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Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo Artes Visuais Licenciatura Cerâmica

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Universidade Aberta do Brasil

Universidade Federal do Espírito SantoArtes Visuais

Licenciatura

Cerâmica

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Maria Regina Rodrigues

Graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia (1981), Especialização em Arte Educação pela ECA/USP (1992), Mestrado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Católica de São Paulo (1988) e Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Católica de São Paulo (2004). Foi premiada no Concurso Internacional de Cerâmica de L’Alcora, Espanha em 2008 (1º lugar) e 2009 (menção honrosa). Membro da comissão julgadora do 3º Salão Nacional de Cerâmica de Curitiba em 2010. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Espírito Santo; Sub-Coordenadora e Revisora de conteúdo do Ensino à Distância do Curso de Artes Visuais da UFES; Pesquisadora pela FAPES (Fundação de Apoio e Pesquisa do Espírito Santo) com o projeto: O espaço de trabalho das Paneleiras: intervenções no processo de criação desde 2009.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTONúcleo de Educação Aberta e a Distância

Maria Regina Rodrigues

Colaboradores:

Júlio César da Silva, Penha Schirmer,

Tatiana Campagnaro e Terezinha Drago

Cerâmica

Vitória2011

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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Rodrigues, Maria Regina. Cerâmica / Maria Regina Rodrigues, colaboradores, Júlio César da Silva, Penha Schirmer, Tatiana Campagnaro e Terezinha Drago. - Vitória : UFES, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011. 108 p. : il.

Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-64509-02-3

1. Cerâmica. I. Título.

CDU: 738

R696c

Presidenta da RepúblicaDilma Rousseff

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky

DED – Diretoria de Educação a Distância Sistema Universidade Aberta do BrasilCelso José da Costa

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

ReitorProf. Rubens Sergio Rasseli

Vice-ReitorProf. Reinaldo Centoducatte

Pró-Reitor de Ensino de GraduaçãoProf. Sebastião Pimentel Franco

Diretor-Presidente do Núcleo de Educação Aberta e a Distância - ne@adProf. Reinaldo Centoducatte

Direção Administrativa do Núcleo de Educação Aberta e a Distância - ne@adMaria José Campos Rodrigues

Coordenadora do Sistema Universidade Aberta do Brasil na UfesMaria José Campos Rodrigues

Diretor Pedagógico do ne@adJulio Francelino Ferreira Filho

Diretora do Centro de ArtesCristina Engel de Alvarez

Coordenação do Curso de Artes Visuais - Licenciatura na Modalidade a DistânciaMaria Gorete Dadalto Gonçalves

Revisão de ConteúdoAndreia Chiari Lins

Revisão OrtográficaJulio Francelino Ferreira Filho

Design GráficoLDI – Laboratório de Design Instrucional

ne@adAv. Fernando Ferrari, n.514 – CEP 29075-910, Goiabeiras – Vitória – ES(27)4009-2208

Laboratório de Design Intrucional

LDI coordenaçãoHeliana Pacheco Hugo CristoJosé Otávio Lobo Name Ricardo Esteves

EditoraçãoMarcela Bertolo RadaeliSamira Bolonha Gomes

CapaSamira Bolonha GomesFotos: Maria Gorete Dadalto

ImpressãoGráfica JEP

Copyright © 2011. Todos os direitos desta edição estão reservados ao ne@ad. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Coordenação Acadêmica do Curso de Licenciatura em Artes Visuais, na modalidade a distância.

A reprodução de imagens de obras em (nesta) obra tem o caráter pedagógico e cientifico, amparado pelos limites do direito de autor no art. 46 da Lei no. 9610/1998, entre elas as previstas no inciso III (a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda reprodução realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.

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Sumário

Apresentação

Evolução da cerâmicaCerâmica nas artes visuais

A cerâmica nas artes plásticas no Brasil

Cerâmica contemporânea brasileira

Matéria-primaComo preparar e testar uma argila

Preparação da massa cerâmica

Pigmentos naturais

Espaço de produção

Ferramentas

ModelagemPote de aperto

Rolinho

Placa

Bloco

Torno

Acabamento

Tempo de secagem

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O processo de criação na cerâmicaBarro: estudo e obra

O desenho como modo de construção do pensamento

O resíduo como possibilidade de obra

Diálogo com outras linguagens

A utilização de outros materiais como estudo de processo

Fornos e queimasTipos de queimas

Fornos alternativos

Relato de experiência: construindo uma identidade na arte popular

Cerâmica indígena

Da metodologia

A arqueologia como forma de recordar nosso passado

Novos processos

Considerações

Considerações finais

Referências

Lista de imagens

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6 Cerâmica

Apresentação

O livro Cerâmica é uma breve introdução à argila, suas possibilidades de constru-

ção e transformação em objeto cerâmico. Este material pretende ser uma orienta-

ção para que o aluno possa ampliar suas pesquisas conceituais nas artes e investi-

gar as principais técnicas cerâmicas a partir desta breve introdução.

É importante lembrar que somente a leitura do livro não será suficiente para

aprofundar seus conhecimentos. Além da pesquisa, deve-se praticar sem pressa e

ter o acaso como parte do processo, pois poderá obter resultados que jamais have-

ria imaginado. A arte da cerâmica é, em grande medida, uma experiência direta e

contínua de descobrimento de novas possibilidade plásticas.

O ceramista tem que buscar, explorar, investigar, conhecer o processo, a história

e os materiais que são próprios do seu meio. A busca dessa materialidade que des-

cobrimos na cerâmica supõe esforço, dedicação e trabalho físico humano, a tarefa

de fazer nascer e florescer as formas, como um processo de vivência. A cerâmica é

a expressão de uma relação íntima com os materias e o processo.

A primeira unidade, Evolução da cerâmica, apresenta um pequeno panorama

de como o homem descobre a argila e como vai buscando possibilidades de trans-

formá-la para melhor se adequar as suas necessidades. Dando continuidade ao

estudo, optamos por dar um salto na história, focando a cerâmica contemporânea

no século XX. Nesse enfoque, é possível observar que há duas tendências da cerâ-

mica brasileira. A primeira é o fazer permeado por um olhar para as práticas cul-

turais e a segunda é o fazer demarcado por uma centralização dos procedimentos

técnicos-construtivos.

A unidade dois trata das Matérias-primas, espaço e ferramentas, tendo como

foco a argila, sua preparação e manipulação, pois é um material abundante que, em

geral, adquire, quando umidecido com a água, maleabilidade, o que permite manu-

sear e modelar a forma que se deseja. Deve-se lembrar que esse é um dos aspectos

mais importantes na relação com esse material.

Nessa mesma unidade, há uma reflexão sobre como o artista/professor pode

estabelecer uma relação com diversos espaços de produção, pois a cerâmica demanda

procedimentos, equipamentos, materiais e matérias-primas específicas. Além do

espaço de produção, será apresentado também a importância dos utensílios e das

ferramentas como extensão da mão.

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Cerâmica 7

A terceira unidade, Técnicas de modelagem, aborda os quatro processos bási-

cos de produção manual, considerados os mais importantes para que o aluno entre

no mundo da cerâmica. Também traz uma introdução quanto ao uso do torno, apre-

sentando-o passo a passo através de ilustrações que foram realizadas pelas ceramis-

tas Tatiana Campagnaro e Terezinha Drago, do Tacto Atelier de Cerâmica.

A quarta unidade trata do Processo de criação, em especial dos artistas bra-

sileiros, com a discussão de como se dá o projeto poético da cerâmica enquanto

linguagem e apresentando cinco atitudes da mente criadora ao longo do processo

de elaboração e produção das obras, por meio de uma pesquisa feita tanto com os

artistas ceramistas brasileiros quanto com alunos do Curso de Artes Visuais pre-

sencial da UFES.

Na unidade cinco, Fornos e queimas, serão disponibilizados a evolução dos

processos de cozimento, assim como a manipulação de alguns fornos, em especial,

daqueles de construção alternativa, descritos pela ceramista Penha Schirmer atra-

vés de suas experiências, tanto do seu próprio fazer como no olhar da construção

de um outro ceramista.

Para finalizar, a unidade seis trata do Relato de experiência: Construindo uma

identidade na arte popular, um texto da experiência desenvolvida por mim em

parceria com o Professor Júlio César da Silva (Júlio Tigre) na comunidade Jardim

Carapina, tendo como referência a cerâmica indígena, focando o desenho como

método para se pensar a cerâmica.

Gostaria de agradecer aos artistas e ceramistas que contribuiram para a cons-

trução deste trabalho: Júlio Tigre, Penha Schirmer, Tatiana Campagnaro e Tereza

Drago, pelos incansáveis encontros e discussões para melhor apresentar, neste livro,

a cerâmica e suas possibilidades, e, em especial, à mestranda em Educação e Lingua-

gem: Dianni Pereira de Oliveira, por disponibilizar seu artigo: A arte do fogo na sala

de aula, material que estará presente no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).

Maria Regina Rodrigues

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8 Unidade 1

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Evolução da cerâmica 9

Não é propósito narrar nesta unidade toda a história da cerâmica,

a nossa intenção é fazer uma breve exposição, de forma sucinta,

de uma série de épocas e culturas que nos interessa, abarcando, de

certo modo, uma grande parte da arte cerâmica. Podemos observar

que, ao longo da história da cerâmica, vamos encontrar técnicas

e estilos semelhantes em culturas distintas no espaço e no tempo.

É difícil estabelecer o momento exato da descoberta da cerâ-

mica. A relação do homem com o barro ou a argila deu-se, prova-

velmente, pelo contato direto: andou sobre ele deixando marcas de

seus pés, as quais permaneceram na matéria após a sua secagem. A partir dessa

observação, ele utiliza suas mãos, deixando suas marcas nas paredes úmidas junta-

mente com pinturas feitas com terras coloridas, como podemos observar nas imagens

encontradas na caverna de Lascaux, na França, com pinturas em todo o teto (Fig.1).

Suas primeiras produções no barro são em formas de estatuetas, reproduzindo

o corpo de mulher, depois passou a representar os animais e é nesse momento que

reconhecemos nessa prática o que hoje chamamos de mito e arte. Podemos tomar

como confirmação as palavras de Chiti (1986, p. 37):

Observando la cueva, se ve que los ceramistas amontonaron primero bastante barro rojo sobre una roca. Luego modelaron los animales, a mano, cada uno de ellos de unos 60 cm de largo, en relieve muy destacado (alto relieve). Ciertos detalles, como las crines y los ojos, se modelaron con una esteca puntiaguda, de hueso o madera, lo cual revela la existencia de utensilios cerámicos, pueba de que ya existía una tradición artesanal con especialistas. La pareja se halla en posición que sugiere la cópula, de manera que las huellas de pies danzantes que se conservan hacen pensar en ritos orgiásticos que se celebrarían en razón de la magia de la fecundidad.

A explicação mais provável dessas marcas é dada pelo historiador Grombrich.

Quando se reporta ao uso da arte entre os povos “primitivos”, ele afirma que esses

povos permanecem no tempo, preservando seus antigos costumes e a maior parte da

produção artística encontra-se vinculada ao poder das imagens. Grombrich (1989,

p. 20) defende essa ideia:

Pinturas e estátuas [...], são usadas para realizar trabalhos de magia [...]. É pos-sível entender esses estranhos começos se não procuramos penetrar na mente dos povos primitivos e descobrir qual é o gênero de experiências que os fez pen-sar em imagens como algo poderoso para ser usado e não como algo bonito para contemplar.

Fig. 1: Pintura rupestre.Caverna de Lascaux.

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10 Unidade 1

Brancante (1981) considera que a maleabilidade, a ductibilidade e

a plasticidade, características da argila, associadas ao seu fácil acesso

na natureza, fizeram dela o principal veículo e intérprete dos impulsos

e pensamentos do homem, levando-o a, facilmente, aprender a incor-

porar essa matéria nas suas práticas cotidianas. O homem foi, aos pou-

cos, descobrindo outras funções para esse material, de acordo com suas

necessidades. Assim, o barro foi usado também para emplastos como

remédios e para conservar alimentos, além do uso na construção das

mais diversas formas. Nesse processo, a matéria foi sendo redesco-

berta para atender ao conforto e à proteção da espécie como até hoje

continua sendo utilizada em tijolos, em taipa de pilão e em técnica de

pau a pique e num sem-fim de usos do barro modelado (Figs. 2a e 2b).

A palavra cerâmica vem do grego – “Keramiké” – derivada da

“Keramikós” (vaso de argila), (PILEGGI, 1958, p. 3). Ao falar de cerâ-

mica, estamos nos referindo tanto à modificação ocorrida na matéria

– o barro – quanto a um processo contínuo de sua transformação pela

própria natureza e pela ação do homem, num constante fazer, desde a

busca do material, as misturas, manipulação e concretização das formas

até a transmutação da matéria com o agente fogo, tudo isso num per-

manente ritual. Após a descoberta do fogo, o homem foi aperfeiçoando

pouco a pouco as construções das peças. Chavarria dá seu depoimento:

Esta cerâmica, cozida a temperaturas muito baixas, era porosa e muito frágil. Mas os antigos ceramistas encontrariam soluções para resolver estes problemas. Para tornar seus vasos imperme-áveis, por exemplo, recorriam ao polimento, alisando e esfre-gando a superfície das peças com uma pedra lisa ou madeiras duras (2004, p. 9).

Apresentaremos aqui uma síntese da história da cerâmica utili-

zando como referência o livro A Cerâmica do ceramista Joaquim Cha-

varria (2004, p.8-25). Entre 4500 e 4000 a.C., na Mesopotâmia, já se

produzia cerâmica mais evoluida, com a descoberta do forno e a intro-

dução de uma câmara onde as peças de argila se encontravam afasta-

das da ação direta do fogo. As formas tornaram-se mais complexas e

a preparação de argila mais elaborada.

Entre 4000 e 3500 a.C., a Suméria, mostrou ser um importante cen-

tro de produção cerâmica. Usavam-se tijolos nas construções de edifí-

cios e cidades e, nessa época, surge a roda de oleiro. Outra descoberta

importante foi o verniz ou vidrado, entre 2000 e 1000 a.C., sendo uti-

lizado nos tijolos e, mais tarde, nas peças cerâmicas (Fig. 3).

Fig. 2a: Casa de pau a pique.

Fig. 2b: Casa em taipa de pilão.

Fig. 3: Os archeiros de Dario I. Cerca de 500 a.C.Relevo em ladrilhos vidrados.

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Evolução da cerâmica 11

O Egito também teve sua evolução na cerâmica, desde 5000 a.C.,

com suas peças cerâmicas de paredes finas, decoradas e polidas. No

Reino Antigo (2700-2100 a.C.), as massas tiveram uma preparação cui-

dadosa para o uso no torno, gerando peças simétricas. Nessa época, tam-

bém criaram pastas que, quando cozidas no forno, apresentavam uma

superfície brilhante, hoje chamadas de pasta egípcia (Fig. 4).

Dentre inúmeros povos que trabalharam a cerâmica, podemos des-

tacar os povos gregos, por apresentarem um grande desenvolvimento

artístico. Os ceramistas tinham como preocupação a forma e a decoração. Por volta

do primeiro milénio a.C., começam a utilizar o torno, produzindo peças com melhor

acabamento. Cada peça possuía uma função determinada. Pode-se destacar aqui

a ânfora, produzida para armazenar e conservar líquidos, por isso tinha uma boca

de tamanho médio e duas asas.

A decoração era feita inicialmente com desenhos circulares concêntricos uti-

lizando engobes escuros, que alternavam com a cor natural da argila. Posterior-

mente, começaram a impor um estilo, no qual predominavam os motivos geomé-

tricos e as primeiras figurações humanas e animais, ainda estilizadas; por fim, as

figuras negras, por volta de 700 a.C., quando receberam influências de culturas

orientais, dando lugar aos motivos pintados a negro sobre a superfície vermelha

da argila (Fig. 5). Os temas decorativos diversificaram-se, usando representação de

figuras de animais, assim como de figuras mitológicas (CHAVARRIA, 2004, p.13).

Por volta do século V a.C., surgiu os temas decorativos inspirados na vida domés-

tica, ou temas vulgares, dionisíacos. As figuras são definidas de vermelho sobre o fundo

negro, sendo os detalhes conseguidos através de linhas muito finas a negro (Fig. 6).

A partir do século VII a.C., podemos destacar os Etruscos e os Romanos. A

cerâmica dos povos etruscos apresenta um aspecto semelhante ao do metal, por

ser muito polida e de coloração cinzenta ou negra-cinzenta, mais tarde sofrerão

influência da cerâmica grega, passando a copiar os motivos decorativos (Fig. 7);

enquanto os romanos, eram povos que sabiam preparar as massas de excelente qua-

lidade e conheciam a técnica dos moldes, produzindo grande quantidade de peças

com decoração e relevo. O torno foi também outro procedimento muito utilizado

para a produção do uso doméstico (CHAVARRIA, 2004, p. 15).

No Oriente, devemos destacar a China, a Coreia e o Japão, pelas sofisticadas

técnicas de construção dos fornos, de forma gradual, até alcançar temperaturas de

1300º C, possibilitando a queima da pasta e do verniz das porcelanas, o que culmi-

nou na descoberta e no aperfeiçoamento dos esmaltes.

Destaca-se também a cerâmica chinesa, que teve origem a cerca de 3500 anos

a.C., porque além dos usos doméstico e decorativo, também foi utilizada nos ritos

Fig. 4: Hipopótamo. (2000-1900 a.C.)Pasta egípcia.

Fig. 5: Ânfora. Séc. VII e pricípio do séc. VI a.C.

Fig. 6: Kylix. Séc. V e IV a.C.

Fig. 7: Lekanis. Séc. V a.C. Cerâmica de estilo grego da penísula Itálica.

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12 Unidade 1

funerários. Durante a Dinastia Chang Yi (1523-1028 a.C.), o torno já era conhe-

cido e se usavam dois tipos de pastas, uma vermelha e outra branca. Mais tarde,

na Dinastia Chu (1027-256 a.C.), surgem os vidrados de dois tipos: os que contêm

chumbo e sódio, que se fundem entre 800 e os 900ºC, e os constituídos por felds-

patos e cinza de madeira, fundidos entre 1200 e os 1300ºC. Na dinastia Tang (618-

906), os vasos apresentavam um corpo redondo que contrasta com a ligeireza do

pescoço e decorados com pinturas. Podemos considerar que, ao longo do tempo,

a China atingiu um elevado grau de perfeição e simplicidade técnica, com desco-

bertas de vidrados como o azul, o verde e até o vermelho, nesse caso obtido com

óxido de cobre com queimas de atmosfera redutora (CHAVARRIA, 2004, 24) (Fig. 8).

O encontro das primeiras cerâmicas no Japão deu-se por volta de 2000-900

a.C. Mas pode-se dizer que a influência chinesa foi significativa durante o perí-

odo Heian (794-898). É importante destacar aqui a importância do budismo zen

e o seu culto, pois tiveram forte influência sobre a cerâmica com a cerimônia do

chá, tornando-se um verdadeiro ritual, que teve sua origem no período Muroma-

chi (1392-1573) (Fig. 9).

Outra cultura que deve ser destacada por suas impressionantes produções de cerâ-

mica são as cerâmicas encontradas nas Américas, desenvolvida pelos povos Mochi-

cas. Uma cultura pré-incaica surgida ao norte do Peru 1000 a.C. Os Mochicas produ-

ziram toda sua cerâmica dividida em duas práticas bastante evidentes: a pintura e a

escultura, nas quais se destacam por seu realismo e por sua habilidade no desenho.

O ceramista Mochica tinha um amplo conhecimento e domínio do uso de pasta fina, assim como o controle de oxidação no processo da queima. Modelava as paredes de suas vasilhas cerimoniais fazendo com que fossem finas, modelando formas esculturais diversas: animais, seres mitológicos e cenas da vida coti-diana. Empregava duas cores, pintando figuras de cor parda avermelhada com um pincel muito fino sobre uma capa de cor marfim.1

Nenhuma outra civilização deixou uma representação tão realista de si mesma e

de tudo que a rodeava. Nela, encontramos detalhes de sua vida, fauna e flora, culti-

vadas nos desertos do Peru, dos quais se mostravam grandes conhecedores. É possível

identificar espécies marinhos e terrestres, tamanha a maestria na sua representação.

Quase todas as culturas primitivas mantiveram uma relação totêmica (tout)

diante dos animais, muito poucas deixaram retratos tão naturalistas e emociona-

dos. A atitude Moche diante dos animais é muito parecida com a dos egípcios, para

os quais os animais desempenhavam para além de um papel místico, uma repre-

sentação também artística.

1. http://acessa.me/ceramica

Fig. 8: Jarrão Globular Tang.

Fig. 9: Garrafa de saqué. Japão, 1820.

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Evolução da cerâmica 13

Sem desenvolver a escrita, os mochicas ilustravam

brilhantemente seus hábitos e costumes culturais, pin-

tando suas cerâmicas com imagens surpreendentemente

realistas. Segundo o arqueólogo americano Christopher

Donnan, suas cerâmicas estão entre as mais espetacula-

res da America pré-hispanica. Eles alcançaram um grau

de realismo nas peças que supera de longe os maias, a

mais desenvolvida civilização americana (Fig. 10a).

Possuíam um estado centralizado e tão poderoso que

podiam sustentar uma classe de artesãos. O huaco-retrato

é o nome do estilo mochica clássico que surgiu no século V na cidade que estava

aos pés da Huaca de La Luna. Esse estilo, em sua maioria, sobressaia em vasos,

que possuem um gargalo em forma de anel com figuras que mostram imponen-

tes personagens políticos, o cotidiano da população e cenas de sexo tão explicitas

que até hoje ruborizam os visitantes mais pudicos dos museus no Peru (Fig. 10b).

Foram os primeiros artesãos a empregar moldes na América do Sul, para produzir

objetos em grande quantidade.

Assim, historicamente, a cerâmica situa-se entre as primeiras práticas huma-

nas; práticas estas, independente da função do objeto, marcadas pela manualidade,

até que no século XIX, na Europa Ocidental, o trabalho do artesão foi substituído

pela produção industrial. A modernidade fez com que os objetos de uso cotidiano

fossem incluídos numa escala industrial de produção, pois, se feitos um a um, tor-

navam-se inviáveis economicamente. Dessa forma, os objetos passaram a ser sim-

ples, fortes, limpos e iguais.

A cerâmica está na história do homem, cumprindo duas funções fundamen-

tais: de um lado, como facilitadora de práticas cotidianas; de outro, relacionada

com os desdobramentos da magia original (FISCHER, 1983).

No primeiro sentido, como prática cotidiana, ela tem mais de uma aplicação

que varia em cada local e em cada momento histórico. É através da cerâmica que

as culturas foram divulgadas e que os povos se influenciaram mutuamente. Como

prática cultural, seus usos se evidenciam ora no cotidiano doméstico, no armaze-

namento de alimentos, ora como tijolos na arquitetura, definindo usos predomi-

nantemente funcionais.

Nesse segundo sentido, a dimensão cognitiva desses usos ultrapassa o cará-

ter de utensílio, estando evidenciado o seu caráter mágico – religioso e o estético.

Temos, como exemplo, as diferentes manifestações culturais no Brasil, como as

urnas funerárias, representadas pela cerâmica na Ilha de Marajó (Fig.11) e os potes

em forma de figuras femininas do Vale do Jequitinhonha (Fig. 12).

Fig. 10b: Cerâmica Mochica.

Fig. 11: Cerâmica da Ilha de Marajó. Urna funenária.

Fig. 10a: Cerâmica Mochica.

Fig. 12: Cerâmica do Vale do Jequitinhonha. Potes de Isabel Mendes M. da Cunha, Aracuaí, 1997.

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14 Unidade 1

No texto: A origem da arte, Fischer (1983, p. 21) reflete sobre o modo como o

homem se apropria da natureza.

O homem também sonha com o trabalho mágico que transforma a natureza, sonha com a capacidade de mudar e dar-lhe nova forma por meios mágicos. Trata-se de um equivalente na imaginação, aquilo que o trabalho significa na realidade. O homem é, por princípio, um mágico.

Assim configurada, a cerâmica está sujeita a padrões estéticos transforma-

dos pela realidade sociocultural; podemos verificar todo um conjunto de saberes

e fazeres que estabelecem um campo de produção da cerâmica como linguagem

das artes; esse profuso campo encontra suas bases nos rumores da magia original

(FISCHER, 1993), mas não mais cumpre um papel mágico-religioso.

Queremos esclarecer que aqui não iremos tratar da evolução da cerâmica ao

longo dos séculos, pois seria muito extenso. Aqui, só se pretende oferecer um per-

curso no desdobramento da cerâmica a partir do século XIX, para posicionar o lei-

tor no rico panorama da cerâmica artística atual, em especial no Brasil.

Cerâmica nas artes visuais

Como já dissemos, depois da Revolução Industruial, a cerâmica passa a ser reprodu-

zida em série, perdendo seu valor artístico, até que em 1888 aparece em Londres o

movimento Arts&Crafts, com W. Morris e J. Ruskin, tendo como proposta o repen-

sar as artes em favor da peça artesanal, retomando os objetos de uso e deixando de

lado a tecnologia e os novos materiais. Com isso, se cultivou o gosto pelo “feito a

mão” e a revalorização das artes aplicadas.

Nesse mesmo período, as Exposições Universais do final do Século XIX, na

Europa, apresentam ao mundo ocidental a cerâmica da China e do Japão, passando

a ser a referência mais importantes para a fabricação de cerâmica, tanto pela quali-

dade estética quanto técnica, expondo o seu valor artístico (FRIGOLA, 2008, p. 10).

O ceramista Bernard Leach aventurou-se na investigação de formas novas para

expressar uma linguagem mais pessoal, criando a cerâmica de estúdio na Ingla-

terra. Após viver no Japão, com o objetivo de conhecer os procedimentos cerâmi-

cos, retornou para St. Ives, na Cornualha, nos anos 20, com o objetivo de produzir

um utilitário de mesa que mantivesse um alto padrão de forma, esmalte e decora-

ção. Leach vivenciou esta atividade, e sucessivas gerações o seguiram, formando

grupos que se fixaram na área rural, para utilização de matérias-primas locais e

construção de seus próprios fornos (Fig. 13).

Fig. 13: Bernard Leach.Jarro de grés. Grande. 1946.

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Evolução da cerâmica 15

No catálogo Firing Imagination: Cerâmica Britânica, a curadora Janice Tcha-

lenko, destaca a importância de Leach na cerâmica de ateliê.

O início do século XX foi marcado pelo crescimento da cerâmica de ateliê, tal como exemplificada pelos trabalhos de Bernard Leach, que unia as filosofias oriental e ocidental e proclamava um “modo de vida” no qual a mente, o cora-ção e as mãos coexistiam em equilíbrio e harmonia. Leach estudou cerâmica no Japão e, seu retorno à Inglaterra, nos anos 20, fundou uma oficina cerâ-mica em St. Ives, com o objetivo de fabricar peças utilitárias de alta tempera-tura (2000, p. 7).

Com o século XX, chega também a Art Nouveau, movimento artístico que se

estende por toda Europa, adaptando a filosofia das Arts & Grafts, que é a reali-

dade do momento, unindo a industria com a arte para obter um produto útil e belo,

assentados nos fundamentos do desenho, permitindo que arte e o ofício ganhem

terreno, e o objeto de uso se converta em um produto de luxo, com o objetivo de

conceber a cerâmica como arte (FRIGOLA, 2008, p. 10).

Com a consolidação da industrialização na França, houve a ampliação dos

recursos técnicos, facilitando o acesso aos materiais cerâmicos. Com isso, muitos

artistas se aventuraram na cerâmica e na faiança, atraídos pelo uso pictórico dos

esmaltes e fascinados pela surpresa da transformação das cores. Mas, no decorrer

do processo, a cerâmica foi apresentando dificuldades técnicas e os conhecimen-

tos estéticos não se resolviam por si só, no processo de criação.

O problema para os artistas não foi trocar as tintas a óleos pelos óxidos, mas

saber como manipular os materiais e realizar os passos necessários para a produ-

ção: a preparação do corpo, a pasta cerâmica, a técnica de modelagem, as diferen-

ças de cores e sua preparação e o posterior cozimento do objeto.

Nesse caso, muitos artistas que se aventuraram no domínio da cerâmica tiveram

que contar com os conselhos e ajuda de ceramistas já conhecidos, como mestres do

trabalho com a argila e a faiança. Podemos citar André Mentthey (1871-1929), que

já era famoso por uma série de exposições de cerâmica e contribuiu dando suporte

ao processo de fabricação e colorações para pintores como Renoir, Odilon Redon,

Bonnard, Derain, Denis, Maillol, Matisse, Ronault e tantos outros que participaram

da exposição de 1907, na qual Metthey mostrou uma centena de cerâmicas, feitas

por seus amigos (DOSCHKA, 1992). O obstáculo que aparentemente existia entre

os ceramistas e os artistas foi eliminado, e a prova é que o artista era capaz de dar

uma nova vida aos processos artesanais, sem perder o objetivo de fazer uma obra

de alta qualidade e passando por um processo criativo.

Para muitos, essa integração trouxe grandes benefícios, solucionando as ques-

tões técnicas, enquanto, para outros, essa integração ultrapassou os limites técnicos.

Page 18: Ceramica.pdf

16 Unidade 1

Os artistas geralmente impunham suas formas aos torneiros e, antes de decorar,

eles modificavam totalmente suas peças (FOREST, 1995). Havia também artistas que

faziam primeiramente os estudos preliminares para depois trabalhar com a argila,

Picasso é um bom exemplo.

Após visitar vários ateliês em Vallarius, em 1946, e fazer alguns experimentos

na argila, Picasso viu a possibilidade de trabalhar com esse material. Em 1948, o

artista instalou-se definitivamente em Vallarius, trazendo inúmeros desenhos. Mas

ele não poderia fazê-lo sem a ajuda de George e Suzanne Ramié, do Ateliê Madoura.

O artista iniciou suas obras com a colaboração dos ceramistas, mostrando, discu-

tindo, questionando, para, em seguida, trabalhar compulsivamente, integrado com

os mestres da cerâmica (Figs. 14a, 14b e 14c).

Quando Picasso se volta para a cerâmica, procura uma manipulação consciente

das características próprias da matéria. As noções adquiridas pelo uso ou pela tra-

dição podiam servir de base à sua construção estética e às suas reflexões críticas.

À medida que se familiarizava com o novo material, aumentava a sua vontade de

experimentar novas técnicas, pois o artista tinha facilidade de adaptação aos mate-

riais, o que o levou a entregar-se com vigor ao trabalho, permitindo-lhe ter uma

postura de artesão que trabalha com os dedos, sentindo um grande respeito pelas

mãos, sempre aptas a traduzir ao mesmo tempo o seu pensamento (Fig. 14d).

Uma cooperação semelhante ocorreu entre George e Suzanne Ramié com o

trabalho de Chagall. Durante 15 anos, de 1950 em diante, Chagall foi ativo nesse

domínio. O artista inicialmente ficou interessado em entender sua palheta de cores

e o especial efeito da argila (Fig. 15).

O que ele fez na pintura foi igualmente presente nos seus trabalhos cerâmi-

cos. Mas Chagall não estava satisfeito apenas pintando a argila, ele passou, então,

a modelar e a trabalhar em sua superfície (Fig. 15b). A experiência que Chagall

teve não era apenas na dimensão espacial da arte, mas a sensação primitiva do ato

criador elementar.

Fig. 14a: Pablo Picasso.Olla (friso de mujeres), 1950.

Fig. 14d: Pablo Picasso. Hombre sentado, 1952.

Fig. 14b: Pablo Picasso.Vaso Femme, s/d.

Fig. 14c: Pablo Picasso.Échassier, 1947/48.

Page 19: Ceramica.pdf

Evolução da cerâmica 17

Bachelard, no livro “O direito de sonhar”, fala da relação de Chagall com essa

matéria: “Marc Chagall rapidamente se torna um mestre dessa pintura satânica

que ultrapassa a superfície e se inscreve numa química da profundeza. E sabe con-

servar vivo na pedra, na terra, na massa, seu vigoroso animalismo” (1986, p. 25).

É conveniente mencionar o catalão Llorens Artigas. Após a Primeira Guerra

Mundial, esse ceramista mudou-se para Paris, onde trabalhou com Dufy, Miró e

Braque (Figs. 16, 17 e 18a). O ceramista Artigas foi um caso singular na cerâmica,

pelo fato de participar ativamente no Modernismo e no intercâmbio com os artis-

tas na produção da cerâmica.

Essa experiência ampliou-se após trabalhar com Miró, a partir de 1942. O artista

buscou parceria com o ceramista, com o propósito de adquirir o domínio de todas as eta-

pas da produção cerâmica, o que resultou, no final da década de 50, em um total de 300

peças. Junto com Artigas, Miró descobriu a magia primitiva do fogo (Figs. 18b e 18c).

A cooperação entre o pintor e o artesão foi fantástica: eles ajudavam, auxilia-

vam e confortavam um ao outro. O diálogo entre Miró e Artigas cresceu intensa-

mente, em especial na grande variedade de trabalhos que eles faziam para espaços

públicos, como os grandes murais, em especial o da UNESCO (1958) e o do Aero-

porto de Barcelona (1970) (Fig.18d), entre outros.

Fig. 15: Marc Chagall. Vase La Vision, 1962.

Fig.18a: Joan Miró.Vase, 1941.

Fig. 16: Raoul Dufy.Vase aux Baigneuses sur Fond Jaune, 1926.

Fig. 17: George Braque.Assiette à La Mandoline, 1945.

Fig. 18b: Joan Miró.Grober Wasserkrug, 1962.

Fig. 18c: Joan Miró (frente e verso).Frau, 1962.

Page 20: Ceramica.pdf

18 Unidade 1

Quando se refere às experiências realizadas em con-

junto com o ceramista, Miró revela sua paixão pela cerâ-

mica e destacava que Artigas desempenhou relevante

importância em sua vida, porque lhe possibilitou, por

meio do contato com a cerâmica, conhecer e trabalhar

outra linguagem, o que, segundo o próprio, lhe propi-

ciou descobrir novos horizontes e, assim, enriquecer sua

produção plástica.

A Segunda Guerra Mundial obrigou muitos cera-

mistas europeus a migrarem para o Estados Unidos,

favorecendo a influência entre culturas. O vínculo esta-

belecido entre os Estados Unidos e a Europa permi-

tiu que a cerâmica do século XX tivesse uma mudança,

ganhando identidade com liberdade, características da

arte contemporânea.

Na segunda metade do século XX, se amplia o con-

ceito da escultura, expandindo o campo de atuação,

desviando a direção da arte para abrir novos caminhos,

assim como o campo da instalação. Nesse caso, citare-

mos o artista Antony Gormley (Figs.19a e 19b), respon-

sável por grandes montagens com elementos cerâmicos,

podemos apresentar uma de suas obras intitulada Field,

de 1991, uma instalação de terracota.

Atualmente, a cerâmica artística expande-se, sendo

mais um dos materiais utilizados nas artes plásticas como

linguagem, abrindo numerosas rupturas para as várias

gerações de artistas e ceramistas continuarem seus expe-

rimentos. A argentina Vilma Villaverde é um bom exem-

plo. A artista realiza peças cerâmicas montadas nos ele-

mentos sanitários. Podemos dizer que a artista coloca na

galeria um material que, em geral, é usado pelas pessoas

num espaço privado (objeto sanitário), criando diferen-

tes esculturas, na maioria, femininas (Fig. 20).

Fig. 18d: Joan Miró. Painel do aeroporto de Barcelona, 1970.

Fig.19a: Antony Gormley. Field, Instalação, 1991.

Fig. 19b: Antony GormleyField, Detalhe da Instalação, 1991.

Fig. 20: Vilma Villaverde.Inocencia, 2008.

Page 21: Ceramica.pdf

Evolução da cerâmica 19

A cerâmica nas artes plásticas no Brasil

Podemos dizer que no Brasil o percurso da cerâmica, como experiência artística,

surge de forma extremamente lenta, mantendo-se distante das outras linguagens

das artes visuais. Vários foram os artistas brasileiros que trabalharam a cerâmica

como suporte para a pintura. Dentre esses, podemos citar: Portinari, Volpi, Djanira,

Paulo Rossi, Roberto Burle Marx, Athos Bulcão, Poty. No início, o azulejo passou a

ser o material mais empregado, fruto da influência portuguesa, mais precisamente a

faiança de revestimento, um material que, aos poucos, foi se revelando como mani-

festação liberta de valores tradicionais, oriundos da Europa.

Alguns artistas transportavam os desenhos para os azulejos como se ele fosse

uma tela branca, ignorando seus limites individuais. Aos poucos, o processo foi

sendo modificado, levando-se em conta o tamanho e o formato do azulejo. Porti-

nari foi o grande responsável por essa mudança, no início dos anos 40. Nessa época,

o artista começa a usar figuras avulsas para criar o fundo da composição, sempre

com motivos marinhos, mantendo os tons azuis sobre azulejos brancos, uma tra-

dição portuguesa (Fig. 21).

A partir daí, outros artistas passaram a usar o azulejo como módulo, traba-

lhando-o individualmente, formando composições com figuras avulsas, ampliando

a palheta de cores. Esse processo pode ser observado no trabalho de Athos Bulcão,

que muito contribuiu para a integração da cerâmica na arquitetura, trabalhando

com vários arquitetos, em especial Oscar Niemayer (Fig. 22).

Por ser um meio cujo desenvolvimento está intimamente ligado ao domínio do

conhecimento técnico, muitos estudiosos passaram a tratar a cerâmica como um

procedimento artístico predominantemente técnico, sem uma reflexão sobre a cria-

ção inerente às linguagens das artes. Mas, ao assu-

mir a ideia de que uma obra cerâmica estaria para

além da função prática, o ceramista passa a enten-

der que seu trabalho pode concentrar-se na dimen-

são plástica. Como consequência disso, os excessos

de decorativismos dão lugar a uma maior preocupa-

ção com o volume, a forma e sua representação aero-

espacial. Para alguns artistas ceramistas, portanto, o

importante passa a ser não a técnica como fim em

si mesma, mas a possibilidade de se obter o objeto a

partir da manipulação da matéria, o barro, que, com

a contribuição do agente fogo, sofre a transmutação

e passa a ser cerâmica.

Fig. 21: Cândido Portinari. Painel de cerâmica, s/d.Igreja de São Francisco, Belo Horizonte.

Fig. 22: Athos Bulcão.Painel de cerâmica, 1998.

Page 22: Ceramica.pdf

20 Unidade 1

No final da década de 80, galerias e museus começaram a abrir espaço para

expor obras artísticas, apresentando a cerâmica como um dos meios de expres-

são plástica. Podemos citar: Galeria São Paulo, Toki Arte, MAM, Paulo Figueiredo,

Mônica Figueira, situadas em São Paulo; Galeria Trindade no Rio de Janeiro; as Salas

Corpo e Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Ganha-se espaços também na mídia,

nas revistas especializadas em arte: Galeria e Guia das Artes. Também nesse perí-

odo são editados livros específicos dessa linguagem, entre eles, Artistas da cerâmica

brasileira, publicado pela Volkswagem do Brasil S.A., em 1985 – fazendo um pano-

rama da arte cerâmica no Brasil desde a cerâmica indígena, passando pelo popu-

lar até a cerâmica contemporânea; e Cerâmica Arte da Terra, publicado em 1987 –

catálogo dos artistas ceramistas contemporâneos brasileiros e textos sobre cerâmica.

Essas reportagens em revistas, e mesmo os livros, possibilitaram a visibilidade

da cerâmica, bem como se constituíram como um meio de socialização do processo

de criação dos artistas ceramistas. Entretanto, não se concretizaram como iniciati-

vas que, de fato, promovessem uma aproximação com os mecanismos que envol-

viam a construção da obra; pois, em sua maioria, limitaram-se ao trabalho finali-

zado ou, em alguns casos, à supervalorização do mito da terra em transformação.

Cerâmica contemporânea brasileira

De modo geral, parece-nos ser possível dizer que os trabalhos dos ceramistas brasi-

leiros convergem para duas tendências: fazer permeado por um olhar para as práti-

cas culturais; fazer centrado nos procedimentos técnico-construtivos. O Brasil, sendo

uma confluência de culturas, internacionalizou a nova cerâmica com os imigran-

tes e com a volta de ceramistas brasileiros que estudaram e estagiaram no exterior.

Podemos compreender que as diversidades de linguagens que a arte cerâmica apre-

senta estão em parte ligadas às diferenças culturais, e isso se dá pelos inúmeros sur-

tos colonizadores ou migratórios assimilados pelos brasileiros. No entanto, o nosso

fazer cerâmico dialoga para além dessa interface predominantemente cultural, cen-

trando-se, ainda, no aprimoramento e desenvolvimento de experiências de cunho

mais técnico-construtivo, ou seja, ligado a uma poética de materiais e procedimentos.

O fazer permeado por um olhar para as práticas culturais

Um exemplo centrado nessa tendência é a cerâmica ligada aos conceitos japoneses,

principalmente aqueles que têm sua origem no extremo Oriente. Trata-se de uma

arte milenar que chegou ao Brasil no início do século XX, com os primeiros imi-

grantes agricultores, concentrando-se aos redores de São Paulo. É o caso de Shoko

Page 23: Ceramica.pdf

Evolução da cerâmica 21

Suzuki, uma ceramista que mantém a tradição desde a construção das peças até a

queima no forno a lenha. Aqui, o ceramista tem um alto grau de conhecimento téc-

nico a partir de efeitos práticos no campo da própria matéria, porém, mesmo esse

requinte técnico não nos parece estar centrado em inovações e descobertas, mas

na consolidação e aprimoramentos estabelecidos na tradição cultural. No catálogo

de apresentação da exposição da artista, no Museu da Casa Brasileira, Klintowitz

(2003), comenta: “O trabalho de Shoko Suzuki é uma discussão sobre a perfeição

da forma, os limites da técnica e o alcance possível da arte como elemento cons-

truído da integração e do saber”.

Além de Suzuki (Fig. 23), há outros ceramistas seguidores dos mesmos parâme-

tros, trabalhando de forma mais aberta, como Akinori Nakatani, Katsuko Nakano,

Kimi Nii. Já Megumi Yuasa (Fig. 24) trabalha com a matéria de forma mais liberta

e exploratória, buscando outros materiais para compor suas esculturas cerâmicas,

como o ferro, a pedra, os vegetais, etc., aproximando-se da interface que define a

segunda tendência aqui apontada.

Nas raízes africanas, seguindo o mesmo processo do manuseio do barro, pode-

mos citar Miguel dos Santos, que também transita pelo universo popular do Nor-

deste, principalmente com as mutações das histórias em cordel. O artista vive em

João Pessoa, região cheia de lendas populares, para onde confluem culturas afri-

canas, indígenas e a memória colonial. Ele trabalha com grandes silhuetas que, na

grande maioria, sugerem figuras humanas, com expressão facial bem marcada e um

corpo que permite muitas ambiguidades. Nessa mesma cerâmica, pode-se observar

que, dependendo da angulação, podem-se obter diferentes leituras, ora um homem,

ora um animal, ora uma figura majestosa. Trabalha com a pintura e a cerâmica,

criando um diálogo permanente entre essas duas linguagens (Fig. 25).

Fig. 24: Megumi Yuasa.Escultura cerâmica.

Fig.23: Shoko Suzuki.Cerâmica, 1998.

Fig. 25: Miguel dos Santos.Escultura em cerâmica. 1985.

Page 24: Ceramica.pdf

22 Unidade 1

Ainda dentro dessa categoria, temos ceramistas de influência portuguesa como

Antônio Poteiro. O artista iniciou seu trabalho como construtor de potes e aos poucos

foi modificando seu percurso, saindo do objeto funcional para esculturas de grandes

sofisticação plástica. Pintor primitivo, conserva essas características na obra em cerâ-

mica, construindo figuras místicas do imaginário popular. Suas monumentais escul-

turas em terracota possuem vários níveis recobertos por figuras em torno de uma

estrutura circular, um mundo representado pelo artista com variantes: homens e ani-

mais muitas vezes recolhidos na rua, na Bíblia e até mesmo em seus sonhos (Fig. 26).

Nessa lista da primeira tendência, podemos incluir Celeida Tostes (Fig. 27). Em

suas obras, a argila ganhou uma aparência grosseira, como se tivesse acabado de

ser feita. Esse foi o modo que encontrou para apresentar a matéria amorfa em seu

trabalho, provocando um confronto entre visão, tato e o próprio raciocínio.

O fazer centrado nos procedimentos técnico-construtivos

Nessa tendência, podemos citar: Lygia Reinach, Norma Grinberg, Célia Cimbalista,

Mariana Canepa, Mary Di Iorio, dentre outros. Para esses artistas, a forma, o volume

e a organização aeroespacial são de grande importância.

Dentre esses artistas citados, podemos apontar Lygia Reinach, que tem como

preocupação o desenvolvimento de obras para ocupar grandes espaços, ora defini-

tivos, ora temporários. A obra Figuras é um índice dessa relação da artista com o

espaço da obra. Trata-se de uma instalação com 80 grandes esculturas de barro quei-

mado. Essa obra foi primeiramente apresentada na XXI Bienal de São Paulo, em 1991

(Fig. 28a) e, logo em seguida, foi doada pela artista para ser integrada ao acervo do

metrô, instalada no jardim suspenso do primeiro subsolo da estação Ana Rosa. Man-

teve-se a ideia proposta no painel alocado na própria estação, no qual é revelado

que “[...] a artista devolve para dentro da terra o barro por ela trabalhado” (Fig. 28b).

Fig. 26: Antônio Poteiro. Criador supremo.

Fig. 27: Celeida Tostes, Vênus.

Fig. 28a (abaixo): Lygia Reinach.XXI Bienal Internacional de São Paulo, 1991.

Fig. 28b (à direita): Lygia Reinach.Instalação na Estação Ana Rosa.

Page 25: Ceramica.pdf

Evolução da cerâmica 23

Na verdade, as esculturas representam o universo do homem no espaço do metrô, o homem que vive dentro do seu tempo, um ritmo imposto pelo meio tal como a música [...]. Dentro desta ótica, podemos relacionar cada escultura a uma figura que conserva seu tempo, e simultaneamente, convive dentro de um outro tempo; o da multidão (RODRIGUES,1998, p. 192).

Podemos destacar Norma Grinberg como um outro índice da tendência do fazer

centrado nos procedimentos técnico-construtivos. Desde a década de 70, ela vem

trabalhando as formas e os volumes, tendo como princípio a modulação, indivi-

dual ou coletiva da peça. Das múltiplas peças, surgiram várias composições espa-

ciais estruturadas na vertical (Fig. 29a). Dando continuidade aos seus experimen-

tos, as peças foram sofrendo interferências e ganhando novos elementos, como na

instalação Humanóides (Fig. 29b) em que, ao longo do trabalho, a artista foi perce-

bendo a necessidade de incorporar elementos arquitetônicos, volumes com dimen-

sões maiores.

Suas pesquisas vão além dos volumes, partindo da decomposições das formas,

para obter várias outras que se articulam entre si, gerando novas obras. Dessa ins-

talação, surgiram outros projetos, como Arcos, chegando a construir uma grande

peça para o jardim da ECA/USP, resultado da Tese de Doutorado da artista (1999).

Mary Di Iorio, diferentemente de Grinberg, desde a década de 80, mantém a

mesma forma casular. Sua preocupação passou a ser a organização das peças no

espaço, procurando trabalhar com peças em grandes dimensões, além de pesquisar

materiais para integrar-se à cerâmica, como ferro, cabo de aço e cimento. Mas sua

pesquisa não se limita a grandes áreas abertas, Di Iorio utiliza como desafio a ocu-

pação das galerias com peças de pequeno porte, desde o uso do piso, ou mesmo de

caixas de madeira, como delimitação de um espaço dentro de outro: como um baú

que guarda algo precioso (Fig. 30).

Fig. 29b: Norma Grinberg.Humanóides.

Fig. 30: Mary Di Iorio. Instalação, 1991.

Fig. 29a: Norma Grinberg.Estrutura Vertical Móvel.

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24 Unidade 1

Continuaremos, então, a discussão sobre essa tendência centrada nos proce-

dimentos técnico-construtivos, pois vale ainda salientar que alguns artistas, como

Francisco Brennand, transitam entre essas duas categorias, embora sejam mais evi-

dentes, na sua obra, traços do seu diálogo com a cultura do Nordeste brasileiro,

porém, o seu processo de criação destina-se a um espaço equivalente aos procedi-

mentos técnico-construtivos (Fig. 31).

Após visitar a produção de cerâmica de Picasso, na Maison de la Pensée Fran-

çoise, bem como de Juan Miró, na Galeria Maeght, em Paris, o artista visualizou o

enorme potencial artístico da argila, matéria que, até então, ele considerava ligada

a uma mera habilidade artesanal. Sob esse impacto, Brennand, originariamente pin-

tor, começou gradualmente a deslocar sua produção para o uso da argila, dos óxi-

dos e do fogo. Em Recife, a partir de 1971, o artista começa a revitalizar um grande

espaço, uma antiga fábrica de cerâmica de seu pai, reconstruindo o local, criando

uma Oficina-Museu, e, aos poucos, vai povoando-o com templos e enormes cria-

turas-escultóricas de peles vítreas, algumas colocadas sobre altas colunas, outras

nos jardins ou em espelho d’água.

Essas duas tendências da cerâmica brasileira nos possibilitam uma outra apro-

ximação investigativa dessa linguagem plástica, vista sob o prisma do processo de

criação do artista, apresentado na unidade quatro.

Page 27: Ceramica.pdf

Evolução da cerâmica 25

Fig. 31: Francisco Brennand. Jardim de esculturas, s/d.

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26 Unidade 2

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Matéria-prima 27

Durante toda a história, em todas as civilizações, o homem se rendeu aos fascínios

de tomar uma porção da argila em suas mãos e moldá-la. Desde os povos primi-

tivos até os mais famosos escultores utilizaram o barro para modelar, a partir de

suas necessidades e seus desejos.

O barro bruto é um material natural, terroso, de granulação fina, aparentemente

inflexível e uniforme. No que consiste essa matéria-prima? O barro possui uma histó-

ria, uma dignidade de que talvez nenhum outro material possa se vangloriar. É fruto

de uma ação milenar da natureza e resulta da decomposição de rochas e da que-

bra de pedras que se dissolveram na água e novamente se cristalizam em partículas.

O solo tem um período de vida de milhões de anos. A nossa vida média é de 70 ou 80 anos. Não podemos perceber o que está acontecendo com o solo, pela mesma razão pela qual não poderíamos ouvir a melodia de um disco tocado à velocidade de uma rotação por séculos. E o solo, por seu lado, nem sequer percebe a nossa existência, pois nós vivemos apenas por um breve instante de sua vida. Para ele, não passamos de clarões na escuridão (FONTES, L.E.F.; FON-TES, M.P.F., 1982, p.1).

Por existir uma grande quantidade diferente de rochas, podemos concluir,

então, que existem infinitos tipos de terra por toda a superfície da crosta terres-

tre, que, em contato com a água, formarão diferentes tipos de barro. O solo umide-

cido pelas águas da chuva vira barro, ou lama, dependendo da quantidade de água.

Então, barro seria terra mais água.

Cada barro tem uma composição mineral diferente, apresentando, assim, carac-

terísticas diferentes. Em geral, as pessoas usam o termo barro sem diferenciá-lo de

argila, mas barro é qualquer terra misturada com água, enquanto a argila possui a

capacidade de ser modelável, em maior ou menor grau.

Tomado pelo homem no seu instante de vida, o barro se torna matéria da pro-

dução de instrumentos, mas, para isso, deve-se tornar argila, e argila nada mais é

que um barro com minúsculas partículas, que o tornam maleável. A argila é um

material abundante e, em geral, adquire, quando umedecida com água, certa plas-

ticidade ou maleabilidade, permitindo tomar as formas que se queira dar.

As argilas podem ser encontradas na natureza a céu aberto, em barrancos, na

beira de rios ou em camadas subterrâneas. A argila que se mantém no local de ori-

gem de sua rocha mãe é chamada de argila primária, geralmente são puras, pos-

suem os grãos grossos e são pouco plásticas. Já as argilas que se deslocaram para

longe da rocha mãe, são chamadas de secundárias, possuem grãos mais finos, moí-

dos pela ação das águas que separou os grãos mais grossos que se depositam no

Page 30: Ceramica.pdf

28 Unidade 2

solo ficando para trás. Nessa movimentação, diferentes minerais se agrupam, for-

mando infinitas combinações que vão determinar as características de cada argila.

A propriedade mais importante da argila é a plasticidade, ou seja, a capacidade

de ser modelada sob a ação de uma força e de se manter com a forma que lhe foi

dada. A maior ou menor plasticidade de uma argila depende da sua composição, do

tamanho e formato de seus grãos, das impurezas e da quantidade de material orgâ-

nico existente. O tamanho e formato dos grãos (que são microscópicos 0,002mm

de diâmetro), vão definir a capacidade de absorção de água ao redor de cada grão

e a tração entre eles. A água funciona como um lubrificante que permite a movi-

mentação entre os grãos, quanto mais regular for o grão mais uniforme é a distri-

buição da água ao seu redor e maior a facilidade de movimentação das partículas.

Na linguagem popular, costuma-se usar as expressões barro gordo para designar

argilas mais plásticas e barro magro para aquelas que contêm pouca plasticidade.

Quanto mais plástica é uma argila, mais água absorverá, aumentando, assim,

de volume. Ao secar, a água evapora, as partículas se aproximam, fazendo com que

a peça diminua de tamanho. Assim, a plasticidade é proporcional ao encolhimento

da massa, quanto mais plástica, mais encolhe.

As peças, depois de secas à temperatura ambiente, perdem a água física, mas

ainda conservam certo grau de umidade, o qual é chamado de água química, que

só irá evaporar mediante aquecimento a uma temperatura de 100ºC. Assim, a argila

continua encolhendo durante todo o processo de aquecimento que a transformará

em cerâmica. Aprofundaremos esse assunto na unidade fornos e queimas.

Podemos dizer que a argila está constantemente trocando água com o meio onde

se encontra. Se colocarmos água em uma argila seca ela absorverá a água e aumen-

tará de tamanho, se a deixarmos ao ar livre ela perderá a água e encolherá nova-

mente. Entender esse processo é fundamental para a ação seguinte, a modelagem.

A composição química dos minerais que fazem parte da argila e as matérias

orgânicas determinarão a coloração das argilas in natura, podendo variar nas tona-

lidades brancos, amarelos, vermelhos, marrons, roxos, cinzas e preto. Mas a colo-

ração de uma argila crua não determina sua cor após a queima, que será definida

pelos os óxidos minerais (ox. ferro, ox. cromo, ox. cobre, ox. manganês...) presen-

tes na composição da massa que irão sofrer reações químicas, mediante o calor,

variando de tonalidade de acordo com a temperatura alcançada. Dessa forma, uma

argila preta ao ser queimada pode resultar numa cerâmica branca e uma marrom

pode se transformar em uma peça alaranjada (Fig. 32).

É muito importante para o ceramista saber como preparar uma argila para

modelar ou sua própria massa, mesmo que depois ele faça opção por adquiri-las

prontas para modelar.

Page 31: Ceramica.pdf

Matéria-prima 29

Como preparar e testar uma argila

Se você deseja preparar e testar uma terra argilosa encontrada na natureza, deve

retirar uma pequena quantidade para teste. Se esta amostra estiver úmida, deve-se

secá-la e triturá-la e, após isso, deve ser colocada de molho na água para que ela

se dissolva por completo até obter uma “lama” homogênea. Se restarem pequenos

grunhos, o ceramista deve desmanchá-los com as mãos.

Coloque a argila líquida sobre uma superfície absorvente, pode ser uma pilha

de jornal, uma telha de cerâmica ou uma placa de gesso e deixe-a no local até obter

uma consistência em que possa ser amassada sem colar nos dedos. Se a quantidade

de água ainda estiver excessiva a argila estará mole e pegajosa, devido à perda de

aderência entre as partículas, necessitando perder um pouco mais de sua umidade

antes de ser utilizada.

Após tirar a argila da superfície, deixe-a em repouso, durante

um tempo em ambiente adequado, para melhorar a plasticidade

(lugar fresco e protegido do sol e do vento, de preferência acon-

dicionado em sacos plástico para manter a umidade). Para testar a

plasticidade, amasse-a e faça um rolinho, curvando-o lentamente

até formar um biscoito ou um arco (Fig. 33).

Se durante esse processo a argila apresentar rachaduras ou abrir fissuras, é sinal

de pouca plasticidade, o que dificulta o trabalho de modelagem. Podemos, então,

misturá-la com outra argila mais plástica ou acrescentar bentonita, argila vulcâ-

nica que aumenta a capacidade de absorção de água da massa, podendo ser usada

na proporção de até 3% do peso da argila seca. Outra possibilidade será utilizá-la

para fazer engobe ou terra sigilata, os quais trataremos com mais detalhes, poste-

riormente; por enquanto daremos continuidade a preparação da argila, transfor-

mando-a em massa cerâmica.

Quando a argila apresenta características apropriadas para a modelagem, deve-

mos guardá-la embalada em saco plástico bem fechado, pois ele manterá a umidade

Fig. 32: testes de retração e coloração da argila.

Fig. 33: Teste de plasticidade.

Page 32: Ceramica.pdf

30 Unidade 2

da massa. A água evapora e vai de encontro ao plástico, voltando novamente para

a argila, matendo-a úmida. Se necessário, podemos envolvê-la com pano molhado,

deixando por um tempo até que aumente sua umidade.

Podemos, então, dizer, no que se refere à cerâmica, que essa fase de prepara-

ção demanda calma, desde a escolha ponderada da argila e dos elementos de liga,

até um paciente manejo. Sabemos que existem várias qualidades de argila, por-

tanto, o ceramista precisa conhecer a matéria com a qual se propõe a trabalhar, para

compreender como ela age e se suas propriedades atendem às suas necessidades,

podendo fazer possíveis adaptações para superar os limites que lhes impôs a matéria.

Preparação da massa cerâmica

A plasticidade, maleabilidade e flexibilidade da argila fazem desse material um con-

vite a sua manipulação, despertando as potencialidades criadoras do ser humano.

Às vezes, são adicionados à argila outros elementos para se obter um material de

maior plasticidade, coesão e melhor cozimento.

As argilas muito plásticas, por encolherem bastante, tendem a apresentar

rachaduras na secagem e na queima, podendo ser acrescidas de chamote. O Cha-

mote pode ser obtido triturando a cerâmica ou queimando argila em pó, podendo

variar de granulometria de acordo com a necessidade. Por já ter sido queimado, não

encolhe mais, assim, ao ser adicionado a uma massa, reduz seu índice de retração

e aumenta sua resistência.

Nas obras de Mary Di Iorio realizadas na década de 80, podemos conferir a

preparação da massa cerâmica para dimensões amplas. Na composição da massa,

entraram: elementos plásticos (argila para baixa temperatura, adquirida na região

de Monte Carmelo; uma matéria-prima de fácil acesso e de boa qualidade, contendo

muito óxido de ferro); e o elemento antiplástico (o chamote grosso – argila calci-

nada). Nesse caso, a massa com chamote promove

maior resistência à peça, evitando certas deforma-

ções durante o processo de transformação da pasta

em cerâmica. A escolha do chamote grosso teve

como objetivo deixar a textura aparente (Fig. 34).

As experiências de manuseio da argila foram

numerosas em cada grupo social. Essa variação é

determinada a partir das incorporações de outros

elementos à matéria para obtenção de um material

Fig. 34: Mary Di Iorio. Preparação da massa com chamote.

Page 33: Ceramica.pdf

Matéria-prima 31

mais apropriado, determinando diversos saberes e fazeres. Pode-se definir uma massa

cerâmica como uma mistura de argilas e outras substâncias minerais, as quais são

balanceadas, dando origem as mais diversas classificações, para vários fins, numa

complexa nomenclatura: terracota, faiança, porcelana, refratários, etc., dependendo

da massa cerâmica preparada.

Após a preparação da massa, o próximo passo é escolher a consistência que

atuará sobre ela, devendo optar entre macia ou mole, dependendo de como vai dire-

cionar o trabalho: para modelagem ou para moldagem.

Ao optar pela modelagem, o ideal é a massa firme. O barro é amassado paciente-

mente, até obter uma massa uniforme, pastosa e macia. O amassamento do barro visa a

dar-lhe mais uniformidade, assim como a expulsar possíveis bolhas de ar no seu interior.

Durante esse processo, a massa precisa de mãos firmes e experientes para que

ela se torne coesa. Nessa ação, a matéria nos revela as nossas forças, sugerindo

nosso empenho. De fato, a mão que trabalha imprime à matéria uma dinâmica,

pois, nesse momento, há uma intimidade do sujeito com o material, um lento tra-

balho de amassadura, numa troca de energia.

Mas nem sempre encontramos uma massa homogênea para trabalhar, pode-

mos nos deparar com uma matéria um pouco dura, nesse caso, o ideal é amassá-la

num pano úmido; e quando estiver mole, com dificuldade no manuseio (grudando

na mão), é necessário utilizar materiais que possam contribuir para absorção da

água na massa: folhas de jornal ou placas de gesso.

Há várias formas de amassar o barro com as mãos, apresentaremos aqui dois

deles: usando as duas mãos agarradas na massa num contínuo movimento como

massa de pão ou com uma mão enrolando a massa em forma de caracol como

fazem os japoneses.

Como massa de pão: corte uma parte da argila com as mãos ou usando fio de

náilon. Sobre uma superfície lisa e seca (madeira, formica, granito) pressione com

as palmas das mãos de cima para baixo e de fora para dentro, rolando ligeiramente

para frente, fazendo uma força igual com ambas as mãos. Com os dedos, puxe a

massa para traz e repita o procedimento. A argila deve manter a forma cilíndrica,

evitando fazer buracos, para não formar novas bolhas (Figs. 35a e 35b).

Método oriental: este método consiste em amassar a argila em forma de espi-

ral. Coloque a mão dominante sobre a massa e a mão oposta em sua lateral. Com

a mão dominante faça uma leve pressão de cima para baixo e para frente, com a

outra mão gire a massa em direção ao seu corpo, formando um cone. Esse método

é mais difícil para os principiantes, mas pode ser dominado com um pouco de prá-

tica (Figs. 36a e 36b).

Fig. 35a e 35b: Amassando em forma de pão.

Page 34: Ceramica.pdf

32 Unidade 2

Fig. 36a e 36b: Amassando em forma de cone.

Em algumas situações, mais precisamente as Paneleiras de Goiabeiras do Espí-

rito Santo, o processo sofreu alteração, antes amassado em pequena quantidade

nas mãos, de forma lenta pelas mulheres, aos poucos, as misturas das argilas pas-

saram a ser feitas pelos homens com os pés nus, possibilitando a preparação de

uma grande quantidade de massa em pouco tempo e de forma homogênea (Fig. 37).

Após amassar o barro, levando em conta o estado da argila, em geral amorfa,

o trabalho do ceramista consiste em dar forma à matéria, iniciando-se a constru-

ção do objeto. Podemos definir três grupos técnicos para a construção de um objeto

cerâmico: modelagem, moldagem e torneamento. Estes procedimentos podem ser

conjugados, mas algumas técnicas carecem de matérias exatas que respondem às

necessidades de seus procedimentos como a moldagem.

Pigmentos naturais

As argilas que não são apropriadas para a modelagem não precisam ser descarta-

das de imediato, elas podem ser usadas como pigmento natural como terra sigillata

ou engobe para pintar uma peça crua. A forma de aplicação é a

mesma em ambos os casos.

A terra sigillata foi utilizada pelos gregos para decorar os

clássicos vasos com figuras-negras e figuras-vermelhas.

Trata-se de uma pintura feita com a parte mais fina da argila,

obtida através da separação das partículas por um processo de

suspensão e decantação, que, aplicado sobre a peça crua, após

a queima, apresenta um fino revestimento muito liso e quase

impermeável (Figs. 38a e 38b).

Hoje em dia, podemos improvisar a sua preparação, para

tanto, basta colocar a terra em uma garrafa pet com água, na

Fig. 37: Amassando com os pés.

Fig. 38a: Ânfora com pintura em figura-negra.Fig. 38b: Vaso com pintura em figura-vermelha.

Page 35: Ceramica.pdf

Matéria-prima 33

proporção de um terço de terra e dois terços de água. Essa mistura deve ser agi-

tada e depois deixada em repouso para que os diferentes materiais possam decan-

tar. Depois de aproximadamente dois dias será possível perceber através do plástico

as camadas separadas pela espessura dos grãos, ficando os mais pesados por baixo,

os mais finos por cima e no topo uma porção de água separada. Com o auxilio de

um estilete, faça um furo na garrafa no limite da água com a argila mais fina, de

forma que a água escoe sem sair a argila. Depois que a água escoar completamente

repita a operação no limite da argila mais fina com a argila mais grossa de forma

que a argila mais fina escorra pelo orifício. Esta é a terra sigillata.

Engobes são argilas líquidas usadas para pintar a superfície de outra argila crua,

resultando em cores opacas após a queima. É uma técnica muito antiga que con-

siste basicamente em se aplicar uma camada de argila líquida colorida, cobrindo

parcial ou totalmente a cor da argila da base.

Os engobes podem ter a cor natural da argila ou serem preparados, acrescen-

tando óxidos minerais ou corantes a uma argila preferencialmente de cor clara,

devido à interferência dos óxidos já existentes na argila. A quantidade de óxido

que se acrescenta a uma mistura depende da intensidade da cor que se deseja obter

e varia de óxido para óxido.

Acrescentando óxido de ferro a uma argila clara obteremos tons avermelhados;

com o manganês, tons de marrom, o óxido de cobalto resulta em azul e o cromo e

o cobre em uma variada gama de verdes. Podemos também combinar mais de um

óxido no mesmo engobe para produzir outras tonalidades. É importante ressal-

tar que o esquema de cores que aprendemos com o disco de Newton não funciona

na cerâmica, pois não estamos misturando pigmentos e sim minerais que irão se

relacionar através de reações químicas por intermédio do calor durante a queima.

São três os processos de aplicação do engobe; com o pincel, por imersão ou por

banho, no entanto, o mais indicado para os iniciantes é o pincel. O engobe deve ter

uma consistência fluida, como um iogurte de beber (Fig. 39a), e ser plicado em duas

ou três camadas com pincel macio, alternado a direção das pinceladas, esperando

secar entre as aplicações. Como a argila absorve rapidamente a água do engobe,

tenha cuidado para não molhar demais a peça, pois ela poderá aumentar rapida-

mente de volume e rachar (Fig. 39b).

A utilização do engobe é como se fosse um casamento entre duas argilas,

a argila líquida do engobe e a argila da base. Para que esse relacionamento dê

certo é fundamental que as duas argilas encolham de forma semelhante. Caso

uma encolha mais do que a outra, elas podem se desprender na hora da secagem

ou da queima, por isso se faz necessário a realização de testes antes da aplica-

ção nos trabalhos.

Fig. 39b: Aplicação do engobe com pincel.

Fig. 39a: Consistência do engobe.

Fig. 40: Aplicação de engobe com máscara.

Page 36: Ceramica.pdf

34 Unidade 2

A aplicação do engobe pode ser feita com pincéis macios ou com pistola. Durante

a aplicação, pode-se utilizar máscaras feitas de papel: um processo de isolar deter-

minadas áreas com papel e depois aplicar o engobe nas partes desejadas (Fig. 40).

Após a aplicação do engobe, pode-se optar pela técnica do Sgrafitto. Essa téc-

nica consiste em raspar o engobe, dessa forma aparecerá, nas linhas, que formam

os desenhos, a cor original da peça (Fig. 41).

Espaço de produção

A cerâmica demanda procedimentos, equipamentos, materiais e matérias-primas

específicos, por ter certos rigores e etapas na produção; com isso, requer um espaço

de trabalho determinado. Quando falamos de ateliê, estamos propondo ir além do

lugar de produção, procurando pensar como se dá a relação do ceramista com o

espaço, desde o momento em que pensa a obra, até a construção dos trabalhos.

Dependendo do que se deseja produzir, a montagem do ateliê pode ser sim-

ples ou envolver um número maior de equipamentos. Em geral, quando se fala de

um ateliê coletivo, o espaço deve ser amplo e arejado, de preferência com uma boa

ventilação, janelas que permitam a ventilação e portas largas. Se a ideia inicial for

apenas fazer modelagem à mão, é necessário mesas, banquinhos e prateleiras; mas

se incluir o uso do torno, a produção cresce, com isso, será preciso um número

maior de prateleiras para secagem das peças.

O espaço do forno vai depender da escolha do mesmo, mas, em geral, requer um

lugar adequado, separado do ambiente de produção, pois emana calor e, às vezes,

gases tóxicos, podendo ser prejudicial à saúde dos participantes.

A água corrente é fundamental para o trabalho, por isso, o espaço deve con-

ter tanques ou pias com caixa sifonada, para evitar que a argila impregne os enca-

namentos, podendo entupi-los. No livro “Cerâmica”, editado pelo Senac, as auto-

ras PENIDO; COSTA, propõem uma maneira simples de evitar o problema, caso já

tenha a instalação:

[...] deixar um balde dentro do tanque, embaixo da torneira. Perto da borda do balde, abre-se um buraco e nele coloca-se um tubo de PVC de cerca de 15 cen-tímetro, para escoar a água, como se fosse uma bica. Todo o material deve ser lavado sobre esse balde. A argila fica depositada no fundo e, periodicamente, é jogada fora (1999, p. 99).

Acreditamos que ao se ter um espaço adequado para o trabalho de artes dentro

das escolas, com equipamentos adequados, em especial o forno, seja um estimúlo

Fig. 41: Técnica do Sgrafitto.

Page 37: Ceramica.pdf

Matéria-prima 35

para o professor tanto na pesquisa pessoal quanto na introdução dessa linguagem

na sala de aula. A cerâmica, uma das primeiras experiências do homem, muito pre-

sente no cotidiano, é pouco trabalhada na escola em qualquer faixa etária. Quando

perguntamos o porquê de não desenvolverem atividades com argila, os professo-

res, em geral, justificam-se, alegando que não possuem um espaço adequado para

desenvolver as atividades artísticas. Com isso, muitos alunos deixam de exercitar

atividades ligadas ao tridimensional, sendo o desenho o principal meio de expres-

são plástica. Mas acreditamos que a mudança deve partir de nós, professores, pois

se nós propusermos a transformar o espaço da sala em um ambiente para atuar

com o básico, a matéria, permitiremos ampliar tanto as nossas experiências artísti-

cas quanto a dos alunos, ao mesmo tempo que plantaremos a semente da mudança

dentro da escola.

Nas imagens abaixo, pode-se observar como está organizada a sala de cerâ-

mica do Centro de Artes da UFES, como exemplo de distribuição e organização de

um espaço de ateliê de cerâmica (Fig. 42).

Fig. 42: Sala de cerâmica do Centro de Artes da UFES.

É importante esclarecer que alguns equipamentos devem ser instalados defini-

tivamente. Por essa razão, o ambiente deve ser pensado de forma a não interferir na

circulação, dos sujeitos, de modo a contemplar também os cuidados com segurança.

Os móveis como mesas, prateleiras, e outros materiais de fácil locomoção permitem

ser deslocados de lugar, criando um novo ambiente e circulações mais adequados

no espaço. Assim concebida a sala de cerâmica poderá se tornar um espaço onde

alunos possam vivenciar o ambiente de forma mais prazerosa.

Os materiais para se trabalhar com cerâmica, principalmente ferramentas e

matérias-primas utilizados na sala de artes, devem estar em lugares visíveis, para

criar um diálogo do meio com o grupo no momento da produção e, ao mesmo

tempo, passam a contribuir com a organização da sala no final de cada atividade.

Page 38: Ceramica.pdf

36 Unidade 2

Além da sala de aula, podemos pensar em espaços alternativos para o desen-

volvimento das atividades, como, por exemplo, o pátio, os corredores, enfim, a sala

de artes pode estar em outros espaços ditos não convencionais, cabe a nós profes-

sores sermos criativos e olharmos para o interior da escola e ver que existem outros

ambientes pouco utilizados e que podem ser aproveitados por nós.

Podemos concluir que é possível dialogar com diferentes espaços, na concep-

ção da obra, enquanto artistas, montando o próprio ateliê ou adaptando-o em casa,

ou, outros vezes, compartilhando o espaço onde atua como professor; uma prática

muito comum dos professores das universidades, como foi o caso de Mary Di Iorio

que, enquanto atuou como professora, conviveu com dois diferentes espaços de

produção (no ateliê/escritório montado em um dos cômodos de seu apartamento e

na Universidade, onde atuou como professora – UFU), espaço este que teve como

preocupação estruturar de forma ampla para futuras gerações (Fig. 43).

Fig. 43: Espaço da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Diferentemente de Di Iorio, Tostes foi mais longe, além de atuar como professora

na universidade (UFRJ), conquistando um amplo espaço para os alunos, desenvol-

veu projetos nas comunidades (Fig. 44a), aos poucos, esses espaços também foram

incorporados pela artista como possíveis espaços de pesquisa e de produção plástica

(Fig. 44b). Este último exemplo nos mostra que a escolha do material não está con-

dicionado ao lugar, mas ao prazer de se trabalhar com a matéria.

Ter nosso próprio espaço de experimentações permite-nos vivenciar etapas que

podem se tornar proposições em sala de aula, pois acreditamos que esta atitude pro-

picia-nos condições de nos tornarmos cada vez mais sensível ao novo; numa cons-

tante atuação como conhecedores daquilo que nos propomos desenvolver, como

um permanente pesquisador ou observador da ação do outro, num diálogo cons-

tante entre o fazer e a percepção.

Page 39: Ceramica.pdf

Matéria-prima 37

Ferramentas

Antes de apresentar o processo de modelagem, devemos apontar a importância

das ferramentas durante a construção do objeto, pois, em alguns casos, elas pas-

sam a funcionar como uma extensão do corpo, inteirando os efeitos técnicos da

mão humana.

Tomaremos emprestadas as palavras de Fischer (1983, p. 21-22), para mostrar

como a ferramenta é extensão da mão, cujo propósito é a utilização para o trabalho.

O homem tornou-se homem através da utilização de ferramentas. Ele se fez, se produziu a si mesmo, fazendo e produzindo ferramentas. A indagação quanto ao que teria existido antes, se o homem ou a ferramenta, é, portanto, pura-mente acadêmica. Não há ferramenta sem o homem, nem homem sem a ferra-menta: os dois passaram a existir simultaneamente e sempre se acharam indis-soluvelmente ligados um ao outro. Um organismo vivo com objetivos naturais e, por terem sido utilizados pelo trabalho humano, estes objetivos naturais tor-naram-se ferramentas.

No livro “O homem e a matéria”, Leroi-Gourhan (1984, p. 18), admite a incer-

teza de uma cronologia das ferramentas pré-históricas de acordo com a sua cons-

tituição. Segundo ele, “[...] é a matéria que condiciona todas as técnicas”. Devemos

lembrar que o homem foi elaborando as ferramentas para dinamizar o seu trabalho,

primeiro entre ele e a matéria, como prolongamento da mão, para, em seguida, alterar

o poder da própria ferramenta, com a criação de máquinas que agilizam o seu fazer.

Fig. 44a: Comunidade da Mangueira. Fig. 44b: Construção da obra Gesto Arcaico.

Page 40: Ceramica.pdf

38 Unidade 2

São muitas as ferramentas usadas pelos ceramistas, mas a escolha deve ser

feita de acordo com a experiência e a necessidade. As ferramentas para cerâmica

podem ser adquiridas em lojas especializadas ou criadas pelo próprio ceramista de

acordo com suas necessidades, podendo ser elaboradas a partir dos modelos encon-

trados em livros (Fig. 45a). É possível utilizar vários utensílios prontos, como, por

exemplo, aqueles encontrados na cozinha: facas, garfos, colheres e rolo de macar-

rão. Espátulas podem ser feitas com madeiras macias e esculpidas com estilete ou

faca. A serrinha de ferro pode ser dividida em duas partes e, com esmeril, fazer

duas boas faquinhas.

Fig. 45a: Ferramentas.

Outras ferramentas muito usadas pelos ceramistas são os desbastadores (Fig.

45b), encontrados no mercado em diversas formas, e que podem ser confecciona-

dos com o corpo de uma caneta esferográfica sem carga e um clipe, ou grampo de

cabelo, fixado, mediante o aquecimento do plástico e pressão do metal com um ali-

cate, ou com massa durepox.

Fig. 45b: Desbastadores.

Um pedaço de fio de náilon amarrado a duas tampinhas plásticas funciona

como cortador. Uma ponta seca pode ser feita com agulha de crochê ou com agu-

lha de bordar. Um cartão de crédito vencido pode ser usado para substituir as pla-

cas metálicas, tendo a função de alisar superfícies das peças. Tenha sempre a mão,

jornal, pano velho e esponja macia.

Page 41: Ceramica.pdf

Matéria-prima 39

Fig. 46: Torno elétrico.

Em geral, o ceramista organiza um espaço para guardar as ferramentas, de

forma a deixá-las disponíveis para o trabalho: faquinhas, plásticos, jornal, pano

bucha, lixa para madeira, rolo de macarrão ou cabo de vassoura, pares de ripas de

madeira com espessuras variadas, ponta seca, espátula, fio de náilon, desbastado-

res, pote de manteiga ou similar, seixo rolado, entre outros materiais que se fize-

rem necessários.

Outro instrumento muito utilizado pelo ceramista é o torno, que

surgiu com a invenção da roda. Este uniu ritmo e movimento, tor-

nando ágil a execução das peças e dando aprimoramento à forma.

Com esse instrumento, ganha-se tempo, agora determinado não

mais pela interação permanentemente física, mas pela velocidade da

máquina (Fig. 46). Para Bardi (1980, p. 14), “O momento mais notá-

vel da manufatura dar-se-á quando se passará e se dedicará sobre

um dos primeiríssimos modos maquinísticos: fazer a peça para, com

as mãos, modelá-la de forma homogênea e mais lisa”. Trataremos

desse instrumento, com mais detalhes, posteriormente; na apresen-

tação da técnica do torno.

Vamos focar nossos estudos nas técnicas de modelagem e tor-

neamento, por acreditar serem úteis para a introdução da cerâmica

no ensino-aprendizagem.

Page 42: Ceramica.pdf

40 Unidade 3

Page 43: Ceramica.pdf

Modelagem 41

Toda experiência estética supõe o desenvolvimento de técnicas. Em cerâmica, isso

é muito importante, pois amplia as nossas possibilidades de expressão, além facili-

tar a concretização da obra, de acordo com as necessidades do projeto poético em

curso. Qualquer falha técnica poderá acarretar em perdas de todo o trabalho pro-

posto antes mesmo de sua finalização.

Os processos de modelagem para a realização das peças de cerâmica são relati-

vamente simples, mas é necessário ter experiência para dominar as técnicas, podendo

ser adquirido com o trabalho ou pesquisa constante. Em geral, encontramos as téc-

nicas em livros de cerâmica, mostrando passo a passo, porém, com a convivência

com a matéria, exercitando as técnicas básicas, podemos observar que há meios de

criar novos procedimentos.

Estes procedimentos técnicos podem também ser passados de geração para

geração, onde o aprendizado se dá com o olhar, observando pessoas mais expe-

rientes na construção de suas peças. Um bom exemplo são as Paneleiras de Goia-

beiras, no qual as mais jovens têm sua iniciação com o polimento, e, durante esta

prática, vão observando a forma de fazer das mais velhas e, aos poucos, começam

a modelar pequenas panelas, e, quando se dão conta, estão atuando como pane-

leiras. É comum ouvir dessas mulheres: “eu aprendi com minha mãe que aprendeu

com a mãe dela”. Esta frase está diretamente relacionada com a convivência fami-

liar e o olhar como formas de aprendizado.

Outro ponto importante é experimentar a matéria para ver suas potencialida-

des, o que nos permite atuar sobre o material sem o conhecimento prévio de téc-

nicas, nesse caso, devemos utilizar pequenas quantidades de massa para ter maior

domínio sobre ela. As crianças, por exemplo, ao utilizarem pequenas porções de

barro, manipulam-nas experimentalmente, construindo de maneira intuitiva boli-

nhas, rolinhos, placas, tendo as mãos como ferramentas.

A modelagem não se resume a uma única técnica. Na verdade, são alguns pro-

cessos básicos, que, associados, irão proporcionar uma gama infinita de resultados;

considerando ainda o fato de a argila poder ser trabalhada em diferentes consistências.

As técnicas que vamos descrever, a seguir, de forma simples, são o resultado de

anos de experimentações e que acreditamos poder auxiliar nas atividades dos iniciantes.

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42 Unidade 3

Pote de aperto

O pote de aperto é um dos métodos mais antigos, que utiliza as mãos como ferra-

menta para produzir seus utensílios e panelas de barro. É uma técnica que conti-

nua sendo usada por alguns artesões, mesmo depois da descoberta do torno. Como

exemplo pode-se citar as Paneleiras de Goiabeiras, que mantêm a tradição dos seus

antepassados (Fig. 47).

Para termos um domínio maior sobre o processo de construção, devemos tra-

balhar com uma quantidade de matéria-prima que caiba entre as mãos. A maioria

das peças realizadas com esta técnica é circular, é muito possível que tenha sido

essa a forma mais simples do homem dominar o barro.

Apesar de ser um método primitivo, encontramos artistas que utilizam esta téc-

nica para desenvolver seus trabalhos. No livro “Terra, fogo, homem”, Nakano nos

demonstra como trabalha com essa técnica:

Descobri também uma maneira própria de trabalhar, em que partindo de um bloco de argila, faço uma perfuração central e vou abrindo a massa em vários sentidos até alcançar uma forma. Conservando a textura que naturalmente vai se formando no exterior, trabalho somente no interior da peça (1989, p. 38).

Este método nada mais é do que o barro apertado e manipulado entre os dedos.

Para iniciar, faça uma bola de argila que caiba confortavelmente entre suas mãos.

Nesse momento, as mãos trabalham juntas, cada uma desempenha uma função,

uma como apoio em forma de concha, a outra como ferramenta. O dedo polegar

perfura o centro da bola de argila, deixando uma espessura no fundo, que pode

variar de acordo com a quantidade de argila e, consequentemente, o tamanho da

peça. Aos poucos, os dedos da mão dominante vão pressionando no interior con-

tra a outra mão que está apoiada na parte externa, girando a peça. Esse movimento

irá abrir o diâmetro da forma.

O próximo movimento deve puxar a massa do fundo para a borda, aumen-

tando a altura da parede. Este movimento pode ser realizado, várias vezes, até che-

gar à espessura uniforme. Quanto mais fina a parede, mais delicada ficará a peça.

Em cerâmica, temos que trabalhar dentro de uma limitação de tempo, pois a

argila em contato com as mãos pode ressecar pela troca de calor do corpo com a

peça, resultando em trincas. Para ultrapassar essa limitação, permitindo-nos a rea-

lização do projeto, devemos lavar as mãos e secá-la, paralisando a troca de calor e

mantendo a umidade da matéria enquanto atuamos.

O acabamento fica a critério de cada ceramista, desde texturas até o alisamento

da peça, neste último caso, devemos umedecer o dedo no pano molhado e, em

Fig. 47: Paneleiras de Goiabeiras, 2010.

Page 45: Ceramica.pdf

Modelagem 43

seguida, passarmos na peça, até que o brilho da água desapareça. Nesse momento,

devemos tomar cuidado com o excesso de água, pois a peça pode absorvê-la, per-

dendo a forma.

A partir da descrição desse procedimento, propomos uma reflexão sobre o fazer

como experiência estética, como um encontro com a matéria, tendo como objetivo

o nascimento da obra (Figs. 48a, 48b e 48c).

Figs. 48a, 48b e 48c: Utilização do dedo como pote de aperto.

Rolinho

Apresentaremos a seguir uma técnica milenar utilizada por muitos artesões para

fazer suas vasilhas de barro, chamada de rolinho ou cordões, que consiste na sobre-

posição de rolinhos ligados uns aos outros com argila líquida e completando com

repuxamento, para cima e/ou para baixo, como uma costura, acompanhando a

forma desejada.

Esta técnica é muito utilizada pelas mulheres do Vale do Jequiti-

nhonha para a fabricação da cerâmica, denominada por elas de pro-

cesso de acordelado. O acordelado tem influência indígena brasileiras,

e hoje essas mulheres utilizam esta técnica para a construção de peças

utilitárias, como potes, utensílios domésticos e esculturas de grande

porte, construindo-as já ocas (Fig. 49). Dalglish apresenta o procedi-

mento: “... consiste na sobreposição de cordões de argila espiral, unidos

um ao outro com o auxílio dos dedos, e alisados com um sabugo de

milho ou pedaço de cuia para dar o acabamento final” (2006, p. 38).

Esta técnica foi bastante difundida, e ainda hoje encontramos com frequên-

cia ceramistas que se utilizam deste procedimento para construir suas peças. Pode-

mos aqui apresentar a artista plástica Nakano, que escolheu a cerâmica como meio

de expressão, utilizando os processos técnicos adquiridos pela pesquisa e contato

com outros ceramistas:

Fig. 49: Vale do Jequitinhonha.

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44 Unidade 3

Na maioria dos meus trabalhos, utilizo a técnica das cobrinhas, a mais antiga e rudimentar, sem a intervenção de ferramentas, utilizando apenas as mãos. Esse processo milenar, utilizado em todas as cerâmicas primitivas desde a pré-his-tória é ainda a mais conhecida. É a mais trabalhosa e demorada, pois são roli-nhos que vão se superpondo de acordo com a forma a ser dada, “costurados” (emendados e alisados), na sua parte interna e externa. Mas é essa a técnica que, segundo minha experiência, oferece as mais amplas possibilidades e a que mais coloca o homem em interação com a argila (1989, p. 37-38).

Materiais:

Argila;

1 base de madeira para apoiar a peça (pode usar o torno manual);

1 tecido;

1 faquinha;

Vasilhame para água;

Sacos plásticos;

Jornais;

Vidro, contendo barbotina da argila a ser utilizada;

Instrumentos para texturas.

Apresentaremos em partes cada etapa do processo:

Pegue uma pequena quantidade de argila e sobre uma superfície lisa pressione-

a levemente, rolando-a para frente e para traz, usando as palmas das mãos até as

pontas dos dedos. Deslize também as mão lateralmente do centro do rolinho para

as extremidades. A pressão exercida sobre a argila deve ser constante e homogê-

nea em ambas as mãos, caso contrário o rolinho tende a ficar achatado. Se isso

acontecer, basta bater levemente na parte mais larga para que ele volte ao formato

desejado (Fig. 50).

A base da peça pode ser feita usando um rolinho em forma de espiral, para se

obter uma superfície lisa, basta unir os rolinhos, usando uma faquinha ou uma esteca

de madeira. A base também pode ser feita com a técnica da placa (que veremos a

seguir) (Fig. 51).

A espessura dos rolinhos e da base dependerá do tamanho da peça. Quanto

maior e mais alta for a peça maior a espessura da base e dos rolinhos (Fig. 52).

Com a base da peça definida, poderemos começar a subir a parede. Com a

ponta de uma faca, faça pequenas ranhuras no contorno da base e do rolinho que

será usado. Com um pincel, passe barbotina2 sobre as ranhuras e coloque o rolinho

sobre a base, exercendo uma pequena, mas constante, pressão (Figs. 53a, 53b e 53c).

Fig. 50: Preparando a base com rolinho.

Fig. 51: Fazendo o rolinho.

Fig. 52: Construção da base para colocação do rolinho.

2. Barbotina é uma argila líquida utilizada como cola, que serve para unir duas ou mais partes de argilas ainda molhadas. Para prepará-la, basta diluir um pouco de argila em água (como se fosse

Page 47: Ceramica.pdf

Modelagem 45

Cole as pontas do rolinho com barbotina e com o auxilio da faquinha costure3

unindo as extremidades.

Para subir a parede, basta colocar um rolinho sobre o outro, usando barbo-

tina entre eles. Repita a operação até obter o tamanho desejado. Se os rolinhos

forem colocados gradativamente um sobre os outros, a peça crescerá, mantendo

o mesmo formato. Se pretende realizar peças grandes, deve-se aumentar a espes-

sura do rolinho e subi-la aos poucos, deixando a parte inferior ganhar resistência

para não desmoronar da parte que será construída. Para modificar a forma, basta

mover o rolinho um pouco para fora, (abrindo a forma) ou para dentro (fechando

a parede). Ao costurar os rolinhos, trabalhe com ambas as mãos, uma costurando

com a faquinha e a outra dando suporte no lado oposto da peça para que ela não

se deforme (Fig. 54).

Pode-se alisar toda a superfície interna e externa ou deixar uma ou até mesmo

ambas com o rolinho aparente, essa é uma escolha individual.

O rolinho pode ser utilizado também para fazer relevos na superfície da peça

ainda úmida, colocado na vertical, inclinado ou em espiral (Fig. 55).

Placa

Outra possibilidade é se trabalhar com o barro esticado de espessuras uniformes,

dando o nome de placa. Com está técnica, o ceramista pode construir formas das mais

diversas, desde as formas quadrangulares, cilíndricas, planares, ou mesmo formas

orgânicas, resultando em peças com espessuras uniforme e com um bom acabamento.

iogurte). É mais fácil deixar a argila secar e acrescentar um pouco de água até obter uma consistência pastosa. Caso não dê para esperar a argila secar pegue um pouco de argila mesmo que esteja molhada e acrescente um pouco de água e, com a ajuda de um pincel, dilua-a até que tenha a consistência desejada. 3. A expressão “costurar”, na cerâmica, significa utilizar a face da faca para puxar pequenas quantidades de argila de uma parte unindo-a à outra parte. É comum aos iniciantes usarem o corte da faca, riscando a argila ao invés de deslocá-la.

Fig. 53a: Barbotina na peça. Fig. 53b: Fixando o rolinho na peça. Fig. 53c: Costurando o rolinho na peça.

Fig. 54: Acabamento da peça.

Fig. 55: Posibilidades de montagens.

Page 48: Ceramica.pdf

46 Unidade 3

Materiais:

Argila;

2 pares de ripas de madeira (pode adquirir pares de diferentes espessuras);

Faquinha;

Vidro contendo barbotina da argila a ser utilizada;

Pincel de cerda dura;

Rolo de macarrão;

Pano;

Jornais;

Sacos plásticos;

Lixa de madeira nº 100;

Esponja macia;

Vasilha para colocar água.

Procedimentos técnicos:

Esta técnica consiste em abrir uma placa de argila e, em seguida, cortá-la, dobrá-

la, enrolá-la e colá-la como se fosse uma folha de papel, guardadas as devidas pro-

porções da espessura.

É sempre bom ter um projeto para nos guiar. Os protótipos de papel são muito

úteis nessa técnica, dessa maneira, você saberá o tamanho da placa e poderá dimen-

sionar também sua espessura (Fig. 56).

Sobre uma superfície plana estique um pano, ou jornal ou ainda um plástico

(de acordo com a consistência da argila) e, em seguida, coloque a argila previa-

mente amassada e aplane um pouco com a mão. Se lhe for possível, use um par de

ripas de madeira como guias para determinar a espessura da placa (se a peça for

pequena, use ripas mais finas; se for grande, use ripas mais espessas), coloque entre

elas a argila e com um rolo de macarrão (ou cabo de vassoura) abra a massa, come-

çando pelo meio da placa e vá nivelando-a aos poucos. Pode-se controlar a forma

da placa girando-a, mas sempre obedecendo à direção das ripas para manter a sua

espessura, fazendo-a crescer, assim, de acordo com suas necessidades. É importante

que você solte, de vez em quando, a argila do material de apoio (suporte) para faci-

litar a expansão da mesma (Figs. 57a e 57b).

Para constatar a existência de bolhas de ar na massa, deve-se, para tanto, pas-

sar sobre ela uma espátula umedecida. Caso se verifique um pequeno volume cons-

tatando a existência das bolhas, para eliminá-las basta usar uma ponta seca ou

mesmo a ponta de uma faca, abrindo-as e, em seguida, alise novamente o local,

observando se a bolha desapareceu; caso contrário, repita a operação. É impor-

tante alisar as duas faces da placa; para isso, utilize uma base de madeira forrada

Fig. 56: Fernanda de Abreu Passos.Projeto feito de papel. 2010/2.

Page 49: Ceramica.pdf

Modelagem 47

de jornal sobre o lado já alisado e introduza uma das mãos sob a placa, fazendo

uma alavanca e girando a mesma sobre a madeira.

Com a placa aberta e livre de bolhas, podemos começar a executar a peça. A

etapa seguinte é o corte da placa, a partir do modelo determinado. Ao cortá-la,

deve-se molhar a faca com água para a ferramenta não grudar na massa. Se a parte

a ser cortada for reta, pode-se utilizar uma régua para facilitar o trabalho (Fig. 58).

Fig. 57a e 57b: Abrindo a placa. Fig. 58: Partes.

Recorte todas as partes que compõe a peça, a base, e/ou a (as) paredes da mesma,

de acordo com seu projeto. Não se esqueça da espessura da placa, esta deve ser cal-

culada antes do corte (Fig. 59).

Fig. 59: Guias para espessuras de placas.

Apoie a base da peça sobre uma madeira, ou azulejo, revestido de jornal (isso

facilitará mover a peça), faça ranhuras nas partes que serão coladas e pincele barbo-

tina. Coloque a parede sobre a base com movimentos leves para evitar que amasse

a placa e a pressione ligeiramente. Em alguns casos, deve-se usar um rolinho na

junção interna das placas para reforçar a união das mesmas, costurando interna e

externamente. Repita a operação com todas as partes a serem coladas (Figs. 60a,

60b, 60c, 60d e 60e).

Page 50: Ceramica.pdf

48 Unidade 3

Ao término da construção, a peça deve ser submetida a uma secagem cuida-

dosa, à sombra, com uma cobertura plástica para que seque lentamente. Este pro-

cesso deve ser acompanhado, pois, dependendo da extensão da peça, a mesma pode

sofrer alterações como empeno ou rachadura.

Após a secagem, pode-se melhorar o acabamento da peça, utilizando, para isso,

uma lixa de madeira nº 100 e, em seguida, tirar-lhe o pó com pincel ou esponja.

A placa pode ser usada sobre diferentes superfícies como molde, até que a massa

fique firme ou dura. Como exemplo podemos citar: pratos, cumbucas, cascas de

árvores, etc. É importante pensar na sua retração durante a secagem para que esse

molde não impeça o seu encolhimento. Nem todos os objetos servem como molde.

Bloco

Com a técnica do bloco, você poderá criar escultura das mais diversas, como ana-

tomia humana, animal, forma abstrata, etc.

Os alunos iniciantes na cerâmica, muitas vezes, já manipularam a argila como

experimentos de modelagem. É importante lembrar aqui que existem modos dife-

rentes de se trabalhar com a argila, isso vai depender do objetivo do artista, ele

pode utilizar como fim a escultura, sendo a modelagem um meio para outros mate-

riais. Outra possibilidade é a escultura cerâmica, na qual a ação sobre a matéria

será outra. A forma deve estar vazia, portanto, as peças devem ser ocadas e con-

ter uma abertura para a passagem do ar contido no interior; caso contrário, a peça

pode estourar durante a queima.

Materiais:

Argila;

Torno de mesa;

1 Base de madeira para apoiar a peça;

Estecas ou desbastadores;

Espátulas;

Figs. 60a e 60b: Preparação das partes. Fig. 60c: União das partes com rolinho. Figs. 60d e 60e: Finalização da peça.

Page 51: Ceramica.pdf

Modelagem 49

Faquinha;

1 Saco plástico;

Fio de náilon;

Etapas de construção:

Pegue uma quantidade de argila, amasse-a bem para eliminar a bolhas de ar (como

já foi descrito nas páginas 31 e 32). Com os dedos, comece a pressionar a argila,

dando-lhe o formato que desejar. Umedeça os dedos ou a ferramenta que estiver

utilizando, mas nunca deixe que se forme lama na superfície da peça. A água serve

como lubrificante, mas se usada em demasia pode amolecer a peça, dificultando a

modelagem ou causando-lhe rachaduras.

Algumas peças para serem modeladas, por vezes, necessitam de uma estrutura

interna (em madeira, metal, isopor etc), essa deverá ser retirada do interior da peça antes

que ela seque, pois poderão causar trincas durante a secagem ou durante a queima.

Em alguns casos, pode ser usada uma estrutura de jornal; essa deverá permi-

tir que a peça encolha, nesse caso, não há a necessidade de retirá-la, pois a mesma

se transformará em cinza durante a queima.

Para se evitarem rachaduras durante a secagem deve-se ter alguns cuidados

durante a modelagem para que as partes mais finas, e consequentemente as que

perdem mais rapidamente a umidade, não sequem antes do restante da peça, evi-

tando rachaduras. Deve-se então usar pano umedecido ou plástico para protegê-las

enquanto modelamos as demais partes, sem que essas venham a secar.

Ao término da modelagem, a peça deverá ser ocada, ou seja, ter toda a argila

do seu interior retirada. Cada peça irá necessitar de uma forma de ocagem diferente,

por isso é importante se estudar cada caso previamente. Em alguns casos, pode-se

ocar a peça pela base, essa é a forma mais simples, basta virar a peça cuidadosa-

mente de cabeça para baixo, ou apóia-la lateralmente sobre uma superfície macia,

retirando a argila do seu interior com um desbatador4.

Existem formas que nos obrigam a seccionar parte da peça para que seja feita

a ocagem de forma homogênea por toda a sua extensão. A secção de uma peça

deve ser feita com a argila firme para não deformá-la, mas não tão dura para que

possa ser cortada e colada. Usando um fio de náilon, corte a peça em uma ou mais

partes. Estude bem antes de cortar para que você possa ocar toda extensão da peça

com o mínimo de secções possíveis (Figs. 61a e 61b).

Com o auxilio de um desbastador, retire aos poucos a argila do interior de

cada parte da peça, mantendo uma das mãos na parte externa trabalhada para se

4. Ferramenta constituída por um cabo de madeira ou plástico com um aro de ferro utilizado para retirar o excesso de argila do interior ou exterior das peças.

Page 52: Ceramica.pdf

50 Unidade 3

ter noção do quanto está sendo retirado, evitando, assim, que se fure a peça. Se

por acaso a peça for perfurada, passe barbotina no local e coloque a argila nova-

mente, faça uma pressão com os dedos e, se for preciso, costure-a com a faqui-

nha. Enquanto uma parte está sendo ocada o restante da peça deve estar protegida

com um pano úmido ou mesmo um plástico para que não seque demasiadamente.

A parede da peça deverá ter espessura uniforme ao longo de toda a peça, de

acordo com o seu tamanho. Nas peças pequenas, as paredes deverão ser mais finas

e em peças maiores as paredes deverão ser grossas (Figs. 62 e 63).

Após a retirada do excesso da argila do interior de cada parte, devemos remon-

tar a peça, colando as partes que foram seccionadas cada uma em seu devido lugar.

O processo de colagem é semelhante ao das outras técnicas; faça ranhuras nas par-

tes que irão se tocar, passe a barbotina e pressione levemente, costure com cautela

para não deformar a peça. Se na emenda surgir uma depressão, coloque um rolinho

Fig. 61b: Peça cortada. Fig. 62: Ocando a peça.

Fig. 64: Juntando as partes. Fig. 65: Costurando a junção. Fig. 66: Peça pronta.Fig. 63: Peça ocada, paredes uniformes.

Fig. 61a: Cortando a peça com o fio de náilon.

Page 53: Ceramica.pdf

Modelagem 51

para que a peça volte a ter o aspecto inicial. Vá colando cada parte com cuidado,

achando o ponto exato de encaixe, pressionando sem amassar e costurando muito

bem para que não se solte durante a secagem ou na queima (Figs. 64, 65 e 66).

Se a base da peça for fechada, lembre-se de que no interior da peça se for-

mou uma enorme bolha de ar e que precisará de um orifício para sair durante a

secagem e a queima, logo, devemos fazer um pequeno furo na base ou onde achar

mais conveniente.

Torno

As peças de cerâmica foram feitas completamente à mão por séculos, até que por

volta de 3000 a.C. o progresso das civilizações gerou a necessidade de se fabricar

um grande número de recipientes para o armazenamento de líquidos e alimentos,

propiciando, então, o surgimento e a evolução da roda de oleiro, uma das primei-

ras ferramentas mecânicas desenvolvidas pelo homem.

Hoje, já existem diferentes tipos de torno, que variam de acordo com o meca-

nismo impulsionador da roda e a posição do oleiro no momento do trabalho. Os tor-

nos mais antigos e mais simples são acionados a mão, onde o impulso é dado atra-

vés de um bastão que se encaixa em um orifício na roda, fazendo-a girar (Fig. 67).

Temos também o torno movido com um dos pés, que consiste em uma mesa

circular diretamente conectada por um eixo a uma roda, que o ceramista move dire-

tamente com o pé (Fig. 68).

O torno elétrico é a versão mais moderna da antiga roda de oleiro, trata-se de um

motor movido à eletricidade que faz girar o disco no qual a argila é torneada (Fig. 69).

Fig. 67: Torno de mão. Fig. 68: Torno a pedal. Fig. 69: Torno elétrico.

Por seu movimento circular, rotação, o torno é uma ferramenta que possibilita

a construção apenas de peças circulares, que podem ser alteradas pelo ceramista

depois de prontas, recortando-as, amassando-as ou colando novas partes.

Page 54: Ceramica.pdf

52 Unidade 3

Não há uma única maneira de se trabalhar com o torno, cada ceramista desen-

volve a sua própria forma de tornear, adaptando as posições das mãos, mas seguindo

um principio lógico, tudo gira em torno de um eixo central. Alguns tornos giram

para os dois lados, o mais indicado é que os destros usem o torno no sentido anti-

horário e os canhotos no sentido horário.

Vamos descrever aqui os procedimentos para a utilização de um torno que gira

no sentido anti-horário, assim, os canhotos devem inverter as indicações das mãos.

A melhor forma de aprender a tornear, além de se praticar, é observar as pes-

soas que já tenham um avançado domínio da técnica, para isso, temos sites de

vários ceramistas que apresentam sua experiência. Vamos traçar algumas diretri-

zes básicas das etapas a serem seguidas, pois somente a prática levará ao domí-

nio da técnica. É importante ressaltar que as etapas são sequenciais e pré-requi-

sito para a etapa seguinte.

São elas: colar a argila na base do torno, centralizar a massa, furar e em seguida

abrir a massa, subir a parede e, por fim, dar a forma da peça, retirando-a em seguida

do torno. Todo processo encontra-se registrado em um vídeo para compreensão

sequencial em movimento, das etapa apresentadas aqui.

Materiais:

Argila;

Torno;

Banco;

1 Vasilha com água;

1 Esponja macia;

1 Ponta seca;

1 Fio de náilon;

1 Espátula de metal ou de madeira (pode substituí-la por um cartão de banco vencido).

Etapas de torneamento:

Para começar a tornear, prepare uma bola de argila, bem amassada. O ideal para o

iniciante é que ela esteja macia e a quantidade caiba confortavelmente entre suas

mãos, à medida que for ganhando prática pode ir aumentando ou diminuindo a

quantidade de argila.

Com o torno desligado, bata com ambas as mãos na bola de argila com força

o mais próximo possível do centro do torno. Ligue o motor e acelere para girar o

disco. Ainda com as mãos secas, use o dedo indicador da mão direita para pres-

sionar levemente a base da argila, colando-a no disco do torno, impedindo que a

água deslize para entre a argila e o disco.

Page 55: Ceramica.pdf

Modelagem 53

Molhe as mãos. A partir de agora todos os movimentos devem ser realizados

com as mãos molhadas, pois a água servirá de lubrificante, impedindo que a argila

cole em suas mãos. Vamos fazer agora varias vezes a repetição de uma sequência

de movimentos, que tem como objetivo centralizar a argila e organizar suas partí-

culas. Esse movimento consiste em pressionar a massa, descendo-a contra a base e,

em seguida, subí-la, formando um cone. Para isso, pressione a mão direita sobre a

massa, fazendo um movimento vertical, empurrando a massa de cima para baixo,

simultaneamente. Com a mão esquerda, empurre para o centro, fazendo um movi-

mento horizontal para frente. A força de cima para baixo deve ser maior que a força

para frente permitindo assim que a argila desça (Fig. 70a, 70b e 70c).

Para subir, deslize a mão direita para o lado oposto ao da mão esquerda e pres-

sione uma contra a outra (usando as palmas das mãos), fazendo um movimento

com ambas as palmas de baixo para cima, puxando a argila e formando um cone.

Repita essa operação no mínimo três vezes, ou até conseguir centralizar a argila de

forma que, ao apoiar as mãos levemente sobre ela, esta não se movimente (Fig. 71).

Nunca deixe as mãos secarem, diminua a pressão das mãos, depois, desloque-

as lentamente e mergulhe-as na água todas as vezes que sentir que elas ressecam.

Todos os movimentos deverão ser suaves, tanto ao colocar como ao retirar as mãos

da massa. Use a espoja para enxugar o disco todas as vezes que molhar as mãos.

Com a argila centralizada, vamos agora furar a peça no centro. Uma das for-

mas de se furar é apoiar os polegares sobre a massa, deixando as mãos abraçarem

levemente a peça. Lentamente, vá pressionando os polegares para baixo, abrindo

um orifício central, até deixar uma espessura suficiente para o fundo da peça.

Outra forma de furar a peça é com a mão esquerda em volta da argila: for-

mando um “C” apoie a mão direita sobre a mão esquerda, descasando o dedo médio

sobre a massa até encontrar o centro. Pressione levemente o dedo para baixo, per-

furando o centro da argila. Desça até deixar uma espessura que irá ser o fundo da

peça (Figs. 72a e 72b).

Para abrir, mantenha a posição das mãos e puxe-as em direção ao seu corpo,

até atingir o diâmetro desejado. A ponta do dedo indicador deve fazer um movi-

mento paralelo ao disco, sem levantar ou afundar. Com o auxilio da esponja, enxu-

gue o interior da argila para que ela não amoleça (Fig. 73).

O próximo passo é levantar as paredes da peça. Para isso, as mãos trabalham

em cooperação: a mão esquerda posiciona-se na parte interna da peça, utilizando

o dedo médio ou o indicador para puxar a massa de forma ascendente, enquanto

a mão direita se posiciona na parte externa, acompanhando a esquerda, gerando

um movimento ascendente da base da peça para o alto. Os dedos devem estar sem-

pre alinhados. Para facilitar esse processo, tente tocar uma mão na outra com os

Page 56: Ceramica.pdf

54 Unidade 3

polegares para que a pressão exercida se torne constante e o movimento de subida

tenha uma velocidade também constante. Procure travar os braços no corpo ou nas

pernas para evitar que as mãos se desloquem para frente, acompanhando o movi-

mento da roda (Figs. 74a, 74b e 74c).

Para dar forma à peça, deve-se trabalhar alternando-se a pressão dos dedos. Se

o objetivo é abrir a peça, o dedo interno empurra levemente a parede da mesma e

o externo o acompanha. Para fechá-la, fazemos o inverso: o dedo externo que está

localizado no lado de fora empurra a peça e o dedo localizado no lado interno dimi-

nui a pressão. Os dedos também podem se deslocar ligeiramente para cima e para

baixo, levando em conta que o dedo que está abaixo empurra a peça, forçando a

massa para o lado oposto. Nesse momento, o uso de espátulas pode ser conveniente,

para auxiliar na forma. A velocidade de rotação do disco pode ir diminuindo a cada

etapa, chegando ao fim, bem lentamente, para facilitar a modelagem da forma e o

acabamento da borda (Fig. 75).

Se em alguma das etapas anteriores for encontrada uma bolha de ar, pare a

rotação do torno, fure a bolha com uma ponta seca e pressione a massa levemente

com a ponta do dedo e volte a tornear.

Antes de desligar o torno, use a espátula para raspar a junção entre a base da

peça e a do disco, melhorando o acabamento. Seque a peça com a esponja e desli-

gue o torno (Fig. 76). Segure cada ponta do náilon e o apoie no disco, esticando-

o, em seguida, deslize-o sob o prato para a retirada da peça pronta. Com as mãos

secas pegue delicadamente a peça pela base, levantando-a e apoiando-a sobre uma

base com jornal já preparado para recebe-la (Fig 77).

Fig. 70a, 70b e 70c: Centralizando a argila, subindo.

Page 57: Ceramica.pdf

Modelagem 55

Fig. 71a, 71b e 71c: Centralizando a argila, descendo.

Fig. 72b: Furando o centro da argila.

Fig. 74b: Subindo a parede da peça. Fig. 75: Definição da forma.

Fig. 76c: Acabamento da peça no torno.

Fig. 72a: Furando o centro.

Fig. 74a: Subindo a parede da peça. Fig. 73: Abrindo o diâmetro interno da peça.

Figs. 76a e 76b: Acabamento da peça no torno.

Fig. 77a e 77b: Retirando a peça do torno.

Page 58: Ceramica.pdf

56 Unidade 3

Acabamento

Independente das técnicas usadas, os trabalhos realizados com argila podem ser tra-

balhados com texturas das mais diversas. O acabamento não precisa ser necessa-

riamente uma superfície lisa, explore os materiais que estiver a sua volta, a argila

é um excelente corpo para imprimirmos objetos como rendas, sementes, cascas,

folhas, palitos, cabo de pincel e tudo mais que estiver ao seu alcance. Uma simples

textura pode contribuir para valorizar e personalizar uma obra.

Existe também a possibilidade de polir a superfície de uma peça, fechando os

poros para ganhar um leve brilho após a queima, como fazem as ceramistas do Vale

do Jequitinhonha e as paneleiras de Goiabeiras. Para isso, podemos usar um seixo

rolado, colher de metal ou mesmo plástico, polindo a peça quando esta se encon-

tra em ponto de couro5. Ao se friccionar a ferramenta sobre a superfície da peça,

esta adquire certo brilho, tornado-se impermeável, pois as partículas da argila se

juntam de maneira a vedar os poros, impedindo, assim, a passagem de líquidos.

Outra maneira de dar acabamento a uma peça já seca é lixar a sua superfície,

nesse caso, use lixa para madeira, as mais finas deixam as peças mais lisas; as mais

grossas deixam as peças um pouco mais ásperas.

Tempo de secagem

A modelagem pode ser realizada em alguns segundos ou levar dias para ser con-

cluída. Por isso é importante o ceramista compreender que trabalha com o fator

tempo e que precisa respeitá-lo, acompanhando todas as fases do processo cerâ-

mico. Acelerar, retardar ou pular uma etapa é uma questão delicada que poderá

comprometer o trabalho.

Vale lembrar que para mantermos uma peça úmida devemos envolvê-la em

uma embalagem plástica da mesma forma como acondicionamos a argila. Se a

peça inacabada estiver um pouco seca, dificultando a modelagem, coloque sobre

ela um pano umedecido e mantenha-a em um plástico, para que esta absorva parte

da água contida no pano e volte a ser maleável (tenha cuidado para não exagerar

com a água). Dessa forma, é possível trabalhar uma peça por vários dias ou até por

meses. É importante lembrar que o plástico para embalagem de peças que ainda não

foram terminadas e das massas cerâmicas (argilas) devem ser de boa qualidade e

5. Momento em que a argila está firme demais para se modelada, mas ainda contém umidade. Uma forma de saber se a argila está em ponto de couro é friccinar levente o dorso da unha sobre a peça, se produzir brilho é porque está em ponto de couro, se arranhar é porque já passou. O ponto de couro é o momento ideal para se dar o polimento nas peças.

Page 59: Ceramica.pdf

Modelagem 57

não podem ter furos. As sacolas de supermercado contêm na sua composição uma

certa quantidade de papel, logo, são porosas e deixam a umidade passar, não sendo

recomendadas para embalagem de peças e argilas, porém, são úteis para proteger

peças que necessitam secar lentamente.

A secagem é um momento delicado e não deve ser acelerado, expondo as peças

ao sol, nem a correntes fortes de ar. Reforçando o que já foi dito anteriormente, o

ideal é que as peças sequem lentamente à sombra; e se tiverem partes com espessu-

ras variadas recomenda-se cobri-las levemente com plástico para que as partes mais

finas não seguem muito mais rápido que as demais, evitando-se, assim, rachaduras.

Apresentamos aqui as diferentes possibilidades de trabalhar com a argila ou

massa cerâmica. É importante testar e ver com que técnicas você mais se identifi-

cou ou qual delas melhor se adaptará ao projeto desejado. Nesse momento, o diá-

logo com pessoas experientes pode contribuir para este próximo passo. Não existe

uma regra, muitas vezes, o projeto necessita de associações para facilitar a sua exe-

cução, uma técnica pode ser associada à outra ou até mesmo a outras.

Podemos começar um determinado objeto com a técnica do pote de aperto e

continuar com rolinho e/ou terminar com a placa. Podemos começar com a placa

e terminar com rolinhos, ou mesmos começar com o bloco e terminar com rolinho,

até mesmo peças feitas no torno podem se associar às demais técnicas.

Page 60: Ceramica.pdf
Page 61: Ceramica.pdf

O processo de criação na cerâmica 59

A partir de observações, pesquisas e contatos com alguns ceramistas, verificamos

que há diferentes atitudes dentro do processo de criação nessa linguagem, pois cada

artista escolhe um método de trabalho: alguns fazem opção por trabalhar direta-

mente com a matéria, sem um desenho prévio; enquanto para outros o desenho é

o meio de construir seu pensamento plástico; há também aqueles que estão sem-

pre atentos a outras possibilidades, como os restos, ou outros materiais para pen-

sar um novo trabalho.

Considerando essas observações, podemos apresentar cinco atitudes ou movi-

mentos da mente criadora ao longo do percurso de elaboração e produção das obras:

o barro: estudo e obra, que evidencia decisões tomadas durante o manuseio direto

da matéria e obra; o resíduo como possibilidade de obra, que busca compreender

como restos de um fazer podem tornar-se uma nova possibilidade de construção ou

um novo elemento da obra; o desenho como modo de construção do pensamento,

que engloba fazeres que são antecedidos por projetos que norteiam a construção da

obra; o quarto movimento que é determinado pelas interações de diferentes sujeitos

ou linguagens, definindo um diálogo com outros: sujeitos e linguagens; e o quinto

leva em conta a utilização de outros materiais como estudo de processo. Aponta-

mos essas cinco atitudes, mas isso não descarta outros processos que, no momento,

não foram identificados. Destacamos, também, que um mesmo artista, ao longo do

processo de uma obra, ou de um conjunto, pode manifestar interações desses movi-

mentos, pois o fazer da mente criadora é híbrido e, por que não dizer, mestiço? Ou

ainda podemos tomar as palavras de Bastide (apud PINHEIRO, 2004, p. 18):

Seria necessário, em lugar de conceitos rígidos, descobrir noções de certo modo líquidas, capazes de descrever fenômenos de fusão, de ebulição, de interpene-tração; noções que se modelariam conforme uma realidade viva, em perpétua transformação.

Barro: estudo e obra

Para alguns artistas que trabalham com o barro, esse material pode ser mais que

a matéria-prima escolhida para construir suas obras. Pode fazer parte do processo

de criação e mesmo suprimir os desenhos preparatórios. A partir da construção de

cada obra, o artista, ao se deparar com questões, vai tentando resolvê-las ao longo

do processo; ou ele pode exercitar-se utilizando a própria matéria, fazendo peque-

nas maquetes, o que lhe permite observar a forma, o volume, a cor e a textura ou

novas possibilidades.

Page 62: Ceramica.pdf

60 Unidade 4

Aqui, podemos destacar, ainda, duas atitudes com a matéria: na primeira, a

utilização da argila se dá em um processo contínuo, isto é, o artista parte da pró-

pria matéria até chegar à obra, num diálogo íntimo com o barro. Ele parte do seu

conhecimento e das experiências plásticas já realizadas e, ao introduzir o novo, ele

conta com o imprevisível; mas, aos poucos, vai buscando soluções para as ques-

tões que vão aparecendo. Nesse caso, o conhecimento técnico é muito importante,

pois, em geral, o volume vai surgindo das mãos experientes de cada artista. Pode-

mos aqui destacar Antônio Poteiro, Adel Souki, Shoko Suzuki e Máximo Soalheiro.

No caso de Antônio Poteiro, a sua profissão de fazer potes lhe proporcionou a

internalização de certos princípios básicos na construção do objeto artístico. Nesse

processo de trabalho, aprendeu a dominar os materiais e a transformá-los. Isso

envolve o conhecimento que o artista precisa ter para dele servir-se.

Em geral, os conhecimentos desses artistas foram adquiridos de maneira viven-

cial. Tanto o manuseio do barro como o contato constante com as técnicas de cons-

trução das peças foram importantes e decisivos para a construção de seus traba-

lhos plásticos. Resende (1996), ao introduzir o catálogo de Souki, fala do processo

dessa artista:

Tudo tem início no corpo-a-corpo do toque de mão sobre o barro inerte quando mutuamente a imprimem, dando forma à matéria bruta e informe. Dessa intimidade de gestos nascem idéias, revelam-se sonhos e descortinam-se possibilidades.

Já na segunda atitude com a matéria, podemos dizer que, em geral, são experi-

ências ou estudos em que a matéria é vivenciada ou manipulada para determinado

fim, mas, durante o processo, o artista pode perceber novas possibilidades plásti-

cas. Para essa situação, vamos apresentar experiências de Mariana Canepa, Celeida

Tostes e Katsuko Nakano.

Nas obras de Canepa realizadas em 2000, podemos notar que a artista traba-

lhou grandes esculturas, utilizando finas camadas de argila de diferentes colora-

ções, fruto de uma pesquisa realizada para trabalhos menores. A Figura 78 per-

mite-nos observar como a artista foi além das misturas das argilas, pois se nota no

objeto uma relação imagética com a própria matéria: solo, veios, troncos petrifi-

cados. Numa entrevista para a revista Neuva Cerámica (2001, p. 28), Canepa fala

de seus experimentos:

Los trabajos pequeños me sirven como laboratorio para comezar a planificar las piezas mayores. Fue precisamente haciendo piezas de bisuteria que fui investi-gando mezclas de arcillas y las posibilidades técnicas de cada pasta, rasgo dis-tintivo de mi trabajo hoy en dia.

Fig. 78: Mariana Canepa. Objeto, 2000.

Page 63: Ceramica.pdf

O processo de criação na cerâmica 61

Celeida Tostes também tinha necessidade de experimentar o material, ou cons-

truir maquetes, antes mesmo de executar as peças de grande porte. A artista estava

sempre atenta aos procedimentos, permitindo novos caminhos. Por exemplo, durante

a construção do protótipo da obra Muro, desenvolveu os estudos das massas, uti-

lizando pequenas placas com marcas, lembrando selos. Dessa experiência surgiu a

obra: Selos (Fig. 79). A artista comenta: “Pode-

mos ter uma intuição ou projeto inicial, mas

durante a realização dele vamos chegando a

outras questões que nos direcionam e promo-

vem o aparecimento de novas estruturas que

não havíamos imaginado antes” (TOSTES, apud

PINTO, 1992, p. 140). Podemos pensar aqui na

importância e no papel do acaso no projeto poé-

tico de Tostes.

Katsuko Nakano, em seu livro: Terra, fogo,

homem, relata como desenvolve seus trabalhos

num constante diálogo com a matéria:

Meus trabalhos não partem de projetos definidos anteriormente. Tenho o barro, uma técnica e às vezes uma idéia do tipo de coisa que quero fazer. Ela vai se definindo através do fazer durante o processo. Ou seja, vou fazer um trabalho com placas. Abro a massa, vejo-a, vou traçando, cortando, emendando, até que surja ou não surja alguma coisa. Da tensão entre as possibilidades e as limita-ções vamos descobrindo pequenas técnicas auxiliares: como colar, como secar, como fazer para não deformar... Assim, para mim, a forma é quase que um pre-texto para o fazer. Utilizei as diversas técnicas de modelagem, como diversos modos de me expressar através do barro. A minha expectativa é que dentro dessa diversidade haja algo que os una: minha própria expressão (1989, 99-101).

O desenho como modo de construção do pensamento

Podemos considerar que, entre os artistas, no caso de alguns ceramistas, o processo

de criação é acompanhado pelo registro de sua reflexão, o que pode ser feito em

diários, folhas avulsas ou cadernos, contendo desenhos e/ou anotações etc. Esses

materiais servem de base para seu processo criador. São registros do modo como

apreendem o mundo e fazem suas seleções, o que, de alguma forma, pode ser cole-

tado e levado para sua criação. Em geral, esse é o procedimento de artistas plásti-

cos que iniciaram sua formação no desenho e que, ao escolherem a cerâmica como

um meio de expressão, tomaram o desenho como um grande aliado no processo

Fig. 79: Celeida Tostes. Série: Selos, s/d.

Page 64: Ceramica.pdf

62 Unidade 4

Fig. 80c (acima): Miró. Desenhos preparatórios.

plástico. São indiciais dessa atitude, no cenário internacional: Picasso, Miró, Chagall,

dentre outros. Ao se interessarem pela cerâmica, passam a fazer estudos prelimina-

res, uma atitude muito comum dos escultores e pintores (Figs. 80a, 80b, 80c e 80d).

Fig. 80a: Pablo Picasso. Quatro estudos de cerâmica. Fig. 80b: Pablo Picasso. Cerâmica, 1947/8.

No Brasil, foco do nosso interesse, podemos apontar: Francisco

Brennand, Norma Grinberg, Hélio Siqueira e Mary Di Iorio, dentre

outros. Para esses artistas, o desenho funciona como uma ferramenta

para seus estudos, desde a forma, passando pela textura, o volume,

a cor e muitas vezes a estrutura de montagem. Mas a forma de tra-

balhar o desenho depende de artista para artista.

Podemos citar Hélio Siqueira (2000) que usa o desenho para duas

situações na cerâmica, ora para pensar as obras, ora para organizá-

las no espaço. O artista trabalha com um mesmo material, o nan-

quim preto, para as duas situações, porém, dá-lhes um o tratamento

diferenciado. Nos estudos das obras, ele trabalha a forma com refi-

namento, dando tratamento de luz e sombra por meio das hachu-

ras (Fig. 81a). Já nos estudos das instalações, os desenhos aparecem

soltos, na forma de esboços rápidos e precisos. Na verdade, os esbo-

ços que o artista faz são anotações, pensando a relação dos objetos

no espaço e entre eles, independente do espaço da galeria (Fig. 81b).

O desenho é a maneira que o artista encontrou para o registro

de suas idéias e funciona também como um arquivo pessoal man-

tido em álbuns e cadernos guardados em gavetas. Siqueira fala da

importância do desenho na sua produção plástica:

Encontro nele a âncora de sustentação para a livre criação nas artes plásticas […]. Se, no início da carreira, ele aparecia como forma autônoma, hoje ele aparece nas peças que são criadas Fig. 80d (abaixo): Miró.

Personagem. Cerâmica, 1945.

Page 65: Ceramica.pdf

O processo de criação na cerâmica 63

migrando ora para a cerâmica, ora para a pintura. Reconheço que o desenho é a forma de anotação rigorosa do instante e é através dele que registro minhas idéias, seja em inúmeros cadernos organizados, seja nas paredes/espaços que encontro ao alcance da mão (SIQUEIRA, 2000, p. 34-35).

6. Esta entrevista foi feita por Maria Regina Rodrigues no ateliê do artista para o estudo de doutorado, 2004.

Fig. 81a: Hélio Siqueira. Estudos para cerâmica. Nanquim sobre papel, 1996.

Fig. 81b: Hélio Siqueira. Estudos para instalação. Nanquim sobre papel, 1996.

Alguns artistas consideram esses estudos iniciais como parte indispensável do

processo de criação, sendo condição sem a qual não seria possível uma aproxima-

ção da ideia com sua materialização como imagem geradora.

Brennand, em entrevista6 realizada com o artista em 2003, revela-nos as dife-

rentes atitudes da pintura com relação à escultura: “Na pintura eu preciso ver, eu

sou como São Tomé, eu quero botar o dedo na chaga, eu preciso ver o modelo. Na

escultura, eu dispenso o modelo, eu imagino só, e desenho”. De acordo com Bren-

nand, um escultor pode improvisar, mas, no caso dele, não, tudo começa do dese-

nho, por considerar-se um pintor. Nessa mesma entrevista, o artista comenta: “Para

chegar a uma escultura, eu tenho certamente uma quantidade grande de desenhos

daquilo que pretendo fazer, você não esgota o assunto”.

Após selecionar os desenhos para suas esculturas, o artista encaminha para o

ateliê de cerâmica para serem construídos por artesões que, com suas experiências

na arte de modelar, reproduzem fielmente o desenho do artista, desde a forma até

a cor, enquanto o artista monitora a construção de cada peça.

Com o passar do tempo, de acordo com sua necessidade, o artista vai substi-

tuindo os materiais de desenho. Nos desenhos mais antigos, o artista trabalhou com

lápis preto ou monocromáticos como sanguínea ou azul (Fig. 82a e 82b); mas, ulti-

mamente, o artista vem desenvolvendo seus estudos com lápis de cor e lápis aqua-

relado e também utiliza bastões de cores aquareladas (Fig. 82c). O artista justifica:

“Quando quero fazer um desenho para cerâmica, eu já quero imaginar também a

cor, então, em geral, eu já quero trabalhar com elementos coloridos”.

Page 66: Ceramica.pdf

64 Unidade 4

Mary Di Iorio é outra artista que se enquadra nessa categoria.

Seu desenho foi sofrendo alterações nas anotações. Segundo ela,

antes da década de 80, o desenho parecia ser um exercício men-

tal desconectado de um projeto determinado: enquanto a artista

pensava, ia fazendo garatujas. No momento em que estava atribu-

lada com suas atividades acadêmicas: aulas, trabalho administra-

tivo, além do trabalho plástico, sentia necessidade de registrar suas

ideias, utilizando o desenho para pensar a forma, a textura, a cor

(Fig. 83a), e, até mesmo, a estrutura de montagem de suas obras no

espaço (Fig. 83b): “Foi aí, então, em termos de sentido de perda de

pensamento que eu comecei a desenhar para não perder” (Entrevista

realizada em 2002 para o desenvolvimento da Tese de Doutorado).

Assim, podemos observar que o desenho se presta para cada

artista de forma diferente, ora para pensar a forma, ora para definir

os passos para a construção da obra, até a cor e sua instalação no

espaço. Na verdade, o desenho vai além de um delimitador de for-

mas. Dependendo da necessidade do artista, ele é um meio de comu-

nicação para ele mesmo ou para outros que irão executar suas obras.

Fig. 82a: Francisco Brennand.Desenhos preparatório. Lápis sobre papel, s/d.

Fig. 82b: Francisco Brennand. Desenhos preparatórios. Sanguínea sobre papel, 1981.

Fig. 82c: Francisco Brennand.Pã. Lápis aquarelado sobre papel, 2001.

Fig. 83a: Mary Di Iorio. Desenho preparatório. Caneta Hidrocor colorida.

Fig. 83b: Mary Di Iorio. Desenho preparatório. Caneta Hidrocor preta s/ papel.

Page 67: Ceramica.pdf

O processo de criação na cerâmica 65

O resíduo como possibilidade de obra

Pode-se dizer que, quando o artista está em seu ateliê trabalhando, sua atenção

está voltada para a forma que quer alcançar, esquecendo muitas vezes de olhar à

sua volta, ou de perceber os resíduos que geralmente são descartados durante a

produção da obra. Mas, aqui, podemos pontuar a possibilidade de o resíduo fazer

parte do trabalho plástico do artista.

É importante observar que, em geral, o artista só percebe esses resíduos quando

está numa situação de observador, como podemos notar no depoimento de Norma

Grinberg (1999, p. 37):

O resíduo, como uma possibilidade de ação, surgiu num workshop, ao traba-lhar com participantes. O tempo reduzido para se dedicar à própria atividade e a necessidade de orientar e estar atenta ao grupo levaram a um olhar e a uma percepção distintas […]. Aí, até o resíduo ganhou uma função. Já não era mais resto, mas a matéria-prima para um trabalho.

A partir daí, a artista passa a observar também os resíduos do seu

ateliê, e, com eles, elaborar novos projetos, como podemos observar

na Figura 84.

O mesmo ocorreu na UFES, em 1999, quando trabalhávamos com

os alunos, orientando na técnica do torno. Como os alunos ainda não

tinham domínio da técnica, as peças ficavam com as bordas inrregu-

lares. Nesse caso, passamos a interferir na construção da peça, reti-

rando um anel de argila, cortando do topo da peça, com a ponta seca,

enquanto o torno rodava, para manter a peça o mais uniforme possí-

vel. Durante algum tempo, observamos aqueles anéis secando ao lado

dos trabalhos dos alunos. Vimos ali um material expressivo de exce-

lente qualidade plástica. Os anéis foram se multiplicando e, mais tarde,

vimos a possibilidade de, com eles, construímos uma obra, passando

de resíduos para inúmeras peças de cores e tamanhos variados. Para

concluir a obra, montamos um grande varal com centenas de peças

penduradas, intitulado Em torno de… (Fig. 85).

Nas duas situações, podemos observar que os artistas, em determi-

nado momento, exploram os resíduos encontrados, mas também dialo-

gam com o imprevisível, o acaso.

Quando ocorrem, os acasos nos revelam a existência, por assim dizer, de analogias ocultas entre fenômenos. Sua descoberta pode nos surpreender num primeiro instante, mas ela assume

Fig. 85: Regina Rodrigues. Em torno de... Cerâmica e aço inox, 2000.

Fig. 84: Norma Grinberg. Instáveis, 2004.

Page 68: Ceramica.pdf

66 Unidade 4

imediatamente a forma de uma nova lógica, de um novo modo de entender as coisas. Assim os acasos iluminam espaços vivenciais que se abrem à nossa mente e, à medida em que os ocupamos, o mundo vai se ampliando para nós (OSTROWER, 1990, p. 7).

É nesse processo que o artista percebe a possibilidade de atuar, quando propõe

desenvolver uma obra a partir do material que lhe chama a atenção. O fato de o

artista estar como observador do processo do outro, ou melhor, atento para o que

pode acontecer ao seu redor, faz com que ele reflita sobre o seu próprio processo,

permitindo-lhe, muitas vezes, variar ou tomar outros percursos, temporários ou

não, o que o faz, evitar a rotina e a mecanicidade, colocando-o em situação propí-

cia para novas tentativas que originam descobertas inesperadas.

Diálogo com outras linguagens

Vamos apresentar aqui alguns artistas que, além da cerâmica, trabalham com outra

linguagem plástica.

Que maravilha época a nossa, quando os maiores pintores gostam de se tornar ceramistas e oleiros! Ei-los, pois, que põem a cozer as cores. Com o fogo fazem luz. Aprendem química com os olhos; querem que a matéria reaja para o pra-zer de ver. Adivinham o esmalte quando a matéria ainda está mole, quando está ainda um pouco descorada, fracamente brilhante (BACHELARD, 1986, p. 24).

Há artistas que buscam dialogar com outras linguagens, intercambiando expe-

riências. Nessa situação, podemos citar vários deles, como Antônio Poteiro, Miguel

dos Santos, Carlos Farjardo e Júlio Tigre.

No caso de Antônio Poteiro, após anos dedicando-se somente à escultura em

Fig. 86b: Antônio Poteiro. Subida da fé.Fig. 86a: Antônio Poteiro.Cristo e os homens.

barro, na décade de 70 ele é incenti-

vado por Siron Franco, em Goiânia, a

iniciar-se na pintura – uma linguagem

que Poteiro trabalha até hoje paralela-

mente à cerâmica. É importante observar

que, na pintura, Poterio não apresenta o

mesmo desembaraço que tem no manejo

do barro, mas usa seus conhecimentos

da cerâmica para atuar na pintura; por

exemplo, às vezes, pinta usando pincéis

com as duas mãos, uma atitude que vem

Page 69: Ceramica.pdf

O processo de criação na cerâmica 67

da atividade de tornear; trabalha por camadas, tinta sobre tinta e com ornamentos,

o mesmo ocorre na modelagem, utilizando camadas, formando figuras frontais em

relevo e ornamentadas (Figs. 86a e 86b).

Júlio Tigre, um artista mineiro radicado em Vitória, ES, procura conhecer os

materiais para desenvolver seu projeto plástico. Dentre a infinidade de experi-

mentações, podemos citar o trabalho da escrita que, durante algum tempo, foi seu

objeto de pesquisa. O gesto era seu principal foco, para isso trabalhou com dife-

rentes materiais como o lápis sobre a parede, a serigrafia sobre o tecido (Fig. 87a),

a terra (como pigmento) sobre a madeira. Quando utilizou a cera de lacre (Fig. 87b)

para uma grafia de anotações suspensas em páginas a serem vistas de frente e de

costas; olhando por trás da forma inversa como foram executadas, elas passaram a

ser autônomas; a referência da escrita tornou-se cada vez mais diluída. Com isso,

o artista escolheu a cerâmica como um material para encontrar a resistência não

apresentada na cera (Fig. 87c). Nesse caso, a cerâmica é mais um meio de expres-

são plástica para o artista. Na entrevista realizada com o artista, em 2004, para a

tese de doutorado da autora deste, Tigre fala de como se relaciona com os mate-

riais: “Não há limites no que diz respeito ao uso de materiais específicos, mas uma

proliferação de matérias tantas quantas caiam no ar da graça de estarem ali para

se ver e experimentar […]”.

Podemos concluir que, em geral, o artista busca suporte técnico com o cera-

mista para desenvolver suas experiências, podendo, muitas vezes, ser um desafio

para aqueles que estão condicionados ao fazer técnico, podendo, nesse momento,

abrir seus horizontes.

Fig. 87a: Júlio Tigre.Sem título. Serigrafia sobre o lenço, 1996.

Fig. 87b: Júlio Tigre. Souvenir. Cera de lacre, 1996. Fig. 87c: Júlio Tigre.Sem título, Cerâmica, 1997.

Page 70: Ceramica.pdf

68 Unidade 4

A utilização de outros materiais como estudo de processo

Esta é mais uma possibilidade de trabalhar o projeto poético para a construção

das obras em cerâmica, sem necessariamente utilizar o desenho ou mesmo a argila

como estudo.

Ao se pesquisar as possibilidades poéticas dos artistas apresentados, fica claro

a importância do desenho no processo ou mesmo uma vivência com a matéria, a

ponto de subverter as técnicas. Porém, quando atuamos no ensino como orienta-

dor e pesquisador, observamos as dificuldades apresentadas pelos alunos em sala

de aula quando se veem diante de uma proposta de projeto poético, pois sabemos

que mesmo fazendo várias disciplinas de desenho, nem todos os alunos tem domí-

nio, a ponto de elaborar suas ideias de objetos tridimensionais no plano e, muito

menos, o domínio do barro para desenvolver um protótipo.

A partir dessas observações, deixamos em aberto a apresentação de seus pro-

jetos, e a possibilidade de usarem suas experiências, desde o rascunho, passando

por fotos, até a utilização de outros materiais disponíveis no seu cotidiano (papel,

plástico, papelão, espuma, etc.). Essa abertura possibilitou um diálogo na sala de

aula de forma positiva e menos traumática na apresentação de suas ideias. Apre-

sentaremos, aqui, alguns estudos de alunos do período de 2010/02 da disciplina

Cerâmica, do Curso de Artes Visuais presencial da UFES. Dentre uma infinidade de

estudos propostos em sala de aula, selecionamos estudos nos quais os alunos esco-

lheram materiais não convencionais para pensar a obra. Nos estudos da aluna Bruna

Santos Silva, foram escolhidos espumas de embalagem (Figs. 88a, 88b e 88c); e

nos do aluno Eliomar Louzada, papéis de revista, montando o trabalho em papel e,

mais tarde, utilizando-o como molde da construção da peça (Figs. 89a, 89b e 89c).

Fig. 88a: Bruna Santos Silva.Estudo com espuma branca.

Fig. 88b: Bruna Santos Silva.Estudo com espuma branca.

Fig. 88c: Bruna Santos Silva.Estudo com espuma preta.

Page 71: Ceramica.pdf

O processo de criação na cerâmica 69

Nessa unidade, apresentamos aqui cinco métodos de trabalho, os quais cha-

mamos de cinco atitudes ou movimentos da mente criadora. Vale ressaltar, que

não são regras e podem ocorrer muitas vezes de forma simultânea, pois, conside-

rando o processo de criação como fenômeno comunicativo e, como tal, possuidor

de uma interface cultural, pode-se pensar no contraste da interação do ceramista

com o tempo e espaço histórico e socialmente construído. Isso parece ser suficiente

para pensarmos que seu processo de criação é constantemente contaminado por

ruídos da criação de outros. Também cabe ver que o desenvolvimento de uma pes-

soa jamais se dá de modo linear.

O processo é dinâmico e ocorre em múltiplos níveis, que interagem e se influen-

ciam reciprocamente. Por isso, destacamos algumas atitudes ou movimento da mente

criadora ao longo do percurso de elaboração e produção das obras, pois seria pra-

ticamente impossível perceber e analisar toda diversidade do fazer originado dessa

aproximação com a cerâmica.

Fig. 89a: Eliomar LouzadaEstudo com papel de revista.

Fig. 89b: Eliomar LouzadaEstudo com papel de revista.

Fig. 89c: Eliomar LouzadaUtilização do molde para a construção da peça.

Page 72: Ceramica.pdf

70 Unidade 5

Page 73: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 71

Nas unidades anteriores, o barro foi o elemento principal na ação do homem como

possibilidade de manipulação da matéria argila e das técnicas básicas de modelagem

para a construção de objetos. Para definirmos um objeto como cerâmica é necessá-

rio que o fogo atue como agente; é ele que realiza o rito de passagem, como cata-

lisador do esforço aplicado na obra, dando-lhe uma resistência.

Não só o elemento fogo, vem cooperar para a constituição de uma matéria que já reuniu os sonhos elementares da terra e da água, mas também, com o fogo, é o tempo que vem individualizar fortemente a matéria [...]. O cozimento é assim um grande devir material, um devir que vai da polidez ao dourado, da massa à crosta. Tem um começo e um fim como um gesto humano (BACHE-LARD, 1991, p. 69).

É esse domínio do fogo que define a história da cerâmica, permitindo ao homem

fazer vasilhas duras e resistentes, sem que se desintegrem na água. Existem várias

teorias sobre como essa relação teria se desenvolvido, até que o homem fosse capaz

de tornar o barro duro como pedra e não mais sujeito a desfazer-se. Segundo Pil-

legi (1958), não se pode determinar quando começou a ser empregado o método

do fogo para o endurecimento da louça de barro, mas presume-se que isso tenha

acontecido acidentalmente. Chavarria (2004, p. 56) fala do aprendizado do homem

com o fogo: “O homem, depois de aprender a dominar o fogo, que utilizava para

cozer os alimentos e como fonte de calor, terá certamente observado que os reci-

pientes de argila seca que havia modelado endureciam quando se encontravam

perto das chamas”.

Essa capacidade do fogo de transformar materiais da natureza determinou pro-

cedimentos e tecnologias que possibilitaram ao homem certo domínio sobre as for-

ças da natureza. De acordo com Bardi (1989, p. 8): “As artes do fogo, que reduzem

às mais variadas coisas, os minerais que as entranhas da terra oferecem (metais,

barro, areia e quantos outros ingredientes que, direta ou indiretamente, servem para

moldá-los), são as artes primeiras e fundamentais”.

Como já foi dito, o papel principal da queima é exercido pelo fogo, mas cabe

ao homem dar o equilíbrio a esse procedimento. Dentro da necessidade de man-

ter o fogo sobre a matéria, o homem foi experimentando vários tipos de queima, a

princípio, com as fogueiras a céu aberto, um sistema utilizado até hoje por alguns

ceramistas populares como as Paneleiras de Goiabeiras (Fig. 90), ES, e, de acordo

com a necessidade, o homem procurou meios de concentrá-lo, criando, então, for-

nos de formas e tipos variados, os quais passaram a ter compartimentos de maiores

ou menores dimensões, com capacidade para reter calor em diferentes temperaturas,

Page 74: Ceramica.pdf

72 Unidade 5

dependendo de suas necessidades, chegando até

1300ºC, além de definir o tipo de atmosfera –

redutora e/ou oxidante, obtendo-se resultados

diferentes para cada escolha.

A queima de cerâmica sofreu diferentes alte-

rações ao longo do tempo. Apresentaremos aqui

alguns fornos primitivos e atuais, e também os for-

nos alternativos, experimentais, desenvolvidos por

ceramistas de ateliê e suas variadas temperaturas.

Uma das particularidades aprendidas com o universo da cerâmica da qual deve-

mos sempre nos lembrar é a espera. A argila tem seu tempo de secagem, a hora

certa em que está pronta para ser submetida ao fogo. Esse tempo deve ser respei-

tado, não importando se o artista tem ou não pressa em finalizar a peça.

Outro ponto importante, que já foi abordado na Unidade 2, está relacionado à

preparação da massa, devemos cuidar para que seja bem amassada, permitindo, assim,

a retirada completa das bolhas de ar, pois durante o processo de queima a argila dimi-

nui de tamanho com o calor, o ar se expande com o aumento da temperatura, for-

mando duas forças opostas, argila para dentro e o ar para fora. Caso esses cuidados

não sejam observados com cautela, principalmente porque o espaço que o ar ocu-

pava diminuiu, o ar romperá a parede da peça para sair provocando uma rachadura,

a quebra de uma parte da peça ou ainda uma explosão, capaz de destruir por com-

pleto o objeto modelado, podendo até danificar outros objetos que estejam próximos.

Para quem deseja envolver-se com a cerâmica, conhecer o processo de queima

é fundamental, pois é através do cozimento que a argila adquire dureza e se torna

irreversível. Para isso, é necessário entender como se dá a transformação da argila

em cerâmica para que possamos controlar a queima.

Durante o processo de queima, a peça é submetida a uma série de transforma-

ções físicas e químicas. Vamos aqui apresentar as principais etapas de transforma-

ção da matéria, de acordo com cada temperatura.

A 1ª etapa da queima é chamada de esquente. Nela a velocidade de aqueci-

mento deve ser lenta, não ultrapassando 100ºC na primeira hora, pois as peças secas

à temperatura ambiente ainda contêm certa umidade, que só será eliminada com o

aquecimento. Se a temperatura subir rapidamente as peças podem estourar devido

a expansão da água em evaporação.

De 100ºC a 350ºC ocorrerão reações que eliminarão a água química que faz

parte da molécula de argila (2 moléculas de sílica + 1 de alumina e 2 de água). A

velocidade de queima não deve ser superior a 100°C/hora, pois as peças ainda cor-

rem risco de explodir.

Fig. 90: Foto da Fogueira a céu aberto das Paneleiras de Goiabeiras, ES.

Page 75: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 73

Ao atingir 573°C ocorre uma reação química chamada inversão da sílica, pro-

cesso irreversível de mudança na estrutura cristalina. Nesse momento, a argila passa

a se chamar cerâmica, pois não se dilui mais com a água. A maior parte das peças

que saem rachadas do forno muito provavelmente trincaram nessa temperatura,

mesmo quando a rachadura só aparece depois de uma segunda queima.

A partir dos 600 graus, a velocidade de subida da temperatura pode aumentar

para 150ºC/hora, mas deve se levar em conta o carregamento e a estrutura do forno.

Também deve se observar as características das peças que estão sendo queimadas.

A temperatura final depende do resultado que se pretende alcançar e das par-

ticularidades de cada massa. É interessante se fazer um patamar, mantendo a tem-

peratura final de 30 a 50 minutos, para que o calor se distribua uniformemente no

interior do forno, atingindo assim todas as peças.

É muito importante ter conhecimento prévio da massa que utilizaremos na hora

da queima para se evitar imprevistos, pois cada massa tem um ponto de maturação,

também chamado de sinterização, momento em que atinge sua maior dureza, e o

ponto de fusão, momento em que o corpo cerâmico começa a se fundir, tornando-

se liquido, podendo danificar o forno e as outras peças.

O resfriamento também é uma etapa bastante importante da finalização da

queima. Deve-se proceder de forma lenta e natural para que não ocorram danos, pois

se a peça for resfriada muito rapidamente e se a massa não foi preparada para este

tipo de processo, pode provocar trincas na peça, em decorrência do choque térmico.

No final do cozimento, constata-se uma diminuição da peça, um encolhimento

de mais ou menos 10% em seu volume.

Podem-se realizar várias queimas numa única peça, isso vai depender do obje-

tivo que se queira alcançar. A primeira, quando a argila se transforma em cerâmica,

é chamada de biscoito, podendo atingir uma temperatura de 800 a 980ºC, deixando

a peça porosa para receber uma camada de esmalte e retornar novamente ao forno

para sua vitrificação.

Em cada tipo de forno, principalmente os fornos elétricos, encontramos um

medidor de temperatura denominado pirômetro, por meio do qual se pode observar

e ao mesmo tempo controlar cada etapa da queima apresentada acima. Esse con-

trolador trata-se de um instrumento para medir a temperatura no interior do forno,

para que o ceramista possa observar cada mudança ocorrida no mesmo. Atualmente,

são usuais os pirômetros eletrônicos com sistema de leitura digital. Além do pirô-

metro, o ceramista pode contar com outra ferramenta, o cone pirométrico (Fig. 91).

7. Também denominado processador de temperatura com programa digital para controlar o tempo de aquecimento e o grau de temperatura. Pode também manter fixo determinado valor térmico (patamar).

Fig. 91: Pirômetro eletrônico.7

Page 76: Ceramica.pdf

74 Unidade 5

A utilização de cones pirométricos permite conhe-

cer com exatidão não apenas a temperatura do forno,

como também a relação temperatura-tempo. Trata-

se de um medidor descartável que serve para tirar as

dúvidas do ceramista quanto à exatidão da tempera-

tura, ou para forno que não possuem medidor; nesse

caso, ele deve ser colocado no interior do mesmo, de

modo que se possa ver através da vigia (orifício) e

observar quando se curva.

Os cones pirométricos têm uma forma triangu-

lar (piramidal) e apresenta a numeração sobre uma

de suas faces, seguindo uma tabela, de acordo com

o fabricante: Cones Seger (Europa) ou Cones Orton

(América). Apresentaremos aqui as duas tabelas de

cones, com indicações do número de referência e equi-

valências de temperaturas em graus centígrados (Fig.

92). É importante lembrar que os ceramistas popula-

res não usam esses instrumentos para medir a tem-

peratura; em geral, observam o tempo de queima e

coloração da chama.

Os cones são fabricados

com materiais cerâmicos, cal-

culados para se dobrarem a

uma determinada tempera-

tura/tempo. Enquanto a ex-

tremidade superior do cone

não tocar a base não se atin-

gi a temperatura, se tocar na

base, é porque atingiu a tem-

peratura desejada e se o cone

passou da curvatura é por-

que ultrapassou a tempera-

tura indicada8.

8. Os cones pirométricos são feitos de uma mistura de materiais cerâmicos, dobrando-se ao alcançar uma temperatura determinada.9. É conveniente usar três cones de números correlativos.

Cones Seger Cones Orton

Nº Temperatura ºC Temperatura ºC Temperatura ºF

022 600 600 1112

021 650 614 1137

020 670 635 1175

019 690 683 1261

018 710 717 1323

017 730 747 1377

016 750 792 1458

015a 790 804 1479

014a 815 838 1540

013a 835 852 1566

012a 855 884 1623

011a 880 894 1641

010a 900 894 1641

09a 920 923 1693

08a 940 955 1751

07a 960 984 1803

06a 980 999 1830

05a 1000 1046 1915

04a 1020 1060 1940

03a 1040 1101 2014

02a 1060 1120 2048

01a 1080 1137 2079

1a 1100 1154 2109

2a 1120 1162 2124

3a 1140 1168 2134

4a 1160 1186 2167

5a 1180 1196 2185

6a 1200 1222 2232

7 1230 1240 2264

8 1250 1263 2305

9 1280 1280 2336

10 1300 1305 2381

11 1320 1315 2399

12 1350 1326 2419

13 1380 1346 2455

14 1410 1366 2491

15 1435 1431 2608

Fig. 92: Tabela de cones Seger e Orton.

Fig. 93: Cones pirométricos9.

Page 77: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 75

Tipos de queimas

Apresentaremos aqui de maneira sucinta alguns tipos de queima, mas é importante

lembrar as pessoas que se interessam em construir o seu próprio forno, a importân-

cia da pesquisa. É fundamental, pois, hoje, encontramos vasta referência sobre o

assunto, possibilitando aos interessados aprofundar-se, para que possam construir

um forno com qualidade e segurança, além de compreenderem como o fogo atu-

ará no interior do mesmo para, assim, controlar sua ação. De acordo com as pala-

vras de Nakano (1989, p. 107): “A Terra é bastante sensível ao Fogo e ao Ar. O pri-

meiro encontro da Terra com o Fogo dentro do forno requer cuidados especiais. A

ação violenta do Fogo faz a peça explodir.”

Fogueira: esse sistema de queima é um dos mais

antigos e é feito a céu aberto, geralmente durante

o dia. O combustível utilizado é a lenha e a dura-

ção da queima é curta. As Paneleiras de Goiabeiras

organizam suas peças sempre com a abertura vol-

tada para baixo sobre uma cama de madeira e as

cobrem com pedaços de lenha de várias espessuras.

O fogo é colocado aos poucos, pois o controle do

processo se detém na coloração que o objeto adquire

diretamente em contato com o fogo, indicando o

momento de ser retirado (Fig. 94).

Para esta queima, faz-se necessário a utili-

zação de uma massa produzida especificamente

para queima rápida, evitando-se, assim, possíveis

rachaduras. Nesse caso, o ideal é empregarmos uma

massa que contenha uma mistura de minerais (areia,

quartzo ou chamote (cerâmica triturada ou argila

calcinada). Uma das argilas que as Paneleiras de

Goiabeiras retiram do Bairro Joana D’ Arc já contém

quartzo, mineral que substitui o chamote, misturada

a outras duas argilas, formam uma massa ideal para

a queima na fogueira (Fig. 95).

Forno de barranco: são fornos feitos nas encostas de terra elevada; no centro

possuem uma cova para a colocação das peças, num dos lados, sofrem um corte,

verticalmente formando um barranco, onde é realizado um buraco na parte infe-

rior para alimentar o fogo que vai ao encontro da cova, onde se introduzirão as

peças. Este tipo de queima é mais eficaz que a da fogueira, pois as paredes da cova

Fig. 95: Massa argilosa utilizada pelas Paneleiras.

Fig. 94: Paneleiras de Goiabeiras, ES, 2005. Fogueira a céu aberto.

Page 78: Ceramica.pdf

76 Unidade 5

conservam melhor o calor, alcançando temperaturas mais elevadas.

Não há um controle total da queima, pelo fato de se tratar de uma

construção ao ar livre.

No Brasil, podemos encontrar algumas mulheres que procuram

manter a tradição de fazer utilitários, usando o processo tradicio-

nal dos seus antepassados, o forno de barranco, a exemplo das arte-

sãs de Apiaí interior de São Paulo, e das mulheres do Vale Jequiti-

nhonha, MG. Essas tradições sofreram pequenas alterações, como

a fornalha, que passa a receber tijolos para manter sua estrutura,

como é o caso de alguns fornos do Vale do Jequitinhonha (Fig. 96).

Forno circulares feitos de barro: apesar do sistema de queima

em barranco ter durado por muito tempo, os oleiros observaram que

a temperatura atingida não era suficiente para dar uma boa resis-

tência à peça, e, aos poucos, foram aperfeiçoando o sistema. Ini-

ciaram a construção com uma parede de barro e abertura na parte

inferior – a fornalha, na qual se pode alimentar o fogo. São fornos

de construção simples e de tamanho médio, com uma grande aber-

tura na parte superior para a deposição das peças, que são cober-

tas com cacos de cerâmica para impedir a fuga do calor do interior

do forno. Diferentemente do anterior, este forno pode ser constru-

ído em lugares com cobertura.

Hoje é muito comum encontramos este tipo de forno nos quin-

tais das mulheres do Vale do Jequitinhonha – MG (Fig. 97a) ou nos

espaços de produção dos artesões do Alto do Moura – PE (Fig. 97b).

Forno a lenha: mais tarde, construíram os fornos de tijolos,

mantendo a fornalha para o combustível: um forno alto com um teto

permanente, no qual se fixou uma chaminé para a saída de gases

quentes, criando-se, dessa forma, espaço para a circulação do ar,

que entra pela fornalha e empurra o fogo para cima, por entre as

peças. Assim, mesmo utilizando a lenha como combustível, pode-se

conseguir um aumento significativo da temperatura com uma maior

retenção de calor no interior do forno.

Hoje, esses fornos para queima de baixa temperatura (até

1000ºC), são denominados de Forno Garrafão. Uma construção

de tijolos maciço, no qual o controle de temperatura é feito pelo

tempo de queima e a alimentação constante do fogo. O combus-

tível pode variar, podendo ser lenha, serragem ou aproveitamen-

tos de tábuas de materiais de construção. O artista mineiro Hélio

Fig. 96: Forno de barranco. Vale do Jequitinhonha.

Fig. 97a: Forno da artesã Deuzani, 2010.

Fig. 97b: Forno de ceramistas do Alto do Moura, Caruaru, PE.

Page 79: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 77

Siqueira, quando escolheu a modelagem para se expressar, optou

por este modelo de forno (Figs. 98a e 98b).

Fig. 98a: Hélio Siqueira. Forno de garrafão. Fig. 98b: detalhe

Dentre vários tipos de fornos construídos em diversos lugares,

tanto no Extremo Oriente como na Europa, podemos destacar aqui

os fornos japoneses chamados Noborigama. São fornos com câmaras

independentes, mas interligadas, de modo que o calor da primeira

passa para a segunda e assim sucessivamente, até o fim da queima

(CHAVARRIA, 2004, p. 60). Esses fornos eram construídos com um

mínimo de três a um máximo de vinte câmaras (Figs. 99a e 99b).

A construção dos fornos foi sendo aperfeiçoada até alcançar

temperaturas de 1300ºC, possibilitando a queima das peças, dos

esmaltes e das porcelanas. Hoje encontramos no Brasil alguns ate-

liês que resolveram adotar este tipo de forno para a produção de

cerâmica, como um grupo de ceramistas em Cunha, SP.

Com o surgimento da energia elétrica e consequentemente da

industrialização, a cerâmica ganha novos fornos. Os elétricos e os a

gás são compactos, de fácil transporte e aquisição de combustível,

além de facilitarem a manutenção do calor. A indústria beneficiou-

se dessa evolução tecnológica, construindo grandes fornos contí-

nuos, possibilitando fazer a queima de biscoito e de esmalte de uma

única vez, chamada de monoqueima, economizando combustível

e, consequentemente, diminuindo o tempo de construção, fazendo

com que se possa adquirir produtos cerâmicos a baixo custo, bene-

ficiando um maior número de consumidor.

Fornos elétricos: a construção do forno passa a ser feita de

estrutura metálica, revestida no interior por tijolos refratários com

uma porta frontal, além de um equipamento de aquecimento, com-

posto por seções de resistências elétricas independentes, porém,

Fig. 99a: Forno noborigama

Fig. 99b: Imagem do esboço de um forno noborigama.

Page 80: Ceramica.pdf

78 Unidade 5

interligadas, gerando calor por radiação, que se transmite em todo

o interior do forno e, subsequentemente, às peças, por condução e

radiação. Possui um pirômetro eletrônico com sistema de regulação

automática com temperatura.

Hoje, além dos fornos retangulares (Fig. 100), encontramos for-

nos circulares com portas superiores (Fig. 101). Neles, os tijolos refra-

tários ganharam leveza, facilitando o transporte. Possui um proces-

sador de temperatura com gramatura digital para controlar o tempo

de aquecimento e o grau de temperatura. Podemos dizer que é um

forno de fácil aquisição no mercado, nesse caso, deve-se escolher

a temperatura de queima e o tamanho do forno, adequando-os ao

trabalho e ao espaço disponível.

Ao adquirirmos um forno desse tipo, devemos verificar primeiro

se a energia elétrica de que dispomos é suficiente. Segundo Chavar-

ria (2004, p. 66): “Actualmente, muitos destes fornos funcionam com

a energia doméstica, mas em todo caso, quando se deseja ultrapas-

sar certos limites, deverá fazer-se uma instalação extra, geralmente

trifásica, o que pode encarecer muito o processo”.

Fornos a gás: é um forno que tem como combustível o gás

butano que pode ser canalizado ou engarrafado. Muitos ceramistas

escolhem esse tipo de forno pelo menor custo desse combustível,

bem como pela facilidade de sua instalação, manutenção e resul-

tados obtidos.

O inconveniente desse forno reside na obrigação constante de

observação durante a queima, para torná-la segura, principalmente

quando se trabalha com botijas de gás, essas devem estar no exte-

rior, separadas do forno e protegidas por paredes.

Esses fornos podem ser construídos com estruturas metálicas,

que envolvem tijolos refratários ou revestimento de fibra isolante,

materiais que seguram o calor no interior do forno, proporcio-

nando um menor consumo de combustível e uma maior eficiên-

cia na queima.

Esse forno é de fácil construção, desde que se disponha dos ele-

mentos necessários como a distribuição dos bicos de gás que deverão

estar instalados nas laterais logo acima da base do forno, tomando-se

o devido cuidado com a sua colocação para que a chama não toque

diretamente nas peças. Além da escolha dos bicos de gás, é impor-

tante que tenha uma válvula para regular a entrada de gás no forno.

Fig. 100: Forno elétrico retangular.

Fig. 101: Forno elétrico redondo.

Page 81: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 79

Através desse sistema, podemos produzir atmosferas

oxidantes ou redutoras com um simples ajuste na entrada

de ar e de gás, sem que haja necessariamente alterações

na estrutura do forno.

Muitos ceramistas constroem esses tipos de fornos,

utilizando vasilhames de latão descartáveis, revestido-

os com manta refrataria para fazer a queima de raku

(queima redutora) (Fig. 102).

Fornos alternativos

A seguir, apresentaremos dois diferentes fornos alternativos, que podem substituir

os fornos convencionais, porém, em alguns casos, eles servirão para uma única

queima, como, o primeiro, por exemplo, o forno de papel, que já foi testado por

vários ceramistas e aqui apresentaremos em imagens o resultado de uma queima

realizada na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em novembro de 2006;

o segundo forno, construído a partir de um cupinzeiro sob a coordenação da cera-

mista Zandra Coelho, durante o Congresso de Cerâmica (CONTAF) na Universidade

Federal em São João Del Rey, no período de 20 a 22 de Outubro de 2010.

Ao escolhermos um forno para construir, deveremos dar total atenção às etapas de

construção, além de separar previamente os materiais necessários para sua montagem.

Forno de Papel

Antes de construir este forno é preciso escolher um lugar adequado, como um sítio

ou um grande pátio de escola, e a queima deve ocorrer fora do horário das ativida-

des escolares, pois haverá muita fumaça, podendo intoxicar as pessoas.

O forno de papel proporciona uma queima a lenha, no qual se usa papel com

barro para construir suas paredes e será aproveitado uma única vez, pois, no final,

o fogo consome o próprio forno, mas isto não é motivo de desânimo, pois podere-

mos alcançar bons resultados. Sugerimos que o trabalho de construção seja feito

em equipe, pois é uma tarefa árdua.

Para a queima nesse tipo de forno o ideal é usar uma massa resistente, como a ar-

gila das paneleiras ou acrescentar de 20 a 30% de areia ou chamote, para evitar que as

peças sofram rachaduras. Essa queima pode ser usada também apenas para dar efeito às

peças já queimadas, tendo como objetivo fazer com que as peças ganhem novas colo-

rações, utilizando materiais como sais ou sulfatos. Nesse caso, não precisa se preocupar

com o tipo de massa, pois a peça já sofreu uma queima, não tendo risco de danificação.

Fig. 102: Forno de raku.

Page 82: Ceramica.pdf

80 Unidade 5

Materiais:

50 tijolos maciços ou refratários;

2 pacotes de carvão vegetal;

Gravetos;

Lenha ou madeira de material de construção;

Tela de passarinho (aproximadamente 3 metros);

1 rolo de barbante;

2 sacos de argila seca (pode ser de material de construção que em geral é branca);

1 saco de caulim (opcional);

Folhas de jornais ou catálogos telefônicos (as folha de catálogo são mais resisten-

tes do que o jornal);

1 bacia grande para preparar a massa;

1 lata (tipo achocolatado ou leite em pó);

Sugestão: Trabalho em equipe. Enquanto um grupo organiza a estrutura do forno,

o outro pode preparar a barbotina e os papéis.

Escolha do local: a área deve ser ampla e descoberta, para a montagem do forno,

de preferência terreno plano ou pavimentado, não muito úmido, longe de árvores,

vegetação seca e construções.

Barbotina: Misturar o barro em pó (material de construção) com água, preparando

uma massa numa densidade de iogurte. Pode incluir nesta mistura 1/3 de caulim,

pois ele contribui para manter a temperatura de queima.

Estrutura do forno: o primeiro passo é a montagem da base quadrangular de tijo-

los deitados, que vai funcionar como suporte do forno, esta base vai depender do

tamanho do forno que se vai construir e consequentemente da quantidade de peças

que se tem para queimar (Fig. 103). Sobre esta base, devemos montar uma segunda,

porém, com os tijolos de lado, formando quatro canais interligados, como mostra

a foto (Fig. 104). Se o forno for maior, devemos aumentar o número de tijolos para

a construção dos canais.

Com a base montada, devemos colocar carvão nos espaços vazios, formando

um círculo. Em seguida, distribuir pequenos gravetos sobre o carvão, para facilitar

a manutenção do fogo até o aquecimento do carvão e, depois, da lenha.

Após este procedimento, vamos construir a terceira base (Fig. 105), utilizando

tijolos deitados ou cacos de telha como suporte para colocar as peças (Fig. 106), nas

quais as mesmas serão organizadas, partindo do centro para as laterais: primeiro

Page 83: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 81

as maiores e mais resistentes que servirão como suporte para as menores. Podemos

colocar as peças pequenas dentro das maiores, com bastante atenção na arruma-

ção para que durante o processo de retração – encolhimento – das mesmas, elas

não se quebrem ou colem (Fig. 107).

Fig. 103: Base 1. Fig. 104: Base 2.

Fig. 105: Base 3. Fig. 106: Base completa.

Para uma queima com efeitos, poderemos jogar sal de cozi-

nha ou sulfatos (cobre, níquel, ferro) sobre as peças, ou pince-

lar o sulfato dissolvido em água morna para obter uma colora-

ção mais uniforme.

Depois da arrumação das peças, o próximo passo é colocar-

mos os gravetos e pequenas madeiras em todos os espaços dispo-

níveis ao redor e entre as peças, construindo uma espécie de tenda

em volta desta base com madeira de diversos tamanhos e espes-

suras, em forma de cone (Fig. 108). Sempre no sentido de dentro

para fora, das menores para as maiores; quanto mais madeira se

colocar mais tempo se levará para a queima, já que, assim, a tem-

peratura se eleva. Em seguida, amarre bem as madeiras com bar-

bante para a estrutura ficar firme.

Enrole uma tela de metal (tela de viveiro de pássaros), com

firmeza, por toda extensão e comprimento das madeiras, para

Fig. 107: Arrumação das peças na base.

Page 84: Ceramica.pdf

82 Unidade 5

dar estrutura à parede (Fig. 109). Em seguida,

corte a parte que sobrou da tela e una as pon-

tas com arame. Encaixe a lata sem fundo no

topo do cone, para servir como chaminé do

forno durante a queima.

Parede do forno: nesse momento, todos devem

trabalhar juntos como num mutirão, pois é um

processo cansativo e demorado; quanto mais

camadas forem colocadas melhor, pois elas ser-

vem para segurar o calor no interior do forno.

Mergulhem uma das faces das folhas de

papel na barbotina (podem ser folhas de jor-

nal, revista ou de catálogo telefônico) (Fig.

110), e, em seguida, coloquem a folha úmida

sobre a tela, revestindo-a, alternando a posi-

ção do papel a cada etapa – ora vertical, ora

horizontal – para se ter uma noção do número

de camadas, aproximadamente dez (Fig. 111).

Em seguida, finalizem a construção do forno,

cobrindo-o uniformemente com a massa.

Queima: após a construção da parede do forno,

atear fogo com cautela e vagarosamente, em

uma abertura de cada vez. Acender primeiro a

boca que está na direção do vento, soprando

o fogo para o interior do forno e, em seguida,

para as outras aberturas (Fig. 112). A partir

desse momento, se houver crianças por perto, as

mesmas devem acompanhar o processo a dis-

tância, sendo supervisionadas por um adulto.

A queima vai se desenrolar até que toda a

madeira tenha se tornado cinzas e consequen-

temente o forno se autodestruirá. A duração da queima vai depender da quantidade

de madeira empregada e do tamanho do forno (Fig. 113). É importante acompanhar

todo o processo, evitando que o fogo se apague antes do término da queima. Devemos

aguardar o resfriamento total para a retirada das peças do meio das cinzas. Aconse-

lhamos aguardar até o dia seguinte, para se evitarem queimaduras. As peças devem

ser lavadas para se realizar a análise dos resultados.

Fig. 108: Colocação de madeira em forma de cone.

Fig. 109: Colocação da tela.

Fig. 110: Barbotina para banho.

Fig. 111: Arrumação da parede.

Fig. 112: Ateando fogo. Fig. 113: Fase final: autodestruição do forno.

Page 85: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 83

Forno de cupinzeiro

Este forno é muito interessante, pois aproveita a casa do cupim, que eles constroem

com as fezes deles, com terra e saliva, como estrutura externa do forno. Sua limita-

ção está no fato de só encontramos cupinzeiros no campo, podendo ser uma limi-

tação para aqueles que vivem na cidade e não têm acesso a esse material.

O primeiro passo é encontrar um cupinzeiro de tamanho grande. (O tamanho

da câmara interna vai depender do tamanho total do cupinzeiro). Durante a mani-

pulação do cupinzeiro, deve-se ter cuidado, pois Cobras costumam construir seus

ninhos no interior dessa estrutura.

Se a queima for onde o cupinzeiro foi localizado, limpe a área ao redor, de forma

a ter espaço suficiente para trabalhar. Se for realizar em outro local, cave ao redor

do cupinzeiro até encontrar o limite de profundidade. Em seguida, faça uma ala-

vanca e o retire inteiro, transportando-o para o local onde será realizada a queima.

Materiais:

1 grelha de metal tipo de churrasqueira;

1 placa refratária;

1 serrote;

Objetos pontiagudos como chave de fenda, faca, colher;

3 pacotes de carvão,

Lenha;

1 balde para transportar o miolo retirado do cupinzeiro;

4 tijolos;

Montagem do forno:

Corte um terço superior do cupinzeiro com a ajuda de um serrote, como uma tampa,

o suficiente para você colocar as peças dentro da câmara (Fig. 115). Retire a parte

cortada e reserve, tomando cuidado para não deixá-la cair e quebrar-se, pois essa

será a tampa do seu forno.

O próximo passo é limpar o interior do cupinzeiro com a ajuda de um balde e

de algumas ferramentas (Fig. 116). Comece a escavar a parte interna do cupinzeiro,

até soltar a parte escura que fica presa junto das paredes do mesmo (Fig. 117). Faça

esta operação cuidadosamente, para não danificar a parte dura, feita com as fezes,

a saliva do cupim e a terra (Fig. 118). A parte interna é mais macia, onde o cupim

habita. Com um facão ou faca grande acerte as arestas.

Na parte inferior do cupinzeiro, abra uma cavidade para, por esta abertura, inse-

rir o carvão, criando, assim, uma fornalha. Coloque uma grelha no fundo e apoie

em seus lados quatro calços de tijolos refratários para sustentar a placa refratá-

ria, que será o suporte para arrumar as peças para a queima. É importante ter uma

Fig. 114: Materiais.

Page 86: Ceramica.pdf

84 Unidade 5

Fig. 119: Forno de cupinzeiro. Fig. 120: Detalhe da fornalha. Fig. 121: Chaminé.

Fig. 115: Cortando a tampa.

Fig. 116: Escavando a parte interna do cupinzeiro.

Fig. 118: Com um facão ou faca grande acerte as arestas.

Fig. 117: Detalhe do miolo que foi retirado do interior do cupinzeiro.

altura de aproximadamente 20cm, para que haja um distanciamento entre as peças

e o combustível, possibilitando que se tenha oxigênio suficiente durante a queima,

mantendo a circulação de ar dentro da câmara. A chaminé será feita na lateral

superior e deverá ser proporcional ao tamanho do cupinzeiro (Figs. 119, 120 e 121).

Page 87: Ceramica.pdf

Fornos e queimas 85

As peças podem ser colocadas apoiadas umas sobre as outras, aproveitando ao

máximo o espaço interno do forno.

Para a queima, coloque carvão e a lenha sobre a grelha e as acenda lentamente,

fazendo um aquecimento no forno. Aos poucos, vá aumentando a intensidade do fogo.

Esta é uma queima de baixa temperatura, caso queira uma temperatura acima

dos 1000ºC, deve-se alimentar o fogo por mais tempo para que a temperatura suba

a essa escala. Depois que a temperatura desejada for alcançada, pare de alimentar

o fogo com lenha e espere o forno esfriar.

Page 88: Ceramica.pdf

86 Unidade 6

Page 89: Ceramica.pdf

Relato de experiência 87

Neste capitulo, apresentaremos uma experiência, que envolve cerâmica indígena,

arte popular, processos criativos e a comunidade de Jardim Carapina na Serra,

desenvolvidos no período de 2009/2010 com os professores Júlio Tigre, orientando

o desenho, e Regina Rodrigues, a cerâmica. Utilizando o espaço da Associação de

moradores de Jardim Carapina como local de discussão e produção plástica, em

encontro semanal com dois grupos distintos, um no período da tarde e o outro no

da noite. As pessoas que se mostraram interessados pelo curso, eram, geralmente,

aposentadas, jovens desempregados ou pessoas que queriam ter uma segunda fonte

de renda. Por se tratar de um curso longo, algumas pessoas desistiram, pois espe-

ravam por atividades a curto prazo com retorno rápido. Apesar dessas dificulda-

des, a proposta acabou por consolidar um grupo de 15 membros, que através da

arte popular, integraram-se a um projeto comum na busca por uma realização não

somente financeira mas também de crescimento cultural.

Quando nos referimos à arte popular no Brasil, consideramos, entre outras coi-

sas, os núcleos de criação, gerados a partir de células produtoras, que, com sua pro-

dução, acabam estimulando a adesão e a formação de outros produtores de regiões

já exaustivamente mapeadas em nosso país. Dentro deste amplo território, é ine-

gavelmente extensa a produção de cerâmicas populares, e, em alguns casos, tor-

naram-se inclusive peças únicas, alcançando um valor substancial no mercado.

Em cada núcleo de cerâmica popular do Brasil, ressaltamos a marcante iden-

tidade alcançada dentro de uma história local, mais tarde transformada numa tra-

dição regional, que identifica cada um desses núcleos. As características que efe-

tivam esta afirmação estão na matéria-prima, na técnica empregada pelos grupos

e na forma ligada a uma vivência particular, nas quais a incidência de determi-

nados padrões estéticos foram se consolidando, às vezes dentro de um autodida-

tismo gerado por uma prática funcional, como, por exemplo, a produção de uten-

sílios para uso doméstico.

Dentre inúmeras localizações como produtores de cerâmicas populares brasi-

leiras podemos destacar o Vale do Jequitinhonha. Os pequenos lugares como Ara-

çuaí, Santana do Araçuaí e Itinga tornaram-se conhecidas nacional e internacional-

mente pela produção de artesanato local. As bonecas produzidas pela artesã Dona

Isabel Mendes da Cunha já ganharam notoriedade pelo mundo, em exposições e

aquisições por parte de museus e galerias.

Page 90: Ceramica.pdf

88 Unidade 6

Cerâmica indígena

A cerâmica indígena foi tema do projeto desenvolvido na comunidade Jardim Carapina,

pelo inusitado encontro de um sítio arqueológico pelo IPHAN, próximo à comunida-

de, e também pela adoção de uma estratégia: buscar em torno do lugar de implantação

um motivo gerador para iniciá-lo. A descoberta dos Sambaquis no manguezal próxi-

mo à região de Carapina nos permitiu entrar em contato com a história de uma ocupa-

ção anterior à atual, por grupos indígenas que estiveram por todo o litoral do Estado.

Geralmente, o material cerâmico encontrado nas prospecções são de raízes

indígenas, pertencentes a três linhagens, a saber: Una, Aratu e Tupi-guarani. A tra-

dição Una teve sua dispersão localizada na Região Sudeste nos estados do Rio de

Janeiro e Espírito Santo e os vestígios cerâmicos encontrados apresentam carac-

terísticas alisadas e acordeladas com queima geralmente incompleta. Somente em

alguns poucos encontram-se indícios de engobe branco.

Contemporânea a tradição Tupiguarani, a Aratu apresenta em sua produção

cerâmica uma variedade de qualidades plásticas, com corrugados e roletados, em

algumas encontram-se incidência da cor preta grafite, provavelmente realizada com

o uso de carvão da combustão de madeiras.

A tradição Tupi-guarani encontra-se do sul ao norte do litoral brasileiro, sua

cerâmica apresenta variadas técnicas decorativas: corrugada, angulada, escovada,

entalhada ponteada serrungulada, incisa, acanalada, estampada, digitada, digitun-

gulada, marcada com corda, estampada com rede, marcada com tecido, nodulada,

pinçada e roletada10. Apresenta também pintura com diferentes motivos: em linhas

finas, faixas largas em vermelho e/ou castanho sob branco ou creme, desenho com

padrões geométricos, linhas paralelas, zigue-zagues, quadriculados, círculos, retân-

gulos, cruzes concêntricas, gregas, linhas brancas ou pretas sob fundo vermelho11.

Essas observações, a partir do material coletado, nos permitiu encontrar uma série

de técnicas, as quais desenvolvemos com o grupo, à medida que o curso avançava.

Ao produzir as imagens a partir do material coletado pelo IPHAN no Estado,

pretendíamos obter um registro desta diversidade de procedimentos realizados por

esses povos, com o intuito de traçarmos um caminho dentro da prática com a cerâ-

mica que produziríamos no futuro. Compreendendo as limitações com as quais nos

depararíamos no inicio desse processo, optamos por usar este material muito mais

como motivação e até inspiração, buscando uma adequação aos meios tantos téc-

nicos quanto teóricos possíveis com o grupo.

10. Termos utilizados por arqueólogos.11. OLIVEIRA, A. Oliveira. Os grupos pré-historicos ceramistas no Nordeste, p. 204. In Índios do Nordeste. Temas e problemas – III/ Org. Luiz Sávio de Almeida. Marcos Galindo – Maceió: EDUFAL, 2002- 274p. ISBN 85-7177.092-1.

Page 91: Ceramica.pdf

Relato de experiência 89

Da metodologia

Buscar uma metodologia adequada para uma aproximação com esses diversos

conhecimentos diante das carências do grupo apresentado acima foi nosso desa-

fio. O método foi se construindo, à medida que avançávamos na complexidade da

obtenção da forma. De antemão, já observamos a grande incidência de práticas

tridimensionais nas artes populares. Quando falamos dessas práticas tridimensio-

nais temos que incluir aí toda atuação do sujeito no espaço, desde seu nascimento.

Estamos nos referindo à relação que vamos estabelecendo com o mundo na sobre-

vivência, adaptando-nos ou adaptando o entorno para habitá-lo. Somos tridimen-

sionais em essência, com isto, somos mais aptos a lidar com ela do que com outros

meios, como o desenho por exemplo.

Essas práticas estão intrinsecamente ligadas ao cotidiano das pessoas, em sua

maioria leigas, isto é, não frequentaram cursos ou escolas e, algumas, nem mesmo

travaram contato com objetos artísticos. Seus processos criativos surgiram numa

relação direta com essas experiências no dia a dia, numa necessidade de se expres-

sar. São práticas ligadas à vida diária: o uso das duas mãos para a construção da

forma já trás a simetria tão cara à produção de determinadas peças. Encontramos

esse gesto, de certa forma, no inconsciente do futuro praticante de modelagem. Com

isto, entendemos que uma prática, partindo da experiência tridimensional para o

desenho, e depois retornando às três dimensões numa relação projetiva, viabiliza-

ria uma abordagem mais acessível do desenho como um meio de pensar a forma e,

depois, também como meio para produção de imagens.

A arqueologia como forma de recordar nosso passado.

Inicialmente, foi apresentado aos participantes do projeto, parte dos fragmentos

fotografados no IPHAN, reforçando a importância de termos no nosso estado um

arquivo que resgate nossa história local sempre como conhecimento cultural, já

que a maioria das pessoas da comunidade na qual o projeto era desenvolvido vie-

ram de outros lugares do país, sem um referencial ligado aos aspectos históricos

singulares ao local. Em contrapartida, a ocupação da área foi lenta e gradual, per-

fazendo uma história a ser resgatada pelo grupo, na relação com o lugar. O res-

gate de uma cultura como a indígena, acabou demonstrando a forma como eles

agregavam nas suas manufaturas as coisas do lugar, animais, vegetais, paisagem e

crenças. Este aspecto acabou por revelar um caminho rico de possibilidades para o

grupo, que foi sendo desvelado à medida que cada um dos membros iam trazendo

para os encontros aspectos que identificavam o bairro.

Page 92: Ceramica.pdf

90 Unidade 6

A arqueologia demonstrou a importância da cerâmica para o resgate da memó-

ria dos povos indígenas e a maneira de como viviam, adaptando-se às dificulda-

des, demonstrando que encontrar os gestos que identificassem cada grupo estudado

convergia numa tradição especifica que vai identificá-los. Essa lição permitiu-nos

abordar o tema cultural, excluindo modelos estereotipados, fórmulas externas às

experiências do grupo, em geral, modelos vindos de fora, mas, a busca de uma nova

forma, de um modelo, só vai sendo adquirido com o tempo e com a prática, tor-

nando-se uma marca de identidade de um novo grupo de ceramistas.

Formas e grafismos

Apresentaremos, a seguir, fotografias de fragmentos cerâmicos coletado no local

próximo à comunidade, além de outros sítios arqueológicos do estado do Espírito

Santo, arquivados e catalogados pelo IPHAM, que focam as diferentes técnicas,

tanto de modelagem quando de desenho utilizados nas superfícies dos fragmen-

tos. É importante dizer que as terminologias apresentadas aqui são, em geral, usa-

das pelos arqueólogos (Figs. 122, 123, 124, 125 e 126).

Pintura:

Fig. 122: Pequeno fragmento proto-tupi com linhas pretas sobre fundo branco, executados com engobe.

Fig. 123: Motivos com linhas curvas. Fig. 124: Detalhe de tratamento dado a bordo da peça.

Fig. 125: Grafismos elaborados no interior da peça. Fig. 126: Detalhe no interior da peça.

Page 93: Ceramica.pdf

Relato de experiência 91

A técnica do engobe empregada nessas amostras foi uma das escolhidas para

ser explorada na prática pelo grupo, levando-se em conta a rica variedade de cores

argilosas, encontradas no litoral do Espírito Santo.

Texturas e relevos:

Fig. 127: Textura obtida com o uso de uma corda de fibra vegetal, pressionada sobre a peça ainda úmida.

Fig. 128: Fragmentos com acabamento na parte superior da peça, realizado, provavelmente, com o uso de uma haste de bambu ou madeira.

Fig. 129: Outra forma de textura, tirando partido de uma superfície rugosa.

Fig. 130: Amostras de motivos geométricos em baixo-relevo.

Pequeno exemplo de decoração com o ponteado:

Uma grande variedade de procedimentos foi observado; em separado ou conju-

gado, criando uma rica gama de possibilidades. Isto ficou claro nas observações que

em nenhum momento objetivou realizar cópias das peças numa mera reprodução téc-

nica de imitação ou mesmo produzir algo parecido ao artesanato indígena existente.

A todo instante, buscávamos refletir sobre a natureza das peças, e o que repre-

sentavam no âmbito da experiência individual de um povo, isto é, deixando trans-

parecer que aquelas formas e superfícies eram o fruto de uma experiência especifica

Page 94: Ceramica.pdf

92 Unidade 6

de um sujeito com o seu entorno. Deveríamos, de igual maneira, buscar em nossas

experiências domésticas e cotidianas os motivos e o gestos que norteariam a moti-

vação para a produção, dentro daquelas técnicas que foram pacientemente revela-

das, à medida que a oficina avançava.

Novos processos

Paralelo às técnicas de modelagem, nossa estratégica foi relacionar o desenho ao

gesto tridimensional, para, então, criar formas a partir dos recortes. Essa prática já

apresentava a simetria proporcionada pela dobra, o que facilitou a compreensão da

forma na maneira mais simples de obtê-la (Figs. 131a e 131b).

Demonstrar que o desenho é fruto de uma analogia com a experiência tri-

dimensional foi nosso desafio. As dificuldades diante da folha branca do papel,

para alguém que há muito já não desenhava, foram vencidas a partir da quebra do

impasse inicial, por meio de um exercício em que a folha (plano) é dobrada e cor-

tada para se obter a forma. Numa segunda etapa, essa forma obtida é repassada

a uma outra folha por frotagem12 e, finalmente, contornada, obtendo-se, assim, o

desenho na sua forma mais convencional. Esse procedimento tangencia a tridi-

mensão e a bidimensão ao mesmo tempo, proporcionando ao aluno pensar a peça

no espaço virtual do seu projeto, ampliando sua capacidade de projetar, o que cul-

mina na criação de novas formas.

O primeiro tema a ser explorado pelo grupo, usando a técnica do pote aperto

surgiu de um olhar do entorno, assim, como fora explanado sobre a cerâmica indí-

gena: buscar o motivo próximo numa referência direta ao modo de vida local. Surgi-

ram os galos e as galinhas, animais criados para subsistência da família nos quintais

existentes na região. Para o exercício do desenho, usamos como referência, imagens

de fotografia encontradas em revistas; materiais que serviram para orientá-los na

organização esquemática da forma estudada, como o círculo e a elipse (Fig. 132).

A forma oval deu origem ao corpo da ave, praticada exaustivamente no dese-

nho e na modelagem, empregando a técnica do rolinho.

Desde o início, foi dada uma atenção especial ao grafismo como forma de se

produzir contraste nas superfícies e de se criar volume. Essa lição surgiu dos frag-

mentos de cerâmica indígena. As linhas proporcionaram o entendimento da forma

como uma alusão à topologia de cada objeto modelado (Figs. 133a, 133b e 133c).

12. A palavra “Frotagem” (de frotter, que significa “esfregar”) é de origem francesa e por ser um recurso gráfico bem espontâneo, nos proporciona criar belos e inusitados efeitos plásticos. A técnica foi usada pela primeira vez pelo pintor, desenhista, escultor e escritor alemão Max Ernest (1891 – 1976), um dos fundadores do movimento “Dadá” e, posteriormente, um dos grandes nomes do Surrealismo. Consiste em colocar uma folha de papel sobre uma superfície áspera e esfregá-la, pressionando-a com um bastão de cera até a textura aparecer

Fig. 131a: Projeto utilizando dobradura e linhas em forma de textura.

Fig. 131b: Detalhe.

Fig. 132: Imagem como referência.

Page 95: Ceramica.pdf

Relato de experiência 93

As imagens produzidas foram repassadas à superfície da peça,

perfurando a folha de papel de seda, na qual se encontrava o dese-

nho, marcando, ponto a ponto, os contornos na argila ainda úmida

(Fig. 134). Esse método é parecido ao empregado pelos muralistas

na ampliação de suas imagens e no transporte dessas para a parede.

Os grandes potes construídos com a técnica do rolinho recebem

os desenhos. As linhas foram produzidas por incisão e o engobe na

cor branca ressaltou detalhes da imagem.

Outras formas mais complexas foram também executadas com

o mesmo material empregado no desenho: o papel. Esses exercícios

partiram de um estudo das formas geométricas básicas conhecidas:

o cilindro e o cone, formas passíveis de serem também realizadas, a

partir de laminas de argila modeladas em placas, ampliando as possi-

bilidades criativas, pois partiam do projeto para a argila e, subsequen-

temente, para a produção da peça cerâmica (Figs. 135a, 135b e 135c).

Os estudos tiveram grande importância para os aprendizes enten-

derem como estruturar a forma e, a partir desse entendimento, cria-

rem as peças desejadas (Figs. 136a, 136b, 137 e 138).

Fig. 133b: Construção de texturas. Fig. 133c: Construção de texturas.Fig. 133a: Construção da forma.

Fig. 134: Incisões e engobe no pote a partir do desenho anterior.

Fig. 135a: Estudo do objeto tridimensional na cartolina.

Fig. 135b: Estudo do objeto tridimensional na cartolina.

Fig. 135c: Estudo do objeto tridimensional na cartolina.

Page 96: Ceramica.pdf

94 Unidade 6

Outros temas

Os temas não ficaram restritos apenas à vida cotidiana. Após diálogo com o grupo,

descobrimos que a comunidade de Jardim Carapina surgiu em uma área de man-

guezais, os moradores mais antigos exploravam essas áreas em contato com a fauna

e a flora do lugar. Depois dos aterramentos dessas áreas, esse contato tornou-se

cada vez mais restrito até desaparecer quase que completamente. O resgate dessa

experiência foi aparecendo na produção do grupo. A partir do interesse de retra-

tar o mangue, outras formas foram também projetadas para abrigar os desenho e

os recortes, como foi o caso dos pratos e terrinas construídos a partir da técnica da

placa (Figs. 139a, 139b, 139c, 140a e 140b).

Fig. 136a e 136b: Construcão da peça em argilas a partir do estudo de papel. Fig. 137: Peça queimada à 1150ºC.

Fig. 138: Construcão de peças em bloco, utilizando o mesmo tema.

Fig. 139a, 139b e 139c: Pratos com o tema marinho.

Os desenhos ganharam novas cores com engobes e o método por incisão pro-

porcionou um diálogo entre a textura (grafismo) e a cor. Os desenhos realizados

buscavam aspecto naturalista; a síntese dessas imagens ainda se apresentaram no

seu começo. No entanto, à medida que se repetiam iam ganhando estilização, uma

maneira de se trabalhar, reduzindo-se a linhas básicas do tema.

Page 97: Ceramica.pdf

Relato de experiência 95

Considerações

Falar de tradições populares é buscar a procedência de tal manifestação. Algumas

vieram de tempos e lugares longínquos, como povos do período da colonização,

outras possuem raízes mais profundas e já se perdem na história pelo apagamento

de seus indícios, como acontece com algumas tradições indígenas em nosso país.

Mas há sempre um começo, uma procedência que é responsável pela força e pela

propriedade de tal manifestação. Este começo pode estar relacionado ao desejo de

alguém, que vai, aos poucos, aglutinar a atenção pela curiosidade e excelência de

sua produção.

Operar uma iniciativa que pensa um futuro como uma tradição é apostar alto,

porém, somente a continuidade destas práticas vão realmente produzir a originali-

dade e a identidade, pois será preciso um tempo para que aqueles que começaram

esta iniciativa assumam as formas e as imagens que produziram como sendo suas

e, a partir dai, agregando novas iniciativas, produzirão realmente um gesto já dis-

tante dos vícios e maneirismos que comparecem sempre no começo de uma prá-

tica, gerando, então, algo para além do objeto: uma identidade.

A prática com cerâmica revelou-se um meio também de resgatar em cada par-

ticipante um gesto ancestral. Lidar com a argila em grupo num mesmo ambiente,

proporcionou esse resgate tanto anterior quanto presente nos relacionamento entre

os participantes. Trabalhar a massa disforme, matéria de origens e mitos, potencia-

lizando nas pessoas o sentimento de criação, que transcende a prática como uma

simples manufatura de objetos, inconscientemente o gesto de amassar, modelar e

depois impor a forma, a rigidez do fogo nos dá uma ideia de maturação de uma

forma, mas também, das relações estabelecidas entre os membros do grupo que se

movem em torno de uma ideia comum.

Fig. 140a e 140b: Pratos com tema ”peixe”.

Page 98: Ceramica.pdf
Page 99: Ceramica.pdf

Cerâmica 97

Considerações Finais

O uso do barro pelo homem é um processo milenar e o emprego do fogo o trans-

formou em cerâmica, o que permitiu as civilizações diversas travarem contato com

esta linguagem, difundindo suas técnicas. Suas culturas construíram suas histó-

rias, assim como suas formas e objetos. A linguagem que vai surgir daí vem iman-

tada por este saber tão antigo e seu emprego na arte contemporânea resgata este

elo entre cultura e natureza.

Essas experiências com o barro, a partir do ato de criação, propõem ao obser-

vador uma nova percepção, um resgate dos sentidos, como uma forma de ensina-

mento do olhar, conduzindo-o para uma vivência com a matéria primordial dos

ceramistas; o barro: um encontro prazeroso com a matéria primeira do homem.

Cada unidade apresentada teve como objetivo envolver àqueles que se interes-

sam por cerâmica e por suas possibilidades plásticas, que estimulam o olhar para

uma aproximação com os procedimentos técnicos da modelagem e da queima. Em

seguida, trazemos um relato de experiência como meio de apresentar uma meto-

dologia que inclui o fazer e a reflexão.

Por fim, resta-nos afirmar que o trabalho aqui apresentado, dada a carência de

pesquisas que tomam a cerâmica como objeto de estudo dentro da produção esté-

tica e cultural contemporânea, pode contribuir para preencher parte dessa lacuna,

permitindo aos iniciantes compreender a grande transformação pela qual passou a

cerâmica dentro das artes plásticas.

Talvez mais do que em outros setores da criação artística, a vivência e a curio-

sidade são visivelmente as chaves para trabalhar com esse material. O conheci-

mento das técnicas aliado às experiências anteriores permitem ao artista repensar,

de maneira coerente e lúdica, a cerâmica contemporânea.

Page 100: Ceramica.pdf

98 Cerâmica

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Cerâmica 103

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Fig. 31: Foto Maria Regina Rodrigues.

Page 106: Ceramica.pdf

104 Cerâmica

Unidade 2: Matéria-prima

Figs. 32 e 33: Fotos Diego Lopez Werneck Crispim e Arthur Perin Motta.

Fig. 34: DI IORIO, Mary. Cerâmica. Uberlândia; UFU, 1991, p. 20.

Figs. 35a e 35b: CHAVARRIA, Joaquim. A cerâmica. Lisboa: Estampa, 2004, p.106.

Figs. 36a e 36b: CHAVARRIA, Joaquim. A cerâmica. Lisboa: Estampa, 2004, p.108.

Fig. 37: Foto Bruna Santos Silva.

Fig. 38a: http://stuckattheairport.com/2009/10/23/ancient-greek-pots-found-at-

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Fig. 38b: http://www.beazley.ox.ac.uk/pottery/painters/keypieces/redfigure/niobid.htm

Figs. 39a, 39b, 40 e 41: Fotos Diego Lopez Werneck Crispim e Arthur Perin Motta.

Fig. 42: Foto Diego Lopez Werneck Crispim e Arthur Perin Motta.

Fig. 43: Foto Maria Regina Rodrigues.

Fig. 44a: TOSTES, Celeida. Memorial de livre-docência: Celeida Tostes. Rio de

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Fig. 44b: Foto do acervo de Celeida Tostes.

Fig. 45a: CHAVARRIA, Joaquim. A cerâmica. Lisboa: Estampa, 2004, p.42.

Fig. 45b: Foto Diego Lopez Werneck Crispim e Arthur Perin Motta.

Fig. 46: CHAVARRIA, Joaquim. A cerâmica. Lisboa: Estampa, 2004, p.106.

Unidade 3: Modelagem

Fig. 47: Foto Bruna Santos Silva.

Figs. 48a, 48b, 48c: Fotos Diego Lopez Werneck Crispim e Arthur Perin Motta.

Fig. 49: DALGLISH, Lalada. Noivas da seca: cerâmica popular do Vale do Jequiti-

nhonha. São Paulo: Ed. UNESP: Imprensa Oficial, 2006, p 38.

Figs. 50, 51, 52, 53 a, 53 b, 53c, 54 e 55: Fotos Diego Lopez Werneck Crispim e

Arthur Perin Motta

Fig. 56: Foto Fernanda de Abreu Passos.

Figs. 57, 58, 59, 60, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71a, 71b, 72,

73a, 73b, 73c, 74a, 74b, 75, 76a, 76b, 76c, 77a e 77b: Fotos Diego Lopez Wer-

neck Crispim e Arthur Perin Motta.

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Cerâmica 105

Unidade 4: O processo de criação na cerâmica

Fig. 78: Foto Regina Rodrigues.

Fig. 79: COSTA, Marcus de L. Arte do fogo do sal e da paixão: Celeida Tostes. Rio

de Janeiro: FCBB, 2003, p. 39.

Fig. 80a: FOREST, Dominique. Vallarius céramiques de peintres et sculpteurs.

Vallarius: Musée de Cerámique et d’ Artmoderne de Vallarius, 1995, p. 44.

Fig. 80b: FOREST, Dominique. Vallarius céramiques de peintres et sculpteurs.

Vallarius: Musée de Cerámique et d’ Artmoderne de Vallarius, 1995, p.45.

Fig. 80c: MUSÉE OLYMPIQUE. Miró: Matière et couleur. Lausanne: Musée Olym-

pique, 1994, p. 24.

Fig. 80c: MUSÉE OLYMPIQUE. Miró: Matière et couleur. Lausanne: Musée Olym-

pique, 1994, p. 24.

Fig. 81a: SIQUEIRA, Hélio. Hélio Siqueira: depoimentos. Belo Horizonte: Circuito

atelier, 2000, p. 60.

Fig. 81b: SIQUEIRA, Hélio. Hélio Siqueira: depoimentos. Belo Horizonte: Circuito

atelier, 2000, p. 59.

Fig. 82a: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Brennand. F. Monteiro. Rio de Janeiro:

spala, [19 --], p. 55.

Fig. 82a: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Brennand. F. Monteiro. Rio de Janeiro:

spala, [19--], p. 54.

Fig. 82c: FUNDAÇÃO JÚLIO RESENDE. J. Resende. Brennand: no acerto com o

mundo. Portugal, out/dez. p. s.p.

Figs. 83a e 83b: Desenhos cedidos por Mary Di Iorio.

Fig. 84: Foto cedida por Norma Grinberg.

Fig. 85: Foto cedida por Regina Rodrigues.

Fig. 86a: http://www.vitorbraga.com.br/leilao2010/setembro/000.htm

Acesso em 03/03/11.

Fig. 86b: http://www.vitorbraga.com.br/leilao2010/setembro/000.htm

Acesso em 03/03/11.

Figs. 87a, 87b e 87c: Fotos cedidas por Júlio Tigre.

Figs. 88a, 88b, 88c, 89a, 89b e 89c: Fotos Bruna Santos Silva.

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106 Cerâmica

Unidade 5: Fornos e queimas

Fig. 90: Foto Penha Schirmer.

Figs. 91, 92 e 93: CHAVARRIA, Joaquim. A Cerâmica. Editorial Estampa, Ltda, Lis-

boa, 2004, p.70/71.

Figs. 94 e 95: Fotos Penha Schirmer.

Fig. 96: DALGLISH, Lalada. Noivas da seca: cerâmica popular do Vale do Jequiti-

nhonha. São Paulo: Ed. UNESP: Imprensa Oficial, 2006, p. 53.

Fig. 97a: Foto Penha Schirmer.

Fig. 97b: Foto Maria Regina Rodrigues.

Figs. 98a e 98b: Fotos cedidas por Hélio Siqueira.

Fig. 99a: http://www.flickr.com/photos/7455207@N05/3246497097/

Acesso em 03/03/11

Fig. 99b: UFSJ, CHAGAS Luciana. Disponível em: http://historia-da-ceramica.blo-

gspot.com/2009/02/fornos-para-ceramica.html Acesso em: 1º de fev. 2011.

Fig. 100: ROS I FRIGOLA, Maria Dolors. Cerámica artística. 2. ed. Barcelona: Par-

ramón, 2008, p. 40.

Fig. 101: Foto: Diego Lopez Werneck Crispim e Arthur Perin Motta.

Fig. 102: ROS I FRIGOLA, Maria Dolors. Cerámica artística. 2. ed. Barcelona: Par-

ramón, 2008, p. 105.

Figs. 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110 e 111: Fotos Aline Valadares.

Figs. 112 e 113: Fotos Fernanda Rodrigues.

Figs. 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120 e 121: Fotos Penha Schirmer.

Unidade 6: Relato de experiência: construindo uma identidade na arte popular

Figs. 122, 123.124,125,126, 127,128,129 e 130: Fotos Júlio Tigre.

Figs. 131a e 131b: Fotos Júlio Tigre.

Fig. 132: http://inventandoinventarios.blogspot.com/

Figs. 133a, 133b, 133c, 134, 135a, 135b, 135c, 136a, 136b, 137, 138, 139a, 139b,

139c, 140a e 140b: Fotos Júlio Tigre.

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Colaboradores

Júlio César da Silva (Júlio Tigre)Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (1999). Doutorando no Programa: Lenguages y Poéticas en el Arte Contemporaneo na Universidad de Granada, Espanha desde 2007. Atualmente é Professor substituto do curso presencial dos curso Artes Visuais da UFES, e tutor a distância (EAD), na mesma instituição. Possui experiência na área de artes com ênfase em Escultura, instalação, vídeo instalação e pintura.

Tatiana CampagnaroGraduada em artes plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (1996). Atualmente é professora da Sociedade Cultural Monteiro Lobato Cems. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Cerâmica. Sócia proprietária do TACTO atelier de cerâmica desde 2001.

Terezinha DragoGraduada em Educação Artística pela Universidade Federal do Espírito Santo (1996). Especialização em Artes na Educação, Instituto Superior de Educação e Cultura Ulysses Boyd, Vitória, ES (2009). Atualmente é sócia proprietária do TACTO Atelier de Cerâmica desde 2001; professora efetiva de Educação Artística da Prefeitura Municipal de Vitória desde 2008.

Maria da Penha Schirmer Ribeiro (Penha Schirmer)Graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo, 2008. Bolsista de Iniciação Científica – PIBIC/ UFES, 2005/2006. Atuou como monitora em Cerâmica II na UFES (2005 a 2007). Participou do Congresso Nacional de Técnicas para as artes do fogo – UFSJ, em 2010; e em São Bernardo do Campo SP 2003/2004. Fez curso de Vidrados em alta temperatura no Ateliê Eliana Penido, RJ, 2007.

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