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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM FILIAL DE EMPRESA MULTINACIONAL DIVERSIFICADA: O CASO SIEMENS FERNANDO AFONSO DE BARROS PERINI Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Tecnologia, Linha de Pesquisa: Tecnologia e Desenvolvimento. Programa de Pós- Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Hélio Gomes de Carvalho CURITIBA 2002

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM FILIAL DE

EMPRESA MULTINACIONAL DIVERSIFICADA: O CASO SIEMENS

FERNANDO AFONSO DE BARROS PERINI

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Tecnologia, Linha de Pesquisa: Tecnologia e Desenvolvimento. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Hélio Gomes de Carvalho

CURITIBA 2002

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FERNANDO AFONSO DE BARROS PERINI

GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM FILIAL DE

EMPRESA MULTINACIONAL DIVERSIFICADA: O CASO SIEMENS

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Tecnologia, Linha de Pesquisa: Tecnologia e Desenvolvimento. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Hélio Gomes de Carvalho

CURITIBA 2002

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À minha família.

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AGRADECIMENTOS

Ao Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná e ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia- PPGTE pelo

ensino de qualidade oferecido. À empresa Siemens que, através do compartilhamento de suas experiências e da parceria com a universidade, contribui para a

construção do desenvolvimento tecnológico brasileiro. Aos colegas da Siemens e do CEFET que ao longo dos últimos dois anos, com entusiasmo e dedicação, construíram o Núcleo

de Gestão de Tecnologia - NGT, sem o qual este e outros tantos trabalhos importantes não seriam possíveis.

Ao Prof. Hélio Gomes de Carvalho, que mais que um orientador dedicado, foi um amigo na construção diária do conhecimento.

Aos amigos que sobrevivem aos anos e a distância. À Rosana, pela compreensão e carinho que me dedicou nos

momentos que estive mais ausente. E, por fim, agradeço a meus pais e irmãos pelo apoio constante

e seguro em todos os dias desta caminhada.

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“Fazer crítica, destruir, não é difícil. O último aprendiz de pedreiro sabe

cravar a sua ferramenta na pedra nobre e bela de uma catedral.

- Construir: esse é o trabalho que requer mestres.”

São José Maria Escrivá

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................VII

LISTA DE QUADROS.........................................................................................VIII

LISTA DE TABELAS ............................................................................................IX

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................X

RESUMO...............................................................................................................XI

ABSTRACT..........................................................................................................XII

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 1 1.1 OBJETIVOS E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.......................................................... 4 1.1.1 Objetivo geral.............................................................................................. 4 1.1.2 Objetivos específicos.................................................................................. 4 1.1.3 Delimitação do estudo ................................................................................ 4 1.2 JUSTIFICATIVAS.................................................................................................... 5 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO................................................................................ 6

2 A ORGANIZAÇÃO PARA A INOVAÇÃO...................................................... 8 2.1 DIVERSIDADE DE PRODUTOS E COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS ...................... 8 2.2 A INTERNACIONALIZAÇÃO DO P&D.................................................................. 11 2.3 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA FILIAIS DE MULTINACIONAIS EM

PAÍSES EMERGENTES ....................................................................................... 15 2.4 CRIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA INOVAÇÃO.................................................. 18 2.5 A ORGANIZAÇÃO DOS CENTROS DE INOVAÇÃO............................................ 20 2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO ......................................................... 25

3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PROJETOS DE INOVAÇÃO........... 26 3.1 TECNOLOGIA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO......................................... 26 3.2 PROJETOS DE NOVOS PRODUTOS.................................................................. 32 3.2.1 Roadmaps tecnológicos............................................................................ 38 3.2.2 Avaliação de tecnologias .......................................................................... 41 3.2.3 Prospecção tecnológica (novos mercados) .............................................. 45

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3.3 GERENCIANDO O PORTFÓLIO DE PROJETOS DE NOVOS PRODUTOS........ 46 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO ......................................................... 49

4 A GESTÃO DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ............................................ 50 4.1 ATIVIDADES DE P&D E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA...................................... 50 4.2 O ESCOPO DA GESTÃO DE TECNOLOGIA E DA INOVAÇÃO .......................... 52 4.3 MEDIÇÃO DAS ATIVIDADES DE INOVAÇÃO E DE SEU IMPACTO NO NEGÓCIO

.............................................................................................................................. 54 4.4 MODELOS DE GESTÃO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS ................................ 57 4.5 FERRAMENTAS DE GESTÃO DE TECNOLOGIA ............................................... 61 4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO ......................................................... 65

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 66 5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .................................................................... 66 5.2 O MÉTODO DO ESTUDO DE CASO.................................................................... 67 5.3 O SUJEITO DO ESTUDO DE CASO .................................................................... 68 5.4 COLETA DE DADOS............................................................................................ 72 5.4.1 Observação participante ou pesquisa-ação.............................................. 72 5.4.2 Registros em arquivos .............................................................................. 74 5.4.3 Entrevistas ................................................................................................ 76 5.5 O TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS........................................................... 78 5.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO ......................................................... 79

6 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 81 6.1 LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO.................................... 81 6.1.1 Caracterização dos negócios.................................................................... 84 6.1.2 Fontes de tecnologia................................................................................. 86 6.2 TECNOLOGIA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO......................................... 90 6.2.1 Relacionamento de P&D entre filial e matriz............................................. 90 6.2.2 Planejamento de competências tecnológicas essenciais ......................... 95 6.3 ALOCAÇÃO DE RECURSOS ............................................................................... 97 6.3.1 Planejamento de mudanças organizacionais............................................ 97 6.3.2 Recursos para inovação e seleção de projetos ........................................ 98 6.4 ACOMPANHAMENTO DOS PROJETOS ........................................................... 100 6.5 DISSEMINAÇÃO E APRENDIZAGEM................................................................ 103 6.6 FERRAMENTAS DE GESTÃO DE TECNOLOGIA E PROPOSTAS DE MELHORIA

............................................................................................................................ 104 6.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 107

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7 PROPOSTA DE MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ............................................................................................ 109

7.1 DECISÕES ESTRATÉGICAS REFERENTES À TECNOLOGIA EM UMA FILIAL DE EMPRESA MULTINACIONAL....................................................................... 109

7.2 ALINHAMENTO ENTRE O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PROJETOS DE INOVAÇÃO......................................................................................................... 113

7.3 MODELO PROPOSTO ....................................................................................... 118 7.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 126

8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.................................................... 127 8.1 QUANTO AOS OBJETIVOS E QUESTÕES DE PESQUISA .............................. 127 8.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO MODELO NA EMPRESA

ESTUDADA ........................................................................................................ 128 8.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS................................................... 130 8.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 130

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 132

ANEXO 1 – QUESTÕES ORIENTADORAS ...................................................... 137

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O contexto e temas abordados no estudo.............................................. 3 Figura 2 - Organização do estudo .......................................................................... 7 Figura 3 - Árvore de produtos................................................................................. 9 Figura 4 - O ciclo de competência (the competence cycle) .................................. 10 Figura 5 - Tipos de centros de P&D: relação entre mercado alvo e escopo de

tecnologia. .......................................................................................... 13 Figura 6 - Fluxo de informação entre matriz e filiais ............................................ 14 Figura 7 - Mecanismos de importação de tecnologia. .......................................... 19 Figura 8 - Espiral de criação do conhecimento organizacional............................. 23 Figura 9 - Tecnologia em diferentes atividades da cadeia de valor...................... 28 Figura 10 - Modelo de sistema de valor de Porter................................................ 28 Figura 11 - A Cadeia de valor genérica de Porter ................................................ 29 Figura 12 - Fatores tecnológicos e de mercado que determinam a situação que

envolve a definição de novos produtos............................................... 35 Figura 13 - Categorias de importação de conhecimentos do mercado. ............... 36 Figura 14 - Análise entre as características demandadas pelo mercado e as

empurradas pela ciência..................................................................... 39 Figura 15 - Sincronização entre as necessidades de mercado e as soluções

tecnológicas........................................................................................ 40 Figura 16 - Roadmap tecnológico - esquemático ................................................. 41 Figura 17 - Exemplo de árvore tecnológica .......................................................... 42 Figura 18 - Portfólio de Tecnologias e do Produto no Mercado............................ 44 Figura 19 - Mix de projetos de desenvolvimento de produto / processo............... 48 Figura 20 - Escopo da gestão de tecnologia. ....................................................... 53 Figura 21- Gestão de Tecnologia como elo “faltante”........................................... 53 Figura 22 - Modelo paralelo do processo de inovação. ........................................ 58 Figura 23 - Os elementos-chave da inovação tecnológica ................................... 59 Figura 24 - Framework de gestão de tecnologia de cinco processos mostrando

algumas atividades típicas. ................................................................. 60 Figura 25 - Estrutura organizacional relacionada à gestão de tecnologia do caso

estudado ............................................................................................. 71 Figura 26 - Portfólio de gestão estratégica de projetos de inovação em filiais de

multinacionais ................................................................................... 112 Figura 27 - Importação de informação do mercado em filiais de empresas

multinacionais ................................................................................... 113 Figura 28 - Planejamento estratégico da tecnologia........................................... 117 Figura 29 - Visão geral do modelo...................................................................... 118 Figura 30 - Ferramentas nas áreas de negócio.................................................. 118 Figura 31 - Pontos destacados no modelo ......................................................... 119 Figura 32 - Levantamento de oportunidades - principais pontos observados..... 120 Figura 33 – Tecnologia no estratégico – principais pontos observados. ............ 121 Figura 34 – Alocação de recursos – principais pontos observados.................... 122 Figura 35 - Acompanhamento dos projetos de inovação – principais pontos

observados ....................................................................................... 123 Figura 36 - Disseminação e aprendizagem – principais pontos observados ...... 124 Figura 37 - Modelo de gestão estratégica de tecnologia e inovação para a filial 125

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens da centralização e da descentralização de P&D em multinacionais....................................................................... 12

Quadro 2 - Níveis na relação de transferência de aptidões tecnológicas em países emergentes......................................................................................... 16

Quadro 3 - Resumo dos graus de domínio de negócio ........................................ 17 Quadro 4 - Estruturas organizacionais usadas em centros de P&D..................... 21 Quadro 5 - Vantagens dos diferentes tipos de organização de P&D.................... 22 Quadro 6 - Importação de conhecimentos do mercado para criação de novos

produtos.............................................................................................. 37 Quadro 7 - Estrutura utilizada no Innovation Management Toolkit para organizar

ferramentas e casos ........................................................................... 62 Quadro 8 - Resumo das ferramentas de gestão de tecnologia ............................ 63 Quadro 9 - Atividades típicas para produtos, serviços e soluções ....................... 75 Quadro 10 - Relacionamento entre o modelo teórico de análise e questões e

registros utilizados .............................................................................. 79 Quadro 11 - Correspondência entre negócio e projeto......................................... 85 Quadro 12 - Vantagens e desvantagens para realização de P&D no Brasil......... 91 Quadro 13 - Número de competências essenciais identificadas por área............ 95 Quadro 14 - Ferramentas de gestão de tecnologia nas áreas e propostas de

melhoria identificadas ....................................................................... 106 Quadro 15 - Associação entre ferramentas corporativas e propostas de melhoria

levantadas ........................................................................................ 107 Quadro 16- Níveis na relação de transferência de aptidões tecnológicas da filial

em países emergentes ..................................................................... 110 Quadro 17- Classificação dos projetos segundo o grau de modificação no produto

mundial ............................................................................................. 111

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Participação das empresas estrangeiras nas maiores empresas do Brasil ..................................................................................................... 1

Tabela 2 - Ferramentas relacionadas ao levantamento de oportunidades nas áreas................................................................................................... 81

Tabela 3 - Principais responsáveis pelo levantamento de oportunidades tecnológicas........................................................................................ 82

Tabela 4 - Ferramentas relacionadas ao levantamento de oportunidades corporativas ........................................................................................ 83

Tabela 5 - Ferramentas de análise de ciclo de vida ............................................. 84 Tabela 6 - Distribuição dos negócios planejados segundo a sua classificação.... 85 Tabela 7 - Ferramentas para aquisição de tecnologia.......................................... 87 Tabela 8 - Importância das fontes de tecnologia .................................................. 87 Tabela 9 - Número de ocorrências das fontes de tecnologia utilizadas para

aquisição de tecnologia nos planos estratégicos................................ 88 Tabela 10 - Ferramentas para gestão de portfólio................................................ 95 Tabela 11 - Ferramentas relacionadas às mudanças organizacionais................. 97 Tabela 12 - Orçamento de P&D dos negócios ..................................................... 98 Tabela 13 - Ferramentas relacionadas à seleção de projetos .............................. 99 Tabela 14 - Ferramentas de análise de valor ..................................................... 101 Tabela 15 - Ferramentas relacionadas à gestão de propriedade intelectual ...... 101 Tabela 16 - Ferramentas relacionadas à gestão de projetos.............................. 101 Tabela 17 - Processo de gestão de projetos de inovação.................................. 102 Tabela 18 - Ferramenta para compartilhamento de conhecimento .................... 104

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. C&T&I Ciência, Tecnologia e Inovação. CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica. CITS Centro Internacional de Tecnologia de Software. COTEC Fundação COTEC. CT Corporate Technology. EBIT Lucro antes do imposto de renda. EIRMA European Industrial Research Management Association. GD Grau de Domínio. GNT Gerente de Núcleo Tecnológico. ICM Information and Communication Mobile. ICN Information and Communication Networks. IMT Innovation Management Toolkit. IND Automation and Drives e Industrial Solutions and Services. MED Medical Solutions. NRC National Research Council. OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico P&D Pesquisa e Desenvolvimento. P&D&E Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia não-rotineira. PG Power Generation. PLM Gerente de Linha de Produto. PTD Power Transmission and Distribution. RH Recursos Humanos. ROI Return on Investment. RICYT Red Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y Tecnología. SBS Siemens Business Services. Siemens Ltda Filial da Siemens no Brasil. Siemens AG Matriz da multinacional Siemens. SOBEET Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais. TM Tool Ferramenta de Gestão de Tecnologia.

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RESUMO

PERINI, Fernando Afonso de Barros. Gestão Estratégica de Tecnologia e Inovação em empresa multinacional diversificada: o caso Siemens. Curitiba, 2002. 135 p. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Programa de Pós-graduação em Tecnologia, CEFET-PR, 2002. Este estudo teve por objetivo o desenvolvimento de um Modelo de Gestão

Estratégica da Tecnologia e Inovação para filial de empresa multinacional

diversificada de base tecnológica, alinhando os projetos de inovação da empresa

e o planejamento de longo prazo das áreas de negócio. Através de um modelo

adequado, as filiais podem aproveitar as oportunidades locais descentralizando

atividades de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D da matriz e ampliando a

integração com o ambiente local de inovação. Ainda, o uso sistemático de

ferramentas de gestão de tecnologia podem ser utilizadas para implementar mais

eficientemente as estratégias tecnológicas e ampliar a competitividade da

empresa. O modelo é proposto a partir de um estudo de caso baseado em

observação participativa, registros em arquivos e entrevistas realizadas na filial

brasileira da empresa multinacional Siemens ao longo do primeiro semestre de

2002. O objeto de estudo possui áreas com infra-estruturas bastante distintas,

desde áreas que atuam como revendedoras a áreas com centros de competência

de desenvolvimento de produtos mundiais, fazendo com que o modelo de

inovação seja versátil para atender às diferentes necessidades das diversas áreas

de negócio. O estudo levantou oportunidades e dificuldades presentes na

realização da inovação em países emergentes e propõe um modelo com perfis,

atividades, insumos e resultados necessários no processo de inovação. Este

modelo sugere ferramentas de gestão de tecnologia para sistematizar o

levantamento de oportunidades de negócios, o planejamento estratégico de

tecnologia, a alocação de recursos e o acompanhamento dos projetos de

inovação nas áreas de negócio. Também sugere ferramentas para a

disseminação da informação para promover uma interação entre os vários níveis

organizacionais e áreas de negócio. Palavras-chave: modelo, estratégia tecnológica, gestão de tecnologia, gestão de

inovação, empresa multinacional - EMN, transnacional.

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ABSTRACT

PERINI, Fernando Afonso de Barros. Gestão Estratégica de Tecnologia e Inovação em empresa multinacional diversificada: o caso Siemens. Curitiba, 2002. 135 p. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Programa de Pós-graduação em Tecnologia, CEFET-PR, 2002.

This study aimed at the development of a Strategic Technology and Innovation

Management Framework to a diversified technology-based multinational local

company, in order to promote the integration of innovation projects and the long-

term strategic planning of business areas. An adequate model may help the local

companies take opportunities in the local market considering the decentralisation

of the multinational R&D activities and the integration with local innovation

systems. Moreover, by using technology management tools efficiently, the

company can better implement technological strategies and increase its

competitiveness. The proposed model is based on a case study in Siemens Brazil

in the first semester of 2002. Participative observation, file registers and interviews

were done in seven business areas, which vary from dealerships to units with

Competence Centres developing world class products. Besides detecting and

analysing opportunities and difficulties to implement innovation in emerging

countries, the proposed model is versatile enough to adapt to the different

characteristics related to the installed infrastructure. It suggests a model with

necessary profiles, activities, input and expected results in each stage of the

innovation process. This proposed model suggests technology management tools

to support the business opportunity scanning, strategic planning of technology,

resources allocation and innovation project management inside the business

areas. It also suggests tools to disseminate information and to promote an

appropriate interaction among the several organisational levels and the business

areas.

Keywords: model, framework, technological strategy, technology management,

innovation management, multinational company - MNC, transnational.

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1 INTRODUÇÃO

As empresas multinacionais ocupam um espaço importante no cenário nacional,

comprovado pela destacada participação entre as maiores empresas no Brasil

(Tabela 1). Em setores econômicos como o eletroeletrônico que compreende as áreas

de telecomunicações, informática, componentes, equipamentos industriais, automação

e eletroeletrônicos domésticos esta participação é ainda maior (LACERDA, 2000, p.

119).

TABELA 1 - PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS NAS MAIORES EMPRESAS DO BRASIL

500 Maiores Firmas Tipos de Firmas Privadas Geral

Multinacionais 48% 37% Privadas Brasileiras 52% 39% Estatais - 24%

FONTE: Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais - SOBEET apud Lacerda, (2000).

Grande parte do investimento em novas tecnologias, em empresas

diversificadas, é realizada dentro das grandes corporações multinacionais de base

tecnológica. A Nokia investiu individualmente em Pesquisa e Desenvolvimento - P&D

no ano de 2000 a quantia de 2,584 bilhões de euros (NOKIA, 2001). Este valor é maior

que o total investido em conjunto pela Argentina, Chile e Colômbia no mesmo ano1,

incluindo a iniciativa privada, universidades e governo. Em padrões brasileiros, isto

significa 2,5 vezes o investimento em - P&D através dos Fundos Setoriais2 em 2001

(BRASIL, 2002a).

1 US$ 1,852 bilhões segundo dados da RICYT - Red Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y Tecnología (RICYT, 2002). 2 Programa de financiamento à infra-estrutura, ao desenvolvimento e à pesquisa científica e tecnológica, que seleciona setores e projetos estratégicos, aplicando os recursos por meio de uma gestão compartilhada (BRASIL, 2001b).

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Visto que estas corporações multinacionais são as fornecedoras da ampla

maioria do mercado de tecnologia avançada em países emergentes, uma atuação da

política de Ciência, Tecnologia e Inovação - C&T&I junto às filiais de multinacionais é

essencial, pois estas podem ser o canal de acesso às tecnologias de ponta.

Políticas industriais, por sua vez, são tomadas pelos países emergentes para

garantir a competitividade preferencial para as empresas que realizem mais atividades

localmente. Políticas públicas, por outro lado, são criadas para que os esforços em

P&D nos países emergentes sejam realizados com o objetivo de ampliar gradualmente

o valor local agregado aos produtos.

Porém, somente incentivos não são suficientes para garantir a criação de valor

agregado nas filiais. A competição cada vez maior dos mercados obriga as empresas

a atuarem em nível global, aumentando a escala de produção e otimizando os

processos através da centralização que diminui os custos com estruturas duplicadas e

facilita a transferência de tecnologia. Os benefícios decorrentes da centralização nem

sempre podem ser igualados aos incentivos à descentralização promovidos pelas

políticas públicas.

Uma razão importante para a descentralização está relacionada ao mercado. A

distância entre os centros de pesquisa e os mercados pode diminuir a agilidade da

empresa em atender as suas demandas, visto que a competição exige a atuação de

maneira regional para atender às expectativas de clientes com cada vez mais opções

e particularidades.

Na medida em que países emergentes começam a se destacar em algumas

competências tecnológicas, as filiais precisam desenvolver os canais para a

capacitação e transferência desta tecnologia e integração local para absorver as

inovações geradas nestes ambientes.

Estudos com as maiores multinacionais mostram três motivos mais freqüentes

para a internacionalização das atividades de P&D (EDLER et al., 2002, p. 32):

(1) Adaptar produtos aos requisitos locais.

(2) Aprender dos mercados e clientes principais.

(3) Conseguir acesso a talentos e pesquisadores qualificados.

Considerando esse contexto, para continuarem competitivas, as filiais de

empresas multinacionais diversificadas de base tecnológica precisam gerenciar a

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tecnologia e a inovação a seu favor para garantir sua presença nos países

emergentes. O presente estudo enfoca os vários aspectos necessários para que esta

gestão seja realizada, buscando responder à seguinte questão de pesquisa:

“Como as filiais de empresas multinacionais de base tecnológica podem estruturar e desenvolver a sua capacidade de participar ativamente nos processos de inovação da organização mundial considerando seu ambiente competitivo?”

Para responder a essa questão, o estudo aborda principalmente os seguintes

temas relacionados às necessidades da filial de base tecnológica:

• = Organização para Inovação.

• = Planejamento Estratégico da Tecnologia.

• = Gestão de Projetos de Inovação.

• = Gestão de Tecnologia e Inovação.

A Figura 1 resume o contexto da empresa multinacional e os temas abordados

neste estudo.

FIGURA 1 - O CONTEXTO E TEMAS ABORDADOS NO ESTUDO FONTE: Autor

Filial de base tecnológica-Organização para Inova ção

-Planejamento Estrat égico da Tecnologia-Gestão de Projetos de Inova ção

-Gestão de Tecnologia e Inova ção.

Mercado atendido- Características - Necessidades

Ambiente Competitivo-Concorrência

-Políticas públicas

Multinacional-Estratégia e

organização mundial-Produtos e serviços

Fontes de Tecnologia-Universidades,

-empresas locais, etc.

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1.1 OBJETIVOS E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

1.1.1 Objetivo geral

• = Propor um Modelo de Gestão Estratégica da Tecnologia e Inovação para

filial de empresa multinacional diversificada de base tecnológica, alinhando

os projetos de inovação da empresa e o planejamento de longo prazo.

1.1.2 Objetivos específicos

• = Levantar os possíveis benefícios das ferramentas e técnicas para

organização do processo de gestão de tecnologia e inovação.

• = Classificar as diferentes decisões estratégicas referentes à tecnologia em

uma filial de empresa multinacional.

• = Caracterizar o processo e a relação entre planejamento estratégico e

projetos de inovação.

• = Elaborar um modelo para sistematização do processo de gestão estratégica

de tecnologia e inovação.

1.1.3 Delimitação do estudo

O estudo realizado se limita aos itens sublinhados:

• = Quanto ao tipo de instituição:

o Empresa privada (Nacional / multinacional)

- Matriz / filial,

• = Quanto ao tamanho:

o Micro / pequena / grande.

• = Quanto ao setor de atuação:

o Eletro-eletrônica (telecomunicações, equipamentos médicos, automação

industrial, geração e distribuição de energia).

• = Quanto ao tipo de negócio:

o Produtos / Serviços / Sistemas / Soluções.

• = Quanto ao portfólio de produto:

o Limitado / Diversificado.

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1.2 JUSTIFICATIVAS

a) Surgimento de oportunidades a partir da descentralização de P&D

Embora exista uma tendência para a internacionalização de P&D em grandes

empresas multinacionais, isto ocorre normalmente limitado aos países

economicamente desenvolvidos (EDLER et al., 2002, p. 1). Para que as filiais atuem

no desenvolvimento tecnológico e econômico, elas precisam se integrar melhor nesta

rede internacional e receber uma parcela mais significativa dos investimentos

realizados em P&D pela multinacional. Isto permite que a empresa desenvolva

inovações para novos nichos de mercado e sirva de canal de transferência de

tecnologia bilateral entre os sistemas locais e internacionais.

b) Diminuição no déficit da balança comercial em áreas de alta tecnologia

O déficit da balança comercial em áreas de alta tecnologia, como a eletro-

eletrônica, mostra a necessidade de ampliar as atividades de fabricação e de P&D

realizadas no Brasil, ampliando o valor local agregado aos produtos e diminuindo a

vulnerabilidade externa neste setor estratégico para a nova economia.

c) Necessidade de sistematizar e estruturar iniciativas de inovação

Com a aceleração das mudanças no ambiente competitivo global, a inovação

tem um papel fundamental para a manutenção e ampliação das vantagens

competitivas das empresas. Para que as filiais possam modificar a sua maneira de

agir, de uma atuação passiva como revendedor a uma atuação como participante de

uma rede de inovações mundiais, um grande conjunto de mudanças organizacionais e

tecnológicas precisa acontecer. Considerando o papel estratégico de obter a inovação

com um time-to-market adequado, é preciso que a inovação ocorra de maneira

sistêmica, melhorando a eficiência e a eficácia da implementação de iniciativas de

inovação, utilizando-se de metodologias, modelos, técnicas e ferramentas.

d) Inadequação dos modelos da literatura às peculiaridades de uma filial

Várias filiais no Brasil estão buscando modificar suas estruturas e formular

estratégias para utilizar-se da tecnologia para agregar valor, ganhar competitividade

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6

local e participar no processo de pesquisa e desenvolvimento global, buscando

atender melhor o seu mercado (MATESCO, 1999). No entanto, a literatura descreve,

principalmente, modelos de gestão estratégica da tecnologia sob o aspecto de uma

empresa independente ou a própria matriz. A atuação interdependente e o tipo de

inovação necessária na filial são pouco aprofundadas, criando dificuldades para

avaliar o esforço para realizar mudanças e o resultado obtido, sendo de suma

importante adaptar os modelos da literatura para algo mais adequado para a filial em

países emergentes.

Essas justificativas demonstram a relevância da questão de pesquisa

apresentada e do objetivo do estudo proposto.

1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O estudo está organizado em oito capítulos. Após este primeiro capítulo de

introdução, o capítulo 2 apresenta teorias para organização das inovações de

empresas transnacionais diversificadas, observando sua diversidade de produtos, seu

caráter de dispersão geográfica (internacionalização), as questões relacionadas à

criação de competência em países emergentes e a organização interna dos ambientes

inovadores.

No capítulo 3 são detalhados mecanismos para realizar o planejamento

alinhado nos vários níveis, partindo do planejamento dos negócios, verificando sua

relação com o planejamento corporativo da tecnologia e o planejamento dos projetos

de novos produtos.

No capítulo 4 são apresentados alguns modelos de inovação e gestão de

tecnologia, caracterizando suas vantagens e desvantagens na aplicação em diferentes

situações. Além disso, são apresentadas, suscintamente, métricas e ferramentas

utilizadas para sistematizar o processo de gestão de tecnologia nas empresas.

O capítulo 5 descreve os procedimentos metodológicos realizados durante o

estudo de caso. A pesquisa realizada é caracterizada como predominantemente

descritiva, qualitativa e aplicada e utiliza, como fontes de evidências, observação

participante, registros em arquivos e entrevistas. O capítulo também caracteriza o

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7

sujeito da pesquisa, a filial da empresa multinacional Siemens instalada no Brasil, e o

processo utilizado para a coleta, tratamento e análise de dados.

O capítulo 6 apresenta os resultados obtidos durante o estudo de caso e analisa

as necessidades relacionadas à gestão de tecnologia durante as várias etapas do

processo de inovação.

Baseadas no estudo de caso e aplicando pontos importantes do referencial

teórico, o capítulo 7 apresenta as propostas para o alinhamento dos projetos de

inovação com o planejamento estratégico, organizando um modelo de gestão

estratégica de tecnologia e inovação para a filial de empresa multinacional de base

tecnológica estudada.

No capítulo 8 são apresentadas as conclusões do trabalho, tecendo as

considerações finais sobre os objetivos inicialmente propostos e sobre a questão de

pesquisa, além da sugestão de temas e questões para futuros estudos.

O resumo da interligação entre os capítulos está representado na Figura 2.

FIGURA 2 - ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO FONTE: Autor.

A Organização para a Inovação

(Cap.2)

Planejamento Estratégico

e Projetos de Inovação(Cap. 3)

Gestão de Tecnologia e Inovação

(Cap. 4)

Resultados(Cap. 6)

ProcedimentosMetodológicos

(Cap. 5)

Conclusões (Cap. 8)

Modelo de Gestão Estratégica de Tecnologia e Inovação

para Filial de EmpresaMultinacional

(Cap. 7)

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8

2 A ORGANIZAÇÃO PARA A INOVAÇÃO

Este capítulo aborda o desenvolvimento da capacidade da organização para

realizar inovações e manter sua competitividade, partindo das estratégias utilizadas

para administrar a diversidade de negócios e aproveitar a dispersão geográfica

internacional. Baseado neste contexto, o capítulo foca a transferência de tecnologia

para as filiais em países emergentes e a criação de capacidade para inovação,

observando pontos importantes sobre a estrutura organizacional interna de ambientes

inovadores.

2.1 DIVERSIDADE DE PRODUTOS E COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS

Um grande número de negócios diversificados cria uma tendência para que a

empresa perca seu foco na melhor maneira de aproveitar cada um dos seus

mercados. Por outro lado, o foco excessivo em negócios essenciais torna a empresa

por demais suscetível a mudanças na estrutura de apenas um setor industrial.

Hammel e Prahalad (1995, p. 339) apresentam o conceito de competências essenciais

- core competences - como sendo “o tecido conjuntivo que sustenta um portfólio de

negócios aparentemente diversos”. A isto se deve acrescentar que a diversificação

baseada nas competências essenciais reduz o risco e o investimento e aumenta as

oportunidades de transferências de aprendizado e das melhores práticas entre as

unidades de negócio.

Hammel e Prahalad (idem) colocam que a sustentabilidade da competitividade

da empresa reside na capacidade dos gerentes de focalizar tecnologias corporativas e

habilidades de produção em competências que capacitem negócios individuais a se

adaptarem rapidamente a mudanças e oportunidades.

Os autores associam as competências essenciais com as raízes de uma árvore,

onde produtos e serviços em negócios aparentemente distintos conseguem se

“alimentar” de tecnologia para conseguir vantagens competitivas a longo prazo,

conforme mostra a Figura 3. Embora pareça bastante lógica e simples, determinar as

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9

competências essenciais não é uma tarefa simples. Precisa ser realizada e

constantemente atualizada pela alta direção, refletindo as novas estratégias da

organização.

FIGURA 3 - ÁRVORE DE PRODUTOS FONTE: EIRMA (1996, p. 2).

As competências essenciais diferenciam-se por serem a fonte de vantagem

competitiva da empresa como um todo, de competências estratégicas que se referem

a um negócio em particular e competências básicas, que são apenas habilitadoras

para o negócio. É necessário que a empresa consiga focar em poucas competências

essenciais, sendo três as questões cruciais para identificação das mesmas:

• = Adicionam valor aos produtos finais?

• = Aplicam-se para um conjunto de mercados diferentes?

• = São difíceis para desenvolver e imitar?

Tidd (2000) observa que, embora didática, a analogia com a árvore não possui

muito valor prático. Tidd propõe um Ciclo de Competência (Figura 4) que modifica o

caráter mais estático da árvore para um processo cíclico e interdependente entre as

competências essenciais, a criação de novos processos, produtos e serviços e o

aprendizado sistemático sobre os projetos realizados para que a estratégia se reflita

na implementação.

Produtos Finais

Negócios

Produtos essenciais

Competências essenciais

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Ciclo de Competência

Ciclo de Competência

Identificação decompetênciasessenciais

Traduçãoem novos processos,produtos eserviços

Aprendizado por revisão sistemática dos projetos

Ciclo de Competência

Ciclo de Competência

Identificação decompetênciasessenciais

Traduçãoem novos processos,produtos eserviços

Aprendizado por revisão sistemática dos projetos

FIGURA 4 - O CICLO DE COMPETÊNCIA (THE COMPETENCE CYCLE) FONTE: Tidd (2000, p.7).

É necessário que a empresa tenha uma visão não somente das suas

competências essenciais atuais, mas que exista uma visão das competências

essenciais futuras e seus desdobramentos para que esta arquitetura apóie e oriente o

processo de aquisição de tecnologias das unidades.

Esse conceito de competências essenciais é semelhante ao de aptidões

estratégicas usado por Leonard-Barton (1998). A aptidão estratégica é que fornece à

empresa a capacidade de rapidamente transformar a tecnologia em novos produtos e

processos, os quais constituem uma vantagem competitiva para uma empresa e são

estabelecidos gradualmente ao longo do tempo, não podendo ser facilmente imitados.

A autora considera a aptidão estratégica como “o ponto de partida para se gerir o

conhecimento numa organização” (1998, p. 20).

As dificuldades de gerenciar o conhecimento e focar-se nas competências

crescem na medida que a organização se expande geograficamente, alcançando

novos países, mercados, línguas e culturas. Em prol da competitividade local, muitas

adaptações precisam ser realizadas e estratégias precisam ser adotadas a fim de

assegurar a manutenção e o foco das competências essenciais da empresa.

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2.2 A INTERNACIONALIZAÇÃO DO P&D

De maneira similar ao que acontece entre as divisões de uma empresa

diversificada, com o contexto da competitividade global, a centralização do

desenvolvimento de novos produtos em um único país (normalmente a sede da

empresa) pode impactar a competitividade da organização nos diferentes mercados

onde a empresa atua.

Bartlett e Ghoshal apresenta que “a crescente dispersão de ativos e a

delegação de responsabilidades para operações no exterior têm resultado no

desenvolvimento de conhecimento e expertise locais que têm implicações para a

organização como um todo. Com essas mudanças, a necessidade de administrar o

fluxo de inteligência, de idéias e de conhecimentos tem se tornado vital para o

processo de aprendizado e tem reforçado a crescente interdependência das

operações mundiais (2001, p. 358)".

Em estudos sobre a gestão estratégica da tecnologia nas maiores empresas

intensivas em tecnologia da Europa Ocidental, América do Norte e Japão, Edler et al.

(2002) mostram que a internacionalização do P&D, embora continue bastante

confinada aos países compreendidos nessas três regiões, adquiriu um papel muito

importante nas grandes empresas investigadas e os dados mostram que ainda tende a

acelerar.

Além da distância do mercado local, a maneira com que as empresas

descentralizam a organização de suas atividades de inovação depende de variáveis

econômicas (tais como preço de matéria-prima, custo de transporte, balança

comercial), políticas (incentivos, legislações que limitam mercado, etc) e tecnológicas

(aproveitamento de competências locais).

Saber pesar as vantagens e desvantagens da centralização e descentralização

das atividades de P&D vem sendo uma das atividades estratégicas na administração

do desenvolvimento em multinacionais. Algumas destas vantagens e desvantagens

estão no Quadro 1.

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QUADRO 1 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CENTRALIZAÇÃO E DA DESCENTRALIZAÇÃO DE P&D EM MULTINACIONAIS

Configuração Vantagens Desvantagens

Centralizado • =clusters estratégicos de tecnologias

• =plataformas tecnológicas • =pesquisa interdisciplinar • =garantia de massa crítica • =compartilhamento de informação. • =excelência científica • =uso racional de equipamentos

• =distância do mercado • =foco indevido em risco • =projetos orientados à

tecnologia de longo prazo. • =falta de comprometimento

das áreas

Descentralizado • =orientação para mercado • =gerar intimidade com cliente • =orientado ao sucesso • =atenção aos marcos • =integração com o negócio • =Engajamento do staff

• =risco de duplicação de esforços

• =perda de massa crítica em áreas profissionais-chave

FONTE: Autor baseado em EIRMA (1998).

O mesmo estudo que demonstra o aumento da internacionalização (EDLER et

al., 2002), mostra que os três principais motivos para realizar atividades de P&D no

exterior são:

(1) adaptação de produtos a requisitos locais, normas, ingredientes, etc.;

(2) aprender de mercados líderes no exterior ou clientes líderes, e;

(3) ter acesso a pesquisadores capacitados e talentosos.

Em muitas empresas, estratégias mistas entre a centralização e a

descentralização vêm sendo construídas. Normalmente os centros de P&D no exterior

são construídos para funções específicas. Para definição destas funções, pode-se

utilizar uma classificação segundo mercado alvo e o escopo de tecnologia

desenvolvida (EIRMA, 1998), conforme mostra a Figura 5. A idéia de centros únicos

de P&D, que atendem todo o mercado e competências em todas as tecnologias pode

tornar-se algo demasiadamente limitado na medida que o nichos tem necessidades

específicas e a criação de novas tecnologias também está dispersa em diferentes

regiões. Para a criação de produtos globais pode-se organizar Centros de Excelência

Tecnológica que especializem suas competências. Centros de P&D regionais podem

ser responsáveis por adaptações necessárias ao mercado local, podendo utilizar-se de

todas as tecnologias ou serem especializados em apenas algumas.

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Centro de Excelência Tecnológica P&D Central único

Centro de P&D regional especializado Centro de P&D regional

Especializado Todas as tecnologias

Loca

lG

loba

l

Alvo

do

mer

cado

Escopo das atividades tecnológicas

Centro de Excelência Tecnológica P&D Central único

Centro de P&D regional especializado Centro de P&D regional

Especializado Todas as tecnologias

Loca

lG

loba

l

Alvo

do

mer

cado

Escopo das atividades tecnológicas

FIGURA 5 - TIPOS DE CENTROS DE P&D: RELAÇÃO ENTRE MERCADO ALVO E ESCOPO DE TECNOLOGIA.

FONTE: Adaptado de EIRMA (1998, p. 2).

No que se refere ao tamanho interno de cada centro, Kuemmerle (1997)

ressalta a importância de manter a organização horizontal e as equipes de projetos

pequenas (seis ou sete pessoas-chave) e unidades técnicas abaixo de 300

funcionários para manter baixo o nível de burocracia.

Além disso, propõe classificar os centros de P&D em:

• = home-base-augmenting, próximos a locais geradores de conhecimento

(universidades, clusters, tecnópolis, centros de competência);

• = home-base-exploiting próximos a mercados, capazes de fornecer informações

dos clientes.

Baseada nesta classificação, uma estratégia deve ser estabelecida para

controlar e gerenciar o fluxo de informação de centros de P&D, conforme mostra a

Figura 6.

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FIGURA 6 - FLUXO DE INFORMAÇÃO ENTRE MATRIZ E FILIAIS FONTE: Traduzido e adaptado de Kuemmerle (1997)

Além das funções específicas, a relação entre as filiais pode ser classificada

segundo o seu grau de independência. Chiesa (1999) propõe a análise quanto à

centralização através de dimensões objetivas sobre como é realizada a gestão. Essas

dimensões são::

• = Sistema de medição de desempenho - medida por projeto e por unidade

• = Sistema de planejamento estratégico - centralizado, participativo, autônomo.

• = Procedimento de alocação de recursos - centralizado, participativo,

autônomo.

• = Sistema de gestão de recursos humanos - sistema de recrutamento,

programa de treinamento, sistema de desenvolvimento de carreira e sistema

de avaliação e recompensa.

Considerando a tendência de internacionalização de P&D como um fator de

competitividade no mercado mundial, as filiais precisam estar aptas a aproveitar as

oportunidades locais e orientar a visão da empresa para novas oportunidades,

desenvolvendo a organização e a tecnologia necessária ao processo inovativo.

Centro de P&D na matrizou Centro de Competência

da empresa

Centro de P&D noexterior do tipoHome-base-augmenting

Ambiente deP&D

estrangeiro

Centro de P&D noexterior do tipo

Home-base-exploiting

Mercado no Exterior

Fábrica no Exterior

Informação relativa a Tecnologia

Informação relativa ao Mercado eProdução

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2.3 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA FILIAIS DE

MULTINACIONAIS EM PAÍSES EMERGENTES

Sob o ponto de vista do mercado de destino, a transferência de tecnologia no

âmbito internacional possui um papel importante, pois essas atividades tornam

possível que inovações sejam geradas em mercados sem que haja um potencial

próprio de P&D. No entanto, a transferência de tecnologia para estes mercados,

normalmente não apresenta uma ameaça para a competitividade da matriz pela

criação de novos competidores, pois, se o país receptor não conseguir dominar a

tecnologia transferida, é possível produzir nestes países sem que o fornecedor perca

sua liderança tecnológica (BARCELÓ ROCA, 1994).

Para a competitividade da empresa, a transferência de tecnologia é essencial

para capacitar a filial a realizar as atividades no país emergente com a melhor

tecnologia disponível.

A transferência de tecnologia para as filiais em países emergentes possui

características especiais. Leonard-Barton (1998) utiliza o termo “criação de aptidões

tecnológicas” para ressaltar a transferência de tecnologia, não simplesmente como

uma transação de venda ou compra de licenças, mas sim como a criação de

capacidade da filial em países emergentes para gerar conhecimento para a

organização global.

Do ponto de vista estratégico, para a competitividade da multinacional, tanto no

nível global como regional, Leonard-Barton (1998, p. 282) enuncia:

Hoje, tanto as fontes de tecnologia quanto os receptores de tecnologia têm uma noção cada vez mais complexa acerca dos fluxos de saber transnacionais, de modo que as expectativas de ambos os lados quanto ao potencial de inovação são muito maiores do que antes. Os gerentes em países emergentes contam criar aptidões para o desenvolvimento de novos produtos dentro de suas fronteiras; os gerentes de muitas empresas multinacionais contam beneficiar-se dos fluxos inversos de saber.

Em um primeiro momento, a tecnologia pode ser transferida para as filiais

apenas com o objetivo estratégico restrito de realizar a produção utilizando-se da mão-

de-obra mais barata ou outros fatores que acarretem na diminuição do custo do

produto, como logística, utilização de matéria-prima, entre outros. No entanto,

estratégias podem ser utilizadas para que a tecnologia seja transferida de uma

maneira mais abrangente, tornando possível que inovações aconteçam nas filiais. Isto

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16

pode ocorrer desde melhorias pontuais até uma cooperação mundial em nível de

igualdade.

Leonard-Barton (1998) considera que existe um espectro contínuo entre estes

extremos, mas define quatro níveis na relação de transferência de aptidões

tecnológicas da filial em países emergentes, como mostra o Quadro 2.

QUADRO 2 - NÍVEIS NA RELAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE APTIDÕES TECNOLÓGICAS EM PAÍSES EMERGENTES

Nível Nome Descrição 1 Operações de

montagem ou planta em pleno funcionamento

Neste nível, os operadores do receptor têm que aprender a usar o equipamento e conhecer suficientemente os princípios de operação para mantê-lo e, talvez, para consertá-lo, mas não para alterá-lo significativamente. Nas operações de montagem, esse nível em geral implica a importação de kits que incluem todo o material necessário à produção.

2 Adaptação de componentes

É definida como a capacidade de adaptar o produto e de fabricá-lo usando principalmente componentes locais. O receptor deve conhecer a própria tecnologia, não apenas saber usá-la.

3 Redesenho de produto

É definido como a capacidade de redesenhar um produto integralmente, e não apenas componentes. O resultado visado não é simplesmente um produto que pode ser produzido localmente, mas um produto superior (know-why).

4 Desenho de produto independente

Consiste no desenho e na produção independentes de um novo produto viável, bem como na existência de potencial para a transferência inversa, embora o salto do nível três de co-desenvolvimento para o nível quatro não seja nem muito grande nem muito preciso. No nível quatro, os dois parceiros são iguais, ou seja, existe uma mudança na relação de poder e de dependência tecnológica.

FONTE: Autor, resumido de Leonard-Barton (1998, p. 257-283).

Os níveis na relação de transferência de aptidões tecnológicas, propostos por

Leonard-Barton (idem), estão relacionados com a capacidade da filial de agregar valor

local. A Siemens no Brasil classificou e planejou estrategicamente seus negócios no

Brasil segundo a sua capacidade de realizar inovações, que está diretamente ligada

ao domínio sobre as atividades realizadas no Brasil (LACERDA, PERINI et al., 2001).

Na escala utilizada, denominada Grau de Domínio (Quadro 3), a Siemens Ltda

expandiu a inovação para serviços e soluções, além da classificação para produto.

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QUADRO 3 - RESUMO DOS GRAUS DE DOMÍNIO DE NEGÓCIO GD Caracterização de

Produto Caracterização de Serviços

Caracterização de Sistema

0 Atividade ainda não iniciada

Atividade ainda não iniciada

Atividade ainda não iniciada

1 Representação de produtos

Representação de serviços

Representação

2 Revenda de produtos seriados

Revenda/ serviços terceirizados

Aplicação

3 Produção local sem customização

Instalação Customização

4 Produção local com customização

Manutenção e pós-Venda

Projeto / desenvolvimento próprio, sem produção própria

5 Engenharia não-rotineira

Operação de sistemas

Projeto / desenvolvimento próprio, com produção própria

6 Desenvolvimento de produtos próprios

Integração com produtos próprios

Projeto e operação de sistemas com customização e otimização

7 Centro de Competência (CoC3) para desenvolvimento

Integração com produtos de terceiros

Centro de Competência (CoC) para desenvolvimento

8 Centro de negócios (CoB4)

Engenharia de sistemas complexos

Centro de negócios (CoB)

FONTE: Lacerda, Perini et al. (2001, p. 139).

O conceito de Grau de Domínio foi considerado como a base para a inserção da

tecnologia no planejamento estratégico da filial. A ampliação das atividades de

inovação permite analisar de maneira padronizada a agregação de valor local nos

diversos negócios da empresa (LACERDA, PERINI et al., idem).

Considerando as necessidades do mercado e sua visão estratégica de atuação,

as filiais precisam realizar mais atividades de agregação de valor, assim como criar e

ampliar sua capacidade de realizar atividades de inovação.

3 Center of Competence. 4 Center of Business.

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2.4 CRIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA INOVAÇÃO

Vários aspectos internos precisam ser analisados para identificar a melhor

maneira de criar centros capazes de gerar inovação, entre eles (VASCONCELLOS,

1992, p.135):

• = Intensidade de esforço.

• = Nível hierárquico na organização.

• = Centralização x descentralização [dentro da filial].

• = Área à qual P&D deve estar vinculada.

• = Estrutura organizacional do centro.

Determinar “o que a empresa sabe” e “quem sabe o que” é uma das maiores

dificuldades de uma grande empresa, e isso se agrava em uma multinacional. Durante

a fase de levantamento de recursos, ferramentas como mapas de competência e

busca por informação tecnológica (patentes, bases de dados, centros de competência,

etc.) podem ser utilizadas.

Além da articulação interna da empresa, a articulação externa tem cada vez

mais um papel essencial na capacidade de inovação da organização. A necessidade

de criação de novas aptidões estratégicas requer a formação de uma base de

conhecimentos utilizando-se da competência local, preparando-se para a transferência

de tecnologia internacional.

Vários mecanismos de transferência de tecnologia devem ser utilizados para a

criação das capacidades tecnológicas; no entanto, estas opções variam de acordo

com o potencial de aquisição de nova tecnologia e o grau de compromisso com o

mecanismo selecionado (Figura 7).

Embora o grau de sucesso obtido em diferentes mecanismos varie de acordo

com o grau de integração entre as partes envolvidas na transferência, Leonard-Barton

(1998, p. 182) sugere que existe uma escala entre eles, sendo que pouco se pode

esperar de observação, licenciamentos não-exclusivos ou contratos de P&D como

fontes reais de novas aptidões para a empresa. Capital de contrapartida em

investimentos e aquisições “educacionais” permitem investigar novos conceitos. No

entanto, somente a partir do co-desenvolvimento, existe transferência e criação de

conhecimento entre as partes, originando um potencial para novas aptidões internas.

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19

A importação de novas aptidões estratégicas só pode ser realizada rapidamente

através de joint ventures, aquisições e fusões. Joint-ventures podem levar a novas

aptidões ou, simplesmente, até novos produtos, dependendo da maneira como é

conduzido o processo.

FIGURA 7 - MECANISMOS DE IMPORTAÇÃO DE TECNOLOGIA FONTE: Leonard-Barton (1998, p. 182).

Os vários mecanismos podem ser combinados para conseguir alavancar, com a

melhor relação entre o custo e o benefício, o conhecimento em tecnologias que

habilite a empresa à transferência de tecnologia internacional. Além disso, para que

uma filial seja capaz de desempenhar um papel ativo na transferência internacional de

tecnologia, transferindo inovações para a organização, os mecanismos de

transferência precisam ser utilizados buscando as informações disponíveis na região.

Visto que a seleção de competências locais, na velocidade necessária para

atender o mercado, é um processo que exige mudanças organizacionais e uma forte

ligação com competências locais, Perini et al. (2001a) sugerem as seguintes etapas

para elaboração de um plano de ação para criação de um Núcleo de Desenvolvimento

Tecnológico - NDT em filiais de multinacionais:

• = Entendimento do Negócio – Nesta etapa são estabelecidas as metas para o

NDT a partir da estratégia da empresa.

AltoNova aptidão

Joint ventures

Licenciamento (exclusivo)Novo produto/processo

Co-desenvolvimento

Acesso

Contratos de P&D

Licenciamento (não-exclusivo)

Baixo Observação VitrineBaixo Alto

Potencial para aquisição de nova aptidão tecnológica

Capital de contrapartida/Aquisições "educacionais"

Aquisições/fusões

Gra

u de

com

prom

isso

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20

• = Seleção do Grupo de Especialistas – o gestor seleciona um grupo

multidisciplinar de especialistas internos e externos capazes de avaliar o

NDT sob aspectos técnicos, de marketing, legislação, organizacional. Nesta

etapa, também são selecionados especialistas externos que podem

contribuir para a avaliação.

• = Levantamento das Tecnologias Envolvidas – esta etapa promove o

compartilhamento da informação, buscando um entendimento mais profundo

das implicações técnicas da criação do NDT.

• = Análise da Estrutura Organizacional – o grupo levanta e analisa as

possibilidades de criação do NDT a partir da estrutura existente, sinergias

internas e externas à empresa.

• = Avaliação das Possibilidades – as etapas anteriores podem derivar uma

grande quantidade de possibilidades interdependentes. Nesta etapa, as

principais opções são detalhadas e, através de uma avaliação do grupo,

pode-se selecionar a melhor opção e detalhar um plano de ação para

criação e importação das competências necessárias.

A criação de capacitação local é necessária para que a filial faça melhor uso da

transferência de tecnologia internacional, agregando valor local a produtos da matriz e

propiciando a geração de inovações. Isto constitui peça importante na criação de

novos negócios e aumento da competitividade.

2.5 A ORGANIZAÇÃO DOS CENTROS DE INOVAÇÃO

Os centros de inovação buscam organizar-se em diferentes tipos de estruturas

que possuem características que os tornem mais adequados a cada tipo de projeto e

organização. As estruturas mais utilizadas, conforme Vasconcellos (1992, p. 125-128),

para organizar a função de P&D dentro das organizações são apresentadas no

Quadro 4.

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21

QUADRO 4 - ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS USADAS EM CENTROS DE P&D

Nome Descrição

Por Produto Estrutura sugerida quando as tecnologias envolvidas nos vários produtos ou nas várias linhas forem significativamente distintas e exista um número grande de pesquisadores em cada produto.

Por Processo Facilita a interação de cada departamento do centro de P&D com cada etapa do processo produtivo. Esta estrutura também é aconselhável somente em caso de tecnologias distintas envolvidas nos vários processos.

Funcional A departamentalização segundo a especialidade técnica promove a criação de pesquisadores altamente especializados, porém dificulta a comunicação horizontal entre os departamentos.

Por Projetos Pura

Estrutura bastante útil para centros de P&D pequenos e médios com projetos de longa duração e alocação de pesquisadores em tempo integral. Otimiza a utilização dos recursos humanos e equipamentos que são alocados segundo demanda. Os pesquisadores ficam subordinados ao gerente do projeto.

Por Projetos Permite a alocação parcial de pesquisadores em projetos diferentes e subordinados a gerentes de projetos diferentes. É uma estrutura bastante flexível, porém só deve ser usada em pequenos centros de P&D.

Matriz Balanceada

Estrutura onde gerentes de projetos interdisciplinares precisam estabelecer equipes para projetos a partir dos colaboradores alocados em departamentos funcionais. Nesta estrutura, funções de coordenação e administração dos recursos são divididas entre os gerentes de projeto e os gerentes funcionais.

Matricial Funcional

Esta estrutura é semelhante à matriz balanceada, porém o gerente de projeto continua subordinado ao gerente funcional da área de origem do projeto.

FONTE: Adaptado de Vasconcellos (1992, p. 125-128).

As evoluções recentes no ambiente de P&D e na administração por projetos

inseriram novos conceitos, procedimentos e posturas necessários para considerar a

crescente globalização da economia, a elevada concorrência por mercados e a

acelerada evolução tecnológica.

Mintzberg (2001a) não limita as estruturas inovadoras aos ambientes de P&D,

considerando que outros ambientes que necessitam da inovação podem utilizar

estruturas semelhantes. Mintzberg (p. 293, 2001a) define a organização inovadora

como sendo:

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[...] altamente orgânica, com pouca formalização de comportamento, cargos especializados baseados em treinamento especial; uma tendência para agrupar os especialistas em unidades funcionais para efeito de preparação interna, porém destacando-os em pequenas equipes de projeto para a realização de seu trabalho; confiança nas equipes, nas forças-tarefa e na integração de gerentes de vários tipos a fim de estimular o ajuste mútuo, o mecanismo-chave da coordenação, dentro dessa equipes e entre elas; e descentralização considerável para essas equipes e dentro delas, localizadas em várias partes da organização e que envolvem diversas misturas de gerentes de linha, de staff e peritos operacionais.

Considerando as vantagens e desvantagens de cada tipo de organização

clássica (Quadro 5), na prática, um centro de P&D dificilmente é uma estrutura

puramente funcional ou puramente por projetos. Normalmente, o trabalho de P&D está

organizado em diferentes níveis entre o enfoque estritamente funcional ou no projeto.

QUADRO 5 - VANTAGENS DOS DIFERENTES TIPOS DE ORGANIZAÇÃO DE P&D Critérios Organização

funcional Organização Matricial

Organização por Projeto

Eficiência de recursos Média Elevada Média

Flexibilidade de recursos Média Elevada Baixa

Fluxo de informação essencial Médio Elevado Médio

Clareza de relações Elevada Baixa Média

Integração negócio / P&D Fraca Moderada Forte

Enfoque no cliente Fraco Moderado Forte

FONTE: Roussel et al. (1992, p. 141)

Nonaka e Takeuchi (1997) sugerem estruturas ainda mais flexíveis, que variem

de projeto a projeto, como tendência para a organização, chamada organização em

hipertexto. A característica principal da organização em hipertexto é a coexistência de

três níveis ou contextos diferentes dentro da mesma organização, sendo que os

participantes alteram de forma rápida e flexível esse contexto.

Os dois primeiros níveis (Nível de Equipe de Projeto - Força-Tarefa e Nível de

Negócio - Burocracia) são semelhantes, respectivamente, à organização clássica por

projetos e à organização funcional. O nível acrescentado é o Nível de Conhecimento

(Gestão do Conhecimento). Nesse último nível, o conhecimento organizacional gerado

nos dois níveis superiores é recategorizado e recontextualizado. Isso significa que

nesse nível se encontram as bases de dados, a filosofia de trabalho e a cultura

organizacional que orienta a ação de todos os funcionários. Esse nível fornece, ainda,

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23

a direção na qual a empresa deve desenvolver sua tecnologia ou seus produtos e

esclarece o foco em que se quer atuar.

Os ambientes inovadores são a principal fonte de conhecimento organizacional.

Para o sucesso da organização é preciso que o conhecimento relevante (produtos,

modelos, processos), que nasce primeiramente nos indivíduos, sofra recorrentes

transformações entre conhecimento tácito e explícito, atinja o nível organizacional e

se integre às rotinas e processos da empresa (Figura 8) (NONAKA e TAKEUCHI,

1997, p. 82).

Dimensãoontológica

Dimensãoepistemológica

Conhecimento explícito

Conhecimento tácito

Nível do conhecimento

Individual Grupo Organização Interorganização

Externalização

Internalização

Explicitação

Combinação

FIGURA 8 - ESPIRAL DE CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL FONTE:Nonaka e Takeuchi (1997, p. 82).

Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), a função principal da organização é

fornecer o contexto apropriado para facilitar as atividades em grupo e para criação e

acúmulo de conhecimento em nível individual. Cinco condições em nível

organizacional podem promover a espiral do conhecimento.

• = Intenção – a espiral do conhecimento é direcionada pela intenção

organizacional, que é definida como a aspiração de uma organização às

suas metas. A multinacional NEC utilizou o conceito de “domínio tecnológico

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estratégico”, que se assemelha à definição das competências estratégicas

(LEONARD-BARTON, 1998) para fornecer critério para julgar a importância

de um determinado conhecimento.

• = Autonomia – todos os membros de uma organização devem agir de forma

autônoma conforme as circunstâncias, aumentando a chance de introduzir

oportunidades inesperadas. Este tipo de diretriz organizacional leva ao

desenvolvimento de equipes auto-organizadas.

• = Flutuação e Caos Criativo – estimulam a interação entre a organização e o

ambiente externo, podendo explorar a ambigüidade, a redundância ou os

ruídos desses sinais para aprimorar seu próprio sistema de conhecimento. A

organização criadora de conhecimento precisa institucionalizar essa

“reflexão na ação” durante esse processo para tornar o caos realmente

criativo.

• = Redundância – é a existência de informações que transcendem as

exigências operacionais imediatas dos membros da organização. A

redundância é importante, sobretudo no estágio de desenvolvimento do

conceito, quando é essencial expressar imagens baseadas no conhecimento

tácito. Superposição de atividades, “rodízio estratégico” de pessoal, reuniões

freqüentes em bases regulares e irregulares são algumas estratégias

utilizadas.

• = Variedade de Requisitos – a diversidade interna de uma organização deve

corresponder à variedade e à complexidade do ambiente para permitir que

ela enfrente os desafios impostos pelo ambiente. Para isso ocorrer é

necessário a combinação de informações de uma forma diferente, flexível e

rápida e do acesso de informação em todos os níveis da organização.

Portanto, é necessário estabelecer os processos que forneçam as condições

organizacionais necessárias para promover um ambiente inovador na filial da empresa

multinacional.

No entanto, isto não é o suficiente. Para que o conhecimento relevante à

competitividade criado nestes ambientes inovadores na filial seja efetivo para a

empresa multinacional diversificada é preciso garantir seu crescimento na dimensão

ontológica da espiral. Ou seja, é necessário um processo que permita que a espiral,

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iniciada no nível individual, ultrapasse os grupos locais e cresça, atingindo as demais

unidades de negócio e a parte da organização mundial que pode tirar proveito do

conhecimento criado.

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Este capítulo apresentou a organização para a inovação dentro do escopo da

filial de empresa multinacional, destacando os seguintes pontos:

• = O papel da criação de competências essenciais para unificar um portfólio

diversificado.

• = As vantagens e desvantagens da centralização e descentralização das

atividades de P&D e estratégias utilizadas para gerenciar o fluxo de

informação internacional.

• = A transferência de tecnologia para filiais de multinacionais em países em

desenvolvimento e os aspectos que precisam ser considerados para a

criação de capacidade para inovação a partir de diversas fontes de

tecnologia.

• = A organização dos ambientes inovadores e as condições para a criação de

conhecimento na filial.

Neste contexto da filial, observou-se a necessidade de grande interação entre

os diferentes níveis organizacionais e as diferentes unidades para a efetiva utilização

do conhecimento gerado para a competitividade da empresa.

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3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PROJETOS DE INOVAÇÃO

Para que a estratégia de tecnologia da empresa se traduza em ações práticas

bem sucedidas, os planos da alta gerência da empresa precisam estar embasados na

realidade das atividades operacionais, concretizarem-se nos projetos de P&D e

estarem alinhados às diferentes necessidades do negócio. Para isso são utilizados

vários mecanismos que tornam possível a comunicação entre os níveis de maneira

harmônica. Neste capítulo, serão detalhadas ferramentas apresentadas na literatura

para realizar o planejamento dos projetos de inovação nos vários níveis, partindo do

planejamento dos negócios, verificando sua relação com o planejamento corporativo

da tecnologia e o planejamento interno dos centros de P&D.

3.1 TECNOLOGIA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Nonaka e Takeuchi (1997) ressaltam a importância crucial dos gerentes de nível

médio como primeira fonte da estratégia da empresa, sendo o modelo middle-up-down

recomendado na criação do conhecimento da organização. De maneira similar,

Mintzberg salienta que “as estratégias surgem a partir da base da organização,

enraizadas no solo firme de suas operações e não na abstração etérea de sua

administração” (2001a, p. 302).

Isso não significa dizer que nada possa ser feito pela inovação na alta direção.

Embora seja importante constatar que a inovação não sai diretamente do processo de

planejamento estratégico, a orientação estratégica é necessária para o processo

inovativo bem sucedido. Além disso, modelos que estruturem o pensamento na

inovação são essenciais para que a estratégia do negócio não seja apenas reativa.

Embora seja, em muitos momentos, contrário aos modelos analíticos de planejamento,

Mintzberg (p. 301, 2001a) complementa:

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Os líderes podem administrar o processo da formação de estratégia, e não seu conteúdo. Em outras palavras, podem estabelecer as estruturas para incrementar certos tipos de atividades e contatar as pessoas que darão conta delas. Segundo, podem proporcionar diretrizes gerais para a estratégia - o que chamamos de estratégias de guarda-chuva - , procurando definir certas fronteiras, fora das quais os padrões específicos desenvolvidos [pela organização] abaixo não devem ser desviados.

Novas maneiras de pensar a organização são necessárias para vencer as

barreiras organizacionais e culturais que impedem a realização da inovação nas

empresas. Quinn (2001, p. 312) observa que “os gerentes precisam analisar

cuidadosamente como a inovação se encaixa em sua estratégia para estruturar

adequadamente sua tecnologia, suas habilidades, seus recursos e sua organização”.

A utilização dos modelos que organizem a análise do negócio é importante para

que os resultados do planejamento não se limitem aos objetivos operacionais.

Segundo Ansoff (1993, p. 516), os resultados do planejamento estratégico devem ser

divididos em dois conjuntos de metas e objetivos: operacionais, para geração de

lucros em curto prazo, e estratégicos, para o desenvolvimento de potencial de lucros

futuros. As metas de lucro precisam ser convertidas em planos de operações,

enquanto as metas de potencial de lucro são traduzidas em planos de inovação.

Neste ponto, é importante notar que os projetos de inovação da empresa não

estão restritos ao lançamento de novos produtos, mas um grande número de

inovações organizacionais também podem ser tratados como projetos. Para atender

às pressões do ambiente com rapidez, os projetos estão sendo geridos com

ferramentas consagradas de gestão de projetos que, segundo Valeriano (1998),

deixaram de ser utilizadas apenas sob aspectos técnicos e agora são aplicadas em

uma ampla gama de situações em todos os tipos de problemas empresariais.

Ansoff (1993) destaca a importância de explicitar o financiamento dos projetos

de desenvolvimento organizacional, considerando-os e controlando-os em separado

do planejamento de operações. Este sistema, denominado sistema dual de gestão, faz

com que os projetos de desenvolvimento organizacional, por sua duração determinada

e características especiais de investimento, sejam controlados em separado do

planejamento operacional. Atrelar os custos de projetos de inovação ao custo das

operações inibe e limita o potencial de sucesso do projeto.

Os projetos de inovação não influenciam unicamente no processo fabril ou de

P&D, mas influenciam todas as atividades da empresa, haja visto que existe uma

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relação forte entre as tecnologias utilizadas ao longo da cadeia de valor. Uma empresa

realiza diversas atividades que utilizam um conjunto de tecnologias. Alteração e

evolução nas tecnologias de cada uma das partes afetam a não somente a

performance pontual, mas a competitividade por seu impacto sistêmico sobre outras

atividades (Figura 9).

Serviços Marketing de vendas

Logística de Saída Operações Logística de Entrada

Tecnologia: • de transporte • de manipulação do material • de armazenamento e preservação • do sistema de comunicação • de teste • de sistema de informação

Tecnologia: •básica do produto •de materiais •de maquinário •de manipulação de material •de empacota- mento •de manutenção •de teste •de operação do design de construção •de sistema de

informação

•Tecnologia:•de transporte•demanipulação dematerial•deempacotamento•decomunicação•de sistema deinformação

Tecnologia:• de Mídia• de gravação• de audio evídeo• de sistema decomunicação• de sistema deinformação

• Tecnologia: • de Diagnóstico e Teste • de sistema de comunicação • de sistema de informação

FIGURA 9 - TECNOLOGIA EM DIFERENTES ATIVIDADES DA CADEIA DE VALOR FONTE: Adaptada de Porter apud Burgelman et al. (1995).

Além disso, a análise das tecnologias e suas mudanças não pode estar restrita

à empresa, pois está interconectada tecnologicamente a seus fornecedores,

distribuidores, revendedores e clientes. Portanto, torna-se necessário avaliar a

tecnologia em todo o sistema de valor, como mostra a Figura 10.

ConsumidorSeus fornecedores Nossos fornecedores Nossa empresa

Nossos concorrentes

Nossos distribuidores Seus revendedores

FIGURA 10 - MODELO DE SISTEMA DE VALOR DE PORTER FONTE: Porter (1986).

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A integração adequada das tecnologias na cadeia e no sistema de valor é uma

evidente vantagem competitiva no mercado atual. Importante exemplo disto foi a

EMBRAER com o desenvolvimento de parcerias com clientes e fornecedores de

tecnologia desde os primeiros estágios do projeto para construção do avião EMB-145

(TERRA, 1999). Criou-se um comitê com doze empresas clientes do mundo inteiro

que se dispuseram a participar do processo de desenvolvimento, orientando a

empresa quanto às necessidades de desempenho, arranjo interno, características

para facilitar a manutenção, e até coisas bem simples como o tipo de poltrona. Com

os fornecedores de tecnologia foram firmados vários contratos de compartilhamento

de riscos, que se envolveram com aporte de capital financeiro, transferência de

tecnologia e responsabilidade por partes do projeto.

Em diversas áreas, cada vez mais, as tecnologias dos fornecedores e dos

distribuidores, revendedores e clientes estão reestruturando a cadeia de valor para

reduzir custos operacionais e de transações.

A integração com fornecedores e clientes precisa ser observada sob o enfoque

do retorno obtido para a empresa a partir da realização de atividades conjuntas com

parceiros. Isto nos remete à cadeia de valor genérica apresentada por Porter (1986),

que vem sendo muito usada para analisar as partes e como as partes contribuem para

o resultado final da empresa.

Logística Logísticade saída Serviço

Logística Operações Logísticade saída

Marketinge Vendas Serviço

Margem

Atividades Primárias

Ativ

idad

esde

sup

orte

Infraestrutura da Empresa

Gerência de Recursos Humanas

Desenvolvimento Tecnológico

Aquisição

FIGURA 11 - A CADEIA DE VALOR GENÉRICA DE PORTER FONTE: Porter (1986).

Mintzberg (2001b) enfatiza que, de maneira genérica, a meta de qualquer

estratégia é "criar valor para os compradores" de forma lucrativa. Deste modo, a

cadeia de valor exibe o valor total e consiste de atividades de valor e margens:

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• = as atividades de valor são as atividades físicas e tecnológicas distintas que a

empresa desempenha e são os alicerces pelos quais a empresa oferece um

produto valioso para seus compradores;

• = a margem é a diferença entre o valor total e o custo coletivo de se

desempenhar tais atividades de valor.

No entanto, a análise da cadeia de valor pode também ser usada como um dos

instrumentos básicos para que se compreenda o papel da tecnologia na obtenção de

vantagem competitiva, embora a cadeia de valor genérica não reflita necessariamente

a maneira como todas as organizações estão estruturadas internamente (LACERDA,

PERINI et al., 2001). Como exemplos de organizações com lacunas em sua cadeia

podem ser citados alguns tipos de arranjos:

• = As atividades de logística de entrada e saída que podem estar

terceirizados.

• = As organizações podem fornecer aos seus clientes apenas serviços, não

havendo necessidade de operações.

• = Micro e pequenas empresas, por vezes, utilizam-se de linhas de

montagem padronizadas ou processos simples que não requerem

atividades estruturadas de desenvolvimento tecnológico.

• = Em empresas multinacionais que, para determinados negócios, podem

possuir apenas uma representação num país, até fábricas ou centros de

desenvolvimento. Diferentes atividades são realizadas em diferentes

países.

Novas formas de organizar-se e integrar-se fazem parte da estratégia da

empresa contemporânea. Kanter (1997, p. 58) adiciona que, para se manter

competitiva, a empresa precisa enfatizar “as sinergias, minorias empresariais que

impulsionam novas vertentes de negócios para o futuro, e alianças estratégicas ou

parcerias entre stakeholders, que ampliem a capacidade de produção a partir da

combinação das forças de diversas organizações”. A empresa competitiva precisa

estar cada vez mais relacionada com diversos tipos de organizações e integrada

tecnologicamente.

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Esse conceito é reforçado por executivos da NOKIA (Lèger et al, 2000), que

mencionam a criação de uma rede mundial de valor como a principal chave para o

sucesso da empresa:

A Nokia aprendeu a focar nas competências essenciais enquanto faz parcerias com os melhores players do mercado em áreas selecionadas para trazer os produtos mais customizados, mais baratos e mais rapidamente para o mercado. Atividades ao longo da cadeia de valor são realizadas por organizações com os melhores especialistas e know-how. A coordenação geral e a otimização da cadeia de valor do produto são, portanto, a principal responsabilidade da empresa finlandesa.

Considerando a necessidade de “mutação” constante da organização para

atender às necessidades do negócio, Lacerda, Perini et al. (2001) sugerem uma

classificação de estratégias tecnológicas relacionadas com a análise das atividades da

cadeia de valor da empresa.

Esta classificação permite que o pensamento na inovação não fique restrito à

estratégia de P&D. As estratégias tecnológicas necessárias para o sucesso do

negócio podem ser definidas em relação a Aperfeiçoamento, Ampliação, Retração e

Diversificação.

• = O aperfeiçoamento de atividades existentes refere-se à reestruturação da

forma como certas atividades atuais são realizadas na cadeia de valor

buscando definir as próximas gerações de produtos e serviços, assim como

melhorias nos processos de negócios determinados ou melhoria das

características do produto.

• = A ampliação das atividades realizadas busca a incorporação na cadeia de

valor de atividades atualmente realizadas por clientes ou fornecedores. Este

tipo de estratégia define ampliar a maneira como os produtos e serviços são

fornecidos, integrando-se de maneira vertical com outras empresas.

Exemplos disso são empresas que buscam fornecer soluções mais

completas ao invés de produto. Além disso, estratégias podem definir novas

atividades ainda não realizadas internamente, como fábrica, Engenharia ou

P&D, que podem ser estrategicamente criadas para negócios específicos

ou filiais em diferentes países.

• = A diversificação de atividades é o conjunto de estratégias possíveis para a

entrada em um negócio que não esteja na mesma cadeia de operações,

criando novos negócios e aproveitando a estrutura existente para outros

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negócios. Investimentos em Capital de Risco e Novas Tecnologias são

exemplos de estratégias de empresas que buscam diversificar.

• = A retração é a redução das atividades desempenhadas dentro da cadeia de

valor da empresa. Estratégias podem definir que algumas atividades da

cadeia podem gerar mais valor se realizadas por terceiros, realizadas em

rede com outras empresas ou não fazem parte da organização planejada

para o futuro da empresa, planejamento a retirada de um negócio do

portfólio da empresa.

Utilizando-se destas estratégias, os gerentes das áreas podem alinhar a

estrutura organizacional da empresa para atender aos riscos e oportunidades do

mercado onde atuam, assim como traçar estratégias “guarda-chuva” sobre as áreas

de negócio que precisam ser focalizadas nos planos de inovação.

3.2 PROJETOS DE NOVOS PRODUTOS

Durante o processo de busca de oportunidades, que pode ocorrer durante o

planejamento estratégico, um grande número de possibilidades pode ser levantado.

Em empresas diversificadas é essencial conseguir realizar, de maneira

adequada, a gestão do portfólio da empresa. Quinn (2001, p. 313) assim se expressa: Talvez, a tarefa mais difícil para os gerentes do alto escalão seja equilibrar as necessidades das

linhas de produtos existentes com as linhas em potencial. Este problema requer uma estratégia

de carteiras muito mais complexa do que a matriz de quatro caixas do Boston Consulting Group,

encontrada na maioria dos livros sobre estratégia. Para alocar recursos estrategicamente para a

inovação, os gerentes precisam definir as providências amplas e de longo prazo dentro e por

todas as divisões, necessárias para o atingimento de suas visões.

Para criar o conjunto ideal de projetos é preciso selecionar aqueles que utilizam

recursos para apoiar segmentos de mercado existentes e desbravar novos segmentos

de mercado enquanto se utilizam novas tecnologias de maneira apropriada.

Neste ponto, é necessário focar-se nos projetos com maior probabilidade de

retorno a curto e longo prazo. Várias ferramentas podem ser utilizadas na seleção de

projetos de P&D para definir se a estratégia de inovação está adequada à estratégia

de negócio da empresa.

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No trabalho realizado pela Associação de Administração de Pesquisa Industrial

Européia - EIRMA5 (1995), observou-se mais de 100 métodos de avaliação de projetos

com abordagem baseada em métodos financeiros de retorno sobre Investimento6,

julgamento humano ou métodos baseados em computação. Algumas dificuldades

recorrentes foram constatadas na aplicação dos métodos:

• = incerteza pode não receber atenção adequada, particularmente com

métodos financeiros;

• = o grau de ajuste com a estratégia é um problema de julgamento;

• = comparação do P&D em divisões diferentes é bastante difícil;

• = informação sobre pesquisa é menos confiável que para desenvolvimento.

Observa-se, portanto, que um método estritamente financeiro ou

demasiadamente baseado em julgamento, assim como programas baseados em

computação envolvendo um número baixo ou excessivo de variáveis, não apresentam

uma solução ideal.

Buscando superar a subjetividade e a medição inapropriada da incerteza dos

critérios financeiros, outros critérios precisam ser incorporados. Tidd (2000, p. 13) cita

os seguintes critérios não financeiros como os mais utilizados em empresas inglesas:

1. probabilidade de sucesso técnico;

2. probabilidade de sucesso comercial;

3. participação no mercado;

4. ajuste às competências essenciais;

5. grau de comprometimento interno;

6. tamanho do mercado;

7. rentabilidade do mercado;

8. competição;

9. análise de defasagem;

10. técnicas interativas, e;

11. agrupamento de tecnologias.

5 European Industrial Research Management Association. 6 ROI - Return on Investment.

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No entanto, a simples inserção destes critérios não significa a diminuição da

incerteza. A incerteza relacionada à precisão das respostas para determinação dos

critérios só diminui na medida em que existe informação precisa sobre o futuro do

mercado e da tecnologia. Segundo Leonard-Barton (1998, p. 209), dois fatores básicos

configuram as situações referentes à gama de informações necessárias de serem

apropriadamente importadas do mercado para definição adequada dos novos

produtos:

• = maturidade do projeto tecnológico subjacente à linha de produtos, e;

• = grau de correspondência entre a linha de produtos proposta e a clientela.

As variações nessas duas dimensões determinam o nível e os tipos de

incerteza enfrentados pelos desenvolvedores de novos produtos e, logo, os tipos de

informação de que necessitam (Figura 12).

A maturidade do projeto tecnológico mostra uma relação entre o ciclo de vida

das tecnologias envolvidas no projeto de produto, variando de:

• = adaptações de tecnologias existentes;

• = aperfeiçoamentos incrementais nas tecnologias envolvidas;

• = novas tecnologias que estão se tornando viáveis economicamente e irão

fazer parte da próxima geração;

• = tecnologias ainda não existentes novas para o mundo.

Na correspondência entre a linha de produtos proposta e a clientela está

colocado o mercado-alvo da inovação existente, que pode ser:

• = o próprio mercado onde a empresa atua;

• = uma nova clientela que pode ser conquistada a partir da inovação;

• = um mercado novo a ser criado pela inovação.

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Novo para o Mundo

Próxima Geração

Aperfeiçoa-mento

Projeto Maduro

Clientela Existente

Nova Clientela

Novo mercado/ clientela desconhecida

Grau de correspondência entre a linha de produtos e a clientela existente

Alto Baixo

BaixoG

rau

de m

atur

idad

edo

pro

jeto

tecn

ológ

ico

1

2

3

4

5

Aperfeiçoamento induzido pelo

usuário

Desenvolvimento induzido pelo contexto do

usuário

Desenvolvimento induzido pelo

desenvolvedor

Evolução concomitante

tecnologia/mercado

Nova aplicação ou combinação de tecnologia

Alto

FIGURA 12 - FATORES TECNOLÓGICOS E DE MERCADO QUE DETERMINAM A SITUAÇÃO QUE ENVOLVE A DEFINIÇÃO DE NOVOS PRODUTOS

FONTE: Autor baseado em Leonard-Barton, (1998, p. 210).

Conforme mostra a Figura 12, ouvir o cliente no sentido restrito, observando

apenas as necessidades existentes da clientela atual, através de uma pesquisa de

opinião sobre produtos conhecidos (projeto maduro) nem sempre é suficiente para

obter as informações necessárias à determinação de novos produtos. Da mesma

maneira, restringir os novos produtos à necessidade do cliente atual da empresa limita

a competitividade da empresa no longo prazo.

As informações para realização do projeto precisam ser obtidas de uma

maneira mais abrangente dependendo do tipo de produto a ser introduzido, buscando

de maneira adequada informações do mercado para o sucesso da sua introdução

(LEONARD-BARTON, 1998).

Considerando os dois eixos, três áreas podem ser definidas, de acordo com as

características das técnicas necessárias para obtenção da informação, conforme

mostra a Figura 13.

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36

INQUIRIÇÃO

PROJETO EMPÁTICO

CRIAÇÃO DE NOVOS MERCADOS

(a) (b) (c)

FIGURA 13 - CATEGORIAS DE IMPORTAÇÃO DE CONHECIMENTOS DO MERCADO.

FONTE: Autor adaptado de Leonard-Barton (1998, p. 221-227).

Para novos produtos que se posicionam no canto inferior esquerdo, a análise

quantitativa de pesquisas com os clientes que possuem a capacidade de expressar

suas necessidades é bastante útil, permitindo a inquirição direta. Na medida em que

os novos produtos estão localizados no canto superior direito, técnicas prospectivas de

cenários e extrapolação de tendências se fazem necessárias para que os produtos

possam ser criados no mesmo passo que existe a criação de novos mercados. Na

faixa central, existe um conjunto de produtos que exigem, em maior ou menor grau, a

interação entre as necessidades existentes no mercado e pessoas com conhecimento

técnico profundo (empático) capaz de traduzir necessidades do mercado, em áreas

onde o cliente ainda não possui a capacidade de expressar (LEONARD-BARTON,

1998, p. 236).

Os novos produtos, que estão situados na área de inquirição (Figura 13a),

podem utilizar técnicas tradicionais de pesquisa de mercado, como sondagens e

grupos focalizados. O caso (1) da Figura 12 retrata a situação do produto típico, em

que o aperfeiçoamento é induzido pelo usuário e onde se pode buscar uma solução

melhor para uma necessidade conhecida do mercado.

Na área de projeto empático (Figura 13b) é necessária a elaboração de

conceitos de produto ou serviço com base numa compreensão profunda de

necessidades não expressas do usuário e o potencial da tecnologia. Como exemplo

dos três casos, podem ser observados os seguintes pontos na Figura 12:

(2) Desenvolvimento induzido pelo desenvolvedor, na qual existe uma nova

solução para uma necessidade não declarada.

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37

(3) Desenvolvimento induzido pelo contexto do usuário, que representa uma

solução nova para uma necessidade identificada.

(4) Nova aplicação ou combinação de tecnologias, onde há uma solução ainda

em evolução para uma necessidade incerta.

Para realizar a ligação entre o mercado e a tecnologia, metodologias de

roadmaps e avaliação de tecnologias podem ser usadas para atingir esses objetivos.

Essas metodologias serão detalhadas na próxima seção.

Na área de criação de novos mercados (Figura 13c), técnicas de prospecção

tecnológica precisam ser usadas para que a complexidade dos eventos possíveis

possa ser analisada. O caso (5) (Figura 12) é típico dos novos produtos que recaem

sobre esta área. Nesses produtos existe a evolução concomitante de tecnologia e

mercado, ou seja, existe uma solução ainda em evolução para uma necessidade

incerta.

A relação entre os casos, sua descrição e técnicas possíveis estão resumidas

no Quadro 6.

QUADRO 6 - IMPORTAÇÃO DE CONHECIMENTOS DO MERCADO PARA CRIAÇÃO DE NOVOS PRODUTOS

Caso Descrição Técnicas

1 Aperfeiçoamento induzido pelo usuário

Uma solução melhor para uma necessidade conhecida

• =Instrumentos tradicionais de pesquisa de mercado

2 Desenvolvimento induzido pelo desenvolvedor

Uma solução para uma necessidade conhecida

3 Desenvolvimento induzido pelo contexto do usuário

Uma nova solução para uma necessidade não declarada

4 Nova aplicação ou combinação de tecnologias

Uma nova solução para uma necessidade identificada

• =Roadmaps tecnológicos • =Avaliação de Tecnologias

5 Evolução concomitante de tecnologia e mercado

Uma solução ainda em evolução para uma necessidade incerta

• =Prospecção Tecnológica

FONTE: Adaptado e resumido de Leonard-Barton (1998).

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38

Para que a informação do mercado não fique restrita à inquirição do cliente,

novas técnicas, como roadmaps tecnológicos, avaliação de tecnologia e prospecção

tecnológica, precisam ser estruturadas na empresa para alimentar os projetos

empáticos e os projetos de criação de novos mercados.

Estas técnicas, em conjunto com os critérios financeiros e não financeiros,

podem ser usadas como um importante mecanismo para fazer com que a visão

estratégica dos negócios se concretize em projetos de novos produtos com chance

otimizada de sucesso.

3.2.1 Roadmaps tecnológicos

Para que ocorra um alinhamento entre a estratégia do negócio e o

conhecimento técnico da empresa, a tecnologia precisa ser planejada em três níveis

organizacionais (HISCOCOCKS e RIFF, 2000):

• = No nível dos negócios, a alta gerência precisa observar a organização e

redes associadas, portfólio de negócios, funções financeiras e marketing

junto com o desenvolvimento estratégico e implementação de processos

necessários para distribuir valor para o negócio no futuro.

• = No nível do produto, os gerentes das unidades de negócio precisam

examinar o portfólio de produtos e serviços, plataformas, operações e

fabricação, junto com a inovação em novos produtos e introdução de novos

processos.

• = No nível de tecnologias, os gerentes dos centros de P&D precisam estar

planejando a tecnologia, engenharia e habilidades científicas junto com os

processos de gestão de tecnologia necessários para manutenção da base

tecnológica.

As técnicas conhecidas genericamente como Roadmapping são cada vez mais

usadas por empresas, tanto para distribuir quanto para expressar visões dos seus

negócios e para descrever os elos e ações necessárias para distribuí-los ao longo do

tempo entre os vários níveis (EIRMA, 1998).

A utilização de roadmaps se torna necessária para alinhar os esforços de

marketing, P&D nas unidades de negócio e nas áreas de pesquisa corporativa. Em

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39

roadmaps de produto, as características esperadas para as próximas gerações são

definidas e, em paralelo, é criado o roadmap de tecnologia que seleciona as

tecnologias necessárias para obtenção destas características.

Durante a confecção dos roadmaps, se define um grupo multidisciplinar com a

participação de representantes de diversos departamentos da empresa buscando

orientar o que se espera dos esforços de P&D.

A relação entre o mercado e a tecnologia é avaliada de maneira sistemática

através de um workshop com vários especialistas, obtendo uma relação entre as

características que serão empurradas pela tecnologia (technology-push) e

demandadas pelos negócios (market-pull), conforme mostra a Figura 14.

FIGURA 14 - ANÁLISE ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DEMANDADAS PELO MERCADO E AS EMPURRADAS PELA CIÊNCIA

FONTE: Phaal et al. (2001, p. 6).

Na metodologia do roadmapping, busca-se traduzir, através de workshops, as

necessidades de mercado, em características necessárias para o produto ao longo do

tempo e, conseqüentemente, traduzir as características dos produtos em

necessidades tecnológicas, sincronizando ambas para a obtenção de novas aptidões

tecnológicas no momento necessário para o negócio (Figura 15).

Envolope deperformance

Dimensões deperformance (tamanho, peso, velocidade, etc.)

Drivers do mercado(‘pull’)

Potencialidades e restrições da tecnologia(‘push’)

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40

tempo

Negócio/Mercado

Produto/ Serviço

Tecnologia

Cara

ct.

Prod

utos

Drivers do Negócio /Mercado

Caract. Produtos

Solu

ções

Tec

noló

gica

s

Roadmap de Tecnologia

Grades deAnálise

FIGURA 15 - SINCRONIZAÇÃO ENTRE AS NECESSIDADES DE MERCADO E AS SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

FONTE: Phaal et al. (2000, p. 4).

A distinção entre projetos e roadmaps é importante. O projeto é o nível com

atividades bastante específicas, bem definidas no tempo, normalmente sobre um

período de tempo mais curto e com um baixo nível de incerteza. Roadmaps são

usados para mensurar o progresso em uma hierarquia estratégica em termos de

complexidade e no qual pode existir mais de um caminho a seguir (EIRMA, 1998). A

visão do que se espera como resultado ainda não está definida completamente,

somente fornece uma orientação.

No processo de criação são colocadas, em um gráfico semelhante ao da Figura

16, as seguintes interdependências :

• = elementos - tempo, deliverables (características do produto ou processo);

• = tecnologias -habilidades / ciência/ know-how (interno ou externo);

• = recursos - humanos, intelectuais, físicos e financeiros;

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41

FIGURA 16 - ROADMAP TECNOLÓGICO - ESQUEMÁTICO FONTE: PHALL et al., p. 4, 2000.

Os roadmaps fornecem uma maneira de estruturar o fluxo ao longo do tempo.

Partem das necessidades do mercado e das potencialidades da tecnologia criando o

conjunto adequado de características que devem ser colocadas no produto.

3.2.2 Avaliação de tecnologias

Objetivo semelhante ao dos roadmaps pode ser alcançado através da avaliação

de tecnologias envolvidas nos produtos atuais, buscando levantar sua importância

para a empresa.

A avaliação é precedida pela Auditoria Tecnológica, ou Inventário de Recursos

Tecnológicos. Embora seja um trabalho de pouca urgência que demanda recursos e

tempo de pessoas, realizar o inventário dos recursos tecnológicos da empresa pode

ser uma poderosa ferramenta para identificação de oportunidades e definição de

estratégias. Conforme ressalta Morin e Seurat7 apud Deitos (2001):

7 MORIN, Jacques e SEURAT, Richard. Gestión de los Recursos Tecnológicos. p. 158. COTEC: Madrid, 1998.

tempo

Negócio / Mercado

Produto /

Serviço

Tecnologia

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42

(..) feito com método, este exercício [inventário do patrimônio tecnológico] não é tão difícil e, sobretudo, resulta muito frutífero pelas questões que põe em relevo. Com efeito, desde o momento em que se definem seus objetivos (identificação do verdadeiro “ofício”, análise da competitividade futura, etc.), a extensão e a sofisticação do inventário se limita ao essencial e contempla seus justos termos. Associado com a avaliação posterior, o inventário é reconhecido por todos os que o tenham feito alguma vez, como uma potente ferramenta de reflexão.

Perini et al. (2001b) propõem uma metodologia para auditar as tecnologias

envolvidas em uma empresa sob o ponto de vista multidisciplinar, levando em

consideração aspectos técnicos, mercadológicos, jurídicos, ciclo de vida do produto e

aspectos organizacionais comparando com alternativas disponíveis no mercado e no

futuro.

A metodologia sugere a construção de uma árvore tecnológica para

desmembrar o produto analisado, conforme mostra a Figura 17.

Tecnologia 1

Linha de Produtos X

Tec 10

Produto A

Tecnologia2

Tec 22

Tecnologia3

Produto B

Tecnologia 4

Tec 11

Objeto daAuditoria Agrupamento Lógico Tecnologias aplicadas Tecnologias Disponíveis no MercadoPossíveis Tendências para o FuturoTecnologias Correlacionadas

Tec 23Tec 24

Tec 25Tec 20

Tec 21

Tecnologia 1

Linha de Produtos X

Tec 10

Produto A

Tecnologia2

Tec 22

Tecnologia3

Produto B

Tecnologia 4

Tec 11

Objeto da Auditoria Agrupamento Lógico Tecnologias aplicadas Tecnologias Disponíveis no MercadoPossíveis Tendências para o FuturoTecnologias Correlacionadas

Tec 23Tec 24

Tec 25Tec 20

Tec 21

FIGURA 17 - EXEMPLO DE ÁRVORE TECNOLÓGICA FONTE: Perini et al. (2001b, p. 10).

Para aquisição e validação de informações tecnológicas e de mercado, a

metodologia leva em consideração: o conhecimento tácito interno da empresa, de

especialistas externos e um sistema auxiliar de Inteligência Tecnológica (CARVALHO,

2000). A Inteligência, ou Vigilância, Tecnológica é centrada no seguimento dos

avanços do estado da técnica e em particular da tecnologia e das ameaças e

oportunidades que gera:

• = avanços científicos e técnicos, fruto da investigação básica e aplicada;

• = produtos e serviços, particularmente os substitutivos;

• = os processos de fabricação;

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43

• = as tecnologias e sistemas de informação;

• = em quê e com quê trabalham as pessoas de centros técnicos,

universidades, laboratórios da área de sua competência, ou seja,

desenvolvimento de fontes tecnológicas.

Estas atividades de Inteligência Tecnológica podem ser realizadas de várias

maneiras, sendo que cada uma destas organizações possui vantagens e

desvantagens em relação ao custo e prazos e resultados obtidos (PERINI et al.,

2001c). Algumas possibilidades são:

• = contratação de consultoria;

• = criação da Unidade de Monitoramento;

• = mobilização de parte da empresa;

• = busca de parcerias com outras empresas;

• = busca de parcerias com fornecedores de informação.

• = parceria com universidades que possuam um Grupo de Inteligência.

Como resultado da auditoria tecnológica obtém-se um portfólio de atratividade

das tecnologias aplicadas no produto, um portfólio da atratividade dos produtos no

mercado e um catálogo de recomendações dos muitos aspectos relacionados,

apoiando as tomadas de decisão do gestor (Figura 18).

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44

Mantém a liderança tecnológica,

Decisão seletiva baseada em tendências:

• T1 - melhorar a posição tecnológica da organização através de mais investimentos

�T3 - usar a liderança tecnológica sem novos investimentos

�T4 - liberar recursos se não for tecnologia básica

Posição relativaatrasado líder

Atr

ativ

idad

e da

ste

cnol

ogia

s

baixa

alta

Posição atual de uma tecnologia

Posição estimada de uma tecnologia no horizonte previsto

Posição da tecnologia permanece a mesma no intervalo previsto

Legenda:

T

T

T

Mantém a liderança tecnológica,

Decisão seletiva baseada em tendências:

• T1 - melhorar a posição tecnológica da organização através de mais investimentos

�T3 - usar a liderança tecnológica sem novos investimentos

�T4 - liberar recursos se não for tecnologia básica

Posição relativaatrasado líder

Atr

ativ

idad

e da

ste

cnol

ogia

s

baixa

alta

Posição atual de uma tecnologia

Posição estimada de uma tecnologia no horizonte previsto

Posição da tecnologia permanece a mesma no intervalo previsto

Legenda:

T

T

T

P1 - sem necessidade de mudar, do ponto de vista tecnológico. Especialmente quando as tecnologias aplicadas são bem dominadas. Monitorizar tendências quanto a possíveis tecnologias substitutas, troca oportuna.

Decisão seletiva baseada em tendências:�P3 - investir em tecnologiaspara melhorar posição conforme evolução projetada

�P4 - sem necessidade de investimentos adicionais - evolução da atratividade de mercado e da participação não são claramente determináveis

P2 - investigar se a posição do produto se deve astecnologias ou se há necessidade de intervenção no produto

Participaçãobaixa alta

Atra

tivid

ade

do

Mer

cado

baixa

alta

Posição atual de um produto

Posição estimada de um produtono horizonte previstoPosição do produto permanece a mesma no intervalo previsto

Legenda:

P

P

P

P1 - sem necessidade de mudar, do ponto de vista tecnológico. Especialmente quando as tecnologias aplicadas são bem dominadas. Monitorizar tendências quanto a possíveis tecnologias substitutas, troca oportuna.

Decisão seletiva baseada em tendências:�P3 - investir em tecnologiaspara melhorar posição conforme evolução projetada

�P4 - sem necessidade de investimentos adicionais - evolução da atratividade de mercado e da participação não são claramente determináveis

P2 - investigar se a posição do produto se deve astecnologias ou se há necessidade de intervenção no produto

Participaçãobaixa alta

Atra

tivid

ade

do

Mer

cado

baixa

alta

Posição atual de um produto

Posição estimada de um produtono horizonte previstoPosição do produto permanece a mesma no intervalo previsto

Legenda:

P

P

P

FIGURA 18 - PORTFÓLIO DE TECNOLOGIAS E DO PRODUTO NO MERCADO FONTE: Adaptado de Rezagholli e Frey (2000).

A metodologia de Avaliação Tecnológica contempla as seguintes etapas

(PERINI et al., 2001b):

��Planejamento – Nesta etapa, a equipe de auditores entendem aspectos

referentes ao planejamento estratégico da organização, considerando e

entendendo aspectos importantes para a Unidade de Negócios, sua posição

no mercado e seus concorrentes. Esta etapa coloca direcionamentos para

as atividades da Auditoria.

��Coleta de Informações – buscando a ampliação e o aprofundamento da

visão sobre as tecnologias envolvidas, esta fase estrutura o conhecimento,

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45

levantando questões importantes das tecnologias envolvidas no produto,

alternativas disponíveis no mercado para a tecnologia atual e tendências

possíveis para as tecnologias e para o mercado avaliado.

��Análise das Tecnologias – Neste momento os especialistas avaliam as

tecnologias segundo suas especialidades. Através de especialistas internos,

externos e outras fontes de informação, as informações são analisadas e

avaliadas.

��Análise do Produto no Mercado – A partir de dados de mercado e

informações tecnológicas, os responsáveis pelo ciclo de vida do produto,

vendedores e especialistas de Marketing avaliam seu produto em relação

aos concorrentes.

��Difusão dos Resultados – Baseado nas três avaliações, é elaborado um

catálogo de recomendações para a unidade de negócios, contendo portfólios

e gráficos sobre o produto avaliado.

3.2.3 Prospecção tecnológica (novos mercados)

No ambiente competitivo atual, cada vez mais acelerado, onde a disputa por

participação no mercado exige grandes esforços, muito se tem falado das vantagens

provenientes do fato de possuir uma visão e criar um novo mercado a partir disto.

Sendo o primeiro entrante no mercado, a empresa pode aproveitar-se de baixos

custos operacionais, enquanto os competidores precisam ainda criar plantas de

tamanho similar. Os primeiros entrantes já começaram o processo de livrar-se dos

erros do produto, tendo vantagens na curva de aprendizado que precisa ser iniciada

pelas outras empresas. Quando os concorrentes chegam no mercado, precisam

competir com redes de distribuição e fornecimento já estabelecidas. Os primeiros

entrantes normalmente conseguem ganhar as maiores fatias do mercado conseguindo

vantagens de economia de escala e escopo e, mais dificilmente, conseguem ser

ameaçados por novos entrantes (BETZ, 1993, p.98).

Para que estas vantagens sejam alcançadas, é preciso que a empresa não

apenas tenha a melhor tecnologia, mas que tenha uma estratégia completa

considerando produção em larga escala, distribuição nacional e internacional e

desenvolvimento de talento gerencial para fazer crescer o novo mercado (BETZ,

idem).

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46

O primeiro passo para criar esta estratégia em busca destes negócios, é uma

visão clara do que se pretende obter e uma visão adequada do futuro do mercado

para que seja possível atuar na sua criação. O termo usado é prospecção tecnológica

ao invés de previsão tecnológica, na medida em que a empresa precisa desempenhar

um papel mais ativo na criação do futuro imaginado, e não apenas seguir um futuro

inevitável.

Para realização da prospecção tecnológica, utilizam-se técnicas específicas

(BURGELMAN et al., 1995, p. 149). Entre as mais utilizadas estão:

• = Delphi - rodadas de entrevistas ou questionários aplicados

individualmente para um conjunto selecionado de especialistas em

diversas áreas correlacionadas que expressam sua opinião sobre o

futuro de determinada tecnologia.

• = Cenários – descrição de uma possível situação futura baseado em uma

análise ampla do ambiente. Normalmente várias alternativas para o

futuro são preparadas e defendidas.

• = Árvores de relevância – o objetivo é determinar e avaliar

sistematicamente os caminhos alternativos com os quais um

determinado objetivo ou missão pode ser atingido.

• = Análise de Impacto cruzado – Prospecta o futuro através da análise da

interrelação de eventos e fatores que podem influenciar o futuro da

tecnologia, sejam estes tecnológicos ou não.

As técnicas prospectivas são bastante utilizadas para fornecer orientação

estratégica para o negócio com um horizonte de previsão maior que cinco anos.

3.3 GERENCIANDO O PORTFÓLIO DE PROJETOS DE NOVOS

PRODUTOS

Após uma visão clara da importância estratégica do projeto e dos possíveis

retornos fornecidos pelas inovações criadas, faz-se necessária a efetiva gestão dos

projetos de inovação para que os recursos necessários para atingir as metas sejam

garantidos e o aprendizado possa ocorrer e fornecer informações úteis para a seleção

dos próximos projetos de inovação.

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47

É extremamente importante para o sucesso dos projetos que a gerência sênior

desempenhe um papel ativo nas primeiras fases do projeto, visto que a capacidade de

influir no resultado nas fases mais avançadas é muito limitada. Burgelman et al. (1995,

p. 664) identificam alguns problemas bastante comuns nas empresas relacionados ao

sucesso ou fracasso dos projetos.

Primeiro, iniciar um número muito maior de projetos do que podem efetivamente

ser completados e definir recursos críticos para trabalhar em muitos projetos

simultaneamente. Na vasta maioria das empresas, existem mais projetos em

andamento do que existem recursos para apoiar e completar para datas inicialmente

desejadas (normalmente em um fator de comprometimento de dois ou três). Este

excesso de comprometimento dos recursos leva à ineficiência e, inevitavelmente, à

frustração e desapontamento.

Segundo Burgelman et al. (1995, p. 665), gerentes seniores precisam ter a

disciplina de decidir quais projetos são mais importantes, definir fronteiras de projetos

apropriadamente e comprometer-se com projetos somente até o ponto onde a

capacidade irá permitir completar todos os projetos com recursos. Para a maioria das

empresas, isto significa cortar o número de projetos pela metade ou dois terços. À

medida que o caos é limitado e o foco nos recursos de desenvolvimento aumenta,

torna-se mais fácil para os gerentes sênior identificar recursos adicionais e

capacidades que são necessárias e justificadas, fazendo decisões apropriadas.

Wheelwright e Clark apud Burgelman et al. (1995) propõem uma maneira de

caracterizar os projetos de acordo com o grau de mudança do produto ou do processo.

Os projetos individuais podem ser de cinco tipos (Figura 19):

(1) de sustentação do negócio;

(2) aprimoramentos, híbridos e derivativos;

(3) plataforma ou próxima geração;

(4) único e radical;

(5) pesquisa e desenvolvimento avançado.

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48

FIGURA 19 - MIX DE PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO / PROCESSO

FONTE: Wheelwright e Clark (1992) apud Burgelman et al., (1995).

Para cada negócio, um mix de todos os tipos de projetos é essencial para o

sucesso no longo prazo. A gerência sênior deve ter uma atitude de reconhecer

explicitamente as necessidades do negócio por um conjunto apropriado de projetos, e

então determinar o caminho mais efetivo para conseguir completar estes projetos, seja

internamente, seja através de aquisições, com parceiros ou com subcontratações.

Segundo Burgelman et al. (1995), saber balancear projetos de inovação radical,

projetos de plataforma e projetos derivativos (modificações sobre a plataforma) tem se

mostrado uma grande vantagem na diferenciação de tipos de projetos de

desenvolvimento para utilizar recursos escassos, atingir mercados de maneira

adequada e fornecer produtos distintos, conseguindo vantagem competitiva.

Mudanças em processo

Novo processoessencial

Processo depróxima geração

Upgrade de um único departamento

Ajuste e incrementos

Novo produto essencial

Únicoradical

PróximaGeração do

produto essencial

Plataforma ou próxima geração

Adições afamília de

produtos

Add-ons ouaprimoramentos

Sustentação

Aprimoramentos,híbridos e derivados

Mud

ança

s em

Pro

duto

Pesquisa e Desenvolvimento

Avançado

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49

3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Este capítulo apresentou conceitos utilizados para garantir que a inovação

ocorra de acordo com a estratégia e as necessidades do negócio. A partir do papel da

tecnologia para o negócio, foram levantados mecanismos para realizar a classificação

e seleção dos projetos de novos produtos. Técnicas utilizadas para fornecer

informação para os projetos de novos produtos a partir de necessidades não

expressas diretamente pelo cliente: roadmaps tecnológicos, avaliação de tecnologias

e prospecção tecnológica. Finalmente, o capítulo coloca o papel da alta gerência e

diretoria para atuar de maneira ativa através de um gerenciamento do portfólio dos

projetos de inovação.

Este alinhamento entre o planejamento estratégico e os projetos de inovação é

fundamental para a eficácia da gestão de tecnologia e inovação da empresa, que

precisa ser construída com uma visão orientada à competitividade.

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50

4 A GESTÃO DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Este capítulo apresenta os principais conceitos relacionados à Gestão de

Tecnologia e Inovação utilizados no estudo. A partir da definição das atividades de

P&D e da própria inovação tecnológica, observa-se o escopo necessário para

gerenciar a inovação e algumas maneiras para medir as atividades de inovação e seu

impacto no negócio. Adicionalmente, são apresentados alguns modelos para organizar

o processo de inovação e ferramentas utilizadas pelas empresas para realizar a

Gestão de Tecnologia e Inovação.

4.1 ATIVIDADES DE P&D E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico -

OCDE, P&D é “o trabalho criativo realizado numa base sistemática a fim de aumentar

o estoque de conhecimento, incluindo conhecimento de homem, cultura e sociedade, e

o uso deste estoque de conhecimento para desenvolver novas aplicações” (OCDE,

1994). Portanto, está diretamente relacionado à criação de conhecimento na

organização.

A inovação, segundo Freeman (1982), por outro lado, é “a introdução e difusão

de produtos e processos (e serviços) novos e melhorados na economia”. Inovação

pode ser vista como o ato de modificar a tecnologia da empresa, “a combinação de

recursos, conhecimentos e técnicas que criam um produto ou serviço para uma

organização” (SCHERMERHORN et al., 1999, p. 182).

Mostrando a interrelação profunda entre as atividades de inovação da empresa

e as atividades de P&D, Nonaka e Takeuchi coloca que “a criação do conhecimento

alimenta a inovação, mas o conhecimento em si não. Em outras palavras, o processo

através do qual o novo conhecimento é criado dentro da organização – sob a forma de

novos produtos, serviços ou sistemas – torna-se a pedra fundamental das atividades

inovadoras.” (1997, p 275).

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51

Observa-se que a inovação tecnológica somente se concretiza quando

introduzida no mercado (inovação de produto) ou usada dentro do processo produtivo

(inovação do processo). Isto envolve uma série de atividades científicas, tecnológicas,

organizacionais, financeiras e comerciais (OCDE, 1994). A abrangência do conceito de

inovação está, portanto, além do simples avanço tecnológico dentro dos centros de

P&D, embora tenha nestas atividades uma base fundamental.

Como colocado pela Fundação COTEC8 (1998, p. I -3), a “inovação tem

dimensões tecnológicas e organizacionais e precisa ser apoiada por todos os

departamentos e funções do negócio”. Atividades de P&D podem ser realizadas em

fases diferentes do processo, agindo não somente como fonte original de idéias

inventivas, mas também como uma forma de resolução de problemas, os quais podem

ser necessários em qualquer atividade da empresa.

É importante destacar outras atividades que introduzem inovação nos produtos

e processos e que não estão necessariamente ligadas às atividades de P&D. A OCDE

(1994) define as seguintes atividades de inovação, além de atividades características

de P&D:

• = A ferramentaria e a engenharia industrial abrangem a aquisição e a troca do

equipamento e das ferramentas de produção e dos procedimentos de

controle de qualidade, métodos e padrões necessários para fabricar o novo

produto ou para utilizar o novo processo.

• = O início da fabricação e o desenvolvimento da pré-produção podem incluir

modificações no produto ou no processo, com treinamento de pessoal para

as novas técnicas ou no uso do novo equipamento, e produção de testes se

isto implicar em outro projeto e engenharia.

• = O marketing de novos produtos abrange as atividades relacionadas com o

lançamento de um novo produto. Isto pode incluir testes de mercado,

adaptação do produto em mercados diferentes e propaganda de

lançamento, mas irá excluir a construção de redes de distribuição para

inovações do mercado.

8 Fundación COTEC é uma fundação de origem empresarial que tem como missão contribuir para o desenvolvimento do país através do fomento a inovação tecnológica na empresa e na sociedade espanhola (www.cotec.es).

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52

• = A aquisição de tecnologia independente inclui a aquisição de tecnologia

externa na forma de patentes, invenções não patenteadas, licenças,

divulgação de know-how, marcas registradas, designs, padrões e serviços

com um conteúdo tecnológico.

• = A aquisição de tecnologia agregada abrange a aquisição de maquinário e

equipamentos com conteúdo tecnológico no que diz respeito às inovações

de produto ou processos introduzidos pela empresa.

• = O design é uma parte essencial do processo de inovação. Ele abrange

plantas e desenhos com o objetivo de definir procedimentos, especificações

técnicas e características operacionais necessárias para a concepção, o

desenvolvimento, a fabricação e marketing de novos produtos e processos.

Ele deve ser parte da concepção inicial do produto ou processo, isto é,

pesquisa e desenvolvimento experimental, mas também pode estar

relacionado com a ferramentaria, engenharia industrial, início da fabricação

e marketing de novos produtos.

Com a aceleração das mudanças no ambiente competitivo global, a inovação

tem um papel fundamental para a manutenção e ampliação das vantagens

competitivas das empresas. Considerando este papel estratégico, é preciso que a

inovação ocorra de maneira sistêmica.

4.2 O ESCOPO DA GESTÃO DE TECNOLOGIA E DA INOVAÇÃO

Buscando orientar o processo de inovação, a gestão de tecnologia tem evoluído

para adquirir um sentido mais abrangente. Este sentido não limita a gestão de

tecnologia a uma atividade específica, mas à relação da tecnologia e inovação com as

várias atividades primárias e de suporte, incluindo a estratégia empresarial, recursos

humanos e infra-estrutura, englobando não somente artefatos e sistemas técnicos,

mas as questões relacionadas às pessoas e à sua organização, conforme ilustra a

Figura 20 (BULLINGER e HANER, 2001).

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53

FIGURA 20 - ESCOPO DA GESTÃO DE TECNOLOGIA. FONTE: BULLINGER e HANER (2001).

O National Research Council - NRC define, portanto, a Gestão de Tecnologia

como um elo entre disciplinas de engenharia, ciência e gestão para planejar,

desenvolver e implementar capacidades tecnológicas para moldar e atingir os

objetivos estratégicos e operacionais de uma organização (BULLINGER e HANER,

2001).

FIGURA 21- GESTÃO DE TECNOLOGIA COMO ELO “FALTANTE” FONTE: NRC apud Bullinger e Haner (2001).

Conforme sugere a COTEC (1998, p. I -4), “a empresa precisa seguir

rapidamente do protótipo para produção em volume e mercado, vender e distribuir os

novos produtos e serviços em novos territórios e para novos tipos de clientes.

Engenharia/Ciência GestãoGestão da Tecnologia

Engenharia/Ciência

GestãoGestão de Tecnologia

Foco na Tecnologia

Artefatos Sistemas Técnicos

Atividades primárias

Atividades detransformação

Substrato da Capacidade Tecnológica

Foco no negócio habilitado pela Tecnologia

Foco na Tecnologia

Pessoas

Atividades primárias e de suporte

Ope

raçõ

es

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Logística e sistemas de informação por trás da operação são todos de interesse para a

Gestão da Tecnologia. Toda a organização precisa estar afiada para um alto nível de

desempenho”. Para ser o elo de ligação, a gestão de tecnologia precisa relacionar-se

com as diferentes áreas da empresa e integrar diferentes disciplinas.

A gestão de tecnologia vem sendo tratada em diferentes níveis (PROBERT et

al., 1999), dos quais três se destacam:

a) Gestão de Tecnologia Global (ou corporativa) – relacionada com questões

de unidades com negócios múltiplos, alocação de atividades no contexto

dos mercados globais. Ex. Acesso internacional a recursos humanos e

tecnológicos, posicionamento e configuração de centros de P&D e sua

interligação com o mercado global.

b) Gestão de Tecnologia Estratégica (ou de negócio) – relacionada com as

ligações entre os recursos tecnológicos para assegurar vantagem

competitiva em um negócio em particular.

c) Gestão de Tecnologia Operacional – preocupa-se com P&D e gestão de

tecnologia, focalizando em processos internos do negócio, como

transferência de tecnologia e organização para inovação.

Para permitir que a inovação seja medida, organizada, orientada e fomentada

na organização a literatura de gestão da tecnologia e inovação sugere indicadores,

modelos e ferramentas para estabelecer e aprimorar o processo na organização.

4.3 MEDIÇÃO DAS ATIVIDADES DE INOVAÇÃO E DE SEU IMPACTO

NO NEGÓCIO

Entre os padrões internacionais estabelecidos para medição da inovação,

destacam-se o Manual Frascatti (OCDE, 1994) e o Manual de Oslo (OCDE, 1998).

A partir dos conceitos apresentados no Manual Frascatti, as atividades de P&D

são medidas de maneira padronizada para compor os principais indicadores, dos

quais se sobressaem:

• = Medição de pessoal de P&D - todas as pessoas empregadas diretamente

com P&D devem ser consideradas, assim como aquelas que fornecem

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serviços diretos, como gerentes de P&D, administradores e o pessoal de

escritório.

• = Medição de dispêndios com P&D - os estudos de gastos com P&D podem

ser feitos dentro da unidade estatística (interno) ou fora desta (externo).

Com relação ao dispêndio em P&D, pode-se separar os custos em: gastos

trabalhistas, gastos capitais e outros custos.

Estes indicadores são bastante importantes, pois a padronização permite a

comparação entre empresas e entre países. No entanto, limitar o conceito e o controle

da inovação nestes indicadores não permite medir as demais atividades ligadas à

inovação que ocorrem na empresa. O Manual de Oslo (OCDE, 1998, p. 49-50) sugere

ampliar o conceito de medição para todos os projetos de inovação, considerando a

seguinte classificação para os dispêndios:

• = Dispêndio em P&D.

• = Dispêndio para aquisição de tecnologia não-embarcada e know-how.

• = Dispêndio para aquisição de tecnologia embarcada.

• = Dispêndio para ferramentaria, engenharia industrial, design industrial e início

de produção, incluindo outros dispêndios para plantas piloto e protótipo que

não foram incluídos em P&D.

• = Dispêndio com treinamento ligado a atividades de Inovação.

• = Marketing para produtos novos ou tecnologicamente melhorados.

De maneira adicional, é importante classificar os dispêndios no projeto em

relação à fonte de financiamento: fundos de empresas relacionadas (filiais ou

associadas), outras empresas, do governo (empréstimos, fundos, etc.) ou de

organizações internacionais e outras fontes de recurso (OCDE, 1998, p. 68).

No Brasil, a Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia

das Empresas Inovadoras - ANPEI - utiliza o conceito ampliado de P&D, denominado

Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia não-rotineira - P&D&E.

Os dispêndios em P&D&E são classificados, segundo a ANPEI (2002), da

seguinte maneira:

• = Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) compreende os gastos em trabalho

criativo realizado numa base sistemática com a finalidade de aumentar o

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estoque de conhecimentos científicos e tecnológicos, assim como proceder

a sua aplicação para a solução de problemas práticos. Inclui a pesquisa

básica, a pesquisa aplicada e o desenvolvimento experimental.

• = Serviços Tecnológicos compreendem as atividades que suportam a

execução dos trabalhos de P&D. Portanto, os gastos incorridos na execução

de atividades ligadas a ensaios, testes e análises técnicas, capacitação de

recursos humanos para as atividades técnicas e científicas e outras

similares.

• = Aquisição de Tecnologia - É a soma dos gastos no ano com: serviços de

assistência técnica para as atividades de P&D; "royalties" decorrentes de

licenças para uso de marcas e patentes; aquisição de programas de

computador (cópia única); aquisição de direitos relacionados com novos

produtos ou processos (desde que pagos integralmente no ano);

amortizações de investimentos em ativos intangíveis para inovação

tecnológica.

• = Engenharia não-rotineira - São os gastos efetuados com atividades de

engenharia diretamente relacionadas ao processo de inovação, envolvendo

o desenvolvimento de produtos/processos. Inclui as seguintes atividades:

o design - produção de planos e desenhos que especificam, técnica e

operacionalmente, os elementos necessários à concepção,

desenvolvimento, manufatura e comercialização de novos produtos e

processos);

o projeto - a confecção e as mudanças de ferramental a ser utilizado em

novos produtos /processos;

o estabelecimento de novos métodos e padrões de trabalho;

o rearranjos de planta requeridos para implementação de novos

produtos e processos.

Segundo o Manual de Oslo, a inovação pode ter como objetivo os seguintes

benefícios econômicos:

• = Substituir produtos e fase de descontinuidade.

• = Ampliar o escopo de produtos dentro e fora do segmento de produtos atuais.

• = Desenvolver produtos ambientalmente adequados.

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• = Manter a participação no mercado.

• = Aumentar a participação no mercado.

• = Abrir novos mercados no exterior ou em novos grupos alvo no mercado

doméstico.

• = Aumentar a flexibilidade de produção.

• = Diminuir os custos de produção reduzindo custos de trabalho, custos com

material de consumo, consumo de energia, taxa de rejeição, custos de

design, tempo de entrega.

• = Melhorar a qualidade do produto.

• = Melhorar as condições de trabalho.

• = Reduzir impacto ambiental.

Para medir o impacto dos projetos de inovação na organização, os seguintes

indicadores são sugeridos (OCDE, 1998, p. 54-56):

• = O percentual de vendas devido a produtos tecnologicamente novos ou

melhorados comercializados durante os últimos três anos.

• = Os resultados do esforço de inovação (vendas, exportação, empregados e

margem de lucro, no ano t e t-2).

• = O impacto da inovação no uso de fatores de produção, como mão- de-obra,

consumo de material, consumo de energia e utilização de capital ativo.

Medir e analisar os indicadores, as entradas (investimentos) e as saídas

(impactos dos projetos de inovação) são essenciais para justificar e gerenciar a

inovação. No entanto, é preciso ir além, buscando compreender o processo pelo qual

a inovação ocorre na empresa.

4.4 MODELOS DE GESTÃO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS

Alguns elementos-chave para o processo de gestão da inovação estão

presentes nos diferentes modelos, embora seja importante observar que nenhum

deles pode representar de maneira definitiva o complexo de variáveis que leva à

inovação.

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Os primeiros modelos de inovação utilizavam um conceito bastante linear,

representando a inovação como algo que segue um fluxo contínuo a partir das

demandas pelo mercado (market-pull) ou produzidas a partir de conhecimento

científico (science-push).

Novos modelos, como o modelo denominado “paralelo”, mostrado na Figura 22,

extrapolaram a visão linear na medida que incorpora elos de feedback entre as várias

etapas Kruglianskas (1996, p.19). O processo de inovação é visto de forma sistêmica,

representando de maneira mais adequada o processo desenvolvido nas empresas.

Pe s quisa Desenvol-vimento

Enge-nharia

Produção Come rcia- liz a ção Idéias Novos

Produtos

Estado Corrente de Conhecimentos Científicos e Tecnológicos

Estado Corrente de Necessidades e Aspirações da Sociedade Reconhecimento da Necessidade Adoção

Utilid a de

Tecnologia Absorvida

Capacidade Tecnológica

FIGURA 22 - MODELO PARALELO DO PROCESSO DE INOVAÇÃO FONTE: Kruglianskas (1996, p.19).

Os modelos que representam as diversas atividades para obter a inovação,

apresentam dificuldades na implantação, visto que não são suficientemente genéricos

para serem utilizados em diferentes corporações, visto que a estrutura institucional é

mais complexa e diversificada dentro dos vários setores econômicos. Além disso,

esses modelos também não retratam os diferentes níveis organizacionais.

Buscando a simplificação e a generalização para ser aplicada a diferentes

organizações, o modelo, apresentado pela COTEC, considera as seguintes etapas

como elementos-chave da inovação tecnológica (Figura 23):

• = Vigilância (Scan) – É a procura por potenciais inovações ou oportunidades

que surgem no cenário competitivo da empresa.

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• = Foco (Focus) - O foco é a etapa de resposta e aprofundamento dos

potenciais inovativos detectados no processo de vigilância.

• = Recursos (Resource) – As estratégias definidas demandarão os recursos

para sua implementação.

• = Implementação (Implement) - Nesta etapa a organização realiza a estratégia

de inovação escolhida.

• = Aprendizagem (Learn) - Está relacionada com a revisão de experiências

com sucessos e falhas, criação de ambientes organizacionais propícios à

criação do conhecimento e aprimoramento continuado com estratégia de

inovação.

FIGURA 23 - OS ELEMENTOS-CHAVE DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA FONTE: COTEC (1998, p. II – 5).

Além da diversidade de organizações, o modelo se propõe genérico o suficiente

para ser aplicado em projetos, em times de força-tarefa e como uma filosofia geral de

gestão.

Dentro do modelo existe um relacionamento estreito do processo de

desenvolvimento de novos produtos da empresa, das inovações realizadas no

processo, da estratégia tecnológica da empresa e da maneira como a empresa realiza

a aquisição de tecnologia.

Focus

Resource

Implement

Scan Learn

Focus

Resource

Implement

Scan Learn

Focus

Resource

Implement

Scan Learn

Foco

Recursos

Implemen-tação

VigilânciaAprendizagem

começar em qualquer pontoA inovação tecnológica pode

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O modelo da COTEC assemelha-se ao proposto por Probert et al. (1999, p. 2),

que apresenta os cinco processos (Identificação, Seleção, Aquisição, Exploração e

Proteção) da Figura 24.

IdentificaçãoAvaliação TecnológicaModelo de Pré-Seleção

Levantamento Tecnológico/do Mercado

Gestão de Informação

SeleçãoProspecção Tecnológica

BenchmarkingCritérios de Decisão

Monitoramento/Melhoria de Processo

AquisiçãoP&D interno

Licenças e Joint VentureMudança Organizacional

Gestão de ProjetosInserção de Tecnologia

ExploraçãoRede de clientes e fornecedores

Desenvolvimento incrementalGestão de Produto

Ativos complementares

ProteçãoIdentificar opções para Proteção

Estabelecer EstratégiaMonitorar eficiência Ambiente Interno

Ambiente ExternoAmbiente Externo

Ambiente Externo

FIGURA 24 - FRAMEWORK DE GESTÃO DE TECNOLOGIA DE CINCO PROCESSOS MOSTRANDO ALGUMAS ATIVIDADES TÍPICAS.

FONTE: PROBERT et al. (1999, p. 2).

Probert et al. (1999, p. 2) salienta as seguintes vantagens para a sua utilização:

• = fornece uma visão ampla dos elementos-chave da gestão de tecnologia;

• = fornece um vocabulário comum para facilitar a comunicação sobre gestão de

tecnologia através da empresa;

• = a simplicidade o torna acessível.

No entanto, os autores também chamam a atenção de algumas limitações à

utilização de modelos genéricos:

• = O modelo não está ligado diretamente a atividades de negócio normais e

requerem alguma interpretação.

• = Os diferentes níveis da tecnologia não estão representados de maneira

explícita.

• = O modelo, sendo representado, é uma forma genérica não limitada a

qualquer negócio ou ambiente industrial em particular.

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Embora nenhum modelo possa retratar de maneira fidedigna todas as variáveis

envolvidas no processo de inovação, os modelos fornecem uma base conceitual

estrutural para observar o processo.

Como mostra a Figura 24, existem atividades típicas sendo realizadas em cada

uma das etapas do processo de inovação. Para realizar estas atividades, novas

ferramentas estão sendo introduzidas nos ambientes das empresas.

4.5 FERRAMENTAS DE GESTÃO DE TECNOLOGIA

As ferramentas de Gestão de Tecnologia são mais “leves”, na medida que não

são necessariamente um artefato, um hardware ou software, mas técnicas e

metodologias de gestão de tecnologia que estão sendo muito importantes para a

realização da inovação.

Burgelmann et al. (1995, p. 671) previram que “na próxima década é provável

ser visto um maior número destas ferramentas aplicadas muito mais amplamente e

sistematicamente na construção das competências de desenvolvimento da

organização”. As empresas começam a estruturar um conjunto de ferramentas “leves”

para apoiar a gestão do negócio, como ferramentas de qualidade e de

desenvolvimento organizacional.

Na busca de sistematização da maneira como as ferramentas de inovação

podem ser aplicadas, a União Européia desenvolveu duas iniciativas de estruturação.

A primeira é o Innoregio (URENIO, 2002), um programa transregional com a

participação de organizações acadêmicas e de tecnologia que desenvolvem e

difundem métodos e técnicas de inovação em seus sistemas regionais de inovação

(pequenas e médias empresas, produtores da tecnologia, corretores da tecnologia,

consultores). O ponto focal do projeto é a estruturação de métodos e técnicas em um

conjunto de ferramentas de gestão de inovação (Innovation Management Tollkit - IMT)

que permite às organizações interessadas tratar da inovação. O IMT organiza as

metodologias seguindo a estrutura apresentada no Quadro 7.

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QUADRO 7 - ESTRUTURA UTILIZADA NO INNOVATION MANAGEMENT TOOLKIT PARA ORGANIZAR FERRAMENTAS E CASOS

Estrutura Tópicos A descrição da técnica

o que é a técnica; objetivos da técnica; estrutura da metodologia; soluções alternativas; resultados e benefícios previstos; consultores e fornecedores que suportam a execução.

O procedimento da execução

fases e etapas; técnicas parciais e ferramentas incluídas em cada etapa; aplicações de software relacionadas.

A aplicação onde a técnica foi aplicada; tipo de firmas e de organizações; custos da execução; condições para a execução; infra-estrutura e modificações requeridas; organizações européias que suportam a execução.

Fonte: Baseado em URENIO (2002).

Esta estrutura objetiva e comum facilita a compreensão e a disseminação das

ferramentas, observando sua aplicabilidade e aprofundamento somente na medida em

que se torna necessário.

A segunda iniciativa para sistematizar ferramentas, técnicas e metodologias é o

manual de referência para a Gestão de Tecnologia denominado TEMAGUIDE9

(COTEC, 1998). O TEMAGUIDE agrupa e denomina ferramentas em aglomerados de

práticas e técnicas de Gestão de Tecnologia e são normalmente referenciadas como

TM Tools. Cada TM Tool possui objetivos específicos que apoiam uma ou mais etapas

do processo de inovação.

Uma explicação sucinta de cada TM Tool está colocada no Quadro 8, assim

como alguns exemplos de técnicas que podem ser usadas.

9 TEMAGUIDE é o resultado de uma pesquisa realizada por um grupo de organizações européias: Fundación COTEC, a qual foi a coordenadora do projeto, SOCINTEC, CENTRIM (University of Brighton), IRIM (University of Kiel) e a unidade de P&D da Manchester Business School. O projeto foi financiado pelo Innovation Programme (Comissão Européia).

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QUADRO 8 - RESUMO DAS FERRAMENTAS DE GESTÃO DE TECNOLOGIA Ferramenta Objetivo Técnicas

Criatividade Criatividade é uma característica de indivíduos, grupos e organizações. Técnicas de criatividade podem ajudar indivíduos particulares ou grupos a se tornarem mais criativos ou usar sua originalidade de pensamento ou inventividade para situações particulares. Resolução criativa de problemas e uma aplicação da criatividade e técnicas de criatividade para problemas e para oportunidades de melhoramento

• = Reuniões de Brainstorming • = Criatividade e gestão estratégica

Análise de Mercado

Analisar todos os aspectos do mercado e, em particular, comportamento e necessidades do cliente, a fim de obter informação valiosa para alimentar o processo de inovação, por exemplo, com o objetivo de identificar e avaliar especificações de novos produtos

• = Análise conjunta • = Usuário Líder • = Quality Function Deployment - QFD

Avaliação de Projetos

Fornecer informação para estimar o valor de um projeto potencial com referência particular para estimação de custos, recursos e benefícios, a fim de obter uma decisão sobre prosseguir ou não com um projeto. Um segundo uso é para monitorar e terminar projetos

• = Análise de fluxo de caixa • = Checklists • = Árvores de Relevância

Prospecção Tecnológica

Empresas precisam estar cientes de desenvolvimentos tecnológicos interessantes e revisar a relevância destes desenvolvimentos para o negócio da empresa. Elas devem procurar oportunidades estratégicas ou ameaças ao negócio. Atividades de previsão e prospecção são caminhos para coletar inteligência sobre tecnologia e organizações

• = Técnicas de previsão • = Técnicas prospectivas • = Método Delphi • = Árvore de Relevância

Gestão de Portfólio

Técnicas de Gestão de Portfólio (PM) são maneiras sistemáticas de olhar um conjunto de projetos de P&D, atividades ou até áreas de negócio, com o objetivo de atender um equilíbrio entre risco e retorno, estabilidade e crescimento, atratividade e reveses em geral, fazendo o melhor uso dos recursos disponíveis. A definição de ótimo varia de acordo com ambições, competência, visão e cultura de empresas individuais

• = Matrizes 2D e 3D

Gestão de Propriedade Intelectual

Administrar estrategicamente a proteção de direitos (patentes) das inovações

• = Sistema de patentes • = Vantagens do primeiro entrante • = Segredos industriais • = Licenciamento • = Transferência • = Contratos em Consórcios

Networking Dispor e manter cooperação entre empresas e entre organizações de negócios e organizações de P&D, incluindo universidades, a fim de obter acesso a idéias e tecnologias e compartilhar habilidades, recursos, informação e expertise

• = Alianças estratégicas de longo prazo • = Colaboração de curto prazo • = Elos informais e contatos não planejados • = Acordos com relutância de entrada

Criação de Equipes

Decidir a composição de equipes específicas recrutando e gerindo indivíduos para assegurar um mix apropriado de habilidades e experiências

• = Equipes fixas, espontâneas, de projeto, equipes com mudanças freqüentes, grupos com trabalho disperso, equipes para resolução de problemas, equipes para melhoria da qualidade

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Ferramenta Objetivo Técnicas

Gestão de Mudanças

Um meio estruturado de implementar mudança na empresa, sempre que envolve transformação organizacional na maneira como a empresa faz as coisas

• = Fases do processo para realizar mudanças bem sucedidas

Gestão de Interface

Transpor barreiras ou fomentar e encorajar a cooperação entre entidades separadas (departamentos, pessoas ou até diferentes organizações) durante o processo inovativo

• = Técnicas relacionadas à estrutura organizacional e processos

Benchmar-king

Benchmarking é o processo de melhorar o desempenho continuamente identificando, compreendendo, e adaptando práticas proeminentes e os processos encontrados dentro e fora de uma organização (companhia, organização pública, universidade, faculdade, etc.)

• = Benchmarking do tipo: competitivo, funcional, genérico, industrial, performance, estratégico e tático

Auditoria Tecnológica

Auditorias de habilidades, tecnologia e inovação são ferramentas de diagnóstico que podem ser integradas em várias funções tecnológicas

• = Auditoria de competências • = Auditoria de tecnologias • = Auditoria de inovação

Gestão de Projetos

Apoiar no processo de aplicação de recursos escassos para atingir metas estabelecidas em tempo e custos restritos. Apoiar a equipe e assegurar que comprometimento é mantido por todas as pessoas Assegurar que informação apropriada é comunicada para todas as partes interessadas para permitir que boas decisões sejam feitas

• = Técnicas como: • = Estrutura de Desmembramento de trabalho • = Fluxogramas • = Cronogramas • = Redes baseadas em atividades • = Acompanhamento de marcos

Produção Enxuta

Analisar todas as atividades dentro de um processo (dentro ou fora da empresa) identificando e eliminando “lixo”, definido como atividades que não agregam valor

• = Just-in-time • = Layout de produção • = Kanban

Melhora- mento Contínuo

Ferramentas para apoiar a empresa a se tornar uma organização baseada no aprendizado e aprimoramento contínuo, conforme preceituado pelo “Kaizen”

• = Ciclo de resolução de problema • = Brainstorming • = Diagramas de causa e efeito • = Diagramas de fluxo • = Planilhas de verificação

Análise de Valor

Determinar e melhorar o valor de um produto ou processo, primeiro, pelo entendimento das funções do item e seu valor, então seus componentes constituintes e seus custos associados, a fim de reduzir os custos ou aumentar o valor das funções

• = Análise de funções

Gestão ambiental

Melhorar como a empresa identifica e trata de questões ambientais

• = Minimização de Lixo e Recursos no processo produtivo • = Design sustentável do produto • = Marketing Ambiental • = Análise do Ciclo de Vida • = Ecossistema industrial • = Auditorias ambientais • = Contabilidade total dos custos

Análise de Patentes

Obter e avaliar informação de patente, o que encontra várias aplicações para gestão estratégica da tecnologia: Monitorar competidor tecnológico, gestão de P&D, Aquisição de tecnologia externa, Gestão do portfólio de patentes, Vigilância da Área do Produto, gestão de recursos humanos.

• = Portfólio de Patentes no Nível corporativo • = Portfólio de patentes no nível técnico • = Previsão tecnológica

FONTE: Traduzido e adaptado de COTEC (1998)

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Observa-se a importância e as dificuldades de relacionar as ferramentas

adequadas para cada caso de aplicação real, sendo que desenvolver a habilidade de

selecionar as ferramentas adequadas é algo bastante valioso para a empresa e que

precisa ser cultivada. Além disso, as ferramentas não são entendidas para serem

aplicadas de uma maneira isolada, mas pensadas para se tornarem uma parte integral

de como a empresa é gerenciada (COTEC, 1998, p. I -5).

O TEMAGUIDE ressalta que empresas não precisam melhorar sua gestão de

tecnologia e inovação aprendendo primeiramente um corpo teórico. Elas podem

construir em suas experiências e intuição e fazer melhorias incrementais como e

quando apropriado (COTEC, 1998, p. I-10).

4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

A inovação não está restrita ao ambiente de P&D. É necessária a integração de

vários setores da empresa para realizar a inovação. Desta mesma maneira, o escopo

da Gestão de Tecnologia e da Inovação não é apenas a gestão de artefatos

tecnológicos, mas um elo central na gestão do negócio habilitado pela tecnologia.

Para realizar esta gestão, é necessário medir os esforços de inovação e de seu

impacto no negócio. Além disso, é preciso compreender o processo pelo qual a

inovação ocorre na empresa, sendo que os modelos e as ferramentas fornecem a

estrutura sob a qual é possível estabelecer a Gestão de Tecnologia e Inovação na

empresa.

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5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo visa detalhar os procedimentos metodológicos utilizados no

presente estudo. Para isso, foram realizadas a caracterização da pesquisa, o

detalhamento do tipo de pesquisa predominante, a descrição do método e as fontes de

evidências utilizadas. Além disso, foram descritos o sujeito da pesquisa, o processo de

coleta, tratamento e análise de dados. Ao final do capítulo, são apresentadas as

considerações finais, destacando as limitações observadas sobre os procedimentos

utilizados.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa realizada foi predominantemente descritiva, qualitativa e aplicada.

Como estudo descritivo, a pesquisa “possibilita o desenvolvimento de um nível

de análise em que se permite identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua

ordenação e classificação” (OLIVEIRA, 1997, p. 114). Este tipo de estudo propiciou um

melhor entendimento a respeito do comportamento dos fatores que influem no

fenômeno estudado e abriu caminho para a proposição de um modelo que contenha

os principais fatores observados na pesquisa e identifique novos fatores não tratados

em modelos anteriores.

A pesquisa possui, da mesma maneira, uma predominância qualitativa.

Conforme Oliveira, “a pesquisa qualitativa tem como objetivo situações complexas ou

estritamente particulares” (1997, p. 117), mencionando como situação uma

observação do funcionamento de estruturas sociais. A abordagem qualitativa permitiu

descrever a complexidade do problema pesquisado. Buscando validar as posições

qualitativas, o estudo buscou dados quantitativos capazes de demonstrar e

complementar as posições levantadas.

Sob o enfoque da natureza da pesquisa realizada, segundo Silva (2001, p.20),

esta pôde ser considerada metodologicamente aplicada, pois esta “objetiva gerar

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conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos”. A

busca, no caso particular da empresa pesquisada, visou orientar um modelo possível

de ser implantado em outras empresas semelhantes. Para realização da pesquisa,

conforme as características apresentadas, utilizou-se do método do estudo de caso,

descrito a seguir.

5.2 O MÉTODO DO ESTUDO DE CASO

Nos procedimentos de estudo de caso observa-se um caso específico,

buscando que este sirva de base para generalizações ou pesquisas futuras. Segundo

Gil (1994, p. 78), o estudo de caso “é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo

de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado

do mesmo, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos

considerados”.

Segundo Yin, o estudo de caso é preferencialmente usado quando o

pesquisador “enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais

variáveis de interesse do que pontos de dados” (2001, p. 33). O método permite,

portanto, que se trabalhe melhor com a complexidade do contexto da vida real,

buscando novas orientações e reformulações a partir do momento em que as

proposições teóricas se enquadram ao contexto pesquisado.

Apesar do aprofundamento qualitativo fornecido pelo estudo de caso, é

necessário notar a sua limitação para fornecer regras ou modelos gerais, visto que não

possui amostragem suficiente para este fim.

O estudo de caso pode ser descrito, utilizando-se seis etapas sugeridas por Sue

(2000, p. 174) para melhor conduzi-lo como método de pesquisa:

1. Questões de pesquisa - A questão de pesquisa foi obter uma melhor

compreensão do processo de inovação das áreas e verificar as

necessidades em relação à gestão de tecnologia.

2. O sujeito do estudo de caso - Para o caso, ou unidade de análise,

identificou-se uma empresa multinacional diversificada de base tecnológica

localizada no Brasil.

3. Preparação para a coleta - Como preparação, foram definidos três fontes de

evidências e preparados instrumentos para realizar a coleta de dados.

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4. Coleta de dados – Foi realizada a coleta nas três fontes de evidências,

seguindo os procedimentos de coleta estabelecidos.

5. Tratamento e análise de dados – Organizou-se uma base de dados de

evidências a partir das várias fontes, estabelecendo-se categorias para a

análise.

6. Elaboração do Relatório – Utilizando as várias etapas dos modelos de

Gestão de Tecnologia e de outros pontos definidos no referencial teórico,

organizou-se a estrutura a ser utilizada no relatório.

O método de estudo de caso serviu como linha mestra para realização da

pesquisa. O sujeito do estudo, a preparação, coleta, tratamento e análise dos dados

do estudo de caso estão detalhados a seguir.

5.3 O SUJEITO DO ESTUDO DE CASO

Para o estudo de caso foi identificada como unidade de análise uma empresa

multinacional diversificada de base tecnológica localizada no Brasil. O sujeito da

pesquisa selecionado para realizar o estudo de caso foi a Siemens Ltda, filial de

empresa multinacional alemã Siemens AG, instalada no Brasil.

A unidade de pesquisa foi escolhida por fornecer as seguintes vantagens:

• = As áreas e os negócios são bastante diversificados tanto em produtos

ofertados quanto em infra-estrutura estabelecida no Brasil, variando de

representantes a fabricantes e desenvolvedores de produtos mundiais.

• = Participação do pesquisador na criação e implantação do processo de

planejamento estratégico de tecnologia em 2001 e 2002, possibilitando o

uso da observação participante;

• = Confiança estabelecida para o tratamento e disponibilização de dados

estratégicos e abertura para realização das entrevistas nas áreas.

A Siemens AG atua globalmente no ramo eletroeletrônico e possui mais de

450.000 colaboradores em 190 países. Foi fundada há 150 anos e possui um amplo

espectro de soluções, serviços e produtos nas áreas de Informação e Comunicação,

Automação e Controle, Energia, Transporte, Eletromedicina, e Iluminação. Em relação

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69

ao P&D, possui aproximadamente 57 mil funcionários envolvidos diretamente nestas

atividades e um orçamento anual para investimentos de 5,6 bilhões de euros

(SIEMENS AG, 2002).

No Brasil, as primeiras atividades da empresa datam de 1867, com a instalação

da linha telegráfica pioneira entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul. Em 1895,

no Rio de Janeiro, foi aberto o primeiro escritório e, dez anos mais tarde ocorria a

fundação da empresa no Brasil. A filial brasileira obteve, em 2001, um faturamento de

R$3,559 bilhões, possuía 7.925 funcionários, treze unidades fabris instaladas

(SIEMENS LTDA, 2002) e atuava em todas as grandes áreas da empresa em nível

internacional, podendo ser considerada como um caso típico de empresa multinacional

diversificada de base tecnológica. Em 2000, a Siemens Ltda investiu R$ 75 milhões

(2,5% do seu faturamento) em P&D (WEVER apud ESCOBAR, 2001).

A divisão de Telecomunicações, anteriormente denominada Equitel, que já

possuía um setor de P&D estruturado, começou a conquistar a partir de 1991 junto a

seus parceiros tecnológicos internacionais, vários centros de competência, graças aos

investimentos em universidades e institutos parceiros e em suas próprias equipes,

decorrentes inicialmente da Lei 8248/91 - Lei de Informática10. Esses centros de

competência são responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento de produtos e

processos para toda a organização Siemens mundial, dentro dos nichos tecnológicos

a eles atribuídos.

A empresa investiu no Brasil, no período entre 1995 e 1999, um total

acumulado de R$ 71,5 milhões em convênios externos. Os convênios realizados no

estado do Paraná absorveram aproximadamente 75% desses recursos, principalmente

no CEFET-PR, PUC-PR e Centro Internacional de Tecnologia de Software (CITS). Os

convênios realizados incluem não apenas projetos tecnológicos específicos (CEFET-

PR), mas também bolsas para cursos de Mestrado e projetos na área de software

(SCATOLIN et al., 1999).

Além da Siemens Ltda, o grupo brasileiro é formado por um conjunto de 14

empresas: Siemens Automotive Systems Ltda, Siemens Building Technologies Ltda,

Siemens Cerberus Security Ltda, Siemens Dematic Ltda, Siemens Eletroeletrônica

S.A, Siemens Engenharia e Service Ltda, Siemens Metering Ltda, SiemensVDO

10 A Lei nº 10.176, alterou em 2001 a Lei no 8.248 original de 23 de outubro de 1991. Ambas fornecem incentivos fiscais para a capacitação e competitividade do setor de tecnologia da informação brasileiro.

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70

Automotive Ltda, Chemtech Serviços de Engenharia e Software Ltda, DFV

Telecomunicações e Informática S.A, Fire Control Sistemas Contra Incêndio Ltda,

Infineon Technologies South America Ltda, Osram do Brasil Lâmpadas Elétricas Ltda

e Techsystems Sistemas Integrados Ltda. Além disso, possui joint ventures com a

Bosch GmbH da Alemanha, Philips, Faurecia, Voith e mantém ainda participação no

capital da Icotron - Indústria de Componentes Eletrônicos Ltda.

Devido à importância estratégica de agregação de valor local percebida pela

alta direção da filial, existe uma estrutura corporativa formalmente constituída criada

em 1999, denominada Corporate Technology – CT, responsável por apoiar os

responsáveis pelos negócios e que se baseia em cinco linhas de atuação (LACERDA,

PERINI et al., 2000):

• = Garantia do ambiente legal adaptado.

• = Política industrial e incentivos.

• = Fomento de centros de P&D e transferência de tecnologia.

• = Gestão de processos tecnológicos.

• = Gestão do conhecimento tecnológico.

A partir de uma recente reforma organizacional no início de 2002, este

departamento está subordinado a um Comitê Executivo de Tecnologia, formado por

representantes responsáveis pela gestão de tecnologia das diferentes áreas,

denominados Gerentes de Núcleo Tecnológico - GNT. Este comitê está subordinado a

um Conselho Deliberativo de Tecnologia (Figura 25), formado pela alta direção da

empresa no momento presidido pelo próprio presidente da Siemens Ltda.

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71

FIGURA 25 - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL RELACIONADA À GESTÃO DE TECNOLOGIA DO CASO ESTUDADO

FONTE: Autor.

Além desta estrutura organizacional de suporte, a empresa possui desde 2001

um processo denominado Techplan11, que está incorporado ao ciclo de planejamento

estratégico e foi responsável por inserir a variável tecnológica no debate pela

competitividade dos diferentes segmentos de negócio. O processo de planejamento

estratégico da tecnologia, Techplan, é realizado pelas seguintes áreas de negócio12:

• = Information and Communication Networks (ICN).

• = Information and Communication Mobile (ICM).

• = Siemens Business Services (SBS).

• = Automation and Drives e Industrial Solutions and Services (IND).

• = Medical Solutions (MED).

• = Power Transmission and Distribution (PTD).

• = Power Generation (PG).

A Corporate Technology realiza suas atividades nas áreas através de suas

linhas de atuação, interagindo com os GNT´s de cada área. Sob o enfoque do caso

estudado, o modelo de Gestão de Tecnologia proposto busca melhorar a articulação

entre as necessidades das áreas e as linhas de atuação.

11 Esta experiência de inserção da variável tecnológica no planejamento estratégico da filial da empresa Siemens foi relatada no livro “Tecnologia: Estratégia para a Competitividade” (LACERDA, PERINI et al. 2001). 12 A área Power Generation (PG) possui um GNT designado e foi considerada na amostragem, embora não tenha participado do Techplan em 2002. A área pretende participar nos futuros processos.

de Tecnologia

IND(GNT)

PG(GNT )

IC M(GNT)

CTLinhas de

PTD(GNT)

IC N (GNT)

SBS (GNT)

MED (GNT)

Conselho Deliberativo de Tecnologia

Comitê executivo de Tecnologia

IND(GNT)

PG(GNT )

IC M(GNT)

CTLinhas de Atuação

PTD(GNT)

IC N (GNT)

SBS (GNT)

MED (GNT)

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72

5.4 COLETA DE DADOS

Yin (2001, p.105) sugere que as evidências podem surgir de seis fontes

distintas: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta,

observação participante e artefatos físicos. Yin (idem) sugere alguns princípios

predominantes para a coleta de dados para aumentar a sua qualidade:

• = utilização de várias fontes de evidências;

• = um banco de dados para o estudo de caso;

• = um encadeamento de evidências.

Como fontes de evidências, foram utilizadas durante o estudo de caso:

observação participante, registros em arquivo e entrevistas. A utilização de fontes

distintas permite validar as respostas obtidas através da “triangulação”.

5.4.1 Observação participante ou pesquisa-ação

A observação participante é uma modalidade especial de observação na qual o

pesquisador não é apenas um observador passivo. Em vez disso, o pesquisador pode

assumir uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode participar dos

eventos que estão sendo estudados (YIN, 2001, p. 116).

Sob este aspecto, a observação participante assemelha-se à pesquisa-ação,

definida por Chizzotti (2000, p.1) como sendo uma pesquisa de cunho social em que o

pesquisador desempenha um papel ativo na transformação de determinada situação.

Sempre interagindo com a comunidade, grupo, setor ou instituição, o pesquisador

levanta os problemas, analisa-os, propõe soluções e os encaminha na forma de ação

concreta.

Na pesquisa-ação, os pesquisadores interagem com o grupo participante, de

modo que seja possível aos pesquisadores delimitarem a problematização daquele

grupo social baseado em um raciocínio empírico vivido pelo grupo de participantes. A

partir deste ponto, são desenvolvidos estudos e aplicação de teorias com o objetivo de

propor soluções a fim de resolver a problemática do grupo, procurando sempre

maximizar a satisfação do grupo social pesquisado. Porém, a base do levantamento, o

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73

foco principal e o objetivo final da pesquisa-ação são o atendimento das necessidades

levantadas junto ao próprio grupo (THIOLLENT, 2000, p.7).

A pesquisa-ação tem dois aspectos complementares: (1) o aspecto

epistemológico-reflexivo e (2) o aspecto da ação construída em conjunto com o grupo

em questão. Segundo Thiollent (2000), a pesquisa só terá valor científico se contribuir

para a construção do conhecimento. Observa-se, portanto, que se a condução do

processo não observar este aspecto, poderá ser simplesmente uma prestação de

serviços ou consultoria por parte dos pesquisadores. Por outro lado, se os

pesquisadores não interagirem propriamente com os participantes, os resultados

desejados também não serão atingidos, pois a ação não encontrará ressonância em

meio ao grupo de trabalho. Portanto, estes dois aspectos devem ser atendidos a fim

de que a pesquisa-ação tenha uma correta aplicação e para que o estudo

desenvolvido possa contribuir para a própria reflexão e evolução do método.

Thiollent (2000 p. 41) lista os objetivos de conhecimento potencialmente

alcançáveis com o procedimento da pesquisa-ação:

a) A coleta de informação original acerca de situações ou de atores em

movimento.

b) A conscientização de conhecimentos teóricos, obtida de modo dialogado na

relação entre pesquisadores e membros representativos das situações ou

problemas investigados.

c) A comparação das representações próprias aos vários interlocutores, com

aspecto de cotejo entre saber formal e saber informal acerca de resolução

de diversas categorias de problemas.

d) A produção de guias ou de regras práticas para resolver os problemas e

planejar as correspondentes ações.

e) O ensinamento positivo ou negativo quanto à conduta da ação e de suas

condições de êxito.

f) Possíveis generalizações estabelecidas a partir de várias pesquisas

semelhantes e com o aprimoramento da experiência dos pesquisadores.

Sob o aspecto epistemológico-reflexivo, o objetivo da escolha pela utilização da

pesquisa-ação está diretamente relacionada aos itens (a), pois a aplicação permitiu a

coleta de informações estratégicas de negócios automaticamente classificadas e a

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entrevista dos gerentes, que forneceram suas respostas para o estabelecimento direto

de soluções nas suas áreas. De maneira complementar, também foram atingidos

durante o estudo os objetivos (b), (d) e (e).

Através da observação participante, ocorreu a participação no desenvolvimento

da ferramenta utilizada para fornecer os registros em arquivo oriundos do modelo de

inserção da variável tecnológica no planejamento estratégico.

Da mesma maneira, ocorreu o treinamento dos responsáveis diretos pela

utilização da ferramenta e suporte à ferramenta de planejamento estratégico da

tecnologia - Techplan. A partir deste treinamento, ocorreu o registro em arquivo

eletrônico dos dados relacionados à tecnologia nas várias áreas de negócio.

5.4.2 Registros em arquivos

Como fonte de evidências foram analisadas informações da base de dados

resultado do planejamento estratégico da tecnologia 2002/200713. Para cada negócio

planejado pela organização em relação à tecnologia, foram analisados os seguintes

grupos de dados:

A. Parcerias na cadeia de valor do negócio

Para cada negócio, o registro continha os parceiros existentes na cadeia de

valor (Logística, Fabricação, Vendas, Serviços, Engenharia, P&D&E), classificados em

relação a:

• = Outras unidades de negócio da própria empresa no Brasil.

• = Universidades e Institutos de Pesquisa.

• = Empresas Parceiras, com contrato formal de Transferência de Tecnologia.

• = Empresas em outros países.

• = Outras empresas, fornecedoras de tecnologia.

B. Atividades da cadeia de valor realizadas e planejadas

Os negócios foram classificados segundo: produtos, serviços e soluções

(Quadro 9). A base possuía as atividades realizadas atualmente pela empresa e

13 Não foi analisado ou explicitado nenhum negócio em particular, garantindo o sigilo do planejamento estratégico da empresa.

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75

definidas as atividades planejadas para serem realizadas no Brasil no horizonte de

cinco anos.

QUADRO 9 - ATIVIDADES TÍPICAS PARA PRODUTOS, SERVIÇOS E SOLUÇÕES Produtos Serviços Soluções

• = Representação Revenda/Venda

• = Produção Local Atendimento ao PPB14

• = CoC15 de Fabricação • = Customização • = Engenharia não-

rotineira Desenvolvimento

• = Pesquisa • = CoC de

Desenvolvimento • = Domínio Mundial do

Produto

• = Representação Revenda/Venda

• = Treinamento • = Consultoria • = Instalação • = Manutenção • = Suporte • = Operação • = Integração com produtos

próprios • = Integração com produtos de

terceiros • = Engenharia Tradicional • = Desenvolvimento • = Fornecimento em nível

mundial

• = Representação • = Revenda/Venda • = Treinamento • = Consultoria • = Implantação • = Coordenação da

Implantação • = Customização • = Engenharia Tradicional

Coordenação de Projetos CoC de Solução

• = Desenvolvimento • = Domínio Mundial da

solução

Fonte: Autor

C. Grau de domínio do negócio

O Grau de Domínio pretendido para cada negócio da empresa ao longo do

tempo conforme apresentado no Quadro 3 (p. 17).

D. Atividades foco de aperfeiçoamento

No registro estavam as atividades existentes atualmente, que receberão um

enfoque especial das atividades de inovação, definindo objetivos específicos.

E. Medidas para obtenção de tecnologia

No registro estavam definidas as ações que se pretende utilizar para

desenvolver as competências internas necessárias entre as opções a seguir

apresentadas:

• = P&D&E em parceria com a matriz.

• = P&D&E com universidades e institutos de pesquisa. 14 Processo Produtivo Básico. 15 Center of Competence - Centro de Competência.

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• = Associação com outras empresas.

• = Compra de tecnologia (Licença).

• = Aquisição de empresa.

• = Formação ou contratação de recursos humanos.

• = Serviços tecnológicos.

F. Investimentos em P&D e número de colaboradores

Continha dados sobre os investimentos de longo prazo para cada segmento de

negócio e do número de colaboradores necessários para as atividades de P&D dos

negócios definidos.

Para a coleta de dados nos registros em arquivos foram consolidados os planos

estratégicos de tecnologia das áreas. Utilizou-se o universo dos registros sobre os

negócios planejados no Techplan. Foi realizada a pesquisa baseada em 72 negócios

em 6 áreas de negócio da empresa. Após a consolidação foi realizada uma validação

dos dados obtidos durante as entrevistas com os Gerentes de Núcleo Tecnológico.

5.4.3 Entrevistas

A entrevista é a obtenção de informações de uma pessoa questionada sobre

determinado assunto ou problema (SILVA, 2001, p. 33). A entrevista mostra como

vantagens (GIL, 1994, p. 114):

• = Possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos

da vida social.

• = É uma técnica muito eficiente para a obtenção de dados em

profundidade acerca do comportamento humano.

• = Os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação.

Para o levantamento das necessidades das áreas, em termos de gestão de

tecnologia, entre os diversos tipos de procedimentos, optou-se pela entrevista semi-

estruturada (GIL, 1994, p. 118) por permitir uma análise objetiva das respostas ao

mesmo tempo em que proporciona ampla variedade de respostas, pois podem ser

expressas livremente pelo respondente. Em algumas questões estruturou-se a

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entrevista em lista de questões, onde se oferece ao entrevistado a possibilidade de

escolher entre um número limitado de respostas. O conjunto de perguntas

orientadoras, utilizadas para orientar o pesquisador ao longo da entrevista, estão no

Anexo 1.

Segundo Yin (2001), como no estudo de caso os dados são coletados sob

condições de ambiente não controlado, o investigador deve adaptar seu plano de

coleta de dados e informações à disponibilidade dos entrevistados. Por isso, é

importante observar que não se poderá contar com instrumentos rígidos, o mais

indicado é formular diretrizes sobre o comportamento do investigador em campo. O

essencial do protocolo consiste em um conjunto de questões que reflitam as

necessidades da pesquisa.

As entrevistas do estudo de caso foram realizadas com os sete responsáveis

pela gestão de tecnologia nas áreas e dois consultores de Gestão de Tecnologia

corporativos. Buscaram-se os entrevistados de acordo com sua responsabilidade em

relação ao processo de Gestão de Tecnologia da empresa, sendo, portanto,

selecionado todo o universo de sete gerentes de Núcleo Tecnológico das várias áreas

e dois consultores do departamento corporativo – Corporate Technology – CT. Nesta

amostragem observou-se a recomendação de Cervo e Bervian (1996), que

recomendam selecionar os entrevistados de acordo com a familiaridade ou autoridade

em relação ao assunto ou temas em questão.

As respostas e/ ou citações dos entrevistados são identificadas, no capítulo 6

por (1) a (9) e a seqüência foi intencionalmente alterada, de forma aleatória, para

garantir o anonimato. Os entrevistados são engenheiros, com conhecimentos de

administração. Em alguns casos, estes representantes atuam somente neste cargo,

mas por vezes acumulam a gerência de P&D, de engenharia ou mesmo de área de

negócio. Possuem entre cinco e 25 anos de experiência na empresa.

A aplicação da entrevista foi realizada no momento em que os GNT’s assumiam

suas funções, permitindo que fosse obtida uma visão bastante individual das

necessidades das áreas que ainda não possuíam um processo de comunicação

relacionado à gestão de tecnologia estruturado e que, pela primeira vez, estavam

participando e validando os dados obtidos no processo estratégico e no planejamento

econômico de cada área.

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78

O mesmo conjunto de questões orientadoras foi utilizado para os 9

entrevistados, sendo que os gerentes de Núcleo responderam às questões

considerando a realidade de suas áreas, enquanto os dois consultores responderam

observando a corporação como um todo.

Para a criação de uma base de dados para análise das entrevistas foram

utilizados um gravador e transcrição das entrevistas para posterior análise.

5.5 O TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS

Para compor o relatório de estudo de caso, utilizou-se o que Yin (2001, p. 173)

define como estrutura de construção de teoria, onde “a seqüência dos capítulos ou das

seções seguirá alguma lógica de construção teórica”. Utilizou-se como estrutura, o

processo de inovação nas áreas considerando, como base, as etapas de Busca,

Focalização, Recursos, Implementação e Aprendizagem do modelo teórico da

COTEC, apresentado na Figura 23 (p. 59).

A seguir estão descritos os objetivos específicos pretendidos para cada um

destes tópicos:

a) Levantamento de Oportunidades de Negócio - Voltado a caracterizar o

ambiente inovativo e entender o processo pelo qual são levantadas novas

oportunidades de negócio.

b) Planejamento estratégico da Tecnologia dos Negócios - Voltado a

compreender o planejamento de longo prazo das áreas em relação à infra-

estrutura na filial, estrutura de P&D, relacionamento com a matriz e

competências tecnológicas a serem criadas na filial.

c) Alocação de Recursos - Voltado a compreender como as áreas selecionam

entre as oportunidades e fornecem os recursos financeiros e tecnológicos

aos projetos de inovação para sua realização bem sucedida.

d) Acompanhamento da Gestão de Projetos - Voltado a compreender as

necessidades tecnológicas relacionadas à administração eficiente dos

projetos de inovação da empresa

e) Disseminação e Aprendizagem - Voltado a compreender as possíveis

maneiras de disseminar a informação de maneira adequada entre os vários

níveis organizacionais e várias áreas da empresa.

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No Quadro 10 estão apresentados os elementos a serem observados dentro

dos elementos do modelo teórico e as questões orientadoras da entrevista (Anexo 1) e

registros em arquivos relacionados a cada tópico (p. 75).

QUADRO 10 - RELACIONAMENTO ENTRE O MODELO TEÓRICO DE ANÁLISE E QUESTÕES E REGISTROS UTILIZADOS

Etapa Elementos a serem observados

Questões e registros relacionados

Fontes e foco de novos negócios

9,10, 11, 23, Registro D

Fontes de Tecnologia 6 e 7, 23, Registro E

Ciclo de Vida de Produto 21

Levantamento de Oportunidades

Seleção de Projetos 12 a 15, 23

Internacionalização das atividades de P&D&E

1 a 3, Registro A Planejamento Estratégico da Tecnologia dos Negócios

Competências essenciais 4,5,8

Estruturação de Equipes Registro B, C e F, 23 Alocação de Recursos

Definição de recursos 16 a 20, 23

Acompanhamento da Gestão de Projetos

Gestão de Projetos 20 a 23

Disseminação e Aprendizagem

Estratégias de disseminação da Gestão de Tecnologia

24

FONTE: Autor.

Esta estrutura orienta o tratamento e análise dos dados no capítulo de

Resultados (Capítulo 6), assim como relaciona os resultados obtidos com o modelo

proposto (Capítulo 7).

5.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

O estudo está limitado pelo tipo e método de pesquisa utilizado. Devido às

características do estudo de natureza descritiva e da abordagem qualitativa, tal

estudo não permite extrapolações e tratamentos estatísticos mais elaborados. O

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método do estudo de caso, por sua vez, não permite a generalização dos resultados,

O modelo proposto, portanto, é aplicável apenas ao caso estudado.

O estudo também possui as limitações decorrentes das fontes de evidência

utilizadas. As entrevistas podem levar o entrevistado a ser influenciado, de forma

consciente ou inconsciente, pelo pesquisador. Da mesma maneira, podem ocorrer

prejuízos nos resultados por limitações do pesquisador em se fazer entender pelo

entrevistado ou ocorrer um receio quanto a uma possível perda de sigilo de dados e

de identidade.

Os registros relacionados ao próprio processo de planejamento fizeram com

que se pudesse esperar um alto nível de comprometimento no preenchimento. No

entanto, possuem limitações na medida que representam uma intenção com relação

ao negócio que ainda será detalhada. Os planos estratégicos, por sua vez, não

necessariamente se concretizaram ou serão efetivamente implementados nas

unidades de negócios.

Da mesma maneira, a utilização da observação-participante apresenta suas

limitações, visto que a participação prolongada do pesquisador no ambiente pode

diminuir a objetividade científica do estudo, desenvolvendo uma visão tendenciosa.

Buscou-se minimizar as limitações decorrentes das fontes de evidência pela

utilização da técnica de triangulação. As entrevistas realizadas apoiaram-se nos

registros, buscando uma abordagem qualitativa, visto que os GNT´s participaram da

consolidação e do planejamento dos vários negócios em suas áreas, permitindo que

este tivesse visão ampliada das suas necessidades.

A observação-participante permitiu o conhecimento das terminologias existentes

na empresa estudada, facilitando a comunicação. A participação no processo de

planejamento estratégico de tecnologia permitiu garantir a confiança relacionada à

manutenção do sigilo das informações estratégicas fornecidas nas entrevistas.

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81

6 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados e propostas de melhoria obtidos no

estudo de caso, analisando as necessidades relacionadas à gestão de tecnologia

durante as várias etapas do processo de inovação.

6.1 LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO

As técnicas de análise de mercado e técnicas de criatividade são a principal

maneira de levantar oportunidades de negócio nas áreas16 conforme mostra a Tabela

2.

TABELA 2 - FERRAMENTAS RELACIONADAS AO LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES NAS ÁREAS

Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Criatividade 3 2 Análise de Mercado 3 2

FONTE: Autor.

Os participantes do levantamento de novos negócios são distintos de acordo

com as áreas, mas se concentram principalmente nos gerentes nos diversos níveis, no

setor de vendas técnicas e nos representantes do Marketing Estratégico (Tabela 3).

16 As sete áreas da empresa consideradas na amostragem foram: Information and Communication Networks (ICN), Information and Communication Mobile (ICM), Siemens Business Services (SBS), Automation and Drives e Industrial Solutions and Services (IND), Medical Solutions (MED), Power Transmission and Distribution (PTD) e Power Generation (PG). 17 Número de áreas que possuem a ferramenta de Gestão de Tecnologia formalizada. 18 Número de áreas que consideram que a ferramenta deve ser formalizada corporativamente.

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TABELA 3 - PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELO LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS

Atribuição Número de citações GNT 4 Marketing Estratégico19 3 Gerente de unidade de negócio 2 Gerente da linha de produto 2 Vendas20 1

FONTE: Autor.

As principais fontes de idéias de novos negócios e projetos de melhoria citados

foram, ordenada pelo número de citações:

• = Necessidades do mercado analisadas pela Engenharia (3, 8, 9).

• = Negócios “naturais” (projetos existentes há muito tempo que ainda não

haviam sido implementados) (2, 7).

• = Projetos definidos pelo Marketing Estratégico (6, 9).

• = Estratégia de aproximação com a matriz (2).

A fonte dos negócios, na qual a maioria dos projetos se encontrava, estavam

diretamente relacionados à análise do mercado. As técnicas utilizadas para organizar

o levantamento de oportunidades nas áreas foram:

• = Reunião de apresentação relativa a oportunidades tecnológicas (3, 6).

• = Pesquisa de aceitação do cliente antes da aprovação do projeto (2, 6).

• = Lista de projetos a serem desenvolvidos, priorizados segundo as

necessidades do mercado (1).

• = Workshops para levantamento de demandas de mercado e sobre ações

necessárias para suportar tais demandas (Vendas e Engenharia) (3).

• = Conversas entre GNT e responsáveis pelas áreas (3).

• = Análise do ciclo de vida do produto (3).

• = Brainstorming (9).

• = Cursos de criatividade e de iniciativa para o pessoal técnico (1).

19 O setor de Marketing Estratégico é responsável por uma área de negócios 20 O setor de Vendas é responsável normalmente por um segmento de negócio

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83

Para outras técnicas (Tabela 4) foi considerado importante que se obtivesse

uma sistemática corporativa, visto que as áreas não possuem estes processos formal

ou informalmente.

TABELA 4 - FERRAMENTAS RELACIONADAS AO LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES CORPORATIVAS

Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Análise de Patentes 1 4 Prospecção Tecnológica 1 3 Avaliação de Tecnologia/ Roadmap

1 2

FONTE: Autor.

A prospecção tecnológica, assim como a avaliação de tecnologia, foi

considerada como sendo pouco útil para a filial, pois a tecnologia mais avançada

estará sendo planejada e determinada pela matriz. No entanto, algumas áreas

consideraram importante realizar a prospecção em relação a alguns temas de

interesse local, como política industrial, tendências de mercado local e estruturação

dos produtos em Roadmaps (4).

A análise de patentes ainda é pouco utilizada pelas áreas para apoiar o

processo de levantamento de oportunidades, mas há necessidade de um apoio para

que as novas idéias sejam validadas sob o ponto de vista de propriedade intelectual.

Os principais pontos levantados para um alinhamento adequado do

planejamento estratégico e os levantamentos de novas oportunidades de negócio

foram:

• = Aproveitar-se da análise de ciclo de vida do produto para levantar

oportunidades nas áreas (1,4).

• = Iniciar o levantamento de projetos com tempo suficiente para que seja

possível a realização dos estudos necessários para o amadurecimento e

realização do planejamento de longo prazo dos investimentos necessários

em cada um dos negócios da área (4).

• = Alinhar a análise de mercado com a matriz para que esta seja aceita como

válida (2).

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• = Elencar os objetivos estratégicos e, a partir deles, realizar as contramedidas

tecnológicas (2).

• = Prospectar em relação a alguns temas de interesse local.

• = Alinhar as inovações com a tecnologia mais avançada definida e planejada

na matriz.

6.1.1 Caracterização dos negócios

Conforme mostra a Tabela 5, duas áreas consideram necessária uma avaliação

do ciclo de vida somente na introdução de novo produto, enquanto as demais áreas

observam como importante uma avaliação periódica de todo o ciclo de vida.

TABELA 5 - FERRAMENTAS DE ANÁLISE DE CICLO DE VIDA Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Análise de ciclo de vida 2 5

FONTE: Autor.

Existe uma metodologia para análise do ciclo de vida de produto, aplicada

principalmente em duas áreas. Para a área de desenvolvimento, a primeira etapa do

ciclo é especialmente importante, pois se refere ao processo denominado Introdução

de Novos Produtos - INP.

Segundo as áreas que não possuem a análise de ciclo de vida sistematizado,

uma sistemática corporativa seria importante desde que se observem as seguintes

características:

• = Dois ou três marcos e etapas abstratas que atendam todas as áreas (1,

4).

• = Adaptada tanto para produto quanto para solução e serviços, que

possuem variáveis de controle diferentes (6).

• = Tutorial, sem burocracia e aculturamento aproveitando a experiência das

áreas.(4).

A partir do planejamento estratégico de tecnologia foram analisados 73

negócios nas sete áreas de negócio participantes classificados em Produto, Serviço e

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85

Solução (Tabela 6), buscando-se identificar oportunidades de ampliação do valor

agregado local dos negócios.

TABELA 6 - DISTRIBUIÇÃO DOS NEGÓCIOS PLANEJADOS SEGUNDO A SUA CLASSIFICAÇÃO.

Área Produto Serviço Solução Total Área 1 1 2 5 8 Área 2 12 4 6 22 Área 3 5 - - 5 Área 4 6 - 2 8 Área 5 10 - 1 11 Área 6 14 4 1 19 Área 7 - - - - Total 48 10 15 73

Fonte: Autor

A maneira com que foram caracterizados os negócios planejados diferenciou-se

de acordo com a quantidade de projetos realizados e os participantes envolvidos no

planejamento. Duas áreas realizaram divisões agrupando produtos, serviços e

soluções, que possuem diversos projetos planejados. Uma agrupou seus negócios

em linhas, onde podem ser alocados ou não projetos. Três áreas agruparam seus

negócios segundo os projetos planejados (Quadro 11).

QUADRO 11 - CORRESPONDÊNCIA ENTRE NEGÓCIO E PROJETO Área Número de Projetos Área 1 Apenas metade dos negócios possuem recursos para

P&D Área 2 Um ou dois projetos por negócio em 15 negócios Área 3 Um projeto e um negócio Área 4 50 a 80 projetos distribuídos em 19 negócios Área 5 De 8 a 20 projetos distribuídos em 5 negócios Área 6 Um ou dois projetos por negócio em 2 negócios Área 7 Nenhum projeto identificado.

FONTE: Autor

A etapa de caracterização do negócio é bastante relevante. O excesso de

divisões leva à falta de alinhamento com a estrutura utilizada pelo setor financeiro para

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86

o planejamento econômico (1, 2, 4). Além disso, organizar adequadamente a topologia

é necessário para que se possa planejar no longo prazo, independente do produto

atual. Segundo o entrevistado 4: “É necessário propor categorias. Pode-se mudar o

escopo [,a tecnologia e o produto], mas não a necessidade que está sendo suprida.

Uma taxonomia genérica”.

Para a segmentação dos negócios foram observadas as seguintes

necessidades:

• = Envolver o Gerente de Linha de Produto - PLM21 na definição dos negócios

e uma integração dos negócios planejados com as definições relativas ao

ciclo de vida de produto (1,3).

• = Estabelecer uma estrutura que alinhe os projetos de P&D, o controle do

setor financeiro e a visão estratégica do negócio (1,4)

• = Integrar futuramente a caracterização dos projetos, negócios, segmentos

com uma sistemática de roadmap de produto (4).

Existe uma importância cada vez maior do PLM na definição de novas

oportunidades de negócios, pois este é um papel de ligação entre as necessidades de

longo prazo do negócio e as tecnologias do produto (1,2).

6.1.2 Fontes de tecnologia

Dentro do enfoque de aquisição de tecnologia (Tabela 7), o apoio corporativo foi

considerado bastante importante para sistematizar algumas ferramentas como:

• = Gestão de Interface – desenvolvendo o relacionamento com outras

instituições e apoiando as áreas com menos experiência.

• = Auditoria Tecnológica – Sistematizando um processo de identificação e

avaliação tecnológica de parceiros.

21 Product Line Manager.

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87

TABELA 7 - FERRAMENTAS PARA AQUISIÇÃO DE TECNOLOGIA Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Gestão de Interface 1 4 Auditoria Tecnológica - 4

FONTE: Autor.

As áreas possuíam estratégias semelhantes àquelas relacionadas à utilização

de fontes de tecnologia externas, concentrando-se, principalmente, nas atividades em

conjunto com a matriz, conjugando o relacionamento com outras empresas,

universidades e institutos de pesquisa. A compra de tecnologia e serviços

tecnológicos ainda são meios de aquisição pouco difundidos nas áreas e foram

considerados de baixa importância.

TABELA 8 - IMPORTÂNCIA DAS FONTES DE TECNOLOGIA Fonte de tecnologia22 Nº. de áreas que

consideram importante

Necessidade de apoio corporativo

P&D&E em parceria com a matriz

6 1

P&D&E com Universidades/ Institutos de Pesquisa

5 3

Associação com outras empresas

4 1

Sub-contratação ou terceirização

3 -

Formação ou contratação de RH 2 - Serviços Tecnológicos 2 2 Compra de Tecnologia (Licença) 0 - Aquisição de empresa 0 -

Fonte: Autor

As respostas dos entrevistados relativamente à importância das fontes de

tecnologia para a área (Tabela 8) foram validadas através da triangulação com as

medidas utilizadas pelos gerentes no planejamento de tecnologia obtidas através dos

22 Ordenada pelo número de áreas que consideram importante.

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88

registros, classificadas segundo o número de ocorrências nos planos estratégicos,

conforme mostra a Tabela 9.

TABELA 9 - NÚMERO DE OCORRÊNCIAS DAS FONTES DE TECNOLOGIA UTILIZADAS PARA AQUISIÇÃO DE TECNOLOGIA NOS PLANOS ESTRATÉGICOS Fonte de Tecnologia22 Ocorrências P&D&E em parceria com Siemens mundial

95

P&D&E com Universidades/Institutos de Pesquisa

71

Associação com outras empresas 58 Sub-contratação ou terceirização 50 Formação ou contratação de RH 34 Serviços Tecnológicos 18 Compra de Tecnologia (Licença) 4 Aquisição de empresa 4

FONTE: Autor

De acordo com os entrevistados, as principais fontes de tecnologia foram, em

primeiro lugar, os projetos em parceria com a Siemens mundial, seguidos de

atividades com as universidades e parcerias com outras empresas.

As atividades em P&D&E em parceria com a matriz foram selecionadas como

importantes pelos representantes de todas as áreas. Através de atividades em

parceria com a matriz, é possível obter em um intervalo de tempo menor uma grande

quantidade de conhecimentos organizacionais, necessários para a realização de

grandes projetos. “Estes conhecimentos são o principal delta necessário para criação

de tecnologia, já que o conhecimento básico existe” (8).

As atividades com universidades também foram consideradas bastante

importantes pela maioria das áreas. Vários projetos são realizados em laboratórios

externos, onde, muitas vezes precisa ser criada a infra-estrutura necessária.

A associação com outras empresas tem sido fundamental para aumentar o

valor agregado local através da parceria em atividades de fabricação. A associação

com empresas locais também permite capacitar a universidade em locais onde não

existem unidades da Siemens Ltda.

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89

A sub-contratação ou terceirização de atividades é também bastante

importante, sendo normalmente necessária a capacitação destes fornecedores para

atender às demandas de qualidade.

Serviços tecnológicos não são utilizados com freqüência para obtenção de

tecnologia, sendo usados apenas em casos isolados, em consultorias de temas

específicos de projetos, apoio jurídico nas áreas de renúncia fiscal e para realizar

projetos junto a órgãos de fomento.

A aquisição de empresas foi utilizada pela Área 2 para desenvolver uma

competência de nível mundial, porém não deve ser uma atividade relevante no futuro

próximo dessas áreas.

• = As questões relacionadas à propriedade intelectual ainda têm utilização

restrita nas áreas, sendo isto em grande parte assunto de responsabilidade

da matriz.

Com relação à matriz, as seguintes questões adicionais foram consideradas

para transferência de tecnologia23:

• = Conseguir apoio da alta direção na negociação de projetos estratégicos e

desenvolvimento de parceria com a matriz (1).

• = Realizar um benchmarking com outras filiais para analisar o relacionamento

com a matriz sobre as patentes desenvolvidas nas filiais (1).

Como estratégias utilizadas e sugeridas para adquirir competências de fontes

locais de inovação necessárias para os negócios, foram levantadas as que seguem:

• = Desenvolver mais o apoio através do setor corporativo na identificação e

relacionamento com instituições e universidades (3).

• = Desenvolver primeiro algumas competências básicas através do

relacionamento local com empresas e universidades antes de iniciar as

atividades em parceria de P&D com a matriz (7).

23 Maiores detalhes sobre o relacionamento com a matriz estão detalhados na seção 6.2.1 devido sua importância estratégica para a filial na sua visão de longo prazo.

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90

• = Utilizar-se de auditorias da matriz e de grupos de qualidade internos a fim de

capacitar fornecedores para realizar projetos conjuntos, desenvolvendo

parcerias (7).

6.2 TECNOLOGIA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

No planejamento de longo prazo foi estabelecida a necessidade de tecnologia

para atender à visão do negócio considerando, também, o relacionamento com a

matriz e as competências que precisam ser criadas na filial.

O relacionamento com a matriz possui uma grande importância na visão de

longo prazo de realização de inovações na filial e no desenvolvimento de

competências.

6.2.1 Relacionamento de P&D entre filial e matriz

Os fatores levantados como vantagens e desvantagens para realização de P&D

no Brasil estão apresentados no Quadro 12.

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91

QUADRO 12 - VANTAGENS E DESVANTAGENS PARA REALIZAÇÃO DE P&D NO BRASIL

Vantagens Desvantagens Ec

onôm

icas

• =Custo competitivo para desenvolvimento (1, 3, 5, 8).

• =Não depender da oscilação da moeda (7).

• =Custos altos necessários para contratar serviço de engenheiros alemães (6).

• =Competição entre filiais mais acirrada devido à redução de orçamento e de portfólio (1,2).

• =Localização geográfica (distância, fuso) (2). • =Falta de volume de negócios (6).

Polít

icas

• =Incentivos fiscais (1,2, 9).

• =Problemas trabalhistas na matriz fazem com que cortes sejam realizados em outros lugares (1, 9).

• =Poder político das filiais no primeiro mundo para conseguir projetos (1).

• =Dificuldades relativas ao timing dos recursos dos fundos governamentais (3,9).

• =Projetos do core product são mantidos na matriz por motivo estratégico (1).

Tecn

ológ

icas

• =Mesmo nível de qualidade, pessoal capacitado (5, 8).

• =Agilidade para atender demandas do cliente (8).

• =Capacidade de reação rápida a ambientes cambiantes (8).

• =Necessidade de comprovação constante da capacitação do Brasil para construir e manter confiança da matriz (3).

• =Dificuldade de criar capacitação em novas localidades(3).

• =Acesso limitado à tecnologia externa (9). • =Produtos são iguais no mundo inteiro, com

exceção de pequenos detalhes (2). • =Pouco acesso às fontes de informação (9).

FONTE: Autor.

Além das dificuldades externas, foram considerados como fatores limitadores

da realização das atividades no Brasil, os sistemas de recompensa de curto prazo (9)

e a falta de cultura da matriz para negociar projetos de P&D fora dos centros

existentes (3).

Embora exista um grande número de dificuldades e limitações na realização de

atividades de P&D, decorrentes da integração com uma empresa multinacional, foram

levantadas algumas estratégias utilizadas e sugeridas para aproveitar-se da inovação

no Brasil para a competitividade do negócio:

• = Desenvolver produtos voltados ao terceiro mundo (1).

• = Focar em inovação ligada a serviços (4).

• = Adaptar produtos para fornecer algumas soluções diferenciadas (3, 4).

• = Inovar buscando melhoria de processo (4).

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92

• = Utilizar-se de recursos próprios para projetos locais, negociando futuramente

a integração ao produto global (2).

• = Competir para tornar-se fabricante como base para realizar inovações (7).

• = Fabricar produtos que se enquadrem em incentivos fiscais facilitando o

financiamento das atividades de P&D (3).

• = Selecionar em quais das soluções da Siemens mundial a Siemens Brasil

pode atuar buscando descobrir seu nicho tecnológico (3).

• = Buscar ser “dono” de produtos mundiais para que se dependa da tecnologia

desenvolvida localmente, “forçando” para que investimentos continuem

sendo realizados (1).

Segundo o entrevistado 9, embora exista apoio da alta direção no Brasil para

realização das atividades, as questões relacionadas a P&D envolvem direta ou

indiretamente a matriz.

Existe uma orientação estratégica de descentralização de atividades nos

diversos países, porém esta estratégia sofre altos e baixos de acordo com a estratégia

utilizada para cada área (entrevistado 8).

Conforme o entrevistado 1, cada vez mais as empresas locais compreendem a

importância estratégica de possuir atividades de P&D dentro de suas unidades. Ao

mesmo tempo, foi observado pelo entrevistado 2 que é preciso que se procure a

melhor configuração em nível mundial: “É preciso tomar cuidado, pois acaba surgindo

um certo ranço das empresas locais querendo fazer mais, querendo ter iniciativa,

querendo criar mais; mas, de certa maneira, isto é uma estupidez do ponto de vista

global. (...) É necessário que se enxergue o negócio sob a ótica de um negócio global,

e o que eu preciso fazer como empresa local para atender da melhor maneira o

negócio global” (2).

Uma questão recorrente na dificuldade de utilizar produtos globais está na falta

de adaptabilidade de alguns produtos para o mercado brasileiro (citado por 2, 5, 7). A

primeira alternativa e a mais econômica seria influenciar a empresa global para que

desenvolva produtos, considerando os requisitos locais ou, caso não seja suficiente,

permitir a participação do desenvolvimento local para que o negócio no Brasil seja

atingido (conforme entrevistado 2). Praticamente todas as áreas são efetivamente

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93

consultadas durante a fase de coleta de requisitos para o produto mundial. No entanto

dois problemas se apresentam:

1. Existe ainda uma preocupação muito imediatista do pessoal de vendas com

o mercado, que dificilmente consegue parar para analisar as necessidades

de seus clientes em dois anos, “É uma dificuldade cultural” (Entrevistado 1).

2. Os requisitos de diminuição de funcionalidades para conseguir baixo custo,

muitas vezes, não são atendidos. O significado de produto mundial acaba

sendo produto para o mercado europeu e americano (2). “Embora a matriz

prometa um produto de preço baixo, acaba sendo caro demais” (7), e o

Brasil e outros mercados emergentes são uma “fatia” que acaba sendo

desconsiderada.

Para o primeiro caso, o entrevistado 1 sugeriu que se fortaleça a sistemática de

análise de ciclo de vida de produtos, desenvolvendo pessoas voltados a avaliar “o que

vem depois”. Tal cuidado pode ser fundamental para a competitividade futura das

áreas.

No segundo caso, faz-se necessário que algumas atividades de P&D sejam

realizadas para garantir o atendimento ao mercado local, adaptando produtos mais

adequados aos mercados emergentes.

A limitação estratégica quanto ao fato de não fornecer produtos de baixo custo

faz com que a atuação no mercado nacional se torne limitada em alguns casos: “como

a matriz não colocou como meta criar um produto de baixo custo, (...) acaba-se não

tendo volume para mudar o cenário” (4). No entanto, frente a esta necessidade de

manter estes mercados, em alguns setores, a matriz está se abrindo mais à adaptação

e criação de novos produtos para o mercado local, embora seja preciso desenvolver

canais de confiança para realização das atividades no Brasil.

No entanto, a viabilidade de realizar atividades de adaptação no produto

depende muito da tecnologia utilizada. As soluções, por serem produtos mais “leves”,

são mais susceptíveis de adaptação e melhoria para atender necessidades locais. A

própria estrutura utilizada permite bastante adaptação de país a país.

Em outros casos, tornam-se inviáveis pequenas adaptações, sendo necessário

investimentos altos para desenvolvimento de novos produtos. Para estes produtos,

caso exista uma centralização, o principal foco de inovação fica limitado aos serviços

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94

agregados e fornecidos, melhorias que podem ser realizadas de maneira

independente da matriz.

Em alguns casos, o produto mundial possui pouco espaço para customização,

mas está razoavelmente adaptado ao mercado brasileiro. Em outras áreas, buscando

atender às necessidades de agilidade global de seus clientes, partiu para uma grande

descentralização de suas atividades de desenvolvimento. Isto criou várias estruturas

replicadas e, com a retração do mercado, a matriz está voltando a buscar o controle

de várias atividades delegadas às filiais, procurando uma coordenação central do que

está sendo feito para cada mercado local.

Para sistematicamente construir e garantir um canal de transferência adequado

entre as empresas locais e a matriz, foram sugeridas as seguintes ações:

• = Ampliar a utilização de intercâmbio de mão-de-obra especializada (3).

• = Desenvolver um “embaixador”24 na matriz para tentar trazer mais projetos de

nível estratégico (1).

• = Apresentar propostas de projetos mostrando capacidade conjunta das áreas

(1).

• = Realizar apresentações na matriz mostrando números de estratégia de

atuação dos concorrentes que conseguem vantagens a partir da realização

de atividades de P&D no Brasil (1).

• = Mostrar capacidade para produtos de tecnologia já madura para que se

possam realizar inovações relacionadas ao custo (7).

• = Realizar uma “marcação cerrada” com os níveis operacionais na matriz para

garantir que as decisões realizadas pelo nível estratégico realmente se

operacionalizem (8).

Este canal de transferência, portanto, é essencial para um diálogo adequado

em busca de uma solução adequada para conseguir a competitividade local,

atendendo às necessidades do mercado e uma viabilidade global de longo prazo no

gerenciamento de custos e de portfólio. O aspecto voltado às atividades de P&D,

precisa ser fortalecido no diálogo e planejamento conjunto a fim de sustentar o

desenvolvimento de competências essenciais locais.

24 Pessoa de papel político representando a Siemens Ltda.

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95

6.2.2 Planejamento de competências tecnológicas essenciais

Para desenvolver, manter e gerenciar as competências, as áreas possuem

estratégias diferentes. A empresa não possui um processo corporativo para

estabelecimento das competências essenciais das diferentes áreas. Da mesma

maneira, a Gestão de Portfólio corporativa (Tabela 10), seja de tecnologia ou

competência, foi vista com ressalvas por parte dos entrevistados, embora seja

necessária para alinhar melhor as competências entre as áreas. A ressalva foi

colocada principalmente devido à dificuldade oriunda de sua aplicação entre as áreas,

visto que as sistemáticas são bastante díspares.

TABELA 10 - FERRAMENTAS PARA GESTÃO DE PORTFÓLIO Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Gestão de Portfólio 1 -

FONTE: Autor.

Embora não exista sistemática corporativa, os entrevistados determinaram

competências que precisam e que se pretendem criar no Brasil. O Quadro 13 mostra o

número de competências existentes e pretendidas citadas pelas áreas25.

QUADRO 13 - NÚMERO DE COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS IDENTIFICADAS POR ÁREA

Área Número de competências citadas

Área 1 3 Área 2 4 Área 3 2 Área 4 - Área 5 6 Área 6 4 Área 7 1

Fonte: Autor

25 O detalhamento das competências neste estudo não é possível para garantir o sigilo da estratégia das áreas.

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96

Como mecanismos de transferência de tecnologia internacional, o envio de

colaboradores para a matriz, buscando criar capacitação para desenvolver localmente,

e participação em projetos na matriz é bastante freqüente nas áreas. A importação de

mão-de-obra é um mecanismo menos utilizado.

Uma estratégia utilizada é o alinhamento das competências entre suas várias

unidades, o que permite um intercâmbio intenso de pessoas entre as várias unidades,

principalmente por se tratar de profissionais com competências específicas difíceis de

serem conseguidas no mercado. Em algumas áreas, o Brasil possui determinados

perfis profissionais bastante cobiçados por outras unidades ao redor do mundo.

Uma área desenvolve uma grande quantidade de projetos conjuntamente com a

matriz, assim como intercâmbio intenso, sendo capacitada em competências, somente

presentes dentro da rede de competências mundial na própria matriz. No entanto,

devido à retração do mercado e diminuição dos projetos, existe uma perda de capital

intelectual em competências que foram construídas em anos de investimento.

Em alguns casos, percebeu-se que existem zonas de sombreamento entre as

competências pretendidas nas diversas áreas e onde podem ser realizadas atividades

em conjunto entre as diferentes áreas no Brasil. O mesmo acontece na matriz, mas

devido ao tamanho da sua estrutura, existe muita dificuldade de interação entre as

áreas (9). A estrutura menor no Brasil pode ser uma vantagem. Uma gestão

estratégica dos conhecimentos existentes pode permitir a algumas áreas adquirir

experiência desde atividades como fabricação (7) até processos organizacionais

sofisticados de Gestão de projetos de inovação (1, 3).

Para realizar uma gestão das competências alinhada ao planejamento

estratégico, foi sugerido:

• = Organizar e agrupar as iniciativas de desenvolvimento para explorar as

sinergias possíveis entre as áreas (3,7,9).

• = Alinhar as competências entre as várias unidades nos diversos países,

permitindo um intercâmbio mais intenso de pessoal qualificado (3).

• = Aproveitar-se da versatilidade dos brasileiros e da estrutura menor no Brasil

para trazer atividades que exijam multiplicidade de conhecimentos (9).

• = Aproveitar-se das competências existentes para novas idéias e projetos de

P&D das várias áreas. Um alinhamento mais adequado das competências

que podem ser desenvolvidas no Brasil, aumentando o número de sinergias

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possíveis e orientando idéias inovadoras em competências instaladas, que

sofrem da sazonalidade de ciclos econômicos de cada área (1).

6.3 ALOCAÇÃO DE RECURSOS

A seleção de projetos está intimamente relacionada ao processo de alocação

de recursos das áreas. Além disso, muitos projetos exigem um planejamento das

mudanças necessárias na organização para otimizar a alocação dos recursos

existentes.

6.3.1 Planejamento de mudanças organizacionais

Com relação às mudanças organizacionais, existia uma certa quantidade de

reestruturações envolvendo as áreas. Faz-se necessário sistematizar a maneira como

elas devem ocorrer. Conforme mostra a Tabela 11, alguma sistemática com relação à

criação de equipes e gestão de mudança pode ser de valia para quatro áreas.

TABELA 11 - FERRAMENTAS RELACIONADAS ÀS MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS

Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Gestão de Mudanças 1 2 Criação de Equipes 1 3

FONTE: Autor.

Considerando-se a dificuldade de iniciar as atividades de P&D, apoiar a criação

de equipes nas áreas que não as possuem exige conhecer a estrutura organizacional

existente na empresa, objetivando aproveitar oportunidades e competências

estabelecidas em outras áreas.

Para apoiar a criação de uma equipe de desenvolvimento nas áreas, sugeriu-se

montar uma equipe de P&D corporativa (9) que pudesse apoiar as áreas que estão

iniciando suas atividades, realizando treinamento on the job de pessoas que se

encarregariam futuramente das atividades.

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6.3.2 Recursos para inovação e seleção de projetos

As áreas de P&D que possuem um orçamento atrelado ao faturamento (Área 6

e Área 5 e Área 1), conseguem planejar de maneira adequada a distribuição dos

investimentos nos negócios, enquanto as demais áreas planejam projetos pontuais

(Tabela 12).

TABELA 12 - ORÇAMENTO DE P&D DOS NEGÓCIOS Categorias Resultados Percentual(%) Relacionada ao faturamento Área 1,5 e 6 50% Relacionada à aprovação direta dos projetos

Área 2, 3 e 4 50%

Fonte: Autor.

Na área do Entrevistado 2, os investimentos eram subdivididos em (2):

• = Projetos de qualidade e produtividade (para os quais pretende usar 35%

dos recursos).

• = Projetos realizados para customização.

• = Projetos para produtos com vista ao mercado brasileiro.

As demais áreas não possuíam uma definição clara dos valores a serem

investidos em P&D ao longo do tempo para cada linha de negócio, estando os valores

investidos em cada negócio diretamente ligados à aprovação estratégica de projetos

individuais.

As áreas observaram, como principal dificuldade organizacional para realização

de inovação, a dificuldade na aprovação dos recursos. A falta de alinhamento com um

processo de definição de recursos para seus projetos de inovação junto à alta direção

faz com que os investimentos não se concretizem no planejamento econômico de

algumas áreas (4). Alguns projetos podem ser cancelados visto que os segmentos

individualmente possuem dificuldades de onerar o seu resultado no curto prazo para

realizar os investimentos de longo prazo.

Da mesma maneira existem riscos envolvendo a aprovação de fontes externas

de financiamento para os projetos de inovação. E mesmo quando aprovados, a

demora na aprovação pode deixar de atender o mercado no momento adequado.

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Conforme mostra a Tabela 13, a sistematização do processo de seleção de

projetos foi considerada relevante somente para duas áreas consultadas.

TABELA 13 - FERRAMENTAS RELACIONADAS À SELEÇÃO DE PROJETOS Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Seleção de Projetos 2 2

FONTE: Autor.

A seleção de projetos era realizada de maneira bastante diversa para os

diferentes negócios das áreas, variando entre processos formalizados e critérios

informais (Tabela 13).

Para estas duas áreas que possuem a seleção sistematizada, um excedente de

projetos possíveis disputam o orçamento definido.

Em uma primeira área, parte dos projetos é priorizada pela matriz

(desenvolvimento internacional) e parte priorizada pelo setor de vendas (projetos de

customização), obedecendo principalmente a critérios de time-to-market, pois muitas

vezes são desenvolvimentos com contratos assinados.

Uma segunda área, prioriza seus projetos através da realização de workshops,

principalmente focando seus investimentos nas linhas que fornecem maior

faturamento.

Como critérios formais e informais utilizados para seleção de projetos foram

levantados, de maneira espontânea, o seguintes critérios:

• = Time to market para atender contratos assinados (1, 9).

• = Retorno sobre investimento (1, 6).

• = Probabilidade de sucesso comercial (2, 9).

• = Faturamento da linha, (3, 6).

• = Adequação à estratégia da área (9, 6).

• = Valor presente líquido do Valor Econômico Agregado - EVA (2).

• = Prorrogação do ciclo de vida (6).

• = Probabilidade de sucesso técnico (2).

Utilizando-se de uma lista pré-definida de critérios para seleção de projetos,

chegou-se à seguinte priorização:

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100

1. Probabilidade de sucesso comercial.

2. Probabilidade de sucesso técnico.

3. Tamanho do mercado.

4. Valor presente líquido do investimento.

5. Lucro antes dos juros, imposto de renda - EBIT26.

6. Rentabilidade do mercado.

7. Participação no mercado.

8. Nível de competição.

9. Grau de comprometimento interno.

10. Ajuste às competências essenciais.

A partir dos projetos de inovação das áreas e dos novos negócios selecionados

é possível definir uma visão de longo prazo da estrutura necessária para realização

desses projetos. As sugestões coletadas para estabelecer um processo que garanta

os recursos para esses projetos foram:

• = Utilizar efetivamente os recursos oriundos de incentivos fiscais e de outros

fundos setoriais, planejando a contrapartida necessária (1,2,4).

• = Buscar financiamento para as atividades de P&D em órgãos de fomento que

permitam que a contrapartida seja realizada após o lançamento do próprio

produto, diminuindo o fluxo de caixa negativo do ciclo de vida do produto (1,

2, 3).

• = Estabelecer um processo que leve a uma instância que possua recursos

definidos para sistematicamente priorizar os projetos (4, 7).

6.4 ACOMPANHAMENTO DOS PROJETOS

Para os produtos onde existe a dificuldade de adequação ao mercado brasileiro,

foi considerado significativo desenvolver um processo de análise de custo para que se

possa comprovar e medir mais precisamente quanto se consegue agregar de valor

com a inovação e sua influência no aumento da participação do mercado. A

sistematização de um processo de análise de valor pode ser um importante passo na

definição de quais produtos devem ser realizados localmente (Tabela 14). 26 Earnings before Interest Rates and Taxes.

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101

TABELA 14 - FERRAMENTAS DE ANÁLISE DE VALOR Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Análise de Valor 1 3

FONTE: Autor

Além disso, foi considerada necessária a gestão formal da Propriedade

Intelectual realizada pelo setor corporativo, sistematizando uma política para proteger

e gerir as patentes da empresa (Tabela 15).

TABELA 15 - FERRAMENTAS RELACIONADAS À GESTÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Gestão de Propriedade Intelectual

2 4

FONTE: Autor

No que se refere à gestão de projetos, cada área de negócio é independente

para realizá-los e geri-los de acordo com a sua necessidade, embora possa haver

sinergias e possa ser utilizada a estrutura corporativa e de outras áreas para iniciar a

gestão de alguns projetos para as áreas que estão iniciando estas atividades (Tabela

16).

TABELA 16 - FERRAMENTAS RELACIONADAS À GESTÃO DE PROJETOS Formalização da ferramenta Ferramentas Na área17 Corporativa18

Gestão de Projetos 4 3

FONTE: Autor

Esta gestão de projetos de inovação, dividida da gestão de projetos

operacionais, estava mais ou menos estruturada de acordo com o número e tamanho

das inovações realizados pela área (Tabela 17).

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102

TABELA 17 - PROCESSO DE GESTÃO DE PROJETOS DE INOVAÇÃO Categorias Resultados Percentual Estruturada Áreas 1, 4 e 5 43% Em estruturação Área 2 14 % Não estruturada Áreas 3, 6 e 7 43%

FONTE: Autor

Duas áreas (Áreas 4 e 5) possuíam uma organização bem estruturada da

gestão de projetos, com equipe para controlar recursos, ferramentas, líder de projetos

designados, acompanhamento de custo e cronograma dos projetos.

A Área 1 também definiu sua gestão de projetos como estruturados, porém

devido à pequena quantidade, buscava realizá-los utilizando-se de sinergias e

estrutura das demais áreas.

A Área 2 considerava possuir internamente uma capacidade de gestão de

projetos bastante eficiente, mas não a utiliza para os projetos de inovação, sendo

necessário alinhar os projetos de inovação com a sistemática existente.

Os demais projetos de inovação são gerenciados junto do grupo de Engenharia,

sem que haja uma divisão entre os recursos gastos com eles e as atividades

operacionais.

Como observações levantadas se destacam:

• = Disseminar melhor as ferramentas de gestão de projetos existentes na

empresa nas áreas que pretendiam iniciar atividades de inovação para que

possam evitar duplicação de esforços e incompatibilidades futuras (1, 3).

• = Capacitar algumas áreas em gestão de projetos e preparar seu sistema

financeiro para atender suas necessidades de separar os custos de P&D,

inovação dos custos operacionais (5, 6, 7).

• = Acompanhar o sucesso dos projetos individuais e como estes se refletem no

acompanhamento do negócio planejado (1,2).

Para realizar o relacionamento dos projetos com o acompanhamento dos

negócios foram sugeridos pelo entrevistado 2 possíveis indicadores:

• = Índice de sucesso balanceado dos projetos.

• = Grau de precisão na orçamentação dos projetos.

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103

• = Indicadores que forneçam uma visão de consolidação de vários projetos, o

valor presente líquido de cada linha ao longo do tempo, buscando ligar os

projetos com o retorno.

6.5 DISSEMINAÇÃO E APRENDIZAGEM

Quanto às estratégias sugeridas para disseminar e desenvolver a interação

entre as áreas e o setor corporativo, observou-se a necessidade de:

• = Capacitar os GNT´s.

• = Sistematizar a divulgação dos métodos disponíveis.

• = Aprimorar a integração do processo de planejamento estratégico de

tecnologia com outros processos existentes.

Os GNT’s, que são os representantes e responsáveis pela Gestão de

Tecnologia nas áreas, consideram importante receber uma capacitação adequada

para realizar suas atividades.

Entre as ações mencionadas para capacitação dos GNT’s, foram levantadas:

• = Treinamento intensivo dos GNT’s no tema de Gestão de Tecnologia (1, 3).

• = Treinamento com pessoas de diferentes unidades de negócio (3).

• = Participação dos GNT’s em congressos e seminários (9).

• = Não utilizar ferramentas de colaboração virtual, devido à importância do

contato pessoal (2,3).

• = Divulgar melhor nas áreas o papel do GNT e suas responsabilidades para

que este seja um efetivo canal com o setor corporativo (6).

Caso seja utilizada uma ferramenta de compartilhamento de informação para

realizar a divulgação das ferramentas de gestão de tecnologia observa-se que a

utilização de sistemas de compartilhamento de conhecimento (Tabela 18) precisa ser

orientada para que um resultado efetivo seja obtido.

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TABELA 18 - FERRAMENTA PARA COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO Formalização da ferramenta Ferramenta Na área Corporativa

Networking 2 3

FONTE: Autor.

Para que haja uma maior interação entre as áreas, divulgação de metodologias

de Gestão de Tecnologia e implementação de boas práticas nas experiências de

sucesso foram sugeridos:

• = Levantar e divulgar os casos de sucesso (4).

• = Organizar, centralizar e disponibilizar pela Intranet de maneira clara para o

gestor buscar, quando necessário (6).

• = Mapear quem já utilizou cada tipo de ferramenta (6).

• = Aproveitar a estrutura e processos existentes para as outras áreas (1).

• = Realizar reuniões interdepartamentais entre as áreas de P&D para buscar

sinergias entre os projetos (1).

O aspecto que se destaca, portanto, é que uma diversidade de estratégias

precisam ser utilizadas para a efetiva disseminação das ferramentas nas áreas.

6.6 FERRAMENTAS DE GESTÃO DE TECNOLOGIA E PROPOSTAS

DE MELHORIA

Em alguns momentos das entrevistas, observou-se que não existia uma

percepção direta entre as categorias de ferramentas genéricas propostas na literatura

e os benefícios possíveis. Para a identificação das ferramentas de gestão de

tecnologia utilizadas formal ou informalmente foi, por vezes, necessário o

conhecimento das terminologias de softwares, processos e técnicas existentes na

empresa para conseguir realizar a associação das categorias de ferramentas

genéricas a processos formalizados nas diferentes áreas. Em outros casos, somente

quando esta associação era feita, a compreensão dos benefícios se tornava mais

clara.

No entanto, quando a associação era feita, o escopo acabava se restringindo a

um processo específico, visto que as ferramentas de gestão de tecnologia não são

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necessariamente artefatos como software ou técnicas padronizadas, mas estão

ligadas a um conjunto de conhecimentos e serviços que permite auxiliar a gestão em

determinadas funções.

Buscando, portanto, melhorar ou inserir novos softwares, técnicas e processos

existentes na empresa, as propostas de melhoria identificadas foram organizadas com

as categorias de ferramentas de gestão de tecnologia propostas. Através desta

associação pretende-se que as ferramentas formais e informais utilizadas possam ser

aprimoradas a partir da literatura específica sobre a ferramenta, sendo meio para

atender às propostas de melhoria levantadas.

O Quadro 14 apresenta as ferramentas utilizadas em cada uma das etapas e o

conjunto de melhorias e oportunidades de atuação da Gestão de Tecnologia para

aprimorar os processos existentes.

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QUADRO 14 - FERRAMENTAS DE GESTÃO DE TECNOLOGIA NAS ÁREAS E PROPOSTAS DE MELHORIA IDENTIFICADAS

Etapa Ferramenta Propostas de melhoria identificadas Criatividade • =Realizar as contramedidas tecnológicas para atender os objetivos estratégicos. Levantamento

de Oportunidade

Análise de Mercado e de Ciclo de Vida de Produto

• =Elaborar planos de negócio para os principais projetos, utilizando a sistemática de análise de mercado aceito pela matriz.

• =Levantar oportunidades nas áreas a partir da análise de ciclo de vida do produto. • =Envolver o PLM (Product Line Manager) na caracterização dos negócios, a fim de

permitir a integração dos projetos planejados com as definições relativas ao ciclo de vida de produto e controle financeiro.

• =Estruturar sistemática genérica corporativa, adaptada a cada área que atenda tanto a produto, quanto a serviço e soluções.

• =Integrar futuramente com uma sistemática de roadmap de produto. Gestão de Interface - Negociação com a matriz

• =Aumentar o intercâmbio de mão-de-obra especializada. • =Desenvolver um embaixador na Matriz para buscar mais projetos no nível estratégico.• =Melhorar a comunicação com a alta direção para desenvolver a parceria com a

Matriz. • =Apresentar propostas de projetos mostrando capacitação tecnológica conjunta das

áreas. • =Realizar apresentações na Matriz mostrando números de estratégia de atuação dos

concorrentes que investem nas filiais. • =Mostrar capacitação para produtos de tecnologia madura para que se realize

inovação relacionada ao custo. • =Realizar uma “marcação cerrada” com os níveis operacionais na matriz para garantir

que as decisões realizadas pelo nível estratégico realmente se operacionalizem. • =Negociar política de relacionamento com a matriz relativa à propriedade intelectual.

Tecnologia no Planejamento estratégico

Gestão de Portfolio - Competências essenciais

• =Alinhar as competências entre as várias unidades no diversos países, permitindo um intercâmbio mais intenso de pessoas.

• =Organizar e agrupar as iniciativas de desenvolvimento para explorar as sinergias possíveis entre as áreas.

• =Aproveitar-se da versatilidade dos brasileiros e da estrutura menor no Brasil para realizar atividades que exijam multiplicidade de conhecimento.

• =Aproveitar-se das competências existentes para novas idéias e projetos de P&D das várias áreas.

Criação de Equipes

• =Aproveitar-se do conhecimento da estrutura organizacional corporativa para estruturar novas equipes.

• =Desenvolver uma equipe de desenvolvimento corporativa em tecnologias-chave e transferi-la parcialmente para as áreas na medida da necessidade de mercado.

Alocação de Recursos

Seleção de Projetos

• =Estabelecer uma instância que possua recursos definidos para sistematicamente selecionar a seleção de projetos.

• =Utilizar efetivamente os recursos incentivados e de outros fundos setoriais, planejando a contrapartida necessária.

• =Buscar financiamento diminuindo o fluxo de caixa negativo do ciclo de vida do produto, tornando o projeto viável.

Gestão de Projetos

• =Disseminar melhor as ferramentas de gestão de projetos para que possam evitar duplicação de esforços e incompatibilidades futuras.

• =Preparar o sistema financeiro de todas as áreas para atender suas necessidades de separar os custos em inovações de custos operacionais.

• =Acompanhar o sucesso dos projetos individuais e como estes se refletem no acompanhamento do negócio planejado.

Acompanha-mento de Projetos

Análise de Valor

• =Comprovar e medir mais precisamente quanto se consegue agregar de valor.

FONTE: Autor.

A divulgação das ferramentas de gestão de tecnologia nas áreas deve utilizar-

se da capacitação dos responsáveis das áreas, da sistematização de softwares,

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técnicas e métodos existentes e do compartilhamento das experiências de sucesso.

As ferramentas de gestão de tecnologia que podem ser utilizadas no nível corporativo

para atingir as propostas de melhoria identificadas estão no Quadro 15.

QUADRO 15 - ASSOCIAÇÃO ENTRE FERRAMENTAS CORPORATIVAS E PROPOSTAS DE MELHORIA LEVANTADAS

Ferramenta Propostas de melhoria levantadas Networking • =Sistematizar a divulgação dos métodos disponíveis.

• =Enumerar os casos de sucesso. • =Mapear quem utiliza cada tipo de ferramenta aproveitando-se da estrutura

e processos existentes. • =Realizar reuniões interdepartamentais entre as áreas de P&D.

Gestão de interface com fontes locais de tecnologia e Auditoria tecnológica

• =Melhorar o relacionamento local com empresas e universidades antes de iniciar as atividades em parceria de P&D em parceria com a Matriz.

• =Melhorar o apoio corporativo e especializado para identificação e relacionamento com instituições e universidades.

• =Desenvolver parcerias utilizando-se de auditorias da Matriz e grupos de qualidade internos para capacitar fornecedores para realizar projetos em conjunto.

Prospeção Tecnológica, Avaliação de Tecnologia e Roadmaps

• =Prospectar em relação a alguns temas de interesse local, como política industrial, tendências de mercado local e estruturação dos produtos em Roadmaps.

• =Alinhar com a tecnologia mais avançada planejada e determinada pela matriz.

FONTE: Autor.

Associando-se os benefícios esperados às ferramentas genéricas disponíveis

na literatura, pode-se orientar a divulgação e aprendizagem das ferramentas para as

necessidades do caso estudado.

6.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No caso estudado, o foco da gestão de tecnologia na empresa não está limitado

a áreas técnicas, mas ao negócio habilitado pela tecnologia. A gestão da tecnologia e

da inovação é vista como bastante importante pelos entrevistados e tem como objetivo

principal buscar vantagens competitivas, independentemente da existência ou não de

atividades de P&D na área.

Observou-se que a Gestão de Tecnologia não é a atividade de um

departamento ou setor corporativo, mas algo que demanda estar integrado aos

processos de cada área, forçando a interação entre os vários departamentos e níveis

organizacionais, o que acaba por envolver grande número de participantes.

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O capítulo descreveu as etapas do processo de inovação e identificou como a

sistematização das ferramentas de gestão de tecnologia pode contribuir para a

melhoria do processo. Com base no referencial teórico e nos resultados obtidos, o

próximo capítulo apresenta uma proposta de modelo para sistematização do processo

de inovação.

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7 PROPOSTA DE MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Baseado em pontos do referencial teórico e nos resultados obtidos, este

capítulo apresenta uma classificação das decisões estratégicas referentes à tecnologia

para a filial estudada, assim como a caracterização do alinhamento entre o

planejamento estratégico e os projetos de inovação. A partir desses elementos e das

ferramentas de gestão de tecnologia identificadas, estrutura-se a proposta do modelo

de gestão estratégica de tecnologia e inovação para a filial.

7.1 DECISÕES ESTRATÉGICAS REFERENTES À TECNOLOGIA EM

UMA FILIAL DE EMPRESA MULTINACIONAL

Durante o levantamento de oportunidades, surgem projetos para introduzir

novos negócios e melhorar a competitividade e a lucratividade da área. Nesta etapa, a

gerência intermediária possui um papel de destaque em transformar o conhecimento

do produto e do mercado em novos negócios, em um planejamento midle-up-down.

Na maioria dos casos, os projetos são melhorias incrementais, tratadas dentro

de um negócio e têm impacto pontual. No entanto, observou-se que na medida em

que os projetos de inovação saem do atendimento das necessidades diretas do

mercado para uma visão de longo prazo da filial, os projetos de maior investimento

precisam ser planejados, como uma iniciativa estratégica da organização, sendo

analisada e alinhada à visão da alta direção.

Observou-se que o levantamento de oportunidades acompanha a análise do

ciclo de vida dos produtos, garantindo que os projetos de inovação possam expandir o

ciclo com a manutenção de lucratividade dos negócios. Esta análise do ciclo de vida

precisa garantir a vantagem competitiva não apenas no curto, mas no médio e longo

prazo, exigindo que se tenha um mix de projetos que atenda a estas necessidades do

negócio. Estes projetos variam desde pequenas alterações e adaptações até projetos

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cujos investimentos necessários para criação de infra-estrutura e desenvolvimento

organizacional exige uma visão dos negócios mais ampla. Nestes projetos, a variável

tecnológica deve integrar-se à estratégia da unidade, pois impactam nos resultados

de curto prazo.

Sob este ponto de vista, os projetos de inovação devem ser inseridos em um

portfólio, buscando com que a área possua este mix adequado visando o atendimento

às necessidades diretas do mercado atual, de curto prazo, e a estratégia de longo

prazo da unidade em relação à tecnologia.

A classificação utilizada nos portfólios de Leonard-Barton (Figura 12, p. 35) e

Burgelman et al. (Figura 19, p.48) buscando uma gestão adequada do portfólio de

projetos de novos produtos, apresentou algumas limitações para o caso estudado,

visto que as decisões a serem tomadas nesta classificação estão sob

responsabilidade da matriz para a maioria dos produtos.

A classificação quanto à maturidade tecnológica dos projetos foi melhor

adaptada quando esta foi convertida em níveis na relação de transferência de aptidões

tecnológicas da filial em países emergentes, como proposto por Leonard-Barton

(1998) e resumidos no Quadro 16. Esta classificação segundo níveis está relacionada

ao tipo de decisão e negociação sob responsabilidade da filial (ver Quadro 2, p. 16).

QUADRO 16- NÍVEIS NA RELAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE APTIDÕES TECNOLÓGICAS DA FILIAL EM PAÍSES EMERGENTES

Nível Nome 1 Operações de montagem ou planta em pleno funcionamento 2 Adaptação de componentes 3 Redesenho de produto 4 Desenho de produto independente

FONTE: Autor, baseada em Leonard-Barton (1998).

Portanto, adequando a terminologia utilizada na empresa, os projetos podem

ser classificados considerando-se o grau de modificação no produto mundial,

semelhante aos níveis na relação de transferência de aptidões tecnológicas, conforme

mostra o Quadro 17.

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111

QUADRO 17- CLASSIFICAÇÃO DOS PROJETOS SEGUNDO O GRAU DE MODIFICAÇÃO NO PRODUTO MUNDIAL

Grau Descrição Produção local e nacionalização

Nenhum grau de modificação no produto mundial

Customização e engenharia tradicional

Agregação de valor através de serviços e projetos adequando ao cliente

Engenharia não-rotineira

Criação de um novo produto adaptado do original

Desenvolvimento Desenvolvimento de um novo produto ou linha de produtos

FONTE: Autor.

A produção local, assim como a nacionalização de produtos, serviços ou

soluções mundiais, possui a característica de necessitar, na maioria dos casos, de um

menor valor investido em P&D, embora possa haver investimentos expressivos em

outras atividades, que precisam ser bem dimensionadas, planejadas e controladas.

As atividades de customização e engenharia tradicional normalmente

conseguem receber seus recursos diretamente de uma venda, onde os custos estão

incluídos.

As atividades de engenharia não-rotineira exigem projetos de desenvolvimento

para adaptação dos produtos à necessidade do mercado, como é o caso de grandes

sistemas de telefonia que exigem adaptações e desenvolvimento de características

específicas.

Para o efetivo desenvolvimento de novos produtos, os projetos, que possuem

um maior grau de inovação, acabam requisitando um maior número de participantes

em atividades de P&D, devido ao aumento da complexidade e a visão de retorno dos

investimentos realizados, que é menos direta.

Na medida em que os projetos caminham para uma maior complexidade,

estudos adicionais são necessários e existe a tendência dos investimentos em P&D se

tornarem maiores, assim como sua importância estratégica.

Considerando a interdependência do produto e da organização, à medida que a

modificação no produto é maior, a dimensão ontológica da espiral de conhecimento de

Nonaka e Takeuchi (Figura 8, p. 23) precisa alcançar novos níveis hierárquicos e

posições geográficas. As inovações realizadas localmente devem ser disseminadas na

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organização multinacional a partir dos projetos de inovação individuais identificados

nos planejamentos das unidades.

A inovação precisa ser disseminada na organização mundial da multinacional

para atender o mercado-alvo possível do produto inovador modificado na filial. A

classificação segundo a parcela do mercado permite identificar a dimensão ontológica

que precisa ser atingida pela espiral de conhecimento gerada pelo projeto de

inovação.

Classificando o mercado onde se pretende atuar com as inovações realizadas e

a profundidade das inovações para atender às necessidades do mercado definido,

pode-se definir um portfólio como o representado na Figura 26.

FIGURA 26 - PORTFÓLIO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE PROJETOS DE INOVAÇÃO EM FILIAIS DE MULTINACIONAIS

FONTE: Autor.

Inserindo os negócios que necessitam de um acompanhamento estratégico da

direção, este portfólio permite classificar as decisões estratégicas na filial de empresa

multinacional diversificada relacionadas à tecnologia. Esta classificação é necessária

para permitir uma visão mais ativa da alta direção no planejamento e distribuição dos

investimentos nos projetos e negócios.

MercadoMundial

Mercadossimilares

Bloco econômico

País

Clienteespecífico

ProduçãoLocal

Customização Eng.ñ rotineira

Desenvol-vimento

Grau da modificação realizada no produto mundial

Mer

cado

-alv

o at

endi

do

pela

inov

ação

Alto

Baixo

Importância Estratégica

Restrito

Amplo

Amplo

Restrito

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113

7.2 ALINHAMENTO ENTRE O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E

PROJETOS DE INOVAÇÃO

Um alinhamento entre o planejamento estratégico e os projetos de inovação é

necessário para conseguir uma atitude pró-ativa na distribuição adequada de recursos

humanos e financeiros entre os vários projetos e garantir que os resultados esperados

possam ser alcançados no momento definido pela estratégia para atender o mercado.

Observou-se que este alinhamento acontece nas áreas de maneira distinta

dependendo do grau de inovação e do mercado que precisa ser atingido.

Foram identificadas três áreas no portfólio com características distintas:

(a) necessidades diretas do cliente;

(b) oportunidades tecnológicas;

(c) nichos internacionais.

Estas áreas estão representadas na Figura 27 e descritas a seguir.

Mercado Mundial

Mercados similares

Bloco econômico

País

Cliente específico

ProduçãoLocal

Customização Eng. ñ rotineira

Desenvol-vimento

Profundidade da informaçãotecnológica necessária

Tam

anho

do

mer

cado

qu

e pr

ecis

a se

r an

alis

ado

Nichos internacionais

Necessidades diretas do cliente Restrito

Amplo

Amplo

Restrito

Oportunidadesde negócio

Produto 1

Produto 2

Produto 3

FIGURA 27 –CONHECIMENTO TECNOLÓGICO E DO MERCADO PARA INOVAÇÃO EM FILIAIS DE EMPRESAS MULTINACIONAIS

FONTE: Autor.

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114

a) Necessidades diretas do cliente

Para a maioria dos negócios na faixa de necessidades diretas do cliente, os

projetos de inovação são oriundos de informações fornecidas pelo mercado

atualmente atendido, que conhece o produto mundial e solicita por características

específicas. As áreas de negócio têm um papel importante na inquirição direta e

levantamento destas necessidades dos clientes que podem ser atendidas.

A visão das oportunidades exclusivamente no mercado nacional limita de

maneira bastante acentuada as atividades de inovação, visto as tendências de

padronização de produtos mundiais e a dificuldade de auto-financiamento com o

mercado menor.

Observou-se nas entrevistas que uma participação mais ativa na estrutura

mundial buscando atender mercados maiores é vital para financiar as atividades de

P&D e alavancar maior vantagem competitiva.

b) Oportunidades de negócio

Na faixa central existe uma região onde a inovação pode ser utilizada para

expandir o mercado de exportação da empresa a partir de inovações no produto que,

muitas vezes, precisa desta expansão para tornar-se viável. Nesta região existe um

aumento da necessidade de conhecimento de mercados externos e aumento do

conhecimento tecnológico necessário, identificação das implicações de possíveis

adaptações necessárias no produto mundial.

As oportunidades devem sofrer uma análise quanto à sua viabilidade utilizando-

se de critérios financeiros. A análise de viabilidade limita o número de iniciativas às

oportunidades com maiores chances de sucesso, garantindo os recursos necessários

para a realização dos projetos selecionados.

A definição do retorno de um projeto precisa ser vista de duas formas:

• = Quanto ao retorno para o mercado atendido pela filial – os projetos de

inovação são avaliados com relação ao valor econômico agregado ao

produto no mercado atendido.

• = Quanto ao retorno para a empresa global – os projetos são avaliados

segundo a agregação de valor ao produto mundial, embora a filial não

atenda este mercado.

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No primeiro caso, a análise de viabilidade do negócio precisa ser realizada pela

filial e, no segundo caso, a preocupação quanto ao retorno esperado para o projeto

fica, principalmente, sob responsabilidade da matriz, que efetivamente possui a visão

do mercado global.

O atendimento a estas duas necessidades de viabilidade na empresa

multinacional é importante visto que, se esta é exclusiva das filiais, o grande número

de atividades de P&D descentralizadas podem acabar trazendo as ineficiências

inerentes a este modelo de organização em relação à grande quantidade de estruturas

duplicadas e dificuldades no gerenciamento global (Quadro 1, p.12). Se a viabilidade

só ocorre do ponto de vista global, pode ocorrer a perda de nichos importantes para a

filial.

A venda de serviços de desenvolvimento para a matriz é uma atividade comum

em algumas áreas e uma importante maneira de ampliar e manter a estrutura de P&D.

No entanto, no caso da venda pura de mão-de-obra para serviços de

desenvolvimento, a visão estratégica de mercado fica sob responsabilidade do

contratante. Observa-se, portanto, que a venda de serviços de desenvolvimento não

fornece diretamente vantagem competitiva à filial, a menos que se possa utilizar a

competência existente para desenvolver produtos mais adequados, produzí-los

localmente e expandir suas fronteiras de atuação para novas oportunidades de

negócio e nichos no mercado internacional.

Portanto, por vezes, embora economicamente viável para a filial o

desenvolvimento de determinado produto, é necessário buscar um mercado maior

para que agregue valor e atenda às necessidades do produto mundial.

A análise de viabilidade pode integrar critérios não financeiros (seção 3.2, p.

33), conforme sugerido por Tidd (2000), para definir além do retorno direto do projeto,

o impacto na lucratividade do negócio e sua importância estratégica, permitindo uma

gestão de portfólio.

Esta análise estabelece metas para os projetos de inovação, relacionados ao

impacto no negócio (seção 4.3, p. 54). Portanto, os mesmos critérios utilizados para

seleção podem ser os indicadores para medir o impacto no negócio, permitindo à alta

direção verificar a adequação dos investimentos em relação aos objetivos esperados

para os principais projetos.

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116

A busca de novos mercados precisa ser discutida na alta direção da filial,

coordenando com outras filiais e a matriz. Com base no conjunto de projetos

identificados, é possível iniciar um plano de negociação com a matriz, consolidando a

visão de longo prazo entre as áreas a ser negociada por um “embaixador”, que poderá

identificar os devidos padrinhos na matriz para os projetos individuais.

c) Nichos Internacionais

No canto superior direito estão colocados os projetos de produtos, onde nichos

foram identificados e a filial consegue atuar como provedora de produtos mundiais.

Para a criação de novos mercados, uma análise prospectiva poderia ser

sugerida. No entanto, esta atividade não foi considerada adequada às filiais durante o

estudo de caso, frente à necessidade de grande competência tecnológica e de

penetração no mercado, ficando a cargo da matriz buscar estes novos conceitos.

Devido à necessidade de adequar-se à organização mundial, de maneira substitutiva a

um trabalho prospectivo, o conhecimento por parte dos principais responsáveis pela

gestão de tecnologia dos roadmaps tecnológicos dos produtos pode ser bastante

importante. Nestes roadmaps podem ser identificadas algumas competências que

precisam ser desenvolvidas no presente para exploração no futuro, obtendo uma

sincronia dos investimentos atuais com a visão para o produto mundial para atacar

nichos internacionais dentro da organização.

Analisando os planos de negócios das áreas também é possível determinar

quais competências são consideradas estratégicas pelos negócios que se pretende

desenvolver. Esta informação é importante para iniciar o planejamento de

competências essenciais da empresa.

O trabalho prospectivo de criação de competências alinhadas e

complementares às desenvolvidas pela organização mundial exige um ciclo de

competência (Figura 4, p. 10), cuja primeira atividade é a identificação de

competências essenciais para a filial. Nesta atividade, pode ser feita a seleção entre

as futuras tecnologias necessárias para os produtos globais disponíveis em seus

roadmaps. Estes nichos tecnológicos, onde a filial deve atuar para desenvolver futuros

produtos mais adequados às necessidades do mercado local e penetração no

mercado internacional, precisam ser planejados com maior antecedência, buscando

estabelecer um programa para desenvolver as competências e parcerias necessárias.

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117

Para realizar este trabalho prospectivo, sugere-se evoluir as próprias

sistemáticas de reuniões existentes para levantamento de oportunidades com pessoal

de vendas e pessoal técnico, utilizando-se das metodologias de Roadmapping (Seção

3.2.1, p. 38). Esta sistemática seria adequada para sincronizar as necessidades

específicas da filial, as políticas públicas locais de incentivo à inovação, as

oportunidades tecnológicas provenientes das fontes de tecnologia e os roadmaps do

produto mundial.

Durante o planejamento estratégico, a tradução das competências essenciais

em novos processos, produtos e serviços nas áreas de negócio podem ser orientadas,

definindo uma visão de longo prazo para os negócios existentes e colocados novos

negócios para o futuro, definindo as tendências no portfólio de Gestão Estratégica de

Tecnologia para a filial, como ilustra a Figura 28.

Mercado Mundial

Mercados similares

Bloco econômico

País

Cliente específico

ProduçãoLocal

Customização Eng. ñ rotineira

Desenvol-vimento

Profundidade da informaçãotecnológica necessária

Tam

anho

do

mer

cado

qu

e pr

ecis

a se

r an

alis

ado

Nichos internacionais

Necessidades diretas do cliente Restrito

Amplo

Amplo

Restrito

Oportunidadesde negócio

Produto 1

Produto 2

Produto 3

FIGURA 28 - GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA PARA A FILIAL Fonte: Autor.

A partir da definição de metas de longo prazo da organização com relação aos

vários produtos, é possível adequar os investimentos no curto prazo e distribuir as

estimativas de investimento no longo prazo entre os diversos negócios, criando uma

participação mais ativa da alta direção na criação de um mix adequado de projetos de

inovação.

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118

7.3 MODELO PROPOSTO

O modelo proposto utiliza, como base, etapas similares ao processo genérico

proposto no TEMAGUIDE da COTEC (Figura 23, p. 59). Este modelo foi adaptado

para representar as atividades do caso estudado (Figura 29).

Focus

Resource

Implement

Scan Learn

Foco

Recursos

Implementação

Levantamento Aprendizagem

Focus

Resource

Implement

Scan Learn

Foco

Recursos

Implementação

Levantamento AprendizagemAprendizagem e Disseminação

Levantamento de Oportunidades

de Negócio

Tecnologia no Planejamento Estratégico

Alocação de recursos

Acompanhamento dos Projetos de

Inovação

FIGURA 29 - VISÃO GERAL DO MODELO FONTE: Autor.

O processo de inovação necessita de um grande número de participantes e de

ferramentas formalizadas (Figura 30) nas diversas áreas de negócio, devendo,

portanto, ser fomentadas no nível corporativo.

•Análise do Ciclo de Vida

•Planejamento Estratégico

•Sistema financeiro

•Criatividade

•Análise de Mercado •Seleção

de Projetos

•Negociação internacional

•Competências essenciais

•Criação de Equipes

•Gestão de Portfolio

•Análise de Valor

•Gestão de Projetos

Alta DireçãoÁreas Técnicas

Gerência, PLM,Marketing e

Vendas

Gerência,Comercial

FIGURA 30 - FERRAMENTAS NAS ÁREAS DE NEGÓCIO E PESSOAL ENVOLVIDO FONTE: Autor.

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119

A gestão de tecnologia, embora deva estar incorporada nas áreas, não é

conseqüência natural das atividades realizadas, nem pode ser tratada isoladamente

nos diversos departamentos.

A partir das ferramentas identificadas (Seção 6.6), do portfólio proposto (Seção

7.1) e dos mecanismos de aquisição de informação (Seção 7.2) é possível destacar

alguns pontos para compor as várias etapas do modelo, como mostra a Figura 31.

Etapa Resultado

•Ferramentas de Gestão de Tecnologia•

-- Responsáveis

•Informações necessárias••

PortfólioEtapa Resultado

•Ferramentas de Gestão de Tecnologia•

-- Responsáveis

•Informações necessárias••

Portfólio

FIGURA 31 - PONTOS DESTACADOS NO MODELO PROPOSTO FONTE: Autor.

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120

a) Levantamento de oportunidades de negócio

No levantamento de novas oportunidades de negócio (Figura 32), são

identificados novos projetos de inovação, atualizando o portfólio de gestão estratégica.

Levantamento de Oportunidades Projetos deInovação

•Análise de Mercado•Criatividade

•Análise do Ciclo de Vida

-Gerência, PLM, Marketing e Vendas

•Oportunidades tecnológicas•Competências das demais áreas•Parcerias possíveis

Levantamento de Oportunidades Projetos deInovação

•Análise de Mercado•Criatividade

•Análise do Ciclo de Vida

-Gerência, PLM, Marketing e Vendas

•Oportunidades tecnológicas•Competências das demais áreas•Parcerias possíveis

FIGURA 32 - LEVANTAMENTO DE OPORTUNIDADES - PRINCIPAIS PONTOS OBSERVADOS.

FONTE: Autor.

As áreas utilizam metodologias de criatividade e análise de mercado, sendo a

gerência intermediária, os Gerentes de Linha de Produto – PLM´s e o pessoal de

marketing e vendas os principais responsáveis por estas atividades.

A análise do ciclo de vida do produto é importante para definir as inovações

que mantenham a competitividade. Oportunidades oriundas das fontes de tecnologia

locais e parcerias possíveis internas e externas podem complementar a visão de curto

prazo do mercado.

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121

b) Tecnologia no estratégico

Na etapa relacionada à Tecnologia no Estratégico (Figura 33), é realizada a

orientação da visão de longo prazo para os negócios com relação à inovação e ao

mercado-alvo.

A partir da estratégia dos negócios individuais, a direção orienta e determina a

infra-estrutura a ser desenvolvida na sua visão de longo prazo, permitindo o

compartilhamento de competência entre os negócios e projetos. Além disso, as

estratégias locais para atender o mercado precisam ser alinhadas e negociadas com a

matriz.

Para concretizar esta visão estratégica da tecnologia na filial é preciso

conhecimento das tendências tecnológicas dos produtos da matriz e da política local

de industrial e de C&T&I.

FIGURA 33 - TECNOLOGIA NO ESTRATÉGICO – PRINCIPAIS PONTOS OBSERVADOS

FONTE: Autor.

Plano Estratégico

Tecnologia noEstratégico

• Negociação internacional• Competências essenciais

- Alta Direção

• TendênciasTecnológicas

•Políticas industrial e

de C&T

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122

c) Alocação de recursos

Na etapa de alocação de recursos (Figura 34), ocorre o desenvolvimento

organizacional para estabelecimento das novas oportunidades e alinhamento da

estrutura e dos projetos existentes de acordo com a nova visão dos negócios.

A separação dos investimentos nos projetos de inovação da empresa dos

custos operacionais tem papel fundamental na capacidade de desenvolver as equipes

adequadas para implementar a estratégia. Além dos recursos próprios alocados da

empresa, as fontes externas de recursos e financiamento são decisivas para tornar

viáveis os projetos de inovação.

Alocação de Recursos

RecursosAlocados •Seleção de Projetos

•Criação de Equipes

- Gerência, Comercial

•Fontes de financiamento externas

Alocação de Recursos

RecursosAlocados •Seleção de Projetos

•Criação de Equipes

- Gerência, Comercial

•Fontes de financiamento externas

FIGURA 34 - ALOCAÇÃO DE RECURSOS – PRINCIPAIS PONTOS OBSERVADOS FONTE: Autor.

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123

d) Acompanhamento dos projetos de inovação

Nesta etapa é feito o controle dos principais projetos em realização alinhados

aos resultados obtidos e esperados para os negócios.

A estruturação da gestão de projetos é fundamental para o desenvolvimento

dos mesmos. No entanto, para o efetivo acompanhamento da inovação (Figura 35), é

necessário não apenas medir os esforços de inovação, mas também o impacto obtido

no negócio.

Para melhorar este acompanhamento, é importante que as equipes de gestão

de projetos das áreas sejam apoiadas através do compartilhamento das experiências

bem sucedidas e se sistematize a medição dos resultados e impacto no negócio.

Acompanhamento dos Projetos

Resultados dos Projetos

•Gestão de Projetos•Análise de Valor

- Áreas Técnicas

•Compartilha-mento de

experiências e processos

Acompanhamento dos Projetos

Resultados dos Projetos

•Gestão de Projetos•Análise de Valor

- Áreas Técnicas

•Compartilha-mento de

experiências e processos

FIGURA 35 - ACOMPANHAMENTO DOS PROJETOS DE INOVAÇÃO – PRINCIPAIS PONTOS OBSERVADOS

FONTE: Autor.

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124

e) Disseminação e aprendizagem

Os responsáveis pela Gestão de Tecnologia na empresa têm papel crucial para

o apoio na realização das várias etapas e na sincronização entre elas. Para

necessidades menos rotineiras nas necessidades das áreas, um apoio corporativo

pode ser sistematizado e aplicado em momentos específicos do processo. No estudo

de caso, preferiu-se que as ferramentas apresentadas na Figura 36, que são pouco

usadas formal ou informalmente pelas áreas, fossem assim sistematizadas pela

estrutura corporativa de Gestão de Tecnologia.

•Networking•Gestão de interface com fontes

locais de tecnologia •Auditoria tecnológica

•Prospeção Tecnológica•Avaliação de Tecnológica

•Roadmaps

- Gestão de TecnologiaDisseminação e Aprendizagem

FIGURA 36 - DISSEMINAÇÃO E APRENDIZAGEM – PRINCIPAIS PONTOS OBSERVADOS

FONTE: Autor.

Estas ferramentas podem ser usadas pelos responsáveis pela Gestão de

Tecnologia para fornecer as informações necessárias para as várias atividades no

processo de inovação.

A integração entre as etapas precisa ser fomentada através das pessoas

responsáveis pela Gestão de Tecnologia internamente à área (GNT).

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125

Na Figura 37 está apresentado, de maneira integrada, o Modelo de Gestão

Estratégica de Tecnologia e Inovação contendo: as etapas, principais saídas e

entradas identificadas, responsáveis, informações necessárias para as diferentes

etapas e o alinhamento da estratégia aos projetos com as ferramentas de gestão de

tecnologia apresentadas neste capítulo.

Alocação de Recursos

RecursosAlocados •Seleção de Projetos

•Criação de Equipes

- Gerência, Comercial

•Fontes de financiamento externas

•Networking•Gestão de interface com fontes

locais de tecnologia •Auditoria tecnológica

•Prospeção Tecnológica•Avaliação de Tecnológica

•Roadmaps

- Gestão de TecnologiaDisseminação e Aprendizagem

Levantamento de Oportunidades Projetos deInovação

•Análise de Mercado•Criatividade

•Análise do Ciclo de Vida

-Gerência, PLM, Marketing e Vendas

•Oportunidades tecnológicas•Competências das demais áreas•Parcerias possíveisAcompanhamento

dos Projetos

Resultados dos Projetos

•Gestão de Projetos•Análise de Valor

- Áreas Técnicas

•Compartilha-mento de

experiências e processos

Plano Estratégico

Tecnologia no Estratégico

•Negociação internacional•Competências essenciais

- Alta Direção

•Tendências Tecnológicas

•Políticas industrial e

de C&T

Alocação de Recursos

RecursosAlocados •Seleção de Projetos

•Criação de Equipes

- Gerência, Comercial

•Fontes de financiamento externas

Alocação de Recursos

RecursosAlocados •Seleção de Projetos

•Criação de Equipes

- Gerência, Comercial

•Fontes de financiamento externas

•Networking•Gestão de interface com fontes

locais de tecnologia •Auditoria tecnológica

•Prospeção Tecnológica•Avaliação de Tecnológica

•Roadmaps

- Gestão de TecnologiaDisseminação e Aprendizagem

Levantamento de Oportunidades Projetos deInovação

•Análise de Mercado•Criatividade

•Análise do Ciclo de Vida

-Gerência, PLM, Marketing e Vendas

•Oportunidades tecnológicas•Competências das demais áreas•Parcerias possíveis

Levantamento de Oportunidades Projetos deInovação

•Análise de Mercado•Criatividade

•Análise do Ciclo de Vida

-Gerência, PLM, Marketing e Vendas

•Oportunidades tecnológicas•Competências das demais áreas•Parcerias possíveisAcompanhamento

dos Projetos

Resultados dos Projetos

•Gestão de Projetos•Análise de Valor

- Áreas Técnicas

•Compartilha-mento de

experiências e processos

Acompanhamento dos Projetos

Resultados dos Projetos

•Gestão de Projetos•Análise de Valor

- Áreas Técnicas

•Compartilha-mento de

experiências e processos

Plano Estratégico

Tecnologia no Estratégico

•Negociação internacional•Competências essenciais

- Alta Direção

•Tendências Tecnológicas

•Políticas industrial e

de C&T

Legenda

Resultado das etapas

Ferramentas de Gestão de Tecnologia

Etapa

- Responsáveis Informações necessárias

Portfólio de Gestão de Tecnologia e Inovação

Resultado das etapas

Ferramentas de Gestão de Tecnologia

Etapa

- Responsáveis Informações necessárias

Portfólio de Gestão de Tecnologia e Inovação

FIGURA 37 - MODELO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA A FILIAL DE MULTINACIONAL

FONTE: Autor.

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126

7.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O detalhamento do modelo genérico na aplicação específica na filial de

empresa multinacional de base tecnológica possibilita explicitar os resultados

esperados e obtidos através dos esforços de inovação, interligando as atividades e

níveis hierárquicos focando na competitividade do negócio.

A estruturação e desenvolvimento da capacidade de inovar na filial permite:

• = Melhorar os vários processos da empresa relacionados à inovação, através

da inserção de ferramentas adequadas.

• = Melhorar a interação entre os vários processos, acompanhar os projetos de

inovação e do impacto destes no negócio.

• = Apoiar os projetos com as fontes de tecnologia orientadas para a criação e

desenvolvimento de competências essenciais na organização.

O modelo de gestão estratégica de tecnologia e inovação permite, a partir de

uma visão compartilhada, evoluir gradualmente o processo das áreas, orientado para

um objetivo comum de competitividade.

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127

8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este capítulo apresenta as conclusões do estudo realizado, observando como

os resultados obtidos e a proposta do modelo atendem ao objetivo do presente

trabalho e à questão de pesquisa. Este capítulo também levanta algumas

considerações sobre a implantação do modelo, sugere desdobramentos futuros e

apresenta algumas considerações finais a respeito do estudo realizado.

8.1 QUANTO AOS OBJETIVOS E QUESTÕES DE PESQUISA

Buscando garantir a coerência do estudo realizado, estão apresentados, a

seguir, os objetivos específicos propostos e os pontos desenvolvidos para atender aos

objetivos específicos do estudo.

1. Levantar os possíveis benefícios das ferramentas e técnicas para organização do

processo de gestão de tecnologia e inovação. Para atender este objetivo, na seção

6.5, foi realizado o cruzamento entre as propostas de melhoria e as ferramentas

que podem atender estas demandas.

2. Classificar as diferentes decisões estratégicas referentes à tecnologia em uma filial

de empresa multinacional. Foi proposto o Portfólio de Gestão Estratégica de

projetos de inovação adaptado à filial, apresentado na seção 7.1.

3. Caracterizar o processo e a relação entre planejamento estratégico e projetos de

inovação. Foram caracterizadas três áreas que possuem mecanismos distintos

para relacionar o mercado e a inovação, conforme apresentado na seção 7.2

4. Elaborar um modelo para sistematização do processo de gestão estratégica de

tecnologia e inovação. Compondo os resultados obtidos nos objetivos específicos

anteriores dentro do modelo teórico genérico, estabeleceu-se o modelo específico

para as filiais, proposto na seção 7.3.

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128

Alcançados os objetivos específicos, cumpriu-se o objetivo do estudo de propor

um modelo de gestão estratégica de tecnologia e inovação para filial de empresa

multinacional diversificada de base tecnológica, alinhando os projetos de inovação da

empresa e o planejamento de longo prazo.

O modelo proposto para a filial estudada atende, portanto, a questão de

pesquisa na medida em que melhora a compreensão de como as filiais de empresas

multinacionais de base tecnológica podem estruturar e desenvolver a capacidade de

participar ativamente nos processos de inovação da organização mundial.

8.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO MODELO NA

EMPRESA ESTUDADA

A adequação do modelo aos processos existentes nas áreas deve ser

observada de maneira cuidadosa sob o ponto de vista de gestão de mudanças.

Sistematizar metodologias corporativas e inseri-las obrigatoriamente nas áreas,

possivelmente colocará em risco o sucesso da implementação, visto a provável

resistência organizacional e complexidade de um processo completo.

Portanto, para estabelecer o processo na empresa é necessária a participação

nas iniciativas de padronização e sistemas existentes nas diferentes áreas, tais como

Ciclo de Vida de Produto, Balanced Scored Card - BSC, Business Planning Simulation

– BPS, Gestão de Projetos, adequando primeiramente as interfaces destes e

assegurando que os projetos de inovação possam ser mensurados de forma

padronizada, assim como seu impacto no negócio.

Uma capacitação sobre as etapas do modelo e sobre as ferramentas é

fundamental para desenvolver uma visão compartilhada entre os consultores e

responsáveis das áreas sobre a organização geral do processo de gestão de

tecnologia da empresa.

A inserção de novas ferramentas de gestão de tecnologia em cada área surge

das necessidades e da receptividade encontrada em cada ambiente, devendo-se

utilizar ao máximo dos processos pré-existentes. Caso as sistemáticas formais e

informais existentes não atendam aos benefícios esperados, sistemas e processos

novos ou complementares podem ser desenvolvidos.

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129

Baseado no Quadro 14 e Quadro 15, as ferramentas podem ser priorizadas

pelo Comitê de Gestão de Tecnologia e projetos de sistematização de ferramentas

podem ser propostos.

Foco especial precisa ser dado à identificação de oportunidades de negócio,

visto que as necessidades das ferramentas nas áreas surgem apenas a partir da visão

clara de retorno para a sua sistematização, o que geralmente ocorre apenas no

momento em que efetivamente exista um número adequado de projetos.

Neste momento de inserção da nova ferramenta, portanto, além da divulgação e

conscientização, uma consultoria corporativa para realizar de maneira conjunta

algumas atividades de gestão de tecnologia até sua incorporação pela unidade pode

ser de grande valor na garantia de consistência com o processo de outras áreas. Da

mesma maneira, apoio corporativo pode ajudar diretamente os projetos das áreas,

utilizando-se das sistemáticas de criação de equipes (seção 2.4, p.18), avaliação de

tecnologia (seção 3.2.2, p. 41) e roadmaps (seção 3.2.1, p. 38).

Ao mesmo tempo em que o processo é construído, é indispensável organizar e

disseminar as ferramentas desenvolvidas entre os responsáveis a fim de estabelecer

um compartilhamento do conhecimento, de boas práticas e casos de sucesso.

Para isso, pode-se utilizar o conjunto de ferramentas corporativas

desenvolvidas na empresa, tais como:

• = Sharenet, para definição de grupos de discussão em temas de interesse no

processo, como Política de C&T&I, Roadmaps de produto, fontes de

financiamento para a inovação, entre outros.

• = Athena (ferramenta de mapeamento de competência) – para identificar

parceiros internos para desenvolvimento dos projetos

• = Plataforma Lattes para identificar parceiros externos.

• = Ferramentas de e-learning (Sophia) para sistematizar e compartilhar as

ferramentas de gestão de tecnologia formalizada em algumas áreas.

• = Publicação periódica de resultados obtidos nos negócios para divulgar os

casos de sucesso, diminuindo as resistências organizacionais na

organização como parte fundamental para o sucesso da sinergia entre as

áreas.

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130

Estas ferramentas corporativas, integrantes da realidade Siemens Ltda, podem

contribuir para a consolidação do modelo proposto, na medida que o

compartilhamento de informação necessária ocorra para todas as etapas do processo

de inovação.

8.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A partir do estudo realizado, alguns desdobramentos podem ser sugeridos:

a) Aprofundar o estudo sobre o relacionamento com a organização mundial para

realizar os investimentos e desenvolver a capacitação local, bem como, expandir o

modelo para gerenciar uma visão de várias filiais a partir da matriz.

b) Estudar a organização do sistema local para absorver tecnologia junto às

empresas multinacionais de forma a garantir relativa independência e sua

sobrevivência frente à mobilidade da empresa âncora.

c) Aprofundar a análise das ferramentas de gestão de tecnologia, buscando

sistematizar e mensurar os resultados possíveis de serem obtidos a partir da

aplicação destas.

d) Propor um catálogo de ferramentas de gestão de tecnologia adaptado às

necessidades das empresas brasileiras, verificando estratégias para sua

disseminação.

e) Incorporar no modelo a estruturação de um sistema de inteligência competitiva

tecnológica que possa fornecer as informações necessárias à gestão de tecnologia

na filial.

f) Aprofundar os estudos de indicadores adaptados para filiais de empresas

multinacionais que verifiquem o impacto no negócio das atividades de inovação.

8.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A respeito da contribuição do estudo realizado para a sociedade, observa-se

que, embora os resultados obtidos não possam ser estendidos para outras empresas

similares, a revisão da literatura e os procedimentos metodológicos são úteis e válidos

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131

na estruturação da gestão estratégica de tecnologia e inovação em outras filiais de

empresas multinacionais diversificadas.

Face aos novos desafios de integração com os grandes blocos econômicos do

hemisfério norte (ALCA e União Européia), a presença das filiais das multinacionais

tendem a ter um papel cada vez maior na economia brasileira.

Portanto, a disseminação da gestão de tecnologia e inovação nas filiais de

empresas multinacionais é muito relevante para uma ação mais ativa da sociedade de

C&T&I brasileira em fazer com que estas empresas fomentem novas linhas de

desenvolvimento tecnológico e econômico locais para as próximas décadas.

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132

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ANEXO 1 – QUESTÕES ORIENTADORAS

GNT___

-Confidencialidade -Respostas tratadas serão diposnibilizadas para os GNT´s

Perfil Função: formação Tempo de casa: Experiência em: P&D/Gestão de P&D:

a) Internacionalização das atividades de P&D

1. Existe uma tendência de aumento na internalização em nível mundial das atividades de P&D da Siemens Alemanha na sua área de atuação? • = Mundial • = América Latina • = Brasil

2. Quais são os fatores que mais influenciam a realização destas atividades de P&D no Brasil? • = Econômicos (Preço de materia-prima, custo de transporte, balança

comercial). • = Políticos (Incentivos, legislação que limitam o mercado, regulação e normas)

e/ou • = Tecnológicas (Aproveitamento de competências locais

internas,Aproveitamento de competências disponíveis no mercado,Necessidades diferenciadas dos clientes locais, apoio à fabricação)

3. Como ocorre a negociação para realizar as medidas previstas no planejamento estratégico de Tecnologia?

b) Competências essenciais

4. Quais são as competências tecnológicas que garantem a vantagem competitiva dos seus produtos?

5. Seria possível agrupar os seus negócios planejados segundo as competências essenciais? Algum exemplo?

c) Aquisição de Tecnologia

6. Qual a ordem de importância destas medidas tecnológicas para os negócios planejados?

7. Existe a necessidade de apoio e de quem?

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Importância Nec. de Apoio

De quem?

P&D&E em parceria com Siemens AG P&D&E com Universidades/Institutos de Pesquisa

Associação com outras empresas Compra de Tecnologia (Licença) Aquisição de empresa Formação ou contratação de RH Serviços Tecnológicos Sub-contratação ou terceirização

d) Contexto organizacional para a inovação

8. O que a empresa precisa fornecer aos negócios planejados para que sejam executados no prazo e no orçamento? • = Clareza das metas do planejamento • = autonomia para a ação • = informação externa • = interação com o mercado • = Complementariedade de competências • = Capacitação

e) Scan

9. Quais as principais fontes (setores) geradoras de propostas de negócios a serem planejados?

10. Como foi a contribuição/participação dos diferentes setores na elaboração do Techplan? • = Marketing • = Engenharia • = P&D • = Fábrica • = Logística • = Gerencia geral • = Vendas

11. Quais técnicas e procedimentos foram usados para levantar possíveis

negócios?

f) Focalização

12. Como foi realizada a priorização dos negócios selecionados? Formal ou Informal?

13. Quais critérios financeiros foram utilizados? E os não-financeiros?

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14. Na sua opinião, qual o grau de relevância dos critérios abaixo para a priorização de projetos?

Critério Ordem de

Importância EBIT Valor Presente líquido (NPV)* Probabilidade de sucesso técnico Probabilidade de sucesso comercial Participação no mercado Ajuste às competências essenciais Grau de comprometimento interno Tamanho do mercado Rentabilidade do mercado Nível de Competição *o valor presente do fluxo de caixa líquido futuro de investimentos.

15. Gostaria de sugerir mais algum critério?

g) Recursos 16. Existe uma divisão entre os recursos para as atividades operacionais e os

projetos de inovação? 17. Existem negócios que são desenvolvidos através de mais de um projeto? 18. Os negócios planejados geram projetos para serem controlados? Quantos? 19. Como foi realizada a alocação e distribuição dos recursos entre os negócios? 20. Como é realizado o acompanhamento dos projetos?

• = Deficiências • = Sugestão de novas formas de acompanhamento

h) Implementação 21. Na sua opinião, qual a importância e a necessidade para que se sistematize o

ciclo de vida de produto? 22. Quais das seguintes ferramentas de Gestão de Tecnologia são utilizadas na

sua área e quais precisam ser sistematizadas corporativamente? TM Tool Possui?

Não/informal/formal Considera necessário que se sistematize corporativamente?

Análise de Mercado Análise de Patentes Análise de Valor Auditoria Tecnológica Gestão de Projetos Avaliação de Tecnologia Benchmarking

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TM Tool Possui? Não/informal/formal

Considera necessário que se sistematize corporativamente?

Criação de Equipes Criatividade Gestão de Interface Gestão de Mudanças Gestão de Portfólio Melhoramento Contínuo Networking Inteligência Tecnológica Gestão de Prop. Intelectual Prospecção Tecnológica Seleção de Projetos

23. Quais ferramentas de Gestão de Tecnologia estariam mais adequadas para atender as necessidades de cada negócio?

i) Aprendizagem 24. Quais as estratégias que poderiam ser utilizadas para acelerar o processo de

aprendizagem dos participantes dos negócios? • = Sistematização dos casos • = Sistematização das ferramentas • = Comunidades de prática • = Participação de especialistas • = Outros