Chamada Publica Residuos Solidos Rel Aval Tecnica Eco BNDES

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PESQUISA CIENTÍFICA BNDES FEP Nº02/2010 Contrato nº 11.2.0519.1 TEMA: Análise das Diversas Tecnologias de Tratamento e Disposição Final de Resíduos Sólidos no Brasil, Europa, Estados Unidos e Japão INSTITUIÇÃO EXECUTORA: Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco – FADE PRODUTO 10: Relatório final de avaliação técnica, econômica e ambiental das técnicas de tratamento e destinação final dos resíduos. Fevereiro/2013

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Avaliação técnica sobre resíduos sólidos BNDES

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  • PESQUISA CIENTFICA BNDES FEP N02/2010

    Contrato n 11.2.0519.1

    TEMA: Anlise das Diversas Tecnologias de Tratamento e Disposio Final de Resduos Slidos no Brasil, Europa, Estados

    Unidos e Japo

    INSTITUIO EXECUTORA: Fundao de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco FADE

    PRODUTO 10: Relatrio final de avaliao tcnica, econmica e ambiental das tcnicas de tratamento e destinao final dos

    resduos.

    Fevereiro/2013

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    1. APRESENTAO ........................................................................................ 1 2. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ..................................................... 3 2.1 Escopo da Anlise ........................................................................................... 3 2.2 Construo das Hipteses ............................................................................... 4 2.3 Instrumentos de Anlise .................................................................................. 5

    2.3.1 Anlise Institucional ..................................................................................... 5 2.3.2 Anlise Tcnica ........................................................................................... 6 2.3.3 Anlise Econmica ...................................................................................... 6 2.3.4 Anlise Ambiental ........................................................................................ 8

    2.4 Limitaes ..................................................................................................... 12

    3. ASPECTOS DA GERAO DE RESDUOS SLIDOS URBANOS BRASIL14 3.1 O Processo de Urbanizao no Brasil ........................................................... 14 3.2 O Aumento no Consumo e a Gerao e Coleta de Resduos ........................ 18

    4. TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO .......................................................... 24 4.1 Logstica de Coleta, Transporte e Transbordo ............................................... 24

    4.1.1 Experincias .............................................................................................. 27 4.2 Unidades de Triagem .................................................................................... 34

    4.2.1 Experincias .............................................................................................. 35 4.2.2 Vantagens e Desvantagens ....................................................................... 42

    4.3 Compostagem ............................................................................................... 43 4.3.1 Experincias .............................................................................................. 45 4.3.2 Vantagens e Desvantagens ....................................................................... 48

    4.4 Digesto Anaerbia ....................................................................................... 49 4.4.1 Experincias .............................................................................................. 51 4.4.2 Vantagens e Desvantagens ....................................................................... 52

    4.5 Unidades de Incinerao ............................................................................... 55 4.5.1 Experincias .............................................................................................. 56 4.5.2 Vantagens e Desvantagens ....................................................................... 58

    4.6 Aterros ........................................................................................................... 59 4.6.1 Experincias .............................................................................................. 61 4.6.2 Vantagens e Desvantagens ....................................................................... 87

    4.7 Combustveis Derivados de Resduos (CDR) ................................................ 88

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    4.7.1 Vantagens e Desvantagens ....................................................................... 88

    5 ANLISE DOS MERCADOS DE VALORIZAO E APROVEITAMENTO DOS RSU .................................................................................................................... 90 5.1 Reciclagem de Resduos ............................................................................... 90

    5.1.1 Regio Norte ............................................................................................. 94 5.1.2 Regio Nordeste ........................................................................................ 97 5.1.3 Regio Centro-Oeste ................................................................................. 99 5.1.4 Regio Sudeste ....................................................................................... 101 5.1.5 Regio Sul ............................................................................................... 103

    5.2 Valorizao Biolgica .................................................................................. 106 5.2.1 Regio Norte ........................................................................................... 108 5.2.2 Regio Nordeste ...................................................................................... 109 5.2.3 Regio Centro-Oeste ............................................................................... 112 5.2.4 Regio Sudeste ....................................................................................... 114 5.2.5 Regio Sul ............................................................................................... 118

    5.3 Valorizao Energtica ................................................................................ 122 5.3.1 Regio Norte ........................................................................................... 123 5.3.2 Regio Nordeste ...................................................................................... 124 5.3.3 Regio Centro-Oeste ............................................................................... 128 5.3.4 Regio Sudeste ....................................................................................... 131 5.3.5 Regio Sul ............................................................................................... 135

    6 ANLISE ECONMICA DAS TECNOLOGIAS ....................................... 141 6.1 Construo das Hipteses ........................................................................... 141 6.2 Modelos ....................................................................................................... 147

    6.2.1 Triagem ................................................................................................... 148 6.2.1.1 Investimentos ................................................................................................. 149 6.2.1.2 Custos ............................................................................................................ 150 6.2.1.3 Receitas ......................................................................................................... 150 6.2.1.4 Resultados ..................................................................................................... 150

    6.2.2 Compostagem ......................................................................................... 153 6.2.2.1 Investimentos ................................................................................................. 154 6.2.2.2 Custos ............................................................................................................ 155 6.2.2.3 Receitas ......................................................................................................... 155

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    6.2.2.4 Resultados ..................................................................................................... 156 6.2.3 Digesto Anaerbia ................................................................................. 158

    6.2.3.1 Investimentos ................................................................................................. 159 6.2.3.2 Custos ............................................................................................................ 159 6.2.3.3 Receitas ......................................................................................................... 159 6.2.3.4 Resultados ..................................................................................................... 160

    6.2.4 Incinerao .............................................................................................. 162 6.2.4.1 Investimentos ................................................................................................. 163 6.2.4.2 Custos ............................................................................................................ 164 6.2.4.3 Receitas ......................................................................................................... 164 6.2.4.4 Resultados ..................................................................................................... 164

    6.2.5 Aterros ..................................................................................................... 166 6.2.5.1 Investimentos ................................................................................................. 167 6.2.5.2 Custos ............................................................................................................ 167 6.2.5.3 Receitas ......................................................................................................... 167 6.2.5.4 Resultados ..................................................................................................... 168

    6.2.6 Aterro com Aproveitamento Energtico ................................................... 169 6.2.6.1 Investimentos ................................................................................................. 169 6.2.6.2 Custos ............................................................................................................ 170 6.2.6.3 Receitas ......................................................................................................... 170 6.2.6.4 Resultados ..................................................................................................... 171

    6.3 Anlise Ambiental das Tecnologias ......................................................... 172 6.3.1 Indicadores de Sustentabilidade Tecnolgica .......................................... 173

    6.3.1.1 Resultados ..................................................................................................... 175

    7 SISTEMAS DE COBRANA NA GESTO DE RSU NO BRASIL ........... 177 7.1 Contexto Setorial (Legal) ............................................................................. 178

    7.1.1 Conceitos Preliminares ............................................................................ 180 7.2 Sistemas de Cobrana na Gesto de RSU no Brasil Aspectos Institucionais181 7.3 Regulamentao da Cobrana .................................................................... 185 7.4 Regulao dos Servios de Manejo dos RSU.............................................. 186

    7.4.1 Base Legal para a Regulao dos Servios ............................................. 186

    8 CENRIOS PARA O BRASIL .................................................................. 188 8.1 Regio Norte ............................................................................................... 189 8.2 Regio Nordeste .......................................................................................... 193

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    8.3 Regio Centro-Oeste ................................................................................... 200 8.4 Regio Sudeste ........................................................................................... 205 8.5 Regio Sul ................................................................................................... 212

    9 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 217 Referncias Bibliogrficas ............................................................................ 223

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    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Fluxograma de Pesquisa. ........................................................................ 12 Figura 2 - Evoluo da Populao Brasileira (1872-2010). ...................................... 15 Figura 3 - Evoluo do PIB Per Capita (1900-2011). ............................................... 19 Figura 4 - Composio Gravimtrica dos RSU por Regio. ..................................... 22 Figura 5 - Fluxograma do Processo das Usinas de Triagem e Compostagem de Ceilndia/DF (a) e Asa Sul (b). ................................................................................ 39 Figura 6 - Digesto Anaerbia. ................................................................................ 51 Figura 7 - Evoluo da Reciclagem no Brasil. .......................................................... 92 Figura 8 - Evoluo da Reciclagem por Tipo de Material. ........................................ 93 Figura 9 - Situao de Produo e Importao de fertilizantes no Brasil (NPK). ... 108 Figura 10 - Localizao das Usinas de Compostagem Bahia, 2013. .................. 110 Figura 11 - Produo e Consumo Energtico no Estado da Bahia. ....................... 126 Figura 12 - Hipteses de Anlise ........................................................................... 147 Figura 13 - Hipteses do Modelo para Centrais de Triagem. ................................. 149 Figura 14 - PL XTIR. .............................................................................................. 151 Figura 15 - Hipteses do Modelo para Unidades de compostagem. - ................... 153 Figura 16 - VPL XTIR. ............................................................................................ 157 Figura 17 - Variao do VPL em funo da TIR. .................................................... 165 Figura 18 - Hipteses do Modelo para Aterros. ...................................................... 167 Figura 19 Resultados obtidos .............................................................................. 175 Figura 20 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 1. .............................. 190 Figura 21 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 2. .............................. 191 Figura 22 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 3. .............................. 192 Figura 23 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 4. .............................. 193 Figura 24 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 1 - Regio Nordeste. 196 Figura 25 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 2 - Regio Nordeste. 197 Figura 26 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 3 - Regio Nordeste. 197 Figura 27 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 4 - Regio Nordeste. 198 Figura 28 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 5 - Regio Nordeste. 199

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    Figura 29 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 6 - Regio Nordeste. 199 Figura 30 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 7 - Regio Nordeste. 199 Figura 31 - Sequncia de operaes rotineiras para a Rota 8 - Regio Nordeste. 200 Figura 32 - Fluxograma da rota tecnolgica para municpios com menos de 30.000 habitantes. .............................................................................................................. 201 Figura 33 - Fluxograma da rota tecnolgica para municpios com menos de 30.000 habitantes que possuem mercado de reciclveis. .................................................. 202 Figura 34 - Fluxograma da rota tecnolgica para municpios entre 30.000 e 250.000 habitantes. .............................................................................................................. 203 Figura 35 - Fluxograma da rota tecnolgica para municpios entre 250.000 e 1.000.000 habitantes. ............................................................................................. 204 Figura 36 - Fluxograma da rota tecnolgica para municpios ou consrcios acima de 1.200.000 habitantes. ............................................................................................. 205 Figura 37 - Rota tecnolgica 1 - Regio Sudeste. .................................................. 207 Figura 38 - Rota tecnolgica 2 - Regio Sudeste. .................................................. 209 Figura 39 - Rota Tecnolgica 3/1 - Regio Sudeste. ............................................. 210 Figura 40 - Rota Tecnolgica 3/2 - Regio Sudeste. ............................................. 211 Figura 41 - Rota Tecnolgica 4 - Regio Sudeste. ................................................ 212 Figura 42 - Rotas tecnolgicas de tratamento de RSU. ......................................... 215

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    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Evoluo dos sistemas de tratamento dos resduos slidos urbanos. ...... 4 Tabela 2 - Indicadores que compem o IST. ............................................................. 9 Tabela 3 - Nmeros da urbanizao brasileira. ........................................................ 15 Tabela 4 - Nmero de Municpios por Regio e Faixa Populacional. ....................... 16 Tabela 5 - Gerao de Resduos no Brasil (2011). .................................................. 20 Tabela 6 - Composio Gravimtrica dos RSU no Brasil. ........................................ 21 Tabela 7 - Evoluo da Coleta de Resduos no Brasil. ............................................ 22 Tabela 8 - Capacidade de tratamento e Nmero de Unidades de Incinerao no Japo. ...................................................................................................................... 57 Tabela 9 - Caractersticas das UTRE da Regio Norte. ........................................... 63 Tabela 10 - Caractersticas dos Aterros da Regio Norte. ....................................... 64 Tabela 11 - Dados Gerais de Aterros da Regio Nordeste. ..................................... 67 Tabela 12 - Caractersticas Operacionais de Aterros da Regio Nordeste. ............. 68 Tabela 13 - Dados Gerais de Aterros da Regio Centro-Oeste. .............................. 72 Tabela 14 - Caractersticas Operacionais de Aterros da Regio Centro-Oeste. ...... 73 Tabela 15 - Dados Gerais de Aterros da Regio Sudeste. ...................................... 76 Tabela 16 - Caractersticas Operacionais de Aterros da Regio Sudeste. .............. 79 Tabela 17 - Dados Gerais de Aterros da Regio Sul. .............................................. 84 Tabela 18 - Caractersticas Operacionais de Aterros da Regio Sul. ...................... 85 Tabela 19 - Preo dos Materiais Reciclveis. .......................................................... 94 Tabela 20 - Preo dos Materiais Reciclveis. .......................................................... 96 Tabela 21 - Preo dos Materiais Reciclveis. .......................................................... 99 Tabela 22 - Preo dos Materiais Reciclveis. ........................................................ 101 Tabela 23 - Preos pagos por materiais reciclveis por indstrias recicladoras. ... 102 Tabela 24 - Preo dos Materiais Reciclveis. ........................................................ 103 Tabela 25 - Preo dos Materiais Reciclveis. ........................................................ 106 Tabela 26 - Preos mdios de venda do composto de RSU na regio Sul. ........... 121 Tabela 27 Tecnologias analisadas segundo o porte dos municpios. ................. 141 Tabela 28 - Cenrio Base para Tratamento dos RSU. ........................................... 142

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    Tabela 29 - Parmetro de Projeto para Gerao Per Capita de RSU. ................... 143 Tabela 30 - Composio Mdia dos RSU do Modelo............................................. 144 Tabela 31 - Composio Mdia de RSU x Faixa Populacional x Tecnologia. ........ 145 Tabela 32 - Sntese de Indicadores Econmicos. .................................................. 150 Tabela 33 - Anlise de Sensibilidade. .................................................................... 152 Tabela 34 - Sntese de Indicadores Econmicos. .................................................. 156 Tabela 35 - Anlise de Sensibilidade. .................................................................... 157 Tabela 36 - Sntese de Indicadores Econmicos. .................................................. 160 Tabela 37 - Anlise de Sensibilidade. .................................................................... 161 Tabela 38 - Sntese dos Indicadores Econmicos. ................................................ 165 Tabela 39 - Anlise de Sensibilidade. .................................................................... 166 Tabela 40 - Sntese dos Indicadores Econmicos. ................................................ 168 Tabela 41 - Anlise de Sensibilidade. .................................................................... 169 Tabela 42 - Sntese dos Indicadores Econmicos. ................................................ 171 Tabela 43 - Anlise de Sensibilidade. .................................................................... 171 Tabela 44 - Faixas populacionais dos municpios da Regio Sul. ......................... 212 Tabela 45 - Aplicabilidade de tecnologias segundo as faixas populacionais. ........ 213

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    1. APRESENTAO A Fundao de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de

    Pernambuco FADE /UFPE, com sede em Recife, Estado de Pernambuco, na Av. Acadmico Hlio Ramos n 336, Cidade Universitria, CEP 50.740.530, CP 7.855, inscrita no CNPJ sob o n. 11.735.586/0001-59, apresenta ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES, o Produto 10 do Contrato No. 11.2.0519.1, referente ao projeto de pesquisa Anlise das Diversas Tecnologias de Tratamento e Disposio Final de Resduos Slidos no Brasil Europa, Estados Unidos e Japo.

    O Produto 10 tem o objetivo de apresentar uma anlise de algumas das principais tecnologias de tratamento e destinao final dos resduos slidos urbanos aplicadas ou sugeridas para o Brasil, considerando os aspectos tcnico, econmico e ambiental. A anlise foi desenvolvida procurando relacionar os tipos de resduos gerados no pas, seus mercados e as estruturas de custos e receitas e impactos gerados por cada uma das tecnologias identificadas, incluindo os aspectos institucionais e regulatrios que envolvem sua utilizao.

    O captulo 2 apresenta os procedimentos metodolgicos a serem utilizados na avaliao, considerando as caractersticas dos resduos a serem tratados e as tcnicas a serem utilizadas na avaliao econmica e ambiental. Tambm ser discutido como as tecnologias analisadas sob o ponto de vista tcnico, sero consideradas para uma avaliao de sua aplicao nas diversas regies do pas a partir da construo de hipteses envolvendo a definio de portes e tecnologias, bem como sobre as limitaes inerentes s anlises consideradas.

    O Captulo 3 apresenta uma discusso sobre a gesto de resduos slidos urbanos no Brasil, como forma de subsidiar as anlises a serem desenvolvidas. Sem o intuito de esgotar as discusses a respeito da gerao de resduos slidos urbanos no Brasil, ou mesmo, realizar um diagnstico

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    preciso acerca do assunto, so levantados alguns aspectos relativos ao processo de gerao e coleta dos resduos. No Captulo 4 as tecnologias de tratamento e disposio final dos resduos so apresentadas sob o ponto de vista tcnico, considerando suas vantagens, desvantagens e aplicaes nas regies brasileiras. O Captulo 5 apresenta uma discusso sobre o mercado dos produtos resultantes da valorizao dos resduos a partir da reciclagem, compostagem e aproveitamento energtico.

    Os resultados e discusses relativas avaliao econmica e ambiental das tecnologias de tratamento e disposio final so apresentados no Captulo 6.

    O Captulo 7 apresenta uma anlise da natureza da prestao dos servios de manejo dos resduos slidos e da destinao de resduos slidos urbanos considerando a Poltica Nacional de Resduos Slidos.

    O Captulo 8 apresenta, a partir das anlises realizadas nos captulos anteriores, possveis rotas tecnolgicas que podero ser consideradas passveis de implantao de acordo com especificidades regionais.

    O Captulo 9 apresenta as consideraes finais a respeito das avaliaes realizadas nos diversos nveis (tcnico, econmico, ambiental).

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    2. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS 2.1 Escopo da Anlise

    O presente estudo tem como foco a anlise de diferentes tecnologias de tratamento e destinao final de resduos slidos urbanos passveis de implantao nas diversas regies do pas. A anlise foi elaborada considerando aspectos relacionados gesto e manejo dos resduos slidos urbanos em mbito nacional e incluem uma avaliao da viabilidade tcnica, econmica e ambiental do emprego das tecnologias, considerando diferentes perspectivas.

    Os estudos de viabilidade atuam como instrumentos de tomada de deciso e como tal, servem como parmetro de indicao da convenincia e eficcia da implantao de tecnologias de tratamento e disposio final de resduos slidos urbanos sob circunstncias especficas. A partir de exerccios de projeo de futuro, os agentes envolvidos nos processos decisrios podem vislumbrar resultados hipotticos considerados razoveis dentro de um panorama de crescimento econmico sustentvel e estabilidade econmica. Como se trata de uma anlise que envolve incertezas, estudos similares podem produzir resultados que diferem das estimativas aqui apresentadas.

    Os dados a serem utilizados nas anlises, foram coletados no decorrer do perodo de execuo do projeto, em um perodo de doze meses (de janeiro de 2012 a janeiro de 2013). As informaes utilizadas para obteno dos dados provem de fontes primrias e secundarias. Os dados obtidos a partir de fontes primrias foram coletados durante as visitas tcnicas nacionais e internacionais. Foram utilizados tambm, dados obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Sistema Nacional de Informao Sobre Saneamento (SNIS), ABRELEPE (Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais), Ministrio do Meio Ambiente (MMA), Ministrio das Cidades (MCid), ABETRE (Associao Brasileira de Tratamento

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    de Resduos), IPEA (Instituo de Pesquisa Econmica Aplicada), Banco do Brasil (BB), Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), Instituto Socioambiental dos Plsticos (PLASTIVIDA), Planos Metropolitano de Resduos Slidos, Associao Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA), Associao Tcnica Brasileira das Indstrias Automticas de Vidro (ABIVIDRO), Associao Brasileira da Indstria do PET (ABIPET), Associao Brasileira do Alumnio (ABAL), Instituto Ao Brasil, Rota da Reciclagem (TETRAPAK), Relatrios de Projetos do Instituto Comunitrio de Florianpolis (Icom) e Instituto Vonpar, Federao das Indstrias dos diversos Estados, Centrais Eltricas de Santa Catarina S.A (CELESC), alm de trabalhos acadmicos na rea.

    2.2 Construo das Hipteses

    As anlises executadas na presente pesquisa contemplam diferentes tcnicas de tratamento e disposio final de resduos. As principais formas de tratamentos existentes e que possuem tecnologias j transferidas e difundidas no apenas no pas, mas tambm em outros pases com tecnologias de vanguarda compreendem sistemas de triagem, tratamento biolgico, incinerao e aterro sanitrio em diferentes nveis de evoluo (Tabela 01).

    Tabela 1 - Evoluo dos sistemas de tratamento dos resduos slidos urbanos. Sistemas Bsicos

    Processos Evoluo Produtos Inovao

    Triagem Fsico Coleta Seletiva Tratamento Mecnico Biolgico (MBT)

    Matria Prima para Reciclagem e Energia

    Waste to Resources (WTR) Waste to Energy (WTE)

    Tratamento Biolgico

    Biolgico Biodigestores Anaerbios e Compostagem

    Composto Orgnico e Energia

    Agricultura e Waste to Energy (WTE)

    Incinerao Fsico Qumico

    Tratamento Trmico Vapor e Energia Eltrica

    Waste to Energy (WTE)

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    Aterros Sanitrios

    Fsico, Qumico e Biolgico

    Reator Anaerbio Tratamento da M.Orgnica

    Biogs (Energia) e Lixiviado

    Waste to Energy (WTE) Fertilizantes

    Fonte: Juc (2011)

    As tecnologias a serem analisadas foram definidas tomando como base as necessidades consideradas para diferentes portes de municpio. A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNAS) do MMA nas publicaes dos Diagnsticos do Manejo de Resduos Slidos Urbanos dos municpios participantes do SNIS divide os municpios em 06 faixas populacionais. Tomando como base as classes intervalares definidas, os portes das cidades foram definidos em cinco faixas, em uma adaptao daquelas utilizadas pelo MMA. Deste modo, para cada classe intervalar foram definidas tecnologias a ser analisadas, considerando a instalao de unidades de triagem, compostagem, digesto anaerbia, incinerao e aterro sanitrio, este ltimo com uma variao que engloba a valorizao energtica.

    2.3 Instrumentos de Anlise

    A viabilidade de implantao de cada uma das tecnologias determinada a partir de metodologias especficas de avaliao quanto aos aspectos institucional, tcnico, econmico e ambiental.

    2.3.1 Anlise Institucional

    A anlise do arcabouo institucional sobre o qual se ampara a gesto de resduos slidos no pas realizada sob a forma de uma pesquisa com caractersticas qualitativa e exploratria, no sentido em que busca aprofundar as discusses, ainda no consolidadas, em mbito nacional, a respeito dos sistemas de cobrana de gesto e aspectos regulatrios, reunindo mais conhecimentos e novas dimenses a partir de uma abordagem no quantitativa.

    O sistema de cobrana da gesto de resduos slidos urbanos no Brasil

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    analisado a partir da descrio dos modelos de cobrana considerando os seus aspectos regulatrios e legais. So exploradas as formas e abrangncia da atividade regulatria e de fiscalizao do sistema pblico, as competncias e modelos institucionais das entidades a serem reguladas, bem como so identificadas e discutidas as lacunas existentes no arcabouo regulatrio e institucional que tem inviabilizado at ento a implantao de um sistema de cobranas operativo e eficiente.

    2.3.2 Anlise Tcnica

    As tecnologias relativas s operaes de transbordo, triagem, compostagem, incinerao e aterro sanitrio so analisadas de forma comparativa. A viabilidade tcnica de implantao determinada a partir de uma discusso sinttica para cada forma de tratamento empregada para uma mesma soluo (ex: triagem manual ou mecnica, incinerao com ou sem valorizao energtica, etc) e suas vantagens de aplicao em diferentes situaes.

    2.3.3 Anlise Econmica

    A metodologia empregada para determinar a viabilidade econmica de cada tecnologia analisada segue a aplicao dos modelos tradicionais de avaliao benefcio-custo, estimados a partir dos fluxos de caixa representativos das entradas e sadas monetrias de recursos necessrios implantao e operao dos sistemas de tratamento e disposio final de resduos.

    Coopeland et al (2000) e Damodaran (2010) destacam a importncia da avaliao como ferramenta de gesto capaz de medir o impacto de decises estratgicas, financeiras e operacionais. Damodaran (2010) define a utilizao de fluxos de caixa descontados como um processo de previso de fluxos futuros de entradas e sadas de caixa envolvendo suposies sobre mercados e nvel de preos, ressaltando o carter de subjetividade dos julgamentos.

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    Os investimentos e custos utilizados nos modelos so definidos com base em informaes disponibilizadas por empresas e rgos gestores municipais nacionais e internacionais, bem como em fontes secundrias. A estimativa das receitas realizada a partir da adoo de hipteses relacionadas s demandas atuais e futuros de produtos derivados da valorizao dos resduos.

    Os modelos de avaliao benefcio-custo aqui empregados buscam determinar o retorno esperado do investimento e o tempo de recuperao do capital investido, levando em considerao o valor do dinheiro no tempo. Para tanto, sero empregadas as tcnicas do Valor Presente Lquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tempo de Recuperao (Payback descontado).

    O Valor Presente Lquido (VPL) indica o nvel de atratividade do investimento considerado. A partir da estimativa da Taxa Interna de Retorno (TIR), tambm um indicador de atratividade, possvel determinar a receita mdia de equilbrio, que pode ser interpretada como o nvel de atividade de um determinado empreendimento (ou quantidade de produto ou servio) a partir do qual ela se torna lucrativa para a empresa, ou seja, o ponto onde as receitas auferidas com a comercializao de determinado produto ou servio so exatamente suficientes para cobrir todos os gastos relativos produo. De forma complementar, o Payback permite identificar o tempo necessrio para se recuperar o investimento empregado para a implantao das tecnologias.

    Como o ambiente de determinao da viabilidade de investimentos permeado de incertezas que so inerentes ao prprio processo de uma anlise baseada em estimativas de valores no tempo, realizada uma avaliao da resposta dos modelos a oscilaes nas variveis projetadas. Deste modo, a anlise de sensibilidade empregada com o objetivo de identificar a susceptibilidade da viabilidade identificada para as tecnologias, a variaes nas estimativas de investimentos, custos e receitas definidas para a presente pesquisa.

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    2.3.4 Anlise Ambiental

    A metodologia empregada na anlise econmica nesta pesquisa no permite a identificao e mensurao dos impactos ambientais e sociais (externalidades) inerentes s atividades relacionadas ao tratamento e disposio final dos resduos.

    As externalidades ocorrem quando uma determinada atividade econmica afeta a terceiros, positiva ou negativamente e no so incorporados na determinao de preos de bens e servios. A internalizao das externalidades nos processos de tomada de deciso pressupe a retomada do estado de bem-estar de forma a garantir a sustentabilidade do sistema.

    Eunomia et al. (2009), apontam duas formas de valorar emisses ambientais de resduos slidos urbanos aceitas internacionalmente: uma baseada na estimativa de custos de danos unitrios e outra na utilizao de funes dose-resposta. Os benefcios ou custos monetarizados, resultantes deste exerccio de valorao podem ento ser incorporados nos fluxos de caixa a serem utilizados nos modelos que sero analisados via tcnicas de avaliao benefcio-custo.

    Desse modo, a partir da valorao de aspectos relacionados ao nvel de emisses e consumo de recursos naturais (solo, gua e energia) para cada tecnologia analisada no presente estudo, realizada uma nova avaliao benefcio-custo utilizando a tcnica do Valor Presente Lquido, com o objetivo de identificar o impacto causado pela incluso de variveis ambientais no processo decisrio. Uma anlise comparativa entre os resultados gerados na fase de avaliao onde estas variveis eram ignoradas permite uma estimativa do nvel de impacto provocado por tal incluso.

    Outra forma de apresentar o impacto de danos ou benefcios ambientais provocados por atividades de tratamento e disposio de resduos a utilizao de indicadores. O uso deste tipo de indicadores tenta garantir o uso dos recursos naturais nas atividades econmicas sem prejudicar o atendimento

  • 9

    s necessidades humanas, garantindo o bem-estar das geraes presente e futura. Nesta pesquisa utilizado o Indicador de Sustentabilidade Tecnolgica (IST) aplicado em uma ferramenta de Sistema de Apoio a Deciso (SAD), em desenvolvimento pela equipe. O IST faz uso de indicadores parametrizados em relao a quantidade de resduos slidos. Os indicadores foram definidos a partir de pesquisa de opinio realizada junto aos consultores regionais e internacionais componentes da equipe. O ndice IST composto de 03 sub-ndices, AMBIENTAL (AM), ECONMICO (EC) e social (SO), e cada sub-ndice composto por 8 indicadores, totalizando 24 indicadores para a composio do IST, conforme apresentado na Tabela 02.

    Tabela 2 - Indicadores que compem o IST. NDIC

    E SUB-NDIC

    E

    INDICADORES Cdigo

    do Indicado

    r

    Descrio do Indicador

    IST AM AM-1 Quantidade de efluente lquido gerado por ano AM-2 Quantidade de dixido de carbono emitido por ano AM-3 Quantidade de gases de efeito estufa emitidos por

    ano AM-4 Quantidade de crditos de carbono negociados por

    ano AM-5 Quantidade de solo utilizado por ano AM-6 Quantidade de energia total consumida no

    tratamento por ano AM-7 Quantidade de energia trmica/vapor gerada no

    tratamento por ano AM-8 rea utilizada pela tecnologia

    EC EC-1 Despesa do tratamento de efluentes lquidos e gasosos por ano

    EC-2 Receita de venda de crditos de carbono por ano EC-3 Estimativa de despesa em rea total por m EC-4 Receita de venda de energia por ano EC-5 Despesa com construo total (CAPEX) -

    infraestrutura, equipamentos, etc EC-6 Despesa total de operao por ano (OPEX) - energia,

    mo-de-obra, encargos fiscais e tributrios, etc EC-7 Despesa de encerramento

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    EC-8 Receita com materiais reciclveis SO SO-1 Quantidade de empregos formais gerados na planta

    SO-2 Pessoal tcnico SO-3 Pessoal administrativo SO-4 Pessoal operacional SO-5 Nvel de formao/ qualificao dos empregados -

    Abaixo do fundamental (no alfabetizado) SO-6 Nvel de formao/ qualificao dos empregados -

    Fundamental/mdio SO-7 Nvel de formao/ qualificao dos empregados -

    Tcnico SO-8 Nvel de formao/ qualificao dos empregados -

    Superior Fonte: Elaborao Prpria.

    Tomando os princpios mencionados como parmetro, o uso de indicadores permite ento, que se identifique os impactos causados pela atividade em anlise sobre o meio ambiente, relacionando-o com a uma srie de parmetros. Assim, aps a etapa de avaliao benefcio custo.

    A Figura 01 representa, de forma esquemtica, as etapas seguidas na elaborao da presente pesquisa e descritas a seguir:

    Etapa 01: envolve um levantamento geral de aspectos relacionados gerao e composio dos resduos no pas, bem como dos aspectos institucionais sobre os quais esto pautadas as decises relativas ao manejo e gesto dos resduos;

    Etapa 02: composta pela identificao e discusso das tecnologias de tratamento e disposio final de resduos slidos urbanos, com nfase naquelas a serem avaliadas;

    Etapa 03: nesta etapa ser realizada a construo das hipteses relativas s diferentes tecnologias;

    Etapa04: consiste da construo dos modelos de anlise das hipteses, contemplando a identificao dos pressupostos,

  • 11

    investimentos, custos e receitas;

    Etapa05: envolve a aplicao de tcnicas benefcio-custo para cada hiptese considerada na pesquisa;

    Etapa 06: baseando-se nos modelos considerados e resultados obtidos realizada uma anlise para verificar a sensibilidade dos modelos a variaes nos cenrios avaliados;

    Etapa 07: consiste da identificao dos custos e benefcio externos, relativos s caractersticas ambientais inerentes aos processos produtivos de cada tecnologia;

    Etapa 08: envolve uma nova aplicao de tcnicas benefcio-custo aos modelos considerados, incluindo as variveis ambientais;

    Etapa 09: esta etapa da pesquisa inclui a aplicao de um indicador de sustentabilidade tecnolgica, como forma de contribuio anlise dos impactos ambientais das diversas tecnologias de tratamento consideradas;

    Etapa 10: a ltima etapa desta pesquisa consiste na indicao e possveis cenrios a serem analisados pelas gestes municipais.

  • 12

    Figura 1 - Fluxograma de Pesquisa. Fonte: Elaborao Prpria.

    2.4 Limitaes

    Como toda pesquisa que envolve a utilizao de dados econmicos e informaes baseadas em indicadores derivados de fontes secundrias, devem ser observadas algumas limitaes e restries durante a anlise e interpretao dos resultados apresentados. Com relao ao uso de fontes secundrias, as limitaes se reportam s prprias restries de coleta de dados pelas fontes.

    Como o objetivo deste produto avaliar as tecnologias de tratamento e disposio final de RSU de forma genrica, as informaes acerca dos custos e receitas geradas, so aquelas disponibilizadas por empresas ou rgos gestores municipais, informaes estas, muitas vezes escassas, restritas e com valores pouco confiveis e podem no se aplicar em situaes especficas.

    As projees de demanda e oferta pelas tecnologias e produtos oriundos da valorizao dos RSU, so estimadas de acordo com a evoluo histrica.

  • 13

    Isso pode implicar em anlises sub ou superestimadas caso haja modificaes significativas no panorama econmico nacional, uma vez que ao se utilizar projees histricas, admite-se um cenrio de estabilidade econmica.

    Destaca-se ainda, que a anlise ora realizada se refere avaliao de cada tecnologia separadamente e de forma hipottica sem se deter a alguma localidade especfica. Desse modo no avaliada a pertinncia ou no da combinao de diferentes atividades. Ainda que seja modelada uma realidade possvel para cada tecnologia, naturalmente, no h garantia do sucesso de implantao de uma determinada rota tecnolgica em uma localidade especfica, sendo para tanto, necessrio estudos de viabilidade exclusivos.

  • 14

    3. ASPECTOS DA GERAO DE RESDUOS SLIDOS URBANOS NO BRASIL

    3.1 O Processo de Urbanizao no Brasil

    O crescimento de problemas ambientais ocasionados pela gerao de resduos slidos urbanos relaciona-se a fenmenos demogrficos como o crescimento populacional e os processos de urbanizao, bem como ao desenvolvimento econmico da sociedade. O processo de crescimento e urbanizao no Brasil apresentou um padro semelhante ao experimentado por grande parte dos pases mais desenvolvidos, ou seja, perodos de exploso demogrfica sucedidos por pocas de retrao do crescimento.

    Pela Figura 02 possvel observar que o pas passou por um crescimento tmido at a dcada de 1950, com um aumento de 42.011.279 habitantes. Aps esse perodo, at o ano de 2005 ocorreu um crescimento demogrfico acentuado, seguido por uma retrao no processo, embora ainda com taxas positivas. Em 1991, por exemplo, a taxa mdia de crescimento no Brasil era de aproximadamente 1,6%, oscilando em torno deste valor at 2005, quando apresentou um decrscimo de cerca de 0,5% em relao ao ano de 1991 e projees de atingir 1,0% em 2015.

  • 15

    Figura 2 - Evoluo da Populao Brasileira (1872-2010). Fonte: IBGE.

    De acordo com Brito et al (2001) a velocidade da urbanizao no Brasil se deve a dois fatores: a taxa de crescimento corrente da populao urbana e a taxa de urbanizao. Entre os anos de 1950 e 1980, o crescimento da populao urbana se mostrou mais acelerado em detrimento a perodos mais recentes, apesar de se manter ainda bastante elevado.

    Carvalho e Fernandes (1994) afirmam que a maior parte do crescimento demogrfico urbano pode ser explicado pelo intenso fluxo migratrio rural-urbano. De acordo com os autores, estes fluxos responderam por 53,0% do crescimento da populao urbana no maior perodo de expanso. Atualmente o processo de urbanizao continua em expanso. No ltimo Censo do IBGE em 2010, a populao urbana atingiu um percentual de 84,4%, um acrscimo de 3% em relao ao ano 2000, representando um contingente populacional adicional de 23.000.000 de habitantes (Tabela 03).

    Tabela 3 - Nmeros da urbanizao brasileira. Regio Populao

    Urbana (hab)

    Populao Rural (hab)

    Taxa de Urbanizao

    (%)

    Norte 4.199.945 11.664.509 74% Nordeste 14.260.704 38.821.246 73%

  • 16

    Centro-Oeste 1.575.131 12.482.963 89% Sudeste 5.668.232 74.696.178 93% Sul 4.125.995 23.260.896 85% BRASIL 29.830.007 160.925.792

    Fonte: IBGE (2011) A maior concentrao populacional est nos municpios de maior porte,

    principalmente naqueles com mais de 500 mil habitantes. De acordo com Brito et al (2001) , na dcada de 1980, por exemplo, 57,0% da populao urbana j residia em municpios com populao superior a 100 mil habitantes e 35,0% em municpios com mais de 500 mil habitantes. Aps 1980, ocorreu uma desconcentrao da populao, com uma maior participao dos municpios com uma populao entre 100 e 500 mil habitantes, por exemplo, as quais apresentam uma taxa de crescimento mais intenso do que aqueles com mais de 500 mil habitantes. Em termos de quantidade, entretanto, existe uma concentrao de municpios de pequeno porte em todas as regies do pas (Tabela 04), sendo as Regies Nordeste e Centro-Oeste aquelas com a maior predominncia de pequenos municpios.

    Tabela 4 - Nmero de Municpios por Regio e Faixa Populacional. Grandes Regies e classes de tamanho da populao dos municpios

    Norte Nordeste Centro-Oeste

    Sudeste Sul Total

    449 1 794 466 1 668 1 188 5 565

    At 2.000 10 8 10 39 51 118 De 2.001 a 5.000 76 233 133 359 382 1 183

    De 5.001 a 10.000 81 363 104 391 273 1 212 De 10.001 a 20.000

    108 591 112 356 234 1 401

    De 20.001 a 50.000

    111 428 72 285 147 1 043

  • 17

    De 50.001 a 100.000

    43 113 17 99 53 325

    De 100.001 a 500.000

    18 47 14 122 44 245

    Mais de 500.000 2 11 4 17 4 38

    Fonte: IBGE (2010), MMA (2012) As Regies Sul e Sudeste, alm de serem as mais populosas,

    concentram junto ao Nordeste, o maior nmero de municpios. A Regio Norte, segundo os dados do CENBIO/Infoener (2011), possui 3.851.560 km (45% do territrio) e, pelo Censo de 2010, abriga somente 8,3% do total da populao brasileira (IBGE, 2011). Apesar de apresentar uma alta taxa de urbanizao de sua populao, os grandes espaos vazios e a baixa conectividade entre os seus municpios, so responsveis pela baixa articulao das populaes e administraes na busca por solues mais integradas dos problemas de saneamento. Atualmente, cerca de 86% dos municpios da regio possuem at 50.000 habitantes, enquanto que os municpios de grande porte correspondem a apenas 0,45% do total.

    A Regio Nordeste concentra 24,1% da populao urbana do pas, a regio composta por mais Estados (nove no total) e possui o terceiro maior territrio, distribudo em 1.558.196 km, equivalente a 18% do territrio nacional. De acordo com o ltimo censo do IBGE, a regio possui mais de 49 milhes de habitantes, quase 30% da populao brasileira, e uma densidade demogrfica equivalente a 32 hab/km. A quantidade de municpios de pequeno porte no Nordeste supera a mdia nacional. Menos de 3% deles, apresenta populao superior a 100.000 habitantes e destes, 0,61% possuem mais de 500.000 habitantes.

    A regio Centro-Oeste composta pelos Estados de Gois, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e pelo Distrito Federal, este ltimo, um territrio autnomo composto por trinta regies administrativas (cidades-satlites), exceto Braslia - Capital Federal e sede do governo do Distrito Federal. a segunda maior regio do Brasil, com 1.606.366,787 km (IBGE, 2010). Apesar

  • 18

    do contnuo crescimento populacional, esta regio est entre as de menor nmero de habitantes e de menor densidade demogrfica. Conforme censo do IBGE (2010), a populao total da regio de 14.058.094 habitantes, representando 7,4% da populao total do pas, e uma densidade demogrfica de 8,71hab/ km2. A populao se concentra, em sua maioria, na zona urbana. A maioria dos municpios de pequeno porte, e a exemplo da Regio Nordeste, a proporo supera a mdia nacional.

    A Regio Sudeste a segunda menor regio do pas, ocupando um territrio de 924.511,292 km e composta por: So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Esprito Santo. Com uma populao de aproximadamente 80,3 milhes de habitantes, a regio agrega os trs maiores Estados do pas em termos demogrficos. Sua densidade demogrfica atinge a marca de 84,21 hab./km. A regio Sudeste concentra os municpios de maior porte, 8% so municpios com populao superior a 100.000 habitantes.

    A Regio Sul do Brasil constituda pelos Estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com uma populao total de 576.409,6km, resultando em uma densidade demogrfica mdia de 47,51hab/km de acordo com o ltimo censo do IBGE, maior, portanto, do que a mdia nacional. Os Estados que a compem esto entre os mais populosos do pas, Rio Grande do Sul e Paran juntos, correspondem a cerca de 12% da populao brasileira.

    A maioria dos municpios da regio, mais de 50%, possui populao inferior a 10.000 habitantes. Em Santa Catarina, so 58,7% e no Rio Grande do Sul 67%. No Paran, 79,4% dos municpios possui at 20.000 habitantes. Ressalta-se, porm, que a maior parte da populao est concentrada nos municpios de maior porte. No Rio Grande do Sul, por exemplo, os 18 municpios com populao superior a 100 mil habitantes representam 46,7% da populao gacha, de acordo com o Atlas Socioeconmico do Rio Grande do Sul (SEPLAG, 2011 ).

    3.2 O Aumento no Consumo e a Gerao e Coleta de Resduos

  • 19

    Apesar da dificuldade em determinar os fatores relevantes da gerao de resduos no pas devido a falta de sries histricas relativas a esta varivel, alguns estudos desenvolvidos no pas, a exemplo de Motta (1996), Diniz (1997) e Diniz e Arraes (1998), apontam para a significncia de uma relao entre a densidade populacional, indicadores de renda (os quais reconhecidamente contribuem para o aumento no consumo) e as taxas de gerao e coleta de resduos.

    A riqueza de uma populao pode ser identificada pela distribuio de renda e indicadores de qualidade de vida da populao. A renda per capita aparece ento como um indicador relacionado s questes econmicas e qualidade de vida. A Figura 03 apresenta a evoluo do PIB per capita do Brasil. Observa-se uma tendncia de evoluo crescente at a dcada de 1970, quando passa por um perodo de estagnao at a dcada de 1990. Vrios fatores podem explicar este comportamento, tais como os choques do petrleo, a crise da dvida externa dos anos 80 e a hiperinflao. Com a estabilizao dos nveis de preos, decorrente da implementao do plano Real, foram criadas as bases para o pas retomar o crescimento sustentvel.

    Figura 3 - Evoluo do PIB Per Capita (1900-2011). Fonte: Ipeadata.

    Na linha da evoluo do PIB per capita do pas, Gomes (2011) encontrou uma correlao positiva e aproximadamente linear entre a gerao

  • 20

    de renda e o aumento no consumo da populao. De acordo com o autor, observando a evoluo da relao entre o consumo final das famlias e ao PIB no Brasil, de 1947 a 2010, a partir de dados do IBGE, possvel encontrar uma razo consumo-PIB entre 54% e 77%. Em 2010 tal razo foi de, aproximadamente, 61%.

    Aliados a evoluo na renda da populao e consequente aumento no consumo, esto o aumento na gerao de resduos e a necessidade de uma coleta regular de resduos mais eficiente.

    A Tabela 05 a seguir apresenta as estimativas de gerao de resduos em 2010 e 2011. De acordo com os resultados apresentados, observa-se um aumento de 0,8% no ndice de gerao per capita de RSU e um acrscimo de 1,8% na quantidade total gerada, valores estes, superiores ao crescimento populacional no mesmo perodo, 6,8% superior ao registrado em 2009 e seis vezes superior ao ndice de crescimento populacional urbano, de acordo com a ABRELPE (2011).

    Tabela 5 - Gerao de Resduos no Brasil (2011). Regio 2010 2011 (t/dia) (kg/hab.dia) (t/dia) (kg/hab.dia) Norte 12.920 1,11 13.658 1,15 Nordeste 50.045 1,29 50.962 1,30 Centro-Oeste

    15.539 1,25 15.824 1,25

    Sudeste 96.134 1,29 97.293 1,29 Sul 20.452 0,88 20.777 0,89 BRASIL 195.090 1,21 198.514 1,22

    Fonte: ABRELPE (2011) No existe um padro entre as regies quanto composio dos

    resduos gerados. Observa-se que a frao orgnica significativa, o que uma caracterstica dos Estados brasileiros em geral, entretanto h uma variao nos percentuais.

    Apesar de tal restrio, diversas pesquisas procuram determinar uma composio mdia para os municpios brasileiros. A Tabela 06 apresenta a

  • 21

    composio gravimtrica mdia brasileira dos RSU coletados no pas, observando-se a predominncia da frao orgnica (51,4%) seguida por resduos reciclveis (31,9%).

    Tabela 6 - Composio Gravimtrica dos RSU no Brasil. Material %

    Matria Orgnica 51,4 Metais 2,9 Papel 13,1

    Plstico 13,5 Vidro 2,4

    Outros 16,7 Fonte: ABRELPE (2011)

    Na Regio Norte, foi possvel identificar a composio gravimtrica de alguns Estados, cuja mdia aritmtica utilizada para caracterizar os resduos gerados, apesar da pouca disponibilidade de informaes que os caracterizam de forma significativa. No estado do Amap, por exemplo, no h informaes sobre a quantidade de resduos slidos urbanos gerados e recolhidos, com exceo de Macap, pois no h pesagem nos demais municpios.

    A regio Centro-Oeste pode ser caracterizada por uma elevada frao de matria orgnica, na composio dos resduos gerados. Este aspecto justifica-se pelas caractersticas culturais e socioeconmicas da regio. Como a regio se desenvolveu com a criao de gado e a agricultura, os moradores geralmente possuem pequenas chcaras, onde cultivam frutas e hortalias para consumo prprio, o que contribui, de certa forma, com o desperdcio desses produtos. Os elevados teores de matria orgnica favorecem a utilizao das tecnologias de compostagem, digestores anaerbios e aterros sanitrios com recuperao energtica desde que de porte considervel.

    A pesquisa Ciclosoft realizada pelo CEMPRE em 2012 aponta a predominncia da coleta de PETs (32,3%) entre os plsticos coletados. As aparas de papel/papelo apresentam tambm uma porcentagem significativa em peso de material coletado. De acordo com o CEMPRE (2012) a

  • 22

    porcentagem ainda elevada de rejeito se deve a separao inadequada dos resduos, visto que no se trata e descartes de processos de tratamento de resduos

    Figura 4 - Composio Gravimtrica dos RSU por Regio. Fonte: CEMPRE (2012)

    O servio de coleta ainda no atinge 100% da populao brasileira. Atualmente, cerca de 89,66% do pas atendido com servios de coleta domiciliar, sendo as regies Sudeste e Sul aquelas que atingem os maiores ndices da prestao de servios, enquanto a regio Nordeste apesar de apresentar uma evoluo ao longo do tempo, apresenta os menores ndices de prestao deste tipo de servio, com um percentual inferior mdia nacional (Tabela 07).

    Tabela 7 - Evoluo da Coleta de Resduos no Brasil. Regio 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    Norte 88,12 88,67 66,71 69,07 71,28 73,56 78,7 80,12 82,22 83,17

    Nordeste 65,69 66,96 66,73 67,86 68,68 69,51 73,45 75,37 76,17 76,71 Centro-Oeste 84,06 84 83,94 84,37 85,16 85,96 90,36 89,15 89,88 91,3 Sudeste 91,06 91,29 91,43 91,52 91,78 92,04 96,23 95,33 95,87 96,52 Sul 81,33 81,99 82,24 82,51 83,01 83,51 90,49 90,74 91,47 92,33 BRASIL 82,15 82,71 81,48 82,06 82,68 83,3 87,94 88,15 88,98 89,66

    Fonte: IBGE (2010)

  • 23

    A coleta diria a mais usual no Brasil, porm a Regio Sul a que apresenta a menor taxa de municpios que realizam a coleta diria (17,1%) enquanto todas as outras regies apresentam percentuais superiores a 40%. Tambm a Regio Sul e Sudeste so as que apresentam melhores ndices de coleta em domiclios rurais. As regies passaram por uma evoluo neste tipo de servio na ltima dcada e atualmente coletam cerca de 50% dos resduos slidos gerados em domiclios rurais. Nas demais regies, estes ndices no ultrapassam os 30%.

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    4. TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO

    Apesar da PNRS prever a erradicao dos lixes no Brasil at o ano de 2014, a destinao final dos resduos em lixes ainda ocorre de forma significativa nas regies brasileiras. Apenas a disposio em aterros sanitrios suplanta a massa de resduos encaminhada a lixes segundo a ltima PNSB (IBGE, 2010). Tambm em termos de quantidades de instalaes, a presena de lixes significativa, principalmente na Regio Nordeste, onde esto localizados 56,7% dos lixes do pas e 58,5% das unidades de tratamento da regio em se considerando todos os tipos de resduos de acordo com o SNIS (MCID, 2010). Ao se analisar apenas RSU, este percentual ainda maior. Para alcanar as metas estabelecidas pela PNRS, entende-se necessria a diversificao das tecnologias de tratamento, cuja adoo deve ser coerente com as especificidades de cada localidade. A seguir, so apresentadas as principais tecnologias de tratamento e destinao final de RSU.

    4.1 Logstica de Coleta, Transporte e Transbordo

    A coleta de RSU pode ser classificada quanto ao tipo de trao e quanto segregao de resduos. A coleta manual utiliza uma fora de trabalho humano para levantar os recipientes de acondicionamento dos resduos para o veculo utilizado para transporte dos resduos. A coleta automatizada envolve containers de coleta especializados e caminhes de coleta com dispositivos de elevador hidrulico mecanizado para pegar e descarregar os containers de lixo.

    A coleta de RSU do tipo domiciliar e visa o recolhimento de resduos do tipo domiciliar (produzidos em edificaes residenciais, pblicas e de pequenos estabelecimentos comerciais no caracterizados como grandes geradores) e pode ser realizada de duas formas: indiferenciada ou diferenciada.

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    A coleta do tipo indiferenciada ocorre em todos os Estados brasileiros e visa o recolhimento dos resduos produzidos por um meio de transporte adequado para encaminhamento a estaes de transferncia ou unidades de tratamento e destinao final. Este tipo de servio de responsabilidade das prefeituras a partir de empresas terceirizadas ou sistemas mistos. A coleta diferenciada (onde ocorre a separao prvia de resduos), apesar da tendncia de crescimento observada na ltima dcada, no ocorre de forma significativa no pas.

    A coleta indiferenciada deve ocorrer de forma regular e com frequncia sistemtica que varia entre dias alternados e seis dias na semana no caso de municpios de grande porte ou de interesse turstico elevado. Os veculos que realizam a coleta podem ser do tipo compactador (com carregamento lateral ou traseiro) ou sem compactao (tipo Ba ou Prefeitura).

    Os coletores compactadores possuem capacidade varivel entre 06 e 19m destinados coleta de RSU e realizam o transporte para estaes de transferncia em aterros. Esse tipo de veculo no possui grandes restries de trnsito, estando prevista sua utilizao em terrenos irregulares. No veculo, possvel acoplar carrocerias adaptadas para a coleta seletiva. Veculos de maior capacidade so utilizados em estaes de transferncia. Os veculos do tipo ba so indicados para utilizao em locais de difcil acesso e municpios de pequeno porte devido aos baixos custos de aquisio e manuteno e so ideais para o encaminhamento de resduos a unidades de compostagem (IBAM, 2001).

    Em locais pouco urbanizados como favelas, que possuem ruas estreitas e ngremes, o IBAM (2001) recomenda a utilizao de veculos de pequeno porte com capacidade de manobra e de vencer aclives tais como micro tratores com reboque ou pequenos veculos.

    A coleta seletiva ou diferenciada consiste da separao dos materiais em containers individualizados segregando a frao mida e a seca. Os

  • 26

    programas de coleta envolvem os sistemas porta-a-porta, os Pontos de Entrega Voluntria (PEVs) e a segregao pelas cooperativas de catadores.

    A coleta porta-a-porta realizada nas residncias, enquanto os PEVs so caracterizados como pontos fixos de depsito voluntrios de resduos em containers diferenciados por cores para os diferentes tipos de resduos. A PNRS recomenda ainda a priorizao da utilizao de catadores de materiais reciclveis, fortalecendo cooperativas e associaes.

    O uso de estaes de transferncia recomendado nos municpios de mdio e grande portes, cujos aterros so localizados a maiores distncias dos centros urbanos (geralmente superiores a 25km) ou em distncias inferiores a 20km em condies de trfego pesado. As estaes de transferncia ou transbordo so definidas pelo IBAM (2001) como unidades instaladas em locais prximos aos locais de gerao para que as descargas sejam realizadas de forma rpida.

    Os veculos devem transportar pelo menos trs vezes o volume de um caminho de coleta, os quais possuem um maior porte e menor custo unitrio. Estes veculos podem ser do tipo rodovirio (mais frequente) ou ainda ferrovirio, em casos de transporte a longas distncias. Mesmo nesse caso, o sistema necessrio para o transporte dos resduos das reas de desembarque aos locais de tratamento e destinao final. Os veculos mais usados nas estaes de transferncia so caminhes do tipo roll-on/roll-off, carretas semi-reboques de 45m ou de fundo mvel.

    As estaes so classificadas em transbordo direto (no caso em que h a transferncia imediata dos resduos de um veculo para outro) ou com armazenamento, as quais ainda podem contar com silos com sistema de compactao hidrulica ou sem compactao em casos em que haja movimentaes acima de 1.000t/dia.

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    4.1.1 Experincias

    As prticas de coleta e transporte de resduos slidos urbanos em pases da Europa, Estados Unidos e Japo se assemelham quanto tipologia, frequncia e responsabilidades. Em geral, os pases possuem sistemas de coleta diferenciada a qual pode ser realizada pelos prprios agentes pblicos ou por meio de associaes com entidades gestoras de resduos contratadas por meio de edital.

    Na Europa a coleta de responsabilidade quase sempre comum, e os servios podem ser prestados pelo prprio municpio ou por empresas privadas contratadas por meio de edital pblico. No Japo, existe a coleta regular e diferenciada em 98% dos municpios (de 1.765), abrangendo 99,4% dos resduos, embora apenas 86% da populao pratique a separao dos resduos (CECJ, 2010).

    A coleta domiciliar nos EUA realizada por via manual ou automatizada. A coleta comercial geralmente usa equipamentos de coleta mecanizada, com containers que variam em tamanho de cerca de 1 a 8 m3, com veculos que apresentam capacidade de transporte de 20 a 40 m3. Em reas no urbanas e com baixa densidade demogrfica, empregado sistemas do tipo drop-off para permitir que os moradores transportem os seus resduos domsticos, materiais reciclveis, resduos domsticos perigosos e itens volumosos para a eliminao ou reciclagem.

    O uso de Estaes de transferncia de resduos comum na gesto de RSU nos EUA, em parte devido s grandes distncias geogrficas (entre 16 e 48 km) para as plantas de destinao e os custos de combustvel, relativamente baixos para o transporte. Os resduos recebidos normalmente so colocados em veculos de coleta com capacidade de carga de 7 a 10 toneladas. J os veculos utilizados nas estaes de transferncia tm capacidade de transportar 20 a 25 toneladas.

    O transporte ferrovirio para a transferncia de RSU tambm tem sido uma alternativa usada com sucesso nos EUA e na Europa h mais de 20 anos.

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    Este tipo de transporte tem vantagens econmicas quando trata da remoo e destinao dos resduos em distncias maiores. Ele principalmente utilizado nas partes nordeste e noroeste do pas. As distncias percorridas utilizando transporte ferrovirio variam, porm distncias maiores de 500 km so comuns. Estima-se que menos do que 5 % dos RSU sejam transferidos atravs de trilhos.

    No Brasil, a situao da coleta domiciliar semelhante nas diversas regies. Os servios de coleta regular indiferenciada so realizados por caambas basculantes e caminhes compactadores, cuja quantidade e capacidade variam de acordo com a quantidade de resduos gerados pela populao.

    Nos pequenos municpios, predomina o uso dos caminhes basculantes. Na regio Nordeste so empregados ainda, caminhes com carroceria de madeira ou trator com reboque e veculos de trao animal que so utilizados para remoo de podas, ou em locais de difcil acesso, em pequenos municpios ou em reas de litoral.

    Em alguns aglomerados subnormais ou em reas de difcil acesso (invases e reas de Ressaca), a exemplo de alguns pontos do Amap, a populao atendida via coleta manual, com remoo de resduos utilizando pequenos carros de trao manual que removem os resduos at a rota de coleta e, aquelas que permitem o acesso de um pequeno trator, a coleta feita por este equipamento, que realiza o descarregamento em contineres, com posterior transbordo por caminhes compactadores.

    O transporte para estaes de transbordo so realizadas por carretas, a exemplo de Fortaleza, no Cear, onde carretas, de 40m3, transportam o equivalente a 26 ou 28 toneladas de resduos, entre a estao de transbordo e o aterro. Em Pernambuco, so utilizados ainda caminhes poliguindaste, roll on roll off, caixa compactadora estacionria e trator com reboque, segundo informaes do Plano Metropolitano de Resduos Slidos da RMR (PMRS RMR, 2011). Em Gois, utilizado para transportar os resduos para o Aterro de Cidade Ocidental, distante 23km do centro de Valparaso de Gois, um

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    caminho com oitenta toneladas. Na Regio Sul, em Porto Alegre, a coleta regular domiciliar mecanizada

    foi implantada em 2011, atravs de um projeto piloto atingindo 10 % da populao do municpio, em zona central e bairros prximos (zona de maior gerao de resduos per capita do municpio). realizada por empresa terceirizada. A coleta mecanizada realizada por meio de contineres para aporte de resduos orgnicos, distribudos regularmente com no mximo 100m distantes um do outro, disponveis 24 horas, todos os dias da semana. Atualmente, em Caxias do Sul, tanto a coleta domiciliar quanto a seletiva realizada de forma mecanizada e porta a porta e abrange 100% da populao, sendo realizada por 18 caminhes compactadores, coletando cerca de 350 toneladas/dia.

    Em Santa Catarina, conforme dados do SNIS (2009), a coleta regular domiciliar, realizada por empresas privadas, responde por 68 % do total de RSU coletados, enquanto apenas 32 % so recolhidos diretamente por rgos das prefeituras. Dados preliminares do estudo de Regionalizao da Gesto dos RSU em Santa Catarina (DRZ/SDS, 2012) apontaram que este servio realizado pelas prefeituras em somente 25 % dos municpios, o que confirma o cenrio de atuao majoritria de iniciativa privada no setor de coleta de RSU no Estado.

    Com exceo dos municpios de maior porte, no h uma orientao a populao por parte das empresas coletoras de como acondicionar e disponibilizar os resduos para a sua adequada coleta, em horrios e rotas bem definidos e amplamente divulgados aos residentes. No Rio de Janeiro, so utilizados containers plsticos de 240 litros. No Esprito Santo, em reas de melhor padro urbano e em regies centrais, h uma tendncia de uso de containers plsticos de 120 e 240 litros. Em So Paulo, apesar de se buscar incentivar em muitas cidades o uso de contineres, no h normatizao. A populao de So Paulo e Minas Gerais, a exemplo da maior parte das cidades no pas, costuma usar sacolas e sacos plsticos para este fim.

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    Coleta Seletiva A coleta seletiva ainda tmida na parte dos municpios brasileiros e

    consistem basicamente de programas de Postos de Entrega Voluntria, Ecopontos e coleta porta a porta realizada em caminhes do tipo ba, assim como em caminhes carrocerias com adaptaes de estrutura de madeira ou de metal para aumentar a capacidade.

    Na Regio Norte, a coleta seletiva ainda incipiente, destacando-se o Acre, em particular, o municpio do Rio Branco, onde a coleta diferenciada de resduos ocorre em pequena escala. Os resduos coletados so encaminhados s diversas unidades que compem a UTRE Rio Branco, a depender do tipo de resduo coletado. No Amap, a coleta seletiva pblica em operao a coleta fluvial realizada entre Bailique (Distrito do municpio de Macap) e a capital, distante 180Km. Os resduos inorgnicos (os resduos orgnicos so disponibilizados para os animais) so encaminhados para pontos de entrega comunitria (PEC) e recolhidos por garis que organizam estes resduos em um galpo para posterior envio Macap por barco.

    Na Regio Nordeste, existe algumas iniciativas de destaque. Nas grandes cidades, catadores autnomos ainda realizam coleta com carrinhos de trao humana e os organizados em cooperativas/associao utilizam diversos tipos de transporte de pequeno porte.

    A coleta seletiva no Rio Grande do Norte abrange um pequeno nmero de municpios do Estado, sendo realizada na maioria dos casos, de forma desarticulada com as polticas de gesto de resduos. De acordo com o PERGIS (2012) a coleta seletiva realizada em 9 (nove) municpios em associaes/cooperativas de catadores com apoio da prefeitura e de Organizaes no governamentais (ONGs). Natal e Mossor tm programas de coleta seletiva porta a porta em cerca de 50% da cidade, em funcionamento desde 2003 e 2007 respectivamente, embora com baixa eficincia de recuperao de reciclveis em relao aos resduos produzidos. Em Pernambuco, a coleta diferenciada dos resduos possveis de reciclagem, realizada por um sistema de ncleos de triagem, onde aproximadamente 400

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    catadores so divididos em Regies Politicas Administrativas (RPAs). Embora tal servio ainda no seja suficiente realizado unicamente no municpio de Recife, o programa de coleta porta a porta vem sendo implantado de forma parcial e pouco efetiva atendendo a poucas reas da cidade, uma iniciativa da Gerncia de Coleta Seletiva do rgo municipal responsvel pela limpeza urbana (Emlurb), com 7 cooperativas (ncleos de triagem) implantados estimulando a Associao dos catadores Os demais municpios da RMR possuem uma representao macia dos catadores independentes ou associados a alguma organizao, contando muitas vezes com algum apoio por parte das suas gestes municipais.

    No Centro-Oeste, em Gois, a coleta diferenciada de Cidade Ocidental atinge em torno de 60% da populao em um trabalho realizado porta a porta pela Cooperativa Esperana, com um caminho ba de 6,0 m. No Estado do Mato Grosso, segundo o CEMPRE (2011), existem algumas iniciativas isoladas a exemplo de Tangar da Serra, que realiza uma coleta seletiva porta a porta com auxlio de um caminho tipo ba, com capacidade de 18 m3, e um sistema de acondicionamento diferenciado para resduos midos (orgnicos e rejeitos) e secos (reciclveis), compostos de 06 coletores. Em duas comunidades rurais foram instalados, pelas escolas municipais, pontos de entrega de reciclveis, cuja coleta dos materiais feita pela SINFRA. Esta coleta realizada por meio de caminho caamba adaptado com capacidade de 10 m.

    Na Regio Sudeste merecem destaque os Estados do Rio de Janeiro e So Paulo. No Rio de Janeiro, h 22 municpios que realizam coleta seletiva (CEMPRE, 2011), o que no significa que atendam toda a rea urbana ou a uma parcela significativa da populao. A COMLURB realiza o servio de coleta seletiva, recolhendo cerca de 700 toneladas mensais que so doadas para cooperativas de catadores. Informaes de diversas fontes indicavam, at recentemente, a existncia de aproximadamente 7.000 pessoas trabalhando de maneira informal na separao de materiais reciclveis no Municpio do Rio de Janeiro. Estes quantitativos sofreram forte alterao, recentemente, com o fechamento do Aterro Metropolitano de Gramacho, onde atuavam cerca de

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    1.600 pessoas. Sobre elas no h informaes seguras, se esto atuando em outro local na catao de resduos, por exemplo, nas ruas.

    A coleta seletiva de resduos slidos no Estado de So Paulo, com abrangncia de toda a sede municipal, era realizada, em 2008, em 95 municpios, pouco menos de 15% de todo o Estado (IBGE, 2010). Em 2010, havia 143 municpios que realizavam coleta seletiva, o que representa 22% do total (CEMPRE, 2011). Ainda de acordo com dados do CEMPRE (2011), os municpios de Santo Andr, Santos e So Bernardo do Campo so aqueles que possuem 100% da populao atendida pela coleta seletiva.

    Em Minas Gerais, a coleta seletiva est presente em apenas 18% dos municpios. O apoio do Estado implantao de coleta seletiva nos municpios, com a incluso social de catadores uma das aes do Projeto Estratgico: Reduo e Valorizao de Resduos, sendo executado pela FEAM Fundao Estadual do Ambiente, SEMAD (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel). Minas Gerais dispe de um Plano Estadual de Coleta Seletiva - PECS cujos objetivos so estabelecer critrios e estratgias para a definio do apoio da FEAM s administraes municipais na implantao e ampliao do programa de coleta seletiva (PECS, 2011).

    Na Regio Sul, h destaque para a coleta seletiva de materiais reciclveis do Paran. Para aprimorar o sistema de coletas seletivas, em alguns municpios (Curitiba, Londrina e Cianorte) foi implantada a coleta tipo bandeira. Neste tipo de coleta, os resduos reciclveis de vrias residncias so amontoados em um local determinado e sinalizado para que o veculo coletor estacione em menos pontos para recolher os materiais. Verifica-se nos municpios de mdio e grande porte de Santa Catarina e Rio Grande do Sul a presena de carrinheiros, que praticam a coleta de forma informal, competindo com a coleta seletiva municipalizada. e PEVs podem ser utilizados para a coleta auxiliar de resduos reciclveis e especiais. A coleta seletiva est instituda em Porto Alegre desde 1990 e atualmente atende 100 % da populao. realizada atravs da coleta porta a portaduas vezes por semana nos bairros e diariamente na zona central e 45 PEVs que funcionam 24 horas

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    para recebimento de resduos reciclveis. Transbordo Apesar da sua caracterstica continental, em poucos Estados existem estaes de transbordo.

    Na Regio Nordeste existe algumas poucas estaes em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Cear. No Centro-Oeste, em Braslia, existem algumas reas improvisadas para transbordo dos RSU coletados para o aterro controlado, duas localizam-se nas prprias usinas de triagem e reciclagem e a outra na regio administrativa de Brasilndia. Na Usina da Asa Sul, 79% dos RSU coletados em 2011 foi destinada apenas a rea improvisada para o transbordo. Experincias com otimizao de coleta por meio de estaes de transbordo foram encontradas ainda em Valparaso de Gois e Goinia, em Gois.

    Na Regio Sudeste, com a implantao de aterros sanitrios compartilhados, tanto nas regies metropolitanas dos Estados como no interior, a utilizao dessa tecnologia tende a se ampliar.

    Em alguns municpios de maior porte do Estado do Rio de Janeiro, onde as distncias dos aterros so maiores do que 20 quilmetros utilizam-se estaes de transbordo. Pode-se citar o Rio de Janeiro, Niteri e Queimados, entre outros. As novas estaes de transbordo tm merecido maior ateno e cuidados das autoridades, com projetos que reduzem os impactos no entorno, de forma a minimizar a reao das populaes vizinhas. Em diversos municpios de maior porte no Esprito Santo, particularmente na Regio Metropolitana de Vitria so utilizadas estaes de transbordo. Dentro do Programa Esprito Santo sem Lixo, a utilizao dessa tecnologia tende a se ampliar com a construo de 7 novas estaes de transbordo. A utilizao de estaes de transbordo bastante significativa no Estado de So Paulo. Na capital, cerca de 80% dos resduos dispostos em aterros so transferidos em quatro estaes de transbordo.

    As estaes de transbordo so vitais para a gesto de resduos no Estado de Minas Gerais. Em Belo Horizonte a estao de transbordo atende

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    60% de todo o volume coletado diariamente. Segundo a FEAM, em 2011, em Minas Gerais, aproximadamente, 88 municpios (10%) adotavam a gesto compartilhada de resduos, quer seja por meio de consrcios pblicos para gesto de resduos, quer seja atravs de contratos com empresas privadas, ou ainda, contratos de cooperao entre municpios.

    A Estao de Transbordo de Resduos Slidos Urbanos de Belo Horizonte localizada no aterro sanitrio da BR-040, na regio Noroeste de Belo Horizonte e operada pela Superintendncia de Limpeza Urbana (SLU) e possui uma rea de 4.300 m2 constituindo-se de um galpo coberto, equipado com sistema de exausto para que os resduos no fiquem expostos a cu aberto. Os resduos coletados por meio de caminhes compactadores (15 m) so transferidos para carretas com capacidade de 50 m e transportados para o aterro sanitrio de Macabas, em Sabar. Com capacidade instalada de 6.000 t/dia, a Estao processa atualmente 1.200 t/dia de resduos domiciliares, comerciais e de varrio.

    Nas estaes de transbordo de Santa Catarina na Regio Sul, vrios caminhes coletores preenchem uma carreta de volume at trs vezes maior, otimizando o transporte at o aterro. De acordo com dados atualizados do MPSC, h 39 locais de disposio final de resduos slidos no Estado. Isto significa que, dos 293 municpios catarinenses, 254 realizam o transporte de resduos do local de gerao at o local de disposio final. No Estado do Rio Grande do Sul existem aproximadamente 19 estaes de transbordo licenciadas.

    4.2 Unidades de Triagem

    O processo de segregao e triagem dos resduos slidos urbanos sucede as operaes de coleta e transporte. A adoo de coleta indiferenciada ou diferenciada fator determinante para a especificao do tipo de triagem a ser empregada.

    Na existncia de coleta diferenciada, os resduos so encaminhados s

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    unidades de triagem ou s unidades de triagem e compostagem separadamente. Numa evoluo tecnolgica, os sistemas Waste to Energy envolvem a coleta indiferenciada dos resduos, os quais so encaminhados unidades de Tratamento Mecnico-Biolgico (TMB).

    Nos processos convencionais, a triagem de RSU realizada de forma mecanizada ou manual. Normalmente as unidades de triagens mecanizadas so implantadas dentro de um galpo com infraestrutura e cobertura adequada, onde esto localizadas as esteiras de separao mecanizadas movidas por motores eltricos a velocidades programadas que so comandadas por um painel de controle liga/desliga.

    As unidades de triagem manual so indicadas em municpios onde a gerao dos resduos pequena, entre 05 a 10 t/dia, resultando em baixos ndices de produtividade e recuperao de materiais. No processo manual, o sistema utiliza silos e mesas para processamento manual. Os custos desse tipo de unidade em geral so baixos e as unidades possuem uma capacidade maior de armazenamento pr-triagem do que as unidades mecanizadas.

    Os materiais que passam pelos processos de triagem manual ou mecanizada so pesados por tipo de categoria. Para equipar as unidades, necessria a aquisio de empilhadeiras manuais ou mecanizadas, balana plataforma para controle de pesagem, um bom controle de entrada e sada de materiais reciclados e um excelente controle financeiro, tornando esta unidade sempre bem gerenciada e eficaz.

    4.2.1 Experincias

    A triagem dos materiais e consequente reciclagem so incentivadas pelas Diretivas Europeias. Conforme os dados apresentados pelo Eurostat (2012) os pases que mais reciclaram foram a Alemanha (45% de resduos tratados), Blgica (40%), Eslovnia (39%), Sucia (36%), Irlanda (35%) e os Pases Baixos (33%). Nas reas urbanas dos EUA, as taxas de triagem/reciclagem de RSU tendem a serem maiores do que outros geradores, podendo chegar a uma elevada taxa de 50 % em massa. Em geral, as taxas de

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    reciclagem so tipicamente mais baixas (menos de 20 %) em reas rurais e para residncias multifamiliares.

    No Japo, a quantidade de materiais triados/reciclveis convertido em produto tem aumentado, por exemplo, de papel para papel aumentou de 44% em 2000, para 93% em 2010. Mais de 96% de garrafas de vidro incolor e mbar so utilizados para a produo de garrafas de vidro e mais que 72% do vidro, em outras cores, usado para produzir outro produto, tais como materiais de construo (por exemplo, pavimento de asfalto, de amarrao). Aproximadamente, 93% de papel que recolhido para reciclagem utilizada para a fabricao de papel. Tambm so elevados os nveis de recuperao de papel (93%) e garrafas PET (90%) os quais so usados para produzir produtos txteis e lmina de plstico.

    Em Portugal, os sistemas multimunicipais incluem ecopontos, PEVs e estaes de triagem combinadas entre mecnica e manual, alm de sistemas TMB. O RESINORTE, um dos Sistemas multimunicipais de Portugal, atende a 977.965 habitantes distribudos em 35 municpios com a coleta e destinao adequada de 207.204 toneladas geradas por ano aproximadamente. O Sistema possui 04 estaes de triagem, sendo 01 automatizada. As capacidades instaladas so variveis havendo unidades que processam entre 02 e 2.400t/dia. No Brasil, as unidades de triagem esto concentradas nos locais onde a coleta seletiva tem sido mais eficiente. Na Regio Norte, destaca-se a Unidade de Triagem de Rio Branco, no Acre, a qual dispe de ptio para descarga, duas esteiras de catao e quatro prensas. Ela responsvel pela triagem de 50% dos resduos coletados e encaminhados ao aterro sanitrio, alm de resduos particulares encaminhados a UTRE pelo prprio gerador. A Unidade de Triagem possui a capacidade de tratar 9.000 t/ano e uma vida til de 20 anos e operacionalizada pela Associao de Catadores de Materiais Reciclveis e Reutilizveis de Rio Branco - CATAR sob a coordenao da Coordenadoria Municipal da Economia Solidria (CONTES). Ainda na UTRE, h uma Unidade de Triturao projetada para lavagem e moagem de plsticos

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    oriundos da coleta seletiva e da triagem de resduos regulares. Esta Unidade possui duas linhas compostas de Pr-Lavadora, Esteira de Separao, Esteira de Alimentao, Moinho, Lavadora, Rosca Transportadora, Tanque de Separao, Secadora, Ventoinha e Silo. A regio Nordeste apresenta poucas unidades de triagem operantes e de relevncia. No Rio Grande do Norte a triagem realizada de forma manual em 7% dos municpios em galpes e na maior parte esto associadas a existncia de uma coleta seletiva formal direta (executada por agentes pblicos) ou indireta executada por associaes de catadores (PERGIS, 2012).

    As unidades da Paraba tambm padecem com problemas de gesto e consequente precariedade de funcionamento. Existem apenas 04 unidades de separao localizadas em Pedras de Fogo, Guarabira, Esperana e Joo Pessoa. Nesta ltima, a Central de triagem funciona em uma rea adjacente ao Aterro Sanitrio onde atuam 140 catadores, que foram originalmente capacitados para operar o programa de coleta seletiva implantado aps o fechamento do lixo do Roger (agosto de 2003), criando a Associao dos Trabalhadores de Materiais Reciclveis (ASTRAMARE), com capacidade de tratamento de 24.400 t/ano. Em Pernambuco, as poucas unidades de triagem construdas na dcada de 80 encontram-se, em sua maioria, paralisadas ou subutilizadas, por m qualidade da gesto e capacidade tcnica. A maior unidade de triagem em funcionamento a localizadas no antigo aterro de Aguazinha, em Olinda que operada por uma Associao de Catadores e que foi implementada nas obras de recuperao da rea em 2007.

    Na regio Centro-Oeste, experincias em Gois, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul so bastante modestas e restringem-se a poucas unidades em funcionamento, com destaque para Chapado do Cu e Cidade Ocidental, em Gois, Dourados no Mato Grosso do Sul e Tangar da Serra em Mato Grosso. Suas reas variam entre 300m e 3.000m e os seus processo produtivos (recepo, classificao, prensagem e comercializao) apresentam caractersticas semelhantes, todas com triagem manual, variando apenas

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    quanto a disposio das unidades administrativas e de trabalho e quantidade de prensas disponveis para enfardamento. Merecem destaque as unidades localizadas no Distrito Federal. A Usina de Triagem e Compostagem da Asa Sul possui um processo integrado de triagem e compostagem. A Usina foi Instalada em 1963, dotado de 04 linhas (estando uma desativada) e capacidade de processamento de 600 t/dia, em uma rea de 57.000m sendo 11.000m destinados tecnologia e o restante a instalaes complementares (edifcios administrativos, estacionamento e acessos virios, por exemplo). A rea tambm tem sido utilizada para transbordo dos RSU a serem encaminhados ao aterro controlado do DF. O processo da usina de reciclagem de compostagem da Asa Sul composto por recepo e pesagem, fosso de recepo, triagem manual, eletrom, bioestabilizador, peneira rotativa, separador magntico, separador balstico e peneiramento do pr-composto.

    A Usina de Triagem de Ceilndia est instalada em uma rea de 35.000m e capacidade instalada de 600 t/dia (SLU/DF, 2012). O processo produtivo consta de triagem mecanizada e compostagem convencional. As figuras a seguir apresentam as diferenas de fluxos entre as Usinas da Asa Sul e de Ceilndia.

    Em Goinia, a Central de Triagem da Cooperativa de Catadores de Material Reciclvel Meio Ambiente Saudvel (COOPERMAS) formada por 3 edificaes (um galpo de processamento dos reciclveis, um galpo de estocagem e apoio administrativo), distribudas, numa rea de aproximadamente 2.018,00m, cedida pelo Poder Pblico Municipal. O processo convencional e consta de recepo, triagem, prensagem e enfardamento, armazenagem e comercializao.

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    (a) (b)

    Figura 5 - Fluxograma do Processo das Usinas de Triagem e Compostagem de Ceilndia/DF (a) e Asa Sul (b).

    Existem no Estado do Rio de Janeiro, cerca de 40 Unidades de Triagem e Compostagem (UTC) em operao. Embora no existam informaes confiveis sobre a situao das UTCs, sabe-se que de forma geral a situao delas bastante precria.

    A Unidade de coleta seletiva de So Francisco est localizada no municpio de Niteri, no Estado do Rio de Janeiro e possui uma capacidade de tratamento instalada de 40 t/ano. Um micro trator munido de carreta transporta os resduos para uma unidade de triagem. A unidade possui uma rea total de 600 m2 com aproximadamente 100 m2 de rea construda, onde realizada a

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    triagem e armazenamento de papis, metais no ferrosos e trs micros tratores. Cinco carretas de madeira, o container para vidros e o para Pet, alm das baias para plstico, metais ferrosos, tetrapack e plstico fino, ficam em reas descobertas.

    No Estado do Espirito Santo existem as unidades tradicionais ps-coleta, contando com cerca de 18 Usinas de Triagem e Compostagem, na maior parte desativadas ou operando de forma inadequada e sem licena ambiental (Saraiva e Silva, 2008).

    As Usinas de Triagem e Compostagem (UTC) so empregadas no estado principalmente para os municpios de pequeno porte. Conforme dados disponveis, Minas Gerais possua, em 2011, 136 UTC, atendendo a aproximadamente 16% do total de municpios do estado e a cerca de 5% de toda a populao urbana de MG (FEAM, 2011). Segundo tcnicos da FEAM muitas dessas unidades manuseiam, tambm, resduos provenientes da coleta seletiva municipal.

    A Usina de triagem em funcionamento em Catas Altas, em Minas Gerais, de pequeno porte, com capacidade de tratamento de 18 t/ano e associada a uma Usina de compostagem e a um aterro sanitrio. O galpo de triagem foi implantado no prprio aterro.

    A Central de Triagem de Itabira operada por uma empresa pblica, cuja atividade principal o recebimento e depsito de sucata metlica, papel, papelo, plsticos ou vidro para a reciclagem, podendo receber inclusive materiais contaminados com leos, graxas ou produtos qumicos, exceto embalagens de agrotxicos. Ela recebe diariamente em torno de oito toneladas de materiais potencialmente reciclveis oriundos do servio de coleta seletiva que atende com os servios de porta em porta 100% do permetro urbano.

    A Usina de Triagem em funcionamento no municpio de Formiga possui a capacidade de tratamento instalada de 2,6 t/dia e a segregao dos materiais realizada manualmente por associao de catadores, de forma precria. Em So Paulo, existiam 20 centrais de triagem com planos de expanso de 10

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    unidades (PiniWeb, 2011). A capacidade instalada de cada Unidade de Triagem varia de acordo

    com a quantidade de resduos gerados no municpio, a abrangncia da coleta seletiva, a quantidade de funcionrios para realizar a triagem e os equipamentos disponveis.

    Grande parte dessas unidades gerenciada pela prefeitura em parceria com associaes ou cooperativas de catadores. Em alguns casos, a administrao feita por empresas terceirizadas, como no municpio de So Jos dos Pinhais, no Paran que recentemente construiu uma Central de Triagem e repassou o gerenciamento para uma empresa. A Central de Triagem, em Londrina/PR, possui a capacidade de tratar 720 toneladas por ano. A Central de Triagem de Materiais Reciclveis, localizada em Tibagi, possui a capacidade de tratamento de 5.400 t/ano. A Usina de Valorizao de Resduos Slidos, em Campo Magro-Paran, por meio de seu programa Ecocidado abrange 99% das residncias do municpio operando com uma capacidade instalada de 9.600 t/ano. O Programa conta com 400 catadores de materiais reciclveis, e est expandindo a quantidade de barraces aptos a receber os resduos.

    A atividade de triagem de materiais reciclveis secos forte no estado de Santa Catarina e desenvolvida tanto por catadores organizados em grupos quanto por avulsos (que no pertencem a cooperativas ou associaes). A estrutura fsica para o desenvolvimento da triagem de materiais reciclveis no Estado de Santa Catarina vai desde a mais precria (triagem em mesas, em local aberto, sem cobertura e sem piso), encontrada em grupos no formalizados, ou aqueles que no recebem apoio algum do poder pblico, at usinas mais b