Cebola - Cultivo

download Cebola - Cultivo

of 36

Transcript of Cebola - Cultivo

Cultivo da Cebola (Allium cepa L.)Valter Rodrigues Oliveira

Situao mundial, Mercosul e Brasil A cebola a terceira hortalia mais produzida no mundo. A produo mundial em 2002 foi de 50 milhes de t, em 2,9 milhes de ha (produtividade mdia de 17 t/ha). A Amrica do Sul contribuiu com 7,5% e o Brasil participou com 2% da oferta mundial (1,1 milho de toneladas) com valor global da produo de US$ 204 milhes (Tabela 1). Brasil e Argentina produzem mais de 60% da cebola da Amrica do Sul e 97% do Mercosul. No Brasil, a cebola a terceira hortalia mais importante economicamente. Compreende rea total mdia anual (1999-2001) de cerca de 65,9 mil ha (1,1 milhes t). A rea plantada concentra-se em oito estados: 23,4 mil ha em Santa Catarina (393 mil t), 16,3 mil ha no Rio Grande do Sul (179 mil t), 10,5 mil ha em So Paulo (234 mil t), 5,2 mil ha no Paran (58 mil t), 4,4 mil ha na Bahia (78 mil t), 3,8 mil em Pernambuco (60 mil t), 2,1 mil ha em Minas Gerais (55 mil t), e 1 mil ha em Gois (40 mil t). A totalidade da produo destinada ao mercado interno, basicamente para consumo in natura, como condimento e salada, considerando que a produo de bulbos para industrializao, nas formas de pasta, desidratada e picles incipiente. Socialmente se caracteriza como tpica de propriedades pequenas e mdias e de natureza familiar, principalmente no Sul e no Nordeste brasileiro. Aspectos da bioqumica e uso da cebola Bioqumica do sabor e aroma As espcies do gnero Allium so caracterizadas pelo seu teor de compostos sulfurosos, que do a elas seu caracterstico odor e sabor, que conjuntamente so denominados flavor. Embora acares e cidos orgnicos contribuam para o sabor da cebola, os principais componentes do sabor se originam de reaes de compostos organosulfurosos (vrios aminocidos sulfurosos no proticos e no volteis - sem odor, coletivamente chamados sulfxidos de cisteina), com a enzima alinase, com produo de piruvato, amnia, xido de tiopropanal e diferentes compostos sulfurosos, alguns dos quais so

Tabela 1. Situao da produo e rea de hortalias no Brasil, 2002. Produo (t) **Tomates 3.518.163 Batata 2.865.080 Cebola 1.131.640 ***Cenoura 755.258 Melancia 620.000 Batata-Doce 483.000 Inhame 230.000 Melo 155.000 Alho 113.459 Hortalias rea *Valor (%) (US$/t) US$ 7,72 135.08 475.235 18,96 187.08 535.990 7,51 180.89 204.705 3,40 213.66 161.370 10,16 107.61 66.720 5,33 182.10 87.956 3,10 148.70 34.202 1,55 382.18 59.238 1,87 1,001.7 113.653 1 Ervilha 3.600 1.700 2,12 0,02 0,21 248.21 0.894 Morangos 2.700 360 7,50 0,02 0,04 806.84 2.178 Outras 5.864.687 323.901 18,11 37,25 40,14 140.27 822.660 TOTAL 15.742.587 806.858 19,51 100,00 100,00 2,564.80 Fonte: FAO-FAOSTAT Database Results;*** Estimativas dos produtores Disponvel URL: http://apps.fao.org Consultado em 22/03/2003 Dlar mdio em 2002 (BACEN) 2.925 **inclui tomate para mesa e para processamento Tomate indstria - 31/12/2002 = R$ 130,00 Reao enzimtica na gerao do flavor. Sulfxido de cistena Alinase + H2O cido sulfnico + acido pirvico + amnia xido de tiopropanal rea Produtividade Produo (ha) (t/ha) (%) 62.291 56,48 22,35 153.004 18,73 18,20 60.613 18,67 7,19 27.399 27,57 4,80 82.000 7,56 3,94 43.000 11,23 3,07 25.000 9,20 1,46 12.500 12,40 0,98 15.090 7,52 0,72

muito instveis e rapidamente produzem muitos volteis, incluindo o fator lacrimatrio. A maioria do enxofre em Allium est na forma de vrios aminocidos no protecos. Os precursores do flavor - compostos organosulfurosos - esto localizados no citoplasma, enquanto a alinase est localizada no vacolo, provavelmente dentro de pequenas vesculas. Quando o tecido fresco danificado, pelo corte ou macerao, ou seja, quando as clulas so rompidas, precursores reagem sob controle da enzima alinase e ocorre a liberao do altamente reativo cido sulfnico mais amnia e piruvato. Isso explica porque bulbos de cebola cozidos inteiros (sem nenhum tipo de dano) no apresentam pungncia, pois a enzima destruda antes de se ter acesso aos precursores do flavor. A intensidade do flavor geneticamente determinada, mas pode ser modificada por meio da manipulao do ambiente. A fertilizao com enxofre (S) tem funo vital na determinao da intensidade do flavor.

As escamas secas, mais externas, praticamente no contm componentes responsveis pela pungncia, que vo aumentando progressivamente das escamas externas para as internas e atingem o mximo no caule. Composio qumica, formas de consumo e valores condimentar e nutritivo da cebola Cerca de 89% da cebola gua, sendo o restante hidratos de carbono, celulose, cidos graxos, vitaminas, protenas e minerais (Tabela 2). Os bulbos imaturos e maduros podem ser consumidos crus em saladas ou cozidos de diferentes formas. Como condimento, a cebola pode ser usada na forma in natura ou desidratada. Tem havido aumento na demanda de cebola desidratada, na forma de escamas, que se reconstituem quando cozidas em gua, e usada como condimento de pratos, em produtos precozidos, em conservas e saladas. As partes brancas e verdes das folhas, quando esto tenras, e antes da formao do bulbo, podem ser consumidas cruas, existindo cultivares desenvolvidas especificamente para este uso. O baixo teor proteco, aliado ao baixo teor de aminocidos essenciais, no caracteriza a cebola como fonte de protena, embora seja boa fonte de vitaminas B1, B2 e C. Seu uso, portanto, mais como condimentar que a fins alimentares (nutricionais). Alm de baixo valor alimentar, o consumo dirio per capita pequeno, o que tambm limita sua ao nutricional. O consumo per capita de cebola no Brasil de cerca de 6 kg. Tabela 2. Composio de 100 g de cebola. Componentes gua Matria seca - Hidratos de carbono (acares) - Protenas - Celulose (fibras) - cidos graxos - Cinzas - Vitaminas -A -C -E - B1 - B2 - PP Energia Contedo 89,0 g 11,0 g 8,4 g 1,2 g 0,7 g 0,2g 0,4 g 50 UI 24 mg 0,3 mg 0,06 mg 0,03 mg 0,15 mg 30,0 cal Minerais K Na Ca Mg P S Cl Al Mn Cu Contedo 205 mg 2 mg 35 mg 15 mg 47 mg 70 mg 24 mg 8 mg 0,15 mg 0,12 mg

Taxonomia do gnero Allium O gnero Allium de grande importncia econmica, englobando mais de 600 espcies, incluindo vrias hortalias e espcies ornamentais. O elevado nmero de espcies indica ter havido uma grande divergncia evolutiva desde a origem do gnero, gerando uma marcante variabilidade em inmeras caractersticas da planta. O gnero Allium ocupa atualmente a seguinte classificao taxonmica: Classe: Monocotiledonea; Superordem: Lilliforme; Ordem: Asparagales; Tribo: Alliae; Gnero: Allium; Famlia: Alliaceae. Alguns autores defendem outras classificaes, sendo a posio taxonmica do gnero Allium e de outros gneros ainda controversa. So plantas, a maioria bulbosas, embora a estrutura subterrnea de reserva seja muito variada, incluindo tambm rizomas e razes. O odor e sabor caracterstico do Allium de fundamental importncia no reconhecimento de espcies do gnero. As diferenas no hbito de florescimento, morfologia floral, folhas, escapos, rgos de armazenamento e sabor so muito teis na identificao de diferentes espcies. So espcies diplides com nmero bsico de cromossomos x=8 (nas espcies cultivadas) e x=7. Em ambas as sries tem evoludo poliplides. Todas as espcies de Allium conhecidas so algamas. As hibridaes interespecficas espontneas so raras, existindo fortes barreiras de cruzamento que separam inclusive espcies morfologicamente similares. Allium cepa conhecida apenas sob cultivo (domesticada), no sendo portanto encontrada na forma silvestre. Classificao das espcies comestveis de Allium O gnero Allium dividido em cinco subgneros: Rhizirideum, Allium, Bromatorrhiza, Melanocrommyum e Amerallium. Os dois primeiros contm as sete espcies comestveis mais importantes. Cada subgnero possui uma ou mais sees, que contm espcies (tipos) estreitamente relacionadas. Os diferentes tipos de cebola esto contidos no subgnero Rhizirideum, seo cepa (Tabela 3). Distribuio e centros de diversidade de Allium O gnero Allium se encontra distribudo nas zonas temperadas do hemisfrio Norte, principalmente, e tambm na Zona Boreal. As espcies no esto igualmente

Tabela 3. Subgneros do gnero Allium e principais espcies/variedades botnicas. Sugnero Seo Rhizirideum Cepa Espcie/variedade botnica A. cepa var. cepa A. cepa var. aggregatum Nome da cultura Cebola comum Cebola multiplicadora Chalote

Rhizirideum Schoenoprasu m Allium

A. cepa var. ascalonicum A. cepa var. solanina A. cepa var. perutile A. cepa var. viviparum A. cepa var. bulbiferum A. cepa var. proliferum A. cepa var. caespitosum x A. fistulosum Cebolinha A. fistulosum cheiro Rakkyo A. chinense Cebolinha A. tuberosum Japonesa, Nira A. Schoenoprasum A. sativum var. sativum Alho comum A. ampeloprasum var. porrum Alho porr A. ampeloprasum var. porrum aegyptiacum A. ampeloprasum var. holmense A. ampeloprasum var. sectivum

de

Allium

distribudas no hemisfrio Norte, sendo a maioria encontrada no velho mundo. Grande parte das espcies se distribui numa faixa que vai desde a Costa Mediterrnea at o Ir e Afeganisto. Grande diversidade de espcies encontrada na Turquia e na regio compreendida pelo Ir, Norte do Iraque, Afeganisto, Kazaquisto e oeste do Paquisto. O nmero de espcies decresce fora deste centro de diversidade. A grande variao de caractersticas morfolgicas e fisiolgicas nesta espcie est associada sua alta taxa de polinizao cruzada, bem como ao intenso processo de seleo consciente e inconsciente a que foi submetida ao longo de sua domesticao. As selees visam, de modo geral, modificar caractersticas como: formato; colorao; reteno de escamas e tamanho de bulbos; aumentar a produtividade; melhorar a conservao ps-colheita; adaptar a diferentes condies edafoclimticas. Como resultado marcante, pode-se ressaltar a adaptao da cebola a diferentes latitudes, cuja produo estende-se desde os trpicos at regies mais prximas aos crculos polares, regies estas muito diferentes do seu centro de origem, principalmente em se considerando que o fotoperodo fator limitante no processo de bulbificao.

Descrio botnica da cebola A planta herbcea, anual para produo de bulbos (150 a 220 dias da semeadura a colheita) e bianual para produo de sementes (130-180 dias), com altura de parte area varivel, em torno de 70 cm. A folha cilndrica e afila da base para a extremidade. constituda de duas partes distintas: parte basal ou bainha envolvente e no fomato de anl e a parte superior redonda e oca (tpico de A. cepa). As bainhas da(s) folha(s) exteriores se mantm delgadas e escamosas, atuando como protetoras (tnicas), podendo ser de cor branca, esverdeada, amarela de diversas tonalidades, rosadas e roxas. As mais internas se mantm espessas (entumescidas) e se sobrepe umas s outras, podendo ser de cor branca, amarela ou roxa, acumulando substncias de reserva e constituindo a parte comestvel do bulbo. O formato do bulbo pode ser periforme, achatado, alongado e globular. A parte superior estreita das bainhas, acima do bulbo, constitui o colo ou pseudocaule. As folhas dispem-se sobre o caule em disposio oposta. Cada nova folha sai atravs de um orificio que se abre no ponto de unio da bainha e limbo da folha mais interna, de modo que cada bainha envolve todas as demais que surgem aps. OBS.: A forma cilndrica da folha a mais efetiva para a dissipao do calor do ar em movimento, uma vez que apresenta a maior taxa de transferncia de calor por unidade de superfcie. A orientao vertical das folhas cilndricas so, portanto, bem adaptadas para dissipar energia, sem excessivo aumento da temperatura foliar, o que estratgico para a conservao da gua. O caule possui formato de disco cnico, e constitui a base do bulbo. Possui entrens muito curtos, no qual se insere o sistema radicular na parte inferior e as folhas na parte superior. O sistema radicular do tipo fasciculado (raiz principal + adventcias), capaz de chegar a 60 cm de profundidade, embora normalmente no passe de 20 cm de profundidade e 15 cm de raio. As razes so tenras, finas, pouco ramificadas, bem providas de pelos radiculares no tero mdio inferior, de cor branca e com odor tpico da cebola. Dois conjuntos principais de razes so formados durante o ciclo vegetativo, um conjunto dura at o incio da bulbificao e o outro, que repe o primeiro, dura do incio da bulbificao at a maturao do bulbo. Em condies tropicais, o florescimento ocorre no segundo ano do ciclo vegetativo da planta, depois de um perodo de dormncia do bulbo, e quando as plantas

atingem determinado estdio de crescimento. No entanto, baixas temperaturas podem induzir a uma florao prematura entre 3 e 15 C. Alm da gema central, na maioria dos casos, vrias gemas laterais do disco se diferenciam em gemas reprodutivas, emitindo hastes florais (escapos florais). O nmero de escapos florais produzidos por uma planta varia de 1 a 12 sendo o normal de 3 a 7. Quando ocorre o bolting, apenas a gema central se diferencia em gema repodutiva, com formao de apenas um escapo floral. A altura do(s) escapo(s) floral(ais) pode(m) oscilar de 0,8 a 1,5 m. O escapo floral cilndrico, oco e apresenta uma dilatao no tero inferior do mesmo. A inflorescncia do tipo umbela e localiza-se na extremidade do escapo floral. Surge, inicialmente, como uma cabea globosa envolta por uma brctea membranosa envolvente (espata) que se prolonga formando um pice pontiagudo. Quando se completa o desenvolvimento, a espata se abre, liberando as flores, que se mantm em antese por duas a quatro semanas. A polinizao principalmente entomfila, e tambm em certo grau anemfila. Os principais insetos polinizadores so Aphis melifera, Trigona spinipes e mosca domstica. O nmero de flores pode chegar a 2.000/umbela, sendo mais comum de 300 a 1.000 flores/umbela. So formadas por um pedicelo muito fino, 6 tpalas (3 spalas e 3 ptalas iguais) de cor branca, esverdeada ou violcea, 2 vrtices com 3 estames cada um (total de 6 estames) e 3 carpelos soldados formando um ovrio spero com o estigma trilobado (frmula floral = 6T (3S+3P), 3+3E, 3C). Existem nectreos na base do ovrio que secretam uma substncia aucarada que atrae os polinizadores. A populao apresenta elevado grau de heterozigose, devido a existncia de protrandria (liberao do plen 24 a 96 horas antes do estigma estar receptivo). Entretanto, ocorre tambm autopolinizao devido o fato de nem todas as flores da umbela se abrirem de uma nica vez, de modo que pode-se efetuar a polinizao entre diferentes flores da mesma umbela ou das outras umbelas do mesmo bulbo. O fruto uma cpsula trilocular, com 1 ou 2 sementes por lculo. Cada fruto pode conter seis sementes, mas na prtica comum ter 3 a 4 ( 300 sementes/grama). As sementes amadurecem cerca de 45 dias aps a antese. So pretas, de formato irregular, com comprimento de uns 3 mm e com superfcie rugosa. Contm um pequeno embrio cilindrico e encurvado de colorao branco leitosa e uma reserva endospermica incolor. Quando a semente germina, o embrio retira os nutrientes do endosperma e (bolting) no primeiro ano do ciclo vegetativo. Os meristemas vegetativos diferenciam-se para gemas florais, pela exposio a temperaturas

emite a radcula, seguida pelo cotiledone, que ainda dobrado quebra a superfcie do solo. O ponto de crescimento meristemtico (caule) permanecer sob o solo durante toda a vida da planta. A semente se deteriora rapidamente em funo dos efeitos da umidade, devendose armazen-las bem secas (6% de umidade). Seu poder germinativo diminue muito rapidamente, passando de 95 a 100% no momento da colheita para 50% em dois anos se no conservadas em baixas temperatura e umidade atmosfrica. Em certas ocasies, substituindo as flores e frutos podem aparecer pequenos bulbilhos na base da inflorescncia que podem servir para a multiplicao vegetativa. Isto no comum nas variedades de cebola cultivadas no Brasil, mas em outras espcies de de cebola como a cebola bulbifera ou do Egito, que normalmente produz poucas flores e muitos bulbilhos de cor roxa escura. Fases de crescimento

As fases de crescimento de cebola podem ser descritas conforme Tabela 4. Germinao As sementes de cebola, de modo geral, demoram mais tempo para germinar do que a maioria das espcies hortcolas. Numerosos estudos tm mostrado que na faixa de 5 a 25C a velocidade de germinao de cebola aumenta quase que linearmente com a temperatura. Levando em considerao a velocidade e a porcentagem de germinao, pode-se considerar a faixa de 11 a 25C como tima, em condies de solo mido. Crescimento da planta Aps a emergncia, h um perodo de crescimento lento at aproximadamente 75 dias aps a semedaura, seguido de outro de crescimento rpido (Figura 1), controlado, principalmente, pela temperatura. Finalmente, ocorre a fase de desenvolvimento de bulbos, quando a planta cessa de formar folhas e a taxa de crescimento das folhas decresce e as bainhas foliares do bulbo entumescem para formar o tecido de armazenamento. H um alongamento da regio do pseudocaule. A formao do bulbo feita com o predomnio do processo de expanso celular sobre o processo de diviso celular.

Tabela 4. Cdigos das fases (estdios) de crescimento da cebola. Adaptado de Guidelines for the conduct of tests for distinctness, uniformity and stability for Onion and Shallot (Allium cepa L., Allium ascalonicum L.). 1. de semente a bulbo Cdigo Descrio da fase de crescimento Ciclo vegetativo 00 Semente seca 0 Germinao Crescimento de plntulas 10 Plntula emergida no estdio de loop 15 Plntula com testa acima da superfcie e ainda ligada ao cotildone 20 Emergncia da primeira folha verdadeira 25 Estdio de 2a folha verdadeira 30 Estdio de 3a folha 35 Estdio de 4a folha 40 Estdio de 5a folha Crescimento da planta 50 Estdio de 7a folha - primeira folha senescente 65 Estdio de 10a folha, 2a e 3a folhas senescentes; desenvolvimento inicial do bulbo 100 Completa expanso das folhas atingida; enchimento dos bulbos continua 105 Incio do tombamento das folhas, murchamento do pseudo-caule 115 Folhas secas; tamanho dos bulbos continua a aumentar; escurecimento das escamas 135 Bulbos maduros para colheita 150 Folhas completamente secas; pice do bulbo seca para dormncia 2. de bulbo a semente 160.1 Incio do brotamento - emisso dos primrdios de razes ou emergncia da brotao 180.1 Bulbos brotados com emisso de folhas 200.1 Rompimento da pelcula externa 210.1 Emergncia do escapo e espata subdesenvolvida 220.1 Elongao e expanso da regio mediana do escapo 240.1 Inchamento da espata 250.1 Rompimento da espata 260.1 Expanso da umbela 270.1 Abertura das flores 280.1 Polinizao das flores 290.1 Estabelecimento das sementes - expanso dos ovrios polinizados 320.1 Sementes maduras nas umbelas 350.1 Sementes secas 3. de bulbo a bulbinhos 150 Bulbos secos com folhas completamente mortas 170.2 Formato do bulbo torna-se menos arredondado 190.2 Formato do bulbo torna-se irregular com o desenvolvimento de pequenas rachaduras na pelcula externa 210.2 Mais que um ponto de crescimento emerge no pice (topo) do bulbo 230.2 Longas rachaduras desenvolvem na pelcula do bulbo e diferenciao do bulbo

270.2 290.2 300.2

em bulbinhos Separao dos bulbos do bulbo me, menos na base. Bulbos separados um do outro por uma pelcula seca Completa separao dos bulbos do bulbo me Desenvolvimento de muitas folhas

9 8 Matria seca (g/planta) 7 6 5 4 3 2 1 0 0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 Dias aps a semeadura

Folhas Planta

Bulbos

Figura 1. Acmulo de matria seca da cebola, cv. Alfa Tropical. Fonte: VIDIGAL et al. (2002). Bulbificao A cebola hortalia extremamente exigente em condies climticas favorveis para a bulbificao. Neste aspecto, fotoperodo e temperatura so os dois fatores limitantes para a cultura. Alm de fatores externos (ambientais), a bulbificao da cebola controlada por fatores internos da planta. Fotoperodo Dentre os fatores que influenciam a bulbificao em cebola, o fotoperodo o mais conhecido, exercendo papel decisivo na adaptao de cultivares de cebolas. Cebola planta de dias longos para a bulbificao, ou seja, somente h bulbificao, se o perodo de luz for igual ou superior a um valor crtico mnimo estabelecido para cada cultivar, de modo geral maior do que 10 horas de luz diria. Para

as cultivares brasileiras, tem-se como fotoperodo crtico em condies normais de temperatura, o mnimo de 12 a 14 horas de luz, dependendo da cultivar. Alguns autores classificam as cultivares de cebola, em funo do nmero de horas de luz que requerem para que 100% das plantas da cultivar formem bulbos em: cultivares de dias curtos, de dias intermedirios ou de dias longos. As de dias curtos requerem dias com comprimento igual ou superior a 10 h. As de dias intermedirios iniciam a bulbificao em resposta a dias com 12 ou mais horas de luz. As cultivares que requerem dias longos, somente bulbificam se cultivadas em dias com comprimento maior que 14 horas de luz. Aps estmulo bulbificao, a medida que o fotoperodo se alonga, o ciclo para o desenvolvimento do bulbo ser reduzido, antecipando-se a colheita. Sendo de dias longos, quando uma dada cultivar ou hbrido de cebola se desenvolve em um fotoperodo abaixo do mnimo exigido pela cultivar, ela forma folhas indefinidamente e no bulbifica, apresentando elevado indice de plantas charuto, ou seja, com bulbo pouco desenvolvido. Como a maioria das cultivares de cebola so geneticamente heterogneas em funo do processo de melhoramento, cultivares plantadas em condies de dias mais curtos que o mnimo exigido, apresentam bulbificao varivel, ou seja, apresentam propores de bulbos normais, de bulbos que bulbificaram mal e de plantas que no bulbificaram. Por outro lado, cultivares que exigem fotoperodos mais curtos, quando plantados em condies de fotoperodo muito maior, tem suas exigncias fotoperidicas satisfeitas num estdio inicial do desenvolvimento das plantas e cessam a produo de folhas mais cedo e bulbificam precocemente, resultando na reduo do seu tamanho e rendimento. Essa possibilidade de produo precoce de bulbo e obviamente de menor tamanho, explorada para produo de bulbinhos para produo de picles ou que sero plantados visando a produo comercial de bulbos. Cada cultivar tem sua exigncia em horas de luz para iniciar o processo de bulbificao, logo, preciso tomar cuidado na escolha de variedades. Deve-se salientar que o efeito do fotoperodo no um efeito indutivo, tipo florao em plantas de dias longos, em que apenas algumas horas de exposio ao fotoperodo suficiente para induzir a florao. No caso da bulbificao, necessrio que haja contnuo fotoperodo acima do crtico para que a bulbificao ocorra. Existem indicaes que no controle da bulbificao da cebola, ocorre o envolvimento do sistema fitocromo. As mudanas reguladas pelo fitocromo comeam com a absoro da luz pelo pigmento. A luz absorvida altera de algum modo as propriedades moleculares do fitocromo de tal modo que pode induzir uma sequncia de reaes

celulares que, no final, resultar em mudanas no crescimento e no desenvolvimento dos rgos da planta. Em termos de qualidade da luz, tem-se observado que a bulbificao promovida por uma alta razo entre o vermelho distante VD (750 nm) e o vermelho - V (650 nm). A luz azul (450-460 nm) tanto quanto o vermelho distante promovem a bulbificao. A luz incandescente uma boa fonte de vermelho distante. Ainda em relao ao efeito da qualidade da luz sobre a bulbificao de cebola, tem-se que, com o aumento do ndice de rea foliar (maior competio entre plantas) h aumento da razo VD:V no dossel e consequentemente um encurtamento no fotoperodo crtico. O comprimento do dia varia com variao da latitude. Em geral para cada variao de 5-100 de latitude existe um grupo de cultivares adaptadas e adequadas regio. Entretanto, algumas cultivares podem possuir uma faixa de adaptao maior que a citada. Atravs do melhoramento gentico, usando-se tcnicas de seleo, tem-se conseguido adaptar cultivares de cebola provenientes de regies de latitude maiores para regies de menores latitudes. As cultivares do grupo IPA (latitude 90 S) foram obtidas a partir de populaes normalmente cultivadas a 23-300 de latitude sul. Em terrenos com declive, no hemisfrio Sul, deve-se evitar o plantio em terrenos com exposio ao Sul, com menor intensidade de luz (ou sombras a tarde). Nestas condies, a produo diminui muito com um sensvel aumento da produo de charutos. Deve-se escolher terrenos que recebem sol diretamente durante todo o dia. Temperatura Ainda que a durao do dia seja o fator principal na induo da bulbificao, seus efeitos so modificados pela temperatura. Em condies indutivas, a bulbificao acelerada sob altas temperaturas, e sob condies de temperaturas baixas o processo atrasado. Dependendo da sensibilidade da cultivar, temperaturas extremamente altas (acima de 35C) na fase inicial do desenvolvimento das plantas podem provocar a bulbificao precoce, enquanto, a exposio das plantas mais desenvolvidas a perodos prolongados de frio ( 3,0 m), e com sada de ar na parte superior. A cebola dever ser espalhada sobre piso de cimento, disposta em sacos empilhados ou em estrados superpostos separados de 0,5 m, de modo a permitir a livre circulao de ar. O uso de ventilao artificial para armazenamento de bulbos de cebolas curadas tem sido proposto como a forma mais barata para controle das condies ambientais e para a reduo das perdas ps-colheita. Para aerao eficiente de cebolas em climas tropicais, recomendam-se temperaturas de 22-32C e umidade relativa de 50-80%, com taxas de aerao entre 0,5 a 1,0 m3.min-1.m-3 de cebola. Outra forma de armazenamento via frigorificao (0 - 2C e 75-80% UR). Atmosfera com elevado contedo de CO2 e reduzido O2 contribuem para aumentar o perodo de conservao. Para pequenas quantidades de bulbos, pode-se proceder o enrestiamento, mantendo os bulbos com folhas, armazenando as rstias em lugares ventilados.

A colorao dos catfilos dos bulbos melhora durante o armazenamento. O cobre aplicado na adubao, presente no solo, ou aplicado em pulverizaes no campo melhora a espessura e a cor bronzeada dos catfilos de certos gentipos de cebola. O tempo de armazenamento poder variar de 2 a 6 meses de acordo com a cultivar, ponto de colheita, frigorificao, cura, etc. Algumas medidas para se evitar doenas no armazenamento so: - evitar injrias durante a colheita e o transporte; eliminar bulbos injuriados antes de armazen-los e retirar os deteriorados durante o armazenamento; proceder a cura bem feita; realizar a colheita antes da morte das folhas e em poca seca; armazenar em local seco e ventilado (< 25C). Quando o bulbo amadurece, entra em perodo de latncia, o perodo compreendido entre e maturao e a brotao, o que se supe 4 a 6 meses, dependendo da cultivar. Neste perodo, se destinguem duas fases: latncia absoluta ou perodo de repouso que dura de dois a trs meses, em que o bulbo no brota mesmo que as condies ambientais sejam timas, devido a presena de inibidores sintetizados nas folhas que so translocados para o bulbo; perodo de latncia relativa ou quiescncia, que segue a latncia absoluta e que se prolonga se as condies ambientais no so timas para a brotao. As temperaturas baixas (OC) ou altas (40C) prolongam a latncia, enquanto as intermedirias (10 a 20C) estimulam a brotao. As caractersticas das cultivares e as condies de armazenamento so decisivas para evitar a brotao dos bulbos uma vez terminada a fase de latncia absoluta. Aplicao de hidrazida maleica pouco antes da colheita inibe a brotao, estendendo-se o perodo de conservao. Classificao Para a classificao, embalagem e comercializao da cebola, necessria a toalete (corte da parte area e razes), deixando-se 1 a 2 cm de talo de acordo com o dimetro transversal. A classificao feita de acordo com o dimetro do bulbo (Tabela 9), em classificadores mecnicos. Para comercializao, a cebola deve possuir padro da cultivar, estar fisiologicamente desenvolvida, madura, limpa, com bulbo inteiro e revestida de pelculas Tabela 9. Classes de cebola de acordo com o dimetro transversal, conforme portaria no 529 de 18/08/1995 (Brasil, 1995).

Classes 1-chupeta 2 3 4 5

Dimetro (mm) < 35 35 < 50 50 < 70 70 < 90 > 90

As classes 3 e 4 so consideradas de maior valor comercial. externas, firmes e consistentes, de colorao uniforme, livre de danos mecnicos e/ou fisiolgicos, livres de pragas e/ou doenas, isentas de substncias nocivas a sade. A preferncia do consumidor por bulbos de formato globoso, de tamanho mdio (50-150 g), sendo a cebola roxa preferida em Minas Gerais. So considerados defeitos graves: talo grosso (dimetro da haste do bulbo acima do normal); brotado (emisso visvel de broto); podrido (apodrecimento no todo ou em parte devido ataque de patgenos ou problemas fisiolgicos); com manchas negras (reas enegrecidas decorrentes de ataques de fungos nos catfilos externos ou no colo do bulbo); mofado (com fungo nos catfilos externos). So considerados defeitos leves: colo mal formado; deformado (formato diferente do tipo da cultivar, bulbos duplos); descascado (ausncia de catfilos em mais de 30% de sua superfcie do bulbo); flacidez (falta de turgescncia); descolorao (esverdeamento em de 20% da superfcie do bulbo); com dano mecnico (ferimento, corte e esmagamento). OBS.: os defeitos talo grosso e falta de catfilos externos no sero considerados quando tratar-se de cebolas precoces. Embalagem feita em sacos telados de polietileno ou polipropileno com capacidade para at 25 kg lquidos de bulbos, tolerando-se at 8% a mais e 2% a menos no peso indicado.

REFERNCIAS AUSTIN, R. Bulb formation in onions as affected by photoperiod and spectral quality of light. Journal of Horticultural Science, v. 47, p. 493 - 504, 1972. BREWSTER, J.L. Onions and other vegetable alliums. CAB International, 1994. 236p. CULTURA DA CEBOLA. Informe Agropecurio, v. 23, n.218, 2002, 104 p. CURRAH, L.; PROCTOR, F. J. Onion in tropical regions. NRI, Bll. n. 35, 232 p., 1990. EPAGRI. Sistema de produo para cebola: Santa Catarina (3. Reviso). Florianpolis: 2000. 91 p. (EPAGRU. Sistemas de produo, 16). JONES, H. A.; MANN, L. K. Onions and their allies. New York: Interscience Publishers, 286 p., 1963. LERCARI, B. Bulb formation in the long day plant Allium cepa L. The effect of simultaneous irradition with red far red light. Acta Horticulturae, n. 128, p. 55-59, 1981. VAVILOV, N. I. The origin, variation, inmunity and breeding of cultivated plants. Chronica Botanica, v. 13, p. 1-6, 1951.