que aproveitar as novas ferramentas midiáticas para fazer com que todo mundo conheça o que você faz. E qual a melhor maneira? Cada um tem uma resposta, mas aproveitar as mídias sociais é a dica do ano (desse e dos próximos). Pensando desta forma, Eduardo Baggio, fotógrafo, está desen-volvendo um trabalho nomeado “Ar-tista Autista”, onde utiliza das redes sociais para maior divulgação. O projeto é um trabalho documental de fotografia e retrata a realidade de alunos autistas de uma escola municipal de Curitiba, e a relação deles com o ambiente. A arte, as pessoas, a vida. “A espontaneidade e a pureza das crian-ças ajudam a decifrar o mundo delas. Os autistas são extremamente sensíveis, e isso é muito bom. Muito de suas personalidades só podem ser analisadas pela leitura e interpretação do que pintam ou desenham”, explica Baggio.

Ao contrário do que normalmente acontece, o início não foi tão difícil. Quando souberam da novi-dade não houve nenhuma burocracia. Porém, ao verem os primeiros resultados, as primeiras ima-gens, alguns pais e professores não aprovaram, enquanto outros adoraram. “Isso é fácil de entender, toco em feridas profundas dos pais além de adentrar o espaço da escola por um longo período”, explica Eduardo.

A divulgação do projeto é feita quase que totalmente através das redes sociais, que por serem in-terligadas facilitam muito. O Projeto Artista Autista é divulgado pelo Flickr, que hospeda as fotos do projeto (www.flickr.com/eduardobaggio) - pelo Orkut, por meio da comunidade - pelo Twitter, pelo perfil do Eduardo Baggio (@baggioedu) - pelo YouTube e também no Facebook. “Quando posto uma foto no Flickr, divulgo-a pelo Twitter, que automaticamente republica no Facebook, que linca para um vídeo no YouTube que, ao final, indica a comunidade no Orkut”, conta.As redes são essenciais para alavancar o projeto. Esperar pela divulgação através de meios de comu-nicação como televisão ou jornal leva muito tempo, pois dependeria do reconhecimento do projeto para entrar. E esse reconhecimento dependeria do boca a boca e de correios, o que levaria muito tempo. “Além do que um site na internet facilita. Basta indicar o endereço e a pessoa acessa”, diz Baggio.

autismo

Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifesta-ções não específicas, por exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto-agressividade).

Definição da CID-10 (2000)

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animação

Texto: Karyme KaminskiFoto: Lívia PulchérioIlustrações: Arquivo

Curitibaem

editoria

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audiovisual

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Exibição de curtas de animação lotou a Cinemateca de Curitiba no Dia Internacinal da Animação

Dizem por aí que a beleza do voo de uma borboleta está no aleatório. Por vezes, o bater de asas não tem objetivo, por outras, parece ter destino certo, mesmo que não se possa com-preender. E assim estabelece-se a analogia do voo leve de uma borboleta com a vida dos homens. É isso que O Acaso e a Borboleta, dos diretores Tiago Américo e Fernanda Correa, apresentou no DIA (Dia Internacional de Animação), na Cinemateca de Curitiba. Em pouco mais de quatro minutos, o vai-vem da vida é mostrado, com a fluidez e o ritmo de uma borboleta. Segundo Tiago, o formato curta-metragem de animação, foi perfeito para passar a mensagem. Neste ano, o curta- metragem levou o prê-mio de Melhor Animação, no 4º Perro Loco – Fes-tival de Cinema Universitário Latino-Americano, segundo os jurados: “O acaso e a Borboleta, de Curitiba, Paraná – UTFPR (Universidade Tecno-lógica Federal do Paraná). Ganha o prêmio por ter construído um universo imagético com uma poética de leveza, demonstrando um uso equili-rado de técnicas de animação, cromatismo e som”. O filme foi produzido como parte do trabalho de conclusão de curso em design grá-fico – UTFPR. Iniciando sua carreira em festivais, a produção já foi selecionada para festivais de cin-ema e arte em países como Grécia, Canadá e Brasil.

Dia Internacional da Animação O DIA é um evento mundial que é cele-brado na mesma data que em 1892, (três anos antes do cinematógrafo ser apresentado pelos irmãos Lumiere) Emile Reynaud realizou a primeira projeção de seu teatro óptico no Museu Grevin, em 28 de outubro, em Paris. Essa exibição foi a primeira pública de imagens animadas do mundo. Em Curitiba, foram exibidas mais dez ani-mações nacionais, além de O Acaso e a Borboleta e dez animações internacionais, das 19h30 às 22h30. O evento, sem fins lucrativos teve entrada gratuita e foram inscritos 73 curta-metragens em animação. Além das projeções de filmes, o “Dia Internacio-nal da Animação” é comemorado com exposições e demonstrações de técnicas e é realizado pela As-sociação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA).

Tiago AméricoDesigner gráfico, Tiago Américo é sócio-diretor do Sputnik Studio, de Curitiba. Além de ter trabalhado como animador em dois longas-metragens, Tiago já recebeu prêmios e participou de diversos festivais nacionais e internacionais com os curtas “Café la Rochelle” (2007) e “O Acaso e a Borboleta” (2009).

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A febre dos blogs continua em alta e cada dia que passa novos blogueiros e bloguei-ras surgem para mostrar seus trabalhos e expor suas ideias. Para atrair mais leitores, blogueiras de Curitiba têm aliado suas postagens a tecnologias diferenciadas. Se antes bastava criar um post com boas idéias, agora, quem tem um blog procura mecanismos para atrais mais leitores, e uma das apostas é aliar com recursos audiovisuais. A estudante de moda, Fernanda Pacheco, criou um blog há dois meses e escolhe um dia da semana para criar um vídeo ensi-nando as leitoras como combinar peças de roupas, ela acredita que o recurso disponív-el de hospedar vídeos no site Youtube traz muito mais acessos. “A partir do momento

que você tem a oportuni dade não só de ler sobre determinado assunto, mas também consegue ver, você entende mais. Moda é assim, não adianta ficar só falando, é pre-ciso mostrar, reproduzir”, diz a estudante. Já a bióloga Camila de Araujo teve medo de criar o blog no início, pois moda não é sua área de trabalho. “Como sou biólo-ga, tive medo do blog não dar certo, mas como eu sempre gostei de moda resolvi começar a escrever. E não parei mais”. As fashionistas são as principais bloguei-ras que aliam imagem, som e texto, mas não são as únicas. O arquiteto Alexandre Boal também é seguidor da ideia. Formado há três anos, Alexandre criou um blog onde coloca vídeos ensinando pessoas a utiliza-

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rem programas para área de urbanismo, arquitetura e engenharia civil. Alexandre explica que dá aula particulares, e os vídeos ajudam seus alunos a memorizar melhor o que aprendem em sala. “Eu nunca soube mexer no excel, um dia pedi pra um professor me ajudar e ele fez um vídeo. Copiei a ideia. Hoje tenho meu blog, posto diversos vídeos e sei que facilita a vida de muita gente”. O texto não é suficiente. Os internautas querem e procuram por mais informação. São muitos os blogs surgindo, e com isso nasce o desafio dos blogueiros inventarem algo novo e inusitado para chamar a aten-ção. Quanto mais artifícios forem feitos para chamar a atenção dos leitores, melhor.

Texto: Marina Miranda,Larissa DalitzFotos: Evelin Schelbauer

Fernanda Pacheco21 anosEstudantekeepfashion.blogspot.com

Camila de Araujo23 anosBiólogastylevault2.blogspot.com

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Todo curitibano esteve na rua XV. Quase todos não curitibanos também. Mas ao transeunte, sobre a pouca tração do petit-pavé, é notável a mu-dança cotidiana que há em Curitiba? Ou o dia a dia da cidade o faz deixar de perceber pequenos deta-lhes que mudam a cada sol? Dário é um pobre homem, vindo do inte-rior do Paraná. Veio à capital pela primeira vez, para realizar um exame médico. Ele não sabe onde fica o hospital. Apesar da febre, Dário cai frio entre a Ébano Pereira e a Voluntários da Pátria. Dário continua caí-do e aos poucos fica na temperatura fria do ambiente curitibano. Do ponto de vista do morto, as pessoas passam indiferentes, pernas e mais pernas transitan-do. Aos pedestres da XV nada muda, o mundo anda. Os poucos que reparam em Dário reparam também que ele possui uma abotoadura cara, relógio bonito, carteira... Agora os poucos que ainda reparam em Dário já não o vêem com os objetos pessoais, um

Texto: João Adolfo,Honislaine Rubik, Emeline Hirafuji Ilustração: Elis Jacques

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crítica

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morto sujo da rua, limpo de propriedades. O caso é real, no imaginário do escritor Dalton Trevisan. O evento é narrado no conto Uma Vela para Dário. À época do conto, a cidade é de cu-ritibanos. Com a urbanização a identidade curitibana perde força. As pessoas se tornaram capazes de dizer bom dia, e ouvir outro em troca. Quem é curitiba-no? Talvez a resposta não esteja na literatura, mas em outra forma de arte, o cinema. O filme Es-tômago retrata Curitiba e muitos aspectos típicos. O aventureiro vindo do interior, as prostituas do pas-seio público, os arredores do largo da ordem e a ma-neira nada solícita dos nascidos aqui. Fugindo do eixo Rio/São Paulo, Curitiba não poderia trazer uma produção de novela para cá? A resposta é uma pergunta: Vale a pena retratar e-xageradamente uma característica curitibana? Assim como no Rio todos são felizes e em São Paulo todos

ricos, o que são os curitibanos? Mesmo com a presença massiva de pessoas de fora, o ar curitibano continua a subverter os ha-bitantes? Ou a realidade é feliz e o mito de Dalton sobre Dário é ficção? A realidade é base para a litera-tura e, como todo inverso é verdadeiro, em Curitiba a literatura serve de base para realidade. Porém o imaginário coletivo deu espaço aos pequenos mitos. Como o da fofoca da Boca Maldita, que prevalece por décadas; E personagens urbanos com características peculiares, como Plá, Borboleta 13, Seu Gregório, Oilman, entre outros. Primeiro veio o processo de imigração, tra-zendo para Curitiba diferentes nações. Depois do processo de urbanização e emigração. São tantos os Dários em Curitiba que o mito do curitibano frígido parece não se sustentar. Antipatia já não é mais sinônimo de quem nasce na capital paranaense.

Dalton Trevisan escreve sobre o perfil curitibano,um paranaense estereotipado

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destruição

Visões de

Texto: Adriana Maestrelli, Pedro Engel, Rafael Peroni e Tarek OmarFotos: Divulgação

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Desde os primórdios o ser humano destrói alguma coisa para depois cons- truir outra, não é verdade? E depois ainda se preocupa com as catástrofes climáti-cas e naturais, que podem devastar tudo e acabar com a humanidade. Só não per-cebe que o causador de tudo isso, é ele mesmo. “Os Visionários” de Fernando Severo, mostra a história de Warikoda e Freitas Miranda, que preocupados com o futuro da humanidade, realizaram obras em favor do ser humano. Porém, devido ao desinter-esse das pessoas, suas construções não obtiveram sucesso e se perderam no tempo.

O curta metragem de apenas 15 minutos conta brevemente, apenas com imagens e uma tela escrita, a história dos dois visionários que construíram seus abrigos de pro-teção para sobreviver a desastres que viriam por acontecer. O curta começa contando de Warikoda e de seu templo budista, que ele criou para proteger a humanidade de catástrofes climáticas e nucleares. Em seguida, o diretor foca imagens do santuário construído por Freitas Miranda para abrigar a humanidade de um Apocalipse que de-vastaria a terra. Dessa forma, sem narração ou fala alguma, “Os Visionários” segue com várias figuras interessantes de estátuas e monumentos. Para finalizar, vêm à tona ima-gens do ser humano destruindo essas criações que dois homens sozinhos levantaram.

Com o intuito de fazer o espectador refletir sobre a humanidade, o diretor criou um docu-mentário sem falas, com poucos textos e muitas imagens, criticando as atitudes do ser humano. A ideia foi bem pensada de um modo geral, pois nos faz refletir sobre a socie-dade atual, e até sobre nós mesmos. Mesmo com as boas imagens e frases, a música de fundo acabou sendo mal escolhida pelo diretor, tornando o filme cansativo de assistir.

A história se passa no Norte e Noroeste do Paraná, e conta com a participação de apenas dois personagens principais. Contudo, é visível de que faltaram mais personagens para a trama, pois os poucos que tem, acabam deixan-do o espectador sem muitas informações, ten-do conhecimento só das construções feitas por duas pessoas, Warikoda e Freitas Miranda. Se eventualmente fossem mostradas mais ações de outros personagens, junto com uma música mais atrativa, a história poderia ter mais conteú-do e ser ainda mais interessante para o público. O documentário lançado em 2002 tem 15 minu-tos de duração e possui roteiro e direção de Fer-nando Severo, cineasta paranaense considerado um dos renovadores do gênero curta-metragem brasileiro pós década de 80. A filmagem relata os últimos restos de dois santuários construídos por pequenos fazendeiros no norte do estado do Paraná. O documentário foi considerado o mais importante do mundo no gênero curta-metra-gem pela Mostra Competitva do Festival de Clermont-Ferrand ,na França. Recebeu os prê-mios de Prêmio de Aquisição do Canal Brasil e Prêmio Lions no Festival de Montecatini Terme.

4343Fernando Severo, diretor

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Texto: Bábylla Miras, Giovana Luersen, Vanessa Otovicz.Fotos: Vanessa Otovicz

As indagações de Miguilim...

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Em parceria com o ator e dramaturgo Edson Bueno o diretor de teatro do Grupo Tanahora, Laercio Ruffa aceita o desafio de montar e adaptar um con-to de Guimarães Rosa para o teatro. A história de Miguilim relata a vida de uma família pobre, com os problemas característicos de quem mora no interior de Minas Gerais. No meio da pobreza, Miguilim se mostra um menino bastante curioso, sensível, quieto e pensativo, mantendo uma relação bem afetiva com a mãe e os irmãos, principalmente com Dito, o irmão mais velho. Porém, o menino não consegue se rela-cionar bem com o pai, levando várias surras e ficando diversas vezes de castigo. O sentimento de vingança, de sacrifício e de morte persegue o pequeno menino, que sempre acha que vai morrer por ter feito algo. O elenco da peça conta com 12 atores, in-cluindo o ator mirim Tiago Galan Mazurkevic, que in-terpreta muito bem o menino Miguilim, atuando com naturalidade todas as emoções. O cenário criado por Eduardo Giacomini consegue retratar o ambiente em que os personagens viviam, assim como a iluminação desenvolvida por Rodrigo Zialkowski que durante o

espetáculo nos remetem a temperatura do sertão e nos fazem sentir as emoções vividas nas cenas. Os temas que rodeam a obra também estão fortemente presentes na adaptação, como a amiza-de, infância, fé e violência, além da relação de Mi-guilim com o irmão mais velho, que apesar das per-sonalidades diferentes acabam se complementando. Enquanto o irmão mais velho é tido como sábio pelo pai, Miguilim é considerado um menino que ainda é aprendiz, e somente após a morte de Dito, o menino torna-se mais maduro e independente. Outra carac-terística que é mantida na peça são os pensamentos e falas agitadas de Miguilim ao narrar situações de sua vida e os inúmeros sentimentos que elas trazem a tona, mantendo assim uma espécie de biografia da infância. Miguilim continuava sonhando e tendo es-perança em futuro melhor, num lugar longe de Mu-tum, a vila que a sua família morava. O mar significa-va para o menino um novo começo, sem dor, fome, sentimento de culpa ou morte.

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Texto: Ana Luiza de Lima e Lorena OlivaFotos: Vinícius Gallon

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Levada ao MOM para divulgar a arte paranaense,a exposição peca ao não dialogar com o público

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Arte para quem?

Com o objetivo de divulgar a arte con-temporânea paranaense, pouco valorizada e desconhecida do grande público, a ex-posição “O estado da arte” do Museu Os-car Niemeyer (MON) falha ao não dialogar com o visitante leigo, que sente-se perdi-do em meio às informações disponíveis. Em cartaz desde 11 de setembro, a mostra faz uma retrospectiva com 150 obras de 80 artistas paranaenses a partir dos anos 1970, explorando desde a pintura à intervenção no espaço, passando pelo vídeo, a fotogra-fia, a instalação, o grafite, o objeto, a gravu-ra e a escultura. Mesmo com uma proposta didática, dividindo-se cronologicamente em duas salas, a “Poéticas Transitivas” (1970 à 1990), que traz reflexões sobre as eventuais raízes históricas da visualidade contem-porânea paranaense e a “Espresso 2000” ( a partir dos anos 90), que concentra-se na produção atual, acaba por não cumprir o papel básico de esclarecer ao público quais são as impressões da arte contemporânea paranaense ao longo desses 30 anos. De qualquer forma, é a primeira vez que o MON recebe obras de artístas para-naenses e o que se percebe, é uma grande sensibilidade e coerência para criar obras que respeitam a diversidade poética e a liberdade estética, características da arte contemporânea. As décadas retratadas são um marco criativo para os paranaenses,

com intensa abertura para experimenta-ções e as primeiras ações performáticas e intervenções urbanas no Estado, motiva-das pela repressão militar da década de 70. Apesar de qualquer tipo de explica-ção ser desnecessária durante a aprecia-ção de obras, é importante que a lingua-gem escolhida para apresentar a exibição possa ser compreendida por todos. É neste ponto que o “Estado da Arte” não se aproxima do espectador comum, que não está familiarizado com as teorias e as expressões utilizadas para discutir arte. Os textos que introduzem a exposição não são de alcance intelectual da maio-ria da população, pois fazem uso de um vocabulário restrito ao mundo artístico. Esse material que deveria proporcionar novos conhecimentos torna-se um dis-curso vazio, dirigido apenas a intelectuais da área, artistas ou pessoas com conheci-mento prévio sobre arte contemporânea. Esse posicionamento também não condiz com a própria intenção do MON, que rejeita a imagem elitista associada à arte, com in-gressos acessíveis e até mesmo dias de visitas gratuitas, em todos os primeiros domingos de cada mês. A tentativa de popularização do hábito de visitar museus é prejudica-da pela dificuldade desta e de outras ex-posições em substituir a linguagem acadêmi-ca para algo mais próximo do seu público.

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entrevistaTexto: Eriksson Denk, Daniel Neves e Fernando LevinskiFotos: Divulgação

Frutosde uma ressaca

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A Banda Gentileza é um sexteto que existe desde 2005. Tudo começou quando o jornalista e músico Heitor Humberto resolveu mostrar o que sabia fazer com seu violão em um churrasco. Segundo o músico, foi a partir

desta atitude de “bêbado chato” que surgiu a ideia de montar uma banda. Atualmente o grupo possui um grande repertório de músicas próprias e um CD produzido por Plínio Profeta, profissional que conta com um

Grammy Latino em seu currículo e que já trabalhou com artistas renomados como O Rappa, Lenine, Fernandi-nha Abreu e Pedro Luiz e a Parede.

Como surgiu a banda?

Foi na faculdade. Em uma festa do curso de comu-nicação, eu dei uma de amigo chato bêbado e pedi para tocar algumas músicas que eu tinha. Peguei um violão, subi no palco e toquei algumas delas. Alguns dos músicos das outras bandas devem ter ficado com pena de mim e resolveram me acompanhar na hora, tudo de improviso e bem mal tocado. Isso aconteceu mais umas duas ou três vezes em outras festas, mas depois acabou se tornando uma banda de verdade.

Quais foram as influências musicais?

O número de influências cresce a cada dia. No começo, a gente tendia mais para o samba-rock, para um balanço mais brasileiro. Com o tempo, o leque foi abrindo. Hoje, a gente ouve de tudo, desde novas bandas de rock até coisas antigas do leste europeu.

Líder da Banda Gentileza, Heitor Humberto conta à CDM um pouco sobre sua carreira musical e o futuro da banda

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O que a banda toca? É tomada de apenas um gênero?

Muito pelo contrário. É até difícil especificar um gênero. No nosso disco, tem músicas de vários esti-los: ska, samba, chorinho, valsa, bolero, dub, rock, música caipira. A gente busca utilizar instrumentos não muito usuais para chegar a essas sonoridades, como violino, concertina, ukelelê, kazuo, entre outros.

Como vocês começaram em Curitiba?

No início, era apenas um grupo de amigos tocando algumas músicas. Alguns meses depois disso, grava-mos cinco músicas e as lançamos em um disco. Com esse disco, conseguimos divulgar o nosso trabalho e passamos a tocar em alguns bares da cidade. Com isso, passamos a conhecer outras bandas e formar um público.

Qual sua ideia do mercado em Curitiba?

Em Curitiba é complicado. São poucos bares com estrutura adequada para receberem shows. Se existissem mais espaços, seria mais fácil para novos grupos aparecerem. Os teatros também não dão muita abertura. Apesar disso, sempre tem gente nova surgindo com novas propostas, com novas sonoridades.

Como vocês iniciaram seus contatos na cidade?

Depois que a gente gravou o primeiro disco, ficou mais fácil de chegar aos bares e pedir um espaço na agenda para apresentar o nosso trabalho. Foi uma caminhada natural. É bem comum dividir a noite com outras bandas e assim sucessivamente.

Como é o mercado fonográfico hoje em dia?

O mercado fonográfico está em um momento de transição. A indústria ainda procura uma forma de voltar a ter grandes lucros com a venda de música, que foi abalada pelos downloads gratuitos. Isso deu espaço para novos grupos preencherem certas lacunas e conseguirem uma auto-promoção online que talvez não fosse possível há alguns anos. Lançar um disco por uma grande gravadora está cada vez mais difícil, mas parece que essa nem é mais a meta da maioria dos grupos.

A internet ajudou os músicos?

Ajudou bastante. Ficou muito mais fácil divulgar o trabalho. Hoje, qualquer banda pode gravar duas ou três músicas e publicá-las em algum site. É até possível conseguir uma grande repercussão antes mesmo de ter repertório suficiente para gravar um álbum inteiro. Mas não são apenas as músicas que ganharam um novo canal, mas a troca de informa-ção entre público e banda também foi facilitada. Ficou bem mais direta.

Quem é Heitor Humberto e o que ele espera en-quanto músico daqui pra frente?

Além de vocalista, guitarrista e violinista da Banda Gentileza, sou jornalista esportivo e assessor de imprensa. Procuro ainda produzir alguns eventos ligados à música. Com a banda, espero conseguir ter mais tempo para ensaiar e compor novos materiais. Por enquanto, a música não paga as contas, o que complica o desenvolvimento desse lado. Com isso, queremos levar as nossas músicas para um número cada vez maior de pessoas.

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Revista Laboratório desenvolvida noPrograma de Aprendizagem

Produção e Edição de Revistas 6º período de Jornalismo - 2º semestre 2010

Curso de Comunicação Social - PUCPR

ReitorProf. Doutor Clemente Ivo Juliatto

Decano do CCJSProf. Roberto Linhares da Costa

Decano Adjunto do CCJSProf. Marilena Indira Winter

Direção do Curso de JornalismoProf. Mônica Fort

Editor de RedaçãoProf. Cícero Lira (DRT 1681)

Editora de ArteProf. Miriam Fontoura

Conselho EditorialWillian Saab, Honislaine Rubik

e Renata Campos.

Editories de ArteGisele Eberspächer, Igor Castanho,

José Mário Dias e Paulo Mello.

ApoioCentral Integrada de Comunicação

ImpressãoEditora Universitária Champagnat

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Page 52: CDM 21 . Embarque na Viagem

ano 8 | número 21 | nov 2010 ISSN 1678-3417

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