Cerveja 2º edição

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Produção de Cerveja INSTITUTO POLITÉCNICO DE COIMBRA ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE COIMBRA Licenciatura em Biotecnologia Engenharia Bioquímica – 2º semestre 2011/2012 Segunda Edição Fani Plácito 20100218 Mário Silvério 20100211 Luís Pereira

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Produção de Cerveja

INSTITUTO POLITÉCNICO DE COIMBRA

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE COIMBRA

Licenciatura em Biotecnologia

Engenharia Bioquímica – 2º semestre

2011/2012

Segunda Edição

Fani Plácito nº 20100218

Mário Silvério nº 20100211

Luís Pereiranº 20090457

Produção de Cerveja - Escola Superior Agrária de Coimbra - 2011/2012

Índice1. Introdução.......................................................................................................................2

2. Marcos Históricos............................................................................................................3

3. Processos Biotecnológicos – Leveduras...........................................................................4

4. Matérias-Primas..............................................................................................................7

5. Tipos de Cerveja............................................................................................................10

6. Etapas de Produção.......................................................................................................11

7. Fermentadores..............................................................................................................13

8. Curiosidades..................................................................................................................14

9. Conclusão......................................................................................................................15

10. Bibliografia.....................................................................................................................16

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1. Introdução

A cerveja é uma bebida com milhares de anos de existência, produto da mais antiga actividade biotecnológica que há memória. Ela é o resultado de um processo biotecnológico, tradicionalmente descontínuo, que engloba um conjunto de processos biológicos e enzimáticos, realizados com o apoio de diversas operações unitárias (Hardwick, 1995).

De acordo com a legislação portuguesa, “a cerveja é uma bebida obtida por fermentação alcoólica, mediante leveduras seleccionadas, do género Saccharomyces, de um mosto preparado a partir de malte de cereais, principalmente cevada, e outras matérias-primas amiláceas ou açucaradas, ao qual foram adicionadas flores de lúpulo e/ou seus derivados e água potável” (portaria 1/96)

Há milénios que o homem utiliza as leveduras para a produção de pão, cerveja, vinho e outros alimentos obtidos por fermentação. Actualmente, são usadas numa ampla faixa de processos fermentativos visando a produção dos mais variados tipos de produtos. As leveduras do género Saccharomyces apresentam várias cepas consideradas seguras e capazes de produzir dois metabolitos primários importantíssimos na cerveja, etanol e dióxido de carbono.

Equacionar a produção de um tipo de cerveja implica, basicamente, estudar qual o grau alcoólico que deverá ter, qual o seu perfil aromático e sensação sensorial que deve deixar na boca e qual a estabilidade (biológica, de espuma, coloidal, e de aroma/gosto) para ela pretendida.

Abordaremos, então, as características das matérias-primas, mosto, leveduras e as suas características com relevo para a fermentação e maturação, na tentativa de perceber como afectam as propriedades da cerveja, produto final de tão laboriosos processos biológicos e bioquímicos.

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2. Marcos Históricos

Trabalhos arqueológicos mostraram que a cerveja era conhecida no Irão no VI milénio a.C. e as civilizações babilónia e egípcia legaram -nos documentos e pinturas em que se descreve o seu modo de produção.

As cervejas desses tempos tão recuados eram muito concentradas, fortemente turvas, e bastante alcoólicas. Corriam abundantemente nas festas, juntamente com o vinho, e a sua cor variava desde o muito claro para o muito escuro.

Foi a partir do século XIX que a cerveja se alterou significativamente, quando métodos e conceitos científicos foram adoptados. Com o resultado dos avanços conseguidos, as unidades produtoras foram-se tornado cada vez maiores, originando o aparecimento de uma verdadeira indústria. A Weihenstephan, na Alemanha, é a cervejaria mais antiga do mundo.

Os grandes avanços cientificos ficaram a dever-se aos estudos de L. Pasteur, E. Buchener, E. Hansen, A. Harden e W. J. Young, estes dois últimos já no inicio do século XX, que permitiram esclarecer muitos dos problemas que dificultavam o processo da industria.

O trabalho com estirpes puras, preconizado po E. Hanses (Carlsberg Brewery, Copenhaga) foi fundamental para o avanço técnico e cientifico da industria cervejeira. No Reino Unido , H. Brown realizou estudos que mostraram o efeito pernicioso, superior ao da presença das bactérias, da coabitação da levedura seleccionada com estirpes selvagens, reforçando, assim, a necessidade dos cuidados a ter com a manutenção das estirpes puras. Finalmente, o aparecimento das técnicasde genética possibilitou a melhoria de caracteristicas e a chegada da genética molecular abriu porta à criação de novas estirpes.

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3. Processos Biotecnológicos – Leveduras

As leveduras são fungos que se apresentam predominantemente sob a forma unicelular, cuja reprodução geralmente ocorre por gemulação.

As leveduras distinguem-se dos protozoários por possuírem uma parede celular rígida, distinguíveis das bactérias pelo seu volume e propriedades morfológicas.

As leveduras não são uma entidade taxonómica natural, são diferenciadas entre si, não directamente pelos seus elementos morfológicos, mas, sobretudo, pelas suas características fisiológicas.

A Saccharomyces cerevisiae é uma levedura ascomicética gemulante, dado que não produz esporos sexuados, estando interligada cos “ascomicetes ou com os basidiomicetes” (Pelcsar, 1980)

As cepas dessa espécie, usualmente referenciadas na fermentação de algumas bebidas alcoólicas e de pão, na presença de oxigénio, oxidam os açúcares a dióxido de carbono. Esta levedura tem uma conformação elíptica medindo aproximadamente de 6 a 8 mm de comprimento por 5 m largura.

Tem uma reprodução assexuada por brotamento durante o qual o núcleo se divide por contracção, entrando parte no broto, juntamente com outros organelos celulares. A célula volta a sua forma normal pela síntese de novo material da parede celular.

A produção de cerveja é consequente de um processo de múltiplos estágios envolvendo a “conversão biológica de materiais in natura em produto final” (Walker, 2000; Carvalho et al., 2006).

Todas as características das leveduras que lhes permite adaptar-se ao meio base da cerveja (malte, lúpulo e água) e conseguir “metabolizar eficientemente os constituintes do mosto em etanol em outros produtos da fermentação a fim de produzir uma cerveja com qualidade e estabilidade satisfatória” (Rossell e Stewart, 1995), estão dependentes de diferentes factores, tais como:

Características genéticas: escolha da estirpe a inocular; Fisiologia celular: tolerância ao stress, viabilidade e vitalidade; Disponibilidade de nutrientes: variedade e concentração de açúcares e disponibilidade

de iões metálicos no mosto; Condições físicas: temperatura, pH, oxigénio dissolvido e densidade do meio.

Na produção de cerveja ale e lager tradicionalmente todas as leveduras utilizadas são cepas S. Cerevisiae que representam um grupo diversificado de microrganismo.

Na literatura, as leveduras referidas como S. Cerevisiae var. caslsberg ou S. Cerevisiae tipo lager pertencem, tal como o nome indica, à fermentação lager, enquanto que as leveduras ale são apenas referidas como S. Cerevisiae tipo ale.

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Pelas diferenças bioquímicas, importantes na distinção de ambas as leveduras, observou-se que a estirpe S. Cerevisiae Caslsberg tipo lager contém os genes MEL que sintetiza a enzima extra celular -galactosidade, permitindo o seu crescimento a 30º C.

As leveduras S. Cerevisiae tipo ale necessitam em média 5 dias a efectuar a fermentação a uma temperatura de 20ºC. São leveduras de alta fermentação, pelo que, no final da fermentação, emergem à superfície do produto formando uma película de biomassa muito densa.

As leveduras S. Cerevisiae tipo lager levam em média 14 dias a efectuar a fermentação a uma temperatura de 8ºC. São descritas como leveduras de baixa fermentação dado que, no final da fermentação, ao se agregarem, formam flocos, que depositam no fundo do fermentador, um sedimento de biomassa.

3.1 Selecção de Estirpes

Actualmente, a investigação das diferentes estirpes de leveduras do processo de fermentação da cerveja, tende a utilizar métodos moleculares para caracterizar e diferenciar várias estirpes. Estas técnicas irão permitir a identificação de estirpes com propriedades fisiológicas semelhantes.

As técnicas de identificação molecular de leveduras é mais objectiva e sensível do que os testes bioquímicos e morfológicos, apesar de ainda não serem suficientemente rápidas para atender às necessidades dos processos modernos de produção de cerveja que operam em larga escala.

Para além do acessível manuseamento que a levedura deve adquirir (largo período de armazenamento e estabilidade genética), estas de forma a obter uma eficaz produção de cerveja, devem apresentar as seguintes características definidas por Prist e Campbell (1996):

Uma velocidade rápida de fermentação sem crescimento celular excessivo;

Uma utilização eficiente da maltose e maltotriose com uma boa conversão em etanol;

Habilidade de tolerar o stress pelas altas concentrações de álcool e pressões osmóticas do mosto;

Uma produção acentuada de certo nível de compostos do sabor e do aroma;

Uma floculação ideal para o processo industrial; Boas características de manuseamento (largo período de

armazenamento e estabilidade genética).

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Devido às leveduras existentes não preencherem todos os requisitos, ou em alguns deles tinham baixo rendimento, foi necessário recorre a engenharia genética para melhorar as suas características. A técnica DNA recombinante permite transformar as leveduras com DNA de interesse de outras estirpes.

Pelos problemas éticos que acarretam ainda não são implementadas à larga escala de produção.

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4. Matérias-Primas

A cerveja, resultado de um processo biotecnológico, tradicionalmente produzido por reactores batch, engloba um conjunto de processos biológicos e enzimáticos gerados pela conexão de quatro matérias-primas base: água, cevada maltada, cereais não maltados e lúpulo.

Planear a produção de determinado modelo de cerveja implica uma análise das características a implantar. O grau alcoólico pretendido na bebida, a estabilidade na textura, a nível biológico, coloidal e de espuma, mas sobretudo, o perfil aromático relacionado ao paladar do consumidor.

Neste conjunto de preparado, designado por mosto, é o cereal produtor do malte, comummente a cevada, o principal responsável pelas características aromáticas da cerveja.

4.1 Cevada

Definida como primordial à produção do cervejeiro, este cereal é transformado em malte mediante o processo de maltagem - germinação sob condições controladas.

A cevada dística (Hordeum distichum) é a espécie de maior valor industrial para maltar uma vez que apresenta grãos bem desenvolvidos e glumelas (camada envolvente do grão) infimamente finas. Cultivada por toda a Europa, a nível nacional a zona cultivar está limitada ao Alentejo.

A maltagem resume-se a três passos base: molha, germinação e secagem.

A molha configura o grão a teores de humidade mais elevados, pelo permanente contacto com a água, tornando as paredes celulares mais friáveis facilitando a extracção do amido na etapa de germinação.

Na germinação, a degradação enzimática do amido armazenado no endosperma, origina açucares que vão ser a fonte de energia para o crescimento da radícula (raiz) e do caulículo (caule). Em termos gerais, são sintetizadas as enzimas necessárias à hidrólise parcial dos componentes da cevada (amido, proteínas e parede celular) que originam os nutrientes requeridos pela levedura.

A secagem é o modo de controlo do crescimento. Quando se verifica o caulículo nas dimensões desejadas, a germinação e a desagregação é interrompida com recurso à secagem controlada, fixando nesse ponto a coloração e o aroma do malte.

O malte confere as características de textura à cerveja. Desencadeia as proteínas responsáveis pela espuma; influencia a estabilidade do aroma; compostos azotados e açúcares contribuem na coloração. (José M. Machado Cruz, páginas 279 a 280)

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4.2 Cereais não maltados

Usados em pequenas percentagens no mosto, de modo generalizado, estes cereais permitem diminuir o conteúdo global de proteína do mosto adequado ao tipo de composição pretendido para a cerveja.

Normalmente a gramínea recorrente é o milho. Uma vez isenta de gordura é moído e denominado de gritz sendo caracterizado, essencialmente, como um dador de amido, conferindo à cerveja propriedades específicas e diminuição do nível de cor.

4.3 Lúpulo

Outra das matérias-primas de valor na produção de cerveja, o lúpulo é uma planta trepadeira da família das urticárias (Urticacea), típica de climas frios, dióica, cujas inflorescências femininas reproduzem óleos e resinas amargas que são relevantes para o amargurizar e aromatizar típico da cerveja.

Em Portugal, cultiva-se lúpulo, variedade de amargo, na região de Bragança. (Cruz, José M. Machado; páginas 282 a 283)

No Humulus lupulus L. entre os diversos componentes, destacam-se as resinas onde se encontram os ácidos beta (lupulonas) e os ácidos alfa (humulonas), principal fonte do amargo da cerveja, e os óleos essenciais.

A classificação do lúpulo em amargor ou aromático está dependente do elevado nível de ácidos alfa ou não, respectivamente.

Devido à instabilidade dos componentes, facilmente oxidáveis, a qualidade vai degradando-se, se prescindir de cuidados de recolha, tratamento e armazenamento.

Para a dimensão industrial, foram surgindo naturalmente formas de armazenamento mais estáveis do lúpulo. Os extractos, obtidos por extracção pelo dióxido de carbono e etanol, e as peletes, conseguidos pelo prévio enriquecimento dos solos reprodutores de lúpulo.

Sendo o ácido alfa uma substância não solúvel, aquando da extracção do lúpulo, este é fervido junto com a cerveja, onde pelo processo de isomerização, as resinas fixam o sabor amargo na cerveja.

Paralelamente, o lúpulo contribui na formação de uma boa espuma e protege a cerveja de contaminações microbianas.

4.4 Água

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A água usada na indústria cervejeira, independentemente da fonte de captação, é adequada ao consumo humano, sendo indispensável a todas as reacções no decorrer do processo de produção.

Em tempos longínquos, o local a implantar a indústria era analisado tendo em conta a extracção de água, nos dias que decorrem, com o avançar tecnológico, a composição química da água é adaptada nas fábricas em detrimento das exigências nos vários passos do processo. Técnicas como a desionização ou osmose inversa permitem obter a água mais indicada à produção de cerveja.

Em território nacional, a dureza total e o teor de bicarbonatos são as características vulgares a ser adaptadas, neste caso reduzidas. (Cruz, José M. Machado; página 284)

4.5 Aditivos de Fabricação

De modo a colmatar algumas lacunas previsíveis durante o processo de produção de cerveja, são acrescentados alguns aditivos de forma a não danificar o produto para consumo:

Antioxidantes – Paralisa a acção do oxigénio na deterioração de

gorduras nos alimentos, caso contrário a sua acção alteraria a textura,

tornando-os impróprios para consumo.

Estabilizantes – Conserva as características físicas das emulsões e

suspensões. São adicionados na fermentação de cerveja com a finalidade

de aumentar a viscosidade.

Acidulantes – Actuam como suplemento de aroma e sabor.

Anti-espumantes – Considerados reguladores da formação de

espuma, particularmente durante as fermentações.

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5. Tipos de Cerveja

Sobretudo na Europa, origem de produção da cerveja, pela diferente espécie de levedura e os pequenos diferenciamentos nas características das matérias-primas usadas, dependendo da textura e composição, a cerveja é classificada pelo tipo de coloração, teor alcoólico e o tipo de fermentação. No quadro 1 notam-se os diferentes tipos de cerveja de origem no continente europeu.

Inicialmente, a cerveja resultava quase que exclusivamente da fermentação realizada à temperatura ambiente por leveduras de fermentação alta - cerveja ale. Na Baviera porém, produzia-se desde o século XVI, uma cerveja cuja fermentação era realizada por leveduras que fermentavam bem a baixas temperaturas (8 a 10ºC) e que era mantida em caves após a fermentação principal terminar - cerveja lager. Observamos na figura 1 os diferentes tipos de cerveja que foram surgindo derivados destes da alta e da baixa fermentação.

Figura 1 – Esquema explicativo dos diferentes tipos de cerveja.

Quadro1 – Diferentes tipos de cerveja de origem na Europa.

Cerveja Origem Coloração Teor Alcoólico Fermentação

Lager Alemanha Clara Alto Baixa

Malzbier Alemanha Escura Alto Baixa

Ale Inglaterra Clara avermelhada

Médio Alto Alta

Porter Inglaterra Escura Alto Alto/Baixo

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Pilsen Alemanha Clara Médio Baixa

s/ álcool Alemanha Clara --- ---

6. Etapas de Produção

6.1 Fabricação do Mosto

O mosto é fabricado numa zona particularmente criada para o efeito, a chamada sala de brassagem ou sala de fabrico.

1- Moagem do Malte: No início da produção de cerveja, o malte é enviado para os moinhos, de forma a cortar a casca facilitando a extracção dos açúcares e aminoácidos para o processo. A moagem promove ainda a diminuição das partículas de amido para facilitar a sua hidrólise.

2- Brassagem: Após a moagem, o malte é enviado para caldeiras de empastamento, onde o malte moído é misturado com água e submetido a uma temperatura a rondar os 75ºC. As enzimas contidas no malte são libertadas e promovem a hidrólise catalítica do amido.

3- Filtração do Mosto: A totalidade do volume da caldeira é, então, bombeada para um filtro que vai separar a fracção solúvel (mosto doce) da parte insolúvel (subproduto com grande aplicação na alimentação do gado bovino). O tipo de filtro usado influência a qualidade do mosto, devido à presença de mais ou menos ácidos gordos, que são importantes moduladores do perfil aromático da cerveja. Os filtros mais usados são os filtros de quadros clássicos, mas recentemente têm sido substituídos pelos filtros de membrana que exigem uma moagem em moinhos de martelos. Veja-se no quadro 2 a composição lipídica de mostos provenientes de diferentes filtros.

Quadro 2 – Influência do tipo de filtro na composição lipídica do mosto (adaptado de José M. Machado Cruz, página 286)

4- Ebulição: No seguimento do processo o mosto é colocado num taque onde se adiciona o lúpulo para se obter óleos essenciais que serão extraídos do lúpulo. A mistura é fervida aproximadamente 90 minutos de forma a evaporar o excesso de água (cada tipo de cerveja tem origem num mosto de determinada concentração) e ainda compostos voláteis. Grande parte dos óleos essenciais são também eliminados, mas o aroma da cerveja é influenciado por aqueles que são retidos.

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Filtro Ácidos gordos (mg/L)Meura 2001 (Filtro de membrana) 4.04Filtro de quadros Clássicos 14.70

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5- Tratamento do Mosto: Após a fervura, o mosto juntamente com o lúpulo é resfriado para a inoculação da levedura. O mosto frio deve ser arejado de modo a ficar com cerca de 8 a 19 mg de O2/L.

6.2 Fermentação

Nesta fase, as leveduras vão reproduzir-se devido à existência de açúcar no meio, e vão produzir álcool, dióxido de carbono entre outros compostos. A fermentação é um processo descontínuo realizado em fermentadores de grande capacidade, os tanques cilindrocónicos. Com base nos estudos de microrganismos (anos 50-60) começou a aparecer na indústria tentativas de fermentar em contínuo, embora com muitas dificuldades nos meados dos anos 80 registou-se um avanço assinalável, com a introdução de leveduras imobilizadas. Uma vantagem da utilização da imobilização é o facto de ser possível uma operação continua com elevada concentração de levedura, o que acelera a fermentação.

A fermentação alcoólica é a transformação dos açúcares fermentáveis do mosto (glucose) em álcool, gás carbônico e calor. Pode-se dividir a fermentação em três etapas:

Fase de Adaptação: O início da fermentação em que a levedura se adapta ao meio. Fase de Multiplicação: dá-se a divisão de células, ou seja é quando a levedura se

multiplica e consequentemente produz calor e CO2 gasoso. Esta fase depende da temperatura do mosto e do teor de açúcares.

Fase da Fermentação: esta fase inicia-se o fim do oxigênio, e é caracterizada pela produção de álcool, CO2 gasoso e calor, a partir dos açúcares existentes.

O processo de fermentação, que tende a durar entre 8 a 10 dias, inicia-se com a transferência do mosto já resfriado para um tanque de fermentação, onde já está presente a levedura. Quando a levedura entra em contacto com o mosto pela primeira vez, as concentrações de glicose (C6H12O6) são muito altas, o que faz com que a glicose entre por difusão, na levedura.

Se a cerveja que está a ser produzida for ale, ou seja, uma cerveja que utiliza uma levedura de alta fermentação no processo, o mosto será mantido a uma temperatura constante de 20ºC. Se a cerveja for lager, ou seja, cerveja que utiliza uma levedura de baixa fermentação a temperatura será mantida aproximadamente a 8ºC. Na fermentação há produção de grandes quantidades de calor, e por isso os tanques de fermentação são constantemente resfriados para manter a temperatura ideal para o processo.

Uma vez que a fermentação demora no mínimo duas semanas, a capacidade de produção de cerveja é limitada pela quantidade de tanques disponíveis.Durante a fermentação, a densidade específica da mistura é medida para se poder determinar

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quando termina a fermentação. O fermentador é fechado, mas possui um canal de ventilação para a saída de dióxido de carbono do fermentador. Enquanto a fermentação se realizar e a densidade específica tiver alcançado um determinado nível, o tubo de ventilação será fechado, e como a fermentação continua, haverá mais produção de CO2, sendo este o método da cerveja receber a maior parte da sua carbonização; o restante CO2 é adicionado mais tarde durante as etapas de produção.

Quando a fermentação estiver a terminar, a biomassa (levedura) e outros componentes indesejáveis estarão concentrados no fundo do fermentador devido à descida de temperatura no processo para 0ºC, o que facilita a sua remoção. Enquanto os componentes indesejáveis se encontram no fundo, a cerveja é lentamente bombeada do fermentador e filtrada para remover quaisquer sólidos que possam ter ficado. Depois do filtrar, a cerveja é transferida para um outro tanque onde se realizam ajustes de carbono antes de prosseguir para o engarrafamento.

7. Fermentadores

O processo fermentativo envolvente na produção de cerveja é realizado tradicionalmente em reactores descontínuos de grande capacidade, as cilindrocónicas.

Para um eficaz desempenho, os fermentadores são devidamente isolados, fechados e equipados com placas de arrefecimento, diferenciadas a zona cilíndrica da cónica, de maneira a favorecer a recolha da levedura a uma temperatura inferior à da cerveja.

A capacidade de floculação das estirpes é uma referência importante para um bom progresso na separação da levedura da cerveja no final da fermentação.

Na fermentação baixa, os flocos resultantes caem e aglomeram-se no fundo da cuba, enquanto na fermentação alta sobem pela ajuda do dióxido carbono gerado.

Em traços gerais, relativamente à estrutura e concepção, o fermentador deve:

Evitar a contaminação do mosto por microrganismos externos, Ser fabricado em material que posteriormente não seja corroído tanto pelo mosto

como pelas soluções de higienização; Suportar diferentes temperaturas, em função do avanço do processo

fermentativo; Permitir a recolha de dióxido de carbono libertado; Permitir uma perfeita recolha da levedura sedimentada e o posterior

esvaziamento da cerveja; Ser equipado com um dispositivo de higienização.

Nas indústrias de cerveja, comummente, o fermentador é construído em material de aço inox.

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8. Curiosidades

Qualquer pessoa que peça uma cerveja num estabelecimento comercial ou até a consuma no conforto do seu lar simplesmente abre a lata/garrafa e degusta o produto tão apreciado, mas nunca se interroga sobre factos ou simples curiosidades que estão por detrás da tão famosa cerveja. É actualmente bastante utilizada na culinária mas não é uma inovação, isto porque a mais antiga receita do mundo é confeccionada com cerveja, foi descoberta por arqueólogos gravada numa placa de gesso na Mesopotâmia. Apesar de ser encarada como uma bebida máscula mais indicada para homens (bastante apreciada por mulheres) a cerveja pode ser usada no ramo da cosmética, uma vez que a bebida contém ácido fosfórico, um componente essencial no crescimento dos tecidos celulares, o que coopera na manutenção de uma pele saudável, sendo este o fundamento científico para o uso da espuma da cerveja pelas mulheres de forma a tornarem a pele mais fresca e clara. Prova disso são os escritos de Plínio de há 2000 anos atrás sobre as mulheres do Antigo Egipto (G-Sat,2007).

Existem algumas dicas fundamentais a não esquecer para manter a bebida nas melhores condições para a sua degustação; a primeira é que ao contrário do vinho a cerveja não precisa de envelhecimento, quanto mais jovem for consumida melhor. Deve ser armazenada de pé e nunca deitada. A sua refrigeração deve ser no frigorífico sem pressas e nunca se deve colocar no congelador, uma vez que a violência da diferença de temperatura prejudicam a bebida. Depois de fresca se retirar a bebida para a temperatura ambiente deve ser consumida e jamais voltar a refrescar. A temperatura ideal para consumir uma cerveja é entre 4 a 6ºc de forma a não alterar a sua composição ou sabor. A formação de espuma, a chamada gravata, é muito importante uma vez que esta evita a libertação do gás e retêm o sabor, dois dedos de espuma são o ideal.

Não existe praticamente nenhuma diferença entre a cerveja e a imperial, ou o fino como é denominado em Coimbra, o que os difere é que a cerveja vai para a lata ou garrafa e é pasteurizada no entanto a imperial/fino é armazenada em barris e sai directamente para o copo no momento do seu consumo.

Sendo 90% composta por água é uma bebida hidratante, no entanto, sendo alcoólica, o seu consumo deve ser moderado. Rica igualmente em proteínas, vitaminas, hidratos de carbono e aminoácidos.

Actualmente a Bélgica é o país com maior variedade de cervejas no mundo, possuindo cerca de 150 tipos de cerveja diferentes. Em Portugal desde o século XVII há notícia de consumo de cerveja, existia até um Pátio da Cerveja, na antiga freguesia da Conceição Nova em Lisboa. (Unicer, s.d.)

Beber cerveja não engorda, isto se o seu consumo estiver inserido numa dieta alimentar equilibrada (Portal das curiosidades, 1999).

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9. Conclusão

A produção da cerveja envolve um longo processo biotecnológico, no entanto relativamente simples. Das várias matérias-primas que são necessárias a essencial é a levedura.

A cerveja é uma bebida hidratante e nutritiva podendo fazer parte de uma dieta equilibrada desfazendo o mito de que a cerveja engorda. Existem variados tipos de cerveja tendo por base os mesmos constituintes, a escolha é feita pelo paladar do consumidor.

Devido ao processo fermentativo e à pasteurização a cerveja não necessita de grandes cuidados ao armazenar, no entanto no trabalho são referidas algumas dicas de forma a consumir o produto na sua qualidade máxima.

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10. Bibliografia

Cruz, José M. Machado; Produção de Cerveja; Reactores Biológicos – Fundamentos e Aplicações; páginas 279 a 280; Lisboa; LIDEL

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Engenharia Bioquímica – 2º semestre | P á g i n a 16