CHAGAS, Rafael C. a Construção Social Da Realidade

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[...] o período fetal no ser humano se prolonga pelo primeiro ano após o nascimento. Importantes desenvolvimentos orgânicos, que nos animais se completam no corpo da mãe, efectuam-se[sic] na criança humana após a sua separação do útero. Nessa altura, porém, a criança humana não só está no mundo exterior como interagindo com este de várias maneiras complexas. O organismo humano, por conseguinte, está ainda a desenvolver-se ao nível biológico, quando se encontra já em interacção[sic] com o seu ambiente. [...], o processo de tornar-se homem efectua-se na relação com o ambiente. [...], o ser humano em desenvolvimento não só se relaciona com um ambiente natural próprio como também com uma ordem cultural e social específica, que é mediada para ele por outros seres significativos que têm a seu cargo. [...]. Desde o momento do nascimento, o desenvolvimento orgânico do homem e, na verdade, uma grande parte do seu ser biológico, enquanto tal, estão submetidos a uma contínua interferência determinada pela sociedade. Pág. 60 [...], não existe natureza humana no sentido de um substrato fixo ao nível biológico, que determine a variabilidade das formações socioculturais. Há apenas a natureza humana, no sentido de constantes antropológicas (por exemplo, abertura para o mundo e plasticidade da estrutura dos instintos), que delimita e permite as formações do Homem. Mas a forma específica em que esta humanização se molda é determinada por essas formações socioculturais, sendo relativa às suas numerosas variações. [...]. pág. 61 O período durante o qual o organismo humano se desenvolve até se completar, na relação com o ambiente, é também o período durante o qual o eu humano se forma. [...]. Os princípios genéticos do eu são, como é natural, estabelecidos no nascimento. Mas o eu, tal como é mais tarde percepcionado como identidade reconhecível em termos subjectivos e objectivos[sic], não o é. São os mesmos processos sociais que determinam a constituição do organismo que produzem o eu, na sua forma particular e relativa em termos culturais. [...]. [...]. Por um lado, o homem é um corpo, no mesmo sentido em que se pode dizer o mesmo de qualquer outro organismo animal. Por outro lado, o homem tem um corpo. Isto é, o homem tem a vivência de si próprio como uma entidade que não é idêntica ao seu corpo mas que, pelo contrário, tem esse corpo ao seu dispor. [...], a experiência que o homem tem de si mesmo oscila sempre à procura de um equilíbrio entre ser e ter um corpo, um equilíbrio que tem de ser reposto com frequência. [...]. pág. 62 [...]. A autoprodução do homem é sempre, e por necessidade, um empreendimento social. Os homens em conjunto produzem um ambiente humano, com a totalidade das suas formações socioculturais e psicológicas. [...]. Assim como é impossível que o homem se desenvolva como homem em isolamento, é do mesmo modo impossível que o homem isolado produza um ambiente humano. [...].

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Fichamento do segundo cápitulo do livro A Contrução Social da Realidade, de Thomas Luckmann e Peter Berger.

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[...] o perodo fetal no ser humano se prolonga pelo primeiro ano aps o nascimento. Importantes desenvolvimentos orgnicos, que nos animais se completam no corpo da me, efectuam-se[sic] na criana humana aps a sua separao do tero. Nessa altura,porm,acrianahumananosestnomundoexteriorcomointeragindocom este de vrias maneiras complexas. Oorganismohumano,porconseguinte,estaindaadesenvolver-seao nvelbiolgico,quandoseencontrajeminteraco[sic]comoseuambiente.[...],o processo de tornar-se homem efectua-se na relao com o ambiente. [...], o ser humano emdesenvolvimentonosserelacionacomumambientenaturalprpriocomo tambm com uma ordem cultural e social especfica, que mediada para ele por outros seressignificativosquetmaseucargo.[...].Desdeomomentodonascimento,o desenvolvimentoorgnicodohomeme,naverdade,umagrandepartedoseuser biolgico, enquanto tal, esto submetidos a uma contnua interferncia determinada pela sociedade. Pg. 60 [...], no existe natureza humana no sentido de um substrato fixo ao nvel biolgico,quedetermineavariabilidadedasformaessocioculturais.Hapenasa natureza humana, no sentido de constantes antropolgicas (por exemplo, abertura para o mundo e plasticidade da estrutura dos instintos), que delimita e permite as formaes do Homem. Mas a forma especfica em que esta humanizao se molda determinada por essasformaessocioculturais,sendorelativassuasnumerosasvariaes.[...].pg. 61 Operododuranteoqualoorganismohumanosedesenvolveatse completar, na relao com o ambiente, tambm o perodo durante o qual o eu humano seforma.[...].Osprincpiosgenticosdoeuso,comonatural,estabelecidosno nascimento.Masoeu,talcomomaistardepercepcionadocomoidentidade reconhecvelemtermossubjectivoseobjectivos[sic],noo.Soosmesmos processossociaisquedeterminamaconstituiodoorganismoqueproduzemoeu,na sua forma particular e relativa em termos culturais. [...]. [...].Porumlado,ohomemumcorpo,nomesmosentidoemquese pode dizer o mesmo de qualquer outro organismo animal. Por outro lado, o homem tem um corpo.Isto , o homem tem a vivncia de si prprio como uma entidade que no idnticaaoseucorpomasque,pelocontrrio,temessecorpoaoseudispor.[...],a experinciaqueohomemtemdesimesmooscilasempreprocuradeumequilbrio entresereterumcorpo,umequilbrioquetemdeserrepostocomfrequncia.[...]. pg. 62 [...].Aautoproduodohomemsempre,epornecessidade,um empreendimentosocial.Oshomensem conjuntoproduzemumambientehumano, com a totalidade das suas formaes socioculturais e psicolgicas. [...]. Assim como impossvelqueohomemsedesenvolvacomohomememisolamento,domesmo modo impossvel que o homem isolado produza um ambiente humano. [...]. Oorganismohumanonopossuiosmeiosbiolgicosnecessriospara proporcionarestabilidadecondutahumana.[...].Aonvelempricoaexistncia humanaacontecenumcontextodeordemdireco[sic]eestabilidade.[...].Aabertura paraomundo,emboraintrnsecaconstituiobiolgicadohomem,sempre apropriada primeiro pela ordem social. [...] pg. 63 [...]Aordembiolgicanodadapelabiologiabemderivadade quaisquer dados biolgicos nas suas manifestaes empricas.[...]. A ordem social no faz parte da natureza das coisas e no se pode ser derivada das leis da natureza. A ordem social existe apenas como produto da actividade humana. [...]. pg. 63-64 [...].Oserhumanoimpossvelnumaesferafechadadeinterioridade quiescente.Oserhumanotemdeestarsempreaexteriorizar-seemactividade.Esta necessidadeantropolgicaresultadoequipamentobiolgicodoHomem.Ainerente instabilidadedoorganismohumanotornaimperativoqueohomemproporcioneasi mesmoumambienteestvelparaasuaconduta.[...],emboranenhumaordemsocial existentepossaserderivadadedadosbiolgicos,anecessidadedeordemsocial enquanto tal provm do equipamento biolgico do homem.[...] HABITUAO Todaactividadehumanaestsujeitaahabituao.Qualqueraco repetidacomfrequncia,acabaporsemoldarnumpadroquepodedepoisser reproduzido com economia de esforo[...]. pg. 64[...].Ahabituaotrazconsigooimportanteganhopsicolgicodese limitarem as opes. [...].Isso liberta o indivduo do peso de todas aquelas decises, dando-lheumalviopsicolgicoqueassentanaestruturainstintiva,nodirigida,do homem. [...] [...], a habituao tornadesnecessrio quecada situao seja definida de novo, etapa poretapa.Uma grande multiplicidade de situaes se podemreunir sob as suaspredefinies.Ento,aactividadeaserempreendidanessassituaespodeser antecipada. Mesmo s alternativas da conduta possvel atribuir pesos-padro. Osprocessosdehabituaoprecedemqualquerinstitucionalizao[...]. pg. 65 [...],apartemaisimportantedahabituaodaactividadehumana coexiste com a institucionalizao desta ltima. [...]. INSTITUCIONALIZAO Ainstitucionalizaoocorresemprequehumatipificaorecproca, portiposdeactores,deacestornadashbitos.[...].Astipificaesdasaces tornadashbito,queconstituemasinstituies,sosemprepartilhadas.Elasficam disponveisparatodososmembrosdogruposocialemquesto.[...].Ainstituio pressupe que aces do tipo X sero executadas por actores do tipo X. [...]. As tipificaes recprocas das aces so construdas no decurso de uma histriacompartilhada.Nopodemsercriadasderepente.Asinstituiestmsempre umahistoria,daqualsoprodutos.impossvelumacompreensoadequadadeuma instituio sem entender o processo histrico em que foi produzida. As instituies, pelo simples facto de existirem, tambm controlam a conduta humana estabelecendo padres decondutapredefinidos.[...].importantesublinharqueestecarctercontrolador inerenteinstitucionalizaoenquantotaleanteriora,ouindependentedequaisquer mecanismosdesanesestabelecidasparaapoioespecficodeumainstituio.Tais mecanismos,cujoosomatrioconstituioqueemgeralsechamasistemade controlo[sic]social,evidentequeexistememmuitasinstituieseemtodasos aglomerados[sic] de instituies que chamamos sociedades. [...]. pg. 66 [...].Dizerqueumsegmentodaactividadehumanafoi institucionalizadojdizerqueelefoisubmetidoaocontrolosocial.Mecanismos adicionais de controlo s se tornaro necessrios se os processos de institucionalizao no forem por completo bem sucedidos. [...]. [...].Ainstitucionalizaoincipienteemtodaasituaosocialquese prolonganotempo.Suponhamosqueduaspessoasprovenientesdemundossociais diferentes comecem a interagir. [...]. Chamemos, [...], as nossas duas pessoas apenas de A e B. Logo que A e B entram em interao, [...], as tipificaes produzir-se-o com rapidez: o indivduo A observa B a executar; atribui motivos s aces de B e, ao verqueasacesserepetem,tipificaosmotivoscomorecorrentes.medidaqueB continua a operar, A depressa dir consigo: Ah, l vai ele de novo. Ao mesmo tempo, A pode supor que B faz o mesmo em relao a ele. Desde o incio que tanto A como B admitemestareciprocidadedatipificao.Nodecursodasuainteraoestas tipificaes sero expressas em padres especficos de conduta. [...]. A possibilidade de tomar o papel do outro aparecer em relao s aces executadas por ambos. Isto , a apropriar-se-,noseuntimo,dosreiteradospapisdeB,fazendodelesmodelospara seuprpriodesempenho.[...].Assimemergeumacoleodeacestipificadasem reciprocidade,habituaisparacadaumempapisqueserorealizadosemseparado alguns,outrosemconjunto.Emboraestatipificaorecprocanoestejaainda institucionalizada(havendoapenasdoisindivduos,noexisteapossibilidadedeuma tipologia de actores), bvio que a institucionalizao j est presente in ncleo. [...].Oganhomaisimportantequecadaumsercapazdepreveras acesdooutro.Aomesmotempo,ainteracodeambostorna-seprevisvel.OL vai ele outra vez torna-se num L vamos ns outra vez. Isto liberta os indivduos de umaprecivelquantidadedetenso.Poupamtempoeesforo,noapenasnaeventual tarefa externa em que estejam empenhados, separados ou em conjunto, mas em termos das respectivas economias psicolgicas. [...]. pg. 67-68 [...],aconstruodessabasederotinatornapossvelumadivisode trabalho entre eles, abrindo caminho a inovaes que exigem um nvel mais elevado de ateno. A diviso do trabalho e as inovaes conduziro a novas habituaes alargando aindamaisabasecomumaambos.[...],estaremprocessodeconstruoummundo social contendo em si as razes de uma ordem institucional em expanso. [...], para que ocorraa espcie de tipificao recproca que acabamos de descrever preciso que haja uma situao social continuada, na qual as aces habituais de dois ou mais indivduos se entrelacem. [...]. OBJETIVAO [...]Oaparecimentodeumterceiroparticipantealteraocarcterda interacosocialemcursoentreAeB,ealteraraindamaissenovosindivduos continuaremaseracrescentados.[...].Ashabituaesetipificaesempreendidasna vidacomumdeAeB,[...],tornam-seagorainstituieshistricas.Comaquisiode historicidade,estasformaesadquiremtambmoutraqualidadedecisiva[...].Esta qualidadeaobjectividade.Istosignificaqueasinstituiesqueagorajesto cristalizadas[...]sovivenciadascomoexistindoporcimaeparaalmdosindivduos que acontecem corporaliz-las nesse momento. [...]. pg. 69-70 Enquanto as instituies incipientes forem construdas e mantidas s com ainteracodeAeB,asuaobjectividadeconserva-setnue.[...].SAeBso responsveisporteremconstrudoessemundo.AeBmantm-secapazesdeo modificar ou abolir. [...]. Tudo isto muda no processo de transmisso nova gerao. A objectividade do mundo institucional adensa-se e endurece.[...]. O L vamos ns outraveztorna-seagoraemassimqueistosefaz.Ummundoolhadoassim alcanafirmezanaconscincia:torna-serealdemaneiraaindamaistangvelejno pode ser mudado com tanta facilidade. [...]. [...].Sdestamaneira,comomundoobjectivo,podemasformaes scias ser transmitidas a uma nova gerao. [...]. pg. 70 [...].Considerandooaspectomaisimportantedasocializaoa linguagem, esta aprece criana como inerente natureza das coisas, no podendo ela apreenderanoodoseuconvencionalismo.Umacoisaaquiloqueselhechama,e nopoderiaserchamadacoisadiferente.Todasasinstituiesaparecemdamesma maneira como dadas, inalterveis e auto-evidentes. [...]Ummundoinstitucional,porconseguinte,vivenciadocomouma realidadeobjectiva.Temumahistriaqueantecedeonascimentodoindivduoe noacessvelsualembranabiogrfica.Jexistiaantesdeeleternascidoe continuar a existir depois de ele morrer. [...]. As instituies, como factos histricos eobjectivos,confrontamoindivduocomdadosinegveis.Asinstituiesestol, exterioresaele,persistentesnasuarealidade,queiraeleouno.Nopodefaz-las desaparecercomavontade.Resistemssuastentativasdealteraroudelhesescapar. Tmumpodercoercitivosobreele,tantoemsimesmas,pelapuraforadeserem factos, como pelos mecanismos de controlo em geral ligados s mais importantes delas. [...]. pg. 71 importanteteremmentequeaobjectividadedomundo institucional,pormaistangvelqueapareaaoindivduo,umaobjectividade produzida e construda pelo homem. O processo pelo qual os produtos exteriorizados da actividade humana adquirem carcter de objectividade a objectivao. [...]. pg. 72Odesenvolvimentodemecanismosespecficosdecontrolosocialtorna-setambmnecessriocomahistoriaoeobjectivaodasinstituies.[...],mais provvelqueoindivduosedesviedeprogramasquelhesoestabelecidosporoutros do que de programas que ele prprio ajudou a estabelecer. [...]. Quanto mais a conduta institucionalizada tanto mais se torna previsvel e controlada. [...]pg. 73[...]precisograndecuidadonasafirmaesquesefaamsobrea lgicadasinstituies.Algicanoresidenasinstituies,ounassuasfunes externas, mas na maneira como so tratadas na reflexo sobre elas. [...]. Alinguagemproporcionaasobreposiofundamentaldalgicaao mundo social objectivado. O edifcio das legitimaes construdo sobre a linguagem e usa esta como o seu instrumento principal. [...]. pg. 75 [...].Osindivduosrealizamacesinstitucionalizadasdiscretas,no contexto da sua biografia. Esta biografia um todo sobre o qual se reflectem as aces separadas,noconsideradascomoeventosisolados,mascomopartesrelacionadasde umuniversodotadodesentidosubjectivo,cujossignificadosnosoespecficosao indivduo,masarticuladosepartilhadosemtermossociais.Smedianteestedesvio pelosuniversoscompartilhasocialdesignificadoquechegamosnecessidadede integrao institucional. [...]Aslegitimaes,emteoriasofisticadas,aparecememmomentos particularesdeumahistriainstitucional.Oconhecimentoprimrioacercadaordem institucionalconhecimentosituadononvelpr-terico.osomatriodetudoque todossabemarespeitodomundosocial,umconjuntodeprovas,princpiomorais, proverbiaisfragmentosdesabedoria,valoresecrenas,mitos,etc.[...].Nonvelpr-terico,porm,cadainstituiotemumcorpotransmitidodeconhecimentos-receita, isto , conhecimento que fornece as regras correctas de conduta institucional. Talconhecimentoconstituiadinmicamotivadoradaconduta institucionalizada. [...]. Define e constri os papis a serem desempenhados no contexto das instituies em questo. [...], qualquer desvio radical da ordem institucional aparece comoumafastamentodarealidade.Estedesviopodeserdesignadocomodepravao moral, doena mental ou apenas simples ignorncia. [...] pg. 76-77 O conhecimento relativo sociedade , assim, uma percepo no sentido de apreenso da realidade social objectivada e uma realizao, no sentido de continuada produo desta realidade. pg. 77 Uma vez mais, o mesmo corpo de conhecimentos transmitido gerao seguinte.aprendidocomoverdadeobjectivanodecursodasocializao,eassimse interiorizandocomorealidadesubjectiva.Estarealidadetem,porsuavez,poderpara moldar o indivduo. [...], nenhuma parte da institucionalizao da caa pode existir sem o conhecimento especial que foi produzido na sociedadee objectivadoem refernciaa estaatividade.Caaresercaadorimplicamexistirnummundosocialdefinidoe controladoporestecorpodeconhecimentos.Mutatismutandis,omesmoseaplicaa qualquer rea de conduta institucionalizada. [...] Um sistema de sinais, disponvel em termos objectivos, confere uma condiodeincipienteanonimatosexperinciassedimentadas,destacando-as acessveisemgeral,atodosquantosparticipam,oupodemparticiparnofuturo,no sistema de sinais em questo. As experincias tornam-se assim transmissveis. pg. 78 [...].Alinguagemobjectivaasexperinciaspartilhadasetorna-as acessveis a todos dentro da comunidade lingustica, tornando-se assim tanto base como oinstrumentodopatrimniocolectivodeconhecimentos.Alinguagemfornece,alm disso, os meios para objectivao de novas experincias, permitindo a sua incorporao nasreservasdeconhecimentos,jexistentes,eomeiomaisimportantepeloqualas sedimentaes objectivadas so transmitidas na tradio da colectividade em causa. Porexemplo,salgunsmembrosdeumasociedadedecaadorestma experinciadeteremperdidoassuasarmas,sendoobrigadosacombaterumanimal selvagem apenas com as mos. [...]. Esta experincia ao ser designada e transmitida por via lingustica, torna-se acessvel e talvez muito significativa para indivduos que nunca passaram por ela. [...]. Torna-se uma possibilidade objectiva para toda a gente ou, pelo menos, para todos os indivduos de certo tipo [...], isto , em princpio torna-se annima, aindaqueassociadaaosfeitosdeindivduosespecficos.[...].Aobjectivaoda experincianalinguagem[...]permiteasuaincorporaonumconjunto maisamplode tradiesporviadaformaomoral,dapoesiainspiradora,daalegoriareligiosae outras mais. [...]. pg. 79 Alinguagemtorna-seorepositriodeumgrandeagregadode sedimentaescolectivas, que podem seradquiridas de mono monottico,isto , como totalidadescoesasesemreconstruirosseusprocessosoriginaisdeformao.Tendoa verdadeira origem das sedimentaes perdido importncia, a tradio pode inventar uma origem muito diferente, sem com isso ameaar o que foi objectivado. [...] Atransmissodesignificadodeumainstituiobaseia-seno reconhecimento social dessa instituio como soluo permanente para um problema permanente de uma determinada colectividade. Por conseguinte, os actores potenciais deacesinstitucionalizadasdevemmanter-se,demodosistemtico,familiarizados com esses significados. Isto exige alguma forma de processo educacional. [...], como os seres humanos so muitas vezes estpidos, os significados institucionais tendem a ser simplificadosnoprocessodetransmissodemodoqueumadeterminadacoleode frmulasinstitucionaispossaseraprendidaeguardadacomfacilidadenamemria, por sucessivas geraes. [...]pg.80 Ossignificadosobjectivadosdaactividadeinstitucionalsoconcebidos comoconhecimentoetransmitidoscomotal.Umapartedesteconhecimento considerado relevante para todos, outra s para certos tipos. [...]. Tanto o saber como onosaberreferem-seaoquedefinido,emsociedade,comrealidadeenoa critrios extra-sociais de validade cognitiva. [...] Dependendodoalcancesocialdarelevnciadecertotipode conhecimentoesuacomplexidadeeimportncianumadeterminadacolectividade,o conhecimentopodeterdeserreafirmadomedianteobjectossimblicos(como fetichesouemblemasmilitares)eacessimblicas(comooritualreligiosoouo militar).[...].Qualquertransmissodesignificadosinstitucionaisbvioqueimplica procedimentos de controlo e legitimao. [...]. pg. 81 Atipificaodasformasdeacoexigequeestastenhamumsentido objetivo,oqueporsuavezrequerumaobjectivaolingustica.[...].Tantooprprio comoooutropoderserapercebidoscomexecutantesdeacesobjectivas,emgeral conhecidas, que so recorrentes e duplicveis por qualquer actor do tipo adequado. [...]. No decurso da aco h uma identificao do prprio com o sentido objetivo das aces.[...]. Embora continue a haver uma conscincia marginal do corpo e deoutrosaspectosdoeusemimplicaodirectanaaco,oactor,nessemomento, apreende-se a si mesmo com identificado, em essncia, com aco objectivada no social [...]. Depois de ocorrer a aco h ainda uma outra consequncia importante, quando o actor reflecte sobre a sua aco. Agora uma parte do eu objectivada como executante destaaco,umavezmaiscomoeutotalumtantoouquantonoidentificadocom acoexecutada.[...],umsegmentodaprpriapersonalidadeobjectivadoemtermos detipificaessociaisvlidas.Estesegmentooverdadeiroeusocialque vivenciado de modo subjectivo como distinto do eu na sua totalidade, [...]. pg. 83 OS PAPIS SOCIAIS [...] Os papis so tipos de actores num tal contexto. [...]. As instituies incorporam-senaexperinciadoindivduoatravsdospapis.[...].Aodesempenhar papis, o indivduo participa de um mundo social. Ao interiorizar esses papis, o mesmo mundo torna-se real para ele, de modo subjectivo. [...],todooactorputativodopapelXpodeserresponsvelpela conformidadecomospadres,quepodemsertransmitidoscomopartedatradio institucionaleusadosparaverificarascredenciaisdetodososactores,assim,servir como controlos. [...].Ospapisaparecemlogoqueumpatrimniocomumde conhecimentos,contendotipificaesrecprocasdeconduta,iniciaoprocessode formao,umprocessoque[...]endmiconainteracosocialeprecedeaprpria institucionalizao. [...]. pg. 84 Toda acondutainstitucionalizadaenvolvepapis.Assim,ospapis participam do carter controlador da institucionalizao.[...]. A instituio, com sua montagem de aces programadas, como oguionoescritodeumdrama.Arealizaododramadependedorepetido desempenhodospapisdistribudos,[...].Nemodramanemainstituioexistemde modoempricoforadestarealizaorepetitiva.Dizer,porconseguinte,queospapis representamasinstituiesdizerqueospapistornampossvelaexistnciadas instituiesdemodoperene,[...].Assuasobjectivaeslingusticas,dassimples designaesverbaisatincorporaoemsimbolismosmuitssimocomplexosda realidade,tambmasrepresentam,isto,tornam-naspresentesnaexperincia.[...].A representao de uma instituio em papis, e por meio destes, assim a representao por excelncia de que dependem todas as outra representaes. [...]. pg. 85 Todosospapisrepresentamaordeminstitucionalnosentidoreferido. Algunspapis,contudo,representamdemodosimblicoestaordemnasuatotalidade, mais do que os outros. Tais papis tm grande importncia estratgica numa sociedade, poisrepresentamnoapenasestaouaquelainstituiomasaintegraodetodasas instituiesnum mundo dotadodesentido.[...]. Algunspapisnotmoutrasfunes almdestarepresentaosimblicadeordeminstitucionalcomoumatotalidade integrada, outros assumem esta funo de vez em quando. [...]. pg. 86 Para aprender um papel no basta adquirir as rotinas imediatas necessria aoseudesempenhoexterior.precisotambmseriniciadonasvriascamadas cognitivas, e at afectivas, do corpo de conhecimentos que, de modo directo e indirecto, soadequadosaestepapel.[...]adistribuiosocialdosconhecimentosimplicauma dicotomianoqueserefererelevnciageralerelevnciaespecficadospapisa desempenhar. pg. 87 Paraacumularconhecimentoespecficoacadapapel,umasociedade deve ser organizada de tal maneira que certos indivduos possam concentrar-se nas suas especialidades. [...]. Entretanto,umaimportantepartedoconhecimentocomrelevnciageral atipologiadosespecialistas.Enquantoosespecialistassodefinidoscomo indivduos que conhecem as suas especialidades, qualquer pessoa deve poder saber quemsoosespecialistas,nocasodeprecisardassuasespecialidades.[...].Uma tipologia dos peritos (aquilo que os cientistas sociais contemporneos chamam um guia dereferncia)fazassimpartedopatrimniodeconhecimentosgeraisimportantese acessveis, ao passo que o conhecimento que constitui especialidade no o . [...].[...]asociedadesexistequandoosindivduostmconscinciadela; [...]pg. 88 [...]aconscinciaindividualdeterminadapelasociedade.[...],porum lado,aordeminstitucionalrealapenasnamedidaemquerealizadaempapis desempenhadoseque,poroutro,ospapissorepresentativosdeumaordem institucionalquedefineoseicarcter(incluindoosrespectivosadicionaisde conhecimentos) e da qual derivam o seu sentido obcjetivo. pg. 89 [...]aextensodainstitucionalizaodependedageneralidadedas estruturasrelevantes.Semuitas,ouamaioria,dasestruturasrelevantesdeuma sociedade so partilhadas, o mbito da institucionalizao ser amplo. Se so poucas as estruturas de relevncia partilhadas a esfera da institucionalizao ser limitada [...]. [...] possvel conceber uma sociedade na qual a institucionalizao seja total. Numa tal sociedade, todos os problemas so comuns,todas as solues para esses problemassoobjectivadasemtermossociaisetodasasacessociaisso institucionalizadas. [...] as sociedade primitivas se aproximam desse tipo em grau muito mais elevado do que as civilizadas. [...]. pg. 90 O extremo oposto seria uma sociedade na qual houvesse apenas um nico problemacomum e s ocorresse a institucionalizao relativa a aces inerentes aeste problema. Numa tal sociedade quase no haveria patrimnio comum de conhecimentos. Quase todo o conhecimento seria especfico funo. [...]. [...]taisficesheursticassoteissnamedidaemqueajudama esclarecerascondiesquefavorecemasaproximaessmesmas.Acondiomais geral o grau de diviso do trabalho, com a concomitante diferenciao das instituies. Todaasociedadenaqualexistecrescentedivisodotrabalhoest-seaafastardo primeiro tipo extremo acima descrito. Outra condio geral, relacionada de muito perto comaanterior,adisponibilidadedeumexcedenteeconmicoquetornapossvela certos indivduos ou grupos empenharem-se emactividades especializadas sem relao directacomasubsistncia.[...].Istosignificaquecertosindivduos(voltandoaum exemploanterior)sodispensadosdacaanoapenasparaforjararmasmastambm para fabricar mitos. [...] A institucionalizao no contudo um processo irreversvel, a despeito do facto de as instituies, uma vez formadas, terem tendncia a perdurar. [...]. pg. 91 Processosinstitucionaisdistintospodemcontinuaracoexistirsem integrao global. pg. 92 [...] A segmentao da ordem institucional e a concomitante distribuio deconhecimentosconduziroaoproblemadefornecersignificadosintegradoresque abranjamasociedadeeproporcionemumcontextoglobaldesentidoobjectivoparaa experincia e conhecimento social fragmentado do indivduo. [...]. pg. 94 Outraconsequnciadasegmentaoinstitucionalapossibilidadede subuniversossociaisdesignificadosseparados.Estesresultamdeacentuaesda especializao dos papis, ao pondo do conhecimento especfico de um papel se tornar detodoesotrico,comparadocomopatrimniocomumdeconhecimentos.Estes subuniversosdesignificaopodemestarounoocultosaosolhosdopblico.Em certoscasos,nosocontedocognitivodosubuniversoesotricomasatasua existnciaeadacolectividadequeosuportapodemsersegredo.[...].Claroquea probabilidadedesurgiremsubuniversoscrescefirmecomaprogressivadivisodo trabalho e dos excedentes econmicos. [...]. pg. 94-95 Comotodososedifciossociaisdesignificao,ossubuniversostmde ser transportados por uma colectividade especfica, isto , pelo grupo que produz sem cessarossignificadosemquestoedentrodoqualestessignificadostmrealidade objectiva.Podehaverconflitooucompetioentretaisgrupos.[...].Taisconflitos sociaistraduzem-secomfacilidadeemconflitosentreescolasrivaisdepensamento, cadaqualprocurandoestabelecer-seedesacreditar,quandonoliquidar,ocorpode conhecimentos concorrente. [...]. pg. 95 Comoestabelecimentodesubuniversosdesignificaoemergeuma multiplicidade de perspectivas sobre a totalidade da sociedade, cada qual considerando-adopontodevistadeumdessessubuniversos.Oquiroprticotemumapticada sociedadediferentedadoprofessordeumafaculdadedemedicina,opoetava sociedade de maneira diferente do homem de negcios, o judeu do gentio, etc. pg. 95-96 Cadaperspectiva[...],estarrelacionadacomosinteressessociais concretosdogrupoqueasustenta.Istonosignificapormquequeasvrias perspectivas[...]nadamaissejamquereflexosmecnicosdosinteressessociais.Em especialaonvelterico,muitopossvelqueo conhecimentochegueaficarbastante dissociadodosinteressesbiogrficosesociaisdoconhecedor.[...],podehaverrazes sociaistangveisparaosjudeussepreocuparemcomcertosempreendimentos cientficos,masimpossvelpreverqueposiescientficassodetidasporjudeuse no judeus. [...] o universo cientfico de significados capaz de atingir um elevado grau de autonomia em oposio sua prpria base social[...]. [...]umcorpodeconhecimentos,umavezelevadoaonvelde subuniversodesignificaoumtantoautnomo,temacapacidadedeagircom retroactividadesobreacolectividadequeoproduziu.[...].Oprincpioimportantepara asnossasconsideraesgeraisodarelaoentreoconhecimentoesuabasesocial dialctica;isto,oconhecimentoumprodutosocialeconhecimentoumfactor na transformao social. [...] pg. 96 Ocrescentenmeroecomplexidadedossubuniversotornam-noscada vez mais inacessveis aos estranhos. [...]. Os estranhos tm de ser impedidos de entrar e, porvezes,mantidosatnaignornciadaexistnciadosubuniverso.Se,porm,noo desconhecemeseosubuniversorequerdiversosprivilgiosereconhecimentos especiais da sociedade mais ampla, existe o problema de manter de fora os estranhos e aomesmotempofazercomquereconheamalegitimidadedesseprocedimento.[...]. Nosuficienteinstituirumsubuniversoesotricodamedicina.preciso convencer o pblico leigo de que isto correcto e benfico e a fraternidade mdica deverrespeitaospadresdestesubuniverso.Assimapopulaogeralintimada pelas imagens de perigo fsico consequente de se opor s recomendaes do mdico. persuadidaanoofazerpelosbenefciosprticosdaobedinciaepeloseuprprio horror doena e morte. Para sublinhar a sua autoridade, a profisso mdica reveste-sedosvelhossmbolosdopoderemistrio,desdevestimentasexticaslinguagem incompreensvel, tudo isso legitimado, claro, perante o pblico e perante ela prpria, em termosprticos.[...],estemacoumacompletamquinadelegitimao,comofim demanterleigososleigosemdicososmdicos,e(sepossvel)queambossesintam satisfeitos. pg. 97-98 REITIFICAO Areitificaoaapreensodosfenmenoshumanoscomosefossem coisas,isto,emtermosnohumanosouatsobre-humanos.[...].Areitificao implicaqueohomemcapazdeesquecerasuaprpriaautoriadomundohumano,e mais,queadialcticaentreohomemprodutoreosseusprodutosseperdeparaa conscincia. [...]. pg. 98 [...]Aobjectividadedomundosocialsignificaqueesteenfrentao homem como algo situado fora dele. [...] a reitificao pode ser descrita como um passo extremonoprocessodeobjectivao,peloqualomundoobjectivadoperde inteligibilidadecomoempreendimentohumanoeestabelece-secomumafactualidade nohumana[...].Ossignificadoshumanosjnosoentendidoscomoproduzindoo mundomascomosendo,porsuavez,produtosdanaturezadascoisas.[...].Mesmo enquanto apreende mundo em termos reitificados, o homem continua a produzi-lo. [...]. pg. 98-99 [...]. A reitificao existe na conscincia do homem vulgar e, na verdade, esta ltima presena mais significativa na prtica. [...]. [...]Areceitabsicaparaareiticaodasinstituiesadelhes outorgarumestatutoontolgicoindependentedeactividadeesignificaohumanas. [...]. pg. 99 Ocasamento,porexemplo,podeserreitificadocomoumaimitaode actosdivinosdecriatividade,comomandamentouniversaldaleinatural,como consequncia necessria de foras biolgicas ou psicolgicas ou, enfim, com imperativo funcionaldosistemasocial.Oquetodasestasreitificaestmemcomumasua ofuscaodocasamentocomoumapermanenteproduohumana.[...].Atravsda reitificao, o mundo das instituies parece fundir-se como o mundo da natureza. [...]. Os papis poder ser reitificados da mesma maneira que as instituies. O sectordaautoconscinciaquefoiobjectivadonopapeloentoapreendidotambm comoumafatalidadeinevitvel,pelaqualoindivduopodenegarqualquer responsabilidade.Afrmulaparadigmticadestaespciedereitificaoaafirmao notenhooponesteassunto;tenhodeagirassimdevidominhaposio.[...]a reitificaodospapisestreitaadistnciasubjectivaqueoindivduopodeestabelecer entresieopapelquedesempenha.[...].Porfimaprpriaidentidade(oeutotal,se preferimos)podeserreitificada,tantoadoprpriocomoadosoutros.Hentouma identificaototaldoindivduocomastipificaesquelhesoatribudaspela sociedade. [...]. pg. 100 LEGITIMAO Alegitimao,enquantoprocesso,maisbemdefinidacomouma objectivaodesignificadodesegundaordem.Alegitimaoproduznovos significadosqueservemparaintegrarossignificadosjligadosaprocessos institucionais dspares. A funo da legitimao consiste em tornar acessvel de maneira objectiva,eplausveldemodosubjectivo,asobjectivaesdeprimeiraordemque foram institucionalizadas. [...]. Aintegraoe,emcorrelao,aquestodaplausibilidadesubjectiva referem-seadoisnveis.Primeiro,atotalidadedaordeminstitucionaldeveriater sentido em simultneo para os participantes de diferentes processos institucionais. [...]. pg. 101 [...]abiografiaindividualnasas[sic]suasvriasesucessivasfases, predefinidaspelasinstituies,deveserdotadacomumsignificadoquetornea totalidade plausvel em termos subjectivos. [...]. [...]Oproblemadalegitimaosurgecomoinevitvelquandoas objectivaesdaordeminstitucional(agorahistrica)tmdesertransmitidasauma nova gerao. [...]. A legitimao este processo de explicao e justificao. Alegitimaoexplicaaordeminstitucionalatribuindovalidade cognitiva aos seus significados objectivados. [...]. pg. 102 [...].Alegitimaonoapenasdizaoindivduonoapenasdizao indivduo por que deve realizar uma aco e no outra: diz-lhe tambm porque que as coisassooqueso.[...]oconhecimentoprecedeosvaloresnalegitimaodas instituies.[...]. A legitimao incipiente acha-se presente logo que transmitido um sistema de objectivaes lingusticas da experincia humana. [...]. pg. 103 [...] os processos simblicos so processos de significao que se referem arealidadesdiferentesdasquepertencemexperinciadavidaquotidiana.[...]pg. 104 UNIVERSOS SIMBLICOS O universo simblico concebido como a matriz de todos os significados com objectivao social, e reais ao nvel subjectivo. Toda a sociedade histrica e toda a biografiadoindivduosovistascomoacontecimentosquesepassamdentrodeste universo. [...]. O universo simblico, como evidente, vai sendo construdo atravsde objectivaessociais.Noentanto,asuacapacidadedeatribuiodesignificaes excedeemmuitoodomniodavidasocial,demodoqueoindivduopodesituar-se nele, mesmo nas suas mais solitrias experincias. Nestenveldelegitimaoaintegraoreflexivadeprocessos institucionaisdistintosalcanaasuaplenarealizao.Ummundointeirocriado. Todasasteoriaslegitimadorasmenoressovistascomoperspectivasespeciaissobre fenmenos que so aspectos desse mundo. [...] pg. 105 Oslimitesdessalegitimaoltimaso,emprincipio,coextensivosos limites da ambio terica e da criatividade dos legitimadores, definidores credenciados da realidade oficial. [...] Ouniversosimblicoproporcionaaordemparaaapreensosubjectiva daexperinciabiogrfica.Experinciaspertencentesadiferentesesferasdarealidade sointegradasatravsdasuaincorporaonomesmoabrangenteuniversode significao. [...]. pg. 106 [...] uma vez estabelecido o universo simblico, os sectores discrepantes davidaquotidianapodemserintegradosmedianterefernciadirectaaouniverso simblico.[...]ouniversosimblicoordenaeporissomesmolegitimaospapis quotidianos, as prioridades e os procedimentos operacionais, [...] at as transaes mais triviais da vida do dia a dia podem ficar imbudas de profundo significado. [...]. Ouniversosimblicopermitetambmordenarasdiferentesfasesda biografia.[...].Sercriana,seradolescente,seradulto,etc.,cadaumadessasfases biogrficaslegitimadacomoummododesernouniversosimblico[...].medida queoindivduocontemplaasuavidapassada,asuabiografiatorna-se-lheinteligvel nesses termos. [...] pg. 108 [...] Pela prpria natureza da socializao, a identidade subjectiva uma entidade precria. Est dependente das relaes individuais com os outros significativos, que podem mudar ou desaparecer. [...]. A s percepo de si mesmo como possuidor deumaidentidadedefinida,estvelereconhecidaemtermossociais,estsempre ameaadapelasmetamorfosessurrealistasdossonhosefantasias,mesmose permanece bastante coerente na interaco quotidiana. [...]. pg. 109 Todas as legitimaes da morte devem realizar a mesma tarefa essencial: elasdevemcapacitaroindivduoparacontinuaraviveremsociedade depois da morte deoutrossignificativoseanteciparasuaprpriamortecomoterrormitigadopelo menos o suficiente, de modo a no paralisar o desempenho contnuo das rotinas da vida quotidiana.[...].Estalegitimaovaiforneceraoindivduoumareceitaparauma morte correcta. No caso ideal, esta receita manter a plausibilidade quando a morte do indivduo estiver iminente e permitir-lhe- morrer de modo correcto. pg. 110 [...].Ouniversosimblicoatribuicategoriasavriosfenmenosnuma hierarquiadoser,definindoombitodosocialdentrodestahierarquia.[...]estas categoriassotambmatribudasadiferentetiposdeindivduos,eacontececom frequnciaqueamplascategoriasdestestipos(svezestodososforadareferida colectividade) so definidas como no humanas ou menos do que humanas. [...]. Ouniversosimblicotambmordenaahistria.Localizatodosos acontecimentoscolectivosnumaunidadecoerentequeincluiopassado,presentee futuro.[...].Assim,ouniversosimblicoligaoshomensaosseusantecessorese sucessoresnumatotalidadedotadadesentido,servindoparatranscenderafinitudeda existnciaindividualeconferindoumsignificadomorteindividual.Todosos membros de uma sociedade podem agora conceber-se como pertencendo a um universo quepossuisentido,queexistiaantesdeteremnascidoecontinuaraexistirdepoisde morrerem. [...]. pg. 111 [...] o universo simblico fornece uma integrao unificadora de todos os processosinstitucionaisseparados.Todaasociedadeganhaagorasentido.Instituies especficasepapisparticularessolegitimadospelasualocalizaonummundo dotadodesignificadoabarcante.[...].Todaarealidadesocialprecria.Todasas sociedadessoconstruesemfacedocaos.Aconstantepossibilidadedoterror anmicotorna-serealsemprequeaslegitimaesqueobscurecemaprecariedadeso ameaadasouentramemcolapso.[...].Areaopopularaoassassniodopresidente Kennedy um forte exemplo. [...].[...].Aexperinciahumana,abinitioumaexteriorizaocontnua.O homem,aoexteriorizar-se,constriomundonoqualseexterioriza.Noprocessode exteriorizaoprojectanarealidadeosseusprpriossignificados.Osuniversos simblicos,queproclamaramsertodaarealidadedotadadesignificadohumanoeque apelamparaocosmointeiroparadarsignificadovalidadedaexistnciahumana, constituem as extenses mais alargadas desta projeco. pg. 112 Considerandocomoconstruocognitiva,ouniversosimblico terico.Temorigememprocessosdereflexosubjectiva,osquais,comobjectivao social, conduzem ao estabelecimento de ligaes explcitas entre os temas significativos quetmassuasrazesnasvriasinstituies.[...].Paraqueaordeminstitucionalseja aceitecomocertanasuatotalidade,comoumtododotadodesentido,carecedeser legitimada atravs da colocao num universo simblico. [...]. [...]. Todas as legitimaes, das mais simples legitimaes pr-tericas de distintossignificadosinstitucionalizadosataoestabelecimentocsmicodeuniversos simblicos, podem ser, por sua vez, consideradas como mecanismos de manuteno do universo. [...]. pg. 113 [...] um universo simblico , em si mesmo, um fenmeno terico[...]. [...] Tornam-se necessrios procedimentos especficos de manuteno do universoquandoouniversosimblicosetornaumproblema.[...].Qualqueruniverso simblico tem tendncia a ser problemtico. [...]. [...].Asocializaonunca,porcompleto,bemsucedida.Alguns indivduoshabitamouniversotransmitidodemaneiramaisdefinidadoqueoutros. [...]. pg.114 Esteproblemaintrnsecoacentua-sequandoversesdivergentesdo universosimblicovieremaserpartilhadasporgruposdehabitantes.[...].Ogrupo que objectivou esta realidade divergente torna-se portador de uma definio alternativa darealidade.Quasenoprecisosublinharqueestesgruposherticosconstituemno sumaameaatericaparaouniversosimblico,masumaameaaprticaparaa ordem institucional legitimada pelo universo simblico. [...]. Em termos histricos o problema da heresia foimuitas vezes o primeiro impulso para a sistemtica conceptualizao terica dos universos simblicos. [...]. pg. 115 [...]ouniversosimbliconoslegitimadomastambmmodificado pelosmecanismosconceptuaisconstrudospararepeliroataquedosgruposherticos numa sociedade.[...].muitomenoschocanteparaacondioderealidadedonosso prpriouniversoterdetratarcomgruposminoritriosdedesviacionistas,cujaa oposioipsofactodefinidacomoloucuraoumaldade,doqueenfrentarumaoutra sociedadequeconsideraasnossasprpriasdefiniesderealidadecomoignorantes, loucasoudetodomalvolas.[...].Ouniversoalternativoapresentadopelaoutra sociedadetemdeserenfrentadocomasmelhoresrazespossveis,paraafirmara superioridade do nosso prprio. [...].Oaparecimentodeumuniversosimblicoalternativorepresentauma ameaa,porqueasuasimplesexistnciademonstrademaneiraempricaqueonosso universo no inevitvel. [...]. pg.116 [...]osmecanismosconceptuaisdaconservaodouniversosoeles prprios produtos de actividade social, como o so todas as formas de legitimao e s rarasvezespodemsercompreendidosemseparadodasoutrasatividadesda colectividade.[...].Duassociedadesquesedefrontamcomuniversosemconflito desenvolvero,ambas,mecanismosconceptuaisdestinadosamanterosrespectivos universos.[...].Qualdasduasganhardepender,contudo,maisdopoderdoqueda criatividadetericadosrespectivoslegitimados.[...].Odesfechodequalquerchoque entre deuses foi determinado por aqueles que empunhavam as melhores armas e no por aqueles que possuam os melhores argumentos. [...]. pg. 117 [...]amitologiarepresentaaformamaisarcaicademanutenodo universo, porquanto representa a forma mais arcaica de legitimao em geral. [...]. pg. 118 Ossistemasmitolgicosmaiselaboradosesforam-seporeliminaras inconsistnciaseconservarouniversomitolgicointegradoemtermostericos.Tais mitologias, cannicas por assim dizer, evoluem para uma verdadeira conceptualizao teolgica. pg. 119 [...]. Com a transio da mitologia para teologia, a vida quotidiana parece menospenetradaporforassagradas.Ocorpodeconhecimentoteolgicoest,por conseguinte, mais afastado do patrimnio geral do conhecimento da sociedade e torna-se assim mais difcil de adquirir. [...]. pg. 119-120 [...]. A cincia moderna um passo extremo desse desenvolvimento e na secularizao e sofisticao da conservao do universo. [...]. MECANISMOS CONCEITUAIS DE CONSERVAO DO UNIVERSO [...]duasaplicaesdomecanismoconceptualdeconservaodo universo, no contexto da teria geral: a terapia e a aniquilao. pg. 120 Ateraputicaimplicaaaplicaodomecanismoconceptualafimde assegurar que os discordantes actuais ou potenciais se conservem dentro das definies institucionalizadasdarealidadeou,[...],impedirqueoshabitantesdeumdado universoemigrem.[...].Osseusdispositivosespecficos,[...],pertencem,como natural,categoriadocontrolosocial.[...].Tendoateraputicadeocupar-secomos desviosdasdefiniesoficiaisdarealidade,devecriarummecanismoconceptual paraexplicaressesdesvioseconservarasrealidadesassimameaadas.Istorequerum corpodeconhecimentosqueincluiumateoriadodesviacionismo,umaparelhode diagnstico e um sistema conceptual para a cura das almas. [...],acondutadodissidentedesafiaarealidadesocialcomotal,pondo em causa os procedimentos cognitivos dados como adquiridos [...]. preciso haver uma teoriadodesvio(ouseja,umapatologia)queexplicaestacondiochocante (postulando,porexemplo,apossessodemonaca).precisohaverumcorpode conceitos diagnsticos [...]. pg. 121 E por fim, deve haver uma conceptualizao do processo curativo [...]. Umtalmecanismoconceptualpermiteasuaaplicaoteraputicapelos especialistasadequadosepodetambmserinteriorizadopeloindivduoquesofreda condiodesviacionista.Ainteriorizao,sporsi,tereficciateraputica.[...].A teraputicaeficazestabeleceumasimetriaenteomecanismoconceptualeasua apropriaosubjectivapelaconscinciadoindivduo.Ressocializaotrasviado, reintroduzindo-o na realidade objectiva do universo simblico da sociedade. [...]. Ateraputicausaomecanismoconceptualparamantertodosdentrodo universo em questo. Aaniquilao, por sua vez, usa um mecanismo semelhante para liquidaremtermosconceptuaistudoqueestiversituadoforadestemesmouniverso. [...].Alegitimaoconservaarealidadedouniversoconstrudopelasociedade:a aniquilao nega a realidade de qualquer fenmeno ou interpretao de fenmenos que no se ajustem a esse universo. Isto pode ser realizado de duas maneiras. Primeiro, pode serdadoumestatutoontolgiconegativoaosfenmenosdedesvio,comousem objectivo teraputico. [...]. pg. 122 Aameaasdefiniessociaisdarealidadeneutralizadaatribuindo-se umestatutoontolgicoinferior,ecomissoumestatutocognitivoquenodeveser levado a srio, a todas as definies existentes fora do universo simblico. [...].[...] a aniquilao implica a tentativa mais ambiciosa de explicar todas as definiesdissidentesdarealidadeemtermosdeconceitospertencentesaonosso prpriouniverso.[...].sconcepesdesviacionistasnoapenasatribudoum estatuto negativo: elas so atacadas ao nvel do pormenor-teoria. O objectivo final deste procedimentoincorporarasconcepesdissidentesaonossoprpriouniverso,e assim,[...],asliquidar.Asconcepesdissidentedevemportantosertraduzidasem conceitos derivados do nosso prprio universo. [...]. Parte-se sempre do princpio de que onegadornosabe,defacto,doqueestafalar.Assuasafirmaessadquirem sentido quando so traduzidas em termos mais correctos, isto , em termos derivados do universo por ele negado. [...]. pg. 123 Asaplicaesteraputicaseaniquiladoresdosmecanismosconceptuais so inerentes ao universo simblico enquanto tal. [...]. Sendoprodutoshistricosdaactividadehumana,todososuniversos construdospelasociedadesertransformameatransformaoprovocadapela aces concretas dos seres humanos. Se nos deixarmos absorver pela complexidade dosmecanismosconceptuaispelosquaissemantmqualqueruniversoespecfico, podemosserlevadosaesquecerestefactosociolgicofundamental.Arealidade definidanosocial.Masasdefiniessosemprecorporalizadas,isto,indivduos concretos e grupos de indivduos servem como definidores da realidade. [...]. pg. 124 medidaquevosurgindoformasmaiscomplexasdoconhecimentoe seconstituiumexcedenteeconmico,osperitosdevotam-seemregimedetempo integralaosassuntosdasuacompetncia[...].Osperitosnestescorposrarefeitosde conhecimentos pretendem um novo estatuto. [...]. Esteestdio[sic]nodesenvolvimentodoconhecimentotemvrias consequncias.Aprimeira,[...],aemergnciadateoriapura.Comoosperitos universaisoperamnumnveldeconsidervelabstracodasvicissitudesdavida quotidiana,tantoosoutroscomoelesprpriospodemconcluirqueassuasteoriasno tmqualquerrelaocomavidacorrentedasociedade,masexistemnumaespciede cu platnico de ideao no histrica e associal. [...]. pg. 125 Umasegundaconsequnciaofortalecimentonasaces institucionalizadasassimlegitimadas,isto,oreforodatendnciaparainrcia, inerenteainstitucionalizao.Aformaodehbitoseainstitucionalizao,limitam porsisaflexibilidadedasaceshumanas.Asinstituiestendemaperdurar,a menosquesetornemproblemticas.[...].Seexistematendnciaadeixartudo continuar como antes, esta tendncia fortalecida se houver excelentes razes para isso. Oquesignificaqueasinstituiespodemperdurarmesmoquando,aosolhosdeum observadorexterno,jperderamasuafuncionalidadeoriginaloupraticabilidade.[...]. pg. 125-126 [...] definies da realidade podem ser impostas pela polcia. Isto, diga-se depassagem,nosignificaqueestasdefiniessejammenosconvincentesqueasque tenhamaceitaovoluntria,poisopodernasociedadeincluiopoderdedeterminar os processos decisivos de socializao e portanto o poder de produzir realidade. [...] as teoriassoconvincentesporqueresultam,isto,nosentidodesetornarem conhecimento-padro e um dado adquirido na sociedade em questo. pg. 127 [...].Definiesrivaisdasociedadesodecididas,assim,naesferade interesses sociais rivais, rivalidade essa por sua vez traduzida em termos tericos. Se osperitosrivaiseosseusrespectivospartidriossoounosincerosnasuarelao subjectivacomasteoriasemquesto,demerointeressesecundrioparaum compreenso sociolgica destes processos. pg. 128 [...] se os peritos tmxito nas suas argumentaes e a concorrnciafor liquidada por incorporao, a tradio fica enriquecida e diferenciada. [...]. Acristandademedieval,[...],ofereceexcelentesexemplosdostrs procedimentosdeliquidao.Aheresiadeclaradatinhadeserdestruda,emtermos fsicos,quersecorporificassenumindivduo[...]quernumacolectividade[...].Ao mesmotempo,aIgreja,sendoaguardimonopolistadatradiocrist,mostrava-se muitoflexvelemincorporartradioumgrandenmerodecrenaseprticas populares, desde que estas no se consolidassem em desafios herticos organizados, que ameaassem o universo cristo como tal. [...]. pg. 129 Desdequeasdefiniesdarealidadeconcorrentespossamser segregadas, em termos conceptuais e sociais, como sendo apropriadas para estrangeiros e, ipso facto, como irrelevantes para ns, possvel manter relaes cordiais com esses estrangeiros.Adificuldadecomeaquandooestrangeirismodesrespeitado,eo universo dissidente aparece como um possvel habitat para o nosso prprio povo. [...]. [...].Asdefiniestradicionaisdarealidadeinibemamudanasocial. Pelocontrrio,odesmoronamentodaaceitaoassumidadomonoplio,aceleraa mudanasocial.[...],aspolticasconservadorastmtendnciaaapoiaraspretenses monopolistas dos peritos no universal, cujas organizaes monopolistas tendem, por sua vez, a ser conservadoras em poltica. [...]. pg. 130 Quandoumadefiniodarealidadeemespecialseconsegueligaraum interesse concreto de poder, pode ser chamada uma ideologia. Pg. 130-131 [...]Ocarterdistintivodaideologiarefere-semaisaofactodomesmo universoglobalserinterpretadodediferentesmaneiras,dependendodosinteresses concretos adquiridos dentro da sociedade em questo. pg. 131 frequente uma ideologia ser aceite por um grupo devido aos elementos tericosespecficosquesoproveitososaosseusinteresses.[...].Todoogrupo empenhadonumconflitosocialnecessitadesolidariedade.Asideologiasgeram solidariedade.[...].Estlongedeserclaro,porexemplo,quetenhamsidoelementos intrnsecosdocristianismoqueotornaram,dopontodevistapoltico,interessante paracertosgruposdapocadeConstantino.Pareceantes,queocristianismo(ao princpio,quandomuito,umaideologiadaclassemdiabaixa)veioaseraproveitado por poderosos interesses para fins polticos, que tinham pouca relao com os contedos religiosos.[...],umavez queaideologiasejaadoptadapelogrupoemquesto[...],ela modifica-se de acordo com os interesses que deve agora legitimar. [...]. pg. 131-132 [...]amaioriadassociedadesmodernaspluralista.Istosignificaque partilhadeumuniversoqueoseuncleo,aceitecomoindubitvel,etemdiferentes universos parciais coexistindo num estado de mtua acomodao. provvel que estes tenhamalgumasfunesideolgicas,masoconflitodirectoentreasideologiasfoi substitudos por graus variveis de tolerncia ou mesmo cooperao. [...]. A situao pluralista pressupe uma sociedade urbana, com uma diviso do trabalho muito desenvolvida, uma concomitante de alta diferenciao na estruturao socialeumelevadoexcedenteeconmico.Estascondiesque,comobvio, prevalecem na sociedade industrial moderna [...]. pg. 132 O pluralismo encoraja o cepticismo e a inovao, sendo assim subversivo em especial da realidade tida como certa do status quo tradicional. [...]. O INTELECTUAL E AS SUBSOCIEDADES Umtipodeespecialistaimportanteemtermoshistricos,[...],o intelectual, que podemos definir como um perito cuja capacidade especializada no desejada pela sociedade em geral. [...]. O intelectual assim, por definio, um tipo marginal.[...].Asuamarginalidadesocialexprime,emqualquerdoscasos,asuafalta de integrao terica no universo da sociedade aque pertencem.Ele apresenta-se-nos como um contra-especialista no trabalho de definir a realidade. Tal como o perito oficial, ele tem um projecto para a sociedade em geral. Mas, enquanto o projecto do primeiro est de acordo como os programas institucionais e serve para lhes dar legitimaoterica,odointelectualexistenumvazioinstitucional,namelhordas hiptesesobjectivadonumasubsociedadedeintelectuaisdamesmaespcie.[...]. pg. 133 [...]ointelectualpodesentir-seemcasanasubsociedade,enona sociedademaior,eaomesmotemposercapazdemanter,aonvelsubjectivo,assuas concepesdesviacionistasqueasociedademaisamplaaniquila,porquena subsociedade h outros que as considera realidade. Criar, ento, vrios procedimentos paraprotegerarealidadeprecriadasubsociedadecontraasaniquiladorasameaas exteriores. [...]. pg. 133-134 Umaopohistricamuitoimportantearevoluo.Aquiointelectual dispe-searealizaroprojectoparaasociedadenasociedade.[...].Assimcomoo intelectualqueseafastanecessitadeoutrosqueoajudemamanterassuasdefinies desviantesdarealidadecomorealidade,assimtambmointelectualrevolucionrio necessitadeoutrosparaconfirmarassuasconcepesdissidentes.[...].Todasas definies da realidade dotadas de sentido social tm de ser objectivadas por processos sociais.Porconseguinte,ossubuniversosexigemsubsociedadescomobase objectivadora e as contradefinies da realidade requerem contra-sociedades. [...]. A sua realidadeassumeproporestangveisquandocamadassociaisinteirassetornam portadoras dela. [...]. pg. 134 [...].Asinstituieseosuniversossimblicossolegitimadospor indivduosvivos,quetmlocalizaessociaisconcretaseinteressessociaisconcretos. [...]asteoriassofabricadascomofimdelegitimarinstituiessociaisjexistentes. Mastambmacontecequeasinstituiessociaissejammodificadasparase conformarem com teorias j existentes, isto , para as tornar mais legtimas. [...]. pg. 135 BERGER, Peter L.; LUCKMAN, Thomas. A Construo Social da Realidade: um livro sobre a sociologia do conhecimento. 2 Ed. DINALIVRO. Lisboa: 1999. p. 59-135