Cenários Juvenis e Letramento Literário

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CENÁRIOS JUVENIS E LETRAMENTO LITERÁRIO UNIDADE - 3 ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 1 Autor Henrique Eduardo Sousa

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CENÁRIOS JUVENIS E LETRAMENTO LITERÁRIO 

UNIDADE - 3

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Autor Henrique Eduardo Sousa 

 

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CENÁRIOS JUVENIS E LETRAMENTO LITERÁRIO 

UNIDADE - 3

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 

 

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO  

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CENÁRIOS JUVENIS E LETRAMENTO LITERÁRIO ‐ Unidade ‐ 3 Professor Pesquisador/Conteudista HENRIQUE EDUARDO SOUSA Direção da Produção de Material Didático ARTEMILSON LIMA Design Instrucional ILANE CAVALCANTE Coordenação de Tecnologia ELIZAMA LEMOS Revisão Linguística Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva  Formatação Gráfica JULIO FEITOSA MAYARA DE ALBUQUERQUE MARCELO POLICARPO   

 

GOVERNO DO BRASIL 

Presidente da República DILMA VANA ROUSSEFF 

Ministro da Educação FERNANDO HADADD 

Reitor do IFRN BELCHIOR DA SILVA ROCHA 

Diretor do Campud EAD ERIVALDO CABRAL Diretora de ensino 

ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE Coordenadora da UAB/IFRN 

ILANE FERREIRA CAVALCANTE Coordenadora da Especialização em Língua Portuguesa e Matemática numa Perspectiva

Transdisciplinar  

MARÍLIA GONÇALVES BORGES SILVEIRA 

 

 

 

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FICHA CATALOGRÁFICA

 

 

 

 

 

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CENÁRIOS JUVENIS E LETRAMENTO LITERÁRIO 

UNIDADE - 3

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 

 

UNIDADE 03:  

 

CENÁRIOS JUVENIS E LETRAMENTO LITERÁRIO  

 

    APRESENTANDO A UNIDADE 

 

 

Nesta última parte do nosso curso, vamos refletir sobre o  lugar  da  literatura  nas  experiências  culturais,  afetivas  e linguísticas  dos  adolescentes  e  dos  jovens.  Nesse  percurso, comentaremos  a  crônica  Presente  para  a  mãe  de  um adolescente,  de  Rubem  Alves,  destacando  a  pertinência  desse gênero  nas  práticas  de  leitura  literária  na  escola;  de  cunho teórico e analítico, pontuaremos as  idéias de Cyana Leahy‐Dios em seu artigo A educação literária de jovens leitores: motivos e desmotivos; assistiremos ao filme As melhores coisas do mundo, da diretora carioca Laís Bodanzkye; por fim, vamos ler a novela O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson. Este terceiro módulo  do  nosso  curso  trata  de  uma  das  questões  mais urgentes  da  nossa  cultura:  a  formação  de  leitores  literários mediada pela instituição escolar. Então, o nosso olhar transitará entre  os  mundos  imaginários  entrevistos  no  grafo  da  letra literária e o mundo dos adolescentes e dos jovens que, também, projeta outros imaginários ‐ do corpo, dos afetos, do consumo, das amizades. 

OBJETIVOS 

Para este módulo, os objetivos buscam levar você, cursista, a 

1. Apreender  os  conceitos  de  letramento  literário  e  educação  literária, relacionando‐os à formação de leitores literários na escola; 

2. Analisar aspectos inerentes às práticas do letramento literário na escola: a seleção de textos e a proposição de atividades de leitura; 

3. Elaborar material didático.  

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UNIDADE - 3

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 

 

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

 

TEXTO 1 

Começaremos  com  a  leitura  da  crônica  “Presente  para  a  mãe  de  um adolescente”, de Rubem Alves.  

 

          

Querida Mãe: Se eu  tivesse poder para homenageá‐la na  televisão, eu  faria  coisa  muit  simples:  apenas  uma  imagem  silenciosa,  talvez  a  Pietà,  de Michelangelo, ou a Mãe amamentando o filho, de Picasso, ou a tela de Vermeer,   Mulher  lendo uma carta. Só a  imagem com a palavra “maternidade”.  Você  se  sentiria  mais  bonita,  descobrindo‐se  bela  na fantasia dos artistas.  

Mas  nada  disso  se  fez.  Você  deve  estar  cansada  de  ver  as  ofensas que  a  televisão  lhe  faz,  que  nos  seus  anúncios  a  descreve  como  uma pessoa vulgar e oca. “Temos tudo para fazer sua mãe feliz”, diz o anúncio idiota de uma cadeia de  lojas. Uma mulher cuja  felicidade é  igual a um eletrodoméstico!  Que  felicidade  barata:  é  comprada  com  um liquidificador, um forno de microondas, um secador de cabelo. Um outro anúncio diz assim: “Não esqueça o dia 14 de maio. Porque mãe cobra”.  

Foi pensando nisso que resolvi dar às mães dos adolescentes o maior de todos os presentes possíveis no dia de hoje. Eu sei o quanto sofrem as mães e os pais dos adolescentes. Freqüentemente eles me procuram com 

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um pedido: “ Por favor, ajude‐nos a resolver o problema do nosso filho!”.  Pois é esse o meu presente que quero declarar, baseado em  longa 

experiência,  que  vocês  não  têm  problema  algum.  Esqueçam  –se  dele, porque ele não existe. É tudo imaginação. Durmam bem!  

Acham  que  estou  brincando?  Nunca  falei  tão  sério.  O  que  é  um problema? 

Você  está  fazendo  tricô.  De  repente  a  linha  se  enrola,  dá  um  nó. Você não pode tricotar com a linha embaraçada. Problema é isso: alguma coisa que perturba ou  impede um curso de ação. Mas não é  só  isso. O que  caracteriza  um  problema  é  a  possibilidade  de  solução.  Você  sabe que,  com  astúcia  e  paciência,  você  pode  desfazer  o  nó.  Se  não  tem solução não é problema.  

É  noite.  Você  se  prepara  para  fazer  tricô.  Aí  você  descobre  que  o cachorro mastigou e partiu uma de suas agulas. Agora você só tem uma agulha.  Não  há  jeito  de  fazer  tricô  com  uma  agulha  só.  Sua  ação  foi interrompida,  mas  você  não  tem  um  problema  porque,  por  mais  que você pense, não há  formas de  fazer  tricô com uma mão só. Então você põe a linha de lado e vai fazer outra coisa.   

Assim  é  a  adolescência:  ela  não  é  problema  pela  simples  razão  de que, por mais que você pense, não há solução. 

Vou, então, dizer a você os dois conselhos definitivos para lidar com seu filho ou filha adolescente.  

Primeiro: não faça nada. Não tente fazer nada. Tudo o que você fizer estará sempre errado. Não se meta. Não diga nada. Não dê conselhos.  

Isso pode parecer totalmente irresponsável. O amor dos pais diz que eles  devem  tentar,  no  limite  das  suas  forças,  ajudar  os  seus  filhos.  De acordo.  Só  que  há  situações  em  que,  se  você  tentar  ajudar,  você atrapalha. Jay W. Forrester, professor de administração do Massachsetts Institute of Technology, enunciou uma lei para as organizações que diz o seguinte:  “Em  situações  complicadas,  esforços  para  melhorar  as  coisas freqüentemente  tendem a piora‐las,  algumas vezes a piora‐las muito,  e em  certas  ocasiões  a  torna‐las  calamitosas.”  Imagino  que  o  professor descobriu essa lei ao lidar com o seu filho adolescente. Pois é exatamente isso que acontece.   

Muitos séculos atrás o  taoísmo chegou à mesma conclusão. Está  lá dito no seu livro sagrado, o  Tão Te Ching: “O tolo faz coisas sem parar, e tudo permanece por fazer. O sábio nada faz para que tudo o que deve ser feito  se  faça”.  Para  o  taoísmo  a  suprema  expressão  da  sabedoria  é refrear‐se da  tentação de  fazer. Não  faça. Só olhe de  longe. A vida  tem sua própria sabedoria. Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar o broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que têm de acontecer de dentro para fora.  

Mesmo  porque,  se  é  que  você  ainda  não  se  deu  conta  disso,  o adolescente  não  está  interessado  em  fazer  a  coisa  certa;  ele  está interessado  em  fazer  a  coisa  dele.  Ora,  se  você  lhe  disser  o  que  é 

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razoável, esse razoável passara a ser coisa do pai ou da mãe. Fazer a coisa certa,  então,  será  confessar  uma  condição  de  dependência  e inferioridade,  o  que  é  impensável  e  insuportável  para  um  adolescente. Ele se sentirá, então, obrigado a fazer o contrário.  

Lembgro‐me  de  uma mãe  de  uma  adolescente  de  13  anos  que  se lamentava:  “As  alternativas  eram  claras.  De  um  lado  uma  opção  boa, racional,  razoável.  Do  outro  ,  uma  idiotice  completa.  Expliquei  tudo direitinho para ela. Sabe o que ela fez? Escolheu a idiotice. Por quê? “ E eu  lhe  respondi:  “  Porque  a  senhora  lhe disse  o  que  era  razoável.  Se  a senhora nada tivesse dito, haveria a possibilidade de que ela escolhesse uma das duas alternativas. No momento em que a senhora disse que a sua opção seria a primeira, ela foi obrigada a optar pela segunda. “  

Segundo:  fique  por  perto,  para  juntar  os  cacos.,  Os  cacos,  quando não  são  fatais,  podem  ter  um efeito  educacional. Na  verdade,  de  nada vale  ficar  ansioso,  ficar  acordado,  ficar  agitado.  Esses  estados  em nada vão  alterar  o  rumo  das  coisas.  O  adolescente  é  uma  entidade  que escapuliu do seu controle.  

A  ilusão  de  que  há  algo  que  pode  ser  feito  deixa‐nos  ansiosos  por não saber que algo é esse. No momento em que você percebe que nada há a  se  fazer, a  tranqüilidade volta. Aí  você  fica  livre para  fazer as  suas coisas. Não permita que a  loucura do seu  filho adolescente  tome conta de  você.  Vá  ao  cinema.  Vá  passear  com  o  seu  marido.  Mostre  aos adolescentes que eles não têm o poder de estragar a sua vida. Não perca, inutilmente, uma noite de sono. Lembre‐se de que os adolescentes, nas festas da Pachá, nem sequer se lembram de que você existe.  

Durma bem. Feliz Dia das Mães.    

CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO  

Ao  discutir  os  modos  de  composição  do  gênero  crônica,  o  crítico  literário Antônio  Cândido  (1992)  nos  lembra  que  esse  gênero  possui  aparentemente  uma composição  solta,  tratando  de  coisas  sem  necessidade,  visto  que  aborda  situações cotidianas.  A  linguagem  utilizada,  por  sua  vez,  só  reforça  isso,  já  que  apresenta linguisticamente  o  nosso  modo  de  ser.  O  autor  reforça  ainda  que,  com  esses mecanismos,  o  gênero  acaba  humanizando  e  como  resultado  compensador  e sorrateiro, propicia certa profundidade de significado com acabamento da forma, que a tornam uma candidata discreta à perfeição. 

“Ora,  a  crônica  está  sempre  ajudando  a  estabelecer  ou  restabelecer  a dimensão das  coisas e das pessoas. Em  lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada  de  adjetivos  e  períodos  candentes,  pega  o  miúdo  e  mostra  nele  uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitada. Ela é amiga da verdade e da poesia  nas  suas  formas mais  diretas  e  também  nas  suas  formas mais  fantásticas,  ‐ sobretudo porque quase sempre utiliza o humor”. 

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ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ENSINO 

Sistematizando  os  traços  característicos  da  crônica,  vejamos  os  tópicos sugeridos por  Irene Machado  (1994): a) A crônica é um gênero  literário que valoriza fatos  e  acontecimentos  do  dia‐a‐dia,  narrando‐os  de  uma  forma  simples  e descontraída;  b)  O  jornal  foi  o  primeiro  veículo  de  divulgação  da  crônica.  Nele  os cronistas exercitavam uma  forma  inovadora de  falar  sobre as notícias da semana; c) Há vários tipos de crônica: humorística, crítica, paródica, reflexiva, lírica e também há crônicas  que  “falam”  da  crônica;  d)  Qualquer  assunto  pode  entrar  numa  crônica, desde que ele seja apresentado de modo descontraído, sem nenhuma complicação; e) A  crônica  valoriza  o  episódico,  o  pitoresco;  não  há  lugar  para  muitas  descrições, detalhes sobre personagens e  longas discussões de  idéias. A crônica é uma narrativa breve e o final é sempre surpreendente. 

 

SELEÇÃO  DE  TEXTOS  PARA  AS  PRÁTICAS  DE  LEITURA  LITERÁRIA  NA ESCOLA 

Os fatores determinantes, segundo Cosson (2006), quanto à seleção de textos na escola apresentam‐se na seguinte ordem: em primeiro lugar, as escolhas dos textos orientam‐se pelas prescrições dos programas curriculares, ou seja, tais escolhas estão relacionadas  aos  elementos  do  processo  de  escolarização  (Objetivos  de  leitura,  por exemplo); em segundo  lugar,  a questão da  legibilidade dos  textos, de acordo com a faixa etária ou série escolar  também definem os  textos que serão  lidos; um terceiro fator está ligado às condições materiais oferecidas pela escola, a fim de que a leitura se concretize, nesse caso, o autor se refere à situação gravíssima na qual se encontram as  bibliotecas  das  escolas  brasileiras;  e,  finalmente,  o  quarto  fator,  o  mais determinante, reside na figura do professor, nas escolhas do professor de acordo com o seu repertório de leituras. 

Considerando esses  fatores,  ainda  segundo Cosson,  as escolhas do professor, mediante as contribuições da teoria e da crítica literárias, direcionam‐se em função de três  aspectos. O primeiro  direcionamento,  fundado numa perspectiva  tradicional  do ensino de literatura, está nas escolhas textuais a partir do quadro canônico das obras da literatura brasileira. Outra direção refere‐se à contemporaneidade dos textos que, desse  modo,  diminuiria  a  distância  em  o  texto  e  o  aluno  no  que  diz  respeito  ao tratamento  dos  temas  e  a  elaboração  da  linguagem.  Uma  terceira  direção,  que aglutina  as  anteriores,  propõe  a  pluralidade  e  a  diversidade  de  autores,  obras  e gêneros na seleção de textos, postura, inclusive, mais popularizada.  

 

O GÊNERO CRÔNICA COMO POSSIBILIDADE DE INICIAÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS NA ESCOLA 

A problemática da leitura e da literatura no espaço escolar, objeto de reflexão de determinadas áreas do conhecimento como a didática do ensino de língua materna e a linguística aplicada, abrange questões por demais amplas e complexas. Com efeito, 

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ainda continuará por muito  tempo ocupando professores, pesquisadores, e gestores educacionais que se preocupam com as relações entre literatura e ensino na educação básica.  Por  enquanto  e  tendo  em  vista  os  objetivos  do  nosso  curso,  estamos empenhados  na  sistematização  de  ações  didático‐pedagógicas  que,  de  maneira positiva, articulem o texto literário, o leitor jovem e as cenas de aulas. Nesse sentido, estamos sugerindo para iniciação aos estudos literários, preferencialmente, no 1º ano do Ensino Médio, o trabalho de leitura com o gênero crônica. Vamos aos argumentos que subsidiam nossa sugestão: 

a)  A  diversidade  dos  suportes  onde  o  gênero  circula,  ou  seja,  jornais  de circulação  nacional,  jornais  de  circulação  restrita  (estadual, municipal,  no  bairro,  na associação de moradores, na escola entre outros),  revistas nacionais e  locais, mídias eletrônicas (redes sociais, blogs, face books e outros), enfim, em murais, em quadros de aviso...; 

b) A questão da acessibilidade ao texto em razão da diversidade de suportes; 

c) Os elementos  característicos do gênero  apontados por Antonio Candido e Irene  Machado,  nas  citações  precedentes.  Nas  práticas  escolarizadas  da  leitura literária,  a  presença  da  crônica  promove  a  desmistificação  do  objeto  sacralizado  da literatura,  desfaz  a  ideia  do  senso  comum  de  que  “ler  literatura”  trata‐se  de  um empenho  por  demais  intelectualizado  e  restrito  a  pequenos  grupos.  Outrossim,  nas cenas de aula, a crônica traz para perto do aluno o vasto e surpreendente registro das coisas do mundo e da vida, que  só a  literatura produz de um  jeito  tão  sofisticado e simples. 

 

O PRESENTE PARA AS MÃES E PARA OS ALUNOS 

Faremos,  agora,  alguns  comentários  acerca  da  crônica  de  Rubem  Alves, pontuando aspectos  caracterizadores do gênero os quais  se mostram  relevantes em face das atividades de leitura em sala de aula. 

Um aspecto diz  respeito  ao  assunto  tratado no  texto,  por  isso merece nosso olhar  atento.  A  partir  de  uma  data  comemorativa  festejada  tanto  nos  círculos familiares  quanto  pelo mercado  de  consumo  ‐  o  dia  das mães,  o  cronista  traça  um perfil dos comportamentos dos adolescentes de modo singular. Nesse sentido, o teor da discussão apresentada na crônica além de corresponder às expectativas dos jovens, pois trata de problematizar as relações entre pais e filhos, critica de forma substancial a interferência negativa das injunções mercadológicas nas relações afetivas da família. No caso, a imagem materna ligada à aquisição de eletrodomésticos é rejeitada e, em seu lugar, se coloca a fantasia das artes plásticas, o potencial artístico redefinindo um tipo  de  convivência  primordial:  a  mãe  e  o  filho.  Percebemos,  aqui,  o  sentido humanizador  de  que  fala  Antonio  Candido.  Quanto  à  elaboração  da  linguagem,  a forma simples e descontraída do cronista vale‐se de breves exercícios argumentativos ao  tentar  definir  o  que  seja  um  problema,  como  também,  aos  dois  conselhos 

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direcionados  às  mães.  Um  dado  importante  refere‐se  ao  tom  coloquial  do  texto, sobretudo, nas interpelações do cronista para com o seu possível interlocutor, ou seja, as mães. Considerando uma tipologia do gênero, a crônica de Rubem Alves pode ser nomeada de  crítico‐reflexiva,  uma  vez  que  analisa  uma determinada  visão do  senso comum e aponta outras possibilidades de compreensão das relações familiares. 

TEXTO 2 

Tomando como referência o ensaio “A educação literária de jovens leitores: motivos e  desmotivos”,  de  Cyana  Leahy‐Dios, teceremos  comentários  acerca  de  dois encaminhamentos teóricos que consideramos fundamentais  ao  se  refletir  sobre as práticas escolarizadas da leitura literária: o letramento e a educação literária. Essa duas perspectivas teóricas convergem ao conceberem o ato de leitura como uma prática social. Então, o que significa  essa  concepção?  De  modo  geral,  a leitura  enquanto  prática  social  relaciona‐se aos  processos  interativos  estabelecidos  nas diversas  cenas  sociais,  através  de  textos escritos. Noutras palavras, as nossas representações políticas, sociais e culturais serão construídas  tendo  como  suporte  nossas  experiências  de  leitura  as  quais  projetam sentidos, elaboram posturas, enfim, estabelecem um lastro de criticidade exigido pelas demandas das sociedades letradas.  

O  ensaio  começa  narrando  três  casos  em  que  a  experiência  de  leitura  é responsável  por  alterações  no  comportamento  social  dos  sujeitos  envolvidos.  Em espaços  e  circunstâncias  distintas,  nas  atividades  do  Teatro  Experimental  do  Negro (TEN),  nos  anos  1950,  no  Rio  de  Janeiro;  na  impressa  francesa  no  século  XVIII  e  no ambiente  familiar,  na  zona  rural  do  sul  de Minas Gerais  em  2005,  o  contato  com  a leitura fomentou mudanças significativas do ponto de vista social, político e cultural. Valendo‐nos das palavras da autora: “Tudo se inicia com a aproximação do livro como objeto de desejo, de mudança, de conquista, de posse”. Nessa indicação da autora, já vislumbramos  um  dos  princípios  metodológicos  que  entornam  as  práticas  do letramento, ilustrados nos três casos por ela citados. Dito isso, vamos ao exercício de algumas definições. 

 

LETRAMENTO 

Letramento  é  o  que  as  pessoas  fazem  com  as  habilidades  de  leitura  e  de escrita,  em um contexto  específico,  e  como essas  habilidades  se  relacionam com as necessidades, valores, e práticas sociais. Em outras palavras, letramento não é pura e simplesmente um conjunto de habilidades individuais, mas sim o conjunto de práticas 

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sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social.( SOARES, 2006, p.72). 

 

LETRAMENTO LITERÁRIO  

Propomos  definir  letramento  literário  como  o  processo  de  apropriação  da literatura, enquanto construção literária de sentidos. (PAULINO; COSSON, 2009, p. 67). 

 

CONDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA O LETRAMENTO LITERÁRIO NA ESCOLA  

Para  que,  de  fato,  o  letramento  literário  aconteça,  são  necessárias  algumas condições. Paulinoe Cosson (2009,p. 74‐76) listam as seguintes: 

• Contato direto e constante com o texto literário; • Estabelecimento de uma comunidade de leitores na qual se 

respeitem a circulação dos textos e as possíveis dificuldades de resposta à leitura deles; 

• Ampliar  e  consolidar  a  relação  do  aluno  com  a  literatura. Nessa  perspectiva,  é  importante  que  o  aluno  compreenda que  a  literatura  se  faz  presente  em  sua  comunidade  não apenas  nos  textos  escritos  e  reconhecidos  como  literários, mas  também em outras  formas que expandem e ajudam a constituir o sistema literário; 

• A interferência crítica, ou seja, o papel a ser cumprido pelo professor na formação do aluno, na educação literária; 

• O lugar da escrita na interação com a literatura. Nesse caso, são  interessantes  os  exercícios  de  paráfrase,  estilização, paródia e outros procedimentos de apropriação dos  textos com  seus  recursos  que  promovem  um  diálogo  criativo  do aluno  com  o  inverso  literário  e,  por  meio  dele,  com  a linguagem em geral.  

EDUCAÇÃO LITERÁRIA 

Estudar  literatura  é  essencial  ao  processo  de  educar  sujeitos  sociais,  por  se tratar  de  uma  disciplina  sustentada  por  um  triângulo  interdisciplinar  composto  pela combinação assimétrica de estudos da língua, dos estudos culturais e estudos sociais. (LEAHY‐DIOS, 2000, p.16).  

Em síntese, as ideias de letramento e de educação literária estão ancoradas em concepções  teóricas  semelhantes.  Um  dos  aspectos  dessas  afinidades  de  princípios está  na  dimensão  de  coletividade,  de  agrupamento,  de  socialização  subjacente  às 

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habilidades  de  leitura  e  de  escrita  promovidas  pelo  letramento,  que  extrapolam  a aquisição de tecnologias da escrita (alfabetização), e tenta assegurar uma participação efetiva dos indivíduos em sua realidade concreta ‐ classe social, comunidade, situação econômica, hábitos culturais, etc. Do mesmo modo, a educação literária, ao articular os  saberes  da  língua,  da  sociedade  e  da  cultura,  através  dos  exercícios  de  análise  e interpretação de  textos  literários  com vistas a  formar cidadãos,  também  investe nas dinâmicas do coletivo. Talvez, aqui, a  figura solitária do  leitor de obras  literárias seja dissipada. Ou melhor, a figura do leitor ensimesmado diante do romance, do poema, do drama deva permanecer enquanto uma imagem aurática. Na verdade, essa solidão do leitor está composta de muitas vozes ‐ dos poetas, das culturas e das linguagens. O escritor argentino Jorge Luis Borges sempre se  lembrava dos amigos que a  literatura havia lhe dado ao se referir aos escritores muito distantes no tempo e no espaço. Essa dimensão  coletiva  do  letramento  e  da  educação  literária  presentifica‐se  no  espaço singular de nossos interesses: a escola. 

Ao tratar da leitura na escola, Leahy‐Dios afirma que “a escola é o espaço ideal para a problematização e discussão da  integração política, cultural e social de  jovens brasileiros,  através  da  leitura  e  análise  de  textos  variados,  literários  ou  não”.  No entanto, essa escola não é qualquer uma, trata‐se da escola pública no Brasil. Daí, os problemas são muitos e difíceis, uma vez que as instituições públicas de ensino básico no país  encontram‐se quase  sempre  “em estado pré‐falimentar”,  conforme palavras da autora. Mesmo assim e por isso mesmo, iremos comentar, seguindo a progressão do texto de Cyana, alguns aspectos que todos já estão cansados de saber, mas que sua reiteração projeta  caminhos para  amenizá‐los:  a  situação do ensino de  literatura no Ensino Médio, as possibilidades  transformadoras da  leitura de  literatura e a questão da literatura juvenil. 

No  Ensino Médio,  a  presença  da  literatura  é  paradoxal.  Estuda‐se  literatura, porém não se  lê  literatura. Então essa presença não se sustenta ao considerarmos o letramento literário e a educação literária. Aos jovens brasileiros nas salas de aula do Ensino Médio,  ainda  insistentemente,  são  oferecidas  breves  notas  longínquas  sobre literatura  apoiadas  em  casos  pitorescos  sobre  a  vida  dos  autores,  listas  de características dos estilos de época com noções abstratas quase nunca aprofundadas devidamente  e  trechos,  pedaços,  fragmentos  de  obras  literárias  os  quais  servem apenas  para  exemplificar  determinadas  escolhas  estilísticas  de  um  dado  período  da produção  literária  no país. Nesse  sentido,  o  texto  literário  se  reveste de um  caráter apendicular  que  subtrai  seu  potencial  simbólico  e,  dessa  maneira,  torna‐se inexpressivo,  pois  não  estabelece  vínculos  entre  a  vida  do  leitor  e  as  formas  de representação,  oriundas  da  expressividade  artística.  Esse  modelo  cristalizado  da abordagem  do  texto  literário,  apesar  dos  avanços  de  pesquisas  nessa  área,  ainda continua hegemônico nas  cenas das aulas de  literatura. Quanto às possibilidades de transformação  dos  indivíduos  mediante  o  contato  com  textos  literários,  a  autora pondera  que  “a  análise  e  interpretação  do  lido  envolvem  sentidos,  emoções, pensamento,  sobre  uma  base  conceitual  lingüística  (os  recursos  da  palavra), sociocultural  (palavra‐arte)  e  político‐econômica  (a  relação  produção‐consumo  na socialização da arte da palavra).” Nessa perspectiva, as nossas aulas de literatura, para 

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início  de  conversa,  deveriam  repensar  o  seu  próprio  objeto  de  ensino,  por meio  de algumas indagações: 

• O que estamos chamando de literatura? • Quais  os  elementos  constituintes  de  uma 

linguagem literária? • Quais  as  bases  socioculturais  que  sustentam  a 

instituição literária? • Como  se  comporta  a  literatura  diante  das 

engrenagens  político‐econômicas  dominantes em nossa sociedade? 

 

Essas questões devem permear o cotidiano de professores, alunos e gestores da  educação.  Não  exatamente  para  esquadrinhar  fórmulas  transcendentais  para constituição  de  uma  comunidade  ideal  de  leitores  literários,  mas  para,  no  espaço escolar,  tornar  a  experiência  de  leitura  do  texto  literário  um  acontecimento significativo  de  saberes  por  meio  do  qual  a  língua,  a  cultura  e  a  sociedade  surjam articuladas,  a  fim  de  que  o  aluno/leitor  possa,  através  de  sentidos,  emoções  e pensamentos, compreender as  formas de ser e estar no mundo. Por  fim, no que diz respeito  à  literatura  juvenil,  Leahy‐Dios  afirma a necessidade de  refletirmos  sobre  a configuração  da  produção  literária  para  os  adolescentes,  discutindo  questões,  tais como o  significado de  ser  jovem, o aspecto qualitativo das publicações direcionadas aos jovens e os temas recorrentes dessas publicações. 

 

ATIVIDADES 

QUESTÃO 1 – ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL 

Para  esta  atividade  de  produção  textual, consideraremos o texto fílmico da produção cinematográfica As  melhores  coisas  do  mundo,  baseada  na  série  de  livros “Mano”,  de  Gilberto  Dimenstein  e  Heloísa  Prieto,  com roteiro de Luiz Bolognesi, direção de Laís Bodanzky, elenco: Francisco Miguez,  Gabriela  Rocha,  Denise  Fraga,  Zé  Carlos Machado,  Fiuk,  Paulo  Vilhena  e  Caio  Blat.  Nacionalidade: Brasil. 

 

A  produção  consistirá  na  elaboração  de  uma  resenha  sobre  o  filme, enfatizando a pertinência de utilizá‐lo em sala de aula no Ensino Médio. 

 

 

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QUESTÃO 2 – ELABORAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO 

Considerando a novela O médico e o monstro, de . L. Stevenson, elabore um material  didático  sobre  ela,  contendo  cinco  questões  de  natureza  discursiva.  As questões deverão basear‐se nos seguintes elementos: 

1) a estrutura do enredo; 2) o foco narrativo; 3) os personagens;  4) as temáticas; 5) a atualidade da obra.   

LEITURAS OBRIGATÓRIAS 

LEAHY‐DIOS, Cyana. A educação literária de jovens leitores: motivos e desmotivos. In: RETTERNEMEIER,  Miguel;  RÖSING,  Tânia  M.  K.  (Org.).  Questões  de  literatura  para jovens. Passo fundo: UPF, 2005, p. 33‐56. 

 

LEITURAS COMPLEMENTARES 

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: contexto, 2006. 

RETTERNEMEIER,  Miguel;  RÖSING,  Tânia  M.  K.  (Org.).  Questões  de  literatura  para jovens. Passo fundo: UPF, 2005 

ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tânia M. K.  (Orgs.). Escola e  leitura:  velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009 (leitura e formação). 

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CANDIDO, Antonio. A vida ao rés‐do‐chão. In: A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. 

MACHADO, Irene A. Literatura e redação: os gêneros literários e a tradição oral. São Paulo: Scipione, 1994. (Didática – classes de magistério). 

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: contexto, 2006. 

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. (linguagem e educação). 

PAULINO, Graça; COSSON, Rildo. Letramento literário: para viver a literatura dentro e fora da escola. In: ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tânia M. K. (Orgs.). Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009, p. 61‐79 (leitura e formação). 

LEAHY‐DIOS, Cyana. Educação literária como metáfora social: desvios e rumos. Niterói: EDUFF, 2000. 

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. 48 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. 

As ilustrações das unidades temáticas são de Manoel Victor Filho para o livro “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato. Essa escolha é uma homenagem a Monteiro Lobato – escritor para crianças – leitura obrigatória para todos aqueles que ensinam literatura na educação básica, no Brasil 

REFERÊNCIAS