CENA 1 - INT. CASA DO LENHADOR - MANHà· Longos minutos se passaram enquanto o velho lenhador...

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CENA 1 - INT. CASA DO LENHADOR - MANHÃ Era uma manhã como outra qualquer. Ainda cedo, já era possível ouvir o canto dos pássaros ao longe, os primeiros raios de sol invadindo, um por um, com a mesma letargia com a qual o lenhador se colocava a despertar, os pequenos espaços entre as janelas de madeira. O homem, já idoso, casado, porém sem filhos ou animais de estimação, colocou-se a levantar com lentidão, jogando os braços para o alto no espreguiçar vagaroso, seguido de um grunhido protestante, conforme as partes do corpo ganhavam vida e os objetivos passavam a serem listados, um por um em sua mente. Tão perto da rigorosa estação do inverno, lenha tornava-se uma prioridade na vida do casal de senhores, de modo que aquela manhã seria destinada à busca de madeira. CENA 2 - EXT. PASSEIO ATÉ AS MONTANHAS - MANHÃ Após se agasalhar para que pudesse se proteger dos ventos frios da manhã, apesar dos raios de sol que incidiam sobre sua pele, e com o machado preso em suas costas, se despediu de sua esposa, passando a seguir caminho pela densa floresta, rumo às montanhas, onde lhe fora dito que havia madeira aos montes, e de boa qualidade, assim ele não teria de se preocupar pelos próximos meses, quando o inverno batesse em sua porta. Com isso em mente, ele seguiu para tão longe, na ânsia por conseguir uma enorme quantidade de lenha, que o caminho que, supostamente, deveria ser fácil, tomou grande parte do dia do lenhador, até que por obvio, ele concluiu que estava perdido. Após insistir em suas andanças e prestes a se acometer por um enorme desespero, foi então que, ainda ao longe, mas o bastante para que pudesse ser ouvida, uma música chegou aos ouvidos daquele senhor, instigando sua curiosidade, conforme os pés passaram a ser guiados pelo som. E quanto mais próximo da música se tornava, também podia sentir um delicioso aroma de comida e bebida, que fez sua barriga roncar em protesto pelas horas e energias gastas até ali. CENA 3 - EXT. ENCONTRO COM OS MACACOS - TARDE Quanto mais a música tornava-se alta e o cheiro de comida e bebida, tentadores, mais o lenhador acelerava as passadas, esperançoso por encontrar com um grupo de pessoas que, além de compartilharem com ele um pouco de sua alegria e alimentos, provavelmente poderiam ajudá-lo a encontrar o caminho de volta para casa. Seguiu subindo por um monte, e aproximou-se com cautela. Não queria ser visto antes de observar de quem se tratava, tampouco passar uma imagem amedrontadora àqueles que lhe serviriam de ajuda. Contudo, ao esconder-se atrás de uma moita,

Transcript of CENA 1 - INT. CASA DO LENHADOR - MANHà· Longos minutos se passaram enquanto o velho lenhador...

CENA 1 - INT. CASA DO LENHADOR - MANHÃ

Era uma manhã como outra qualquer. Ainda cedo, já era

possível ouvir o canto dos pássaros ao longe, os

primeiros raios de sol invadindo, um por um, com a mesma

letargia com a qual o lenhador se colocava a despertar,

os pequenos espaços entre as janelas de madeira. O homem,

já idoso, casado, porém sem filhos ou animais de

estimação, colocou-se a levantar com lentidão, jogando os

braços para o alto no espreguiçar vagaroso, seguido de um

grunhido protestante, conforme as partes do corpo

ganhavam vida e os objetivos passavam a serem listados,

um por um em sua mente. Tão perto da rigorosa estação do

inverno, lenha tornava-se uma prioridade na vida do casal

de senhores, de modo que aquela manhã seria destinada à

busca de madeira.

CENA 2 - EXT. PASSEIO ATÉ AS MONTANHAS - MANHÃ

Após se agasalhar para que pudesse se proteger dos ventos

frios da manhã, apesar dos raios de sol que incidiam

sobre sua pele, e com o machado preso em suas costas, se

despediu de sua esposa, passando a seguir caminho pela

densa floresta, rumo às montanhas, onde lhe fora dito que

havia madeira aos montes, e de boa qualidade, assim ele

não teria de se preocupar pelos próximos meses, quando o

inverno batesse em sua porta. Com isso em mente, ele

seguiu para tão longe, na ânsia por conseguir uma enorme

quantidade de lenha, que o caminho que, supostamente,

deveria ser fácil, tomou grande parte do dia do lenhador,

até que por obvio, ele concluiu que estava perdido. Após

insistir em suas andanças e prestes a se acometer por um

enorme desespero, foi então que, ainda ao longe, mas o

bastante para que pudesse ser ouvida, uma música chegou

aos ouvidos daquele senhor, instigando sua curiosidade,

conforme os pés passaram a ser guiados pelo som. E quanto

mais próximo da música se tornava, também podia sentir um

delicioso aroma de comida e bebida, que fez sua barriga

roncar em protesto pelas horas e energias gastas até ali.

CENA 3 - EXT. ENCONTRO COM OS MACACOS - TARDE

Quanto mais a música tornava-se alta e o cheiro de comida

e bebida, tentadores, mais o lenhador acelerava as

passadas, esperançoso por encontrar com um grupo de

pessoas que, além de compartilharem com ele um pouco de

sua alegria e alimentos, provavelmente poderiam ajudá-lo

a encontrar o caminho de volta para casa. Seguiu subindo

por um monte, e aproximou-se com cautela. Não queria ser

visto antes de observar de quem se tratava, tampouco

passar uma imagem amedrontadora àqueles que lhe serviriam

de ajuda. Contudo, ao esconder-se atrás de uma moita,

observou que aquela comemoração toda não se tratava de

pessoas, mas sim, de um grande bando de macacos. Eles

dançavam, cantavam, comiam e bebiam em grande celebração,

e desse modo, a presença do homem passou despercebida. Já

o lenhador tornou-se boquiaberto com o que via, chegando

a duvidar de seu próprio juízo, afinal, aquela não era

uma cena comum aos olhos de um ser humano.

2.

CENA 4 - EXT. SIGA O MACACO - TARDE

Longos minutos se passaram enquanto o velho lenhador

observava com esmero os macacos imersos em sua própria

celebração, até que, por fim, um deles encheu uma cabaça

com vinho e despediu-se dos demais companheiros. Por fim,

o lenhador decidiu segui-lo, tentado pela curiosidade e

vontade de provar da bebida que o macaco carregava. Ainda

ao longe, observou quando o animal se deteve na metade do

caminho. Tendo sentido o peso da cabaça como algo além do

que poderia carregar, o jovem macaco despejou um pouco do

líquido em uma jarra, e guardou o resto da bebida dentro

da casca de uma das árvores, só então desaparecendo pela

floresta no seu retorno alegre para casa.

CENA 5 - EXT. FLORESTA - TARDE

Tendo assistido tudo, escondido atrás de uma árvore,

assim que percebeu estar sozinho outra vez, o lenhador

caminhou até o lugar onde o macaco havia escondido a

bebida. Ao sentir o cheiro de vinho fresco, ele se

maravilhou, e apressou-se em encontrar o caminho para

casa. Se assim o fizesse, contaria suas aventuras para a

esposa, e com ela repartiria da bebida maravilhosa que

jazia em suas mãos. CENA 6 - EXT. LADO DE FORA DA CASA DO

LENHADOR - TARDE

Ainda que lentamente, o sol já começava a se pôr no

horizonte quando a mulher do lenhador se distraiu de suas

tarefas para fitar o céu, o coração apreensivo com a

ausência do marido, quando faltava tão pouco para

escurecer. Foi então que ouviu uma canção vinda dos céus,

e ao procurar por sua origem, deparou-se com um grupo de

pardais dançando no céu. Cada qual carregava uma bebida

com um cheiro tão bom, que ela se sentiu tentada a beber

um gole. Assim, quando a comemoração dos pardais se deu

por encerrada, a senhora conseguiu esconder uma das

bebidas em baixo de seu manto, e correu para casa,

ansiosa pelo retorno do marido, assim poderiam

compartilhar daquela bebida maravilhosa.

CENA 7 - INT. CASA DO LENHADOR - NOITE

Já era noite quando o lenhador retornou para casa, e

ansioso, assim que encontrou-se com a esposa, contou

sobre suas aventuras. Ela também contou as próprias, e

cada qual trocou suas bebidas, para que pudessem provar.

Assim que o fizeram, os dois começaram a cantar e dançar

de maneira vigorosa, no entanto, a mulher dançava e

saltitava como um macaco, enquanto que o homem balançava

os braços num bater de asas e movia o corpo de maneira

delicada, como os pardais.

3.

CENA 8 - INT. CASA DO LENHADOR - NOITE

Tendo feito tanto barulho, o casal acabou atraindo a

atenção da vizinhança, até que um dos vizinhos resolveu

visitar a casa animada, para descobrir o que acontecia.

Assim, ainda dançando e cantando, eles contaram sobre

suas aventuras, e foram sugeridos para que trocassem as

bebidas. Foi o que fizeram, e dessa forma, a mulher

passou a dançar e cantar de forma graciosa, enquanto o

lenhador passou a festejar de maneira animada, como os

macacos. Após isso, eles se tornaram tão felizes e

populares, que todos passaram a imitar o lenhador e sua

esposa.

Música escolhida: Path of the Wind – Joe Hisaishi