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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC
SUELEN MONICK DOS SANTOS
LEVANTAMENTO DE PARASITOS GASTRINTESTINAIS EM CÃES NA CIDADE DE JOINVILLE-SC
Curitiba/PR 2013
SUELEN MONICK DOS SANTOS
LEVANTAMENTO DE PARASITOS GASTRINTESTINAIS EM CÃES NA CIDADE DE JOINVILLE-SC
Monografia apresentada como requisito para conclusão
do Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica e
Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro
Universitário CESMAC, sob a orientação da Prof.a M.
Sc. Valéria Natascha Teixeira.
Curitiba/PR 2013
INTRODUÇÃO
Animais de companhia, particularmente cães, têm um importante papel na sociedade em
todo o mundo. Eles são em alguns casos companheiros importantes em muitas residências,
contribuindo ao desenvolvimento físico, social e emocional de crianças e o bem-estar de seus
donos, em especial idosos (CAMPOS FILHO et al., 2008).
O papel do cão como um hospedeiro definitivo de várias parasitoses com potencial
zoonótico tem sido largamente estudado e reconhecido como um importante problema de saúde
pública. A crescente aquisição de cães como animais de companhia tem aumentado o número de
pessoas expostas ao risco de contrair infecções por parasitos zoonóticos. A população infantil
corresponde ao grupo mais exposto devido ao hábito de brincar em contato com o solo e aos
distúrbios de perversão do apetite como a geofagia. Por outro lado, o crescimento urbano, com o
estabelecimento de novas comunidades e conjuntos habitacionais, leva tanto ao aumento da
população de cães de estimação como de cães errantes (CAPUANO; ROCHA, 2006).
Dentre os parasitos observados em cães, destacam-se, os dos gêneros Toxocara,
Ancylostoma, Trichuris e Giardia, que são responsáveis por algumas zoonoses, como a larva
migrans visceral, larva migrans cutânea em humanos, e giardíase em humanos e animais
(CAMPOS FILHO et al., 2008).
Esses patógenos podem causar gastroenterites, problemas respiratórios, perda de peso,
retardo no desenvolvimento, podendo levar cães e gatos à morte, além de acometer o homem.
Essas zoonoses parasitárias, apesar de não serem causa frequente de óbitos em humanos, causam
alergias, diarreias, anemias, despesas com diagnóstico, tratamento e perdas econômicas, como a
redução da produtividade dos animais. Considerando a importância da infecção por helmintos em
cães, tanto no aspecto da clínica veterinária como da saúde pública, estudos de prevalência são
necessários para se estabelecer medidas de controle e profilaxia (VASCONCELLOS et al., 2006).
Em frente ao risco potencial de transmissão de zoonoses causadas por helmintos
gastrintestinais é necessário de buscar informações a este respeito, objetivando as formas de
prevenção e diminuição do risco de infecção para o homem e os próprios animais.
1. OBJETIVOS
1.1. Objetivo geral
Pesquisar a prevalência de parasitos intestinais em cães localizados no centro de bem-
estar animal, na cidade de Joinville, SC.
1.2. Objetivos específicos
- Confirmar a presença de formas parasitárias através de exames coproparasitológicos;
- Identificar possíveis parasitos causadores de zoonoses no Centro de Bem-Estar Animal na
Cidade de Joinville-SC;
- Relacionar as formas de prevenção com os achados parasitológicos neste estudo.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Atualmente os animais de companhia ocupam uma parte significativamente crescente na
vida das pessoas, por um lado porque existem cada vez mais animais de companhia, por outro
lado porque existe uma maior proximidade entre o dono e o seu animal de estimação. Neste
contexto, torna-se prioritário ter animais de companhia saudáveis, particularmente no que diz
respeito à presença de parasitos. Após décadas de investigação e de tratamento curativo e
preventivo da infecção por helmintos, parece ainda existir um aumento marcado da sua
incidência (VILLENEUVE, 2009).
A questão sanitária assume caráter preponderante diante da constatação científica de que
o convívio de pessoas com animais de estimação resulta em benefícios significativos de ordem
psicológica e fisiológica, como, por exemplo, redução da pressão sanguínea e dos fatores de risco
associados à doença cardiovascular, com menor periodicidade de visitas ao médico (OLIVEIRA
et al., 2009).
Do ponto de vista epidemiológico, os cães errantes têm um papel importante na
contaminação do meio ambiente, pois o fato de não receberem tratamento antiparasitário, aliado à
facilidade com que circulam por várias áreas públicas, favorece a disseminação de
enteroparasitos (CAPUANO; ROCHA, 2006).
Há maior sensibilidade de animais menores de um ano de idade do que adultos, sugerindo
o desenvolvimento de certo grau de resistência com o aumento da idade. Os animais de rua ou
aqueles densamente abrigados (canis e lojas) estão mais expostos, devido ao maior contato com
água, alimentos e fezes de animais ou de pessoas contaminadas (MUNDIM et al., 2003).
Existem as condições epidemiológicas necessárias para a existência de doenças
parasitárias transmitidas pelos cães, tais como condições climáticas favoráveis para a fase de vida
livre dos parasitos e um grande número destes animais, com livre trânsito em áreas de recreação
infantil, nas vias de passeio para pedestres e na areia da praia. Dentre as espécies de helmintos
com potencial zoonótico, encontram-se os agentes etiológicos da larva migrans visceral (LMV),
larva migrans cutânea (LMC), enterite eosinofílica, tricurose e hidatidose (SCAINI et al., 2003).
2.1. Parasitoses caninas
Toxocara é um nematódeo da família Ascaridae, que parasita geralmente cães e gatos,
mas em humanos pode causar a Larva Migrans Visceral (LMV), síndrome clínica observada em
crianças que apresentam hepatomegalia, manifestações pulmonares, intensa eosinofilia. O
homem adquire a LMV ingerindo ovos larvados encontrados em alimentos, água, areia ou solo.
Denomina-se Larva Migrans Cutânea (LMC) ou dermatite serpiginosa (bicho geográfico) ao
quadro resultante de migração prolongada de larvas de nematódeos do gênero Ancylostoma
através da pele de hospedeiros não-habituais, nos quais o helminto, após penetração não consegue
completar seu ciclo evolutivo, migrando através da pele de humanos e produzindo túneis entre a
epiderme e a derme (PASQUALI et al., 2008). Parasitos gastrintestinais grandes como os
ascarídeos podem causar alguns transtornos digestivos e de desenvolvimento nos hospedeiros
pela má absorção dos nutrientes. Toxocara canis pode ainda causar obstrução intestinal em casos
graves (BOWMANN, 2006). Parasitos hematófagos como Ancylostoma sp. podem além de
causar desconforto abdominal, hematoquesia e anemia (TAYLOR; COOP, 2010).
No Brasil, trabalhos realizados com necropsias ou com exame de material fecal de cães
evidenciam a prevalência dos diferentes agentes. O Trichuris vulpis é um parasito que vive no
intestino de cães, principalmente, no ceco, porém, sem potencial zoonótico. Esses parasitos
produzem ovos que se alojam nas fezes de animais infectados, e esses ovos possuem a
capacidade de viver no solo por muitos anos. Os cães com essa infecção podem apresentar dor e
distensão abdominal e também diarreia, que às vezes pode ser sanguinolenta (ACHA; SZYFRES,
2003), causar inflamação diftérica do ceco e levar a prolapso retal (LONGO et al., 2008). As
fontes de infecção são o solo e os cursos de águas contaminados com os ovos do parasito. O
modo de transmissão se dá através da ingestão de ovos e água. Com temperaturas constantes de
22ºC, dentro do ovo, a larva infectante se forma em 54 dias, com temperaturas flutuantes entre 6
e 24ºC, o processo demora 210 dias. Um aspecto relevante a ser considerado é a longevidade dos
ovos, que depois de três ou quatro anos ainda podem sobreviver como reservatório de infecção
em canis (LONGO et al., 2008).
Os tricurideos possuem distribuição mundial que, em geral, corresponde a dos ascarídeos
transmitidos pelo solo. Isto ocorre porque os tricurideos, bem como os ascarídeos necessitam de
condições ambientais muito semelhantes para que ocorra o desenvolvimento de suas larvas
infectantes e os mecanismos de transmissão. Ambos são altamente prevalentes em ambientes
quentes e úmidos, e menos prevalentes em climas de temperatura e umidade intermediárias e
escassos ou ausentes em climas áridos ou muito frios (ACHA; SZYFRES, 2003).
A giardíase é considerada uma zoonose, sendo a infecção condicionada pela ingestão de
cistos. Os parasitas pertencentes ao gênero Giardia são protozoários flagelados que habitam o
trato intestinal de várias espécies de vertebrados. Dentre as espécies de Giardia reconhecidas
merece destaque a Giardia duodenalis (sinônimo de G. intestinalis ou G. lamblia), pois é a única
encontrada em seres humanos e na maioria dos mamíferos domésticos e silvestres
(KATAGIRI; OLIVEIRA–SEQUEIRA, 2007).
As espécies de Giardia podem permanecer viáveis em ambientes úmidos, por um período
de três meses, e resistem à cloração habitual da água. A transmissão ocorre através da água, do
consumo de vegetais, legumes e frutas contaminadas pelos cistos, de manipuladores de alimentos,
do contato direto inter-humano (fecal-oral), principalmente em asilos, creches e clínicas
psiquiátricas. Considera-se, ainda, a transmissão por meio de artrópodes, como as moscas e
baratas, através de seus dejetos ou regurgitação. O espectro da giardíase é extenso, desde
infecções assintomáticas até infecções com diarreia crônica acompanhada de esteatorreia, perda
de peso e má absorção intestinal, que podem ocorrer em 30 a 50% dos pacientes infectados. A
forma aguda se caracteriza por diarreia do tipo aquosa, explosiva, acompanhada de distensão e
dor abdominal. A giardíase pode levar à má absorção de açúcares, gorduras e vitaminas A, D, E,
K, B12, ácido fólico, ferro, zinco. Pode surgir, principalmente em crianças, intolerância à lactose
devido à perda da atividade enzimática na mucosa do intestino delgado. Os sinais clínicos podem
ser autolimitantes em alguns pacientes e a doença grave ocorre em filhotes e em animais com
doenças concomitantes ou debilitados, sendo a diarreia o sintoma mais comum (MUNDIM et al.,
2003).
As coccidioses são comuns em pequenos animais, porém em caninos o diagnóstico e
importância destas parasitoses são pouco conhecidos, bem como a prevalência em populações
caninas. Existem diversos gêneros que afetam os cães e Isospora spp. é o coccídeo mais
frequentemente relatado (FOREYT, 2005).
A isosporose é uma enfermidade parasitária provocada por um protozoário do gênero
Isospora e pode acometer cães, gatos, bovinos e suínos. O Isospora parasita as células epiteliais
do intestino, levando à quadros de diarréias, principalmente em filhotes, podendo ocasionar até a
morte dos mesmos. Em geral, a isosporose aparece mais comumente em filhotes. Estes adquirem
a infecção através do contato com as fezes da mãe ou de outros animais parasitados. Como os
filhotes ainda não têm suas defesas naturais, desenvolvem a infecção rapidamente, muitas vezes
com sinais graves. Os animais adultos, normalmente, não apresentam sintomatologia de
isosporose, a menos que apresentem a doença após estresse ou concomitante a alguma doença
imunossupressora (VASCONCELOS et al., 2008).
2.2. Diagnóstico das parasitoses
O diagnóstico das parasitoses pode ser estabelecido mediante a comprovação da presença
de ovos típicos, cistos ou oocistos nas fezes (ACHA; SZYFRES, 2003).
O exame microscópico de fezes ainda é a base do diagnóstico de grande número de
enfermidades parasitárias, pois possibilita a detecção das formas evolutivas de helmintos e
protozoários com 100% de especificidade. Como existem diferentes métodos para o
processamento de amostras fecais para o exame microscópico, é necessário observar algumas
características tais como sensibilidade, facilidade de execução e custo (FOREYT, 2005).
Além da sensibilidade intrínseca do método, é necessário considerar os fatores extrínsecos
que podem influenciar na eficiência de um determinado método diagnóstico. O volume da
amostra examinada, o tempo de coleta, o uso de líquidos conservantes e as condições de envio ao
laboratório também podem influenciar os resultados dos exames; amostras velhas ou
precariamente preservadas são causas comuns de erros diagnósticos (ASH; ORIHEL, 1987).
As características físicas das fezes são o primeiro aspecto a ser observado, pois podem
sugerir a presença de organismos patogênicos. No que diz respeito aos parasitos, pode-se dizer,
de modo geral, que em fezes diarréicas encontram-se predominantemente trofozoítos de
protozoários, enquanto que em fezes formadas, predominam cistos; ovos e larvas de helmintos
podem ser encontrados em fezes de qualquer consistência (ASH; ORIHEL, 1987).
O exame direto de fezes a fresco é realizado primariamente para detectar formas móveis
de parasitas, tais como os trofozoítas de protozoários e larvas de helmintos. Trata-se de um
método simples e rápido, cujos resultados positivos são tão válidos quanto os obtidos com
métodos de concentração. O exame direto tem como principais limitações o fato de avaliar uma
quantidade muito pequena de fezes e a dificuldade de se examinar amostras acondicionadas com
conservantes, pois os parasitas morrem e com isso perdem a motilidade. Embora possibilite a
detecção de ovos e/ou larvas de helmintos, cistos ou oocistos de protozoários, estes são mais
comumente encontrados quando se utilizam técnicas de concentração. Por tudo isso, as técnicas
coproparasitológicas que empregam procedimentos de concentração acabaram substituindo o
exame direto de fezes a fresco na rotina diagnóstica (KATAGIRI; OLIVEIRA–SEQUEIRA,
2007).
Dentre processos de uso freqüente em laboratórios de parasitologia clínica, encontra-se o
método Faust, destinado à pesquisa de cistos de protozoários e ovos pouco densos e larvas de
helmintos. A designação método Faust tem sido aplicada a uma série de diferentes processos
descritos pelos autores da publicação original e por outros que nela introduziram modificações.
Originalmente, prescreveram em 1938, outros métodos, o de centrifugo-flutuação em sulfato de
zinco, sendo a colheita do material flutuante feita por meio de lamínula superposta à boca do
tubo-de-ensaio contendo suspensão centrifuga (PEREIRA; FERREIRA, 1991).
O método de diagnóstico considerado mais eficaz para a giardíase é a técnica de
centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco a 33% (densidade 1.180). Entretanto, outras
técnicas, como centrífugo-sedimentação com mertiolato-iodo-formaldeído, têm sido utilizadas
com bons resultados (MUNDIM et al., 2003).
2.3.Tratamento das parasitoses
O tratamento das parasitoses intestinais consiste, além do emprego de antiparasitários,
também em medidas de educação preventiva e de saneamento básico. Em vista da dificuldade ou
falta de diagnóstico específico das parasitoses, muitas vezes, são realizados tratamentos
empíricos com mais de uma droga. Existem diversos fármacos para o controle e tratamento das
parasitoses em cães, porém, a maioria das formulações é composta pela associação de
antiparasitários, que são utilizados amplamente na rotina e profilaxia das parasitoses caninas
(ANDRADE et al., 2010).
O tratamento para alguns helmintos é feito com a utilização de febendazol por três dias,
repetindo a cada três semanas por três meses. Este fármaco também é preconizado para o
tratamento da giardíase (FOREYT, 2005).
Quando se estuda as infecções parasitárias zoonóticas, deve-se considerar também o
tratamento dos seres humanos porque existe relação direta na terapia e controle destas nos
animais de estimação. Tem-se observado pouco avanço no desenvolvimento de novos
antiparasitários nos últimos 25 anos. São poucas as drogas para o tratamento concomitante de
helmintoses e protozooses, o que pode ser agravado pelo surgimento de cepas resistentes a
múltiplas drogas. O tratamento das protozooses intestinais (giardíase e amebíase) em seres
humanos tem sido feito com os derivados nitroimidazólicos: metronidazol, tinidazol ou
secnidazol e nitozoxanida. Para o tratamento das helmintoses humanas tem-se preconizado os
derivados benzimidazólicos como febendazol, mebendazol, albendazol que também possuem
ação no tratamento da giardíase, por serem fármacos de maior espectro de ação. Podem
apresentar efeitos colaterais como cefaleia, vertigem, náusea, dor abdominal e gosto metálico
(ANDRADE et al., 2010), no entanto, em animais estes sinais gastrintestinais não são comumente
relatados.
Taxas de resistência clínica em torno de 20% foram relatadas com o uso de metronidazol
no tratamento da giardíase e taxas de recorrência em torno de 90%. Resistência cruzada ao
tinidazol foi demonstrada com cepas de Giardia lamblia resistentes ao metronidazol (ANDRADE
et al., 2010).
2.4. Prevenção das parasitoses
Tendo em vista que muitas parasitoses de pequenos animais podem ser transmitidas ao
homem, a prevenção se torna um aspecto importante na atividade profissional dos médicos
veterinários de animais de companhia.
Os estudos epidemiológicos e o conhecimento de quais espécies de parasitos são comuns
em cada região, ou mesmo, canil ou ambiente são necessários para a definição das medidas de
controle e prevenção das doenças parasitárias nos animais e seres humanos que coabitam estes
locais. As pequenas diferenças nas formas de transmissão, fontes de infecção, grupos de
suscetibilidade, além das características inerentes do sistema imunológico dos indivíduos é
essencial para o delineamento de estratégias para a redução do risco de infecções parasitárias
comuns ao homem e aos animais.
A prevenção consiste em melhorar as condições ambientais mediante a eliminação
adequada dos excrementos para evitar a contaminação do solo (ACHA; SZYFRES, 2003).
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Local
O Centro de Bem –Estar Animal está localizado na cidade de Joinville-SC, latitude 26⁰
18` 05” Sul e na longitude 48⁰ 50` 38” Oeste de Greenwich, na microrregião Nordeste de Santa
Catarina, no bairro Vila Nova, zona oeste e foi inaugurado pela Prefeitura e pela Fundação
Municipal de Meio Ambiente (FUNDEMA) no dia 28 de abril de 2012. O local tem espaço para
tratar e internar até 60 animais domésticos que sofreram maus tratos, servindo também como
espaço de conscientização sobre cuidados com os animais. O atendimento é de segunda-feira à
sexta-feira, das 8:00h às 14:00h, possui dois veterinários para realização dos atendimentos e
cirurgias, e após os animais serem curados, vacinados e castrados seguem para adoção.
3.2. Animais
Participaram da pesquisa 72 cães, sendo a maioria sem raça definida, que vivem ou têm
acesso à rua e que foram resgatados.
3.3. Coleta das amostras
No período compreendido entre julho a outubro de 2012, foram coletadas e analisadas 72
amostras de fezes de cães de diferentes idades, raças e sexos, do Centro de Bem Estar Animal em
Joinville, Santa Catarina.
As amostras foram coletadas logo após a defecação dos animais, acondicionadas em
recipientes individuais devidamente identificados, mantidas sob refrigeração em isopor com gelo
reciclável e encaminhadas ao laboratório de Parasitologia da PUC, localizado na cidade de São
José dos Pinhais, Paraná, onde foram realizados os exames coproparasitológicos.
3.4 Exames Laboratoriais
A primeira técnica foi realizada com o método de Faust, que consiste na centrífugo-
flutuação em sulfato de zinco. As fezes foram homogeneizadas em água filtrada, e centrifugadas
até a solução tornar-se clara. Após isto, foram ressuspendidas com solução com sulfato de zinco a
33% e centrifugadas novamente. Neste exame, os ovos e cistos leves estarão presentes na película
superficial, que é colhida com alça de platina para confecção da lâmina com lugol, para
observação ao microscópio.
Outro método foi o de Hoffmann, chamado também de sedimentação espontânea, que
consiste basicamente na mistura das fezes com água, seguida da filtração em gaze cirúrgica. O
conteúdo é deixado em repouso, formando uma consistente sedimentação dos restos fecais ao
fundo do cálice. Esta sedimentação é inserida em lâmina, feito um esfregaço e observado em
microscópio. Este método detecta a presença de formas parasitárias nas fezes, e após coloração
com lugol é possível verificar a presença de cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 72 amostras analisadas, foram encontrados 60 resultados positivos (83,33%), sendo
encontrados ovos de Ancylostoma sp. (33/72), ovos de Toxocara sp. (13/72), ovos de Trichuris
vulpis (6/72), cistos de Giardia sp. (4/72), oocistos de Isospora sp. (1/72), oocistos de coccídeos
(1/72), e adultos de Demodex canis (2/72) (Tabela 03). Foram encontradas 12 amostras negativas
(16,66%). Destes 72 animais, 38 eram machos adultos (52,78%), 13 machos filhotes (18,05%),
19 fêmeas adultas (26,38%) e duas fêmeas filhotes (2,78%) (Tabela 01). Este resultado pode ser
justificado pelo fato que eram animais resgatados das ruas sem nenhum tratamento ou medida de
prevenção para parasitoses.
Tabela 01: Número e porcentagem de cães diagnosticados com infecção por parasitos intestinais, segundo sexo e
faixa etária, no Centro de Bem Estar Animal, Joinville, SC. Curitiba, 2013.
Macho
adulto
% Macho
filhote
% Fêmea
adulta
% Fêmea
filhote
%
Positivos 28 73,68 12 92,30 18 94,73 02 100,00
Negativos 10 26,32 01 7,69 01 5,27 00 0,00
TOTAL 38 100,00 13 100,00 19 100,00 02 100,00
Participaram do estudo cães de sete raças definidas, sendo a raça basset a mais
representativa com cinco (6,94%), mas os sem raça definida (SRD) foram em maior número, com
53 animais (73,61%) (Tabela 02).
Tabela 02: Número e porcentagem de cães, por sexo e idade, do Centro de Bem Estar Animal, Joinville, SC,
avaliados no levantamento de infecções parasitárias através de exames coproparasitológicos. Curitiba, 2013.
Machos
adultos
% Machos
filhotes
% Fêmeas
adultas
% Fêmeas
filhotes
%
Akita 01 2,63 - - - - - -
Basset 02 5,26 - - 03 15,78 - -
Boxer 02 5,26 - - - - - -
Fila - - - - 02 10,52 - -
Pit Bull 04 10,52 - - - - - -
Poodle 01 2,63 02 15,39 - - - -
Rottweiler 02 5,26 - - - - - -
SRD 26 68,42 11 84,61 14 73,68 02 100,00
TOTAL 38 100,00 13 100,00 19 100,00 02 100,00
Tabela 03: Número e porcentagem de formas parasitárias encontradas em exames
coproparasitológicos em cães do Centro de Bem Estar Animal, Joinville, SC. Curitiba, 2013.
Gênero de parasito ou
forma parasitária Número %
Ancylostoma 50 55,55
Toxocara 21 23,33
Trichuris 11 12,22
Giardia 04 4,44
Isospora 01 1,11
Coccídeos 01 1,11
Demodex 02 2,22
TOTAL 90 100,00
Dentre os exames positivos, 28 animais (46,66%) apresentaram infecções mistas, sendo
mais frequente a associação de Ancylostoma com Toxocara, visto em 15 animais (25%). Em dois
animais (3,33%) houve a associação de Ancylostoma, Toxocara e Trichuris e em um caso
(1,66%) houve a associação de Ancylostoma, Isospora e outros coccídeos (Figuras 1 e 2).
Figura 1: Formas parasitárias encontradas em exames coproparasitológicos de cães do Centro de Bem Estar Animal,
Joinville, SC. A – ovo de Trichuris vulpis. B- ovos de Ancylostoma sp. C – oocisto de Isospora sp. D – cisto de
Giardia sp. Curitiba, 2013.
A D C B
Figura 2: Formas parasitárias encontradas em exames coproparasitológicos de cães do Centro de Bem Estar Animal,
Joinville, SC. A- ovos de Toxocara canis. B- adulto de Demodex canis. C- infecção mista com ovo de Ancylostoma
sp. e ovo de Trichuris vulpis. D – oocisto de coccídeo não esporulado. Curitiba, 2013.
Chieffi e Müller em 1976 na cidade de Londrina-PR, demonstraram em estudo com 158
cães a infecção por Toxocara canis em 44,30 % deles, predominantemente em animais com até 6
meses de idade. No presente estudo este parasito foi encontrado em 23,33 % das amostras.
Oliveira et al. examinaram amostras fecais de 201 cães de Goiânia-GO no ano de 2007, e
encontraram ovos das seguintes espécies de helmintos: Ancylostoma sp. (45,3%), Toxocara canis
(8%), Trichuris vulpis (1%) e Dipylidium caninum (1%). Achados como este mostram a
diversidade de frequência das parasitoses em animais, condições locais de clima, umidade e
condições intrínsecas como área urbana e rural, nutrição e imunidade são fatores a serem
considerados nos aspectos epidemiológicos das doenças parasitárias. No presente trabalho foram
detectadas porcentagens maiores de ovos de Ancylostoma sp., Toxocara canis e Trichuris vulpis.
Ovos, cápsulas ovígeras ou proglotes de Dipylidium caninum e outros cestódeos não foram
diagnosticados neste trabalho.
Demodex canis é um ácaro de pele e não é um parasito comum de ser encontrados em
exames de fezes, porém pode ser visto em casos de infestação grave e que concorre com prurido,
pois os animais ao se coçarem e morderem a pele podem ingerir os ácaros. Neste trabalho,
adultos de Demodex canis foram encontrados em dois animais (Figura 2B).
As técnicas utilizadas para a realização do exame foram escolhidas tendo em vista as
características das formas parasitárias mais frequentemente encontradas nas fezes dos cães.
Técnicas de flutuação são específicas para formas leves, sendo recomendadas para o diagnóstico
de cistos e oocistos de protozoários e ovos leves de nematódeos. No presente trabalho isto foi
possível observar. A técnica de Faust (centrífugo-flutuação em sulfato de zinco) foi eficiente para
C B A D
a detecção de ovos de Ancylostoma sp. (33/60); ovos de Toxocara canis (13/21), ovos de
Trichuris vulpis (4/9), cistos de Giardia sp. (4/6), oocistos de Isospora sp. (1/1), oocistos de
coccídeos (1/1) e adultos de Demodex canis (2/2) (Tabela 4).
Tabela 4: Formas parastiárias encontradas em exames coproparasitológicos de cães do Centro de Bem Estar Animal,
Joinville, SC, por grupo animal e método de exame. Curitiba, 2013.
Grupo animal Machos
adultos
Machos
filhotes
Fêmeas
adultas
Fêmeas
filhotes
Forma parasitária\ Tipo
de exame H F H F H F H F Total
Ovos de Ancylostoma sp. 18 20 - - 09 11 - 02 60
Ovos de Toxocara canis 03 05 01 03 04 05 - - 21
Ovos de Trichuris vulpis 04 02 - - 01 02 - - 09
Cistos de Giardia sp. - - 02 04 - - - - 06
Oocistos de Isospora sp. - - - 01 - - - - 01
Oocistos de coccídeos - - - 01 - - - - 01
Adultos Demodex canis - 01 - 01 - - - - 02
TOTAL 25 28 03 10 14 18 00 02 97
Legenda: H – exame coproparasitológico de Hoffmann (sedimentação); F – exame coproparasitológico de Faust (centrífugo
flutuação em sulfato de zinco)
O método de Faust permitiu o diagnóstico de formas parasitárias em 58 exames, ou seja
em 96,66 % dos exames positivos. Já o método de Hoffmann permitiu o diagnóstico em 42
exames, ou seja, em 70% dos positivos. No presente trabalho em duas amostras (2,06 %) foi
realizado o diagnóstico apenas pelo método de Hoffmann, porém ao contrário, em 18 exames
(18,55 %), o diagnóstico só foi possível pelo método de Faust.
No entanto, algumas formas são mais fáceis de serem detectadas no método de Hoffmann,
como pode ser visto com ovos de Trichuris vulpis, que apesar de pequenos são também pesados.
Esta técnica de exame coproparasitológico é recomendada para ovos pesados e larvas, embora
também sejam encontradas as outras formas parasitárias. Os oocistos de protozoários e adultos de
Demodex canis foram encontrados apenas nos exames de centrífugo-flutuação.
Estes achados reforçam que é importante direcionar a suspeita clínica para a pesquisa
laboratorial, pois foi possível definir que para diferentes formas parasitárias é necessário escolher
o método de exame mais apropriado.
CONCLUSÃO
No presente trabalho foi possível definir a prevalência das parasitoses gastrintestinais
através de exames coproparasitológicos pelos métodos de Hoffmann e Faust de cães do Centro de
Bem Estar Animal em Joinville, SC. Foi encontrada a prevalência de 83,33 % de exames
positivos para alguma forma parasitária.
Foi detectada a presença de ovos de Ancylostoma sp., Toxocara canis, Trichuris vulpis,
cistos de Giardia sp., oocistos de Isospora sp. e coccídeos não esporulados, além de adultos de
Demodex canis.
Dentre as parasitoses diagnosticadas neste estudo, são potenciais causadores de zoonoses:
Ancylostoma sp. (causador da larva migrans cutânea), Toxocara canis (causador da larva migrans
visceral) e Giardia sp. (causador da giardíase). Estes agentes foram identificados em 57 amostras
(79,16 %). Este resultado mostra a importância de se conhecer o estado sanitário dos animais,
principalmente de populações errantes.
Esta situação deve refletir nas formas de prevenção e controle das parasitoses. As doenças
parasitárias com potencial zoonótico são bem conhecidas e neste estudo ficou evidente o risco
que a população humana tem com o convívio de animais abandonados e errantes, portadores
parasitoses com potencial zoonóticos. As excretas destes animais ficam expostas em áreas
públicas e de atividade humana como parques e jardins, sendo uma fonte de infecção constante.
Achados como este devem inspirar e permitir estratégias de controle para estas doenças
no homem e nos animais. Identificar os animais errantes e propor políticas de controle
populacional devem ser baseados em bem estar animal e também no risco de transmissão de
zoonoses.
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