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CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL RENILDA MARIA DA SILVA A EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NA PREVENÇÃO DA RECAÍDA DA DEPENDÊNCIA DA MACONHA São Paulo 2016

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CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

RENILDA MARIA DA SILVA

A EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NA

PREVENÇÃO DA RECAÍDA DA DEPENDÊNCIA DA MACONHA

São Paulo

2016

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RENILDA MARIA DA SILVA

A EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NA

PREVENÇÃO DA RECAÍDA DA DEPENDÊNCIA DA MACONHA

Trabalho de conclusão de curso de especialização apresentado ao Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental como exigência para obtenção do Título de Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, sob orientação da Prof.ª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon e coorientação da Prof.ª Ms. Eliana Melcher Martins.

São Paulo

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

Silva, Renilda Maria da.

A EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO

TRATAMENTO DE PREVENÇÃO DA RECAÍDA DA DEPENDÊNCIA DA

MACONHA. – 2016.

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos em

Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). 2016.

Orientação: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon.

Coorientação: Profª. Eliana Melcher Martins.

26f. 2 CD’s-ROOM

1. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL, 2. PREVENÇÃO DE RECAÍDA, 3.

DEPENDENCIA DA MACONHA. I. Silva, Renilda Maria da, II Alarcon, Renata

Trigueirinho. III. Martins, Eliana Melcher.

4

Monografia apresentada ao Centro de Estudo em Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das exigências para obtenção do título de Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.

FICHA DE APROVAÇÃO

Renilda Maria da Silva

A eficácia da TCC Terapia Cognitivo-Comportamental na prevenção de

recaída da dependência da maconha

BANCA EXAMINADORA

Parecer: ________________________________________________________

Profª. Título: ____________________________________________________

Parecer: ________________________________________________________

Prof.Título: _____________________________________________________

São Paulo, ______ de ____________________ de ___________

5

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todas as pessoas que de alguma

forma, contribuíram para que conseguisse não só realiza-lo,

mas também para meu crescimento profissional e pessoal.

Em especial a minha família, amigos e mestres

6

EPÍGRAFE

“Noventa por cento do sucesso se baseia simplesmente em insistir”.

Woody Allen

“Temos de fazer o melhor que podemos. Esta é a nossa sagrada

responsabilidade humana. "

Albert Einstein

7

AGRADECIMENTOS

A Deus pela vida e por me proporcionar a oportunidade de adquirir

conhecimento que venha ajudar no desenvolvimento do meu trabalho.

Ao Élcio Martins e Eliana Melcher Martins do CETCC (Centro de Estudo

em Terapia Cognitivo-Comportamental) pela oportunidade, apoio, exemplo e

dedicação.

A minha orientadora Drª. Renata T. Alarcon na orientação desse

trabalho.

A Claudia Soares pelo apoio e orientação sobre tratamento na

Prevenção da Recaída da maconha.

A todos os professores por compartilharam seus conhecimentos.

Ao meu esposo Carlos Takashi Ogura por me apoiar nessa jornada.

Não foi fácil conciliar a correria do dia a dia com os estudos, mas valeu a

pena o apoio e esforço de pessoas que fizeram a diferença durante o

desenvolvimento desse trabalho. A todos que direta ou indiretamente

contribuíram nessa caminhada, o meu carinho e agradecimento.

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RESUMO

A maconha é a primeira droga ilícita usada por dependentes de drogas mais

pesadas. A interrupção abrupta de seu uso provoca significativo desconforto

durante a abstinência. Para enfrentar essa fase muitos indivíduos precisam de

tratamento psicológico de modo a minimizar significativamente a recaída do

consumo da maconha. O objetivo desse trabalho é demonstrar a eficácia das

técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) na prevenção da recaída

da dependência da maconha. A pesquisa bibliográfica mostrou que o êxito da

TCC com o dependente vem do manejo da síndrome da abstinência por meio

do rompimento de crenças dos efeitos relativos ao uso e da descontinuidade do

uso da maconha, além do incentivo para buscar outras recompensas distante

das drogas.

Palavras-chave: terapia comportamental-cognitivo (TCC); prevenção da

recaída; dependência da maconha.

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ABSTRACT

Marijuana is the first illicit drug used by addicted to hard drugs. Abrupt

discontinuation of its use causes significant discomfort during withdrawal. To

face this phase many individuals need psychological treatment to significantly

reduce the relapse of marijuana consumption. The aim of this study is to

demonstrate the effectiveness of the techniques of cognitive-behavioral therapy

(CBT) in preventing relapse of addiction marijuana. The literature has shown

that the success of CBT with the dependent is the management of the

syndrome of abstinence through the breaking of beliefs of the effects related to

the use and discontinuation of use of marijuana, besides the incentive to seek

other rewards apart from drugs.

Keywords: behavioral-cognitive therapy (CBT); relapse prevention; dependence

on marijuana.

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................12

2 OBJETIVO .....................................................................................................16

3 MÉTODO .......................................................................................................17

4 RESULTADOS 18

4.1 TERAPIA COMPORTAMENTAL-COGNITIVO E O TRATAMENTO DA

DEPENDÊNCIA QUÍMICA ...............................................................................18

4.2 A TCC E A PREVENÇÃO DE RECAÍDA ...................................................20

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................24

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................25

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LISTA DE ABREVIATURAS

EVA - Efeito de Violação da Abstinência

PR - Prevenção da Recaída

TC – Terapia Comportamental

TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental

THC - Delta-9-Tetrahidrocannabinol

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1. INTRODUÇÃO

O uso de drogas é uma prática milenar em diversas culturas e épocas.

Remotamente, o uso de substâncias, hoje ilícitas, tinha finalidade terapêutica,

lúdica e religiosa. Contudo, os indicadores recentes mostram que o consumo,

na contemporaneidade, extrapolou o limite da moderação trazendo prejuízos a

vida do indivíduo, em especial a adolescentes e adultos. Esse comportamento

tem comprometido a convivência familiar, a produtividade, a saúde, o trânsito,

além de favorecer a transmissão do vírus HIV (AMARANTE, 1995 apud

CRIVES; DIMENSTEIN, 2003).

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, s/d apud UNDOC, 2015)

droga é qualquer substância, não produzida pelo organismo, cujas

propriedades atuam sobre um ou mais sistemas orgânicos podendo alterar seu

funcionamento e desencadear dependência química. Para a UNDOC (2015),

no ano de 2013, aproximadamente, 246 milhões de pessoas ao redor do

mundo consumiram drogas ilícitas, o que ultrapassa 5% da população mundial

na faixa etária entre 15 a 64 anos. Dessa parcela da população mundial, 27

milhões de pessoas usam drogas de modo problemático e são adeptos de

drogas injetáveis (PUDI), o que implica em 1,65 milhões de pessoas vivendo

com o vírus HIV em função do compartilhamento de seringas.

O consumo de substâncias psicoativas tem começado mais cedo e de

modo mais intenso. A curiosidade e a ideia de tornarem-se independentes da

família tem levado adolescentes a iniciar o consumo de drogas cada vez mais

cedo e de modo mais intenso. De acordo com diversas pesquisas (Baus;

Kupek; Pires, 2002; Tavares; Béria; Lima, 2001; apud Almeida, 2011) é entre

os 14 e 18 anos que se inicia o uso de drogas. A maconha é considerada a via

de acesso ao universo da dependência química. Geralmente é a primeira droga

ilícita usada por dependentes de drogas mais pesadas.

O número de usuários da maconha é bastante significativo ao redor do

mundo. Apesar de ser uma droga ilícita, na maioria dos países, incluindo o

Brasil, o acesso é fácil e de baixo custo. De acordo com Ribeiro et. al., (2005),

o uso é intermitente e limitado. Contudo, parte significativa dos usuários se

tornam dependentes após usarem por um período de quatro a cinco anos de

modo intenso. De acordo com a UNDOC (2015), homens são três vezes mais

13

propensos a consumirem maconha do que mulheres, estas tendem a usar

tranquilizantes.

A Cannabis sativa – nome científico da maconha – produz diversos

sintomas, entre estes, os quadros temporários de ansiedade. Pode ainda

agravar os sintomas da esquizofrenia e desencadear a doença em indivíduos

predispostos (SCHUCKIT; CANABINÓIS, 1991, VAN et. al., 2002 apud

RIBEIRO et. al., 2005). O consumo da maconha provoca ainda déficits de

memória, compromete a atenção, organização e integração de informações

complexas, náuseas, dor de cabeça e de garganta, infecções frequentes nos

pulmões, entre outros efeitos.

De acordo com Awadallak; Widersk (2014, p. 28), para diagnosticar a

dependência da maconha é necessário:

[...] analisar a potência do desejo ou compulsão do indivíduo pela substância, a dificuldade em controlar o seu consumo, a abstinência na sua redução, a necessidade de maiores doses para que se atinja um resultado obtido anteriormente com doses menores (tolerância), o abandono das atividades e a persistência no uso, mesmo que consequências nocivas sejam claras.

Em relação a dependência psicológica os autores supracitados afirmam

que é identificada quando o indivíduo percebe a sensação de controle

prejudicado em relação ao consumo da droga.

QUADRO 1 - Efeitos psíquicos do uso da maconha

Despersonalização Desrealização Depressão Alucinaçõe

s e ilusões

Sonolência

Ansiedade Irritabilidade Prejuízos à

concentração

Prejuízo

da

memória

de curto

prazo

Letargia

Epsicomotora

Ataques de

pânico

Auto

referência e

paranoia

Prejuízo

do

julgamento

FONTE: desenvolvido pela autora a partir de Ribeiro et. al. (2005).

14

Para Hall; Solowij (1998 apud Rigoni; Oliveira; Andreatt, 2006) o

consumo prolongado está relacionado a perdas cognitivos e a avaliação de tais

funções é utilizada para averiguar a reversibilidade em períodos de abstinência.

Faz-se importante ressaltar que abstinência é a síndrome de sintomas

apresentada após a interrupção ou finalização do consumo da droga. A

privação da droga costuma causar fissura – também conhecida como craving –

e diz respeito a necessidade de experimentar os efeitos da droga, portanto,

trata-se do intenso desejo de consumir a substância psicoativa. A abstinência

provoca crise de mal-estar, o que explica o uso compulsivo e continuado das

drogas (MARQUES, 2007). Acreditamos que esta intensa experiência favorece

a recaída do consumo das drogas, incluindo a maconha.

Em pesquisas com pacientes ambulatoriais verificou-se que quando os

usuários diários de maconha interrompem abruptamente o uso manifestam

significativo desconforto durante a abstinência e retornaram ao estado anterior

quando voltaram ao uso da substância. No período da abstinência observou-se

as seguintes reações: raiva, irritabilidade, agressividade, inquietação e sonhos

estranhos (BUDNEY et. al., 2001). O estudo obteve a confirmação dos

familiares desses usuários em relação ao relato da experiência durante o

período de abstinência, validando seus relatos.

Muitos indivíduos precisam de tratamento psicológico para enfrentar a

fase de abstinência e, deste modo, minimizar significativamente a recaída do

uso da maconha. Roffman; Stephens (2009), relatam que a maior dificuldade

que os profissionais da saúde enfrenta ao tratar dependentes da maconha é o

fato destes indivíduos não acreditam que esta droga prejudica a saúde ou a

vida de forma generalizada, além de questionarem os efeitos adversos, a

abstinência e a própria dependência da maconha.

Nesse contexto, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem mostrado

que suas técnicas têm obtido êxito no tratamento de dependentes químicos,

incluindo a fase propícia a ocorrência da recaída, o que pretendemos

demonstrar ao longo desse trabalho.

15

O significativo número de dependentes da maconha (UNDOC, 2015),

somada a importância de resistir ao período de abstinência para a livrar-se do

vício (RIBEIRO et. al., 2005), aponta para a importância do presente estudo

cujo intuito é demonstrar a eficácia das técnicas de TCC como unidades

unificadas para a prevenção da recaída da dependência da maconha

(MARLATT; WITKIEWITZ, 2009; SILVA; SERRA, 2004).

Deste modo, o estudo pode contribuir para a elaboração de políticas de

saúde pública que visem disponibilizar tratamentos voltados aos dependentes

do usuário da maconha, em especial, a parcela que não tem obtido sucesso na

superação da descontinuidade do consumo uma vez que tem recaída durante o

período de abstinência. Esta é uma forma desta pesquisa contribuir com

importante número de cidadãos.

16

2. OBJETIVO

O objetivo geral desse trabalho é demonstrar a eficácia das técnicas da

Terapia Cognitivo-Comportamental na prevenção da recaída da dependência

da maconha.

17

3. MÉTODO

Para alcançar o objetivo desse trabalho recorreu-se ao estudo pautado na

pesquisa bibliográfica realizada em bases de dados eletrônicas (Scielo e

Google Acadêmico) a partir dos preditores: prevenção uso da maconha;

recaída no uso da maconha, terapia comportamental-cognitivo e maconha.

Na primeira apuração constatou-se o escasso número de textos (quatro),

em especial com ênfase na prevenção da recaída do uso da maconha,

especificamente. Isso levou a ampliar a busca introduzindo os preditores: uso

da drogas e dependência química. Nesse momento vieram 27 textos cuja

leitura do resumo restringiu para oito o número de trabalhos adotados, em

função do distanciamento do tema que os trabalhos excluídos mostraram.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo se propõe a apresentar as técnicas adotadas na TCC

enquanto recurso clínico para prevenção da recaída da dependência da

maconha, ressaltando sua eficácia.

4.1 Terapia cognitivo-comportamental e o tratamento da dependência

química

O psicólogo clínico cuja atuação é orientada pela TCC observa um conjunto

de teorias ao formular planos de tratamentos e orientar suas ações. A

abordagem da TCC baseia-se em dois princípios, são: (1) as cognições

influenciam de modo controlador as emoções e comportamentos; (2) o modo

como o indivíduo age e se comporta pode afetar demasiadamente os padrões

de pensamentos e as emoções (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008). O modelo

cognitivo-comportamental defende que o homem avalia, continuamente, a

importância dos acontecimentos internos e externos, presentes no meio que o

cerca, portanto, as cognições estão associadas às reações emocionais.

A Terapia Comportamental (TC) surgiu nos anos 50 em resposta ao

domínio da teoria psicanalítica enquanto método clínico. De sua origem até o

momento atual, trilhou um percurso que se iniciou com a visão mecanicista e

reducionista na qual o indivíduo era entendido como produto das bases

genéticas e influências do meio, até percebê-los como agentes que influenciam

e operam o ambiente no qual estão inseridos (GILLILAND; JAMES, 1998 apud

BARROQUEIRO, 2002). Com isso, a prática clínica sofreu inovações e adotou

comportamentos heterogêneos que permitem a discussão de novos conceitos

e evidências exitosas (WILSO, 2000 apud BARROQUEIRO, 2002).

A prática da TC reconhece os vários transtornos psíquicos e as variáveis

cognitivas próprias desse universo. A TC estrutura-se em diversas premissas

formais e abrangentes. O arcabouço teórico da TC prega que a natureza e a

função do processamento do conhecimento ou da informação e também a

atribuição de significados aos fatos da vida são essenciais para compreender o

19

comportamento mal adaptado (BECK, 2000; ALFORD, 1991 apud SILVA;

SERRA, 2004).

Wright; Basco, Thase (2008), ao referirem-se a TCC, asseguram que há

interações complexas e efetivas entre os processos biológicos, as influências

ambientais, interpessoais e elementos cognitivos-comportamentais, tanto na

gênese quanto no tratamento dos transtornos mentais e dependência química.

Deste modo, o tratamento que combina farmacologia e TCC melhora a eficácia

nos quadros mais graves.

A TCC entende que a dependência química decorre da interação complexa

entre cognições, comportamentos, emoções, relacionamentos sociais e

familiares, influências culturais, processos fisiológicos e biológicos. Focaliza

essencialmente os processos cognitivos que interagem com os demais

sistemas e, deste modo, determina se o indivíduo terá menor ou maior

probabilidade de tornar-se dependente químico (ALFORD; NOCROSS, 1991

apud SILVA; SERRA, 2004).

Silva; Serra (2004), em consonância com a teoria do aprendizado social,

defendem que o condicionamento clássico e a aprendizagem instrumental são

os níveis mais relevantes por meio dos quais o indivíduo aprende a pensar,

sentir e comportar-se em circunstâncias específicas.

O condicionamento clássico (ou respondente) foi identificado por Ivan

Pavlov no ano de 1904, ao demostrar que um estímulo (S) neutro pode

transformar-se em estímulo condicionado por meio do aprendizado. Apesar do

fisiologista russo ter constatado tal princípio em experiência com um animal

(cão), mostrou que o mesmo modelo pode ocorrer com o homem, em diversas

situações. Mais recentemente, Chidress et. col., (1993) demonstraram que a

exposição de pacientes a situações específicas provoca reação igualmente

específica aos sinais sob os quais foram expostos. Os pesquisadores

defenderam que tal experiência pode ser utilizada para melhorar a habilidade

de enfrentamento ao uso das drogas, por indivíduos dependentes químicos

(SILVA; SERRA, 2004). Desse modo, percebe-se que a essência da teoria

comportamental se encontra em situações de alto risco, como o

comportamento do uso de droga (CARROL, 2002 apud SILVA; SERRA, 2004).

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Em relação a teoria da aprendizagem instrumental, faz importante ressaltar

a contribuição de Skinner ao demonstrar que os reforços positivos

(satisfatórios) ou os negativos (desprazer) influenciam o comportamento

humano. Deste modo, o condicionamento operante apoia-se nas premissas

biológicas entendidas como atraentes ao indivíduo que busca prazer imediato e

evita situações que o privem de tal prazer ou imponham sofrimento (ABRANS,

1987 apud SILVA; SERRA, 2004).

A teoria comportamental defende que na vida cotidiana do indivíduo

dependente químico falta recompensas, tais como: diversão, amigos e contatos

social, entre outras. Falta-lhe ainda habilidade para lidar com afetos negativos,

frustrações e críticas. Soma-se a esses aspectos os efeitos químicos da droga

que provoca sintomas desagradáveis quando seu consumo é interrompido.

Para a teoria da aprendizagem instrumental a droga torna-se um reforço

positivo para o indivíduo que não obtém recompensas provindas de outros

comportamentos (CARROL, 2002 apud SILVA; SERRA, 2004). Estes autores

recorreram a Budney (1998) para afirmar que a proposta da terapia

comportamental reside em encorajar o paciente a buscar prazer em

comportamentos que não impliquem riscos, assim como, ajudar no manejo da

síndrome de abstinência com o intuito de que o dependente químico encontre

outras recompensas distintas do uso da droga.

4.2 A TCC e a prevenção da recaída

O psicólogo comportamental realiza suas intervenções iniciando por uma

avaliação cujo objetivo é identificar o (s) comportamento (s) a ser alterado (s).

Na sequência, identifica as técnicas apropriadas e as aplica (WILSON, 1995

apud BARROQUEIRO, 2002). Diante da escassez de técnicas direcionadas a

prevenção da recaída (PR) do consumo da maconha no campo da TCC,

Marlatt contribuiu intensamente ao mostrar um caminho à prática com o

paciente dependente da maconha ou vinculado a quaisquer outros

comportamentos de risco.

Marlatt; Witkiewitz (2009) afirmam que no ano de 1978, a partir de

informações clínicas, Marlatt desenvolveu uma taxonomia rica em detalhes de

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situações de alto risco, o que inclui a dependência química e doenças

psíquicas. São oito subcategorias de recaída que deram origem ao primeiro

modelo cognitivo-comportamental específico para o processo de recaída,

reproduzidas na figura abaixo.

Nesse contexto, a TCC busca a resposta a uma situação de alto risco. O

tratamento envolve a interação entre o indivíduo – enfrentamento, afeto, auto

eficácia, expectativas de resultado – e os fatores de riscos que o ambiente

apresenta, tais como: influencias sociais, acesso a droga e exposição a

gatilhos (MARLATT; WITKIEWITZ, 2009).

De acordo com Marlatt; Donovan (2009), o objetivo da PR é identificar

uma meta para o tratamento, independentemente de ser a própria abstinência

ou a moderação do consumo. Este termo – recaída – é proveniente de um

modelo médico que se refere a um estado de doença que segue um período de

remissão. Refere-se ao lapso de tempo entre a tentativa de mudar um

comportamento indesejado até o provável retorno ao comportamento anterior.

No entanto, de acordo com Marlatt; Witkiewitz (2009), a recaída ao consumo da

maconha – o que se aplica a outras drogas – não é o único desfecho para o

comportamento indesejado. O indivíduo pode também seguir rumo a mudança

positiva.

Quando o indivíduo cede a recaída demonstra vulnerabilidade ao efeito

de violação da abstinência (EVA), o que leva a auto responsabilização, ao

sentimento de culpa e a percepção da perda do controle em relação ao uso da

droga, uma vez que violaram regras auto impostas (CURRY; MARLATT;

GORDON, 1987 apud MARLATT; WITKIEWITZ, 2009). O componente afetivo

do EVA está ligado a culpa, a vergonha e a desesperança. De acordo com

Marlatt; Witkiewitz (2009, p. 16) esses efeitos são desencadeados “pela

discrepância entre sua identidade anterior como um abstêmio e seu atual

comportamento de lapso”. Já o lado cognitivo do EVA acredita que o indivíduo

relaciona o lapso a fatores internos e incontroláveis, o que maximiza o risco de

recaída. Contudo, quando o indivíduo enfrenta o lapso como um elemento

externo e controlável, diminui a probabilidade de recaída (MARLATT;

GORDON, 1985 apud MARLATT; WITKIEWITZ, 2009).

Estes autores recorreram Miller et. al. (1996) para alertar que quando o

indivíduo enfrenta o lapso como uma falha irreparável, portanto, uma doença

22

crônica, pode progredir para uma recaída. No entanto, se o mesmo indivíduo

enfrenta o lapso como uma experiência de aprendizagem transicional, a

caminhada rumo a recaída é pouco provável. Já se o indivíduo que enfrenta um

lapso como uma experiência de aprendizagem fortalece a probabilidade de

experimentar estratégias de enfrentamento alternativas em momento futuro e,

desta forma, pode direcionar para respostas mais eficazes em situações de alto

risco, como a relação com a maconha. O EVA participa da previsão da recaída

usuários de maconha.

Segundo Marlatt (1996 apud Marlatt; Witkiewitz, 2009, p. 17), a PR une o

treinamento de habilidades comportamentais a intervenções cognitivas

dirigidas a prevenção ou limitação da ocorrência de recaída. Seguem

afirmando que “o tratamento de PR começa com a avaliação dos potenciais

riscos interpessoais, intrapessoais, ambientais e fisiológicos de recaída e os

fatores ou situações que podem precipitá-la. ”

De acordo com Marlatt; Witkiewitz (2009, p. 17) a PR utiliza

intensamente um componente educativo e a reestruturação cognitiva de

percepções inapropriadas. Além disso, defendem que:

Desafiar mitos relacionados a expectativas de resultado positivo e discutir os componentes psicológicos do uso de substâncias (por exemplo, efeito placebo) proporciona ao paciente oportunidades de fazer escolhas com mais informações em situações de alto risco. Do mesmo modo, discutir o EVA e preparar os pacientes para lapsos pode também servir à prevenção de um importante episódio de recaída.

Desse modo reforçam que se faz essencial ensinar os pacientes a

reestruturar pensamentos negativos relacionados aos lapsos de modo a não

entende-los como um fracasso ou sinal de falta de força de vontade. Soma-se

a esses recursos a introdução de estratégias globais de auto manejo do estilo

de vida, uma vez que a manter os objetivos após o tratamento está diretamente

relacionado ao equilíbrio do estilo de vida (MARLATT; WITKIEWITZ, 2009).

Os autores concluem que a reunião de tais componentes possibilita a

díade terapeuta-paciente trabalhar no desenvolvimento de “mapas de recaída”,

análises de possíveis resultados que podem ser incorporados a diversas

escolhas em situações de alto risco e, deste modo, preparar os pacientes a

usar respostas de enfrentamento apropriadas à prevenção de incidência de um

lapso.

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FIGURA 1.1 - Modelo cognitivo-comportamental de recaída (Marlatt e Gordon, 1985).

Situação de

alto risco

Resposta de

enfrentamento

eficaz

Auto eficácia

aumentada

Probabilidade

reduzida de recaída

Resposta de

enfrentamento

ineficaz

Auto eficácia

reduzida +

Expectativas de

resultados positivos

Uso inicial

da

substância

Efeito da

violação da

abstinência +

Efeitos

percebidos da

substâncias

Probabilidade

aumentada da

recaída

FONTE: Marlatt; Witkiewitz (2009).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo demonstrar a eficácia das técnicas da

TCC na prevenção da recaída da dependência da maconha. A reflexão

proporcionada pela leitura dos textos adotados ao longo do caminho trilhado

reforçou a ideia de que a TCC dispõe de técnicas e práticas que levam a díade

terapeuta-paciente (dependente da maconha) a reduzir a probabilidade de

recaída do uso desta droga durante o período de abstinência.

O êxito da TCC com o dependente da maconha foi viabilizado a partir do

momento em que a clínica comportamental abriu a inovações e adotou

comportamentos heterogêneos e novos conceitos. Sua eficácia vem de

unidades unificadas por meio das quais pode encorajar o paciente a buscar

prazer em comportamentos que se distanciam do alto risco, como o consumo

da maconha. Ajuda ainda no manejo da síndrome da abstinência por meio do

rompimento de crenças dos efeitos relativos ao uso e da descontinuidade do

uso da maconha.

Para tanto o terapeuta e o paciente devem identificar uma meta para o

tratamento, podendo ser a abstinência ou a moderação do consumo. Verificou-

se que a PR junta o treinamento de habilidades comportamentais a

intervenções cognitivas dirigidas a prevenção ou limitação da ocorrência de

recaída, a adoção de componente educativo. É de fundamental importância

que o paciente aprenda a pensar, sentir e comportar-se diante de iminência da

recaída.

Este estudo encontrou limitação no número de textos publicados em relação

a prevenção da recaída do uso da maconha, no campo da TCC. Deste modo,

sugere a estimulação de pesquisas nessa área, em especial no contexto

nacional, o que favorecerá o avanço na prevenção da recaída da droga em

questão, beneficiando, portanto, terapeutas e pacientes na obtenção de êxito

no combate de um comportamento que provoca prejuízos a diversos âmbitos

da sociedade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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reabilitação. Análise Psicológica (2002), 3 (XX): 495-503. Disponível em:

<http://publicacoes.ispa.pt/index.php/ap/article/view/335/pdf˃. Acesso em 16

jun. 2016.

BUDNEY, A. et. Al. Marijuana Abstinence Effects in Marijuana Smokers

Maintained in Their Home Environment. Arch Gen Psychiatry. 2001;58

(10):917-924. Disponível em:

˂http://archpsyc.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=481830˃. Acesso em:

11 jun. 2016.

WRIGHT, J.; BASCO, M.; THASE, M. Aprendendo a terapia cognitivo-

comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MARLATT, G.; DONOVAN, D. (Orgs.) Prevenção de recaída: estratégias de

manutenção no tratamento de comportamentos adictivos. 2 ed. Porto Alegre:

Artmed, 2009.

MARQUES, K. Dificuldades na manutenção da abstinência nos

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Psicologia) – Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, 2007. Disponível em:

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Figlie, Selma Bordin, Ronaldo Laranjeiras – 2 ed. – São Paulo: Roca 2010

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Termo de Responsabilidade Autoral

Eu RENILDA MARIA DA SILVA, afirmo que o presente trabalho e suas

devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da

responsabilidade autoral sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de

Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob o título “ A EFICÁCIA DA

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NA PREVENÇÃO DA RECAÍDA DA

DEPENDÊNCIA DA MACONHA”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos

em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer

ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim praticadas,

assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas

para a confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_______________________

Assinatura do (a) Aluno (a)