CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL · Fica não autorizada a...
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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
VALDECI LAURINDO DO NASCIMENTO
CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NO APOIO FAMILIAR DO
DEPENDENTE QUíMICO
SÃO PAULO
2017
VALDECI LAURINDO DO NASCIMENTO
CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NO APOIO FAMILIAR DO
DEPENDENTE QUíMICO
Trabalho de conclusão de curso de especialização
Área de concentração: Terapia Cognitivo-
Comportamental Orientadora: Profª. Drª Renata
Tringueirinho Alarcon
Coorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins
SÃO PAULO
2017
Fica não autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde
que citada a fonte.
Laurindo, Valdeci N.
Contribuição da Terapia Cognitivo-Comportamental no Apoio Familiar do Dependente Químico
Valdeci Laurindo do Nascimento – São Paulo – 2017
23f + CD-ROM
Trabalho de conclusão de curso (Especialização) – Centro de Estudos em Terapia Cognitivo- Comportamental (CETCC)
Orientação: Profª. Drª Renata Tringueirinho Alarcon
Coorientação: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins
1. A Contribuição no Apoio Familiar ao Dependente Químico, 2. Terapia Cognitiva Comportamental. I Laurindo, Valdeci Nascimento. II Alarcon, Renata Tringueirinho. III Martins, Eliana Melcher.
Valdeci Laurindo do Nascimento
Contribuição da Terapia Cognitivo-Comportamental no Apoio Familiar do
Dependente Químico
Monografia apresentada ao Centro de
Estudos em Terapia Cognitivo-
Comportamental como parte das exigências
para obtenção do título de Especialista em
Terapia Cognitivo- Comportamental
BANCA EXAMINADORA
Parecer:
Prof.
Parecer:
Prof.
São Paulo, , de de
Dedico esse trabalho a minha família
por todo o apoio necessário na
realização desta especialização.
Agradecimentos
Agradeço à minha família e amigos por todo apoio necessário para a
realização deste trabalho.
Aos meus supervisorsores clinicos por todo o ensinamento e paciência aos
estudos.
Resumo
O apoio familiar é importante para a reestruturação cognitiva do dependente,
a atingir seus objetivos e metas. Para isso foi desenvolvido um levantamento teórico
a respeito do apoio familiar e da TCC, além de levantamento bibliográfico de estudos
que ocorreram nos anos de 2003 até 2015, foram selecionados os que priorizaram a
aplicação da TCC e família o tratamento de dependência química. As pesquisas
demonstraram que a família tem como função primordial a proteção de seus
membros, tendo potencial para oferecer apoio emocional para resolução de
problemas e conflitos, cabe aos profissionais que lidam diretamente com as
questões da dependência química orientar e estimular os familiares, fortalecendo
vínculos e facilitando o processo que envolve o tratamento do dependente. O
atendimento com as famílias surgiu da necessidade em compreender orientar para
auxiliar o indivíduo com problemas pelo uso de substâncias. Estudos mostram que a
fase do ciclo vital que, comumente, se inicia o uso de substâncias psicoativas é
aquela em que os filhos passam pela adolescência, já que buscam maior autonomia
e independência ao mesmo tempo em que começam a se desligar,
progressivamente, da família de origem. Nesta perspectiva, espera-se contribuir de
maneira efetiva para suscitar reflexões acerca das relações familiares que se
estabelecem nas famílias adictas, bem como das possíveis intervenções, tanto na
forma da prevenção quanto na terapêutica dos referidos contextos. A partir disso,
torna-se possível, propor uma nova restrutura que contemple a inserção da família
nos contextos terapêuticos da dependência química. A terapia cognitiva é
reconhecida por ser eficaz para o transtorno por uso de substâncias. Porém, foi
constatada escassez de estudos relacionados a TCC no campo da família em
dependência química. Sugerem-se mais pesquisas voltadas para este tema.
Palavras-chave: Terapia Cognitivo-Comportamental; Dependência Quimica; Co-
dependencia; Familia.
Abstract
Family support is important for the cognitive restructuring of the dependent, achieving
their goals and goals. For this, a theoretical survey was developed regarding family
support and CBT, in addition to a bibliographical survey of studies that occurred in
the years 2003 to 2015, those who prioritized the application of CBT and family to the
treatment of chemical dependency were selected. Research has shown that family
has the primary function of protecting its members, with the potential to offer
emotional support to solve problems and conflicts, it is up to professionals who deal
directly with the issues of addiction to orient and encourage family members,
strengthening ties and facilitating the process involving the treatment of the
dependent. The care with the families arose from the need to understand guide to
help the individual with problems by the use of substances. Studies show that the
phase of the life cycle that commonly begins the use of psychoactive substances is
that in which the children pass through the adolescence, since they look for greater
autonomy and independence at the same time in which they begin to detach,
progressively, of the family source. In this perspective, it is hoped to contribute in an
effective way to elicit reflections about the family relations that are established in the
addicted families, as well as of the possible interventions, both in the form of
prevention and in the therapeutics of said contexts. From this, it is possible to
propose a new structure that contemplates the insertion of the family in the
therapeutic contexts of chemical dependence. Cognitive behavioral therapy is
recognized to be effective for substance use disorders. However, there was a
shortage of studies related to CBT in the field of the family in chemical dependence.
Further research on this topic is suggested.
Key-words: Cognitive-Behavioral Therapy; Chemical Dependency; Co-dependence;
Family.
Sumário
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO 08
2 OBJETIVO
2.1 Objetivo Primário
2.2 Objetivo Secundário
12
3 METODOLOGIA 13
4 RESULTADOS e DISCUSSÃO 14
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21
8
1 INTRODUÇÃO
A abordagem cognitivo-comportamental (TCC) surgiu no final dos anos 1960
pela a insatisfação com o modelo psicodinâmico e a insatisfação com a terapia
comportamental baseada no processo de aprendizagem do tipo estimulo e resposta
(ER). A premissa básica da TCC refere-se que um processo interno influência as
emoções e comportamentos de um indivíduo (ZANELATTO, 2013).
Na compreensão familiar a abordagem sistêmica vem contribuindo com
resultados satisfatórios junto com a teoria cognitivo-comportamental e os grupos de
autoajuda para o tratamento de dependência química. A teoria cognitivo-
comportamental entende que todo pensamento, emoção provocará novas mudanças
nas relações familiares. Os grupos de Autoajuda (Al-Anon, Nar-Anon, Amor
Exigente), foram desenvolvidos para que os membros familiares tivessem apoio com
o dependente. Compartilhado e enfatizado por pesquisadores que a participação da
família, aumentam as chances de sucesso (LARANJEIRA et.al, 2013)
Aprendemos como seres humanos a viver em um contexto social que
influencia nos pensamentos e comportamentos. Cada indivíduo deve seguir as
regras para que não seja excluído da sociedade. Muitas das vezes este padrão pode
alterar os pensamentos levando ao um nível de estresse, ansiedade, agressividade,
que muitas das vezes saem do que é “normal” para uma “loucura”. O Dependente
Químico sofre por cobranças e preconceitos, passando a ser excluído deste convívio
social por não seguir regras morais e sociais estabelecidas (TORRENTS et.al, 2004)
Este processo de exclusão por desconhecimento, medo, falta de estrutura
familiar, rótulos, sentimentos de incapacidade, falta de estrutura social é a regra em
manter sigilo perante a sociedade, pois a família acaba tendo vergonha em ter um
dependente químico no convívio familiar.
As famílias estão expostas a essas dificuldades e ao estresse psicológico.
Todo e qualquer apoio ao envolvimento e participação de todos os membros
familiares é importante durante todo o tratamento terapêutico ao dependente desde
a sua internação, para afim de conhecimento e entendimento da sua situação, como
a participação de todo o processo (TORRENTS et.al, 2004)
A família, em certos momentos, passa por algumas decisões que podem ou
não ser fáceis, cabe uma postura diferente, em que possa ter uma melhor adaptação
9
ao problema, neste caso ao dependente. Com o apoio familiar, o dependente vai
atingindo ao seu estado de saúde, até chegar o momento do retorno a residência ou
ao seu dia-a dia (TORRENTS et.al, 2004).
É de grande importância o apoio familiar ao dependente químico, durante e
após o tratamento, pois ele apresenta vários sentimentos diante de uma situação de
risco, como sentimento de incapacidade, culpa, compulsão e fissura (DAIRE et.al,
2012).
Esse sofrimento que o dependente químico possui vai além da rigidez e
preconceito vindo da sociedade, pelo o simples fato de não estarem nos padrões
estabelecidos. No processo do tratamento, todos os membros da família são peças
importantes no trabalho, no entanto a família toda deve estabelecer limites em
algumas situações de conflitos, jogos de manipulações e o manejo em lidar com os
conflitos, não se tornando co-dependente. (GOMES et.al, 2003).
A co-dependência é um processo em que uma pessoa está fortemente
ligada a outra, seja emocionalmente, por conta de utilização de substância química
ou um comportamento problemático (DAIRE et.al, 2012).
As famílias devem evitar alguns comentários negativos aos pacientes, pois
estes comentários muitas das vezes acontecem quando o indivíduo cometeu algo e
ainda continua no estado do efeito das substâncias. Outras famílias se tornam
superprotetoras, gerando erros cognitivos em seus pensamentos (FIGLIE et.al,
2004).
Elaborada por Marlatt e Gordon em 1980, a prevenção de recaída é uma
abordagem considerada eficaz no tratamento da dependência química que tem
como objetivo a manutenção da mudança de hábitos (LARANJEIRA et.al, 2013)
Durante o tratamento, a recaída é um processo normal, ajuda o dependente
desenvolver habilidades estratégicas para enfrentamento das situações de risco. A
família, por algumas das vezes, não reconhece este processo e reforça os
comentários críticos e os pensamentos disfuncionais (FIGLIE et.al, 2004).
Por isso é muito importante um trabalho aliado ao conjunto de terapia,
medicação e grupo de apoio, terapia familiar diminuindo alucinação, angústia e
delírios. O Processo de recuperação torna-se lento e longo, no entanto várias
abordagens psicológicas tornam-se eficazes com resultados satisfatórios. Porém
com o apoio familiar na sua disposição, compreensão, carinho e dedicação os
resultados são mais efetivos (LAZURE, 1994).
10
O tratamento do dependente químico tem por finalidade o tratamento dos
sintomas de sua dependência e a garantia de sua continuidade ao tratamento,
dando o suporte adequado para este fim, visando sua recuperação e melhora
gradativa. Neste momento é importante o apoio da equipe multiprofissional e os
familiares do paciente, juntos pelo mesmo objetivo, o da melhora e qualidade de vida
do dependente e sua reinserção social (MOREIRA et.al, 2013).
Diante desde complexo cotidiano, as ações dirigidas às famílias devem
estruturar-se de modo a favorecer e fortalecer a relação familiar/profissional/serviço,
entendendo que o familiar é fundamental no tratamento dispensado ao doente
(ROCHA et al, 2000).
A colaboração da família no processo terapêutico do paciente dependente
químico é fundamental e contribui de forma significativa no tratamento e,
consequentemente, na melhora. O paciente sente-se valorizado e confiante na sua
recuperação, quando sente a efetiva participação familiar (MOREIRA et.al, 2013).
Os pacientes sofrem e suas famílias necessitam também de atendimento
em suas reais necessidades pela equipe, respeitando sua forma de estrutura social
e cultural, junto ao meio a que pertencem, levando em consideração os vínculos
estabelecidos e a dinâmica funcional, reconhecendo e respeitando suas limitações,
procurando trabalhar preconceitos e/outras formas de entendimento da situação
problema do paciente. A relação familiar é a base para uma boa estrutura emocional
para o paciente, tanto para a prevenção de uma crise, quanto para sua manutenção
e recuperação (ROCHA, et al, 2000). Fato pelo qual se torna essencial sua
participação e colaboração em todos os processos terapêuticos, que irá propiciar
uma melhor adequação do paciente ao tratamento e consequentemente melhoraria
no estímulo de reflexões sobre a inserção da família no processo terapêutico.
Sobre a dependência química há diversos estudos para encontrar a melhor
forma de estudar e desenvolver propostas de assertividade. As mais diversas
referências em que se possa estudar trazem por objetivo direto explicar e medir a
dependência e influência familiar de indivíduo para cada indivíduo, tendo por objetivo
principal a melhor forma de tratamento. Carranza e Pedrão (1990) desenvolveram a
concepção de que a dependência química está ligada a uma questão social e
cultural, onde as drogas eram vistas como forma de inserção social e cultos
religiosos.
Com a evolução humana, temos a dependência como o algo prejudicial à
11
saúde física, moral, psíquica e social. A família por sua vez, é bastante
prejudicada e lesada por todos os aspectos sociais e psíquicos diante do
dependente, sem ter solução imediata e sem saber, em grande maioria, como lidar
e auxiliar o dependente com busca por ajuda e auxílio a si própria. Diante da moral
civilizada, o dependente se torna o desafio não só familiar, mas de toda a
comunidade em que se está inserido (ROCHA, et al, 2000).
O consumo abusivo de substância tem sido tratado no contexto social,
como um problema de Saúde Pública, que causa prejuízos aos indivíduos, às
familias e à sociedade em geral. A Inclusão da família ao tratamento de
dependência quimica, tem sido cada vez mais eficaz, aumentando a adesão aos
tratamentos e aumentando os melhores resultados. Para a família, o uso de
substância é algo apavorante, mas o dependente precisa de comprensão, empatia
e apoio familiar para enfrentar as suas questões do dia a dia. Ocorre que, em
determinadas famílias, este sofrimento gera desgaste de energia, afetando sono,
criando sofrimento e prejuízos funcionais significativos.
Este trabalho tem por objetivo trazer uma reflexão a cerca de métodos e
ideais que se fazem necessários para o acompanhamento da família e todo o seu
suporte. Neste trabalho será feita uma revisão com base em estudos de
pesquisadores da área terapia cognitivo-comportamental, objetivando entender
como lidar com as situações que se fazem presentes na familia e do dependente
químico e como a família lida com o assunto frente à sociedade.
12
2 OBJETI VO
2.1 OBJETIVO PRIMÁRIO
Esse trabalho teve como objetivo entender como a Terapia Cognitivo-
comportamental pode auxiliar no apoio e engajamento da família no tratamento do
dependente químico.
2.2 OBJETIVO SECUNDÁRIO
- Conhecer o modelo Cognitivo-Comportamental para o apoio familiar ao
Transtorno por uso de Substâncias.
13
3 METODOLOGIA
O presente trabalho teve como referência uma pesquisa em banco de dados
eletrônicos: Scielo e Pubmed, artigos, dissertação de mestrado, livros, sites
especializados em saúde, dependência química e terapia cognitivo-comportamental,
utilizando os termos família, dependente químico.
No Scielo a busca foi feita no dia 08/02/2017, utilizando os termos família,
dependente químico. Oito artigos foram encontrados, dos quais sete foram
selecionados. No Pubmed a busca aconteceu no dia 19/02/2017 com as palavras
chaves “family, Chemical dependency” foram encontrados treze artigos nos
resultados, dos quais sete foram selecionados.
Deste total, apenas foram encontrados dois artigos e um livro que
relacionaram a terapia cognitivo-comportamental com o apoio ao familiar do
dependente químico.
Critérios de inclusão: foco em tratamento em terapia cognitivo-
comportamental para dependência química, nos anos de 2003 a 2015.
Critérios de exclusão: estudos em que a TCC não era relevante ou com
prioridade secundária e estar escrito em língua diferente do português ou inglês.
14
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este trabalho teve por objetivo trazer uma reflexão acerca de métodos e
ideais que se fazem necessários para o acompanhamento da família e todo o seu
suporte. Neste trabalho foi feita uma revisão com base em estudos de
pesquisadores da área terapia cognitivo-comportamental, objetivando entender
como a família lida com o assunto frente à sociedade.
A Terapia Cognitivo-Comportamental utiliza-se de suas técnicas para
identificar pensamentos automáticos, distorções cognitivas e crenças
disfuncionais, trabalhando no intuito da reestruturação cognitiva, visando melhoria
em estrategias de enfrentamento e que traz uma melhor qualidade de vida.
Levando em consideração a revisão bibliográfica notamos pontos importantes de
aprendizado. O primeiro se refere ao conceito histórico da dependência quimica
em que é um processo multifatorial que leva o indivíduo a usar a droga de forma
extensa para o prazer. Alguns podem fazer o uso para aliviar tensões, resolução
de problemas, medo, ansiedade etc. Nesse processo, o indivíduo, por não
conseguir controlar o consumo de drogas, acaba agindo com impulsividade e de
forma repetitiva (MOREIRA et.al, 2013).
Para uma melhor compreensão existem duas formas principais em que a
dependência apresenta: a psicológica e a física. A Dependência psicológica surge
quando o individuo interrompe o uso da substância e desenvolve um estado de
desconforto e mal-estar caracterizados como angústia, sentimento de fracasso ou
impotência, falta de concentração etc. A dependência física é conhecida como a
síndrome da abstinência, na qual ao diminuir o consumo da droga, leva o
dependente a ter sintomas que permanecem por dias ou horas, gerando tremor nas
mãos, suor, vômitos e etc (MOREIRA et.al, 2013).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais –
DSM V (2014), publicado pela Associação Psiquiátrica Americana, a característica
primordial da dependência de substâncias (álcool e/ou droga) corresponde à
presença de um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos.
O segundo ponto há um consenso nas práticas clinicas sobre o apoio da
família para a motivação e mudança ao dependente químico. A familia é considerada
15
uma ligação importante entre toda a interação social. Na atualidade, é preciso
discutir a dependência química dentro de um modelo biopsicossocial. Assim, na
proposta de tratamento do dependente químico, deve-se abranger, além do
indivíduo, as diversas áreas de sua vida, inclusive sua família, o que remete a
questão da co-dependência. Considerando que a droga, no caso da dependência,
passa a exercer um papel central na vida do indivíduo preenchendo lacunas na
esfera psíquica e social, é preciso considerar que além dos sintomas físicos e
mentais, existe a questão social (SILVEIRA FILHO 1995 apud SOBRAL e PEREIRA,
2012).
As famílias, com relação ao tratamento da dependência química, podem ter
papel importante na influência, redução ou prevenção de efeitos e comportamentos
negativos de seus membros (LARANJEIRA et.al, 2013). A família é entendida como
um grupo intermediário entre o indivíduo e a sociedade, portanto, as perturbações de
personalidade e distúrbios na adaptação social seriam influenciadas continuamente
pela interação familiar. A família acaba desacreditando na melhoria continua do
indivíduo e atribuindo a responsabilidade para o psicólogo ou equipe
multiprofissional (ALCANTARA, 2011).
“A família desenvolve um sistema de valores que são demonstrados através
dos comportamentos, como uma unidade de a saúde dos seus membros, dando
resposta e apoio em situações de doença” (COLVERO, 2004).
Há 50 anos a terapia familiar foi desenvolvida como uma das formas de
intervenção no tratamento da dependência química. No final da década de 70, a
palavra “co-dependência” surgiu para descrever as pessoas afetadas por estarem
envolvidas em situações com dependentes químicos (ZIMMERMAN, 1998).
A participação, compreensão do problema relacionado à dependência química
do cônjuge nas sessões, aumenta a motivação do paciente para a mudança e em
permanecer em tratamento as suas metas de tratamento (DE MICHELI, 2004). As
intervenções familiares e redes de apoio geram resultados satisfatórios aos
dependentes químicos, tendo como maior desafio a forma do envolvimento das
intervenções familiares (COPELLO e colaboradores, 2006).
O trabalho de terapia familiar é um complemento de tratamento de internação
e ambulatorial e em alguns casos, o indivíduo também pode ser dependente da
relação (SILVEIRA FILHO, 2004).
Na teoria de aprendizagem social, condicionamento clássico e modelo de
16
comportamento operante, essas teorias assumem que as interações familiares
podem reforçar negativamente o comportamento de consumo do dependente. Esses
comportamentos são apreendidos e reforçados negativamente e positivamente no
ambiente (EDWARDS, 1987). Uma intervenção comportamental reorganiza vários
aspectos de vida, que desperta de uma certa forma interesse pela a vida (WRIGHT,
2008).
No terceiro ponto encontramos que na teoria cognitivo-comportamental o
problema central dos usuários de substâncias está nas crenças relacionadas ao uso,
a respeito de si mesmo, do outro e do mundo. Essas crenças construídas do
decorrer de suas experiências, como “sou infeliz”, “não sou o bom o suficiente”
podem ser ativadas diante da exposição de substância psicoativa (ZANELATTO,
2013).
Esta abordagem familiar da Terapia cognitivo-comportamental vê a que os
pensamentos e emoções influenciam em o comportamento. Quando os
comportamentos do indivíduo e familiares são trabalhados, podem passar de
comportamentos disfuncionais para comportamentos funcionais (WRIGHT, 2008).
Ressalta-se que as famílias têm um poder quando são inseridas no
tratamento, promovendo a mudança ou sabotando o processo terapêutico na sua
meta. O treinamento de solução visa aos membros familiares a listar as possíveis
soluções, vantagens e desvantagens para resolução e formulação de um plano de
ação (ZANELATTO, 2013).
Por outro lado, Bucher e Costa (1985), citado por Rezende (2003), apontam
que de 20 a 30% dos pacientes procuram ajuda terapêutica espontaneamente; 8%
para tratamentos por determinação judicial e 1% para tratamentos impostos pela
família. Deste modo, percebe-se que ainda é pequena a influência da família no
tratamento de dependência química.
Segundo o modelo cognitivo-comportamental:
Esta abordagem reza que a cognição determina o afeto e o comportamento que a família tem a cerca da dependência química, sendo esta cognição disfuncional ou funcional. O objetivo é reestruturar essas cognições disfuncionais através da resolução de problemas, objetivando dotar a família de estratégias de habilidades para perceber e responder as situações de forma funcional (KNAPP, 2008).
A abordagem cognitivo-comportamental compreende que nas intervenções
com famílias de dependentes químicos, os membros estabelecem uma relação de
co-dependência (TOSCANO, 1995).
17
O trabalho tem como referência compreender em que “Ciclo de Vida” a
família está envolvida, seja na formação de casal, educação dos filhos, ninho vazio,
ou separação. Para a autora, as sessões com grupos e aconselhamento têm tido
bons resultados, pois os familiares sentem-se acolhidos com o conhecimento de
outras experiências (SILVEIRA FILHO, 1995).
Para Lawson (1999), não é possível a compreensão do ciclo de vida
individual sem que se compreenda o contexto familiar onde o indivíduo está inserido.
A Abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental, por Aaron Beck, teoriza
que não é a situação que determina o que as pessoas sentem, mais o modo da
como interpretam a situação, gerando sentimentos (BECK, 1997, SILVIA; SERRA,
2004).
A TCC atua na identificação dos pensamentos chamados “automáticos”.
Essas cognições passam rapidamente na mente, enquanto interpretamos um
determinado evento. Tornam-se disfuncionais quando afetam negativamente e de
forma irreal os pensamentos, emoções e comportamentos. Desta forma, a TCC pode
contribuir com as famílias de dependentes químicos, identificando esses
pensamentos disfuncionais (BECK, 1997, SILVIA; SERRA, 2004), avaliando de uma
forma mais adaptativa a situação, modificando, consequentemente, os sentimentos e
comportamentos. O estudo de Edward e colaboradores (1970 apud ZANELATTO;
LARANJEIRA, 2013) aponta a dependência com tendo, pelo menos, três dos
critérios abaixo:
Compulsão no consumo – desejo incontrolável de consumir a droga
Aumento da tolerância – necessidades de doses crescentes
Sindrome de abstinência – Sinais e sintomas com intensidade variável
quando o consumo diminui ou cessa;
Alivio ou evitação da abstinência pelo o aumento do consumo – para
aliviar os sintomas, o individuo aumenta o consumo, antecipando a
prevenção aos intervalos dos sintomas de abstinência, consumindo
preventivamente;
Importância no consumo – quando o uso se torna prioridade;
Alterações sociais – as referências tornan-se excluisivas para o consumo
em detrimento de eventos sociais;
Retorno dos Sintomas de dependência – quando ocorre a reinstalação
18
de forma rápida dos sintomas, devido a um período sem uso.
O tratamento para o transtorno de uso de substância é considerado difícil e de
pouco êxito comparado a outros transtornos. Entretanto, com o uso das técnicas da
TCC apresentam bons resultados cujo foco, tanto da família quanto do paciente, é a
mudança de pensamentos e crenças disfuncionais para pensamentos e crenças
funcionais (KOOLING; PETRY; MELO 2011).
Farias et al. (2009, p. 6) relata que as técnicas da TCC visam corrigir as
distorções desenvolvidas pela a família. Neste ponto, a família adquire o
conhecimento e aprendizado para desenvolver suas habilidades de enfrentamento
de suas dificuldades, realizando a reestruturação cognitiva, treinamento de
habilidades no estilo de vida da família e adicto.
Os autores William, Meyer e Pechansky (2006, 2007) apontam que a TCC e a
terapia familiar são abordagens consideradas em família. Os Autores Juhnke e
Hagedron (2004) apontam que a maioria dos profissionais que trabalham com
família utilizam seus próprios modelos de intervenção. Os artigos investigados nessa
revisão bibliográfica também trouxeram descrições de técnicas de intervenção com a
família de dependentes químicos.
Como o foco está na mudança das interações familiares para melhorar a
comunicação de habilidades em solucionar problemas e, considerando que, na
literatura há poucos estudos a respeito da aplicação das técnicas da TCC em
famílias, são sugeridas as seguintes técnicas:
Identificação de pensamentos automáticos (PA) são pensamentos
distorcidos em relação a realidade. Visa a identificação dos erros
cognitivos e adaptação a uma nova reestruturação cognitiva
(ZANELATTO, 2013).
Solução de Problemas – Contribui para que a família identifique os prós e
contras e opte por uma melhor solução (ZANELATTO, 2013).
Relaxamento – São exercícios respiratórios e relaxamento muscular
progressivo que visam dimimuir o stress e a ansiedade (ZANELATTO,
2013).
Exame de vantagem e desvantagem – Auxilia a tomar uma decisão
utilizando as vantagens e desvantagens daquela situação (ZANELATTO,
2013).
19
Psicoeducação - é uma técnica que a família recebe uma determinada
informação, facilitando a compreensão da situação problema ou transtorno
(ZANELATTO, 2013).
Treinamento de Habilidade Social – técnica que ajuda a família a se
comportar de maneira adequada em relação ao adicto, a situação e a si
mesma (ZANELATTO, 2013).
Diante desse estudo é possível perceber que o apoio familiar é fortemente
enfatizado por trazer benefícios significativos ao adicto em sua totalidade. Porém a
literatura aponta que é necessário compreender essas relações familiares, trazendo
a família para junto do processo, como aliada, levando em consideração que a
abordagem pautada na teoria cognitivo-comportamental traz resultados positivos,
por manter o foco nos padrões de mudanças de comportamento familiar e não
apenas na abstinência do adicto. Os ganhos destas intervenções serão
considerando no sistema familiar, envolvendo o adicto e a família, reconhecendo que
a TCC auxilia no apoio familiar por manter o foco nos padrões de comportamento,
gerando mudanças e trazendo qualidade de vida familiar.
20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem cognitivo-comportamental considera que o comportamento
disfuncional gerador de prejuízos na dependência química pode ser reforçado a
partir da interação familiar e terá como objetivo a reestruturação das crenças que
determina qual é a posição e o papel da família. Suas técnicas têm sido eficazes na
intervenção familiar, como a reestruturação cognitiva, que ajuda o indivíduo e a
família a identificar as crenças disfuncionais e a partir de pensamentos mais
adaptativos, ter comportamentos mais funcionais. O terapeuta auxilia a família do
dependente químico a investigar os pensamentos e crenças e a desenvolver melhor
habilidade para resolver os problemas perturbadores.
Sendo um problema de saúde publica, a dependência química tem gerado
prejuízos aos indivíduos, às famílias e a sociedade em vários contextos sociais.
Esta revisão bibliográfica demonstrou que ainda são escassos os estudos da
Terapia Cognitivo-Comportamental para o apoio da familia do dependende químico.
A maioria dos estudos relevantes a este tema tem origem nos EUA e Inglaterra no
ano de 2004. No entanto, observou-se que a produção científica sobre a
dependência química é bastante vasta, porém quando nos concentramos no tema “A
contribuição da terapia cognitivo-comportamental no apoio familiar ao
dependente químico”, poucos são os estudos que exploram a eficaz evolução do
dependente químico com o apoio no ambiente familiar. Dos poucos estudos
levantados, os autores não descrevem em detalhes de como a TCC é utilizada em
famílias em dependência química.
Nota-se que a maioria dos artigos estão relacionados com a co-dependência,
um padrão disfuncional do familiar que convive com um dependente químico.
Acredita-se que uma explicação para encontrar poucos estudos relacionados
ao tema apresentado talvez seja pelo fato da abordagem ainda estar em expansão,
e pelo fato de que estudos familiares são mais complexos, demandam o
envolvimento de muitas pessoas e são mais onerosos.
Sugere-se desenvolvimento de mais estudo e protocolos de intervenção para
o apoio da família do dependente químico.
21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO DE PSIQUIATRIA AMERICANA. DSM-5, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
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ANEXO
Termo de Responsabilidade Autoral
Eu Valdeci Laurindo do Nascimento, afirmo que o presente trabalho e suas
devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da
responsabilidade autoral sobre seu conteúdo.
Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de
Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental,
sob o título “CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
NO APOIO FAMILIAR DO DEPENDENTE QUIMICO”, isentando, mediante o
presente termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental
(CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer ônus consequentes de
ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo,
assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas
para a confecção da monografia.
São Paulo, de de .
Assinatura do (a) Aluno (a)