Célia da Consolação Dias Análise do Domínio Organizacional na ...

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Célia da Consolação Dias Análise do Domínio Organizacional na Perspectiva Arquivística: Potencialidade no Uso da Metodologia DIRKS - Designing and Implementing Recordkeeping Systems Belo Horizonte Escola de Ciência da Informação da UFMG 2010

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Clia da Consolao Dias

Anlise do Domnio Organizacional na Perspectiva

Arquivstica:

Potencialidade no Uso da Metodologia DIRKS -

Designing and Implementing Recordkeeping Systems

Belo Horizonte

Escola de Cincia da Informao da UFMG

2010

Clia da Consolao Dias

Anlise do Domnio Organizacional na Perspectiva

Arquivstica:

Potencialidade no Uso da Metodologia DIRKS -

Designing and Implementing Recordkeeping Systems

Belo Horizonte

Escola de Cincia da Informao da UFMG

2010

Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Escola de Cincia da Informao da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial obteno do ttulo de Doutor em Cincia da Informao.

rea de Concentrao: Organizao e Tratamento da Informao

Linha de Pesquisa: Organizao e Uso da Informao Orientadora: Prof. Dra. Ldia Alvarenga

;

Dias, Clia da Consolao

Anlise do domnio organizacional na perspectiva arquivstica : potencialidade

no uso da Metodologia DIRKS Designing and Implementing Redordkeeping

Systems / por Clia da Consolao Dias. 2010.

333 f. ; il.

Tese (doutorado) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Cincia

da Informao, 2010.

Orientao: Profa. Dra. Ldia Alvarenga, Programa de Ps-graduao em

Cincia da Informao.

1. Anlise de domnio. 2. Gesto de documentos. 3. ISO 15489. 4. Metodologia

DIRKS. 5. Modelagem de Domnio Organizacional. 6. Domnio Organizaciona I.

Ttulo.

D541a

Dedicatria

A Paulo Lucas, Giovanna Rossato e Mria Rossato: pelo amor dedicado e pela

pacincia nestes 3 anos.

minha me, pela sua dedicao, generosidade e ensinamentos dirios.

Minha gratido grande mulher da minha vida.

Aos alunos do curso de arquivologia da UFMG cuja vontade de aprender e de

conhecer serve como estmulo para continuarmos nossa jornada!

Agradecimentos

A Deus que todo dia me d foras para continuar o meu aprendizado.

Emlia Barroso pelo convite para participar do projeto de Elaborao dos

Instrumentos de Gesto no Governo do Estado de Minas Gerais, que significou

um imensurvel aprendizado.

Meu agradecimento especial equipe da Diretoria de Gesto do Arquivo

Pblico Mineiro que me deu a oportunidade de trabalharmos juntas e de

aprendermos na implantao do Projeto de Elaborao dos Instrumentos de

Gesto no Governo do Estado de Minas Gerais.

Aos professores e funcionrios da ECI que sempre torceram pelo meu

sucesso. ficaram na torcida!

Ao projeto Reuni da UFMG pela oportunidade de ser bolsista do curso de

arquivologia, o que me permitiu a dedicao total redao da tese.

Aos professores da banca pelas contribuies.

Aos professores Cntia Loureno, Marlene de Oliveira e Maurcio Barcelos pela

ateno e apoio.

Ao Paulo Lucas pelas discusses durante a reviso do texto.

Agradecimento especial minha orientadora

Meu agradecimento professora Ldia Alvarenga que me deu tanto apoio nas

horas de dificuldades, tranquilizando-me, mostrando-me o caminho a seguir e

estimulando - me para a vida acadmica, sobretudo por demonstrar a sua

confiana em mim.

Pelas longas horas de orientao que foram verdadeiras aulas, pelos

conselhos como professora, como pesquisadora e como mestre. E, afinal,

porque em nossos encontros tambm rimos muitas vezes.

Simplesmente: Obrigada!

Clia

RESUMO

A presente pesquisa tem como objeto de estudo formulrios da Metodologia DIRKS Designing and Implementing Redordkeeping Systems, visando ao delineamento do domnio organizacional. Os pressupostos tericos desta pesquisa so: o levantamento dos elementos do domnio organizacional antecede sua estruturao e tem como objetivo subsidiar a implementao de um sistema de gesto de documentos; os elementos constantes do domnio organizacional so essenciais para nortear a construo de instrumentos necessrios gesto de documentos; o levantamento dos elementos do domnio organizacional, pela abordagem funcional proposta pela metodologia DIRKS, propicia sua contextualizao; a implementao da metodologia DIRKS fornece as garantias necessrias para validar os instrumentos de gesto de documentos. Este trabalho tem como objetivo mapear entidades presentes nos instrumentos de coleta de dados da Metodologia DIRKS, utilizados para a elaborao dos instrumentos de gesto. O referencial terico que deu suporte elaborao desta pesquisa aborda as temticas: anlise de domnio, arquivologia, a gesto de documentos, a norma ISO 15.489 e a Metodologia DIRKS, a representao e as ontologias. Para realizao desta pesquisa foram analisados 8 instrumentos de coleta de dados utilizados na implantao do projeto de elaborao dos instrumentos de gesto de documentos do governo do Estado de Minas Gerais. A metodologia desta tese formada por 12 etapas compreendeu desde a separao das entidades de cada formulrio at a elaborao de um novo agrupamento usando categorias, subcategorias e subdivises de subcategorias que partiram das categorias fundamentais de Ranganathan. Foi usado para diagramao do sistema categorial o software Protg . Obteve-se como resultado um sistema categorial que permitiu retratar o domnio organizacional. Os resultados foram analisados no contexto da gesto de documentos e permitiram conhecer uma proposta para o design da modelagem do domnio organizacional do ponto de vista arquivstico.

. Palavras-chave: Anlise de Domnio; Gesto de Documentos; ISO 15.489; Metodologia DIRKS; Modelagem de Domnio Organizacional; Domnio Organizacional

ABSTRACT

This research aims to study forms of Methodology DIRKS - Designing and Implementing Recordkeeping Systems, aimed at delineation of the organizational domain. The theoretical background of this research are: the lifting of the elements of the domain prior to its organizational structure and aims to support the implementation of a system of document management, the findings in the organizational domain are essential to guide the construction of instruments required to manage documents, an inventory of the organizational domain, the functional approach proposed by the DIRKS Methodology, provides its context, the implementation of the DIRKS Methodology provides the necessary guarantees to validate the management tools to archive documents. This paper aims to map entities present in the data collection instruments of the DIRKS Methodology used for the preparation of management tools. The theoretical framework that supported the development of this research addresses the issues: domain analysis, archives administration, records management, ISO 15489 and the DIRKS Methodology, representation and ontologies. To perform this research were analyzed 8 (eight) instruments to collect data used to implement the project of developing management tools for State Government of Minas Gerais. The methodology of this thesis consists of 12 (twelve )steps understood since the separation of the entities of each form up the drafting of a new pool using categories, subcategories of subcategories and subdivisions that have left the fundamental categories of Ranganathan. Was used for categorical system of diagramming software Protg. Was obtained as a result of a categorical system that allowed to portray the organizational domain. The results were analyzed in the context of records management and helped to understand a proposal for the design of modeling the domain of organizational point of view archives.

Key words: Domain Analysi, Records Management, ISO 15.489, DIRKS Methodology; Modeling organizational; Organizational Domain

9

"Aprendemos quando compartilhamos experincias."

John Dewey

http://www.amopoesias.com/frase-de-john_dewey--698.htmlhttp://www.amopoesias.com/frases-do-autor--john_dewey.html

10

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 - Estrutura do Trabalho ............................................................................... 29

Figura 2 - Viso Geral do Captulo 2 - Fundamentao Terica ............................... 30

Figura 3 - Estgios e Atividades do Ciclo de Vida da Ontologia Methontology ......... 59

Figura 4 - Contexto do Processo para a Anlise de Domnio .................................... 66

Figura 5 - Relacionamentos de Funes com Entidades Coletivas, Recursos e

Funes Arquivsticas ............................................................................................... 96

Figura 6 - Representao Grfica das Etapas da Metodologia DIRKS ................... 126

Figura 7 - Explicao do Quadro com a Relao dos Formulrios Contendo os

Instrumentos de Coleta de Dados dos 3 Passos da Metodologia DIRKS ............... 141

Figura 8 - Situao 2 para Identificao dos Formulrios da Metodologia DIRKS

Anexo 4 ................................................................................................................... 143

Figura 9 - Situao 3 para Identificao dos Formulrios da Metodologia DIRKS

Anexo 7 ................................................................................................................... 144

Figura 10 - Representao do Sistema Categorial Proposto para o Domnio

Organizacional ........................................................................................................ 156

Figura 11 - Excerto do Formulrio Anexo 5(p) Mostrando as 2 Primeiras

Questes ................................................................................................................. 163

Figura 12 - Nova Organizao dos Campos do formulrio Anexo 5(p) ................... 164

Figura 13 - Complementao dos Campos do formulrio Anexo 5(p) ..................... 165

Figura 14 - Codificao das Entidades do Formulrio Anexo 5(p) .......................... 166

Figura 15 - Reunio Alfabtica das Entidades do Formulrio Anexo 5(p) ............... 167

Figura 16 - Identificao das Categorias Fundamentais ......................................... 168

Figura 17 - Exemplo de Agrupamento das Entidades para Formao das

Categorias Fundamentais ....................................................................................... 169

Figura 18 - Categorias Especficas das Categorias Fundamentais:

Personalidade, Energia, Espao e Tempo .............................................................. 170

Figura 19 - Exemplo de Agrupamento das Categorias Especficas ........................ 170

Figura 20 - Categoria Especfica: Atos Normativos ................................................. 171

Figura 21 - Formao das Subcategorias ............................................................... 172

Figura 22 - Exemplo de Extrao do Contedo das Entidades ............................... 174

11

Figura 23 - Viso Geral do Captulo 4 - Resultados ................................................ 177

Figura 24 - Viso Geral doSistema Categorial ........................................................ 191

Figura 25 Categoria Fundamental 1 PERSONALIDADE, Categorias

Especficas, Subcategorias e Entidades dos Formulrios DIRKS ........................... 193

Figura 26 - Categoria Especfica 1.1 ORGANIZAO, Subcategorias e

Entidades dos Formulrios DIRKS .......................................................................... 195

Figura 27 - Subcategoria 1.1.1 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 197

Figura 28 - Subcategoria 1.1.2 NOME DA UNIDADE ADMINISTRATIVA e as

Entidades dos Formulrios DIRKS .......................................................................... 199

Figura 29 - Subcategoria 1.1.3 RELACIONAMENTO ADMINISTRATIVO e

Entidades do Formulrio DIRKS ............................................................................. 200

Figura 30 - Subcategorias 1.1.4 CARACTERSTICA e HISTRIA e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 201

Figura 31 - Subcategoria 1.1.5 COMPETNCIA e a Entidade do Formulrio

DIRKS ..................................................................................................................... 202

Figura 32 - Subcategoria 1.1.6 STAKEHOLDERS e Entidades dos Formulrios

DIRKS ..................................................................................................................... 203

Figura 33 - Subcategoria 1.1.7 PESSOA, Diviso de Subcategorias e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 204

Figura 34 - Subcategoria 1.1.8 PRODUTO E SERVIO e Entidades dos

Formulrios DIRKS ................................................................................................. 205

Figura 35 - Categoria Especfica 1.2 INSTRUMENTOS DE APOIO e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 207

Figura 36 - Categoria Especfica 1.3 FONTE DE INFORMAO, Subcategorias

e Entidades dos Formulrios DIRKS ....................................................................... 209

Figura 37 - Subcategoria 1.3.1 DOCUMENTOS DO PROCESSO/DOSSI e

Elementos dos Formulrios DIRKS ......................................................................... 210

Figura 38 Subcategoria 1.3.2 FONTE DE INFORMAO LEGISLAO e

Elementos dos Formulrios DIRKS ......................................................................... 212

Figura 39 - Subcategoria 1.3.3 BIBLIOGRFICA e 1.3.4 FONTE DE

INFORMAO PESSOA e Entidades dos Formulrios DIRKS .............................. 213

12

Figura 40 - Categoria Especfica 1.4 ATO NORMATIVO, Subcategorias e

Entidades dos Formulrios DIRKS .......................................................................... 215

Figura 41 - Categoria Especfica 1.5 PROGRAMAS, PROJETOS com

Respectivas Subcategorias e Entidades dos Formulrios DIRKS ........................... 217

Figura 42 - Viso Geral da Categoria Fundamental 2 ENERGIA, Categorias

Especficas, Subcategorias, Diviso e Entidades dos Formulrios DIRKS ............. 219

Figura 43 - Categoria Especfica 2.1 FUNO, Subcategorias e Entidades dos

Formulrios DIRKS ................................................................................................. 220

Figura 44 - Categoria Especfica 2.2 ATIVIDADE, Subcategorias e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 223

Figura 45 - Categoria Especfica 2.3 TRANSAO, Subcategorias e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 224

Figura 46 - Categoria Especfica 2.4 PROCESSO, Subcategorias e Entidades

dos Formulrios DIRKS ........................................................................................... 225

Figura 47 - Categoria Fundamental 3 ESPAO, Subcategorias e Entidades dos

Formulrios DIRKS ................................................................................................. 227

Figura 48 - Categoria Especfica 3.1 ENDEREO e 3.2 TELEFONE,

Subcategorias e Entidades dos formulrios DIRKS ................................................ 228

Figura 49 - Categoria Especfica 3.3 ENDEREO ELETRNICO e 3.4

ENDEREO DO SITE e Entidades dos Formulrios DIRKS .................................. 229

Figura 50 - Categoria Fundamental 4 TEMPO, Categorias Especficas,

Subcategorias e Entidades dos Formulrios DIRKS ............................................... 231

Figura 51 - Categoria Especfica 4.1 CICLO DE VIDA, Subcategorias e

Entidades dos Formulrios DIRKS .......................................................................... 234

Figura 52 - Categoria Especfica 4.2 ATO NORMATIVO e Entidades dos

Formulrios DIRKS ................................................................................................. 235

Figura 53 - Categoria Especfica 4.3 DATA DO EVENTO e Entidades dos

Formulrios DIRKS ................................................................................................. 236

Figura 54 - Viso Geral da Categoria Fundamental 1 PERSONALIDADE,

Categorias Especficas, Subcategorias e Diviso de Subcategorias ...................... 329

Figura 55 - Viso Geral da Categoria Fundamental 2 ENERGIA, Categorias

Especficas, Subcategorias e Diviso ..................................................................... 330

13

Figura 56 - Viso Geral da Categoria Fundamental 4 ESPAO, Respectivas

Categorias Especficas e Subcategorias ................................................................. 331

Figura 57 - Viso Geral da categoria Fundamental 4TEMPO, Respectivas

Categorias Especficas e Subcategorias ................................................................. 332

LISTA DE GRFICO

Grfico 1 - Representatividade no Sistema Categorial ............................................ 240

14

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Definioes de Ontologia em Filosofia, Cincia da Computao e

Cincia da Informao .............................................................................................. 45

QUADRO 2 - Sntese da Etapa de Modelagem Conceitual na Construo das

Ontologias ................................................................................................................. 56

QUADRO 3 - Garantia da Literatura e Consenso ...................................................... 80

QUADRO 4 - Contribuies do Referencial Terico para a Anlise ........................ 129

QUADRO 5 - Instrumentos Auxiliares Coleta de Dados da Metodologia

DIRKS ..................................................................................................................... 140

QUADRO 6 - Instrumentos de Coleta de Dados Metodologia DIRKS Verso

Original e Verso Usada pelo APM: Passo A.......................................................... 145

QUADRO 7 - Instrumentos de Coleta de Dados Metodologia DIRKS Verso

Original e Verso Usada pelo APM: Passo B.......................................................... 146

QUADRO 8 - Instrumentos de Ccoleta de Dados Metodologia DIRKS Verso

Original e Verso Uusada pelo APM Passo C ........................................................ 146

QUADRO 9 - Categorias Especficas da Categoria Fundamental do Sistema

Categorial ................................................................................................................ 152

QUADRO 10 - Subcategorias das Categorias Especficas do Sistema

Categorial ................................................................................................................ 154

QUADRO 11 - Diviso de Subcategorias do Sistema Categorial ............................ 155

QUADRO 12 - Categorias Fundamentais PERSONALIDADE Categorias

Especficas, Subcategorias e Diviso de Subcategorias ......................................... 180

QUADRO 13 - Categorias Fundamentais ENERGIA, ESPAO, TEMPO ,

Categorias Especficas, Subcategorias e Diviso de Subcategorias ...................... 181

15

LISTA DE SIGLAS

AAB Associao dos Arquivistas Brasileiros

ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

ANA Arquivo Nacional da Austrlia

APM Arquivo Pblico Mineiro

AS Australian Standart

CEA Conselho Estadual de Educao

CIA Conselho Internacional de Arquivos

CNPq Conselho Nacional de Pesquisa

CPAD Comisso Permanente de Avaliao de Documentos de Arquivo

CRG Classification Research Group

DIRKS Designing and Implementing Recordkeeping Systems

DoD U.S Departament of Defense

FLPD Formulrio de Levantamento de Dados

ISDF International Standart Description Function

ISO International Standard Organization

KOS Knowledge Organization Systems - Sistema de Organizao

do Conhecimento

NARA National American Records Archives

NBR Norma brasileira

NOBRADE Norma Brasileira de Descrio ArquivstIca

RTO Ressources Terminologiques ou Ontologiques

SEC Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais

SEPLAG Secretaria de Estado de Planejamento e Gesto de Minas

Gerais

SKOS Simple Knowledge Organisation System - Sistema Simples de

Organizao do Conhecimento

SOC Sistemas de Organizao do Conhecimento

UNISIST United Nations International Scientific Information System -

Sistema mundial de informao cientfica

UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e

Cultura

SUMRIO

1 INTRODUO --------------------------------------------------------------------------------------- 20

1.1 Questes de Pesquisa e Pressupostos ---------------------------------------------- 23

1.2 Objetivo Geral ----------------------------------------------------------------------------------- 25

1.3 Objetivos Especficos ------------------------------------------------------------------------- 25

1.4 Justificativa -------------------------------------------------------------------------------------- 25

1.5 Estrutura do Trabalho ------------------------------------------------------------------------- 27

2 FUNDAMENTAO TERICA ----------------------------------------------------------------- 30

2.1 Representao de domnios ---------------------------------------------------------------- 31

2.1.1 A representao para a Cincia da Informao ---------------------------------- 35

2.1.2 Cincia da Informao e as Ontologias -------------------------------------------- 41

2.1.3 Aplicao da Ontologia aos Sistemas de Informao -------------------------- 47

2.1.4 Etapa de Modelagem em Ontologias ----------------------------------------------- 53

2.2 Anlise de Domnio ---------------------------------------------------------------------------- 62

2.2.1 Metodologias da Anlise de Domnio ----------------------------------------------- 71

2.3 Garantias para a Representao de Domnios ---------------------------------------- 76

2.4 Arquivologia, Arquivos, Documento, Contexto Arquivstico e Gesto de

Documentos Arquivsticos: Uma Viso Geral ----------------------------------------------- 83

2.4.1 Arquivos e Documentos ---------------------------------------------------------------- 89

2.4.2 Contexto Arquivstico -------------------------------------------------------------------- 95

2.4.3 Gesto de Documentos Arquivsticos ----------------------------------------------- 99

2.5 A Norma Internacional para Gesto de Documentos ------------------------------ 107

2.5.1 Apresentao da Norma ISO 15.489 --------------------------------------------- 109

2.5.2 Uso da Norma ISO 15.489 e da Metodologia DIRKS pela

Comunidade Arquivstica Internacional -------------------------------------------------- 118

2.6 Metodologia DIRKS - Designing and Implementing Recordkeeping

Systems --------------------------------------------------------------------------------------------- 121

2.6.1 Etapas da Metodologia DIRKS ----------------------------------------------------- 125

2.6.2 Metodologia DIRKS e sua Aplicao nas Secretarias de Estado de

MG ------------------------------------------------------------------------------------------------- 127

17

2.7. Contribuies do Referencial Terico Conceitual e Metodolgico s

Anlises deste Estudo --------------------------------------------------------------------------- 128

3 METODOLOGIA: PROCEDIMENTOS METODOLGICOS, OBJETO

EMPRICO, NATUREZA E ETAPAS DA PESQUISA ------------------------------------ 133

3.1 Objeto Emprico da Pesquisa ------------------------------------------------------------- 134

3.1.1 Passo A - Investigao Preliminar ------------------------------------------------- 134

3.1.2 Passo B - Anlise de Atividades --------------------------------------------------- 136

3.1.3 Passo C Identificao dos requisitos de arquivamento -------------------- 138

3.2 Instrumentos para a Coleta de Dados dos 3 Passos da Metodologia

DIRKS ------------------------------------------------------------------------------------------------ 139

3.3 Os Instrumentos de Coleta de Dados Usados na Pesquisa --------------------- 147

3.4 Natureza da Pesquisa ---------------------------------------------------------------------- 150

3.5 Descrio das Etapas da Pesquisa ----------------------------------------------------- 162

3.6 Protg ----------------------------------------------------------------------------------------- 175

4 RESULTADOS ------------------------------------------------------------------------------------- 177

4.1 Sistema categorial do domnio organizacional: etapa operacional ------------- 178

4.2 Apresentao do Sistema Categorial --------------------------------------------------- 179

4.2.1 Sistema Categorial do Domnio Organizacional e Entidades dos

Formulrios da Metodologia DIRKS ------------------------------------------------------ 182

4.3 Resultados Finais ---------------------------------------------------------------------------- 190

4.3.1 Personalidade --------------------------------------------------------------------------- 192

4.3.1.1 Organizao ------------------------------------------------------------------------ 194

4.3.1.2 Instrumentos de Apoio----------------------------------------------------------- 206

4.3.1.3 Fonte de Informao ------------------------------------------------------------- 208

4.3.1.4 Ato Normativo ---------------------------------------------------------------------- 214

4.3.1.5 Programas, Projetos ------------------------------------------------------------- 216

4.3.2 Energia ------------------------------------------------------------------------------------ 218

4.3.2.1 Funo ------------------------------------------------------------------------------- 220

4.3.2.2 Atividade ---------------------------------------------------------------------------- 222

4.3.2.3 Transao--------------------------------------------------------------------------- 224

4.3.2.4 Processo ---------------------------------------------------------------------------- 225

4.3.3 Espao ------------------------------------------------------------------------------------ 226

18

4.3.3.1 Endereo da Unidade e Telefone -------------------------------------------- 228

4.3.3.2 Endereo Eletrnico e Endereo do Site ---------------------------------- 229

4.3.4 Tempo ------------------------------------------------------------------------------------- 230

4.3.4.1 Ciclo de Vida ----------------------------------------------------------------------- 232

4.3.4.2 Data do Ato Normativo --------------------------------------------------------- 235

4.3.4.3 Data do Evento -------------------------------------------------------------------- 236

5 CONSIDERAES FINAIS E TRABALHOS FUTUROS ------------------------------ 238

5.1 Estudos Futuros ------------------------------------------------------------------------------ 243

REFERNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------- 244

ANEXOS ----------------------------------------------------------------------------------------------- 260

Anexo 1 - Guia para Fontes Documentais ------------------------------------------------- 261

Anexo 2 - Guia de Entrevistas ----------------------------------------------------------------- 269

Anexo 3 - Sugestes de questes para Entrevista (verso traduzida) ------------- 274

Anexo 4 (1)(o) - Source identification form Acts for Parliament ---------------------- 280

Anexo 4(1)(p) - Formulrio de Identificao de Fontes Leis e Decretos

(verso traduzida) --------------------------------------------------------------------------------- 281

Anexo 4(2)(o) - Source IdentificationFform Statutory Rules(Regulations)

(verso original) ----------------------------------------------------------------------------------- 282

Anexo 4(2)(p) - Formulrio de Identificao de Fontes Normas Especficas

Regulamentos (verso portugus) -------------------------------------------------------- 285

Anexo 4 (3)(o) - Source Identification Form - Others Sources Including

Interviews (Verso Original) -------------------------------------------------------------------- 286

Anexo 4(3)(p)- Formulrio de Identificao de Fontes Outras Fontes

Incluindo Entrevistas(verso portugus) ---------------------------------------------------- 287

Anexo 5(o) - Organization Context Document (Verso Original) --------------------- 288

Anexo 5(p) - Levantamento do Contexto Organizacional (Verso Portugus) --- 295

Anexo 7(a)(o) - Function Source Document (Verso Original) ----------------------- 305

Anexo 7(a)(p) - Levantamento de Funo (Verso Portugus) ---------------------- 307

Anexo 7(b)(o) - Table 1 Analysis of Business Activity(Verso Original) ------------ 309

Anexo 7(b)(p) - Tabela 1 Anlise de Atividades (Verso Portugus e

Adaptada) ------------------------------------------------------------------------------------------- 310

Anexo 7(c)(o) - Analysis of Business Activity (Verso Original) ---------------------- 311

19

Anexo 7(c)(p) - Anlise da Atividade - Fluxo da Transao (Verso Portugus

e Adaptada) ---------------------------------------------------------------------------------------- 312

Anexo 7(d)(o) - Table 2 Identification of Recordkeeping Requirments(Verso

Original) ---------------------------------------------------------------------------------------------- 314

Anexo 7(d)(p) - Tabela 2 Identificao de Requisitos de Arquivamento

(Verso Portugus e Adaptada) -------------------------------------------------------------- 316

APNDICES ------------------------------------------------------------------------------------------ 319

Apndice 1 - Anlise dos Campos dos Formulrios - Excerto da Etapa ----------- 320

Apndice 2 - Complementao dos Campos dos Formulrios - Excerto da

Etapa ------------------------------------------------------------------------------------------------- 321

Apndice 3 - Codificao das Entidades dos Formulrios - Excerto da Etapa --- 322

Apndice 4 - Reunio Alfabtica das Entidades - Excerto da Etapa ---------------- 323

Apndice 5 - Identificao das Categorias Fundamentais - Excerto da Etapa -- 324

Apndice 6 - Agrupamento das Categorias Fundamentais - Excerto da Etapa - 325

Apndice 7 - Identificao das Categorias Especficas - Excerto da Etapa ------ 326

Apndice 8 - Formao das Subcategorias - Excerto da Etapa ---------------------- 327

Apndice 9 - Extrao do Contedo das Entidades - Excerto da Etapa ----------- 328

Apndice 10 - Viso Geral da Categoria Fundamental 1PERSONALIDADE,

Categorias especficas, Subcategorias e diviso de Subcategorias ---------------- 329

Apndice 11 - Viso Geral da Categoria Fundamental 2 ENERGIA,

Categorias Especficas, Subcategorias e Diviso de Subcategoria ----------------- 330

Apndice 12 - Viso geral da Categoria Fundamental 3 ESPAO,

Respectivas Categorias Especficas e Subcategorias ---------------------------------- 331

Apndice 13 - Viso geral da categoria fundamental 4 TEMPO, respectivas

Categorias Especficas e Subcategorias --------------------------------------------------- 332

Apndice 14 - CD ROM com os Arquivos Contendo as Etapas da Modelagem

do Domnio Organizacional -------------------------------------------------------------------- 333

20

1 INTRODUO

A partir da cincia da informao este trabalho pretende esclarecer uma fase

importante na construo de linguagens documentrias, incluindo as

ontologias, que compreende o levantamento dos conceitos: a fase da

conceitualizao que tem como base a anlise de domnio. Essa etapa ser

analisada no do ponto de vista terminolgico visando a um sistema de

recuperao de informao bibliogrfica, mas do ponto de vista de um projeto

de gesto de documentos arquivsticos. Esse objeto de pesquisa compreende

abordagens de contextos muito especficos, mas que se tornam singulares,

quando aplicados aos campos da biblioteconomia, da arquivologia, da gesto

da informao e de documentos.

Os arquivos esto sendo produzidos pelo trabalho organizacional desde os

primrdios das organizaes. Observou-se que o aumento da participao das

atividades do Estado, no perodo entre as duas grandes guerras mundiais,

contribuiu para a exploso documental. Posteriormente, como consequncia

dessa participao do Estado, aponta-se tambm a evoluo tecnolgica como

elemento que contribuiu para o aumento da massa de documentos em papel,

em mdias eletrnicas e digitais, produzidos e recebidos no desenvolvimento

das suas atividades dirias. A gesto de documentos e a abordagem da teoria

das trs idades1 surgiu nos Estados Unidos decorrentes do aumento das

atividades do Governo Federal Americano e a partir dos estudos de T. R.

Schellenberg nos trabalhos da Comisso Hoover2.

As bases tericas da arquivologia so essenciais para se trabalhar os

processos da gesto documental e que fundamentam todas as aes

arquivsticas. O princpio da provenincia ressalta que os documentos de uma

1 A teoria das 3 idades ser abordada na seo 2.4.4 referente Gesto de Documentos.

2 A Comisso Hoover de Reorganizao do Poder Executivo foi criada em 1947 nos Estados Unidos com o objetivo de estudar a organizao e o

funcionamento dos departamentos de administrao americano.. As recomendaes finais dessa comisso ressultaram em melhorias e

economia sensveis nas operaes do governo.

21

mesma origem no podem ser misturados aos de outra e o princpio da ordem

original prescreve que os documentos devem ser mantidos na mesma ordem

em que foram acumulados, ao longo da atividade. O princpio da provenincia

o primeiro que define um conjunto de documentos como arquivo, isto , que

estes so resultado, produto das atividades desenvolvidas por uma pessoa ou

instituio mostrando a ordem que os documentos foram acumulados ao longo

do tempo. Os princpios arquivsticos fornecem as bases tericas para nortear

a implementao de aes, tanto para orientar a elaborao dos instrumentos

de gesto de documentos de arquivo, quanto para utiliz-los na atividade de

classificao e de avaliao, enfim de todas as operaes realizadas pelo

arquivista. (Couture & Rousseau, 1998). Nesse sentido, a implantao do

processo de gesto de documentos permitir o acesso s informaes, a

racionalizao dos procedimentos organizacionais, a transparncia das aes

do governo e o exerccio pleno da cidadania e da democracia.

Um grande desafio, tanto para a administrao pblica quanto para as

empresas privadas, tem sido sensibilizar os administradores sobre a

importncia das aes da gesto de documentos e a existncia de

instrumentos prprios e legtimos para a implementao dessas aes nas

empresas. Existem na literatura relatos de perdas de informaes e de

documentos, por parte das empresas, tanto em papel, quanto nos formatos

digitais. Isto tem ocorrido, entre outras causas, devido ausncia de uma

poltica de gesto de documentos e da inexistncia dos instrumentos

necessrios para a organizao, para o registro dos prazos de guarda, bem

como para as decises em relao destinao final. Ressalta-se que as

empresas tm muito mais chance de serem bem sucedidas se elas possurem

um bom programa de gesto de documentos que esteja fundamentado na

realidade organizacional, que oriente o trabalho de sensibilizao das equipes

internas, em todos os nveis hierrquicos, passando pelos processos de

avaliao, tratamento e acesso de documentos em papel ou em quaisquer

suportes.

22

Um dos primeiros passos para a implementao da gesto de documentos

arquivsticos o conhecimento da realidade do rgo na qual os documentos

so gerados e /ou tramitam, do contexto organizacional, enfim de seus objetos

de naturezas diversas. Alm dos aspectos citados, outros como as relaes da

organizao com os diversos ambientes aos quais ela se vincula e sua

estrutura funcional, tambm podem ser mencionados. Todas essas instncias

costumam ser identificadas atravs da anlise dos objetivos, da misso, dos

processos, e competncias organizacionais - pontos j preconizados pela

arquivologia.

Da mesma forma, o princpio da provenincia e a noo de fundos3 se aplicam

s atividades da gesto de documentos e elaborao dos instrumentos

responsveis pela organizao e avaliao dos documentos, na fase corrente e

durante toda a sua vida e, posteriormente, em sua fase de guarda permanente.

Nesse sentido, o conhecimento da instituio produtora de documento o

ponto de partida para o entendimento e para a construo dos instrumentos de

gesto de documentos e, tambm, para a identificao dos fundos. A presente

pesquisa possibilitar conhecer os elementos do domnio arquivstico sob os

aspectos referentes s variveis do ambiente regulatrio, social, poltico, das

atividades do negcio e do universo documental entrelaado nas funes,

atividades e retratado nos seus processos organizacionais, tal como proposto

em uma metodologia especfica. Para que isso ocorra, parte-se da anlise de

domnio.

A anlise de domnio um processo de levantamento das informaes para a

identificao dos objetos, aes e relaes constantes do mesmo.

Posteriormente todos esses elementos podem ser organizados e

representados para torn-los disponveis para determinada aplicao. A anlise

de domnio, nessa pesquisa, voltada para um estudo da elaborao dos

instrumentos de gesto dos documentos cujos fundamentos tericos so

3 Estas temticas sero discutidas na seo 2.4 desta tese.

23

norteados pelos princpios da provenincia, da ordem original e a preocupao

com os fundos arquivsticos.

O objeto emprico deste estudo compreendeu um conjunto de formulrios

utilizados nos trs primeiros passos da Metodologia DIRKS4 implementada nas

Secretarias de Estado do Governo de Minas Gerais. O Manual DIRKS -

Designing and Implementing Recordkeeping Systems originou-se do trabalho

cooperativo entre as instituies arquivsticas australianas e o Arquivo Nacional

da Austrlia, tendo como base a norma australiana, AS 4390-1996, e a ISO

15.489, estabelecendo-se uma metodologia para o planejamento e a

implementao de um sistema de gesto de documentos.

1.1 Questes de Pesquisa e Pressupostos

A questo principal desta pesquisa : Quais so as entidades que os

instrumentos de coleta de dados da Metodologia DIRKS identificam como

sendo os elementos fundamentais para a modelagem do domnio

organizacional?

Outras questes que sero investigadas neste estudo so: Como as entidades

podem ser modeladas representando este domnio? De que natureza so

essas entidades?

Pretende-se analisar apenas as primeiras etapas da Metodologia DIRKS

passveis de permitir a prospeco do domnio organizacional, bem como

fornecer elementos necessrios para a criao dos instrumentos de gesto de

documentos. Os principais pressupostos desta pesquisa so:

1. A Metodologia DIRKS, fruto de um trabalho de prospeco meticuloso,

em nvel internacional, que contribuiu para a elaborao de uma norma

4 Designing and implementing recordkeeping systems. A Metodologia DIRKS ser apresentada adiante no captulo 2

24

tambm internacional, constitui-se em uma fonte consistente para o

levantamento de entidades de um domnio organizacional;

2. Os elementos (objetos) constantes do domnio organizacional norteiam a

construo de instrumentos necessrios gesto de documentos;

3. O levantamento dos elementos de uma organizaco, pela abordagem

funcional, apresentada nos formulrios da Metodologia DIRKS, pode

contribuir para a anlise e modelagem de um domnio organizacional.

.

1.2 Objetivo Geral

Mapear as entidades que os instrumentos de coleta de dados da Metodologia

DIRKS disponibilizam, visando a uma modelagem de um domnio

organizacional.

1.3 Objetivos Especficos

1. Analisar os formulrios da Metodologia DIRKS quanto aos elementos do

domnio organizacional neles constantes;

2. Criar um sistema categorial com as entidades presentes nos formulrios

da Metodologia DIRKS que representam o domnio organizacional;

3. Modelar um domnio-padro;

4. Discutir os resultados no que se refere prospeco e modelagem de

um domnio organizacional, visando gesto de documentos.

Por domnio-padro entende-se, nesta tese, o conjunto de elementos aplicveis

a diferentes organizaes.

1.4 Justificativa

O estudo da realidade de um domnio organizacional, tal como aqui

considerado, uma etapa para fundamentar as estruturas de representao do

conhecimento na cincia da informao em geral e, especificamente, na

arquivologia.

A escolha do objeto emprico, j indicado anteriormente e focalizado nesta

pesquisa, justifica-se pela participao da autora deste estudo como membro

26

da equipe do Projeto de Elaborao dos Instrumentos de Gesto de

Documentos: Plano de Classificao de Documentos e Tabela de

Temporalidade e Destinao para as Atividades Finalsticas5 do Poder

Executivo do Estado de Minas Gerais implemementado no perodo de 2007 a

2009. Ressalta-se que a metodologia adotada para a implementao do

projeto oriunda da norma australiana AS 4390-1996 e aprovada pela norma

internacional ISO 15.489. Alm disto, no h registro no pas de um projeto

com o porte do que foi desenvolvido pelo Governo de Minas Gerais. Este

projeto envolveu, simultaneamente, vinte rgos da administrao pblica na

elaborao dos instrumentos de gesto de documentos. 6

O que motivou o Arquivo Pblico Mineiro a escolher a Metodologia DIRKS, foi a

facilidade de compreenso das atividades de cada etapa prevista no Manual

DIRKS. Ressalta-se que tal motivao considerou que as pessoas no

precisavam ter, necessariamente, uma formao ou experincia com as

atividades de tratamento da informao arquivstica. Tal preocupao ocorreu

porque a operacionalizao das etapas da implantao Metodologia DIRKS

ficou sob a responsabilidade de uma equipe formada por funcionrios de cada

rgo participante7.

Alm disto, a Metodologia DIRKS resultado de estudos e projetos

envolvendo, tanto a comunidade arquivstica quanto a comunidade acadmica,

o que a caracteriza como portadora de uma dimenso cientfica. Em

comparao com as iniciativas de gerenciamento arquivstico de documentos

eletrnicos em outros pases, Rondinelli (2005) afirma que

enquanto no plano internacional os estudos e projetos originam-se da

comunidade arquivstica, envolvendo tanto o segmento acadmico

quanto as instituies de arquivo, no Brasil as aes partem do Poder

5 As atividades finalsticas quelas referentes ao negcio de cada organizao.

6 Em relao ao conhecimento do uso da Metodologia DIRKS por outras instituies no Brasil foram feitas 2 consultas, por e-mail, nos dias 18 e

20/08/09 respectivamente: 1) Rosely Rondinelli autora do livro Gerenciamento Arquivstico de Documentos Eletrnicos e 2) Claudia Lacombe

Rocha (Coordenao-Geral de Gesto de Documentos/ Gesto de Documentos Digitais) do Arquivo Nacional. A resposta obtida de ambas foi que

desconhecem o uso da Metodologia DIRKS em qualquer instituio no Brasil at o momento

7 A equipe de cada rgo que implantou as atividades dos 3 primeiros Passos da Metodologia DIRKS foi coordenada pela Comisso Permanente

de Arquivos e Documentos - CPAD

27

Executivo Federal e no envolvem uma parceria efetiva com os

arquivistas. (RONDINELLI, 2005, p.123).

Especificamente em relao experincia australiana a autora afirma que

igualmente no Brasil quanto na Austrlia as iniciativas partiram do Governo

Federal. Entretanto, nesta ltima levaram-se em conta os estudos da

Universidade de Pittsburgh, EUA, e foram lideradas pela maior instituio

arquivstica do pas, o Arquivo Nacional da Austrlia, que se encarregou de

disseminar a metodologia a todas as instituies pblicas australianas.

Do ponto de vista arquivstico, domnios organizacionais compreendem as

instituies de carter pblico ou privado produtoras e acumuladoras de

documentos no decorrer de suas funes e atividades. De acordo com o

Conselho Internacional de Arquivos: a informao contextual relaciona os

documentos de arquivo com o ambiente administrativo e funcional (atividades,

processos) em que foram produzidos e com outros documentos de arquivo

CIA (2005, p.12). Da a importncia, nesta pesquisa, de se analisar uma

ferramenta passvel de delinear domnios e contextos organizacionais.

1.5 Estrutura do Trabalho

Este trabalho foi organizado da seguinte forma: o Captulo 1 apresenta uma

viso geral deste estudo, mostrando o problema de pesquisa, seus

pressupostos, objetivos e justificativa para a realizao do estudo. Os

fundamentos conceituais e terico-metodolgicos do estudo esto no Captulo

2.

O Capitulo 3 apresenta a metodologia desta tese: objeto emprico, natureza da

pesquisa. Nessa parte discutem-se os passos e os instrumentos de coleta de

dados da Metodologia DIRKS, que foram implementados nas Secretarias de

Estado de Minas Gerais. Alm disto, sero apresentados os instrumentos de

28

coleta de dados usados nesta pesquisa; a descrio das etapas da pesquisa e

por ltimo a apresentao da ferramenta Protg usada para a criao de

ontologias e que, neste estudo, possibilitou a visualizao do sistema categorial

aqui proposto.

O Captulo 4 contm os resultados da pesquisa com a apresentao do

sistema categorial proposto, assim como as discusses sobre as anlises

elaboradas.

No Captulo 5 esto registradas as consideraes finais e as potencialidades

de trabalhos futuros. Em seguida, a relao das referncias utilizadas para a

construo do referencial terico-metodolgico deste trabalho, assim como o

conjunto de anexos e apndices. Os Anexos contm os formulrios da

Metodologia DIRKS usados na anlise dos dados desta pesquisa. H dois

grupos de Apndices: o primeiro grupo refere-se aos excertos de cada etapa

da pesquisa realizada; o segundo grupo apresenta a viso geral de cada

categoria fundamental, as categorias especficas, subcategorias e diviso de

subcategorias. as subcategorias e suas divises.

A FIG.1 detalha a forma de organizao desta tese mostrando sua estrutura

em captulos e divises:

Figura 1 - Estrutura do Trabalho Fonte: Elaborado pela autora

2 FUNDAMENTAO TERICA

Este captulo apresenta os caminhos que foram trilhados para fundamentar o

estudo sob os aspectos conceituais, tericos e metodolgicos, considerando-se

as questes importantes a serem respondidas nesta pesquisa. Estes caminhos

representam as temticas, princpios e teorias, na perspectiva da cincia da

informao e da arquivologia, que contribuiram para o desenvolvimento da

presente pesquisa, conforme indicado na FIG.2.

Figura 2 - Viso Geral do Captulo 2 - Fundamentao Terica Fonte: Elaborado pela autora

31

2.1 Representao de domnios

Como o objetivo desta tese a modelagem de um domnio organizacional,

torna-se necessria uma introduo ao conceito de representao. A

representao tem sido estudada na cincia da informao visando os

instrumentos terminolgicos8, contudo percebeu-se que para a delimitao do

escopo de uma rea, os estudos de domnio so imprescindveis. Nesta tese,

entretanto, a anlise de domnio no tem como foco somente as ferramentas

terminolgicas, mas a prpria gesto arquivstica. Neste captulo ser discutida

a representao de domnios comeando pela apresentao da definio de

modelos e a discusso sobre modelizao do conhecimento

A palavra representao tem sua origem no latim nas palavras repraesentatio

e repraesentare. A representao pode ser uma tentativa de espelhar um

mundo, de mostrar como o mundo visto por aquele que o representa. Aquele

que o representa ao olhar para o mundo o faz com uma carga de significados,

fruto do pensamento, que est inserido em um determinado contexto. O

contexto ou o propsito da informao, conforme mencionado anteriormente,

refere-se ao campo do conhecimento ou domnio que relevante para agrupar,

significar e usar as informaes para descrever um mundo, uma determinada

realidade ou os objetos desta realidade.

A interao com o ambiente organizacional e o impacto causado pelo uso das

informaes oriundas do ambiente interno e externo tem levado as

organizaes a se preocuparem com o processo de gerenciamento das

informaes geradas e recebidas para agregar valor quelas j existentes, com

vistas sua aplicao e reutilizao. Um dos grandes desafios para os

profissionais que projetam os sistemas de informao a modelagem destes

8 Podem ser citados como exemplos de instrumentos terminolgicos os glossrios, dicionrios tcnico-cientficos. estes instrumentos podem ser

includos nos chamados produto terminolgico. Resultado de uma atividade terminolgica, como, por exemplo, uma ficha, um arquivo, uma base

de dados, umglossrio, um lxico, um vocabulrio, uma norma, um comunicado terminolgico, etc. PAVEL & NOLET (2002, p.141)

32

sistemas, o entendimento do modelo organizacional, as necessidades dos

usurios e o entendimento do prprio domnio do conhecimento que est sendo

modelado. Em relao a este ltimo ponto ressalta-se que os documentos e

informaes de arquivo so produtos e resultados desse domnio, logo

precisam ser tratados dessa forma no processo de modelagem.

Um modelo abstrao da realidade. Sayo (2001) afirma que a abstrao

uma ferramenta importante na aquisio de conhecimento. De acordo com o

autor, a abstrao nos auxilia na seleo das inmeras formas, estruturas,

comportamentos e fenmenos que fazem parte do universo e que so

utilizados para caracterizar o objeto de investigao. Dessa forma, um modelo

uma criao cultural, um mentefato, destinado a representar uma realidade,

ou alguns dos seus aspectos, a fim de torn-los descritveis qualitativa e

quantitativamente e, algumas vezes, observveis. (SAYO, 2001, p.83). A

representao da realidade mais aproximada possvel tem sido o desafio para

aqueles que se incumbem dessa tarefa. Entretanto, observa-se que o homem

consegue apenas representaes simplificadas da realidade, da forma como

ele consegue compreend-la e retrat-la. Almeida (2007) afirma que o mundo

complexo e modelos so produzidos para que a compreenso humana possa

apreend-lo em partes, visto que no consegue abrang-lo em sua totalidade.

Sayo (2001) afirma que os modelos possuem algumas caractersticas tais

como: mapeamento, nesse caso os modelos so representaes dos originais;

reduo, so modelados apenas os aspectos relevantes para quem os modela;

e, por ltimo pragmatismo, os modelos no so substituies dos originais e

cumprem sua funo em perodos de tempo limitados.

Um modelo organizacional uma representao explcita orientada, focada e

simplificada da organizao (GANDON, 2001). O principal objetivo obter uma

viso da organizao (ALMEIDA, 2006).

Campos (2004), em seu estudo sobre a modelizao de domnios de

conhecimento,

33

discute a problemtica representacional comparando os mecanismos de

abstrao, presentes nas teorias da cincia da informao, da terminologia e

da computao, que permitem a representao de conhecimento em domnios

diversos. A autora discute os aportes tericos das trs reas para fazer uma

proposta de ncleo comum de conceitos que ela considera imprescindveis ao

ato de modelar o conhecimento.

Le Moigne9, citado por Campos (2004, p.22), afirma que o processo de

conhecer equivale construo de modelos do mundo/domnio a ser

construdo, que permitem descrever e fornecer explicaes sobre os

fenmenos. O autor ainda enfatiza a necessidade de se pensar no s na

diversidade de modelos, mas nos princpios do ato de modelar.

Pode-se afirmar que o ato de modelar representar por meio de um modelo.

Como apontou Campos (2004), h que se deslocar para o campo da

representao. Neste sentido, ela busca respaldo em Davis et al10 (1992) que

afirmam que o conceito de representao pode ser melhor entendido se ligado

aos papis que podero desempenhar. Davis et al (1992), ento, apresentam 5

papis ligados ao conceito de representao. So eles:

1. Uma representao de conhecimento um mecanismo usado para se

raciocinar sobre o mundo, em vez de agir diretamente sobre ele;

2. Uma representao de conhecimento uma resposta pergunta Em

que termos devo pensar sobre o mundo?, isto , um conjunto de

compromissos ontolgicos. Uma vez que toda representao uma

aproximao imperfeita da realidade, ao selecionarmos uma

representao, estamos tomando um conjunto de decises sobre como

e o que ver no mundo. Assim, o comprometimento ontolgico11 feito por

9 LE MOIGNE, Jean-Louis. A teoria do sistema geral: teoria da modelizao.Lisboa : Instituto Piaget, 1977 10 DAVIS, H. et al. Towards in integrated environment with open hypermedia systems. In: ACM CONFERENCE ON HYPERTEXT, 1992, Milan, Italy. Proceedings... Milan, Italy, 1992. 11 Os objetos com os quais uma teoria est ontologicamente comprometida so precisamente aqueles objetos cuja existncia assumida, de forma explcita ou implcita, pela teoria; tais objectos formam a ontologia (ou melhor, uma das ontologias) da teoria: um conjunto de entidades a

inexistncia das quais teria como consequncia a falsidade da teoria. Branquinho, 2004)

34

uma representao pode ser uma de suas mais importantes

contribuies;

3. Uma representao de conhecimento uma teoria fragmentada de

raciocnio que especifica que inferncias so vlidas e quais so

recomendadas;

4. Uma representao de conhecimento um meio de computao

pragmaticamente eficiente. Na realidade, esta questo aborda a

utilidade prtica da representao;

5. Uma representao de conhecimento um meio de expresso, ou seja,

uma linguagem na qual se pode dizer coisas sobre o mundo.

Dizer coisas sobre o mundo que est sendo representado, raciocinar sobre o

mundo e tomar decises sobre como e o que deve ou no ser representado

so desafios para o processo de modelagem em qualquer domnio.

Especificamente no domnio organizacional, busca-se a modelagem das

informaes registradas nos documentos e do conhecimento existente nas

organizaes. Ao se pensar na modelagem do domnio organizacional, do

ponto de vista da arquivologia tal como focado neste estudo, busca-se o

respaldo da etapa de identificao e definio dos conceitos especficos.

O processo de representao busca estabelecer a correspondncia

sistemtica entre o domnio-alvo e a modelizao do domnio e a captura ou re-

apresentao, atravs da mdia do domnio modelado, o objeto, o dado ou a

informao no domnio alvo. Blair,12(1990 citado por, JACOB &SHAW, 1998

p.147).

12 BLAIR, David C. Language and representation in information retrieval. Amsterdam: Elsevier, 1990.

35

2.1.1 A representao para a Cincia da Informao

A representao objeto de estudo em diversas reas do conhecimento, na

filosofia, na psicologia, na cincia da informao, na inteligncia artificial.

Neste ltimo campo, uma das preocupaes com a inteligncia e as

estratgias que as pessoas usam para resolver problemas, questes

associadas memria, aos aspectos cognitivos. Algumas das pesquisas na

dcada de 1970 tinham o foco no desenvolvimento de estudos que permitissem

construir uma inteligncia artificial tendo como referncia a inteligncia

humana.

H duas linhas principais de pesquisa em representao do conhecimento. Uma linha, representada por McCarthy procura desenvolver a lgica para que esta se aproxime tanto quanto possvel da capacidade humana de raciocinar e representar conhecimento. A outra linha, cujo principal defensor Minsky, rejeita a lgica como processo de representao de conhecimento e procura imitar as estruturas da mente humana. (MATTOS, 2003, p.14)

Os autores acima (McCarthy e Minsky), citados por Mattos (2003), defendem

que os elementos envolvidos na representao do conhecimento so a lgica

e a imitao das estruturas da mente. O primeiro defendido por McCarthy e o

segundo por Minsky. Para a inteligncia artificial, a representao do

conhecimento pode ser definida como uma combinao de estrutura de dados

e de procedimentos de interpretao, que usados de maneira correta em um

programa, levaro a um comportamento que simule o conhecimento dos seres

humanos Barr13 (1981, citado por MATTOS, 2003, p.14).

Na filosofia medieval a representao est relacionada com a forma, conforme

afirma Lagerlund (2004). Tal discusso envolve se o processo est vinculado a

uma representao mental da coisa representada ou no, se causado pela

coisa representada ou se a prpria coisa. Assim:

13 BARR, E.F.; The Handbook of Artificial Intelligence. Los Altos, Califrnia,vol.I II, 1981.

36

1) A representao mental e a coisa representada tm a mesma forma;

2) A representao mental semelhante ou parecida com a coisa representada;

3) A representao mental causada pela coisa representada

4) A representao mental significa a coisa representada. (LAGERLUND, 2004).

Lagerlund (2004) lembra, ainda, que estes pontos no so independentes uns

dos outros e os itens 1 e 2, citados acima podem ser relacionados, assim como

os itens 3 e 4.

Diversos autores desde Brentano no sculo 19, at outros nos tempos atuais

como Vickery (1986), Jacob & Shaw (1998) e Alvarenga (2003), em seus

estudos, relacionam a representao com a cincia cognitiva. Alm desta

relao entre representao e a cincia cognitiva, Brentano (1973) enfatiza que

o representado no tem a ver com imagem da coisa representada.

Mey14 (1982, citado por Jacob & Shaw 1998 p.147) relaciona a representao

com a cincia cognitiva dizendo que esta a cincia da representao. O

sujeito busca relacionar, atravs de recursos da linguagem, os conceitos do

objeto representado que so formados na mente de cada um. Sob esse

carter de associao com a cincia cognitiva, Alvarenga (2003) apresenta as

fases de percepo, identificao, interpretao, reflexo e codificao como

etapas usadas quando conhecemos ou somos expostos a uma coisa nova,

utilizando-se dos sentidos da emoo, da razo e da linguagem para a

construo do sentido e dos conceitos sobre esta coisa.

Para a cincia da informao, a representao sempre fez parte do trabalho de

permitir o acesso s informaes das diversas colees presentes nas

bibliotecas, arquivos e museus que esto disponveis em mdia impressa,

eletrnica ou outro suporte do contexto digital que as organizaes possuem e

precisam manusear no dia-a-dia das suas atividades. Permitir o acesso

14

MEY, Marc de. The cognitive paradgigm: na integrated understanding of scientific development Chicago : University of Chicago, 1992

37

significa disponibilizar os dados extrados dos diversos tipos de documentos e

possibilitar ao usurio identificar os seus elementos fsicos e de contedo, para

permitir que as pessoas sejam conduzidas at o material desejado para

satisfazer a sua consulta. J a descrio do contedo ou descrio temtica

a extrao do contedo do documento. A anlise de assunto o processo de

ler um documento para extrair conceitos que traduzam a essncia de seu

contedo. (DIAS & NAVES, 2007, p.9). Os autores alertam, tambm, para a

falta de consenso terminolgico e a variedade de expresses para nomear esta

atividade na cincia da informao, tais como: anlise conceitual, anlise

temtica e anlise de informao.

Para que os objetivos da organizao da informao sejam alcanados,

preciso realizar tanto a descrio fsica quanto a de contedo dos objetos

informacionais. Estes dois processos foram abordados por Brascher & Caf

(2008) no estudo que mostra a contribuio das autoras sobre a discusso em

torno do conceito de organizao da informao e a organizao do

conhecimento. Segundo as autoras:

A descrio de contedo tem por objeto o primeiro dos trs elementos da informao propostos por Fogl o conhecimento. A descrio fsica, por sua vez, direciona-se ao terceiro elemento - o suporte da informao. O segundo elemento a linguagem permeia os dois tipos de descrio. (BRASCHER & CAF, 2008, p.6)

Brascher & Caf (2008) fazem distino entre a representao conceitual e a

representao do conhecimento. A representao conceitual tem a ver com a

forma como o autor apresenta as suas idias no texto e com os usurios dos

sistemas de informao. J a representao do conhecimento vai alm daquilo

que expresso pelo autor, mas considera os elementos do domnio que est

em anlise, buscando mostrar uma viso sobre a realidade que se pretende

representar. Segundo elas, essas representaes so vistas como estruturas

que so utilizadas para construir ou representar o mundo, de maneira que o

conhecimento possa ser usado em diferentes aplicaes, de forma manual ou

de forma inteligente" Davis et al. (1992, citado por CAMPOS, 2004, p.22).

38

A representao do conhecimento reflete um modelo de abstrao do mundo

real, construdo para determinada finalidade. (BRASCHER & CAF, 2008,

p.6). Essa abordagem da representao como um modelo do mundo real

tambm apontado por Chandrasekaram & Josephson (1999). Os autores

afirmam que

O vocabulrio de representao fornece um conjunto de termos com os quais se descreve os fatos em alguns domnios, enquanto o corpo de conhecimento usando esse vocabulrio uma coleo de fatos sobre um domnio (CHANDRASEKARAM & JOSEPHSON, 1999, p.20).

A Organizao do Conhecimento/Representao do Conhecimento (OC/RC)

compreende a anlise da realidade que se deseja representar, a identificao

dos conceitos e as relaes entre eles para a construo de um modelo ou a

prpria modelagem.

J a Organizao da Informao e a Recuperao da Informao (OI/RI)

compreendem tanto a organizao dos objetos em colees, como aparecem

em bibliotecas, museus e arquivos, como a produo dos instrumentos para

recuperar as informaes retiradas desses objetos, atravs da descrio fsica

e de contedo. Assim, as autoras afirmam que

Esses dois processos produzem, conseqentemente, dois tipos distintos de representao: a representao da informao, compreendida como o conjunto de atributos que representa determinado objeto informacional e que obtido pelos processos de descrio fsica e de contedo, e a representao do conhecimento, que se constitui numa estrutura conceitual que representa modelos de mundo... (BRASCHER & CAF, 2008, p.7)

A representao, no mbito da cincia da informao, visa a promover o

acesso ao contedo dos documentos para uso e posterior gerao de novos

conhecimentos. (Miranda, 1999)

Saracevic, em seu artigo de 1996, relata os problemas que surgiram ao longo

dos tempos em funo do crescimento acelerado dos registros informacionais.

39

O autor discute os esforos em torno do desafio de prover o acesso a uma

massa to grande de informao, visto que este elemento considerado como

fundamental para o desenvolvimento das atividades nas organizaes como

um todo. Saracevic (1996), revela ainda, que estudiosos como Wersig &

Nevelling (1975) mostraram que a cincia da informao ganhou importncia

devido aos problemas identificados por Vanevar Bush com a exploso da

informao e a necessidade de usar a tecnologia da informao para permitir o

acesso s informaes. Assim:

Atualmente, transmitir o conhecimento para aqueles que dele necessitam uma responsabilidade social, e essa responsabilidade social parece ser o verdadeiro fundamento da CI. Problemas informacionais existem h longo tempo, sempre estiveram mais ou menos presentes, mas sua importncia real ou percebida mudou e essa mudana foi responsvel pelo surgimento da CI, e no apenas dela. Wersig & Nevelling

15 (1975, citado por Saracevic, 1996).

Segundo Jacob & Shaw (1998), o problema da representao na cincia da

informao no to simples quanto parece. Para os autores, a linguagem

utilizada o ponto envolvido na representao. Jacob & Shaw (1998)

salientam que:

A efetiva recuperao de documentos depende da representao lingstica usada para descrever os documentos e o problema de descrio de documentos para recuperao em primeiro lugar e acima de tudo, um problema de como a linguagem utilizada. (JACOB & SHAW, 1998, p.146)

Como afirmado anteriormente, o desafio tem sido a recuperao da informao

e, como levantado por Mooers16, uma das questes surgidas em torno deste

ponto : como descrever intelectualmente a informao? Ou como apontado

por Vickery (1986, p.145), em todos os estudos onde a representao do

conhecimento estudada, a preocupao tem sido em torno da deciso de

como o conhecimento pode ser representado e que as representaes podem

ser manipuladas.

15 WERSIG, G., NEVELlNG, U. The phenomena of interest to information science. Information Scientist, v.9, p. 127-140, 1975. 16 MOOERS, Calvin N. Zatocoding applied to mechanical organization of knowledge. American Documentation, v.2, n.1, p.20-32, 1951

40

A preocupao com a descrio do contedo tem sido cada vez mais urgente

dado o carter da quantidade de registros, agora em meio eletrnico,

disponvel em todo o mundo.

As formas de representao/organizao dos domnios de conhecimentos, neste caso, vo implicar diretamente os processos de transferncia da informao, que hoje esto diretamente ligados

recuperao em meios eletrnicos. (CAMPOS & GOMES, 2003)

O resultado de tal preocupao pode ser verificado na construo dos

instrumentos das linguagens documentrias que, em funo da evoluo da

tecnologia e dos sistemas de informao, tornam evidentes a necessidade de

um processo cada vez mais refinado para a busca e a recuperao de

informaes.

O conjunto de procedimentos para expressar o contedo dos documentos

formado por termos e suas relaes, dentro de um domnio especfico ou de

uma determinada rea do conhecimento. Uma linguagem prpria e com

especificidades caracterstica de cada campo do conhecimento ou de um

domnio. Nesse sentido, a medicina, a engenharia, a arquitetura e o domnio

organizacional, por exemplo, tem, cada um, seu prprio vocabulrio. Este

vocabulrio especializado o suporte para a construo das linguagens

documentrias em cada rea. Para Sales (2007, p.96) as linguagens de

especialidade possuem terminologias prprias (terminologias no sentido de

conjuntos de termos especficos de um determinado domnio), que no so de

conhecimento geral. A existncia de um vocabulrio vinculado a certo domnio

requer garantias de validao pela prpria rea dos termos utilizados. Essas

garantias sero discutidas na seo 2.3.

O tema ontologia ser discutido na seo 2.1.2 relacionado cincia da

computao, especificamente inteligncia artificial, engenharia de software

e cincia da informao.

41

2.1.2 Cincia da Informao e as Ontologias

As tecnologias da informao tm dado a sua contribuio cincia da

informao para otimizar os processos de organizao do conhecimento, o

tratamento, a representao e a recuperao das informaes.

Antes de discutir a relao entre a cincia da informao e a ontologia, so

apresentadas algumas consideraes iniciais sobre a representao e a

estruturao do conhecimento. Para a cincia da informao, a representao

do conhecimento um processo fundamental para a organizao do

conhecimento em um determinado domnio. Campos & Gomes (2003),

afirmam ser a representao de um domnio de saber, configurada como

princpio norteador para a organizao de documentos e a informao. Dessa

forma, os instrumentos de representao, compreendidos pela linguagem

documentria17, so fundamentais para a cincia da informao com o intuito

de sistematizar e possibilitar a recuperao da informao.

Todos os instrumentos de controle de vocabulrio e de organizao dos

conceitos tm como objetivo principal estruturar os conceitos para a

recuperao da informao e, por este motivo, tem sido objeto de estudos

especficos na cincia da informao. A nova verso da norma ANSI/NISO

Z39.19-2005 apresenta os tipos de instrumentos que fazem parte do chamado

controle de vocabulrio, usados para a descrio de contedo. Nesse processo

de descrio do contedo, termos e conceitos so elementos constituintes para

a elaborao dos instrumentos para controle de vocabulrio e, so

considerados de extrema importncia para a cincia da informao. Para

facilitar o entendimento, segue a definio de termo e conceito.

A palavra termo compreende a:

17 Como exemplos de linguagens documentrias podem ser citados as listas de cabealho de assunto, os tesauros e as taxonomias ..

42

designao de um conceito definido numa lngua especializada, por uma expresso lingstica. (ISO 704). Se assumirmos que existe uma relao de identidade entre conceito e termo, podemos usar estas expresses de modo intercambivel, visto que o termo denota o conceito e sua forma fsica visvel e manipulvel. (ANSI/NISO Z39.19, 2005)

Para apresentar a palavra conceito foram selecionadas as definies presentes

no site do BITI18 e da norma ANSI/NISO Z39.19-2005. No site do BITI, a

definio aponta para o conceito como uma unidade do conhecimento e aborda

as propriedades atribudas a um objeto expressas atravs de signos

lingsticos, conforme indicado a seguir:

Unidade do conhecimento constitudo por caractersticas que refletem as propriedades significativas relevantes atribudas a um objeto ou a uma classe de objetos e expresso comumente por signos lingsticos. O conceito pode ser chamado de objeto formal. Os objetos formais 'planeta' e 'ponte' no existem fisicamente como tais; so apenas constructos mentais. Entre os objetos de uma lado e os signos lingsticos de outro, no h relao direta. A relao feita via conceitos (ISO 704) (BITI)

Para a norma ANSI/NISO Z39.19-2005, o conceito uma unidade do

pensamento que combinada com as caractersticas de um objeto que pode ser

real, abstrato, concreto ou imaginrio.

Com esses fundamentos conceituais o levantamento e a organizao dos

conceitos so etapas importantes para a cincia da informao, considerados

tanto do ponto de vista do profissional indexador, quanto do usurio. So eles

que permitem ao profissional da informao traduzir, em formato de termo, as

caractersticas do objeto representado. Por outro lado, esses conceitos

convertidos em termos conduzem os indexadores/classificadores aos

instrumentos de linguagem documentria. Para os usurios, estes conceitos

so usados como estratgias de busca para recuperar a informao desejada.

Em ambas as situaes os instrumentos de linguagem documentria podem

ser utilizados em qualquer campo do conhecimento.

18 Biblioteconomia, Informao & Tecnologia da Informao sob a coordenao de coordenao de Hagar Espanha Gomes

43

Nesse contexto, qual a relao das linguagens documentrias com as

ontologias? Para Chandrasekaram & Josephson (1999, p.21), estas ajudam a

clarear a estrutura do conhecimento. Em um domnio as ontologias podem ser

vistas como o corao de qualquer sistema de representao do

conhecimento. Assim como para as linguagens documentrias, os conceitos,

os termos e suas relaes formam a estruturao conceitual, a base de

qualquer ferramenta conceitual, estes elementos so fundamentais, tambm,

para as ontologias que, possuem outras variveis em seu processo de

desenvolvimento.

De acordo com Barchini; Alvarez; Herrera (2007), as ontologias so

ferramentas conceituais e tcnicas que permitem especificar, estruturar e

comunicar o conhecimento de um determinado domnio. Essa afirmativa pode

ser complementada por Millikan (1998), que refora a importncia do

entendimento da estrutura do domnio por quem o estuda. Segundo a autora,

a base ontolgica dada por quem estuda a estrutura de um determinado

domnio, por aqueles que so especialistas e logo detm conhecimento das

teorias da rea. (MILLIKAN, 1998)

A estruturao conceitual, possibilitada pela construo das linguagens

documentrias e pelos estudos realizados por pesquisadores dos sistemas de

organizao do conhecimento, tm nas ontologias elementos que descrevem o

prprio ser, recursos da linguagem formal que permitem inferncias

necessrias gesto do conhecimento, dados importantes ao entendimento do

prprio domnio estruturado e que esto presentes nas teorias desse domnio.

Por ser uma rea de estudo muito recente na cincia da informao, com

muitas pesquisas em andamento, e observa-se a necessidade de um

aprofundamento nas questes que vo aparecendo medida que os estudos

avanam, nota-se que os conceitos e teorias prprias ainda esto em

desenvolvimento e que sero necessrios muitos outros estudos para que a

temtica alcance a maturidade neste campo de conhecimento.

44

Apesar das diferentes abordagens de estudos sobre ontologia na filosofia e na

cincia da informao, importante ressaltar que a representao do

conhecimento, anlise de contedo de um conceito e as suas relaes fazem

parte, do objeto de estudo neste ltimo campo do conhecimento. Os estudos

sobre ontologias representam a oportunidade de aprofundar as pesquisas

aplicadas aos sistemas de informao na cincia da informao. Neste sentido,

destaca-se o interesse dos pesquisadores desta rea pelas ontologias como

ferramenta que possibilita a estruturao e a representao dos campos de um

domnio, o que otimiza a recuperao da informao e a gerao de

conhecimento.

O QUADRO 1, apresentado em seguida, mostra o conceito de ontologia do

ponto de vista da filosofia, da cincia da computao e da cincia da

informao.

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QUADRO 1 - Definioes de Ontologia em Filosofia, Cincia da Computao e Cincia da Informao

Filosofia Filosofia sob a anlise da cincia da . computao

Cincia da computao Cincia da informao

Sistema de categorias

Existncia: existe apenas as coisas temporais, aquelas relacionadas ao um certo perodo de tempo ao conceito existncia;

A obra de Aristteles Categorias. Apresenta dez categorias bsicas para classificar tudo o que existe. Ou seja, as categorias de Aristteles revelam sua viso ontolgica do mundo.

Como as ontologias de sistemas de informao, a ontologia filosfica considera o esquema conceitual e de conhecimento da esfera sob investigao Zuninga (2001);

Ontologia um "catlogo de tipos de coisas"

em que se supe existir um domnio, na perspectiva de uma pessoa que usa uma determinada linguagem Sowa (1999).

Ontologia" como um sistema particular de categorias que versa sobre certa viso do mundo. Por outro lado, em seu uso mais prevalecente na IA, uma ontologia referida como um artefato de engenharia, constitudo de um vocabulrio especfico usado para descrever certa realidade e um conjunto de pressupostos explcitos relacionados com o significado pretendido para as palavras do vocabulrio." Guarino (1998, p.2).

para os sistemas de Inteligncia Artificial o que existe o que pode ser representado Gruber (2008)

Envolve a utilizao de categorias semnticas, de conceitos significativos em um determinado domnio (que pode ser to amplo quanto o universo de conhecimento), juntamente com uma definio ou uma nota de escopo para cada conceito, e mecanismos para a exibio de suas relaes com outros conceitos.Vickery (1997)

Fonte: Compilado pela autora a partir dos autores Zuninga (2001; Sowa (1999).; Guarino (1998); Gruber (2008) e Vickery (1997)

46

O processo de levantamento dos elementos da realidade, que pertence a um

domnio especfico, apontado por Smith (2003). Ao pensar nestes

componentes, questes como quais os objetos, as coisas que existem ou no

e que fazem parte de um domnio especfico poderiam ser levantadas. Para

reforar este pensamento Smith (2003) afirma que:

Ontologia um campo da filosofia que estuda os constituintes da realidade. Uma ontologia de um determinado domnio descreve os componentes da realidade dentro de um domnio de uma forma sistemtica, assim como as relaes entre estes componentes e as relaes destes com os componentes de outros domnios. Expresses como domnio, constituinte, realidade e relao so elas prprias, expresses ontolgicas, assim como, tambm, os termos caracterstica, objeto, entidade, item, bem como, ser e existncia eles prprias (SMITH, p. 313, 2003).

Para Smith (2000), a ontologia a cincia do que existe, os tipos e as

estruturas dos objetos, propriedades, eventos, processos e relaes em toda

rea da realidade. Em seu trabalho, o autor afirma que Aristteles chamava a

ontologia de filosofia primeira e que esta se preocupava com o ser como um

todo. Assim, afirma Oliveira (s.d), estudar algo enquanto um ser estudar algo

sobre o qual possvel fazer predicaes verdadeiras. A filosofia primeira de

Aristteles no estuda um tipo particular de ser; estuda tudo, todo o ser,

precisamente enquanto tal. Pode-se dizer, ento, que os aspectos filosficos

compreendem a essncia da existncia ou da realidade. Tal preocupao,

tambm, colocada por Smith ( 2000, p.2):

Isto mostra a descrio da realidade em termos de classificao de entidades que exaustiva no sentido de que pode servir como uma resposta para cada questo como: quais as classes de entidades so necessrias para uma completa descrio e explicao de todos os acontecimentos do universo? Ou quais as classes de entidades so necessrias para dar uma dimenso do o que torna verdade todas as verdades? Ou quais as classes de entidades so necessrias para facilitar a elaborao de predicados sobre o futuro?

Outra pergunta que se poderia formular : quais categorias so necessrias

para explicar um mundo ou uma parte do mundo, que representa certo

domnio? Ao se pensar em tais categorias, na verdade, h um exerccio de se

47

pensar ou de se buscar explicaes nas frases, nas palavras que tornam essas

frases verdadeiras, e que so aceitas, para explicar determinados fatos19 .

Ressalta-se que o processo de pensar as categorias necessrias para explicar

o mundo, um determinado domnio ou o levantamento dos elementos da

realidade, conforme apontado anteriormente por Smith (2003), e a definio

semntica dos conceitos, relaes e atributos (Almeida, 2006), associado

definio de uma dada linguagem, est implcito na construo das ontologias

e em sua aplicao aos sistemas de informao.

As discusses acerca das ontologias aplicadas aos sistemas de informao e a

viso de diversos autores sobre as possibilidades de usos desta ferramenta

sero apresentadas em seguida na seo 2.1.3 Aplicao da ontologia aos

sistemas de informao.

2.1.3 Aplicao da Ontologia aos Sistemas de Informao

Essa seo discute como o termo ontologia aplicado na inteligncia artificial,

pela engenharia de software e pela cincia da informao, associado aos

diversos estudos realizados por essas reas do conhecimento para os

sistemas de informao. Esta parte compreende a identificao de alguns

elementos apontados pelos autores nas definies, nas caractersticas e nas

aplicaes de ontologia, dentre outros aspectos que sero apresentados a

seguir:

19 A noo de compromisso ontolgico foi introduzida por Quine (Willard Van Orman Quine (1908-2000) Para ele saber se algo existe necessrio, verificar as teorias da rea e identificar os conceitos existentes, quantos conceitos, quais so aqueles significativos, tipos de classes

de coisas que existem , enfim, ter um comprometimento com estas variveis para que seja possvel entender os esquemas conceituais

desenvolvidos.

48

A cincia do que existe, os tipos e as estruturas dos objetos,

propriedades, eventos, processos e relaes em toda rea da realidade;

Envolve atividades de anlise conceitual e modelagem do domnio;

Adoo de uma abordagem altamente interdisciplinar;

Descrio formal de um programa, dos conceitos e relaes que podem

existir para um agente ou para uma comunidade de agentes.

O entendimento do uso das ontologias, aqui apresentado, compreende a viso

de autores como Moreira; Alvarenga; Oliveira (2004), Dahlberg (1978c); Smith

(2000); Guarino & Giaretta (1995); Guarino (1998); Gruber (1992); Zuninga

(2001) e Guarino (1999).

Os estudos em ontologia tm sido desenvolvidos desde a dcada de 1980, na

cincia da computao, mais especificamente na inteligncia artificial e, em

geral, foram relacionados a projetos para organizao de grandes bases de

conhecimento e posteriormente, para a criao de bases de conhecimento

compartilhveis e reutilizveis. (MOREIRA; ALVARENGA; OLIVEIRA, 2004).

Mais recentemente, o tema ontologia aplicado aos sistemas de informao e

toda a sua potencialidade de pesquisa e de uso, tem sido objeto de diversos

estudos na cincia da informao.

Os estudiosos, desse campo do conhecimento, entendem que pesquisas em

ontologias podem oferecer contribuies para desenvolver a temtica aplicada

aos sistemas de informao, a recuperao da informao e a gesto do

conhecimento. Com isto, observou-se que a cincia da informao, por sua

caracterstica de fazer interseo com outros campos do saber, tem buscado

suporte terico em estudos realizados em outras cincias que tambm fazem

pesquisas aplicadas aos sistemas de informao. Para o desenvolvimento

desses estudos, a cincia da informao tem usado as pesquisas realizadas na

cincia da computao (IA) e engenharia de software como referncia para o

desenvolvimento de suas pesquisas. Eventos tcnicos tm sido desenvolvidos

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com o objetivo de aproximar as comunidades cientficas, na tentativa de

possibilitar o compartilhamento do conhecimento gerado nesse campo e

oriundo de diversos esforos de estudos.

Para Guarino e Giaretta (1995), a ontologia como disciplina da filosofia lida

com a natureza e a organizao da realidade. Nesse sentido, Guarino (1998)

afirma que o termo ontologia apenas um nome, que em alguns casos,

envolve atividades de anlise conceitual e modelagem do domnio. Para o

autor, existe uma diversidade de pesquisas e as aplicaes tm sido

reconhecidas por muitas reas do conhecimento. Do ponto de vista das

aplicaes voltadas aos sistemas de informao, o autor discute as suas

peculiaridades levando em conta os aspectos metodolgicos e da sua

arquitetura e, assim, ele afirma que:

A principal peculiaridade a adoo de uma abordagem altamente interdisciplinar, onde filosofia e lingstica desempenham um papel fundamental na anlise da estrutura de uma dada realidade em um alto nvel de generalidade e na formulao de um vocabulrio claro e rigoroso. Sobre a arquitetura, o aspecto mais interessante o papel central que uma ontologia pode ocupar em um sistema de informao. (GUARINO, 1998, p.3)

Para Gruber (1992), na cincia da computao o termo ontologia uma

especificao de uma conceitualizao. Segundo o autor, o termo

emprestado da filosofia onde uma ontologia uma explicao sistemtica da

existncia. J no contexto do compartilhamento do conhecimento, o uso do

termo ontologia bem diferente daquele adotado e amplamente discutido na

filosofia. Em seu trabalho sobre ontologia, Gruber (1992) mostra que para os

estudiosos da rea de inteligncia artificial (IA) a abordagem diferente, isto :

uma ontologia uma descrio (como uma descrio formal de um programa)

dos conceitos e relaes que podem existir para um agente ou para uma

comunidade de agentes.

O termo ontologia foi adotado pelos pesquisadores da rea de inteligncia

artificial. Smith (2000) e Gruber (2008) afirmam que estes estudiosos

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reconheceram a aplicabilidade do trabalho da lgica matemtica e

argumentaram que eles poderiam criar uma nova ontologia, um modelo

computacional, capaz de automatizar certos tipos de raciocnio. Gruber (2008)

afirma que Hayes em seu The Second Naive Physics Manifesto20 aponta que a

comunidade de IA passou a usar o termo ontologia com dois significados:

primeiro para se referir a uma teoria de um mundo modelado e,depois como

um componente de um sistema de conhecimento.

Guarino (1998), tambm, afirma que em IA,

Uma ontologia refere-se a um artefato de engenharia, constitudo por um vocabulrio especfico usado para descrever uma determinada realidade, mais um conjunto de pressupostos explcitos quanto ao significado do vocabulrio destinados s palavras. (GUARINO, 1998, p.3).

Gruber (1993, 2008) trata a ontologia como uma especificao explcita de

uma conceitualizao, entretanto, ressalta que os termos especificao e

conceitualizao causaram muitas discusses. Ele afirma que os pontos

principais dessa definio so os elementos: os conceitos, os relacionamentos,

um vocabulrio representado pelas classes e as relaes e significados que

favoream o